quinta-feira, junho 30, 2011

ANCELMO GÓIS - Aprova, Guido

Aprova, Guido
ANCELMO GÓIS
O GLOBO - 30/06/11

Amanhã, haverá nova tentativa de o Conselho da Petrobras aprovar o Plano de Negócios 2011/15 da estatal, rejeitado nas duas últimas reuniões.

Gente grande 
Acredite. A receita dos planos de saúde alcançou R$ 72,7 bilhões em 2010, ou 13,2% a mais que no ano anterior. Esta grana supera o orçamento do Ministério da Saúde.

Grande hotel
A Vinci Partners, de Gilberto Sayão, procura comprador para a rede de hotéis Marina. Elogios para Lula Jacques Chirac, que presidiu a
França de 1995 a 2007, derrama elogios em Lula no segundo volume de “O tempo presidencial”, suas memórias recém-lançadas. É o líder mundial mais elogiado. Mais até que Mandela.

Segue...

O francês lembra que Lula era tido como um revolucionário de inspiração castrista:
— A mim, porém, rapidamente, ele me pareceu um líder de envergadura excepcional, portador não de uma ideologia, mas da alma, da memória e das grandes esperanças de seu povo.

Filme da Copa
Avança o projeto de Daniel Cohn-Bendit, o líder dos rebeldes de 1968 em Paris, de fazer um filme sobre a Copa de 14. Ele tenta atrair Gilberto Gil (com quem se reunirá em julho) e Sócrates. Mas a fila de cineastas com projetos ligados à Copa aqui dá volta no quarteirão.

Bieber no Brasil

Justin Bieber, 16 anos, o fenômeno da música americana com milhões de fãs adolescentes no Brasil, vai fazer um show no Engenhão,
no início de outubro. No fim do mesmo mês, sua namorada, Selena Gomes, também deve cantar por aqui.

Gois na Flip I
Esta será a oitava Flip patrocinada pelo Unibanco/Itaú, embora houvesse quem temesse pela parceria este ano. O Itaú vai distribuir em Paraty 5.000 banquinhos dobráveis, feitos de papelão.

Gois na Flip II
Aliás, dia 7 de julho, na Off Flip, haverá o pré-lançamento de “Paulo Moura, um solo brasileiro”, escrito pela viúva, Halina Grynberg, com show em tributo ao inesquecível músico.

Gois na Flip III 
Da mesma forma que a Flip de 2010 foi, digamos, “tucana”, com a palestra de FH sobre Gilberto Freyre, a deste ano, que começa semana que vem, será “petista”. O crítico literário Antonio Candido, que vai falar sobre Oswald de Andrade, é, como se sabe, ligado ao PT.

É pena
O campus da Universidade Santa Úrsula, em Botafogo, no Rio, deve ir a leilão.

Calma, gente 
Uma mãe registrou na 14a- DP, no Leblon, no Rio, semana passada, denúncia de que sua filha de 12 anos teria apanhado, dentro do Colégio Santo Agostinho, de uma outra aluna de 15.

Diário de Justiça 
A 7 a- Câmara Criminal do Rio negou pedido de liberdade de Beatriz Cunha, falsa psicóloga que atendia crianças autistas em Botafogo.
As deusas do teatro Bibi Ferreira, Natália Timberg e Marília Pêra dividirão, pela primeira vez, o mesmo palco. Homenagearão Dulcina de Moraes na reabertura, pela Funarte, dia 2 de agosto, do Teatro Dulcina, na Cinelândia, no Rio, fechado em 2001.

Cocô mole
Wagner Victer, o presidente da Cedae, achou graça da história do cocô voador, aqui ontem. Segundo ele, se todos os clientes da empresa dessem descarga juntos, em protesto contra os impostos, aconteceria... nada. É que, diz Victer, 96% dos dejetos do esgoto são líquidos.

E mais...

Victer lembra que o esgoto não chega em bloco ao coletor da Cedae, e grande parte ficaria retida nas caixas de separação:
— Se, eventualmente, não fosse absorvido, voltaria à casa do consumidor. Ou seja, o cocô poderia sair pela culatra... Ah, bom!

ILIMAR FRANCO - Campo minado

Campo minado
ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 30/06/11

A relação entre a presidente Dilma e os partidos governistas na Câmara não vai bem. O PMDB é ostensivo. O PT sussurra. Os líderes aliados dizem que estão segurando a votação da emenda 29 (Saúde), da PEC 300 (piso salarial de policiais e bombeiros) e do aumento salarial dos juízes. E acrescentam: o Senado aprovou todas essas propostas, gerando aumento de gastos da União. Para finalizar, ainda lembram: todas elas foram aprovadas com o voto da então senadora Ideli Salvatti, hoje ministra das Relações Institucionais.

O ilusionismo e a greve aliada
A presidente Dilma Rousseff não quer que a Câmara vote a emenda 29, da Saúde, nem a PEC 300, que institui o piso salarial de policiais e bombeiro. As duas propostas podem gerar novos gastos para o governo federal. A greve da base aliada vem a calhar. O
governo Dilma teme pela futura votação no Senado. As duas propostas tiveram origem lá. O texto da emenda 29, aprovado por 59 senadores em abril de 2008, previa que a União teria de ampliar para 10% de suas receitas os gastos com a Saúde. O texto da PEC 300, aprovado por 62 senadores em dezembro de 2010, dizia que um fundo bancado pela União ajudaria os estados a pagar os salários da
área de segurança pública.

O calçadão de Copacabana já não é do Rio, é da Marinha, ou seja, da União” — Alceu Moreira, deputado federal (PMDB-RS), no lançamento da Frente Parlamentar pela Democratização na Distribuição dos Royalties do Petróleo

SAIA JUSTA.
 Na reunião com os líderes governistas, o líder do PMDB na Câmara, Henrique Alves (RN), cobrou do ministro Orlando Silva (Esportes) explicação sobre a exclusão do Ministério do Turismo do Comitê Executivo da Copa. Essa não é a única reclamação. A presidente Dilma ainda não recebeu o ministro Pedro Novais (Turismo) no Planalto. A nomeação de Flávio Dino (PCdoB) para a presidência da Embratur também não foi bem digerida.

Remodelação

Além de incorporar o ministro Edison Lobão (Minas e Energia), o novo núcleo de coordenação política do governo também tem como integrante o ministro Alexandre Padilha (Saúde), petista e ex-ministro de Relações Institucionais.

Reforma pontual

A Fazenda encaminhou à Casa Civil minuta de Medida Provisória regulamentando o comércio eletrônico. Pela proposta, 55% do ICMS ficam com o estado de destino da mercadoria e 45%, com o de origem. Hoje, permanece tudo na origem.

Transparência e controle de gastos

balanços trimestrais pelos gestores do SUS. Deverão ser divulgados recursos aplicados, auditorias concluídas e produção de serviços na rede assistencial própria. Esses dados serão apresentados aos conselhos de saúde e ao Legislativo. O Ministério da Saúde diz que isso vai melhorar a gestão e o controle de gastos.

No recreio
No encontro dos tucanos, ontem no Senado, o ex-governador José Serra diz: “Um palmeirense como eu fui lá torcer para o Santos, ao lado do Pelé”. O líder Álvaro Dias (PR) emendou: “E o paletó vermelho do Pelé ofuscou o Serra”. Risos.

Papo cabeça
● O CEO mundial da General Eletric, John Dineen, jantou ontem no Rio com o presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha. No cardápio, a criação de parceria para produzir e desenvolver diagnósticos e vacinas em plataforma vegetal.


 MARTELO BATIDO. A presidente Dilma voltou ontem do (PMDB-RS) líder do governo no Congresso. O anúncio deve ser feito hoje.
 O DEPARTAMENTO Penitenciário do Ministério da Justiça vai doar amanhã, para os 27 estados, 88 veículos para transporte de presos.

● O PRESIDENTE da Ancine, Manoel Rangel, foi eleito secretário-executivo da Conferência de Autoridades Audiovisuais e Cinematográficas Ibero-americanas. A conferência existe desde 1989 e reúne 19 países.

CLÓVIS ROSSI - A crise da intermediação


A crise da intermediação
CLÓVIS ROSSI
FOLHA DE SÃO PAULO - 30/06/11

ATENAS - Uma das coisas que mais chamavam a atenção ontem na praça Syntagma, o coração de Atenas, era a relativa pouca atenção que os "aganaktismeni", os indignados em versão grega, prestavam à decisiva votação que ocorria no Parlamento, o prédio em frente ao acampamento que montaram já faz três semanas exatamente para protestar contra a situação econômico-social do país.
É verdade que havia distrações importantes, na forma de confrontos continuados entre a polícia e os grupos radicais anarquistas, que não pertencem ao acampamento dos "indignados", mas acabam mobilizando a atenção da TV. Afinal, quebra-quebra é mais imagético do que um acampamento pacífico. Além disso, a nuvem de fumaça provocada pelo gás lacrimogêneo forçava todos a se defender, em vez de prestar atenção ao que ocorria no Parlamento.
Mas, de todo modo, a desatenção parece confirmar a avaliação que faz o espanhol Daniel Innerarity, catedrático de filosofia social e política, sobre o movimento espontâneo que está cada vez mais ocupando a praça pública, primeiro no Oriente Médio e agora na Europa: "Há um assalto generalizado contra a ideia da intermediação. Está se instaurando uma visão segundo a qual a vontade geral é algo que se pode construir sem instituições intermediárias".
Pelo menos em Atenas, ontem era assim: os supostos representados davam as costas a seus representantes eleitos, como se tivessem a certeza de que eles, na verdade, já não representam a "vontade geral".
É razoável supor que, ao menos em relação ao Parlamento brasileiro, a sensação do público seja idêntica ou ao menos parecida. Ontem mesmo meu neto me avisou, pelo Facebook, que aderiu a uma manifestação contra a corrupção, gestada, como no caso dos "indignados", no mundo virtual e agora a caminho da vida real.

