sábado, janeiro 21, 2012

Religião e ética - SÉRGIO TELLES


O Estado de S.Paulo - 21/01/12

Nao li Religião para Ateus (Ed. Intrínseca), de André de Botton, e sim a recente resenha que lhe dedicou Terry Eagleton, filósofo e crítico literário inglês. Eagleton diz que, ao contrário de Marx e Nietzsche, que diretamente combatiam a religião, muitos filósofos, como Maquiavel, Voltaire, Rousseau, Diderot, Tolland, Gibbon, Matthew Arnold, Auguste Comte e o contemporâneo Habermas, compartilham a descrença nos dogmas religiosos, mas, ainda assim, consideram que a religião é útil para manter sob controle a ralé, a plebe, o populacho, a massa, a chusma... De forma irônica, Eagleton resume a postura desses pensadores, entre os quais inclui Botton, num mote - "eu mesmo não acredito, mas, do ponto de vista político, é mais prudente que você acredite". A seu ver, uma contraditória forma de pensar por aqueles que, enquanto filósofos, deveriam zelar pela integridade do intelecto.

Se Eagleton está correto em sua leitura, Botton e demais autores citados parecem incorrer no erro decorrente de uma indiscriminação entre os campos da religião e da ética, confusão sobre a qual Jacques Derrida se debruçou no Seminário de Capri, em 1994.

A maioria das pessoas pensa que os valores mais elevados da humanidade - o amor, o respeito ao outro, a abdicação da agressividade, o desejo de estabelecer a paz na comunidade - estão depositados e resguardados na religião. Por esse motivo, qualquer crítica que se lhe faça é entendida como um ataque a esses valores fundamentais para a civilização. Ao não se discriminar o que é próprio da religião e o que é próprio da ética, conclui-se apressada e erroneamente que o não religioso, o ateu, é um ser aético e antimoral.

No empenho de estabelecer o que é estritamente do domínio do religioso, Derrida pinça duas experiências especificas - a da fé e a do sagrado. À primeira vista, seriam elas exclusivas da religião. Mas Derrida mostra que não é bem assim. Em primeiro lugar, se entendemos a religião como a prática ligada ao trato com o divino e suas revelações, logo percebemos que a fé não se restringe a esse campo. A fé se faz imprescindível em qualquer contato entre os homens. É preciso ter fé no outro, é preciso crer no que ele diz, acreditar que ele fala a verdade. De forma semelhante, o sagrado também não se limita ao divino, pois a consideração à vida e ao outro deve ter essa conotação. A vida, diz Derrida, é algo que deve permanecer "indene, sã, a salvo, intocável, sagrada".

Na medida em que evidencia que a fé não é uma experiência própria e exclusiva da religião e sim algo inerente e indispensável no relacionamento humano, Derrida desfaz a incompatibilidade entre fé e razão, oposição tradicional mantida com grande vigor desde o Iluminismo por aqueles que julgam nela se apoiar a possibilidade do pensamento científico. Derrida afirma o contrário. É justamente por ter fé na palavra do outro que a transmissão de conhecimento se faz possível.

Qualquer relação humana se baseia na possibilidade de aliança com o outro, na crença de ouvir dele a verdade e, em retribuição, para ele também falar a verdade, de ter com ele uma "fé jurada". Esses atos de grande importância nas relações pessoais geram quase automaticamente a figura necessária de uma testemunha, aquele que garante e dá credibilidade às sempre frágeis e incertas promessas e alianças entre os homens. Ninguém melhor do que um deus para cumprir essa função.

O que Derrida propõe é que aquilo que aparece simbolizado, idealizado e "purificado" na religião, e que se acredita ser específico dela, na verdade são aspectos essenciais das relações entre os homens. Aponta para uma religião não "religiosa" no sentido comum, "ateologizada", fruto de necessidades humanas. Nesse sentido, o título do livro de Botton, uma religião para ateus, parece apontar para a mesma direção, mas por vias não coincidentes.

Freud também concebia a religião como fruto de necessidades humanas, atendendo a anseios arcaicos por um pai poderoso que garantisse amor e proteção contra os perigos existentes e a ameaça onipresente da morte. Na religião, são reencontrados os pais fortes da infância e dos quais não se quer abrir mão, na relutância em se assumir a própria autonomia na vida adulta.

Ao fazer a discriminação entre religião e ética, persiste uma questão. Muitos pensam que a ética decorre de preceitos religiosos, seria ela um depurado leigo dos mandamentos divinos. Entretanto, Freud mostrou que a ética decorre de procedimentos humanos necessários para a sobrevivência. Cada homem deve conter sua sexualidade e sua agressividade para que seja possível a convivência em comum, para que o grupo social sobreviva. No correr do tempo, essa contenção se codifica em normas de conduta que regem as relações humanas.

O filósofo Philip Kitcher diz algo semelhante no artigo Ethics without Religion, ao enfatizar a importância de compreender as raízes históricas de nossas práticas éticas. Afastando-se da ideia de que mandamentos semelhantes possam ter sido enunciados por diferentes deuses em épocas e culturas diversas, pensa que tais mandamentos teriam surgido como soluções práticas para problemas sociais. Posteriormente teriam sido absorvidos pelos diferentes contextos religiosos, o que lhes teria dado uma força suplementar. Ou seja, a ética não decorreria de preceitos divinos revelados e sim da codificação de procedimentos e condutas impostos pela necessidade de viver em grupo. Essas regras humanas teriam sido absorvidas pela religião e transformadas em mandamentos divinos.

