domingo, setembro 08, 2013

ÍNDICE DAS POSTAGENS DE HOJE NO BLOG

Trocas íntimas entre estranhos - MARTHA MEDEIROS

ZERO HORA - 08/09


Alguns poucos leitores às vezes me confundem com conselheira sentimental e me revelam seus conflitos internos, acreditando que eu possa apontar um caminho para que eles vivam melhor. Logo eu! Escrevo sobre assuntos que me interessam e, se servirem para alguém, é uma honra, mas não me sinto à vontade e nem tenho preparo para entrar na intimidade de cada leitor em particular já me atrapalho o suficiente comigo mesma.

Mas já que todos gostam de conselhos, eu inclusive, uma dica posso dar: leia o livro Pequenas Delicadezas, de Cheryl Strayed.

Já falei dessa autora antes. Foi ela que percorreu sozinha uma trilha nos Estados Unidos e narrou a experiência no aclamado Livre, que frequentou a lista dos best-sellers. Eu nem imaginava que ela escrevia uma coluna de aconselhamentos. Pois me tornei fã declarada dessa mulher.

Pequenas Delicadezas é uma seleção de perguntas e respostas publicadas no site The Rumpus, mas de forma alguma é literatura de bisbilhotice, aquela coisa de olhar pelo buraco da fechadura dos dramas alheios, o que tantas vezes revela-se piegas.

Cada carta gera um ensaio em que Cheryl conta experiências próprias para ilustrar seu pensamento sobre as questões levantadas. Esbanjando sensatez (coisa que não anda sobrando por aí), ela equaliza causas e efeitos com docilidade, mas sem abusar do bom mocismo e sem encontrar solução para tudo.

Ao contrário, ela reconhece que a vida é bem sacana às vezes. Nossos pais nem sempre foram uns anjos, nossa infância “feliz” pode ter sido uma farsa e a maneira como estamos narrando nossa história para nós mesmos pode estar cheia de ficções que já não conseguimos sustentar. Dá para mudar o passado? Não dá. A única coisa que dá para mudar é a maneira como enxergamos tudo o que nos aconteceu (e ainda acontece) e ver o que é possível perdoar, esquecer ou redimensionar.

É comum considerar o escritor como uma espécie de guru – parece que ele é imune a problemas. Cheryl se atreve no papel e se dá como exemplo justamente porque sua vida não foi um passeio de carrossel.

Porém, ela encontrou suas ferramentas de superação – a própria coluna deve ser uma delas. Sem constrangimento e com absoluta empatia, envolve-se com a dor de quem lhe escreve, mesmo suspeitando que todos sabem direitinho o que devem fazer de suas vidas, só estão aguardando que alguém, mesmo um desconhecido, lhes dê uma espécie de licença. “Se é por falta de licença, sinta-se autorizado”, é o que ela parece dizer.

Pequenas Delicadezas não explora as churumelas do amor nem pretende ser um oráculo. Apenas confirma que viver não é fácil, mas é o que temos pra hoje.

Osso pensa? - FERREIRA GULLAR

FOLHA DE SP - 08/09

O filósfo tem necessidade de explicar o fato que o espantou, enquanto o poeta, não: ele só quer registrar o inexplicável


Quando pela primeira vez me dei conta de que meus poemas nasciam de um estado mental imprevisível, e o defini como um espanto, estava usando uma expressão de Platão. Ele afirmara que o conhecimento nasce do espanto.

Recentemente, tentei encontrar o texto em que o filósofo fazia tal afirmação e descobri que era no "Teeteto", quando atribui essa afirmação a Sócrates. Descobri também que a palavra grega que usa para espanto é "thaumázein", que significa também assombro, perplexidade, admiração.

Sim, é a mesma coisa que sinto quando me encontro na condição de escrever o poema. Espanto é realmente a palavra que define esse estado mental em que, de repente, a realidade se mostra inexplicada.

Isso pode ser provocado por qualquer fato, do mais raro ao mais banal, corriqueiro. E é o que mais me espanta: o meu fêmur que se choca com minha bacia, o ilíaco, e me faz, perplexo: "tenho dentro de mim um enorme osso, de que não me havia dado conta até este momento, em que senti chocarem-se, dentro de mim, um contra o outro. E a pergunta que surge é: eu sou esse osso? Esse osso sou eu? Formula essa pergunta, mas e osso, ele pergunta?".

Possivelmente, nem mesmo Platão seria capaz de responder a essas indagações, ou as responderia, mas depois de surpreender-se com essa espantosa descoberta: eu não sou apenas consciência, ideias, a pessoa que fala e pensa; sou também um enorme osso que bate no outro do mesmo modo que uma pedra se choca com outra pedra. E isso sou eu? Até onde o meu fêmur participa dessa minha indagação? Osso pergunta? Não, não pergunta.

Então devo concluir que sou uma consciência que pergunta e um osso que nada tem a ver com isso, é só matéria burra, como um mineral qualquer? Sou um ser consciente apoiado em osso que não tem nada a ver comigo? Mas como, se o sinto, se ele dói quando algo o atinge, e posso até morrer se quebra e infecciona? Ao que tudo indica, eu sou esse osso. Eu sou minha imaginação, meus desejos, minha reflexões, meus afetos e lembranças --e esse osso também.

Mas vamos retomar a questão principal que me fez escrever esta crônica: se o espanto é a origem tanto do conhecimento quanto do poema, significa que a filosofia e a poesia são a mesma coisa? Essa é uma pergunta difícil de responder, mas me atrevo a dizer, antes de qualquer especulação, que não, que filosofia não é a mesma coisa que poesia. Sim, não é; não obstante, não apenas ambas nascem do espanto, como ambas implicam em reflexão.

Certamente, nem toda poesia implica reflexão em nível equivalente ao da filosofia. Há poemas que nascem quase que magicamente das próprias palavras, fazendo-nos pensar que alguém, que não o poeta, é que os inventou. E há também poemas de encantamento, que se alimentam mais da fantasia e da paixão do que desse espanto que gera reflexão.

Voltando à relação dos dois espantos --o do filósofo e o do poeta-- vamos tentar deslindar o que os distingue e o que os aproxima. Até onde posso vislumbrar uma explicação para tal problema, diria que, no espanto, não há diferença entre o filósofo e o poeta, já que ambos são tomados, inesperadamente, da constatação de que não há explicação para o que acabam de perceber: osso pensa? Osso pergunta?

A diferença, então, estaria depois dessa constatação, que é diferente no filósofo e no poeta. Salvo, melhor juízo, acho que o filósofo tem necessidade de explicar o fato que o espantou, e o poeta não; o poeta quer apenas dizer que se espantou, que aquilo não tem mesmo explicação; o que ele deseja, em suma, é registrar o inexplicável, afirmar o insondável mistério da existência.

É nisso, creio eu, que os dois diferem, uma vez que seja próprio da filosofia explicar a existência. O filósofo não se conforma com inexplicabilidade do fenômeno que o espantou e, por essa razão, tem que explicá-lo, inseri-lo no sistema de pensamento que ele, filósofo, elabora na tentativa de tornar o mundo inteligível.

Admitir que não há explicação para a existência seria o fracasso da filosofia que, neste particular, situa-se no polo oposto ao da poesia. Sim, porque, para o poeta "só o que não se sabe é poesia".

E um beijo agradecido ao Caetano Veloso.

Papo de anjo - ADRIANA CALCANHOTTO

O GLOBO - 08/09

As pedras das ruas de Paraty, é sabido, exterminam qualquer possível traço de elegância no andar de seus transeuntes, mas Dona Cleonice chegou a esse jantar carregada numa liteira literária.

No último dia 28 comemorou seu aniversário de 97 anos a professora Cleonice Berardinelli. Pensando nela nesse dia, elucubrei sobre o que seria sua receita para tamanha vitalidade, sabedoria e conhecimento, e me lembrei do que ela disse à moça que lhe sussurrara o menu de um jantar em sua homenagem. “De tudo um pouquinho.”

