FOLHA DE SP - 28/09
RIO DE JANEIRO - Pela coluna de Ancelmo Gois, no "Globo", ficamos sabendo que Zeca Pagodinho descobriu-se parente (primo distante, talvez, ou sobrinho-neto?) de um belo compositor brasileiro, hoje quase esquecido: Arlindo Marques Junior (1913-1968). E o quase vai por conta dos versos iniciais de um samba de Arlindo, "Abre a Janela", sucesso de Orlando Silva no Carnaval de 1938 --"Abre a janela, formosa mulher/ E vem dizer adeus a quem te adora..."--, que podem ter ficado na memória de alguns.
Ou pela malícia da marchinha "Nós, os Carecas", estouro do conjunto vocal Os Anjos do Inferno no Carnaval de 1942: "Nós.../ Nós, os carecas/ Com as mulheres somos maiorais/ Pois, na hora do aperto, é dos carecas que elas gostam mais...". Nestas e em muitas outras, o parceiro de Arlindo é o também ignorado Roberto Roberti. Eles formavam uma parceria ideal: ambos faziam música e letra.
Arlindo e Roberti foram os primeiros compositores que Carmen Miranda, com o Brasil a seus pés, escolheu para gravar quando trocou a Victor pela Odeon, em abril de 1935: a cativante marchinha junina "Foi Numa Noite Assim" e um samba-choro de respeito, "Queixas de Colombina". E foi neles também que Orlando Silva, em seu apogeu, apostou no Carnaval de 1939, ao gravar o sólido samba "O Homem Sem Mulher Não Vale Nada".
Arlindo (cujo centenário de nascimento passou em branco em agosto último), Roberti e tantos sambas e marchinhas daquele período integram o patrimônio musical brasileiro. Um patrimônio maravilhoso, mas fantasma, ectoplásmico, cada vez menos lembrado e discutido, embora --por ironia-- esteja fartamente disponível no YouTube. Há quantas décadas não se grava Arlindo Marques Junior?
Ele merecia ser relançado por um cantor sensível, de grande público e prestígio. Alguém como --hei, boa ideia!-- Zeca Pagodinho.
sábado, setembro 28, 2013
Cidades violentas - LUIZ FERNANDO JANOT
O GLOBO - 28/09
O sucesso alcançado pelas UPPs as credencia como uma política de Estado e não apenas como um programa de governo
Nenhuma cidade está imune à violência. Se em épocas remotas costumava-se murar as cidades para protegê-las dos inimigos externos, nos tempos atuais as ameaças se encontram no interior da própria cidade. Garantir a segurança nos espaços públicos é um requisito indispensável para tornar o convívio na cidade mais afável e solidário. Se os contrastes sociais e econômicos não explicam a origem da violência urbana, não há dúvida de que eles, em si mesmos, expressam uma forma de violência. No Brasil, a cidadania não tem sido compartilhada igualitariamente.
Modelos excludentes de desenvolvimento urbano acentuam esses contrastes, criam guetos de pobreza e abrem espaços para abrigar organizações criminosas. É sabido que jovens bandidos não aceitam viver na pobreza e que aspiram a desfrutar, ao seu modo, dos objetos de consumo divulgados em novelas e em sedutoras campanhas publicitárias. O acesso às drogas e às armas facilitou a tarefa de obter esses produtos pela via da criminalidade.
A violência nas grandes cidades brasileiras vem induzindo os habitantes a protegerem suas residências com muros eletrificados e os edifícios com grades, câmeras e seguranças particulares. Afinado com esse comportamento, um número significativo de pessoas tem optado por morar em grandes condomínios residenciais fechados e repletos de atrativos. Por mais atraentes que sejam esses espaços privativos, eles constituem, do ponto de vista da cidade, verdadeiros enclaves urbanos delimitados por barreiras reais e simbólicas, visíveis e invisíveis.
Há que se reconhecer, no entanto, que parte do sucesso alcançado por esse tipo de empreendimento se deve à insegurança e ao abandono a que foram relegados importantes espaços públicos. A decadência do ambiente urbano tende a estabelecer um círculo vicioso em que prevalece a ordem da desordem e, com ela, diversas formas de violência. Para recuperar a urbanidade perdida, o caminho mais curto é requalificar os espaços urbanos e devolvê-los aos cidadãos em condições otimizadas de uso. Nesse processo, deve ser incentivada a ocupação diversificada dos imóveis e a sua aproximação com o espaço público, de modo a atrair mais pessoas para as ruas e torná-las, consequentemente, mais dinâmicas e seguras.
No Rio ainda há muito o que fazer nessa perspectiva de ocupação da cidade. Felizmente, no tocante às favelas, várias foram contempladas com as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). O sucesso alcançado por essa iniciativa, apesar dos deslizes que sugerem a necessidade de ajustes, a credencia como uma política de estado e não apenas como um programa de governo. A aproximação social entre os moradores das comunidades e dos bairros no seu entorno tende a se ampliar com a tão prometida urbanização das favelas. Assegurar a ordem em clima de paz e tranquilidade deve ser meta prioritária do poder público. Nesse sentido, não se pode ficar impassível diante da ação de predadores mascarados que agem covardemente na certeza da impunidade. Muito menos assistir ao retorno de bandos de pivetes fazendo arrastões pelas ruas sem serem importunados.
Da mesma forma, é inadmissível aceitar passivamente a presença de camelôs obstruindo as calçadas, ciclistas disputando espaço com os pedestres, motociclistas buzinando e ziguezagueando pelas ruas, flanelinhas extorquindo dinheiro de motoristas, veículos estacionados sobre as calçadas, ônibus e vans circulando tresloucadamente, vândalos destruindo e pichando o patrimônio público, cães ferozes soltos e sem mordaça, praticantes de frescobol e altinho na beira do mar e porcalhões sujando a cidade.
Enquanto cada cidadão não se conscientizar do seu papel diante dessas e de outras práticas ilegais, reagindo e cobrando atitudes do poder público, não há dúvida de que a violência praticada por uma minoria continuará interferindo no bem-estar da maioria da população. Em tempos de passeatas e reivindicações, não há como ignorar que o direito à cidadania é um bem inalienável dos regimes democráticos.
O sucesso alcançado pelas UPPs as credencia como uma política de Estado e não apenas como um programa de governo
Nenhuma cidade está imune à violência. Se em épocas remotas costumava-se murar as cidades para protegê-las dos inimigos externos, nos tempos atuais as ameaças se encontram no interior da própria cidade. Garantir a segurança nos espaços públicos é um requisito indispensável para tornar o convívio na cidade mais afável e solidário. Se os contrastes sociais e econômicos não explicam a origem da violência urbana, não há dúvida de que eles, em si mesmos, expressam uma forma de violência. No Brasil, a cidadania não tem sido compartilhada igualitariamente.
Modelos excludentes de desenvolvimento urbano acentuam esses contrastes, criam guetos de pobreza e abrem espaços para abrigar organizações criminosas. É sabido que jovens bandidos não aceitam viver na pobreza e que aspiram a desfrutar, ao seu modo, dos objetos de consumo divulgados em novelas e em sedutoras campanhas publicitárias. O acesso às drogas e às armas facilitou a tarefa de obter esses produtos pela via da criminalidade.
A violência nas grandes cidades brasileiras vem induzindo os habitantes a protegerem suas residências com muros eletrificados e os edifícios com grades, câmeras e seguranças particulares. Afinado com esse comportamento, um número significativo de pessoas tem optado por morar em grandes condomínios residenciais fechados e repletos de atrativos. Por mais atraentes que sejam esses espaços privativos, eles constituem, do ponto de vista da cidade, verdadeiros enclaves urbanos delimitados por barreiras reais e simbólicas, visíveis e invisíveis.
Há que se reconhecer, no entanto, que parte do sucesso alcançado por esse tipo de empreendimento se deve à insegurança e ao abandono a que foram relegados importantes espaços públicos. A decadência do ambiente urbano tende a estabelecer um círculo vicioso em que prevalece a ordem da desordem e, com ela, diversas formas de violência. Para recuperar a urbanidade perdida, o caminho mais curto é requalificar os espaços urbanos e devolvê-los aos cidadãos em condições otimizadas de uso. Nesse processo, deve ser incentivada a ocupação diversificada dos imóveis e a sua aproximação com o espaço público, de modo a atrair mais pessoas para as ruas e torná-las, consequentemente, mais dinâmicas e seguras.
No Rio ainda há muito o que fazer nessa perspectiva de ocupação da cidade. Felizmente, no tocante às favelas, várias foram contempladas com as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). O sucesso alcançado por essa iniciativa, apesar dos deslizes que sugerem a necessidade de ajustes, a credencia como uma política de estado e não apenas como um programa de governo. A aproximação social entre os moradores das comunidades e dos bairros no seu entorno tende a se ampliar com a tão prometida urbanização das favelas. Assegurar a ordem em clima de paz e tranquilidade deve ser meta prioritária do poder público. Nesse sentido, não se pode ficar impassível diante da ação de predadores mascarados que agem covardemente na certeza da impunidade. Muito menos assistir ao retorno de bandos de pivetes fazendo arrastões pelas ruas sem serem importunados.
Da mesma forma, é inadmissível aceitar passivamente a presença de camelôs obstruindo as calçadas, ciclistas disputando espaço com os pedestres, motociclistas buzinando e ziguezagueando pelas ruas, flanelinhas extorquindo dinheiro de motoristas, veículos estacionados sobre as calçadas, ônibus e vans circulando tresloucadamente, vândalos destruindo e pichando o patrimônio público, cães ferozes soltos e sem mordaça, praticantes de frescobol e altinho na beira do mar e porcalhões sujando a cidade.
Enquanto cada cidadão não se conscientizar do seu papel diante dessas e de outras práticas ilegais, reagindo e cobrando atitudes do poder público, não há dúvida de que a violência praticada por uma minoria continuará interferindo no bem-estar da maioria da população. Em tempos de passeatas e reivindicações, não há como ignorar que o direito à cidadania é um bem inalienável dos regimes democráticos.
Limites na missão da presidente - WALTER CENEVIVA
FOLHA DE SP - 28/09
Os princípios valem, mas não escapam das contingências internacionais
No Brasil, o poder constitucional exercido em nível federal, por uma única pessoa é do presidente da República. A Constituição, no art. 84, atribui privativamente à presidência 26 missões fundamentais e mais uma genérica. Dessas, apenas três podem ser delegadas a Ministros de Estado ou ao Advogado Geral da União, mas sob limites expressos.
No Brasil, a Constituição reserva para o(a) presidente a celebração de tratados, convenções e atos internacionais. Depende apenas de referendo do Congresso Nacional.
Lembro que no caso do "Mensalão" chegou-se a falar na invocação de tribunais estrangeiros, mas foi na competência, preservada pelo art. 84, que a presidente Dilma Roussef discursou na ONU e fez críticas aos Estados Unidos.
A agitação gerada foi natural. Normalmente o discurso de abertura é formalidade que, embora honrosa, não passa da formalidade. A presidente cumpriu o dever constitucional de expressar sua posição, em face da falada "espionagem" norte americana, por estes lados do mundo, infringindo o direito internacional público.
A restrita invocação prática desse segmento do direito me sugeriu a citação de dois autores brasileiros, quanto à posição de nossa presidente.
Lembro José Francisco Rezek, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal e juiz da Corte Internacional de Justiça, em Haia. Prefaciando seu livro, no qual reuniu os principais textos sobre relações internacionais, anotou a "forma convencional dos tratados". Foram um avanço diz, mas não é caso de nos iludirmos, pois tais normas não perderam "sua triste vocação para o sacrifício quando o Estado assim queira que aconteça, em honra de seu próprio interesse".
No mesmo sentido Vicente Marotta Rangel, que foi catedrático de Direito Internacional Público na Faculdade do Largo de São Francisco e membro da Corte Permanente de Arbitragem (Haia). No livro "Direito e Relações Internacionais" assinala o "contraste entre os ideais e a ação dos Poderes Públicos".
Vê, nesse ramo do direito, o choque entre "os princípios e a contingência da atividade política". Ou seja: os princípios valem, mas não escapam das contingências internacionais. Esse ramo ainda é, em boa parte, o direito do mais forte.
O "direito" do mais forte explica porque cinco países se asseguraram, na metade do século 20, o direito de vetar discussões ou decisões do Conselho de Segurança da ONU. Mais que isso: bastava que um, entre cinco países (Estados Unidos, Rússia, Inglaterra, França e China) não comparecesse à reunião do Conselho, para afirmar o veto.
Nesse campo é expressivo que a antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (hoje a Rússia) opôs 105 vetos.
A transferência da decisão do Conselho para a Assembleia Geral não teve efeitos radicais. Melhorou a situação, mas apenas em parte. Repetindo um dito antigo, a ONU não é mais aquela.
A presidente da República certamente foi informada, com antecedência, desses efeitos e dos percalços resultantes, bem comuns na história recente. Mesmo assim, foi bom que Dilma se manifestasse, com sua dose de energia, embora tenha mais condição de repercutir em nosso país, que no exterior. Neste, as cartas do resultado estão marcadas antes mesmo que o jogo comece.
Os princípios valem, mas não escapam das contingências internacionais
No Brasil, o poder constitucional exercido em nível federal, por uma única pessoa é do presidente da República. A Constituição, no art. 84, atribui privativamente à presidência 26 missões fundamentais e mais uma genérica. Dessas, apenas três podem ser delegadas a Ministros de Estado ou ao Advogado Geral da União, mas sob limites expressos.
No Brasil, a Constituição reserva para o(a) presidente a celebração de tratados, convenções e atos internacionais. Depende apenas de referendo do Congresso Nacional.
Lembro que no caso do "Mensalão" chegou-se a falar na invocação de tribunais estrangeiros, mas foi na competência, preservada pelo art. 84, que a presidente Dilma Roussef discursou na ONU e fez críticas aos Estados Unidos.
A agitação gerada foi natural. Normalmente o discurso de abertura é formalidade que, embora honrosa, não passa da formalidade. A presidente cumpriu o dever constitucional de expressar sua posição, em face da falada "espionagem" norte americana, por estes lados do mundo, infringindo o direito internacional público.
A restrita invocação prática desse segmento do direito me sugeriu a citação de dois autores brasileiros, quanto à posição de nossa presidente.
Lembro José Francisco Rezek, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal e juiz da Corte Internacional de Justiça, em Haia. Prefaciando seu livro, no qual reuniu os principais textos sobre relações internacionais, anotou a "forma convencional dos tratados". Foram um avanço diz, mas não é caso de nos iludirmos, pois tais normas não perderam "sua triste vocação para o sacrifício quando o Estado assim queira que aconteça, em honra de seu próprio interesse".
No mesmo sentido Vicente Marotta Rangel, que foi catedrático de Direito Internacional Público na Faculdade do Largo de São Francisco e membro da Corte Permanente de Arbitragem (Haia). No livro "Direito e Relações Internacionais" assinala o "contraste entre os ideais e a ação dos Poderes Públicos".
Vê, nesse ramo do direito, o choque entre "os princípios e a contingência da atividade política". Ou seja: os princípios valem, mas não escapam das contingências internacionais. Esse ramo ainda é, em boa parte, o direito do mais forte.
O "direito" do mais forte explica porque cinco países se asseguraram, na metade do século 20, o direito de vetar discussões ou decisões do Conselho de Segurança da ONU. Mais que isso: bastava que um, entre cinco países (Estados Unidos, Rússia, Inglaterra, França e China) não comparecesse à reunião do Conselho, para afirmar o veto.