Mostra Kitcher que entender a natureza humana da ética nos possibilita ter uma ideia do trajeto percorrido e do estágio que atingimos - de hordas de primatas às nossas complexas sociedades -, dando-nos forças para continuar melhorando um projeto jamais acabado, em permanente processo de aprimoramento.

Os que defendem a religião como necessária para a estabilidade social, como Eagleton diz que fazem Botton e outros filósofos citados, esquecem que ela muitas vezes coloca em risco o laço social. No momento em que dogmas diferentes entram em choque, impera a violência, instala-se a intransigência e intolerância.

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Quinzena passada escrevi sobre uma instalação no Ibirapuera. Entre os e-mails que recebi, veio o de Rita Alves, a poetisa autora das frases que reproduzi. Ela informa que aquele projeto teve autoria coletiva. O local foi escolhido pelo diretor do Parque, Heraldo Guiaro, que a convidara para criar algo ali. Os grafites foram feitos pelos Gêmeos da Arte, Anderson e Robert Pinheiro. O sucesso obtido motivou convite para novas experiências em outros parques da cidade, como Carandiru, Vilas Boas e Tietê.

Campanha em SP parece “Mulheres Ricas” - JORGE BASTOS MORENO - Nhenhenhém

O GLOBO - 21/01/12


Como em Brasília não tem eleição para prefeito; no Rio, ainda não apareceu oficialmente nenhum candidato para concorrer com Eduardo Paes; em Belo Horizonte, PT e PSDB vão acabar se unindo de novo para reeleger Márcio Lacerda, e, em Porto Alegre, só dá Manuela D’Ávila, as emoções todas estarão concentradas em São Paulo.

Esta semana, por exemplo, em reunião do grã-tucanato, Serra ameaçou processar quem insistir em colocá-lo como candidato à sucessão de Kassab:

— Para que serve isso? Só para saírem pesquisas falando da minha rejeição!

Está certo o José Serra!

Como está certo o seu arquiinimigo Chalita, candidato do PMDB, ao não aceitar minhas provocações. Veja:

— Walter Feldman, que passou 2011 todo em Londres como observador das Olimpíadas 2012 — fazendo o quê, não sei —, chega te chamando de nojento. Meu amigo Andrea Matarazzo te chama de elitista que não sabe onde fica a cracolândia, como se ele também conhecesse. Qual a sua resposta?

— Os dois não passam de bocas de aluguel do Serra. E eu não perco tempo com eles. Quero é debater com Serra, não com seus marionetes.

Nota triste
Como há gente ruim no mundo!

É a inveja, só pode, que está tirando a ministra Ana de Hollanda da Cultura.

Para mim, já era assunto resolvido.

Eis que, esta semana, a presidente Dilma confidenciou a uma amiga minha que as pressões políticas são muito fortes para que ela dispense Aninha do cargo.

Dias contados
Dilma, infelizmente, vai deixar passar alguns dias para fazê-lo.

Logo agora que a ministra começa a conhecer melhor os problemas do setor.

Máfia
Mas eu não vou aceitar isso calado!

Vou dar aqui nomes de todos os petistas que estão conspirando contra a ministra Ana de Hollanda.

São os mesmos que conspiraram contra Juca Ferreira.

Nota alegre
E esta outra notícia eu dou sem a menor tristeza.
A presidente não se esqueceu coisa nenhuma do Negromonte.

Deixe ele pensar que sim!

Seu nome está marcado no calendário da reforma gradual e segura do Ministério.

A indispensável
Marta Suplicy, a, para Dilma, “indispensável” no Senado, caminha a passos largos para deixar de sê-lo!

Numa conversa com companheiros, Lula previu que se a senadora for para o Ministério, ela vai abraçar com entusiasmo a candidatura de Fernando Haddad.

Obsessão
Lula, por sinal, tem sido samba de uma nota só.

Só aceita conversar sobre a eleição na capital de SP.

A vitória de Haddad passou a ser uma questão de honra para o ex-presidente.

Que coisa! Assassinos!
Indignado, o ministro Padilha me contou que, além da omissão de socorro, houve crime de “racismo institucional”, no caso da morte do secretário Duvanier Paiva Ferreira, do Ministério do Planejamento.

— Duvanier e sua mulher foram barrados no hospital porque eram negros! — disse-me o ministro.

Investigações, processos e a urgente regulação dos hospitais privados — são as primeiras das providências tomadas pelo governo, sob a orientação direta da presidente Dilma.

Particularmente, nunca pensei que um dia experimentaria este sentimento: o de ter vergonha de, como negro, viver num país em que se deixa morrer gente por discriminação racial.

Aconteceu com um negro que exercia cargo de autoridade.

Fechamento do hospital é pouco!

Cadeia, já!

É o mínimo! Critério
Dilma Rousseff, no intervalo de uma das reuniões setoriais de anteontem, comenta:

— Vocês viram a repercussão positiva para o governo por eu ter nomeado uma pessoa altamente qualificada para o Ministério da Ciência e Tecnologia, em vez de colocar um político?

E ameaçou:

— Estou pensando em fazer isso daqui para frente, a começar pelo Ministério do Trabalho.

Triste realidade
Eu tinha muitas notas engraçadas para colocar aqui, mas confesso que, depois da minha conversa com o ministro da Saúde sobre o crime praticado pelo hospital Santa Luzia, aqui de Brasília, passei a ter uma crise nervosa de náusea e pânico.

