sexta-feira, abril 29, 2011

TUTTY VASQUES - Só tem tantã!


Só tem tantã!
Tutty Vazques 
O Estado de S.Paulo - 29/04/11


No fundo, no fundo o que todo psicanalista faz no consultório é, de certa forma, ensinar maluco a ser doido, ou seja, a conviver bem com suas esquisitices, sem se perturbar muito com sintomas aparentes. "De perto", como dizia Belchior, "ninguém é normal"! No divã, aprende-se, basicamente, a olhar pra dentro e não se assustar com a paisagem inquietante de um ser humano virado às avessas.
O que é completamente louco na relação da promotora Deborah Guerner com seu psiquiatra é que, pelas imagens que documentam aquele psicodrama fajuto, a patologia dos dois era tratada como farsa. O que a gente viu nos telejornais da semana é um maluco tentando ensinar a outro como se comporta um doido. Peralá! Medo de "secador de cabelo de cabeleireiro", para efeito de diagnóstico judicial, francamente, não é coisa que dê credibilidade à insanidade de ninguém!
Se a paciente queria se passar por doida no tribunal, bastava orientá-la a ser ela mesma diante do juiz. Afinal, alguém que produz provas contra si diante das câmeras de segurança de sua própria casa, cá pra nós, não bate bem das bolas, né não?

Quase espanhol
Só nos EUA mesmo, né? Faz muito mais sentido, pelo menos aqui no Brasil, dizer que o Messi não é lá muito argentino do que duvidar que o Obama seja americano nato.
A luta continua
"QUEM GARANTE QUE A CERTIDÃO DE NASCIMENTO DO OBAMA TIRADA EM HONOLULU NÃO É PIRATA?"
Donald Trump, prometendo apresentar nos próximos dias 10 certidões com datas diferentes de seu próprio nascimento, todas registradas em cartório na capital do Havaí.
Destemido
De um homem rico que comprou carro popular para não chamar a atenção de bandidos, sobre o Chevrolet Captiva oficial do comandante-geral da PM paulista, coronel Alvaro Batista Camilo: "Eu também já tive um desses e me roubaram!"
Mal comparando
Se Moreira Franco assumiu o comando do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, francamente, qual o problema em dar uma vaga no Conselho de Ética do Senado a Renan Calheiros? Só porque ele é nordestino, caramba?
Passo a passo
Adriano já está indo a shopping no Rio. Pelos cálculos dos médicos do Corinthians, quando voltar aos bailes funks estará pronto para arrebentar no Timão.
Bem lembrado
Leitor não esquece: "Por falar em promotora doida, cadê aquela procuradora que torturava a menina que pretendia adotar no Rio?!" (Severino Araújo)
De repente, né?
Dilma Rousseff cumpre agenda hoje no Rio. Capaz de cruzar com o Aécio Neves por lá, né? 

SURUBA NA CASA DA VAGABUNDA MARTA SEXOPLICY




Como previra Delúbio, mensalão vira mesmo piada de salão entre petistas
Maria Lima e Gerson Camarotti

O GLOBO - 29/04/11

Jantar na casa de Marta Suplicy festeja volta ao partido de seu ex-tesoureiro

BRASÍLIA. O mensalão virou piada de salão ontem no jantar oferecido pela senadora Marta Suplicy (PT-SP) para comemorar a eleição de seu aliado Rui Falcão (SP) para a presidência do PT e a volta ao convívio petista do companheiro Delúbio Soares, operador do esquema que desviou R$55 milhões para financiar apoios de partidos aliados. Ontem, a Executiva Nacional do PT recebeu a carta de Delúbio com o pedido de refiliação, que deverá ser aprovado hoje no Diretório Nacional. Mas, ontem mesmo, ao fim de várias reuniões, a decisão era votar e aprovar tudo rapidamente, tanto a volta de Delúbio quanto a eleição de Rui Falcão para a vaga de José Eduardo Dutra até 2013.

A certeza sobre a volta de Delúbio era tanta que, além da festa, seus companheiros previam que em dois dias o assunto estará morto na opinião pública. A mulher de Delúbio, Mônica, foi braço-direito de Marta na prefeitura de São Paulo.

- Eu sou católico. Para uma pessoa obter um perdão é preciso quatro coisas: o pecado, o arrependimento, a penitência e a promessa de que não vai pecar de novo. Perfeito, só Deus! As críticas à aprovação da volta do Delúbio não seguram dois dias de manchete de jornal - disse o deputado Jilmar Tatto (PT-SP), do grupo de Marta e Rui Falcão.

Delúbio lembra sua tentativa de refiliação em 2009

Paralelamente à reunião da Executiva, as várias correntes do partido com representantes no Diretório Nacional analisaram o pedido de refiliação do ex-tesoureiro, um dos 39 réus do processo do mensalão. No pedido, Delúbio lembra sua fidelidade e diz que nunca se filiou a outra legenda. Em tom emocional, apela: "Eu sou PT de formação e de coração, portanto quero voltar a militar no partido". Ele lembra que, em abril de 2009, encaminhou pedido de refiliação, mas acabou retirando por recomendação da direção do PT, que temia impacto negativo na campanha de Dilma Rousseff.

No fim do dia, acompanhado de Mônica, Delúbio fez uma defesa emocionada de sua volta, durante reunião na sede do partido. Segundo presentes, Delúbio ficou com a voz embargada mas segurou o choro.

- A minha identidade política é a mesma do PT. Preciso da minha identidade política de volta - pediu Delúbio.

Sua fala surtiu efeito. Outros petistas se emocionaram e o reconfortaram. O deputado Sibá Machado (PT-AC) e o dirigente Francisco Rocha, o Rochinha, quase choraram.

- Ele segurou o choro e ficou muito emocionado. Mas agora sinto que o Delúbio está feliz e aliviado, na boa - contou o secretário de Comunicação André Vargas(PT-PR).