As pedras das ruas de Paraty, é sabido, exterminam qualquer possível traço de elegância no andar de seus transeuntes, mas Dona Cleonice chegou a esse jantar carregada numa liteira literária. Dona Cleo contou-nos da sua atuação no “Auto da Alma”, de Gil Vicente, ainda bem jovem. No primeiro ensaio fez o papel de Alma; e sua colega, o do Anjo Custódio. Assim que finalizaram, o diretor decretou “troquem de papéis!”, e Dona Cleo tornou-se então “o Anjo”. Em performance tão arrebatadora que Manuel Bandeira publicou a respeito, no “Jornal da Manhã”, “o anjo era lindo (Cleonice Seroa da Mota), falava com a dupla autoridade da fé e da poesia” e no “momento de comoção”, que lhe umedecera os olhos de poeta. Ela tentou continuar a contar algo sobre ele, mas alguém perguntou se ela gostaria de vinho. Ela aceitou. Ele serviu.

Eu perguntei:

— E então, Dona Cleo, e o Manuel Bandeira?

— Ah, sim, o Manuel...

Aí alguém fez uma pergunta sobre algo relativo às profundezas do âmago de Ricardo Reis. Ela respondeu, até o fundo. Contou ainda que Bandeira, a respeito dos heterônimos, disse que via claramente, em cada um deles, “Fernando Pessoa querendo sair de seu drama”.

Me atravessei logo depois da última palavra:

— A senhora ia contando outra coisa sobre Bandeira...

— Ah, sim, o Manuel, ele...

Alguém ergueu uma taça, e brindamos ruidosos, com alegria infinda, à saúde de Dona Cleo!

Na leitura que fizera mais cedo, alguém do público perguntou se ela já não se sentia um, ou se não gostaria de vir a ser um, heterônimo de Fernando Pessoa, tal a intimidade com a obra do poeta, ao que respondeu: “Não gostaria, é incômodo ser Fernando Pessoa, ele não foi feliz”.

Logo antes, quando surgiu no palco da tenda da Flip, e a plateia levantou-se aos aplausos, ejetada das cadeiras, ansiosa para começar a fazer o que adora, que é ler Fernando Pessoa, foi direto às folhas com os poemas.

<SW,-16>Daí mergulhou nas palavras, nos recônditos, nos labirintos pessoanos. A plateia embasbacou. Não contente, chamou ao palco Maria Bethânia, que entrou, plena de felicidade, engraçada, sacana, fazendo meu queixo cair até os joelhos e por ali permanecer pela hora e meia seguinte.<SW>

Dona Cleo e Bethânia leram “à beira-mar” os principais heterônimos (Álvaro de Campos, Alberto Caeiro e Ricardo Reis), os poetas do poeta Fernando Pessoa. Por dentro. Pelas vísceras e vírgulas de cada um.

Uma dada hora ouvi “...mar sem fundo...”, e aquilo me atingiu como um caldo feio de uma onda brava. E foi assim, ainda zonza, que cheguei, não me perguntem como, no jantar para Dona Cleonice.

Soterrada pelos convivas, redigindo dedicatórias exclusivas para cada livro, me cochichou “virei popstar” com olhar de coleguice e prosseguiu assinando e sendo fotografada e assinando e sendo fotografada. Saí da mesa para dar espaço aos ávidos paparazzi que se revelaram os comensais, mas tive a impressão de ouvi-la dizer “...deira” e voltei à minha cadeira às cotoveladas:

— O que, Dona Cleo?

— O Bandeira, estava aqui contando...

— O que, Dona Cleo?

— Que Manuel era perdido por doce! Todo aniversário dele, fazia eu mesma os papos de anjo que ele tanto amava. Embrulhava com celofane, laços de fita e ia lá entregar.

Surpreendida, me ouvi perguntar:

— Dona Cleonice, o que é, hein, afinal, essa ligação dos poetas com os papos de anjo? Vinicius de Moraes disse que não havia nada como comer um pote de papos de anjo ao lado da mulher amada (ao que Rubem Braga retrucou: “ele está gagá, qualquer um sabe que não há nada como comer a mulher amada ao lado de um pote de papos de anjo”).

Proibido pelo médico de comer açúcar, Vinicius assaltava a geladeira sem ninguém saber, até a primeira criatura a abrir a porta de manhã dar de cara com os gelados óculos do poeta, lá dentro, ao lado de uma compoteira de papos de anjo, vazia.

Dona Cleo:

— Olha, acontece que...

E alguém:

— Dona Cleonice! Duas horas da manhã! Agora vamos!

Acabou-se o que era doce, fim do meu papo com “o Anjo”, ele se foi na sua liteira.

Os fantasmas - LUIS FERNANDO VERISSIMO

O ESTADÃO - 08/09

Armas químicas são produtos do engenho humano, como qualquer outra arma. São mais repugnantes porque associamos química à vida e não à morte, apesar de todos os venenos que ela produz. Mas o universo moralmente neutro e sem remorsos em que elas são desenvolvidas e usadas é o mesmo.

Mikhail Kalashnikov criou o mais usado fuzil automático do mundo, o AK-14. Não sei se já morreu, mas vivia uma aposentadoria tranquila nos Urais, cercado pelas filhas. Fora a surdez, resultado dos anos testando armas, não ficou com nenhuma sequela do seu trabalho. Certamente nenhum remorso. Orgulhava-se do que tinha feito pela pátria.

A simplicidade e a eficiência do AK-14 foram responsáveis pela sua adoção universal depois do aparecimento do primeiro protótipo, e ele chegou a ser o produto mais exportado da União Soviética. Se foi usado em guerras sujas, massacres e assassinatos em todo o mundo, inclusive na Rússia, isso não era da conta de Mikhail, que só fez o seu trabalho. Nenhum fantasma shakesperiano perturbou o seu sono nos Urais, como os fantasmas que visitaram Ricardo III antes da sua batalha final para lhe dizer “Desespere e morra”.

J.Robert Oppenheimer foi visitado por milhares de fantasmas. Depois do triunfo do programa do qual ele era o diretor científico, com as explosões atômicas bem sucedidas em Hiroshima e Nagasaki, ele festejou alegremente com sua equipe. Depois teve uma crise de consciência e uma transformação.

Ele e a equipe não tinham apenas feito seu trabalho e criado uma arma eficientíssima, com brilhantismo. Tinham dado à luz um monstro inédito no mundo e provocado a mais radical intervenção da ciência na vida humana desde que esta existia. Isto e os mortos assombraram o resto da vida de Oppenheimer. Ele se opôs à construção da bomba de hidrogênio e foi considerado um pouco penitente e filosófico demais para continuar à frente do programa nuclear americano, sendo substituído pelo mais pragmático Edward Teller. “Let me sit heavy in thy soul”, que eu pese na sua alma, diziam os fantasmas vingativos de Ricardo. O maior feito da ciência na História pesou na alma de Oppenheimer até o fim.

Sarah Winchester conseguiu driblar os fantasmas. Ela era a viúva de William Winchester, filho do fabricante do fuzil Winchester, “o rifle que conquistou o Oeste”. Além de usado para eliminar coiotes, índios e outros entraves à ocupação do Oeste bravio, o Winchester – uma arma tão revolucionária, na sua época, quanto a máquina de matar de Kalashnikov – chegou ao mercado pouco antes de começar a Guerra da Secessão americana, que fez a fortuna da família.

Sarah e William tiveram uma filha, Annie, que morreu ainda bebê, começando o que Sarah identificou como uma danação sobre a sua família. Pouco depois, William também morreu, de tuberculose, confirmando para Sarah que o nome Winchester vinha carregado de pragas e maus presságios. Aconselhada por uma amiga, procurou uma médium que lhe disse que os espíritos de todos os mortos pelos rifles Winchester eram os culpados pela maldição. Eles tinham levado sua filhinha e seu marido como retribuição, e a única maneira de Sarah fugir dos espíritos seria comprar uma casa e aumentá-la continuamente.

Construir novas peças, puxados, andares, anexos, terraços, alas – sem parar. No dia em que parasse a construção, segundo a médium, Sarah também morreria. Os espíritos chegariam a ela e também a levariam. Sarah comprou uma casa em San Jose, na Califórnia, e pôs-se a aumentá-la. As obras duraram, sem interrupção, até o dia da sua morte e a casa – que ainda existe, e hoje é uma atração turística em San Jose – chegou a ter sete andares, antes de ser parcialmente demolida por um terremoto, que Sarah atribuiu aos espíritos enraivecidos.

