FOLHA DE SP - 16/12
Se um dia não existir mais mulheres que cobram por sexo, a violência no mundo será maior
A repressão ao sexo mudou de lugar, agora ela está ali onde se situa o discurso "por um mundo melhor". As antigas "freiras" e senhoras protestantes de preto, que falavam de pecado e babavam de ódio das mais gostosas, agora propõem a extinção do sexo pago em nome da "justiça social". Ou seja, a puta, a garota de programa, deve deixar de existir. Antes era o pecado, agora é a "exploração do corpo".
O conceito de pecado implica em desejo reprimido (o que dá tesão), o de "exploração" não pressupõe o desejo, mas sim o papo-furado do "capital malvado". Gente chata essa que fala de "controle político do corpo".
Meu Deus, quando é que nos tornamos tão incapazes de entender um mínimo da natureza humana? Já sei: desde que criamos essa noção autoritária de "lutar por um mundo melhor".
Se um dia não existir mais mulheres que cobram por sexo (de modo direto e sem rodeios), a violência no mundo será ainda maior. Sexo e amor sempre custam dinheiro, além de outras coisas. Aliás, a garota de programa é a mulher menos cara do mundo, custa só dinheiro.
Outras relações custam vínculos, jantarzinhos, longas conversas, "DRs", incertezas quanto à retribuição do investimento de desejo, tempo e dinheiro. Entre essas meninas que trocam dinheiro por sexo, as melhores são aquelas que o fazem porque gostam do que fazem. Aliás, como em toda profissão.
Na Antiguidade, em muitos lugares, essas mulheres generosas faziam parte do processo de transformar um menino num homem. Mesmo em rotinas religiosas e espirituais. Na Bíblia, o numero de personagens prostitutas importantes é razoável. Dirão algumas pessoas mais nervosas que isso é "machismo", mas elas não entendem nada de sexo nem de mulher.
Nelson Rodrigues falava de "uma vocação ancestral". Diria eu, um arquétipo. O mundo fica mais pobre cada vez que esta vocação se torna muda. Tranque-a num quarto e seu perfume atravessará as paredes. Seu desejo escorrerá por debaixo da porta. Esconda-a sob véus, ela ressurgirá nos olhos, nos lábios, nos fios de cabelo. Seja nas roupas, na maquiagem, no modo de andar, de se sentar, de cruzar as pernas, de pensar, de sonhar, as melhores mulheres exalam cheiro de sexo como um dos modos de se relacionar com o mundo. Na filosofia se chama isso de erotismo.
A psicologia evolucionista considera a mulher que troca sexo por dinheiro um salto adaptativo. Elas mantêm o poligenismo masculino sob controle porque não exigem investimento afetivo em troca. Antes uma delas do que uma colega de trabalho. Não se pode falar isso, mas todo mundo sabe disso. Com a colega vem o risco da semelhança de interesses, da convergência de gostos, e o pior, a possível sensibilidade compartilhada.
Mas, eis que o Monsieur Normal, leia-se, o chato do François Hollande, presidente da França, resolveu multar quem for pego com uma dessas mulheres generosas. Não vai adiantar, só vai aumentar a violência, o crime, a distancia geográfica entre o homem e a mulher que querem fazer sexo sem complicações.
Mas, seguramente, vai aumentar a arrecadação do Estado, única coisa que socialista entende de economia. No resto, são analfabetos que só atrapalham o mundo. O que alimenta o socialismo como visão de mundo é a inveja dos que não conseguem ganhar dinheiro contra os que conseguem. De novo, o pecado (a inveja), ilumina melhor nossa natureza do que o blá-blá-blá da política como redenção do mundo.
Os "corretos" falam em "profissional do sexo", porque consideram a expressão puta ou garota de programa um desrespeito com essas mulheres. Pura hipocrisia, como sempre, quando se fala de pessoas que querem "um mundo melhor". Como dizia o filósofo Emil Cioran, vizinhos que são indiferentes são melhores do que vizinhos que têm uma "visão de mundo".
Mas, graças a Deus (que nos entende melhor do que esses santinhos de pau oco), essa lei não vai adiantar porque quanto mais se castiga a nudez paga da mulher, mais deliciosa ela fica. Ao final, a mulher que troca sexo por dinheiro, sempre é mais desejada quando encontrá-la fica ainda mais caro.
segunda-feira, dezembro 16, 2013
O que é dinheiro? - LULI RADFAHRER
FOLHA DE SP - 16/12
Transacionar com bitcoins, mais do que um investimento, é um voto de confiança no sistema
O mundo digital mediu grandezas que não podiam ser quantificadas e criou estruturas de valores que colocaram em crise a ideia que se tinha do valor do dinheiro.
Atenção, reputação, fidelidade e intenção de compra hoje são tão mensuráveis e tangíveis quanto títulos e derivativos --e tão voláteis quanto eles. As novas transações deixam claro o que o acordo de Bretton Woods tinha esclarecido aos economistas: que o dinheiro não precisa ter lastro em ouro ou outra commodity, até porque o valor dessas mercadorias é aleatório.
Moedas alternativas não são novidade. Na forma de ações, ouro, pedras preciosas, terras, arte ou influência, quantias gigantescas são trocadas diariamente, nem sempre às claras. Nos aeroportos de paraísos fiscais, contêineres guardam pedras brilhantes, trocadas por seus donos em um sistema que beira o escambo, oculto ao governo.
Mesmo entre os comuns, cuja demanda por liquidez não permite que o patrimônio seja imobilizado em mercadorias, o papel-moeda é rapidamente substituído por cartões de plástico. Os créditos do vale-refeição e do bilhete único são comercializados abertamente. Para quem não tem condições de participar do sistema bancário, moedas alternativas estimulam trocas e o empreendedorismo social. Em países africanos, serviços de transferências de valores e pagamentos digitais via SMS são populares.
Uma das moedas alternativas mais recentes é o bitcoin. Seu lastro é matemática pura, na forma de criptografia. Um código muito complexo foi disponibilizado na internet, gerando moedas virtuais (bitcoins) para máquinas que se dediquem a resolvê-lo. Esse processo, chamado de "mineração", também é usado para validar as transações.
O desafio é logarítmico: começou fácil, gerando muito com pouquíssimo esforço, e se complicou com o tempo. De um total máximo de 21 milhões que estarão disponíveis em 2140, quando o último pedaço for decodificado, 57% já foram criados. Em 2017, a fatia chegará a 75%.
Ao contrário do que se diz, o bitcoin não é sigiloso. Existem várias formas de identificar transações, mesmo que o sistema seja criptografado. Seu maior benefício é o de criar uma moeda descentralizada, livre dos bancos centrais.
Por ser independente, não há quem o controle. Por isso ele oscila tanto. Nos últimos meses valorizou mais de 700%, chegando a um pico de US$ 1.242 por unidade --próximo ao valor da onça de ouro.
Transacionar com bitcoins, mais do que um investimento, é um voto de confiança no sistema. Mas é preciso utilizá-lo. De nada adianta guardar um título sem garantia ou valor de revenda. E é aí que reside o problema. O volume de transações ainda é muito pequeno.
Pesquisadores da Universidade da Califórnia descobriram que quase dois terços dos bitcoins nunca foram gastos. Dos comercializados, um grande volume foi para um site de apostas. Outro foi para a Silk Road, site fechado em outubro.
Mesmo assim o BC dos EUA dá sinais de regulá-lo, e a China se manifestou contrária à moeda. Ambos são passos para sua legitimação.
Bitcoin é só uma das novas moedas digitais. Mesmo que não dê muito certo, outras surgirão. E podem fazer com que as economias do mundo finalmente se comportem.
Transacionar com bitcoins, mais do que um investimento, é um voto de confiança no sistema
O mundo digital mediu grandezas que não podiam ser quantificadas e criou estruturas de valores que colocaram em crise a ideia que se tinha do valor do dinheiro.
Atenção, reputação, fidelidade e intenção de compra hoje são tão mensuráveis e tangíveis quanto títulos e derivativos --e tão voláteis quanto eles. As novas transações deixam claro o que o acordo de Bretton Woods tinha esclarecido aos economistas: que o dinheiro não precisa ter lastro em ouro ou outra commodity, até porque o valor dessas mercadorias é aleatório.
Moedas alternativas não são novidade. Na forma de ações, ouro, pedras preciosas, terras, arte ou influência, quantias gigantescas são trocadas diariamente, nem sempre às claras. Nos aeroportos de paraísos fiscais, contêineres guardam pedras brilhantes, trocadas por seus donos em um sistema que beira o escambo, oculto ao governo.
Mesmo entre os comuns, cuja demanda por liquidez não permite que o patrimônio seja imobilizado em mercadorias, o papel-moeda é rapidamente substituído por cartões de plástico. Os créditos do vale-refeição e do bilhete único são comercializados abertamente. Para quem não tem condições de participar do sistema bancário, moedas alternativas estimulam trocas e o empreendedorismo social. Em países africanos, serviços de transferências de valores e pagamentos digitais via SMS são populares.
Uma das moedas alternativas mais recentes é o bitcoin. Seu lastro é matemática pura, na forma de criptografia. Um código muito complexo foi disponibilizado na internet, gerando moedas virtuais (bitcoins) para máquinas que se dediquem a resolvê-lo. Esse processo, chamado de "mineração", também é usado para validar as transações.
O desafio é logarítmico: começou fácil, gerando muito com pouquíssimo esforço, e se complicou com o tempo. De um total máximo de 21 milhões que estarão disponíveis em 2140, quando o último pedaço for decodificado, 57% já foram criados. Em 2017, a fatia chegará a 75%.
Ao contrário do que se diz, o bitcoin não é sigiloso. Existem várias formas de identificar transações, mesmo que o sistema seja criptografado. Seu maior benefício é o de criar uma moeda descentralizada, livre dos bancos centrais.
Por ser independente, não há quem o controle. Por isso ele oscila tanto. Nos últimos meses valorizou mais de 700%, chegando a um pico de US$ 1.242 por unidade --próximo ao valor da onça de ouro.
Transacionar com bitcoins, mais do que um investimento, é um voto de confiança no sistema. Mas é preciso utilizá-lo. De nada adianta guardar um título sem garantia ou valor de revenda. E é aí que reside o problema. O volume de transações ainda é muito pequeno.
Pesquisadores da Universidade da Califórnia descobriram que quase dois terços dos bitcoins nunca foram gastos. Dos comercializados, um grande volume foi para um site de apostas. Outro foi para a Silk Road, site fechado em outubro.
Mesmo assim o BC dos EUA dá sinais de regulá-lo, e a China se manifestou contrária à moeda. Ambos são passos para sua legitimação.
Bitcoin é só uma das novas moedas digitais. Mesmo que não dê muito certo, outras surgirão. E podem fazer com que as economias do mundo finalmente se comportem.
Feliz 2016? Nada disso - PAULO GUEDES
O GLOBO - 16/12
A economia brasileira chega ao final de 2013 com lamentável desempenho. A persistência de uma elevada taxa de inflação, apesar do rígido controle de preços administrados pelo governo, foi um mau sinal. E o baixo ritmo de crescimento, apesar das desonerações fiscais e da ampliação do crédito pelos bancos públicos, foi outro péssimo sinal. O ano que se encerra marcou nossa transição de "nova fronteira de crescimento da economia mundial", no início da grande crise contemporânea, para a atual posição de desfavorecimento entre as opções dos investidores globais.
As expectativas quanto ao desempenho futuro de nossa economia são ainda mais preocupantes.
Não se espera a queda da inflação em um ano eleitoral como 2014. Sem maior controle sobre a expansão dos gastos públicos, resta ao Banco Central correr atrás de expectativas inflacionárias desfavoráveis, derrubando o crescimento com a alta dos juros. As nuvens do baixo crescimento e da inflação elevada em 2014 começam a projetar sombras adversas também para 2015.
Haveria novo salto inflacionário pelo desrepresamento dos preços administrados e outra rodada de elevação dos juros logo no início do novo mandato presidencial. Tudo isso ainda sem falar na redução dos estímulos monetários pelo banco central americano.
A desaceleração das economias emergentes e as perspectivas de recuperação americana e de estabilização europeia explicam o baixo desempenho das bolsas emergentes diante dos mercados acionários das economias avançadas.
Mas as razões de ficarmos para trás mesmo entre as bolsas emergentes estão na deterioração gradual da qualidade de nossas políticas macroeconômicas, de nossos fundamentos fiscais e nossos desacertos nos marcos regulatórios dos setores de energia e petróleo.
O que fazer? Dormir e acordar apenas em 2016? Nada disso. Habituado a navegar contra ciclotímicas expectativas, reafirmo duas hipóteses básicas. Sim, não havia mesmo nenhum "perigo" de a situação melhorar, pois somos prisioneiros da armadilha social-democrata do baixo crescimento. Mas somos, por outro lado, uma sociedade aberta em construção. Extrapolações simplistas de mais dois anos de crise são impróprias. Ou a equipe econômica muda sua política, ou Dilma muda sua equipe econômica, ou o Brasil vai mudar de presidente.
