quinta-feira, junho 23, 2011

ANCELMO GÓIS - Fator Odebrecht

Fator Odebrecht
ANCELMO GÓIS
O GLOBO - 23/06/11

Lula faz palestra dia 1o- de julho em Luanda, no Centro de Estudos Estratégicos de Angola. O evento é patrocinado pela Odebrecht, presente no país desde 1984. Será dirigida a empresários locais, formadores de opinião, representantes do governo angolano e de embaixadas dos países africanos.

Galã do Planalto
Causaram frisson na Esplanada dos Ministérios os novos óculos escuros do ministro Edison Lobão, motivo de muitas brincadeiras entre
seus colegas de governo. Até Dilma aderiu: “Lobão, cadê os óculos?”

Na verdade...

Faz sucesso entre integrantes do governo uma página de humor da revista “Piauí”, chamada “Diário de Dilma”. Nela, a presidente declara simpatia, quase amor, a Lobão.

UPP neles

De alguém que sabe das coisas. Sábado, véspera da chegada da UPP à Mangueira, saiu um comboio com os últimos traficantes que ainda estavam na favela carioca. O grupo se dividiu em três e teria ido se esconder na Barreira do Vasco, no Jacarezinho e no Complexo da Maré.

Liberou geral
Ficam discutindo se pode beijo gay em novela, e ontem o “Jornal Nacional” exibiu logo três de uma vez nessa cerimônia de união estável homoafetiva, no Rio. Nada contra.

Exercício de finitude

A Editora Rocco lançará em agosto um novo livro de poemas de Affonso Romano de Sant’Anna, 74 anos. Vai se chamar “Exercício de
finitude” e trará 101 textos. Affonso Romano não publicava poemas inéditos desde 2005.

Fermento no chucrute

Fernando Pimentel, ministro do Desenvolvimento, janta segunda com Heinrich Hiesinger, presidente mundial da Thyssen- Krupp, no Copacabana Palace. Hiesinger está no Rio com cinco diretores-executivos do grupo alemão para uma reunião da holding, de 27 e 30 de junho.

É que...

A escolha do Brasil para a reunião mundial da alemã se deve à importância que o país ganhou nas operações da empresa este ano.
Segundo Pimentel, em 2010, a CSA, siderúrgica da Thyssen- Krupp no Rio, exportou US$ 157,2 milhões. Mas, só nos primeiros cinco meses de 2011, o valor exportado já chegou a US$ 722,5 milhões.

Imprensa

Dilma estará no Rio segunda agora para participar da festa de 60 anos do jornal “O Dia”.

Delta no Rio

Eduardo Paes nega que haja qualquer favorecimento à Delta em sua administração e contesta dados da vereadora Andréa Gouvêa Vieira: — O valor contratado com a Delta em meu governo é de cerca de R$ 320 milhões, menos de 5% das obras contratadas. Na gestão anterior, os contratos da Delta somaram R$ 673 milhões.

O tarado americano
Esse Kenneth Craig, pedófilo americano preso no Rio pela Polícia Federal, virou alvo de outra investigação na 16a- DP, na Barra. Segundo o delegado Fernando Reis, uma testemunha relatou que o tarado moraria há quatro meses na Ilha da Gigoia, no bairro, com... dois rapazes.

Segue...
O gringo usaria os nomes José Alexandre Cortes de Oliveira e Gean Der. Uma cópia do registro foi enviada à PF.

Gonzagão na Sapucaí
A Unidos da Tijuca, do aclamado Paulo Barros,vai homenagear ano em que o inesquecível Rei do Baião faria 100 anos.

Pelada no táxi
Terça à noite, uma jovem com roupa de academia entrou num táxi em frente ao Shopping da Gávea, no Rio, rumo ao Recreio, e, no caminho, acredite, pediu ao motorista para.. se trocar ali mesmo, pois iria a uma festa. Dado o “sim”, a moça abriu a mochila, pegou o traje e... já desceu pronta. O taxista jura que não olhou muito. Ah, bom!

ILIMAR FRANCO - Não ao sigilo eterno

Não ao sigilo eterno
ILIMAR FRANCO 
O GLOBO - 23/06/11
 
O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e o ex-presidente Fernando Collor (PTB-AL) estão perdendo a batalha sobre o sigilo dos documentos oficiais do Brasil. A oposição e a maioria dos governistas estão se alinhando pela abertura das informações ao público. Essa posição está consolidada no PT, nos demais partidos de esquerda e, segundo o líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), “a maioria da bancada é contra o sigilo eterno”.

Nada será como antes
A presidente Dilma reuniu a coordenação do governo, ontem de manhã, para debater a Medida Provisória sobre as licitações para as obras da Copa de 14 e das Olimpíadas de 16. Ela pediu ao ministros para garantir o apoio da base parlamentar aliada à proposta originaldo governo. Dilma não quer que se repita a experiência do Código Florestal na Câmara. Na votação, uma parte do PT rejeitou o relatório de Aldo Rebelo e os aliados aprovaram a emenda 164, ambos contra sua orientação. Agora, Dilma quer a base fechada.

"Pelo amor de Deus! Eu preciso de um energético! Isso aqui não é um moedor de carne, é um verdadeiro triturador” — Ideli Salvatti, ministra das Relações Institucionais, dramatizando as suas funções no Palácio

FASE PAZ E AMOR. 
A ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil) está negociando pessoalmente a votação da regulamentação da emenda 29,
que garante investimentos mínimos em Saúde. Ela tem ligado para senadores a fim de orientar a votação. Aliás, a ministra, que tinha fama
de durona no Senado, foi extremamente política no jantar anteontem na casa do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). “Já estou com saudade do Senado. Aqui era mais fácil de transitar”, comentou Gleisi.

Dois governos?
A lista de cargos que o governador Cid Gomes (CE) entregou ontem para a ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) já tinha sido encaminhada ao ex-ministro Antonio Palocci (Casa Civil). Cid Gomes quer checar se os acertos anteriores continuam valendo.

Olhando à frente
Mesmo contrariado com o esvaziamento da oposição, o PSDB é mais cauteloso do que o DEM em relação ao PSD. Os tucanos não querem romper relações com o partido de Kassab, que nascerá com dois governadores, dois senadores e mais de 40 deputados.

Confea ataca falta de planejamento
A Confederação de Engenheiros, Arquitetos e Agrônomos está em campanha contra a adoção do Regime Diferenciado de Contratação na Copa de 14 e nas Olimpíadas de 16. Seu presidente, Marcos Túlio de Melo, sustenta que “pode abrir brechas à corrupção, aos sobrepreços e para a má qualidade dos empreendimentos”. Ele pergunta: “Como é possível contratar pelo regime de contratação integrada se não sei quanto custará a obra? Como saberei esse custo se não tenho um projeto executivo?”.

Uma festança
Cerca de 80 pessoas participaram do jantar na casa do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Irreverente, o senador Roberto Requião (PMDB-PR) comandou a noite. Ele levou o cozinheiro e até os tijolos para o porco no rolete.

Uma festinha
O secretário para Assuntos Internacionais da Presidência, Marco Aurélio Garcia, foi chamado ontem na sala da presidente, quando estava reunida a coordenação do governo. A presidente Dilma puxou os parabéns pelo seu aniversário.


 VALE TUDO! O deputado Leandro Vilela (PMDB-GO) compareceu à sessão da Câmara de ontem de short e sem gravata. Mesmo advertido pelos seguranças, ele entrou no plenário, marcou presença e foi embora.
 O PMDB quer prorrogar o decreto sobre o pagamento dos restos a pagar. Seus líderes argumentam com o governo que, se isso não ocorrer, vai ser criado um clima hostil na Câmara.
● O MINISTÉRIO da Justiça está trabalhando no II Plano de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, que prevê ações para 2012 e 2013. A iniciativa tem como pano de fundo a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016.

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Ética particular
SONIA RACY
O ESTADÃO - 23/06/11

Causou estranheza o fato de a ata da reunião da Comissão de Ética Pública da Presidência, do dia 16 de maio, não fazer qualquer citação ao enriquecimento de Palocci. No documento divulgado semana passada, não constam as declarações de Sepúlveda Pertence, que entre outras, disse não caber à comissão discutir a riqueza ou a pobreza dos ministros, ou como chegaram a ela, antes destes assumirem seus cargos.

Ela se limita a registrar, no que chamam de "nota de conjuntura", que "os conselheiros presentes examinaram os principais fatos da conjuntura, com base nas matérias veiculadas na imprensa no período de 12.4.11 a 16.5.11".

Ética particular 2


A mesma ata informa também que não acolheu o pedido de reconsideração da sanção de censura ética aplicada à Erenice Guerra.

A ex-ministra foi investigada pela comissão "em virtude das denúncias veiculadas na mídia, as quais relatam tráfico de influência e intermediação de contratos de empresas privadas com empresas estatais, envolvendo a então autoridade, seus familiares e servidores públicos".

Por unanimidade, a comissão entendeu que em sua ficha funcional continuará constando, por dois anos, que ela foi punida com "censura ética", por ter desrespeitado o código de conduta.

Querido


Muricy Ramalho, do Santos, quase foi às lagrimas na segunda-feira.

Foi aplaudido de pé, ao sair do Rodeio do Shopping Iguatemi, logo depois de almoçar com Faustão.

