segunda-feira, julho 05, 2010

ANTONIO PENTEADO MENDONÇA

Contrato é para ser cumprido

ANTONIO PENTEADO MENDONÇA
O ESTADO DE SÃO PAULO - 05/07/10

O contrato de seguro não permite dois pesos e duas medidas. Seguradora e segurado devem agir com integral boa-fé



O contrato de seguro é uma avença para a qual a lei exige em artigo específico do Código Civil a mais absoluta boa-fé dos contratantes. Quer dizer, do segurado e da seguradora, ou melhor, da seguradora e do segurado. A ordem correta é esta, pela simples razão de o produto ser desenvolvido e comercializado pela companhia de seguro e apenas adquirido pelo segurado.
A boa-fé da seguradora deve se iniciar no momento em que a empresa decide desenvolver um produto para ser comercializado dentro de determinados parâmetros, visando a garantir riscos específicos. Vale dizer, ainda antes de ter a apólice e seus cálculos atuariais concluídos, a seguradora já deve agir com total boa-fé na identificação do público-alvo para o novo seguro e na forma de atingi-lo com o máximo de eficiência para ambas as partes.
A seguradora deve ter claro que o grande beneficiário da transação, pelas próprias regras do seguro, deve ser o segurado, a quem ela disponibiliza uma proteção concreta contra riscos que podem ou não ocorrer.
Uma seguradora não aceita o risco do segurado, ela se compromete a indenizá-lo caso o risco que o ameaça e coberto por sua apólice se materialize, transformando-se num sinistro.
O segurado não transfere para a seguradora a obrigação de morrer por ele, ou de pegar fogo no lugar do seu imóvel. O risco de morrer continua sendo do segurado, da mesma forma que o risco de incêndio continua recaindo sobre o seu imóvel.
A seguradora se compromete, mediante o recebimento de uma paga, a indenizar os sinistros acontecidos dentro dos termos e condições de sua apólice.
Daí a necessidade de a apólice ser clara. O que está em jogo é a reposição de um patrimônio ou capacidade de atuação que, se não for reposto, ocasiona prejuízo insanável para o segurado.
Com clausulado nebuloso, o contrato de seguro permite interpretação nebulosa e abre espaço para a negativa da indenização em sinistro indubitavelmente coberto. Não há situação mais injusta do que esta. Todo sinistro representa uma perda para o segurado. Perda que se materializa obrigatoriamente num prejuízo econômico, mas que pode ir muito além, tanto em suas consequências diretas sobre o patrimônio, como sobre a estabilidade psíquica do segurado.
É verdade que a imensa maioria dos sinistros é indenizada sem complicações, de forma relativamente rápida e satisfatória para o segurado. Mas isso não autoriza a companhia a agir com menos boa-fé nos outros casos.
Pelo contrário, como a obrigação da seguradora é pagar as indenizações cobertas, nos limites do contrato, cada vez que ela deixa de assim proceder, ainda que demorando apenas um pouco mais do que o que seria indispensável, ela está deixando de atentar para o princípio da boa-fé que ela, como seguradora, não só tem a obrigação de conhecer e respeitar, mas, acima de tudo, valorizar, para poder exigir do segurado que ele guarde a mesma lisura na sua parte da avença.
Que moral alguém tem para exigir do outro que se porte bem, se ele não age da mesma forma? O contrato de seguro não permite dois pesos e duas medidas. Tanto a seguradora como o segurado devem, por força de lei, agir com integral boa-fé em todas as situações e em todos os momentos do contrato que os une.
Indo além, a seguradora deve agir com total boa-fé em todos os seus contratos, haja ou não indenização a ser paga. Se ela, ainda que numa única avença, deixa de respeitar esta regra, não pode exigir dos demais segurados, e muito menos através do Judiciário, que ele proceda diferentemente dela.
Se para a seguradora uma indenização pode não ter qualquer impacto no resultado, para o segurado o seu recebimento pode significar a sobrevivência.
Quem exige que o outro se porte bem deve dar o exemplo. Como se indignar porque alguém o deixa esperando se você normalmente chega atrasado? A mesma regra vale no negócio do seguro. Como exigir do segurado que aja com absoluta transparência se a seguradora não paga corretamente os sinistros cobertos?
É ADVOGADO, SÓCIO DE PENTEADO MENDONÇA ADVOCACIA, PROFESSOR DA FIA-FEA/USP E DO PEC DA FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS E COMENTARISTA DA RÁDIO ELDORADO.

JAPA GOSTOSA

MÔNICA BERGAMO

Cielo de Volta 
Mônica Bergamo 

Folha de S.Paulo - 05/07/2010

O nadador César Cielo, campeão olímpico, planeja voltar ao Brasil para treinar em Campinas (SP). O instituto que leva seu nome negocia para administrar o parque aquático de um centro de excelência esportiva na cidade até 2020. A piscina do local deve ficar pronta em agosto. "Queremos trazer a estrutura e o modelo de treinamento das universidades dos EUA. Se tivermos isso, o Cesão volta de vez", diz Cesar Augusto Cielo, pai do campeão.
Francês Na Bagagem
Segundo o Cielo pai, o francês Frederick Bousquet, um dos mais rápidos nadadores do mundo, já disse a "Cesão" que, "se tiver essa estrutura, virá treinar com ele aqui". Atualmente, o brasileiro está baseado em Auburn, nos Estados Unidos.
Fasano Tremendão
Erasmo Carlos fará quatro shows no Baretto, bar do hotel Fasano, em SP, entre os dias 21 e 24 de setembro.
Nove Um Um
Como parte da preparação para a Copa de 2014, a Polícia Militar de SP criou um sistema que direciona ligações feitas para o 911 (número de emergência americano) para o 190. Chamadas feitas em inglês serão passadas para soldados que falem a língua.
Na Terceira
O serviço já começou a funcionar. A chamada para o 911 cai no 190. Num teste, na sexta-feira, uma atendente disse "um momento, please [por favor]". E transferiu a chamada para um soldado que falava inglês.
Enredo
O juiz Fausto de Sanctis, célebre por conduzir processos de crimes do colarinho branco, como a Operação Satiagraha, está começando a preparar o quarto livro do que será uma saga sobre o Judiciário. O primeiro deles, "Xeque Mate", deve ser lançado em breve. No enredo dos romances há personagens das chamadas minorias, como um travesti, e o caso de um crime que envolve um casal gay.
Corte
Na fila para ser promovido desembargador do TRF (Tribunal Regional Federal) da 3ª Região, em SP, Sanctis sofre alguma resistência de magistrados que já se desentenderam com ele nos bastidores. A nomeação, no entanto, deve ocorrer -para refutar seu nome seriam necessários 2/3 dos votos da corte ou a abertura de um processo administrativo.
Corte 2
E o advogado Alberto Zacharias Toron -que, por sinal, já defendeu clientes em processos conduzidos por Fausto de Sanctis e protagonizou vários embates com ele -foi convidado pela OAB para integrar a lista de indicados para o cargo de desembargador do STJ (Superior Tribunal de Justiça). Pediu tempo para pensar.
Panela Turca
Os sócios Souheil Salloum, Jacqueline Shor, Henrique Cury e Caio Lutfall inauguraram na quinta-feira um restaurante especializado em comida turca, no Itaim Bibi.
Bola Na Rede
O ministro do Esporte, Orlando Silva, entregou na semana passada o Prêmio Empresário Amigo do Esporte, no Clube Pinheiros. Foi uma homenagem àqueles que investiram recursos por meio da Lei de Incentivo da pasta.
Mão Santa
O padre Fábio de Melo vai destinar parte da renda de um show seu para a Aliança de Misericórdia, instituição que cuida de pessoas de rua e que teve sua sede furtada no final do mês passado -um prejuízo avaliado em R$ 400 mil em equipamentos.

