quinta-feira, junho 20, 2013

UMA COPA SE FAZ COM HOSPITAIS!





Brincando com fogo - ANCELMO GOIS

GLOBO - 20/06

Acredite. A SuperVia, que cuida dos trens cariocas, está recebendo ataques de vândalos na sua rede aérea, com a colocação de objetos que derrubam o cabo de energia.
O primeiro ocorreu sábado, em Saracuruna. Segunda, foi em São Cristóvão, e terça, no Engenho de Dentro.

Ameaça à democracia
Pode ser um sinal de mudança com a chegada do Papa Francisco. A Rádio Vaticano abriu espaço para uma entrevista com Frei Betto.
O brasileiro diz que o controle pela internet da vida privada nos EUA ameaça a democracia.

Pão e circo
Com a Espanha enfrentando uma crise braba, o presidente Mariano Rajoy está pronto para vir ao Brasil.
Sonha que Iniesta e seus companheiros devolvam um pouco de alegria aos espanhóis nesta Copa das Confederações. Tomara que não.

O que é isso, companheiro?
Fernando Gabeira foi ontem a Porto Real, no Rio, fazer uma reportagem sobre o sistema de transporte de ônibus, que, na cidade, é gratuito.
Só que o motorista, quando o viu fazendo perguntas aos passageiros, achou que ele era um assaltante.

Segue...
Não teve conversa. Foi todo mundo para a delegacia. Mas, ainda bem, o delegado reconheceu Gabeira. A prefeita Cida, envergonhada, fez um pedido formal de desculpas.

Herdeiro
Nasceu ontem Baldur, filho de Eike Batista com Flávia Sampaio. O empresário já tem Thor e Olin, do casamento com Luma de Oliveira.
Na mitologia, Baldur é irmão de Thor e o mais eloquente dos deuses.

Imagina na Copa
Do jornalista nigeriano Colin Udoh, que veio acompanhar a seleção de seu país na Copa das Confederações, sobre o país-sede da Copa de 2014:
— Três coisas das quais não vou sentir nenhuma saudade no Brasil: telefonia, internet e aeroportos.

Pobre de marré deci...
A Nigéria, como se sabe, é um dos países mais pobres do mundo.

Diário de Justiça
Leonardo Vieira, o ator, processou a Abril porque uma revista da editora publicou que ele era uma “celebridade esquecida” e “aposta de galã dos anos 90 que não vingou”.
Mas a 14ª Câmara Cível do Rio negou o pedido de danos morais feito pelo ator.

Sabe a Raimunda?
O futebol do atacante Hulk divide ainda um pouco a torcida, mas o seu bumbum é um sucesso.
Veja só. Uma turma gaiata criou o twitter @BundaDoHulk. Reúne mulheres, homens, gays e simpatizantes. Já tem mais de 300 seguidores que se derretem em elogios à, digamos assim, abundância do jogador.

Diário de Justiça
O juiz da 1ª Vara Federal do Rio, Mauro Souza Marques da Costa Braga, condenou os governos federal, estadual e municipal a indenizar em R$ 200 mil a família do menino Daniel Carrilho Evaristo. Em março de 2008, aos 8 anos, ele morreu de dengue.
O advogado da família, Carlos Henrique Jund, alegou que houve omissão dos governos no combate à dengue.

No mais
Depois do Japão e do México, que venha a Itália!

Barba aparada
Ronaldo Fenômeno, comentarista da Rede Globo estreou ontem na transmissão da espetacular vitória do Brasil sobre o México, um novo cavanhaque. 

A epanáfora de Dilma
O professor Cláudio Cezar Henriques, de Língua Portuguesa da Uerj, reparou que Dilma, em seu discurso sobre os protestos que tomaram as cidades brasileiras, disse quatro vezes a frase “Essa mensagem direta das ruas”.
Para o acadêmico, trata-se de uma epanáfora, figura de linguagem de ênfase e... “enchimento de linguiça”.

Padre de passeata
Para quem anda com nostalgia de 1968, vale lembrar que ainda não apareceu nenhum “padre de passeata”, criação imortal do Nelson Rodrigues para designar os sacerdotes que na época iam para as ruas engrossaras manifestações contra a ditadura.
Machado de Assis diria: “Mudaram os padres ou mudaram as passeatas?”

Aliás...
É também de Nelson Rodrigues uma frase que pode conformar Dilma: “A verdadeira apoteose é a vaia. Os admiradores corrompem.”

GOSTOSA


O PÃO E A VAGABUNDA


Sonhos de calor humano - CONTARDO CALLIGARIS

FOLHA DE SP - 20/05

Todos parecem cansados de uma cantilena ufanista do Brasil que dá certo, que cresce (?) e está no caminho


Na sexta-feira passada, estreou o último filme de Richard Linklater, "Antes da Meia-Noite", que eu estava aguardando. Mas, enquanto as ruas pegam fogo, é difícil escrever sobre o amor.

As manifestações que se espalharam (e seguem se espalhando) por São Paulo e por outras cidades do país me impressionaram pela rapidez com a qual o protesto, supostamente motivado pelo aumento das passagens de ônibus, tornou-se expressão de outras insatisfações, profundas e cruciais --contra a má qualidade e a má gestão do que é público, contra a insegurança de nossas ruas, contra a corrupção, contra o mistério nacional que resulta em produtos caros e salários baixos, contra os políticos com sua falta de competência e seu excesso de promessas, contra o desperdício da Copa que vem aí, contra a lentidão e a ineficácia da Justiça, que parece que late e nunca morde etc.

Domingo, num café de família, verifiquei, aliás, que as passeatas da semana passada não eram mais (se é que foram no começo) a manifestação de uma geração ou de uma classe social (e ainda menos de um partido).

Todos parecem cansados de uma cantilena ufanista que quase nos adormeceu: o discurso do Brasil que dá certo, que cresce (?), que está no caminho, que resistiu à crise enquanto os outros se deram pior, que acabou com a miséria (?) etc.

Levantando a cabeça atordoada pela propaganda, a gente pergunta: isso aqui é mesmo tudo o que conseguimos ser, como sociedade?

As manifestações da semana são frutos de um descontentamento bem justamente brasileiro. Ao mesmo tempo, elas pertencem a uma voz popular que se expressa, mundo afora, há tempo --e não só desde Seattle, em 1999.

Paradoxalmente, foi assistindo ao filme de Linklater que me pareceu entender por que somos (e não estamos) insatisfeitos com as sociedades nas quais vivemos.

Linklater filmou uma trilogia: no primeiro filme, "Antes do Amanhecer" (1995), Jesse e Céline descem do trem onde se encontraram para passear por Viena, até eles terem que voltar, no dia seguinte, cada um para seu lugar. No segundo, "Antes do Pôr do Sol" (2004), Jesse está promovendo, em Paris, o livro que ele escreveu sobre seu encontro em Viena com Céline; Céline vai ao lançamento, e eles se reencontram.

Em "Antes da Meia-Noite", agora em cartaz, Jesse e Céline se juntaram no fim do filme anterior, tiveram duas filhas e estão de férias na Grécia: o charme das conversas passadas se transformou num pesadelo, em que uma oposição estéril, abstrata e inexplicável parece ser o destino a longo prazo de qualquer conversa de casal.

Ou seja, o amor é o encanto de um encontro, um sonho: quando ele se realiza como convivência, ele pode durar, mas será facilmente cômico e sempre insuficiente.

Ora, essa verdade do amor talvez valha para qualquer projeto de convivência social. A sociedade que nos parece certa, que desejamos, existe na mágica do encontro e do sonho (o momento da manifestação, da militância). Como acontece com o amor, a realização dessa sociedade é sempre insatisfatória --claro, às vezes ela é um pesadelo absoluto e totalitário, outras vezes ela é parecida com aqueles casamentos que continuam porque ninguém acredita que a coisa possa melhorar e porque ninguém está a fim de ficar sozinho.

Ao longo de alguns séculos, o indivíduo se tornou para nós mais importante do que a comunidade. Esse período teve seu ápice no começo da modernidade. Paradoxalmente, logo quando o indivíduo passou a encabeçar nossos valores, a gente começou a idealizar o amor romântico como doação perfeita de cada um ao outro.

Da mesma forma, quando começamos a inventar as regras e as formas de uma sociedade de indivíduos separados e autônomos, logo naquele momento começamos a sonhar com o abraço de comunidades unidas e fraternas.

Ou seja, quanto mais prezamos o indivíduo, tanto mais sonhamos com o amor e o ideal comunitário.

Esse paradoxo nos define. Estamos em conflito permanente entre nossa aspiração individual e nossos sonhos amoroso e comunitário. Em matéria de amor, a consequência parece chata (nunca dá certo).

Mas em matéria de sociedade, sorte nossa: de vez em quando, podemos nos acomodar, mas nunca somos satisfeitos com a sociedade que conseguimos construir.

Melhor assim.

Neymar, espetacular - TOSTÃO

FOLHA DE SP - 20/06

Depois que perceberam a importância e a legitimidade das manifestações, até a CBF, a Fifa, Marin, Marco Polo Del Nero, governantes, amigos e parceiros do poder e corruptos, de todos os tipos, passaram a ser a favor dos protestos.

Só falta irem a passeatas e chorarem, enrolados na bandeira brasileira.

Se não fosse Neymar, o jogo terminaria empatado em 0 a 0. Ele foi espetacular, nos dois gols e durante quase toda a partida. Os torcedores do Barcelona devem estar eufóricos.

O Brasil jogou muito bem os primeiros 20 minutos e muito mal o restante da partida.

No início, o time marcou muito bem por pressão, tomou a bola com facilidade e criou chances de gol, graças à velocidade e habilidade de Neymar e, às vezes, de Hulk.

Depois disso, apenas belos lances de Neymar, como no gol de Jô.

Na metade do primeiro tempo, o México equilibrou o jogo. Foi melhor no segundo tempo. Apesar de não ter tido claras chances de gol, o México, pelos lados, principalmente no de Marcelo, fez vários cruzamentos, com perigo, da linha de fundo. Por detalhes, alguém, livre na área, não fez o gol.

O Brasil não sabe alternar as jogadas em velocidade com o jogo cadenciado e o domínio da partida.

Se soubesse, ficaria com a bola, trocaria passes e paralisaria o adversário.