Preocupação oportuna, mas insuficiente - JORGE J. OKUBARO
O Estado de S.Paulo - 16/12
O público decerto gostou do discurso que a presidente Dilma Rousseff pronunciou na semana passada em Brasília, durante o Encontro Nacional da Indústria. "Ouso dizer que em poucos momentos da nossa história o desenvolvimento da indústria esteve tão no centro das preocupações do governo", disse ela, ao enumerar as ações desenvolvidas por sua administração para apoiar a atividade industrial. Linhas de crédito, redução do custo de insumos (especialmente do principal deles, a energia elétrica), incentivos tributários, parcerias público-privadas na área de medicamentos e vacinas e até ações na área de infraestrutura foram citados pela presidente como demonstrações da preocupação de seu governo com a indústria nacional.
É possível que essa lista, à qual podem ser acrescentadas outras iniciativas, de fato comprove a prioridade da indústria nas políticas do governo. Continua muito difícil, no entanto, aferir os resultados práticos desse conjunto de medidas.
A produção industrial neste ano, até outubro, registrou aumento de 1,6%, mas é uma variação insuficiente para compensar a retração de 2,6% observada em 2012. Ou seja, ainda não se retornou aos níveis de 2011. Com a redução do pessoal empregado, a produtividade aumentou 2,6%, o que não é muito. Para que a eficiência produtiva continue a aumentar sem gerar desemprego, os investimentos em inovação e modernização terão de crescer mais depressa. Mas ainda não há evidências de que isso esteja ocorrendo.
Nos dez primeiro meses de 2013, o emprego industrial teve redução de 1% na comparação com o período janeiro-outubro de 2012. Dos 18 segmentos industriais cujo nível de ocupação é acompanhado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 10 registraram queda no número de trabalhadores empregados em 2012 e continuaram a reduzir seu quadro de pessoal em 2013. Ao analisar os dados do IBGE, o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) constatou que, nos setores considerados tradicionais, como têxtil, vestuário, calçados e couro e madeira, "a retração do emprego foi elevada em 2012 e continua alta em 2013".
É provável que a tendência de queda do emprego tenha se mantido em novembro. Isso ocorreu em São Paulo, como constatou a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). O nível de emprego na indústria paulista em novembro caiu 1,69% na comparação com novembro de 2012. É possível que o ano termine com o fechamento de 20 mil postos de trabalho na indústria paulista.
Do ponto de vista do comércio exterior, o quadro é ainda mais desalentador para a indústria brasileira. O Brasil exporta cada vez menos e importa cada vez mais bens industrializados.
Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior mostram que, neste ano, as exportações de produtos industrializados (manufaturados e semimanufaturados) diminuíram 1,5% na comparação com 2012 (as vendas caíram de US$ 113,7 bilhões, de janeiro a novembro de 2012, para US$ 112 bilhões, nos 11 primeiros meses de 2013).
Já as importações de bens de capital, bens de consumo e combustíveis saltaram de US$ 92 bilhões para US$ 98,8 bilhões (aumento de 7,4%). Se forem computados os bens intermediários (agrupados nas estatísticas do governo com as matérias-primas), o aumento pode ter sido ainda maior. O avanço de produtos fabricados na China e de outras procedências no mercado brasileiro são o resultado mais visível da perda de espaço do produto nacional.
Quanto à eficiência produtiva, um estudo divulgado na quinta-feira pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) deixa claro que, se avanços houve, foram modestos - e insuficientes para melhorar a situação do Brasil na comparação com outros 14 países com presença semelhante no mercado mundial ou com características econômico-sociais comparáveis às nossas.
No conjunto de oito fatores considerados como condicionantes da competitividade de um país, o Brasil ocupa o terço final da lista (entre a 11.ª e a 15.ª posição) em cinco; nos outros três, ocupa o terço intermediário (da 6.ª à 10.ª posição). Não está entre os cinco melhores em nenhum quesito.
A posição brasileira melhorou com relação ao custo da mão de obra, aos gastos públicos com educação e ao ambiente macroeconômico. A classificação brasileira não se alterou nos itens custo de capital, disponibilidade de capital, infraestrutura de transportes e peso dos tributos. Mas piorou nos itens disponibilidade de mão de obra, sistema financeiro, infraestrutura de energia e telecomunicações e apoio governamental à inovação e microeconomia, entre outros.
Não chega a ser consolador o fato de o Brasil não ter piorado no item infraestrutura de transportes, ao qual o governo vem dedicando atenção especial desde agosto de 2012, com o programa de investimento em logística, que prevê aplicações bilionárias em rodovias, ferrovias, portos e aeroportos. O País ocupava a última posição nesse item no estudo feito em 2012 e não saiu do lugar em 2013.
Onde melhorou, o Brasil melhorou pouco. "Nossa velocidade não é suficiente", observou o diretor de Políticas e Estratégia da CNI, José Augusto Coelho Fernandes. "Às vezes, ficamos contentes com nossos avanços, mas não os comparamos com avanços mais expressivos que nossos concorrentes vêm tendo."
O estudo da CNI mostra que as ações enumeradas pela presidente da República para demonstrar sua preocupação com a recuperação da indústria e a restauração de seu papel de gerador de empregos e de produtor de riquezas não têm sido suficientes para tornar o setor mais competitivo. É preciso que essas ações sejam mais eficazes e não atrasem tanto como têm atrasado.
Mas, mais do que isso, é preciso que o governo volte suas atenções também para problemas que afetam fortemente a atividade industrial, mas que não têm sido enfrentados com a intensidade necessária. E é preciso que as ações do poder público sejam articuladas, o que nem sempre tem ocorrido.
O público decerto gostou do discurso que a presidente Dilma Rousseff pronunciou na semana passada em Brasília, durante o Encontro Nacional da Indústria. "Ouso dizer que em poucos momentos da nossa história o desenvolvimento da indústria esteve tão no centro das preocupações do governo", disse ela, ao enumerar as ações desenvolvidas por sua administração para apoiar a atividade industrial. Linhas de crédito, redução do custo de insumos (especialmente do principal deles, a energia elétrica), incentivos tributários, parcerias público-privadas na área de medicamentos e vacinas e até ações na área de infraestrutura foram citados pela presidente como demonstrações da preocupação de seu governo com a indústria nacional.
É possível que essa lista, à qual podem ser acrescentadas outras iniciativas, de fato comprove a prioridade da indústria nas políticas do governo. Continua muito difícil, no entanto, aferir os resultados práticos desse conjunto de medidas.
A produção industrial neste ano, até outubro, registrou aumento de 1,6%, mas é uma variação insuficiente para compensar a retração de 2,6% observada em 2012. Ou seja, ainda não se retornou aos níveis de 2011. Com a redução do pessoal empregado, a produtividade aumentou 2,6%, o que não é muito. Para que a eficiência produtiva continue a aumentar sem gerar desemprego, os investimentos em inovação e modernização terão de crescer mais depressa. Mas ainda não há evidências de que isso esteja ocorrendo.
Nos dez primeiro meses de 2013, o emprego industrial teve redução de 1% na comparação com o período janeiro-outubro de 2012. Dos 18 segmentos industriais cujo nível de ocupação é acompanhado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 10 registraram queda no número de trabalhadores empregados em 2012 e continuaram a reduzir seu quadro de pessoal em 2013. Ao analisar os dados do IBGE, o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) constatou que, nos setores considerados tradicionais, como têxtil, vestuário, calçados e couro e madeira, "a retração do emprego foi elevada em 2012 e continua alta em 2013".
É provável que a tendência de queda do emprego tenha se mantido em novembro. Isso ocorreu em São Paulo, como constatou a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). O nível de emprego na indústria paulista em novembro caiu 1,69% na comparação com novembro de 2012. É possível que o ano termine com o fechamento de 20 mil postos de trabalho na indústria paulista.
Do ponto de vista do comércio exterior, o quadro é ainda mais desalentador para a indústria brasileira. O Brasil exporta cada vez menos e importa cada vez mais bens industrializados.
Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior mostram que, neste ano, as exportações de produtos industrializados (manufaturados e semimanufaturados) diminuíram 1,5% na comparação com 2012 (as vendas caíram de US$ 113,7 bilhões, de janeiro a novembro de 2012, para US$ 112 bilhões, nos 11 primeiros meses de 2013).
Já as importações de bens de capital, bens de consumo e combustíveis saltaram de US$ 92 bilhões para US$ 98,8 bilhões (aumento de 7,4%). Se forem computados os bens intermediários (agrupados nas estatísticas do governo com as matérias-primas), o aumento pode ter sido ainda maior. O avanço de produtos fabricados na China e de outras procedências no mercado brasileiro são o resultado mais visível da perda de espaço do produto nacional.
Quanto à eficiência produtiva, um estudo divulgado na quinta-feira pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) deixa claro que, se avanços houve, foram modestos - e insuficientes para melhorar a situação do Brasil na comparação com outros 14 países com presença semelhante no mercado mundial ou com características econômico-sociais comparáveis às nossas.
No conjunto de oito fatores considerados como condicionantes da competitividade de um país, o Brasil ocupa o terço final da lista (entre a 11.ª e a 15.ª posição) em cinco; nos outros três, ocupa o terço intermediário (da 6.ª à 10.ª posição). Não está entre os cinco melhores em nenhum quesito.
A posição brasileira melhorou com relação ao custo da mão de obra, aos gastos públicos com educação e ao ambiente macroeconômico. A classificação brasileira não se alterou nos itens custo de capital, disponibilidade de capital, infraestrutura de transportes e peso dos tributos. Mas piorou nos itens disponibilidade de mão de obra, sistema financeiro, infraestrutura de energia e telecomunicações e apoio governamental à inovação e microeconomia, entre outros.
Não chega a ser consolador o fato de o Brasil não ter piorado no item infraestrutura de transportes, ao qual o governo vem dedicando atenção especial desde agosto de 2012, com o programa de investimento em logística, que prevê aplicações bilionárias em rodovias, ferrovias, portos e aeroportos. O País ocupava a última posição nesse item no estudo feito em 2012 e não saiu do lugar em 2013.
Onde melhorou, o Brasil melhorou pouco. "Nossa velocidade não é suficiente", observou o diretor de Políticas e Estratégia da CNI, José Augusto Coelho Fernandes. "Às vezes, ficamos contentes com nossos avanços, mas não os comparamos com avanços mais expressivos que nossos concorrentes vêm tendo."
O estudo da CNI mostra que as ações enumeradas pela presidente da República para demonstrar sua preocupação com a recuperação da indústria e a restauração de seu papel de gerador de empregos e de produtor de riquezas não têm sido suficientes para tornar o setor mais competitivo. É preciso que essas ações sejam mais eficazes e não atrasem tanto como têm atrasado.
Mas, mais do que isso, é preciso que o governo volte suas atenções também para problemas que afetam fortemente a atividade industrial, mas que não têm sido enfrentados com a intensidade necessária. E é preciso que as ações do poder público sejam articuladas, o que nem sempre tem ocorrido.
Cabral a bordo - RICARDO NOBLAT
O GLOBO - 16/12
Ou o governador Sérgio Cabral (PMDB-RJ) já não está mais aí para nada ou foi vítima de um dos defeitos mais flagrantes de sua personalidade - a arrogância. Que tal um governador flagrado utilizando helicópteros do Estado para viajar com a família nos fins de semana para sua casa de veraneio? Diante do escândalo, ele assina decreto tornando seus passeios impossíveis. Depois, simplesmente volta a voar.
POIS É DISSO que se trata. Em julho último, a "Veja" descobriu que Cabral abusava da utilização dos helicópteros oficiais. Cabral mora no Leblon, a curta distância da Lagoa Rodrigo de Freitas. Escoltado por seguranças, ele ia de carro até a lagoa e, de lá, de helicóptero para o Palácio Guanabara - um voo de 10 minutos. Nos fins de semana, embarcava com família, empregados e cachorro para Mangaratiba.
ALI, NUM CONDOMÍNIO de luxo, Cabral construiu duas casas valorizadas pela paisagem paradisíaca da Baía de Sepetiba e pela proximidade com Angra dos Reis e Paraty. Com frequência, um dos helicópteros fazia mais de um voo às sextas-feiras e aos domingos para levar e trazer a comitiva de Cabral. Na época, ensaiou-se a desculpa de que o uso dos helicópteros se devia a razões de segurança. Não colou.
ENTÃO, HUMILDEMENTE, Cabral desculpou-se e assinou um decreto restringindo o uso de helicópteros ao "governador, vice-governador, chefe de poderes, secretários e presidentes de autarquias e de empresas públicas". Teve o cuidado de registrar que os helicópteros só poderiam ser requisitados para "atividades próprias do serviço público". Como suas viagens de fim de semana nada tinham a ver com tais atividades... Cabral suspendeu-as.
ATÉ QUE, NA SEMANA passada, a "Folha de S. Paulo" anunciou em seu site: Cabral voltou a se valer dos helicópteros do estado para ir veranear em Mangaratiba com a família e empregados. Notou-se a ausência do cachorro. A mesma desculpa esboçada da vez anterior foi sacada desta: razões de segurança. Cabral atendeu a recomendação da Subsecretaria de Segurança Militar da Casa Civil. Ele é um alvo precioso para traficantes e bandidos. Não pode se arriscar.
PALAVRAS DE CABRAL: "Infelizmente, o fato de ser governador impõe que temos que enfrentar a segurança pública, a marginalidade, o tráfico de drogas.
Para ganhar essa luta difícil, o gabinete militar impõe a mim e à minha família restrições. E eu tenho que segui-las por uma questão de segurança".