O evento será no dia 4 de agosto, no Teatro Bradesco.
Interno e Bruto
Os bancos Itaú (US$ 68,3 bi) e Bradesco (US$ 60,5 bi) e a mineradora Vale (US$ 29,2 bi) são as empresas que tiveram as maiores receitas em 2009, segundo levantamento da revista "Exame", que lança hoje seu anuário "Melhores e Maiores". Houve 644 fusões e aquisições no país no ano passado, 74% delas de companhias brasileiras comprando outras brasileiras. Em 2007, esse percentual era de apenas 41%.
Curto-circuito
A Associação
Amor por Favor, que atende crianças carentes com câncer e portadoras de HIV, promove hoje, às 21h, show de Renato Godá no bar Baretto. A renda obtida será destinada à viabilização de uma sede para a entidade. A exposição "Imitação da Água", de Sandra Cinto, será inaugurada hoje, às 20h, no Instituto Tomie Ohtake.

Começa hoje a campanha "Salve o Belas Artes - Tudo Pode Dar Certo" em 17 restaurantes. Quem colaborar com R$ 5 nas casas participantes receberá um ingresso para assistir a um filme no cine Belas Artes.

Acontece hoje a festa de um ano da revista gastronômica "Gosto", às 20h, na Casa Fasano, no Itaim Bibi.

O empresário Luiz Alberto de Araújo Costa assume hoje a presidência da Associação das Pequenas e Médias Empresas de Construção Civil.

JOÃO BATISTA ARAUJO E OLIVEIRA

Prova nacional para professores: boa ideia?
JOÃO BATISTA ARAUJO E OLIVEIRA
FOLHA DE SÃO PAULO - 05/07/10

Esse futuro teste deverá também assegurar que os escolhidos são portadores dos requisitos essenciais ao exercício do bom magistério



Num país federativo e desigual como o Brasil, uma prova nacional para professores pode ser uma boa ideia. Para isso, precisará ter duas características básicas.
A exemplo de outros concursos públicos, sinalizará para os candidatos os conteúdos desejados, que poderiam se limitar ao nível em que o professor irá lecionar. As instituições de ensino que formam professores saberão o que fazer. O futuro teste deverá também assegurar que os escolhidos são portadores dos requisitos essenciais ao exercício do bom magistério. O nível de aprovação deve ser elevado, para valorizar a prova.
A meta é melhorar a qualidade do ensino, o que não se resolve só com provas. É preciso atrair os mais qualificados para o magistério também com política salarial e incentivos. Se a prova desvincular a exigência de formação específica, aumentará o número de candidatos qualificados.
Atrair e selecionar bons candidatos não basta: professores se revelam bons ou maus no estágio probatório. Nos países desenvolvidos, cerca de 50% dos candidatos não passam dessa fase.
Ser professor não é fácil -porque não é uma atividade simples. Uma medida dessa natureza requer articulação com as redes de ensino.
Um projeto desse vulto deve aproveitar para promover a municipalização do ensino fundamental, e não para perpetuar a atual bagunça federativa. Para tornar a medida mais atrativa e justa, aos atuais professores deve ser dada a opção de incorporarem-se à nova carreira.
O MEC tem experiência mista na área de exames, daí os cuidados. A Prova Brasil e o Saeb seguem os padrões internacionais de qualidade.
Já exames como o Enem e o Enade, apesar de suas boas intenções, beiram o desastre. O Enem é particularmente problemático. É o modelo a ser evitado a todo custo e em todos os sentidos.
O mais grave seria não sinalizar o que o aluno deve saber e escorregar no lodaçal de "competências genéricas" ou ideologias pedagógicas.
Essa observação nos remete ao ponto central: o que o professor deve saber? A evidência aponta duas coisas. Primeiro, o professor deve dominar com segurança os conteúdos que irá ensinar.
Há lições interessantes da China.
Lá, a maioria dos professores das séries iniciais possui apenas nove anos de escolaridade, mas sabem mais matemática e logram melhores resultados do que o professor norte-americano com curso superior completo.
Segundo, deve saber ensinar. Isso é mais difícil de avaliar. Mas é possível balizar o processo, se o professor for capaz de identificar, a partir dos erros em uma prova, o que o aluno não aprendeu.
Posto dessa forma, o professor compreenderá os processos mentais envolvidos numa situação de aprendizagem, sem se perder no campo minado da pedagogia ensinada em nossas faculdades. Quando perguntado sobre o que achava da civilização ocidental, Gandhi respondeu: "Isso poderia ser uma boa ideia". A prova para professores também.
JOÃO BATISTA ARAUJO E OLIVEIRA, psicólogo, doutor em educação, é presidente do Instituto Alfa e Beto. Foi secretário-executivo do Ministério da Educação (1995).

A FUGITIVA

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

'O País não faz bom uso da sua infraestrutura' 
Sonia Racy 

O Estado de S.Paulo - 05/07/2010

David Neeleman, 50 anos, fundador da JetBlue nos Estados Unidos e da Azul no Brasil, vive na ponte-aérea São Paulo-Nova York. Filho de missionários mórmons, o empreendedor dos ares vai e volta dos EUA toda semana. Curiosamente, sempre "encrachatado". Ele é visto semanalmente em voos de suas concorrentes TAM ou American Airlines portando a identificação. Conhecido pelos tripulantes que operam a rota - da aeromoça aos pilotos -, sequer durante a noite de sono, na classe executiva, ele abandona o crachá.

Ao chegar para o almoço com esta colunista, no restaurante Sallvattore, o crachá continua à mostra. Por que o executivo não desgruda do acessório de plástico? "Eu gosto", limita-se a responder o empresário.