Fred e Oscar tiveram atuações apagadas ontem. Con-tinuam as dúvidas sobre as condições do Brasil para enfrentar as melhores seleções. Como os dois zagueiros são excepcionais, e temos Neymar, poderemos vencê-los, principalmente por jogarmos em casa, nos beneficiarmos do calor e estarmos com muito mais vontade para conquistar a Copa das Confederações.

JOGOS DE HOJE

Imagino que a Espanha, com os reservas, deve fazer menos gols no Taiti do que fez a Nigéria.

Com a ausência de Xabi Alonso, contundido, o time titular ficou ainda mais parecido com o Barcelona. Dos seis do meio para a frente, apenas Soldado, do Valencia, não atua no time catalão.

A defesa da Espanha é melhor que a do Barcelona, principalmente nas jogadas aéreas, com o zagueiro Sergio Ramos, do Real Madrid, ao lado de Piqué.

Daniel Alves é muito melhor que Arbeloa, no apoio, mas o lateral do Real Madrid marca mais, além de ser mais alto.

O Uruguai tem um pouco mais de chances que a Nigéria porque tem Suárez, um excelente atacante.

Suárez é um dos raros atacantes que unem habilidade e técnica com força física e agressividade.

Algumas vezes, passa do limite. Chegou até a morder um adversário, como se fosse um animal irracional.

Gatsby S.A. - LUIS FERNANDO VERISSIMO

O GLOBO - 20/06

Para coincidir com o lançamento do filme, que abriu o festival de cinema de Cannes deste ano, inaugurou-se uma espécie de indústria de Grandes Gatsbys. Várias editoras aproveitaram o estardalhaço para publicar suas versões do livro de Scott Fitzgerald. Nas diversas edições em inglês só o que muda de uma versão para outra, claro, é a apresentação gráfica (com ou sem Leonardo Dicaprio na capa, por exemplo), mas nas novas traduções que pipocam pelo mundo imagina-se que a qualidade do texto de Fitzgerald nem sempre sobreviva. No Brasil há umas quatro ou cinco traduções do “Gatsby”, entre antigas e novas. A melhor das novas no mercado deve ser a que a excelente Vanessa Barbara fez para a Companhia das Letras.

Essa variedade de versões espelha, de certa forma, a variedade de interpretações possíveis do livro. Não que ele seja um texto obscuro a ser decifrado. Pode-se até dizer que é uma lição de narrativa clara, junto com “Suave é a noite”, exemplos máximos do estilo elegante de Fitzgerald e do romance tradicional. Costuma-se comparar a literatura de Fitzgerald com a do seu contemporâneo Ernest Hemingway, cujo estilo lacônico, “seco”, em contraste com a prosa fluente de Fitzgerald, seria o futuro da literatura moderna. No entanto hoje rele-se “O grande Gatsby” com o mesmo prazer da primeira leitura, enquanto reedições do Hemingway mostram um autor a caminho da pior armadilha que espera um escritor que se repete, a da autoparódia.

Mas, se “O grande Gatsby” não “quer dizer” nada além do que diz com perfeição, o que, exatamente, simboliza aquele estranho personagem enfeitiçado pela luz verde do outro lado da baía que separa o velho do novo dinheiro, a classe legitima da classe comprada, o seu mundo de negócios suspeitos e escroques do mundo encantado da sua amada Daisy? “Os ricos são diferentes de nós” é a primeira frase de um conto de Fitzgerald, anterior ao “Gatsby“. “É, eles têm mais dinheiro”, teria comentado Hemingway. Mas Fitzgerald era fascinado pela diferença. Gatsby é martirizado pela diferença, que o impede, com todo o seu dinheiro, de ter tudo o que quer — Daisy. Simboliza a mentira do sonho americano, pois há sempre pelo menos uma baía separando as categorias de ricos. Ou simboliza a moral mais banal possível, a de que o dinheiro não compra a felicidade. Nunca uma banalidade foi tão bem escrita.

Ueba! Padrão Fifa ou Patrão Fifa? - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 20/06

PM vai ter que fazer terapia. Num dia mandam bater, no outro mandam não bater e, num outro, mandam sumir


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da Repúbica! A Primavera do Vinagre! Os R$ 0,20 mais caros da história do Brasil!

E olha a placa na manifestação: "Liberté! Egalité! Fraternité! Vinagrê!". Rarará!

E o chargista Duke: "Os governos estão confundindo Padrão Fifa com Patrão Fifa". E aí fazem tudo o que eles mandam.

E o perímetro Fifa dos estádios é mais protegido que o do Congresso! Rarará!

E olha esta placa bilíngue da Fifa: "O pau tá comendo! The dick is eating!". Rarará!

E a PM? A PM vai ter que fazer terapia. Num dia mandam bater, no outro mandam não bater e, num outro, mandam sumir. Apertem os cintos que a PM sumiu!

E a Mônica Bergamo tuitou de dentro da prefeitura sendo depredada: "Tropa de Choque estaria vindo para o centro, info de fonte do gov do Estado". E as pessoas: "De tartaruga? De lesma? Tão vindo de ÔNIBUS". Rarará!

PM quer dizer Pau Mandado. Polícia Maluca. Rarará! E adorei o Rádio Moreno do Globo: "Depois de 17/6/2013, não há mais ouvidos pras velhas raposas da política. Até os candidatos de 2014 envelheceram com a manifestação". Chupa Todos! Dançaram todos! Todos!

E um leitor mandou perguntar pra Dilma: "A Copa é a herança maldita do Lula?!". Rarará!

E a cobertura das manifestações pacíficas interrompida pelo horário político com o Maluf: "A Rota na rua! No meu tempo tinha a Rota na rua". Mas é isso que nós vamos fazer: ARROTAR NA RUA! Rarará!

E o Feliciano no Twitter: "Abro mão da Copa por hospitais e escolas. E você! O que mais falta?". Falta você deixar de ser homofóbico, racista e usar chapinha vagabunda. E outras placas nas manifestações: "Feliciano! Meu fiofó é laico". E outra: "Até a cadela é Laika. Menos o Estado". E tem cura pra evangélico insano?

E adorei esta: "Renan Calheiros critica vandalismo". Mas justo Renan? O senador vândalo? Rarará! É mole? É mole, mas sobe!

O Brasil é Lúdico! Olha esta placa num bar em São Miguel dos Milagres, Alagoas: "Cocadas Afrodisíacas! As únicas contra os perigos de ser corno". Cocada é melhor que Viagra! Pra reunir forças pros protestos! Nóis sofre, mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

O ganso de ovos de ouro - LUCIEN BELMONTE

Valor Econômico - 20/06

A revolução do gás de xisto liderada pelos Estados Unidos remete à fábula do ganso dos ovos de ouro. Mas, diferentemente do que reza o conto dos irmãos Grimm - um velho camponês enriquece do dia para a noite com a ajuda de uma fada -, não foi num passe de mágica que os americanos recuperaram sua atividade econômica e sua indústria. Por trás da ampliação da produção de gás natural daquele país não está a descoberta de novas reservas, mas uma revolução proporcionada pela nova tecnologia da perfuração horizontal e do fraturamento hidráulico. Essa inovação permitiu a redução dos custos do insumo para a faixa de US$ 3 por milhão de BTU (unidade de medida de gás natural), abrindo espaço para a retomada econômica americana.

Estudos da empresa de consultoria americana IHS indicam que o gás barato deve acrescentar 2,9% ao ritmo de crescimento da produção fabril daquele país até 2017; por outro lado, a produção brasileira patina, tendo registrado queda de 3,3% em março em comparação com o mesmo mês do ano passado. O avanço americano vem acompanhado por empregos - já foram gerados mais de 600 mil novos postos de trabalho - e por uma mudança significativa na dinâmica global de investimentos.

Nosso desafio é compreender como esse novo paradigma pode ser adaptado para aumentar a competitividade nacional. Isso passa, em primeiro lugar, pelo questionamento sobre como os Estados Unidos criaram seu "ganso de ouro". Foi a partir de uma composição absolutamente favorável ao desenvolvimento do setor, incluindo o estímulo à pesquisa tecnológica e a desregulamentação total do mercado de combustíveis fósseis. A existência de um mercado competitivo, com infraestrutura disponível e estímulo à produção por pequenos e médios proprietários (particularmente porque o dono da terra é dono também dos direitos sobre o seu subsolo) complementam o cenário por trás da revolução do gás não convencional.

Certamente os Estados Unidos vão usar muito bem a sua realidade de gás barato para fortalecer ainda mais a nova configuração geopolítica que o xisto ajudou a construir. O pensamento dominante é aproveitar a nova oferta de energia para reposicionar o país

O segundo ponto é que temos que inverter a lógica míope com que a energia tem sido considerada no Brasil. Geralmente o planejamento do aproveitamento dos insumos energéticos disponíveis é pouco integrado à dinâmica da economia nacional e, principalmente, ao contexto internacional. Um exemplo disso foi a demora para o país se atentar para a "idade do ouro do gás natural", cunhada pela Agência Internacional de Energia há mais de dois anos e só agora na agenda governamental.

Não é possível que, diante da nova realidade, mantenha-se esse tipo de prática. É imperativo aprender com os americanos como desenvolver nossa própria indústria de gás natural de maneira consistente e competitiva, com visão de longo prazo e tanto no que se refere ao gás natural, que já é produzido hoje, como em relação ao futuro aproveitamento das potenciais reservas brasileiras de gás não convencional, o famoso gás de xisto. Para tanto, temos de ir além do que já existe, fazendo valer a Lei do Gás como um mecanismo regulatório que efetivamente abra o mercado, garanta a expansão da rede de dutos, a competição e a viabilidade econômica dos investimentos em transporte de gás.

Já a viabilidade comercial das nossas reservas de gás de xisto depende da organização, desde já, das regras do jogo que estimulem essa atividade, bem como de um perfeito entendimento, por parte da sociedade, dos impactos sócio-ambientais relacionados.

Importante frisar ainda que, como indicam as próprias previsões da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), dificilmente a produção de gás dos novos blocos exploratórios, que serão ofertados ao mercado neste ano, chegará ao mercado brasileiro em curto prazo. Não há gasodutos que disponibilizem o insumo para a indústria, tampouco regras claras do ponto de vista ambiental e conhecimento suficiente da geologia das áreas ofertadas. É que, enquanto nossos concorrentes como Austrália, China e México trabalham para viabilizar o gás de xisto, apostamos majoritariamente nossos esforços num gás vindo do pré-sal, de custo de extração muito superior e com um enorme desafio logístico devido à distância dos campos de produção.