Sarah era sua própria arquiteta. Construiu corredores que levam a lugar nenhum, escadas para o nada, portas que dão no espaço e dezenas de quartos. Dormia num quarto diferente à cada noite, para enganar os espíritos. Pode-se imaginar uma horda variada de fantasmas abatidos pelo Winchester – soldados, bandidos, índios, mexicanos, tantos quanto os fantasmas de Hiroshima e Nagasaki – perdida no casarão atrás de Sarah, que conseguiu ludibriá-los até os 85 anos, quando morreu.

Times com mais de uma cara - TOSTÃO

FOLHA DE SP - 08/09

O Cruzeiro, além de não ter um único artilheiro, faz gols pelo centro, pelos lados, pelo chão e pelo alto

O futebol pode ser visto e analisado de várias maneiras, como um jogo de habilidade, inventividade, técnica, estratégia, acasos, capacidade física, emocional, e de variados comportamentos humanos.

Sentimentos de medo, ambição, orgulho, alegria, tristeza, generosidade e tantos outros estão presentes. As equipes costumam ser contraditórias, intuitivas e científicas, surpreendentes e planejadas, reprimidas e audaciosas.

Tento ver um jogo com vários olhares. Muitas vezes, não consigo. Eles não se entendem. Um olhar se acha mais importante que o outro. São todos relevantes.

Um profissional do futebol e de qualquer área não pode ser tão arrogante, utópico e incrédulo, para desprezar a enorme importância da ciência esportiva e da estatística, nem tão pragmático e operatório, para ignorar a grande importância das experiências individuais, das particularidades, do subjetivo e do que não pode ser medido.

No futebol, há milhares de verdades, dogmas, frases feitas e chavões que não correspondem à realidade.

Ouço muito que um time tem a cara do treinador. Precisa ter a cara também dos jogadores. O Bayern, dirigido por Guardiola, amante das curtas trocas de passes e da infiltração de alguém para receber a bola livre e dentro da área, tem jogado como no ano passado, quando era dirigido pelo alemão Jupp Heynckes. O Bayern trocava também muitos passes, como hoje, porém, com mais velocidade, além de fazer muitos gols em jogadas aéreas.

Isso não significa que o Bayern despreze os conhecimentos e as orientações de Guardiola. O time usa várias armas ofensivas. Se quisesse jogar como o Barcelona, o Bayern teria de contratar um Messi, um Xavi. Os grandes times têm a cara dos técnicos e, principalmente, de seus principais jogadores.

O Cruzeiro, como o Bayern, respeitando as grandes diferenças técnicas, também faz muitos gols pelo chão, trocando passes, e pelo alto, em bolas cruzadas.

O Barcelona, com Neymar, terá também mais de uma cara. Já deu sinais de que vai usar mais os dribles e as jogadas em velocidade, nos contra-ataques.

Na final da Copa das Confederações, o Brasil parecia o Bayern do ano passado, que goleou e eliminou o Barcelona, base da seleção espanhola. Será que o Brasil vai repetir essa grande atuação no Mundial, já que devem estar presentes os mesmos favoráveis fatores extracampo?

Contra a fraquíssima Austrália, foi mais uma ótima atuação do Brasil. Os gols e a maioria das chances nasceram na recuperação da bola, com frequência, no campo do adversário. É a marcação por pressão, a grande arma estratégica do time. As excelentes atuações de Jô, Bernard, Ramires e Maicon reforçam minha opinião de que o Brasil só tem três titulares que fazem muita falta, Neymar, Thiago Silva e Marcelo.

Artes do photoshop - HUMBERTO WERNECK

O Estado de S.Paulo - 08/09

Esgotada a pauta, o almoço de trabalho virou aquilo que meu amigo Fernando Paiva chama de "almoço de negócio": um diz um negócio... outro diz outro negócio... Meus companheiros de mesa eram executivos bem formais, desses cujas mães a gente pode imaginar, gestantes, a tricotar terninhos e gravatinhas de lã. Na falta de assunto que se instalou, passaram a falar do meu currículo - no qual nada lhes interessou mais do que o fato de ter eu trabalhado na redação da Playboy.

Excelentes entrevistas! - comentou um dos comensais. Ótimos artigos! - exclamou outro. Como quem não quer nada, foram se acercando, cada vez mais desinibidos, do tema inescapável da mulher pelada. Só não abriu a boca, pouco à vontade que parecia estar, o presidente da empresa, homem maduro com perfil de exemplar chefe de família.

Verdade que usávamos recursos técnicos para aplainar verrugas, estrias e celulites? - quis saber um deles. Na certeza de que iria agradar, enveredei pelo relato de bastidores da redação, onde, exagerei, não cessávamos de contabilizar façanhas na luta contra imperfeições da natureza. A história da musa de capa, por exemplo, cujos dedos, na foto, resultaram deformados, o que nos obrigou a trocar aquela mão por outra - dela mesma, garimpada entre dezenas de poses alternativas. Um caso único, talvez, de centauro montado com pedaços de um mesmo ser. E ninguém percebeu? Ninguém! - disse eu, com o orgulho de quem tivesse posto em circulação, sem levantar suspeitas, uma nota de 100 dólares feita em casa.

Para deixar claro que não nos faltava também humildade, contei do dia em que um desastrado operador do photoshop, ao retocar enorme close de nádegas, apagou o pequeno porém relevante acidente geográfico entre elas aninhado.

Ia falar do bafafá que o desastre provocou entre os leitores, ou melhor, vedores - mas para pasmo geral nesse momento o presidente da empresa, estilhaçando a circunspecção, berrou na ponta da mesa, tonitruante como um jogador de truco: "Sheila Lopes!" - para em seguida baixar o rosto e murmurar, varado de vergonha corporativa, "Os srs. me perdoem...", voltando a ser o irrepreensível chefe de família que sempre foi.

***

E agora?, me perguntei, mal pus os pés no saguão do hotel. Qual daqueles sujeitos de terno - todos, inequivocamente, pessoas jurídicas - seria o meu amigo de adolescência?

Fazia décadas que não nos víamos - desde o tempo em que (isso já contei, mas você talvez não tenha lido, ou não prestou atenção), ali pelos nossos 13 anos de idade, ele bolou e construiu, com um motorzinho de 1/4 de cavalo e tirinhas de couro, uma estrovenga cujo nome, masturbarola, já diz tudo e que na estreia por pouco não lhe custou o sacrifício de crucial apêndice de sua anatomia. Agora, ao telefone, sua voz emerge do passado: está na cidade para fechar negócios e faz questão de me ver. Poderia apanhá-lo no hotel às 8 da noite?

E lá estava eu, incapaz de distinguir na massa de executivos algum que pudesse ter inventado a masturbarola. Podia ser qualquer um - até mesmo aquele, hipopotâmico, que, preenchendo toda uma poltrona, a custo se pôs de pé e veio na minha direção, balangando mãozinhas de gordo e arrastando um corpanzil que meu abraço não daria conta de abarcar. Por pouco não conseguiu se encaixar no banco do carona de meu Corsa, que sensivelmente adernou ao acolher tamanha tonelagem.

No restaurante, eu ainda custava a crer que tinha à minha frente, empenhado em devastar a cesta de pãezinhos do couvert, o outrora frugal companheiro de colégio. Foi então que me lembrei de um velho comercial de produto para emagrecimento, desses que só encontram quem os veja no meio da madrugada e em canais nanicos. Grotesco, e só por isso inesquecível: empalada num espeto giratório, uma colossal pelota de banha se ia aos poucos derretendo, até que, despencada toda a gordura, revelava-se a esbelta Vênus de Milo. Como se exposto ao bafo quente de uma churrasqueira - ou de um photoshop? -, a figura à minha frente pareceu aos poucos liberar-se da enxúndia acumulada em anos, voltando a ser o meu comparsa de adolescência, só lhe faltando sacar do bolso o projeto de uma engenhoca que havia bolado para economizar repetitivos e gratificantes esforços manuais.

Ueba! Dilma tá no Ponto G 20! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 08/09

Obama vira Obomba! Avisa pro Obama que bombardear pela paz é como trepar pela virgindade


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! E a manchete do Piaui Herald: "Câmara dos Deputados será transferida para o presídio da Papuda".

E vai mudar de nome. Sugestões: Associação Recreativa Delúbio Soares, Mosteiro José Sarney, Casa da Mãe Joana e Recanto do Beira Mar!