Havia dúvidas se o pedido de refiliação de Delúbio seria incluído na pauta do Diretório Nacional a partir de hoje. Na corrente majoritária Construindo um Novo Brasil (CNB), a maioria defendia que fosse votado já.

- Uns querem esperar o julgamento do Delúbio no STF. Mas e se não julgar? Vamos jogar o cara aos leões? Quando vai ser esse momento de resolver isso? - defendeu Jorge Coelho, membro da Executiva e secretário nacional de Mobilização do PT.

O presidente do Diretório do PT em Goiás, Luiz Sérgio Bueno, nega que uma condenação de Delúbio no Tribunal de Justiça, por ter apresentado documentos falsos para continuar recebendo salário como professor da rede pública, o impeça de concorrer a uma vaga de vereador por Goiânia em 2012. Delúbio foi condenado a devolver aos cofres públicos R$164,6 mil, além de ter suspensos direitos políticos por oito anos.




TUDO DOMINADO




Opinião

A VOLTA formal de Delúbio Soares ao PT é fato coerente com a escolha de Renan Calheiros, Romero Jucá e Gim Argello, entre outros, para o Conselho de Ética do Senado.

REAFIRMA A frouxidão moral na política brasileira como um todo. A começar pelos partidos.

ILIMAR FRANCO - Corpo Estranho


Corpo Estranho 
ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 29/04/11

A bancada do Nordeste não aceita o nome de Miguel Terra Lima para a presidência do Banco do Nordeste. Ele foi escolhido pelo ministro Guido Mantega (Fazenda). Governadores, senadores e deputados nordestinos consideram a indicação uma “afronta”, porque Terra Lima é de outro banco, o BB, e de outra região, a Sul. Ele é de Santa Catarina. Mantega, no entanto, insiste.

Mordomia só para heteros?

A senadora Marta Suplicy (PT-SP) propôs ontem, na reunião da Mesa Diretora, estender a licença-gala, que concede uma semana de folga para quem se casar, a uniões homoafetivas. Valeria só para funcionários do Senado. Constrangidos, os integrantes da Mesa ignoraram a proposta e passaram para outro item da pauta. Em outra frente, duas funcionárias do Senado, homossexuais, reivindicaram
o benefício. Relatora do processo, Marta deu parecer favorável, mas seu relatório ainda não foi votado. Os titulares da Mesa são: José
Sarney (AP) e Wilson Santiago (PB), do PMDB; Cícero Lucena PSDB-PB), João Ribeiro (PR-TO), João Claudino (PTB-PI) e Ciro Nogueira
(PP-PI). 

"Os deputados preferem se arriscar indo para o PSD porque a oposição está se desmanchando” — Cândido Vaccarezza, líder do governo na Câmara (PT-SP)

SOCORRO. Cerca de 20 deputados do PMDB apertaram anteontem o líder da bancada, Henrique Alves (RN), por causa da perda da presidência da Funasa. Acuado, ele chamou o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), para ajudá-lo. O senador disse que tinha conversado com o ministro Antonio Palocci (Casa Civil) e que todas as reivindicações do partido seriam atendidas, apesar de o novo presidente ser petista.

Consolo 
Preterido para a presidência da Funasa, Ruy Gomide será o diretor de engenharia da fundação. Ligado ao PMDB, Gomide atualmente
é superintendente da Funasa em Goiás. Ele era o nome do líder do PMDB, Henrique Alves (RN).

A discórdia
Há dois itens sem acordo para a votação do novo Código Florestal. O PT não aceita a anistia para os desmatadores ilegais nem que
os pequenos produtores que desmataram suas terras sejam dispensados da Reserva Legal.

Cadeira cativa
O movimento sindical perde mais uma batalha no governo petista. Contra a vontade de sete entidades, o governo Dilma resolveu reconduzir o cearense Lucas Furtado ao cargo de procurador-geral do Ministério Público junto ao TCU. Ele exerce essa função como
titular ou interino desde 1999 e em maio ele completa 12 anos no cargo. Em janeiro, as entidades sindicais divulgaram manifesto pedindo renovação.

Dobradinha 
Por sugestão do deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), o presidente da Comissão de Reforma Política do Senado, Francisco Dornelles(PP-RJ), incluiu a realização de um referendo para que os eleitores digam sim ou não ao voto em lista.

Restos a pagar
A presidente Dilma Rousseff bateu o martelo. Os restos a pagar de 2007 e 2008, relativos a obras iniciadas de fato, serão pagos. Quanto ao ainda não executado do orçamento de 2009, foi adiada a decisão por dois meses, até 30 de junho.
 COMPENSAÇÃO. Marcelo Melo (PMDB), candidato a vice na campanha derrotada de Íris Rezende ao governo de Goiás, ganhará uma diretoria da Conab.
 O EX-DEPUTADO Indio da Costa, agora no PSD de Gilberto Kassab, convidou o deputado estadual Gerson Bergher para entrar no novo partido.
● O PRESIDENTE Lula fala sobre eventuais conflitos com a presidente Dilma Rousseff: “Não existem divergências, porque o dia que eu e ela discordarmos, ela estará certa”.

ANCELMO GÓIS - Cotas de Barbie


Cotas de Barbie
ANCELMO GÓIS
O GLOBO - 29/04/11

A Educafro, ONG de frei David dos Santos, promete, no Primeiro de Maio, “ocupações pacíficas” em unidades das Lojas Americanas.
Entre as reivindicações, a contratação de afrodescendentes para cargos de chefia e que pelo menos 20% das bonecas expostas para venda sejam negras. 

Maconha no STF
Em maio agora, o plenário do STF vai decidir se quem participa dessas marchas da maconha, Brasil afora, faz ou não apologia do crime, já que a droga é ilegal. O relator é o ministro Celso de Mello.

