domingo, abril 24, 2011

J. R. GUZZO - Algo errado


Algo errado
J. R. GUZZO
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LYA LUFT - Plantar um bosque


Plantar um bosque
LYA LUFT
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BARBARA GANCIA - NA REAL Londres finge que não está nem aí

NA REAL
Londres finge que não está nem aí
BARBARA GANCIA
FOLHA DE SÃO PAULO - 24/04/11

Ingleses fazem questão de mostrar descompromisso, mas publicações do reino não falam de outra coisa


O LOCAL É a entrada da abadia de Westminster, mas a reclamação é a mesma de qualquer logradouro tapuia em época de eleição: "Melhoraram o asfalto da redondeza, deram banho de xampu nas estátuas e pretendem deslocar 5.000 policiais para o evento", lamenta o motorista de táxi Michael Shields.
"Enquanto isso, meu bairro está sem policiamento e a falta de atendimento nos hospitais beira a calamidade."
Evidentemente, o senhor Shields não conhece os casamentos da elite judaica em São Paulo. Se conhecesse, teria noção da modéstia do evento que acontecerá na abadia e, quem sabe, desse outro sentido à expressão "pompa e circunstância".
Mas, pensando bem, o londrino já teve a cidade invadida, devasta pela peste bubônica, reduzida a cinzas por um incêndio e bombardeada pelos alemães na Segunda Guerra. Não será um casamentozinho que irá derreter seus corações. Ou não?
Com qualquer pessoa que puxe assunto pelas ruas de Londres, você sentirá um certo descompromisso em relação ao casamento entre o príncipe William e Catherine Middleton. Os dois jovens subirão ao altar na sexta-feira, na abadia, e o inglês faz questão de dizer que não está nem aí. A resposta padrão é que a melhor coisa do casamento será o feriado prolongado decorrente.
Sei, sei. Então alguém poderia me explicar porque as principais publicações do reino não falam de outro assunto? Será que os americanos, recalcados da própria falta de sangue azul, são os únicos consumidores de lembranças do evento?
É tanta quinquilharia que, ao término do meu primeiro dia na cidade, tive um impulso incontrolável de atirar ao chão uma prateleira de canecas com a foto de William e Kate.
Se os ingleses são tão indiferentes à Casa Real, por que tanta caneca? E, sobretudo, por que 78% da população apoia uma monarquia composta por gente com cara de ratão do banhado, cuja maior serventia é cortar fitas de inauguração?
O teórico constitucionalista Walter Bagehot (1826-77) dizia: "Nenhum sentimento pode parecer mais infantil que o entusiasmo de um inglês ao ver um príncipe de Gales se casar". William, no caso, é o filho do príncipe de Gales, Charles. Aquele que, em matéria de entusiasmo, aposentou-se faz tempo.

Tensão entre petistas - REVISTA VEJA



Tensão entre petistas
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O deputado Ricardo Berzoini ameaça revelar "segredo" do PT caso o governo continue reduzindo sua influência nos bancos oficiais


0 bancário Ricardo Berzoini foi presidente do PT ene 2005 e 2010, período em que Lula resistiu ao escândalo do mensalão e conquistou a reeleição. Também foi ministro duas vezes, da Previdência e do Trabalho. Desde fevereiro, cumpre o quarto mandato consecutivo como deputado federal. É uma das mais reluzentes estrelas petiscas. Uma estrela que sempre teve nas mãos o poder de indicar aliados e vetar desafetos para cargos de direção no Banco do Brasil, na Caixa Econômica Federal e na Previ, o biliorário fundo de pensão dos funcionários do BB. Donatário de bancos oficiais e fundações, o deputado também conquistou respeito pela lealdade que sempre demonstrou nos momentos difíceis e pela presteza e discrição com que se desincumbiu de missões espinhosas no interesse do partido. Berzoini é um daqueles quadros partidários de atuação modesta sob os holofotes, mas eficientíssima longe deles. Ele sabe seu valor e se considera um dos principais responsáveis pela ascensão do Pr ao poder. Por isso tudo está ficando cada vez mais difícil esconder o fato de que o deputado Berzoini anda inconformado com a diminuição de suas prerrogativas no atual governo. Ele já falou até em se rebelar.
O isolamento de Berzoini começou já durante a campanha eleitoral que levou Dilma Rousseff ã Presidência da República. No ano passado, aves das eleições. houve uma disputa fraticida e silenciosa, algo muito comum entre os petiscas, para indicar o sucessor de Sérgio Rosa, então presidente da Previ e antigo aliado de Berzoini. De um lado estavam o deputado com seu esquadrão sindical tentando manter o controle do fundo que tem um património de 150 bilhões de reais. Do outro, o ministro da Fazenda. Guido Mantega. que defendia uma maior profissionalização na gestão da entidade. Em meio à queda de braço. foi divulgado um dossiê que acusava Marina Mantega, a filha do ministro, de ter tentado fazer tráfico de influencia no Banco do Brasil. O documento, apócrifo. foi distribuído a várias autoridades de Brasília. O ministro Guido Mantega não teve dúvidas em identificar Berzoini como o autor intelectual da operação. A maioria das informações em oriunda de áreas restritas do Banco do Brasil, precisamente de diretorias sob o controle e a influência de aliados do deputado. Com isco, o ex-presidente do PT não só perdeu a disputa pela Previ corra ganhou um desafeto poderoso. Com a vitória de Dilma. Mantega foi reconduzido ao cargo de ministro da Fazenda.
Escalado pela presidente para definir as novas diretorias dos bancos oficiais, Mantega contrariou fronalmente o camarada Berzoini. A primeira mas digerível estocada de Mantega no prócer partidário foi a declaração de que era preciso "profissionalizar" as diretorias dos bancos oficiais. Ainda sob Lula, Mantega já havia exonerado vice-presidentes do Banco do Brasil indicados por Berzoini. Não houve maiores traumas. Berzoini e sua turma engoliram a explicação de que o BB precisava melhorar sua gestão a fim de fazer frente aos concorrentes privados. Agora. com Dilma, foi a vez da Caixa Económica Federal. A renovação das diretorias afastou os últimos sindicalistas ligados a ele. Como é tradição no universo petisca a mágoa e a perda de prestígio andam de mãos dadas com o fogo amigo e as denúncias. Berzoini não escapa 8 regra. Em uma reunião partidária recente, ele fez questão de se mostrar Indignado". Reclamou de que Mantega havia se comprometido a não demitir os quadros do partido na Caixa e, na presença dos lideres do Pr na Câmara e no Senado. disse que o partido estava sendo deliberadamente afastado dos cargos de cromando nos bancos oficiais. Berzoini foi aos detalhes e aos nomes. Disse que a presidente Dilma Rousseff e Guido Mantega querem mestra isolar os petistas, principalmente quando eles são petistas-sindicalistas, como é o caso dele.
O encontro teve momentos de tensão. Segundo um petista com gabinete no Planalto. Berzoini disse que terá de reagir caso continue a ter seu poder esvaziado pelo governo. Ameaçou, conforme o relato, tornar públicos detalhes constrangedores para o partido e para pessoas do governo, citando especificamente o caso Bancoop. A Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo é um dos calos do PT. O Ministério Público acusa os petistas de desviarem dinheiro da entidade. que deveria construir casa para seus cooperados, e usá-lo em campanhas eleitorais do partido - uma modalidade de caixa dois. As investigações apontam João Vaccari Neto, aliado de Berzoini, sucessor do deputado na administração da Bancoop e atual tesoureiro do PT, como uni dos pivôs do crime. Berzoini também presidia o PT quando explodiu o escândalo dos aloprados, e petistas foram presos tentando comprar um dossiê falso contra os adversários com dinheiro cuja procedência ainda é desconhecida. O que Berzomi teria a revelar sobre esses episódios? Quem conhece as entranhas do partido sabe a resposta
Conhecedores das liturgias petiscas contam que Berzoini conseguiu se desgastar ao mesmo tempo com Lula e Dilma. Com Lula, por ter votado com os sindicaios e contra o planalto na questão do "fator previdenciário", que visa a retardar a aposentadoria Ficou mal com Dilma por ter apoiado a eleição do petisca gaúcho Marco Maia para a presidência da Câmara dos Deputados. A presidente tinha fechado com o nome do líder Cândido Vaccarezza Os pares de Berzoini tentam demovê-lo da ideia de se rebelar, lembrando que o PT manteve duas vice-presidências estratégicas na Caixa, a de recnologia da informação e a de logística °A disputa eterna entre sindicalistas e diretores vindos do mercado estava na raiz da ineficiência da Caixa. O governo esta montando uma equipe mais harmônica", diz um dirigente nacional do PT. Berzoini insiste que seu grupo vem perdendo espaço dentro do próprio partido. "A equipe que assumiu a Caixa é de gene do mercado mais afeita ao Fernando Henrique Cardoso. Se a Dilma quer governar com tucanos. obviamente não vai dar certo. Não vai terminar bem", diz um petisca que serviu de ombro e ouvidos amigos para as queixas de Berzoini. Amargas para ele e seu grupo, as lagrimas de Berzoini são um bálsamo para os brasileiros-quanto menos companheiros ocuparem cargos apenas por ser companheiros. melhor para a gestão da coisa pública e melhor para o Brasil.