Só vamos acabar com racismo no dia em que reconhecermos sua existência.

Há racismo, sim, no Brasil! É necessário punição. Nada de teorias: cadeia!

GOSTOSA


Nova mídia x velha mídia - ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR

FOLHA DE SP - 21/01/12


Não sei até quando bater na "velha mídia" vai garantir às empresas de web essa pose de revolucionárias


Em meio ao tiroteio, os astutos políticos americanos decretaram: "Meia volta, volver!". Aconteceu nesta semana. Grandes empresas e organizações da internet lançaram uma campanha virtual contra dois projetos de lei antipirataria que estavam a ponto de ser aprovados, com facilidade, no Senado e na Câmara dos EUA. Webativistas do mundo todo abraçaram a causa.

A primeira a perceber a virada da maré foi a Casa Branca. No sábado, disse em comunicado que não apoiaria leis que "ameaçassem uma internet aberta e inovadora".

Deputados e senadores vieram na sequência. Passaram a esconjurar os dois projetos, conhecidos pelas siglas "Sopa" e "Pipa" (é só coincidência que essas palavras queiram dizer alguma coisa em português).
Com apoio de Hollywood e do que restou das grandes gravadoras, "Sopa" e "Pipa" comporiam, em tese, uma nova legislação de combate à pirataria na web. Mas, na visão dos empresários e/ou pensadores do Vale do Silício, sede das grandes corporações on-line, também causariam um cerco brutal ao fluxo livre de informações na rede.

Sites americanos poderiam ser condenados se trouxessem qualquer link para endereços em que a pirataria rola solta, como thepiratebay.org ou isohunt.com. Por exemplo: se você procurasse no Google "como baixar filmes de graça" e a busca indicasse um site de pirataria, o Google poderia ser punido.
Até os provedores de acesso estavam na mira. Com uma simples ordem do "attorney general" (misto de ministro da Justiça e procurador-geral), eles poderiam ser obrigados a bloquear endereços de pirataria. Se alguém digitasse thepiratebay.org, receberia a resposta: "Esse site não existe".

Diante de tantas ameaças, o Vale do Silício caprichou na grita.

Na quarta passada, a Wikipedia pintou de preto sua página principal, em inglês, e praticamente saiu do ar. Google, Yahoo, Twitter e muitos outros também engendraram alguma forma de protesto.
O site da revista "Wired", há décadas a porta-voz do Vale, saiu com partes de seus títulos principais cobertas por tarjas. Era uma alusão à vocação censora dos projetos de lei.

Clicando na manchete da "Wired", chegava-se a um editorial explicando a revolta. O texto tinha a linguagem guerrilheira típica da publicação. Com desdém, referia-se a gravadoras e estúdios de Hollywood, apoiadores das novas leis, como "Big Content" -ou seja, os grandes produtores de conteúdo.
É o jeito "Wired", tão influente e clonado mundo afora, de descrever a realidade atual: a "velha mídia", paquidérmica e desorientada, sofrendo bombardeio dos arautos do novo, vindos do Vale do Silício.
É um discurso de forte apelo romântico, sedutor para a juventude "hi-tech" que se vê como franco-atiradora contra as velhas corporações "do mal". Mas cabe perguntar: até quando Google (valor de mercado: US$ 186 bilhões), Facebook (US$ 70 bi), Yahoo (US$ 19 bi) e outros vão conseguir posar de "angry young kids", os garotos revoltados contra o status quo?

Mesmo a Wikipedia -que não tem fins lucrativos, não aceita anúncios, nem transformou seus fundadores em bilionários- ainda merece essa marca de ponta de lança revolucionária? Será que sua influência colossal já não a credencia a um posto no "mainstream", no establishment das comunicações?
Não sei até quando bater no moribundo "Big Content", na chamada "velha mídia", vai garantir às empresas de web da Califórnia essa pose de revolucionárias.

O discurso vanguardista da "Wired", ela própria um império editorial, tem muito de hipócrita. Os "revolucionários" Google, Facebook, Yahoo etc. também são conglomerados bilionários, como são/foram os estúdios de Hollywood e gravadoras. Têm as mesmas aspirações monopolistas, são igualmente obcecados pelo lucro (e esta não é uma crítica, é só uma constatação).

Já são um novo establishment, que pressiona com sucesso a Casa Branca e faz com que políticos, em um passe de mágica, mudem de opinião e posem de defensores da liberdade de expressão.

Claro que os políticos só pensam em seus próprios interesses e em se reeleger. Mas, em sua face visível ao grande público, seguiram 100% a cartilha que a "nova mídia" lhes impôs. Repetiram direitinho o discurso libertário que pega bem com o eleitorado jovem e os hipercapitalistas do Vale do Silício. A pose adolescente das corporações do mundo on-line vive seus últimos dias. Quem manda agora são elas, e seria honesto assumirem isso.

"Rerum Novarum" 2.0 - IGOR GIELOW

FOLHA DE SP - 21/01/12

A semana que acaba foi rica sobre o estado das coisas. Alguém vai concordar comigo, citando as profundas discussões sobre o circo do "BBB 12" ou sobre a tal Luiza.

Sinto desapontar. Falo de um desdobramento central da crise do euro, expresso no pedido do FMI para que países emergentes colaborem mais para o fundo que visa estabilizar o que chamávamos de Velho Mundo.