Segue...
A ideia é criar uma jurisprudência, porque há decisões desencontradas sobre o tema em vários estados. No Rio, como foi dito aqui ontem, a Justiça liberou a marcha, dia 7, em nome do direito constitucional que garante a liberdade de expressão. 

Cotação
Antonio Palocci passará a ser conselheiro da Petrobras. 

De saída 
Quem deixa a Vale hoje é Carla Grasso, diretora de Recursos Humanos e Serviços Corporativos. 

Diva francesa
Catherine Deneuve confirmou presença no Festival Varilux de Cinema Francês 2011, que acontecerá em 22 cidades brasileiras, entre 8 e 16 de junho, com dez filmes inéditos.

Buckingham é aqui

O pessoal do programa de Luciano Huck, na TV Globo, descobriu na periferia de São Paulo um casal “real”. Ele, William, é metalúrgico.
Ela, Kati, está desempregada. Os dois plebeus vão se casar amanhã à tarde.

Viva Neuzinha!
Fábio Fabrício Fabretti finaliza uma biografia de Neuzinha Brizola, que morreu quarta-feira. No livro, ela fala da relação com o pai, Leonel Brizola, e como conheceu o traficante colombiano Pablo Escobar. Segundo o escritor, Neuzinha, no último encontro, teria dito:
“No dia do meu velório, tome um porre. Não gosto de caretices.” Fábio cumpriu o desejo. 

Ritmo de tango
A canção “Emoções”, de Roberto e Erasmo, vai ganhar uma versão em ritmo de tango num anúncio da Nestlé. A empresa, numa promoção, levará 90 pessoas a Buenos Aires para ver um jogo do Brasil, na Copa América, em julho. 

Pelé na Argentina...
Aliás, a embaixada do Brasil em Buenos Aires planeja levar para a cidade, ainda este ano, uma exposição do Museu do Futebol, de São Paulo. 

Trinta anos depois

Beth Carvalho estava em 1981 no show do Dia do Trabalhador, no Riocentro, que a ditadura tentou abafar com bombas. Domingo, nossa cantora se apresenta em outra festa de Primeiro de Maio, na Quinta da Boa Vista, em plena democracia. 

Portinari em 3D
Trinta pinturas de Candido Portinari (1903-1962) vão virar esculturas de uns 2m cada, num projeto batizado de D’aprés Portinari, da fundação que leva o nome do genial brasileiro. São feitas pelo artista plástico Sérgio Campos. Dilma, na visita hoje ao Palácio Capanema, conhecerá a primeira, “Súplica”, inspirada em “Guerra e paz”.

Verde desbotado
A área de Meio Ambiente da CSN se desintegra. Depois de perder o gerentegeral Gérson Álvaro, ontem foi a vez da responsável pelo
setor em Casa de Pedra, MG, Thaís Oliveira. A empresa tem sido multada, acusada de desleixo com meio ambiente. 

Boas práticas
Para disseminar práticas inovadoras premiadas em oito anos do Instituto Innovare, será firmado terça, em Brasília, um convênio entre a instituição e o TST. 

Cena carioca 
Quarta, por volta de 20h, uma parceira da coluna ouviu o seguinte papo entre duas camelôs na Rua das Laranjeiras: — E o casamento do príncipe, hein? Coitada da Kate...
— Ué.. por quê?
— Dizem que a mãe do príncipe é uma megera! Há controvérsias.

ZONA FRANCA
 O Cine Joia, em Copacabana, reabre hoje com sessões a partir de 14h30m, especialmente escolhidas para os apreciadores de filmes de qualidade.
 A cantora Vicky Gibran lança hoje música do casamento real no Youtube.
 Os artistas peruanos Luz Maria e Eulógio lançam CD de música latino-americana no Bip Bip, hoje.
 O coronel Jorge Silva faz palestra hoje na Brown University, nos EUA.
 O portal Comernaweb promove venda de comida pelo Facebook.
 Mercedes West abre hoje exposição de coleção de joias na Dona Coisa.
 Cyd Alvarez, da ABP, é o Publicitário do Ano no Prêmio Colunistas Brasil.
 A prefeitura de Meriti inaugura hoje a Lona Cultural Serginho Meriti.
● A Loosho.com completa um ano.

LUIZ GARCIA - Nem aí?


Nem aí?
LUIZ GARCIA
O GLOBO - 29/04/11

Se um deputado federal se afasta da Câmara, quem o substitui? A resposta não é tão simples como parece. Assume a cadeira o suplente imediato, claro - mas qual suplente? 

Acontece que as bancadas podem ser formadas tanto por partidos como por coligações - e há espaço para uma animada discussão. Qual suplente é mais legítimo representante do eleitor que votou no titular?

Até pouco tempo atrás, ministros do Supremo Tribunal Federal, em decisões liminares, optaram pelos suplentes do mesmo partido do deputado que se afastara. Esta semana, numa goleada de dez a um, o STF concordou com a Mesa da Câmara: a vaga pertence ao suplente da coligação. O que tem mais importância do que pode parecer: pelo menos aparentemente, a decisão enfraquece os partidos. O que não comoveu os ministros.

Pelo visto, quase todos eles acreditam que o sistema partidário brasileiro é bastante fraco por sua própria natureza. Como disse a ministra Ellen Gracie, os partidos revelam "total ausência de ideologia". E arrematou Cezar Peluso: "Todos têm um programa, o problema é que nenhum deles segue o seu programa..."

A decisão do tribunal obviamente fortalece as coligações, em prejuízo dos partidos. Na verdade, ela é a constatação de um estado de coisas, nada mais do que isso. E já é muita coisa. Quando o mais alto tribunal do país - e numa goleada de dez votos contra um (de Marco Aurélio Mello) - manifesta-se dessa maneira sobre o sistema político, a classe política não tem o direito de se manifestar, e sim a obrigação de fazê-lo.