GAUDÊNCIO TORQUATO - Guardar o coração na cabeça


Guardar o coração na cabeça
GAUDÊNCIO TORQUATO
O Estado de S.Paulo - 24/04/11

"O estadista deve trazer o coração na cabeça." A frase de John Kennedy, o mais querido presidente dos EUA, possivelmente explique por que sua vida íntima ainda hoje é um mistério, apesar de cercada por intrincada teia de boatos, que abrigaria um relacionamento com a mais famosa ícone da sensualidade feminina no cinema, Marilyn Monroe. Guiar-se pela razão tem sido desafio dos mais instigantes para todos os que militam na vida pública, sendo raros os que conseguem atravessar os longos corredores do poder sem cair nas armadilhas da vida privada. Estas marcam de maneira indelével o seu perfil. Basta lembrar o affaire envolvendo o presidente Bill Clinton e a estagiária Monica Lewinsky, no gabinete anexo ao famoso Salão Oval da Casa Branca, símbolo máximo do poder norte-americano. Ou a conversa picante, gravada em dezembro de 1989, entre o príncipe Charles da Inglaterra, então casado com a princesa Diana, e sua amante (hoje sua mulher), Camila Parker Bowles. A deterioração da imagem de atores políticos por eventos escandalosos tem sido comum no ciclo de fosforescência midiática em que vivemos.

Entre nós, o caso recente que despertou atenção foi a recusa do senador Aécio Neves a submeter-se ao teste do bafômetro, ao ser flagrado com a carteira de motorista vencida, dirigindo um veículo. A questão é: a vida privada do homem público deve ser objeto de interesse social? Resposta inapelável: sim. O homem público tem o dever de compatibilizar a vida privada e a pública, na medida em que ambas são forjadas por valores e princípios que expressam seu caráter. A Constituição expressa serem invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas. É inquestionável tal pletora de direitos. Mas estes devem ser exercidos para garantir a cidadania. Uma coisa é o ato particular, que ocorre no sagrado espaço do lar ou no ambiente pessoal de trabalho, outra é o evento privado que se desenvolve em território público. E mesmo em locais privados a conduta do homem público há de ser condizente com os valores republicanos e com preceitos éticos e morais da sociedade. É o que ocorre com o primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, acusado de cometer delito ao atrair adolescentes para festas íntimas em suas propriedades. Quando altas autoridades de uma nação são flagradas em situações torpes, despencam no ranking da credibilidade social. Passam a ser motivo de vergonha e chacota.

É bastante tênue, como se pode perceber, a linha divisória que separa o comportamento íntimo do ator político de sua vida pública. Na história dos governantes, alguns souberam tirar proveito (e fazer marketing) de situações privadas, principalmente por meio de gestos, atitudes e manifestações voltadas para conquistar a simpatia popular. Líderes que procuram "humanizar" a imagem são, em geral, aplaudidos e admirados, eis que despertam nas massas sentimentos de familiaridade, simplicidade e proximidade. Na França, o presidente Giscard d"Estaing costumava sair pelas ruas, participar de partidas de futebol, exibir-se em festivais de acordeão, visitar prisões, convidar varredores de rua para tomar café da manhã no Palácio Eliseu. (Lula teria nele se inspirado para comemorar, todos os anos, o Natal com moradores de rua em São Paulo?) Outros exageram nos gestos, resvalando, por conseguinte, pelo perigoso terreno da galhofa. Pierre Trudeau, então primeiro-ministro do Canadá, em recepção cerimoniosa, chegou a escorregar pelo corrimão de uma escada. Outra feita, ocupou lugar na Câmara dos Comuns envergando camisa polo, paletó esporte e sandálias. Dessacralizar o poder, descer do Olimpo para a terra dos mortais, circular no meio do povo completam a bagagem de artifícios de governantes para atrair a simpatia da população. Tal sinalização contém alta taxa de demagogia.

Há, portanto, atos privados que são apreciados pela sociedade. E esta tolera certa liberdade de costumes e até uma dose de insolência. Mas o carisma do governante ajuda a aplainar arestas. Getúlio e Juscelino, vale recordar, foram presidentes namoradores, o que não lhes corroeu a fama. Thomas Jefferson, um dos homens mais admirados dos EUA, protagonizou um "escândalo" amoroso, o caso com uma de suas escravas, Sally Hemings, que fora a Paris cuidar da filha mais velha do presidente, na época com 9 anos de idade. Já o político inglês John Profumo, que tinha o cargo equivalente ao de ministro da Guerra, um dos heróis do Dia D (desembarque aliado na Normandia durante a 2.ª Guerra Mundial), foi protagonista de um grande escândalo: o envolvimento com a modelo Christine Keeler, no começo dos anos 60.

A rejeição a comportamentos de governantes tem que ver com o espírito do tempo. Em nosso país, a permissividade, particularmente no que concerne à apropriação do patrimônio da res publica, era enorme nos meados do século passado. Hoje o escopo da cidadania percorre sentimentos de classes e setores. Respeito às leis, igualdade, consciência de direitos começam a ser parâmetros para avaliar o desempenho na vida pública. A comunidade passa a enxergar a política com mais rigor. Desvios de padrão são denunciados pelo caleidoscópio social. Quem se arrisca nos descaminhos afunda, inexoravelmente, no poço do descrédito.