Diferentemente da obsessão de FHC pelo Conselho de Segurança da ONU ou da "nova geografia mundial" pretendida por Lula, está aí uma oportunidade de ouro.

O mundo de Bretton Woods, da arquitetura financeira mundial do pós-guerra, está morto. Mas suas instituições, FMI à frente, seguem vivinhas. Portanto, parece natural que o Brasil atenda ao chamado.

Claro, há um "schadenfreude", aquele prazer com a desgraça alheia, entre governantes do antigo Terceiro Mundo quando veem as potências em apuros e recorrendo a pacotes que eram vistos por aqui como armas imperialistas.

Mas isso é fútil. Sem os bilhões de ajuda do FMI do nosso passado recente, apesar do receituário amargo que os acompanhava, o Brasil demoraria a sair do buraco. É hora de retribuir, e cobrar a fatura justa: a reforma do sistema de cotas.

Para quem viveu a crise das décadas finais do século 20 no Brasil, só a discussão já causa certo assombro. Pena que nos falte instrumento com o impacto de uma "Das Coisas Novas", bula papal seminal sobre a realidade do trabalho em 1891 cujo título eu roubei para esta coluna. Ou não: seria "trending topic" do Twitter só por algumas horas.

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Numa nota lateral, mas que tem tudo a ver com o dito acima, não deixa de causar riso a ironia da acusação britânica de que Buenos Aires é "colonialista" na sua disputa pelas ilhas Falklands -que, de todo modo, nada têm de argentinas.

Fogo amigo - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 21/01/12


Uma ala do PMDB governista, que quer enfraquecer o líder Henrique Alves (RN), anunciou ontem a iminente demissão do presidente do Dnocs, Elias Fernandes. Ele seria alvo de uma investigação da CGU. Essa ação levou Henrique Alves a se reunir previamente, na quarta-feira, com o ministro Fernando Bezerra Coelho (Integração Nacional). O PSB está apostando suas fichas na briga interna do PMDB para ficar com o cargo para os socialistas.

Governo Dilma vai pisar no acelerador
O governo está preparando uma rodada de licitação para a exploração do petróleo no pré-sal. Por isso, vai dar um empurrão, na volta do Congresso do recesso, para que estados produtores e não produtores cheguem a um entendimento sobre os royalties. A União já abriu mão de parcela de sua receita. Quer agora que os estados façam o mesmo. “Em nome de um acordo, os estados não produtores precisam reduzir sua expectativa de receita. Não podem ser aqueles R$ 8 bilhões do projeto aprovado no Senado. E os estados produtores precisam abrir mão de alguma coisa”, sugere o ministro Edison Lobão (Minas e Energia).

"Você precisa apoiar o Chalita para a prefeitura de São Paulo” — Michel Temer, vice-presidente, dando conselho para o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, que quer ser candidato ao governo de São Paulo pelo PMDB em 2014

PALMAS E PALMADAS. Nas reuniões setoriais de quinta-feira, o ministro Alexandre Padilha (Saúde) foi um dos mais exigidos e cobrados pela presidente Dilma. Ao final dos debates sobre sua área, Padilha, suspirando, balbuciou: “Passei por uma verdadeira surra”. O ministro Fernando Haddad (Educação) compadeceu-se e sugeriu palmas para o colega de Ministério, no que foi apoiado pela presidente Dilma: “Uma salva de palmas para o Padilha!”.

Esvaziamento
O ministro Guido Mantega (Fazenda) determinou o fechamento do escritório da Secretaria de Acompanhamento Econômico no Rio. Com a criação do Super Cade, o governo avaliou que era desnecessária a manutenção do escritório.

Metas
Na reunião setorial com a presidente Dilma, a ministra Izabella Teixeira (Meio Ambiente) vai apresentar como prioridades a regularização ambiental; a transformação dos lixões em aterros sanitários; e a organização da Rio+20.

A participação de Pimentel
A grande novidade das reuniões ministeriais setoriais, ocorridas nesta semana, foi a intensa participação do ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento). Ele foi a todas elas, ouviu atentamente todos os ministros e tomou nota de tudo, especialmente dos encaminhamentos determinados pela presidente Dilma. Os demais ministros ficaram com a impressão de que Pimentel assumirá tarefas maiores no governo.

Ufa!
A ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) comemorou a sanção do Orçamento da União, sem vetos, pela presidente Dilma. A negociação para aprová-lo no Congresso, no final do ano passado, foi quase um parto.

Contido
Candidato à prefeitura de São Paulo, Gabriel Chalita (PMDB) não respondeu os ataques do tucano Andrea Matarazzo. A um amigo, disse: “Sou Gabrielzinho paz e amor”. Matarazzo afirmou que Chalita conhece a cidade “até Higienópolis”.

O MINISTRO Antonio Patriota (Relações Internacionais) vai nomear o ex-porta-voz Rodrigo Baena embaixador comissionado a partir de junho. Até lá, ele organiza a imprensa da Rio+20.

A SENADORA Ana Amélia (PP-RS) quer ouvir o presidente da Anvisa, Dirceu Barbano, na Comissão de Assuntos Sociais do Senado, sobre o caso das próteses de silicone que apresentaram problemas.

O PRESIDENTE da Fundação Cultural Palmares, Eloi Ferreira de Araujo, diz que está muito próximo o acordo com a Marinha no caso da comunidade quilombola da Ilha de Marambaia (RJ).