Recursos novos

Andrea Matarazzo anunciará investimento de R$ 13 milhões para o setor de audiovisual.

Na segunda, quando André Sturm, do MIS, apresenta a nova programação da instituição durante coquetel.

Festa da firma

Jogadores são-paulinos se reuniram na segunda-feira, em Moema. Treino extra? Não. Comemoração do aniversário das filhas de Luis Fabiano, em buffet infantil.

Além dos companheiros de time, Milton Cruz, auxiliar técnico, e José Sanchez, médico, prestigiaram a festa.

Inveja mata

Fábio Barbosa, do Santander, é o mais novo conselheiro da Fundação das Nações Unidas.

Fará companhia a gente de peso como Muhammad Yunus, Nobel da Paz; Kofi Annan, ex-ONU; Rainha Rania, da Jordânia; Ted Turner, da Time Warner, e outros 11 membros.

Inveja mata 2


Enquanto o Brasil se arrasta por rodovias esburacadas, a Colômbia vai duplicar mais de 500 km da Rota do Sol, principal estrada do país. E para tanto, escolheu a Odebrecht, na condição de concessionária federal.

A obra, orçada em US$ 1 bilhão, está sendo feita em consórcio com duas empresas colombianas.

Curto-circuito

Mais um galho na fiação da Eletropaulo. O núcleo de Defesa do Consumidor da Defensoria Pública instaurou um procedimento administrativo contra a empresa.

Quer apurar a demora para reestabelecer a energia em alguns bairros de SP depois de temporais no início do mês.

Registro


Denise Sganzerla tem recolhido depoimentos de sobreviventes do Holocausto que chegaram ao Brasil. O material, entre entrevistas e relatos sobre reconstruções das vidas, será compilado no filme Pessach. [GRUPO INK]

Registro 2

Além da parte documental, o longa contará com toques de ficcionais. Um ator brasileiro está sendo selecionado para interpretar Hitler, que contracenará com uma família judia também de atores.

Na frente


Será em torno de Luis Moreno, do BID, o jantar que Nizan Guanaes oferece segunda, no Bistrô Charlô.

Pedro Alterio e Bruno Piazza fazem show, amanhã, no Ao Vivo Music.

Hamadoun Touré, da União Internacional das Telecomunicações, estará no Brasil em setembro para o Futurecom, evento latino-americano de TI.

FHC está com o visual repaginado. Depois de 10 anos usando os mesmos óculos, ganhou modelo confeccionado por Miguel Giannini. Encomenda de Paulo Henrique Cardoso.

EDITORIAL - O ESTADÃO - Os sigilos e a presidente


Os sigilos e a presidente
EDITORIAL
O Estado de S.Paulo - 23/06/11

As reações a duas propostas em tramitação no Congresso Nacional - a que trata do acesso a documentos oficiais e a que estabelece regras especiais para a contratação de obras relacionadas com a Copa do Mundo de 2014 - geraram atitudes desencontradas do governo e da presidente Dilma Rousseff em particular. Embora em contextos inteiramente diversos, um mesmo tema presente nos dois projetos - o do sigilo - tornou-se motivo de polêmicas e pôs em evidência o despreparo do Planalto para administrar o inesperado. Nas duas situações, a presidente foi colhida de surpresa por objeções de aliados políticos e críticas da imprensa. Em um caso, ela teve a virtude de não persistir no erro. No outro, tratou de reduzir a um "mal-entendido" o que parece mais grave do que um erro e mandou a sua equipe se virar do avesso para explicar o que deveria dispensar explicações.

No episódio que caminha para terminar bem, o da legislação sobre as normas de divulgação dos papéis confidenciais, Dilma, ainda ministra da Casa Civil, foi voto vencido quando o presidente Lula mandou para o Congresso projeto pelo qual documentos classificados como ultrassecretos poderiam ser mantidos em segredo indefinidamente. Mas a Câmara dos Deputados acabou com o sigilo eterno ao estipular que esse material só poderia permanecer encoberto durante 25 anos, prorrogáveis uma única vez por igual período. Na semana passada, com a matéria tramitando no Senado, tanto o titular da Casa, José Sarney, como o também senador e ex-presidente Fernando Collor, criticaram a mudança no texto original - e Dilma cedeu aos seus argumentos (salvo quando a documentação sigilosa dissesse respeito a direitos humanos).

Sob os protestos de entidades como a OAB e de autoridades como o procurador-geral da República, e depois de ouvir os ministros da Defesa e das Relações Exteriores, que lhe disseram não haver em suas áreas documentos que poderiam comprometer a segurança nacional e as relações do País com os seus vizinhos, a presidente deu outra guinada. Fez saber que, se o Senado ratificar a posição da Câmara, como se prevê, ela não vetará a abolição do segredo perpétuo. Os zigue-zagues de Dilma, ainda mais em relação a um assunto sobre o qual tem posições firmes e conhecidas, denotam qualquer coisa entre o amadorismo e a insegurança política. Pior, de todo modo, tem sido a conduta do governo na defesa da também contestada medida provisória (MP) sobre as obras para a Copa.

Uma emenda de última hora introduzida no texto por um deputado petista, quando a MP estava para ser votada na Câmara, no fim da noite da quarta-feira da semana passada, autoriza o governo a omitir o valor estimado para cada empreitada sujeita a licitação no chamado Regime Diferenciado de Contratações (RDC) e a só repassar aos órgãos controladores as informações pertinentes aos contratos quando queira e em "caráter sigiloso". Diante das reações adversas, incluindo a do senador Sarney, três ministras - a da Casa Civil, Gleisi Hoffmann; a das Relações Institucionais, Ideli Salvatti; e a do Planejamento, Miriam Belchior - receberam a missão de "traduzir" as passagens da MP que teriam sido mal interpretadas. Só que não foram.

Em primeiro lugar, permanece obscuro o porquê da omissão dos valores de referência das obras. Se é para impedir que as empreiteiras se unam e apresentem todas elas propostas acima do preço básico - como alega o governo - por que não se adota a mesma restrição para qualquer licitação? Além disso, as juras de que o Tribunal de Contas da União (TCU) não só terá acesso a todos os dados, a qualquer momento, como deverá avaliar previamente os editais, não conferem com a letra e o espírito da MP. E se o Planalto quer inovar na matéria, a bem da proteção dos recursos públicos, por que o fez mediante uma emenda acrescentada às pressas? Propostas de legislação que não se explicam por si mesmas são suspeitas. Do mesmo modo é suspeito o governo que pede que nele se confie para cumprir o que constaria, mas não parece que consta, de determinada lei. A presidente Dilma, se quiser jogar limpo com a sociedade, deve se entender com o Senado para mudar a MP - em vez de alegar que foi incompreendida.

JOSÉ SERRA - Muito além do Big Mac


Muito além do Big Mac
JOSÉ SERRA
O Estado de S.Paulo - 23/06/11

Este feriado prolongado e o período das festas juninas nos lembram que estamos patinando num setor da economia para o qual, sem trocadilho, somos naturalmente talhados: o turismo. Talvez esteja nessa área uma das maiores desproporções entre aquilo que herdamos - natureza exuberante e diversificada, cultura rica, povo amigável com os estrangeiros - e o que fazemos com essa herança.

O turismo tem uma importância maior do que parece à primeira vista. Trata-se de um setor bastante intensivo em trabalho - emprega muita gente em transportes, serviços, lazer, hotelaria - e que utiliza, em larga medida, insumos "nacionais": clima, meio ambiente, paisagens, alimentação, etc. Ele estimula ainda, e até exige, investimentos em infraestrutura, como saneamento, estradas, aeroportos, que acabam beneficiando toda a população. Tomemos como exemplo o monumental projeto de saneamento do governo de São Paulo na Baixada Santista, em fase de conclusão: além de despoluir as praias, está promovendo uma notável melhoria dos serviços de água e esgoto, com o respectivo tratamento, em toda a região. Esse é um ganho definitivo para a população local, além do benefício óbvio que traz para os turistas.

Infelizmente, o setor de turismo no País é muito menos pujante do que poderia ser. O fluxo de turistas estrangeiros que vêm ao Brasil praticamente não aumentou na década passada: em torno de 5 milhões de pessoas, que gastam em solo brasileiro US$ 6 bilhões. Esse número representa pouco mais de 0,5% dos viajantes no mundo: é um quinto do que recebe a Turquia e um quarto do que recebe o México!

No sentido contrário, no entanto, assiste-se a uma verdadeira explosão. Em 2009, os turistas brasileiros gastaram no exterior US$ 11 bilhões. Em 2010, no contexto da farra cambial-eleitoral promovida pela política econômica, esse montante se elevou a US$ 16,5 bilhões. O déficit brasileiro no setor alcançou, assim, algo próximo a US$ 10 bilhões. Isso significa uns 16 mil empregos diretos a menos no Brasil e a mais no exterior. Ou seja, na área do turismo, um país continental e tão diversificado como o Brasil exportou um número enorme de empregos. E que fique claro: não se trata de criar dificuldades para os que querem conhecer outros países. O que precisamos é tornar o turismo interno mais competitivo que o turismo externo, e nos organizarmos para atrair mais turistas estrangeiros para cá.