Nesse campo é expressivo que a antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (hoje a Rússia) opôs 105 vetos.
A transferência da decisão do Conselho para a Assembleia Geral não teve efeitos radicais. Melhorou a situação, mas apenas em parte. Repetindo um dito antigo, a ONU não é mais aquela.
A presidente da República certamente foi informada, com antecedência, desses efeitos e dos percalços resultantes, bem comuns na história recente. Mesmo assim, foi bom que Dilma se manifestasse, com sua dose de energia, embora tenha mais condição de repercutir em nosso país, que no exterior. Neste, as cartas do resultado estão marcadas antes mesmo que o jogo comece.
Embargos infringentes - VERA MAGALHÃES - PAINEL
FOLHA DE SP - 28/09
O PDT ingressará na semana que vem com recurso no STF (Supremo Tribunal Federal) para que deputados que ingressarem no Solidariedade não possam levar tempo de TV do partido. Entre os argumentos está a suspeita de fraude na coleta de assinaturas de apoio à nova legenda. Avisado por Carlos Lupi, o Planalto acompanha a manobra, que pode afetar não apenas a sigla oposicionista de Paulinho da Força, mas também o Pros, provável destino de governistas como Cid Gomes (CE).
Périplo O prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio, esteve com Lupi ontem, no Rio. O presidente do PDT convidou o grupo de Cid a se filiar à legenda. Hoje, o governador do Ceará conversa com o Pros e, na terça-feira, define para que sigla ele e os aliados vão.
Occupy Marina Silva convocou cerca de cem membros da executiva da Rede para vigília em Brasília a partir de terça-feira. A ideia é que o grupo lote a plateia do TSE quando o pedido de registro do partido for votado.
#FF A reestreia de Dilma Rousseff no Twitter ontem, cercada de uma megaoperação de marketing, fez com que o perfil da presidente ganhasse 15 mil novos seguidores em apenas seis horas.
Lastro Em entrevista ao "É Notícia", da RedeTV!, que vai ao ar amanhã, Aécio Neves citou a proximidade com Armínio Fraga. Ao falar sobre risco de crise econômica em 2015, disse que, para o ex-presidente do Banco Central, a vitória do PSDB melhoraria a imagem externa do Brasil.
Dividida 1 Os painéis do lançamento da candidatura de Emídio de Souza à presidência do PT paulista, com fotos de lideranças do partido, excluíram o atual presidente da sigla, Edinho Silva.
Dividida 2 A omissão foi lida por militantes como sinal de que não haverá espaço para os dois no comando da campanha de Alexandre Padilha ao governo do Estado.
Novos... A Prefeitura de São Paulo abriu procedimento para encerrar o contrato de concessão do serviço de inspeção veicular no município, operado pela Controlar e investigado pelo Ministério Público, e pretende lançar uma nova licitação em outubro.
... ares O contrato deve ser assinado em março, segundo a Secretaria do Verde. Devem ser inspecionados 1,2 milhão de carros por ano. O serviço será pago pelo município, a um custo máximo de R$ 45 por veículo.
Choque 1 O Ministério de Minas e Energia comunicou ao governo paulista que o leilão da usina hidrelétrica Três Irmãos, hoje operada pelo Estado, acontecerá até o fim de janeiro de 2014.
Choque 2 A disputa estava prevista para setembro e chegou a ser adiada para março. A antecipação foi informada ontem ao secretário de Energia paulista, José Aníbal, pelo ministro Edison Lobão.
RSVP O PRB convidou o governador Geraldo Alckmin (PSDB) para o encontro regional do partido, que acontece hoje em São Paulo. Já os petistas, que adotaram cautela na busca pelo apoio do partido para a disputa de 2014, não devem aparecer.
Repeteco A um ano da eleição, o governo Alckmin vai adotar um novo slogan em suas campanhas publicitárias: "É com trabalho sério que São Paulo avança". Uma variação da frase foi usada para divulgar ações na saúde.
Na cola O vice-procurador-geral eleitoral, Eugênio Aragão, recomendou que o TSE acolha o pedido feito pelo PT para punir Aécio e o PSDB pela propaganda partidária tucana do primeiro semestre, acusada de promover a figura do mineiro.
com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN
tiroteio
"O Brasil já está bolado com Dilma e ela apela para o marketing explícito. Pelo menos em algo ela acerta: seu governo é uma piada."
DE RONALDO CAIADO (GO), líder do DEM na Câmara, sobre a interação da presidente com seu perfil fake no Twitter, a 'Dilma Bolada', ontem.
contraponto
Nação sulista
Durante sabatina do novo embaixador brasileiro no Paraguai, o senador Luiz Henrique (PMDB-SC) destacou a cooperação que seu Estado, Paraná e Rio Grande do Sul mantêm com o país vizinho.
--Esses três países podem contribuir muito nessa tarefa de propiciar ao Paraguai uma ascensão ao desenvolvimento --disse, se referindo aos Estados do Sul do país.
A gaúcha Ana Amélia (PP), que presidia a sessão, aproveitou o ato falho e reforçou:
--O senhor fala que são três os países amigos dada a relevância que os Estados do Sul têm nessa relação, né?
O PDT ingressará na semana que vem com recurso no STF (Supremo Tribunal Federal) para que deputados que ingressarem no Solidariedade não possam levar tempo de TV do partido. Entre os argumentos está a suspeita de fraude na coleta de assinaturas de apoio à nova legenda. Avisado por Carlos Lupi, o Planalto acompanha a manobra, que pode afetar não apenas a sigla oposicionista de Paulinho da Força, mas também o Pros, provável destino de governistas como Cid Gomes (CE).
Périplo O prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio, esteve com Lupi ontem, no Rio. O presidente do PDT convidou o grupo de Cid a se filiar à legenda. Hoje, o governador do Ceará conversa com o Pros e, na terça-feira, define para que sigla ele e os aliados vão.
Occupy Marina Silva convocou cerca de cem membros da executiva da Rede para vigília em Brasília a partir de terça-feira. A ideia é que o grupo lote a plateia do TSE quando o pedido de registro do partido for votado.
#FF A reestreia de Dilma Rousseff no Twitter ontem, cercada de uma megaoperação de marketing, fez com que o perfil da presidente ganhasse 15 mil novos seguidores em apenas seis horas.
Lastro Em entrevista ao "É Notícia", da RedeTV!, que vai ao ar amanhã, Aécio Neves citou a proximidade com Armínio Fraga. Ao falar sobre risco de crise econômica em 2015, disse que, para o ex-presidente do Banco Central, a vitória do PSDB melhoraria a imagem externa do Brasil.
Dividida 1 Os painéis do lançamento da candidatura de Emídio de Souza à presidência do PT paulista, com fotos de lideranças do partido, excluíram o atual presidente da sigla, Edinho Silva.
Dividida 2 A omissão foi lida por militantes como sinal de que não haverá espaço para os dois no comando da campanha de Alexandre Padilha ao governo do Estado.
Novos... A Prefeitura de São Paulo abriu procedimento para encerrar o contrato de concessão do serviço de inspeção veicular no município, operado pela Controlar e investigado pelo Ministério Público, e pretende lançar uma nova licitação em outubro.
... ares O contrato deve ser assinado em março, segundo a Secretaria do Verde. Devem ser inspecionados 1,2 milhão de carros por ano. O serviço será pago pelo município, a um custo máximo de R$ 45 por veículo.
Choque 1 O Ministério de Minas e Energia comunicou ao governo paulista que o leilão da usina hidrelétrica Três Irmãos, hoje operada pelo Estado, acontecerá até o fim de janeiro de 2014.
Choque 2 A disputa estava prevista para setembro e chegou a ser adiada para março. A antecipação foi informada ontem ao secretário de Energia paulista, José Aníbal, pelo ministro Edison Lobão.
RSVP O PRB convidou o governador Geraldo Alckmin (PSDB) para o encontro regional do partido, que acontece hoje em São Paulo. Já os petistas, que adotaram cautela na busca pelo apoio do partido para a disputa de 2014, não devem aparecer.
Repeteco A um ano da eleição, o governo Alckmin vai adotar um novo slogan em suas campanhas publicitárias: "É com trabalho sério que São Paulo avança". Uma variação da frase foi usada para divulgar ações na saúde.
Na cola O vice-procurador-geral eleitoral, Eugênio Aragão, recomendou que o TSE acolha o pedido feito pelo PT para punir Aécio e o PSDB pela propaganda partidária tucana do primeiro semestre, acusada de promover a figura do mineiro.
com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN
tiroteio
"O Brasil já está bolado com Dilma e ela apela para o marketing explícito. Pelo menos em algo ela acerta: seu governo é uma piada."
DE RONALDO CAIADO (GO), líder do DEM na Câmara, sobre a interação da presidente com seu perfil fake no Twitter, a 'Dilma Bolada', ontem.
contraponto
Nação sulista
Durante sabatina do novo embaixador brasileiro no Paraguai, o senador Luiz Henrique (PMDB-SC) destacou a cooperação que seu Estado, Paraná e Rio Grande do Sul mantêm com o país vizinho.
--Esses três países podem contribuir muito nessa tarefa de propiciar ao Paraguai uma ascensão ao desenvolvimento --disse, se referindo aos Estados do Sul do país.
A gaúcha Ana Amélia (PP), que presidia a sessão, aproveitou o ato falho e reforçou:
--O senhor fala que são três os países amigos dada a relevância que os Estados do Sul têm nessa relação, né?
Descaso ambiental - ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 28/09
A ministra Izabella Teixeira (Meio Ambiente) e o presidente do Ibama, Volney Zanardi, estão perdendo a paciência com a Eletronuclear. Há dois anos, Angra II foi notificada sobre a mortandade de tartarugas, que são dragadas e trituradas nas águas usadas para resfriar as turbinas. A Usina não adotou nenhuma medida de proteção e pode ter seu funcionamento suspenso.
Fim da bandalheira
O presidente do Senado, Renan Calheiros
(PMDB), colocará em votação, logo depois do dia 5 de outubro, o projeto que restringe a criação de partidos. Ele já foi aprovado na Câmara e seu texto impede a transferência do tempo de TV e do fundo partidário de um partido constituído para outro novo. Isso é o que está ocorrendo agora. Quem entra nas novas legendas leva junto grana e 2’34 segundos de TV. Quando a proposta estava para ser votada no Senado, o STF concedeu liminar a pedido do PSB e suspendeu a votação. Depois disso, mesmo liberado pelo STF, Renan segurou a votação para não ser acusado de agir contra a criação da Rede, partido de Marina Silva.
“A pesquisa é irrelevante. A população não está nem aí.
A presidente Dilma já tinha falado em rede nacional e só depois foi exibido o programa do PSDB”
Marcus Pestana
Presidente do PSDB de Minas e deputado sobre pesquisa Ibope
Linha de corte
O PMDB do Senado debate apresentar emenda constitucional criando a cláusula de barreira. Se for de 5%, como era na lei de 1995, a Câmara só teria oito partidos. Entre os excluídos: o PSOL de Chico Alencar (RJ) e o PV de Alfredo Sirkis (RJ).
Getulio
O ex-presidente Lula
gostou tanto do primeiro volume da biografia de Getulio Vargas, que convidou o escritor Lira Neto para visitá-lo no Instituto Lula. Eles tiveram uma longa conversa sobre a personalidade de Getúlio e da política ao longo da história. Durante o encontro, Lira Neto entregou o segundo volume, que estava para ser lançado.
Contrabando
Integrantes da bancada do PMDB, atendendo aos conselhos regionais de Medicina, querem embutir no projeto do programa Mais Médicos a criação de plano de carreira para a categoria.
Procura-se um partido
No fim de semana, o governador Cid Gomes e seu irmão, o ex-ministro Ciro Gomes, decidem o futuro partidário de seu grupo político. Mas ontem, no Rio, o prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio, esteve com o presidente do PDT, Carlos Lupi. O socialista ouviu do pedetista que eles seriam bem-vindos e que as portas de seu partido estavam escancaradas para recebê-los.
A preferência
Os articuladores políticos do Planalto estão torcendo para que Cid e Ciro Gomes (ex-PSB) façam a opção de ingressar no PDT. Para limpar o terreno, assessores do governo tiveram uma boa conversa com o presidente do PDT, Carlos Lupi.
O marqueteiro
O deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) está eufórico com seu feito de marketing na visita ao DOI-Codi. Contou que só deu “um empurrãozinho” no senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP).
OSMAR DIAS E BENITO GAMA são vice-presidentes do Banco do Brasil e não da Caixa Econômica Federal, como publicado ontem nesta coluna.
Fim da bandalheira
O presidente do Senado, Renan Calheiros
(PMDB), colocará em votação, logo depois do dia 5 de outubro, o projeto que restringe a criação de partidos. Ele já foi aprovado na Câmara e seu texto impede a transferência do tempo de TV e do fundo partidário de um partido constituído para outro novo. Isso é o que está ocorrendo agora. Quem entra nas novas legendas leva junto grana e 2’34 segundos de TV. Quando a proposta estava para ser votada no Senado, o STF concedeu liminar a pedido do PSB e suspendeu a votação. Depois disso, mesmo liberado pelo STF, Renan segurou a votação para não ser acusado de agir contra a criação da Rede, partido de Marina Silva.
“A pesquisa é irrelevante. A população não está nem aí.
A presidente Dilma já tinha falado em rede nacional e só depois foi exibido o programa do PSDB”
Marcus Pestana
Presidente do PSDB de Minas e deputado sobre pesquisa Ibope
Linha de corte
O PMDB do Senado debate apresentar emenda constitucional criando a cláusula de barreira. Se for de 5%, como era na lei de 1995, a Câmara só teria oito partidos. Entre os excluídos: o PSOL de Chico Alencar (RJ) e o PV de Alfredo Sirkis (RJ).
Getulio
O ex-presidente Lula
gostou tanto do primeiro volume da biografia de Getulio Vargas, que convidou o escritor Lira Neto para visitá-lo no Instituto Lula. Eles tiveram uma longa conversa sobre a personalidade de Getúlio e da política ao longo da história. Durante o encontro, Lira Neto entregou o segundo volume, que estava para ser lançado.
Contrabando
Integrantes da bancada do PMDB, atendendo aos conselhos regionais de Medicina, querem embutir no projeto do programa Mais Médicos a criação de plano de carreira para a categoria.
Procura-se um partido
No fim de semana, o governador Cid Gomes e seu irmão, o ex-ministro Ciro Gomes, decidem o futuro partidário de seu grupo político. Mas ontem, no Rio, o prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio, esteve com o presidente do PDT, Carlos Lupi. O socialista ouviu do pedetista que eles seriam bem-vindos e que as portas de seu partido estavam escancaradas para recebê-los.
A preferência
Os articuladores políticos do Planalto estão torcendo para que Cid e Ciro Gomes (ex-PSB) façam a opção de ingressar no PDT. Para limpar o terreno, assessores do governo tiveram uma boa conversa com o presidente do PDT, Carlos Lupi.
O marqueteiro
O deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) está eufórico com seu feito de marketing na visita ao DOI-Codi. Contou que só deu “um empurrãozinho” no senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP).
OSMAR DIAS E BENITO GAMA são vice-presidentes do Banco do Brasil e não da Caixa Econômica Federal, como publicado ontem nesta coluna.
