quarta-feira, maio 04, 2011

ROSÂNGELA BITTAR - Descombinada com o tempo


Descombinada com o tempo
ROSÂNGELA BITTAR
VALOR ECONÔMICO - 04/05/11

Candidata derrotada na disputa presidencial de 2010, Marina Silva (PV), ícone do ambientalismo nacional e internacional, obteve uma votação que surpreendeu - quase 20 milhões de eleitores marcaram seu número na urna - apenas os que não acompanharam a construção de sua candidatura. Levantamentos preliminares encomendados pelo PV mostravam que tal candidata poderia mesmo atingir os patamares de aceitação que acabou conquistando de verdade. Por três ou quatro razões principais. 

Uma, seus méritos, seu nome e a carreira que construiu no rastro do tema de preservação do Meio Ambiente e salvação do Planeta, com uma ligação estreita a ONGs internacionais que acabaram consolidando sua imagem no exterior. Um fenômeno de fora para dentro que, apesar de tudo, e curiosamente, não chegou a atingir seu Estado natal, o Acre, onde ficou em último lugar entre os principais candidatos a presidente em 2010.

Esses votos de Marina, definidos como os votos verdes, contudo, renderam-lhe uma base de apoio cativa, financiamento de campanha, temática sólida, mas não a levariam, sozinhos, ao pedestal de fenômeno que acabou galgando. Igualmente importante, ou até mais, foi a exposição nos meios de comunicação de massa, os principais telejornais da TV aberta do Brasil.

Há uma terceira razão muito forte que pode até ser a preponderante: Marina Silva representou a terceira via. Entre PT e PSDB, uma parte consistente do eleitorado, notadamente das camadas de nível mais elevado de instrução e renda, preferiu Marina, como em outras disputas preferira Ciro Gomes e outros tertius, por exemplo, evitando os polos das últimas disputas eleitorais no país.

A ex-senadora, ex-ministra e ex-candidata a presidente, que saiu da campanha eleitoral em excelsa glória, perdeu o prumo, o rumo e o ritmo nos últimos seis meses pós disputa presidencial. Não está sabendo o que fazer com tão extraordinário desempenho e queima sem parar seu capital.

A empreitada mais relevante que contratou, única na qual se destacou nesse período, foi uma querela interna no Partido Verde, onde embarcou numa divisão entre os grupos do Rio e de São Paulo, engalfinhando-se desnecessariamente com o secular dirigente partidário do PV, José Luiz Penna. Marina chegou a inclinar-se por uma facção do partido, a Transição Democrática, a ponto de seu público atribuir a ela o desejo de, tal qual os políticos velhos de guerra, sair para criar seu próprio partido se não conseguisse o poder de mando entre os verdes. Mais mofado em matéria de política partidária, impossível.

Sua ficha de filiação é nova em folha, mas o exercício dos piores e tradicionais hábitos políticos é irresistível. Marina Silva ficou longe dos temas importantes, inclusive aqueles de seu domínio histórico, e não foi capaz sequer de aceitar críticas que lhe apontavam o seu desvio do caminho principal.

Reagiu com arrogância aos comentários de que, enquanto travava uma luta com Penna em torno do domínio do PV, o Código Florestal, ouro puro do ambientalismo mundial em discussão, seguia seu curso congressual sem a contribuição de tão ilustre especialista.

A resposta de Marina Silva foi dizer que, como não tem mandato, trava o diálogo com a sociedade e não com o Congresso. E criticou parlamentares do seu partido por terem permitido o avanço da negociação do Código. Recebeu, de volta, o desdém, por seu alheamento e desinformação.

Ora, é no Congresso que o Código está tramitando e sendo votado, deve entrar em pauta esta semana, depois de anos de negociação com a sociedade.

Em 2008 um esboço do Código ficou pronto, em 2009 chegou à Comissão especial e começou a ser trabalhado pelo relator, deputado Aldo Rebelo (PCdoB), que executou um detalhado e estratégico projeto de discussão e negociação das mudanças em todo o país, com os mais diferentes auditórios e grupos de interessados, os cidadãos aos quais as normas atingem diretamente. Foram 70 reuniões em 22 Estados, algumas com 5 mil, 6 mil pessoas.

Essa mega negociação, inclusive mais recentemente envolvendo as conflitantes autoridades do governo que conseguiram chegar a um consenso mínimo, e com as bancadas de ruralistas e ambientalistas - PV incluído - resultou em duas ou três versões do Código com alterações acatadas pelo relator.

Pronto o trabalho para ir a voto, a ex-candidata a presidente, instigada pelas críticas, resolveu, ontem, insurgir-se. Participou de reunião da bancada do Partido Verde e liderou uma marcha ao chefe da Casa Civil, ministro Antonio Palocci, para propor adiamento da votação do projeto, prevista para hoje. E o fez, novamente, com falta de senso de realidade: "Espero que o bom senso sinalize no sentido do adiamento, é impossível elucidar esse texto de hoje para amanhã, é uma irresponsabilidade de quem disser isso".

A ordem de zerar tudo é uma tardia estridência da ex-senadora contra um espetáculo que está há quatro anos em cartaz com encerramento já agendado. Dificilmente os atores concordarão em voltar tanto no tempo. A conferir se as ONGs internacionais que apoiam a ex-senadora terão força para sustar, neste momento, a tramitação do projeto.

Está claro que Marina Silva precisa e merece um bom aconselhamento, daqueles que lhe apontem caminhos que possam manter acesa a sua chama política até a próxima disputa eleitoral. É preciso ver, porém, se ela quer, ou se a falta de eixo desses meses pós-campanha tem um significado mais radical, porém oculto.

Ecumênica também na sua insatisfação, a presidente Dilma Rousseff tem avaliação negativa do desempenho dos mais importantes ministros do PT e do PMDB, os dois pilares de sustentação do seu governo.

Do PT, sobram críticas, especialmente, ao ministro da Educação, Fernando Haddad, embora o da Saúde, Alexandre Padilha, ainda não tenha dado motivos de regozijo à nova gestão. Os dois petistas de altíssima cotação partidária ainda não aconteceram no governo.

Do PMDB, o desânimo é com o representante principal, o ministro Edison Lobão, das Minas e Energia.

EDITORIAL - VALOR ECONÔMICO - Um mês cinzento para a ética na política


Um mês cinzento para a ética na política
EDITORIAL - VALOR ECONÔMICO
Valor Econômico - 04/05/2011

Para o leitor atento, certamente não passou despercebido que a mudança de governo em Brasília em nada contribuiu para o aperfeiçoamento dos bons costumes na política nacional. Pelo menos três episódios sucessivos saltam aos olhos e têm muito mais em comum do que parece à primeira vista, apesar da diferença dos atores envolvidos.

Começando pelo fim, o PT reabilitou com honra, no fim de semana, o ex-tesoureiro de campanha do partido, Delúbio Soares. Difícil medir a indignação da sociedade, aparentemente resignada ou sentindo-se impotente para reagir à sucessão de escândalos que gradativamente mina a base moral da política brasileira, em todos os três níveis do poder federal.

Afinal, o que mudou entre 2005, quando o PT julgou que havia razões mais que suficientes para expulsar Delúbio do partido, inclusive com alguma dose de humilhação, e 2011, quando Delúbio ainda responde pelos crimes de corrupção e formação de quadrilha em processo no Supremo Tribunal Federal (STF)?

Como ex-tesoureiro do partido nas campanhas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o companheiro Delúbio atravessou esses anos todos fazendo questão de lembrar aos camaradas petistas que é um profundo conhecedor das entranhas partidárias. E, no entanto, cumprira obsequioso silêncio tanto na campanha da reeleição de Lula, em 2006, quanto na eleição de Dilma, em 2010.

Para voltar, Delúbio fez chantagem. Ele voltou, no entanto dificilmente recuperará o prestígio de que dispunha quando passava o chapéu entre o empresariado, mas é perturbador que o PT, um partido que na oposição ajudou muito a melhorar a ética na política, cada vez mais se pareça com as siglas do passado, que combatia com fervor religioso.

À exceção de José Dirceu, é bom lembrar, o partido absolveu todos os outros camaradas relacionados no escândalo do mensalão, o suposto esquema de compra de votos em troca de apoio ao governo. A senha para o mau comportamento, a bem da verdade, partiu do próprio Lula.