Como competiremos neste mundo globalizado? Não é possível à indústria brasileira esperar tanto tempo pelo gás competitivo. Precisamos antecipar o futuro que dá indícios de ser bastante promissor com relação à oferta do energético. Para isso, temos de identificar já neste momento oportunidades para reduzir os custos e garantir competitividade da nossa indústria enquanto o gás não convencional não vem.

Por fim, não podemos deixar de ter em mente o intenso debate, nos Estados Unidos, sobre a possibilidade de ampliação das exportações de gás natural a partir daquele país. Argumentos contrários à medida alegam que ela representaria a morte do ganso, seguindo a trajetória dramática do camponês da fábula que mata o animal para tentar recuperar, de uma só vez, todos os ovos dourados que estariam em seu interior e descobre que não há ovo algum. O acompanhamento desse debate indica que tal risco é muito baixo. Certamente aquele país vai usar muito bem a sua realidade de gás barato para fortalecer ainda mais a nova configuração geopolítica que o xisto ajudou a construir. Ou seja, enquanto o pensamento dominante nos Estados Unidos é aproveitar a nova oferta de energia para reposicionar o país, nós seguimos com muita energia - como por exemplo no potencial hidráulico não aproveitado - e não a usamos de forma a nos reposicionar no mundo econômico. Dificilmente criaremos gansos diferenciados dessa maneira.

Algaravia nas ruas em busca de proposta - MARCO ANTONIO ROCHA

O ESTADÃO - 20/06

Tudo já foi dito. Tudo que era possível entender para se poder dizer, até agora, já foi dito. Com menor ou maior verve e estilo, conforme o autor. E, no entanto, nada foi esclarecido: as causas, o porquê, as consequências continuam em busca de explicação: quais são? Quem as deslinda? No meio das manifestações, das passeatas, das turbulências e dos protestos, e para quem assistia a tudo pelas TVs, uma coisa, ao menos, parece fora de dúvida: os manifestantes não queriam saber da presença de nenhum político conhecido nem de nenhum partido político, "da base" ou "da oposição". Os poucos que se arriscaram a tentar se imiscuir nas manifestações foram vaiados e expulsos, em alguns casos de forma truculenta. A "voz das ruas" não quer saber dos cochichos da politicalha.

Nossa presidente nos disse que é preciso ouvir "a voz das ruas". Mas ela também não tem a menor ideia do que é que a "voz das ruas" está dizendo. Na juventude ela pegou em armas pensando que estava atendendo à "voz das ruas". Enganou-se. As ruas não estavam pedindo para ninguém pegar em armas na ocasião. Deve estar equivocada de novo, se pensa que está ouvindo e entendendo direito o que as ruas estão dizendo.

Na verdade, o que se ouviu nas ruas até agora é pura algaravia. Altissonante, ensurdecedora, ameaçadora para muitos ouvidos, mas algaravia. Só o primeiro grito desencadeador é que foi claro: queremos passe livre (no transporte público). Depois, repórteres de todos os veículos se puseram em busca de um discurso inteligível, em vão.

É relativamente fácil adivinhar o que é as ruas não querem: não querem a soberba, a displicência, a negligência, o despudor, a corrupção e os desmandos que a classe política brasileira vem descaradamente praticando há anos, desde que conseguiu ocupar o lugar dos militares, que, aliás, com o torniquete na imprensa, nas escolas e na opinião pública em geral, abriram caminho para a impunidade e o descaramento civil dos políticos. A revolta parece dizer com clareza o que não quer.

Mas da revolta, ou das revoltas, não nascem necessariamente propostas de ação prática. Da revolta pode nascer uma revolução quando uma proposta viável precede à revolta e a conduz. Foi o caso das revoluções comunistas do século passado, da Rússia até Cuba. Ou, muito antes, na Revolução Francesa, que nos trouxe os governos "do povo, pelo povo e para o povo", conforme nossas Constituições, em lugar dos governos "do rei, pelo rei e para o rei", de até então. A revolta do povo alemão contra seus governos semimonárquicos e contra os sacrifícios que a derrota na 1.ª Guerra impôs só desaguou no regime nazista de Hitler porque havia um partido nazista preexistente e uma proposta nazista que o povo alemão, bem ou mal, aceitou como salvadora.

Portanto, a proposta precisa ter muita credibilidade, força mobilizadora e senso de oportunidade. Nesse caso, ela pode surfar na revolta, tomar conta do movimento e conduzi-lo. O que, por sua vez, exige uma organização, um partido formulador da proposta e promotor da organização.

Por enquanto, as ruas querem "mudar tudo isso que está aí". A manchete da Folha de terça-feira sintetizava o querer revoltoso: Milhares vão às ruas 'contra tudo'... Mas isso não é proposta. É protesto. E esse protesto o PT e Lula já tinham martelado na campanha eleitoral. Tanto não era proposta de verdade que foi esquecida no primeiro mês de governo petista.

O fato é que o povo purga frustrações acachapantes de esperanças políticas há mais de 60 anos. Desde o suicídio de Getúlio Vargas, seguido pouco depois pela estrondosa vitória e abjeta renúncia de Jânio Quadros, o que iria "varrer toda a bandalheira". Veio o golpe militar para "acabar com o comunismo e a corrupção". Aniquilou vários comunistas e promoveu a corrupção. Collor arrasou nas urnas combatendo "os marajás", aos quais aderiu gostosamente antes de renunciar para não ser deposto.

Arrisco opinar que esse acúmulo de frustrações levanta a voz das ruas.

Risco no pré-sal - ADRIANO PIRES

O GLOBO - 20/06

Com o anúncio do leilão do campo de petróleo de Libra, localizado na Bacia de Santos, o primeiro do pré-sal, começaram as especulações em relação aos parâmetros que determinarão o vencedor do certame. Em particular, o montante em dinheiro que as empresas estarão dispostas a pagar, o chamado bônus de assinatura, e o percentual mínimo do petróleo a ser destinado à União. Os números que têm circulado são de R$ 10 e 20 bilhões em bônus de assinatura e um percentual mínimo de 75% de petróleo para a União. Alguns pontos deveriam ser considerados no estabelecimento de tais parâmetros.

O primeiro é o fato de o campo de Libra não ser representativo dentre os demais campos, uma vez que os riscos envolvidos na sua exploração são bem menores quando comparados a outros do pré-sal. Segundo estudos desenvolvidos pela ANP, o campo de Libra, situado na Bacia de Santos, possui petróleo leve de excelente qualidade e pode ter reservas entre 8 a 12 bilhões de barris de petróleo. Será a maior reserva de petróleo já ofertada em um único leilão em todo o mundo. Portanto, os parâmetros a serem adotados pelo Governo para o campo de Libra deveriam ser definidos apenas para este leilão e não representar regra geral para outros campos do pré-sal. O leilão de Libra deveria ser tratado como uma exceção, a exemplo do que ocorreu quando o governo no processo de capitalização da Petrobras, em 2010, cedeu à empresa, em troca de ações, uma reserva de 5 bilhões de barris de petróleo.

O segundo ponto está relacionado às cifras envolvidas e à capacidade das empresas de fazer frente ao volume de investimentos em Libra. Estimativas iniciais apontam que a exploração e o desenvolvimento do campo de Libra podem consumir US$ 200 bilhões em investimentos, um montante altíssimo, mesmo quando se considera as grandes empresas de petróleo. Dessa forma, a tendência é de que o leilão de outubro tenha poucos consórcios concorrentes. Como a Lei da Partilha determina que a Petrobras será operadora única e terá no mínimo 30% dos campos do pré-sal que vierem a ser leiloados, isso significa que, caso o bônus de assinatura se situe no piso das expectativas (em torno de R$ 10 bilhões), a Petrobras teria que pagar R$ 3 bilhões. Quanto aos investimentos, a empresa deverá arcar com, no mínimo, US$ 60 bilhões para a exploração e desenvolvimento do campo, o que representa um acréscimo de 25% no seu Plano de Negócios anunciado para o período 2013-2017.

Vamos aguardar que o governo elabore o edital do leilão, levando em conta as especificidades do campo de Libra. No entanto, a necessidade do Ministério da Fazenda de utilizar os recursos do bônus de assinatura para o cumprimento da meta de superávit primário pode favorecer o estabelecimento de parâmetros que darão mais peso aos problemas de curto prazo em detrimento dos benefícios que o pré-sal possa dar às gerações futuras. O risco que corremos é que a realização do leilão de Libra motivado por questões ligadas mais à política econômica do que à política energética acabe por comprometer os demais leilões do pré-sal.

A cara política da classe média - MARIA CLARA R. M. DO PRADO

Valor Econômico - 20/06

O país descobriu nos últimos dias algo que não deveria ter surpreendido analistas, deputados e senadores, governantes e estudiosos: o sentimento de "pertencer" - fazer parte de uma sociedade - da classe média, que implica tomar ciência da condição de cidadão como contribuinte e eleitor. O que se vê nas ruas é uma cobrança generalizada por serviços públicos de melhor qualidade e em maior quantidade, maior responsabilidade por parte dos políticos em geral e total repúdio ao desvio do dinheiro que se paga na forma de taxas e impostos.

Quem se surpreendeu com a mobilização do povo não levou em conta um fato banal: junto com a melhoria de renda não surgem apenas novos consumidores, mas também pessoas melhor informadas, inseridas no tecido da sociedade e, portanto, atentas aos seus direitos.

Desde 1994, quando se conseguiu estabilizar o país, passando depois pelas políticas públicas de redistribuição de renda introduzidas pelo governo Lula, só se enxergou as consequências do aumento de padrão de vida da população de renda mais baixa pela ótica econômica. Os números são abundantes. Falam do maior acesso ao crédito bancário, do aumento no uso dos cartões de crédito, das volumosas vendas de bens duráveis e de uma demanda ampliada por serviços básicos, sem esquecer dos números exponenciais de usuários de telefone celular (já agora na categoria dos "smartphones") e de computadores.