E sugiro um nome mais atual: Hospedaria do Zé Dirceu! Rarará! Presídio da Papuda muda de nome para Hospedaria do Zé Dirceu!

E o deputado Danadão tá organizando a Bancada da Papuda! E a espionagem do Obama? Obama descobre que Dilma prefere o Habib's que o McDonalds.

E ataca a Síria! Obama descobre e-mail explosivo da Dilma: "Maaantega, me manda mais uma vida do Candy Crush".

E o chargista Zedassilva revela que Obama descobre que a Dilma dorme de pijaminha de Che Guevara. Aqueles de flanela com estampa do Che Guevara.

E adorei a charge do Aroeira com o Mantega tomando banho e a Dilma batendo na porta: "Lava bem atrás da orelha. O Obama está nos espionando".

E o Obama descobre que o Lula não sabia de nada! Rarará! E a Síria? Obama vira Obomba! Avisa pro Obama que bombardear pela paz é como trepar pela virgindade. E avisa pro Obama que Nassiria não fica na Síria, fica no Iraque.

E avisa pro Obama que arma química é o arroto de quibe do Habib's. Derruba o Assad e até a Muralha da China. E avisa pro Obama que arma química é a minha sogra quando esquece de tomar Gardenal! E o Obama é Nobel da Paz. Tudo bem, o Nobel foi inventor da dinamite!

E o G-20? O Geme 20: todo mundo gemendo. Ai, não tenho dinheiro. Ai, o euro acabou! Ai, a situação tá grega! Reunião dos ex-ricos e falidos. Tipo Iate Clube em que os sócios ficaram pobres!

E o Putin tem cara de vilão de 007. Vilão de filme de James Bond. From Russia with Love! Putin é aquele presidente que já vem com raiva.

E a Angela Merkel tem cara de ressaca de Oktoberfest. E a Dilma tá parecendo o Kung Fu Panda! E a Dilma como primeira presidenta mulher do Brasil, lançou o PONTO G 20!

Os presidentes têm que adivinhar onde fica o ponto G da mulherada. Eu sei, no shopping. Rarará!

Nóis sofre, mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Outro fracasso - LUIS FERNANDO VERISSIMO

O GLOBO - 08/09

Estou escrevendo sem saber se já atacaram a Síria. O que dá para saber sem esperar os fatos é que, mais uma vez, as Nações Unidas não tiveram nada a ver com o assunto. A ONU é um monumento aos melhores sentimentos humanos e ao mesmo tempo uma prova de como os bons sentimentos pouco podem, portanto um monumento à inconsequência.

O fracasso da ONU na sua missão mais importante, que é evitar as guerras, torna as suas outras mil e uma utilidades supérfluas. Pouca gente sabe tudo o que a ONU faz nos campos da saúde, da agricultura, dos direitos humanos etc. como pouca gente sabia que a Liga das Nações, sua precursora, também promovia cooperação técnica entre nações e programas sociais, além de tentar inutilmente manter a paz. O principal ideal que a ONU herdou da Liga foi o do debate substituindo a guerra e a racionalidade superando as desavenças tribais. Nisso, suas únicas diferenças da Liga das Nações são que uma sobrevive à frustração que liquidou a outra e tem a adesão dos Estados Unidos, que a outra não tinha.

Apesar de o presidente americano durante a Primeira Guerra Mundial, Woodrow Wilson, ser um entusiasta da Liga que acabaria com todas as guerras, o Congresso americano rejeitou a participação dos Estados Unidos na organização, o que matou Wilson de desgosto. O Congresso aprovou a entrada do país na ONU depois da Segunda Guerra, mas a antipatia continuou. O desdém pela ONU ou por qualquer entidade supranacional é uma constante do conservadorismo americano. E no entanto, a ONU já dura mais do que o dobro do que durou a Liga das Nações. Ela também é um monumento à perseverança sem nada que a justifique.

Talvez se deva adotar a ONU como símbolo justamente dessa insensata insistência, dessa inconsequência heróica. Com todas as suas contradições e frustrações, ela representa a teimosia da razão em existir num mundo que teima em desmoralizá-la. Pode persistir como uma cidadela do Bem, na falta de palavra menos vaporosa, nem que seja só pra gente fingir que acredita neles, na ONU e no Bem, porque a alternativa é a desistência. É aceitar que, incapaz de vencer o desprezo e a prepotência dos que a desacreditam, a idéia de uma comunidade mundial esteja começando a sua segunda agonia.

A Liga das Nações durou até 1946 mas agonizou durante 20 sangrentos anos até morrer de irrelevância. A ONU depois de mais este fracasso, só terá levado mais tempo para se convencer da sua própria irrelevância.

O lugar da alma - HÉLIO SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 08/09

SÃO PAULO - Deu na "Ilustrada" que uma novela da Globo vai discutir a reencarnação. Não entendo nada de novelas, mas a ideia de reencarnação já fez algumas aparições na história da filosofia, com o mais elegante nome de metempsicose (termo grego que designa a "transmigração da alma"), o que dá ensejo a um par de reflexões.

A ideia de que existe uma alma que sobrevive ao corpo e sai por aí animando outros seres só ganhou algum destaque na filosofia porque foi encampada por Platão. Não dá para discutir aqui os motivos que o levaram a aceitar essa tese (há até quem debata se aceitou mesmo), mas vale registrar que ela resolve um problema e cria uma infinidade de outros.

A grande vantagem é que ela permite postular um mundo mais estável, no qual o número de almas teria sido estabelecido no início dos tempos. Assim fica mais fácil extrair um propósito para as coisas. Uma das dificuldades para as doutrinas religiosas que não aceitam a reencarnação é encontrar um sentido para a morte de bebês e embriões, por exemplo. Por que diabos Deus criaria uma alma e a destruiria logo em seguida?

As complicações da metempsicose não são, entretanto, menores. A mais óbvia é empírica. Se todas as almas já existem desde sempre, como chegamos a 7 bilhões de seres humanos? Onde estavam todos antes?

Talvez mais grave seja o fato de que, para funcionar, a doutrina da reencarnação depende do esquecimento das vidas passadas. Ora, hoje podemos afirmar com alguma segurança que é a memória que constitui a identidade de um indivíduo. Sem ela não sobra muita coisa, como o atestam as demências severas.

E tudo fica mais complicado se trouxermos outros achados recentes para a discussão, como as evidências de que a própria consciência é resultado de múltiplas sensações corporais ligadas em paralelo. Será que ainda resta um lugar para a alma? Suspeito que não.

Reformas garantidas - JOÃO UBALDO RIBEIRO

O ESTADÃO - 08/09

Enquanto somente os governados pobres iam para as penitenciárias, tudo bem que fossem pocilgas infectas. Mas, agora que eles podem ser presos, convém prevenir e melhorar logo as penitenciárias



Nossa memória é fraca e nossa atenção é convocada o tempo todo por um volume de informações e solicitações incalculável e cada vez maior. Cumpre-se a conhecida previsão de Andy Warhol, segundo a qual, no futuro, todo mundo será famoso por quinze minutos. O futuro a que ele se referiu já chegou e a profecia pode ser complementada pela constatação de que novos famosos instantâneos pipocam a cada dia e outros tantos submergem no esquecimento, o prazo de validade vence rápido. Portanto, não é impossível que já exista quem já não recorde direito o episódio do deputado presidiário, apesar de sua divulgação maciça. Mas, ainda que atrasado, pretendo falar no assunto.

Alguns outros acontecimentos deixam os dedos coçando para escrever um comentário. Teve o apagão e o curioso resultado que ele costuma gerar no Brasil, ou seja, uma alta figura do governo, em conversa com a imprensa depois de qualquer apagão, elogia copiosamente nosso sistema de energia elétrica e o equipara aos de Nova York, Copenhague ou Tóquio. Novos apagões, novos elogios, é uma rotina que daqui a pouco se tornará tradição venerável e chegaremos ao dia em que, acendendo velas no meio da noite, não reclamaremos, por sabermos que, escuridão ou não, temos um dos melhores sistemas do mundo, o homem disse.