História subterrânea e emotiva - SILVIANO SANTIAGO


O Estado de S.Paulo - 21/01/12


Caso emplaque, o filme Um Método Perigoso (2011), de Dave Cronenberg, trará à baila um tópico atual - o da história subterrânea e emotiva da Psicanálise. No filme estão dramatizadas as circunstâncias da invenção e difusão da teoria psicanalítica pelo viés da relação amistosa e conflitiva entre o vienense Freud e o suíço Carl Jung. Como a crítica literária descobriu há pouco, e o filme trabalha dramaturgicamente essa descoberta, a história subterrânea e emotiva de nova disciplina (a psicanálise) ou de novo movimento em disciplina tradicional (o Modernismo na literatura) pode ser lida na correspondência trocada entre mestre e discípulos. No caso literário, leiam-se as cartas do nosso Mário de Andrade. No caso da análise, citem-se as cartas trocadas entre Freud e seus inúmeros discípulos.

A carta é texto nobre no gênero que Michel Foucault classifica como "écriture de soi". É parente do diário e da autobiografia. Se se considerar a troca de cartas como um todo, diferencia-se dos parentes por ser texto escrito a inúmeras mãos.

Ao assistir ao filme de Cronenberg, ocorreu-me prosear com o leitor sobre um livro despercebido no ano da publicação em Paris, 1976, e atualíssimo. Refiro-me a Um Destino Tão Funesto (Timbre Tauros, 1987), cujo autor é François Roustang, ex-jesuíta analisado por Jacques Lacan. Un Destin Si Funeste é pioneiro. Interpreta textos tomados à correspondência de Freud com a finalidade de redesenhar os traços subterrâneos e emotivos que configuram a difusão da teoria freudiana e a fundação da Associação Psicanalítica Internacional (1910). Ao redesenhar e apreender o caminhar diário e à flor da pele dos sentimentos de cientistas, Un Destin Si Funeste se aproxima do romance As Ligações Perigosas (L&PM Editores), de Choderlos de Laclos, e do ensaio A Angústia da Influência (Imago), de Harold Bloom. Não por coincidência o romance clássico de Laclos é escrito sob a forma de correspondência amorosa.

Roustang estabelece o modelo de leitura da correspondência de Freud a partir das cartas de Karl Abraham. Junto ao mestre, ele aviva as intrigas entre os discípulos (Jung, Bleuler e Rank). A carta que envia a Freud antes de morrer, em 1925, sintetiza: durante 20 anos não houve divergência de opinião entre os dois, salvo quando ele julgara justo criticar a terceiro. Afirma Roustang: a lucidez de Abraham se nutre da "paixão da exclusividade". O terceiro traz a divergência e perturba a afeição ao mestre e o zelo à causa. Na esperança de que Jung seja "o ariano capaz de retirar a psicanálise do gueto judaico", Freud não endossa as críticas que desde 1908 Abraham faz ao suíço. Indulgente com os insubmissos, Freud descarrega o rancor em quem é sincero e fiel. Freud apazigua à maneira de mestre. Pontua a "concorrência" entre os discípulos, ou a "rivalidade não controlada". Contesta-lhe Abraham: "no fundo, a opinião que exprimo é a sua, que o Senhor não deixou tornar-se consciente".

O princípio de coerência da teoria não está no discípulo. Sua posição é intolerável. Se o delírio é a teoria de um, a teoria é o delírio de muitos em estágio de transmissão. Acolhido no círculo familiar de Freud, Abraham sente-se constrangido por "dívida de reconhecimento". É o guardião íntegro. Como outros poderiam ocupar lugar privilegiado junto ao mestre se não se preocupam em ressarcir o creditador?

Freud desembrulha o imbróglio: "Não quero sacrificar a nenhum dos senhores, mas, para dizer a verdade, não posso dizer a um a que ponto o outro me é caro". A rivalidade entre discípulos se desdobra na luta do mestre para manter a todos como discípulos. As ligações perigosas não dissolvem a transferência. Esta relaciona o poder narcisista do mestre sobre a teoria ao seu poder na fundação da Associação Psicanalítica Internacional.

Segue-se a redação de Totem e Tabu (1913). Nada sela melhor a coesão da "horda selvagem" que o crime perpetrado por todos e cada um. Em carta, Freud se reaproxima de Abraham. Diz-lhe que o novo livro "deve servir para eliminar definitivamente tudo o que é religioso-ariano". E esclarece: "Jung enlouqueceu, mas não viso à ruptura; gostaria, antes, de deixá-lo perder-se. Contra minha vontade, pode ser que o trabalho sobre o Totem acelere a ruptura". Abraham acrescenta: "O aparecimento da Contribuição à História do Movimento Psicanalítico levará Jung a sair de campo". Está armado o plano para destituir Jung da direção do Jahrbuch (anuário). Na brecha, Abraham introduz Ernst Jones na correspondência e na Associação. A dívida ainda não está resgatada. Reganha força pela insistência do devedor: Abraham envia o próprio retrato "de presente" ao mestre. Informa-lhe este: "O moldureiro deverá entregar-me sua foto amanhã, e ela ocupará então o lugar de Jung". O conhecimento do processo de transferência não evita a impropriedade do vocábulo lugar.

