quarta-feira, dezembro 28, 2011

Chegadas e partidas - MARTHA MEDEIROS

ZERO HORA - 28/12/11
Quem se queixa de que não há mais afeto no mundo precisa dar uma espiada no programa Chegadas e Partidas, que vai ao ar às quartas (hoje!), pelo canal GNT. Mais que merecido o prêmio que levou de Melhor Programa de Televisão em 2011, dado pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA).

A apresentadora Astrid Fontenelle grava o programa dentro de um aeroporto, onde colhe depoimentos de pessoas que estão esperando alguém ou se despedindo de alguém. As histórias são simples e comoventes, provando que nossos dramas e alegrias particulares ainda são o que há de mais rico e raro por aí (sem falar que a trilha sonora é de primeira).

Na quarta passada, Astrid mostrou duas irmãs se despedindo de uma senhora de 80 anos que estava embarcando para Rondônia, sua terra natal. As duas irmãs conheciam essa senhora havia apenas três meses, quando se ofereceram em uma instituição de idosos para cuidar dela por um dia, como voluntárias.

Porém, se apegaram à senhora e a levaram para casa até que ficasse curada. A hóspede tinha um aneurisma e sofrera um AVC, apenas isso. Essas garotas são filhas de um motorista de ônibus, que também estava no aeroporto para acompanhar pessoalmente o retorno da senhora ao lar. Seria o primeiro voo de ambos – passagem paga através de uma cotização de vizinhos.

Esse pai e suas duas filhas se mobilizaram por uma senhora que não conheciam e choraram sua partida como se fosse alguém com quem tivessem convivido desde a infância. Como disse Astrid, tem gente que não cuida de uma mãe ou de um irmão doente, e no entanto essa família humilde assumiu a responsabilidade de cuidar de uma estranha, dando-lhe remédios e algo ainda mais terapêutico: amor.

Credo, escrever essa palavra – amor – me fez sentir um Tiranossauro rex. Constranger-se em falar de amor é um mau sintoma.

Chegadas e partidas. Um filho que nasce, um filho que morre. Uma paixão que brota na quinta-feira, uma paixão que termina no domingo. Desconhecidos que viram amigos de uma hora para outra, e amigos que somem no mundo sem dar mais notícias. Nossa vida é uma espécie de rodoviária – ou aeroporto, hoje dá no mesmo.

Todos esperando alguém que virá matar a saudade, que irá preencher um vazio, ou então se despedindo de alguém que buscará a felicidade em outro lugar, que irá trabalhar longe de casa. Pouco temos nos comovido no dia a dia, atucanados em ganhar tempo e em cumprir metas, então nosso afeto só tem transbordado, pra valer, no momento crucial de uma separação ou de um reencontro.

Um ano está partindo, outro ano está chegando. Eu, dentro da minha “rodoviária”, fico com os olhos marejados tanto pelo que deixo para trás quanto pelo que aguardo. Ou virei um merengue, ou estou ficando velha. Que seja. A boa notícia é que ainda me emociono.

Raio X - SONIA RACY

O Estado de S.Paulo - 28/12/11

Quem governa melhor: Dilma ou Lula? A FSB Pesquisa entrevistou 209 deputados federais. Para 30% deles, Dilma está “melhor”; 38% responderam “igual”; 21% disseram “pior”; e 11% não teceram comentários.

Na divisão entre partidos, 62% dos parlamentares do PR avaliaram o desempenho da presidente como pior. Seguidos pelo PSDB, com 37%. Já a maior parte dos petistas preferiu ficar em cima do muro: 71% consideram os dois. idênticos.

Alô, Brasil
Padre Mário, do Centro Pastoral do Migrante em SP, constatou: o número de haitianos e africanos que chegam ao País cresce a cada dia. Pelas suas contas, já ultrapassam os latino-americanos que vêm buscar trabalho na construção civil e no comércio ambulante.

Alô 2
O Centro tem acompanhado um caso de trabalho escravo, na mesma linha das denúncias contra a Zara, em agosto. A investigação, em processo no Ministério Público, envolve uma empresa norte-americana.

Virado no jiraya
Marco Antonio Castelo Branco, responsável por montar a agenda de Alckmin, está suando a camisa para entrar no ritmo. Consta que o governador já estaria um tanto quanto impaciente.

Agora vai?
Mario Sergio Cutait acaba de assumir a presidência da IFIF (espécie de Fifa do setor de rações animais) e já teme novo vexame brasileiro. O País mais uma vez confirmou presença na reunião dos maiores produtores mundiais – que acontece em fevereiro, em Atlanta.

Nas quatro primeiras edições do evento, o Brasil também disse que ia e. não foi.

Bom gosto
Em recente almoço na Federação Paulista de Futebol, funcionário do Palácio dos Bandeirantes ficou impressionado com a quantidade de. beldades trabalhando na casa.

Top 10
Saiu o ranking das cidades mais “miseráveis” dos EUA. Líder? Las Vegas, com 13,6% de desemprego e queda de 64% no preço dos imóveis.

Pela pesquisa, do instituto MetroMonitor, Los Angeles também anda mal das pernas.

Sem limites
Sergio K. inaugura seu primeiro ponto de venda em território europeu. A marca passa a ser vendida no The Beach Tomato Shack, site de vendas de beachwear.

Natal hi-tech
A garotada queria, e Papai Noel atendeu: bonecas que agem como gente e helicópteros de controle remoto estão entre os brinquedos mais vendidos no País neste Natal. Números da PBKids.

Item “adulto” mais pedido pelos pequenos? Smartphone.

Pé na areia
No Brasil há dez dias, Marina Abramovic, que passou a noite de Natal em Iporanga, trocará de praia no Ano Novo.

Acompanhada por Raphael Castoriano (seu agente) e a galerista Luciana Brito, a artista sérvia pula as sete ondas em Barra do Sahy.

Vai e volta
Kassab passará boa parte da noite de réveillon na casa de sua irmã Marcia, ao lado de toda a família. Mas, na hora da virada, estará em plena. Avenida Paulista.

Só depois da festa é que o prefeito brindará 2012 com os seus.

Retratos da vida - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 28/12/11

Pouco antes da morte de Sérgio Britto, a 16a- Vara Cível do Rio expediu mandado de verificação dos bens do artista em sua casa em Santa Teresa: livros, CDs, filmes, objetos de arte etc. Há litígio entre familiares e um ex-funcionário do ator que diz ter recebido bens em doação.

Museu Nacional

A PF resgatou ontem 12 animais, conservados em álcool, que são do acervo do Museu Nacional. Em junho, eles foram furtados por um “professor” que pediu os exemplares emprestados e... escafedeu-se.

Menino pobre

Uma das músicas do último disco do Neguinho da Beija- Flor (Menino pobre sonhador) é uma homenagem ao contraventor Anísio Abraão David. Um trechinho: Anísio é simplicidade/ Tem dignidade (bis)/Anísio é samba, amor e amizade. Há controvérsias.

A conta

Adriano já disse que não pagará a conta do Hospital Barra D’Or que vem tratando de Adriene Cyrilo, atingida por um tiro dentro de seu carro. A conta pode parar na Justiça. A baleada não tem seguro saúde e foi levada ao hospital pelo motorista de Adriano, embora ali perto esteja o hospital público Lourenço Jorge.

No mais...

Roberto de Andrade, presidente do Corinthians, defendeu o atleta alegando que foi um acidente e isso “pode acontecer com qualquer um”. Alto lá! A maioria das pessoas não anda com pistolas no carro.

Planeta China
Antes de deixar o poder em outubro, o presidente Hu Jintao virá ao Brasil. Vai aproveitar a viagem para fazer uma visita pessoal a Lula. A China desbancou os EUA como principal destino das exportações brasileiras.

O QUERIDO SAMBISTA Dicró, de 65 anos, anda triste. Mas, acredite, não por causa de sua saúde debilitada, e sim por falta de trabalho. O cantor, como se sabe, passou por uma cirurgia na vesícula em outubro. Por causa da diabetes, como o próprio diz, “perdeu as forças nas pernas”, passando a usar cadeira de rodas — veja na foto acima, feita nesta semana, o sambista vendendo seus CDs no Largo da Carioca. “Estou me recuperando. Fui lá (na Carioca) uns dois dias. O que me deixou baqueado foi a prefeitura não me escalar para o réveillon. Não me chamaram nem para a virada no Piscinão de Ramos, onde sou um dos fundadores. Não tenho shows marcados, estou entregue às baratas.” Alô, Eduardo Paes!

Pela transparência
A posição da AMB contra Eliana Calmon, que defende no CNJ a punição de maus juízes, não é unanimidade entre magistrados. Nas redes sociais, tem juiz dando apoio à ministra e alguns magistrados cariocas enviaram e-mail para ela, oferecendo a quebra de seus sigilos e dizendo que o Judiciário precisa ser transparente.

Aliás...

No Chile, há um portal da Justiça (www.poderjudicial.cl). Basta clicar na província, escolher o Juizado, que aparece o nome do juiz, com foto e dados sobre seu patrimônio.

90 anos de 22

Na carona dos festejos pelos 90 anos da Semana de Arte Moderna de 22, a José Olympio relançará “Vanguarda europeia e modernismo brasileiro”, de Gilberto Mendonça Teles; e “Movimentos modernistas no Brasil (1922-1928)”, de Raul Bopp.

Cartão fidelidade
De olho na concorrência, um tradicional vendedor ambulante de caipirinha da Lapa, no Rio, o Coelho, lançou o seu... cartão fidelidade. É assim: comprando 10 caipirinhas, ganha outra. Se comprar 30, leva um copo de pinga.