SERGIO FAUSTO - Amigo ou inimigo, o jogo continua


Amigo ou inimigo, o jogo continua
SERGIO FAUSTO
O Estado de S. Paulo - 30/06/2011

A carta de Dilma Rousseff a Fernando Henrique Cardoso reconhecendo os seus méritos como político, intelectual e presidente da República tem importância histórica. Tem também significação política, na medida em que desdiz a catilinária lulopetista sobre a "herança maldita". Não tem, contudo, efeito sobre o jogo político-partidário do PT porque, neste, quem continua a dar as cartas é o ex-presidente Lula. E ele já deixou bem claro que continua a operar dentro da lógica amigo-inimigo, como se de fato a política fosse o prolongamento da guerra por outros meios.

Que o PSDB é o inimigo escolhido já se sabe há muito tempo. É escolha feita desde a preparação do Plano Real, quando Lula, sob os maus conselhos de seus assessores econômicos, preferiu denunciar o suposto "estelionato eleitoral" a apoiar o programa que pôs fim a mais de duas décadas de inflação alta, crônica e crescente e criou as condições para a retomada do crescimento com distribuição da renda. Na Presidência, buscou apropriar-se dos louros da vitória sobre o processo inflacionário, como se fosse ele, e não o seu antecessor, o responsável político pela estabilização monetária, embuste que Dilma indiretamente denuncia em sua carta a FHC.

Desde meados dos anos 90, a escolha do PSDB como inimigo principal vem sendo reiterada a cada passo, sem nenhum escrúpulo de consciência. Ainda recentemente, em meio à crise que levou à renúncia do ministro Antônio Palocci, Lula atribuiu ao PSDB paulista o surgimento na imprensa das informações sobre a inexplicada - possivelmente porque inexplicável - evolução patrimonial de seu ex-ministro da Fazenda. Provas? Não as tinha. Nem mesmo indícios. A acusação leviana servia a um único e deliberado propósito: arregimentar a tropa petista no Congresso Nacional para blindar Palocci na Casa Civil. Em vão.

O pouco-caso pelas instituições e pelos princípios republicanos - para não falar no desdém pela verdade histórica - é parte da lógica amigo-inimigo. Em encontro de dirigentes petistas realizado no interior de São Paulo, logo após a queda de Palocci, o ex-presidente afirmou em discurso que os problemas com os companheiros só surgem quando o partido está desunido. Foi assim no "mensalão", disse ele, invocando o testemunho de José Dirceu, postado ao seu lado. Foi assim também agora, arrematou, fazendo referência ao escândalo que derrubou o ministro da Casa Civil de Dilma Rousseff. Ou seja, não importa se houve ou não houve corrupção, desvio de recursos públicos, enriquecimento ilícito, etc., nesses e em outros tantos casos envolvendo dirigentes do PT e ministros de seu governo. O que importa é preservar a unidade e a força da organização, na luta contra o inimigo.

Mais uma vez, no discurso referido, o propósito do ex-presidente foi arregimentar a base parlamentar petista, desta feita em apoio a Dilma Rousseff. Objetivo legítimo e iniciativa oportuna do ponto de vista do governo. Como líder partidário, Lula tem todo o direito de convocar os seus a respaldar a presidenta. Ninguém o faria com maior eficiência.

O problema é que o ex-presidente, e não é de hoje, se comporta como chefe de uma organização dedicada a acumular poder e evadir-se tanto quanto possível do controle público (não para se autorregular, mas para proteger os companheiros, aloprados ou não). Cada vez mais raras são as vezes que se vê em Lula o homem público preocupado com as instituições e a qualidade da vida política. Vício adquirido na oposição, agravado na Presidência e cultivado depois de deixar o cargo.

Dilma Rousseff não é capaz de operar com a mesma eficiência política, o que era previsível. A presidenta é mulher de convicções - não importa se certas ou erradas - e compromisso com o que lhe parece tecnicamente correto. Custa-lhe visivelmente abrir mão deles, assim como é perceptível sua falta de gosto pelo fazer convencional da política.

Tipo meio ascético, Carlos Lacerda, em seu livro de memórias, relata as dificuldades que vivia para controlar uma parte da bancada da UDN na Câmara dos Deputados no final dos anos 1950, formada por parlamentares boêmios que viviam na noite carioca. Resolveu, então, fazer o sacrifício pessoal de cair na farra por uns dias para criar maior camaradagem com seus liderados. Virou duas noites, de bar em bar. Diz ele que deu certo.

Registro essa história para ressaltar o tamanho do desafio político com que se defronta a presidenta. Sua tarefa é muito maior e mais complexa que a de Lacerda. Para começar, porque não é na farra boêmia que está interessada a maioria da base de sustentação do governo. Para concluir, porque liderar uma bancada parlamentar é algo infinitamente mais simples do que presidir um país como o Brasil.

Passados seis meses de governo, Dilma Rousseff ainda não encontrou resposta para o desafio básico da boa governança no sistema presidencial brasileiro: como compor e preservar de modo estável uma coalizão de partidos que dê sustentação parlamentar ao governo, entregando-lhes cargos e recursos na administração federal, e ao mesmo tempo realizar um programa que requer coerência e eficácia na implementação das políticas públicas.

Jejuna na vida político-partidária, em geral, e na vida parlamentar, em particular, a presidenta acumula tropeços e zigue-zagues na relação de seu governo com o Congresso, como mostram as idas e vindas na questão do sigilo dos documentos oficiais.

Tomara que ela se firme, consiga estabelecer limites à voracidade dos aliados, separando o joio do trigo, e imprima a sua marca pessoal ao governo. É importante para o País que faça um bom trabalho e não permita a Lula exercer, desenvolto, o seu protagonismo anti-institucional, seja em cena aberta ou nos bastidores da vida política (e empresarial)

GOSTOSA

CONTARDO CALLIGARIS - Passeatas diferentes

Passeatas diferentes 
CONTARDO CALLIGARIS
FOLHA DE SÃO PAULO -30/06/11 

Por que alguém desfila para pedir não liberdade para si mesmo, mas repressão para os outros?

DOMINGO PASSADO, em São Paulo, foi o dia da Parada Gay.
Alguns criticam o caráter carnavalesco e caricatural do evento. Alexandre Vidal Porto, em artigo na Folha do próprio domingo, escreveu que, na luta pela aceitação pública, "é mais estratégico exibir a semelhança" do que as diferenças, pois a conduta e a aparência "ultrajantes" podem ter "efeito negativo" sobre o processo político que leva à igualdade dos homossexuais. Conclusão: "O papel da Parada é mostrar que os homossexuais são seres humanos comuns, que têm direito a proteção e respeito, como qualquer outro cidadão".

Entendo e discordo. Para ter proteção e respeito, nenhum cidadão deveria ser forçado a mostrar conformidade aos ideais estéticos, sexuais e religiosos dominantes. Se você precisa parecer "comum" para que seus direitos sejam respeitados, é que você está sendo discriminado: você não será estigmatizado, mas só à condição que você camufle sua diferença.

Importa, portanto, proteger os direitos dos que não são e não topam ser "comuns", aqueles cujos comportamentos "caricaturais" testam os limites da aceitação social.
Nos últimos anos, mundo afora, as Paradas Gays ganharam a adesão de milhões de heterossexuais porque elas são o protótipo da manifestação libertária: pessoas desfilando por sua própria liberdade, sem concessões estratégicas. É essa visão que atrai, suponho, as famílias que adotam a Parada Gay como programa de domingo. A "complicação" de ter que explicar às crianças a razão de homens se esfregarem meio pelados ou de mulheres se beijarem na boca é largamente compensada pela lição cívica: com o direito deles à diferença, o que está sendo reafirmado é o direito à diferença de cada um de nós.

O mesmo vale para a Marcha para Jesus, que foi na última quinta (23), também em São Paulo. Para muitos que desfilaram, imagino que a passeata por Jesus tenha sido um momento de afirmação positiva de seus valores e de seu estilo de vida -ou seja, um desfile para dizer a vontade de amar e seguir Cristo, inclusive de maneira caricatural, se assim alguém quiser.

Ora, segundo alguns líderes evangélicos, os manifestantes de quinta-feira não saíram à rua para celebrar sua própria liberdade, mas para criticar as recentes decisões pelas quais o STF reconheceu a união estável de casais homossexuais e autorizou as marchas pela liberação da maconha. Ou seja, segundo os líderes, a marcha não foi por Jesus, mas contra homossexuais e libertários.

Pois é, existem três categorias de manifestações: 1) as mais generosas, que pedem liberdade para todos e sobretudo para os que, mesmo distantes e diferentes de nós, estão sendo oprimidos; 2) aquelas em que as pessoas pedem liberdade para si mesmas; 3) aquelas em que as pessoas pedem repressão para os outros.
O que faz que alguém desfile pelas ruas para pedir não liberdade para si mesmo, mas repressão para os outros?

O entendimento trivial desse comportamento é o seguinte: em regra, para combater um desejo meu e para não admitir que ele é meu, eu passo a reprimi-lo nos outros.
Seria simplório concluir que os que pedem repressão da homossexualidade sejam todos homossexuais enrustidos. A regra indica sobretudo a existência desta dinâmica geral: quanto menos eu me autorizo a desejar, tanto mais fico a fim de reprimir o desejo dos outros. Explico.

Digamos que eu seja namorado, corintiano, filho, pai, paulista, marxista e cristão; cada uma dessas identidades pode enriquecer minha vida, abrindo portas e janelas novas para o mundo, permitindo e autorizando sonhos e atos impensáveis sem ela. Mas é igualmente possível, embora menos alegre, abraçar qualquer identidade não pelo que ela permite, mas por tudo o que ela impede.

Exemplo: sou marido para melhor amar a mulher que escolhi ou sou marido para me impedir de olhar para outras? Não é apenas uma opção retórica: quem vai pelo segundo caminho se define e se realiza na repressão -de seu próprio desejo e, por consequência, do desejo dos outros. Para se forçar a ser monogâmico, ele pedirá apedrejamento para os adúlteros: reprimirá os outros, para ele mesmo se reprimir. No contexto social certo, ele será soldado de um dos vários exércitos de pequenos funcionários da repressão, que, para entristecer sua própria vida, precisam entristecer a nossa.