Mas, afinal, o que está acontecendo? Antes de qualquer outro fator, é necessário lembrar o papel que a megavalorização do câmbio - o impropriamente chamado real "forte" - exerce nessa equação, que nos é tão desfavorável. Ele barateia as viagens e as compras no exterior e torna o Brasil mais caro para os estrangeiros. Isso explica o fato de o turismo europeu para o Brasil ter caído em mais de 20% desde 2005. Os portugueses, por exemplo, têm preferido cada vez mais o Caribe, apesar da nossa vantagem no idioma.

Há um dado que é um verdadeiro emblema da nossa dificuldade. Um turista brasileiro paga em Nova York US$ 3,7 por um Big Mac (dado de outubro de 2010). Já um turista americano desembolsa, no Brasil, US$ 5,3 pelo mesmo sanduíche - 40% a mais! No México custa US$ 2,6, em torno da metade do preço daqui; na Malásia, US$ 2,2. De fato, o nosso Big Mac está entre os mais caros do mundo em dólar - só perde para o da Suíça e o de alguns países nórdicos. Por estar presente em quase todo o mundo, o preço desse sanduíche é uma referência muito útil para comparações internacionais. Ele ilustra uma situação que se estende a muitos outros produtos.

Os mesmos cálculos - da revista britânica The Economist, que inventou e atualiza o "Índice do Big Mac" - evidenciam que o real está no topo das moedas mais valorizadas do mundo: perto dos 40%. Essa valorização não é sadia, pois não decorre de um robusto superávit na conta corrente do balanço de pagamentos, mas de um aumento do passivo externo em razão do fluxo de dinheiro atraído pela taxa de juros mais alta do mundo - e é assim há muitos anos. Na verdade, o déficit brasileiro na conta corrente, neste ano, vai bater a marca histórica em tamanho - US$ 65 bilhões - e situar-se entre os três ou quatro mais elevados do planeta, em valores absolutos e em relação ao produto interno bruto (PIB).

O irrealismo cambial pode ser o problema principal, mas não é o único que explica a mediocridade da performance brasileira em turismo. Durante os últimos anos, o Brasil não investiu o necessário em obras de infraestrutura. Tratei desse assunto em dois artigos recentes neste espaço, intitulados O desenvolvimento adiado e A pior ideologia é a incompetência. Essa falta de investimentos cria gargalos que frustram e/ou encarecem o crescimento sustentado em várias áreas, com reflexos especialmente graves no turismo.

Querem ver? Estão aí, aos olhos de todos, o transporte caótico, terminais rodoviários e aeroportos congestionados, rodovias no mais das vezes insatisfatórias ou lastimáveis, muitas cidades sem saneamento básico decente, etc. Nas últimas décadas, nunca o governo federal investiu tão pouco nessa áreas. O conjunto redunda em dificuldades adicionais, como a carência de mão de obra qualificada, falta de conhecimento de outros idiomas, desorganização e pouco investimento no fortalecimento da cadeia produtiva.

Daria para corrigir a rota? Claro que sim! Mas isso exige foco, metas, planejamento, gestão eficiente - tudo o que tem faltado na esfera federal. Além disso, sobram inoperância e loteamento político no setor que deveria cuidar do turismo. É preciso lembrar que justamente esse setor acabou se tornando um lugar privilegiado das lambanças orçamentárias?

Neste feriadão, em que tantos viajam, só o governo continua a não saber para onde vai...

GOSTOSA

DEMÉTRIO MAGNOLI e ADRIANO LUCCHESI - Festa macabra


Festa macabra
DEMÉTRIO MAGNOLI e ADRIANO LUCCHESI
 O Estado de S.Paulo - 23/06/11


"Há uma percepção crescente de que a aritmética da Copa do Mundo é um tanto instável", escreveu o Times de Johannesburgo um mês depois do triunfo da Espanha nos campos sul-africanos. "Temos estádios em excesso para nosso próprio uso. Talvez devêssemos exportar estádios para o Brasil, que fará sua Copa do Mundo?". A constatação estava certa; a sugestão, errada. O Brasil, país do futebol, terá o mesmo problema que a África do Sul, país do rúgbi. Aqui, como lá, a festa macabra da Fifa é um sorvedouro implacável de recursos públicos.



Mafiosos usam a linguagem da máfia. Confrontado com evidências de corrupção na organização que dirige, Sepp Blatter avisou que tais "dificuldades" seriam solucionadas "dentro de nossa família". As rendas de radiodifusão e marketing da Fifa ultrapassaram os US$ 4 bilhões no ciclo quadrienal encerrado com a Copa da África do Sul. O navio pirata já se moveu para o Brasil, onde a Fifa articula com seus sócios a rapina seguinte.

O brasileiro João Havelange planejou a globalização do futebol, expandindo a Copa para 24 seleções, em 1982, e 32, em 1998. Blatter concluiu a transformação, rompendo a regra de rodízio de sedes entre Europa e América. Como constatou a Sports Industry Magazine, sob um processo milionário de licitação do direito de hospedagem, as ofertas nacionais assumiram "a forma de promessas de mais e mais pródigos novos estádios para os jogos e novos hotéis luxuosos para uso dos dirigentes da Fifa e de fãs endinheirados". A Copa é um roubo: as despesas são pagas com dinheiro público, de modo que a licitação "constitui, de fato, um esquema de extração de renda concebido para separar os contribuintes de seus tributos".

O saque decorre da conivência de governos em busca de prestígio e de negociantes em busca de oportunidades. Na Europa a rapinagem é circunscrita por uma cultura política menos permeável à corrupção e pela existência prévia de modernas infraestruturas hoteleiras, esportivas e de transportes. Por isso a Fifa seleciona seus próximos alvos segundo critérios oportunistas de vulnerabilidade. Encaixam-se no perfil África do Sul e Brasil, países emergentes que ambicionam desfilar no círculo central do mundo, assim como a semiautoritária Rússia, sede de 2018, e a monarquia absoluta do Qatar, que bateu a Grã-Bretanha na disputa por 2022.

Antes das Copas, consultores associados às redes mafiosas produzem radiosas profecias sobre os efeitos econômicos do evento. Depois, quando emergem os resultados efetivos, eles já estão entregues à fabricação de ilusões no porto seguinte. A África do Sul gastou US$ 4,9 bilhões em estádios e infraestruturas, que gerariam rendas imediatas de US$ 930 milhões derivadas do afluxo de 450 mil turistas, mas só arrecadou US$ 527 milhões dos 309 mil turistas que de fato entraram no país.

O verdadeiro legado positivo da Copa de 2010 foi a mudança de paradigma no sistema de transporte público urbano, pela introdução de ônibus, em corredores dedicados, e do Gautrain, trem rápido de conexão com o aeroporto de Johannesburgo. Os ônibus enfrentavam selvagem resistência dos sindicatos de operadores de peruas, superada pelo imperativo urgente do evento esportivo. O Gautrain serve exclusivamente à classe média, com meios para adquirir bilhetes cujos preços excluem a população pobre. Mas o argumento de que sem uma Copa, não se realizariam obras necessárias de mobilidade urbana equivale a uma confissão de incompetência da elite dirigente.

Eventos esportivos globais tendem a gerar ruínas urbanas, mesmo em países mais inclinados a zelar pelo interesse público. Japoneses e sul-coreanos ainda subsidiam a manutenção das arenas da Copa de 2002. As dívidas contraídas para as obras da Olimpíada de Atenas e da Eurocopa de 2004 aceleraram a marcha rumo à falência da Grécia e de Portugal. A África do Sul incinerou US$ 2 bilhões na construção e reforma das dez arenas da Copa. Todas, com exceção do Soccer City, de Johannesburgo, usado para jogos de rúgbi e shows, figuram hoje como monumentos inúteis, conservados pela injeção de dinheiro público. A Cidade do Cabo paga US$ 4,5 milhões ao ano pela manutenção da arena de Green Point, erguida ao custo fabuloso de US$ 650 milhões e usada apenas 12 vezes depois da Copa. Lá se desenrola um melancólico debate sobre a alternativa de demolição do icônico estádio, emoldurado pela magnífica Table Mountain.

O Brasil decidiu ultrapassar a África do Sul. Aqui, serão 12 arenas, a um custo convenientemente incerto, mas bastante superior aos dispêndios sul-africanos. As futuras ruínas já drenam vultosos recursos públicos, mal escondidos sob as rubricas de empréstimos do BNDES e subsídios estaduais e municipais. O governo paulista prometeu não queimar o dinheiro do povo na festa macabra da Fifa, mas o alcaide Gilberto Kassab assinou um cheque público de US$ 265 milhões destinado ao estádio do Corinthians. São 16 centros educacionais, para 80 mil estudantes, sacrificados por antecipação no altar de oferendas às máfias da Copa. O gesto de desprezo pelas necessidades verdadeiras dos contribuintes reproduz iniciativas semelhantes adotadas, Brasil afora, por governos estaduais e municipais.

Segundo a lógica perversa do neopatriotismo, a Copa é um artigo de valor só mensurável sob o prisma da restauração do "orgulho nacional". De fato, porém, a condição prévia para a Copa é a cessão temporária da soberania nacional à Fifa, que assume funções de governo interventor por meio do seu Comitê Local. O poder substituto, nomeado por Blatter, já obteve o compromisso federal de virtual abolição da Lei de Licitações e pressiona as autoridades locais pela revisão das regras de concorrência pública. Malemolentes, ao som dos acordes de um verde-amarelismo reminiscente da ditadura militar, cedemos os bens comuns à avidez dos piratas.