Era como se os 40 milhões de brasileiros socialmente ascendentes para a classe C não tivessem ouvidos e muito menos capacidade de percepção e daí o espanto geral com a massa de gente que resolveu deixar claro que além da econômica, também tem uma cara política.

Nada disso é genuinamente brasileiro. Nem a rápida e numerosa mobilização nas ruas, estimulada pelo poder de comunicação das redes sociais, e nem o aumento da classe média. No primeiro caso, os exemplos são facilmente constatados por fotos de aglomerados humanos nos quatro continentes movidos por diferentes motivações. No segundo caso, os números mostram a significativa expansão da classe média ocorrida nos diversos países chamados de "emergentes", a ponto de atingir a marca de cerca de um bilhão atualmente, praticamente a metade do tamanho da classe média em termos globais.

Os números trazem consigo um alerta aos governantes. A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) tem alertado para o fato de que com o aumento da classe media crescem também as reivindicações sociais e sugere aos países em desenvolvimento e aos chamados "emergentes" a adoção de iniciativas que possam atender o mais rapidamente possível, e de forma eficaz, os anseios daquele mar de gente que só tende a crescer. As projeções da própria OCDE indicam que a classe média - considera faixa de renda entre US$ 10 e US$ 100 medida pela PPP (paridade do poder de compra) per capita, por dia - nos países "emergentes" será ampliada para mais de 3 bilhões de pessoas, ou seja, mais do que triplicando o tamanho atual.

É claro que, a se confirmar, isso trará sérias implicações em termos de comércio mundial, necessidades de investimento e de drásticas mudanças nas políticas econômicas dos países envolvidos. As novas classes médias emergentes vão atuar como verdadeiros espíritos prestes a serem incorporados a qualquer momento, exigindo políticas mais transparentes e melhores serviços públicos.

Javier Santiso, um dos líderes do Fórum Econômico Mundial, realizou um estudo em 2010, quando ainda estava à frente do Centro de Desenvolvimento da OCDE, no qual mostrou a distribuição da classe média no mundo e a perspectiva futura. Em população, a classe média é formada por 230 milhões de pessoas nos Estados Unidos, por 450 milhões nos países da União Europeia (UE), por 525 milhões na Ásia (sendo 125 milhões no Japão) e 181 milhões nas Américas do Sul e Central. Em 2030, a grande expansão terá ocorrido na Ásia. Segundo as projeções do estudo, os países daquela região, puxados basicamente pelo aumento da classe média na China, terão atingido um total de 3, 2 bilhões de pessoas na faixa de renda utilizada como parâmetro. Isso significa participação de 66% no tamanho da classe média em termos globais dentro de 27 anos. As Américas do Sul e Central terão participação de apenas 6% no total, muito embora a previsão de que a quantidade de gente na classe média terá quase que dobrado o tamanho da atual na região, passando para 313 milhões em 2030.

O Brasil tem enormes carências em termos de educação, saúde e segurança para ficar só nesses três e as reivindicações tendem a crescer enquanto as deficiências não forem solucionadas. A larga mobilidade social brasileira, maior do que em outros "emergentes", é fator que ajuda a ampliar mais rapidamente a conscientização da cidadania e torna urgente a resposta dos governos em suas três esferas administrativas, cada qual com suas obrigações perante a sociedade. O recado das massas nas ruas dirige-se a todos os governantes do Executivo e aos parlamentares do Legislativo. No discurso de terça-feira, ao lançar o programa para a mineração, a presidente Dilma Rousseff mostrou claro entendimento do que se passa nas ruas quando se referiu aos 40 milhões de pessoas inseridas na classe média e às exigências que passam a fazer em termos de educação e outras necessidades.

Entender o clamor das ruas é fundamental, mas para a presidente Dilma, na condição de chefe da Nação, só isso não basta. Terá de se mexer se quiser garantir a coesão social tão indispensável ao desenvolvimento da sociedade brasileira.

O povo vai bem, o país vai mal - CLÓVIS ROSSI

FOLHA DE SP - 20/06

Pesquisa de instituto dos EUA mostra 55% de insatisfeitos com o Brasil, daí os protestos


O cada vez mais imperdível Delfim Netto puxou para sua coluna de terça-feira no "Valor Econômico" uma pesquisa que talvez ajude a entender o que está acontecendo no Brasil.

Pena que a pesquisa seja de uma organização norte-americana, o Centro Pew de Pesquisas, e não de uma instituição brasileira, o que, por sua vez, talvez ajude a entender a perplexidade ambiente.

Enquanto estávamos anestesiados pela popularidade de Dilma Rousseff (e de alguns outros governantes), o Pew perguntou, em vários países, se o pesquisado estava ou não satisfeito com o modo como andavam as coisas. No Brasil, 55% responderam que estavam insatisfeitos (44% satisfeitos). Não por acaso, 55% foram os que disseram ao Datafolha, no início dos protestos, que estavam a favor deles.

A pesquisa revela insatisfação em aumento. No ano em que Dilma ganhou a eleição (2010), havia empate técnico entre satisfeitos (50%) e insatisfeitos (49%).

Em 2012, aumentava 10% o nível de insatisfação.

Mas o levantamento mostrava uma aparente contradição: enquanto 74% diziam que sua situação financeira era boa, 79% afirmavam que a economia iria melhorar e 79% apostavam em que seus filhos estariam melhor que eles.

Dá até para inverter célebre frase do general Garrastazu Médici, presidente de 1969 a 74, que, após visita ao Nordeste assolado pela seca, decretou: "O país vai bem, o povo vai mal".

As pesquisas do Pew permitem dizer que o "povo vai bem, mas o país vai mal", não?

A contradição talvez se desfaça quando se colocam fatos que explicam a insatisfação com o país e a satisfação com a situação financeira pessoal.

Quando há virtual pleno emprego e renda em aumento (lembre-se que a pesquisa é de 2012, quando a inflação em alta ainda não comia tanto o salário como agora), a maioria sente-se bem.

Mas mesmo quem tem emprego e renda é torturado no cotidiano por um país em que o trânsito é infernal, a violência é aterradora, há eternas carências graves na educação e na saúde, os serviços públicos são precários, para não usar uma palavra feia.

Na verdade, deveria haver espanto não com os protestos de agora mas com o fato de que nunca tenha havido manifestações de massa contra esse massacre cotidiano (as que ocorreram foram por motivos institucionais).

Por que agora, então? Esta pergunta demanda mais tempo de pesquisa para uma resposta minimamente satisfatória.

Mas uma pista talvez esteja na pesquisa do Datafolha, ontem publicada, segundo a qual o público perdeu totalmente a confiança em instituições (Congresso e partidos políticos por exemplo) que deveriam fazer a intermediação entre a sociedade e o Estado.

Por isso, partiu para o que a presidente chamou, com razão, de ultrapassagem "dos mecanismos tradicionais das instituições, dos partidos políticos, das entidades de classe e da própria mídia".

A questão seguinte, para a qual ainda não há resposta, é se os "mecanismos tradicionais" saberão se reciclar (duvido) e como o protesto atuará em função da reciclagem ou falta dela.

'Sem violência' e sem controle - EDITORIAL O ESTADÃO

O Estado de S.Paulo - 20/06

Bem que o secretário-geral da Presidência, ministro Gilberto Carvalho, invocou os velhos tempos em que os protestos de rua tinham carros de som para guiar as ações dos participantes e lideranças claramente identificadas que as autoridades poderiam chamar para uma conversa. Nos velhos tempos, aqui e no exterior, tampouco havia marchas organizadas pelo Partido Comunista (PC) ou por centrais sindicais sob o seu mando que não exibissem, além da clássica comissão de frente com os braços entrelaçados, um adestrado aparato de segurança pronto a reprimir, não raro a porretadas, os companheiros de viagem que, por palavras ou atos, se desgarrassem do roteiro político traçado para a ocasião pela autodeclarada vanguarda do proletariado. Os meganhas do PC também expulsavam do cortejo os militantes expurgados que, ainda assim, se achavam no direito de desfilar em meio à massa.

Os velhos tempos já se foram tarde. E a última coisa a esperar de passeatas "horizontais", sem estrutura hierárquica preestabelecida, como as que se propagam pelo País - e que outrora a ortodoxia do Partidão rotularia com desdém de "espontaneístas" -, seria uma falange capaz de impor o respeito às cláusulas pétreas do movimento: nada de partidos, nada de violência. No primeiro caso, o controle tem funcionado. Sumiram por bem, pelo menos em São Paulo, as bandeiras das agremiações ultrarradicais, como PSTU e PCO. Ou sumiram por mal, quando, numa cena sem precedentes, um manifestante na Praça da Sé, cansado de argumentar, arrancou de seu portador - e pisoteou - a rubra bandeira engalanada com a foice e o martelo do Partido Comunista Revolucionário (PCR), que ainda reverencia o camarada Stalin. A multidão encorajou o revolucionário a deixar o local.

Já o caráter pacífico dos protestos não havia como defender. Assim como tinha ocorrido na véspera, no ataque à Assembleia Legislativa do Rio, na terça-feira a exortação "sem violência" foi impotente para impedir a tentativa de invasão e a depredação da entrada da Prefeitura paulistana e a queima de um posto da PM e de uma van da Rede Record, a pouca distância dali. Os arruaceiros berravam "sem moralismo", e "sem burguesia". A ampla maioria civilizada não conseguiria, tampouco, enfrentar os grupos que se puseram a vandalizar ou a saquear as lojas de departamentos das proximidades. A polícia, que na segunda-feira atirou em quem não devia, porque não fizera nada de errado ou nem sequer participava do protesto, dessa vez só apareceu com três horas de atraso, quando o pior já ocorrera. Se antes faltou policiar os PMs, depois sobrou desorientação - a começar do governador Geraldo Alckmin.

Pelo menos ele não deixou às pressas o Palácio dos Bandeirantes para pedir socorro a alguém presumivelmente mais apto a lidar com a incomum situação destes dias. Foi o que fez, apequenando-se perante aliados, adversários e a opinião pública, a presidente Dilma Rousseff. Ela, que tanto intimida a sua equipe com seus modos autoritários e a certeza de ser a dona da verdade, tornou a demonstrar que, na hora H, não é ninguém sem dois conselheiros. Um é o marqueteiro-residente do Planalto, João Santana. O outro, claro, é o seu progenitor político Luiz Inácio Lula da Silva. Foi Santana quem a instou finalmente a se pronunciar, após mais de uma semana em que os jovens, às dezenas de milhares, tomaram as ruas do País. Na terça-feira, antes de um bate-volta a São Paulo para perguntar ao seu mentor o que fazer agora, ela encaixou elogios à moçada numa fala sobre mineração.