EUGÊNIO BUCCI - A internet e a anemia da imprensa


A internet e a anemia da imprensa
EUGÊNIO BUCCI
O Estado de S.Paulo - 30/06/11

As comunicações entre as pessoas vão bem - mas a imprensa anda anêmica na internet. Seu modelo de negócio vai mal. Como ela vai financiar as reportagens independentes, que são caras? Como cobrar do público pelos conteúdos noticiosos quando há tanta oferta de notícias gratuitas em toda parte? Como atrair mais anunciantes?

São perguntas velhas, é verdade. Mas elas ainda estão em aberto. Demoradamente em aberto. Estudo recente publicado em maio pela Universidade de Columbia (The Story So Far: What We Know About the Business of Digital Journalism, disponível na internet) arrisca novas (e boas) respostas, mas não consegue ser conclusivo. Afirma que o jornalismo é e será essencial, mas sobre como ele se vai pagar... - bem, quanto a isso ainda temos uma boa (ou péssima) estrada pela frente.

O fato é que não tem sido simples para os jornalistas entender os desafios da era digital. O principal talvez tenha a forma de um paradoxo: a internet vem conjugando a diversidade de vozes, no plano do debate público, com o recrudescimento dos oligopólios, no plano econômico. Monopólios e pluralismo. Será essa uma combinação factível?

Vejamos a cena mais de perto. A era digital ampliou a comunicação, é evidente. Mais que isso: nos países onde há tiranias as redes interconectadas minam os controles oficiais e até propiciam levantes democráticos, atropelando as velhas formas de censura. Ao mesmo tempo, a oligopolização da chamada indústria do entretenimento nunca foi tão intensa. A tendência econômica das fusões, que há pelo menos duas décadas atinge todos os setores da economia mundial, do ramo de salsichas ao da especulação financeira, também gera efeitos no mercado da mídia. Aí, porém, sua fisionomia adquire esse hibridismo entre a concentração da propriedade e a multiplicidade de vozes.

A tradição liberal supõe que o plano político e o plano econômico se espelham. Assim, haveria uma correspondência direta entre o número de agentes econômicos em competição no mercado e o número de vozes que têm lugar no espaço público. Na comunicação da era digital, no entanto, essa correspondência parece não existir, daí a sensação de que vivemos um paradoxo, uma contradição instável.

A bem da verdade, essa contradição não vem de hoje. Já no final do século 19, quando os diários se converteram em grandes negócios, ela se fazia sentir. Nem por isso a diversidade de opiniões na esfera pública se tornou inviável. Ao contrário: no correr do século 20 a democracia ganhou novas correntes ideológicas, ficou mais complexa, mais variada - enquanto a tendência de concentração econômica na mídia se acentuava. E se acentuou mais ainda depois do aparecimento dos meios de massa (o rádio e a televisão). Ter uma emissora de TV era mais caro do que ter um diário impresso - e o jogo exigia jogadores com maior envergadura financeira. Com isso o número de empresas jornalísticas se reduziu ainda mais.

Nos anos 1980 o jornalista Ben H. Bagdikian (ex-editor do Washington Post e diretor da Escola de Jornalismo da Universidade da Califórnia em Berkeley) radiografou essa tendência num livro de nome inequívoco: O Monopólio da Mídia (publicado no Brasil pela Scritta Editorial, em 1993). Em 1998, a revista The Economist diagnosticou um fenômeno análogo no mercado globalizado do entretenimento. No hoje célebre A survey of technology and entertainment, publicado em novembro daquele ano, ela deu o nome dos protagonistas da "oligopolização": Time Warner, Walt Disney, Bertelsmann, Viacom, News Corp., Seagram e Sony.

Agora, a indústria oligopolista que nasceu da imprensa começou a mastigar a imprensa. As bases de financiamento do jornalismo estão ameaçadas. O paradoxo agravou-se. Em 2008, consumou-se a quebradeira geral dos jornais locais nos EUA. Em seu lugar, os sites noticiosos não foram capazes de gerar o dinheiro perdido pelos jornais de papel que desapareciam. A propósito, o relatório da Universidade de Columbia é didático ao mostrar como as práticas oligopolistas da velha mídia deixaram de funcionar nas plataformas digitais.

Por quê? Vai aqui uma hipótese: os anunciantes deixaram de precisar de órgãos de imprensa para falar com seus públicos, que se pulverizaram. De sua parte, muitas redações sumiram. Outras foram engolidas - não mais pelas concorrentes, mas por outros negócios, negócios muito maiores. Velhos títulos foram comprados por novos moguls da era digital; órgãos de imprensa que antes eram empresas independentes foram acomodados como meros departamentos de grandes grupos do entretenimento. Até mesmo os blogueiros - nascidos anteontem, já na era da internet -, que eram autônomos, viraram colunistas digitais de portais imensos, incorporados a grupos econômicos que faturam dezenas de bilhões de dólares por ano.

Tudo isso ocorreu num período em que a diversidade de vozes parece feérica, vigorosa, exuberante. São incontáveis os canais por assinatura, os portais, os sites, os blogs; as pessoas falam mais, escrevem mais, leem mais - em todas as línguas -, mas os nós dessa comunicação pertencem a proprietários que compõem um clube cada vez mais seleto e - aqui está o dado essencial - o negócio deles não é o jornalismo. O negócio deles é, sim, a diversificação das audiências - donde a impressão de pluralismo vertiginoso -, mas não é a independência editorial.

Por isso o desafio não é simples. Sabemos que sem independência jornalística - que saiba financiar-se com autonomia - não há mediação crítica para o debate público. Para piorar, a indústria do entretenimento julga prescindir de jornalistas independentes. Enquanto isso, a imprensa livre busca uma fórmula para fechar suas contas. Se ela não encontrar sua fórmula, o entretenimento será mais do que já é o oráculo da política. E a democracia, como a imprensa de hoje, sofrerá de anemia amanhã.

WAGNER VILARON - Itaquerão, paixão ou pouca vergonha?


Itaquerão, paixão ou pouca vergonha?
WAGNER VILARON
O ESTADÃO - 30/06/11

Eu sei, o assunto é chato. Falar sobre construção de estádio e isenção fiscal em um espaço que tradicionalmente é ocupado por informação, opinião, histórias, curiosidades e trocas de ideias sobre futebol é um choque. Ainda mais em um momento no qual a torcida do Santos segue feliz com o tricampeonato da Libertadores e os corintianos não se cansam de festejar a goleada sobre seu principal rival na atualidade, o São Paulo.

Mas convido todos vocês a adotar o mesmo pensamento que tive ao decidir o tema da coluna de hoje: o assunto pode não ser dos mais agradáveis, mas é extremamente importante e contemporâneo. Portanto, merece o destaque. Então respirem fundo, apertem o cinto e vamos lá.

Durante toda a discussão em torno da construção do estádio corintiano, que está longe de acabar com a aprovação da isenção de R$ 420 milhões, dois aspectos chamaram especial atenção. O primeiro - nobre, diga-se de passagem - é a rejeição quanto à possível utilização de recursos públicos nesse tipo de obra. Creio que não há cidadão, em sã consciência, que defenda algo desse tipo. Bom, a menos que sejam aqueles que, eventualmente, se beneficiem da picaretagem.

O outro aspecto - esse com vertente negativa - é a facilidade com que as pessoas descaracterizam a discussão. Os argumentos, que, nesse caso, deveriam ficar restritos à esfera técnica e política, descambam para o lado passional, infectados pela paixão clubística.

O resultado disso é uma sucessão de argumentações frágeis, de gente que não domina o assunto sobre o qual tenta se posicionar com veemência e acaba se comportando apenas como caixa de ressonância dos pontos de vista de terceiros. Ataca-se e defende-se o projeto do Itaquerão apenas por ser o estádio do clube para o qual o sujeito torce, seja contra ou a favor.

E os dois lados pisam na bola. Erram aqueles que defendem a aplicação dos incentivos fiscais (vereadores e dirigentes corintianos) ao insistirem no discurso de que não haverá uso de recursos públicos no empreendimento. Esse conceito já está consolidado na opinião pública, uma vez que se trata de uma simples questão de ponto de vista.

Em vez disso, poderiam se debruçar em uma estratégia de comunicação para esclarecer a população sobre o funcionamento da engenharia tributária utilizada.

Radicalizam também aqueles que preferem dizer que o mais importante seria investir em escolas, hospitais e creches. Esses passam a falsa informação para a população de que a Prefeitura estaria simplesmente tirando os recursos daqui para colocar ali, quando o funcionamento da engrenagem não é bem assim.

A proposta é que os descontos sejam dados apenas aos investimentos que forem motivados de alguma forma pela existência do estádio corintiano. Isso se o estádio receber a abertura da Copa. Do contrário, não haverá incentivos e, consequentemente, isenções.

Em tese, os tais incentivos serão oferecidos àqueles que investirem na região a partir de agora. A ideia básica é sacrificar uma parcela inicial do tributo para, como o próprio nome diz, incentivar empresas e prestadores de serviço a se fixarem na área. Se isso acontecer, essa migração aqueceria o comércio e passaria, assim, a gerar recursos permanentes na região que, no médio e longo prazos, compensariam a isenção inicial.

Trocando em miúdos, é como se o dono da padaria desse um desconto de 50% na primeira venda de pãozinho francês ao amigo da lanchonete, Em troca, teria um contrato de longo prazo para fornecimento pelo preço normal. Perde-se agora e ganha-se lá na frente.

A ideia, em tese, parece fazer sentido. A questão é se a articulação política e financeira tem sido tocada com correção e honestidade. Por isso a discussão deveria ser mais técnica e menos passional.

BRAZIU: O PUTEIRO

IVES GANDRA MARTINS FILHO - O que é Estado laico?


O que é Estado laico?
IVES GANDRA MARTINS FILHO 
O Globo - 30/06/2011

Têm surgido com cresente frequência na esfera judiciária questões de caráter administrativo ou judicial envolvendo as relações entre o espiritual e o temporal. Discutem-se a presença de símbolos religiosos em órgãos públicos, o funcionamento desses órgãos em dias santos ou a validade pública de argumentos de caráter religioso.

A questão do que seja Estado laico tem sido enfrentada por numerosos países, com diversas soluções. A França proibiu o uso das burcas, e a Suíça, a construção de minaretes; já na Itália, com a decisão da Corte Europeia de Direitos Humanos, não se considerou atentado à laicidade do Estado a presença de crucifixos em escolas públicas.