O tom da resposta pode ir da defesa indignada à promessa de melhor comportamento. Ou pode combinar uma coisa e outra. Certamente não é boa estratégia para os acusados fingirem que não estão nem aí.

GOSTOSA

RUY CASTRO - O que ainda vem por aí


O que ainda vem por aí

RUY CASTRO

FOLHA DE SÃO PAULO - 29/04/11

RIO DE JANEIRO - Em fins dos anos 40, o cineasta Billy Wilder, grande inteligência a serviço de Hollywood, exultou: "Já não somos o meio mais barato, vulgar e vagabundo de entretenimento. Acabam de inventar a televisão!".
Era uma "blague" de Billy, mas profética: comparado à televisão, o cinema acabou sendo promovido à categoria de arte. Décadas se passaram e, com a mediocrização do entorno, a própria televisão ganhou certa nobreza e até melhorou. Mais algumas décadas, chegamos aos nossos dias e, se não há muitos motivos para admirar a produção cultural mais recente, chegou a hora de rever certos conceitos.
Desde 2008, na Inglaterra, a indústria de videogames superou em rendimentos o cinema, a música, o teatro, a literatura e a televisão. Eu disse Inglaterra. Significa que os ingleses passam hoje mais tempo diante de um console de jogos eletrônicos do que ouvindo música em CD ou ao vivo, assistindo a filmes em DVD, indo ao cinema ou ao teatro, lendo livros ou mesmo vendo TV. E os responsáveis por isto não são os adolescentes, mas gente entre 25 e 34 anos -faixa que se classifica de "adulta".
Não é preciso ser intelectual para admitir que qualquer livro, filme, peça ou disco, de razoável para cima, para não falar dos documentários da BBC, deve ser mais enriquecedor para o espírito do que joguinhos envolvendo tiroteios, combates, velocidade ou puzzles. Mas posso estar errado. Para milhões de ingleses, hoje em dia, Shakespeare, Jonathan Swift, Jane Austen, Charles Dickens, Bernard Shaw, Oscar Wilde, P.G. Wodehouse, Noël Coward, Graham Greene, Laurence Olivier, Michael Powell e o Monty Python não pegam nem aspirante diante de jogos como "Red Dead Revolver" e "Farmville".
Assustador? Não. O que me preocupa é o que ainda vem por aí e nos fará lamentar que esteja desbancando os videogames.

WASHINGTON NOVAES - Nas cisternas de placas, um avanço importante



Nas cisternas de placas, um avanço importante

WASHINGTON NOVAES

O Estado de S. Paulo - 29/04/2011

É uma boa notícia a de que o governo federal está lançando, como uma das âncoras para seu plano de erradicação da miséria, o Programa Água para Todos, voltado para o semiárido nordestino (Estado, 2/4). E que o programa, segundo informação da própria presidente da República a dirigentes sindicais, inclui a construção de 800 mil cisternas de placas.

Deve-se acrescentar que esse é o caminho para milhões de famílias que vivem isoladas ou em comunidades muito pequenas, no semiárido - não a transposição de águas do Rio São Francisco, como foi tão alardeado no governo anterior, para justificar essa polêmica megaobra, que não chegará àquela gente. As cisternas de placas são parte de um programa coordenado pela Articulação do Semiárido, que reúne mais de 700 instituições e já construiu algumas centenas de milhares de cisternas desse tipo. Elas são um achado: um encanamento simples recolhe no telhado das casas a água de chuva e a encaminha para cisternas no subsolo ao lado, revestidas com placas para não permitir a infiltração; cada uma permite, com 16 mil litros acumulados, abastecer com cerca de 20 litros diários cada pessoa de uma família durante a estiagem - desobrigando-as de caminhar quilômetros a pé para colher em latas a água de barreiros sujos usados pelo gado. "É uma bênção", respondeu ao autor destas linhas, levantando as mãos para o céu, uma senhora de mais de 70 anos, quando perguntada sobre o que a cisterna significara em sua vida.

É um programa decisivo para enfrentar a pobreza no semiárido e seus mais de 800 mil quilômetros quadrados; 58% da pobreza nordestina está nessa região, diz o Ministério da Integração Nacional. São regiões onde a média anual de chuvas é de 750 milímetros, menos de metade da média do Recife, por exemplo. E em grande parte da região as chuvas concentram-se num período de 20 dias.

Mas as cisternas não são uma estratégia que faça parte do projeto da transposição. Este, que tinha previsão de gastos de R$ 5 bilhões até 2010, mais R$ 1 bilhão para revitalização do Rio São Francisco, já gastou R$ 2,24 bilhões e está com 80% das obras do Eixo Leste realizadas e 52% do Eixo Norte (quando cada cisterna custa pouco mais de R$ 1 mil). O que se prevê agora é que a água chegue ao Eixo Leste no ano que vem e ao Eixo Norte em 2013 (Rema Atlântico, 17/4). Só que continuam sem resposta dezenas de questões levantadas pelo próprio Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) ao ser pedido o licenciamento. Por exemplo: mais de metade das águas transportas seria destinada a grandes projetos de irrigação (e exportação), quando grande parte destes se situava em terras com processos de erosão já instalados; que se faria? As águas transpostas deveriam, ao longo de centenas de quilômetros, subir centenas de metros até regiões mais altas, consumindo energia elétrica; isso poderia custar até cinco vezes mais que a tarifa vigente; quem pagaria? Boa parte das águas transpostas teria de passar por açudes onde os níveis de evaporação e perda podem ser superiores a 50%. Grande parte da água se destinaria a cidades onde a média da perda nos sistemas urbanos de distribuição era (e continua sendo) de 45%; não seria adequado investir antes na restauração dessas redes? - perguntava.