O poder da bandidagem deve ter aumentado muito entre julho último, quando Cabral renunciou aos voos a Mangaratiba, e agora, quando os retomou.
NÃO FAZ SENTIDO que o poder tenha se mantido o mesmo e, no entanto, Cabral tenha mudado sua conduta. Ou faz sentido, sim, se admitirmos que Cabral possa estar mentindo - ele e seus assessores.
O governador é obrigado a comparecer diariamente ao seu local de trabalho - e nada mais natural, no Rio ou em qualquer outro lugar, que seja acompanhado de seguranças. Não é obrigado a veranear nos fins de semana. Se o fizer, que seja às suas próprias custas.
CABRAL VAI MAL. Entre os 17 governadores do país é o quarto pior avaliado. Há três anos, foi um dos cabos eleitorais mais cortejados por Lula para eleger Dilma presidente. Lula já o abandonou. O PT terá candidato ao governo do Rio - o senador Lindbergh Farias. Foi tal o número de erros políticos cometidos por Cabral que a maioria dos políticos quer distância dele. O que Cabral fez de mais certo - as UPPs - está a perigo.
POIS É DISSO que se trata. Em julho último, a "Veja" descobriu que Cabral abusava da utilização dos helicópteros oficiais. Cabral mora no Leblon, a curta distância da Lagoa Rodrigo de Freitas. Escoltado por seguranças, ele ia de carro até a lagoa e, de lá, de helicóptero para o Palácio Guanabara - um voo de 10 minutos. Nos fins de semana, embarcava com família, empregados e cachorro para Mangaratiba.
ALI, NUM CONDOMÍNIO de luxo, Cabral construiu duas casas valorizadas pela paisagem paradisíaca da Baía de Sepetiba e pela proximidade com Angra dos Reis e Paraty. Com frequência, um dos helicópteros fazia mais de um voo às sextas-feiras e aos domingos para levar e trazer a comitiva de Cabral. Na época, ensaiou-se a desculpa de que o uso dos helicópteros se devia a razões de segurança. Não colou.
ENTÃO, HUMILDEMENTE, Cabral desculpou-se e assinou um decreto restringindo o uso de helicópteros ao "governador, vice-governador, chefe de poderes, secretários e presidentes de autarquias e de empresas públicas". Teve o cuidado de registrar que os helicópteros só poderiam ser requisitados para "atividades próprias do serviço público". Como suas viagens de fim de semana nada tinham a ver com tais atividades... Cabral suspendeu-as.
ATÉ QUE, NA SEMANA passada, a "Folha de S. Paulo" anunciou em seu site: Cabral voltou a se valer dos helicópteros do estado para ir veranear em Mangaratiba com a família e empregados. Notou-se a ausência do cachorro. A mesma desculpa esboçada da vez anterior foi sacada desta: razões de segurança. Cabral atendeu a recomendação da Subsecretaria de Segurança Militar da Casa Civil. Ele é um alvo precioso para traficantes e bandidos. Não pode se arriscar.
PALAVRAS DE CABRAL: "Infelizmente, o fato de ser governador impõe que temos que enfrentar a segurança pública, a marginalidade, o tráfico de drogas.
Para ganhar essa luta difícil, o gabinete militar impõe a mim e à minha família restrições. E eu tenho que segui-las por uma questão de segurança".
O poder da bandidagem deve ter aumentado muito entre julho último, quando Cabral renunciou aos voos a Mangaratiba, e agora, quando os retomou.
NÃO FAZ SENTIDO que o poder tenha se mantido o mesmo e, no entanto, Cabral tenha mudado sua conduta. Ou faz sentido, sim, se admitirmos que Cabral possa estar mentindo - ele e seus assessores.
O governador é obrigado a comparecer diariamente ao seu local de trabalho - e nada mais natural, no Rio ou em qualquer outro lugar, que seja acompanhado de seguranças. Não é obrigado a veranear nos fins de semana. Se o fizer, que seja às suas próprias custas.
CABRAL VAI MAL. Entre os 17 governadores do país é o quarto pior avaliado. Há três anos, foi um dos cabos eleitorais mais cortejados por Lula para eleger Dilma presidente. Lula já o abandonou. O PT terá candidato ao governo do Rio - o senador Lindbergh Farias. Foi tal o número de erros políticos cometidos por Cabral que a maioria dos políticos quer distância dele. O que Cabral fez de mais certo - as UPPs - está a perigo.
Vestais dissolutas - PAULO BROSSARD
ZERO HORA - 16/12
Em matéria de “traficâncias” as vestais revelaram-se insuperáveis
Quando fundado o PT seus integrantes eram, em regra, sindicalistas e alguns intelectuais. Por esta razão, ou por outra, o nascente partido tinha a pretensão de ser melhor que os demais. Proclamavam-se superiores. Eram os puros, enquanto os outros seriam os ímpios, ou de segunda categoria.
Cedo, porém, ficou demonstrado que a nova agremiação haveria de revelar-se possuidora de mazelas, quiçá superiores às atribuídas aos outros partidos; com efeito, chegados ao poder não hesitariam em abrir um capítulo novo no elenco das ilicitudes, o mensalão foi o maior, pelo menos o mais chocante por seu ineditismo e ostensividade; não foi o único, formou um rosário. Um dos mais conhecidos relacionou-se quando da eleição a governador de São Paulo, do atual ministro da Educação. Ficaram famosos os fatos que tiveram como cenário o Hotel Ibis, em São Paulo, local onde agente petista compraria um dossiê que comprometeria o adversário, ao preço de R$ 1,700 milhão, dinheiro de contado. Se bem me lembro, o dossiê não passava de um agregado de coisas ineptas a ponto de o virtual adquirente desinteressar-se da suposta preciosidade e de evadir-se para não se encontrar com a Polícia Federal, deixando mesmo no hotel a soma de R$ 1,700 milhão durante algum tempo. Menciono o caso por ter se tornado público o episódio para demonstrar o proteiforme procedimento instaurado. Diante da repercussão, nada menos que o presidente Luiz Inácio tentou diminuir a importância da ocorrência chamando os compradores, seus correligionários, de aloprados, vocábulo que, se não mentem os dicionários, significa endoidados, malucos, estúpidos.
Agora veio a público que, numa investigação sobre contas no Exterior, o Ministério da Justiça consultou o Legal Department Cayman Islands Government, aparecendo nada mais nada menos que o nome de José Dirceu de Oliveira e Silva. Por esta, ou aquela razão, o Ministério da Justiça, que requerera esclarecimentos, parece ter sepultado a incômoda revelação e o fato não teve a menor consequência, quer dizer, são fatos, e fatos de suma gravidade e os serviços oficiais da alçada de um ministério de alta responsabilidade e conceito teriam arquivado documento que lhe foi dirigido em resposta a inquirição sua. Tais fatos são bastantes para demonstrar a deterioração das normas da nossa administração, sob o governo que pretendia ser um padrão de excelência. Diante deles poderia o Ministério da Justiça arquivá-los, conservando sem divulgação e sem consequências o fato gravíssimo, sem converter-se em co-resposável nem incidir em prevaricação?
Agora, outro fato arrasador vem de ocorrer, envolvendo o coração do governo. Acaba de ser publicado livro, com base em copiosas revelações de Romeu Tuma Junior, ex-secretário Nacional da Justiça do Ministério. Alega-se que Tuma Junior foi exonerado em razão de ilegalidades cometidas ou coisa parecida, mas quanto tempo decorreu desde a demissão? Não foi bastante para apurar a responsabilidade do demitido, suposta a veracidade das imputações que lhe foram feitas? A verdade, porém, é que nada, absolutamente nada, nenhuma iniciativa tomou a administração de apurar fatos ditos graves como lhe cabia.
Publicado em livro e divulgado nacionalmente não se viu nem ouviu uma palavra do governo a respeito. Essa omissão não importa em cumplicidade e esta em corresponsabilidade; as revelações atingem mortalmente a alta administração do país.
Enfim parece que em matéria de “traficâncias” as vestais revelaram-se insuperáveis.
Em matéria de “traficâncias” as vestais revelaram-se insuperáveis
Quando fundado o PT seus integrantes eram, em regra, sindicalistas e alguns intelectuais. Por esta razão, ou por outra, o nascente partido tinha a pretensão de ser melhor que os demais. Proclamavam-se superiores. Eram os puros, enquanto os outros seriam os ímpios, ou de segunda categoria.
Cedo, porém, ficou demonstrado que a nova agremiação haveria de revelar-se possuidora de mazelas, quiçá superiores às atribuídas aos outros partidos; com efeito, chegados ao poder não hesitariam em abrir um capítulo novo no elenco das ilicitudes, o mensalão foi o maior, pelo menos o mais chocante por seu ineditismo e ostensividade; não foi o único, formou um rosário. Um dos mais conhecidos relacionou-se quando da eleição a governador de São Paulo, do atual ministro da Educação. Ficaram famosos os fatos que tiveram como cenário o Hotel Ibis, em São Paulo, local onde agente petista compraria um dossiê que comprometeria o adversário, ao preço de R$ 1,700 milhão, dinheiro de contado. Se bem me lembro, o dossiê não passava de um agregado de coisas ineptas a ponto de o virtual adquirente desinteressar-se da suposta preciosidade e de evadir-se para não se encontrar com a Polícia Federal, deixando mesmo no hotel a soma de R$ 1,700 milhão durante algum tempo. Menciono o caso por ter se tornado público o episódio para demonstrar o proteiforme procedimento instaurado. Diante da repercussão, nada menos que o presidente Luiz Inácio tentou diminuir a importância da ocorrência chamando os compradores, seus correligionários, de aloprados, vocábulo que, se não mentem os dicionários, significa endoidados, malucos, estúpidos.
Agora veio a público que, numa investigação sobre contas no Exterior, o Ministério da Justiça consultou o Legal Department Cayman Islands Government, aparecendo nada mais nada menos que o nome de José Dirceu de Oliveira e Silva. Por esta, ou aquela razão, o Ministério da Justiça, que requerera esclarecimentos, parece ter sepultado a incômoda revelação e o fato não teve a menor consequência, quer dizer, são fatos, e fatos de suma gravidade e os serviços oficiais da alçada de um ministério de alta responsabilidade e conceito teriam arquivado documento que lhe foi dirigido em resposta a inquirição sua. Tais fatos são bastantes para demonstrar a deterioração das normas da nossa administração, sob o governo que pretendia ser um padrão de excelência. Diante deles poderia o Ministério da Justiça arquivá-los, conservando sem divulgação e sem consequências o fato gravíssimo, sem converter-se em co-resposável nem incidir em prevaricação?
Agora, outro fato arrasador vem de ocorrer, envolvendo o coração do governo. Acaba de ser publicado livro, com base em copiosas revelações de Romeu Tuma Junior, ex-secretário Nacional da Justiça do Ministério. Alega-se que Tuma Junior foi exonerado em razão de ilegalidades cometidas ou coisa parecida, mas quanto tempo decorreu desde a demissão? Não foi bastante para apurar a responsabilidade do demitido, suposta a veracidade das imputações que lhe foram feitas? A verdade, porém, é que nada, absolutamente nada, nenhuma iniciativa tomou a administração de apurar fatos ditos graves como lhe cabia.
Publicado em livro e divulgado nacionalmente não se viu nem ouviu uma palavra do governo a respeito. Essa omissão não importa em cumplicidade e esta em corresponsabilidade; as revelações atingem mortalmente a alta administração do país.
Enfim parece que em matéria de “traficâncias” as vestais revelaram-se insuperáveis.
A narrativa e os esqueletos - DENIS LERRER ROSENFIELD
O GLOBO - 16/12
Revolver tumbas e mexer com esqueletos são formas de manipulação de algo putrefato que exibem um tipo de prazer mórbido. Pior ainda quando isso se faz sob a bandeira ideológica de uma suposta busca da verdade. O lado físico do cadáver toma o lugar do que deveria ser um modo simbólico de o país lidar com seu passado. A reelaboração cede o lugar à exploração dos esqueletos.
A exumação do cadáver de João Goulart está sendo a ocasião de toda uma narrativa que procura sobrepor-se aos fatos. Desenterrar alguém é uma atividade dolorosa, que deveria ser evitada ao extremo, salvo se, bem fundada, fosse absolutamente necessária. Nada indica, segundo depoimentos de seus próximos, que o ex-presidente tenha sido envenenado. Foi construída toda uma "história" que procura justificar tal ato com objetivo explícito de exploração política, numa nítida tentativa de reescrever a História.
O País vive uma extraordinária fase de normalidade institucional, estabilidade democrática e fortalecimento das instituições, fruto de todo um processo negociado de transição política que culminou na Constituição de 1988. Nossa Carta Maior tem demonstrado sua vitalidade até em processos de mudança de vários de seus artigos, conforme procedimentos e regras que exibem toda a sua força.
Nunca é demais lembrar que a Lei da Anistia foi instrumento central de todo esse processo, tendo como protagonistas a oposição liberal e democrática, encarnada por figuras notáveis como Ulysses Guimarães, Paulo Brossard, Teotônio Villela, Franco Montoro, Tancredo Neves e Mário Covas, entre outros; os dissidentes da Arena, que formaram o Partido da Frente Liberal; e os militares democráticos, que não só abriram esse caminho, como o sustentaram. A esquerda radical, derrotada, nada tinha a dizer senão reconhecer um processo de democratização de tipo liberal, levado a cabo contra suas convicções. Na linguagem marxista, teve de se resignar à "democracia burguesa", pois seu projeto socialista/comunista havia fracassado.