Visando a contribuir para aclarar conceitos e vencer preconceitos, o Conselho Nacional de Justiça promoveu recentemente o Seminário Internacional sobre o Estado Laico e a Liberdade Religiosa em Brasília, trazendo especialistas estrangeiros para discutir com juristas pátrios o tema. O que mais impressionou no encontro, marcado pelo pluralismo de posições, foi a constatação de que as convergências eram infinitamente maiores do que as divergências.

Com efeito, concordavam perfeitamente os palestrantes, prof. Daniel Sarmento, procurador regional da República, e pe. Rafael Moraes, doutor em Teologia Moral, em que o Estado deve ser laico, no sentido de neutro em relação à religião, por força dos princípios constitucionais da igualdade e da isonomia, e que os argumentos religiosos têm carta de cidadania apenas quando passíveis de serem traduzidos em razões públicas.

As razões públicas, explicou Kent Greenawalt, professor da Universidade de Columbia, são os argumentos acessíveis a todos os cidadãos, independentemente do seu credo. Não se baseiam em visões compreensivas ou premissas religiosas, e sim em razões de justiça política. Determinar com precisão o que é razão pública não é uma tarefa fácil, mas o seu marco teórico oferece critérios úteis para a atuação dos agentes públicos, especialmente os juízes, numa democracia liberal.

Massimo Introvigne, sociólogo italiano da religião, foi enfático, em sua conferência, ao defender uma liberdade religiosa plena, que o Estado deve respeitar, não apenas enquanto imparcialidade frente aos diferentes credos, mas no reconhecimento do direito de expressá-lo publicamente e angariar adeptos, através da argumentação e da coerência de vida, nunca pela força ou fraude.

Interessante notar que a nossa Constituição alberga três princípios básicos em matéria de relações entre Igreja e Estado, que são os de separação, cooperação mútua e liberdade religiosa (CF, arts. 5º, VI, e 19, I). No Seminário, procurou-se discutir as melhores formas de aplicar esses princípios. As divergências ficaram por conta das especificações decorrentes dos princípios, no que concerne a questões polêmicas tais como as das uniões homoafetivas, ensino religioso confessional nas escolas públicas e colocação de símbolos religiosos em órgãos públicos.

Já na conferência inaugural, o prof. Jorge Miranda, ilustre constitucionalista português, mostrou que o ponto de equilíbrio entre o Estado confessional e o laicismo agnóstico é justamente uma laicidade saudável, que preserva a autonomia do fenômeno político e ao mesmo tempo respeita o direito de as religiões defenderem e transmitirem os seus valores morais, que embasam a vida social e a dignidade da pessoa humana.

Pode-se dizer que o Seminário, com suas exposições e conclusões, a serem publicadas proximamente, marcou um novo e saudável paradigma nacional de relações entre Igreja, aqui considerados todos os credos, e Estado, reconhecendo ao fator religioso, quando expresso em argumentos de justiça política e não de mera autoridade, foro de cidadania no debate jurídico.

PAULO LUDMER - Féretro da competitividade


Féretro da competitividade
 PAULO LUDMER
FOLHA DE SÃO PAULO -30/06/11


Hoje, pagamos mais de R$ 15 bilhões anuais de encargos sobre energia elétrica de gênese jurídica duvidosa e que tem uma eficiência opaca
Expressivos empreendedores abrem mão do Brasil diante do impagável preço final da energia: tarifas, encargos e tributos. Foi-se uma fábrica de alumínio primário na Bahia, permaneceu a catatonia governamental. Outras grandes fábricas estão de partida, sem repercussão.
A eletrólise de metais se transferirá ao Paraguai, usando kWh de Itaipu, em detrimento da atual disponibilidade da usina ao consumo brasileiro. O fato não comove nossos Poderes republicanos. Também migrarão papeleiras, acearias e cimenteiras ao vizinho Uruguai, à África e às Antilhas. Mas o Congresso, impávido, ainda prorroga e inventa encargos e impostos.
As adversidades cambiais, o custo do crédito (juros), o preço da mão de obra celetista e também a energia, desde os anos 80, vêm infernizando a competitividade da indústria de base brasileira, que, afinal, jogou a toalha, debilitando a cadeia produtiva nacional.
Ora, o Brasil reúne água, jazidas minerais e fontes de energia diversas e abundantes. Pode unir e agregar valor ao conjunto, inserir-se no mapa global. No entanto, passa de exportador para importador de ferrosos e de não ferrosos; faz alumina e busca fora o alumínio.
Em decadência, o país exporta empregos qualificados. Pagamos mais de R$ 15 bilhões anuais de encargos sobre energia elétrica de gênese jurídica duvidosa, de eficiência opaca, sem prazo para acabar e sem transparência.
Vide, por exemplo, o dreno recente de todos os bolsos por meio de faturas excessivas de energia, num total superior a R$ 8 bilhões, sem origem produtiva, sem ferramentas jurídicas para devolução, magicamente acomodados nos cofres de concessionárias.
O gás natural? Aqui, um grande consumidor o compra por US$ 14 por milhão de unidade térmica britânica (BTU), enquanto em Nova York sai pela metade disso.
Em política energética, a ignorância e a má-fé andam junto com delírios ideológicos de prática do bem e do bom, fogos de artifícios para a nação brasileira.
Há pelo menos oito anos, aqui o mote é distribuir renda por açodada coletoria em cima da energia, tratada como tabaco, perfumaria e bebida alcoólica. Azar da produção em que o insumo é onipresente.
Substituem-se obrigações do Estado por recursos surrupiados do consumidor de energia.
Ignora-se o primado de que ele é a razão de ser da oferta. Esses erros incham os preços transferidos aos bens e serviços.
Em 1986, o consumidor carecia de diálogo e de consideração com os governos e com as estatais. Agora, a cena ficou pior: o industrial renunciou. Ele prefere um final horroroso a um horror sem fim.
Em 2011, os agentes fragmentados rendem-se ou desistem enquanto segue a nação sem agenda.
Sem interlocutores e sem bússola, o preço final da energia só fez subir, em 20 anos. Sem esperança de reversão. Voltaremos à economia preponderantemente rural e aos minérios pouco elaborados? É ingênuo pensar que o atual capitalismo de Estado prevalecerá. As "dachas" russas se denunciam por si só.
PAULO LUDMER jornalista e engenheiro, é professor de pós-graduação na FEI e no Mackenzie.

GOSTOSA

JANIO DE FREITAS - O cofre e os negócios


O cofre e os negócios
JANIO DE FREITAS
FOLHA DE SÃO PAULO - 30/06/11 

A integração do Pão de Açúcar com o Carrefour compromete o governo Dilma com um negócio juridicamente incerto e com efeitos negativos

O DESVIO DE R$ 3,9 bilhões do BNDES, das suas finalidades primordiais para viabilizar a integração do supermercado Pão de Açúcar com o Carrefour, implica o comprometimento do governo Dilma Rousseff com um negócio privado de futuro juridicamente incerto e com esperáveis efeitos negativos para os consumidores e a economia social. Obra possibilitada pelo uso do dinheiro público que engorda o cofre do banco.
Com esse envolvimento articulado em sigilo, como convém aos dias de hoje, o BNDES persiste no governo Dilma com sua presença bilionária e decisiva; durante o governo Lula, na senda de negócios suspeitos ou, mais do que isso, ostensivamente contrários às leis -como o negócio das telefônicas Oi/ BrTelecom, tramado contra proibição legal explícita. E, está provado, sob justificativas falseadas: nenhum proveito se mostrou ao país ou aos consumidores.
Invocar a ética em tal nível do capitalismo seria imperdoável. Mas seja qual for o nome apropriado, a parcela de fatos afinal conhecidos -depois de negados com firmeza pelos protagonistas- indica que o Grupo Pão de Açúcar está burlando o seu sócio Casino, também francês, que o socorreu em dificuldades não distantes e ao qual, por contrato e por pagamento feito, deveria entregar parte substancial de si mesmo em 2012. O já previsível é que o Grupo Casino defenda os direitos que proclama em páginas inteiras de jornais.
Ao agravar a participação do governo por intermédio do BNDES, o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, insulta a percepção dos cidadãos com a pretensa justificativa de que a integração do Pão de Açúcar com o supermercado francês "facilitará a entrada de produtos brasileiros na Europa". O Carrefour não precisaria de associação alguma para criar a facilidade, se a desejasse e pudesse criá-la, nas suas décadas de Brasil; não tem na Europa, nem mesmo na França, toda a dimensão insinuada por Pimentel; são inúmeros os meios efetivos, de fato, para "facilitar a entrada de produtos na Europa" e não só lá, o que se viu nos últimos tempos.
Acréscimo especial à desrazão de Pimentel: se ele e o governo Dilma não sabem, o Carrefour está sem meios, ainda mais para hipotéticas colaborações -fechou 2010, como se pôde ler há um ou dois meses em jornais europeus, com prejuízo na ordem dos bilhões. De euros.
É aí que se deve procurar a razão do grupo francês para o negócio. O governo brasileiro faz, porém, mais do que favorecê-lo e ao Pão de Açúcar: desfavorece os consumidores e o já comprometido equilíbrio na oferta e na concorrência dos supermercados. A formação do crescente oligopólio, encabeçada pelo Pão de Açúcar, sairá muito fortalecida do novo negócio. Há cidades em que a situação já é ou está próxima do monopólio. Caso do Rio, para dar um exemplo eloquente, onde o Pão de Açúcar, no mínimo, é ele próprio, criou a rede Extra e comprou a rede Sendas. Graças à maior altitude comum aos seus preços, e nunca atenuada pelo maior faturamento conjunto como não o será, pelo contrário, com os preços em geral bem aceitos do Carrefour-Rio.
Alimentar (sem trocadilho) a voracidade do Pão de Açúcar é contra o que já foi muito chamado de economia popular. Sem que os R$ 3,9 bilhões do BNDES contribuam em nada para maior produção industrial. Nem para um pouco mais de empregos, mas para o desemprego sempre decorrente das fusões em atividades comuns.