Mas condicionantes do Ibama em licenciamentos são quase ficção científica. Quem se preocupou com o cumprimento da condicionante de exigir um depósito "definitivo" antes de começar a implantar a usina nuclear Angra 3? Quem se preocupou com o das condicionantes para as megausinas amazônicas, inclusive Jirau e Belo Monte, fora Tucuruí, há mais de 20 anos? E no caso da transposição ainda pesa em sua história o fato de a então ministra do Meio Ambiente haver levado para o Conselho Nacional de Recursos Hídricos a decisão final, quando o comitê de gestão da Bacia do São Francisco, por 44 votos a 2, vetara a transposição. Mas no conselho o governo federal, sozinho, tem maioria e aprovou o projeto.

Claro que o descaso às condicionantes não deveria ocorrer, principalmente nas questões relacionadas com a água, que precisam estar no centro das estratégias do Brasil, um país privilegiado em área que é centro das preocupações no mundo - onde a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação prevê (FAO, 21/3) que em 20 anos quase 2 bilhões de pessoas viverão em regiões com grave escassez de água, que, em alguma medida, atingirá dois terços da população mundial (e quem quiser ter uma visão emocionada do que são a bacia do rio e os povos ribeirinhos pode ler o recém-publicado livro O Rio São Francisco e as Águas no Sertão, com textos de vários autores e fotos extraordinárias do ex-metalúrgico João Zinclar - Silvamontes Gráfica e Editora).

Não é só. Recente relatório da Agência Nacional de Águas - Atlas Brasil - Abastecimento Urbano de Água - diz que 3.027 (55%) dos 5.565 municípios brasileiros terão problemas com recursos hídricos até 2025, se não se investirem R$ 70 bilhões. Nessa data, nas condições atuais, só 18% da população nordestina estará atendida "satisfatoriamente", embora hoje a média de perda nas redes continue superior a 40% do que sai das estações de tratamento.

Não bastasse, a Agência Espacial Norte-Americana (Nasa) está mostrando (Amazônia.org, 18/4) que a seca recorde de 2010 atingiu 2,5 milhões de quilômetros quadrados na Amazônia. E que isso pode significar menos água e menos captação de carbono pela vegetação e maior emissão para a atmosfera.

Neste momento, em que devemos homenagear a memória do professor Aldo Rebouças, há poucos dias falecido, precisamos lembrar-nos de suas sábias palavras no livro Águas Doces no Brasil (Escrituras Editora, 1999), por ele coordenado: "O que mais falta não é água, mas determinado padrão cultural que agregue ética e melhore a eficiência do desempenho dos governos, da sociedade em geral, das empresas públicas e privadas".

ANNA RAMALHO - Ah, os pobres!


Ah, os pobres!
ANNA RAMALHO

JORNAL DO BRASIL - 29/04/11

Ao demolir a penitenciária da Rua Frei Caneca, o Governo do Estado disse que seriam erguidos ali prédios para habitações populares. E a Prefeitura logo imaginou que seria ótimo para alojar os moradores de áreas de risco nas favelas.

Aí...

A mão invisível do mercado surgiu e bateu a carteira dos pobres: o Estado descobriu que a área é tão valorizada, que o melhor é vender para a iniciativa privada e faturar uns bons trocados.

Pobre em área valorizada? Xô!

Pediu o boné


Após 12 anos à frente do Sindicato das Empresas de Navegação Marítima (Syndarma), Hugo Figueiredo deixará o cargo. Com 66 anos, considera que já prestou sua contribuição ao setor, seja na atividade empresarial como na representação de sua classe. Hugo foi diretor da Docenave e, em seguida, presidiu, durante 21 anos, a Norsul, do grupo Lorentzen, da qual é acionista. 

Quem será?

Não se sabe quem será o sucessor de Hugo no Syndarma, mas especula-se que deverá ser um empresário ligado ao setor de barcos de apoio marítimo a plataformas – atividade que cresceu muito nos últimos anos e irá se expandir ainda mais com o pré-sal.

Câmera e ação
O ator Wagner Moura será indenizado pela Casa & Vídeo. Em 2008, a empresa, sem autorização do artista, veiculou sua imagem em encartes publicitários. Representado pelo advogado Rodrigo Ribeiro, o ator ingressou com ação de indenização e a 16ª câmara Cível do TJ/RJ confirmou a sentença da 46ª vara Cível. O valor da indenização – que promete! – ainda será arbitrado.

Duas gerações


Caetano Veloso e Maria Gadú lançam em maio CD, DVD e Blue Ray da turnê que fizeram juntos e que devem retomar em setembro. 

Íntimos


Um descontraído bate-papo entre os dois – gravado na casa de Caetano no Rio – além de cenas de bastidores, em Salvador, mostram a intimidade da dupla no making of do disco. 

Já a irmã...

Depois da minitemporada de Palavras, em São Paulo, Maria Bethânia vai encantar o Sul, com leituras amanhã e domingo no Teatro Ciee em Porto Alegre e, no dia 3, no Teatro Positivo, em Curitiba. Nestas cidades aconteceu a mesma coisa que em BH e Sampa: ingressos esgotados em dois de abertura das vendas. A preços populares: R$ 60 e R$ 30. 

Um espanto

A pedido de um amigo da coluna, a Oi/Telemar forneceu, via 10231, três números de telefone da Casa de Saúde São José. Nenhum deles era correto.

Atendimento ao cliente é isso aí...

Brasil Lisboa


André Jordan recebeu anteontem, em concorrida cerimônia em Lisboa, Portugal, o título de Doutor Honoris Causa do Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE). Cidadão brasileiro e português, gestor e empresário em vários continentes nas áreas do turismo, imobiliário e mídia, Jordan foi ainda cônsul honorário do Brasil no Algarve.

Autor do livro Foi um Rio que passou em minha vida, é cidadão honorário do Rio de Janeiro, onde viveu nos anos dourados, quando a cidade ainda era a capital federal.