Famoso por seu déficit de atenção e português fortemente afetado pelo sotaque americano, Neeleman conta que nasceu e viveu no Brasil até os cinco anos de idade. Depois, seguindo os passos do pai mórmon, voltou para cá aos 19 anos, atuando como missionário no Nordeste. Tarefa que durou dois anos.

Fruto de um investimento de US$ 200 milhões, a Azul é a quarta empresa aérea de Neeleman. E é com ela - hoje com dois anos e meio de existência - que o empresário pretende ficar. "Estou com 50 anos e este será meu último empreendimento", anuncia. E mais: diz que a Azul já opera no azul.

A seguir, os principais trechos da entrevista.

Existe uma discussão gigantesca sobre os aeroportos no Brasil. Qual é a sua opinião sobre a atual estrutura aeroportuária brasileira?

Antes de começar com a Azul, estudei os aeroportos do Brasil e cheguei à conclusão de que o País não faz bom uso do que tem. Por causa dos outros aeroportos é que Congonhas está superlotado. Mas ainda há espaço ali para expandir, criar novos terminais e novos pátios. Quando se promove expansão em aeroportos nos EUA, a coisa é complicada. Aqui, não, porque tem espaço. O alargamento feito na Marginal Tietê é mil vezes mais difícil do que ampliar terminais aéreos.

O que emperra o processo?

Olha, não sou a favor de privatizar os aeroportos. Seria um processo muito demorado, com muitas brigas. A Infraero tem condições de fazer isso. Tem muita gente boa lá dentro. É só dar transparência ao processo e chamar pessoas de fora do Brasil para ajudar. Existem especialistas no mundo inteiro. Poderíamos ampliar o Conselho de Administração da Infraero, colocar profissionais experientes e competentes nesse tipo de coisa.

O senhor defende então um novo modelo de gestão?

Sim, temos que desburocratizar a Infraero. A Petrobrás, por exemplo, não segue a lei 8666, que engessa processos. Por que não fazer o mesmo com a Infraero, dando agilidade para a estatal? Acredito até que seja possível ter mais um terminal em Congonhas. Tudo pode ser feito em dois ou três anos. Você precisa montar uma planilha, chamar as empresas que operam este tipo de concessão e preparar a licitação.

Você acha que a Infraero teria recursos para tanto?

Ela pode lançar bonds no mercado. Para mim, é difícil ouvir que é difícil. É algo fácil e que já foi feito muitas vezes no mundo. A solução é simples, entende? Se não tivesse terreno, aí sim seria complicado. Temos um aeroporto em Vitória que já começou e parou faz cinco anos (sorri). Em Goiânia, é exatamente a mesma coisa.

Mas não há urgência no andamento?

Podemos fazer ações temporárias, como montar pátios e construir terminais provisórios. Não podemos é parar com o crescimento. O que falta em Guarulhos é pátio. Se você sabe onde o terminal novo vai ficar, podemos colocar um pátio em frente para ser utilizado provisoriamente. Aconteceu assim com o aeroporto de Long Beach. A Jet Blue (empresa que criou nos EUA) queria entrar, mas não tinha sala de espera. Montamos uma e colocamos 42 voos por dia no aeroporto. Ficamos assim por dez anos. Coisa parecida foi feita em Nova York. Por que não fazer aqui?

Você poderia explicar isso um pouco melhor?

Primeiro, temos que utilizar mais a infraestrutura que já está aí, aumentando o número de posições no estacionamento de aviões. Isto pode ser feito com uma simples pintura, identificando as aeronaves por tamanho. Depois, eu pergunto: por que não dividir os balcões de check-in por mais de uma empresa? Aí entram as instalações provisórias. Elas são parecidas com grandes contêineres metálicos e, em alguns casos, podem até ser adaptadas e usadas como fingers. Sua construção é muito rápida e terão um papel importantíssimo a cumprir na Copa e nas Olimpíadas.

Por que você é contra a privatização dos aeroportos?

Não sou o único a ser contra. O governo também não quer. São Paulo tem dois aeroportos - um na cidade e outro fora. Mas a maioria das capitais brasileiras só tem um aeroporto. Se for privatizado, o gestor poderá cobrar o que quiser. E não existirá concorrência. Nos países onde os aeroportos foram privatizados, como Argentina, México e Inglaterra, não deu certo. São os aeroportos mais caros do mundo. É importante que os custos para as empresas aéreas fiquem baixos porque mais viajantes poderão voar, novos negócios serão gerados e a economia fluirá.

Como é funcionamento do sistema americano?

Não tem nenhum aeroporto importante nos Estados Unidos que seja privatizado. E o governo federal fez uma lei para os aeroportos estaduais e municipais. Todo dinheiro que ganham deve ser reinvestido em benefício do próprio terminal aéreo.

Historicamente, o setor de aviação aérea brasileira sempre foi complicado. Por que você escolheu o Brasil para fazer uma nova companhia?

Eu nasci no Brasil, eu amo o Brasil. Esse é o meu País. Quero fazer a diferença.

A área de aviação é o setor industrial dos mais difíceis. Une a necessidade de se ter capital intensivo, é dependente de concessão, precisa de mão de obra especializadíssima e, como acontece nos hotéis, assento vago é renda perdida. Esse setor apaixona?

Existe uma fotografia tirada aqui no Brasil de quando eu fiz cinco anos. Em cima do meu bolo de aniversário havia uma aeronave. Tenho alma inovadora e oportunidades.

Acha que Congonhas poderia ter mais voos?

Congonhas está trabalhando com 30 operações por hora. Nos Estados Unidos, a média é de 71 operações por hora. Podemos utilizar melhor nossos ativos sem risco de segurança. Precisamos de mais controladores. Acredito que daqui a quatro ou cinco anos, o número de passageiros vai triplicar. E a infraestrutura tem que acompanhar todo esse processo de desenvolvimento.

ALEXANDRE BARROS

A censura, agora da Fifa
Alexandre Barros 
O Estado de S.Paulo - 05/07/10

Organizações gostam de ver divulgadas ideias com as quais concordam. A censura, além de repugnante, é perigosa para quem tem o poder. Quando os poderosos não sabem o que as pessoas pensam, um dia acabam derrubados do conforto do poder.

Um consultor de empresas, quando convidado a prestar algum serviço, ouvia o que os dirigentes tinham a dizer, suas preocupações e suas ideias de soluções. Logo depois fazia sua proposta e assinava o contrato. A primeira coisa que pedia aos clientes era que o deixassem visitar os banheiros usados pelos funcionários. Sempre escalavam um ou dois assessores para acompanhá-lo. Ele recusava. Fazia questão de ir sozinho. Câmera na mão, fotografava tudo o que via escrito nas paredes. Na visita seguinte já sabia os problemas da firma. Tinha uma vantagem sobre pesquisas em que perguntavam a funcionários o que achavam da empresa. Via nas paredes um retrato realista da companhia, dito com toda a franqueza. As paredes dos banheiros não tinham censura.