A relação de Freud com os discípulos corresponde, no plano individual e no institucional, aos mecanismos libidinais inconscientes que fundam as "multidões artificiais", como a Igreja e o Exército. Roustang enumera o elenco: obediência à pessoa do mestre e à causa, exigência de fidelidade, refúgio que cada um encontra na compreensão paternal, zelo no gerenciamento financeiro (quando alguém entra no círculo, dever-se-ia encontrar-lhe pacientes), entrada na família de Freud. "Todos esses traços convergem para desenhar uma figura de Sociedade bem precisa", afirma o ex-jesuíta.

Não é outra a conclusão. "Em 1910, Freud propunha que a Associação escolhesse um chefe (ein Oberhaupt) que, depois do desaparecimento do fundador (der Führer), seria seu sucessor, seu lugar-tenente (sein Erzatz), e teria 'autoridade própria para aconselhar e para desaconselhar'." Na corda bamba, Abraham e Jung.

Controle remoto - RENATA LO PRETE

FOLHA DE SP - 21/01/12


FÁBIO ZAMBELI (interino) 


Antevendo polêmica na campanha, o TSE finaliza proposta que tentará coibir os vazamentos de sinal da propaganda eleitoral de TV, no ar a partir de agosto. Os ministros Henrique Neves e Arnaldo Versiani apresentarão estudo técnico ao plenário até abril. Eles querem assegurar que as emissoras restrinjam a veiculação do horário gratuito ao limite do município de cada geradora, evitando assim que a publicidade de candidatos a prefeito e vereador invada cidades vizinhas.

Será a última pendência na lista de regulamentações para o pleito de outubro. Antes, em fevereiro, o tribunal detalhará as regras de prestação de contas.

Antena livre A Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão) informou ao TSE que é tecnicamente inviável o bloqueio dos sinais, sobretudo para canais de amplo alcance. A solução paliativa apresentada pela entidade é o desligamento de repetidoras.

Hora extra Dilma convocou ministros hoje para nova rodada de reuniões setoriais. Os assuntos serão política econômica, Orçamento e diplomacia. Amanhã, a maratona interministerial segue com Rio+20, Copa, Olimpíada e movimentos sociais.

Carteirinha Indicação técnica da presidente para substituir Aloizio Mercadante no Ministério da Ciência e Tecnologia, Marco Antonio Raupp é filiado ao PMDB.

Rodízio Fernando Haddad e Mercadante acertaram temas da transição no MEC num almoço em badalada churrascaria de Brasília.

Afinidades A CUT enviou carta ao STF cobrando agilidade no julgamento do fim do imposto sindical. Adin contrária ao repasse tramita desde 2010. Integrantes da Força Sindical lembram que a ação foi ajuizada pelo DEM.

Continental Dilma marcou encontro com dirigentes sindicais da América do Sul na quinta-feira, durante o Fórum Social Mundial.

Alvo externo José Serra pediu a Aloysio Nunes, Alberto Goldman e José Henrique Reis Lobo, seus principais articuladores, empenho total em favor de Andrea Matarazzo nas prévias do PSDB paulistano. A ordem é mirar em Fernando Haddad (PT) e Gabriel Chalita (PMDB).

Semântica Bruno Covas questionará formalmente a direção municipal tucana sobre a possibilidade de segundo turno na consulta interna de 4 de março. Ele considera dúbia a resolução que regulamenta a votação, na qual fica expressa a exigência de maioria simples de adesões.

GPS O novo embate no PSDB na capital diz respeito aos locais de votação das prévias. Os pré-candidatos sugeriram 58 postos, mas dirigentes advertem que a descentralização implicará aumento expressivo de custos.

No papel Alas do PT paulistano refratárias à aproximação com Gilberto Kassab ensaiam reação organizada à possível aliança do prefeito com Fernando Haddad. O setorial de educação petista prepara o primeiro documento interno contra o acordo.

Na rede O mesmo caminho devem tomar vereadores que fizeram oposição mais aguerrida a Kassab. Assessores de Juliana Cardoso (PT) reuniram militantes na Câmara e procuram engrossar o movimento nas redes sociais.

DNA O obstetra Wilson Vieira de Souza, que denunciou a fraude na gravidez de quadrigêmeos, é irmão de Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, personagem que tirou o sono dos tucanos na campanha eleitoral de 2010.

Tiroteio

"Tem gente achando que as prévias do PSDB em São Paulo podem ser rifadas adiante. Engano total. A não ser que fechem o partido. É pagar para ver."

DO TUCANO XICO GRAZIANO, EX-SECRETÁRIO DE MEIO AMBIENTE, criticando em seu Twitter possível acerto para entrada de José Serra na disputa pela prefeitura ou concessão da cabeça de chapa ao PSD após a votação de março.

Contraponto

Quem avisa...

Informado da decisão do ministro Garibaldi Alves (Previdência) de manter suas férias logo no início da reforma que Dilma Rousseff promove na Esplanada, um assessor insistiu na advertência:

-Mas o senhor vai mesmo sair logo agora que começou a reforma ministerial? Não dá medo?

Ciente do risco da ausência em período tão turbulento, o peemedebista respondeu, de bate-pronto:

-Vou sim. Não sei se volto. Até o dia 30, então!

com LETÍCIA SANDER e DANIELA LIMA

GOSTOSA


Travas no Mercosul - CELSO MING


O Estado de S.Paulo - 21/01/12


O governo da Argentina não mostra nenhum escrúpulo ao atropelar sistematicamente tratados internacionais quando se trata de proteger sua balança comercial.