Tia Léa

Esse será o réveillon das lajes por conta da pacificação. Tia Léa, famosa quituteira do Morro do Vidigal, prepara uma ceia em sua laje. Cobra R$ 200 por pessoa e adianta: só fecha o pacote se conseguir 50 clientes.

Praia limpa

Evandro Mesquita, que vai se apresentar com a Blitz no réveillon de Copacabana, continua bem humorado. Dará o seguinte recado no show: — Favor, cada um cuide da sua merda. Nada de sujeira na areia. Quero dar um mergulho dia 1o- com a praia limpinha.

Odisseia no Oriente

Carlos Eduardo Novaes, grande rubro-negro, batalha para reeditar “Mengo, uma odisseia no Oriente”, que lançou após o título mundial do Fla, em Tóquio, em 1981. É a história de quatro torcedores que foram ao Japão em lombo de burro, depois navio, bicicleta, táxi etc. A Editorial Nórdica, que o publicou na época, fechou as portas, e o livro saiu de circulação.

É grave a crise

Há testemunhas. Uma mulher bem vestida tem passeado com seu cãozinho pelas ruas do Leme e, assim, aborda as pessoas: — Por favor, me ajuda com algum dinheiro para eu comprar ração para o meu cachorro?

Barraco supremo - ZUENIR VENTURA



O GLOBO - 28/12/11
Nada mais lamentável em termos institucionais do que assistir neste fim de ano ao bateboca entre desembargadores, juízes e ministros de tribunais de várias instâncias, inclusive a suprema, num autêntico barraco, que é a palavra que o preconceito usa para definir brigas de baixo nível nas favelas, nunca num espaço nobre onde deveriam reinar o bom senso e a serenidade. Houve lances nessa lavagem de roupa suja em que os ânimos se exaltaram tanto que se temeu o pior, que pudessem levar a vias de fato. Às vésperas do recesso e provavelmente estressados pelo excesso de trabalho, suas excelências perderam a estribeira, para empregar uma metáfora indevida.

Historicamente avesso à transparência, o Judiciário começou a entrar em crise quando a corregedora do Conselho Nacional de Justiça,Eliana Calmon, denunciou com incômoda franqueza a existência de “bandidos escondidos atrás das togas”, causando surpresa mais pela contundência da forma do que pelo conteúdo. Se não bastasse, o CNJ ordenou inspeções na folha de pagamento dos servidores do Judiciário em SP, onde encontrou movimentações “atípicas” em muitas contas e onde se descobriu que 45% dos desembargadores do estado não apresentavam suas declarações de bens e rendimentos. Caiu mal também a revelação de que dois ministros do STJ teriam recebido auxíliosmoradia milionários — um de R$ 700 mil e outro de R$ 1 milhão —, que, embora legais, mais parecem bolsas-moradia.

Como revide corporativo, as três principais associações de magistrados pediram providências à Procuradoria-Geral da República e recorreram ao STF, que, além de suspender as investigações, concedeu liminar que esvazia na prática os poderes do CNJ, órgão criado justamente para exercer fiscalização e controle externo sobre o Judiciário. A crise teve pelo menos o mérito de lançar um pouco de luz sobre a mais fechada e indevassável das instituições brasileiras. Como lembrou o colunista Ilimar Franco, o movimento pela ética chegou a várias instâncias — aos governadores, à polícia e até ao Congresso, que aprovou a Lei da Ficha Limpa. Menos entre juízes e desembargadores, onde o “processo de limpeza” está enfrentando toda essa resistência. Diante disso, corrige-se o início do artigo, que fica assim: nada como um desagradável barraco para abrir uma pequena brecha na caixa-preta do Judiciário.

Em matéria de balada e confusão, Adriano é o Edmundo dos anos 2000, com mais resistência. Encarar quatro poposudas depois de uma noitada revela uma disposição que, se ele a empregasse dentro de campo, seria imbatível. A propósito, que PM é esse que, além de permitir excesso de lotação no carro que dirigia (seis pessoas), deixa sua pistola ao alcance dos outros?

Pouca roupa me lavavas - MARCELO COELHO


FOLHA DE SP - 28/12/11

Com arte, os argentinos fingem uma indiferença que, de nossa parte, temos como segunda natureza


Uma das regras da boa literatura é não dizer tudo de uma vez. Importa que o leitor entenda por si mesmo o que se deixou apenas sugerido.

A razão para isso não está apenas na vontade de dificultar as coisas. É que sentidos ocultos podem ser imaginados, além daquele mais óbvio que o escritor poderia transmitir. Os argentinos parecem ter especial predileção pela forma indireta de dizer as coisas.

No final de um conto de Jorge Luís Borges, só sabemos que houve um assassinato porque o narrador, sem mover um músculo, diz ter examinado o seu próprio punhal, "e nele não tinha ficado o menor rastro de sangue". Não quis confessar que havia matado seu inimigo a facadas.

Podemos pensar que estivesse apenas evitando ser incriminado. Mas é também uma questão de modéstia; não quer se gabar do feito. Ou, quem sabe, não matou ninguém, mas quis dar a impressão de ser perigoso.
Num espírito diferente, um grupo de humoristas portenhos, Les Luthiers, tem um disco (são ótimos instrumentistas também) com paródias de vários gêneros musicais.

Compuseram um tango no qual, em vez de lamentar a infidelidade da mulher, o cantor extravasa as mágoas que tem da própria mãe.

"Por que fuistes, mamá?" põe em cena um típico malandro, que, como sempre, se considera impecável em seu comportamento.

A mãe dele não tinha motivos para abandonar o lar. Afinal, sua vida era boa. "Pouca roupa me lavavas", diz o malandro. De modo indireto, muita coisa é dita nesse verso.

Primeiro, que a mãe cuidava, naturalmente, das tarefas de casa. Depois, que ela não podia reclamar tanto assim do trabalho; não tinha de lavar muita roupa.

Talvez porque, sendo pobre, nosso herói não tivesse mesmo muitas roupas. Ou porque seus hábitos de higiene não fossem muito rigorosos. Quem sabe exista uma acusação implícita: a mãe era mais desleixada do que seria de desejar.

Note-se, por fim, que o rapaz abandonado não diz que dava presentes à mãe, que era carinhoso com ela. Sua falta de consideração é tão grande que ele só se lembra de não ter dado trabalho demais à pobre senhora. Na queixa do abandonado, percebe-se assim um bocado de ingratidão. Quanto mais o pilantra diz ter sido injusta a atitude da mãe, mais percebemos que era insuportável conviver com ele.

Algumas figuras da retórica clássica resumem esse jeito indireto de falar. Podemos pensar na elipse (uma palavra que se omite) ou na lítotes, quando se afirma uma coisa negando o seu contrário. Em vez de dizer, por exemplo, que fulano é um ladrão, limito-me a observar que fulano não é a pessoa mais honesta do mundo.

Escrevo essas coisas porque estou lendo um livro de contos do argentino Rodolfo Walsh (1927-1977), publicada há algum tempo pela Editora 34.

"Essa Mulher", o conto que dá título à coletânea, usa com brilho essa técnica do subentendido. O nome da mulher em questão nunca é pronunciado pelos protagonistas.

Percebe-se, entretanto, que se trata de Evita Perón (1919-1952), ou melhor, do seu cadáver, roubado misteriosamente depois de um golpe de direita. "Essa mulher é minha", diz o militar do conto -e uma obscura relação entre desejo sexual, necrofilia, vontade de poder político e impulso repressivo se sugere.
Em outros contos, a violência e a canalhice são antes indicadas do que explícitas. Não por uma questão de pudor, mas porque estão de tal modo entranhadas no cotidiano dos personagens que seria irrealista se o narrador se espantasse com o acontecido.

É uma lição a ser adotada pelos escritores brasileiros que, a começar por Rubem Fonseca, acham-se especialmente corajosos quando denunciam a criminalidade da periferia. Muitas vezes parecem querer chocar o leitor, mas eles próprios não disfarçam o olhar arregalado diante do que narram.

Penso num motivo para as elipses e os eufemismos argentinos. Terror, política, mágoas de amor se vivem, por lá, com uma dose de paixão e seriedade que não possuímos.

A voltagem é tão intensa que filtros e isolamentos se tornam imprescindíveis. Por aqui, talvez tenhamos de carregar o texto apenas para compensar certa frieza, certa mornidão interior. Com arte, os argentinos fingem uma indiferença que, de nossa parte, temos como segunda natureza -e a sanguinolenta literatura do Brasil de hoje luta, na verdade, contra essa deficiência essencial.

GOSTOSA


MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 28/12/11



RN desiste de cobrar ICMS sobre venda on-line
O Rio Grande do Norte não vai mais cobrar ICMS sobre produtos vendidos pela internet por empresas de outros Estados.

O secretário de Tributação do RN, José Airton da Silva, e os de outros 17 Estados haviam assinado em abril um protocolo que determina a divisão do imposto entre os Estados de origem e de destino das mercadorias vendidas on-line.

"Desistimos de cobrar [o ICMS] após a consultoria jurídica do Estado afirmar, na sexta-feira, que não seria legal", disse Silva.

O governo do RN diz que deixou de arrecadar R$ 40 milhões em 2010 por causa das vendas virtuais. Apesar de ser signatário do protocolo, o Estado ainda não havia implementado a medida.

Outros governos também nunca conseguiram cobrar o imposto. O Piauí, por exemplo, foi barrado no Tribunal de Justiça e no STF.

Goiás desistiu da medida após a B2W (controladora da Americanas.com e do Submarino) conseguir uma liminar impedindo a cobrança. Alagoas, porém, ainda pretende publicar uma minuta para iniciar a arrecadação.

Maranhão e Sergipe cobram o ICMS desde julho e outubro, respectivamente.