Quem não se lembra das palavras do presidente, em Paris: "O que o PT fez do ponto de vista eleitoral é o que é feito no Brasil sistematicamente. Eu acho que as pessoas não pensaram direito no que estavam fazendo, porque o PT tem na ética uma das suas marcas mais extraordinárias, e não é por causa do erro de um dirigente ou de outro que você pode dizer que o PT está envolvido em corrupção". Literalmente. Com a decisão tomada no fim de semana, o PT deu razão ao ex-presidente da República.

Mas a reentronização de Delúbio no universo petista não foi o único episódio a deixar um pouco mais cinzento o mês de abril, quando se fala de moral e ética na política. O autoritarismo do senador Roberto Requião (PMDB-PR) ao avançar sobre um repórter que lhe tomara declarações gravadas é apenas reflexo da conduta desregrada que há anos tomou conta do Senado e atingiu o clímax na semana passada com a indicação dos novos integrantes do Conselho de Ética da Casa.

Não importam os argumentos dos partidos, segundo os quais, há falta de disposição dos senadores em geral para compor o Conselho de Ética. Fossem um pouco maiores as preocupações com os bons exemplos, os partidos certamente encontrariam nomes que não passaram como réus pelo conselho, caso de Renan Calheiros (PMDB-AL), que recorria a uma empreiteira a fim de pagar contas pessoais. O que dizer do novo presidente do conselho, João Alberto Souza (PMDB-MA), também ele autor de decretos secretos que tantos aborrecimentos causaram a seu amigo José Sarney, então presidente da Casa, em 2009.

Um pouco antes, o mau exemplo coubera ao senador Aécio Neves (MG), o nome mais forte hoje do PSDB para uma disputa presidencial. Aécio foi pilhado dirigindo sem carteira - sua habilitação estava vencida -, algo a que qualquer mortal está sujeito, e se recusou a fazer o teste do bafômetro, direito que a lei lhe assegura.

O mau exemplo de Aécio foi sua primeira versão do incidente à imprensa, em nota contaminada pelo subterfúgio. Esperava-se mais em termos éticos e morais com a mudança de governo, torcida que esvaneceu já com a manutenção do convite a Pedro Novais (MA), o deputado que pregava suas contas num motel de São Luís no cofre da Câmara, para o Ministério do Turismo.

DAVID KUPFER - O voo do dragão


O voo do dragão
DAVID KUPFER
Valor Econômico - 04/05/2011

O 12 º plano quinquenal, recém-aprovado pela Assembleia Popular Nacional da China, que deverá guiar o país no período 2011-2015, e cujas linhas mestras já são de conhecimento público desde o ano passado, é ambicioso e complexo: visa nada mais nada menos do que promover uma guinada no padrão de crescimento da China.

São três as palavras-chave enfatizadas: equilíbrio econômico, inclusão social e desenvolvimento verde (e pacífico). As duas últimas, que envolvem respectivamente temas como mais proteção social, saúde e segurança para os cidadãos chineses e mais sustentabilidade ambiental e menos carbono para o país e para o planeta são, sem dúvida, as grandes - e auspiciosas, se efetivas - novidades do Plano. Porém, à parte dessas palavras de ordem, até então pouco ou nada presentes na retórica das autoridades chinesas, será do objetivo de equilíbrio que certamente virão os impactos mais imediatos sobre a economia mundial.

A meta declarada pelo Plano é promover uma redução no ritmo do crescimento quantitativo (para "somente" 7% do Produto Interno Bruto, o PIB, ao ano), para proporcionar mais crescimento qualitativo, reduzindo a dependência da economia às exportações e ao influxo de investimento direto externo e virando o polo dinâmico para o gigantesco e ainda pouco explorado mercado interno chinês.

Como não poderia deixar de ser, a transformação chave para viabilizar esse novo padrão é posta em um peso crescente no desenvolvimento científico e tecnológico e na inovação (ampliação do gasto em P&D de 1,5% para 2,5% do PIB) e na menor ênfase no baixo custo como fator determinante da competitividade chinesa (15% do PIB originário de novos setores de alta tecnologia).

Para o Brasil, as implicações de uma guinada chinesa dessa envergadura, caso venha efetivamente a ocorrer, são preocupantes. Não se pode perder de vista que, quando Brasil e China se enfrentam no mercado internacional, o confronto se dá em três níveis distintos. O primeiro nível é o do confronto industrial propriamente dito. Nesse nível, a vantagem é claramente da China, que conta com tecnologia, organização e, principalmente, escalas produtivas muito mais capazes de induzir eficiência e produtividade vis-à-vis o sistema produtivo brasileiro. O segundo nível é o do confronto entre economias. Nesse nível, entra em questão a competitividade sistêmica, que reflete a influência positiva ou negativa dos regimes macroeconômicos, financeiros, tributários, etc..

Atualmente, é nesse nível que a China literalmente esmaga seus concorrentes, brasileiros ou não, e é exatamente na sua manutenção que o Plano Quinquenal está mirando. Por fim, resta ainda o terceiro nível, o confronto entre sistemas políticos. Aqui também é desigual o grau de planejamento e coordenação de decisões atingido pelo sistema chinês, que não pode ser sequer arranhado pela sociedade brasileira, que perdeu as suas instituições voltadas para pensar o longo prazo e ainda se vê às voltas sobre como reconstruí-las.

Desde 2010 a China já é o principal parceiro comercial brasileiro e tende rapidamente a se tornar uma das principais origens dos investimentos estrangeiros no Brasil. Como os números amplamente conhecidos demonstram, esses exuberantes fluxos de mercadorias e capitais escondem uma radical assimetria: do Brasil para China, cada vez mais matérias-primas; da China para o Brasil, cada vez mais produtos manufaturados. Um exercício quantitativo muito simples, mesmo que desprovido de qualquer validade preditiva, ajuda a pintar o problema com as tintas corretas.

Basta imaginar que a corrente de comércio bilateral entre Brasil e China, que evoluiu nos últimos dez anos de US$ 1,9 bilhão para US$ 30,7 bilhões no sentido Brasil-China e de US$ 1,3 bilhão para US$ 25,6 bilhões no sentido inverso, mantivesse exatamente a mesma taxa de expansão pelos próximos dez anos. Pois bem, em 2020, essas exportações chegariam a fantásticos US$ 1,1 trilhão e US$ 722 bilhões, respectivamente. Noves fora os números absolutos, o que interessa é que a China seria o destino de 68% das exportações brasileiras enquanto o Brasil representaria minguados 5,3% do mercado externo chinês.

É essa assimetria que torna crucial construir saídas para evitar a consolidação de uma relação de dependência em todos os aspectos indesejável. As possibilidades de ação do governo brasileiro visando romper o imobilismo que a equação macroeconômica vem impondo não são muitas nem muito diferentes das que vem sendo praticadas no período recente. O que surge de novo é um espaço para o Brasil atuar mais decididamente no front das relações internacionais visando abrir novos mercados para os produtos brasileiros. A viagem da presidente Dilma à China deve ser vista nesse contexto. Porém, o resultado positivo alcançado não deve ofuscar a dimensão e a complexidade do caminho que ainda precisa ser percorrido pelo Brasil para se posicionar adequadamente no novo mundo bipolar que EUA e China estão desenhando. Se hoje a vantagem chinesa já é avassaladora, não será com ações pontuais, mesmo que favoráveis ao país, como os acordos em torno de Embraer, Foxconn e congêneres, que se conseguirá neutralizar as extensas assimetrias que estão se acumulando e que irão se aprofundar quando o dragão chinês alçar voo.

GOSTOSA

EDITORIAL - O ESTADO DE SÃO PAULO A inflação não espera


A inflação não espera
EDITORIAL O ESTADÃO
O Estado de S. Paulo - 04/05/2011

Não se negocia com a inflação, assim como não se negocia com uma doença grave. Nenhum brasileiro medianamente informado deveria desconhecer ou menosprezar essa regra. Inflação e doença grave não fazem concessões, não dão trégua e não se ajustam à conveniência de países ou pessoas. A presidente Dilma Rousseff, ministros, líderes do PT e dirigentes sindicais parecem esquecer ou menosprezar a experiência do Brasil e de muitos outros países, quando defendem um combate "cauteloso" à alta de preços. Falam como se a busca da estabilidade fosse opcional e os males causados pelas pressões inflacionárias não fossem crescentes. Mas o quadro fica ainda mais preocupante quando o Banco Central (BC), embora reconhecendo o perigo, decide tratar com condescendência pressões inflacionárias cada vez mais graves.