Quem os escreveu é do ramo. Quem os leu, se também fosse, saberia infundir de sentimento pelo menos este enunciado: "A grandeza das manifestações comprova a energia da nossa democracia, a força da voz da rua e o civismo de nossa população". Mas, ao vivo, nada consegue derreter a frieza da presidente e a sua robótica entonação. A campanha de 2010 colou nela o depreciativo "poste", que o próprio Lula viria a repetir para se gabar de sua eleição. (Fez o mesmo quando Fernando Haddad se elegeu em São Paulo.) O pior é que Dilma, depois de 2 anos e meio no Planalto, continua a precisar dele para ligar a luz.

Mais uma dúvida sobre a meta fiscal - RIBAMAR OLIVEIRA

Valor Econômico - 20/06

Surgiu mais uma dúvida sobre a capacidade do governo atingir a nova meta de superávit primário de 2,3% do Produto Interno Bruto (PIB) para todo o setor público neste ano, anunciada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, na semana passada. Na sua previsão de receita para 2013, o governo incluiu uma arrecadação de R$ 8,08 bilhões com venda de ativos, sem especificar quais são esses ativos.

Para conseguir fechar as contas em 2012, o governo vendeu ativos do Fundo Soberano do Brasil (FSB) no montante de R$ 12,4 bilhões. O saldo disponível atualmente do FSB é de apenas R$ 2,898 bilhões, segundo dados da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Portanto, mesmo que o governo venda tudo do Fundo Soberano, ainda faltarão R$ 5,18 bilhões para chegar à previsão da receita com ativos que consta do relatório de avaliação de receitas e despesas primárias relativo ao 2º bimestre.

Em anos anteriores, essa receita de venda de ativos nunca foi expressiva. Um anexo ao projeto de lei de diretrizes orçamentárias para 2013 informa que, no período de 2005 a 2011, foram arrecadados R$ 11,4 bilhões com alienação de ativos, sendo que quase a totalidade, ou seja, 88,86% foram aplicados em investimentos, operações financeiras e amortização e refinanciamento da dívida. Em média, portanto, essa receita anual nunca chegou a R$ 2 bilhões.

Além disso, o artigo 44 da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) veda a aplicação da receita de capital derivada da alienação de bens e direitos que integram o patrimônio público para o financiamento de despesa corrente, salvo se destinada por lei aos regimes de previdência social, geral e próprio dos servidores públicos.

Ao incluir na estimativa de arrecadação deste ano uma quantia tão elevada pela venda de ativos até agora desconhecidos, o governo mostra a fragilidade da programação que divulgou. Some-se a isso o fato de que a Receita Federal incluiu R$ 21,2 bilhões de receitas extraordinárias em sua previsão de arrecadação de tributos federais deste ano. Esse montante entraria nos cofres do Tesouro Nacional de maio a dezembro.

A arrecadação tributária de maio ficou cerca de R$ 3 bilhões acima da estimativa que consta do decreto 8.021, de maio último, que definiu o contingenciamento das despesas orçamentárias, refletindo a recuperação da economia deste início de ano. Mas é impossível saber se essa é uma tendência para o resto do ano, principalmente diante da deterioração das expectativas econômicas, em meio a uma forte desvalorização do real.

A preocupação com as previsões oficiais sobre a arrecadação deste ano decorre do fato de que o governo vai precisar de muita receita extra para cumprir a meta de superávit primário de 2,3% do PIB neste ano. Para obter esse superávit, ele terá que compensar a frustração da meta de Estados e municípios, fazendo um ajuste adicional de, no mínimo, 0,5% do PIB. Fontes da área econômica acreditam que o ajuste será de 0,4% do PIB. Tudo vai depender do resultado fiscal de governos estaduais e prefeituras, cujos gastos estão sendo turbinados pelos novos créditos autorizados pela própria presidente Dilma Rousseff.

Se a receita não for suficiente, o governo terá que fazer corte nos gastos, o que afetará o investimento público. As despesas que estão crescendo são as transferências para as famílias e os gastos com educação, o que dificilmente será cortado. Portanto, a variável de ajuste será o investimento. O dado que mais preocupa é que, a rigor, o governo só poderá contar com a receita do bônus de assinatura dos leilões do campo de Libra, no pré-sal.

O festival de concessões que será realizado pelo governo no segundo semestre deste ano não resultará em receita significativa para os cofres públicos em 2013. Isto porque não haverá valor de outorga nas concessões de rodovias e de ferrovias. Também na concessão dos 52 terminais em portos públicos, que serão licitados em outubro, não haverá valor de outorga, ou ele será bem pequeno, pois não é critério para definição dos vencedores.

No caso das concessões dos aeroportos do Galeão (RJ) e de Confins (MG), em que estão previstos valores de outorga, os pagamentos não deverão ocorrer neste ano, mas só a partir de 2014, segundo fontes oficiais. Para este ano, por exemplo, está previsto uma receita de R$ 1,3 bilhão decorrente do pagamento de parcela das concessões dos aeroportos de Brasília, Guarulhos e Viracopos, leiloados no ano passado.

O projeto de lei orçamentária de 2013, encaminhado em agosto do ano passado pelo governo ao Congresso, previa uma receita de concessões de R$ 3,3 bilhões. No decreto de contingenciamento das dotações orçamentárias, baixado em maio, a previsão foi elevada para R$ 15,7 bilhões. Neste aumento, segundo o ministro Mantega disse ao Valor, já está previsto o bônus de assinatura do campo de Libra. Ou seja, Libra já está na conta.

Assim, o campo de Libra só contribuirá para a receita extra necessária ao cumprimento da meta fiscal de 2,3% do PIB se o valor do bônus de assinatura superar a estimativa inicial que consta do decreto de contingenciamento. Fontes oficiais acreditam que isso é possível, pois estimam que a receita com Libra possa ficar entre R$ 15 bilhões e R$ 20 bilhões. Há rumores de que poderá chegara R$ 30 bilhões, tal a magnitude do campo. Mas não existe garantia de que toda essa receita ingressará nos cofres do Tesouro neste ano. Algo poderá ficar para 2014.

O mais adequado seria o ministro Guido Mantega vir a público informar como o governo conseguirá obter a meta de 2,3% do PIB de superávit primário para todo o setor público neste ano. Uma boa oportunidade pode ser quando o governo tiver que divulgar o relatório de avaliação de receitas e despesas primárias relativos ao terceiro bimestre, o que deve ocorrer em meados de julho. Diante da deterioração das expectativas do mercado, no entanto, o ideal seria que o anúncio fosse feito o quanto antes. Mais transparência talvez ajude a resgatar a credibilidade perdida.

Broncas sem saída - CARLOS ALBERTO SARDENBERG

O GLOBO - 20/06

A gerente de uma pequena farmácia do bairro de Pinheiros, em São Paulo, me conta, animada, que fechara a loja na última terça, às 21 horas, e fora direto para a manifestação na avenida Paulista. Protestar contra o que? — pergunto, sabendo que ela tem carro. E ela: "Bom, contra tudo, né? A gente trabalha tanto e não tem dinheiro para passear, aproveitar a vida".

Uma reclamação rara, valia a pena especular. A moça elaborou mais um pouco. "A gente paga IPTU, tanto imposto, e o governo fica dando dinheiro para quem não trabalha. Dar emprego, tudo bem, mas dar bolsa não é justo, o senhor não acha?"

Resumindo a bronca: muito trabalho, salário suficiente para viver, mas não para aproveitar a vida; o governo toma muito imposto e não devolve serviços justos para quem trabalha tanto.

Tarifas de ônibus, trens e metrô cabem aí. O passageiro paga caro por um serviço ineficiente e desconfortável.

Generalizando, o governo é caro, mas não presta. Pelo email da CBN, um ouvinte de Petrópolis conta que foi ontem à secretaria municipal de saúde tirar a carteira para atendimento no SUS. Não deu, o sistema estava fora do ar. Na fila, comentaram que estava assim havia quatro dias. Cidadão zeloso, nosso ouvinte ligou para o 136, ouvidoria do SUS, onde obteve a informação de que... o sistema estava fora do ar.

Na pesquisa CNI-Ibope divulgada ontem, a área de saúde apareceu, junto com segurança, como a de pior avaliação: 66% dos entrevistados desaprovam os serviços. Esse resultado negativo tem se repetido e a vale para os três níveis de governo (municipal, estadual e federal) já que todos têm alguma coisa a fazer nesse setor.

Entende-se porque os protestos parecem, digamos, genéricos. É difícil mesmo para o cidadão saber que o posto é municipal ou estadual, mas o remédio é federal.

Pedro Herz, dono da Livraria Cultura, um intelectual sempre interessado em entender a cena brasileira, costuma perguntar a todo mundo que encontra: "Me diga o que você acha que funciona no Brasil".

As três respostas mais citadas, amplamente dominantes: o sistema de apuração de eleição, as campanhas de vacinação e a Receita Federal. Elaborando aqui e ali, o pessoal aprecia a rapidez da apuração, mas não os políticos eleitos. Com as vacinações, tudo bem. Já quanto à Receita, seria uma admiração ao revés - como os caras sabem cobrar!

E assim voltamos ao ponto de partida: o governo cobra caro, sabe cobrar, e não entrega. Trata-se de um sentimento, um mal-estar que, entretanto, não resulta em propostas políticas determinadas.

É curioso. Bronca generalizada com o governo e com os impostos - bem, isso parece uma atitude liberal. Lembram-se? Governo não é a solução, é o problema, repetia Ronald Reagan.

Mas, por aqui, muita gente que reclama do governo pede mais governo. Por exemplo: as reivindicações para a estatização completa dos transportes públicos, de modo a eliminar o "lucro predatório" das empresas privadas que operam o setor.