As empresas pontocom reclamam do protocolo por considerar que ele gera dupla cobrança de tributo.

Pela lei, apenas Estados que têm centros de distribuição das lojas eletrônicas (normalmente São Paulo e Rio) podem arrecadar nessa situação.

Uma ação para suspender o protocolo corre no STF.

Expectativa alemã
Os consumidores alemães terminam o ano muito mais otimistas que a maioria da população europeia. As expectativas econômica e de renda aumentaram em dezembro. Apenas a propensão a comprar apresentou queda, segundo indicadores da GfK.

A expectativa econômica teve um incremento pela primeira vez em cinco meses. O otimismo é decorrente do baixo nível de desemprego do país.

O relatório da GfK, porém, lembra que não se sabe até quando essa situação favorável irá durar, já que a crise europeia pode diminuir o volume das exportações alemãs.

A propensão a consumir caiu 18,9 pontos, mas continua positiva e em um patamar considerado alto.

PEDALADA NA PRODUÇÃO
O aumento do consumo de bicicletas no Brasil fez disparar a entrada de importados e estimulou a produção nacional neste ano.

"O volume de importação saiu de 250 mil produtos no ano passado para 450 mil em 2011", diz Eduardo Musa, presidente da Caloi.

"Há alguns meses, o governo chegou a elevar a tarifa de importação", afirma.

Além do uso para locomoção, a cultura do esporte é crescente no Brasil, segundo Musa.

A fabricação da empresa no país alcançou 1 milhão no ano. A marca brasileira tem em andamento um projeto de investimento de R$ 30 milhões para elevar produção e agregar tecnologias.

Em 2011, a empresa registrou alta de 25% em unidades e 30% em faturamento.

Em dois ritmos
Trabalhar nas economias emergentes ainda é um desafio para as multinacionais, segundo estudo da BCG (The Boston Consulting Group).

Dos 120 executivos entrevistados pela consultoria, 7% afirmaram que conseguem equilibrar a coordenação global da empresa com a autonomia dos escritórios locais.

O estudo aponta que uma das principais dificuldades é trabalhar em duas velocidades diferentes: uma nas economias maduras, com crescimento lento, e outra nas economias em rápido desenvolvimento, como Índia e Brasil.

Os executivos também costumam ter pouca experiência nesses mercados. Apenas cinco de 20 executivos seniores ouvidos haviam trabalhado por mais de um ano em países emergentes.

NÚMEROS

96% dizem que crescer nos países emergentes é prioridade
13% afirmam que suas empresas estão preparadas para isso
25% dos executivos têm experiência nesses mercados

2012 EM CONSTRUÇÃO

O setor da construção civil deve crescer ao menos 5% em 2012, segundo o Sinduscon-SP (sindicato da indústria da construção).

Neste ano, a alta deverá ser de cerca de 4,8%.

"Foi um ano difícil, pois o setor está sentido as dores do crescimento. A inflação de mão de obra e de material foi altíssima", afirma Juan Quirós, presidente do grupo Advento, que constrói fábricas, shopping centers e hospitais.

A alta de até 15% na contratação de serviços terceirizados, como as instalações elétricas e hidráulicas, também afetou o setor.

"O aumento foi significativo e os programas do governo que poderiam nos ajudar, como o PAC, não atingiram as metas de investimento", diz o presidente do sindicato, Sergio Watanabe.

Em 2012, as empresas vão focar em suas vocações, segundo Quirós.

"Será o ano das lições aprendidas. Quem é da área de shopping, por exemplo, vai se direcionar apenas para esse mercado."

Desajuste de intenções
Investimento em benefícios, plano de carreira e treinamento são soluções encontradas pelas empresas da Ásia e da Oceania para suprir a diferença entre o que os empregadores pretendem pagar de salários e o que os trabalhadores esperam receber.

Segundo estudo da empresa de recrutamento Hays, 43% de 1.226 empregados ouvidos nos dois continentes esperam um aumento superior a 6%.

Entre os empregadores, apenas 22% pretendem conceder ajuste dessa proporção.

Os chineses, com 45%, estão entre os que mais têm expectativa de conseguir o incremento salarial de 6%. Entre os australianos, o número é de 35%. Entre neozelandeses, de 26%.

Apenas 6% dos empregadores da Austrália devem reajustar os salários no nível desejado pelos funcionários.

Para trânsfugas, impunidade - EDITORIAL O ESTADÃO



O Estado de S.Paulo - 28/12/11

Numa sociedade democrática, partido político é uma entidade privada de direito público que se propõe a aplicar na administração da coisa pública princípios programáticos e projetos específicos consagrados em seus estatutos, e que com esse objetivo luta para chegar ou se manter no poder, mediante a conquista do voto dos eleitores que apoiam suas propostas. Ou seja, o objetivo, a meta, o fim de um partido político é representar a vontade popular na gestão do bem comum. O exercício do poder é o meio para isso.

Essa é a teoria. Na prática, demonstra-o a realidade brasileira, o exercício do poder pode ser um fim em si mesmo. E o fim colimado por muitos políticos está longe de ser o bem comum. O que interessa são as vantagens pessoais, os interesses momentâneos, as possibilidades eleitorais no próximo pleito. Por isso, para a enorme quantidade de políticos que mudam de legenda, estimulados pela impunidade, os partidos políticos significam apenas a necessária via de acesso ao poder em determinadas condições que, evidentemente, variam. Apenas isso.

O quadro partidário brasileiro tem hoje 29 legendas, na grande maioria inexpressivas, mas habilitadas a disputar eleições, o que demonstra a fragilidade da instituição da representação política. Grande parte desses grupamentos vive exclusivamente em função das eleições a cada dois anos. São legendas de aluguel. E todas têm direito a recursos do Fundo Partidário. É um negócio tão bom que, além dos 29 partidos existentes, há mais de 30 outros em processo de legalização.

Essa é a principal razão pela qual o instituto da fidelidade partidária não "pega" no Brasil. Embora o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tenha decidido em 2008 que os mandatos pertencem aos partidos e não aos eleitos, decisão referendada pouco tempo depois pelo Supremo Tribunal Federal (STF), os políticos continuam praticando sem a menor cerimônia a dança das cadeiras ao sabor de suas conveniências, como demonstrou ampla reportagem de Mariângela Gallucci, publicada no Estado. Apenas neste ano foram protocoladas na Procuradoria-Geral Eleitoral, pelo Ministério Público Eleitoral de 6 Estados, pelo menos 798 representações por infidelidade partidária, 128 delas no Estado de São Paulo.

De acordo com a lei, esses quase 800 parlamentares e prefeitos que trocaram de partido sem justa causa devem perder seus mandatos, devolvendo-os aos partidos pelos quais foram eleitos. Mas o próprio procurador-geral, Roberto Gurgel, é cético quanto a isso: "Como as eleições já se aproximam, a eficácia do resultado da sanção fica pequena". De fato, dada a irremediável lentidão da Justiça brasileira na aplicação de uma legislação que foi concebida pelos políticos com a deliberada intenção de deixar brechas em seu próprio benefício (a Lei da Ficha Limpa é outro magnífico exemplo dessa técnica), é muito pouco provável que mesmo os mais notórios trânsfugas venham a ser punidos. É o caso do deputado federal Gabriel Chalita, que eleito em 2010 pelo PSB, poucos meses depois se transferiu para o PMDB a convite de Michel Temer para concorrer à Prefeitura de São Paulo. Chalita, aliás, é reincidente em matéria de infidelidade partidária. Eleito vereador pelo PSDB em 2008, mudou-se em 2009 para o PSB, na ilusão de candidatar-se ao Senado, frustrada pelas conveniências da aliança então estabelecida entre o PSB e o PT em benefício da derrotada candidatura do cantor Netinho de Paula, pelo PC do B.

Apesar de ser grande o número de representações contra políticos que mudaram de mandato sem aparente justa causa, esses casos não têm tido grande repercussão no TSE, a julgar pelo balanço de atividades de 2011 divulgado na página de abertura do site oficial do tribunal. Nenhuma alusão à punição de trânsfugas. Há destaque, porém, à criação, este ano, de duas novas legendas: o Partido Pátria Livre (PPL) e o Partido Social Democrático (PSD). Este, liderado pelo prefeito paulistano, é responsável, aliás, por boa parte do troca-troca partidário dos últimos meses.

Redução de danos - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 28/12/11


Os estados produtores de petróleo, Rio e Espírito Santo, consideram inevitável a votação da redistribuição dos royalties, pela Câmara dos Deputados, no primeiro semestre do ano que vem. O ponto de partida para eles é saber se o governo federal está disposto, desta vez, a mediar uma tentativa de acordo e se haverá um mínimo de racionalidade no debate.

O cenário na Câmara
Fluminenses e capixabas já consideram um ganho o reconhecimento, pela presidente Dilma, de que as projeções de produção de petróleo do texto aprovado pelo Senado estão superestimadas. A discussão na Câmara tende a ser mais radicalizada do que foi no Senado, devido às eleições municipais. Deputados dos estados não produtores usarão esse tema como bandeira. O essencial para os estados produtores é tentar preservar o que já foi licitado. “Você não pode abrir mão do que é seu”, afirma o senador Francisco Dornelles (PP-RJ). No mais, se o clima estiver muito adverso na Câmara, é jogar a decisão para o STF.

"Estamos esperando que o governo cumpra os compromissos” — Jovair Arantes, deputado (GO) e líder do PTB, sobre a liberação das emendas ao Orçamento

VIÉS DE BAIXA. A senadora Marta Suplicy (PT-SP) encerra o ano levando a segunda rasteira: a ida de Aloizio Mercadante para o Ministério da Educação. Além de ter nutrido a expectativa de ir para o MEC, ela não esperava ver um concorrente no cargo. Os dois gostariam de disputar o governo de São Paulo. O primeiro revés de Marta foi ter que abrir mão, a pedido de Lula e da presidente Dilma, da pré-candidatura à prefeitura de São Paulo. A origem dos problemas de Marta foi seu isolamento no PT.