Vai ser difícil explicar em casa - LEONARDO CAVALCANTI
CORREIO BRAZILIENSE - 28/09
Revelações mostram os bastidores da criação do Pros e do Solidariedade, o que apenas contrasta com a ideia legítima de Marina de ter um partido político. Para a ex-ministra, entretanto, não vale ficar no papel de vítima caso a Rede seja vetada na terça-feira
Se Marina Silva mantém de fato uma sacola reciclável com pelo menos 20 milhões de votos - uma espécie de capital eleitoral da campanha de 2010 -, vai ser difícil explicar para um número expressivo de pessoas o eventual veto da Rede Sustentabilidade pelo Tribunal Superior Eleitoral(TSE) na próxima terça-feira. Principalmente com as declarações cínicas de dirigentes do Pros e do Solidariedade, depois de ganharem o direito de criar um partido. A lógica da legitimidade da ex-ministra em entrar na corrida do próximo ano é inquestionável, por mais que os motivos técnicos e jurídicos indiquem uma desorganização da pretensa legenda em conseguir validar as assinaturas necessárias.
Ao longo da última semana, sete repórteres da editoria de Política do Correio se revezaram na busca de informações sobre as duas legendas, o Pros e o Solidariedade. Enquanto os integrantes do Solidariedade comemoravam o "roubo" de 23 parlamentares de legendas estabelecidas a partir da promessa de gestão do Fundo Partidário - leia-se dinheiro público -, o Pros anunciava em alto e bom som a intricada formação do partido. Em entrevista a Paulo de Tarso Lyra, o presidente de honra do Pros, Henrique José Pinto, foi mais do que claro: "A ideia desse partido surgiu de uma meia dúzia de doido (sic), para entrar numa empreitada dessa, sem dinheiro", disse ele, que foi candidato a vereador em Planaltina de Goiás.
Como se não parecesse satisfeito com a declaração acima, Henrique José continuou: "É uma meia dúzia de caboclo (sic) que não tinha o que fazer e sem expectativa de vida e aí se meteu nessa história que deu certo. A melhor definição é essa mesmo". Pois bem, caro leitor, quando você estiver sem expectativa de vida, forme um partido, e acabe com qualquer chance de uma legenda com caráter ideológico ou mesmo que possa encarar uma causa política legítima. Tudo só piora quando se descobre que o PR, de Valdemar Costa Neto, condenado por envolvimento no escândalo do mensalão, cedeu sala para o Pros fazer reuniões políticas com deputados e senadores, como mostra reportagem da página 3 da edição de hoje.
A cada dia, novas revelações sobre o Pros e o Solidariedade apenas reforçam o contraste com a Rede, de Marina. Mas o mundo real nem sempre - ou quase nunca - combina com legitimidade política.
A "coitadinha"
Tudo que Marina não precisa a partir de agora é ficar com a marca da coitadinha, injustiçada pelos poderosos. Não faz muito tempo um projeto gestado pelos governistas tentava inviabilizar a criação de partidos, a partir da impossibilidade de legendas conseguirem levar, com os deputados federais cooptados, o tempo de tevê e os recursos do Fundo Partidário. Era um golpe contra Marina.
A grita em favor da ex-senadora foi tamanha que o texto acabou solenemente esquecido no Congresso. O problema é que, ao contrário do imaginado, Marina deve acabar não confirmando a Rede Sustentabilidade por problemas internos da própria legenda para validar as assinaturas. E, com o projeto que vetava o balcão de negócio engavatado, os dirigentes do Pros e do Solidariedade conseguiram emplacar os dois partidos de aluguel de uma só vez no TSE na última noite de terça-feira.
Quando setores da sociedade, inclusive da imprensa, levantaram a voz contra o projeto que mudava as regras de criação dos partidos tentava-se corrigir uma injustiça contra Marina. Mas o que se vê é chance cada vez mais real de a Rede ficar de fora do páreo e, na prática, o que se fez foi abrir espaço para a farra das legendas e para os discursos cínicos dos donos dos novos partidos. Marina não tem motivos para ficar como vítima, mesmo perdendo a chance de registrar a Rede. Quem perde é ela.
Outro coisa
O trabalho de recapeamento das vias do Plano Piloto deve ser acompanhado de perto por quem defende as faixas de pedestre. É razoável acreditar que, entre a manutenção das ruas e a pintura da sinalização, exista um intervalo mínimo. Repita-se: mínimo. Até a manhã de ontem, entretanto, moradores de trechos da Asa Norte, ao darem sinal de passagem, eram solenemente ignorados por carros em locais sinalizados por placas. As faixas são motivo de orgulho para a população de Brasília. Qualquer pequeno descuido com a medida implementada há mais de 15 anos é um grande problema.
Ao longo da última semana, sete repórteres da editoria de Política do Correio se revezaram na busca de informações sobre as duas legendas, o Pros e o Solidariedade. Enquanto os integrantes do Solidariedade comemoravam o "roubo" de 23 parlamentares de legendas estabelecidas a partir da promessa de gestão do Fundo Partidário - leia-se dinheiro público -, o Pros anunciava em alto e bom som a intricada formação do partido. Em entrevista a Paulo de Tarso Lyra, o presidente de honra do Pros, Henrique José Pinto, foi mais do que claro: "A ideia desse partido surgiu de uma meia dúzia de doido (sic), para entrar numa empreitada dessa, sem dinheiro", disse ele, que foi candidato a vereador em Planaltina de Goiás.
Como se não parecesse satisfeito com a declaração acima, Henrique José continuou: "É uma meia dúzia de caboclo (sic) que não tinha o que fazer e sem expectativa de vida e aí se meteu nessa história que deu certo. A melhor definição é essa mesmo". Pois bem, caro leitor, quando você estiver sem expectativa de vida, forme um partido, e acabe com qualquer chance de uma legenda com caráter ideológico ou mesmo que possa encarar uma causa política legítima. Tudo só piora quando se descobre que o PR, de Valdemar Costa Neto, condenado por envolvimento no escândalo do mensalão, cedeu sala para o Pros fazer reuniões políticas com deputados e senadores, como mostra reportagem da página 3 da edição de hoje.
A cada dia, novas revelações sobre o Pros e o Solidariedade apenas reforçam o contraste com a Rede, de Marina. Mas o mundo real nem sempre - ou quase nunca - combina com legitimidade política.
A "coitadinha"
Tudo que Marina não precisa a partir de agora é ficar com a marca da coitadinha, injustiçada pelos poderosos. Não faz muito tempo um projeto gestado pelos governistas tentava inviabilizar a criação de partidos, a partir da impossibilidade de legendas conseguirem levar, com os deputados federais cooptados, o tempo de tevê e os recursos do Fundo Partidário. Era um golpe contra Marina.
A grita em favor da ex-senadora foi tamanha que o texto acabou solenemente esquecido no Congresso. O problema é que, ao contrário do imaginado, Marina deve acabar não confirmando a Rede Sustentabilidade por problemas internos da própria legenda para validar as assinaturas. E, com o projeto que vetava o balcão de negócio engavatado, os dirigentes do Pros e do Solidariedade conseguiram emplacar os dois partidos de aluguel de uma só vez no TSE na última noite de terça-feira.
Quando setores da sociedade, inclusive da imprensa, levantaram a voz contra o projeto que mudava as regras de criação dos partidos tentava-se corrigir uma injustiça contra Marina. Mas o que se vê é chance cada vez mais real de a Rede ficar de fora do páreo e, na prática, o que se fez foi abrir espaço para a farra das legendas e para os discursos cínicos dos donos dos novos partidos. Marina não tem motivos para ficar como vítima, mesmo perdendo a chance de registrar a Rede. Quem perde é ela.
Outro coisa
O trabalho de recapeamento das vias do Plano Piloto deve ser acompanhado de perto por quem defende as faixas de pedestre. É razoável acreditar que, entre a manutenção das ruas e a pintura da sinalização, exista um intervalo mínimo. Repita-se: mínimo. Até a manhã de ontem, entretanto, moradores de trechos da Asa Norte, ao darem sinal de passagem, eram solenemente ignorados por carros em locais sinalizados por placas. As faixas são motivo de orgulho para a população de Brasília. Qualquer pequeno descuido com a medida implementada há mais de 15 anos é um grande problema.
BARRA PESADA - MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 28/09
A CNV (Comissão Nacional da Verdade) entregará a grupos estaduais e municipais que também apuram crimes da ditadura um documento com orientações para a tomada de depoimentos de vítimas do regime. O manual de conduta ética recomenda "em hipótese alguma julgar a experiência narrada", "considerar o trauma" e "estar preparado(a) para amparar quem está prestando declarações".
RECORDAR É VIVER
O texto lembra que, no caso de pessoas que sofreram tortura, "falar sobre a própria experiência é revivê-la". Por isso, é preciso "estabelecer uma atmosfera de empatia e acolhimento". No espaço, deve haver água e lenços de papel. No fim, deve-se "agradecer o testemunho, a coragem e a disposição" do depoente. Os relatos colhidos pelas comissões locais auxiliarão o trabalho da CNV.
ARQUIVO
Desde maio de 2012, a CNV ouviu 348 pessoas.
PASSADO A LIMPO
Os prédios centenários da Secretaria de Estado da Justiça, no Pateo do Collegio, serão reformados. A autorização para a obra sai hoje no "Diário Oficial". Os trabalhos nos dois edifícios, projetados por Ramos de Azevedo e inaugurados em 1891, vão começar pelas fachadas, que têm problemas mais urgentes. O custo de R$ 5 milhões é bancado por empresas que fizeram acordo com o Ministério Público.
VAPT-VUPT
E a secretaria se surpreendeu com a procura por um curso virtual sobre direitos humanos que vai oferecer no mês que vem. As vagas se esgotaram em menos de 12 horas. Foram 1.600 inscritos.
SUPERPRODUÇÃO
Luan Santana lançará seu novo DVD, "O Nosso Tempo É Hoje", em 18 salas de cinema simultaneamente no país. A ação ocorre em 19 de outubro. O cantor vai aparecer em uma das salas, de surpresa, para acompanhar a projeção. A divulgação vai custar R$ 1 milhão.
RELEITURA
A Embratur vai lançar na Feira de Frankfurt cinco clássicos da literatura brasileira em inglês numa versão para e-books: "Memórias Póstumas de Brás Cubas", "Quincas Borba" e "Dom Casmurro", de Machado de Assis; "O Cortiço", de Aluísio de Azevedo, e "Iracema", de José de Alencar. É parte de estratégia para fazer do Brasil destino turístico cultural.
DUETO
Otto gravou versão de "Meu Dengo", sucesso de Roberta Miranda, e a convidou para participar. A faixa é parte da trilha do longa "Quase Samba", no qual o cantor e compositor pernambucano atua. O filme de estreia do diretor Ricardo Targino será exibido na Première Brasil do Festival do Rio, na próxima quarta.
PRA DIZER ADEUS
A velha guarda de apresentadores da MTV, entre eles, Astrid Fontenelle, Marina Person, Sarah Oliveira, Cazé Pecini, Luiz Thunderbird e Marcos Mion, estiveram na festa de despedida do canal, que passa para a TV a cabo. A humorista Dani Calabresa, a empresária Fernanda Thompson e a atriz e ex-VJ Patrícia Dejesus também foram ao evento.
GOSTO DO AÉCIO, MAS NÃO DECIDI MEU VOTO'
O cantor Samuel Rosa, 47, diz que quis denunciar a "hipocrisia" ao dizer, durante o show do Skank no Rock in Rio, que "maconha é proibido, mas mensalão pode fazer de novo, né?", referindo-se ao STF (Supremo Tribunal Federal). Após a declaração, um vídeo de 2010 em que o vocalista elogia Aécio Neves (PSDB-MG) foi recuperado e compartilhado nas redes sociais, com textos que diziam que sua fala visava ajudar o presidenciável. Nele, o músico diz que o conterrâneo "ainda tem muito a dar para o país". Rosa falou à coluna sobre a repercussão de sua manifestação.
Folha - Qual era a sua ideia ao fazer a manifestação?
Samuel Rosa - Minha intenção foi clara, [falar] das influências, da hipocrisia. Muito se falou que as pessoas têm direito a recorrer [na votação embargos infringentes pelo Supremo]. Não sei se todo brasileiro poderia recorrer de uma pena. Isso é o que grita mais. Existem certos privilégios, certas incoerências. Todo mundo se viu indignado. "E aí, [o julgamento] não valeu nada?" O brasileiro já é desconfiado por natureza. Finalmente as pessoas que cometeram algum tipo de crime estavam sendo punidas e, de repente, isso estava em xeque. "Será que vai desta vez?" E de repente não. Cabem mais recursos. Queria que isso valesse para todo brasileiro.
Pessoas que criticaram a sua fala recuperaram na internet um vídeo em que você já deu declarações favoráveis a Aécio Neves.
Eu soube disso. Eu gosto do Aécio, mas não é o momento para dizer se ele é meu candidato. Prefiro esperar um pouco mais, ver esquentar a disputa para definir. Não sou contra manifestar meu voto. Já fiz isso várias vezes. Mas prefiro só fazer isso quando eu estiver convicto. Não é o momento para eu me precipitar, falar uma coisa que eu lá na frente possa mudar de ideia. Vamos esperar um pouco aí. Nem sei se o Aécio vai sair candidato.
Você já disse que acredita que ele está preparado para ser presidente.
O Aécio? Sim.
O caso do mensalão mineiro tem que ser julgado também?
Por que não teria? A Justiça é para todos. É isso que a gente espera do país aí para a frente. Todo brasileiro acredita nessas mudanças. Eles [políticos] têm que abrir o olho. O brasileiro não está bobo não. Foi isso que a gente viu agora em junho.
E como você avalia o governo de Dilma Rousseff?
Eu acho que tem muita coisa para melhorar. O Brasil precisa mudar muito ainda. Está no caminho, mas não estou convicto de que as coisas estão andando como deveriam. Acho que são necessárias mudanças mais drásticas. Isso está claro, e não sou só eu que acho. O povo foi às ruas pedindo mudanças. E também espero uma mudança do brasileiro. Ver a consciência política se exacerbar no brasileiro me dá muita esperança.
CURTO-CIRCUITO
A exposição fotográfica "Nogas", com imagens gigantes das recentes manifestações no Brasil, será aberta hoje no Espaço Sala, às 15h, na Sé.
O designer de sapatos Alexandre Birman apresenta hoje sua coleção de primavera/verão no hotel Le Bristol, em Paris.
O Museu Lasar Segall lança hoje, às 15h, o livro "Antologia Brasil, 1890-1930: Pensamento Crítico em Fotografia", organizado por Ricardo Mendes.
O condomínio Aristo by Lindenberg, na Vila Mariana, terá sistema gratuito de empréstimo de bicicletas para os moradores.
A CNV (Comissão Nacional da Verdade) entregará a grupos estaduais e municipais que também apuram crimes da ditadura um documento com orientações para a tomada de depoimentos de vítimas do regime. O manual de conduta ética recomenda "em hipótese alguma julgar a experiência narrada", "considerar o trauma" e "estar preparado(a) para amparar quem está prestando declarações".
RECORDAR É VIVER
O texto lembra que, no caso de pessoas que sofreram tortura, "falar sobre a própria experiência é revivê-la". Por isso, é preciso "estabelecer uma atmosfera de empatia e acolhimento". No espaço, deve haver água e lenços de papel. No fim, deve-se "agradecer o testemunho, a coragem e a disposição" do depoente. Os relatos colhidos pelas comissões locais auxiliarão o trabalho da CNV.
ARQUIVO
Desde maio de 2012, a CNV ouviu 348 pessoas.