MIRIAM LEITÃO - Gregos e bárbaros


Gregos e bárbaros
MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 23/06/11

Foi por pouco, apenas quatro votos além do necessário, que a Grécia não amanheceu ontem sem governo. Mas há novas batalhas. A Grécia assusta o mundo por causa de uma sigla - o CDS - que pode ser o elo de contágio para que uma crise num pequeno país vire um abalo sistêmico.

De novo, os bancos é que terão de ser resgatados. O povo? O povo está na Ágora, reunido. Desde a Antiguidade a Grécia não foi tão central como tem sido nos últimos dias. Editoriais nos principais jornais do mundo se perguntam por que devemos todos nos preocupar com eles.

Pelo mesmo motivo que um dia tivemos que nos inquietar com os devedores anônimos do "subprime". Com qualquer dívida o mundo faz derivativos e esses derivativos se espalham pelos países, bancos, economias.

Um calote grego tem potencial para trazer de volta o congelamento de crédito que se viu em 2008. O país foi socorrido há um ano com 110 bilhões e calcula-se que mais 120 bilhões sejam necessários. Isso significa dar uma Grécia à Grécia, ou seja, um empréstimo de 100% do PIB.

A votação de terça-feira foi olhada com atenção porque sem governo tudo iria piorar. Agora que Papandreu continua no cargo, terá de aprovar um pacote de ajuste, exigência do FMI para liberar em julho a última parcela de 12 bi do primeiro resgate. Com o dinheiro, adia-se o calote e os bancos terão mais tempo para pensar onde jogar a batata quente que têm nas mãos.

Independentemente do valor que deixar de ser pago, um calote terá dois efeitos imediatos: o primeiro é que todos os bancos que compraram títulos do país serão obrigados a rever para baixo o valor e a qualidade dos seus ativos. Isso produzirá rombos em bancos ainda combalidos.

Mas o pior é o segundo risco: a crise pode se espalhar via mercado de CDS (Credit Default Swap), um contrato de seguro contra o risco de calote dos governos. O banco que carrega título grego, mas que está protegido via CDS, poderá cobrar a indenização pelo sinistro porque o "gatilho, ou calote, foi acionado.

Não se sabe a dimensão do estrago que pode ocorrer se os CDS forem cobrados. Mas já há uma lista de bancos americanos como possíveis vendedores desses seguros. Para piorar, esses contratos de CDS são fechados de banco para banco em negociações "de balcão", que não são divulgadas publicamente. O risco grego é dos gregos, europeus, americanos, enfim, de todos os troianos. Os bancos começam a desconfiar uns dos outros com dúvidas sobre quem carrega, no fim das contas, o cavalo de batalha cheio de perigo dentro. Contratos de balcão são semelhantes aos que trouxeram problemas para empresas brasileiras Aracruz e Sadia, em 2008, que fizeram operações no mercado de câmbio que nem os seus acionistas sabiam.

Quando o dólar subiu de uma hora para outra, as empresas se viram quebradas de repente. Segundo o site CNN Money , o contágio via CDS seria direto sobre a economia americana. É o temor também do New York Times e exposto em editoriais de blogs e jornais. Estima-se que os bancos do país possuem exposição de 41 bilhões em relação ao problema grego.

Em 2008, logo após a quebra do banco Lehman Brothers, a seguradora AIG anunciou que estava falida porque precisava cobrir as indenizações. Exatamente pela via do seguro é que a quebra de um banco de investimento acabou abatendo a gigante norte-americana.

A Grécia causa também embates políticos dentro da Europa, porque a Alemanha quer que os bancos paguem parte da conta. A França, não. O Banco Central Europeu, que para ajudar os bancos comprou dívida grega, também está encrencado. Por isso tem avisado que a Grécia pode ser o gatilho da volta da crise bancária.

O FMI tem ido à Grécia de três em três meses para avaliar as medidas de ajuste fiscal. Reclama que o governo tem funcionário público demais e que os gregos se aposentam cedo, que o governo pode vender ativos e cortar gastos. É tudo verdade.

Mas os gregos na Praça Syntagma, no microfone aberto 24 horas por dia, como numa Ágora moderna, reclamam: falta emprego; as empresas estão quebrando; o país, encolhendo. É tudo verdade também: o PIB despencou 5% no primeiro trimestre, o desemprego subiu para 16%. A população sente na pele a recessão.

Nas próximas semanas o governo usará o voto de confiança que conseguiu para aprovar aumento de impostos e privatizações. Entre as propostas: reduzir a folha do funcionalismo público em 150 mil pessoas; aumentar a idade mínima de aposentadoria; cortar pensões; benefícios sociais como seguro-desemprego e cobertura de saúde. A economia seria de 28 bilhões entre 2012 e 2015. A privatização de empresas, aeroportos e bancos estatais levantaria mais 50 bilhões.

O FMI e os líderes europeus fazem exigências e o povo na Ágora protesta. Se o país for deixado à própria sorte não se salvará. Como disse o mais importante poeta grego do século 20, Konstantinos Kaváfis, a Grécia parece estar à espera dos estrangeiros. "É que os bárbaros chegam hoje. Que leis hão de fazer os senadores? Os bárbaros que chegam as farão". Mas se eles não chegarem pode ser pior: "Sem bárbaros o que será de nós? Ah! eles eram uma solução".

EDITORIAL - O GLOBO - A promiscuidade na vida pública


A promiscuidade na vida pública
EDITORIAL 
O GLOBO - 23/06/11

A frase "restaure-se a moralidade ou locupletemo-nos todos", atribuída ao Barão de Itararé (Aparício Torelly), retrata bem a postura irônica do humorista, de muitas décadas, diante da crônica de maus costumes éticos na vida política do país. O afrouxamento moral tem longa história, e não parece que terá fim.
A tragédia ocorrida no fim de semana, com a queda de um helicóptero no Sul da Bahia, desvendou ligações do governador Sérgio Cabral com empresários que colocam questões sérias sobre até que ponto deve ir o relacionamento entre pessoas do mundo privado e público, sem que seja ultrapassada a fronteira do conflito de interesses.
Não se pode imaginar que o governador do Rio de Janeiro, seja qual for, não conheça pessoalmente o empresário Eike Batista, inclusive morador do Rio. Nem que deixe de ter contato com outros empresários, entre eles empreiteiros, cuja parte ponderável do faturamento vem de verbas públicas. Eles batem sempre à porta do setor público, nada a estranhar. A questão entra em área sombria quando é perguntado se o governador deveria ter viajado para Porto Seguro no jato de Eike Batista, numa escala para desembarcar num resort próximo, em que haveria a festa de aniversário de Fernando Cavendish, dono da Delta, construtora com R$1 bilhão em contratos com o governo do Rio, alguns obtidos sem licitação.
Eike, procurado pela imprensa, declarou ter emprestado o jato "com satisfação". Não se trata disso. Cabral é que teria de perceber a inadequação da carona e a inoportunidade da festa.
Ligações perigosas existem pelo mundo. Quando os estragos ocorrem na vida da pessoa pública, nota-se que ela nada enxergava de mal naquele relacionamento indevido. A ministra francesa de Relações Exteriores, Michele Alliot-Marie, por exemplo, era próxima de empresários tunisianos da órbita do ditador Ben Ali. Passou, inclusive, o feriado de Natal em Túnis, quando já cresciam as manifestações contra o regime. Como nos enredos da maioria das histórias desse tipo, a ministra voou em jatinhos privados. Pois os ventos da Primavera Árabe derrubaram Ali e a ministra.
O próprio chefe da ministra, presidente Nicolas Sarkozy, deve ter pago algum preço ao aparecer no avião particular e iate do amigo Vincent Bolloré. E não faltam amigos para pessoas poderosas na órbita pública.
No Brasil, depois de, no governo Collor, PC Farias ter ultrapassado todos os sinais vermelhos, a ponto de o presidente sofrer impeachment, veio a Era FH, na qual houve alguns cuidados na separação entre o público e o privado. Criou-se, então, a Comissão de Ética da Presidência.
Já nos oito anos de Lula, a ética - inclusive a comissão - foi mandada às favas, uma contribuição dramática à deterioração dos costumes na vida pública. O fato de o partido e o grupo de políticos que se apresentavam como reserva moral fazerem o oposto em Brasília funcionou como um "liberou geral". Até porque o presidente sempre defendeu "mensaleiros" e "aloprados" petistas.
A tragédia no Sul da Bahia ocorreu dentro de todo este contexto. Deveria servir de alerta aos homens públicos que se descuidam e não delimitam os devidos espaços entre os cargos eletivos que ocupam e os interesses que os cercam. Legítimos, mas tóxicos. Precisam ser administrados com cuidado.

MÔNICA BERGAMO - FAROL LIGADO

FAROL LIGADO
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SÃO PAULO - 23/06/11

A Prefeitura de São Paulo já arrecadou no ano R$ 214 milhões com multas, 45% a mais do que no mesmo período de 2010. A Secretaria de Transportes afirma que o aumento do número de radares e lombadas eletrônicas e a modernização da fiscalização na cidade explicam a alta. A previsão é captar, no ano, R$ 660 milhões.