Reclusa
A presidente Dilma avisou previamente que não receberia visitas na Base Naval de Aratu, na Bahia, onde passa férias com a família. Assim, o governador Jaques Wagner vai passar o Ano Novo em Cartagena das Índias, na Colômbia.

Dança das cadeiras
Presidente de Itaipu, o petista Jorge Samek vai deixar o cargo para disputar a prefeitura de Foz do Iguaçu (PR) no ano que vem. O ministro Paulo Bernardo (Comunicações) gostaria de assumir o seu lugar na empresa binacional.

Armistício?
O governador Cid Gomes (CE) foi incorporado à Executiva Nacional do PSB e quatro aliados passaram a fazer parte do Diretório Nacional. Ele e o irmão, Ciro, andavam aos trancos e barrancos com o presidente do partido, Eduardo Campos.

Casquinha
Presidente do DEM, o senador José Agripino (RN) diz que o mérito pelo Brasil ter virado a sexta maior economia é mais da iniciativa privada do que do governo. “O PIB é feito pelas exportações de minério, de soja, de carne”, diz ele.

DISCRIÇÃO. Jader Barbalho (PMDB-PA) deve ter uma atuação discreta no Senado, onde toma posse hoje, assim como foi seu mandato na Câmara dos Deputados.

FRENESI. Por menor que seja a reforma ministerial, os partidos estão apreensivos com a falta de informação sobre as mudanças. A presidente Dilma não fala sobre o assunto.

DE CALÇA CURTA. Cotado para assumir o Ministério da Educação, o secretário-executivo da pasta, José Henrique Paim, foi pego de surpresa com a indicação de Aloizio Mercadante para o cargo.

O grande saco de Papai Noel - ROBERTO DaMATTA


O Estado de S. Paulo - 28/12/11

Quem se interessa pelo saco de Papai Noel? O trenó puxado pelas renas, suas roupas vermelhas, e casa em pleno Polo Norte - que nos trouxe a chamada "civilização ocidental" - têm um certo interesse. O mesmo ocorre com a sua logística que intriga os que, no futuro, serão doutores em gestão e finanças. Como é que ele faz com aquelas infindáveis listas de presentes que recebe do mundo inteiro? Como seleciona os presentes certos num mundo que não tem mais noção de quem é bonzinho ou levado? E num Brasil onde malfeitos são bem feitos? Quem, afinal, confecciona os presentes que levam a etiqueta made in China?

Daí o inusitado da pergunta que embaraçou meus pais: o que está no gigantesco saco de Papai Noel? Pois se tem presentes, deve também ter venenos.

Num primeiro momento o saco de Papai Noel é o baú mágico onde cabem todos os desejos. Caixa de Pandora do consumo, o saco produz aquela escuridão brilhante da publicidade que nos faz querer ter. Ademais, ele não está hermeticamente fechado, pois que se abre e fecha no ritmo do nosso desejo infindável de consumir, de ter e de gastar. Papai Noel vem e volta, mas o seu grande saco faz parte de nossas fantasias de riqueza fácil.

Quando eu ganhei um Cadillac-rabo-de-peixe de brinquedo, num Natal passado com os Mendonça Vianna, em São João Nepomuceno, eu sabia que essa piada de bom gosto havia saído do grande saco de Papai Noel. No mesmo modo que as obrigatórias Missas do Galo estavam todas dentro daquele apêndice natalino que continha tudo. Soube, na mesma época, de uma contraditória morte em pleno Natal.

O saco de Papai Noel pode ser o mundo e o mundo é o Brasil. Claro que ele é global, mas o seu "aqui e agora" da vida, da doença, do amor, da comida, do ódio, da mentira, do perdão e da morte ficam aqui - ao alcance desta mesma mão que tecla esse texto. Cada qual, disse meu pai, tem o saco de Papai Noel que merece. E ganha o que pediu! - completou sério.

Eu, entretanto, estava numa crise de desejo. Apaixonado pela irmã do Décio (eu beijava respeitoso sua fotografia) eu oscilava entre pedir a Papai Noel um laboratório de química, uma máquina fotográfica ou um trem elétrico, esse brinquedo que foi o sonho de todos os meninos de minha idade. Em nossa rua, apenas vi o tal trem com um filho balofo de "alto funcionário público" que, graças a uma dessas sinecuras nacionais, havia residido nos Estados Unidos. Afora isso, todos ganhavam sempre o que não haviam pedido.

Vi logo que era raro receber exatamente o que se desejava. O primeiro erro do desejo é imaginar que ele pode ser satisfeito pelo saco de Papai Noel. Um saco que ao longo da vida vai mudando de significado.

Dentro dele há de tudo. Tem o automóvel comprado em 700 prestações, tem a dívida impagável do cartão, tem as ONGs nutridas por verbas governamentais ou por uma prefeitura ou ministério. O saco pode também transformar-se num casamento desandado ou um copo de uísque com soda. Ou ainda numa doença ou loteria. Mais das vezes, é apenas um simples desejo de tomar um copo d"água ou comer um pão quentinho com manteiga. O saco vai mudando conforme a vida que depende do mundo e da idade que faz esse mundo. Crianças, cabemos nele; adultos, temos que carregá-lo nas costas e ele às vezes fica muito pesado. Quando somos jovens, ele é esvaziado pelos nossos desejos. E no final da vida, quando o passado conta mais do que o presente, o futuro não existe e o ressentimento do que poderíamos ter recebido é insanável e, por isso, aceito; o saco do Papai Noel é um saco!

Há no mundo um sério problema com merecimentos.

Um frade conhecido meu achava que se havia justiça quando um pai punia um filho notoriamente errado, deveria haver uma justiça cósmica. Se há leis em algum lugar, dizia ele, deve haver leis (e justiça) em todos os lugares. A propósito, a frase é do antropólogo Edward B. Tylor e serve como epígrafe para o livro As Estruturas Elementares do Parentesco, que transformou Claude Lévi-Strauss em Lévi-Strauss e que foi publicado no Brasil numa coleção que dirigi.

Pois bem. Como um menino no Natal, o frade buscou essa lei que regeria os elos entre bem-aventuranças e sofrimentos - aquilo que os filósofos chamam de teodiceia - e nada descobriu. Na sua paróquia, numa gigantesca favela do Rio de Janeiro, ele registrava que os generosos, os trabalhadores, os honestos e os que tinham fé eram alvos de assaltos, falcatruas, falsas promessas, deslizamentos e tragédias; ao passo que os mentirosos, os hipócritas e os vis viviam bem. Alguns ficavam muito ricos, seus próximos estavam bem e, mais que isso, eles próprios se achavam o sal da terra.

Será que Papai Noel recebeu mesmo a minha carta ou ela se extraviou tangida pelos ventos fortes e gelados do ártico? Será que ele leu o que eu queria ou simplesmente leu e resolveu não me dar o que pedi? Será, porém, que no ano que vêm (se houver ano que vêm...) eu vou ganhar o que não ganhei neste ano?

Será que o grande saco de Papai Noel vai nos envergonhar novamente em 2012, fazendo crescer nossas favelas que irão ficar do tamanho da França? Com a palavra os que acreditam. E acreditar faz parte da aventura humana na qual nenhum de nós entra por querer. Trata-se de um saco infinito. Um saco de Papai Noel...

GOSTOSA


Dilma segura o cartão - RENATA LO PRETE

FOLHA DE SP - 28/12/11
No primeiro ano de governo de Dilma Rousseff, diminuíram em 37,7%, na comparação com 2010, os chamados "gastos secretos" do gabinete da Presidência feitos com cartão corporativo. Os valores referentes a essa rubrica não são discriminados no Portal da Transparência, por alegada razão de segurança nacional.
A Secretaria de Administração da Presidência desembolsou R$ 3.834.780,80 nessa modalidade de despesa, contra R$ 6.150.534,81 no último ano de Lula.
A "farra dos cartões" rendeu uma CPI em 2008. Na época, a ministra Matilde Ribeiro (Igualdade Racial) caiu após usar o cartão corporativo num free shop.

Em baixa A Abin, vice-campeã no ranking dos gastos com cartões, também teve um corte drástico nas despesas secretas neste início de era Dilma. A agência de inteligência gastou R$ 11,24 milhões dessa maneira em 2010. Neste ano, a arapongagem teve direito a R$ 6,37 milhões sigilosos -redução de 43,2%.

Cidade-fantasma Registro no Twitter de Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), ao embarcar ontem em Natal: "Nunca vi um voo para Brasília tão vazio". Explicando que iria à capital tratar de assuntos "de municípios do Estado e da bancada", o líder peemedebista acrescentou: "Tentarei voltar à noite".

Estátua Graças à convicção com que Dilma segurou Fernando Pimentel no Ministério do Desenvolvimento a despeito da revelação de seus negócios de consultoria em 2009 e 2010, o ministro ganhou apelido da oposição: Rogério Magri, titular do Trabalho de Collor que cunhou o neologismo "imexível".

Ano Novo O contrato da dupla de marqueteiros Paulo Vasconcelos e Rui Rodrigues com o pré-candidato Gabriel Chalita era válido para as propagandas do PMDB ao longo deste ano. Uma eventual parceria na campanha eleitoral paulistana será discutida a partir de fevereiro.

Em casa 1 A Caixa Econômica Federal fez duas operações financeiras que permitiriam verificar o "apagão" em seu sistema de informática. O banco acusa a corretora Tetto de fraude por ter vendido títulos cujas dívidas com a União não eram registradas graças à falha, que durou de 2008 a fevereiro deste ano.