Ocorreu-me também o caso do senador boliviano. É claro e inequívoco que o diplomata Eduardo Saboia agiu da forma imposta por princípios e valores universais e humanistas, com os quais o governo alega da boca para fora comungar e usa os pesos e medidas que lhe convêm em cada caso. Não sei se a comparação é inteiramente válida, mas, do ponto de vista de um observador neutro, o tratamento dispensado àquele presidente deposto da Nicarágua é grotescamente oposto ao recebido pelo senador, em nossa embaixada na Bolívia. Lembro o nicaraguense, de chapéu de caubói e riso ancho, despachando e quase numa festa, em nossa embaixada em Manágua. Os princípios e valores por trás do gesto do diplomata sempre foram superiores até mesmo à lei escrita. Para os juízes dos criminosos nazistas, não colou — e não devia mesmo colar — a desculpa de que estes obedeciam a ordens, ou cumpriam o que as leis determinavam. É claro que Eduardo Saboia agiu como um homem de coragem, brio e retidão moral, arriscando sua carreira, mas não, em última análise, sua honra. Isso, porém, junto a nosso governo, tem efeito contrário ao que devia ter, assim como, sem querer fazer inteira comparação, acontecia durante o Terceiro Reich. E dá lenha para a fogueira para quem acha que, no Brasil, quem obedece a princípios é otário e vai dar-se mal, pois aqui não medram princípios, a não ser os que interessam ao poder.

E mais coisas se oferecem, como a descoberta — da pólvora, mas todo mundo finge que não — de que os serviços de inteligência americanos espionaram e com certeza continuam a espionar governo e gente importante de todas as áreas de atividade no Brasil, até mesmo a presidente. Imagino que, na visita dela à Casa Branca, na hora da conversinha preliminar informal, ainda diante dos fotógrafos, o presidente Obama, cortesmente, iniciará o papo.

— É uma viagem muito longa — dirá ele. — Espero que a senhora tenha se recuperado bem do cansaço da viagem.

— Sem dúvida — dirá ela. — Eu dormi cedo.

— Eu sei — dirá ele e logo, notando o fora, levará a mão à boca. — Oops!

Bem, acaba não sobrando muito espaço para o deputado. Ele diz que é inocente, mas quem já conversou com presidiários sabe que quase todos são inocentes. E ele foi condenado em última instância, oficialmente é criminoso. Mas ele e os encapuzados morais da Câmara de Deputados, que votam escondido porque têm o que esconder, vão acabar nos legando pelo menos uma reforma, das inúmeras de que precisamos e ninguém faz. Duas reformas, aliás, pelo menos. Uma delas eu saquei logo pela fala dele. Ele se queixou da qualidade da comida, de tomar banho de água fria e assim por diante. Essa, com certeza, é a sementinha que vai levar à urgente reforma penitenciária de que precisamos. O conforto nos chamados estabelecimentos prisionais assume prioridade, porque vários deputados, num contexto mais decente, estariam há muito em cana e — quem sabe do incerto futuro? — poderão um dia ir, já há precedente. Como eles são invariavelmente muito sensíveis a seus próprios interesses, agora essa reforma penitenciária sai. Enquanto somente os governados pobres iam para as penitenciárias, tudo bem que fossem pocilgas infectas. Mas, agora que eles podem ser presos, convém prevenir e melhorar logo as penitenciárias, esse negócio de água fria é um absurdo. Uma das queixas do deputado presidiário foi a de que estava sendo tratado como um preso comum. Que é que ele é, senão um preso comum? Por aí se vê como eles acham que são uma categoria à parte e devem ser privilegiados.

A segunda reforma não tem tanta urgência, mas vai logo prosperar. Será elaborado e aprovado o Código Penal do Parlamentar. Já é hora de os parlamentares contarem com sua própria justiça. O mais importante é a definição das penas específicas para eles. Inspirados no que acontece com ministros e outros figurões que são pilhados em conduta imprópria ou ilegal, as penas estabelecidas poderão começar com o já popular puxão de orelhas metafórico. Várias outras opções certamente serão consideradas, tais como ficar até dois meses sem sobremesa, gravar um vídeo para a televisão em que fala “foi mal”, e escrever cem vezes, com boa letra e sem borrões, “Estou envergonhado e não roubo mais”. Ninguém poderá queixar-se de que eles não fazem reformas.

Um dia aventuroso - CAETANO VELOSO

O GLOBO - 08/09

Agora vejo aqui que eles puseram a foto na rede e logo alguém tuitou que sou oportunista e incito a violência. Não. Entendo que Black Bloc faz parte. Mas nem anticapitalista convicto eu sou. E quero paz.


Nossa carta pedia a atenção do secretário para a necessidade de um protocolo de ação da polícia durante as manifestações. Na conversa com ele, reiteramos a necessidade do esclarecimento do que ocorreu com Amarildo; quisemos entender por que a polícia, que atirara gás e balas de borracha na multidão que se aproximava da casa de Cabral na Praia do Leblon, sumiu quando poucas dezenas depredavam bancos e lojas na Ataulfo de Paiva; sugerimos o abandono do uso de balas de borracha; exigimos que pessoas imobilizadas não mais fossem vistas apanhando. O secretário é mais inteligente se tem tempo para desenvolver suas ideias do que parece ser nos poucos segundos em que o vemos na TV. E ele parece sincero. Mais do que tudo, expõe as enormes dificuldades que enfrentará quem tente fazer a polícia passar para um patamar diferente daquele em que está há séculos. As UPPs, grande trunfo do governo estadual, são obra sua. Todos os que foram falar-lhe reconhecem quão importante é o que elas esboçam. Dói em todos que elas estejam com o prestígio ameaçado. Uma profunda necessidade de Waismann nos havia levado ali. Ele precisa que as manifestações sejam pacíficas: descobriu que a violência não é arma eficaz. O 7 de Setembro vinha sendo anunciado como um dia de grandes demonstrações. Muito poderá ter se definido nesse dia.

Estou escrevendo ao chegar em casa, de volta, não da secretaria, mas do apê da turma da Mídia Ninja. É que Sidney queria falar com alguém que estivesse mais perto dos manifestantes. Saímos da Central, ele, Olga Bronstein, Yvonne Maggie e eu, de metrô, rumo à Zona Sul. Paramos no Largo do Machado, elas seguiram de táxi, e nós dois fomos comer sashimi. Sidney estava certo de que havia uma reunião da Mídia Ninja na UFRJ e me arrastou com ele. Chegamos ao enorme prédio da universidade e ninguém sabia nos dizer onde se dava a tal reunião. Numa portaria indicada, o porteiro fez umas ligações para descobrir. Daí apareceu uma moça, bonita e elegante em sua simplicidade, e nos disse que Carioca estava num apartamento ali em frente. Sidney ainda perguntou se a reunião era lá. Não era “a” reunião, mas eles estavam lá e queriam falar conosco. Andamos com ela. Carioca nos encontrou na faixa de travessia de pedestre. Muito doce, ele foi conversando até entrarmos no apê. Tudo muito limpo e alegre. Contava que um membro do Black Bloc tinha ido à reunião da véspera e que os aconselhara a não sair no dia 7. Eles, blocs, iam, mas os outros não deviam ir. Perguntei se isso seria uma ameaça. Não parecia, ele disse. Contava mais para mostrar como os discursos dos manifestantes têm sido variados. Repetia sempre a palavra querida dos Fora do Eixo: “narrativa”. Mas a conversa dele era boa. Ele explicava o sentido de certos atos violentos, mas entendia os argumentos de Sidney. Um outro rapaz e uma outra moça estavam na sala quando chegamos. Já no meio do papo chegou uma terceira. Só a menina que nos levou até eles não é moradora. Nem mesmo ninja. Ela é da Maré e vive em Parada de Lucas. Diz que prefere ação a palavras. Mas fala muito bem. Desiludiu-se com as UPPs, nas quais tinha posto fé no início. Mas conta que o pai, morador da Maré, é defensor da inovação de Beltrame. Essa conversa foi muito reveladora da alma do Rio neste momento. Antes disso, os ninjas me pediram para gravar uma fala sobre a proibição do uso de máscaras. Eu sou apenas um velho baiano mas moro aqui há muitos anos e acho que proibir máscaras numa cidade como o Rio é violência simbólica. E sugeri que no dia 7 todos saíssem com máscaras, respondendo com beleza e sem violência. Daí eles me pediram para posar com uma camiseta preta atada ao rosto para eles mostrarem a Emma, que, segundo eles, gostou do meu texto sobre ela. Agora vejo aqui que eles puseram a foto na rede e logo alguém tuitou que sou oportunista e incito a violência. Não. Entendo que Black Bloc faz parte. Mas nem anticapitalista convicto eu sou. E quero paz.