Não faz sentido. Se as prefeituras e governos estaduais não conseguem gerenciar nem fiscalizar, como conseguiriam fazer isso e ainda operar todo o sistema? Tanto é assim que governadores e prefeitos das maiores cidades têm deixado o tema de lado. Eles sabem que não teriam dinheiro nem capacidade de assumir todo o transporte público.

O governo Dilma, ainda que constrangido, também admite essas dificuldades do setor público. Tanto que está aplicando um programa de privatização de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos.

Mas é uma espécie de privatização envergonhada, com muitas restrições à atuação das empresas privadas. Isso resulta de uma ideologia de esquerda bastante disseminada no país, mas também de uma prática velha, fisiológica, dos políticos que vivem de ocupar espaço nos governos para atender não o povo, mas seus interesses e os de seus correligionários.

Caímos, assim, nesse impasse: o pessoal tem bronca do governo e , por falta de outra proposta, acaba achando que a solução está no governo.

Fica difícil. Como pedir menos impostos — e todo mundo pede isso - e mais serviços oferecidos pelo governo?

Já os governantes, pressionados pelas manifestações, dizem que não têm dinheiro para fazer o que pedem. De certo modo, é verdade: as demandas são infinitas. Mas a principal política do governante é exatamente escolher as prioridades, decidir onde e com quem vai gastar o dinheiro público.

É nisso que falha nosso sistema político. Não aparecem as diferenças de orientação porogramática. Por isso os governos ficam parecidos, e tão parecidos que as pessoas reclamam "contra tudo". A questão política nacional é: como sair da bronca para uma doutrina e respectiva ação que consertem as coisas?

Hora de mudar - CELSO MING

O Estado de S.Paulo - 20/06

Se foi mesmo sincera quando, ao elogiar as manifestações e suas reivindicações por mudanças, garantiu que fará essas mudanças, a presidente Dilma tem de começar a mudar o diagnóstico e o tratamento que vinha dando à inflação.

Embora não se saiba onde e como vão desembocar, os protestos começaram com a revolta com o reajuste de R$ 0,20 nas tarifas da condução cobradas em São Paulo.

Ora, o problema não é o reajuste, ontem revogado. É a inflação, que exigiu o reajuste. Ela vem corroendo o poder aquisitivo e em algum lugar do bolso do consumidor teve mesmo de começar a pressionar.

Um eventual recuo dos administradores na cobrança desse reajuste, como já aconteceu em São Paulo e em outras sete capitais, não resolve o problema central. Vai continuar faltando salário antes de chegar o fim do mês.

Até agora, o governo Dilma fez uma avaliação arrogante da inflação. Ignorou sua importância e seus estragos. Atribuiu o problema a causas externas (choques de oferta produzidos pelas secas nos Estados Unidos em 2012) ou a fenômenos temporários internos. A partir desse diagnóstico, não havia o que fazer. Era esperar pelo refluxo espontâneo da inflação. Durante meses, o Banco Central fez o mesmo jogo. Mas, desde abril, passou a admitir que a inflação tem causas internas relevantes. Entre elas, os gastos excessivos do setor público (política fiscal expansionista), consumo acima da capacidade de oferta da economia e mercado de trabalho excessivamente aquecido, que vinha proporcionando pagamento de salários acima da expansão da produtividade do trabalho.

Traído no compromisso quebrado pelo governo de manter uma política orçamentária responsável, a partir de abril o Banco Central se sentiu liberado para acionar sua política monetária (alta dos juros) até então teimosamente mantida a serviço do arranjo voluntarista de política econômica que vem produzindo as conhecidas distorções. Já se vê que uma política de juros mais restritiva desacompanhada de uma política fiscal responsável pode pouco contra a inflação.

Depois de muita vacilação e uma tentativa de sacramentar a adoção de uma política fiscal que denominou de anticíclica (que implica mais despesas agora), o ministro da Fazenda, Guido Mantega, admitiu que entregará ao final deste ano um superávit primário (sobra de arrecadação para pagamento da dívida) correspondente a 2,3% do PIB. Mas ninguém sabe, provavelmente nem ele, como conseguirá esse resultado nem se será suficiente.

A percepção geral é a de que a política fiscal do governo Dilma é uma bagunça. E este é um fator adicional que tira a credibilidade da política econômica e trabalha contra a virada.

A inflação sofre agora os ataques de outro fator: o da disparada das cotações do dólar no câmbio interno. É o que vai encarecer ainda mais os produtos importados e as dívidas em moeda estrangeira, numa proporção incerta, mas que provavelmente não será inferior a 0,5 ponto porcentual de inflação ao ano para cada alta de 10% na cotação do dólar.

Enfim, falta saber o que mudará na condução da política econômica do governo Dilma. E se de fato mudará.

Encurralados - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 20/06

Se ficarmos só no gatilho que levou o povo às ruas, há motivo de sobra para a insatisfação: O colapso da mobilidade urbana estressa diariamente as pessoas. Encurralou-se o direito de ir e vir. De 2008 até agora, o governo federal deixou de arrecadar, de quem abastece os carros com gasolina, R$ 22 bilhões. O destino desse dinheiro seria investimento em infraestrutura de transporte.

Os motivos são muitos, o desconforto é difuso, mas esta é a hora de pensar em todos os recados da rua. O transporte público é caro, e o serviço prestado pelos ônibus, péssimo. Isso vem de muito tempo. Mas piorou. O governo estimulou de forma exorbitante o uso do carro particular, o que ajudou a entupir as ruas. Abriu mão de recursos que, se bem usados, beneficiariam a todos.

Não há um culpado só. É impossível separar a violência da Polícia de São Paulo da escalada das manifestações. As cenas que chocaram o Brasil e o mundo da última quinta-feira foram gasolina em fogo já aceso. O governo de Geraldo Alckmin foi inepto ao lidar com a crise.

A crise da mobilidade urbana foi sendo aprofundada aos poucos. No Brasil, o transporte público foi sempre negligenciado, mas o governo federal escolheu um caminho insensato, que apertou o nó que sufoca os transeuntes das cidades brasileiras.

Foi eliminada a Cide e reduzido o IPI, para beneficiar o automóvel. Desta forma, foi incentivada a compra do carro particular e subsidiado o seu combustível. Duas das funções da Cide, de acordo com a lei de 2001 que a criou, eram investir em infraestrutura do transporte e atenuar os efeitos da poluição dos combustíveis. O imposto começou a ser reduzido em janeiro de 2008 e foi zerado em meados do ano passado. Segundo cálculos do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), nesse tempo, o governo deixou de recolher, só com a gasolina, R$ 22 bilhões.

Não está nessa conta o que deixou de ser arrecadado com as reduções do IPI que estimularam a compra de carro particular. O subsídio à gasolina, através do congelamento do preço por muito tempo, causou prejuízo à Petrobras, déficit na balança comercial e desorganização da cadeia produtiva do etanol. Com mais carros na rua e investimentos insuficientes na infraestrutura, a mobilidade urbana, que já era ruim, entrou em colapso.

A compra do carro foi incentivada para o país crescer e isso não ocorreu. O preço da gasolina foi subsidiado para conter a inflação, e ela subiu. O reajuste do ônibus foi adiado para administrar os preços e aconteceu justamente neste junho em que a inflação está de novo estourando o teto.

Outro problema ronda a economia: o dólar. Ele também já começa a afetar os preços. Ontem, a entrevista do presidente do Fed, Ben Bernanke, dando o sinal de que os estímulos à economia serão reduzidos, no futuro, provocou imediata alta da moeda americana, e ela chegou a bater R$ 2,22. Fechou em R$ 2,21. É mais um complicador.

A presidente Dilma Rousseff tem estado em reuniões com a presença de seu marqueteiro, João Santana, e feito pronunciamentos com a sua supervisão. Parece mais preocupada com o efeito que a crise das ruas terá em suas chances eleitorais do que em entender e corrigir os erros que levaram à eclosão dos protestos.

Governantes de outros partidos e de outros níveis de governos desdizem de tarde o que disseram de manhã. O prefeito Fernando Haddad, ontem de manhã, garantiu que não reduziria a passagem de ônibus para, no fim da tarde, anunciar junto com o governador Geraldo Alckmin o recuo dos reajustes de ônibus e metrô. No Rio, Cabral não esteve ao lado do prefeito Eduardo Paes. A crise não é apenas econômica, mas a economia tem dado motivos de sobra para a insatisfação.

Foco no passe livre - MARCELO MITERHOF

FOLHA DE SP - 20/06

Educação e a saúde pública são gratuitas. Pelos mesmos motivos, o transporte deve ser universal e subsidiado


Uma eternidade se passou desde a coluna passada, quando os protestos iniciados em São Paulo contra o aumento do ônibus ainda eram relativamente incipientes.

Na quinta passada, o Movimento Passe Livre (MPL) era tido na grande imprensa como um grupelho extremista, algo injusto e simplificador.

A ação violenta da PM paulista na noite do mesmo dia virou a opinião pública a favor dos manifestantes. Nesta semana, os protestos tiveram atos de vandalismo, algo que costuma ocorrer quando multidões se juntam seguidamente.

Deixo de lado a difícil tarefa de avaliar os significados dessa movimentação avassaladora, que se tornou "viral" e ganhou objetivos difusos. Certo é que o MPL conseguiu trazer os transportes públicos ao centro dos debates nacionais.

Muitos não apoiam a gratuidade e os subsídios operacionais. Como os recursos fiscais são finitos, reduzir a tarifa tiraria dinheiro de outras prioridades, como educação e saúde, e do próprio transporte, reduzindo os investimentos necessários para melhorar sua qualidade.

Discordo em parte. Em 21 e 28/02/2013, escrevi duas colunas sobre transportes coletivos. Na segunda ("Ônibus gratuito"), defendi que com a prática mais comum no país --não ter subsídios operacionais, que baixem a tarifa-- é difícil otimizar o sistema de transporte. Ter uma moto pode sair mais barato que andar de ônibus. Não é à toa que, nos lugares do mundo onde ele é eficiente, há pesados subsídios.

Os subsídios em peso inibem o transporte individual, beneficiando a todos, inclusive quem não usa ônibus ou metrô. Eliminam também outras ineficiências, como os efeitos perversos das gratuidades parciais (idosos, estudantes etc.), que são custeadas pelos demais usuários.

Quanto à gratuidade universal, sua avaliação precisa ser feita de maneira menos estática. Afinal, exceto no curto prazo, as receitas fiscais não são dadas.