Agora a Federação Internacional de Futebol (Fifa) quer proibir a "visita aos banheiros".

Na Fifa, a censura quer, primeiro, preservar o emprego de juízes e bandeirinhas (e tudo o que vem de bom com esses empregos). Segundo, tentar provar que a tecnologia não é tão boa quanto o olho humano.

A tauromaquia é um caso dramático de como a tecnologia mudou sua visão. Quase nada mudou nas touradas ao longo dos séculos. Só que agora há a tecnologia de câmeras e lentes, não disponível no passado. Sem falar que cinema e televisão antigamente eram em preto e branco. Quem assistia à fiesta brava por estes meios ou na arena sem excelentes binóculos (que eram muito caros) não percebia o que realmente acontecia. Todos esperavam o final, quando a espada deslizava com aparente suavidade para dentro do touro, matando-o depois de uma luta desigual.

Os bandarilheiros espetavam aqueles bastões floridos na nuca do touro e eram vistos como elegantes bailarinos em roupas de lantejoulas faiscantes. O picador, montado num cavalo, com uma lança dava uns toques também na nuca do touro. E eram admirados e aplaudidos por espectadores delirantes. Chamava-me a atenção que o cavalo do picador estava sempre com os olhos vendados. É claro, o cavalo não era bobo e a única forma que os humanos tinham de fazê-lo enfrentar o touro em quase igualdade de condições era censurando a sua vista.

Entram em cena a TV e os progressos da ótica. Tente assistir a uma tourada no seu televisor LCD ou LED, comprado com redução de impostos. O que você vai ver é uma cena inimaginável quando esses recursos não existiam. O picador enfia a lança e gira-a, estropiando os músculos do pescoço do touro de uma maneira e com uma dedicação raramente vistas na maldade humana. Depois os bandarilheiros "confirmam" os ferimentos espetando as bandarilhas, que danificam mais o pescoço do animal a cada movimento que ele faz.

Ainda não ouvi falar de proibir transmissões de touradas pela TV, mormente nos países onde elas são praticadas. Acho que a malta gosta da maldade. A probabilidade de o touro ganhar é de menos de 1%, mas existe. Recentemente um toureiro mexicano, depois de espetado por touros em duas corridas, fez o que lhe mandou o bom senso: fugiu, pulou a cerca e disse que, com ele, touradas, nunca mais.

O futebol está enfrentando problema parecido. Esta é a primeira Copa do Mundo com TV digital, em alta definição, disponível praticamente no mundo inteiro. Agora os fãs veem os horrores que, outrora, juízes e bandeirinhas ignoravam ou deixavam passar, fosse por falta de visão, comodidade ou incompetência. Nenhum daqueles milhares de fãs no estádio ou na TV ia perceber mesmo, então, passava qualquer coisa.

Fiat lux! O lance acontece, você vê em casa com todos os detalhes: a falta, a bola que cruza instantaneamente a lateral e volta, o impedimento, os tombos, os massacres. Em suma, tudo aquilo que, sem a tecnologia, os juízes podiam deixar passar e ninguém notava. E mais, a tecnologia repete em segundos a jogada suja, incompetente ou ilegal. O árbitro é julgado democraticamente por milhões de telespectadores ao redor do planeta. Fica clara a sua incompetência ou a sua parcialidade.

A solução da Fifa é fantástica e aparentemente confortável: censura. Proíba-se mostrar replay de cenas duvidosas. A organização protege-se e protege seus árbitros escondendo a verdade.

Nada de novo, só que, sempre que alguma instituição tentou escamotear seus erros ou atrasar mudanças trazidas pela tecnologia, por meio da censura, a tecnologia ganhou. A humanidade acabou mais feliz, mais gratificada e melhorou seu nível de conforto e prazer. (Antes que alguém reclame, isso não se aplica ao desenvolvimento de armas cada vez mais mortíferas.)

A solução da Fifa de tentar esconder a verdade de milhões de fãs também não dará certo. A médio ou a longo prazo, a tecnologia ganhará. Daqui a pouco teremos árbitros eletrônicos muito mais severos e precisos do que os humanos. É nessa direção e com uma velocidade cada vez maior que caminham a tecnologia e a humanidade. O erro, a crueldade, a incompetência ficam a cada dia mais evidentes e intoleráveis. Censurá-los só adia o problema e preserva a estrutura arcaica da Fifa um pouco mais.

Árbitros eletrônicos ganharão dos humanos. Aceitar isso só traz a verdade mais cedo. Como caem as ditaduras políticas, cairão as esportivas. A tecnologia reduz dia a dia o espaço disponível para os totalitarismos ? políticos, econômicos e esportivos.

A Fifa está sendo reprovada no teste básico do liberalismo: admitir que alguém diga a verdade que mais o detentor do poder odeia que seja divulgada. Outras pessoas, organizações, governos e religiões aprenderam que, no fim, a tecnologia mata o totalitarismo.

CIENTISTA POLÍTICO, É DIRETOR-GERENTE DA EARLY WARNING: OPORTUNIDADE E RISCO POLÍTICO (BRASÍLIA).

GOSTOSA

ANCELMO GÓIS

Petróleo e política I 
Ancelmo Góis 

O Globo - 05/07/2010

A Petrobras desistiu de patrocinar a Flip a um mês do início da festa literária.

O que se diz nos casarios coloniais de Paraty é que a desistência se deu porque FH foi convidado para fazer palestra sobre o sociólogo Gilberto Freyre.
Petróleo e política II
A pedido da petista Ideli Salvatti, candidata ao governo de Santa Catarina, a Petrobras reabrirá sua Unidade de Produção Sul no estado, fechada há anos com base num estudo de viabilidade econômica.
Acabou a festa
Excepcionalmente, o Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi) do governo federal trabalhou sem parar no sábado. Foram as últimas horas para destinar oficialmente recursos a novas obras.

O movimento foi registrado pela ONG Contas Abertas.
É que...
Pela lei, desde o dia 3 já não se pode mais iniciar obras por conta da eleição de outubro.

Uma vez empenhada, este é o nome técnico do que fizeram na madrugada, passa a ser algo em andamento.

Ah, bom!
Eu sou você amanhã
A derrota da Argentina um dia depois da do Brasil fez Durval Soledade, ex-diretor da CVM, lembrar que na Copa ocorreu o antigo “Efeito Orloff” às avessas.