DANCE

O produtor Nile Rodgers, que trabalhou com David Bowie e Madonna, entre outras estrelas, tocará em São Paulo. Ele se apresenta com sua banda, a Chic, na festa da Sky, no Golden Hall, em SP, no dia 30.

FESTA PARADA

A Parada LGBT volta a ter trio elétrico patrocinado por boate, depois de duas edições em que eles deixaram de desfilar. A Nostro Mondo levará um carro de som à avenida para comemorar seus 40 anos de existência.

EM CASA
Marcelo Tas, do "CQC", será homenageado amanhã pela Associação da Parada LGBT. Ele vai receber o Prêmio Cidadania em Respeito à Diversidade. Há alguns meses, depois das declarações de Jair Bolsonaro no programa contra os gays, Tas revelou que sua filha Luiza Athayde é homossexual e tem todo o seu apoio. "Depois de tanta pancadaria, inclusive de fascistas, feministas e até homossexuais, estou muito grato e sensibilizado com esse gesto", diz Tas. Como vai viajar, Luiza vai representá-lo na cerimônia.

EXAME
A TV Record vai recorrer da decisão do Tribunal de Justiça de SP que elevou a indenização que a emissora foi condenada a pagar por demitir o apresentador Boris Casoy em 2006. A empresa já desembolsou R$ 6,5 milhões e teria agora que pagar outros R$ 3,5 milhões, mais juros e correção.

LEÃO NO HOTEL
O livro "As Crônicas Inacreditáveis do Emiliano", que comemora os dez anos do hotel paulistano, ganhou ontem um Leão de Ouro na categoria Design no Festival de Cannes. O livro tem fotos de Tuca Reinés e foi criado pela JWT, com consultoria de Charles Cosac.

GRÊMIO DO CANTO
Arnaldo Antunes gravou no Rio anteontem o quinto episódio de seu programa, "Grêmio Recreativo", que vai ao ar pela MTV. Marisa Monte participou da filmagem, no Teatro Rival Petrobras, na Cinelândia. Também foram ao show as atrizes Virgínia Cavendish, Camila Pitanga e Nathalia Dill, o rapper BNegão e os cantores Roberto Frejat e Nina Becker.

POPULAR

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso conta em especial da Record News sobre seus 80 anos que não tinha onde colocar todas as flores que ganhou de aniversário e resolveu levá-las ao túmulo da mulher, Ruth, no cemitério da Consolação. Chegando lá, um dos coveiros falou: "Presidente, estamos às suas ordens". FHC reagiu: "Espero que não precise!". Vai ao ar no domingo.

TUCANÊS
Depois das gravações, FHC foi com os jornalistas Ricardo Kotscho e Heródoto Barbeiro, que o entrevistaram, a seu barbeiro, conhecido como Jacaré -que o ex-presidente diz ser seu "arquiteto capilar". Contou também que já deu palestras nas mais importantes universidades do mundo, menos na USP. Por falta de convite.

ABERTURA

E o ministro Fernando Haddad, da Educação, entregou a FHC um livro sobre o colapso do socialismo que pensa em relançar. E convidou o ex-presidente para escrever o prefácio. Os dois se aproximaram graças a um amigo comum, o crítico literário Roberto Schwarz.

CURTO-CIRCUITO

A exposição "Cartazes do Cinema Brasileiro" fica aberta até domingo no centro Catavento Cultural e Educacional. Das 9h às 17h. Livre.

A peça "Menecma", escrita por Bráulio Mantovani e dirigida por Laís Bodanzky, tem suas últimas apresentações até domingo. No Teatro Popular do Sesi. 14 anos.

O grupo Havana Brasil comemora sete anos com show hoje às 19h na Choperia do Sesc Pompeia. 18 anos.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA, THAIS BILENKY e CHICO FELITTI

SEGUINDO A RATAZANA

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Indústria de eletroeletrônicos reduz previsão de crescimento para 2011
MARIA CRISTINA FRIAS
FOLHA DE SÃO PAULO - 23/06/11

A indústria brasileira de eletroeletrônicos reduziu para 8% a expectativa de crescimento do setor para este ano.
A projeção anterior da Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica) era de expansão de 11%.
Com a nova previsão, o faturamento da indústria deve atingir R$ 134,5 bilhões no final deste ano.
O ritmo menor de expansão se deve, principalmente, à valorização do real.
"Com o câmbio desfavorável, as empresas não conseguem competir no mercado externo. Além disso, começam a perder a sua tábua de salvação, que era o mercado interno", diz Humberto Barbato, presidente da Abinee.
As vendas internas, que têm sido o elemento dinâmico para a atividade do setor, perdem espaço para as importações de produtos acabados, principalmente os chineses, de acordo com a associação.
A participação das importações de bens eletroeletrônicos no mercado interno passou de 15,9%, em 2005, para 21,6% no ano passado.
As exportações, por sua vez, perderam representatividade em relação ao faturamento total do setor, que caiu de 20,4%, em 2005, para 10,8%, em 2010.
No dia 29, a Abinee vai participar de audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos para debater estratégias de política comercial do setor.

BARRIL UCRANIANO

O diretor de Exploração e Produção da Petrobras, Guilherme Estrella, participa amanhã de encontro com representantes do governo da Ucrânia.
A intenção da companhia brasileira é atrair empresas ucranianas para o Brasil e trabalhar em conjunto na fabricação de produtos para o mercado de petróleo e gás.
A negociação é parte da estratégia da Petrobras de tentar estimular o desenvolvimento tecnológico da indústria nacional e de seus fornecedores por meio de parcerias com companhias de outros países.

CUSTO-BRASIL

A valorização do real e a falta de mão de obra especializada levam a produção brasileira de TI a ter um custo superior ao de outros países da América Latina, segundo estudo do grupo Assa.
Em média, os valores pagos por empresas do setor no Brasil são 50% mais altos que os da Argentina e 30% maiores que os do México.
"O mercado de terceirização está em expansão, até porque cada vez mais clientes estão deixando as contratações por horas e buscando contratos permanentes", diz o presidente do grupo no Brasil, Federico Tagliani.

Pelo vento 

O HSBC inaugura na segunda-feira, em São Luís (MA), a primeira agência bancária do país a utilizar energia eólica. O investimento foi de R$ 2 milhões, o maior individual já feito em uma agência do banco. Em geral, o valor é de cerca de R$ 1 milhão. O telhado possibilita a circulação natural de ar e as paredes têm isolamento térmico.

ENXOVAL NOVO
A Trousseau, grife de enxovais, lança hoje uma marca voltada ao público jovem, a T Trousseau.
Os produtos da nova linha serão pelo menos 30% mais baratos que os tradicionais. Eles terão, segundo o diretor da empresa Romeu Trussardi Neto, "a mesma qualidade: serão feitos com algodão de fibras longas, por exemplo".
Para oferecer preços mais acessíveis do que os da grife original, a linha não será vendida em lojas, apenas pela internet.
A exceção será durante este inverno.
Uma loja que venderá apenas a grife jovem será aberta hoje em Campos do Jordão. Ela funcionará até o dia 31 de julho.
A linha começou a ser desenvolvida há um ano e deverá atender desde adolescentes até recém-casados.
A Trousseau fechou contrato para fornecer suas coleções mais sofisticadas de roupa de cama para cinco hotéis da Europa (na Itália, na França e na Suíça).

Protestos 
No mês de maio, foram protestados 66,9 mil títulos, 10,28% a mais que no mesmo período do ano passado, de acordo com o Instituto de Estudos de Protesto de Títulos da Seção São Paulo. O levantamento foi realizado entre os dez tabeliães de protesto da capital.

União 
A Base Real Estate, especializada em consultoria imobiliária corporativa, associou-se ao grupo AOS-Studley e passa a adotar o nome da empresa internacional. O grupo está em 20 países e a média de seu faturamento anual é de 100 milhões.