O Brasil foi e é um exemplo político para o mundo. Exemplo de concórdia e de negociação, sabendo deixar as sequelas do passado para trás, ciente de que o presente só vislumbra a esperança quando voltado para o futuro. Acontece que os derrotados estão agora tentando reescrever a História, procurando a vitória pela manipulação das ideias e de sua consequente exploração midiática.
Um episódio particularmente significativo ocorreu no reenterro do ex-presidente Goulart, com as honras devidas. Havia parlamentares e ministros presentes. O Exército Brasileiro esteve representado na figura do general Bolívar Goellner, comandante Militar Sul. Seguiu, enquanto soldado, o regulamento, conforme as determinações do Comando do Exército, subordinado à presidente da República. Atuou, portanto, como militar constitucionalista que é. Soube, no entanto, distinguir entre homenagem militar e suposto reconhecimento de um "erro histórico". Não havia nenhuma retratação em pauta, pela simples razão de que esse não era o significado das honras fúnebres, tampouco cabendo a ele refazer a História. A História é constituída por fatos que não podem ser reescritos, embora, evidentemente, possam servir de aprendizado para as futuras gerações, não importando o lado atingido.
A ministra Maria do Rosário, irritada, segundo a notícia, teria declarado que o assunto deveria ser levado ao Comando do Exército. Um parlamentar usou da ironia para dizer que nem sabia o nome do comandante Militar Sul e que este deveria apenas seguir o regulamento. Queria que ele o desrespeitasse? Trata-se de afrontas, totalmente desnecessárias, à instituição militar, que, sim, garantiu a transição democrática e foi sua garante em momentos difíceis.
Note-se que a exumação do cadáver para exames toxicológicos e outros deixou de ser a questão e o problema se deslocou para as honras militares do novo enterro. Já fora um despropósito a exumação, que foi seguida de um espetáculo político, cada partido e político procurando extrair o máximo de benefícios. Foi uma forma canhestra de reescritura da História. O recato desapareceu em proveito da ideologia.
E não se fala mais dos exames. Seus "resultados", conforme foi anunciado, podem demorar entre seis meses e um ano. Um dos especialistas, aliás, é um médico cubano, como se a ditadura comunista caribenha fosse um grande centro de medicina, contando com profissionais e laboratórios mundialmente renomados. Deveriam, isso sim, enterrar seu próprio regime político, exemplo de abolição das liberdades e da democracia.
O problema tornou-se o reenterro, como se a exposição do cadáver devesse ser seguida de atos de desrespeito à instituição militar, provocada na figura de seu representante. Sua resposta, contida e clara, mostra o amadurecimento do Exército precisamente quando confrontado com quem procura provocá-lo. Por que, aliás, a provocação?
É como se a exumação e o novo enterro tivessem como finalidade uma reescritura histórica, que poderia levar à abolição da Lei da Anistia. Já não bastou a Comissão da Verdade ter-se recusado a investigar os crimes da esquerda armada, num comportamento evidentemente parcial. Tampouco é suficiente que os que propugnavam estabelecer no Brasil uma ditadura comunista sejam agora apresentados como "combatentes da liberdade". Não prezam a estabilidade institucional do País?
Parece não haver limites. Agora, outra reescritura entra em pauta, a da morte do ex-presidente Juscelino Kubitschek, apresentada como "assassinato político". Todos os especialistas que analisaram o fato se recusam a essa nova pantomima, reiterando o acidente que foi. Os cadáveres estão-se tornando protagonistas políticos graças a esses criadores de "mortos vivos". Pensam que o País deve seguir o exemplo da Argentina, que se enterra cada vez mais?
Revolver tumbas e mexer com esqueletos são formas de manipulação de algo putrefato que exibem um tipo de prazer mórbido. Pior ainda quando isso se faz sob a bandeira ideológica de uma suposta busca da verdade. O lado físico do cadáver toma o lugar do que deveria ser um modo simbólico de o país lidar com seu passado. A reelaboração cede o lugar à exploração dos esqueletos.
A exumação do cadáver de João Goulart está sendo a ocasião de toda uma narrativa que procura sobrepor-se aos fatos. Desenterrar alguém é uma atividade dolorosa, que deveria ser evitada ao extremo, salvo se, bem fundada, fosse absolutamente necessária. Nada indica, segundo depoimentos de seus próximos, que o ex-presidente tenha sido envenenado. Foi construída toda uma "história" que procura justificar tal ato com objetivo explícito de exploração política, numa nítida tentativa de reescrever a História.
O País vive uma extraordinária fase de normalidade institucional, estabilidade democrática e fortalecimento das instituições, fruto de todo um processo negociado de transição política que culminou na Constituição de 1988. Nossa Carta Maior tem demonstrado sua vitalidade até em processos de mudança de vários de seus artigos, conforme procedimentos e regras que exibem toda a sua força.
Nunca é demais lembrar que a Lei da Anistia foi instrumento central de todo esse processo, tendo como protagonistas a oposição liberal e democrática, encarnada por figuras notáveis como Ulysses Guimarães, Paulo Brossard, Teotônio Villela, Franco Montoro, Tancredo Neves e Mário Covas, entre outros; os dissidentes da Arena, que formaram o Partido da Frente Liberal; e os militares democráticos, que não só abriram esse caminho, como o sustentaram. A esquerda radical, derrotada, nada tinha a dizer senão reconhecer um processo de democratização de tipo liberal, levado a cabo contra suas convicções. Na linguagem marxista, teve de se resignar à "democracia burguesa", pois seu projeto socialista/comunista havia fracassado.
O Brasil foi e é um exemplo político para o mundo. Exemplo de concórdia e de negociação, sabendo deixar as sequelas do passado para trás, ciente de que o presente só vislumbra a esperança quando voltado para o futuro. Acontece que os derrotados estão agora tentando reescrever a História, procurando a vitória pela manipulação das ideias e de sua consequente exploração midiática.
Um episódio particularmente significativo ocorreu no reenterro do ex-presidente Goulart, com as honras devidas. Havia parlamentares e ministros presentes. O Exército Brasileiro esteve representado na figura do general Bolívar Goellner, comandante Militar Sul. Seguiu, enquanto soldado, o regulamento, conforme as determinações do Comando do Exército, subordinado à presidente da República. Atuou, portanto, como militar constitucionalista que é. Soube, no entanto, distinguir entre homenagem militar e suposto reconhecimento de um "erro histórico". Não havia nenhuma retratação em pauta, pela simples razão de que esse não era o significado das honras fúnebres, tampouco cabendo a ele refazer a História. A História é constituída por fatos que não podem ser reescritos, embora, evidentemente, possam servir de aprendizado para as futuras gerações, não importando o lado atingido.
A ministra Maria do Rosário, irritada, segundo a notícia, teria declarado que o assunto deveria ser levado ao Comando do Exército. Um parlamentar usou da ironia para dizer que nem sabia o nome do comandante Militar Sul e que este deveria apenas seguir o regulamento. Queria que ele o desrespeitasse? Trata-se de afrontas, totalmente desnecessárias, à instituição militar, que, sim, garantiu a transição democrática e foi sua garante em momentos difíceis.
Note-se que a exumação do cadáver para exames toxicológicos e outros deixou de ser a questão e o problema se deslocou para as honras militares do novo enterro. Já fora um despropósito a exumação, que foi seguida de um espetáculo político, cada partido e político procurando extrair o máximo de benefícios. Foi uma forma canhestra de reescritura da História. O recato desapareceu em proveito da ideologia.
E não se fala mais dos exames. Seus "resultados", conforme foi anunciado, podem demorar entre seis meses e um ano. Um dos especialistas, aliás, é um médico cubano, como se a ditadura comunista caribenha fosse um grande centro de medicina, contando com profissionais e laboratórios mundialmente renomados. Deveriam, isso sim, enterrar seu próprio regime político, exemplo de abolição das liberdades e da democracia.
O problema tornou-se o reenterro, como se a exposição do cadáver devesse ser seguida de atos de desrespeito à instituição militar, provocada na figura de seu representante. Sua resposta, contida e clara, mostra o amadurecimento do Exército precisamente quando confrontado com quem procura provocá-lo. Por que, aliás, a provocação?
É como se a exumação e o novo enterro tivessem como finalidade uma reescritura histórica, que poderia levar à abolição da Lei da Anistia. Já não bastou a Comissão da Verdade ter-se recusado a investigar os crimes da esquerda armada, num comportamento evidentemente parcial. Tampouco é suficiente que os que propugnavam estabelecer no Brasil uma ditadura comunista sejam agora apresentados como "combatentes da liberdade". Não prezam a estabilidade institucional do País?
Parece não haver limites. Agora, outra reescritura entra em pauta, a da morte do ex-presidente Juscelino Kubitschek, apresentada como "assassinato político". Todos os especialistas que analisaram o fato se recusam a essa nova pantomima, reiterando o acidente que foi. Os cadáveres estão-se tornando protagonistas políticos graças a esses criadores de "mortos vivos". Pensam que o País deve seguir o exemplo da Argentina, que se enterra cada vez mais?
Incompetência Futebol Clube - VALDO CRUZ
FOLHA DE SP - 16/12
BRASÍLIA - A CBF é uma entidade milionária e polêmica. Deveria zelar para que seu negócio, o futebol brasileiro, fosse um exemplo de eficiência e de jogo limpo. Dentro e fora das quatro linhas de campo.
Só que hoje, tal como nos últimos anos, um vergonhoso filme vai se repetir. Algo que a CBF já poderia e deveria ter eliminado do nosso futebol, mas não o fez por falta de vontade, incompetência ou coisa pior.
Difícil compreender que, depois de tantos casos, a Portuguesa corra o risco de ser rebaixada, em benefício do Fluminense, por ter escalado um jogador suspenso. Num jogo em que o resultado não valia mais nada.
Claro que os próprios clubes é que deveriam evitar tal situação, mas eles são um desastre administrativo. Diante disso e para salvar seu rico negócio, a CBF deveria ter tomado medidas há muito tempo.
Lá vai uma simples sugestão. Na era da banda larga e de sofisticados programas, um software nada complicado poderia ser desenvolvido pela entidade para criar um banco de dados, alimentado diariamente, com a situação jurídica de todos os jogadores do campeonato.
A cada partida, os times acessariam o sistema para checar, online, quem tem condições de jogo. O delegado da partida faria a checagem final horas antes de a bola rolar. Jogador irregular seria barrado ali.
Uma ação preventiva que nos pouparia desse vexame às vésperas de sediarmos a Copa do Mundo. Mas nossos dirigentes e juristas desportivos só reagem depois da cancela arrombada. Com soluções cada vez mais malucas e absurdas.
Agora estão propondo tirar os pontos de times cujas torcidas partam para o braço nos estádios. Parece a solução. Só que um time perde em campo, infiltrados provocam briga nas arquibancadas e, bingo, o vencedor pode ser o punido.
Enfim, o bom senso tem de prevalecer. Quem perdeu em campo, nele que se recupere. Seja quem for. Em defesa do futebol pentacampeão.
BRASÍLIA - A CBF é uma entidade milionária e polêmica. Deveria zelar para que seu negócio, o futebol brasileiro, fosse um exemplo de eficiência e de jogo limpo. Dentro e fora das quatro linhas de campo.
Só que hoje, tal como nos últimos anos, um vergonhoso filme vai se repetir. Algo que a CBF já poderia e deveria ter eliminado do nosso futebol, mas não o fez por falta de vontade, incompetência ou coisa pior.
Difícil compreender que, depois de tantos casos, a Portuguesa corra o risco de ser rebaixada, em benefício do Fluminense, por ter escalado um jogador suspenso. Num jogo em que o resultado não valia mais nada.
Claro que os próprios clubes é que deveriam evitar tal situação, mas eles são um desastre administrativo. Diante disso e para salvar seu rico negócio, a CBF deveria ter tomado medidas há muito tempo.
Lá vai uma simples sugestão. Na era da banda larga e de sofisticados programas, um software nada complicado poderia ser desenvolvido pela entidade para criar um banco de dados, alimentado diariamente, com a situação jurídica de todos os jogadores do campeonato.
A cada partida, os times acessariam o sistema para checar, online, quem tem condições de jogo. O delegado da partida faria a checagem final horas antes de a bola rolar. Jogador irregular seria barrado ali.
Uma ação preventiva que nos pouparia desse vexame às vésperas de sediarmos a Copa do Mundo. Mas nossos dirigentes e juristas desportivos só reagem depois da cancela arrombada. Com soluções cada vez mais malucas e absurdas.
Agora estão propondo tirar os pontos de times cujas torcidas partam para o braço nos estádios. Parece a solução. Só que um time perde em campo, infiltrados provocam briga nas arquibancadas e, bingo, o vencedor pode ser o punido.
Enfim, o bom senso tem de prevalecer. Quem perdeu em campo, nele que se recupere. Seja quem for. Em defesa do futebol pentacampeão.
Governadores em perigo - JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
O Estado de S.Paulo - 16/12
E m 2010, a eleição nos Estados apontou para a continuidade. Dos 27 governadores, 20 concorreram a um segundo mandato, e 13 deles foram reconduzidos ao cargo. Outros três elegeram seu candidato. Para 2014, a bússola virou de ponta-cabeça. Dos 15 governadores aptos à reeleição, só três podem confiar que estão no rumo certo para voltar ao palácio depois de passarem pelas urnas.