Era assim que os economistas descreviam alguns planos de estabilização. O Brasil repetia os equívocos e desvios ocorridos na Argentina.
Era pós-Dunga
O que se diz na rádio corredor é que é mais fácil Maradona ir para a comissão técnica da seleção brasileira do que o ex-jogador Leonardo virar técnico.

A CBF não teria a menor boa vontade com o ex-treinador do Milan.
Samba alemão
Quem conta é o cientista político Moniz Bandeira, que mora na Alemanha: — Um comentarista do Canal 2 (ZDF) disse que o Brasil nesta Copa jogou que nem os alemães no passado, e que os alemães agora passaram a jogar como faziam os brasileiros.

Faz sentido.
Já...
O Maradona foi tratado pelo coleguinha da terra do chucrute como arrogante por desprezar, antes de sair da Copa, “times como a Alemanha e o Brasil”.

Engraçadinho, o jornalista aconselhou o popstar hermano a dançar um tango e a comer um “steak” argentino.

Faz sentido também .
Mistura de raças
O sociólogo Emir Sader lembra que a seleção alemã, sensação até aqui da Copa, é multiétnica, com poloneses, turcos, brasileiros.
O luxo e o lixo
Coisas de países movidos a petróleo. Chamou atenção ontem o carrão que o presidente da Guiné Equatorial, Obiang Nguema Mbasogo, usou para receber Lula: uma limusine Mercedes.

No poder desde 1979, Mbasogo tem uma fortuna, segundo a Forbes, de US$ 600 milhões.
Boca fechada
Pezão, vice de Cabral, entrou de dieta.

Perdeu 6 kg em 13 dias.
Rebecca Horn
Acredite. Em pouco mais de um mês, cerca de 150 mil cariocas viram no CCBB a exposição “Rebelião em Silêncio”, que reúne trabalhos da artista alemã contemporânea Rebecca Horn.
Rico adere ao crack
O alerta é da Câmara Comunitária da Barra, no Rio, que tem um serviço para dependentes de drogas.

O atendimento a viciados em crack subiu 70% no último ano. Crescem os usuários de classe média e alta.
Pé no jato
Marina Silva corre o risco de perder um voto ilustre por W.O.

Fernando Meirelles, o diretor de "Cidade de Deus", que, como se sabe, colabora no programa de TV do PV, deverá estar na Europa na data da eleição.
No mais
Os dados do MEC trazem um retrato preocupante da educação no Rio. No ensino médio, a rede estadual foi a segunda pior do país, à frente só do Piauí.

É a educação ladeira abaixo.

Isto é grave.

MARCO ANTONIO ROCHA



A borrasca está vindo, mas a festa está bem boa

MARCO ANTONIO ROCHA

O ESTADO DE SÃO PAULO - 05/07/10


O presidente Lula assinou um artigo para o jornal Financial Times (FT), publicado na semana passada, com o título A Nation"s Destiny.
Na abertura do artigo ele diz "I have great reason to be proud of the achievements of my government". É o que basta para perceber que um dos próximos achievements do seu governo bem que poderia ser a troca de quem escreve para ele em inglês. No resto do artigo ele trombeteia sobre como reconstruiu um país que estava destruído e sobre como está construindo agora o futuro de um país que não tinha futuro.
Como o maior marqueteiro de si próprio que o País já viu, não há por que recriminá-lo. Já dizia o sábio Abelardo Barbosa, também conhecido por Chacrinha, que "quem não se comunica, se trumbica..."
E Lula até hoje não se trumbicou nem por excesso de comunicação. Todavia, sua clarinada topa com alguns abafadores no mesmo jornal, na mesma edição. Um dos artigos, de John Paul Rathbone, traz o título A boa sorte ajuda a fortalecer a economia do Brasil. Ou seja, não foi o ferrabrás de Caetés que levou, sozinho, o velho Brasil a novos tempos, alegadamente melhores (nas estatísticas).
Logo o articulista aponta aquilo que o governo se empenha em obscurecer: "Graças às políticas anti-inflacionárias do ex-presidente FHC, continuadas por Lula, a hiperinflação que arruinava o País nos anos 80 é um pesadelo de que ninguém se lembra. As exportações quintuplicaram em valor nos últimos 20 anos. E a dívida externa caiu para apenas 4% do PIB."
"O líder sindical que antes gritava "fora FMI" se tornou o presidente que pagou as dívidas do Brasil com essa instituição, e acabou emprestando a ela US$ 14 bilhões", alardeou Lula no seu artigo, omitindo os desgastantes esforços anteriores para negociar a acachapante dívida externa, dos quais ele foi o beneficiário, pois quando assumiu ela já era um problema equacionado.
Também, como diz o articulista do FT, muito do recente sucesso financeiro e econômico brasileiro resulta das políticas (atuais), "mas uma boa parte é também devida à pura e simples boa sorte". E explica que os bancos brasileiros, "escaldados por passadas crises", fizeram a maior parte das suas aplicações internamente, "ao invés de se aventurarem pelo mundo". Evitaram, desse modo, a armadilha do subprime. Ao mesmo tempo, a fome da Ásia por commodities manteve em alta os preços e as exportações do Brasil, enquanto os juros próximos de zero nos EUA ajudaram "a inundar o País com dinheiro barato".
Bem, essa boa sorte não estará à disposição do próximo governante brasileiro.
"A nova Grande Depressão está vindo. Garantido", diz Andrew R. Sorkin, do The New York Times, ecoando o Prêmio Nobel de Economia Paul Krugman, no mesmo jornal, para quem estamos no começo da "terceira recessão". A de 2008-2009 (a "marolinha" de Lula) teria sido apenas um aperitivo. A terceira, de que fala Krugman, será comparável às de 1873 e de 1929, verdadeiras hecatombes. E Sorkin o reforça, enumerando a sequência de meltdowns dos mercados modernos nos últimos 20 anos.
Na reunião do G-20 em Toronto, há alguns dias, deu-se preferência a políticas de ajuste para combater o desastre que se prevê, e que já estão sendo adotadas pelos países da Europa. Essas políticas se traduzem em geral por queda do consumo das famílias, dos salários e do emprego ? por retração generalizada. Ruim para as exportações e para a captação de recursos internacionais, dos quais precisamos.
Krugman e outros dizem que não é hora de ajuste, e sim de aumentar os gastos públicos para impulsionar a demanda. Mas os governos dos países ricos já gastaram "uma baba" ? como diz o povo ? para salvar da falência seus sistemas financeiros. E a demanda... nada!
Essa divergência mostra que ninguém tem uma boa receita para evitar o que está previsto. Mas não há divergência sobre o que está previsto: borrasca brava. Os "fundamentos" das economias de quase todos os países estão se deteriorando, criando uma perspectiva indigesta.
Repetindo Rathbone, o Brasil beneficiou-se muito de uma boa conjuntura: commodities em alta, juros internacionais em baixa. Bonança sem precedentes, frisou um relatório do Fundo Monetário Internacional. Porém, a equação está se invertendo com as medidas de autodefesa que os grandes países adotam. Menos um deles: o Brasil!
Aqui os fundamentos também não estão no bom caminho. Alguns já estão no mau caminho: a conta de transações correntes; o saldo comercial; a inflação; o déficit público;as taxas de juros. As "bondades" do Congresso e do presidente, com o salário mínimo; as aposentadorias; o Bolsa-Família; o Minha Casa, Minha Vida; e os proventos do funcionalismo ainda não tiveram tempo de fazer estragos nas contas públicas e na inflação, mas o tal do mercado ? cuja mão não é nada invisível ? mostra, pelo termômetro dos "futures", que aposta mais na dificuldade do ano que vem do que na alegria de agora.
Isso tudo não inquieta nem um pouco nosso peripatético presidente, é problema de quem pegar o bastão.

