FOLHA DE SP - 10/03
O governo federal teve algum êxito na campanha de redução das taxas de juros, iniciada em abril do ano passado. Sucesso parcial, pois tal diminuição deveu-se na maior parte à queda da taxa básica, a Selic, providência adotada por um Banco Central em tese autônomo.
Levando em conta o panorama geral dos empréstimos do setor financeiro e a situação econômica, o sucesso é algo mais controverso.
A campanha federal começou com a redução dos juros nos bancos públicos, por orientação do governo Dilma Rousseff. Os privados reagiram apenas timidamente.
Também foi acanhada a concessão de novos empréstimos, devido à persistente inadimplência e ao receio de baixo crescimento. Os bancos privados preferiram manter excesso de dinheiro em caixa e emprestá-lo a curto prazo ao governo, a juros menores que os cobrados da clientela. Devido à queda da Selic, à pressão da concorrência e ao caixa ampliado, viram sua margem de lucro diminuir.
A expansão dos empréstimos no ano passado ficou a cargo das instituições estatais, que responderam por cerca de 75% do aumento do crédito. Tal incremento só foi possível porque o governo federal endividou-se e injetou mais capital nos bancos públicos, como tem feito desde 2008.
Em setembro daquele ano, início da grande crise mundial, a participação estatal no mercado bancário era de 34%. Em janeiro de 2012, de 43%. Neste janeiro, subiu a 48%.
O resultado financeiro dos bancos públicos tem sido bom: lucros maiores, inadimplência baixa. É provável que, sem a expansão do crédito das instituições estatais, o crescimento econômico tivesse sido ainda menor.
Pode-se, no entanto, fazer juízo diverso. Os bancos públicos chegaram ao limite da expansão e da redução de juros; cresceram porque contaram com capital barato oferecido pelo governo, ao custo de endividamento caro para o Tesouro.
O ativismo estatal contribuiu de modo limitado para um crescimento insustentável, pois a inflação cresce, os juros de mercado começaram a subir e tudo indica que a Selic logo será elevada.
O governo Dilma Rousseff imitou uma solução da era Lula, aquela com o objetivo de evitar um colapso econômico em 2008 no Brasil, sob risco de ser engolfado pela crise mundial.
A solução de emergência, porém, não dá conta dos desequilíbrios e das ineficiências estruturais da economia brasileira. O governo venceu uma batalha de pouca importância para a guerra do crescimento duradouro.
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