Se os usuários do transporte público, que em sua maioria são pobres, pagam pelo sistema do jeito que é hoje, o financiamento pelos contribuintes (a tarifa zero), usando impostos progressivos, permitiria não só mantê-lo como melhorá-lo, ampliando o investimento. O pedágio urbano pode ser uma fonte complementar.

É fato que no mundo a gratuidade é incomum, especialmente em metrópoles. Mas, no Brasil, a ainda alta desigualdade fala a favor de cobrar do contribuinte, em vez do usuário.

Ademais, a gratuidade não é inexistente, como muitas vezes se afirma. É o que mostra Lúcio Gregori, ex-secretário paulistano de Transportes que propôs a tarifa zero na gestão petista de Luiza Erundina, em ótima entrevista ao portal Mobilize.

Há ainda a questão de por que priorizar o transporte. E a educação e a saúde públicas? Não custa lembrar que elas são gratuitas. O transporte tem um impacto cotidiano e imediato na qualidade de vida da população. Faz sentido considerá-lo um serviço público que deve ser universal e subsidiado.

Claro, a saúde e a educação têm graves deficiências. No entanto, o MPL também chama a atenção para a possibilidade de subsídios parciais à tarifa. O subsídio total (a gratuidade) é apenas uma das opções. Por exemplo, uma tarifa (mais baixa) poderia se destinar exclusivamente a financiar os investimentos.

Além disso, na discussão está em jogo mais que a disputa por recursos públicos entre os serviços. Há uma questão macroeconômica.

Após anos de avanços na inclusão social, os seus principais instrumentos, o Bolsa Família e a valorização do salário mínimo, mostram limites para manter o ritmo de distribuição de renda e ampliação dos salários reais. Recuperar tal capacidade é crucial para a economia brasileira retomar o crescimento sustentado.

Uma forma indireta, mas eficaz, de fazê-lo é elevar o gasto público para melhorar a qualidade do Estado de bem-estar social brasileiro e reduzir as despesas da maioria da população com serviços essenciais.

A introdução da gratuidade nos transportes coletivos seria particularmente poderosa, gerando ganhos reais expressivos nos salários menores: ao menos 6%, o limite de desconto do vale-transporte no rendimento do trabalhador formalizado. Entre os informais, o ganho tende a ser maior.

Muitos discordam desse entendimento. Porém não há dúvida de que é saudável que mobilização iniciada na Paulista levante discussões como essa. O passe livre é um bom começo para o debate.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 20/06

O que vai acontecer no Brasil é o que vivemos aqui
Depois de negativas do governo, ministro da Economia da Turquia admite prejuízos após protestos sociais

Uma semana após o ministro das Finanças da Turquia, Mehmet Simsek, afirmar que os protestos não impactaram de forma significativa a economia do país, o ministro Zafer Çaglayan, responsável pela área econômica, admitiu ontem que houve, sim, prejuízos.

Para ele, a Bolsa brasileira deverá passar por turbulências semelhantes.

"No Brasil, também estão ocorrendo manifestações. O que vai acontecer lá é o mesmo que vivemos aqui", disse.

"Claro que houve prejuízos. Claro que influenciou a Bolsa e os juros. Mas haverá recuperação. As ações já estão voltando a subir", disse Çaglayan à coluna, durante evento promovido pela Tuskon (Confederação dos Executivos e Industriais da Turquia) em Istambul.

A revolta da população é apenas mais uma que ocorre na Europa, segundo Çaglayan: "Esses protestos não aconteceram somente aqui. Já ocorreram também na Grécia e na Espanha. Os europeus esqueceram-se rapidamente. Agora querem dar uma aula [de democracia] para a Turquia".

Há dez anos, diz, ninguém poderia protestar no país. "Essas manifestações que os defensores do meio ambiente estão fazendo e os direitos de que estão usufruindo, foram garantidos pelo nosso governo."

A democracia, no entanto, é justamente a principal reivindicação dos ativistas turcos, que afirmam que o Estado intervém na vida da população ao, por exemplo, proibir a venda de bebidas alcoólicas depois das 22h.

O governo, segundo o ministro, está apenas separando as pessoas que defendem o meio ambiente das que são parte de grupos "ilegais".

"Esses estão destruindo o patrimônio público e querem também destruir a paz do país", acrescentou.

"O governo impedirá que isso seja feito."

Os protestos na praça Taksim, que já duram três semanas, tiveram como estopim a construção de um shopping em local hoje ocupado por um parque.

Desde então, foram transformadas em atos contra o primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan, acusado de impor uma agenda autoritária e islâmica.

A Bolsa de Istambul caiu 8,3% desde 31 de maio, data em que os protestos começaram. Em 3 de junho, a queda chegou a 10,47% --a maior retração em um único dia nos últimos dez anos.

O governo de Erdogan projeta um crescimento econômico para a Turquia entre 5,3% e 5,5% por ano até 2023 (apesar de as próximas eleições já estarem programas para 2015).

A alavanca dessa expansão é a mesma que vem sendo usada pela Turquia nos últimos anos e que foi o grande motor propulsor chinês: as exportações. No ano passado, segundo o ministro, as vendas para outros países cresceram 4,4%. Em 2012, o PIB total cresceu 2,6% em relação ao ano anterior.

"Isso porque o mercado interno não ajudou."

"Sem o aumento das exportações, a economia não teria crescido. Nossa intenção é exportar. Se, por acaso, precisar, também colocamos o mercado interno, mas nossa preferência é vender para o exterior", disse o ministro.

Estratégia perigosa para um período de crise internacional como o atual? Não é, porém, o que Çaglayan pensa. "Não tem nenhum risco", afirma convicto.

"Crescer internamente traz problemas para a economia. Os turcos começam a importar em grandes volumes", diz ele em relação à necessidade de políticas para aumentar o poder de compra do consumidor e aquecer a demanda interna.

"Nossa intenção é aumentar o crescimento do país com exportações. Isso é o mais importante", reforça, mais uma vez.

Em 2010 e 2011, o PIB turco cresceu 9% e 8,8%, respectivamente, baseado nesse modelo econômico voltado para o mercado externo. "Apenas em 2009, houve uma pequena retração com a crise na Europa."

O plano agora, para que isso não se repita, é comercializar com o mundo todo.

"Hoje só não exportamos para dois países do globo. Um deles é Nauru. A Turquia ainda pode ganhar muito espaço, já que o valor global das importações é gigantesco."

Aperitivos esportivos
Uma pesquisa da Nielsen Sports aponta que 63,2% dos entrevistados bebem ou comem ao assistir a programas esportivos.

Em 2010, quando a Copa do Mundo foi sediada na África do Sul, o consumo de cerveja cresceu 15% no Brasil. O de refrigerante aumentou 10% e o de chocolate, 13%.

"Os grandes eventos, sejam esportivos ou não, são relevantes para a população e para as marcas, pois aquecem a economia", diz Rafael Plastina, diretor da entidade.

Fora... Laboratórios brasileiros e mexicanos começarão hoje uma rodada de negociações durante encontro em São Paulo. A reunião é organizada pela Abiquifi (associação brasileira da indústria farmoquímica e de insumos).

...de campo Aché, Eurofarma, Catarinense e Blanver são alguns dos laboratórios que devem enviar executivos para as conversas.

Celular em alta A Samsung inaugura hoje um espaço exclusivo na loja Fast Shop do Shopping Eldorado, em São Paulo, e outro amanhã, em Guarulhos.

FLÁVIA OLIVEIRA - NEGÓCIOS & CIA

O GLOBO - 20/06

MANUAL DE CONDUTA EM TEMPOS DE PROTESTOS
Entidades empresariais sugerem fechamento antecipado a negócios no caminho das manifestações previstas para hoje

Tal como na esfera política, a perplexidade do mundo corporativo com as manifestações dos últimos dias também é grande. A mobilização do 17 de junho no Rio pegou de surpresa entidades empresariais. Ontem, véspera de outra provável grande passeata, os líderes orientavam associados. A Firjan, que representa a indústria fluminense e tem sede no Centro, decidiu encerrar o expediente às 13h hoje. Em nota à coluna, a federação se limitou a dizer que “manifestações políticas fazem parte da vida de um país que conquistou a democracia”. O SindRio, de bares e restaurantes, publicou no site orientações aos empresários. Aos que estão na rota das manifestações, sugeriu a liberação dos funcionários e o fechamento antecipado. Os clientes, completa, devem ser avisados. O sindicato declarou apoio aos estudantes, não ao vandalismo. Nos arredores da Alerj, o bar Ao Vivo foi depredado na noite de segunda-feira. Presidente do CDL-Rio, Aldo Gonçalves, diz que “manifestações pacíficas são justas”. Mas não esconde a preocupação com as vendas do comércio do Centro do Rio, se os protestos virarem rotina. A orientação aos lojistas é fechar as portas, ao menor sinal de confusão.

Crédito ANTIVÂNDALOS
Aldo Gonçalves, do CDL-Rio, pediu e Domingos Vargas, da AgeRio, aceitou. A agência fluminense de fomento vai financiar empresários que tiveram lojas depredadas nos protestos da última 2ª feira.

ROMANCE DE LUAN
Luan Santana estrela a nova campanha da Suvinil, marca de tintas da Basf. Parceria com a Som Livre, o comercial apresenta “O amor coloriu”, novo hit do sertanejo. A letra conta a história do namoro do cantor com Jade Magalhães. Após a estreia do filme, no domingo, a canção estará disponível para download no site da Suvinil. A NBS assina; a O2 produziu.

‘WI-FI’
O Rio Estado Digital, projeto de acesso gratuito à internetda Secretaria estadual de Ciência e Tecnologia, vai virar PPP. A parceria público-privada está em testes com a Oi, no Maracanã. A Sect investirá R$ 500 mil em um ano. Quer passarde 15 para 50 redes ativas no período.

Leilão
O prédio histórico da Sociedade Portuguesa de Beneficência do Rio, na Glória, vai a leilão, dia 28.

É decisão da juíza Fernanda Duarte da Silva, da 3ª Vara Federal de Execuções Fiscais. O imóvel foi avaliado em R$ 28,48 milhões. Leonardo Schulmann vai comandar o pregão.