A pesquisa CNI/Ibope divulgada na sexta-feira forneceu o melhor mapa da sucessão estadual até agora. Pela primeira vez em três anos, todos os governadores foram avaliados simultaneamente. A sondagem não perguntou em quem o eleitor pretende votar, mas revelou o que os governados acham de seus governantes - e essa opinião é menos volátil que a intenção de voto.
A principal conclusão é que o ranking de 2013 é muito pior para a maioria dos governadores do que foi o de 2010:11 estão devendo, 9 estão numa zona que não pode ser chamada de conforto, e, dos 7 que estão realmente bem avaliados, 4 não são candidatos. A chave da pesquisa é o saldo de avaliação. Na eleição passada, ele mostrou-se o melhor fator para prever o resultado das urnas.
O saldo de avaliação é o que sobra, ou não, da popularidade do governador após levar-se em conta as opiniões negativas: é a taxa de ótimo e bom, descontada a de quem acha o governo ruim ou péssimo. Essa classificação é melhor do que a simples pontuação pela taxa de ótimo/bom porque considera também o tamanho e a intensidade da oposição ao governante avaliado. Carma pesa.
Em 2010, o saldo médio dos governadores era de 31 pontos positivos - uma festa. Agora, é de 4. Quase um velório.Na eleição passada, nove governadores tinham saldo igual ou superior a 45 pontos. Foi a nota de corte: todos se reelegeram (7) ou elegeram seus candidatos (2). Hoje, só três governadores estão nessa faixa de quase certeza.
Omar Aziz (PSD-Amazonas) tem 67 pontos de saldo de avaliação, mas não pode se candidatar, mesmo estando há apenas quatro anos no cargo: era vice de Eduardo Braga, e teve que assumir o governo em 2010. Concorreu e se elegeu para o segundo mandato. Divide-se, agora, entre apoiar seu vice ou seu antecessor.
Tião Viana tem o 2º maior saldo, 48 pontos, e deve concorrer à reeleição. Tenta uma façanha: o quinto mandato seguido do PT no governo do Acre. Eduardo Campos (Pernambuco) está em 3º lugar no ranking, com 45 pontos. É o candidato do PSB, mas a presidente.
A seguir aparecem quatro governadores com saldos entre 31 e 38 pontos. Dois deles não podem se recandidatar: André Puccinelli (PMDB), no Mato Grosso do Sul, e Antonio Anastasia (PSDB) em Minas Gerais. Os outros dois disputam a reeleição: Beto Richa (PSDB) no Paraná, e Renato Casagrande (PSB), no Espírito Santo.
Em 2010, havia sete governadores nessa situação: cinco se reelegeram, um perdeu e o terceiro não influiu. Ou seja, Richa e Casagrande têm boas chances de voltar ao governo, mas, como João Cahulla provou em 2010, imprevistos acontecem. Junto com Viana, são, hoje, os três governadores mais perto de se reelegerem.
A terceira faixa tem nove governadores com saldo de aprovação entre zero e 18 pontos. É uma zona arriscada. Na eleição passada, dos sete que estavam nesse patamar, só um se reelegeu. Estão nessa zona de perigo os governadores de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT).
Abaixo deles no ranking há 11 governadores com saldo negativo - dos quais seis poderiam se candidatar à reeleição, pois estão no primeiro mandato. Mas eles correm alto risco de fracasso: nenhum governador devendo popularidade se reelegeu em 2010. Aos 11, só lhes resta mudar a imagem de seus governos em poucos meses. Para eles o tempo urge mais do que para os outros.
E m 2010, a eleição nos Estados apontou para a continuidade. Dos 27 governadores, 20 concorreram a um segundo mandato, e 13 deles foram reconduzidos ao cargo. Outros três elegeram seu candidato. Para 2014, a bússola virou de ponta-cabeça. Dos 15 governadores aptos à reeleição, só três podem confiar que estão no rumo certo para voltar ao palácio depois de passarem pelas urnas.
A pesquisa CNI/Ibope divulgada na sexta-feira forneceu o melhor mapa da sucessão estadual até agora. Pela primeira vez em três anos, todos os governadores foram avaliados simultaneamente. A sondagem não perguntou em quem o eleitor pretende votar, mas revelou o que os governados acham de seus governantes - e essa opinião é menos volátil que a intenção de voto.
A principal conclusão é que o ranking de 2013 é muito pior para a maioria dos governadores do que foi o de 2010:11 estão devendo, 9 estão numa zona que não pode ser chamada de conforto, e, dos 7 que estão realmente bem avaliados, 4 não são candidatos. A chave da pesquisa é o saldo de avaliação. Na eleição passada, ele mostrou-se o melhor fator para prever o resultado das urnas.
O saldo de avaliação é o que sobra, ou não, da popularidade do governador após levar-se em conta as opiniões negativas: é a taxa de ótimo e bom, descontada a de quem acha o governo ruim ou péssimo. Essa classificação é melhor do que a simples pontuação pela taxa de ótimo/bom porque considera também o tamanho e a intensidade da oposição ao governante avaliado. Carma pesa.
Em 2010, o saldo médio dos governadores era de 31 pontos positivos - uma festa. Agora, é de 4. Quase um velório.Na eleição passada, nove governadores tinham saldo igual ou superior a 45 pontos. Foi a nota de corte: todos se reelegeram (7) ou elegeram seus candidatos (2). Hoje, só três governadores estão nessa faixa de quase certeza.
Omar Aziz (PSD-Amazonas) tem 67 pontos de saldo de avaliação, mas não pode se candidatar, mesmo estando há apenas quatro anos no cargo: era vice de Eduardo Braga, e teve que assumir o governo em 2010. Concorreu e se elegeu para o segundo mandato. Divide-se, agora, entre apoiar seu vice ou seu antecessor.
Tião Viana tem o 2º maior saldo, 48 pontos, e deve concorrer à reeleição. Tenta uma façanha: o quinto mandato seguido do PT no governo do Acre. Eduardo Campos (Pernambuco) está em 3º lugar no ranking, com 45 pontos. É o candidato do PSB, mas a presidente.
A seguir aparecem quatro governadores com saldos entre 31 e 38 pontos. Dois deles não podem se recandidatar: André Puccinelli (PMDB), no Mato Grosso do Sul, e Antonio Anastasia (PSDB) em Minas Gerais. Os outros dois disputam a reeleição: Beto Richa (PSDB) no Paraná, e Renato Casagrande (PSB), no Espírito Santo.
Em 2010, havia sete governadores nessa situação: cinco se reelegeram, um perdeu e o terceiro não influiu. Ou seja, Richa e Casagrande têm boas chances de voltar ao governo, mas, como João Cahulla provou em 2010, imprevistos acontecem. Junto com Viana, são, hoje, os três governadores mais perto de se reelegerem.
A terceira faixa tem nove governadores com saldo de aprovação entre zero e 18 pontos. É uma zona arriscada. Na eleição passada, dos sete que estavam nesse patamar, só um se reelegeu. Estão nessa zona de perigo os governadores de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT).
Abaixo deles no ranking há 11 governadores com saldo negativo - dos quais seis poderiam se candidatar à reeleição, pois estão no primeiro mandato. Mas eles correm alto risco de fracasso: nenhum governador devendo popularidade se reelegeu em 2010. Aos 11, só lhes resta mudar a imagem de seus governos em poucos meses. Para eles o tempo urge mais do que para os outros.
Para mudar o Brasil - AÉCIO NEVES
FOLHA DE SP - 16/12
O PSDB apresenta amanhã, em Brasília, as primeiras ideias colhidas em encontros regionais, que, acreditamos, podem representar as bases de uma nova agenda para o Brasil.
Não se trata de um diagnóstico técnico ou um programa de governo, mas de reivindicações, cobranças, expectativas e sentimentos vindos dos quatro cantos do país, que constituem pontos de partida para o aprofundamento do diálogo com os brasileiros.
Nesse tempo, fomos honrados com a preciosa interlocução de cidadãos, profissionais e militantes das mais diversas causas. E mergulhamos em alguns dos grandes desafios das regiões. Constatamos que as urgências de dez anos atrás permanecem as mesmas de hoje. E vimos surgir novos desafios.
Testemunhamos a luta diária das famílias nordestinas, vítimas e reféns da seca e os limites do atual projeto de gerenciamento da pobreza extrema, sem horizonte concreto capaz de libertar e habilitar uma nova cidadania.
Fomos impactados pela tragédia de milhares de vidas perdidas impunemente nas grandes cidades, em um país que não tem sequer um arremedo de política nacional de segurança, e pelo desastre cotidiano de um sistema de saúde abandonado em macas pelos corredores de hospitais superlotados, em filas imensas, em demora, desvios e desrespeito.
Foi possível ver de perto, no Centro-Oeste, a contradição entre a alta produtividade brasileira da porteira para dentro e os gargalos da infraestrutura precária que se eternizaram da porteira para fora, travando nosso desenvolvimento.
É desolador constatar o declínio da indústria de transformação e a extinção dos melhores empregos e como fazem falta ao país o direito básico do cidadão de ter acesso a uma educação de qualidade, os anos perdidos em escolaridade e uma mão de obra mais qualificada.
Dos inúmeros fragmentos de esperanças irrealizadas foi possível modelar uma paisagem de desafios reais a serem vencidos. Nela, descobre-se que as grandes conquistas nacionais não foram suficientes para acolher todos os brasileiros e grande parte dos nossos ficaram e continuam pelo caminho.
Descortina-se um país inteiro ainda a ser construído, que demanda a superação do "nós e eles", estimulado pelo poder central, e a construção de uma inédita convergência em torno das grandes causas nacionais. Para isso, é preciso desprendimento, espírito público e generosidade. A formatação de um novo diálogo nacional tornou-se imprescindível para que a lógica das decisões do poder público, tantas vezes distante da realidade, ganhe legitimidade e efetiva participação da cidadania.
É hora de somar forças para a construção coletiva de um novo projeto para mudar de verdade o Brasil.
O PSDB apresenta amanhã, em Brasília, as primeiras ideias colhidas em encontros regionais, que, acreditamos, podem representar as bases de uma nova agenda para o Brasil.
Não se trata de um diagnóstico técnico ou um programa de governo, mas de reivindicações, cobranças, expectativas e sentimentos vindos dos quatro cantos do país, que constituem pontos de partida para o aprofundamento do diálogo com os brasileiros.
Nesse tempo, fomos honrados com a preciosa interlocução de cidadãos, profissionais e militantes das mais diversas causas. E mergulhamos em alguns dos grandes desafios das regiões. Constatamos que as urgências de dez anos atrás permanecem as mesmas de hoje. E vimos surgir novos desafios.
Testemunhamos a luta diária das famílias nordestinas, vítimas e reféns da seca e os limites do atual projeto de gerenciamento da pobreza extrema, sem horizonte concreto capaz de libertar e habilitar uma nova cidadania.
Fomos impactados pela tragédia de milhares de vidas perdidas impunemente nas grandes cidades, em um país que não tem sequer um arremedo de política nacional de segurança, e pelo desastre cotidiano de um sistema de saúde abandonado em macas pelos corredores de hospitais superlotados, em filas imensas, em demora, desvios e desrespeito.
Foi possível ver de perto, no Centro-Oeste, a contradição entre a alta produtividade brasileira da porteira para dentro e os gargalos da infraestrutura precária que se eternizaram da porteira para fora, travando nosso desenvolvimento.
É desolador constatar o declínio da indústria de transformação e a extinção dos melhores empregos e como fazem falta ao país o direito básico do cidadão de ter acesso a uma educação de qualidade, os anos perdidos em escolaridade e uma mão de obra mais qualificada.
Dos inúmeros fragmentos de esperanças irrealizadas foi possível modelar uma paisagem de desafios reais a serem vencidos. Nela, descobre-se que as grandes conquistas nacionais não foram suficientes para acolher todos os brasileiros e grande parte dos nossos ficaram e continuam pelo caminho.
Descortina-se um país inteiro ainda a ser construído, que demanda a superação do "nós e eles", estimulado pelo poder central, e a construção de uma inédita convergência em torno das grandes causas nacionais. Para isso, é preciso desprendimento, espírito público e generosidade. A formatação de um novo diálogo nacional tornou-se imprescindível para que a lógica das decisões do poder público, tantas vezes distante da realidade, ganhe legitimidade e efetiva participação da cidadania.
É hora de somar forças para a construção coletiva de um novo projeto para mudar de verdade o Brasil.
Brasil está mal na foto da economia - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE
CORREIO BRAZILIENSE - 16/12
Governantes costumam considerar entre seus deveres de ofício a tarefa de manter o otimismo sob qualquer circunstância. Mais ainda quando se trata da economia do país. É compreensível que o discurso oficial procure valorizar aspectos positivos da conjuntura e minimizar os dados que revelam fracassos. Os motivos para a sociedade se preocupar surgem quando passa da conta a distância entre o discurso oficial e a realidade, sem que se percebam medidas concretas para acelerar a aproximação entre esses dois polos.