RENDA REAL
A Sophie Hallette, fabricante francesa de uma das rendas do vestido de casamento de Kate Middleton, aumentou suas vendas "entre 5% e 10%" após a cerimônia, segundo o presidente da empresa, Romain Lescroart.
Lescroart quer aumentar sua atuação no Brasil, que hoje representa cerca de 1% do faturamento anual da empresa de 18 milhões.
A fabricante vende suas rendas produzidas em teares do século 19 para cerca de 40 empresas brasileiras.
No Brasil, porém, o vestido da princesa não impulsionou as vendas, diz Calixto Assuf, da importadora de rendas Dervelle. Apenas a procura pelo desenho utilizado por Kate cresceu em 30%. Executivos da Sophie vêm a SP para a feira Première Brasil.
com JOANA CUNHA, ALESSANDRA KIANEK, VITOR SION e LUCIANA DYNIEWICZ

CLÓVIS ROSSI - A subversão pelos mercados

A subversão pelos mercados
CLÓVIS ROSSI
FOLHA DE SÃO PAULO - 23/06/11 

SÃO PAULO - Os tais mercados estão subvertendo a ordem pública e a democracia, sem que se arrisquem a ir para a cadeia.
O caso da Espanha talvez seja o mais emblemático, embora esteja longe de ser o único. O FMI (Fundo Monetário Internacional) acaba de divulgar um relatório sobre a economia espanhola em que festeja o fato de que as medidas de austeridade adotadas pelo governo do socialista José Luis Rodríguez Zapatero "ajudaram a fortalecer a confiança do mercado".
Na minha santa inocência, eu achava que governos eram feitos para fortalecer a confiança do público, não a dos mercados.
O que pensa o público espanhol do governo que tanto agrada aos mercados? Rejeita-o tanto que lhe impôs, faz um mês, a mais contundente derrota da história dos socialistas em eleições municipais. Prólogo inevitável de idêntica tunda nas eleições gerais de 2012.
Essa dissociação governos/eleitores é geral na Europa, sempre por conta de que os governos se renderam aos mercados, depois de terem socorrido o sistema financeiro quando havia risco de um colapso geral, há três anos.
Não pense que é tema alheio à realidade brasileira. O Banco Central sempre faz saber que parte dos motivos para a alta dos juros -que mordem seus débitos, sua conta de cartão de crédito etc- é a turbulência na economia internacional, na Europa em particular.
Além desse efeito direto, há o fato de que o Brasil já passou por um, digamos, "golpe de mercado" em 2002, quando houve tremenda especulação ante a perspectiva de vitória de Lula.
O que, de resto, forçou o petista a adotar políticas sem nenhum parentesco com tudo o que ele e o partido haviam pregado nos 20 anos anteriores. OK, a guinada deu certo e quase todo o mundo está feliz. Mas a crise de 2008 demonstra que nada é para sempre.

CONTARDO CALLIGARIS - Drogas e gravatas

Drogas e gravatas
CONTARDO CALLIGARIS
FOLHA DE SÃO PAULO - 23/06/11 

Concordo com o projeto de descriminalizar o consumo de maconha, mas o uso da erva não é sempre inócuo


NA TERÇA, 14 de junho, a Folha publicou, na Primeira Página, as imagens de um homem de paletó e gravata que comprava e fumava um cachimbo de crack, numa rua do centro de São Paulo.
No último domingo, Suzana Singer, ombudsman do jornal, em sua coluna, perguntou: "Por que a Folha decidiu expor dessa forma um suposto viciado?". A Secretaria de Redação respondeu: "A política do jornal vinha sendo não resguardar a identidade dos usuários de crack em locais públicos. Não vimos motivo para alterarmos o padrão porque a personagem, desta vez, vestia paletó e gravata".
Em suma, a reportagem queria mostrar que "o fenômeno do crack não se confunde com a pobreza e não atinge apenas moradores de rua". A reportagem notava, aliás, que, entre os "usuários eventuais, que vão à região para fumar uma pedra", há até "senhores com cerca de 60 anos vestindo terno".
De repente, dei-me conta de que, ao longo dos anos, vi dezenas de fotografias de drogados errando pela cracolândia, mostrados sem disfarce, mas não tenho memória de seus rostos. É como se eles não fossem indivíduos -apenas genéricos "noias", como eles são chamados pelas ideias paranoicas que os acometem. No entanto, o engravatado da foto de terça-feira era diferente: ele era reconhecível, singular -talvez porque sua aparência deixava supor que ele não tivesse se transformado (ainda?) num noia.
O crack é hoje o protótipo da droga que leva rapidamente à perdição. Será que a foto do engravatado mostra que existem usuários de crack que não se tornam noias? Será que é possível um uso lúdico do crack?
Não sei dizer, mas, ao ler as memórias de Bill Clegg, "Retrato de um Viciado Quando Jovem" (Cia. das Letras), qualquer leitor pode sentir quase na pele a prepotência com a qual a fissura se instala ao centro da vida de um usuário de crack, por mais engravatado que seja.
O texto é comovedor, pela ingenuidade do viciado e de nós, leitores, que, como o viciado, inevitavelmente, a cada vez, acreditamos que ele voltará à sua vida depois de só mais um cachimbo. Comovedor e também exasperante: como é que o cara não consegue se controlar e conciliar sua vida amorosa e profissional com uma tragada de vez em quando? "Segura tua onda, rapaz", a gente fica a fim de gritar.
Trivialidade: a virulência da fissura, assim como a natureza da dependência, é diferente para cada droga. Engravatado à parte, o crack transforma quase imediatamente seus consumidores em adictos, enquanto há pessoas que, durante a vida toda, fumam só um cigarro ou um baseado por semana.
Outra trivialidade: talvez tão importante quanto as qualidades específicas de cada droga seja o fato de que, por alguma diferença de personalidade e disposição, há usuários que se perdem na toxicomania e outros que parecem nunca correr esse risco.
A clínica com adolescentes me ensinou isto: em geral, quem se vicia não é tanto quem acha sua vida dolorosa ou injusta, mas quem a acha chata, ou seja, quem não consegue se interessar por sua própria vida.
É possível se drogar porque a vida já é uma festa, e, quem sabe, com mais uma bola, ela se torne mais alegre. Essa conduta é sempre menos nociva da que consiste em drogar-se pela incapacidade de achar graça na vida que se tem. Quem se droga porque acha a vida chata tende a trocar a vida pela droga.
Nos últimos dias, fala-se muito da descriminalização da maconha. Estreou "Quebrando o Tabu", de Fernando Grostein; houve a intervenção de Fernando Henrique Cardoso (que é, aliás, âncora do filme de Grostein), e houve a liberação das marchas da maconha pelo STF. Vários leitores pediram que expressasse minha opinião.
Aqui vai: concordo com o projeto de descriminalizar o consumo de maconha, mas discordo de quem afirma que qualquer uso de maconha seria inócuo. Nos adolescentes, por exemplo, um consumo diário e intenso (solitário, já de manhã) é frequentemente o sinal de uma depressão que é MUITO difícil vencer, uma vez que ela se instala.
Entendo que alguém, mofando num tédio mortal (e inexplicado), chegue à conclusão de que a vida sem maconha é uma droga. Mas, infelizmente, em regra, a droga aprofunda o vazio que ela é chamada a compensar ou corrigir. Ou seja, talvez a vida sem maconha seja uma droga, mas a maconha sem vida também é.

GOSTOSA

JOSÉ SIMÃO - Uau! Feriadão de Corpos Alegres!

Uau! Feriadão de Corpos Alegres!
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 23/06/11 

Começou o Feriadão! E a Dilma proibiu o forró pé de serra. Agora é forró pé de Dilma! Rarará!


BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
Começou o forró! Olha o anúncio de sexo do "Correio da Bahia": "Pimenta Cintia, com promoção de São João, R$ 24,99". E a Dilma proibiu o forró pé de serra. Agora é forró pé de Dilma! E os Aviões do Forró lançaram um forró que eu chamo de Forró da Era Lula: "EU ERA FEIO, AGORA TENHO CARRO". Rarará!
E a manchete do Twiteiro: "Mulher mais velha do mundo morre aos 114 anos e Hebe Camargo assume o posto". A sucessora! Rarará! E o Sensacionalista: "Sarney lamenta morte de brasileira mais velha do mundo: "Foi estagiária no meu gabinete!'". Rarará!
E diz que o estádio do Corinthians só vai sair quando tiver indulto de Natal. Rarará! E eu sou contra o sigilo eterno dos documentos públicos! Eu quero saber a idade da Gloria Maria e ver o diploma do Serra!
E os efeitos da Marcha da Maconha: "Pinguim erra caminho para a Antártida e vai parar na Nova Zelândia!". Rarará!
UEBA! Começou o Feriadão! Feriadão de Corpus Christi! Mas devia ser Corpos Alegres: feriadão, São João e Parada Gay! Só não goza quem não quer. De tédio ninguém vai morrer! E aí perguntei prum amigo: "O que é Corpus Christi?". E ele: "Corpus Christi é feriado em latim".
E piada pronta e enlatada: "Quadrilha rouba festa junina". Se depender de quadrilha, vai ter festa junina o ano inteiro! E em Marabá, no Pará, tem um forró chamado Enfeza Rola! Todo forró no Brasil acaba em rola: Enfeza Rola, Rala Rola, Sobra Rola, Rola Rola!
Como diz um amigo nordestino: eu vou ralar o bucho até arriar a fivela! E, pra quem for viajar, tenho sugestões de forró: em Viana, no Maranhão, tem um forró de fim de noite chamado Derrubando e Comendo Logo! Na Paraíba, tem o Mastigado da Jumenta. E, em Natal, tem um forró para a terceira idade: FORRÓ DA PÊIA MOLE! Rarará!
E, em Ilhéus, o Forró do Sabão. Cada pernada, uma bimbada! Agora é pinga, paçoca e camisinha!
Nóis sofre, mas nóis goza.
Hoje só amanhã!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

DORA KRAMER - Sem eira nem beira

Sem eira nem beira
DORA KRAMER
O ESTADÃO - 23/06/11

O tema não é do agrado geral nem goza de excelente aceitação, mas há uma suposta reforma política em tramitação no Senado e, se a sociedade não se interessar pelo assunto, cumpre informar ao molde do Barão de Itararé que de onde menos se espera é que não sairá nada mesmo.

Convém de vez em quando dar uma conferida.

Não está nada certo ainda, porque as propostas de reforma política feitas por uma comissão especial do Senado, que passam agora pelo exame da Comissão de Constituição e Justiça, ainda serão levadas ao veredicto final do plenário.