Neste ponto, voltemos ao episódio Aécio Neves. A impressão por ele causada, ao se recusar a fazer o teste do bafômetro, é de que não estava em condições de dirigir um veículo. A carteira de motorista vencida foi também sinal de que os bons exemplos, cada dia mais, deixam de vir de cima. Se um senador comete uma traquinagem dessas, por que eu não posso fazer? A comparação, embutida na cachola dos anônimos das ruas, sugere aos homens públicos que tenham cuidado. Não são eles invisíveis aos olhos da multidão.

Se quiserem galgar os degraus mais altos do poder, vale apreender a lição de Kennedy: guardem o coração na cabeça.

JOÃO UBALDO RIBEIRO - Velhas e novas implicâncias


Velhas e novas implicâncias 
JOÃO UBALDO RIBEIRO
O GLOBO - 24/04/11
Semana Santa, bairro quieto e silencioso, jornais sem muitas notícias, uma certa preguiça. Ligo a televisão e um cavalheiro está falando sobre um assunto sem dúvida relevante, a julgar pelo semblante grave com que se dirige à câmera. Já por natureza lerdo de entendimento, cheguei no meio e não consigo atinar qual é o palpitante assunto. E deixo de tentar, assim que ele solta o terceiro ou quarto anacoluto em menos de um minuto. Anacoluto, já comentei aqui, é quando um elemento da oração fica sem função sintática, meio dependurado, como, por exemplo, "o Brasil, ele tem experimentado", que o homem da televisão acaba de dizer.
Há quem estude esse tipo de fenômeno, porque realmente é interessante, pelo menos para linguistas e cientistas sociais. De alguns anos para cá, sem dar sinal nenhum de que irá embora, está perigando tornar-se regra tacar o anacoluto sempre que se usa um verbo na terceira pessoa. "Os deputados, eles não têm interesse nas reformas", "o obeso, ele não deve ingerir açúcar" e assim por diante. Fala-se assim em toda parte, com essa espécie de sujeito duplo, e piora quando o falante está dando uma entrevista ou declaração pública, ocasião em que muita gente acha que deve botar paletó e gravata na linguagem. O anacoluto, que em si não tem nada de mau e é até um recurso estilístico, talvez seja visto como sofisticação de linguagem, ou sinal de que quem está falando tem bom conhecimento ou grande convicção do que diz. Sei lá, só sei que implico com esse abuso, que, na minha opinião, aleija a língua.
É engraçado esse negócio de querer enfarpelar a linguagem, quando se fala em circunstâncias formais, mesmo que apenas numa breve entrevista para um noticiário de televisão. Muitos se empertigam, abandonam sua maneira habitual de expressar-se e não só passam a caprichar nos anacolutos e similares, como na escolha das palavras, principalmente verbos terminados em "izar". O que em casa seria usado, na entrevista é utilizado, assim como não se vê mais nada, só se visualiza. "Comerciar" praticamente não existe mais e chegará talvez o dia em que os que comerciam serão comercializantes. Aliás, ninguém vende mais nada, só comercializa.
Acho que foi essa necessidade de usar palavras por algum motivo consideradas preferíveis, ou chiques, que ocasionou o triste banimento dos verbos "botar" e "pôr", preteridos universalmente por "colocar". Ainda não vi referência a galinhas colocadeiras, em lugar de poedeiras, mas já li sobre galinhas colocando ovos e o dia das colocadeiras não deve tardar. Destino semelhante teve "penalizar", que de uma só cajadada botou (colocou, já ouvi isso até em narrações esportivas) "prejudicar" para escanteio e nos obrigou a ficar, se for o caso, comiserados ou condoídos com o sofrimento alheio, mas nunca penalizados. Ainda no setor de banimentos, temos o caso de "difícil", que, quem sabe se por ser politicamente incorreto, é hoje sempre substituído por "complicado". E acredito que estamos presenciando o degredo talvez permanente da locução "por causa de". Acho que a maioria de vocês nem deu por isso, mas agora prestem atenção e notarão. Ninguém mais diz "por causa de", diz "por conta de". "Ficou em casa por conta de uma dor de cabeça", "brigou por conta de uma dívida".
E o "você"? Continua também, mais firme do que nunca. "Você armar um time ofensivo é mole, o que você não pode é deixar a defesa adiantada demais, porque aí você fica exposto a contra-ataques que você poderia evitar, se você posicionasse melhor a zaga." E "jovial"? Creio que deve resignar-se a não querer mais dizer "cortês" ou "afável". Já fiz uma checagem entre conhecidos e me surpreendi com a quantidade de gente que o liga a juventude. E o "então"? Observem como é cada vez maior o número de pessoas que inicia uma resposta com um "então" de significado obscuro. "Você foi lá hoje?" perguntamos. "Então", começa a outra pessoa. "Não, não fui." Acho que já tem gente que só responde depois de dizer "então", deve ser cabalístico.
E "acontecer de", como em "aconteceu de eu ver"? Não existe a menor necessidade desse "de" aí e o verbo sempre passou muito bem sem essa preposição. Prescinde dela como em "aconteceu ele estar presente" , ou se usa a integrante "que". Imagino Caymmi cantando "acontece de eu ser baiano, acontece de ela não ser". E "meio que", que é isso? "Ele estava meio que preocupado com a situação", "ela ficou meio que na dúvida" - que faz esse "que" aí? E "combinar de"? "Combinar" jamais teve necessidade desse "de".
Finalmente, é cada vez mais observável que a tendência é dizer "brasileiros e brasileiras". O plural no masculino, como era a regra, parece que não está valendo mais. Agora é "eleitoras e eleitores", "agricultores e agricultoras", "professores e professoras". A tendência, imagino eu, será eliminar as palavras comuns de dois gêneros. Teremos, assim, "estudantos e estudantas", "dentistos e dentistas", "crianços e crianças" e - por que não? - "pessoos e pessoas". Isso é reforçado pela preferência que a presidente Dilma tem revelado. Ela não somente quer ser chamada de "presidenta" - o que, aliás, já está dicionarizado - como, quando tem plateia, dirige a palavra aos presentes distinguindo o gênero deles, como, por exemplo, "operários e operárias". Tudo bem, a língua é viva e não para de mudar. Mas não se pode deixar que ela corra solta, a norma culta é indispensável para a sobrevivência da língua como instrumento de comunicação científica e artística. Além disso, certas coisas acabam não dando certo. Por exemplo, a presidente pode preferir ser presidenta, mas, quando mencionada na condição mais genérica de "governante", duvido que ela queira ser designada pela forma feminina da palavra. 

SANTA CEIA NO BRAZIIIIIIIIIL








AMIR KHAIR - Enfrentar inflação e câmbio


Enfrentar inflação e câmbio
AMIR KHAIR
O ESTADO DE SÃO PAULO - 24/04/11
Os dois principais desafios do governo são o controle da inflação e tentar segurar o processo em curso da valorização do real. Parte-se do pressuposto que para isso não irá derrubar o crescimento econômico, como afirmou a presidente.