Raspadinhas


Angelita Feijó inaugura nova loja , dia 5, no Fashion Mall. O projeto da loja é assinado pelos arquitetos Alexandre Gedeon e Hugo Schwartz. 

Bianca Gibbon inaugura sua loja na Galeria 444 da Visconde de Pirajá para mães e filhas.

A GMX Brasil participa da Expo Direito.

GOSTOSA

NELSON MOTTA - Lucros e perdas


Lucros e perdas
NELSON MOTTA

O ESTADO DE SÃO PAULO - 29/04/11


Por ineficiência e submissão a pressões políticas, começam a ser substituídos vários diretores da Caixa Econômica e do Banco do Brasil nomeados pelo sindicalismo petista na era Lula. O aparelhamento partidário levou militantes bancários despreparados a inúmeras diretorias nos bancos públicos e, mesmo que não roubem para si ou para o partido, deram pesados prejuízos às instituições e aos seus acionistas privados e públicos - os contribuintes. A incompetência honesta dá tanto prejuízo quanto a ladroagem.

Claro que esses soviéticos não poderiam entender nada do negócio dos bancos, porque sempre os odiaram como instituição base do capitalismo e da exploração do homem. Sua missão era lutar contra o patrão ganancioso, para melhorar direitos, salários e condições de trabalho da categoria. Muito justo, mas o que a militância sindical ensina sobre administração bancária, créditos, spreads, investimentos, juros, taxas, mercado, tecnologia?

O Banco do Brasil e a Caixa concorrem com os bancos privados em busca de clientes num mercado ultracompetitivo e para conquistá-los não bastam militância, conchavos e capacidade de mobilização, é preciso competência e trabalho. Justamente o que falta a sindicalistas que ignoram a operação de bancos no livre mercado, porque passaram a vida os combatendo e sonhando com o seu fim no "grande amanhã" socialista.

Para esse pessoal o grande amanhã já chegou. Mas os bancos continuam exibindo lucros assombrosos e são mais odiados do que nunca. Como sempre, a pelegada vai gritar "é preconceito contra os trabalhadores !" e fingir que não entende as evidências dos desastres que provocam pessoas não qualificadas em diretorias de um negócio que ignoram e, por ideologia, sempre combateram.

"O que é o roubo de um banco comparado à fundação de um banco ?". A pergunta de Bertold Brecht era uma palavra de ordem da esquerda nos anos 70. Ainda é ?

Esses bancários que viraram banqueiros de araque, com capital alheio, simbolizam uma das mais nocivas distorções da era Lula que o novo governo começa a desmontar, em busca de eficiência e produtividade.

MARIA CRISTINA FERNANDES - Carrapicho, comichão e aggiornamento


Carrapicho, comichão e aggiornamento
MARIA CRISTINA FERNANDES

VALOR ECONÔMICO - 29/04/11
A presidente Dilma Rousseff costuma ler o que fala. É uma das diferenças que cultiva em relação ao antecessor. Esta semana, além de lida, a retórica presidencial abrigou um termo estranho aos discursos de Luiz Inácio Lula da Silva: aggiornamento.

Dilma repetiu o termo em italiano numa única frase ao falar ao Conselhão sobre o Fórum de Gestão e Competitividade: "Com ele, nós iremos contribuir para que haja uma melhoria, um aggiornamento, um verdadeiro aggiornamento do Estado brasileiro às exigências que a conjuntura econômica, tanto no curto e no médio prazo, exigem do país".

Na década de 1960, o termo traduziu a modernização da igreja pelo Concílio Vaticano II. Décadas depois, ruído o muro de Berlim, as reformas liberais abusariam do aggiornamento para adornar o discurso contra o Estado gigante e lento.

No seu mais recente e decantado texto, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi buscá-lo para pôr o dedo na ferida do seu partido: "O maior equívoco das oposições, especialmente do PSDB, foi o de haver posto à margem as mensagens de modernização, de aggiornamento do país".

No esboço de uma política econômica menos concentrada nos juros do que na oferta de crédito, Dilma tem se afastado mais da herança fernandista do que Lula. E, a despeito disso, a popularidade de Dilma indica um avanço da presidente sobre a tradicional classe média tucana que sempre resistiu a Lula.

A retórica assemelhada de Dilma e Fernando Henrique pode ser uma explicação para isso, mas não encerra o significado desse movimento que ora aproxima, ora distancia os principais adversários da política nacional.

A aproximação dá uma pista para a crise do PSDB. Já o distanciamento traz embutido o veneno que ameaça a hegemonia do PT.

Dilma se aproxima da herança tucana quando anuncia a privatização dos aeroportos, gestada e barrada no governo Lula. Também é na rota de aproximação que surge o empresário Jorge Gerdau Johannpeter para cuidar do Fórum de Gestão e Competitividade, missão para a qual já tinha havido convite - e recusa - nos anos lulistas.

Gerdau é o patrono do Movimento Brasil Competitivo onde nasceu não apenas o choque de gestão do governo Aécio Neves em Minas como muitas das iniciativas pela eficiência da máquina pública adotadas por governos estaduais de diversas colorações.

As funções de Gerdau no governo começaram pela Fundação Nacional de Saúde (Funasa), velho covil pemedebista que atravessou incólume o governo Lula. Ao escolher a Funasa para a primeira missão do empresário, Dilma parece não temer a capacidade de reação do PMDB.

O que já houve de mais próximo das funções que Gerdau vai exercer é o ministério da Reforma do Estado, ocupado por Luiz Carlos Bresser Pereira durante todo o primeiro governo FHC. O ex-ministro tucano acaba de anunciar sua saída do PSDB. Pode não ser a solução, mas rima.

Dilma avança sobre o discurso tucano no momento em que o governo paulista, encarnação da retórica da eficiência, ruma para rever a remuneração por meta de desempenho na educação.