MÔNICA BERGAMO - PÍLULA DE FARINHA

PÍLULA DE FARINHA
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SÃO PAULO - 30/06/11

A Vigilância Sanitária tirou de circulação em SP cerca de 1,3 milhão de anticoncepcionais entre 2007 e 2010. Os produtos haviam sido comprados para o Programa de Saúde da Mulher (que prevê a distribuição gratuita dos medicamentos). Mas foram reprovados após análise no Instituto Adolfo Lutz. De 154 lotes pesquisados, 34 apresentaram problemas de rotulagem ou na quantidade do princípio ativo, o que pode comprometer a sua eficácia.

REGULAR
Foram interditados no período dez lotes de Nociclin (laboratório EMS), cinco de Norestin (Biolab Sanus) e cinco de Contracep (Germed). As empresas recolheram os produtos, tiveram as fábricas inspecionadas e corrigiram as irregularidades. A lista é completada por 14 lotes de Noregyna, do laboratório Cifarma. Como ele fica em Goiás, a vigilância de SP aguarda o resultado de inspeção realizada pelo órgão sanitário daquele Estado.

MESA-REDONDA

Os principais executivos do Grupo Prisa, maior conglomerado de mídia da Espanha, que edita o jornal "El País", devem desembarcar amanhã em SP. Eles têm almoço no restaurante Parigi com 35 empresários brasileiros. Vão falar de projetos de ampliação de negócios no país, em especial na área de comunicação. O Prisa já está presente no Brasil com as editoras Objetiva e Moderna.

MESA-REDONDA 2

O encontro, que deve contar com a participação de Juan Luis Cebrián, presidente do grupo, foi preparado pelo ex-ministro Paulo Renato Souza, da Educação, que morreu no sábado. Ele dava consultoria aos espanhóis. Até ontem, o almoço estava mantido.

LEMBRANÇAS
E amanhã, às 10h, por sinal, amigos e familiares realizarão a missa de sétimo dia de Paulo Renato, na igreja Nossa Senhora do Brasil.

CHAPA
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso planejava ontem visitar o ex-presidente Itamar Franco no hospital Albert Einstein, em SP.

FELIZES ANIVERSÁRIOS
O estilista Reinaldo Lourenço e o empresário Marcus Elias comemoraram aniversário juntos, na boate The Society, anteontem. Foram à festa, no Baixo Augusta, Marina Grau, a atriz Carolina Dieckmann, a modelo Alícia Kuczman, Preta Gil e a estilista Gloria Coelho, entre outros.

FILME QUE SE MOVE
"A Falta que nos Move", primeiro filme da diretora teatral Christiane Jatahy, teve pré-estreia no Espaço Unibanco anteontem. Os atores Milhem Cortaz, Fernando Alves Pinto e Pedro Brício estivam na plateia, entre outros.

BEYONCÉ DE VOLTA
Beyoncé pode voltar ao Brasil em julho, para promover seu novo disco, "4". O empresário da cantora, Jim Sabey, esteve no país há duas semanas.

ABAIXO DO JOELHO
O padre Marcelo Rossi passará duas semanas em cadeira de rodas. Ele descobriu um edema ósseo no joelho esquerdo, depois de fazer exercícios na esteira. "Tenho que fazer orações contra a inveja", diz o sacerdote, que relaciona o infortúnio aos quase 6 milhões de exemplares vendidos por seu livro "Ágape". "Nunca ninguém alcançou isso. Meu Deus do Céu, tenho que me cuidar."

DUETO
O repouso forçado adiará em uma semana a gravação do novo CD do padre, que também se chamará "Ágape" e terá músicas com os temas do livro. Uma delas, "Força e Vitória", terá a participação do cantor Belo.

SUPERVISÃO
A Secretaria de Educação de SP enviará supervisores à escola Nossa Senhora das Graças, o Gracinha. Vai apurar se houve irregularidade na expulsão de um garoto de dez anos que faz tratamento psiquiátrico. Ele foi desligado quando faltavam 20 dias para o término do semestre.

CAPITAL GAY
O Brasil pode receber a final do concurso Mister Gay Mundo de 2013. "Estamos entre SP, Rio e Buenos Aires", diz Dean Nelson, vice-presidente do concurso. "Só depende de patrocinadores locais. Mas, pelo tamanho da Parada LGBT daqui, não parece que será muito difícil."

CURTO-CIRCUITO

O show "Infância Livre de Exploração e Abuso Sexual" será exibido hoje, às 21h, pelo canal Multishow.

Amália Spinardi, da Jo de Mer, oferece almoço hoje no restaurante Il Cielo, em Los Angeles, para clientes.

A cantora Tiê faz o show "Na Cozinha ou no Jardim" na sua casa, às 21h, e o transmite no Twitter.com/tiemusica

Houssein Jarouche abre com coquetel a mostra "Paste-up". Hoje, às 19h, no Coletivo Amor de Madre + Galeria Baró.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA, THAIS BILENKY e CHICO FELITTI

MIRIAM LEITÃO - Pão francês


Pão francês
MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 30/06/11
Nunca como neste caso da possível fusão Pão de Açúcar-Carrefour o governo pareceu tão fora da realidade. Não é verdade que o negócio é estratégico para o Brasil, não será a globalização de um grupo brasileiro, não abrirá portas para a exportação de produtos brasileiros. Os argumentos usados até agora servem apenas para mostrar uma visão rudimentar da economia.

O negócio, se virar realidade, vai concentrar mais do que os 30% que o governo e os interessados estão dizendo. Em algumas regiões, pode ser muito mais. As pequenas redes se espalham pelo interior ou em áreas específicas da cidade. No estado de São Paulo, uma conta simples derruba o cálculo dos 30%. O faturamento do Pão de Açúcar está sendo estimado no setor como de R$25,3 bilhões; o do Carrefour, de R$17,4 bilhões. Isso representa 69,9% do total de faturamento do setor em São Paulo, que foi de R$61 bilhões em 2010.

Em determinadas cidades pode ser até maior que isso. Quem perde é o consumidor que ficará refém de um grupo só - ou no máximo com uma ou outra opção. Perderão também os funcionários porque algumas lojas serão fechadas. Como já são grupos grandes e bem estruturados o ganho de escala não será muito importante, portanto a ideia de que isso resultaria em preços menores é falsa. Perderão também os fornecedores porque não terão poder de barganha.

Capitalismo precisa de concorrência. A consolidação em alguns setores ajuda às vezes a aumentar a eficiência, formar grupos mais fortes, o que aumenta a competição. Certo nível de escala pode ser benéfico. Não é o caso aqui. Os dois já são grandes. Juntos, viram uma arma contra o consumidor e contra a economia.

Seria um assunto para ser resolvido pela lei contra a formação de trustes. Mas o BNDES entrará no negócio como sócio. Confusão insolúvel: o Estado participará do negócio que depois o Estado vai julgar se pode ou não ocorrer.

Ontem os interessados na fusão - ou seja lá o que for esta operação - tentaram influenciar os jornalistas conversando com alguns. Garantiam que era um excelente negócio para o BNDES. Detalhe curioso: preferem falar em off, ou seja, querem convencer os jornalistas de que é um excelente negócio para o país e o BNDES, mas não querem declarar isso publicamente. Que venham à luz defender seus interesses e sustentar seus argumentos.

Minha convicção é que a operação é ruim; a presença do Estado nela, desastrosa. O banco público brasileiro se tornará sócio de um negócio que pode ir parar na Justiça por acusação de quebra de contrato. O banco estatal não tem razão alguma para ser sócio de supermercado francês, porque é isso que o Pão de Açúcar vai se tornar. Virará um naco do grupo francês. O BNDES tem feito inúmeras operações controversas, ressuscitou o ideário de escolha de campeões do governo militar, beneficiou umas empresas em detrimento de concorrentes, forçou concentrações, salvou empresas quebradas. Neste caso, no entanto, ele extrapolou.

O argumento de que a operação abrirá o mercado francês para os produtos brasileiros é, para usar uma palavra educada, ingênuo. O mercado francês é o mais fechado da Europa. Eles são protecionistas por convicção e vocação. Subsidiam ferozmente seus produtores para que não venha de fora nada do que produzam internamente. O Carrefour em todas essas décadas no Brasil não foi uma rota para essa inclusão de produtos brasileiros, por que passaria a ser só porque agora ele terá capital brasileiro minoritário?

O Estado brasileiro é grande. Enorme. Recentemente a revista "Época" prestou um serviço ao país quando fez um levantamento e chegou à conclusão de que direta ou indiretamente 675 empresas no Brasil estão sob influência do Estado. Os jornalistas José Fucs e Marcos Coronato, que lideraram o estudo feito por uma equipe da revista, escreveram que: "A teia de interesses estatais nos negócios é tão complexa, tem tantas facetas e envolve tantos conflitos de interesse que o próprio governo não consegue avaliá-la." Por isso eles levaram três meses, tiveram a ajuda de uma consultoria, a Economática, e se restringiram às empresas que têm participações diretas ou indiretas do governo Federal apenas.

O BNDES sempre participou de empresas e sempre participará. Ele financia ou compra participações; entra e sai de negócios. Alguns bons, outros discutíveis. Mas o problema é que a partir da gestão Luciano Coutinho ele decidiu se transformar em fazedor de grandes grupos. No caso dos frigoríficos, decidiu que era preciso concentrar e por isso financiou o crescimento dos que ele considerou que deveriam ser os donos da carne. Virou sócio do Independência um pouco antes de o frigorífico quebrar. Só em uma das várias operações que fez com o JBS-Friboi ele comprou 99,9% de uma emissão de debêntures para a empresa comprar a Pilgrim"s nos Estados Unidos, e depois transformou os papéis em ações. Assim, ele virou dono de frigorífico nos Estados Unidos, na Argentina, e poderá ser sócio de supermercado francês. Em inúmeros casos, ele é o banco que financia e é sócio do negócio. Está dos dois lados do balcão. Agora, estará também no caixa do supermercado.