SOM

DENIS LERRER ROSENFIELD

ONGs
Denis Lerrer Rosenfield 
O Estado de S.Paulo - 05/07/10

Para que se possa melhor compreender o debate sobre o Código Florestal e o parecer do deputado Aldo Rebelo é necessário analisar o trabalho de ONGs nacionais e internacionais que atuam fortemente no Congresso e entre os formadores de opinião. Apesar de sua aura de politicamente corretos, representam interesses concretos, mormente de países do Primeiro Mundo que competem com o Brasil e gostariam de ter maior ingerência em nossos assuntos. Agricultura, pecuária, agronegócio e energia ficariam com eles, enquanto nós deveríamos cuidar de nossas florestas. Se a posição deles prevalecer o País se tornará um grande museu ambiental, um zoológico de luxo, enquanto eles se dedicarão às atividades produtivas. Economia de mercado protegida para eles, atraso para nós.

Observe-se, ademais, que essas ONGs, de "direita" e de "esquerda", atuam como verdadeiros lobbies, fazendo valer seus interesses. Seria interessante que fosse aprovada uma lei de regulamentação da atuação de lobbies, em que algumas condições básicas seriam estabelecidas: 1) Quem são seus dirigentes? 2) Quem são seus apoiadores e financiadores? 3) Quais são os seus respectivos orçamentos? 4) Quanto ganham seus executivos e operadores? Trata-se de uma questão básica de transparência, para além do palavreado de defesa da "humanidade".

Aliás, a "humanidade" deles é bastante curiosa, pois o que vale para nós não vale para eles. Em nosso Código Florestal atual existe a "reserva legal", pela qual toda terra cultivável deve preservar, de florestas e biomas nativos, no Sul, 20% da área; no Cerrado, 35%; e na Amazônica, 80%. Ora, esse instituto não existe nos EUA e na Europa. Eles não são obrigados a preservar nada, poluem o planeta com seu estilo de vida e exigem que nosso país seja preservacionista. Os países de Primeiro Mundo devastaram praticamente todas as suas florestas nativas.

Vejamos alguns desses movimentos e ONGs.

O WWF Brasil, ONG sediada nos EUA, tem fortes financiadores e apoiadores, contando com grande equipe. Sua atuação no Brasil, além de militar contra a revisão do Código Florestal, situa-se nas áreas de infraestrutura e agricultura. É contra a construção do Terminal Portuário de Morrinhos (MT), do Terminal Portuário da Bamin, do Porto Sul (BA) e a soja produzida no País.

O Greenpeace, ONG cada vez mais acusada de fraudes na Europa e de utilização dos recursos coletados para seus dirigentes, é contra a construção da Hidrelétrica de Belo Monte, os transgênicos, a pecuária na Amazônia, além de ser evidentemente contra a revisão do Código Florestal. Seus financiadores e apoiadores são expressivos.

O Instituto Socioambiental (ISA), ONG ambientalista e indigenista, além de ser contra a revisão do Código Florestal, é contra a construção de hidrelétricas, centrando seus ataques em Belo Monte. Seus apoiadores e financiadores se dizem defensores dos "povos da floresta". Dentre eles, além de empresas e fundações, temos governos estrangeiros.

O Centro de Apoio Sócio-Ambiental (Casa), por sua vez, segue a orientação da Teologia da Libertação, no sentido de promover, inclusive, movimentos de criação no País de "nações indígenas". Além de suas ações contrárias à revisão do Código Florestal, o Casa posiciona-se contra a construção de hidrelétricas, em particular a de Belo Monte. Procura igualmente condicionar os financiamentos do BNDES às suas próprias condições, evidentemente apresentadas como de "preservação da natureza". Seus apoiadores internacionais são importantes, misturando-se igrejas, empresas, ONGs e fundações.

O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), braço do MST, além de contrário à revisão do Código Florestal, é contra a transposição do Rio São Francisco e a construção das hidrelétricas em geral. Centra suas ações nos projetos de Jirau e Santo Antônio, no Rio Madeira, de Belo Monte, Riacho Seco e Pedra Branca, na Bahia, e de Itapiranga, na fronteira do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, entre outras. Já a Via Campesina-MST atua também contra a revisão do Código Florestal, os transgênicos, o agronegócio, a cultura de cana-de-açúcar e a produção de etanol, as florestas de eucaliptos e a cultura da soja. Ademais, tem forte atuação junto aos movimentos indigenistas e quilombolas.

A Conservation International tem vasta atuação internacional, está presente no Peru, no Equador, na Selva Lacandona (México), centro operacional dos "zapatistas". No Brasil, posiciona-se contra a revisão do Código Florestal e a agricultura em Minas Gerais e na Bahia, por meio da ampliação em 150 mil hectares do Parque Nacional Grande Sertão Veredas. É contra a construção do Terminal Portuário da Bamin, do Porto Sul (BA) e do traçado final da Ferrovia de Integração Leste-Oeste (Fiol). Tem fortes apoiadores empresariais, de fundações e governos estrangeiros.

A Amigos da Terra, forte ONG internacional, tem entre seus fundadores Brice Lalonde, que foi ministro do Meio Ambiente de Mitterrand. Ele chegou a declarar que o Brasil deveria "renunciar a parcelas de sua soberania sobre a região amazônica". Destaca-se na Europa por sua campanha contra o etanol brasileiro.