A partir de 1.º de fevereiro, passará a exigir pedido de licenças não automáticas de importação para todos os produtos, independentemente da procedência. Seus fiscais aduaneiros dirão o que pode ser importado e quanto. É um instrumento burocrático que leva tempo para ser examinado (oficialmente, no máximo 15 dias), com o qual se busca declaradamente emperrar o comércio.

Essa exigência aprofunda o jogo protecionista que até agora se limitava a conter a entrada de produtos da linha branca (geladeiras, máquinas de lavar roupa, fogões, etc.), artigos têxteis, calçados, baterias e tratores.

O objetivo final do país é obter neste ano um superávit comercial superior a US$ 10 bilhões (o do ano passado foi de US$ 10,9 bilhões), conforme a Agência Estado apurou a partir de documento interno vazado para a imprensa.

Essa decisão tem a ver com as dificuldades que a Argentina enfrentando desde o calote de 2001 à sua dívida, agravadas no início deste ano com a perspectiva de quebra de pelo menos 23% na safra de milho e de outros 5% na de soja, por ação de uma séria estiagem. As receitas com o Imposto de Exportação (que agora devem reduzir-se) cobrem 20% da arrecadação. A ideia é cortar despesas com importação, de maneira a enfrentar a redução de caixa com que contava para cobrir o rombo externo.

Não dá para negar que o saldo do comércio bilateral é favorável ao Brasil e que isso tende a se ampliar (veja o gráfico). É o resultado da política econômica predadora colocada em prática pelas duas administrações Kirchner, que desestimula o investimento e o avanço tecnológico e, nessas condições, derruba a competitividade do produto industrial argentino.

De maneira informal, o governo brasileiro já passou o recado de que não gosta do jeito folgado e irresponsável com que o governo argentino lida com compromissos internacionais, sobretudo com os do Mercosul. O ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, por exemplo, já declarou o que até agora nenhum ministro de Estado do Brasil ousou dizer em público: a Argentina se tornou "um problema permanente".

O presidente da Associação Brasileira de Empresas de Comércio Exterior (Abece), Ivan Ramalho, enfrentou a catimba comercial da Argentina durante os 16 anos em que ocupou a Secretaria Executiva do Ministério do Desenvolvimento, 8 deles durante o período Fernando Henrique e a outra metade do tempo no período Lula. Para ele, se engolir mais esse sapo, o governo brasileiro estará contribuindo decisivamente para a escalada protecionista do governo argentino e para as distorções que virão em seguida.

E Ramalho não esconde por qual setor o governo deve começar o revide. "A área comercial mais sensível para eles é o setor automotivo." Ele sugere que, pelo menos por simetria, o Brasil também imponha à Argentina licenças prévias para importações de veículos.

Curiosamente, há alguns anos, o Brasil foi condenado em tribunal de arbitragem do Mercosul, convocado pela Argentina por também impor travas burocráticas em seu comércio bilateral.

Essas coisas não têm cabimento entre países-membros de uma área que se supõe estar em estágio mais avançado de integração (união aduaneira) e que, no entanto, não consegue ser nem zona de livre comércio, o que prevê livre circulação de mercadorias. Mostram que os tratados do Mercosul deixaram de ser apenas queijos esburacados. Estão cada vez mais desmoralizados.

Já não eram instrumentos de integração econômica e comercial. Agora correm o risco de deixar de ser também de integração política - condição que o Itamaraty ainda pretendia preservar.

Justiça degradada - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 21/01/12


Em pouco mais de dois anos, num caso complexo e cheio de ambiguidades, o médico de Michael Jackson foi julgado e condenado como responsável pela morte do cantor norte-americano.
No Brasil, passaram-se 13 anos até o ex-deputado alagoano Talvane Albuquerque Neto receber a sentença que lhe cabia, como mandante de um assassinato sem disfarces nem rebuços.
Assassinato? Melhor dizer chacina. Além da deputada Ceci Cunha, cujo posto o suplente Albuquerque ambicionava ocupar, foram mortos seu marido, seu cunhado e a mãe deste, poucas horas depois de Cunha ser diplomada.
Numa involuntária ironia, como a compensar pelo largo tempo transcorrido entre crime e julgamento, estipulou-se em 103 anos de prisão a pena que Albuquerque deveria cumprir. Mas que, como se sabe, nem de longe, e não apenas por limitações na duração da vida humana, ele irá cumprir.
Na prática, o prazo de recolhimento efetivo pode reduzir-se consideravelmente -e o tempo da pena resultar equivalente ao que se consumiu durante o processo, não raro mais de uma década.
É um despropósito essa verdadeira inversão do que se espera da Justiça. Explicações, certamente, existem. Por exemplo, uma desejável latitude dos recursos à disposição do réu consagrou-se no Código Penal, como forma de garantir um amplo direito de defesa. O estado de desumanidade chocante que vige nas prisões brasileiras faz com que, no espírito de muitos legisladores e juízes, a pena de privação da liberdade apareça como algo a evitar-se ao máximo. A tese pode até ser vista como prudente, vez que um erro pode ter consequências gravíssimas, mas deveria aplicar-se quando muito aos casos de menor periculosidade.
Não faz sentido, decerto, no caso de Talvane Albuquerque. A defesa do réu conseguiu que o processo se enredasse numa infinidade de recursos protelatórios, transitando por diversas instâncias e tribunais. Tornou-se necessária uma intervenção externa, do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), para que o desnorteante roteiro da impunidade fosse interrompido.
Com razão, fortalece-se na opinião pública o sentimento de que a Justiça raramente alcança os mais ricos e importantes; cresce proporcionalmente o desejo, iníquo e bárbaro, do julgamento sumário, da abolição dos direitos de defesa.
A impunidade de um assassino não deixa de trazer, nesse sentido, uma dupla vitória para o assassinato. Quando se escarnece da lei, o clamor pela Justiça rapidamente se degrada em elogio da violência e desejo de vingança.