Em casa 2 Em junho e dezembro de 2009, a Caixa repassou à Emgea (Empresa Gestora de Ativos), estatal que negocia papeis de bancos públicos, contratos do falido Banco Econômico, cujos débitos também não foram registrados graças ao "apagão". Descoberto o erro, a Caixa assumiu o prejuízo.

Complicou O presidente da Caixa, Jorge Hereda, passou o período natalino tendo de explicar ao Planalto como o banco levou mais de dois anos para notar o "apagão". O fato de a própria CEF ter negociado papeis "micados" jogou o esforço por terra.

Leitura de férias
 O ex-governador de São Paulo Cláudio Lembo (PSD) passeou ontem por cerca de uma hora na Livraria da Vila do shopping Higienópolis, de onde saiu com um único volume: "Privataria Tucana", de Amaury Ribeiro Júnior.

Nos trilhos 1 O governador Geraldo Alckmin surpreendeu até aliados seus ao autorizar estudos para a extensão do trem regional São Paulo-Jundiaí até Campinas.

Nos trilhos 2 O projeto estava na gaveta da Secretaria de Transportes Metropolitanos, pois o tucano temia que a ampliação pusesse em risco a viabilidade do TAV, o trem de alta velocidade.

com LETÍCIA SANDER e FÁBIO ZAMBELI*

tiroteio

"Eu também não era presidente, só acionista, mas meus bens pessoais foram oferecidos em garantia, enquanto procuravam me demonizar. Por que o tratamento diferente?"
DE EDEMAR CID FERREIRA, ex-proprietário do Banco Santos, ao saber que Silvio Santos descartou empenhar seu patrimônio pessoal na solução do rombo do PanAmericano, que veio a ser socorrido pelo Fundo Garantidor de Créditos.

Contraponto

A culpa é do prefeito


Ao discursar na abertura do recente congresso do PPS, José Serra tentou explicar por que havia chegado com atraso ao evento, realizado na zona sul de São Paulo:
-Olha, eu queria dizer que levei uma hora e meia para chegar até aqui. Queria também confessar que xinguei um pouquinho o Kassab...
Antes que o prefeito paulistano, instalado à mesa ao lado do antecessor, pudesse dizer algo em defesa própria, o tucano arrematou:

-Como eu costumava xingar a mim mesmo, aliás...

Fracasso retumbante - ROSÂNGELA BITTAR


Valor Econômico - 28/12/11


Os próprios políticos de oposição demonstram profundo desgosto com a avaliação mas rendem-se à realidade: os partidos a que são filiados não só deixaram de evoluir politicamente neste ano como levaram a oposição, institucionalmente, ao retrocesso político. A derrota eleitoral em 2010 imobilizou-os, não conseguiram sair do lugar o ano inteiro de 2011.

A oposição penou não apenas por seu número reduzido, fato limitador basicamente da ação no Congresso. Mas por soberba e incompetência dos seus comandantes para atuar com grandeza no cenário político e exercer a liderança de um novo projeto.

Apenas um único fato a favoreceu, a queda de seis ministros de Estado por suspeita de corrupção e desvios éticos. Os desmandos, contudo, foram identificados e denunciados pela imprensa, não pela oposição. O que não impediu que adotasse o combate à corrupção como ação política, favorecida pelo fato de que os desvios éticos foram problemas da política brasileira agravados nos dois primeiros governos do PT, de 2003 a 2010, estendidos à larga ao governo Dilma.

A oposição consumiu-se na luta interna

A oposição levou ações aos tribunais, discursou, pediu punições, convocou membros do governo ao Congresso, conseguiu tirar alguma vantagem política, embora não tivesse número para o principal, criar Comissões Parlamentares de Inquérito.

Muito mais que os políticos de oposição, porém, obteve vantagem dessas denúncias a presidente Dilma Rousseff, a líder da situação. Comprometeu-se pouco com os aliados, entregando ministros no limite da pressão, livrou-se de nomes impostos pelo antecessor que nomeou a contragosto para pagar a fatura da eleição, e ainda apareceu para a sociedade como a corajosa promotora de uma faxina ética em um governo corrupto à sua revelia, uma imagem que elevou seus índices de popularidade às alturas.

Nem o combate à corrupção, portanto, a oposição conseguiu faturar sozinha. O ano termina sem que PSDB, DEM e PPS tenham realizações políticas a apresentar ao seu eleitorado, numerosíssimo por sinal: 43 milhões de votos só na disputa presidencial de 2010, fora as conquistas dos governos de Estados importantes da federação.

Tudo isto desapareceu neste ano. Divididos, consumidos em lutas internas, sem projeto unificador, deixaram falando sozinho quem tentou socorrê-los. O principal foi o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Conseguindo manter com a competência de sempre sua postura de ex-presidente, discreto, respeitou e foi respeitado e reconhecido pela presidente Dilma Rousseff. Acabou obrigando seus aliados a também reconhecê-lo. Não reverberaram, contudo, os novos discursos, caminhos e projetos que o ex-presidente propôs, didaticamente, como temas modernos, de interesse da sociedade, a serem adotados por uma oposição renovada.

São duas as questões que dificultam o exercício da oposição, no Brasil. Uma é que, sendo o eleitor brasileiro fisiológico, vai se dar melhor quem estiver com o cargo, a caneta, o poder em mãos. É quem pode "fazer algo" pelo cidadão, pelo município, pelo Estado, pelas organizações e corporações. Outra é que os partidos não só não querem ficar na oposição, como não sabem exercê-la. A preponderância do Executivo na vida do cidadão-eleitor é acachapante.

O ex-deputado Arnaldo Madeira (PSDB-SP), um analista incansável do desempenho do seu partido e da reforma política, no Brasil, avalia: "O sujeito que é oposição é visto como intransigente, radical, está de mal com a vida, de mau humor. Pede desculpas por fazer oposição. "Olha, estou fazendo oposição mas, veja, é construtiva, a minha crítica não é ao país, é ao governo".

O PT ficou muitos anos na oposição, perdia eleições sucessivas, só conquistou o poder central nos últimos nove anos. A avaliação que se faz, hoje, no entanto, é que o partido dos trabalhadores também não conseguiria mais fazer oposição tal a avidez com que aparelhou o governo.

A política parlamentar não foi de todo perdida para a oposição, na avaliação de um de seus senadores novatos que chegou com grande disposição ao Congresso, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP). "Fizemos alguma investigação, ministros compareceram para arguições, mas como parte do caminho do cadafalso. A oposição fez o que o governo deixou fazer. A função fiscalizadora do Congresso, exercida pela oposição, ficou prejudicada. O governo montou uma maioria acachapante nas duas Casas do Congresso".

Essa base do governo é tão grande, e tão heterogênea, que roubou à oposição até a refrega com o Palácio do Planalto, eles brigaram entre si. "O Executivo adquiriu poderes de agenda, de urgência constitucional, de grande número de iniciativas privativas. Tudo isto se acentuou com os governo do PT pela preferência pela medida provisória", diz Aloysio.

"A gente faz, obstrui, pede vista, discursa, não damos trégua", afirma o senador, que tem uma explicação para a falta de reconhecimento na sociedade: "O PT tem conexões fora, especialmente com as corporações. Hoje o PT estatizou tudo, dos partidos à UNE, os movimentos, as conferências corporativas municipais, estaduais, federais. A falta de conexão real dos partidos de oposição com o público externo, com quem está fora do Congresso, é notável. Vereadores, deputados estaduais, as bases, estão distantes da ação no Congresso".

Fora das atividades do Parlamento, como na disputa de poder, na política eleitoral, o principal grupo de oposição, hoje, é o que se reúne em torno do senador Aécio Neves, do PSDB, recebido em 2011 com expectativa de líder das oposições e delas candidato a presidente da República em 2014. Mas consumiu o ano em luta interna e andou em círculo.

Lutou para tomar a máquina partidária nacional, e conseguiu. Nomeou toda a cúpula do partido que hoje está ligada ao seu comando. De posse dessa máquina, todo o grupo continuou só enxergando um adversário, ou melhor, sua sombra, pois o ex-governador José Serra, já isolado e recolhido, não oferecia resistência à tomada do partido. Partiu, da máquina federal, para a da juventude partidária, desta para a máquina dos Estados, já no fim do ano, e certamente agora para se dirigirão aos municípios.

Se não dedicar os dois próximos anos apenas à disputa interna, como neste, é possível à oposição alimentar expectativa de sobrevivência. Quem sabe não venha a se sentir preparada até para apresentar um projeto político ao país.

O que se espera de Dilma em 2012 - ALOÍSIO DE TOLEDO CÉSAR


O Estado de S.Paulo - 28/12/11


Na vida, sempre que a gente dá uma cabeçada, deve-se aproveitar a experiência para não repetir o erro. A presidente da República, cuja falibilidade no gesto de escolher já se tornou notória, além de preocupante, pretende realizar reforma em seu Ministério no início de 2012, quando completará um ano no exercício do cargo.

É de esperar que ela inicie o ano contaminada pela maravilhosa sabedoria de reconhecer que falhou em algumas ocasiões e novamente poderá falhar. Daí a necessidade de extremo cuidado na seleção e nomeação de pessoas que a ajudarão a governar.

Viu-se que boa parte da turminha que a acompanhou e a envolveu no primeiro ano de governo estava voltada para interesses pessoais e políticos, distanciando-se do princípio republicano de que os bens públicos não pertencem a quem é escolhido para administrá-los. O administrador eleito que confunde os bens públicos com os seus acaba por confundir também os dinheiros e fazer aquilo a que a Nação toda assistiu, pasmada, ou seja, atos administrativos suspeitos de enorme desonestidade, além de ganância pessoal desmedida.