PASSADO A LIMPO
Os prédios centenários da Secretaria de Estado da Justiça, no Pateo do Collegio, serão reformados. A autorização para a obra sai hoje no "Diário Oficial". Os trabalhos nos dois edifícios, projetados por Ramos de Azevedo e inaugurados em 1891, vão começar pelas fachadas, que têm problemas mais urgentes. O custo de R$ 5 milhões é bancado por empresas que fizeram acordo com o Ministério Público.
VAPT-VUPT
E a secretaria se surpreendeu com a procura por um curso virtual sobre direitos humanos que vai oferecer no mês que vem. As vagas se esgotaram em menos de 12 horas. Foram 1.600 inscritos.
SUPERPRODUÇÃO
Luan Santana lançará seu novo DVD, "O Nosso Tempo É Hoje", em 18 salas de cinema simultaneamente no país. A ação ocorre em 19 de outubro. O cantor vai aparecer em uma das salas, de surpresa, para acompanhar a projeção. A divulgação vai custar R$ 1 milhão.
RELEITURA
A Embratur vai lançar na Feira de Frankfurt cinco clássicos da literatura brasileira em inglês numa versão para e-books: "Memórias Póstumas de Brás Cubas", "Quincas Borba" e "Dom Casmurro", de Machado de Assis; "O Cortiço", de Aluísio de Azevedo, e "Iracema", de José de Alencar. É parte de estratégia para fazer do Brasil destino turístico cultural.
DUETO
Otto gravou versão de "Meu Dengo", sucesso de Roberta Miranda, e a convidou para participar. A faixa é parte da trilha do longa "Quase Samba", no qual o cantor e compositor pernambucano atua. O filme de estreia do diretor Ricardo Targino será exibido na Première Brasil do Festival do Rio, na próxima quarta.
PRA DIZER ADEUS
A velha guarda de apresentadores da MTV, entre eles, Astrid Fontenelle, Marina Person, Sarah Oliveira, Cazé Pecini, Luiz Thunderbird e Marcos Mion, estiveram na festa de despedida do canal, que passa para a TV a cabo. A humorista Dani Calabresa, a empresária Fernanda Thompson e a atriz e ex-VJ Patrícia Dejesus também foram ao evento.
GOSTO DO AÉCIO, MAS NÃO DECIDI MEU VOTO'
O cantor Samuel Rosa, 47, diz que quis denunciar a "hipocrisia" ao dizer, durante o show do Skank no Rock in Rio, que "maconha é proibido, mas mensalão pode fazer de novo, né?", referindo-se ao STF (Supremo Tribunal Federal). Após a declaração, um vídeo de 2010 em que o vocalista elogia Aécio Neves (PSDB-MG) foi recuperado e compartilhado nas redes sociais, com textos que diziam que sua fala visava ajudar o presidenciável. Nele, o músico diz que o conterrâneo "ainda tem muito a dar para o país". Rosa falou à coluna sobre a repercussão de sua manifestação.
Folha - Qual era a sua ideia ao fazer a manifestação?
Samuel Rosa - Minha intenção foi clara, [falar] das influências, da hipocrisia. Muito se falou que as pessoas têm direito a recorrer [na votação embargos infringentes pelo Supremo]. Não sei se todo brasileiro poderia recorrer de uma pena. Isso é o que grita mais. Existem certos privilégios, certas incoerências. Todo mundo se viu indignado. "E aí, [o julgamento] não valeu nada?" O brasileiro já é desconfiado por natureza. Finalmente as pessoas que cometeram algum tipo de crime estavam sendo punidas e, de repente, isso estava em xeque. "Será que vai desta vez?" E de repente não. Cabem mais recursos. Queria que isso valesse para todo brasileiro.
Pessoas que criticaram a sua fala recuperaram na internet um vídeo em que você já deu declarações favoráveis a Aécio Neves.
Eu soube disso. Eu gosto do Aécio, mas não é o momento para dizer se ele é meu candidato. Prefiro esperar um pouco mais, ver esquentar a disputa para definir. Não sou contra manifestar meu voto. Já fiz isso várias vezes. Mas prefiro só fazer isso quando eu estiver convicto. Não é o momento para eu me precipitar, falar uma coisa que eu lá na frente possa mudar de ideia. Vamos esperar um pouco aí. Nem sei se o Aécio vai sair candidato.
Você já disse que acredita que ele está preparado para ser presidente.
O Aécio? Sim.
O caso do mensalão mineiro tem que ser julgado também?
Por que não teria? A Justiça é para todos. É isso que a gente espera do país aí para a frente. Todo brasileiro acredita nessas mudanças. Eles [políticos] têm que abrir o olho. O brasileiro não está bobo não. Foi isso que a gente viu agora em junho.
E como você avalia o governo de Dilma Rousseff?
Eu acho que tem muita coisa para melhorar. O Brasil precisa mudar muito ainda. Está no caminho, mas não estou convicto de que as coisas estão andando como deveriam. Acho que são necessárias mudanças mais drásticas. Isso está claro, e não sou só eu que acho. O povo foi às ruas pedindo mudanças. E também espero uma mudança do brasileiro. Ver a consciência política se exacerbar no brasileiro me dá muita esperança.
CURTO-CIRCUITO
A exposição fotográfica "Nogas", com imagens gigantes das recentes manifestações no Brasil, será aberta hoje no Espaço Sala, às 15h, na Sé.
O designer de sapatos Alexandre Birman apresenta hoje sua coleção de primavera/verão no hotel Le Bristol, em Paris.
O Museu Lasar Segall lança hoje, às 15h, o livro "Antologia Brasil, 1890-1930: Pensamento Crítico em Fotografia", organizado por Ricardo Mendes.
O condomínio Aristo by Lindenberg, na Vila Mariana, terá sistema gratuito de empréstimo de bicicletas para os moradores.
Os inaceitáveis - MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 28/09
A cada Pnad o Brasil tem um sentimento misto: há avanços a comemorar e velhos atrasos de que se envergonhar. Desta vez, foi pior: o Brasil retrocedeu em alguns pontos. Na educação, o quadro é sempre ruim, mas o País estava melhorando um pouco a cada ano. Agora, houve um aumento do analfabetismo. Havia 300 mil analfabetos a mais no Brasil em 2012 em relação a 2011.
E não é estoque, é fluxo. O Brasil tem um estoque, como dizem os economistas, muito alto de analfabetos. São as pessoas mais velhas que, em décadas anteriores, foram vítimas da pouca preocupação que a educação sempre teve no País. Mas, nos últimos 20 anos, o País fez um esforço de ampliar a escolarização, programa que foi seguido ano após anos. Esse esforço tardio, mas meritório, de universalização da educação do primeiro grau foi muito bem sucedido.
O aumento do porcentual e do número absoluto de analfabetos mostra descuido recente. Há analfabetismo em jovens, que foram vítimas de desatenção nos últimos anos. E isso é inaceitável. A taxa de analfabetismo vinha caindo lentamente, mas era ainda uma fonte da nossa vergonha. De 2011 para 2012 aumentou de 12,9 milhões para 13,2 milhões o número absoluto de analfabetos.
O analfabetismo no Nordeste aumentou de 16,9% para 17,4%. O aumento de 0,5 ponto porcentual no Nordeste foi considerado pelo IBGE como “estatisticamente pouco significativo”. Discordo inteiramente. Qualquer piora no analfabetismo é significativa. Até por razões vegetativas o número tende a melhorar. Se há piora é porque estão entrando jovens no grupo dos analfabetos.
No País, como um todo, o aumento foi de 8,6% para 8,7%. Mas esse é um índice em que estamos obrigados a melhorar. A demografia ajuda a reduzir o estoque. Não podemos permitir que o fluxo de analfabetos continue sendo alimentado.
Não foi o único resultado ruim dessa Pnad, mas é o mais escandaloso. Houve um ligeiro aumento da desigualdade. Ela vinha caindo um pouco a cada ano: um fenômeno recente e alvissareiro. Mesmo assim, o Brasil continua sendo um dos países mais desiguais do mundo. Desta vez, a desigualdade parou de cair e começou a subir ligeiramente. Há na área social alguns bons dados para compensar, como a queda do desemprego, aumento da renda, aumento do acesso a bens de consumo duráveis. Há fatos a comemorar. E há as vergonhas de sempre: 42,9% dos domicílios sem esgoto no Brasil. O saneamento continua sendo uma das marcas do nosso atraso.
O trabalho infantil caiu, mas ainda assim o Brasil tem 3,5 milhões de crianças e adolescentes de 5 a 17 anos trabalhando. De 5 a 9 anos há 81 mil crianças trabalhando; de 10 a 13 anos são 473 mil. O número reduziu mas é sempre um espanto que permaneça sendo assim.
Aumentou a desigualdade de salários entre homens e mulheres, outro item em que temos que reduzir o hiato um pouco a cada ano. Só a melhora constante é aceitável. O rendimento médio da mulher saiu de 73,7% do salário do homem para 72,9% em um ano. O normal seria que a redução continuasse até pelo fato de as mulheres terem maior escolaridade e serem maioria no ensino universitário.
A Pnad é apenas um retrato que o País tem a cada ano do seu quadro social e já nos acostumamos com a lista de mazelas e de avanços, mas o que aconteceu nessa Pnad foi grave. O País estagnou em áreas em que estava avançando e piorou onde tudo já está atrasado demais. Os indicadores educacionais têm de melhorar porque são todos muito ruins. É natural que o Brasil melhore nos indicadores sociais; o antinatural, o inaceitável é qualquer retrocesso.
A cada Pnad o Brasil tem um sentimento misto: há avanços a comemorar e velhos atrasos de que se envergonhar. Desta vez, foi pior: o Brasil retrocedeu em alguns pontos. Na educação, o quadro é sempre ruim, mas o País estava melhorando um pouco a cada ano. Agora, houve um aumento do analfabetismo. Havia 300 mil analfabetos a mais no Brasil em 2012 em relação a 2011.
E não é estoque, é fluxo. O Brasil tem um estoque, como dizem os economistas, muito alto de analfabetos. São as pessoas mais velhas que, em décadas anteriores, foram vítimas da pouca preocupação que a educação sempre teve no País. Mas, nos últimos 20 anos, o País fez um esforço de ampliar a escolarização, programa que foi seguido ano após anos. Esse esforço tardio, mas meritório, de universalização da educação do primeiro grau foi muito bem sucedido.
O aumento do porcentual e do número absoluto de analfabetos mostra descuido recente. Há analfabetismo em jovens, que foram vítimas de desatenção nos últimos anos. E isso é inaceitável. A taxa de analfabetismo vinha caindo lentamente, mas era ainda uma fonte da nossa vergonha. De 2011 para 2012 aumentou de 12,9 milhões para 13,2 milhões o número absoluto de analfabetos.
O analfabetismo no Nordeste aumentou de 16,9% para 17,4%. O aumento de 0,5 ponto porcentual no Nordeste foi considerado pelo IBGE como “estatisticamente pouco significativo”. Discordo inteiramente. Qualquer piora no analfabetismo é significativa. Até por razões vegetativas o número tende a melhorar. Se há piora é porque estão entrando jovens no grupo dos analfabetos.
No País, como um todo, o aumento foi de 8,6% para 8,7%. Mas esse é um índice em que estamos obrigados a melhorar. A demografia ajuda a reduzir o estoque. Não podemos permitir que o fluxo de analfabetos continue sendo alimentado.
Não foi o único resultado ruim dessa Pnad, mas é o mais escandaloso. Houve um ligeiro aumento da desigualdade. Ela vinha caindo um pouco a cada ano: um fenômeno recente e alvissareiro. Mesmo assim, o Brasil continua sendo um dos países mais desiguais do mundo. Desta vez, a desigualdade parou de cair e começou a subir ligeiramente. Há na área social alguns bons dados para compensar, como a queda do desemprego, aumento da renda, aumento do acesso a bens de consumo duráveis. Há fatos a comemorar. E há as vergonhas de sempre: 42,9% dos domicílios sem esgoto no Brasil. O saneamento continua sendo uma das marcas do nosso atraso.
O trabalho infantil caiu, mas ainda assim o Brasil tem 3,5 milhões de crianças e adolescentes de 5 a 17 anos trabalhando. De 5 a 9 anos há 81 mil crianças trabalhando; de 10 a 13 anos são 473 mil. O número reduziu mas é sempre um espanto que permaneça sendo assim.
Aumentou a desigualdade de salários entre homens e mulheres, outro item em que temos que reduzir o hiato um pouco a cada ano. Só a melhora constante é aceitável. O rendimento médio da mulher saiu de 73,7% do salário do homem para 72,9% em um ano. O normal seria que a redução continuasse até pelo fato de as mulheres terem maior escolaridade e serem maioria no ensino universitário.
A Pnad é apenas um retrato que o País tem a cada ano do seu quadro social e já nos acostumamos com a lista de mazelas e de avanços, mas o que aconteceu nessa Pnad foi grave. O País estagnou em áreas em que estava avançando e piorou onde tudo já está atrasado demais. Os indicadores educacionais têm de melhorar porque são todos muito ruins. É natural que o Brasil melhore nos indicadores sociais; o antinatural, o inaceitável é qualquer retrocesso.
Exagero e desinformação - CELSO MING
O Estado de S.Paulo - 28/09
O exagero também faz parte do processo de tomada de consciência. O narigão de Pinóquio, as histórias infantis de bruxas cruéis e de lobos maus, as caricaturas que saem todos os dias nos jornais, os amores inconsequentes de dom Juan, os filmes de Tarantino, o mictório (a fonte) de Duchamp - tudo isso e tanta coisa mais levam doses de exagero, cujo objetivo é realçar verdades e empurrá-las para quem se recusa a vê-las.
Por isso, não fazem sentido críticas de gente do governo que vê exagero e má vontade na revista The Economist quando, em matéria de capa desta semana (veja reprodução), escracha as mazelas da economia brasileira. Ou, como não gostou do que leu, a presidente Dilma tuitar que os editores da Economist são "desinformados".
Independentemente do viés pedagógico, quem exagera mais: o governo brasileiro ou a revista The Economist? Na semana passada, por exemplo, a presidente Dilma, os ministros Guido Mantega e Fernando Pimentel e o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, assumiram o papel de caixeiros viajantes e alardearam diante de potenciais investidores internacionais qualidades pouco reconhecidas da economia brasileira.
Não foi lá muito sincera a presidente Dilma em Nova York, quando afirmou que o governo brasileiro nunca desrespeitou contratos, quando, no entanto, fez o que fez com as regras do setor elétrico, ou quando obrigou governadores e prefeitos a cancelar aumentos de pedágio ou de tarifas de transporte público previstos em contrato. Ou quando jura responsabilidade na administração das contas públicas, mas transfere mais de R$ 400 bilhões (ou 9,0% do PIB) em títulos do Tesouro para que o BNDES e a Caixa Econômica Federal deem cobertura a programas dos quais o governo não consegue dar conta porque gasta demais. Ou quando, apesar disso, esmerilha a credibilidade do Banco Central ao obrigar seus dirigentes - e eles se prestam a isso - a apagar dos seus documentos a afirmação de que a política fiscal do governo é expansionista.
Por acaso, não é verdade que o crescimento econômico do Brasil é tão insustentável quanto voo de galinha? Que o governo brasileiro investe apenas 1,5% do PIB em obras de infraestrutura, enquanto a média mundial é de 3,8%? Que o estoque de infraestrutura no Brasil mal alcança 16%, quando grandes economias apresentam até 71% do PIB?