Mas, à medida que o debate avança fica nítida a ausência de um propósito, de lógica, de um eixo, de um embasamento doutrinário que confiram às mudanças o sentido de um projeto de melhoria do sistema político do País.

A pergunta que surge diante daquelas discussões semanais, por vezes quinzenais, dos senadores é a seguinte: aonde querem chegar suas excelências?

Até agora não deram uma pista consistente sobre qual é mesmo o objetivo, tão desconexas entre si, tão superficiais e tão desprovidas de espírito público e de conteúdo transformador são as propostas em discussão.

Nada do que está sendo discutido tem o condão de dissolver o grande nó da representação. Não se fala em voto distrital, não se toca na questão da obrigatoriedade do voto, não se propõe coisa alguma que indique mínima disposição de enfrentar mesmo o problema.

Ao contrário: fala-se em fim da reeleição, mas não se diz nada sobre as formas de aperfeiçoá-la; é sugerida redução de dois para um o número de suplentes, mas não se acaba com a figura do senador sem voto; discute-se uma perfumaria como o instituto da candidatura avulsa, mas não se discute a responsabilidade dos partidos frente à lisura dos candidatos por eles avalizados.

Ontem (22) mesmo a CCJ ressuscitou uma velha polêmica sempre levada à mesa com ares de grande solução: a unificação das eleições gerais e municipais, sob o argumento de que é muito caro e muito trabalhoso fazer eleição de dois em dois anos.

Muito bem lembrado pelo senador Inácio Arruda: nesse caso, mais barato e reconfortante mesmo é não ter eleição alguma.

Essa história de se fazer apenas uma eleição de quatro em quatro anos é discutida há anos e em geral quando não se tem nada de mais útil ou inteligente a dizer. Pelo seguinte: qual seria o avanço, o remédio para velhos vícios e arraigadas práticas, que resultaria da unificação das eleições?

O único efeito visível a olho nu — deve haver outros menos católicos — é o prejuízo para o debate das questões municipais em decorrência da óbvia prevalência das candidaturas presidenciais sobre todos os demais assuntos.

Um senador a horas tantas argumentou que o “eleitor não gosta de eleição”. Portanto, quanto menos, melhor.

Sim, é nesse nível que o Senado está discutindo e elaborando o que se chama de reforma política. Pelo visto só para fazer de conta que solucionam um problema sem resolvê-lo.

Conversa mole
Nada mais parecido com um petista assumindo como bendita a herança que Lula nominou de maldita que um tucano defendendo o fim da reeleição.
Sem autocrítica nem argumentação precisa sobre a posição anteriormente adotada, por mera conveniência da ocasião. No caso do PSDB, a justificativa é a de que 14 anos depois e seis ou sete eleições depois, “a reeleição não deu certo”.
E por que não deu certo? Prova nenhuma se apresenta a não ser a alegação de que favorece o uso da máquina. Ora, Lula na última eleição não era candidato e patrocinou exorbitâncias de poder a mancheias.
O tempo gasto com sofismas seria mais bem empregado na busca de maneiras eficazes de controlar o uso da máquina, incluindo aí a revisão de regras e procedimentos da Justiça Eleitoral, impunemente afrontada na eleição presidencial de 2010.
O fim da reeleição pode até reduzir a espera desse ou daquele partido na fila de retomada do poder, mas está a léguas de distância de resolver as mazelas do atraso na política do Brasil

RENATA LO PRETE - PAINEL

Babel
RENATA LO PRETE
O GLOBO - 23/06/11

O sinal favorável dado pela articulação política do governo à votação da emenda 29 -que fixa percentuais mínimos para gastos com saúde- está longe de significar o fim da polêmica em torno do tema.
Os dois relatores na Câmara divergem sobre os efeitos jurídicos do projeto, mas fazem ambos prognósticos alarmantes para os cofres do Planalto e para o bolso do contribuinte. Segundo Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a emenda pendente de votação da Câmara não extingue, ao contrário do que se diz, a recriação da CPMF. Pepe Vargas (PT-RS) discorda. Porém afirma que, sem a volta do tributo, a bancada da saúde tentará aprovar texto ainda mais oneroso para o governo.
Melhor dizendo A ofensiva do governo para vencer as resistências de sua base ao sigilo nos orçamentos de obras da Copa e da Olimpíada parece ter funcionado até com José Sarney (PMDB-AP), antes crítico aberto da medida. Em jantar anteontem, sua objeção já não era mais de mérito: "Faltou comunicação. Não explicaram direito ao mandar".

Cartilha Ideli Salvatti (Relações Institucionais) entregou à cúpula do PMDB um guia com esclarecimentos sobre os "pontos sensíveis" do Regime Diferenciado de Contratações. Na tentativa de facilitar a tramitação no Senado, todos os governistas receberão cópia do texto.

Acidental 
Num recente evento em Foz do Iguaçu (PR), o ministro Pedro Novais -agora na berlinda por ter privilegiado o seu Maranhão na distribuição de recursos do Turismo- chamou repetidamente a cidade onde estava de Nova Iguaçu (RJ).

Ah, é? 
Em resposta ao presidente do PV, José Luiz Penna, segundo quem não há perseguição aos "marineiros", o defenestrado presidente do diretório de SP, Maurício Brusadin, afirma: "Desde que se iniciou o Movimento de Transição Democrática, todos os lideres que organizaram encontros nos Estados foram expurgados".

Liga pra mim 

Expedito Veloso, pivô do "revival" do escândalo dos aloprados, saía ontem de um restaurante de Brasília, após almoçar, falando ao telefone: "O Mercadante não me procurou". E emendou: "Tem que ter espírito de companheiro".

Siga... 
Ao pedir ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel, a reabertura da investigação sobre os aloprados, Carlos Sampaio (PSDB-SP), sub-relator da CPI que investigou o caso, sublinhou o histórico dos telefonemas nas horas que antecederam a apreensão do R$ 1,7 mi que pagaria dossiê contra José Serra em 2006.

...o dinheiro 

O deputado levou a Gurgel cópia de documento da CPI segundo o qual teria havido oito ligações entre Hamilton Lacerda -braço direito de Aloizio Mercadante e suspeito de carregar a mala com os recursos - e João Vaccari, então presidente da Bancoop (cooperativa dos bancários) e hoje tesoureiro do PT.

#pitacos 
O secretário estadual de Educação, Herman Voorwald, afirma ter incorporado sugestões de funcionários, recebidas via Twitter, ao projeto que trata de aumento salarial e reestruturação de carreira para servidores de apoio da rede paulista.

Visita à Folha 
Carlos Fadigas, diretor-presidente da Braskem, visitou ontem a Folha, onde foi recebido em almoço. Estava acompanhado de Marcelo Lyra, vice-presidente de Relações Institucionais e Desenvolvimento Sustentável, Nelson Letaif, diretor de Comunicação Empresarial, e Andrew Greenlees, assessor de imprensa.
com LETÍCIA SANDER e RANIER BRAGON

tiroteio

"Se o texto vier da Câmara com a palavra mágica "sigilo", nós vamos ter de capá-la."
DO SENADOR WALTER PINHEIRO (PT-BA), sugerindo que seus pares não aceitarão o Regime Diferenciado de Contratações para obras da Copa e da Olimpíada nos termos em que foi aprovado pelos deputados.

contraponto

Seleção feminina
Assessora de Gleisi Hoffmann no Senado, Dayane Hirt teve seu local de trabalho mudado quando a petista assumiu, no início do mês, a chefia da Casa Civil, na esteira da crise que derrubou Antonio Palocci. Ainda sem a identificação funcional do Palácio do Planalto, Dayane chegou à portaria, dias atrás, e explicou a um dos encarregados do controle de entrada:
-Vim falar com a ministra.
Ele encarou a moça e disparou:
-Com qual delas? Agora só trabalha mulher aqui!

ELIANE CANTANHÊDE - Comédia à brasileira

Comédia à brasileira
ELIANE CANTANHÊDE 
FOLHA DE SÃO PAULO - 23/06/11

A Constituição da República Federativa do Brasil determina no título 2, capítulo 1, artigo 7º, inciso 31, que os trabalhadores urbanos e rurais têm direito a: ‘aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, sendo no mínimo de trinta dias, nos termos da lei’.

Pode ler e reler. Não há a menor dúvida: a Constituinte estabeleceu em 1988 — há 23 anos, portanto — que o aviso prévio obrigatório para todas as empresas e todos os empregados é proporcional ao tempo trabalhado. Trinta dias é apenas o mínimo. Mínimo é só mínimo.

Mas nem eu, nem você, nem nós, nem eles, os advogados, juristas e juízes, sabíamos disso.

E, durante todos esses longos anos, só usamos e só pagamos o mínimo de 30 dias, quando a norma legal é a da proporcionalidade.

Ninguém tinha ideia, o Congresso nunca regulamentou, o próprio Supremo Tribunal Federal acaba de descobrir e não sabe bem o que fazer.

Ah, se Kafka visse isso!
Reunido ontem, o Supremo decidiu que irá fixar regras para que o que está escrito na Constituição passe finalmente a valer. Mas não se sabe como, nem quando. Quantos meses por ano ou década trabalhados? A partir de quando?