A presidente já tomou "medidas cautelosas" para conter a inflação sem causar recessão e desemprego, disse o secretário-geral da Presidência, ministro Gilberto Carvalho. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, tem falado em cuidar das pressões inflacionárias "sem matar a galinha dos ovos de ouro", isto é, sem prejudicar o mercado interno. Além disso, o Brasil aparece em boas condições, segundo ele, quando comparado com outros países.

Só os muito desinformados - ou muito irresponsáveis - podem levar a sério esse palavrório. A escolha entre inflação e recessão não se impõe às autoridades brasileiras. A situação, neste país, é muito diferente daquela vivida nos Estados Unidos e na maior parte da Europa, onde o nível de atividade é muito baixo e a meta de inflação não passa de uns 2% ao ano. No Brasil, a economia continua em crescimento depois de uma expansão de 7,5% em 2010. O crédito se amplia, apesar das medidas de contenção adotadas pelas autoridades.

A inflação acumulada em 12 meses supera 6% e pode em breve ultrapassar o limite superior da meta, 6,5%. Escritórios independentes projetam uma inflação anual superior a 7% no começo do segundo semestre. Em agosto, o índice atualizado semanalmente pela Fundação Getúlio Vargas, o IPC-S, poderá atingir 7,9% em 12 meses, segundo o coordenador da pesquisa, professor Paulo Picchetti. Além disso, a última apuração mostrou que 67,45% dos itens pesquisados custaram mais. Trata-se de uma onda generalizada de aumentos de preços.

É um contrassenso, nesta altura, falar em combater a inflação com cuidado para não matar a galinha dos ovos de ouro. O mercado interno, essa galinha criada e engordada com muito custo ao longo de vários anos, será sacrificado inevitavelmente se a inflação disparar. Conter a alta de preços é condição incontornável para preservar o salário real, isto é, o poder de compra efetivo da grande massa incorporada recentemente ao mercado de consumo. A presidente Dilma Rousseff prometeu trabalhar para proteger esse poder de compra, mas serão necessárias ações muito mais firmes e menos tímidas para o cumprimento dessa promessa. No campo fiscal, por exemplo, o ajuste proclamado pelo governo ainda não é claro.

Será necessário mais tempo para se confirmar se o resultado obtido no primeiro trimestre se manterá. Ao acrescentar dois meses ao prazo para cancelamento de restos a pagar de 2007 a 2009, a presidente mina a confiança em seu compromisso com a austeridade, especialmente porque sua decisão atende a pressões de parlamentares.

Além disso, o governo deve basear o combate à inflação, segundo a presidente, principalmente na expansão do investimento e da capacidade de oferta. O investimento é fundamental para o longo prazo, mas o combate à inflação se faz com instrumentos de ação conjuntural. Isso não deveria ser novidade para a presidente, formada em economia,

Enquanto o governo e seus aliados fazem retórica sobre o combate "cauteloso" à inflação, a alta de preços ganha impulso e vai contaminando todos os segmentos do mercado. A presidente parece perigosamente inclinada a politizar o tratamento do assunto, seguindo a cartilha do PT, dos sindicatos e dos empresários mais dispostos a aceitar a inflação. Essa complacência poderá em pouco tempo destruir conquistas duramente alcançadas nos últimos 15 anos.

ROLF KUNTZ - Mania de ser colônia


Mania de ser colônia
ROLF KUNTZ
O ESTADO DE SÃO PAULO  - 04/05/11

O Brasil exportou US$ 35,4 bilhões de manufaturados para os Estados Unidos entre 2008 e 2010. Isso correspondeu a 56,8% do valor exportado para a maior economia e principal potência capitalista do mundo. No mesmo período, as vendas de manufaturados à União Europeia - o clube das velhas potências coloniais - proporcionaram uma receita acumulada de US$ 46,7 bilhões, 37,8% do total embarcado para o bloco. O comércio com o maior dos emergentes, eleito como parceiro estratégico pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi muito diferente. Nesses três anos, a China comprou do Brasil manufaturados no valor de US$ 3,9 bilhões, 5,7% do total faturado no comércio bilateral.

Se voltasse do túmulo, dom João VI, responsável pela abertura dos portos há 203 anos, seria incapaz de reconhecer o padrão de intercâmbio entre a antiga colônia portuguesa - por ele convertida em reino unido a Portugal - e os principais mercados do mundo rico. Não acharia muito estranha, no entanto, a estrutura das vendas para a maior das economias ditas emergentes. Mas notaria uma diferença intrigante: há dois séculos, era a Inglaterra a grande compradora de matérias-primas.

Convém levar em conta esses detalhes, quando se examinam os números do comércio brasileiro. De janeiro a abril deste ano, os manufaturados corresponderam a 37,5% das exportações. Um ano antes, equivaliam a 42,5%. O resto - produtos básicos e semimanufaturados - é geralmente classificável na categoria das commodities. A participação dos manufaturados no valor das exportações vem declinando há alguns anos. O pico, 63,6%, foi alcançado em 1994. Nos anos 90, o número oscilou em torno de 60%. No ano 2000, ficou em 61,6%. Nos dois anos seguintes, caiu até 57,1%, ainda sem sair dos padrões da década anterior.

A partir daí a queda foi quase contínua, com apenas uma forte oscilação para cima, em 2005, quando a fatia dos manufaturados voltou a 58,4%. Em 2009 mais um limite foi rompido. A participação baixou para 46,7% e no ano seguinte chegou a 43,8%. Neste ano o resultado será pior, se a tendência observada até agora se mantiver.

Entre 2000 e 2010 as exportações brasileiras para a China passaram de US$ 1,1 bilhão para US$ 30,8 bilhões. Isso explica, em parte, a mudança na composição das vendas brasileiras. A China tornou-se, na comparação entre países, a principal fonte de receita comercial do Brasil. Em 2011, até abril, as vendas à China proporcionaram US$ 11 bilhões, 15,5% da receita. As exportações para a Ásia renderam US$ 19,1 bilhões, 26,8% do valor total. A Ásia tornou-se mais importante, como compradora, que América Latina e Caribe (23,3%) e União Europeia (22,4%). O dinamismo asiático durante a crise ajudou a sustentar o comércio do Brasil e de outros latino-americanos, contribuindo também para a valorização dos produtos primários.

O pico das exportações para os Estados Unidos, US$ 27,4 bilhões, foi alcançado em 2008. Nesse ano, as vendas de manufaturados para o mercado americano chegaram a US$ 16,1 bilhões, 58,7% do total. Em 2009 e 2010, o comércio bilateral foi afetado pela crise, mas, ainda assim, as exportações de manufaturados (acima de US$ 9 bilhões em cada ano) continuaram muito maiores que as destinadas ao mercado chinês - apesar da recessão americana e do real valorizado.

Em 2008 as vendas brasileiras para os Estados Unidos foram 107,9% superiores às de 2000. Mesmo assim, o crescimento foi muito menor que o das exportações para a China, mas isso não se deveu apenas à expansão econômica chinesa. Resultou também de uma escolha política do governo brasileiro. Outros países, governados com outras concepções de interesse nacional, tiveram maior acesso ao mercado americano. Se tivesse prevalecido no Brasil uma concepção semelhante, mais pragmática e menos ideológica, a expansão do comércio brasileiro teria sido mais equilibrada e muito provavelmente mais favorável à indústria.

Segundo alguns defensores do terceiro-mundismo brasileiro, o País teria ficado perigosamente dependente dos Estados Unidos, se tivesse dado mais atenção ao mercado americano. Isso é uma bobagem monumental. O País simplesmente poderia ter vendido mais manufaturados e encontrado mais oportunidades para ampliar a produção industrial. Isso não implicaria vender menos à China e a outros emergentes. Outros países - vários da Ásia e da América Latina - seguiram o pragmatismo e deram-se bem. O Brasil seguiu outro rumo, perdeu oportunidades para sua indústria e ingressou numa relação neocolonial com uma potência emergente.