AÇÚCAR NO CU DO POVO

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Pão de Açúcar pode levar Casino a renegociar
MARIA CRISTINA FRIAS
FOLHA DE SÃO PAULO - 30/06/11

Diante de tantos obstáculos ao lance surpreendente de Abilio Diniz, empresários e advogados questionavam ontem o real objetivo da proposta de união do Pão de Açúcar com o Carrefour.
Um comentário que circulou ontem no empresariado sustentava que Abilio sabe das dificuldades para ver sua estratégia vencedora e que a operação, na pior hipótese, poderá servir para pressionar o sócio Casino e levá-lo a renegociar, em outras bases, o acordo assinado em 2005.
Além de se comprometer a ceder o controle à rede francesa no ano que vem, Abilio tem compromisso de não concorrência.
Por essa versão, o empresário tentaria convencer o sócio a fazer um novo acordo, sob o argumento de que seria melhor evitar uma longa e desgastante disputa judicial -ainda mais com dinheiro do banco estatal à mesa e tantas dificuldades.
A oferta só tem chance de prosperar se o BNDESPar se dispuser a colocar bilhões de reais -um valor diferente, segundo cada ator da operação. E, no BNDES, diz-se que, se o imbróglio com Casino prosseguir, o banco estatal ficará fora.
Casino, por sua vez, dá mostra de que não aceitará o descumprimento do acordo de acionistas. Há ainda o aumento da concentração com risco de prejuízo a consumidores e a fornecedores.
Até para ser coerente, dado o rigor demonstrado no caso Sadia e Perdigão, o Cade não poderá aprovar a operação, comentava-se ontem em rodas de empresários.
No Pão de Açúcar, pessoas que participam das negociações sustentam que a união das redes dará eficiência ao negócio e melhor preço a consumidores.
"É um ganha-ganha para todos", diz uma pessoa próxima de Abilio.
Quanto ao risco de veto do Cade, um levantamento da empresa mostraria que, das 178 cidades em que Pão de Açúcar e Carrefour estão presentes, apenas em um terço há concentração acima de 30%, "que é o que o Cade não aprova". E isso poderia ser revisto pela companhia.

Galpão em São Paulo é mais caro que em Londres
Alugar um galpão de alto padrão em São Paulo custa mais caro que em cidades como Londres e Genebra.
O preço de locação na região próxima à rodovia Castelo Branco subiu 22,8% no primeiro trimestre deste ano sobre igual período de 2010, segundo a consultoria Colliers International Brasil.
O eixo da Castelo, considerado um dos principais para armazenagem e logística, é o quarto mais caro do mundo.
De acordo com a consultoria, que fez o levantamento em 140 cidades de 52 países, o aluguel na região está, em média, em R$ 23,50 o m2.
A demanda por galpões está aquecida em todo o país, e não há como atender no curto prazo, segundo Pedro Candreva, da Jones Lang LaSalle.
"Uma multinacional que aumentou a produção de sabonete e pasta de dente para o Norte e o Nordeste não encontra espaço para armazenar nessas regiões", diz.
A procura é maior por empresas do varejo e por indústrias automobilísticas.
O caminho é as companhias migrarem para regiões menos valorizadas. "É o caso do Vale do Paraíba (SP), onde o aluguel está entre R$ 13 e R$ 16", diz Rafael Camargo, sócio-diretor da Binswanger.
Outra tendência do mercado é construir galpões em condomínios. "Nesse modelo, é possível diluir os investidores. É maleável e reduz custos", diz Ricardo Betancourt, presidente da Colliers.

CALÇADO NAS ARÁBIAS
A grife Jorge Bischoff, de calçados e acessórios, abrirá suas três primeiras lojas próprias no exterior em 2011.
A marca, que já exporta seus produtos para 25 países, terá unidades na Arábia Saudita, nos Emirados Árabes Unidos e no Kuait.
"É um projeto que pretendíamos colocar em prática em 2012, mas antecipamos porque são mercados em que temos alta demanda por produtos no momento", diz o fundador, Jorge Bischoff.
Há negociações para abertura de unidades na França, no Uruguai, na Bolívia e no Chile em 2012.
No Brasil, a companhia deve chegar a 40 unidades neste ano, com a inauguração de 21 lojas próprias.

Transação... 
O Banco do Brasil inaugura no sábado uma sala para clientes em Nova York, próxima à Times Square. O espaço terá caixa eletrônico para realização de transferências feitas no Brasil.

...internacional 

Haverá opção de atendimento tanto em português como em inglês. Os clientes do banco também poderão comprar ingressos para eventos culturais e esportivos no local.

SURFISTA PRATEADO
A Star Point, rede de lojas de "surfwear", criou sua própria marca de roupas masculinas neste mês.
Até então, a empresa trabalhava apenas com lojas multimarcas.
"Criamos a grife para oferecer um produto exclusivo aos clientes. Algo que não esteja acessível em outras lojas", diz o sócio-fundador da rede, Dimitrius Nassyrios.
O projeto de expansão da empresa também inclui a abertura de 50 lojas franqueadas em todo o país.
O investimento total nas novas unidades será de cerca de R$ 40 milhões.
Hoje, a rede tem 26 lojas e faturamento médio anual de R$ 30 milhões.

Transporte... 
O mercado brasileiro de frotas empresariais crescerá 61% nos próximos três anos entre companhias com mais de cem funcionários, segundo pesquisa da multinacional francesa Arval.

...rápido 
Na Europa, a previsão de expansão é de 16%. O resultado nesse mercado é positivo se comparado à queda de 1% registrada em 2009. O levantamento ouviu 4.500 empresas de 15 países.

Laboratório vai importar nova prótese de mamas ao Brasil
O laboratório Cristália acaba de fechar parceria com a inglesa Nagor para a comercialização de implantes mamários no Brasil.
O pagamento da prótese poderá ser feito em até 20 vezes sem juros, por meio de um sistema de financiamento da própria empresa brasileira, que faturou R$ 634 milhões em 2010.
"Os implantes mamários são as cirurgias plásticas mais realizadas no Brasil", diz o presidente do Cristália, Ogari Pacheco.
A expectativa das companhias é faturar R$ 14 milhões com o produto até o final deste ano, o que representa 7% das compras no país.
Caso as vendas atinjam um determinado valor, mantido em sigilo por contrato, a fabricante inglesa vai transferir tecnologia para produção da prótese no Brasil.
A Nagor produz anualmente 230 mil implantes mamários de silicone e é a principal fabricante do segmento na Europa.
com JOANA CUNHA, ALESSANDRA KIANEK, VITOR SION e LUCIANA DYNIEWICZ

MERVAL PEREIRA - Pressionada

Pressionada
MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 30/06/11
Nada indica que haverá uma mudança brusca de alianças partidárias no Congresso, mas está ficando cada vez mais claro que os termos em que se estabelecem as coalizões são inaceitáveis e começam a ser recusados pela presidente Dilma Rousseff, mesmo que não seja apenas pela rejeição a esse ambiente baseado em chantagens políticas, mas simplesmente porque ela não tem temperamento para ser colocada contra a parede sem reagir.

O recuo que ela foi obrigada a fazer diante da pressão da base aliada, que a chantageou para que liberasse os restos a pagar de emendas parlamentares, pode ser um ponto de não retorno logo no início do seu governo. Ou ela se submeterá às chantagens, ou montará um Plano B para poder governar sem essa ameaça permanente.

O ex-presidente Lula tentou reagir à entrada do PMDB no seu primeiro governo, tendo vetado um acordo feito pelo então ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu.

Mas, convencido de que a política congressual se fazia assim mesmo, foi deixando que as bases de troca de apoio ao governo seguissem a lógica do favorecimento, o que resultou no escândalo do mensalão.

Esse esquema nada mais era do que a compra de votos no Congresso, às vezes com dinheiro vivo mesmo, outras com nomeações e favores diversos.

Depois da crise, optou-se por escancarar o esquema de toma lá dá cá, incluindo no Ministério as duas bandas do PMDB da Câmara e do Senado, deixando de lado lideranças políticas independentes.

A presidente Dilma Rousseff recebeu essa herança da era lulista, que, por ter ajudado a elegê-la, agora cobra seus nacos de poder.

A maior aliança política já formada por um governo desde a redemocratização não significa, no entanto, uma força política para levar adiante um projeto de transformação do país, mas apenas um agrupamento de diversas correntes interessadas em esquartejar o governo para dele tirar o maior proveito político possível.

O assédio fisiológico tem sido tão descarado que a própria presidente Dilma tem reagido mandando avisar, especialmente ao PT e ao PMDB, que não pretende abrir mão da capacidade de decisão presidencial que lhe foi atribuída pelas urnas.

Além do mais, está ficando explícito que setores importantes da aliança, especialmente do PT, tratam sua gestão como um mero intervalo obrigatório entre os governos de Lula, que já seria o candidato natural para a eleição de 2014.

A cordialidade com o PSDB pode ser apenas uma tentativa de marcar posição distinta da de Lula, que, depois de um período em que, ainda sonhava com uma aproximação com os antigos parceiros políticos, decidiu que a separação litigiosa seria mais proveitosa para fortalecer sua imagem de líder.

É verdade, porém, que, sempre que pode, desde o discurso de posse, a presidente Dilma Rousseff faz um apelo à união nacional e ao desarmamento dos espíritos em prol de objetivos maiores.

A carta que enviou ao ex-presidente Fernando Henrique, pela comemoração dos seus 80 anos, e a nota oficial que emitiu sobre a morte do ex-ministro da Educação Paulo Renato Souza, um dos fundadores do PSDB, são exemplos de civilidade política que ela já havia dado ao convidar FH e outros ex-presidentes para o almoço em homenagem ao presidente dos EUA, Barack Obama, colocando o tucano em lugar de destaque especial.

Assim como se recusou a comparecer ao almoço, Lula não se dignou a enviar os cumprimentos ao seu antigo aliado e amigo que a política distanciou.

Mas as palavras de Dilma, em poucas linhas, desconstroem a estratégia marqueteira montada em muitos anos de embate entre PSDB e PT.

A presidente Dilma Rousseff elogiou por escrito: "(...) o ministro-arquiteto de um plano duradouro de saída da hiperinflação e o presidente que contribuiu decisivamente para a consolidação da estabilidade econômica".

Ela destacou também o espírito democrático do homem público, que se traduziu "na crença do diálogo como força motriz da política e foi essencial para a consolidação da democracia brasileira em seus oito anos de mandato".