Não é verdade que as obras públicas não decolam, que a transposição do Rio São Francisco é um desperdício e não termina nunca, que a construção da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, começou em 2007 orçada em R$ 2,5 bilhões, até agora não terminou, já está em R$ 17 bilhões e não se sabe onde vai parar?
Não é verdade que a carga tributária atinge até 58% dos salários? Não é verdade que o governo exige que a Petrobrás invista US$ 236 bilhões em quatro anos e, por puro populismo, desidrata seu caixa com achatamento das tarifas de combustíveis que, de quebra, esmagam com dumpings o setor do etanol?
É por coisas assim que ficou mais difícil convencer os investidores a apostar no futuro do Brasil. Ou seria isso exagero e desinformação?
O exagero também faz parte do processo de tomada de consciência. O narigão de Pinóquio, as histórias infantis de bruxas cruéis e de lobos maus, as caricaturas que saem todos os dias nos jornais, os amores inconsequentes de dom Juan, os filmes de Tarantino, o mictório (a fonte) de Duchamp - tudo isso e tanta coisa mais levam doses de exagero, cujo objetivo é realçar verdades e empurrá-las para quem se recusa a vê-las.
Por isso, não fazem sentido críticas de gente do governo que vê exagero e má vontade na revista The Economist quando, em matéria de capa desta semana (veja reprodução), escracha as mazelas da economia brasileira. Ou, como não gostou do que leu, a presidente Dilma tuitar que os editores da Economist são "desinformados".
Independentemente do viés pedagógico, quem exagera mais: o governo brasileiro ou a revista The Economist? Na semana passada, por exemplo, a presidente Dilma, os ministros Guido Mantega e Fernando Pimentel e o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, assumiram o papel de caixeiros viajantes e alardearam diante de potenciais investidores internacionais qualidades pouco reconhecidas da economia brasileira.
Não foi lá muito sincera a presidente Dilma em Nova York, quando afirmou que o governo brasileiro nunca desrespeitou contratos, quando, no entanto, fez o que fez com as regras do setor elétrico, ou quando obrigou governadores e prefeitos a cancelar aumentos de pedágio ou de tarifas de transporte público previstos em contrato. Ou quando jura responsabilidade na administração das contas públicas, mas transfere mais de R$ 400 bilhões (ou 9,0% do PIB) em títulos do Tesouro para que o BNDES e a Caixa Econômica Federal deem cobertura a programas dos quais o governo não consegue dar conta porque gasta demais. Ou quando, apesar disso, esmerilha a credibilidade do Banco Central ao obrigar seus dirigentes - e eles se prestam a isso - a apagar dos seus documentos a afirmação de que a política fiscal do governo é expansionista.
Por acaso, não é verdade que o crescimento econômico do Brasil é tão insustentável quanto voo de galinha? Que o governo brasileiro investe apenas 1,5% do PIB em obras de infraestrutura, enquanto a média mundial é de 3,8%? Que o estoque de infraestrutura no Brasil mal alcança 16%, quando grandes economias apresentam até 71% do PIB?
Não é verdade que as obras públicas não decolam, que a transposição do Rio São Francisco é um desperdício e não termina nunca, que a construção da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, começou em 2007 orçada em R$ 2,5 bilhões, até agora não terminou, já está em R$ 17 bilhões e não se sabe onde vai parar?
Não é verdade que a carga tributária atinge até 58% dos salários? Não é verdade que o governo exige que a Petrobrás invista US$ 236 bilhões em quatro anos e, por puro populismo, desidrata seu caixa com achatamento das tarifas de combustíveis que, de quebra, esmagam com dumpings o setor do etanol?
É por coisas assim que ficou mais difícil convencer os investidores a apostar no futuro do Brasil. Ou seria isso exagero e desinformação?
Alternativa sensata - PAULO VALLE PEREIRA NETO
O GLOBO - 28/09
Caso seja aprovado, o Novo Marco da Mineração, em tramitação no Congresso Nacional, irá causar um apagão mineral . Serão inevitáveis uma fuga de investidores e a desestabilização e o desmantelamento do setor de mineração nas áreas de pesquisa e desenvolvimento de novos depósitos, o que resultará em um efeito cascata com reflexo na diminuição da produção brasileira por décadas.
Os pequenos e médios empreendedores correm o risco de serem eliminados do mercado por não terem perfil e condições de participarem das rodadas de licitação, que serão implementadas a partir do novo marco. Esses empreendedores também não poderão competir com grandes grupos nacionais e estrangeiros. Governos de outros países, principalmente da China, aguardam a oportunidade de negociar diretamente com o governo, para ter acesso a largas porções do subsolo brasileiro, de uma só vez, por períodos de até 40 anos.
O governo preparou a portas fechadas , durante mais de quatro anos, o Novo Marco da Mineração que irá, na prática, monopolizar a mineração do país e instituir o regime de licitação, como se faz hoje nos moldes do monopólio do petróleo. Trata-se de um erro fatal do governo equiparar a indústria da mineração com a de óleo e gás e de serviços na área de infraestrutura. O modelo de concessões utilizados nestes setores, se aplicado à mineração, será um atraso sem precedentes. A última vez que o modelo de concessões foi utilizado na mineração foi durante o período colonial.
Ao encaminhar o Projeto de Lei, o governo determinou que o congresso precisa votar e aprovar o Novo Marco da Mineração em regime de urgência, que estabelece um prazo de 90 dias, ou a pauta do Congresso será trancada, como se o Congresso tivesse apenas a obrigação de referendar o projeto sem o tempo hábil necessário para discuti-lo.
A comissão especial encarregada de analisar o projeto cumpre uma maratona de audiências públicas, mas, pelo que se observa, o pacote já estaria negociado e fechado , e apenas modificações tópicas serão incorporadas.
Tem ganhado força entre parlamentares a ideia de dividir o projeto do Novo Marco em três partes, acelerando a criação da nova agência de mineração e o aumento dos royalties, que seriam votados em regime de urgência, e estender a discussão sobre as mudanças na legislação do Novo Marco.
Esta nos parece uma alternativa sensata.
Os 60 anos da Petrobrás - ADRIANO PIRES
O ESTADÃO - 28/09
No dia 3 de outubro a Petrobrás completa 60 anos. No seu jubileu de diamante, dois fatos chamam a atenção. Durante os 45 anos em que exerceu o monopólio e nos últimos 15 anos, quando passou a conviver com o mercado aberto, a estatal nunca foi tão maltratada pelo governo, seu acionista majoritário. O segundo fato é a notável capacidade que a estatal adquiriu ao longo dos anos de desenvolver tecnologias de exploração em águas profundas, o que a fez se tornar e continuar a ser líder mundial.
Desde o início do governo PT, a Petrobrás tem sido usada e abusada pelo seu acionista majoritário com objetivos políticos, não permitindo decisões baseadas na racionalidade empresarial, o que tem causado imensos prejuízos aos acionistas minoritários, em particular aos trabalhadores que aplicaram seu FGTS na compra de ações da empresa. Exemplos não faltam. O governo obriga a empresa a manter os preços domésticos defasados em relação ao mercado internacional, com o objetivo de controlar a inflação e incentivar a atividade econômica. Desde 2003 a defasagem dos preços da gasolina e do diesel promoveu perdas de mais de R$ 40 bilhões. Em 2013 a estatal tem perdido algo em torno de R$ 1 bilhão mensal só com a importação de gasolina e diesel. Paralelamente, o crescimento da demanda incentivado pelo preço artificialmente baixo levou a empresa a importar grandes volumes de gasolina e diesel. Entre o 1.º trimestre de 2010 e o 2.º trimestre de 2013, a área de abastecimento da Petrobrás já acumula prejuízo de cerca de R$ 36 bilhões, e as importações de gasolina cresceram 395%. Por causa disso, a empresa tem tido dificuldade para cumprir seus cronogramas de investimento. O resultado tem sido o atraso e a revisão de vários projetos e a queda na produção da empresa, que em 2013 deve ser de 2%, voltando aos níveis observados em 2009. Três anos perdidos.
Outro caso emblemático é a construção da Refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Pernambuco, refletindo problemas relativos à gestão de projetos de construção de refinarias pela Petrobrás. Ao longo da construção, o custo previsto do projeto se multiplicou por dez, de US$ 2,3 bilhões para US$ 20,1 bilhões, e a sócia venezuelana PDVSA até agora não deu o ar da sua graça. Isso sem falar na compra da refinaria de Pasadena, nos EUA, por um preço ainda não explicado de forma transparente.
Como resultado de todos esses desmandos, a lucratividade da empresa desabou, levando ao aumento do seu endividamento. Apesar de em 2010 ter realizado a maior capitalização da história, que gerou a injeção de R$ 45 bilhões em seu caixa, a empresa está hoje perigosamente perto dos níveis que fariam com que perdesse seu status de investment grade. O seu endividamento cresceu 210% após a capitalização e suas relações dívida líquida/Ebtida e dívida líquida/capital líquido se encontram em 2,9x e 34%, respectivamente, mesmo com a empresa se utilizando de "contabilidade criativa", que reduziu 70% do impacto da desvalorização cambial sobre a sua dívida. Agora a saída encontrada é o plano de desinvestimento, pelo qual a empresa está vendendo ativos como metade dos campos de petróleo que possuía na África. O próximo passo poderá ser a promoção de uma nova capitalização após as eleições de outubro de 2014, o que provocará uma diluição maior dos minoritários, aprofundando o movimento de estatização da empresa. Tudo isso compromete o futuro da Petrobrás.
Nos próximos aniversários, é preciso que comemoremos a volta da Petrobrás ao caminho da excelência e da lucratividade e, para que isso aconteça, o acionista majoritário deve deixar de ser inimigo e passar a ter um novo relacionamento com a empresa. Esse novo relacionamento tem de estar baseado no respeito pelo acionista minoritário, no retorno do planejamento de longo prazo e no abandono do atual intervencionismo de curtíssimo prazo, que vem causando enormes prejuízos à empresa e a toda a sociedade brasileira. Só assim a Petrobrás poderá manter-se na vanguarda tecnológica, beneficiando as gerações futuras de brasileiros.
No dia 3 de outubro a Petrobrás completa 60 anos. No seu jubileu de diamante, dois fatos chamam a atenção. Durante os 45 anos em que exerceu o monopólio e nos últimos 15 anos, quando passou a conviver com o mercado aberto, a estatal nunca foi tão maltratada pelo governo, seu acionista majoritário. O segundo fato é a notável capacidade que a estatal adquiriu ao longo dos anos de desenvolver tecnologias de exploração em águas profundas, o que a fez se tornar e continuar a ser líder mundial.
Desde o início do governo PT, a Petrobrás tem sido usada e abusada pelo seu acionista majoritário com objetivos políticos, não permitindo decisões baseadas na racionalidade empresarial, o que tem causado imensos prejuízos aos acionistas minoritários, em particular aos trabalhadores que aplicaram seu FGTS na compra de ações da empresa. Exemplos não faltam. O governo obriga a empresa a manter os preços domésticos defasados em relação ao mercado internacional, com o objetivo de controlar a inflação e incentivar a atividade econômica. Desde 2003 a defasagem dos preços da gasolina e do diesel promoveu perdas de mais de R$ 40 bilhões. Em 2013 a estatal tem perdido algo em torno de R$ 1 bilhão mensal só com a importação de gasolina e diesel. Paralelamente, o crescimento da demanda incentivado pelo preço artificialmente baixo levou a empresa a importar grandes volumes de gasolina e diesel. Entre o 1.º trimestre de 2010 e o 2.º trimestre de 2013, a área de abastecimento da Petrobrás já acumula prejuízo de cerca de R$ 36 bilhões, e as importações de gasolina cresceram 395%. Por causa disso, a empresa tem tido dificuldade para cumprir seus cronogramas de investimento. O resultado tem sido o atraso e a revisão de vários projetos e a queda na produção da empresa, que em 2013 deve ser de 2%, voltando aos níveis observados em 2009. Três anos perdidos.
Outro caso emblemático é a construção da Refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Pernambuco, refletindo problemas relativos à gestão de projetos de construção de refinarias pela Petrobrás. Ao longo da construção, o custo previsto do projeto se multiplicou por dez, de US$ 2,3 bilhões para US$ 20,1 bilhões, e a sócia venezuelana PDVSA até agora não deu o ar da sua graça. Isso sem falar na compra da refinaria de Pasadena, nos EUA, por um preço ainda não explicado de forma transparente.
Como resultado de todos esses desmandos, a lucratividade da empresa desabou, levando ao aumento do seu endividamento. Apesar de em 2010 ter realizado a maior capitalização da história, que gerou a injeção de R$ 45 bilhões em seu caixa, a empresa está hoje perigosamente perto dos níveis que fariam com que perdesse seu status de investment grade. O seu endividamento cresceu 210% após a capitalização e suas relações dívida líquida/Ebtida e dívida líquida/capital líquido se encontram em 2,9x e 34%, respectivamente, mesmo com a empresa se utilizando de "contabilidade criativa", que reduziu 70% do impacto da desvalorização cambial sobre a sua dívida. Agora a saída encontrada é o plano de desinvestimento, pelo qual a empresa está vendendo ativos como metade dos campos de petróleo que possuía na África. O próximo passo poderá ser a promoção de uma nova capitalização após as eleições de outubro de 2014, o que provocará uma diluição maior dos minoritários, aprofundando o movimento de estatização da empresa. Tudo isso compromete o futuro da Petrobrás.
Nos próximos aniversários, é preciso que comemoremos a volta da Petrobrás ao caminho da excelência e da lucratividade e, para que isso aconteça, o acionista majoritário deve deixar de ser inimigo e passar a ter um novo relacionamento com a empresa. Esse novo relacionamento tem de estar baseado no respeito pelo acionista minoritário, no retorno do planejamento de longo prazo e no abandono do atual intervencionismo de curtíssimo prazo, que vem causando enormes prejuízos à empresa e a toda a sociedade brasileira. Só assim a Petrobrás poderá manter-se na vanguarda tecnológica, beneficiando as gerações futuras de brasileiros.
O vôo solo do paraguai - MAURO LAVIOLA
O GLOBO - 28/09
Enquanto seu país não retorna de fato ao Mercosul, o novo presidente paraguaio Horacio Cartes realiza visitas e promove encontros para mostrar aos vizinhos próximos que o Paraguai, sob sua gestão, revela-se uma promessa de bons negócios. Sua visão de empresário, com única restrição à Venezuela, pretende mostrar a grande vantagem comparativa que sua legislação oferece para as grandes e médias corporações fabricarem bens industrializados com preços ultra competitivos. Sua mais nova investida é no Chile, um dos integrantes da Aliança do Pacífico e da qual o Paraguai é observador. Seu objetivo é avançar num acordo de cooperação técnica para estabelecer uma zona de livre comércio no porto de Antofogasta, abrindo as portas do Paraguai ao Leste Asiático com comércio de mão dupla, e facilitar o escoamento dos bens que vierem a ser produzidos em seu território. Parece que o novo dirigente do país está pensando em vôos solo.
Institucionalmente, contudo, permanecem latentes as divergências que emperram esse retorno. Os paraguaios insistem na tese de que, desde julho de 20102, quando foi suspenso temporariamente do bloco, foi violado um dos princípios fundamentais do Tratado de Assunção porque o ingresso da Venezuela não foi unânime entre os sócios. Sua efetiva adesão dependerá de uma votação favorável do novo Congresso paraguaio. Não obstante, seu novo mandatário admite o reingresso do país em 2014 quando a Venezuela deixar presidência pro tempore do organismo. Penso estar faltando alguma peça importante nessa engrenagem.