Para vender matérias-primas à China o Brasil não precisaria de uma escolha ideológica. Sem essa escolha, outros latino-americanos têm abastecido o voraz mercado chinês. Os chineses compram porque precisam, não por ideologia. Eles conhecem seus interesses.

ROBERTO DaMATTA - Rasgando o Brasil


Rasgando o Brasil
ROBERTO DaMATTA
O Estado de S.Paulo - 04/05/11

Outro dia eu mencionei aqui o ingênuo etnocentrismo brasileiro: aquele que só enxerga o nosso lado bom. Ele não chega a dizer que "ser brasileiro" significa "ser humano", como ocorre em muitas sociedades, mas não vai muito longe disso quando afirma que Deus é brasileiro! As imagens são antigas (eu quase digo perenes). Hoje, há a fábula lulopetista de um país infenso a crises e com reservas inesgotáveis, o que, tirando a desfaçatez, me deixa meio feliz.

Falta-nos, entretanto, o lado dissidente desta autoimagem. Não que o lado positivo deva estar ausente, mas ele precisa ser complementado e despido de ingenuidade. No Brasil convivem muitas brasilidades, do mesmo modo que há muitos Brasis e apenas uma brasilidade. A questão é sempre a de situar com clareza as diferenças sem romper com o quadro geral por explosão ou implosão. Por exemplo: pela morte morrida da oposição e de partidos políticos com programas diferenciados. Não há coletividade sem a dissonância interna que clama por reparações e, no nosso caso, por visibilidade.

* * * *

O comovente ensaio-memória do Pérsio Arida no último número da revista piauí, sobre a sua juventude como militante de uma organização clandestina, obriga-me a voltar a escrever sobre esse Brasil incapaz de olhar-se no seu próprio espelho. Como revela o corajoso exercício feito por Pérsio, o Brasil ainda teme romper com certos tabus, muitos dos quais têm a ver com esse esconder-se de si mesmo que está na raiz de tanto desengano e sofrimento; de tanta covardia e atraso; de tantos dramas sociais cuja memória é fundamental para uma existência mais democrática. E a democracia se faz justamente pelo trabalho dessas memórias que revelam uma imensa violência das autoridades constituídas. Disso que chamamos de governo ou de estado que, na sua fúria rotineira ou extraordinária (como aconteceu nas ditaduras), se arroga o direito de cometer todo tipo de arbitrariedade porque tem motivos que a sociedade desconhece. Esse é um dado contundente que a memória do Pérsio trás à luz do dia sem rodeios e com uma candura de espantar.

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Poucas vezes na minha vida, fiquei tão comovido com um texto. Com uma leitura que me deleitava por ter acasalado a beleza do contar com o horror daquilo que contava, sem esquecer o tragicômico contido quando a experiência vira um episódio: algo com início, meio e fim. Nesse texto verdadeiramente extraordinário pela sinceridade, conta-se um virar-se pelo avesso que é marca de toda grande reflexão reveladora da enormidade das forças que nos constroem socialmente e às quais somos submetidos. Esse palco de que falava Shakespeare e no qual todos somos chamados a atuar. Nele podemos virar velhos rabugentos, como Dom Casmurro, ou monstruosos insetos. Não somos o que queremos, mas aquilo que o drama nos induz, com gosto ou não, a fazer. Todos nós, em algum momento, somos traídos por alguma coisa, acusados de algum crime e ameaçados de tortura ou morte que - eis a grande questão - cometemos ou não. A culpa, essa sabotadora que atua por projeção, é um dos elementos básicos da história do jovem Pérsio às voltas com seu grupo que lutava contra um governo ditatorial e queria transformar o Brasil pela raiz.

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Como realizar isso tendo pai e mãe e vivendo num lar burguês? De onde vem essa vontade de exprimir-se abertamente contra o regime sem um pai autoritário e uma mãe conivente? Ou seria essa ausência que leva ao clandestino? Essas questões levam a uma outra: como atuar numa organização revolucionária sendo um subversivo leve, um arrombador de cofres que, na realidade, procederia como um neurocirurgião? Como discordar num momento em que a violência enraizada no estado brasileiro se mostrava claramente no limite de qualquer desacordo. No caso, pela suspensão de todos os direitos e, no limite do humano, por meio de uma selvagem repressão pela tortura que, por meio do suplício, opera às avessas, pois coloca a dissidência dentro do corpo de quem ousa protestar, arrombando o seu interior e impedindo qualquer indiferença, pois tudo que age brutalmente sobre o corpo faz diferença.

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Destaco, sem pretender ser preciso, pois apenas quero compartilhar o modo pelo qual o texto me atingiu, alguns pontos que muito me tocaram.

O primeiro fala de uma amiga comum, Maria Aracy, um personagem que surge quando Pérsio se recuperava da tortura e, em sua casa, prova-lhe como o amor pode substituir a curiosidade e a bisbilhotice. Fiquei surpreso por encontrar naquele círculo de amigos do Pérsio uma pessoa que eu, graças à minha devoção aos estudos etnológicos, naquela mesmo época, também conheci. Aliás, para ser mais preciso e ao mesmo tempo mais grato ao poder da literatura, foram índios xavantes que Aracy conhecia tão bem que provocaram meus encontros com ela. E que agora permitem, com muita emoção, porque ela não está mais entre nós, reiterar numa outra circunstância a sua presença sempre generosa.

(Continua na próxima quarta-feira)

DANIEL PIZA - Onde os talentos devem atuar


Onde os talentos devem atuar
DANIEL PIZA
O Estado de S.Paulo 04/05/11

Falou-se muito nas emoções e polêmicas do clássico entre Corinthians e Palmeiras e pouco sobre sua lamentável qualidade técnica. Com a saída prematura de Valdívia, o índice de criatividade caiu a quase zero. Não por acaso a decisão foi para os pênaltis e o time melhor e mais nervoso perdeu. Erros do juiz à parte, a quantidade de faltas refletiu esse futebol de trancos e barrancos, de pouca inteligência e plasticidade. O jogo entre São Paulo e Santos foi muito mais prazeroso, mais rico nas emoções que, pelo menos a mim, me interessam no futebol: a de ver boas jogadas, a de ver uma disputa acirrada e equilibrada ser resolvida por dois ou três jogadores de categoria.

Para quem ainda desconfia de Muricy Ramalho, ele demonstrou mais uma vez sua capacidade ao trocar um atacante por um zagueiro. Os comentaristas, com sua proverbial arrogância e precipitação, veem uma medida dessas e logo a qualificam de retranqueira. Mas o que Muricy fez (embora no São Paulo sempre tenha insistido em recuar demais Dagoberto) foi valorizar aquilo que sempre defendo neste espaço: os talentos nunca podem ficar longe demais da área e, apesar de ajudarem na marcação, devem se concentrar em atacar, tabelando e driblando na direção do gol.

Com Elano, Ganso e Neymar à frente, o time passou a ter seus três melhores finalizadores no lugar onde devem estar, ou seja, entre a intermediária e a área, para deixar o adversário em frequente perigo.

O segundo gol pede parágrafo exclusivo. Ganso lançou Neymar de antes do meio campo, Neymar disparou com a bola para a área e quase ficou diante de Rogério; dominou, olhou as possibilidades e recuou a bola no chão para Ganso chegar e bater de primeira, consciente do espaço onde tinha de encaixá-la. Tanto quanto seus arranques e dribles, essa espera de Neymar - esse intervalo de segundos em que não se deixou levar pela afobação e encontrou a saída mais eficiente - mostra o amadurecimento de seu futebol. Ao craque não bastam individualismo e velocidade; pensar enquanto se movimenta é a alma da grandeza.

A dança do Barça. Por falar em pensar em movimento, quem o faz como Messi hoje em dia? Ninguém. Na quarta passada, fez dois gols, um de homem-de-área, o outro de supercraque. Ontem, contra o mesmo Real Madrid, não marcou, mas foi marcado com violência por Ricardo Carvalho, Lass e Adebayor. Apesar de baixo, não é magrela, então não cai com facilidade; além disso, não fica esbravejando, criando encrenca, e se concentra em continuar jogando futebol.

Desse modo, causa tanta preocupação ao adversário que os espaços aparecem ao menos para seus colegas. E que colegas! Iniesta deu passe primoroso para Pedro fazer o gol e, mesmo com o empate do Madrid em falha na saída da defesa, em nenhum momento o Barça foi de fato ameaçado.