Sobre Paulo Renato, foi mais comedida, mas admitiu que ele prestara "relevantes serviços ao país". Diversas manifestações petistas puseram em destaque o papel do ministro da Educação dos oito anos do governo de Fernando Henrique na universalização do ensino básico e na implantação da cultura de avaliação na educação brasileira, pontos fundamentais para uma renovação que precisaria ser seguida da melhoria da qualidade do ensino que, infelizmente, não atingimos ainda.

Sem dúvida a orientação da presidente Dilma no sentido de desobstruir os canais de entendimento com o maior partido de oposição e o reconhecimento de fatos positivos dos governos tucanos desanuviaram o ambiente político, dando condições para que a presidente resista à chantagem política a que PMDB e PT querem submetê-la.

Também no PMDB já existe um movimento que se amplia, especialmente na bancada do Senado, com parlamentares tentando se diferenciar da moral homogênea (com licença do Marcito) que impera no partido.

O senador Pedro Simon (PMDB-RS) leu da tribuna uma "carta aberta" à presidente Dilma Rousseff para pedir à petista que resista à pressão de aliados para a ocupação de cargos e maior espaço no governo, incluindo expressamente seu partido entre os que assim agem.

Ter "um quinhão" do governo é legítimo, ressalvou Simon, mas não "para tirar vantagem".

Num ambiente conturbado como esse dentro de sua base aliada, até que uma boa vontade da oposição não é mau negócio para o governo. resta saber se ela tentará um Plano B ou se aceitará o papel de uma presidente-tampão dominada por uma coalizão política montada por seu mentor.

LUIZ GUILHERME PIVA - Emendas representam elo entre congressistas e bases

Emendas representam elo entre congressistas e bases

LUIZ GUILHERME PIVA
FOLHA DE SÃO PAULO - 30/06/11

As finanças públicas nacionais deveriam ser, na visão do Planalto, mais importantes do que as finanças públicas de qualquer cidade. Mas, para muitos parlamentares, não são.
Isso porque as finanças públicas nacionais não são obras visíveis nas bases eleitorais da maioria dos deputados e senadores.
Para o Planalto, o cancelamento de emendas parlamentares dos restos a pagar tem dois fundamentos. O primeiro é o corte de gastos (R$ 4,6 bilhões). O segundo é legal: só podem constar dos restos a pagar despesas que tenham sido empenhadas (comprometidas com determinada finalidade) e liquidadas (a finalidade da despesa foi ao menos iniciada).
Para os parlamentares, isso é um problema. Em alguns casos, trata-se de emendas necessárias à essas regiões. A melhoria das contas nacionais pode significar piora na condição dessas localidades.
Mas mesmo nos casos de serem desnecessárias, as emendas são o principal elo entre os parlamentares e suas bases eleitorais.
O processo de elaboração do Orçamento reconhece esse fato: dá espaço valioso para a inclusão de emendas. O Poder Executivo, porém, maneja a execução, liberando ou segurando despesas segundo princípios das contas nacionais.
Isso pode ser bom ou ruim. Mas problematiza a opinião de que o Orçamento seja imperativo (o Planalto teria que executá-lo tal como aprovado) e que tenhamos o voto distrital, para atar os parlamentares às bases. Nesse caso, talvez nunca mais pensem em nada além dos rios de suas aldeias.

GOSTOSA

PAULO BECKER - Ecos da tragédia

Ecos da tragédia

PAULO BECKER
O GLOBO - 30/06/11

A tragédia em Realengo ainda ecoa. Ouve-se um cortejo de truísmos, especialistas calcados em médias estatísticas e seus desvios, mas sem pretensão à causalidade, salvo um psicogeneticismo vago. Assim convivemos com pseudodiagnósticos ou diagnósticos abusivos, como disritmia, DDA, hiperatividade, bullying, que não costumam durar muito: novos nomes para velhos fenômenos. Apenas reiteram: "Não tem nada a ver conosco, é uma patologia."

As palavras que sobressaem são pertinência e inclusão. Artigo de Marcelo Bauman faz a pergunta fundamental: por que nas escolas? Nos transmite o horror intramuros, o nível altíssimo de violência familiar e social, o massacre do professorado.

Para a psicanálise e a psiquiatria, o delírio estruturado que se encontra nos escritos do sujeito em questão, as interpretações de conteúdo místico, a fragmentação da personalidade, a ignorância das leis simbólicas que ordenam a coletividade indicam a esquizofrenia paranoide ou a paranoia: indicam um diagnóstico que não pode ser feito in absentia. E devemos detectar na nossa própria cultura os elementos que o delírio utiliza.

A psicanálise reconhece nas psicoses uma resposta ao que Freud chamou o mal-estar na civilização. O conflito explodirá em um sujeito cuja estrutura é suscetível.

A causalidade psíquica, com os fatores sociais e culturais que a acompanham, tem seu lugar evidente nestes casos. Há um padrão de repetição, pois a escola é o órgão de choque do capitalismo contemporâneo. Não por acaso, este é um crime predominantemente americano. Após o período em que os EUA investiram em inclusão nas escolas, para realizar o sonho americano, a orientação atual é formar mão de obra a partir das necessidades do mercado. Na Europa, sabem que a escola deve formar gente, e a mão de obra depois. No Brasil, esse discurso cai como uma bomba, num mar de precariedade.

O delírio paranoide inclui uma missão. O sujeito se torna o soldado perfeito e realiza em ato o desejo inconsciente que recebe do Outro: a eliminação dos inaptos, dos impuros, dos que não servem para o mercado, da sexualidade que transtorna o Paraíso Regulado, especialmente a das meninas. Wellington é o porta-voz de uma estrutura de laços esgarçados.

A monstruosidade tem tudo a ver conosco. O professor recebe o esgoto bruto da violência, sem mediações. Os seus vencimentos e a estrutura das escolas são inqualificáveis. O livre comércio de armas fomenta o monstro. A concepção segregacionista do mundo também. Não querer saber disso é apostar no imobilismo: neste ambiente, a loucura repetirá sua tentativa paradoxal de redenção.

RENATA LO PRETE - PAINEL

Agora vamos ver
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SÃO PAULO - 30/06/11

Com a decisão de prorrogar por mais 90 dias o decreto que garante a sobrevivência dos "restos a pagar" de anos anteriores, tomada por Dilma Rousseff depois de repetidas sinalizações em contrário, a presidente espera obter, de imediato, a colaboração da base aliada no que diz respeito à Emenda 29 e à LDO.
No primeiro caso, o Planalto até aceita a votação do projeto que estabelece percentuais mínimos de gasto público com saúde, desde que na versão existente na Câmara -o texto do Senado é mais "gastador". Quanto à Lei de Diretrizes Orçamentárias, o objetivo é reduzir as armadilhas para o governo presentes no relatório do deputado Marcio Reinaldo (PP-MG).

Intensivão 

Em reunião da bancada do PR dominada pela iminência do facão nos "restos a pagar", Anthony Garotinho (RJ) pediu ao líder Lincoln Portela (MG): "Me dá um mês pra fazer oposição que eu acabo com eles!".

Fui 

O líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), irá semana que vem a Portugal. Dará palestra sobre política de defesa.

Espeto de pau 

Desde ontem no comando da Embratur, o ex-deputado Flávio Dino (PC do B) terá atingida, em caso de cancelamento geral dos convênios do Orçamento de 2009, uma emenda destinada à infraestrutura turística -no valor de R$ 2,3 milhões, para Caxias (MA).

Peixe elétrico 

Integrante da comitiva de Dilma no Paraguai, Luiz Sérgio (Pesca) foi acomodado em mesa da reunião de cúpula que debateu parceria na TV digital. "Tem, sim, uma relação", disse ele, rindo, sem explicar qual seria.

Corretivo 

Comentário de Francisco Dornelles (PP-RJ), no comando da sessão da CCJ do Senado que aprovou a perda de mandato de políticos que saem de um partido para fundar nova sigla: "Deixa eu dar um troco nesse menino!". Foi dele o voto de desempate que definiu o resultado desfavorável ao PSD de Gilberto Kassab.

Copa... 
Está quase pronta no governo a proposta para que donas de casa de baixa renda tenham direito à aposentadoria mediante contribuição mensal de 5% do mínimo -R$ 27,25. Hoje, o percentual varia de 11% a 20%.

...e cozinha 
A medida foi defendida no Senado por Gleisi Hoffmann (PT-PR), agora na Casa Civil, e José Pimentel (PT-CE), ex-titular da Previdência. "No mérito, todos concordam. A dúvida é fazer agora ou em outra MP", diz o deputado André Figueiredo (PDT-CE), relator da MP sobre o microempreendedor. Haverá reunião no Planalto na segunda para decidir.

Pelo telefone 
De licença, Aécio Neves (PSDB-MG) conversa com colegas de Senado na tentativa de fechar, na próxima semana, acordo sobre o projeto que muda o rito das MPs. O tucano espera preservar três pontos: a) prazo específico para exame pelas duas Casas; b) instância para aferir relevância da matéria; c) fim dos "contrabandos". A maioria dos governistas, porém, aposta que só o item "a" sobreviverá.

Simples assim

O líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), deixou claro para Ricardo Ferraço (ES) que, por falta de consenso, o partido não vai endossar a proposta de reforma administrativa do Senado, relatada pelo correligionário. Ferraço rebateu: "O PMDB tem a chance de ser protagonista ou coveiro deste projeto". Renan riu.

Órfão 

Fernando Gabeira (PV-RJ) manifesta desconforto com o desfecho da novela Marina Silva. Inclinado a disputar a Prefeitura do Rio, foi dos que mais tentaram evitar a saída da ex-senadora.Ë

com LETÍCIA SANDER e RANIER BRAGON

tiroteio


"A acusação do Serra ao Mercadante é tão consistente quanto as lesões que a bolinha de papel teria lhe causado."
DO SENADOR HUMBERTO COSTA (PT-PE), sobre declaração feita ontem pelo ex-governador tucano, segundo quem o ministro da Ciência e Tecnologia coordenou a compra de dossiê contra ele na eleição paulista de 2006.

contraponto

Tinha que ser você

Em reunião da bancada do PT com a ministra Ideli Salvatti, anteontem, houve certa confusão para definir quem falaria quando e por quanto tempo. Brincando, o deputado Décio Lima (SC) sugeriu que fossem estabelecidas cotas para o uso do microfone.
-Primeiro os deficientes físicos, como eu, depois as mulheres...- disse ele, para riso geral.
A solução encontrada foi o velho papelzinho dobrado dentro de uma urna improvisada. E o "sortudo" escolhido para iniciar os trabalhos foi... Décio Lima.