Inflação e câmbio mantêm forte dependência da economia global. As elevações de preços de alimentos e commodities, que vêm ocorrendo desde setembro de 2010, atingiram todos os países e são componentes importantes da inflação. Existe, portanto, um risco real de inflação neste ano no Brasil. Quanto ao câmbio, o Brasil tem contra si a elevação da liquidez internacional e a alta taxa Selic que atrai os especuladores estrangeiros pelos elevados ganhos que propicia e sem riscos.

A Folha de São Paulo (11/4) mostrou que diversos países já ultrapassaram o teto de inflação para este ano; entre outros: Reino Unido, Israel, Coreia do Sul, Nova Zelândia, Indonésia e Sérvia. Até países europeus e os Estados Unidos com baixos crescimentos econômicos já ultrapassaram o teto de 2% considerado aceitável pelos seus bancos centrais. Quanto ao câmbio, para se defenderem da elevada liquidez internacional, os países emergentes estão usando políticas de controle de entrada de capitais para evitar a valorização de suas moedas, que tira a competitividade de suas empresas e ameaça suas contas externas.

O que estranha é ver análises no Brasil minimizarem essa realidade internacional e atribuírem esses problemas ao governo. Criticam a leniência do Banco Central (BC) e duvidam do esforço fiscal do governo federal. Como solução para a inflação e câmbio defendem a redução da demanda, por meio de contenção das despesas de custeio (que não envolvem juros e investimentos) do governo federal e a elevação da Selic.

Não creio que a solução seja essa, pois: a) os gastos do governo constituem 21% da demanda; b) 43% dos gastos do governo, exclusive Previdência Social, são federais; c) apenas 20% deles, inclusos aí os investimentos, são passíveis de gestão devido às amarrações legais e; d) caso se consiga reduzir 20% via gestão, se teria uma redução de apenas 0,36% (!) da demanda (21% x 43% x 20% x 20%).

Por outro lado, a despesa que poderia ser reduzida, e muito, é o juro, que atingiu em 2010 R$ 195 bilhões, ou 5,3% da demanda. O impacto sobre a demanda é 15 (!) vezes maior do que a passível de ser feita pelo governo federal. Assim, para reduzir a demanda do governo, o melhor é reduzir a Selic.

Quanto à Selic, a experiência de 2010 revelou que apesar de elevar de 8,75% para 10,75%, a taxa de juros ao consumidor caiu dois pontos. Além disso, já é de longe a maior taxa básica de juros, o triplo do segundo colocado, a Turquia. Sua elevação causa efeitos contraditórios: a) eleva a demanda do governo, causando mais inflação e; b) atrai mais dólares, o que barateia as importações funcionando como âncora cambial. Mas elevar a Selic aumenta o déficit fiscal, valoriza mais ainda o real e prejudica a competitividade de nossas empresas e as contas externas. É um tiro no pé.

Vamos tratar esses dois desafios numa visão de médio e longo prazo, pois para este ano e até meados do próximo provavelmente continuaremos tendo pressões inflacionárias e valorização cambial vindas de fora, como nos demais países. Nota-se, no entanto, que a demanda já dá sinais de acomodação, pois: a) a inflação está reduzindo o poder aquisitivo das camadas de menor renda; b) as medidas macroprudenciais encareceram o crédito e; c) há nível crescente de endividamento dos consumidores, com elevação da inadimplência.

A favor da contenção dos preços dos alimentos temos previsões recordes de safra neste ano, mas há perspectivas de demanda em elevação, especialmente na China e Índia, o que pode ocasionar efeito contrário. Em termos globais prevê-se (caso não surjam novas surpresas) crescimento econômico de 4% no mundo, puxado pelos emergentes com 6%. Isso significa elevação de preços das commodities, que devem continuar impactando a inflação neste ano. Por outro lado, a conflagração no norte da África e Oriente Médio e as catástrofes no Japão podem causar elevação ainda maior nos preços do petróleo, reduzindo o crescimento econômico e rebaixando os preços das commodities. Em síntese, temos muitas indefinições com impactos variáveis na inflação.

Diante disso, é importante focar a política econômica principalmente no médio e longo prazo. Nesse sentido, defendo a continuidade do crescimento econômico, com inflação sob controle pelo uso adequado do crédito, e controle na entrada de capitais especulativos externos para permitir câmbio em nível adequado para melhorar as contas externas. Vejamos a seguir cada uma dessas questões.

1. Manter o desenvolvimento econômico:

De 2004 a 2010, apesar da crise internacional, crescemos em média 4,81% ao ano. O projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) do governo federal prevê 4,5% este ano. Para 2012, 5,0% e para 2013 e 2014, 5,5%.

São níveis compatíveis com a evolução que vem ocorrendo desde 2004 e abaixo do nível de 6% previsto para este ano nos países emergentes. Têm-se dois caminhos a perseguir para isso: a) crescer as exportações e; b) desenvolver o mercado interno.

O caminho da exportação é o mais difícil pois, fora as commodities e alimentos em que temos competitividade, os demais bens sofrem cada vez mais dificuldades para serem exportados devido ao câmbio valorizado e a disputa cada vez mais acirrada da China para expansão de suas vendas, juntamente com os Estados Unidos, Europa e Japão, cujo consumo interno não apresenta boas perspectivas, e é urgente reduzir os elevados níveis de desemprego que causam fortes desgastes políticos nesses países. Assim, a expansão da economia deve se apoiar preferencialmente no mercado interno e, para isso, continuar o estímulo às camadas de menor renda e aos investimentos que devem sustentar a elevação da oferta de bens e serviços para atender a incorporação de novos consumidores.

Os fios condutores desse processo que já demonstraram resultados são o crescimento do salário mínimo acompanhando a evolução da economia e o fortalecimento de programas de renda, como o Bolsa Família.

Essas políticas vão na direção de explorar o potencial de consumo existente, como pode ser constatado durante o governo anterior. Segundo o Estado (23/3), "31 milhões subiram de classe social em 2010 e o formato da distribuição de renda deixou de ser uma pirâmide e se tornou um losango." É através da perspectiva de crescimento do consumo que as empresas procuram ampliar seus investimentos e aumentar a oferta de bens e serviços.

2. Inflação:

Para combater a inflação é fundamental: a) investir na produção para elevar a oferta e; b) desenvolver políticas que permitam a redução de custos das empresas afetadas pela carga tributária, juros siderais, precariedade na infraestrutura e na logística e sujeitas ao cipoal burocrático. Elevar a oferta e reduzir custos é fundamental no combate estrutural à inflação.

A redução da carga tributária (arrecadação dividida pelo PIB) passa pela redução dos juros do setor público, devido à elevada Selic. Desde 2005 a carga tributária está estacionada em 33,6% do PIB. Mas o setor público só pode usar 27,6% do PIB, pois deve pagar antes os juros que representaram nesse período 6% do PIB.

Nos países da Organização para o Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reúne a Europa mais Estados Unidos, Canadá e Japão, bem como nos países da América Latina e Caribe, a conta de juros é da ordem de 1,8% do PIB. Reduzindo a Selic ao nível dos países emergentes, de 6%, é possível conseguir esse nível de juros em cerca de três anos. Isso permitiria: a) desonerações tributárias às empresas e bens de consumo popular e; b) ampliar investimentos em infraestrutura e logística. A resultante é elevação da oferta e custos menores, com redução da inflação.