Dna político - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 09/08

Eleitor de Lula e Dilma, Ratinho dá espaço a adversários da dupla e diz que não sabe ainda em quem votará em 2014; após colocar autoridades no espaço antes destinado a bizarrices, elogia a Globo por ficar "brega" para ter mais audiência

Ratinho leva Eduardo Campos (PSB-PE) até a saída do estúdio do seu programa no SBT, após entrevistar o governador de Pernambuco, e volta ao camarim. Prepara-se para retornar ao palco e mediar a briga dos participantes de mais um Teste de DNA.

"Ele [Campos] é uma novidade boa. É um cara de decisão, já provou ser bom administrador. Está pronto para ser presidente. O Aécio [Neves] também", diz. Sua atração noturna, antes território exclusivo de anônimos e artistas populares, passou a abrir espaço para personalidades públicas e figuras polêmicas, no quadro semanal Dois Dedos de Prosa --ou "Dois Dedos de Próstata", como brinca com a equipe.

"Trago alguém que tem alguma coisa para falar. É para dar audiência e atrair um público que não está habituado ao programa", diz Ratinho ao repórter Joelmir Tavares.

Em meio a debates sobre homofobia, recebeu os deputados Marco Feliciano (PSC-SP) e Jean Wyllys (PCdoB-RJ) e o pastor Silas Malafaia. E não escolhe partido: convida do governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP) aos ministros Alexandre Padilha (PT-SP) e Aldo Rebelo (PCdoB-SP).

Os presidenciáveis Aécio Neves (PSDB-MG) e Marina Silva (sem partido) também ficaram de frente com Carlos Massa. "Meu programa tem a obrigação de politiquizar... poli... Não consigo falar essa palavra [a assessora o ajuda]. Politizar melhor a população. Não tem só a Dilma [Rousseff] de candidata."

Ratinho, que foi vereador no Paraná e deputado federal antes de estrear na TV, em 1996, tem ligação umbilical com a política. Seu filho mais velho, Ratinho Júnior (PSC-PR), segundo colocado na disputa pela Prefeitura de Curitiba em 2012 e secretário de Beto Richa (PSDB-PR), aparece bem nas pesquisas para o governo estadual em 2014.

"Ele não é candidato", sentencia o pai. "Sou eu que pago as contas. E não vou dar dinheiro nem vou me envolver em campanha para governador. Tenho meus negócios para cuidar." Mas confirma que o herdeiro tentará ser deputado estadual ou federal. Se a popularidade paterna ajuda? "Sou polêmico. Metade gosta, metade odeia."

Ratinho é daqueles que amam o ex-presidente Lula, de quem se diz amigo. "Meu assunto com ele é falar de bobagem, de pescaria, de futebol. Não toco em política."

Acredita ter isenção para entrevistar qualquer pessoa. "Não misturo as coisas." Defende rotatividade no poder. "Não sou esquerda nem direita. O PT já ficou dez anos. Pode até ganhar de novo. Mas sou contra essa ideia de que está todo mundo do mesmo lado, sabe? Senão temos o risco de virar uma Venezuela."

A participação de Lula e Fernando Haddad (PT-SP) no programa, a quatro meses do primeiro turno em 2012, rendeu multa de R$ 10 mil da Justiça Eleitoral, por propaganda antecipada. "Paguei. O Lula era meu convidado e me avisou dois dias antes: Posso levar o Haddad?'. Como é que eu digo: Não, não pode'? Na minha cabeça, não teria problema. Agora sei que não pode falar que é candidato."

Declara-se eleitor de Lula e Dilma, mas ainda não sabe em quem votar em 2014. Considera o julgamento do mensalão "correto" e diz que o Bolsa Família "já dá ao candidato do PT 40 milhões de votos, do povo pobre". Descarta retornar à política. "Sou um bom apresentador. Mas fui um deputado medíocre. Se voltasse, seria um ditador. Ia brigar com metade do Brasil."

Aos 57 anos ("parece 40, né?"), Ratinho oscila entre o segundo e o terceiro lugar em audiência, com média de 7 pontos e picos de 10.

No SBT, é sócio da atração. Gastos com produção e lucros com merchandising são divididos com Silvio Santos ("a melhor pessoa que tem no mundo"). Não revelam valores do contrato, que vai até 2015. Amanhã o canal fará programa especial para festejar 15 anos de Ratinho na casa. Ele, que ficou "chateado" por passar oito meses fora do ar, em 2006, hoje está feliz.

O mesmo Carlos Massa que mexe os braços, fala alto e pontua frases com palavrões no camarim é o Ratinho que entra no palco e faz as 130 pessoas da plateia bater palmas e cantar. "O programa é um circo." Divide a cena com pelo menos dez humoristas --um deles, Marquito, virou vereador em São Paulo, pelo PTB, com 22 mil votos.

O programa, famoso por explorar barracos e bizarrices, agora tem quadros de comédia, concursos de talentos e jogos. "Meu público hoje é bem inteligente." Aposentou o cassetete, mas não se arrepende do sensacionalismo. "Quem tem que dar cultura não é a TV, porra. É a escola!"

Ele mantém o Teste de DNA --que é gravado para corte de palavrões e pancadaria entre participantes interessados em esclarecer casos de paternidade-- porque ainda não encontrou "outra coisa que dê tanta audiência". Ratinho intervém em momentos tensos. Um segurança já saiu da gravação com a orelha vermelha, após separar uma briga.

Em sua defesa, o apresentador diz que os advogados do quadro ajudam as famílias. "Quando o camarada chega aqui, já brigou com todo mundo." As noites de quarta são de encontros musicais. "Coloca aí: a Regina Casé me copiou", ri, citando o dominical "Esquenta!", da Globo. Diz que o canal concorrente acertou ao "bregar" em busca de audiência das classes C e D.

No camarim com imagens de Nossa Senhora, o animador diz que é cedo para fazer cirurgia plástica. "Não sou vaidoso. Só passo uma tintinha no cabelo e no bigode. Já fiz um negócio de laser lá para tirar a papada."

É dono de cinco afiliadas do SBT no Paraná, rádios, fazenda e hotel. "Poderia fazer como o Faustão: pegar o dinheiro, pôr no banco e tocar a vida. Mas faço como o Silvio. Dou empregos, tento crescer. Não é só usufruir no Brasil, mas aplicar nele também."

Tem um avião para ir a Curitiba, onde a família mora, embora afirme levar uma vida simples. "Saí da pobreza, mas ela não saiu de mim." Ao mesmo tempo que diz não ter nascido para o luxo, ele sabe como quer morrer. "Na TV. Fazendo palhaçada."

GOSTOSA


Uma nova CPMF? - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 08/09

A presidente Dilma e seus líderes debatem amanhã, no Planalto, o financiamento da Saúde. O governo é contra carimbar 10% da receita bruta do Orçamento para o setor, em análise no Senado. Mas quer mais dinheiro para a Saúde, mesmo alegando que não tem de onde tirar. O Executivo quer dividir o drama, esperando que os aliados tomem a iniciativa de sugerir uma nova CPMF. 

O TCU verde 
O Tribunal de Contas se prepara para ampliar seus poderes. O atual presidente, João Augusto Nardes, vai lançar um programa de fiscalização dos 107 parques nacionais e 140 estaduais nos estados da Amazônia Legal. O tribunaijá fez um mapa com 15 indicadores de qualidade e classifica os parques nas cores verde, amarelo e vermelho, nos casos de maior degradação. A ideia é pressionar governos estaduais, o Ibama e a pasta do Meio Ambiente para que ampliem suas ações na defesa da floresta. O tribunal pretende ainda avaliar a qualidade dos gastos e o resultado das ações de conservação e recuperação. “O nosso caminho é a especialização diz Nardes. 

“Se chegarmos ao ano que vem divididos, como fizemos em 2002 e 2006, vamos perder de novo as eleições presidenciais” 
José Anibal 
Deputado federal (SP) e Secretário de Energia do governo Alckmin 

O acordo 
O vice Michel Temer fez a costura. O Senado aprova o texto do fim do voto secreto da Câmara, mas mantém só o item do voto aberto para cassações. A Câmara esquece o fim de todos os votos secretos e confirma a redação do Senado. 