A lista apresentada não é, evidentemente, exaustiva, mas permite um olhar um pouco mais abrangente sobre os interesses em jogo. Todos lutam pela preservação da "reserva legal", isentando-se de qualquer ação do mesmo tipo em seus países de origem. Se não fossem hipócritas, deveriam usar os mesmos critérios. Fica uma sugestão: o Brasil poderia comprometer-se com o "desmatamento zero" e essas ONGs, com todos os seus recursos e apoiadores, deveriam comprometer-se com a criação da "reserva legal" nos EUA e na Europa, com a recriação de "florestas nativas". Utilizariam todo o conhecimento e tecnologia de suas grandes universidades. Poderiam começar com 20%, o mínimo existente no Brasil. Mostrariam sua verdadeira vocação ambiental e planetária.

PROFESSOR DE FILOSOFIA NA UFRGS.

PAINEL DA FOLHA

Enviado aos evangélicos 
Renata Lo Prete 

Folha de S.Paulo - 05/07/2010

Embora o mais recente Datafolha tenha apontado vantagem de nove pontos percentuais para José Serra (PSDB) entre os fiéis de igrejas pentecostais, o governo conta com uma espécie de "embaixador" na operação para tentar virar o voto dos evangélicos.

Chefe de gabinete do presidente Lula e tradicional interlocutor do PT com o mundo católico, Gilberto Carvalho foi fundamental na operação que, na undécima hora, capturou o PSC, sigla dominada por evangélicos, para a coligação de Dilma Rousseff. A ofensiva será mantida em julho, com previsão de conversas da própria candidata com lideranças de igrejas.
Guerra santa O núcleo da campanha petista espera para os próximos dias o anúncio de apoio à Dilma do pastor Manoel Ferreira (PR), que controla uma ala da Assembleia de Deus, a com sede em Madureira (RJ).
Muralha 1 O consórcio demo-tucano pretende pedir providências ao Ministério Público relativas à movimentação de Alexandre Padilha (Relações Institucionais) na campanha. O ministro de Lula participa ativamente das costuras políticas da candidatura, algumas durante o horário de expediente.
Muralha 2 Do deputado Jutahy Júnior (PSDB-BA), sobre a atuação do ministro: "Quando um presidente vira as costas à legislação eleitoral, ele abre as portas para seus subordinados agirem como se a lei existisse apenas para ser descumprida".
Cerimônia... O núcleo petista pretende apresentar na propaganda de TV, a partir do dia 17 de agosto, uma espécie de simbiose entre a despedida de Lula do poder e a apresentação de Dilma como sua sucessora.
...do adeus Para o comando da campanha do PT, ainda não "caiu a ficha" da população sobre a saída de Lula. Daí a ideia de tentar capitalizar a despedida.
Simbologia No dia 13, o PT inaugura o comitê nacional da campanha num prédio da Asa Sul em Brasília.
Dinâmica As coordenações das campanhas decidem hoje com a direção da Rede Globo as regras do debate que levará os presidenciáveis ao estúdio da emissora no dia 28 de setembro.
Quebra pau Do ex-governador Roberto Requião (PMDB) no twitter, horas depois de levar um soco de um adversário político no Paraná: "Vou passar numa farmácia para me vacinar contra raiva de gata no cio".
Calma nessa hora A cúpula do DEM, que pensava ter alcançado um grau maior de sintonia com José Serra (PSDB), estava um tanto inquieta no final do dia de ontem diante da falta de sinais do tucano sobre os passos a serem dados nesta semana, quando começa oficialmente a campanha eleitoral.
Sem fim Faltando algumas horas para o fim do prazo de registro das candidaturas, o impasse entre DEM e PSDB no Pará continuava ontem. Os problemas eram os de sempre: a inclusão da "demo" Valéria Pires Franco como candidata ao Senado na chapa e a coligação na eleição proporcional.
Quem tem a força A escolha de Indio da Costa (DEM-RJ) para vice de Serra deu ao presidente do DEM, Rodrigo Maia (RJ), a chance de posar de vitorioso, mas ao mesmo tempo criou um problema prático para o deputado: se Serra perder a eleição, Indio despontará como favorito no partido para disputar a prefeitura do Rio em 2012.
Tiroteio
 "A subprocuradora está tentando emplacar uma versão tupiniquim do "por que não te calas" do rei Juan Carlos."
Contraponto
Figurinha carimbada 
 O deputado Inocêncio Oliveira (PR-PE) surpreendeu o plenário na semana passada ao anunciar que, após o recesso de julho, irá se afastar da Câmara para fazer fisioterapia. Dono de nove mandatos consecutivos, o parlamentar disparou:

-Mas podem ficar tranquilos porque terei uma das votações mais expressivas de Pernambuco!
Chico Alencar (PSOL-RJ) não resistiu à piada:

-Felizes os que podem ficar 30 dias em agosto sem campanha. Se eu ficar três dias fora, perco a eleição!

JAPA GOSTOSA

CHRISTOPHER SABATINI

Honduras permanece sem solução
CHRISTOPHER SABATINI
FOLHA DE SÃO PAULO - 05/07/10

Os conservadores dos EUA gostariam de acreditar que, com o afastamento de Manuel Zelaya, tiveram vitória contra o chavismo