Desde a primeira semana verificou-se que o homem forte de seu governo, Antônio Palocci, se comprometeu - e também a presidente - com a afirmação tola, pueril, infantil de que não poderia indicar a origem de sua fortuna porque os contratos que assinara com os pagadores envolviam cláusula de sigilo. Enfim, ficou a ideia de que o homem que chefiaria a Casa Civil não era capaz de explicar a forma como tanto enriquecera. Dá para imaginar o que ele poderia fazer caso obtivesse e ficasse com a chave do cofre?

Naquela oportunidade, os órgãos de imprensa deixaram evidente que Palocci aumentara 20 vezes o seu patrimônio em quatro anos e sua empresa de consultoria faturara em torno de R$ 20 milhões no ano eleitoral de 2010, fatos que ele não conseguiu explicar. Mas o pior veio no momento de sua saída: a Comissão de Ética Pública da Presidência da República pretendeu abrir duas investigações contra o ex-ministro, mas não houve tempo, porque ele escapuliu, deixando antes o governo. Lamentavelmente, o procurador-geral da República, em ato imperial, verticalmente imposto ao País, resolveu não requisitar inquérito contra o ex-ministro, significando que ficará impune.

É claro que o procurador-geral da República, por respeito à Nação e à verdade, deveria ter submetido ao Supremo Tribunal Federal a decisão, que não honra o Ministério Público. Isso resultou praticamente na aceitação como regular daquela conduta, que causa arrepios.

Nesse episódio vergonhoso para o País, Palocci foi o tempo todo defendido pelo ex-presidente Lula, o que não causa estranheza, porque, conforme versão propagada pela imprensa, a arrecadação de dinheiro para campanha eleitoral (dinheiro sem recibo, é claro) criou forte vínculo pessoal e afetivo entre ambos.

Depois disso, em efeito dominó, outros ministros foram expelidos, sempre pela acusação de participação, por ação ou omissão, em atos de corrupção. E essa tendência se cristalizou, dando a entender que vai continuar.

Os atos de corrupção alcançando integrantes do primeiro escalão de Dilma Rousseff tornaram-se públicos não por iniciativa moralizadora da governante, mas por admirável trabalho de jornalismo investigativo. A imprensa brasileira vem prestando preciosos serviços ao País ao denunciar atos de corrupção, doa a quem doer, fortalecendo a nossa democracia.

Nesse quadro, a presidente Dilma externou frágil conduta, porque somente agiu por reação. Ou seja, diante das denúncias incessantes de jornais, rádios e televisões, endureceu ternamente com os envolvidos, que acabaram deixando o Ministério.

Ficou a impressão de que a referida turminha braba teria continuado no governo caso não tivessem ocorrido as denúncias feitas pela imprensa. Os escândalos sucessivos repercutiram intensamente, inclusive no exterior, de tal forma que até mesmo o jornal britânico Financial Times os enfocou, estranhando que os casos de corrupção não tenham afetado a popularidade da presidente.

Espera-se que Dilma, em 2012, quando a nova equipe poderá ter a sua cara, e não a do antecessor, seja capaz de tomar a iniciativa de faxinas, e não que fique, como sempre, a reboque das denúncias feitas pela imprensa, como tem ocorrido.

Deseja-se que isso lhe seja possível, porque é do interesse do País, mas, lamentavelmente, não se pode perder de vista que o sistema de clientelismo partidário consolidado nos governos Lula, por ela herdado, acabou mantido em 2011 e sobrevive conforme a linda oração de São Francisco de Assis, ou seja, "é dando que se recebe".

Realmente, prisioneira de uma coalizão política e partidária que dá prioridade a interesses eleitorais e pessoais, Dilma tem sido compelida a ceder fatias de governo e a engolir os indicados, os quais, para obterem a indicação, ficam, por sua vez, comprometidos com condutas que se converteram em escândalos públicos. Resta a impressão de que Dilma está com o comportamento engessado por esse sistema político-partidário de feição quase mercantil, que foi implantado por seu antecessor; e se espera que tenha a competência e a coragem necessárias para romper o círculo vicioso.

Acreditar no apoio obtido por meio de barganha na base do "é dando que se recebe" representa, talvez, um erro político e de avaliação, porque aliados que externam apoio em função de interesses pessoais são confiáveis apenas durante o tempo em que desfrutam as vantagens.

Será preferível que a presidente logre escolher pessoas pelo caráter, pela competência e que estejam comprometidas com princípios desejáveis em alguém que vai cuidar de bens e dinheiros públicos, pois isso é o que o País e os brasileiros merecem.

Ressaca - ANTONIO PRATA

FOLHA DE SP - 28/12/11

Se o porre é uma falsa euforia, o dia seguinte é uma depressão induzida, um passeio pela melancolia


Hoje é dia 28 de dezembro e, portanto, há grandes chances de que você esteja de ressaca. Talvez, deitado na cama, olhe agora para o teto e tente recordar, em meio às nuvens negras da memória e ao ensurdecedor tique-taque do relógio, qual é exatamente a parte da noite passada que o faz sentir-se tão miseravelmente envergonhado. Terá ligado para alguma ex-namorada às duas da manhã? Comprado um aparelho de ginástica e um grill elétrico na Polishop? Ou será que cantou "Maria, Maria" à capela na festa da firma?
Há quem diga que a ressaca é a prova fisiológica da existência de Deus: ao gozo sucede-se a culpa, e aquele que dançou YMCA em cima da mesa, com a gravata amarrada na testa -ah, sim, é por isso que você se sente tão miseravelmente envergonhado-, está condenado a acordar com a boca mais seca que o pó do qual veio e ao qual voltará.
Discordo dessa abordagem masoquista. É possível encarar os desconfortos pós-etílicos de forma menos católica e mais, digamos, budista. Veja: há monges que vivem anos e anos em cima de uma montanha, sob o sol e a chuva, comendo arroz sem sal, em busca do Nada; e aí está você, com a mente absolutamente vazia -e, para atingir o Nirvana, precisou apenas de algumas horas e dez latinhas de cerveja! (Ou foram mais? Você não sabe, perdeu a conta lá pela sexta, principalmente depois que o Pedrão começou a pedir aquelas doses de... O que tinha mesmo naqueles copinhos?)
Este estranho estado da matéria, entre o sólido e o gasoso, certamente não é um dos mais aprazíveis que você já experimentou, mas quem disse que a vida é feita só de prazeres? Os espíritos aventureiros, os que sabem que para passar além do Bojador há que passar além da dor, aprendem a enxergar, entre as latejadas da cabeça e os espasmos estomacais, uma chance de aprimoramento pessoal.
Pois, se o porre é uma falsa euforia, o dia seguinte é uma depressão induzida, um passeio pela melancolia, um breve outono da alma: por que não admirar as folhas amareladas que você vê agora, através destes olhos inchados? Como já dizia o poeta, "pra fazer um samba com beleza é preciso um bocado de tristeza". Voilà!
Claro, é recomendável tomar cuidado para não afundar no "bocado de tristeza". Se você der ouvidos a todos os resmungos da ressaca, pode terminar acreditando que sua vida é uma sequência de maus passos sem nenhum sentido, que todas as pessoas são medíocres e mesquinhas, que o tique-taque do relógio é mais alto que o bate-estaca na construção de um arranha-céu. Calma. Tempere os excessos de negativismo com humor. O humor está para a alma ressaquenta como a limonada está para o corpo derrubado. Agarre o copo de suco com uma mão, a ironia com a outra e atravesse esse dia que ergue-se à sua frente como um tsunami.
Eu falei em budismo: acho que exagerei. Você não verá a luz no meio da ressaca -mesmo porque olhar para a luz não é das experiências mais recomendadas nesse estado-, mas, se souber encarar o lusco-fusco existencial de maneira pró-ativa, ou melhor, pró-passiva, pode sair dele trazendo, além das olheiras, alguns insights, um par de risadas, e, quem sabe, até um "samba com beleza". Coragem. Limonada. Humor. E boa sorte.

GOSTOSA


Faltam deveres de casa para o Brasil - EDITORIAL O GLOBO


O Globo - 28/12/11

Não é desprezível o PIB brasileiro ter ultrapassado o da Inglaterra, com US$2,51 trilhões, e o país ser agora a sexta maior economia do mundo. Mas, antes que bravatas nacionalistas prejudiquem a percepção da realidade, cabe relativizar o feito, sem reduzi-lo de importância. Bem fez o ministro da Fazenda, Guido Mantega, ao lembrar que, para o brasileiro atingir o padrão de vida inglês, serão necessárias mais uma ou duas décadas de crescimento contínuo. Pois, se a renda per capita brasileira é de US$12.916, a inglesa está em quase US$40 mil. Algo semelhante acontece com a China, segunda potência econômica mundial, mas com uma renda per capita de US$5.183, menos que a metade da brasileira.

O PIB - o valor de tudo o que é produzido num país - é um indicador relevante, mas apenas um indicador. Para se ter uma ideia abrangente de um país, é necessário reunir uma série de dados. Mais ainda quando se trata do Brasil, terra de grandes disparidades - regionais, de renda, sociais, etc. Há vários outros índices que mostram como o Brasil ainda precisa avançar. Um deles é o do Desenvolvimento Humano (IDH), bem mais abrangente que o PIB. É sugestivo que a sexta economia tenha apenas o 73º IDH.