É no mínimo insólito o fato ocorrido semanas atrás, em Montevidéu, quando reuniu-se a comissão diretora do Parlamento do Mercosul, na qual a Venezuela não se fez presente com seus delegados, propiciando a participação de representantes paraguaios e permitindo a reativação desse organismo - aliás, não se sabe bem qual sua função num clube em que as decisões são adotadas fundamentalmente pelos respectivos poderes executivos.
Sabe-se que o Paraguai irá participar da rodadea de negociações Mercosul - União Européia, neste último trimestre, mesmo sem ter voltado oficialmente ao bloco. Assim, vivendo de contradições em escala progressiva, não se pode registrar qualquer avanço no Mercosul, esse aglomerado quase disforme e que tende a se complicar ainda mais com adesões de mais países.
Outro dia ouvi, estarrecido, um representante oficial brasileiro tecer rasgados elogios ao Mercosul por seu dinamismo comercial, tomando como exemplo a pujança do setor automotriz. Este setor, juntamente com o complexo açúcar, está fora bloco, uma vez que o comércio de veículos, partes e peças existente entre Brasil, Argentina e Uruguai se faz por regras estabelecidas em acordos bilaterais no âmbito da Aladi.
Diz-se que há contradição quando se afirma e se nega simultaneamente algo sobre a mesma coisa. O Mercosul, atualmente, exprime bem este conceito.
Sal em carne boa! - KÁTIA ABREU
FOLHA DE SP - 28/09
A indústria não é o único parâmetro de progresso; devemos nos orgulhar da agropecuária brasileira
A revista "The Economist", que circula em todos os continentes nesta semana, anuncia ao mundo que o agronegócio brasileiro conseguiu atingir ganhos enormes de produtividade, revelando-se o motor do crescimento futuro do Brasil.
Ao mesmo tempo em que a revista chama a atenção para as oportunidades desperdiçadas e para o desafio urgente de superar a perda de competitividade da indústria brasileira, sugere que "o país poderia priorizar um dos poucos setores em que a produtividade tem crescido de forma constante nos últimos anos: a agricultura".
Pensamos, por muito tempo, que a industrialização e a diversificação da manufatura, com maior participação de produtos manufaturados na pauta de exportações, fossem o símbolo de sucesso no desenvolvimento econômico.
O mundo mudou. A atual lógica de cadeias produtivas globais desloca a fabricação e a montagem final de produtos industrializados a localidades com menor custo, principalmente de mão de obra. As economias se dividiram em "países-fábrica" e "países-sede".
Os "países-fábrica", que vendem no mercado mundial seus produtos manufaturados acabados, muitas vezes agregam um valor pequeno às exportações. Já os "países-sede" são hoje responsáveis pela agregação da maior parte do valor, por meio de serviços pré e pós-fabricação.
O economista norte-americano Richard Baldwin afirma que a agregação de valor industrial não é mais "panaceia para o desenvolvimento". Não é mais o reconhecimento do progresso. A inovação e os serviços o são.
A inovação trouxe uma verdadeira "revolução verde" para o Brasil, criando uma das mais produtivas agriculturas do mundo.
Em menos de quatro décadas, saímos da posição de importador líquido de alimentos e passamos a disputar com os grandes, como os Estados Unidos, a liderança no fornecimento de produtos agropecuários e de bioenergia.
Hoje, o país lidera a produção mundial de açúcar, soja, café e suco de laranja. Temos posição de destaque na exportação desses e de outros produtos do agronegócio, como carnes, milho e algodão.
O Ipea estima que o emprego de tecnologia foi responsável por quase 70% da extraordinária produtividade da agropecuária brasileira nos últimos 40 anos. E, de acordo com estudos da CNA, a produtividade das nossas lavouras cresceu nada menos que 151% nas últimas três décadas.
Nos anos 1960 e 1970, as políticas governamentais de substituição de importações e de crédito subsidiado incentivaram a industrialização do Brasil. As regras comerciais restritivas até os anos 1990, com a posterior inserção internacional bastante tímida, impediram uma maior participação do Brasil nas cadeias globais de valor.
Tributação, juros, falta de logística e de infraestrutura, baixo nível de investimento e políticas governamentais intervencionistas e distorcivas vêm prejudicando o desenvolvimento industrial ao longo de décadas. Elevados custos domésticos --e as fortes barreiras no exterior, associadas à inexpressiva abertura comercial do nosso país-- fazem com que os produtos industrializados brasileiros sejam pouco competitivos.
A demanda mundial por alimentos vai continuar crescendo e nesse quesito o Brasil se sobressai. Já mostrou que pode produzir mais sem expandir o uso das terras, exibindo o dobro da produtividade de outros países. Além disso, como bem destacou "The Economist", por produzir com qualidade e muito além do consumo interno, o Brasil contribui mais que qualquer outra nação para o fornecimento mundial de alimentos.
Devemos nos orgulhar da posição de liderança na produção e no fornecimento de produtos agropecuários. Somos mais competitivos; verdadeiros campeões mundiais.
A exportação de manufaturas não é mais a única medida do progresso. É hora de, finalmente, abandonarmos velhos complexos, valorizando o que o país tem de melhor.
O mundo já enxergou o que uma parcela atrasada e preconceituosa do Brasil ainda teima em não admitir: a agropecuária brasileira é forte e inovadora. Somos vanguarda.
A indústria não é o único parâmetro de progresso; devemos nos orgulhar da agropecuária brasileira
A revista "The Economist", que circula em todos os continentes nesta semana, anuncia ao mundo que o agronegócio brasileiro conseguiu atingir ganhos enormes de produtividade, revelando-se o motor do crescimento futuro do Brasil.
Ao mesmo tempo em que a revista chama a atenção para as oportunidades desperdiçadas e para o desafio urgente de superar a perda de competitividade da indústria brasileira, sugere que "o país poderia priorizar um dos poucos setores em que a produtividade tem crescido de forma constante nos últimos anos: a agricultura".
Pensamos, por muito tempo, que a industrialização e a diversificação da manufatura, com maior participação de produtos manufaturados na pauta de exportações, fossem o símbolo de sucesso no desenvolvimento econômico.
O mundo mudou. A atual lógica de cadeias produtivas globais desloca a fabricação e a montagem final de produtos industrializados a localidades com menor custo, principalmente de mão de obra. As economias se dividiram em "países-fábrica" e "países-sede".
Os "países-fábrica", que vendem no mercado mundial seus produtos manufaturados acabados, muitas vezes agregam um valor pequeno às exportações. Já os "países-sede" são hoje responsáveis pela agregação da maior parte do valor, por meio de serviços pré e pós-fabricação.
O economista norte-americano Richard Baldwin afirma que a agregação de valor industrial não é mais "panaceia para o desenvolvimento". Não é mais o reconhecimento do progresso. A inovação e os serviços o são.
A inovação trouxe uma verdadeira "revolução verde" para o Brasil, criando uma das mais produtivas agriculturas do mundo.
Em menos de quatro décadas, saímos da posição de importador líquido de alimentos e passamos a disputar com os grandes, como os Estados Unidos, a liderança no fornecimento de produtos agropecuários e de bioenergia.
Hoje, o país lidera a produção mundial de açúcar, soja, café e suco de laranja. Temos posição de destaque na exportação desses e de outros produtos do agronegócio, como carnes, milho e algodão.
O Ipea estima que o emprego de tecnologia foi responsável por quase 70% da extraordinária produtividade da agropecuária brasileira nos últimos 40 anos. E, de acordo com estudos da CNA, a produtividade das nossas lavouras cresceu nada menos que 151% nas últimas três décadas.
Nos anos 1960 e 1970, as políticas governamentais de substituição de importações e de crédito subsidiado incentivaram a industrialização do Brasil. As regras comerciais restritivas até os anos 1990, com a posterior inserção internacional bastante tímida, impediram uma maior participação do Brasil nas cadeias globais de valor.
Tributação, juros, falta de logística e de infraestrutura, baixo nível de investimento e políticas governamentais intervencionistas e distorcivas vêm prejudicando o desenvolvimento industrial ao longo de décadas. Elevados custos domésticos --e as fortes barreiras no exterior, associadas à inexpressiva abertura comercial do nosso país-- fazem com que os produtos industrializados brasileiros sejam pouco competitivos.
A demanda mundial por alimentos vai continuar crescendo e nesse quesito o Brasil se sobressai. Já mostrou que pode produzir mais sem expandir o uso das terras, exibindo o dobro da produtividade de outros países. Além disso, como bem destacou "The Economist", por produzir com qualidade e muito além do consumo interno, o Brasil contribui mais que qualquer outra nação para o fornecimento mundial de alimentos.
Devemos nos orgulhar da posição de liderança na produção e no fornecimento de produtos agropecuários. Somos mais competitivos; verdadeiros campeões mundiais.
A exportação de manufaturas não é mais a única medida do progresso. É hora de, finalmente, abandonarmos velhos complexos, valorizando o que o país tem de melhor.
O mundo já enxergou o que uma parcela atrasada e preconceituosa do Brasil ainda teima em não admitir: a agropecuária brasileira é forte e inovadora. Somos vanguarda.
A retórica da pobreza e a pobreza do investimento - ROLF KUNTZ
O ESTADO DE S. PAULO - 28/09
O governo tirou da pobreza extrema em apenas dois anos 22 milhões de brasileiros, disse a presidente Dilma Rousseff, em Nova York, em discurso na Assembleia-Geral das Nações Unidas. Se isso for verdade, essa terá sido a informação mais importante da fala presidencial muito mais importante que a maior parte do palavrório pronunciado naquele dia por vários governantes. Falta esclarecer um detalhe: se as transferências governamentais forem interrompidas, quantas daquelas pessoas serão capazes de se manter fora da miséria? Quantas se tornaram, nos últimos dois anos, mais produtivas e menos dependentes de auxílio oficial? Nenhuma pessoa razoável se opõe a programas de socorro aos mais necessitados. Mas por quanto tempo será possível manter programas tão amplos, e com efeitos ainda pouco claros sobre a capacidade produtiva, se a economia continuar avançando tão lentamente quanto nos últimos dois anos e nove meses? Por enquanto, as previsões mais otimistas apontam para este ano um crescimento econômico de 2,4%.
Essa expansão será puxada, segundo as novas projeções da Confederação Nacional da Indústria (CNI), por investimentos 8% maiores que os do ano passado. Essa é a parte mais interessante do cenário.
Se as estimativas forem confirmadas, o aumento do produto interno bruto (PIB) terá sido alimentado, em 2013, menos pelo consumo do que pela aplicação de recursos em máquinas, equipamentos, instalações diversas e obras de infraestrutura.
A expansão econômica ainda será modesta, mas o potencial de crescimento será reforçado e resultados melhores poderão surgirem breve.
Mais uma vez, no entanto, o quadro fica bem menos bonito quando se examinam os detalhes.
A maior parte do crescimento da produção de bens de capital - máquinas e equipamentos- foi concentrada no setor de material de transporte, especialmente de caminhões.
Boa parte da expansão dependeu também da indústria de equipamentos agrícolas, pormenor facilmente explicável pelo bom desempenho da agropecuária,o setor mais dinâmico da economia nacional.
Além disso, a retomada da produção de bens de capital para fins industriais pode estar perdendo impulso.Em junho, havia sido 21,4% maior que a de um ano antes. Em julho, a diferença diminuiu para 13,3%, detalhe notado no Informe Conjuntural da CNI. Essa diferença para mais pode ainda parecer considerável, mas a base de comparação é muito baixa.
No conjunto, a aplicação de recursos em bens de capital, instalações e obras de infraestrutura continuará muito abaixo da necessária para um crescimento menos medíocre, se as projeções da CNI estiverem corretas.
Em 2011, a soma dos investimentos em capital fixo dos setores público e privado equivaleu a 19,3% do PIB. Em 2012, a proporção caiu para 18,1%. Neste ano, chegará a cerca de 19,1%, se o PIB crescer 2,4% e o investimento, 8%. A meta governamental, já modesta, é alcançar 24% do PIB, taxa obtida nos anos 70 e nunca repetida nas décadas seguintes.
Esse objetivo parece ainda muito distante.
Não há acordo, entre os economistas, quanto ao potencial de crescimento econômico do País. O cálculo é complicado, mas o conceito é importante, porque indica o ritmo de expansão sustentável sem novos desequilíbrios.
As avaliações mais sombrias indicam um limite na vizinhança de 2% ao ano. As estimativas mais otimistas ficam próximas de 4%. Nem na melhor hipótese, no entanto,a economia brasileira poderá crescer tanto quanto as mais dinâmicas da região-na faixa de 4% a 6% ao ano - sem acumular pressões inflacionárias e desarranjos nas contas externas. Poderá haver um arranque temporário, mas faltará fôlego para uma corrida prolongada.
Mesmo com o crescimento pífio dos últimos anos, o Brasil já acumulou problemas consideráveis.
A inflação continua elevada para os padrões internacionais e deve continuarem alta nos próximos meses, depois de um breve arrefecimento no meio do ano. O presidente do Banco Central (BC),Alexandre Tombini, reafirmou em Nova York, num encontro com investidores, o compromisso de continuar buscando a meta de 4,5%, mas ninguém pode dizer com alguma segurança quando a convergência ocorrerá. Um dos principais obstáculos, a farra das contas públicas, deve atrapalhar o combate à inflação ainda por um bom tempo.
Quem espera austeridade em tempo de eleição? Do lado externo, o cenário continua ruim. O BC reduziu de US$ 7 bilhões para US$ 2 bilhões o superávit comercial estimado para o ano. A CNI cortou sua projeção mais drasticamente- de US$ 9,2 bilhões no Informe Conjuntural de junho para US$ 1,76 bilhão no documento recém-divulgado. O BC manteve, no entanto, a previsão de um déficit em transações correntes de US$ 75 bilhões, equivalente a 3,35% do PIB. O investimento direto estrangeiro deverá chegar a 2,64% do PIB. Parte do buraco nas contas externas será coberta, portanto, por outras formas, em geral menos saudáveis, de financiamento.
Não há desastre à vista, até porque o País dispõe de mais de US$ 370 bilhões de reservas, mas a situação poderá ficar mais complicadas e a confiança no País cair acentuadamente.
O risco é tangível. O Cristo Redentor representado como um foguete em decolagem numa capa da revista The Economist de 2009 foi substituído, na última edição,por uma figura no rumo do desastre, depois de um voo descontrolado.
O desafio imediato, na agenda do governo, é atrair capitais privados para os grandes projetos federais de investimento.
Para isso a presidente e as principais figuras da equipe econômica foram a Nova York. O resultado será visto nas próximas licitações. Mas a presidente faria bem se pusesse no alto da agenda medidas para uma recuperação mais ampla da credibilidade- a começar por uma política fiscal mais séria e sem contabilidade criativa, já desmascarada em todo o mundo.
Clássico complexo - PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.
O GLOBO - 28/09
Estava no Brasil até quinta-feira passada e fui testemunha ocular e auditiva do impacto provocado pela capa da revista “The Economist”: o Cristo Redentor entrando em parafuso depois da decolagem, metáfora do fracasso da economia brasileira. Em 2009, a mesma revista colocou na capa o Cristo em decolagem vertical...
Ah, leitor, é uma ilusão pensar que superamos o nosso clássico complexo de vira-lata. Ele está sempre presente, vigilante, à espreita. Ao menor pretexto, irrompe e mostra sua face tenebrosa. Com a capa da revista britânica, o referido complexo deu arrancos triunfais de cachorro atropelado, como diria Nelson Rodrigues. Fiquei observando, estarrecido. Do lábio de alguns brasileiros pendia a baba elástica e bovina da humildade.