A senha 
Dois fatos convenceram o presidente do PPS, deputado Roberto Freire ( SP), que o ex-governador José Serra não deve sair do PSDB. Serra disse não a convite para participar de reunião da direção do partido na última quinta-feira, em Vitória ( ES). Serra também se negou a ocupar inserções do PPS nos dias 14, 17, 19 e 24 deste mês. 

Descompasso 
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), cobra agilidade da Câmara e reclama “de falta de reciprocidade nas votações’ O Senado aprovou 34 dos 36 projetos da “agenda positiva” pós manifestações de junho. Dessas, 20 estão paradas na Câmara. Renan afirmou que esta situação “desequilibra o bicameralismo” e “deteriora a relação entre as duas Casas’ 

Por que parou? 
Entre os projetos parados na Câmara estão o que torna corrupção crime hediondo; o que proíbe cônjuge ou parente de ser suplente de senador; e o que reduz o número de assinaturas para apresentação de projetos de iniciativa popular. 

Administrando as divergências 
A direção do PSB não quer expulsar o governador Cid Gomes e o ex-ministro Ciro Gomes por causa do apoio à presidente Duma Rousseff. O partido pretende contemporizar pelo crescimento da sigla e buscará “conviver com o fogo amigo’ 

O desembarque 
A candidatura do governador Eduardo Campos (PE) à Presidência é considerada líquida e certa no PSB. Mas o partido não vai desembarcar agora do governo Dilma. Os seus ministros estão orientados para sair em março do ano que vem. 

BATENDO BUMBO. A presidente Dilma fará evento no Planalto, segunda-feira, para sancionar os 50% dos royalties do pré-sal para Educação e Saúde. 

Voto aberto - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 08/09

Às vésperas da decisão do Supremo Tribunal Federal que definirá se cabem ou não embargos infringentes para condenados no mensalão, Ricardo Lewandowski questiona: "A prevalecer a tese de que o multicentenário embargo desapareceu dos tribunais superiores porque não foi expressamente previsto em lei, o que dizer sobre as dezenas de infringentes que o STF julgou nos últimos 23 anos, após a edição dessa lei, inclusive em matéria penal? Foram mera ficção jurídica?"

Como faz? 
Lewandowski também aponta outra questão, referente aos embargos de declaração e outros recursos da ação penal não previstos na lei 8.038/90: "Também seriam abduzidos do regimento interno do STF e do Código de Processo Penal?"

Yin-yang 
Mais uma vez, a argumentação do ministro é oposta à de Joaquim Barbosa, presidente da corte, que já se manifestou contrariamente aos recursos que podem mudar o resultado do julgamento. Outros magistrados afirmam ser imprevisível o placar sobre os infringentes.

Vai que dá 
O governo Fernando Haddad (PT) fez as contas e espera aprovar a ampliação da Operação Urbana Água Branca na quarta-feira, com apoio de vereadores de oposição. Após três meses de debate, seus auxiliares apostam em votação unânime.

Mimos 
Para chegar a um acordo na Câmara Municipal, a prefeitura precisou se comprometer a ampliar a oferta de equipamentos urbanos, como escolas e postos de saúde, nas áreas abrangidas.

Em casa 1 
Um buraco de grandes proporções aberto semana passada na rua onde Haddad mora, no Paraíso, gerou queda de braço entre a prefeitura e a Sabesp.

Em casa 2 
Após chuva de reclamações, a empresa informou aos moradores que o buraco foi causado pela galeria de águas pluviais, de responsabilidade municipal.

Sujeito oculto 
O Solidariedade fará no dia 25, em Brasília, um evento para transferir oficialmente a presidência do partido a Paulinho da Força (SP). Ele ficou fora das fichas de registro da sigla para tentar manter sigilo sobre a nova legenda.

Agenda 
Dirigentes calculam que o processo de criação do Solidariedade será votado no TSE na terça-feira.

Salto 
Também na terça-feira, dirigentes da Rede entregarão ao TSE um novo pacote de assinaturas de apoio certificadas. Eles estimam que terão, nessa data, 400 mil fichas validadas, ainda abaixo das 492 mil exigidas para registro do partido.

Reação 
As críticas feitas pela Rede à lentidão da Justiça Eleitoral no processo de certificação das assinaturas aceleraram o trabalho de parte dos cartórios, mas algumas seções reagiram mal. Há Estados em que o índice de rejeição das fichas aumentou.

Festa 
A pedido de Lula, o PT adiou do dia 13 para o dia 14 a participação do ex-presidente no encontro do partido na região metropolitana de São Paulo, ao lado de Alexandre Padilha. O ex-presidente pediu a troca para poder comemorar no evento o aniversário do ministro da Saúde.

Hora extra 
Padilha e caciques do PT paulista pediram aos deputados estaduais do partido que conversem com parlamentares de outras siglas na Assembleia Legislativa e os convençam a apoiar a candidatura do ministro.

Na urna 
O PSB acertou que Alexandre Kalil, presidente do Atlético-MG, deve disputar o Senado em Minas. O presidente da sigla, Eduardo Campos, deve ir a Belo Horizonte para assinar a filiação do dirigente do clube.

Tiroteio

O ministro Joaquim Barbosa diz que aceitação é eternizar o julgamento. Não aceitar é eternizar a injustiça.
DO ADVOGADO LEONARDO ISAAC, defensor de Simone Vasconcellos no processo do mensalão, sobre o impasse em torno dos embargos infringentes.

Contraponto

Poder de síntese

No jantar organizado pelo PSDB paulista para comemorar os 25 anos do partido, na última segunda-feira, o governador Geraldo Alckmin avisou que pretendia encurtar seu discurso para não irritar os convidados, e contou uma piada que ouvira de um correligionário.

-Na Roma antiga, um cristão que havia sido jogado em uma arena com um leão, prestes a ser devorado, foi até o animal, disse algo em seu ouvido e o leão fugiu.

Alckmin contou que o imperador chamou o cristão e perguntou o que ele havia dito ao leão.

-Ele só avisou: "Depois do banquete, tem discurso!".

Disputa nada pacífica - LUIZ CARLOS AZEDO

CORREIO BRAZILIENSE - 08/09

A presidente Dilma Rousseff vai à Organização das Nações Unidas (ONU) propor uma “nova governança contra invasão de privacidade” na internet, que defina normas e mecanismos para coibir a violação de direitos ou espionagem de quaisquer países. Para o Brasil, não se justifica o argumento de que atos de espionagem são decorrência de uma estratégia de combate ao terrorismo.

“O Brasil é um país que não tem conflitos étnicos, não tem conflitos religiosos, não abriga grupos terroristas e tem, na sua Constituição, expressamente, que nós vedamos o uso e a fabricação de armas nucleares”, disse. Segundo Dilma, a espionagem não tem nada a ver com segurança nacional, mas com fatores geopolíticos e estratégicos ou comerciais e econômicos.

Exato. O Brasil corre o risco de virar marisco num embate entre uma potência naval, os Estados Unidos e uma potência continental, a China, pelo controle do comércio global, cujo eixo se deslocou do Atlântico para o Pacífico e ocorre no terreno comercial e financeiro via internet. Esse embate resulta de uma nova divisão internacional do trabalho, na qual a China tornou-se o centro da produção de bens de consumo, e a vocação natural do Brasil é ser a maior potência produtora de commodities de minério e de produtos agrícolas. Por isso, nosso principal parceiro comercial deixou de ser os Estados Unidos e passou a ser a China, mesmo que ao preço da nossa desindustrialização.

América Latina
Essa disputa entre os Estados Unidos e a China já instalou-se na América Latina. A Aliança do Pacífico reúne tradicionais parceiros norte-americanos, como o México, a Colômbia e o Chile, para uma parceria com a China. Argentina, Bolívia, Uruguai e Venezuela, no Mercosul, estão fora da órbita política norte-americana. Mas Barack Obama ainda tem muitas cartas na manga, uma delas é o controle da internet por seus serviços de inteligência.