A posse de bola foi de nada menos que 65%, ou seja, ela corre de pé em pé em dois terços do jogo sem que o adversário consiga roubá-la. As premissas são simples de enumerar, mas difíceis de executar, e lembram o futsal: domine e toque rápido, protegendo a bola; não tenha medo de passar para um colega sem muito espaço; e se apresente de novo a ele como alternativa, com pequenos deslocamentos, abrindo igarapés na floresta de adversários; ajude a marcação em seu setor; acelere quando possível, desacelere quando necessário. Dos zagueiros a Messi, todos fazem isso, Messi obviamente com mais liberdade para conduzir e driblar por mais tempo do que os outros. E para atuar onde os talentos devem atuar.

TUTTY VASQUES - Barack Osama


Barack Osama
TUTTY VASQUES
O Estado de S.Paulo

Agora que a Inês é morta, muita gente se pergunta que diabos os Estados Unidos faziam no Afeganistão, se o inimigo estava há cinco anos no Paquistão. Ora, bolas! Os americanos, como se sabe, nunca foram bons em geografia. Bombardeariam Buenos Aires se a guerra fosse com o Brasil! Dizem, inclusive, que a CIA apoiou o golpe militar no Chile crente de que estava fazendo um bem à Bolívia. Qualquer lugar fora da América, para eles, é o fim do mundo!

Não é de hoje que somos todos iguais perante Washington. A novidade no noticiário sobre a morte de Bin Laden é a confusão que andam fazendo entre Obama e Osama até nos grandes telejornais dos EUA. A Fox News, por exemplo, anunciou em "breaking news" de rede nacional a morte de "Obama Bin Laden".

Em defesa dos americanos, no caso, deve-se dizer que a troca de nomes entre quem morreu e quem mandou matar derrubou os meios de comunicação em todo mundo. A BBC foi taxativa: "Obama dead". Na Globonews, foram tantos os vacilos ao vivo que a fofa da Maria Beltrão deu à mancada o devido tratamento de piada pronta em seu Estúdio i.

Não é todo dia, afinal, que se pode rir da morte de alguém.

Sonhando alto
Com a capa de Lizzie Jagger, filha de Jerry Hall e Mick Jagger, chegando às bancas de todo o Reino Unido, a Playboy inglesa corre atrás de outro nome forte para as próximas edições. Na reunião de pauta de ontem só se falava na Pippa, a irmã de Lady Kate.

Cafofo do Osama
A julgar pelas informações que vão chegando aos poucos sobre o esconderijo de Bin Laden, o terrorista levava há pelo menos cinco anos, no Paquistão, uma vidinha não muito diferente da sátira que o Casseta & Planeta fazia do personagem.

Diminutivozão

"A nível de" reclamação de juiz, francamente, Felipão é diminutivo de Mourinho. Quando crescer, o técnico do

Palmeiras quer ser igual ao do Real Madrid.

Fenômeno

A denúncia é do Vídeo Show: quando estreou na Globo, em 1984, Luís Fernando Guimarães era bem mais careca que hoje em dia.

Metáfora sexual

De todas as justificativas para a reintegração de Delúbio Soares aos quadros do PT, prevaleceu a tese consagrada do "lavou, tá novo".

Inapetência

Amigos de Pedro Simon estão preocupados! Faz tempo que o senador não sobe à tribuna para exigir a demissão de ninguém. Parece que perdeu a vontade, sei lá!

Rede antissocial

Bin Laden vivia sem telefone e sem internet numa cidadezinha a 60 quilômetros da capital Islamabad. Não à toa, levaram dez anos para encontrá-lo!

Mal comparando

Quem ainda acha que Ronaldinho Gaúcho não jogou nada no domingo não viu o Kaká ontem em campo. Aquilo sim é não fazer nada em campo!

ANCELMO GÓIS - Galeão de fora


Galeão de fora
ANCELMO GÓIS
O GLOBO - 04/05/11

Acredite. O Galeão-Tom Jobim não está na primeira lista de aeroportos que serão concedidos à iniciativa privada pelo governo Dilma. Por enquanto, concessão, só em Guarulhos e Brasília. 

Aliás...
O curioso é que o governador do Rio, Sérgio Cabral, foi, ainda no governo Lula, um dos primeiros a levantar a bandeira da concessão dos aeroportos, para evitar um vexame na Copa e nas Olimpíadas. 

A brasileirinha

Ilair Pereira de Souza, aquela senhorinha que foi resgatada da enchente com uma corda e perdeu seu cãozinho em São José do Vale do Rio Preto, RJ, pediu para ser excluída do aluguel social pago pelo estado às vítimas da tragédia na Região Serrana. É que ganhou uma casa do programa “Caldeirão do Huck”. 

Consolo da titia
Sexta, por volta de 18h, a fila do raio-X no embarque do Santos Dumont, de repente, empacou. É que um agente cismou com o ursinho de pelúcia que uma mulher levava na mala. Aberta a bagagem para a revista, veio a surpresa. Dentro do ursinho, havia um... vibrador!
A fila toda, gente insensível, riu da tiazinha.

Última chance
A desembargadora Marília de Castro Neves Vieira deu liminar que suspende a decisão da 4a- Vara Empresarial do Rio, que havia decretado a falência da Sata, a empresa do velho grupo Varig que passa por dificuldades.

Zezé nas alturas

Segunda, num voo Fortaleza- Rio, Zezé Motta liderou um levante feminino contra um homem que, ao ouvir o anúncio de que o avião era comandado por uma mulher, fez o seguinte comentário machista: — Vamos arriscar?! 

Aí...
A querida atriz e cantora mudou de lugar e organizou com outras mulheres a bordo uma salva de palmas para a comandante, que conduziu toda a viagem com muita competência. 

Racismo em sala
Semana passada, no Colégio Santo Agostinho da Barra, no Rio, uma professora, numa aula de ética para a 6asérie, teria dito:
“Preto tem que casar com preto, e branco com branco.” Havia uma aluna negra na sala. Um grupo de pais foi reclamar com a direção.

Grande hotel

Sabe aquele esqueleto do Gávea Tourist Hotel que perdura desde 1972 na Estrada das Canoas, em São Conrado? A 5a- Vara Cível do Rio liberou ontem a venda dos restos mortais do hotel em pregão que deve ser definido em assembleia de credores no dia 27 de maio.

Segue... 
O imóvel, de 32.000m² de área construída, com avaliação judicial corrigida correspondente a R$ 21.647.633,77, será vendido para pagamento das famílias lesadas por um “golpe imobiliário” aplicado na época pela empresa Califórnia Empreendimentos. 

Comunista no samba

Arlindo Cruz está se filiando ao PCdoB para se candidatar a vereador no Rio em 2012. 

Liminares em Itatiaia 
Sérgio Cabral se diz impressionado com um juiz da cidade de Itatiaia, RJ, que “adora conceder liminar para distribuidoras de combustíveis que não são muito chegadas a pagar ICMS”.

Sai da frente 
A CET-Rio monta esta semana uma operação para melhorar o
trânsito no Recreio e na Barra. A região, que tinha 36 controladores de tráfego, terá agora 100 em três turnos. 

Cena carioca

Ontem, por volta de 10h, num ônibus 511 (Urca-Leblon), na Av. N. S. de Copacabana, todos a bordo se levantaram para ver um incêndio num prédio. No que um bebum gritou: “Ih! Deve ser outro ataque do Bin Laden! Bin Laden não morreu!!!” 

GOSTOSAS DO TEMPO ANTIGO

ILIMAR FRANCO - Dilma diz ‘Não!’


Dilma diz ‘Não!’ 
ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 04/05/11

O ministro Antonio Palocci (Casa Civil) tentou ajudar o PT do Ceará na escolha do novo presidente do Banco do Nordeste. Há uns dias, ele apresentou o nome do atual diretor de Gestão, José Sydrião de Alencar Jr, para o cargo. Sydrião é afilhado do deputado José Guimarães (PT-CE). A reação de Dilma foi imediata: “#*§! Eu já disse: Não! Não! Não!” Consta que o globo ocular de Palocci vagou de um lado para outro, e que, espantado, o governador Eduardo Campos (PE) assistiu à cena.