Quanto à infraestrutura e logística, o governo procura reduzir os gargalos e custos que oneram os preços dos produtos, por meio do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), que apesar dos atrasos em sua execução parece ter atravessado vários entraves e dá mostras de adquirir maior velocidade de implantação. Vale destacar que o setor privado, independentemente do governo, tem feito investimentos para redução de custos de transporte, armazenagem e portuários. Isso vai contribuir para ampliar a produção e competitividade das empresas, com resultados concretos para a redução da inflação.

3. Câmbio:

Desde dezembro de 2008 os juros básicos nos EUA estão próximos a zero e o Banco Central americano (Fed), no auge da crise, recomprou US$ 1,7 trilhão em títulos privados para ativar o crédito e o consumo. Como até agosto de 2010 a economia quase não reagiu, o Fed decidiu recomprar esses títulos e mais US$ 600 bilhões até junho deste ano.

O que afetará o câmbio a nível internacional será quando o Fed decidir iniciar o enxugamento desses US$ 2,3 trilhões. Numa posição estão os que acham que a economia ainda não recuperou e na outra, os que se preocupam com a inflação, que já atingiu 2,7% e pode terminar o ano em torno de 4,5%.

Além dos Estados Unidos, a Europa e o Japão também ampliaram a liquidez de suas economias para sair da crise. Isso gerou forte pressão para valorizar as moedas dos países emergentes. Para tentar conter essa valorização, os emergentes estão adotando o controle de ingresso de capitais sob as mais variadas formas. O caso brasileiro é mais grave, pois a Selic elevada constitui o destino preferido dos especuladores internacionais. A solução para evitar a enxurrada de dólares passa principalmente pela redução da Selic para o nível internacional.

Enquanto isso não ocorre, o governo deve continuar fechando todas as brechas de entradas especulativas atraídas pela Selic. Não foi fechada ainda a falsa entrada de investimento direto de estrangeiros (IED), que em vez de ir para a produção vai para as aplicações em títulos federais, pois não há controle por parte do BC sobre o IED. A melhor forma deste controle é via cronograma físico financeiro das aplicações. A legislação garante a fiscalização do BC. A burla seria fortemente tributada pelo IOF, além da imposição de multas.

Outra forma importante de restrição à entrada de dólares especulativos é a quarentena. A esse respeito vale destacar a proposta feita em artigo do dia 6/11/2010 no Estado, pelo professor José Luiz Conrado Vieira, estudioso da legislação cambial brasileira. Ele sugeriu, baseado em soluções já adotadas no País, que os novos capitais que se destinassem ao Brasil teriam de efetuar depósito obrigatório no BC de 30% a 50%, não remunerado e com prazos adequados. Isso seria de "fácil operacionalização, não exigiria ações de esterilização monetária nem traria riscos relevantes de exposição cambial ao BC, visto que os recursos ficariam no exterior em conta da autoridade e seriam devolvidos, ao final, na mesma moeda. Ademais, os rendimentos da sua aplicação pelo BC ajudariam a mitigar um pouco, indiretamente, o custo de manutenção das reservas."

Mas não é só. O que importa, sobretudo, é reduzir/eliminar as posições "vendidas" dos bancos em dólares. Elas constituem a materialização das apostas dos bancos na apreciação do real e, para isso, o BC deve fazer exigências duras de elevação de capital sobre os bancos que atuam com posições "vendidas".

Nessa questão, o governo está caminhando a passos lentos e há dúvidas se não estão prevalecendo posições de deixar o câmbio valorizar para tentar segurar a inflação. A elevação da Selic nessa última reunião do Copom pode ser um indicativo nessa direção. Nesse caso o governo estaria priorizando o combate à inflação recorrendo à valorização cambial, com danos crescentes à competitividade das empresas e elevação do rombo nas contas externas.

Vamos aguardar os próximos passos do governo e, principalmente, o desenrolar dos impactos externos de inflação e câmbio. O importante é manter o crescimento econômico, reduzir a Selic e atacar os fatores que oneram os custos das empresas.

AFFONSO CELSO PASTORE - Um passo adiante, outro atrás


Um passo adiante, outro atrás
AFFONSO CELSO PASTORE
O ESTADO DE SÃO PAULO - 24/04/11
O mundo da política econômica está mudando. Nas palavras do economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard, entramos em um admirável mundo novo em termos de execução de políticas macroeconômicas, no qual, entre outras mudanças, os bancos centrais deveriam adicionar à lista dos objetivos de política monetária as medidas prudenciais, e à lista dos instrumentos as medidas macroprudenciais. A primeira recomendação é um passo à frente, que é a prevenção de crises bancárias. A segunda, infelizmente, é um passo atrás. As poucas evidências empíricas conhecidas mostram que as medidas macroprudenciais têm efeito pequeno no controle da demanda agregada. A sua adoção, no Brasil, está aumentando o risco de uma inflação persistentemente mais elevada.

No período que precedeu a crise de 2008, o mundo caminhou na direção de desprezar a importância das medidas prudenciais. Havia a crença de que o sistema bancário era tão racional que se autorregularia, e por isso não havia a necessidade de uma maior supervisão prudencial. Ao contrário, julgava-se que a maior liberdade de ação induziria o florescimento de "inovações financeiras" que estimulariam mais e mais o crescimento econômico. A revogação da Glass-Steagell Act de 1933, nos EUA, é fruto dessa ideologia. Criou-se, em função disso, um sistema bancário paralelo, fortemente alavancado, que era visto como o grande responsável pela viabilização dos investimentos das corporações, levando ao crescimento mundial acelerado. A literatura que vem dissecando a crise de 2008 não conseguiu até aqui encontrar evidências de que aquelas inovações financeiras aceleraram o crescimento, mas encontra fartas evidências de que elas estão na base da crise.

O segundo erro foi o endeusamento da hipótese de mercados eficientes. Segundo ela, os preços dos ativos nunca se desviam da trajetória determinada pelos seus "fundamentos". O mercado ignorou a história, que documenta bolhas como a da Nasdaq, a dos bulbos de tulipa no século XVII na Holanda, a South Sea Bubble, preferindo ficar com a crença na hipótese de mercados eficientes. Fechou os ouvidos aos gritos de advertência de Robert Schiller, denunciando uma bolha nos preços dos imóveis, cujo estouro com um sistema financeiro alavancado e com uma supervisão fraca levaria a uma crise de grandes proporções. Nisso foi seguido por Greenspan, que também fechou seus ouvidos a essa advertência, mantendo juros baixos que estimularam ainda mais o crescimento da bolha imobiliária.

Medidas prudenciais são extremamente bem vindas, porque evitam a formação de bolhas no crédito nos preços dos ativos, às quais se associam as crises sistêmicas que impõem enormes custos à sociedade. Mas seu uso deve se limitar aos objetivos prudenciais, porque sua eficácia no controle da demanda agregada é baixa.