A questão foi levantada por funcionários da Vale do Rio Doce, que também pediram ao tribunal que estipule as regras até a edição de uma lei votada pelo Congresso.

O relator Gilmar Mendes considerou a ação procedente. Por unanimidade, os oito ministros presentes concordaram com o voto e com a clareza do texto constitucional. Mas não houve consenso sobre o que fazer.

E agora? Agora, o tribunal vai virar legislador, com base em resoluções da OIT (Organização Internacional do Trabalho), por exemplo. Mas não há prazos.

 E, como a gente sabe, a Justiça é lenta. Tanto quanto o Legislativo é omisso.

Salve-se quem puder da avalanche de processos individuais e coletivos que isso pode gerar pelo país afora — legitimamente.

UM FILHO DA PUTA

LUIS FERNANDO VERISSIMO - Ó Dilma!

Ó Dilma!
LUIS FERNANDO VERISSIMO
O GLOBO - 23/06/11

Deixa ver se eu entendi. Querem liberar a maconha e proibir a pesquisa histórica, mesmo para fins terapêuticos. É isso? Nacionalizar a maconha e privatizar o passado? Uma coisa não teria nada a ver com a outra se a atitude comum do brasileiro em relação à sua história não se parecesse com a letargia e a despreocupação que – dizem, eu nunca provei – caracteriza o barato da maconha. Agora mesmo, pode-se imaginar que muita gente marchará pelo direito de fumar maconha sem culpa, no que estará com toda a razão, mas não se prevê nenhuma grande manifestação popular contra a proposta de proibir para sempre o acesso a certos documentos históricos, com faixas dizendo “Queremos saber tudo sobre a guerra do Paraguai”. E no entanto o direito de conhecer o passado sem restrição deveria ser tão natural quanto o direito a um baseado descriminalizado. Não bastasse os militares sentados em cima dos dados e das dúvidas sobre o período da repressão vem essa ideia do segredo eterno para sonegar ainda mais à nação sua própria biografia. O objetivo é concluir que o passado não existiu e não se fala mais nisso. A presidente, dizem, aceitou a ideia do Sarney e do Collor, logo do Sarney e do Collor, contrariando o que deveria ser o seu instinto. Ó Dilma!
ALMA BRASILEIRA
No recém-lançado CD Alma Lírica Brasileira a cantora Mônica Salmaso não é acompanhada por Nelson Ayres no piano e Teco Cardoso em vários sopros. Canto e acompanhamento não é bem o que eles fazem. Os três mesclam seus instrumentos – a voz límpida da Mônica, certamente a nossa melhor cantora, o piano do Ayres e as flautas e os saxes do Cardoso – e o que se ouve é a colaboração de três músicos excepcionais entremeando-se e completando-se de uma maneira, que eu saiba, inédita. O lirismo dominante não exclui coisas como Samba Erudito do Paulo Vanzolin e A História de Lili Braun do Chico e do Edu, e quando é preciso um terecoteco a própria Mônica empunha um tamborim ou uma frigideira, mas lá estão uma definitiva Derradeira Primavera de Tom e Vinicius e a inevitável Melodia Sentimental do Villa-Lobos, talvez uma suma da alma brasileira. Extraordinário também é o uso que Teco Cardoso faz do sax-barítono, um instrumento que até agora pouco frequentava a música brasileira. Imagine um lamentoso Trem das Onze do Adoniran Barbosa com o sax barítono fazendo o contraponto e você terá uma ideia dos raros prazeres deste disco.

CLAUDIO HUMBERTO

“Tive satisfação em colocar meu avião à disposição”
EIKE BATISTA, CUJOS NEGÓCIOS SÃO BENEFICIADOS PELO GOVERNADOR CARONA SERGIO CABRAL

FILHOS DE ALENCAR HERDAM AÇÃO DE PATERNIDADE 
O ex-vice-presidente José Alencar morreu sem obedecer a ordem judicial de ceder material para exame de DNA, na ação de investigação de paternidade movida por Rosemary de Morais, já declarada sua filha pela Justiça. Agora no Tribunal de Justiça de Minas em grau de apelação, os sucessores (filhos) herdaram a condição de réus. Alencar pediu para ser cremado, gesto final para postergar o desfecho da ação. 

SEM EXAME 
Figurões espalharam entre ministros do Supremo a lorota de que José Alencar fez DNA antes de morrer. Fontes ligadas à filha negam isso.

ATITUDE DIGNA 
Rosemary descobriu já adulta que era filha de Alencar, mas a mãe, enfermeira pobre, a proibiu de reivindicar direitos enquanto vivesse. 

PAPELÃO 
Apesar da atitude da mãe, que jamais o incomodou, José Alencar insinuou em entrevista a Jô Soares que a enfermeira era “prostituta”.

JATO PARA QUEM PRECISA 
Eike Batista diz ser “livre” para emprestar seu jatinho aos amigos. É mais um PAC do governo: Plano de Aceleração de Caronas. 

ANAC IGNORA PILOTOS IRREGULARES DE HELICÓPTERO 
É mais fácil pilotar helicóptero que dirigir automóvel com a carteira vencida, como ocorreu com o empresário Marcelo Almeida, morto na tragédia, sexta (17), com outras seis pessoas. A Agência Nacional de Aviação (Anac), que sabe quantos voam de helicóptero no País, não respondeu à coluna quantos já foram punidos e se existe fiscalização nos aeroportos. O de Porto Seguro, de onde partiu Almeida, não tem. 

TARDE DEMAIS 
A Anac diz que abre processo após a investigação do acidente e pode multar ou suspender a habilitação. No caso de Marcelo, tarde demais. 

FOMOS! 
Para honrar a tradição, os festejos juninos iniciaram às 13 horas de ontem na Câmara dos Deputados, sem Ordem do Dia por falta de 
quórum.

QUEM QUER DINHEIRO? 
Para o governador Sérgio Cabral, o verdadeiro dono do Baú da Felicidade é seu amigo e “príncipe do PAC” Fernando 
Cavendish.

PEIXE FORA D’ÁGUA 
Dilma dá mais uma rabanada no mosca-morta Luiz Sérgio, agora ministro da Pesca: foi excluído da comitiva de cinco autoridades que vão a Roma, sábado (25) para apoiar a candidatura do ex-ministro José Graziano à direção-geral da FAO, órgão da ONU para Alimentação. 

VERDADE QUE DÓI... NO URUGUAI 
Órgãos de direitos humanos de 5 países debatem a partir de hoje em Montevidéu a tortura no Cone Sul. Único jornalista brasileiro convidado, Luiz Cláudio Cunha falará sobre anistia, sigilo, tortura e impunidade.

ESQUECIMENTO QUE DÓI... NO BRASIL 
No domingo, o programa em Montevidéu prevê uma visita ao Memorial dos Desaparecidos e outra ao Museu da Memória. No Brasil, seria uma visita impossível: ninguém lembra que possa existir aqui algo parecido.

ULALÁ 
O cacique Raoni, que conhece a cidade melhor que o governador Sérgio Cabral, ganhou o título de cidadão honorário de Paris. O prefeito esquerdista Bertrand Delanoë está sob fogo cerrado de críticas. 

VOO CANCELADO 
O presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) será Marcelo dos Guaranys, como esta coluna revelou. O interino Carlos Pelegrino, que pleiteava o cargo, pretendia ir à forra no salão “l’Aéronautique et de l’Espace”, em Paris, tudo pago por nós. Mas cancelaram seu passeio.

NADA MUDOU 
Solange Vieira saiu da presidência da Anac, mas manda muito. Indicou quase todos os ex-colaboradores para a recém criada Secretaria de Aviação Civil, até sua secretária. Enquanto isso, nos aeroportos... 

BRASIL DÁ EMPREGO NOS EUA 
Pelo menos 800 americanos vão tirar o pé da lama: a Santana Têxtil vai abrir fábrica na pequena Rio South Texas, atraída pelo baixo custo de vida, infraestrutura logística e força de trabalho jovem. Wow!

MEU GAROTO 
O porra-louca venezuelano Hugo Chávez, que se recupera de “abcesso pélvico” há treze dias em Cuba, copia o “padrinho” Fidel Castro: após foto para mostrar que está vivo, só reaparece através de comunicados.

PENSANDO BEM 
...teremos uma Copa fechada em copas. 

PODER SEM PUDOR
LÓGICA BRIZOLISTA 
O então presidente José Sarney e seu ministro da Fazenda Dilson Funaro empolgavam o País com o Plano Cruzado quando o governador do Rio, Leonel Brizola, tomou a decisão de fechar questão contra as medidas.
– Esse Plano Cruzado é uma imposição do FMI! – proclamou.
O deputado e economista Tito Ryff divergiu, mas Brizola insistiu:
– Para o povo, FMI é uma coisa ruim. Nós achamos que o Plano Cruzado é uma coisa ruim. Então, o plano é coisa do FMI.

QUINTA NOS JORNAIS


Globo: Ataque a sites do governo é o maior da história do Brasil

Folha: Aviso prévio no país será proporcional, define STF

Estadão: Câmara quer dobrar salário de Kassab e dar 250% a secretários

Correio: Hackers atacam até o Palácio do Planalto

Estado de Minas: Sucessão de erros causa tragédia na linha do trem

Zero Hora: EUA marcam para 2014 fim da guerra do Afeganistão