A trajetória cumprida pela sociedade depois da redemocratização, em 1985, lançou as bases para o país chegar ao ponto atual. Em 1994, com o Plano Real, veio a estabilização da economia, sem a qual nada seria possível. De 2003 a 2010, Lula resistiu à tentação de "mudar tudo isso que está aí", manteve os conceitos básicos da política econômica anterior e conseguiu combater a miséria - seria impossível se a inflação voltasse. Atingido o patamar de sexta "potência", o Brasil tem de se lançar sobre uma agenda da qual tenta escapar nos últimos nove anos. Para repetir em outros índices o crescimento do PIB, com inclusão social, terá de fazer reformas como a da Previdência. Ela é vital a fim de impedir um futuro europeu para aposentados e pensionistas brasileiros, e ainda abrir espaço nas contas públicas com o objetivo de se ampliar os gastos em educação, chave para o crescimento ter sustentabilidade. E se também aperfeiçoar a arcaica legislação trabalhista, o país ampliará ainda mais a formalização no mercado de trabalho, fonte de financiamento do próprio sistema previdenciário.

Também com o mesmo objetivo de mudar a composição dos gastos públicos, Brasília precisará abrir de fato portas de saída para beneficiários do grande sistema assistencialista montado nos últimos 16 anos. Ele só terá êxito quando liberar pessoas para o mercado de trabalho.

Gastos públicos proporcionalmente menores - um estado do tamanho de 40% do PIB precisa ser menos pantagruélico -, permitirão, ainda, o aumento da taxa de poupança, hoje na faixa dos 20% do PIB, cinco pontos aquém do necessário para a economia se manter em crescimento sem sustos.

Ministra de Lula, Dilma Rousseff viveu parte dessa história por dentro. Deve saber que seria ruinoso repetir a falácia da ditadura militar de tentar crescer com inflação. Depois do Plano Real, o Brasil precisa de novo salto: crescimento equilibrado, juros "normais", com um sistema educacional de bom padrão, infraestrutura ampliada e modernizada, para o que será necessária uma maior participação privada no setor e, portanto, menos preconceito ideológico em Brasília. É a missão da atual geração de dirigentes brasileiros.

Problema para o PC do B - EDITORIAL FOLHA DE SP


FOLHA DE SP - 28/12/11

Não tomar Coca-Cola, abominar hambúrgueres e jamais pôr os pés na Disneylândia. Dentre os inúmeros sacrifícios que se pedem de um bom combatente anti-imperialista, exigências como estas são coisa de somenos.
O recém-falecido líder norte-coreano Kim Jong-il, a ser enterrado com pompas hoje, não tinha dificuldades em seguir essas regras. Em vez do refrigerante, preferia consumir conhaque francês de primeira qualidade.
Sendo tão firmes os seus compromissos em questões desse tipo, causa surpresa a notícia, divulgada pela mídia japonesa, de que seu filho e sucessor, Kim Jong-un, teria visitado a Disney de Tóquio aos oito anos.
Sabendo-se que o documento utilizado era um passaporte brasileiro, o caso haverá de ter repercussões em nosso país.
Estaria a exigir, sem dúvida, vigoroso protesto do Partido Comunista do Brasil (PC do B), que há poucos dias emitiu nota de pesar pelo falecimento do ditador.
Segundo a nota, Kim Jong-il "manteve bem altas as bandeiras da luta anti-imperialista" e da "construção de um Estado e de uma economia prósperos e socialistas". A manifestação obteve apoio do ministro do Esporte, Aldo Rebelo, que, além de disciplinado militante do PC do B, não perde oportunidades na luta para manter as crianças brasileiras imunes à influência americana.
Tendo combatido as comemorações do Halloween, sugerindo sua substituição pelo nacionalíssimo Dia do Saci, não lhe será fácil absorver a notícia de que também nas melhores famílias a Disney oferece atração irresistível e que as cores brasileiras foram utilizadas nessa expedição turística.
Mas existe outro modo de encarar a embaraçosa questão. Além dos estimados US$ 700 mil anuais em conhaque francês, Kim Jong-il não dispensava outros itens de importação para seu desfrute pessoal. Filmes de James Bond e desenhos animados do Patolino estavam entre os seus preferidos.
O PC do B poderia usar a informação para dizer que a Coreia do Norte é um país aberto culturalmente, elogio que faltou à sua nota.
Pensando melhor, talvez essa estratégia fosse equivocada. Quem sabe o melhor seria, em face dessas revelações, voltar atrás no lamento pela morte do ditador. Era frouxo demais em seu combate; precisaria da orientação ideológica mais firme de seus camaradas brasileiros para não cair nos engodos do entretenimento americano.
Manter ou não a nota de pesar a um fã de desenhos animados americanos? Eis um assunto a ser debatido no Comitê Central do PC do B.

Déficit de habitações - ROBERTO KAUFFMANN


O Globo - 28/12/11


A recente Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio (Pnad), divulgada pelo IBGE, surpreendeu toda a sociedade brasileira, principalmente o setor da construção civil, que trabalhava com números diferentes, menores, sobre o colossal déficit habitacional. Fica evidente que medidas imediatas se fazem necessárias, com a participação dos poderes públicos e da iniciativa privada para que este problema comece de fato a ser enfrentado, e resolvido.

Desde 2003, o governo federal tem demonstrado grande vontade política com o setor da construção civil, com a adoção de sugestões que foram apresentadas aos então candidatos à Presidência em 2002. Entre elas estavam a criação de um interlocutor qualificado na esfera federal (o Ministério das Cidades), a aprovação de instrumentos de segurança jurídica nos negócios imobiliários, o cumprimento da lei que exige a aplicação de 65% dos depósitos da poupança em financiamentos, a criação de um Fundo com recursos do FGTS para obras de infraestrutura e a implementação de um Programa de Habitação de Interesse Social, com subsídios explícitos para as famílias de baixa e média rendas.

Para prosseguirmos com esta evolução, nos valendo de maior agilidade, outras atitudes precisam ser tomadas em razão dos números divulgados por essa pesquisa.

E da mesma forma que em 2002, o Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado do Rio de Janeiro apresenta uma sugestão que entende ser fundamental para o sucesso de um programa que busque minimizar o déficit habitacional: a implantação imediata de um programa de construções do tipo econômico, utilizando-se de processos de inovações tecnológicas. Seria semelhante ao antigo Programa de Cooperativas Habitacionais, aperfeiçoado com a participação de muitas empresas no país que tenham, comprovadamente, experiência que possam ser atestadas pelas certidões de Acervo Técnico, expedidas pelos Creas (Conselhos Regionais de Engenharia e Arquitetura).

O formato desse Programa seria discutido pelo Ministério das Cidades, por agentes financeiros e por entidades do setor, de forma a dar segurança, qualidade e velocidade às obras, com a participação de um grande número de empresas habilitadas. Só dessa forma acreditamos ser possível ofertar moradias dignas para a população em locais adequados, próximos a equipamentos comunitários, comércio e transportes coletivos.

VIM DA BAHIA - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 28/12/11
O compositor e multi-instrumentista Lucas Santtana, 41, acaba de finalizar seu quarto CD, "O Deus Que Devasta mas Também Cura". O álbum terá participações da cantora Céu e dos músicos Gui Amabis e Curumin e está previsto para ser lançado em março de 2012. O baiano, que é sobrinho de Tom Zé, terminou recentemente um namoro com a atriz Camila Pitanga.

LISTA DE PRESENTES
A "Revista de História" da Biblioteca Nacional de janeiro mostrará lista de 233 policiais e militares que teriam torturado presos políticos no governo Ernesto Geisel (1974-1979). O documento, de 1976, faz parte do acervo pessoal do líder comunista Luís Carlos Prestes (1898-1989). Segundo Vivi Fernandes de Lima, autora da reportagem, ele teria sido elaborado por um comitê de solidariedade aos perseguidos políticos e teve como base depoimentos de torturados.

LISTA 2
A lista não foi divulgada na época por causa da censura, segundo Lima. Entre os citados estão militares que aparecem em outras listas, como o então major Carlos Alberto Brilhante Ustra. A mulher de Ustra, Joseíta, disse à coluna que seu marido não se manifesta sobre o tema, seguindo determinação de seus advogados. Os nomes serão divulgados no site da revista a partir do dia 1º.

LINHA DO TEMPO
Jânio Quadros Neto, neto do ex-presidente Jânio Quadros, foi convidado pelo prefeito Gilberto Kassab, de SP, para assessorar a administração em eventos internacionais. Bem relacionado, ele é amigo e tem contato direto com o estafe de astros como Madonna, que ciceroneou quando ela fez turnê no Brasil, e Bono. Foi Jânio quem mediou o encontro do líder do U2 com o ex-presidente Lula e com Dilma Rousseff neste ano.

REFORÇO
"Ele é um jovem muito qualificado, pode nos ajudar bastante", diz Kassab.

NÃO FALTA TÉCNICO
A Prefeitura de SP formaliza hoje a cessão de um terreno de 16 mil m² para a construção de uma unidade do Senai ao lado do Itaquerão, o futuro estádio do Corinthians. A obra está orçada em R$ 50 milhões, e a escola terá cursos nas áreas de ferramentaria, eletroeletrônica, panificação e confeitaria e corte e costura.

BOCA DO LIVRO
A Feira do Livro de Frankfurt vai organizar uma conferência sobre tecnologia, cultura e alfabetização em SP, em agosto de 2012.

VOAR VOAR
Os socialites cariocas André Ramos e Bruno Chateaubriand farão uma festa de Réveillon em sua casa na Gávea, no Rio, no sábado. À meia-noite, eles soltarão 10 mil balões brancos. A pista de dança será montada em cima da piscina. O som ficará a cargo dos DJs Marc Andrew e André Calvete.

É SOM DE PEIXE
Os DJs Rodrigo Vieira, filho da atriz Susana Vieira, e João Lee, filho da cantora Rita Lee, vão se apresentar na Rio Music Conference 2012, evento de música eletrônica que acontece em fevereiro na capital fluminense.