Em vez disso, é comum a autoridade acuada pelo mau desempenho tentar afrouxar metas que ela mesmo estabeleceu, além de cair na tentação de culpar agentes de fora do governo e de apelar para o álibi dos fatores externos. Foi assim que, na semana passada, o governo reagiu ao constrangimento de ver fechar o terceiro ano seguido de baixo crescimento do PIB e de inflação acima da meta. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, por exemplo, identificou em "duas pernas mancas" a razão de o país não estar crescendo no ritmo prometido pelo próprio governo.
O crédito ao consumidor seria uma das pernas claudicantes; a crise internacional, a outra. No entanto, qualquer um sabe que, mesmo a oferta de crédito tendo se reduzido um pouco ultimamente, nem de longe se pode alegar falta de financiamento para animar o consumo. A esta altura, preocupa o fato de a principal autoridade da equipe econômica ver mais problema no consumo do que na oferta (produção).
Quanto à crise internacional, a neutralidade da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) se incumbiu de desmontar o álibi. Seus técnicos constataram que o recuo de 0,5% da economia brasileira no terceiro trimestre colocou o país na lanterna do grupo das 20 maiores economias (G-20).
De fato, o Brasil e a França foram os únicos do grupo que registraram crescimento negativo de julho a setembro. Ficamos abaixo da média do G-20, de 0,9%, e perdemos de países que estão no epicentro da crise, como Estados Unidos e Itália, e da União Europeia. Até a França, com 0,1% negativo, foi melhor do que o Brasil.
Foi, aliás, a França que mandou seu presidente ao Brasil na sexta-feira, em visita oficial. Ao recebê-lo, a presidente Dilma manteve a mensagem positiva: o país é confiável, tem firme compromisso com o equilíbrio fiscal, a inflação está controlada e dentro da meta. Não é o que mostram os índices oficiais: a inflação vai fechar o ano perto de 5,8%, bem acima da meta de 4,5%, e o superavit primário tem ocupado a criatividade dos contadores do Tesouro.
Confiável, por manter em desenvolvimento a sua jovem democracia - que garante a alternância no poder e o julgamento de criminosos importantes -, o Brasil não pode correr o risco de perder a avaliação positiva que conquistou no mercado internacional. Agências classificadoras de risco já ameaçam rever as notas do país. O ex-presidente do Goldman Sachs Jim O"Neal, famoso por criar o termo Bric, já pensa em retirar o país do acróstico, se o crescimento de 2014 repetir o de 2013. Em vez de discursos, a hora é, pois, de ação.
Em vez disso, é comum a autoridade acuada pelo mau desempenho tentar afrouxar metas que ela mesmo estabeleceu, além de cair na tentação de culpar agentes de fora do governo e de apelar para o álibi dos fatores externos. Foi assim que, na semana passada, o governo reagiu ao constrangimento de ver fechar o terceiro ano seguido de baixo crescimento do PIB e de inflação acima da meta. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, por exemplo, identificou em "duas pernas mancas" a razão de o país não estar crescendo no ritmo prometido pelo próprio governo.
O crédito ao consumidor seria uma das pernas claudicantes; a crise internacional, a outra. No entanto, qualquer um sabe que, mesmo a oferta de crédito tendo se reduzido um pouco ultimamente, nem de longe se pode alegar falta de financiamento para animar o consumo. A esta altura, preocupa o fato de a principal autoridade da equipe econômica ver mais problema no consumo do que na oferta (produção).
Quanto à crise internacional, a neutralidade da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) se incumbiu de desmontar o álibi. Seus técnicos constataram que o recuo de 0,5% da economia brasileira no terceiro trimestre colocou o país na lanterna do grupo das 20 maiores economias (G-20).
De fato, o Brasil e a França foram os únicos do grupo que registraram crescimento negativo de julho a setembro. Ficamos abaixo da média do G-20, de 0,9%, e perdemos de países que estão no epicentro da crise, como Estados Unidos e Itália, e da União Europeia. Até a França, com 0,1% negativo, foi melhor do que o Brasil.
Foi, aliás, a França que mandou seu presidente ao Brasil na sexta-feira, em visita oficial. Ao recebê-lo, a presidente Dilma manteve a mensagem positiva: o país é confiável, tem firme compromisso com o equilíbrio fiscal, a inflação está controlada e dentro da meta. Não é o que mostram os índices oficiais: a inflação vai fechar o ano perto de 5,8%, bem acima da meta de 4,5%, e o superavit primário tem ocupado a criatividade dos contadores do Tesouro.
Confiável, por manter em desenvolvimento a sua jovem democracia - que garante a alternância no poder e o julgamento de criminosos importantes -, o Brasil não pode correr o risco de perder a avaliação positiva que conquistou no mercado internacional. Agências classificadoras de risco já ameaçam rever as notas do país. O ex-presidente do Goldman Sachs Jim O"Neal, famoso por criar o termo Bric, já pensa em retirar o país do acróstico, se o crescimento de 2014 repetir o de 2013. Em vez de discursos, a hora é, pois, de ação.
SUS, 20 - EDITORIAL FOLHA DE SP
FOLHA DE SP - 16/12
Há uma quase unanimidade, no Brasil, quanto ao imperativo de aumentar as verbas para o setor público de saúde. Ainda bem que ela não é completa, porque, como diz a célebre frase de Nelson Rodrigues, o consenso não produz a mais inteligente das opiniões.
Não se pode negar que falte dinheiro: o gasto público (3,8% do PIB) é quase a metade, em termos proporcionais, do que despendem outros países com modelos semelhantes ao brasileiro. No entanto, o argumento ignora que o Sistema Único de Saúde (SUS) enfrenta, além do subfinanciamento, um problema grave de ineficiência.
Qualquer investimento para aprimorá-lo, pois, deveria concentrar-se antes em reformar sua organização --e não em aplicar mais dinheiro do contribuinte numa estrutura que apresenta diversos vícios. Resolvê-los é a melhor maneira de fortalecer os inegáveis méritos do SUS e ampliar os conhecidos avanços que tem proporcionado.
A conclusão --que agora ganha o reforço de um relatório técnico do Banco Mundial para avaliar os 20 anos do SUS-- pode não ser eleitoralmente rentável, mas é a correta.
Inúmeros especialistas reconhecem esse fato, mas o oportunismo político tem impedido que o tema ocupe o proscênio do debate sobre a saúde. Em lugar disso, o governo federal tira da manga o Mais Médicos. O programa rende votos e tem aspectos elogiáveis, mas nem resvala os problemas de ineficiência.
Estes são pelo menos três. O primeiro e mais óbvio é a baixa eficiência hospitalar. Dois terços dos estabelecimentos têm menos de 50 leitos, quando o padrão internacional preconiza pelo menos cem. São 3.500 unidades pequenas que, por definição, não têm demanda suficiente para justificar o custo.
Em segundo lugar, os hospitais atendem e internam pelo menos 30% de pacientes que não deveriam estar ali. São casos que poderiam ser tratados em ambulatórios ou acompanhados num sistema decente de assistência primária.
Por fim, há um número insuficiente de equipes de saúde da família, embora o montante tenha aumentado de forma expressiva nos últimos anos. Cada uma delas atende hoje 3.500 pessoas, e o próprio Ministério da Saúde tem por meta reduzir esse contingente para 2.000.
Nada disso se resolve sem dinheiro, por certo, mas ele não precisa sair sempre da expansão dos orçamentos. Mais racional seria começar pela economia de recursos, como dita o princípio da eficiência no trato da coisa pública. Mas isso é quase um anátema para a insalubre política nacional.
Mais estranho que a ficção - EDITORIAL GAZETA DO POVO - PR
GAZETA DO POVO - PR - 16/12
Resultados do teste Pisa mais uma vez fazem soar as sirenes sobre o estado da educação no país. Estranhamente, não haveremos de sair do lugar
Em seu magnífico livro A vida em análise, recém-lançado no Brasil, o psicanalista norte-americano Stephen Grosz conta, entre outras, a história de Marisa Panigrosso – mulher que saiu rapidamente da Torre Sul do World Trade Center assim que soaram os alarmes. As demais pessoas que estavam com ela no 98.º andar não fizeram o mesmo, e não viveram para contar. Grosz aproveita a deixa para se perguntar por que tendemos a ignorar os muitos alarmes que soam na sociedade. Negligência? Conforto? Descrença?
O Pisa – sigla em inglês para o Programa Internacional de Avaliação de Alunos – é uma promoção da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Abrange 470 mil alunos de 15 anos, oriundos de 65 países industrializados, incluindo convidados com menos lucros a exibir, a exemplo do Brasil. Repete-se a cada três anos. Nessa ocasião, as sirenes tocam solenemente para nós. Aliás, não seria exagero dizer que a única serventia do exame seja justamente essa: a de nos fazer reagir. Mas não chega a tanto, para surpresa geral. Um caso para Grosz.
O Brasil entra no Pisa como um agregado, um agraciado pela oportunidade de comparar seu desempenho e medir seu estágio em meio a nações que fazem investimentos maciços em educação. Quem sabe se anime. A estratégia não tem funcionado. Algum caprichoso que se ocupe em colocar lado a lado os resultados do teste, desde sua implantação, em 2000, há de ver que o país tem lugar cativo nas últimas posições, merecendo um prêmio, sim, mas por sua persistência na apatia. Fosse um ataque às Torres Gêmeas, estaríamos todos mortos.
O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, bem que tentou fazer de conta que o bicho não é tão feio como se pinta. Destacou o avanço dos 20 mil alunos brasileiros testados no campo da Matemática, mas sua retórica não convenceu. Estamos em 55.º lugar em Leitura e compreensão de texto; em 58.º na Matemática e 59.º em Ciências, posições resistentes às palavras de conforto. Marisa Panigrosso nem esperaria a última nota antes de se descabelar até a escada de incêndio.
A inércia tem uma explicação: o Pisa reflete o que já estamos carecas de saber. Diante de um fato sobre o qual não podemos agir, tendemos a ficar calados, à espera de que alguém mude de assunto, poupando-nos do tédio. Para os que não querem passar o próximo milênio com cara de paisagem, resta tentar resolver o problema por partes, para pelo menos entender o que significam três edições de bocejos no Pisa. Ter notas tão baixas em Ciência, por exemplo, é um tabefe: sinal de que para nós o avanço tecnológico continuará a ser uma mentira, uma lorota boa.
Um bom roteiro sobre perdas e danos é partir do Plano Nacional de Educação, o PNE, que vai fazer água antes de os investimentos na educação chegarem a 10% do PIB, como se planeja. Pois o buraco começa aí, na falta de instrumentos. Ora, dinheiro não é problema. Não resolve a educação, sabe-se. O Brasil até que gasta bastante. Mas é difícil não passar na frente de uma escola pública sem concluir que se trata de um dos lugares mais desprestigiados de que se tem notícia. Já os estádios de futebol, nem tanto.
Estima-se que o Brasil gaste US$ 26 mil com cada um de seus alunos entre 6 e 15 anos. Esse valor, se comparado ao de países que ocupam o topo do Pisa, reforçam a impressão de que somos mesmo ruins em matemática – a básica. Dica: basta multiplicar por quatro e eis o número ideal. Em tempo – professores americanos ganham 20% a mais do que a média de todos os salários do país. Professores brasileiros, 20% a menos. A carreira não é atraente. Explica e justifica.
Sem plano, sem investimentos, o que sobra são os estragos. Vale repetir o dado que assombrou o país nesses quase idos de 2013. Soube-se que um em cada cinco jovens entre 15 e 29 anos está fora da escola – 70% deles são mulheres. Que 5,3 milhões de brasileiros entre 18 e 25 anos nem estudam nem trabalham. Que algo como 23% dos jovens da faixa etária avaliada pelo Pisa não estão nem sequer na escola, o que de resto nos garantiria uma posição ainda pior.
A essa altura, melhor deixar: não é a prova que importa. O que importa é que a cada prova nos damos conta da dimensão da tragédia: 40% dos que ingressam no ensino médio não vão chegar ao fim do ciclo, confirmando o maior sistema de fracasso da vida brasileira. O que dizer, afinal, do fato de que 2 milhões de inscritos para o Enem não apareceram para fazer a prova? Mais estranho que a ficção.
Resultados do teste Pisa mais uma vez fazem soar as sirenes sobre o estado da educação no país. Estranhamente, não haveremos de sair do lugar
Em seu magnífico livro A vida em análise, recém-lançado no Brasil, o psicanalista norte-americano Stephen Grosz conta, entre outras, a história de Marisa Panigrosso – mulher que saiu rapidamente da Torre Sul do World Trade Center assim que soaram os alarmes. As demais pessoas que estavam com ela no 98.º andar não fizeram o mesmo, e não viveram para contar. Grosz aproveita a deixa para se perguntar por que tendemos a ignorar os muitos alarmes que soam na sociedade. Negligência? Conforto? Descrença?
O Pisa – sigla em inglês para o Programa Internacional de Avaliação de Alunos – é uma promoção da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Abrange 470 mil alunos de 15 anos, oriundos de 65 países industrializados, incluindo convidados com menos lucros a exibir, a exemplo do Brasil. Repete-se a cada três anos. Nessa ocasião, as sirenes tocam solenemente para nós. Aliás, não seria exagero dizer que a única serventia do exame seja justamente essa: a de nos fazer reagir. Mas não chega a tanto, para surpresa geral. Um caso para Grosz.