Estou em Londres neste momento e interrompi a redação do artigo para ir comprar “The Economist”. Diferentemente do que informou a imprensa brasileira, o Brasil não é a matéria de capa — pelo menos não da edição que circula aqui.
Em todo o caso, é fato que a revista caprichou: traz 17 páginas sobre a economia brasileira onde predominam críticas e avaliações negativas — carga esmagadora para a nossa frágil autoconfiança.
Há motivos para críticas — e muitos. A economia está crescendo pouco, a inflação demora a ceder, o desequilíbrio das contas externas é crescente e preocupante. Mas o exagero da revista é manifesto. Não só agora, como também em 2009. A verdade é que a imprensa internacional é tão ciclotímica quanto os mercados financeiros. Até 2011, o Brasil era moda, referência, modelo. Em eventos internacionais, o brasileiro desfilava satisfeito, sob aplausos e encômios.
Elogio em inglês? Barbas de molho. Muito elogio do exterior é indicador antecedente de problemas — como mostra repetidamente a experiência latino-americana.
Na época, até avisei. Aqui mesmo nesta coluna, publiquei um artigo (“Elogios perigosos”, 6 de março de 2010) em que alertava que não estávamos com essa bola toda e destacava os problemas decorrentes da sobrevalorização do real.
Eis aí um aspecto que a revista britânica não destaca e mal menciona. O Brasil apresenta atualmente uma combinação de crescimento econômico baixo com desequilíbrio nas contas externas que é muito sintomática. Sintomática dos estragos provocados por um período demasiado longo de valorização cambial.
A moeda forte enfraqueceu a economia. Minou a capacidade de competição das exportações, estimulou a substituição de produção nacional por importações, solapou o setor industrial, transformou o superávit comercial em déficit e vem levando a um aumento perigoso do déficit do balanço de pagamentos em conta-corrente.
Vamos ter que correr atrás do prejuízo.
Estava no Brasil até quinta-feira passada e fui testemunha ocular e auditiva do impacto provocado pela capa da revista “The Economist”: o Cristo Redentor entrando em parafuso depois da decolagem, metáfora do fracasso da economia brasileira. Em 2009, a mesma revista colocou na capa o Cristo em decolagem vertical...
Ah, leitor, é uma ilusão pensar que superamos o nosso clássico complexo de vira-lata. Ele está sempre presente, vigilante, à espreita. Ao menor pretexto, irrompe e mostra sua face tenebrosa. Com a capa da revista britânica, o referido complexo deu arrancos triunfais de cachorro atropelado, como diria Nelson Rodrigues. Fiquei observando, estarrecido. Do lábio de alguns brasileiros pendia a baba elástica e bovina da humildade.
Estou em Londres neste momento e interrompi a redação do artigo para ir comprar “The Economist”. Diferentemente do que informou a imprensa brasileira, o Brasil não é a matéria de capa — pelo menos não da edição que circula aqui.
Em todo o caso, é fato que a revista caprichou: traz 17 páginas sobre a economia brasileira onde predominam críticas e avaliações negativas — carga esmagadora para a nossa frágil autoconfiança.
Há motivos para críticas — e muitos. A economia está crescendo pouco, a inflação demora a ceder, o desequilíbrio das contas externas é crescente e preocupante. Mas o exagero da revista é manifesto. Não só agora, como também em 2009. A verdade é que a imprensa internacional é tão ciclotímica quanto os mercados financeiros. Até 2011, o Brasil era moda, referência, modelo. Em eventos internacionais, o brasileiro desfilava satisfeito, sob aplausos e encômios.
Elogio em inglês? Barbas de molho. Muito elogio do exterior é indicador antecedente de problemas — como mostra repetidamente a experiência latino-americana.
Na época, até avisei. Aqui mesmo nesta coluna, publiquei um artigo (“Elogios perigosos”, 6 de março de 2010) em que alertava que não estávamos com essa bola toda e destacava os problemas decorrentes da sobrevalorização do real.
Eis aí um aspecto que a revista britânica não destaca e mal menciona. O Brasil apresenta atualmente uma combinação de crescimento econômico baixo com desequilíbrio nas contas externas que é muito sintomática. Sintomática dos estragos provocados por um período demasiado longo de valorização cambial.
A moeda forte enfraqueceu a economia. Minou a capacidade de competição das exportações, estimulou a substituição de produção nacional por importações, solapou o setor industrial, transformou o superávit comercial em déficit e vem levando a um aumento perigoso do déficit do balanço de pagamentos em conta-corrente.
Vamos ter que correr atrás do prejuízo.
A Primavera burra - GUILHERME FIUZA
O GLOBO - 28/09
Pela primeira vez na história Supremo Tribunal Federal tem juízes partidários
O Supremo Tribunal Federal melou a prisão dos mensaleiros, na mão grande. Como se sabe, pela primeira vez na história a corte máxima tem juízes partidários, como Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli, obedientes aos seus senhores petistas. E os principais réus do mensalão, que por acaso mandam no Brasil, têm os melhores advogados de Brasília — pagos a peso de ouro com uma dinheirama que eles não precisam dizer de onde veio, mas pode-se supor. Foi com essa blitz política (disfarçada de jurídica), ou, em bom português anglo-saxão, com esse lobby, que o Brasil foi roubado de novo, à luz do dia.
E o que fizeram os brasileiros, que agora são revolucionários e esculhambam o trânsito a qualquer hora do dia para “mudar o Brasil”? Não fizeram nada. Os bravos manifestantes da Primavera Brasileira de 2013 assistiram ao novo assalto, como diria Anitta, ba-ban-do.
O golpe dos embargos infringentes foi vexaminoso. Uma manobra tosca, que embaralhou um julgamento cristalino e cindiu o direito e o bom senso — o que é uma cisão grave, mas não nesse Brasil onde civismo é jogar pedra em vidraça. Votos como o do ministro Marco Aurélio mostraram que o julgamento só poderia ser reaberto — decisão drástica — se não pairassem dúvidas sobre a legalidade dos embargos.
Pois bem: o julgamento foi reaberto em casos onde houve quatro votos contrários à sentença. E a própria decisão de reabertura teve cinco votos contrários! Não seria então o caso de entrar com embargos infringentes contra a aceitação dos embargos infringentes?
Não, não seria, porque nesse caminho de prostituição da técnica, a lógica já foi abandonada no acostamento há muito tempo, e o espírito da lei já foi pendurado na parede, ao lado de um retrato do filho do Brasil. A blitz dos advogados milionários do PT fez o STF virar as costas para a lógica e o espírito da lei. Normal. Quem está do outro lado é só o Brasil, esse pobre coitado, que não tem nada concreto para oferecer: nem cargos, nem prestígio, nem favores, nem negócios, nem mesmo a emoção de um café da manhã com José Dirceu, o astro da penumbra.
Foi comovente ver a bancada petista no Supremo, em ações grandiloquentes e tom épico, defendendo com garra um futuro tranquilo e confortável. O PT inaugurou o patriotismo privado.
Para o pobre coitado do outro lado, batizado com nome de madeira nativa (profetizando a cara de pau), o que aconteceu no Supremo Tribunal Federal é apenas o fim. Se as massas (e os gatos pingados) não sabem direito por que vão às ruas, se não é só por 20 centavos, se é por tudo — e tudo, como se sabe, é igual a nada —, a zombaria do STF contra o país inteiro, aliviando os maiores assaltantes da história da República, cujo grupo político por acaso governa o Brasil, é a causa das causas. É para inundar as ruas de gente, é para cercar os palácios da Justiça Federal em todo o território, é para, aí sim, parar tudo e avisar que isso aqui não é a casa da mãe Dilma e de seus companheiros parasitários.
Mas o que se viu por aí depois do golpe do STF? Bem, escolha a sua manifestação preferida: black blocs vaiando e ameaçando artistas de cinema na chegada ao Festival do Rio; revolucionários da Cinelândia recebendo a adesão do Batman e do Saci Pererê; ninjas, fora do eixo e fora de órbita, discutindo a relação com a polícia (decidindo o que veio primeiro, a pedra ou a pimenta); sindicalistas privatizando as ruas e decidindo quem pode ir e vir.
Enquanto isso, estoura novo escândalo na boquinha que Dilma Rousseff cultivou dentro do Ministério do Trabalho — o mensalão redivivo na farra das ONGs piratas. Mais R$ 400 milhões desviados para a turma que a presidente fingiu escorraçar em 2011, com o inesquecível Carlos Lupi, mas que na verdade protegeu, porque é dando que se recebe. Os réus que o STF acaba de refrescar fizeram escola, só não vê quem não quer. E ninguém parece querer. Não apareceu um único mascarado no horizonte para acuar os sócios do governo popular nesse novo escárnio. Eles preferem rosnar contra artistas de cinema.
Não pode haver mais dúvidas: os movimentos de protesto que levaram os brasileiros às ruas em 2013 passarão à história como a Primavera Burra.
PS: o ministro do Trabalho passa bem, os ministros infringentes idem, e os mensaleiros estão estourando champanhe com a nova disparada de Dilma no Ibope. Vêm aí mais quatro anos de sucção pacífica.
Pela primeira vez na história Supremo Tribunal Federal tem juízes partidários
O Supremo Tribunal Federal melou a prisão dos mensaleiros, na mão grande. Como se sabe, pela primeira vez na história a corte máxima tem juízes partidários, como Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli, obedientes aos seus senhores petistas. E os principais réus do mensalão, que por acaso mandam no Brasil, têm os melhores advogados de Brasília — pagos a peso de ouro com uma dinheirama que eles não precisam dizer de onde veio, mas pode-se supor. Foi com essa blitz política (disfarçada de jurídica), ou, em bom português anglo-saxão, com esse lobby, que o Brasil foi roubado de novo, à luz do dia.
E o que fizeram os brasileiros, que agora são revolucionários e esculhambam o trânsito a qualquer hora do dia para “mudar o Brasil”? Não fizeram nada. Os bravos manifestantes da Primavera Brasileira de 2013 assistiram ao novo assalto, como diria Anitta, ba-ban-do.
O golpe dos embargos infringentes foi vexaminoso. Uma manobra tosca, que embaralhou um julgamento cristalino e cindiu o direito e o bom senso — o que é uma cisão grave, mas não nesse Brasil onde civismo é jogar pedra em vidraça. Votos como o do ministro Marco Aurélio mostraram que o julgamento só poderia ser reaberto — decisão drástica — se não pairassem dúvidas sobre a legalidade dos embargos.
Pois bem: o julgamento foi reaberto em casos onde houve quatro votos contrários à sentença. E a própria decisão de reabertura teve cinco votos contrários! Não seria então o caso de entrar com embargos infringentes contra a aceitação dos embargos infringentes?
Não, não seria, porque nesse caminho de prostituição da técnica, a lógica já foi abandonada no acostamento há muito tempo, e o espírito da lei já foi pendurado na parede, ao lado de um retrato do filho do Brasil. A blitz dos advogados milionários do PT fez o STF virar as costas para a lógica e o espírito da lei. Normal. Quem está do outro lado é só o Brasil, esse pobre coitado, que não tem nada concreto para oferecer: nem cargos, nem prestígio, nem favores, nem negócios, nem mesmo a emoção de um café da manhã com José Dirceu, o astro da penumbra.
Foi comovente ver a bancada petista no Supremo, em ações grandiloquentes e tom épico, defendendo com garra um futuro tranquilo e confortável. O PT inaugurou o patriotismo privado.
Para o pobre coitado do outro lado, batizado com nome de madeira nativa (profetizando a cara de pau), o que aconteceu no Supremo Tribunal Federal é apenas o fim. Se as massas (e os gatos pingados) não sabem direito por que vão às ruas, se não é só por 20 centavos, se é por tudo — e tudo, como se sabe, é igual a nada —, a zombaria do STF contra o país inteiro, aliviando os maiores assaltantes da história da República, cujo grupo político por acaso governa o Brasil, é a causa das causas. É para inundar as ruas de gente, é para cercar os palácios da Justiça Federal em todo o território, é para, aí sim, parar tudo e avisar que isso aqui não é a casa da mãe Dilma e de seus companheiros parasitários.
Mas o que se viu por aí depois do golpe do STF? Bem, escolha a sua manifestação preferida: black blocs vaiando e ameaçando artistas de cinema na chegada ao Festival do Rio; revolucionários da Cinelândia recebendo a adesão do Batman e do Saci Pererê; ninjas, fora do eixo e fora de órbita, discutindo a relação com a polícia (decidindo o que veio primeiro, a pedra ou a pimenta); sindicalistas privatizando as ruas e decidindo quem pode ir e vir.
Enquanto isso, estoura novo escândalo na boquinha que Dilma Rousseff cultivou dentro do Ministério do Trabalho — o mensalão redivivo na farra das ONGs piratas. Mais R$ 400 milhões desviados para a turma que a presidente fingiu escorraçar em 2011, com o inesquecível Carlos Lupi, mas que na verdade protegeu, porque é dando que se recebe. Os réus que o STF acaba de refrescar fizeram escola, só não vê quem não quer. E ninguém parece querer. Não apareceu um único mascarado no horizonte para acuar os sócios do governo popular nesse novo escárnio. Eles preferem rosnar contra artistas de cinema.
Não pode haver mais dúvidas: os movimentos de protesto que levaram os brasileiros às ruas em 2013 passarão à história como a Primavera Burra.
PS: o ministro do Trabalho passa bem, os ministros infringentes idem, e os mensaleiros estão estourando champanhe com a nova disparada de Dilma no Ibope. Vêm aí mais quatro anos de sucção pacífica.
Os dedos e os anéis de Dilma - GUSTAVO PATU
FOLHA DE SP - 28/09
BRASÍLIA - Dilma Rousseff ganhou a reputação de gerente severa, tocadora de obras e estrategista do desenvolvimentismo graças à propaganda explícita e ao persistente trabalho dos assessores anônimos da capital federal, com seus relatos mirabolantes de projetos ambiciosos e broncas nos subordinados.
Nos tempos de Lula, era mais fácil a tarefa dos que queriam acreditar na mitologia brasiliense. A mãe do PAC apresentava periodicamente balanços das obras em andamento e gráficos coloridos com setas que interligavam rodovias, ferrovias, portos, aeroportos, oleodutos e linhas de transmissão de energia. Ninguém entendia nada, mas o país, afinal, estava ficando mais rico.
Virtualmente encerrado o mandato da presidente (as eleições do próximo ano já interessam mais, no Executivo e no Legislativo, que a administração do presente), sua imagem de mentora do Brasil Maior tem tanta credibilidade quanto seu diploma de doutorado em economia.
As seguidas decepções e o desalento quase definitivo com os resultados do PIB forjaram outra narrativa, a da governante sem traquejo no trato com congressistas e empresários, de medidas erráticas e improvisadas, ministério semiamador e mais ranço ideológico que pragmatismo.
Mas, se esses são os anéis perdidos, Dilma preserva o principal capital político-eleitoral herdado de Lula, com uma boa dose de contribuição pessoal. Expõe uma mensagem crível de preocupação social, em contraste com as fofocas, conchavos e escândalos de que se ocupa a classe dirigente nacional.
Ampliou em proporções inéditas as verbas para o Bolsa Família e, com dividendos menos imediatos, a educação. A pobreza e a desigualdade caíram, ainda que não tanto quanto o governo propaga; o emprego e a renda estão melhores que antes.
A manhã pode começar com a zombaria da "Economist", mas o dia termina com o crescimento no Ibope.