Oriente Médio
Nesta “guerra virtual” entre os EUA e a China, a Rússia tenta restabelecer sua influência na Ásia e na África Oriental e retomar o “grande jogo” contra a França e a Inglaterra, que não querem perder negócios nas ex-colônias. Se os Estados Unidos deixarem de ser o xerife do Oriente Médio e o Irã ampliar seu poder militar na região, a reação de Israel e das monarquias árabes, como Arábia Saudita e Jordânia, será uma luta de vida ou morte contra as repúblicas islâmicas. O Brasil trombou com os Estados Unidos no caso do Irã e, agora, se alia à Rússia, à China e ao próprio rã no caso da Síria. Entrou em briga de cachorro grande.

Guerra Civil
A guerra civil na Síria, que divide o G20, já deixou 110 mil mortos e 2 milhões de refugiados

Ásia e Europa
Nunca houve tanta oportunidade para o surgimento de uma real governança mundial, apesar do enfraquecimento recente da ONU. O declínio da hegemonia norte-americana, porém, não levará ao multilateralismo e à paz global por gravidade. A situação é delicada. O Japão e a Alemanha não aceitarão estoicamente o fortalecimento da Rússia e da China. O manto protetor dos Estados Unidos está à prova no caso da Síria. Os japoneses estão se rearmando pra valer por causa da China, a Alemanha irá pelo mesmo caminho, inexoravelmente, se as ex-repúblicas soviéticas da Europa Oriental se sentirem inseguras em relação à Rússia.

Caiu a ficha
A presidente Dilma Rousseff encomendou, antes de viajar para a Rússia, o desfile do Sete de Setembro mais enxuto possível, pois pretendia permanecer na Esplanada apenas uma hora e meia, logo após desembarcar de volta da longa viagem. O resultado foi o desfile mais mixuruca dos últimos tempos. Com mais soldados na segurança do que marchando, a parada serviu para mostrar como estamos despreparados para a guerra eletrônica. Um blindado antiaéreo alemão de segunda mão e duas viaturas equipadas com radares soltando muita fumaça foram os destaques. E, sem a Esquadrilha da Fumaça, o xodó do público foi a histórica Bateria Caiena dos Dragões da Independência, cujos canhões são puxados a cavalo.

Desconfiança
Boa parte da vulnerabilidade do governo à espionagem norte-americana pode ser atribuída à desconfiança da presidente Dilma Rousseff e seus auxiliares em relação à Abin. O Criptogov, o drive desenvolvido pela agência para ser instalado nos computadores e usado pela presidente e os ministros, já em operação no Itamaraty, nunca foi levado a sério no Palácio do Planalto. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também era contra aparelhar a Abin. Tinha medo de ser espionado pelos seus arapongas. Além disso, o santo da presidente Dilma não bate com o do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general José Elito.

Affair
No dia em que o Brasil celebrou sua Independência, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, apresentou à República sua nova namorada, a jornalista Tássia Alves. Os dois foram juntos ao desfile cívico na Esplanada dos Ministérios. Padilha é pré-candidato do PT ao governo de São Paulo.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 08/09

Passados cinco anos, VR volta ao mercado de cartões de benefícios

A VR - Vale Refeição, que chegou a ser a maior empresa do segmento antes de ser vendida à francesa Sodexo por R$ 1 bilhão, em 2007, está de volta ao mercado na antiga especialidade.

Desde a venda da operação, quando se comprometeu a não atuar com benefícios para trabalhadores por cinco anos, a companhia manteve a área de processamento de cartões com chip, mas sem ter os seus próprios cartões.

A expectativa da empresa agora é retomar em três anos os 20% de market share que tinha em 2007.

"O nosso desafio, mais que meta, é ter de R$ 8 bilhões a R$ 9 bilhões em volume transacionado pelos cartões em 2016", afirma Claudio Szajman, presidente da VR.

Para atingir essa marca, a empresa vai comercializar cartões por meio de corretoras de seguros.

Nos últimos anos, a distribuição de vales de benefícios passou a ser feita inclusive por agências dos bancos.

"Nossa estratégia tem de ser diferente daquela de anos atrás. Fechamos com seis das principais corretoras do Brasil e faremos acordo com as regionais também," diz. "Nem teremos área comercial própria para tratar com os RHs, como fazem as tradicionais do mercado." A remuneração será uma participação nos contratos.

A VR estima ter parcerias com 20 corretoras até o final deste ano. "Mas no Brasil há 35 mil corretores. Vamos competir nas grandes e médias empresas, mas vamos buscar também o pequeno empreendedor", acrescenta.

Corretoras de seguros ampliam oferta de serviços

A comercialização dos cartões da VR é mais um passo na diversificação de produtos vendidos pelas corretoras, que hoje vão além da oferta de seguros como os de veículos, imóveis ou vida.

"Além dos seguros, já oferecíamos serviços como a gestão de folha de pagamentos para empresas, mas como um produto mesmo é o primeiro na Brasil Insurance", diz o sócio Paulo Kalassa.

"Até o final deste ano queremos ter 100 mil cartões emitidos com o nosso nome. Normalmente, a média de corretagem é de 0,3% a 0,5% do valor da fatura."

A corretora tem 1,7 milhão de vidas seguradas, de acordo com Kalassa.

Na corretora JRB&B, a venda de cartões de alimentação também é o primeiro produto comercializado além dos serviços oferecidos aos RHs, segundo o executivo José Julio Nunciarone Bonfanti.

"É mais uma fonte de captação de clientes que talvez a gente não tivesse na gestão dos seguros", diz João Luiz Herreros, da MBS, que atende cerca de 300 empresas.

DA ESPANHA PARA O NORDESTE

A Indra, multinacional espanhola de tecnologia, fechou um contrato de R$ 49 milhões com o Banco do Nordeste para a implantação de softwares.

Os sistemas são destinados à gestão de áreas como recursos humanos, logística, patrimônio e contabilidade.

"A ferramenta vai integrar diversos setores, o que traz benefícios como a redução de custos de manutenção", diz Emilio Díaz, presidente do grupo no Brasil.

O atendimento ao mercado financeiro é um dos que mais avançam na companhia, seguido de segmentos como energia, telecomunicações e infraestrutura, de acordo com o executivo.

Hoje, um terço da receita da empresa envolve negócios feitos na América Latina, dos quais 40% no Brasil.

€ 3 BILHÕES

foi o faturamento global da companhia no ano passado, o que equivale a cerca de R$ 9 bilhões

7.500

é o número de funcionários da multinacional no país

Cai nível de endividamento de famílias paulistanas

O número de famílias paulistanas endividadas diminuiu 4,4 pontos percentuais em agosto, segundo pesquisa da FecomercioSP. No mês passado, 52,6% delas tinham algum tipo de dívida. Em julho, eram 57%.

Apesar da retração, os índices de endividamento mantiveram uma oscilação entre 50% e 57% nos meses de abril a agosto --nível saudável, segundo Fernanda Della Rosa, economista da federação.

"O consumidor está tentando se equilibrar após os baques do dólar e da inflação e segurar as dívidas para chegar tranquilo no Natal", diz.

O cenário difere de 2004, quando foi registrada uma onda de superendividamento, com oscilação do indicador entre 60% e 72%.

Famílias de renda baixa foram as mais afetadas pela alta dos preços e tiveram menor queda (2,9 pontos percentuais). As com renda superior a dez salários mínimos recuaram 8,4 pontos percentuais.




Luz... A multinacional britânica Dialight, de tecnologias para iluminação, terá uma unidade no Brasil, em Jundiaí (SP). A empresa vai trabalhar com a montagem de luminárias de LED e terá capacidade anual de 25 mil unidades.

Beleza... A Belcorp, multinacional peruana do setor de cosméticos, vai abrir um novo centro de distribuição em Cabo de Santo Agostinho (PE). O objetivo é fortalecer a expansão da empresa nas regiões Norte e Nordeste.

Base... A AGX, empresa de São Carlos (SP) que fabrica veículos aéreos não tripulados, vai instalar sua primeira unidade no exterior.

...importada As partes serão importadas de outras fábricas do grupo nos Estados Unidos, no México e na Inglaterra. A implantação teve apoio da Investe SP (Agência Paulista de Promoção de Investimento e Competitividade).

...peruana O local será responsável por aproximadamente 30% do volume nacional de vendas. A empresa tem outros dois centros logísticos no país, em Jundiaí (SP) e Sumaré (SP). O grupo teve faturamento de US$ 1,9 bilhão em 2012.

...americana A filial ficará nos Estados Unidos. O objetivo da companhia é ganhar espaço no mercado agrícola norte-americano.