O novo Código Florestal vai à Justiça
Sem votos para se contrapor aos ruralistas, os ambientalistas, liderados pelo PV, estão se preparando para questionar na Justiça o texto do novo Código Florestal. Um dos principais pontos de discórdia é a anistia para quem desmatou ilegalmente até 22 de julho de 2008. Os verdes defendem que a data limite da anistia seja 21 de setembro de 1999, data da regulamentação da Lei de Crimes Ambientais. Os verdes também não aceitam regra incluída no relatório de Aldo Rebelo (PCdoB-SP), pela qual os grandes produtores poderão recompor a reserva legal em outro estado, desde que no mesmo bioma. É a judicialização da política.

"Não podemos concordar com a imposição de um ônus ao contribuinte brasileiro, já tão sobrecarregado com impostos e o retorno da inflação” — Álvaro Dias, líder do PSDB no Senado (PR), sobre projeto do governo que triplica o pagamento ao Paraguai pela energia de Itaipu

BLINDAGEM. Na audiência pública ontem com o ministro Guido Mantega (Fazenda), na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, uma das preocupações do governo era minimizar sua ação na queda do então presidente da Vale, Roger Agnelli. O senador Lobão Filho (PMDB-MA) passou um bilhete (na foto) com dicas para o senador Lindbergh Farias (PT-RJ). Mantega disse que o então presidente Lula ficou insatisfeito com as demissões na Vale quando estourou a crise econômica em 2008.

Costura
O prefeito Gilberto Kassab e o governador Raimundo Colombo (SC) estiveram com o governador Eduardo Campos (PE), no sábado, em Recife. Conversaram sobre uma ação coordenada, entre PSD e PSB, nas eleições municipais de 2012.

Tapete puxado
O vice de Loterias da CEF, Flávio Ferreira Cleto, do PMDB, tentou substituir o superintendente de FGTS, José Maria Oliveira Leão. Não levou. O presidente da Caixa, Jorge Hereda, acionou o Conselho Diretor da instituição, que disse não.

Confusão à vista no Senado
A Mesa do Senado decidiu e o primeiro-secretário, Cícero Lucena (PSDB-PB), anunciou economia de R$ 6 milhões com a substituição da frota de veículos da Casa. Cícero afirmou que os gastos com transporte são de R$ 17 milhões. Este não é o valor que consta do relatório de 15 de março do coordenador de Transportes, Cássio Murilo Rocha. No processo 009261/11-7, o servidor informa que o modelo atual da gestão de transportes custa R$ 12 milhões. A discrepância é de R$ 5 milhões.

Pendências
PT e PSB do Nordeste ainda disputam o comando da Codevasf e da Chesf. A queda de braço é no Piauí e em Pernambuco, respectivamente. Eles estão unidos, no entanto, contra a indicação de Miguel Terra Lima para a presidência do BNB.

Prêmio
Mulher do prefeito de Joinville, Carlito Merss (PT), Marinete Merss foi nomeada chefe da assessoria parlamentar da Secretaria de Direitos Humanos. Ela integra o Diretório Nacional do PT e perdeu as eleições para deputada federal.



 JÁ FORAM amistosas as relações entre o ministro Paulo Bernardo (Comunicações) e o presidente da Telebrás, Rogério Santana.
 ASSESSOR da Casa Civil, Marcelo Guaranys, que já foi o candidato dos petistas para presidir a Anac, vai ser o segundo na Secretaria de Aviação Civil, que é presidida por Wagner Bittencourt.
● REGISTRADO. O vice do Rio, Luiz Fernando Pezão, diz que não é padrinho de nenhum dos novos diretores da Funasa: “Quem dera eu tivesse esse poder”.

DORA KRAMER - Desafinados


Desafinados
DORA KRAMER
O Estado de S. Paulo - 04/05/2011

A sequência dos fatos por si só evidencia o problema.

Na sexta-feira, 29 de abril, o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, divulgou nota para negar a existência de retaliações a adversários na seção paulista do partido e bateu forte no PSD de Gilberto Kassab: “A ética discutível está na formação de partidos que reúnem adesismo, conveniências em torno de projetos pessoais e mudanças de lado”.


No domingo, 1.º de maio, o senador Aécio Neves criticou os críticos de Kassab durante as comemorações do Dia do Tra­­balho patrocinado pelas centrais sindicais e na segunda-feira, 2, era esperado em um jantar em Uberaba (MG) para próceres do PSD, entre os quais Jorge Bornhausen.

No dia seguinte, terça-feira, 3, o ex-senador e ex-presidente do PSDB Tasso Jereissati apareceu nos jornais sendo ainda mais explícito que Sérgio Guerra. Chamou o PSD de “balcão de negócios”.

Na véspera, ao fim de uma palestra sobre reforma política, em São Paulo, o ex-governador José Serra, anunciou que continuará calado, pois não tem nada a dizer sobre uma crise que considera inexistente no PSDB.

Isso poucos dias, sete é a conta exata, depois de o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ter feito um apelo público em prol da unidade e do fim da crise no partido.

Crise esta que, na visão do governador Geraldo Alckmin, não passa de um “lusco-fusco” com excelente potencial de fator de “fortalecimento” do PSDB. Logo ele, que enfrenta defecções na sua base e divide o governo com um vice agora hostil, Guilherme Afif Domingos, um dos artífices do “balcão de negócios”.

Uma versão otimista, e falsa, daria a esse mosaico incongruente de posições o nome de democracia interna, convivência pacífica de divergências ou qualquer coisa parecida.

Uma tradução metafórica enxergaria nisso um conjunto sem maestro nem partitura tocando com instrumentos desafinados.

Qualquer pessoa com algum senso de observação, capacidade auditiva razoável e zero compromisso com a manutenção das aparências, percebe que o PSDB está conflagrado e prisioneiro das próprias contradições.

Na impossibilidade de produzir um entendimento produtivo, as lideranças resolveram negar a crise. Nenhuma delas se arrisca a uma análise franca da situação, porque são tantas e tão profundas as escaramuças, que abrir o jogo para tentar arrumar a casa pode significar a deflagração de uma guerra interna por hegemonia, que ninguém ali tem coragem de bancar.

Uma espécie de tentativa de que as circunstâncias e o tempo se encarreguem da omelete sem que em momento algum se quebrem os necessários ovos.

E assim segue o partido refém do autoengano, acreditando na ilusória realidade que construiu para si de que não é necessário correr riscos, ultrapassar obstáculos nem imprimir esforços, pois a sorte lhe será madrinha e sozinha vai se encarregar dos fatos.

Autoritariamente

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, tem uma visão peculiar do que seja democracia. Convidado a falar sobre a ingerência do governo na demissão de Roger Agnelli da Vale, na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, o ministro considerou que o então presidente Lula agiu “democraticamente” ao trabalhar pela saída do executivo.

Mantega justificou que Agnelli desagradou à Presidência ao demitir 1.200 funcionários e tocar a política de investimentos que achava a mais correta para a empresa.

“O presidente poderia ter retaliado a Vale, mas preferiu reclamar publicamente. Não vejo situação mais democrática do que essa”, disse.

Além de revelar que o governo considera a retaliação uma possibilidade real, o ministro da Fazenda confirma a interferência por motivo torpe e admite o ato de vingança pessoal contra um presidente de empresa privada que ousou desagradar ao governo. Menos democrático impossível.

E por isso mesmo preocupante, já que pelas declarações do ministro fica posto que as empresas cujas diretrizes operacionais desagradarem ao governo podem ser objetos de ações intervencionistas.

MERVAL PEREIRA - O fator humano


O fator humano 
 MERVAL PEREIRA

 O Globo - 04/05/2011

O seminário promovido pela Unesco para comemorar o Dia Internacional da Liberdade de Imprensa teve uma intensa programação baseada nas novas mídias, mas, ao final de vários debates, inclusive o do qual fui mediador, ficou a sensação de que é impossível abrir-se mão da mídia tradicional como uma fonte fundamental para a divulgação de informações, assim como da capacidade de seus profissionais para apurar e checar notícias, dentro de padrões técnicos e éticos largamente testados pelos anos, o que dá credibilidade às notícias divulgadas.

O painel do qual participei tratava da integração das diversas mídias para fazer com que as empresas de mídia tradicional continuem sendo atores centrais na produção de informações nesse novo mundo tecnológico.