Por que, então, o Banco Central do Brasil insiste no seu uso? Uma das razões está no evidente desconforto do governo com a valorização do real. A liquidez mundial excepcionalmente elevada, ao lado de ganhos extraordinários de relações de troca, leva a um câmbio real mais valorizado do que aquele ao qual retornará quando o mundo voltar ao normal. É neste sentido que se pode falar em um real sobrevalorizado, e por isso entende-se que o governo reaja evitando ou pelo menos suavizando essa valorização. Para isso dispõe de instrumentos como a acumulação mais acelerada de reservas e a taxação dos ingressos de capitais que, apesar de seus custos, trazem benefícios. O problema surge quando o governo retira do Banco Central parte de seu poder de elevar a taxa Selic, cuja elevação atrairia ainda mais capitais, acentuando a valorização cambial, substituindo-o pela "autorização" para usar medidas macroprudenciais.

A forma de solucionar o conflito entre o combate à inflação e a valorização cambial não é retirando do Banco Central parte de sua independência no uso do instrumento de controle da inflação, e sim com o uso de outro instrumento - a política fiscal. Com uma política fiscal bem mais contracionista a carga do ajuste imposta à taxa básica de juros seria menor. Embora o ajuste fiscal anunciado pelo governo tenha mudado o rumo expansionista que ocorreu durante o ciclo político do último ano do governo Lula, não foi suficiente para gerar a necessária contração na demanda agregada, e por isso não aliviou suficientemente a carga imposta à política monetária.

Jogos não cooperativos entre a autoridade fiscal e a monetária são frequentes. Quando a autoridade fiscal se dispõe a realizar déficits públicos elevados, impõe uma forte pressão à autoridade monetária. Esta pode reagir simplesmente financiando os déficits, o que leva ao caso clássico de uma "inflação fiscal", que se materializa com a expansão monetária acelerada gerando a coleta do "imposto inflacionário". Ou, alternativamente, pode entrar em um "jogo não cooperativo", no qual se recusa a financiar esses déficits. Neste caso a dívida pública tem um crescimento não sustentável, levando depois de algum tempo ou à percepção de um risco de default, ou à submissão da autoridade monetária, que passa a monetizar o déficit, transformando-se em agente coletor do imposto inflacionário. O que assistimos no Brasil, neste momento, não é um quadro agudo como este, embora ele já tenha ocorrido no passado. O que vemos é o Banco Central se submetendo a um "jogo cooperativo", no qual aceita o convite do governo para "cooperar" na tarefa de evitar uma valorização maior do real refreando-se de utilizar a taxa Selic na velocidade e na intensidade necessárias. Ao aderir a este "jogo", fatalmente conduzirá o Brasil a inflações persistentemente mais elevadas.

O mais grave é que o Banco Central deu um passo além ao reduzir a intensidade da elevação da taxa Selic em um quadro de nítida deterioração inflacionária. As expectativas de inflação vêm se elevando. Alguns julgam que o crescimento das expectativas não é real, derivando do "terrorismo" do mercado financeiro, que estaria conspirando para elevar a taxa de juros, o que elevaria os lucros dos bancos. Por isso não teríamos que olhar para a pesquisa Focus do Banco Central. Deixemos de lado essa bobagem. Os operários não participam de nenhuma "conspiração para elevar a taxa de juros", nem respondem à pesquisa Focus do Banco Central, mas quando seus sindicatos forem para a mesa de negociações salariais por volta de setembro de 2011, constatarão que a taxa de inflação dos últimos 12 meses está acima de 7%. Depois de dois anos de inflações acima da meta, e com uma perda de poder aquisitivo de 7% (ou mais) no último ano, exigirão reajuste de salários maior, sendo este movimento reforçado pelo inevitável reajuste superior a 13% do salário mínimo ao início de 2012. Este exemplo mostra que o quadro "prospectivo" da inflação é muito ruim, e isto exige ações convincentes para amainar os movimentos dos preços.

Restaria ao Banco Central fazer o que tem de ser feito com a taxa Selic, mantendo-se firme no compromisso de cumprir o seu mandato, que é o de controlar a inflação. Restaria também ao Banco Central a obrigação de abandonar o seu namoro com os instrumentos macroprudenciais, utilizando-os apenas para propósitos prudenciais, e de apontar para a sociedade que o País teria um desempenho melhor no que diz respeito à inflação e à taxa cambial com a adoção de uma política fiscal bem mais austera do que a atual.

Para isso, contudo, teria também que superar a restrição imposta pela intolerância do governo com relação a uma desaceleração temporariamente mais acentuada do crescimento do PIB, que neste caso é inevitável. Reconhece-se que diante de um crescimento do PIB de 7,5% em 2010 é politicamente inconveniente, para o presente governo, um crescimento mais baixo do que 4% em 2011 e 2012. Porém, mais inconveniente ainda é um reconhecimento tardio de que a inflação está elevada demais, com uma inércia bem maior gerada pela incorporação dos reajustes elevados de salários nominais. Se o reconhecimento deste quadro for tardio, levando à necessidade de uma desaceleração do crescimento mais forte nos dois anos finais do mandato do atual governo, corre-se o risco de acomodar ainda mais a política monetária aceitando inflações maiores por um período muito mais extenso.

ANCELMO GÓIS - Fora da ordem


Fora da ordem
ANCELMO GÓIS
O GLOBO - 24/04/11

É como diz Caetano: “Alguma coisa está fora da ordem,/fora da nova ordem mundial”... Um parceiro da coluna está comprando um bom apartamento na Brickell Avenue, uma das principais de Miami, pelo equivalente a uns R$ 6 mil, R$ 7 mil o metro quadrado. Na Praia da Barra, no Rio, o metro quadrado custa de R$ 14 mil a R$ 15 mil. 

Outros preços... Um graúdo do setor no Rio diz que o metro quadrado nas praias do Leblon e de Ipanema custa de R$ 30 mil a R$ 35 mil. Já nas ruas internas dos dois bairros de bacanas, o preço cai para uns R$ 20 mil, R$ 25 mil — em média, claro. 

Cebola do Outback

A Rádio Corredor diz que os americanos da Outback Steakhouse International gostariam de assumir integralmente a filial brasileira. Aqui, a rede de restaurantes, com 28 filiais, é um sucesso só. 

Partido único 

Marco Villa acha que, do jeito que vão as coisas, “o PT corre o risco de não ter opositor na eleição presidencial de 2014”. O historiador não minimiza o episódio do senador Aécio Neves, parado numa blitz da Lei Seca: — Nos EUA, um caso desses encerraria a carreira de
um político. É. Pode ser.

Chinelo carioca
O Rio vai ganhar uma fábrica do grupo Alpargatas em Seropédica. A indústria paulista produz, entre outros calçados, as sandálias Havaianas.

Lula enche o bolso
A cúpula da matriz do Bank of America Merrill Lynch já está com viagem marcada para desembarcar em São Paulo na primeira semana de maio. Os gringos vêm assistir, com clientes brasileiros, a uma palestra de Lula.

Retratos da vida

Noite dessas, o escritor Flávio Moreira da Costa foi parado na esquina de Rua Constante Ramos com Av. N. Sa. de Copacabana por uma moça de uns 20 e poucos anos, toda-toda: — Posso ter um minuto da sua atenção? Sou garota de programa. Será que o senhor
precisa dos meus serviços? 

Papo chato

Dia 10 de maio, Hugo Chávez “de cadeia” vem ao Brasil conversar com Dilma. Em que pese agora a oposição da Petrobras, o venezuelano vai insistir em ser sócio da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, em construção. A decisão final tem de sair até agosto. 

Na verdade... 