ELIANE CANTANHÊDE - Às compras

Às compras
ELIANE CANTANHÊDE
FOLHA DE SÃO PAULO - 30/06/11 

BRASÍLIA - À perplexidade inicial com o anúncio de que o BNDES está despejando quase R$ 4 bi para o Pão de Açúcar comprar o Carrefour seguiu-se a expectativa de que logo haveria explicações. Em vão.
Quais os argumentos do Planalto, do BNDES e do empresário mui amigo Abílio Diniz para uma operação tão bilionária quanto estranha? Dizer que é para pôr produtos brasileiros em gôndolas internacionais é muito pouco. E nada mais foi explicado, muito menos justificado.
É legítimo que quem paga a conta -nós, contribuintes e consumidores, e eles, que trabalham nos dois supermercados- estejamos com a pulga atrás da orelha.
Começa com a definição do BNDES, banco de "desenvolvimento econômico e social" que deve investir na produção, na infraestrutura, na geração de empregos. Mas na fusão de supermercados?
Segue com os riscos de monopólio, o novo gigante dominando 32% do varejo supermercadista. Riscos para: fornecedores, que perdem margem de barganha; empregados, ameaçados de demissão; e consumidores, à mercê dos interesses e preços de um mercado praticamente sem competição.
Alguém aí acha que um proprietário vai manter dois supermercados um ao lado do outro? Que vai somar todos os atuais empregados? E que vai nivelar por baixo o preço de legumes, frutas, arroz, feijão, enlatados, produtos de higiene e limpeza e eletrodomésticos?
Sem falar nas questões jurídicas, pois a rede Casino, francesa, já contratou advogado brasileiro pronto para questionar a operação. O Brasil é acusado de não respeitar tratado bilateral com a Itália no caso Battisti e agora usa o BNDES para um negócio mal explicado que, aparentemente, rompe contratos. Bom para a imagem do país não é.
Que o beneficiário Diniz, o banco de fomento e o Planalto, que deu sinal verde para o negócio, venham a público não só explicar, mas também convencer. Se possível.

BRAZIU: O PUTEIRO

LUIS FERNANDO VERISSIMO - Gays

Gays
LUIS FERNANDO VERISSIMO
O GLOBO - 30/06/11

O mais notável nessa campanha por casamentos homossexuais não é o avanço dos movimentos gays e o ocaso de barreiras e preconceitos antigos, mas o prestígio do casamento. Com tantos casais heterossexuais dispensando o ritual matrimonial para viverem juntos, a insistência dos gays em se casarem como seus pais deveria aquecer o coração dos mais radicais dos bispos. Eu sei que em muitos casos a oficialização do conúbio, se esta é a palavra, tem mais a ver com questões legais do que com romance, mas o que a maioria quer é o ritual. Quer as juras públicas de amor eterno e todo o simbolismo da cerimônia tradicional, mesmo sem véus e grinaldas. Era de se esperar que quem escolheu um relacionamento sexual, digamos, anti-convencional, muitas vezes tendo que enfrentar a incompreensão ou a ira dos conservadores, quisesse distância do que é, afinal, o mais “careta” dos ritos sociais. Mas não. Querem o tradicional.
Este fenômeno deve ter a ver com outro de difícil compreensão. Ouvi dizer que as formaturas nas universidades brasileiras voltaram a ser paramentadas, com becas e tudo, não por insistência de pais tradicionalistas mas dos próprios formandos, que em vez da informalidade que se esperava deles num mundo cada vez mais prático e sem tempo para velhos costumes ou costumes de velhos, exigiram todas as formalidades.
No fim as pessoas querem significado. Querem que o valor do que fazem seja enaltecido pela cerimônia, qualquer cerimônia. Mesmo careta.
Seja como for, aposto que daqui a alguns anos, quando se puder fazer a estatística, menos gays dos que estão se casando agora terão se separado do que casais heteros. Se a instituição do casamento sobreviver aos tempos e aos modos, será em boa parte graças a eles e a elas.

PASSADO
(Da série “Poesia numa hora destas?!”)

Lembranças vagas.
Vultos sem precisão
no meio da serração.
Uma praça, um
possível coreto
e aquilo será um mastim,
ou a tuba do Serafim?
A mesma em que, num domingo
entrou um gato desgarrado
e pôs-se a miar adoidado
no ritmo do dobrado?
Talvez com ouvidos afiados
ainda se possa ouvir
os miados
como vozes abismais
repetindo “Nunca mais”.

CLAUDIO HUMBERTO

“Quero assumir aqui o compromisso de rever a minha conduta”
SÉRGIO CABRAL, GOVERNADOR DO RIO, SOBRE OS FAVORES CONCEDIDOS A EMPRESÁRIOS AMIGOS

MARINA FORA, PV QUER MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE 
A ex-senadora Marina Silva vai anunciar sua saída do Partido Verde, como esta coluna antecipou, no dia 7, em Brasília. O PV aproveitará para reforçar o “diálogo” com a presidente Dilma, de olho na indicação do ministro do Meio Ambiente. Lideram a aproximação os deputados Zequinha Sarney (PV-MA) e José Luiz Penna (SP), presidente do PV. Eles contam com a eventual minirreforma ministerial de dezembro.

GABEIRA FORA 
Com Marina, afastam-se também o deputado Alfredo Sirkis (RJ) e Fernando Gabeira, que não disputará a eleição no Rio em 2012.

PS VEM AÍ 
Já rola no Congresso a piadinha de que Marina Silva vai criar o “PVdoB”, mas ela projeta para 2013 o Partido da Sustentabilidade (PS).

DEBANDADA 
Com Marina, pelas contas de Alfredo Sirkis, mais vinte parlamentares deixarão o PV, entre senadores e deputados.

MANIQUEÍSMO 
Segundo um militante verde, há no PV um conflito entre “fisiológicos clientelistas” e “ideológicos programáticos”. 

PT BOICOTA POSSE DE FLÁVIO DINO NA EMBRATUR 
A posse de Flávio Dino na presidência da Embratur, nesta quarta-feira, foi muito concorrida, mas sem representantes do PT, parlamentares ou ocupantes de cargos no governo Dilma. Ex-deputado federal, Dino é filiado ao PCdoB e por pouco não venceu a disputa com Roseana Sarney ao governo do Maranhão. O PT apoiou o clã Sarney, do qual faz parte o ministro Pedro Novais (Turismo) e ao qual Dino se opõe.

DERROTA PETISTA 
A nomeação de Flávio Dino para a Embratur, após José Sarney retirar seu veto, foi recebida pelo PT maranhense como (mais uma) derrota.

PT EM SEU LABIRINTO 
Em 2010, o deputado Domingos Dutra (PT) não apoiou Flávio Dino, “um burguês”. Preferiu o tucano João Castelo, certamente proletário.

NEM TE LIGO 
Em seu discurso na posse do presidente da Embratur, o ministro Pedro Novais, com os dias contados no cargo, não citou a presidenta Dilma.

CATARATAS NA BAIXADA 
Em visita recente a Foz do Iguaçu, o ministro Pedro Novais revelou seu sonho mais acalentado: conhecer as “cataratas de Nova Iguaçu”. Os anfitriões, constrangidos, nem tiveram coragem de corrigir o abestado. 

CULPA DE DILMA 
Os “lulistas” do governo atribuem à carta elogiosa da presidente Dilma o ressurgimento político de FHC, com direito a homenagem no Congresso. Ou seja, Lula é quem reprova a iniciativa de sua criatura.

CORDIALIDADE 
Ilustres membros do governo, como o ministro Nelson Jobim (Defesa), avisaram no Planalto que vão prestigiar a homenagem a FHC. O ex-deputado Sigmaringa Seixas, amigo de Lula, também deve ir.

CRISE DE IDENTIDADE 
Eduardo Queiroz, sócio da coletora de lixo Valor Ambiental e ex-genro de Nenê Constantino, fundador da GOL, mudou o depoimento à polícia em que acusava o ex-sogro de tentar matá-lo. Agora elogia o avô dos filhos, desdiz o que disse e deixou a Polícia e a Justiça perplexos. 

SEM NOÇÃO 
Ford Fusion preto com placa 001, de Águas de Lindóia (SP), circulava ontem na capital sem saber que brasilienses não buzinam, respeitam faixa de pedestre e não estacionam em vaga de autoridade de verdade.

PAPO FURADO 
O governador do DF, Agnelo Queiroz, soube que José Américo Miraia, dono da Trier Engenharia, que nos tempos de Roriz e Arruda atendia por Tork, tem dito que vai executar obra viária no acesso ao Aeroporto JK. E garante que isso é falso como nota de R$ 3 manchada de rosa.

GANHANDO NA MARRA... 
Acusada de usar atestados falsos em licitações, a construtora Marquise foi ao tapetão para ganhar a reforma de um hospital em Sobral (CE), na qual ficou em terceiro lugar com uma proposta R$ 6 milhões mais cara. 

...O QUE PERDE NO PREÇO 
Apesar de extemporâneo, o recurso da Marquise foi acatado pela comissão de licitação, que de forma suspeita declarou vencedora a empresa que ficou em segundo, com proposta R$ 5 milhões maior.

ATENTADO 
Após o escritor italiano Antonio Tabucchi boicotar a Flip por causa de Cesare Battisti, só falta Lula tentar emplacar na Festa Literária de Paraty o terrorista metido a escritor. 

PODER SEM PUDOR
PRESENTE DE ANIVERSÁRIO 
Carlos Sodré era secretário particular do prefeito de Salvador, João Henrique, e certa vez reuniu os amigos em uma churrascaria para comemorar o aniversário. Na hora do discurso, falou demais, reclamou do emprego.
– Você está se demitindo? – disparou João Henrique.
– Estou - blefou Sodré.
– Então, o senhor está demitido – finalizou o prefeito.
A festa seguiu e dias depois o Diário Oficial publicou a demissão.