Compras
O Programa Compra Rio, da Sedeis, faz Rodada de Negócios Multissetorial, terça, em Nova Iguaçu.

Granfino e Compactor estão entre as âncoras. A previsão é movimentar R$ 60 milhões. Há demanda por material gráfico e produtos químicos, por exemplo.

Expansão
A Lupalupa, de óculos e relógios, fechou 15 contratos na ABF Franchising Expo. Outras 15 franquias estão em fase de conclusão. Com mais seis filiais negociadas fora da feira, a rede passará de 36 para 72 lojas este ano.

Peru
As vendas da indústria de software peruana para o Brasil são a aposta da Peru Service Summit, feira de exportação que acontece esta semana, em Lima.

A expectativa é movimentar US$ 4 milhões entre empresas dos dois países.

Livro
A editora Aeroplano se uniu ao Grupo 5W. Em outubro, lançam o selo Livro Elétrico, de e-books interativos.

Revitalização 1
A Alerj aprovou, anteontem, o Projeto de Lei 3.216/2010 do então deputado Christino Áureo (PSD), hoje secretário estadual de Agricultura. O texto dá incentivos tributários à transformação de áreas degradadas em condomínios industriais. Estão na mira, por exemplo, terrenos vizinhos a comunidades pacificadas.

Revitalização 2
A intenção é atrair fundos de pensão e imobiliários para novos empreendimentos. As áreas devem ter, ao menos, 1,5 milhão de metros quadrados e abrigar 15 empresas. O ICMS pode cair a 11% da alíquota cheia. A lei, agora, aguarda sanção de Sérgio Cabral.

PARA DEITAR
A Ortobom estreia na 2ª feira a campanha Conforto Completo, que mostra as diferentes opções de colchões da marca. Com o mote “Tudo para o sono dos seus sonhos”, as peças serão veiculadas em TV, impressos e pontos de venda. A Squadro assina. A rede espera alta de 10% nas vendas.

CASÓRIO
A La Boda by Pat Weimann apresenta amanhã a nova coleção de vestidos de noiva. A marca tem loja no Shopping Itanhangá (Barra). Vende, por mês, até 20 vestidos sob medida e até 35 prontos. Os modelos não saem por menos de R$ 2 mil. A campanha circula em site, redes sociais e catálogo.

Moda íntima
A Fevest, feira de moda íntima, praia e fitness em Nova Friburgo (RJ), deve receber oito mil visitantes na edição 2013, em agosto. São dois mil a mais que em 2012. A previsão é fechar R$ 43,2 milhões em negócios, alta de 20% sobre o ano passado.

Cama e mesa
A Alfaias, de cama, mesa e banho, abre loja ainda este mês no Barra Shopping. Em julho, chega ao Rio Design Barra. Juntas, receberão investimento de R$ 1,5 milhão. Até o fim do ano, virão mais quatro unidades. Em 2014, outras dez.

Renovada
A Josefina Rosacor, de acessórios femininos, está com novas logomarca e identidade visual. Até o fim de junho, as 14 lojas da marca estarão repaginadas. O Petit Pois Estúdio assina. No 2º semestre, chega o novo projeto arquitetônico.

ELES CAÍRAM NA REDE - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 20/06

Durante as manifestações contra o aumento de passagens de ônibus pelo país, duas personalidades foram muito citadas na internet: o estilista Alexandre Herchcovitch, por um comentário preconceituoso atribuído a ele, e a atriz Regina Duarte, por uma cena de minissérie

ALEXANDRE HERCHCOVITCH
O estilista paulistano Alexandre Herchcovitch foi alvo de protestos na internet, anteontem, após sua página no Twitter ter exibido o seguinte comentário: "Por que não acontecem manifestações no Norte e Nordeste? É lá que elegem os políticos corruptos do Brasil!". O post foi apagado na sequência, e Herchcovitch soltou comunicado oficial na manhã de ontem dizendo que sua conta na rede, que tem 76 mil seguidores, foi hackeada. Ele falou à coluna.

Como você está se sentindo? Muitas pessoas te agrediram na internet.
Eu tô calmo. Não declarei nada, não tenho que falar sobre uma declaração que não dei. Não me senti agredido porque não escrevi. Não senti nada, eu não escrevi, não penso isso.

Alguém te avisou que haviam publicado aquilo no Twitter?
Quando eu abri o Twitter pra ver se tinham mensagens para mim, vi duas mensagens que não tinha escrito. Imediatamente, eu deletei o post e a conta. E hoje reativei para dizer que foi hackeada.

Por que você acha que seu Twitter foi hackeado?
[Na manifestação de segunda-feira contra o aumento de ônibus] Foi uma das primeiras vezes que eu me manifestei politicamente. Acredito que se aproveitaram. Não consigo te dizer o que a pessoa que escreveu pensou. Sei que eu jamais escreveria algo assim.

Você ainda acredita nas redes sociais?
Como é um fato que não provoquei, não há motivo para eu mudar o meu dia a dia, fazer alguma interrupção. O que eu aprendi é que tenho que ficar mais atento.

REGINA DUARTE
Regina Duarte vem sendo chamada de "musa dos protestos" nas redes sociais por causa de cenas de "Chiquinha Gonzaga" (1999) no YouTube. Nas imagens, a compositora se manifesta contra o aumento na passagem do bonde e diz que, "se todos se recusarem a pagar, cai esse imposto absurdo".

O que achou do vídeo?
É interessante porque ela [Chiquinha Gonzaga] fala em imposto. Acho que esse é um tema importante, mais do que aumento.

As pessoas devem se preocupar mais com impostos do que com o aumento?
Não, não. A Chiquinha se refere ao aumento da passagem como mais um imposto. Me parece que é um movimento em que o brasileiro está cansado de pagar muito imposto e não ter retorno dos serviços básicos que seriam responsabilidade do governo. Começando por educação, saúde, segurança, moradia, transporte, etc, etc.

Você aceita o título de "musa dos protestos" que foi dado a você nas redes sociais?
Me inclua fora dessa [risos]! Embora com o maior respeito ao movimento.

As cenas representavam a Revolta do Vintém, que aconteceu no Rio entre 1879 e 1880.
E agora a gente está falando do quê? De 20 centavos. O vintém e os centavos. Proporcionalmente, é mais ou menos a mesma coisa.

Por que a história se repete?
O brasileiro está sempre lutando contra o excesso de impostos e um retorno pouco satisfatório.

Quer comentar algo mais?
Não. Quanto menos eu falar, melhor. Deixa eu ficar quietinha [risos].

COMUM ACORDO
A decisão de não chamar a Polícia Militar para conter os manifestantes que tentavam invadir a prefeitura, anteontem, foi combinada entre a equipe de Fernando Haddad (PT-SP) e a do governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP). As divergências começaram depois das 20h, quando um carro da TV Record foi incendiado.

NO LIMITE
Nesse momento, Antonio Donato, secretário de Governo, que comandava a sala de crise no prédio da prefeitura, disse: "Agora não dá mais". E pediu a PMs da assessoria militar que avisassem a Secretaria de Estado da Segurança de que, embora o risco de invasão da prefeitura estivesse afastado, a situação, no centro, estava prestes a sair do controle.

TEORIA
A Secretaria da Segurança mandou uma força tática, que se retirou em cerca de 15 minutos. "Está havendo um boicote", concluíram vários secretários de Haddad que estavam na sala de crise. Uma hora depois, sem polícia por perto, um grupo pichou o Theatro Municipal.

AO REDOR
"Pelas circunstâncias, não houve demora. O apoio solicitado foi dado", disse à coluna o secretário estadual da Segurança, Fernando Grella. Segundo ele, a própria PM avaliou que, naquele momento, havia risco grande de confronto no local, o que eles tinham ordem para evitar. A Tropa de Choque chegou duas horas depois.

É PIQUE!
Enquanto manifestantes tomavam a avenida Paulista para mais uma noite de protestos, anteontem, Edinho Silva, presidente estadual do PT-SP, comemorava seu aniversário num restaurante próximo, no Paraíso.

BLOCO DO...
Diferentemente de Haddad, que segurou o aumento da passagem até junho, a pedido de Dilma Rousseff, prefeitos da região do ABCD, como Luiz Marinho, de São Bernardo, reajustaram as tarifas de ônibus para R$ 3,30 em janeiro. Há alguns dias, com desonerações de impostos do governo federal, eles baixaram o preço para R$ 3,20.

...EU SOZINHO
Também em Osasco a tarifa subiu para R$ 3,30. Neste mês, baixou para R$ 3,20.

EM CENA
A trajetória da atriz e dramaturga Leilah Assunção será levada ao palco, no Rio.

O projeto Um Mergulho no Universo de Leilah Assunção, com apresentações e leituras dramáticas, é dirigido por Angela Valério.

DA GRINGA
O músico Printz Board, do Black Eyed Peas, fará uma canção para a trilha do filme "Motoanjos", uma coprodução brasileira. O longa será rodado em SP pelo diretor americano Joe Tripician. Ele contará a história de um motoboy que tem a moto roubada e precisa enfrentar um grupo criminoso para recuperá-la. O roteiro é de Gilson Schwartz.

FORA DA IOGA Julia Ianina, da Companhia Delas de teatro, reestreou a peça "Rabbit" no teatro Cit-Ecum, em SP; a atriz, que participou da série "Contos do Edgar", da Fox, está no ar com "Surtadas na Yoga", no GNT

MAPA DO LUXO
A empresária Rosangela Lyra, diretora da Dior no Brasil, lançou o guia "Jardins & Afins", anteontem. A consultora de moda Ucha Meirelles, os pais do jogador Kaká, Simone e Bosco Leite, e Enrico Celico, filho de Rosangela, foram ao evento, no Museu da Casa Brasileira.

CURTO-CIRCUITO
A Central Galeria abre hoje mostras de Ricardo Barcellos e Marcia Pastore. Às 19h, na Vila Madalena.

O Peru é tema de jantar beneficente do Graac, hoje, às 20h, no Clube Hebraica.

A festa Aleluia será hoje, às 22h30, na Casa 92, no Largo da Batata. 18 anos.

Angelo Derenze, presidente da Casa Cor, recebe convidados hoje à noite no Lounge Bar Chivas.

A apresentadora do SBT Carol Castelo Branco e o piloto Tarso Marques ficarão noivos anteontem.