O Brasil entra no Pisa como um agregado, um agraciado pela oportunidade de comparar seu desempenho e medir seu estágio em meio a nações que fazem investimentos maciços em educação. Quem sabe se anime. A estratégia não tem funcionado. Algum caprichoso que se ocupe em colocar lado a lado os resultados do teste, desde sua implantação, em 2000, há de ver que o país tem lugar cativo nas últimas posições, merecendo um prêmio, sim, mas por sua persistência na apatia. Fosse um ataque às Torres Gêmeas, estaríamos todos mortos.
O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, bem que tentou fazer de conta que o bicho não é tão feio como se pinta. Destacou o avanço dos 20 mil alunos brasileiros testados no campo da Matemática, mas sua retórica não convenceu. Estamos em 55.º lugar em Leitura e compreensão de texto; em 58.º na Matemática e 59.º em Ciências, posições resistentes às palavras de conforto. Marisa Panigrosso nem esperaria a última nota antes de se descabelar até a escada de incêndio.
A inércia tem uma explicação: o Pisa reflete o que já estamos carecas de saber. Diante de um fato sobre o qual não podemos agir, tendemos a ficar calados, à espera de que alguém mude de assunto, poupando-nos do tédio. Para os que não querem passar o próximo milênio com cara de paisagem, resta tentar resolver o problema por partes, para pelo menos entender o que significam três edições de bocejos no Pisa. Ter notas tão baixas em Ciência, por exemplo, é um tabefe: sinal de que para nós o avanço tecnológico continuará a ser uma mentira, uma lorota boa.
Um bom roteiro sobre perdas e danos é partir do Plano Nacional de Educação, o PNE, que vai fazer água antes de os investimentos na educação chegarem a 10% do PIB, como se planeja. Pois o buraco começa aí, na falta de instrumentos. Ora, dinheiro não é problema. Não resolve a educação, sabe-se. O Brasil até que gasta bastante. Mas é difícil não passar na frente de uma escola pública sem concluir que se trata de um dos lugares mais desprestigiados de que se tem notícia. Já os estádios de futebol, nem tanto.
Estima-se que o Brasil gaste US$ 26 mil com cada um de seus alunos entre 6 e 15 anos. Esse valor, se comparado ao de países que ocupam o topo do Pisa, reforçam a impressão de que somos mesmo ruins em matemática – a básica. Dica: basta multiplicar por quatro e eis o número ideal. Em tempo – professores americanos ganham 20% a mais do que a média de todos os salários do país. Professores brasileiros, 20% a menos. A carreira não é atraente. Explica e justifica.
Sem plano, sem investimentos, o que sobra são os estragos. Vale repetir o dado que assombrou o país nesses quase idos de 2013. Soube-se que um em cada cinco jovens entre 15 e 29 anos está fora da escola – 70% deles são mulheres. Que 5,3 milhões de brasileiros entre 18 e 25 anos nem estudam nem trabalham. Que algo como 23% dos jovens da faixa etária avaliada pelo Pisa não estão nem sequer na escola, o que de resto nos garantiria uma posição ainda pior.
A essa altura, melhor deixar: não é a prova que importa. O que importa é que a cada prova nos damos conta da dimensão da tragédia: 40% dos que ingressam no ensino médio não vão chegar ao fim do ciclo, confirmando o maior sistema de fracasso da vida brasileira. O que dizer, afinal, do fato de que 2 milhões de inscritos para o Enem não apareceram para fazer a prova? Mais estranho que a ficção.
Desprezo pelo consumidor - EDITORIAL O ESTADÃO
O Estado de S.Paulo - 16/12
Entre assegurar ao usuário de automóveis a proteção oferecida por itens cuja instalação obrigatória foi prevista há vários anos e ganhar uma folga mínima na luta que não vem conseguindo vencer contra a inflação, o governo não teve dúvidas. Mesmo à custa da segurança das pessoas, escolheu a segunda hipótese.
Ao anunciar que o governo pretende adiar por um ou dois anos a vigência da norma que obriga a instalação de airbags e freios ABS em todos os veículos fabricados no País, que entraria em vigor no início de 2014, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, argumentou que a decisão evitaria o aumento dos preços de diversos modelos, o que ajudaria no combate à inflação. Como se sabe, a inflação mantém-se há anos bem acima de 4,5%, que é a meta perseguida pela política do Banco Central.
Não há, ainda, uma decisão oficial sobre como será o adiamento. Depois de anunciar a intenção do governo, Mantega admitiu que poderão ser fixados índices intermediários de utilização dos dois equipamentos de segurança, como, por exemplo, 80% dos carros fabricados em 2014 e 100% em 2015.
Trata-se de um retrocesso, do ponto de vista do interesse e da segurança do consumidor. A norma que prevê que todos os carros novos nacionais deverão ter airbags e freios ABS a partir de 1.º de janeiro de 2014 foi estabelecida em abril de 2009 pelo Contran. Houve tempo para que todas as montadoras e todas as fabricantes de autopeças se adaptassem a ela.
Qualquer que venha a ser a decisão, até mesmo com a preservação dos prazos já conhecidos, o fato de o ministro da Fazenda ter reaberto uma questão vital para os consumidores - e que, para todos os interessados, inclusive os fabricantes, já estava decidida - mostra que, se for em seu próprio benefício, o governo do PT não hesita em admitir a quebra de regras.
O governo não se dispôs a conter suas despesas de custeio para reduzir as pressões inflacionárias, não conseguiu estimular os investimentos e a atividade econômica como prometera e, sobretudo, não restabeleceu a credibilidade de sua política fiscal cada vez mais desacreditada, mas, mesmo assim, continua a lançar mão de artifícios, como esse.
Há, é claro, interessados nesse artifício. Dos sete modelos cuja produção deveria ser interrompida a partir de 2014 por não atenderem à exigência do Contram, seis são fabricados por quatro montadoras que operam no País há mais tempo. Dessas, três iniciaram suas atividades na região do ABC, onde continua atuante o mesmo movimento sindical do qual foi líder o ex-metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva. Não é mera coincidência o fato de o ministro da Fazenda ter reaberto a questão poucas semanas depois de um dirigente sindical do ABC ter pedido à presidente Dilma Rousseff o adiamento da vigência da norma do Contran, sob a alegação de que a suspensão da fabricação de alguns modelos provocaria a demissão de 4 mil trabalhadores da região.
O argumento pode ser falacioso. A maior fabricante do ABC já tem preparado o lançamento de um novo modelo cuja fabricação poderá absorver o pessoal que trabalhava na produção dos modelos que deixarão de ser fabricados. Mas o adiamento preservará a margem de lucros das montadoras mais antigas, que já é muito mais alta do que a registrada no exterior.
Já o consumidor brasileiro, caso o adiamento se confirme, terá de conviver um pouco mais com veículos pouco seguros e que, numa reportagem feita em maio deste ano por uma agência internacional de notícias, foram chamados de "mortais". Houve, reconheça-se, algum avanço na qualidade dos veículos nacionais com relação à segurança. Pela primeira vez, um carro fabricado no Brasil recebeu a classificação máxima de segurança em colisões em teste realizado em novembro pelo Programa de Avaliação de Carros Novos da América Latina (Latin NCap). Mas, dos 26 modelos avaliados, 11 foram considerados inseguros pela classificação internacional.
Só por meio de normas mais rigorosas as montadoras instaladas no Brasil adotarão aqui os padrões que, por lei, elas são obrigadas a adotar em seus países de origem.
Entre assegurar ao usuário de automóveis a proteção oferecida por itens cuja instalação obrigatória foi prevista há vários anos e ganhar uma folga mínima na luta que não vem conseguindo vencer contra a inflação, o governo não teve dúvidas. Mesmo à custa da segurança das pessoas, escolheu a segunda hipótese.
Ao anunciar que o governo pretende adiar por um ou dois anos a vigência da norma que obriga a instalação de airbags e freios ABS em todos os veículos fabricados no País, que entraria em vigor no início de 2014, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, argumentou que a decisão evitaria o aumento dos preços de diversos modelos, o que ajudaria no combate à inflação. Como se sabe, a inflação mantém-se há anos bem acima de 4,5%, que é a meta perseguida pela política do Banco Central.
Não há, ainda, uma decisão oficial sobre como será o adiamento. Depois de anunciar a intenção do governo, Mantega admitiu que poderão ser fixados índices intermediários de utilização dos dois equipamentos de segurança, como, por exemplo, 80% dos carros fabricados em 2014 e 100% em 2015.
Trata-se de um retrocesso, do ponto de vista do interesse e da segurança do consumidor. A norma que prevê que todos os carros novos nacionais deverão ter airbags e freios ABS a partir de 1.º de janeiro de 2014 foi estabelecida em abril de 2009 pelo Contran. Houve tempo para que todas as montadoras e todas as fabricantes de autopeças se adaptassem a ela.
Qualquer que venha a ser a decisão, até mesmo com a preservação dos prazos já conhecidos, o fato de o ministro da Fazenda ter reaberto uma questão vital para os consumidores - e que, para todos os interessados, inclusive os fabricantes, já estava decidida - mostra que, se for em seu próprio benefício, o governo do PT não hesita em admitir a quebra de regras.
O governo não se dispôs a conter suas despesas de custeio para reduzir as pressões inflacionárias, não conseguiu estimular os investimentos e a atividade econômica como prometera e, sobretudo, não restabeleceu a credibilidade de sua política fiscal cada vez mais desacreditada, mas, mesmo assim, continua a lançar mão de artifícios, como esse.
Há, é claro, interessados nesse artifício. Dos sete modelos cuja produção deveria ser interrompida a partir de 2014 por não atenderem à exigência do Contram, seis são fabricados por quatro montadoras que operam no País há mais tempo. Dessas, três iniciaram suas atividades na região do ABC, onde continua atuante o mesmo movimento sindical do qual foi líder o ex-metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva. Não é mera coincidência o fato de o ministro da Fazenda ter reaberto a questão poucas semanas depois de um dirigente sindical do ABC ter pedido à presidente Dilma Rousseff o adiamento da vigência da norma do Contran, sob a alegação de que a suspensão da fabricação de alguns modelos provocaria a demissão de 4 mil trabalhadores da região.
O argumento pode ser falacioso. A maior fabricante do ABC já tem preparado o lançamento de um novo modelo cuja fabricação poderá absorver o pessoal que trabalhava na produção dos modelos que deixarão de ser fabricados. Mas o adiamento preservará a margem de lucros das montadoras mais antigas, que já é muito mais alta do que a registrada no exterior.
Já o consumidor brasileiro, caso o adiamento se confirme, terá de conviver um pouco mais com veículos pouco seguros e que, numa reportagem feita em maio deste ano por uma agência internacional de notícias, foram chamados de "mortais". Houve, reconheça-se, algum avanço na qualidade dos veículos nacionais com relação à segurança. Pela primeira vez, um carro fabricado no Brasil recebeu a classificação máxima de segurança em colisões em teste realizado em novembro pelo Programa de Avaliação de Carros Novos da América Latina (Latin NCap). Mas, dos 26 modelos avaliados, 11 foram considerados inseguros pela classificação internacional.
Só por meio de normas mais rigorosas as montadoras instaladas no Brasil adotarão aqui os padrões que, por lei, elas são obrigadas a adotar em seus países de origem.
Saída bloqueada - EDITORIAL ZERO HORA
ZERO HORA - 16/12
Esta lógica do Bolsa Família faria ainda mais sentido se tivéssemos uma educação de qualidade.
É instigante e desafiadora a tese levantada pelo ex-ministro Maílson da Nóbrega, em recente artigo publicado pela revista Veja, sobre a porta de saída do programa Bolsa Família. Ele argumenta que a tão reclamada alternativa está no próprio programa, pois os filhos das famílias carentes beneficiadas, obrigados a estudar como contrapartida ao benefício, tendem a se livrar da síndrome da pobreza e da dependência porque, com estudo, terão melhores empregos e mais prosperidade. Faz sentido. Na mesma edição da revista, o economista Claudio de Moura e Castro conta como mecânicos ingleses que aprenderam a ler foram decisivos na Revolução Industrial do século 18. Mas esta lógica do Bolsa Família faria ainda mais sentido se tivéssemos uma educação de qualidade.
Infelizmente, esta porta encontra-se bloqueada. Basta observar os resultados do último Pisa, exame aplicado pela OCDE para medir o desempenho escolar de jovens estudantes em várias partes do mundo. O levantamento, que avalia o rendimento de estudantes em leitura, matemática e ciências, coloca o Brasil na 57ª posição entre 65 países. Por trás da péssima colocação está uma constatação verdadeiramente alarmante: a maioria dos estudantes brasileiros chega aos 15 anos, a idade da avaliação, sem saber contas simples de divisão e multiplicação, com insuficiente compreensão sobre os fenômenos naturais e total incapacidade de interpretar textos mais complexos. Ou seja, são pessoas absolutamente despreparadas para a vida.
Como as famílias brasileiras se satisfazem com pouco no que se refere à educação, até mesmo porque muitos pais não têm formação adequada, inexiste uma pressão popular pela excelência no ensino. Pesquisas recente do Ministério da Educação mostram que os responsáveis pelas crianças que estudam em escola pública exigem apenas instalações adequadas, merenda escolar e presença de professor. A nota média atribuída a esse serviço foi de 8,5 _ como se tivéssemos um sistema escolar muito bom.