Esse papo de construção de uma refinaria brasileiro-venezuelana se arrasta desde 2007. A obra está no meio e, até agora, Chávez não mandou um centavo para rachar a conta. 

Passaredo

Técnicos do Parque Nacional da Tijuca, no Rio, vão reintroduzir em suas matas espécies de aves que desapareceram dali. As primeiras serão a jacutinga (foto) e o macuco. Os casais começarão a ser soltos no segundo semestre, quando o reflorestamento do parque faz 150 anos. 

Primeiro emprego 

Sérgio Cabral lembrou a um amigo, nestes 30 anos do atentado terrorista no Riocentro, que seu primeiro emprego, aos 17, foi no Centro Brasil Democrático. O Cebrade, ligado ao PCB, organizou aquele show do Dia do Trabalhador que a ditadura tentou abafar com bombas. 

Internet de ouro 

Acredite. A loja de internet que fica perto da praça de alimentação do Terminal 1 do Galeão- Tom Jobim cobra R$ 42 pela hora de navegação na rede. 

Cena carioca
Conversa entre patricinhas no Baixo Gávea, terça à noite:
— Amiga, que vestido lindo! 
— É da Cantão!
— Amei! Supercombina com sua sandália.
— É da New Order.
— Show. Também adorei o anel e o cordão! São de onde? 
— Acervo pessoal...
— É da sua mãe?!
— Não, amiga, cá entre nós... é de camelô da Rua Uruguaiana. Digo que é acervo pessoal porque fica mais chique.

ZONA FRANCA
 Maurício Leite Barbosa abriu galeria de arte na Praça XV.
 O livro “Arte, vida e política: ensaios sobre Foucault e Deleuze” será lançado amanhã, às 17h, na Travessa/Centro.
 Amanhã, às 19h, o vereador Eliomar Coelho dá títulos de cidadãos cariocas a Chico e a Alaíde, no Chico & Alaíde.
 Antônio Carlos, da Rádio Globo, recebe segunda do deputado Dionísio Lins Medalha Barbosa Lima Sobrinho.
 A Escola do Legislativo do Rio faz dia 28 debate Política e Novas Mídias.
 “O gigante do papelão” abrirá o Festival LABRFF, em Hollywood, quarta.
 Foxton amplia sua linha de produtos com peças de alfaiataria.
● Tania Malheiros, a cantora e coleguinha, lançou o site taniamalheiros.com. br com as músicas de seu CD.

ILIMAR FRANCO - Vigilância


Vigilância 
ILIMAR FRANCO 
O GLOBO - 24/04/11

Os ministros José Eduardo Cardozo (Justiça) e Nelson Jobim (Defesa) decidiram unir forças e vão elaborar um plano conjunto de defesa das fronteiras brasileiras. A primeira reunião de trabalho ocorre nesta semana e terá como ponto de partida uma proposta elaborada pela Justiça. A intenção é integrar a Polícia Federal, o Exército, a Marinha, a Aeronáutica e a Polícia Rodoviária Federal. “Não dá para enfrentar o tráfico de drogas sem integrar. Precisamos unir esforços”, resume Cardozo.

Partidos querem dar o troco no PSD
A aprovação de lei proibindo as coligações nas eleições proporcionais (para deputados federais, estaduais e vereadores) está unindo os partidos que estão sendo desfalcados pelo novo PSD. Ocorre que o novo partido não terá tempo de televisão e nem recursos do Fundo Partidário. Seus candidatos nas eleições municipais só terão acesso à TV se usarem o tempo dos partidos coligados. Nas eleições para o Executivo, um partido sempre poderá negociar financeiramente seu tempo com o novo PSD. Mas, se a lei proibir as coligações nas proporcionais, os candidatos a vereador vão disputar sem direito à propaganda na TV.

"Nós levamos 20 anos para voltar ao poder e agora estamos sem futuro” — Paulo Bornhausen, secretário de Desenvolvimento Econômico de Santa Catarina e deputado federal (DEM)

NO INTERVALO. O presidente do Cade, Fernando Furlan, pediu para servirem seu cafezinho numa xícara com o distintivo do Internacional ao receber o presidente do Clube dos Treze, Fábio Koff, para tratar da transmissão do Campeonato Nacional pela TV. Koff, torcedor do Grêmio, emendou: “Olha, mesmo rival, tenho boas relações com a diretoria do Inter. Vou pedir a eles para mandarem um kit de camisetas do time. Mas vou pedir camisetas brancas, porque vermelho é muito feio.”

Estocada
No Fórum Empresarial de Comandatuba (BA), o governador Jaques Wagner (PT-BA) disse, em seu discurso: “Espero que o (vice-presidente) Michel Temer tenha a luz de ajudar nos quatro ou oito anos do governo Dilma Rousseff.”

Escalpo
Após o governador Jaques Wagner vender a barba em troca de doação para o Instituto Ayrton Senna, o deputado Sarney Filho PV-MA) perguntou: “Se a barba do Wagner vale R$ 500 mil, quanto vale o bigode do (senador José) Sarney?”

A história se repete

Eleito presidente do DEM, o senador José Agripino (RN) está enfrentando o ex-presidente do PFL Jorge Bornhausen, muito ativo na formação do PSD. Esta não é a primeira vez que Bornhausen se coloca no caminho de Agripino. No governo Fernando Henrique, Agripino estava para ser nomeado ministro de Minas e Energia, mas Bornhausen pôs no cargo José Jorge. Agripino também esteve na boca para ser o vice de Geraldo Alckmin, em 2006, mas a tarefa ficou com José Jorge.

Fundadores
O PSD deve pedir seu registro ao TSE até o próximo dia 27. A expectativa é que, entre os fundadores, já constem os nomes do governador Raimundo Colombo (DEM-SC) e do deputado federal licenciado Paulo Bornhausen (DEM-SC).

Aposentado

Apesar de ser um dos principais organizadores do PSD, o exsenador Jorge Bornhausen não se filiará. Ele se mantém firme em sua disposição de se aposentar da política, embora tenha desabafado: “Estão (o DEM) me obrigando a me filiar.”

 DILMASIA. Por sugestão do anfitrião Walfrido dos Mares Guia, o governador Antonio Anastasia (MG) tirou foto ao lado da presidente Dilma Rousseff, em Santo Antonio do Leite (MG), na quinta-feira.
 MÉRITO. Um dos demais governadores estimulou a deferência: “Você inventou o Dilmasia” (o voto casado Anastasia/governador e Dilma/presidente). 
 CAMARADAGEM. A presidente Dilma Rousseff entrou na onda e, descontraída, fez o comentário: “Isso (o Dilmasia) está consolidado há muito tempo.”