O BAILE TODO
O grupo Instituto, que tem como integrante Daniel Ganjaman, fez show no Studio SP, no fim de semana. Os rappers Criolo e Sombra participaram. O empresário Alexandre Youssef, sócio da balada, comemorou o aniversário na ocasião, ao lado da namorada, a atriz Leandra Leal. O produtor musical Bid passou por lá.

CURTO-CIRCUITO
Wagner Tiso e o grupo Som Imaginário se apresentarão em janeiro no Sesc Belenzinho. Nos dias 13 e 14, às 21h, e no dia 15, às 18h. Classificação etária: 12 anos.

O shopping sazonal Casa Grande Boulevard Mall, no Guarujá (SP), será inaugurado hoje, com coquetel na praia da Enseada.

A chef Morena Leite, do restaurante Capim Santo, fará o cardápio de três ceias de Réveillon em Trancoso. Ela levou cem funcionários para a Bahia.

A cineasta Lina Chamie filmará o longa "São Silvestre" durante a corrida paulistana, no sábado.

A marca TRESemmé abrirá salão de beleza na Riviera de São Lourenço até o dia 28 de janeiro.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

GOSTOSA


Emoções que embalam - JANIO DE FREITAS


FOLHA DE SP - 28/12/11

Grande parte do debate sobre o CNJ é menos impulsionada pelas razões técnicas do que por sentimentos


A discussão pública em torno dos poderes fiscalizatórios do Conselho Nacional de Justiça está muito animada, mas passa ao largo de um perigo que os debatedores não têm como examinar jurídica ou regimentalmente. E não parece haver maneira de impedi-lo.

O manifesto, de rápido sucesso, em apoio à corregedora do CNJcomprova, à margem de sua finalidade declarada, que grande parte do debate é menos impulsionada pelas razões técnicas do que por sentimentos, contrários ou favoráveis, em relação à ministra Eliana Calmon.

Nenhuma das correções ao noticiário ou a afirmações suas, expostas em série por Eliana Calmon, nem sequer atenuou a visão, inclusive de juízes, que lhe atribui voluntarismo autoritário e ilegalidade.

Tal se deu com as explicações, que, mesmo retirando da ministra intenções extremadas, não enfraqueceram a identificação que provocou na classe média.

O provável é que a divergência chegue assim, embalada por emoções, ao julgamento no Supremo, para a decisão: vale o direito da corregedoria doCNJ de investigações diretas nos tribunais regionais; ou, como quer a liminar do ministro Marco Aurélio, cabe aos próprios tribunais a prioridade das investigações?

Então surge o perigo. A questão é muito importante, em qualquer dos sentidos. Mas emoções não vicejam só fora do Supremo, ou dos tribunais em geral. As aposentadorias de Sepúlveda Pertence, Eros Grau e Nelson Jobim -que uma brincadeira antiga dizia ser "cada qual mais elegante: cobra, jacaré e elefante"- reduziu os índices de exaltação e de grosseria no plenário do Supremo. Mas, como sabe quem já viu os ministros Gilmar Mendes, Joaquim Barbosa e Cezar Peluso em divergência, a Casa pode ser tanto ou mais entregue à força de emoções que à força da lei.

A ministra Eliana Calmon, por sua vez, tem um defeito que a fina educação brasileira rejeita: costuma ser sincera. É uma divisora de sentimentos. Inclusive no Supremo.

Daí que, mesmo sem se mostrarem em suas formas mais ostensivas, e revestidos pelos arabescos da erudição jurídica, os sentimentos em relação a Eliana Calmon vão estar presentes em parte do Supremo. E podem ser decisivos.

Esta é uma convicção vigente entre experimentados em Supremo Tribunal Federal. E não há discussão que impeça o perigo.

VAI BEM

A enrolação da polícia no caso do jogador Adriano já ultrapassou todos os limites. Há quatro dias anuncia-se o exame de pólvora nas mãos do jogador e da mulher atingida pelo tiro, para estabelecer qual deles mente sobre a autoria do disparo. A simples acareação de ambos só está prevista para hoje. E por aí vai.

O contrato de Corinthians e Adriano prevê a dissolução automática em caso de incidente extracampo com o jogador. Como nenhum dos dois deseja a dissolução, é preciso que Adriano seja o bom rapaz inocente de sempre.

Sete quedas - MIRIAM LEITÃO


O GLOBO - 28/12/11
Um, dois, três... sete. Da foto tirada no primeiro dia do ano, do ministério da presidente Dilma Rousseff, já caíram sete. Só um ministro saiu por outro motivo que não as denúncias de escândalos e "malfeitos". Essa foi uma das boas surpresas com a presidente. Ela não assumiu a palavra "faxina", mas o termo se popularizou. O primeiro ano de governo tem mais altos do que baixos.

Nenhuma cachoeira por mais água que tenha - nem mesmo a caudalosa Sete Quedas se ainda existisse - seria capaz de lavar a corrupção no Brasil. Nenhum governante sozinho vai resolver o problema. Não há salvadoras da pátria. Por isso é preciso, primeiro, fortalecer as instituições. Como em qualquer grande tarefa há idas e vindas, avanços e retrocessos, gestos que parecem redentores, mas que são apenas pequenas mudanças para manter tudo como está.

As quedas dos ministros podem ser o começo do fim da piora. Se parar de piorar já terá sido um grande passo. Mas a corrupção vai além do Governo Federal, espalha-se pelos poderes, por diversos níveis federativos, contamina as empresas e as relações privadas. A corrupção é cada vez mais disseminada no Brasil. A boa novidade foi ver a presidente reagindo quando os fatos se acumularam de forma ostensiva, em vez de tratar cada denúncia como parte de uma conspiração contra seu governo.

Nesse primeiro ano de mandato, Dilma foi uma governante mais do esforço de gabinete do que das acrobacias de palanque. Falou pouco, mas passou recados importantes através dos jornalistas que escolheu ou dos pronunciamentos que fez. Essa forma de comunicação deu uma marca bem diferente ao seu governo do que a que o país estava acostumado nos oito anos anteriores.

A inflação passou mais tempo acima do teto da meta do que no intervalo permitido de flutuação, mas o governo conseguiu conter a escalada que ficou pior no momento em que a taxa acumulada subiu além dos 7%. O país como um todo tem demonstrado que aprendeu com os erros do passado e, apesar de declarações fora do tom de alguns economistas do governo, a população está convencida de que inflação controlada é essencial.

No primeiro ano do governo Dilma, o mundo fez tudo para atrapalhar. As crises deixaram os Estados Unidos, Japão e Europa crescendo pouco ou em recessão. O temor de um novo colapso como 2008 rondou o tempo todo a economia global. O terremoto no Japão evoluiu para um desastre nuclear.

O Brasil teve queda forte de crescimento, mas a redução é menos dramática do que parece. O PIB de 7,5% em 2010 foi em parte pelo efeito da comparação com o ano recessivo de 2009. Desta vez o crescimento de cerca de 3% é o resultado da comparação com base alta.

Em resumo: no primeiro ano de governo, a presidente Dilma conseguiu evitar a explosão inflacionária, manteve algum crescimento mesmo diante de um agravamento da crise global, iniciou um trabalho, ainda que discreto, para conter a corrupção, implantou um estilo próprio de governo e debelou o temor de que fosse ser uma sombra do ex-presidente Lula. Não é pouco.

Todavia, cometeu erros. A fórmula de aumento do salário mínimo tem a vantagem de afastar o debate sobre o reajuste que todo ano virava uma fonte de pressão sobre o governo. Só que o aumento em 2012 somará a alta inflação de 2011 com o alto crescimento de 2010. Isso terá um impacto forte nas contas públicas pela elevação dos gastos previdenciários. O BNDES continuou a sua defasada política de escolha de algumas empresas para receberem nacos maiores de empréstimos ou de capital. Vários desses campeões estão dando prejuízo. Alguns setores tiveram o privilégio da renúncia fiscal, mas a sociedade como um todo pagou mais impostos; a carga tributária subiu de novo.

O governo demorou a entrar no debate do Código Florestal e o assunto ainda está em pendência. A dúvida é o tamanho do retrocesso que será consolidado ao fim do processo de votação. A obra da usina de Belo Monte foi tocada dentro da lógica do correntão, ou seja, transformar tudo em fato consumado para afogar as críticas e dúvidas.

No acerto com o passado, o governo criou a Comissão da Verdade, mas a filha do deputado Rubens Paiva não discursou na cerimônia porque considerou-se que isso afrontaria os militares. A prisão e o desaparecimento de Rubens Paiva ocorreu há 40 anos e o governo ainda hoje se deixa constranger pelos militares. Um espanto.

A política externa entregou um avanço menor do que prometeu. Houve evolução em alguns discursos e entrevistas, mas o país continuou hesitante na hora de condenar alguns regimes de força. O Brasil se absteve na condenação à Síria; demorou a reconhecer o novo governo da Líbia. Tomara que não abandone a crítica feita pela presidente Dilma às ameaças contra a iraniana Sakineh Ashitani, que voltaram a ser feitas.

Ao contrário dos seus antecessores, Dilma Rousseff não aproveitou o primeiro ano para aprovar reformas. O presidente Fernando Henrique mudou o capítulo da Ordem Econômica na Constituição acabando com o monopólio da telefonia, do petróleo e a discriminação contra empresa estrangeira. Lula aprovou a reforma da Previdência do setor público, apesar de ter abandonado o projeto depois. Dilma apenas tocou a agenda do Congresso, não a liderou.

Com tudo isso, a primeira mulher a presidir o Brasil chega ao fim do primeiro ano do governo com um índice maior de aprovação do que seus dois antecessores. Não é pouco.