Foi com os tucanos do Palácio dos Bandeirantes que teve início a política de bônus para professores cujos alunos demonstrassem bom desempenho nas provas unificadas. A iniciativa não reverteu numa melhoria continuada das notas dos estudantes.

Especialista no tema, o sociólogo Rudá Ricci diz que o modelo está em crise porque além de confundir educação com preparação para testes, não foi capaz de identificar a origem das dificuldades de quem ficou para trás.

Ricci cita o livro em que a assessora do governo George W. Bush responsável pela implantação da premiação de professores na educação americana, Diane Ravitch, diz que fez tudo errado.

A política, continuada por Obama, levou a fraudes no sistema de avaliação. Focados numa pontuação utópica, muitos professores acabaram rebaixando os padrões para atingi-la.

Citando dados mundiais das instituições de ensino por estudante, Ricci diz que o gasto público com educação ainda está muito aquém da média mundial. Os países da OCDE gastam seis vezes mais com um aluno do ensino médio; os EUA, cinco vezes com aqueles dos primeiros anos do ensino fundamental; e o Chile duas vezes o que se gasta no Brasil com a criança da pré-escola.

Ricci reconhece que o governo petista ainda resiste à premiação de professores, mas vê convergência com os tucanos no uso que se faz hoje de testes como o Ideb.

A revisão dos bônus da educação não é o único movimento do principal governo tucano em direção às políticas sociais do PT. Na Saúde, o governador Geraldo Alckmin decidiu que não mais expandiria as Ames, unidades ambulatoriais criadas por José Serra e Gilberto Kassab, e rumaria para aderir às UPAs federais e ao Samu.

Com a maior base parlamentar da história e atraindo os governos do maior partido de oposição, Dilma estaria criando, no entendimento de Ricci, um colchão para os tombos de seu governo.

Onde a presidente corre mais risco de tropeçar é na política anti-inflacionária, precisamente aquela em que mais se distancia do legado tucano. A tese é que, desarticulada, a oposição teria mais dificuldades para reagir quando, para não tropeçar na inflação, Dilma tiver que fazer escolhas e desagradar sua ampla base aliada.

No encontro da semana - gratuito - com metalúrgicos, Lula deu a entender que não confia na tática de extermínio da oposição por ele preconizada nos palanques do ano passado: "Oposição é que nem carrapicho. Cresce sem ninguém plantar".

Lula diz que está com comichão para voltar a fazer caravana. Além de falar em português, conhece melhor que Dilma e Fernando Henrique essa plateia que ascendeu pelo consumo e passou pelos bancos escolares no vazio da meritocracia. Seu tempo passou, mas para que Lula se mantenha nos limites da animação de auditório basta que Dilma faça as escolhas certas e a oposição não alcance a turma do Prouni.

Maria Cristina Fernandes é editora de Política.

ROGÉRIO L. FURQUIM WERNECK - A galinha dos ovos de ouro


A galinha dos ovos de ouro
ROGÉRIO L. FURQUIM WERNECK
O GLOBO - 29/04/11
Em face da preocupante deterioração do quadro inflacionário, foi noticiado que o governo aproveitaria a reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) para não deixar dúvidas acerca de seu real compromisso com o controle da inflação. O que se viu, no entanto, foi algo bem distinto.

Em meio à densa nuvem de adjetivos, advérbios e frases de efeito, o que se pôde entrever foi apenas a reafirmação do discurso ambíguo e inconvincente que já vinha pautando a condução da política macroeconômica.

A presidente Dilma Rousseff declarou que "o governo está, diuturnamente, e até noturnamente, atento a todas as pressões inflacionárias, venham de onde vierem".

Mas reiterou o diagnóstico de que a aceleração da inflação de corre da elevação de preços de commodities, pouco tendo que ver com a expansão desmesurada da demanda interna.

E insistiu que o governo prefere aguardar os efeitos das medidas de combate à inflação já tomadas, sem sacrificar prematuramente o desenvolvimento econômico e social. O ministro da Fazenda bateu nas mesmas teclas. Afirmou que "o Brasil não está mal na foto da inflação mundial" e que é preciso "moderar o crescimento da demanda sem matar a galinha de ovos de ouro".

A galinha de ovos de ouro vem tendo, de fato, um desempenho espetacular. E é perfeitamente compreensível que o governo esteja alarmado com a possibilidade de que isso venha a ser afetado.

No 1o trimestre de 2011 a arrecadação administrada pela Receita Federal mostrou uma taxa de crescimento nominal, em relação ao mesmo trimestre do ano anterior,de nada menos que 19,55%.Deflacionado pelo IPCA, isso equivale a uma expansão real de 12,7%,o que corresponde a pelo menos o triplo da taxa de crescimento do PIB prevista para este ano.

Tal fartura fiscal não chega a ser surpreendente. Advém da combinação do forte aquecimento da economia com o aumento de eficácia da máquina arrecadadora, na esteira da ampla disseminação da nota fiscal eletrônica.É com essa fartura que o governo conta para cumprira meta fiscal de 2011 e ainda manter expansão substancial do dispêndio tradicional,em paralelo à que já vem sendo feita por meio das transferências do Tesouro ao BNDES,não contabilizadas no resultado primário.Tendo em conta esses dois canais de expansão fiscal,é fácil entender por que o ministro da Fazenda apresentou ao CDES uma previsão de crescimento real do investimento agregado de 10,4% em 2011.

O problema é que, como era de esperar, tal sobrecarga tributária, combinada com a apreciação cambial, vem acirrando as dificuldades por que vêm passando empresas de vários setores. Para fazer face à insatisfação que se acumula, o governo passou a acenar com a perspectiva de uma reforma tributária "realista", com agenda fatiada. Uma das fatias envolveria medidas de desoneração da folha de pagamento. Mas, apesar do excelente desempenho da arrecadação, o governo já deixou claro que não está disposto a abrir mão de receita tributária. Ou seja, algo mais terá de ser onerado para que a folha seja desonerada.