GOSTOSA

ELIO GASPARI - De Wallis.de.Windsor@edu para Kate@org


De Wallis.de.Windsor@edu para Kate@org
ELIO GASPARI

O GLOBO - 24/04/11

Você vem de uma família de mulheres fortes e entrará noutra na qual, há séculos, os homens são fracos


QUERIDA KATE MIDDLETON,
Sexta-feira você terá o que eu não tive. Entrará na abadia de Westminster, para os braços de William, o homem que te ama. Pelo amor que me tinha, o rei Eduardo 8º abdicou em 1936 e viveu no exílio até sua morte, em 1972. Repete-se à exaustão que, desde 1660, você será a primeira plebeia a se casar com um futuro rei da Inglaterra. Preste atenção na maneira esnobe como apagam minha presença. David, assim nós o chamávamos, largou o trono e casou-se comigo meses depois. De Wallis Simpson, Duquesa de Windsor, fala-se o mínimo possível, de preferência, mal. Meu retrato nesse filme "O Discurso do Rei" é patético. O Bertie era gago, mas eu não era mal-educada. Outro dia, a czarina Alexandra Romanoff disse-me que fazem comigo o que os bolcheviques fizeram com Trótski, o único comunista charmoso que há por aqui.
Hoje, chamam a família real de "A Firma". Um mundo de elegância, riqueza e esplendor. A mim, deram ferocidade, frieza e rancor. Não me convidaram para o casamento de Elisabeth com aquele nobre grego arruinado. Repetem que eu não podia ser rainha porque era divorciada. Parece maldição. Três dos quatro filhos da rainha se divorciaram. Em 1991, li no "New York Times" um artigo do Chistopher Hitchens dizendo que o príncipe Andrew é filho de lord Porchester, o encarregado dos estábulos reais. Toda vez que pergunto a Diana quem é o pai do príncipe Harry ela desconversa. Vou às lágrimas quando vejo Margareth, a irmã de Elizabeth proibida de se casar com o piloto Peter Townsend, um divorciado. O moço era um herói da Segunda Guerra. Os dois estão sempre de mãos dadas. Chegaram a escrever que eu era um homem. E o filho que abortei do conde Ciano, que viria a se casar com a menina do Mussolini? Circularam coisas horríveis a respeito da sexualidade do David, mas a respeito desse assunto não abro a boca. Digo-lhe, Kate, que invejo o apelido dado ao seu noivo, "Big Willie".
Kate, você não se casará com o príncipe apenas por ser bela. Jecca Craig, aquela moça do Quênia, também é linda e tem um jeito selvagem que faz o gênero do seu noivo. Você se casará com William porque é uma mulher forte, vinda de uma família de mulheres fortes. Sua bisavó Edith enviuvou cedo e, sem tostão, criou seis filhos. Sua avó Dorothy perseguiu obsessivamente a ascensão social, e sua mãe, Carol, transformou um hobby de apetrechos para festas de crianças num empreendimento milionário. Na sua família os homens são asteriscos, ou encrenca, como seu tio Gary, um perigoso cafajeste, ou seu irmão James, um bobinho.
Veja os Windsor: o bisavô de William não gostava de ler, seu negócio era cuidar da coleção de selos. Quem mandava na casa era a rainha Mary, com suas joias ridiculamente resplandecentes e seu gosto pelas pedras alheias. Ela depenou os Romanoff oferecendo uma ninharia pelas tiaras das infelizes grã-duquesas. Bertie teve um rochedo na mulher. Tudo o que David e eu padecemos partiu dela. Acredite que ele teve que pedir à sobrinha para que fossemos enterrados no campo de Frogmore, junto com seus ancestrais. A "Firma" foi salva pela força de Elisabeth 2ª.
Diana foi uma mulher forte, mas quando se casou era uma virgem ingênua. Camilla Parker-Bowles triturou-a. É uma leoa (até pela juba) e domesticou Charles. Pudera. Deitada, sua bisavó era a única pessoa no reino capaz de acalmar os acessos de ira de George 5º.
Os compadres de Windsor eram tão fracos que ainda hoje dizem que o chefe da família foi lord Mountbatten. Charles tenta copiá-lo. Os irlandeses explodiram-no em 1979. Jamais conheci corno tão frio, manso e calculista. E cornos conheci. Quando ele ia lá em casa, deixávamos sempre um criado por perto, pois um dia furtou uma peça Fabergé.
Kate, seus nove anos de namoro com William foram de convivência com um jovem sofrido, esmagado entre o dever público e tormentos familiares. Quando vocês foram morar juntos, ele deixou o lar deteriorado de uma família sem emoções. William sofreu o que há de pior, a morte da mãe, detestada no palácio e amada nas ruas. Você fez pelo seu príncipe o que não tive tempo de fazer pelo meu. Talvez nem conseguisse.
Ajude o mundo a se vestir melhor. Não é qualquer uma que, como nós, pode deixar a roupa cair como um véu sobre a cintura. Cuidado para não dizerem que o caimento de seu vestido de noiva lembra o do meu. (O lance da compra pública de calcinhas de renda foi coisa de perua, cuidado.) Morra de fome, mas não engorde. Nas saladas, as folhas de alface dos convidados devem ser aparadas, todas no mesmo tamanho. Vocês se acostumarão a só beber champanhe. William tomando cerveja com sambuca e você misturando rum com frutas tropicais são jovens maltratando o paladar. Joias, Kate, muitas joias no closet, mas poucas no corpo. Não faça como eu que gastava milhões com o Cartier. Há coisas bonitas e baratas. Aquela minha pantera com olhos de esmeraldas iria bem com turmalinas. (A Elisabeth Taylor arrematou-a num leilão e chegou aqui, linda, com ela.)
Você se casará no ascendente de Leão, com o Sol em Touro. Madame Claire, minha astróloga, diz que é bom presságio. Acho que você deve se preparar para a coroação de William a partir de 2020, quando Charles completará 72 anos. Em mais de um milênio, só três soberanos passaram dessa idade. As mulheres de Windsor são longevas, os homens, não. A rainha Vitoria viveu até os 81 anos e Elisabeth fez 85 na quinta-feira.
Cuide-se, você tem tempo.
David manda-lhe um respeitoso cumprimento e eu faço-lhe uma reverência.
Wallis, duquesa de Windsor

AI DO DEFICIENTE

Por meio da sua Superintendência de São Paulo, o Ministério do Trabalho está desossando a lei que criou um sistema de cotas para aproveitamento de deficientes físicos.
Pela lei 8.213/91, as empresas com mais de 100 empregados são obrigadas a reservar cotas numa escala que vai de 2% a 5% (no caso de quem tem mais de mil trabalhadores). Simples assim.
Pois no mandarinato do doutor Carlos Lupi, seus sábios inventaram um novo sistema, pelo qual firmam-se pactos contornando o que a lei determina.
Num deles, combinaram que uma empresa teria até dois anos para cumprir 30% do que a lei manda. As cotas já beneficiam 300 mil deficientes. Poderiam ajudar até 900 mil. Se o doutor Lupi conseguisse transplantar para as relações da patuleia com a Receita Federal o sistema de pactos com o qual pretende ferrar os deficientes, talvez ele se tornasse o político mais popular do país.

MORTALIDADE

A expectativa de vida fora do poder federal do PSD do prefeito Gilberto Kassab é de, no máximo, dez anos.
Nenhum de seus ancestrais (DEM, PFL, PDS e Arena) conseguiu preservar um eleitorado relevante além desse prazo de validade.

TRABALHO E RENDA
A doutora Dilma jamais pensou que acabaria dirigindo o país na seguinte situação: a economia vai bem, há pleno emprego e, para quem trabalha, os salários podem melhorar.
Isso leva seu governo a tomar medidas "macroprudenciais" para conter a inflação e o BC sobe a taxa de juros para 12%, beneficiando precisamente quem ganha dinheiro sem trabalhar.