BRASÍLIA - Dilma Rousseff ganhou a reputação de gerente severa, tocadora de obras e estrategista do desenvolvimentismo graças à propaganda explícita e ao persistente trabalho dos assessores anônimos da capital federal, com seus relatos mirabolantes de projetos ambiciosos e broncas nos subordinados.
Nos tempos de Lula, era mais fácil a tarefa dos que queriam acreditar na mitologia brasiliense. A mãe do PAC apresentava periodicamente balanços das obras em andamento e gráficos coloridos com setas que interligavam rodovias, ferrovias, portos, aeroportos, oleodutos e linhas de transmissão de energia. Ninguém entendia nada, mas o país, afinal, estava ficando mais rico.
Virtualmente encerrado o mandato da presidente (as eleições do próximo ano já interessam mais, no Executivo e no Legislativo, que a administração do presente), sua imagem de mentora do Brasil Maior tem tanta credibilidade quanto seu diploma de doutorado em economia.
As seguidas decepções e o desalento quase definitivo com os resultados do PIB forjaram outra narrativa, a da governante sem traquejo no trato com congressistas e empresários, de medidas erráticas e improvisadas, ministério semiamador e mais ranço ideológico que pragmatismo.
Mas, se esses são os anéis perdidos, Dilma preserva o principal capital político-eleitoral herdado de Lula, com uma boa dose de contribuição pessoal. Expõe uma mensagem crível de preocupação social, em contraste com as fofocas, conchavos e escândalos de que se ocupa a classe dirigente nacional.
Ampliou em proporções inéditas as verbas para o Bolsa Família e, com dividendos menos imediatos, a educação. A pobreza e a desigualdade caíram, ainda que não tanto quanto o governo propaga; o emprego e a renda estão melhores que antes.
A manhã pode começar com a zombaria da "Economist", mas o dia termina com o crescimento no Ibope.
Geleia geral - ANDRÉ GUSTAVO STUMPF
CORREIO BRAZILIENSE - 28/09
A política brasileira alcançou nos últimos dias sofisticação jamais antes experimentada. Sem contar com a possível criação da Rede Sustentabilidade, da ex-senadora Marina Silva, já são 32 legendas em pleno funcionamento, devidamente autorizadas pelo Tribunal Superior Eleitoral. As duas últimas foram o Partido Republicano da Ordem Social (Pros), cujo presidente é antigo vereador de Planaltina de Goiás, Eurípedes Júnior, e o Solidariedade, ligado ao presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva.
Partido, como o próprio nome indica, é uma fração do coletivo. Ou seja, determinado grupo de pessoas decide criar uma agremiação para defender esta ou aquela ideia. Na origem, partido é isso. Daí os partidos de esquerda, de direita e os favoráveis ao socialismo europeu. Eles defendem ideias ou projetos. Um exemplo: transporte público nos países europeus é estatizado. E dá prejuízo. Mas ninguém mexe nisso porque lá se entende que prover transporte público é dever do Estado.
Normalmente, as pessoas não gostam muito de falar no assunto, mas, nos Estados Unidos, o transporte público também é estatizado. No sentido de que pertence à municipalidade ou ao estado. Não existem empresas privadas carregando pessoas de um lado para o outro em Nova York, exceto os táxis. Os trens Amtrak são do Estado. Dão prejuízo, que é coberto por generosos subsídios. Mas, para que o norte-americano médio more nos subúrbios e trabalhe no centro das grandes cidades, é necessário haver transporte de qualidade e a preços baixos. Funciona.
Os partidos não se metem nisso. No Brasil, 32 partidos não defendem 32 ideias políticas diferentes, mesmo porque não existe no cardápio de ofertas da ciência política tamanha diversidade. Aqui há um diferencial: os partidos recebem a verba do governo para funcionar. O dinheiro depende do tamanho da bancada. E os tribunais eleitorais não consideram infidelidade partidária o deputado migrar de agremiação em pleno funcionamento para outra recém-inaugurada. Chovem, então, propostas. Há bom dinheiro em jogo no poder de atração. Será maior nas vésperas da eleição, quando o tempo de televisão constituirá moeda preciosa para compor as coligações partidárias.
A aprovação dos dois novos partidos políticos do Brasil abriu na Câmara a temporada de troca-troca de deputados entre as legendas. Houve quase uma feira de filiações. Pelo menos 46 deputados (9% da Casa) e um senador negociam ingressar no oposicionista Solidariedade e no Pros. As duas siglas promoveram reuniões em Brasília, cada uma com dezenas de deputados federais. Em alguns casos, como os dos deputados Marçal Filho (PMDB-MS) e José Humberto (PHS-MG), a filiação foi comemorada tanto por um quanto pelo outro partido.
É uma incógnita a posição final, definitiva e irrecorrível do TSE quanto à criação da Rede Sustentabilidade. Sua idealizadora, Marina Silva, aparece nas pesquisas de opinião com 25% das preferências dos eleitores brasileiros. Se for criado o novo partido, o 33° do universo político nacional, terá grande poder de atração. A força da gravidade vai fazer com que descontentes de todos os quadrantes encontrem refúgio na principal opositora de Dilma Rousseff, com evidentes chances de chegar ao segundo turno e vencer a disputa pela Presidência da República.
Paulo Pereira da Silva, idealizador do Solidariedade, deve apoiar Aécio Neves (PSDB) na campanha presidencial em 2014. O novíssimo Pros inclina-se em favor de Dilma. No final da semana, o Solidariedade anunciava a adesão de 25 deputados, com o objetivo de chegar a 35. O Pros contabilizava 15, mas pretende alcançar 30. O PDT vai perder pelo menos nove deputados e os demais partidos também terão perdas expressivas.
Política brasileira é assim. Autofágica. Ter 32 partidos não significa pluralidade de ideias. Indica apenas que a geleia geral aumentou e que o eleitor terá mais dificuldade para enxergar a realidade. A reforma partidária, tantas vezes prometida, ficou no meio do caminho. E ninguém mais se lembra que foi uma promessa importante depois das manifestações de junho.
Dilma digital - MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 29/09
Que o PT está atento às novas mídias sociais, é sabido desde que, nas últimas eleições, ficou claro que o partido tinha uma verdadeira organização digital dedicada a espalhar pela rede críticas e acusações aos adversários políticos. Há também um bem montado esquema de blogs pagos por verba oficial para elogiar o governo petista e tentar desqualificar os críticos, sejam eles políticos, jornalistas independentes ou cidadãos que não se veem representados pelo governo que está aí.
Basta ver a malhação digital orquestrada recentemente contra as atrizes globais que se vestiram de preto para protestar contra o resultado do julgamento do Supremo tribunal Federal que, aprovando os embargos infringentes, adiou para as calendas gregas o cumprimento das penas a que os mensaleiros já estão condenados.
O surgimento de José Dirceu por trás do fenômeno Mídia Ninja, depois das manifestações de junho, e os financiamentos oficiais às atividades do grupo mostram como o partido está atento às experiências nesse setor.
A atividade de Ricardo Augusto Poppi Martins, o assim chamado coordenador de Novas Mídias e Outras Linguagens de Participação, ligado ao gabinete do ministro Gilberto Carvalho, foi revelada depois de sua participação em uma reunião na embaixada de Cuba para organizar uma campanha de difamação da blogueira Yoani Sánchez em sua recente visita ao país.
Ele viajou em seguida para Cuba, onde participou de um seminário sobre o uso da internet em ações políticas. Pode-se imaginar o que aprendeu por lá, num país que controla a internet para impedir a população de entrar em contato com o mundo.
Há nesse campo, portanto, ações oficiais e outras, ilegais ou clandestinas, que só demonstram como o PT está à frente dos outros partidos no uso dessas novas ferramentas virtuais. Ontem, a presidente Dilma deu novos passos para aprofundar a atuação do governo nesse campo.
Depois das manifestações de junho, o governo está obcecado com esse negócio de mídias sociais , disse-me um ministro. A presidente Dilma, no terreno pessoal, abriu uma página no Facebook, anunciou que vai usar aplicativos como o Instagram e retornou ao Twitter, que havia abandonado após a vitória na eleição de 2010.
Aproveitou um diálogo com a personagem Dilma Bolada para responder à revista inglesa The Economist , que faz sérias críticas ao governo brasileiro na sua mais recente edição. No mesmo dia, lançou o @portalbrasil, o novo site do governo federal.
O mais revelador é que, no discurso de lançamento, a presidente associou-o a outras medidas já tomadas, como Lei de Acesso à Informação ou o Portal da Transparência, para dizer que o seu governo reduziu o grau de assimetria que existe entre o cidadão e o governo, no que se refere a informações .
Ela se disse disposta a construir uma prática sistemática de ouvir as ruas, de ouvir o que querem as universidades, de ouvir o que querem as pessoas, a população da cidade e do campo do Brasil, dos diferentes segmentos sociais, e ouvir as redes sociais, ter com as redes sociais também uma interação .
Continuando com a política de usar internamente a disputa com os Estados Unidos sobre a espionagem cibernética - esse assunto e o Mais Médicos foram os temas mais lembrados pelos cidadãos ouvidos pela mais recente pesquisa Ibope, que mostrou uma subida da popularidade da presidente -, a presidente Dilma voltou a repisar a necessidade de proteger a rede social para impedir que ela se transforme em um campo de batalha cibernético entre países .
É evidente que o governo, qualquer governo, tem mais e melhores condições que os partidos que estão fora dele para fazer o diabo numa eleição, como a própria Dilma admitiu recentemente. A ideia de um governo mais aberto ao cidadão-contribuinte e a participação pessoal da presidente nas redes sociais são uma boa maneira não apenas de aproximar-se do eleitor, mas também de desmentir a imagem de uma gerentona inflexível e raivosa. Mesmo que não passe de puro marketing.
Além do STF - MARCO AURÉLIO NOGUEIRA
O ESTADO DE S. PAULO - 28/09
Passado o furor que acompanhou a decisão do Supremo tribunal Federal (STF)de aceitar os embargos infringentes no julgamento do "mensalão", trata-se agora de olhar para o que sobrou: praticamente tudo.
O valor simbólico do julgamento converteu-o em divisor de águas. Ensejou a expectativa de que se tenha criado jurisprudência específica para o julgamento da corrupção na saltas esferas políticas e governamentais, onde há foro privilegiado, e nessa medida deixou no ar a sensação de que a República poderia ser mais bem defendida pelo Poder Judiciário, ou, mais especificamente, por aquele tribunal superior. A partidarização do assunto,porém, fez o processo dilatar-se no tempo, exacerbar sua dinâmica de rito sumário e caminhar cerca do pela suspeita de ter sido uma peça condenatória a serviço da oposição e,a ofinal, de se ter posto a serviço do Poder Executivo. O que era para ter seguido trâmites processuais mais técnicos, compatíveis com essa instância judicial, ganhou uma turbulência que despiu o tema de boa parte da seriedade de que se revestira: em vez do crime cometido, foram para a berlinda os critérios e procedimentos do tribunal.
Hoje não se discute mais o "mensalão", mas seu julgamento.
Apesar disso, certas práticas ancestrais de corrupção - presentes em inúmeros grandes e pequenos ilícitos cotidianos - ganharam transparência e foram desnaturalizadas.O"mensalão" foi grave não pelas quantias que movimentou ou pelos procedimentos que se adotaram, mas pelo envolvimento do primeiríssimo escalão governamental.
Não foi "o maior escândalo da História", fórmula sensacionalista que só serve para turvar o entendimento. Mas demarcou um estilo de fazer política que não conta mais com espaços ilimitados de reprodução.A partidarização cumpriu aqui sua maior função: impossibilitou a plena e cabal conclusão do processo, mediante aressignificação do ocorrido e a introdução, nele, tanto de componentes épicos de"ataque à República" quanto de argumentos banalizadores do tipo "caixa 2". Perderam-se com isso o justo meio termo, a frieza analítica, a contundência pedagógica.
Os opostos abraçaram-se e, querendo ou não,converteram o episódio em algo que a todos prejudicará.
Ao serem condenados, os réus condenaram também o tribunal que os julgou, o bom senso, a política e a República.
Os embargos infringentes foram superdimensionados, como se representassem a salvação dos condenados ou o completo desvirtuamento do que foi feito durante o processo. É verdade que, ao serem aceitos, projetaram o risco de que o STF negue sua condição de última instância, se sobreponha a si mesmo e passe a funcionar na base de recursos em cascata,como numa Corte estadual ou regional.
O Supremo poderá transformar-se em " tribunal penal de terceira instância", observou o ex-ministro Eros Grau. Outro jurista de ponta, o professor Virgílio Afonso da Silva, lembrou que o STF raramente julga casos penais e construiu sua imagem como Casa onde se examinam relevantes e complexas questões morais ignoradas pelo Legislativo.
Está havendo uma juste nessa imagem, mas não é razoável que se dê como favas contadas o abandono da trilha seguida até então pelo Supremo.
O novo julgamento não será ruim para o País. Mostrará, ou não, que os juízes têm coerência e, se for o caso, humildade para reconhecer que erraram. Mais um rei será desnudado. Deixará claro que os réus tiveram direito amplo de defesa. Se vierem a ter suas penas reduzidas com base em novas provas e em bons argumentos de sustentação, ajustiça se fará. Se for por algum cambalacho, todo mundo perceberá. E se não forem beneficiados e tudo se confirmar, ninguém poderá dizer que o STF agiu de modo atrabiliário. A maior probabilidade é que se mantenha o que já foi decidido no julgamento original.
Ministros do porte dos integrantes da Corte não costumam brincar com suas decisões.
O importante, agora, é saber o que virá pela frente.
Ao evidenciar que um ilícito gravíssimo era cometido na antes sala do presidente, o "mensalão" fez com que a corrupção (endêmica na vida nacional) só pudesse ser abordada de forma hiperpolitizada. Ela não pode mais ser analisada por critérios técnicos ou segundo a ética e a norma jurídica. Virou expediente eleitoral, munição para jogar os "bons" contra os "maus". O julgamento e os embargos reforçaram tudo isso.
O Palácio do Planalto emitiu, discretamente, sinas de preocupação com a passagem para 2014 de uma discussão que não é bom elixir eleitoral. A manutenção do tema na agenda não é confortável para a situação, pois as águas turvas do processo respingarão nas operações governamentais e na opinião pública.
A sensação de que a Justiça olha com benevolência para os mais fortes, em detrimento dos comuns, poderá crescer, misturando-se com a convicção de que a impunidade dos "de cima" é uma cláusula pétrea, difícil de ser alterada. O novo julgamento manterá o STF politizado, partidarizado e contestado.
O pior é que o prolongamento do caso no tempo dará mais combustível para a surra da polarização PT/PSDB invadir o ano eleitoral de 2014 . Ambos os partidos querem isso, pois não conseguem respirar de outro jeito.
Precisam ser adversários recíprocos para encontrar alguma função política. Não estão preocupados com a sociedade ou o País, nem atentos à voz das ruas.
Giram em padrão analógico, ao passo que a vida já se digitalizou.
Como escreveu dias atrás no Estadão o jornalista José Roberto Toledo," a disputa política continua rodando em falso, cada lado repetindo as mesmas acusações de sempre. A única diferença é a quantidade crescente de bile a espumar nas time lines". Impulsionado pelo moralismo de uns e pelo desejo de vingança de outros, o ódio vai escorrendo das redes para as ruas, contaminando o debate democrático.
Enquanto isso, o País, que permanece vivo, continua sem ver luz no fim do túnel.
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