Na discussão sobre como exatamente fazer tal redistribuição de carga tributária, têm surgido propostas impensadas de todo tipo.A Confederação Nacional dos Serviços, com base em estudo supostamente preparado pela Fundação Getúlio Vargas, defende a criação de uma nova CPMF. Já a Fiesp é o que se noticia prefere que a conta seja repassada à Cofins.E,no governo,a ventas e a possibilidade da criação de um novo imposto sobre faturamento, cobrado em cascata.

O mínimo que se pode dizer é que o foco da discussão está mal colocado. O que se faz necessário é uma diminuição dos encargos sobre a folha de pagamento que implique efetiva redução da carga tributária agregada,seja por que o governo se dispôs a abrir mão de parte do aumento de receita que vem auferindo, seja porque, afinal, decidiu conter a expansão de gastos na Previdência. Não faz sentido desfigurar mais ainda o sistema tributário para tentar desonerar a folha de pagamento.

CARLOS HEITOR CONY - Um casamento que não deu certo


Um casamento que não deu certo
CARLOS HEITOR CONY
FOLHA DE SÃO PAULO - 29/04/11 

Casamento de príncipe ou de bancário, no fundo, dá no mesmo: eles sabem que serão apenas coadjuvantes


FOI UMA festa para inglês ver: muita pompa e circunstância ao som de marcha homônima. Trinta anos atrás, lá estava eu, espremido num palanque reservado à imprensa em Ludgate Hill, vendo os 179 cavalos de Sua Majestade que puxavam as carruagens que pareciam ter saído de um filme da Romy Schneider.
Aliás, o tom geral das bodas reais -que os ingleses chamam de "Royal Wedding"- era esse mesmo: a qualquer momento apareceria a Branca de Neve cantando "Some Day My Prince Will Come".
O príncipe já havia vindo para Lady Di: lá estava ele, aflito, apavorado, tentando agradar não à plebe e aos convidados, mas à mãe, a rainha Elizabeth, que ficou de cara amarrada durante toda a cerimônia, só relaxou quando a última carruagem voltou para o Buckingham Palace e os guardas fecharam os portões de bronze.
Casamento de príncipe de Gales ou de bancário de Brás de Pina, no fundo, dá no mesmo: eles botam o melhor terno, a melhor camisa, a melhor cueca, capricham no corte do cabelo -eles sabem que não serão o personagem principal da festa, mas querem aparecer dignamente no papel de coadjuvante.
No caso de Charles, ele exagerou na brilhantina, seu cabelo estava ensopado, a gordura escorria pela testa, e ele se enxugava, sempre olhando para a mãe -com medo de receber aquele olhar em que as mães, e os ingleses em especial, são mestres: o da censura.
As perspectivas do casamento eram razoáveis. Já ninguém acreditava num mar de rosas para os noivos, mas pelo menos ali, diante do altar-mor da Catedral de São Paulo -obra de Christopher Wren- os prognósticos pessimistas ficaram em suspenso: todos curtiram a festa, inclusive o personagem mais gordo que vi em minha vida, o rei da Tanzânia, que derretia suas imensas banhas no calor da catedral, ouvindo Kiri Te Kanawa cantar Handel -a mesma música que é cantada desde os meados do século 18 em cerimônias iguais.
Não é à toa que a estátua de Handel está na abadia de Westminster, olhando de igual para igual os grandes reis da Inglaterra. Ele merece.
Lady Di, sim, estava deslumbrante. Qualquer noiva, em Dores do Indaiá ou em Londres, fica deslumbrante na hora que adentra a igreja. Coberta de joias ou de trapos, é uma noiva -a mulher marcada para ser de um homem, matriz e fada, serpente e deusa: a noiva.
Seu vestido foi segredo de estado até a véspera -e nunca presenciei tamanha inutilidade da imprensa, como um todo, jornalistas de todo o mundo procurando saber como era, de que era feito e quem o fizera. Afinal, era apenas um vestido de noiva. O de Nelson Rodrigues era melhor.
O pai dela, lord Spencer, na véspera ameaçara uns infartos, a ambulância disfarçada de Rolls-Royce ou o contrário, o Rolls-Royce disfarçado de ambulância, seguiu o cortejo, ao lado da carruagem do pai da noiva.
Foi uma cerimônia correta, digna, sempre sob o controle do olhar da rainha, que parecia ver tudo, tudo reprimir e tudo anotar.
Os olhos dela são absurdamente azuis, é pequenina de tamanho, mas tem aquilo que os entendidos chamam de "estatura".
E o príncipe Charles, na hora em que disse o "sim" para o reverendo Robert Runcie, arcebispo de Canterbury, parecia que estava casando para ela, sua rainha e mãe.
Uma festa que procurou resgatar a nostalgia nacional dos ingleses pelo grande império que naufragou depois da Segunda Guerra Mundial. Um império que acabou política e geograficamente, mas que continuou intacto, ao menos no coração de um povo que soube resistir a Hitler e, com sangue, suor e lágrimas, salvou o mundo ameaçado pelo Reich de mil anos.
E, sempre que me perguntam do que mais gostei naquele casamento, respondo que foi a festa inteira: o povão bebendo nas ruas pelo simples fato de um príncipe casar com uma princesa.
O conto de fadas, ao vivo e a cores, que se desenrolou entre o Palácio de Buckingham e a Catedral de São Paulo, um "making of" de filme do Walt Disney, que encontrou, na memória dos ingleses, as retinas da infância e da inocência.
(PS: Esta crônica foi escrita em 1981. Republico-a em atenção ao remake a que assistiremos hoje.)

O PUTEIRO JANTA NA CASA DA PUTA, GOZADA E RELAXADA