Não temos. E nem é preciso comparar com outros países desenvolvidos ou em desenvolvimento para que isso fique evidente. Basta conferir os resultados dos exames que o próprio governo aplica, como o IDEB e o próprio Enem. Se os pais não reclamam, por falta de conhecimento, cabe às autoridades e as lideranças da sociedade promover este aperfeiçoamento para que os programas de distribuição de renda percam o caráter assistencialista e se transformem em instrumentos efetivos de desenvolvimento. Só a qualificação do ensino no país poderá desbloquear a saída do Bolsa Família e proporcionar um futuro digno para milhões de brasileiros.
Esta lógica do Bolsa Família faria ainda mais sentido se tivéssemos uma educação de qualidade.
É instigante e desafiadora a tese levantada pelo ex-ministro Maílson da Nóbrega, em recente artigo publicado pela revista Veja, sobre a porta de saída do programa Bolsa Família. Ele argumenta que a tão reclamada alternativa está no próprio programa, pois os filhos das famílias carentes beneficiadas, obrigados a estudar como contrapartida ao benefício, tendem a se livrar da síndrome da pobreza e da dependência porque, com estudo, terão melhores empregos e mais prosperidade. Faz sentido. Na mesma edição da revista, o economista Claudio de Moura e Castro conta como mecânicos ingleses que aprenderam a ler foram decisivos na Revolução Industrial do século 18. Mas esta lógica do Bolsa Família faria ainda mais sentido se tivéssemos uma educação de qualidade.
Infelizmente, esta porta encontra-se bloqueada. Basta observar os resultados do último Pisa, exame aplicado pela OCDE para medir o desempenho escolar de jovens estudantes em várias partes do mundo. O levantamento, que avalia o rendimento de estudantes em leitura, matemática e ciências, coloca o Brasil na 57ª posição entre 65 países. Por trás da péssima colocação está uma constatação verdadeiramente alarmante: a maioria dos estudantes brasileiros chega aos 15 anos, a idade da avaliação, sem saber contas simples de divisão e multiplicação, com insuficiente compreensão sobre os fenômenos naturais e total incapacidade de interpretar textos mais complexos. Ou seja, são pessoas absolutamente despreparadas para a vida.
Como as famílias brasileiras se satisfazem com pouco no que se refere à educação, até mesmo porque muitos pais não têm formação adequada, inexiste uma pressão popular pela excelência no ensino. Pesquisas recente do Ministério da Educação mostram que os responsáveis pelas crianças que estudam em escola pública exigem apenas instalações adequadas, merenda escolar e presença de professor. A nota média atribuída a esse serviço foi de 8,5 _ como se tivéssemos um sistema escolar muito bom.
Não temos. E nem é preciso comparar com outros países desenvolvidos ou em desenvolvimento para que isso fique evidente. Basta conferir os resultados dos exames que o próprio governo aplica, como o IDEB e o próprio Enem. Se os pais não reclamam, por falta de conhecimento, cabe às autoridades e as lideranças da sociedade promover este aperfeiçoamento para que os programas de distribuição de renda percam o caráter assistencialista e se transformem em instrumentos efetivos de desenvolvimento. Só a qualificação do ensino no país poderá desbloquear a saída do Bolsa Família e proporcionar um futuro digno para milhões de brasileiros.
Sistema saturado - EDITORIAL O GLOBO
O GLOBO - 16/12
A política de investimentos públicos em mobilidade urbana passou, no Rio, por um longo período de quase total inércia.
As últimas grandes intervenções no sistema viário da cidade remontam à última década do século passado - a Linha Vermelha, entregue ao tráfego entre 1992 e 1994, e a Linha Amarela, inaugurada em 1997.
Não é preciso ser um especialista na área para ter a dimensão do acúmulo de demandas decorrentes desse período de tempo, entre quinze e vinte anos, sem a incorporação de grandes obras de infraestrutura viária numa metrópole que não para de se expandir territorialmente, destino diário de uma população flutuante de uma adensada região metropolitana e onde são crônicos os problemas de trânsito. Acrescente-se a isso a combinação de um fenômeno estrutural inerente ao crescimento do país com outro, conjuntural, de política econômica, com reflexos diretos na mobilidade urbana. No primeiro caso, o crescimento de toda a frota do país, da ordem de 123% nos últimos dez anos - 80 milhões de veículos rodando nas ruas. A divisão desse bolo reflete uma política de incremento do transporte individual: 55,8% são automóveis e 26,25%, motocicletas. O Rio acompanha a tendência.
No segundo caso, na contramão dos índices de investimento em infraestrutura urbana, em geral tíbios para as demandas, a assumida opção do governo federal, nos últimos anos, pelo incentivo à compra de automóveis (facilidades de crédito mais combustível barato) resultou num aumento exponencial da circulação de veículos, principalmente nas metrópoles, grande parte delas já com o sistema viário saturado. De novo, a capital fluminense inclina-se à tendência nacional. É um perfil insustentável, e nele o poder público tem de intervir. Primeiro, porque se trata de um problema físico: é impossível encontrar espaços para os veículos circularem quando o número de carros aumenta num ritmo mais acelerado do que a capacidade de expansão da estrutura viária. Segundo, em razão da queda da qualidade de vida dos cidadãos, vítimas de constantes engarrafamentos. Instrumento que, em casos semelhantes, se mostrou eficaz em cidades como Londres e metrópoles da Ásia, no Rio começa-se a discutir a viabilidade da adoção do pedágio, principalmente no Centro, a região mais sobrecarregada.
É medida quase inevitável, uma vez que não há sinais de que a tendência de saturação do tráfego seja revertida. Como ação reguladora, o pedágio tem, sobre outros meios de inibição do transporte individual (aumento do preço dos combustíveis, por exemplo), a vantagem de atingir diretamente quem gera ônus para a cidade.
Mas a implantação de tal sistema implica melhorar a rede de transporte coletivo. Caso contrário, o pedágio ficará associado à ideia de simples punição a quem tem carro. Como o Rio tem feito grandes intervenções em mobilidade (abertura de novas vias, adoção de malhas de BRT e BRS etc.) para melhorar a oferta de modais, a cobrança em áreas específicas não soa como absurda.
Seria um instrumento viável para reduzir o impacto dos automóveis no sistema viário, sem prejuízo da comodidade do usuário.
COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO
Lula criou ‘governo sombra’ para monitorar Dilma
É o ex-presidente Lula quem mais incomoda a presidenta Dilma, e não a bem-comportada oposição ao seu governo. Ela mesma já desabafou isso a raros confidentes. Lula criou um “governo sombra” em São Paulo, com dez ex-integrantes do seu governo, a maioria ex-ministros. Funciona no Instituto Lula e, a pretexto de “pensar o Brasil do futuro”, monitora Dilma, como fazem opositores em países parlamentaristas.
Executivos
É o ex-presidente Lula quem mais incomoda a presidenta Dilma, e não a bem-comportada oposição ao seu governo. Ela mesma já desabafou isso a raros confidentes. Lula criou um “governo sombra” em São Paulo, com dez ex-integrantes do seu governo, a maioria ex-ministros. Funciona no Instituto Lula e, a pretexto de “pensar o Brasil do futuro”, monitora Dilma, como fazem opositores em países parlamentaristas.
Executivos
Lula cuida da questão política e os membros do “governo paralelo” trabalham com metas, prazos a cumprir, e até estimando custos.
Posto avançado
Posto avançado
No instituto, Lula recebe políticos, empresários, donos de ONGs etc, todos com interesses (alguns nada republican+os) no governo.
Espião explícito.
Espião explícito.
Os pedidos mais importantes de Lula chegam a Dilma por meio do ministro Gilberto Carvalho, seu “espião com crachá”.
Mexendo pauzinhos.
Mexendo pauzinhos.
Lula também sugere declarações públicas da presidenta, reclama de ministros, recomenda demissões e principalmente nomeações.
Viúva de Mandela tem amiga-irmã brasileira
A moçambicana Graça Machel, viúva de Nelson Mandela, tem uma amiga brasileira, a quem chama de “irmã”. Trata-se de Leda Camargo, ex-embaixadora do Brasil em Moçambique, hoje na Suécia. Graça é muito agradecida por haver a diplomata ajudado a instalar, em Maputo, uma fábrica de antirretrovirais fundamental na luta conta a aids. Graça foi mulher de Samora Machel, líder da independência de Moçambique.
Voltas do mundo.
Viúva de Mandela tem amiga-irmã brasileira
A moçambicana Graça Machel, viúva de Nelson Mandela, tem uma amiga brasileira, a quem chama de “irmã”. Trata-se de Leda Camargo, ex-embaixadora do Brasil em Moçambique, hoje na Suécia. Graça é muito agradecida por haver a diplomata ajudado a instalar, em Maputo, uma fábrica de antirretrovirais fundamental na luta conta a aids. Graça foi mulher de Samora Machel, líder da independência de Moçambique.
Voltas do mundo.
Quis o destino que a chanceler alemã Angela Merkel, a quem Dilma deu lições de economia, decida o futuro do Brasil na União Europeia.
Bolas da vez.
Bolas da vez.
Eduardo e Aécio também se empenham em negociar aliança com PV, PTB e PDT, que anunciam “independência” em relação ao governo.
Tudo acertado.
Tudo acertado.
A cúpula do PMDB está confiante de que a presidente Dilma apoiará o candidato da governadora Roseana Sarney, no Maranhão, em 2014.
Entidade.
Entidade.
A revista Time escolheu o papa Francisco “A pessoa do ano”. A coluna escolheu “Rose” Noronha a “Não Pessoa” de 2013. “Intocável” há um ano na Justiça, a ex-assessora íntima de Lula, vai ver, nunca existiu.
Esse cara sou eu.
Esse cara sou eu.
Depois de uma conversa com o posudo presidente da Fiesp, Paulo Skaf (PMDB), um conhecido marqueteiro ironizou: “Se ele fosse tudo o que pensa que é, já ganhou a eleição para o governo de São Paulo...”
Só no nome.
Só no nome.
O ministério da Defesa se faz de morto com a denúncia de que conhecida empresa “brasileira” de munição descumpre decreto de 2012 que incentiva a indústria bélica nacional. Recebe financiamento e facilidades, mas seu controle acionário está num paraíso fiscal.
Racha no PSD.
Racha no PSD.
A bancada do PSD deverá eleger um novo líder na Câmara, nesta terça. Está dividida em quatro candidatos: Júlio César (PI), Moreira Mendes (RO), Geraldo Thadeu (MG) e Roberto Santiago (SP).
Boquinha.
Boquinha.
José Eduardo Cardozo (Justiça) agora também conta com o serviço de catering nos jatinhos da FAB, a exemplo do colega Guido Mantega. Poderá gastar até R$ 170 mil, inclusive com sanduba de caviar.
Chapeuzinho.
Chapeuzinho.
O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) ganhou um novo apelido, “Chapeuzinho Vermelho”, porque terá de enfrentar o relator Lobão Filho (PMDB-MA), na reforma do regimento interno do Senado.
Até já está gravado.
Até já está gravado.
Apesar dos assédios do PSDB e PSB, o PV está preparando para apresentar em programa nacional de TV, dia 2, o seu candidato a Presidente da República: ex-deputado paulista Eduardo Jorge.
BMW no Brasil.
BMW no Brasil.
Interlocutor do governo Dilma com o setor produtivo, o vice Michel Temer deve participar nesta segunda (16) da inauguração em Joinville, Santa Catarina, da fábrica de automóveis da alemã BMW.
Sacode
Sacode
. Com chuva torrencial no Sudeste e a pior seca no Nordeste em 50 anos, o governo ainda vai sugerir pôr o Brasil de cabeça para baixo.
PODER SEM PUDOR
PODER SEM PUDOR
Limpeza no Tribunal de Contas
Aluizio Alves assumiu o governo do Rio Grande do Norte em 1961 e encontrou somente adversários no Tribunal de Contas do Estado, criado no final do governo Dinarte Mariz. E a legislação o impedia de demitir os conselheiros adversários, alguns inclusive acusados de irregularidades. Certo dia, o governador recebeu uma solicitação de verba do então presidente do tribunal, Romildo Gurgel, para pintar suas paredes externas. Aluizio escreveu no ofício o seguinte despacho:
- “Defiro o pedido. Já que não posso limpar por dentro, que se limpe por fora.”
Aluizio Alves assumiu o governo do Rio Grande do Norte em 1961 e encontrou somente adversários no Tribunal de Contas do Estado, criado no final do governo Dinarte Mariz. E a legislação o impedia de demitir os conselheiros adversários, alguns inclusive acusados de irregularidades. Certo dia, o governador recebeu uma solicitação de verba do então presidente do tribunal, Romildo Gurgel, para pintar suas paredes externas. Aluizio escreveu no ofício o seguinte despacho:
- “Defiro o pedido. Já que não posso limpar por dentro, que se limpe por fora.”
SEGUNDA NOS JORNAIS
- Globo: Falta de Transparência – Lei de Acesso teve só um recurso atendido
- Folha: Chile elege Bachelet presidente pela 2ª vez
- Estadão: Eleita com folga, Bachelet quer reformas no Chile
- Correio: Explosão na Asa Norte, uma tragédia anunciada
- Estado de Minas: Prefeituras sem transparência
- Zero Hora: Cerco à embriaguez – Mais rigor na lei, mais prisões por bebida ao volante
- Brasil Econômico: “Quem dá o tom da política no país é o PMDB”
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