Um ano após o golpe em Honduras em que o então presidente Manuel Zelaya foi afastado pelo Exército sob a mira de armas, Honduras, como problema regional, permanece sem estar resolvido, para a insatisfação de todos.
Os acontecimentos que se seguiram ao golpe de 28 de junho de 2009 feriram, talvez de modo permanente, as normas e mecanismos internacionais de defesa da democracia; os abusos dos direitos humanos passaram por escalada no país, que, enquanto isso, segue excluído por muitos da comunidade regional (incluindo o Brasil).
O governo "de facto" que assumiu o lugar de Zelaya, liderado pelo presidente Roberto Micheletti, negou-se a renunciar, apesar de série de esforços para negociar acordo de conciliação que teria restaurado Zelaya ao poder de alguma forma restrita até a realização das eleições, já programadas anteriormente para 29 de novembro de 2009.
Micheletti encontrou apoio forte entre conservadores dos EUA, que argumentaram que a remoção tinha sido constitucional.
Pelo fato de as eleições terem sido promovidas sob a égide do governo "de facto", Argentina, Bolívia, Brasil, México, Nicarágua e Venezuela se recusam até agora a reconhecer o governo do presidente Porfírio Lobo.
Cada um dos lados acabou prejudicado, pelas seguintes razões. Para começar, pela primeira vez desde que adotou suas cláusulas de defesa democrática, a Organização dos Estados Americanos (OEA) deixou de desfazer um golpe de Estado.
Isso deveu-se em parte a suspeitas de que a OEA houvesse agido tendenciosamente ao deixar de se manifestar antes de 28 de junho, quando Zelaya parecia estar se encaminhando para um referendo anticonstitucional.
Mas também, nos meses seguintes, a OEA pareceu incapaz de tentar forçar mudança de rumo.
Essa imagem transmitiu a qualquer golpista em potencial a mensagem de que a OEA e suas ferramentas de defesa democrática não passam de um tigre de papel.
Em segundo lugar, os conservadores americanos gostariam de acreditar que, com o afastamento de Zelaya, tiveram uma vitória contra o chavismo. Na verdade, eles podem ter vencido a batalha, mas perderam a guerra.
A maior ameaça ao chavismo é um organismo regional efetivo que seja capaz de fazer aplicar as normas internacionais. Os abusos de direitos humanos e a polarização política que estão ocorrendo em Honduras hoje vêm apenas deixar claro que essas divisões continuam a existir, fortes. É nesse ambiente de repressão e frustração que o populismo cresce e se fortalece.
Em terceiro lugar, ao deixarem de reconhecer o governo do presidente Lobo, Argentina, Brasil e México estão apenas prejudicando os cidadãos hondurenhos. Não há dúvida de que a forma pela qual Lobo chegou ao poder é imperfeita. Mas é hora de seguir adiante.
A hipocrisia de um governo brasileiro que se dispõe a abraçar o governo iraniano, que executou centenas de manifestantes em uma eleição claramente fraudulenta, ao mesmo tempo em que rejeita um governo que, apesar de todas as falhas que precederam a eleição, chegou ao poder por uma eleição aberta e justa enfraquece a autoridade moral de um país que aspira a se tornar um líder mundial.
Em suma, o sofrimento de Honduras começou algumas semanas antes do 28 de junho, fruto de uma disputa entre elites que ganhou força e virou uma batalha ideológica campal, não apenas em Honduras mas também na região e nos EUA.
Ao longo dos últimos 12 meses, pessoas e países demais (da esquerda e da direita) vêm marcando pontos políticos e ideológicos baratos, sem se preocupar realmente com o futuro e o destino dos hondurenhos. Aproveitemos isso tudo como lição e comecemos o processo de superação -regionalmente e em Honduras.
Tradução de CLARA ALLAIN

CHRISTOPHER SABATINI
é editor-chefe da "Americas Quarterly" ( www.americasquarterly.org ) e diretor sênior de política do centro de estudos Americas Society/ Council of the Americas ( www.as-coa.org ).

CLÁUDIO HUMBERTO


Índio topou ser vice de olho na prefeitura
 
O deputado Índio da Costa (DEM), vice do candidato a presidente José Serra (PSDB), explicou a um empresário amigo que aceitou o convite porque a exposição na mídia o ajudará em seu projeto de se candidatar a prefeito do Rio, em 2012. Isso mostra que nem mesmo o vice acredita das possibilidades da chapa liderada pelo tucano. Ligado ao ex-prefeito César Maia, Índio pretende o lugar do tucano Eduardo Paes.

'Secante'
Depois da derrota do Brasil, a oposição vai pedir encarecidamente que Lula não largue o pé de sua candidata Dilma até outubro.

Trair e coçar...
Lula suspeita que os irmãos Jorge e Tião Viana fazem corpo mole no Acre para beneficiar Marina Silva (PV) contra Dilma Rousseff (PT).

Que droga
O Brasil encontra a Holanda de novo, hoje, às 9h: o ministro da Saúde de lá, Marcel de Kort, participa de seminário sobre drogas na Câmara.

Eles e ela
Quem disse que a candidata Dilma recusa debates? Debaterá ao vivo, na Rede TV!, hoje, depois de almoço, com... líderes empresariais.

Hospício postal
Não chegou o telegrama da ECT reembolsando uma leitora do RJ por extravio de encomenda. Os Correios avisaram que "vão mandar outro".

Figura caricata
O premiê italiano Silvio Berlusconi faz bronzeamento artificial, daí a cor da pele, pinta os cabelos de vermelho e usa base e pó de maquiagem.

Um viciado
A tentativa de abandonar o cigarro criou outro vício em Barack Obama: ele masca chicletes sem parar, daqueles enormes, 24horas por dia.

Salvo pelo gongo
A pesquisa Datafolha, registrando empate (39% x 38%), deu sobrevida a Luiz Gonzalez, marqueteiro do candidato José Serra (PSDB). É forte a pressão de tucanos ilustres para substituí-lo por Duda Mendonça.

O amor é lindo
Estimulando os rumores sobre desgaste no relacionamento com sua mulher, o ministro Guido Mantega (Fazenda) despediu-se do G-20, no Canadá, avisando que sairia de férias, com ela, por alguns dias. "Férias conjugais?", xeretou uma repórter. Ele sorriu: "Quem sabe..."

O ódio é lindo
Durante a visita de Silvio Berlusconi, uma repórter brasileira provocou jornalistas italianos, perguntando se eles eventualmente pegavam carona no avião do primeiro-ministro. "Jamais!", exclamou um deles, para explicar: "Ele nos odeia e nós o odiamos!"

Porca miséria
Aposentados brasileiros reclamam, mas alguns italianos residentes no Brasil descontam INSS aqui, e na Itália, outro desconto, contrariando convenção internacional que obriga o pagamento no país de origem.

Perdas e danos
O governo decide, nos próximos dias, se paga os atrasados da ex-vice-cônsul em Cingapura Áurea Domenech, reintegrada em 2003 após recurso legal a Lula. O ex-chanceler Luís Felipe Lampreia reconheceu que ignorava o assédio moral, que culminou na exoneração, em 1998.

Com teto
Nomeado recentemente, o jovem ministro Dias Toffoli, do STF, já não é mais "sem-teto": vai morar no apartamento funcional do Tribunal na 216 Sul, em Brasília, pelo menos até julho de 2011.

FRASE DO DIA

"Ele se permitiu fazer um senhor papelão"
Roberto Jefferson sobre Armando Monteiro (PTB-PE), por divulgar pesquisa pró-Dilma

PODER SEM PUDOR

Gesto inusitado
Num país onde autoridade não pede demissão, Segadas Vianna o fez. Ministro do Trabalho de Vargas em 1953, avisou que derrotaria a greve dos marítimos com a lei que considerava deserção faltar ao trabalho. João Goulart foi contra e convenceu Getúlio. Segadas não titubeou:
- Se a opinião dele é tão importante, faça-o Ministro do Trabalho.
Pediu o boné em seguida.

$$$$ 2014 $$$$

SEGUNDA NOS JORNAIS

Globo: Paes anuncia choque de ordem contra buraco de rua

Folha: Escola pública está três anos atrás da particular

Estadão: Verba extra não melhora escolas com mau resultado

JB: Aplausos na volta ao Brasil

Correio: Distritais vão trabalhar só um dia por semana

Valor: Blitz da Receita fiscaliza câmbio e faz autuações

Jornal do Commercio: Procura-se um técnico

Zero Hora