Por isso destaquei uma informação publicada recentemente pelo jornalista Tom Rosestiel, um dos teóricos mais importantes do jornalismo, no “Washington Post”, segundo a qual, entre os 20 blogs mais acessados dos Estados Unidos, nada menos que 18 fazem parte da mídia tradicional ou estão ligados a ela de alguma maneira.

Mas, como ressaltou Katherine Zaleski, produtora executiva para novos produtos digitais do mesmo “Washington Post”, que está comandando o processo de integração na nova redação do jornal, a capacidade de apuração proporcionada pelas novas mídias, colocando o relato de diversos novos atores à disposição do público, não permite mais que os jornais se portem como na guerra do Iraque, quando assumiram como verdadeiras as versões oficiais, e só anos depois refizeram seus relatos revelando que não havia armas de destruição em massa em poder do ditador Saddam Hussein e as manipulações que o governo Bush usou para justificar a invasão daquele país. Por isso o noticiário sobre a morte de Bin Laden está sendo tão detalhado e tão crítico.

Em outro painel, em que ativistas de diversos grupos da mídia digital mostravam suas atuações através da divulgação de filmes no YouTube ou informações contra governos autoritários através de internet, Twitter ou de meios de relacionamento social como o Facebook, um jornalista africano chamou atenção para o fato de que, por melhores que sejam suas motivações, os ativistas não estavam fazendo jornalismo.

Gregory Shvedov, editor do blog “Caucasian Knot”, da Rússia, admitiu que seu trabalho fosse político, mas defendeu a existência de um jornalismo ativista. Outros participantes admitiram que, com o correr dos anos, estão mais empenhados em checar as informações antes de divulgá-las, mesmo porque vários governo autoritários forjavam denúncias falsas para depois acusar os ativistas.

Larri Kilman, diretor da Associação Mundial de Jornais (WAN/IFRA) mostrou com números que a questão dos jornais não é de falta de audiência, mas de modelo de negócios que está se deteriorando. Segundo ele, os jornais ainda atingem 37% da população adulta do mundo, cerca de 1,7 bilhão de pessoas diariamente, comparado com apenas 25% da população mundial que tem acesso à internet.

Combinados os jornais impressos com suas versões online, nunca os jornais tiveram tanta audiência quanto hoje. Ele ressaltou, porém, que é caro manter um time de repórteres nos jornais, e a democracia será afetada sem eles.

A questão é que os jornais estão perdendo para as mídias digitais verba de publicidade, que em certos países já ultrapassa a dos impressos.

Os jornais estão tentando buscar alternativas a essa perda, e muitos já estariam conseguindo novos caminhos. Por isso, também alguns, como o “The New York Times”, começaram a cobrar pelo acesso a suas edições digitais.

Mas quem melhor se colocou na discussão entre as novas mídias e a tradicional foi o jornalista Bob Woodward, famoso pela reportagem no “Washington Post”, junto com Carl Bernstein, que derrubou o presidente Nixon no que ficou conhecido como o escândalo de Watergate.

Ele começou sua palestra discordando do resumo feito para a apresentação do seminário, que dizia: “os novos instrumentos da mídia digital mudaram fundamentalmente a natureza da reportagem e o sentido da transparência”. Woodward declarou-se em discordância “firme” com essa afirmação. Para ele, os novos meios apenas suplementaram de maneira significativa a maneira de fazer jornalismo.

Ele também discordou da afirmação de que os cidadãos agora têm acesso instantâneo às fontes que os repórteres usaram nas suas reportagens. Para Woodward, que disse que adora a internet, há de fato mais dados para a apuração, mas nada mudou fundamentalmente na maneira como um bom jornalista trabalha.

Ele se referiu às notícias baseadas no Wikileaks que o “The New York Times” publicou, dizendo que o fazia porque “os telegramas contam a história crua de como os governos tomam suas decisões que custam ao país pesadamente em vidas e dinheiro”.

Embora admita que publicar telegramas do Wikileaks acrescente informação para o leitor, Woodward diz que a versão dos embaixadores dificilmente chega à Casa Branca, que tem seus próprios meios de investigar e produzir relatórios. Na definição de Bob Woodward, não vivemos uma revolução no jornalismo, que ainda depende das revelações de fontes humanas, que viveram os acontecimentos diretamente e relatam suas histórias aos bons jornalistas.

Mas é preciso também saber pesar as informações e descontar as fraquezas humanas na hora dos relatos, adverte. Ele contou uma história definitiva sobre a tendência de as pessoas refazerem suas versões de maneira a ficarem em situação melhor.

Disse Woodward que ele e sua mulher estavam certa vez em um seminário sobre envelhecimento (ele tem 78 anos e diz que se interessa muito pelo assunto) e deram para os assistentes questionários sobre hábitos de vida.

Na contagem final de pontos, a pessoa saberia quantos anos de vida teria. Na sua frente estava Henry Kissinger, que ficou curioso sobre o seu resultado. Constatou então que Kissinger refez o questionário, alterando respostas, até que o resultado desse a ele mais anos de vida que o primeiro, segundo o qual já teria morrido devido a seus hábitos sedentários e ingestão de carne vermelha.

“As pessoas vivem refazendo suas versões sobre os fatos”, advertiu Bob Woodward.

GOSTOSA

MARIÂNGELA GALLUCCI - Filhos e netos de Lula não devolvem passaporte


Filhos e netos de Lula não devolvem passaporte
MARIÂNGELA GALLUCCI
O Estado de S. Paulo - 04/05/2011

Prazo dado pelo Ministério Público terminou nesta terça-feira; procuradores viram irregularidades na cessão do documento e devem entrar com ação judicial

BRASÍLIA - O Ministério Público Federal deve recorrer à Justiça para obrigar parentes do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a devolver passaportes diplomáticos concedidos nos últimos dias do governo do petista.

Em ofício encaminhado ao Ministério Público, o Itamaraty informou que os passaportes concedidos a 4 filhos e 3 netos de Lula não foram devolvidos nem recolhidos. Recentemente, procuradores tinham anunciado que se os documentos não fossem devolvidos uma ação poderia ser encaminhada à Justiça.

Há cerca de um mês, procuradores analisaram o caso e concluíram que a concessão dos passaportes foi irregular. Há vários benefícios para quem tem passaporte diplomático. Entre eles, tratamento menos rígido na imigração e dispensa de visto em alguns países. O Ministério Público concedeu um prazo até esta terça-feira, 3, para que os documentos fossem devolvidos.

Num primeiro momento, ao ser questionado sobre a concessão dos passaportes, o Itamaraty disse que a emissão dos documentos atendia a interesses do País. Com isso, foi criado um problema político porque o governo da presidente Dilma Rousseff, que é aliada de Lula, não tem como voltar atrás.

Para o governo, o ideal seria que os familiares de Lula devolvessem os documentos. Mas como eles não devolveram, a melhor saída é que o Ministério Público entre com uma ação na Justiça pedindo o recolhimento. O governo avalia que o constrangimento pode ser menor do que designar um funcionário do Itamaraty para pressionar pela devolução.

O Ministério Público analisou recentemente a concessão de 328 passaportes emitidos em caráter excepcional pelo Ministério das Relações Exteriores de 2006 a 2010. Em todos os casos, a emissão teve como justificativa o interesse do País.

Após a análise, o órgão concluiu que somente os sete passaportes concedidos aos parentes de Lula, em 22 e 29 de dezembro do ano passado, foram considerados irregulares. Para os procuradores, não foram apresentadas justificativas pertinentes para a concessão do benefício.

A divulgação da notícia sobre a emissão de passaportes diplomáticos para familiares de Lula provocou reações contrárias em Brasília. O presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Ophir Cavalcante, chegou a fazer um apelo para que os familiares do ex-presidente devolvessem os documentos.

"A Ordem apela para que os filhos do presidente Lula devolvam o passaporte especial, não submetendo seu pai a um constrangimento público dessa natureza, inclusive com possibilidade de ação judicial por improbidade administrativa para alcançar quem concedeu esse benefício", disse Ophir na época.

O caso dos passaportes especiais, revelado em janeiro, foi a última polêmica do governo Lula. A dois dias de seu mandato terminar, o Itamaraty concedeu o documento a 4 filhos e 3 netos do ex-presidente, alegando "interesse nacional". Revelou-se, então, que o documento já havia sido dado a 328 pessoas.

O Ministério Público e a OAB recorreram contra a decisão, que consideraram privilégio - por lei, só funcionários em missões especiais e seus cônjuges e filhos menores podem recebê-lo. Dois filhos de Lula, Luís Cláudio e Marcos Cláudio, prometeram devolver os passaportes, mas não o fizeram.

MÍRIAM LEITÃO - Mirando a meta


Mirando a meta 
MIRIAM LEITÃO 

O Globo - 04/05/2011

A inflação vai superar o teto da meta nos próximos meses. Quem diz é o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini. Ele garante que o BC está enfrentando o problema e que vai levar a taxa para o centro da meta no final de 2012. Perguntei: E se alguém disser que os juros não podem subir, por razões políticas? Ele respondeu: “Não fará diferença. O BC tem autonomia.”

Na primeira entrevista exclusiva concedida pelo presidente do Banco Central, ele me disse ontem - num programa da Globonews - que o país vai continuar acumulando reservas cambiais, apesar de já ter mais de US$ 320 bilhões, e analisou a questão internacional. O problema que dominou a conversa foi, claro, a inflação. Ele disse seis vezes que o BC levará a inflação para o centro da meta em 2012. E explicou por que prorrogou o prazo dessa convergência:

- Em nenhum momento o Banco Central desistiu. Por causa de uma série de choques externos, como o de preços de commodities e de energia, e mais o crescimento da demanda interna, a inflação acumulou 2,44% nos primeiros três meses do ano. Para levar para o centro da meta este ano, teria que haver 2% de inflação em nove meses. Mas estamos tomando medidas que atuarão com a defasagem conhecida. Hoje, o Banco Central do Brasil é o mais ativo no combate à inflação em comparação com os seus pares.

Tombini nega que tenha oscilado entre os instrumentos de controle de crédito (macroprudenciais) e as políticas convencionais de política monetária:

- O Banco Central não mudou. Essa administração elevou em 125 pontos bases (os juros). As medidas convencionais estão sendo utilizadas de forma clara e convincente. Políticas financeiras não são decididas pelo Copom, mas pelo Banco Central, mas são levadas em consideração. O instrumento que vai nos levar à meta de 4,5% é o instrumento convencional. Foi usado e continuará sendo usado no tempo necessário.

Entre os vários desafios que existem no cenário da inflação nos próximos meses está o fato de que as negociações salariais das categorias mais fortes ocorrerão exatamente quando a taxa em 12 meses tiver ultrapassado o teto da meta no terceiro trimestre: - É importante o BC e o governo demonstrarem no momento da negociação salarial que a inflação está convergindo para a meta de 4,5% e que as categorias precisam olhar para o cenário internacional de inflação elevada. É preciso demonstrar que a taxa está na trajetória para que os agentes econômicos nas suas definições de preços e salários olhem para a frente, do contrário, teremos problemas de competitividade internacional.

Mas mesmo que este teste das negociações salariais de metalúrgicos, bancários e petroleiros seja superado, virá outro desafio no começo do ano que vem que será um aumento de pelo menos 14% para o salário mínimo, que terá um impacto nas contas públicas e preços:

- Todas as políticas que estão sendo tomadas agora estarão tendo impacto mais forte no último trimestre deste ano e começo do ano que vem. Nas nossas decisões, temos que levar em consideração tudo o que já sabemos de antemão, como a regra de aumento do salário mínimo.

Tombini disse que a partir de maio a inflação mensal vai cair e estará em termos anualizados dentro da meta, mas admite que a inflação em 12 meses estará subindo e deve ultrapassar o teto. Ele acha que o choque das commodities deve ceder agora, pelo menos na área agrícola. Neste contexto é que ele disse esperar a queda do etanol para breve.

Ele explicou sua ideia de que o fluxo de capitais é inflacionário, quando se sabe que o primeiro efeito é derrubar o dólar, o que tem puxado a inflação para baixo:

- O Brasil recebeu US$ 35 bi em três meses, um volume inédito. Isso dá uma velocidade à expansão do crédito além do adequado, e produz uma demanda por ativos como terra, imóveis. Estamos trabalhando com os ministérios (da Fazenda e do Desenvolvimento) para minimizar esses riscos. Tenho duas preocupações com esse excesso de fluxo de capitais. Nós apertamos o requerimento de capital, colocamos tributação em cima de crédito e essa entrada excessiva de dólar desfaz esse trabalho, porque as empresas vão lá fora tomar empréstimos, achando que não há risco cambial. Essa é a segunda preocupação, o de evitar que as empresas assumam esse risco. Outros países estão com políticas monetárias muito expansionistas.

Sua avaliação é a de que os mercados financeiros continuam bem, apesar “dessa coleção extraordinária de eventos” na conjuntura internacional, porque há esse excesso de liquidez, mas por outro lado o país tem que estar preparado para uma reversão do quadro, evitando riscos.

Quando perguntei a Tombini o que aconteceria se alguém dissesse que ele não pode subir juros por razões políticas, ele respondeu:

- O Banco Central tem autonomia. Não só eu, como os diretores. Eles definem os seus votos. Se alguém disser isso, não fará diferença porque a nossa decisão será com base nas nossas avaliações, com os subsídios do corpo técnico. Funciona como sempre funcionou nestes 12 anos de metas de inflação.

ANNA RAMALHO - Mais CPI


Mais CPI
ANNA RAMALHO

JORNAL DO BRASIL - 04/05/11

O senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) pediu novamente a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar o contrabando de armas e de drogas através das fronteiras brasileiras. De acordo com o parlamentar, o requerimento de criação da CPI da Fronteira já tem mais de 50 adesões de senadores. 

Só que... 


Para que seja criada, é necessária a conferência dessas assinaturas e a leitura do requerimento em Plenário. O número mínimo necessário é de 27 assinaturas.

De olho


Crivella defende que os senadores devem conversar com os colegas parlamentares de países vizinhos sobre a administração das fronteiras brasileiras. Falta de cuidado com as fronteiras do Brasil permite que armas derramem sangue e matem crianças. Segundo o senador, a CPI da Fronteira não é contra o governo, e sim a favor do Brasil. 

– É uma forma de proteger nossos jovens das drogas e das armas – concluiu.

Sua Alteza


Brasília se prepara para receber um nobre: o príncipe Albert de Mônaco, que baixa no Brasil semana que vem.

O principado não tem o peso da Casa dos Windsor, mas tem lá seu charme e a possibilidade de um convite para casório real. Sua Alteza, aos 52 anos, vai se casar com a nadadora Charlene Wittstock.

A vida de Jorge


Um filme sobre a vida de São Jorge está em fase de captação de recursos por uma produtora de filmes nacionais. Rodrigo Santoro é o nome mais cotado para viver o santo mais querido do Rio de Janeiro.

Almanaque do camaleão 

O jornalista e publicitário Mario de Almeida, autor de “Antonio’s caleidoscópio de um bar”, estará autografando “Almanaque do camaleão”, pela Léo Christiano Editorial, dia 9, na Casa de Cultura Laura Alvim, em Ipanema. Em seguida, haverá um talk show com Amir Haddad, Paulo José, Rogério Fróes e o próprio Mario.

Top 2

Ivete Sangalo anda pulando que nem pipoca com o sucesso que seu Multishow ao vivo – Ivete Sangalo no Madison Square Garden vem fazendo na Argentina. O disco é o segundo mais vendido naquele país.

Na terrinha

A baiana comemora também o sucesso do disco em Portugal. Ainda este mês, Ivete desembarca naquele país para fazer shows em Lisboa, Coimbra e na cidade do Porto. 

Alô, dona Dilma!


A batata inglesa, tubérculo que sempre serviu para forrar barriga de pobre, está quase batendo nos R$ 5.

Assim não dá.

Raspadinhas

O cirurgião plástico Ricardo Cavalcanti participa, entre os dias 6 e 11, do Congresso Americano de Cirurgia Plástica, em Boston, EUA. O brasileiro vai ministrar o curso de contorno corporal.

A coluna se associa a todas as manifestações de pesar pelo falecimento da jornalista Eliane Furtado, exemplo de vida, exemplo de luta.