O amor é lindo - MARTA SUPLICY

FOLHA DE SP - 21/01/12

Coloque um monte de jovens -homens e mulheres- com pouca roupa, jogos e brincadeiras que propiciem tensão e esfrega-esfrega, menos camas do que participantes (esta eu achei incrível!), muita bebida, diversão suficiente para descontrair, intrigas para algum suspense e você tem o "BBB". Acrescente uma busca e seleção de personagens em escala nacional com promoção de mídia, todos com perfil para o enredo ter o mix mais picante e consegue-se a garantia de boa audiência, um pornô palatável, pois os que gostam se deliciam e os que desprezam passam longe e não criam confusão.
Até que das redes sociais ouvimos um grito de protesto. Este, agora, seguido por várias instituições que exigem apuração e questionam os procedimentos no programa. Duas novidades importantes: as redes sociais fizeram diferença e a questão da violência contra a mulher entrou na pauta!
A falta de intimidade, as dificuldades nos relacionamentos ditadas pela competitividade, o estresse, o cotidiano das cidades, a ruptura de laços familiares, tudo colaborou para uma enorme vontade de pertencer, saber mais (de longe) sobre o outro. Acrescente a curiosidade gerada por este mundo novo, fruto das mudanças dos anos 60, e dá para entender o surgimento do "An American Family", no ano de 1973, que precedeu as variações que hoje temos. Falou-se então de divórcio e homossexualidade.
O desejo por mais adrenalina, a exploração cada vez maior da sexualidade, o prazer sádico, as alternativas pobres de entretenimento, somadas à contínua tensão deste mundo globalizado, onde cada vez mais cada um é mais por si e sozinho, levaram ao que temos hoje.
Não teríamos coisas mais interessantes do que estarmos aqui discutindo esse programa? Creio que sim. Mas o suposto estupro -negado pelos participantes do "BBB", assim como foi ignorada pelos editores a vulnerabilidade da moça alcoolizada-, além de desencadear uma discussão sobre a adequação e a ética dos responsáveis pelo "BBB", trouxe visibilidade a uma forma de violência pouco denunciada e que defendo revisão.
Há meses, apresentei um projeto de lei ao Senado que recria o tipo penal do "atentado violento ao pudor". Isso porque depois de uma mudança de lei, em 2009, passou-se a considerar também como estupro atos libidinosos.
As condenações por tais atos diminuíram em virtude de os juízes ficarem constrangidos em dar penas tão severas por ato que consideram não tão grave quanto o estupro. O novo projeto mantém a pena de reclusão de seis a dez anos, em caso de estupro, e pena de dois a seis anos de reclusão, quando ocorrer o atentado violento ao pudor.
O amor é lindo, como disse Pedro Bial olhando a movimentação debaixo do edredom. Mas passa longe do "BBB".

Tá nervoso? Tome BIALzepam! - JOSÉ SIMÃO


FOLHA DE SP - 21/01/12
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
Direto do País da Piada Pronta: "Michel Teló em primeiro lugar em PRAGA". Rarará! E quando o sertanejo universitário vai se formar?
E esta: "Esgoto invade favela dos Três Porquinhos".
E em Portugal tem um calmante chamado BIALzepam! Injetável! Ainda bem que é injetável, se fosse oral seria difícil de engolir! Tá nervoso? Tá atacado? Tá vendo o "BBB"? Tome Bialzepam na veia! Tarja preta! Pretíssima!
E uma amiga loira viu o "BBB" e está em dúvidas: não sabe se foi "estrupo, estrupro ou estupro".
E aí perguntei pra minha faxineira: "O que você faria se ganhasse na Mega-Sena?". "Compraria um ônibus só pra mim." Sensacional!
E São Bernardo embaixo d'água. E como é o nome do prefeito? Luis Marinho! E Sampa abre sua temporada aquática: o Aquassab! Beach Park com água de enchente. Beach Park com leptospirose! O Brasil não tem mais população permanente, só população flutuante. O Brasil virou uma população flutuante. E eu to com o ecossistema nervoso!
E neste mês o Elvis Presley faria 77 anos, se estivesse morto! Rarará! E sabe o que uma biba alucinada falou pra outra biba? "Volta pro pão, carne louca."
E as desculpas esfarrapadas. Ronaldinho Gaúcho é flagrado com mulher em concentração e disse que errou de andar. Rarará! Bela desculpa: "Não, amor, em vez de descer no sexto, desci no quinto, a porta tava aberta e eu comi a vizinha".
E o capitão do navio italiano: "Escorreguei e caí no bote". Rarará! Foi abduzido pelo bote!
E sabe o que a torcida gritou pro Adriano? "Vada a bordo, cazzo!" Mas diz que abandonar o navio antes do naufrágio é uma tradição italiana: vide o Berlusconi! Rarará!
O Brasileiro é Cordial! Olha o cartaz numa van em Araguari: "Lésbicas e prostitutas, só na segunda viagem". Cordialíssimo!
E um amigo acaba de chegar de Buenos Aires e viu a placa: "Alberto Picareta, advogado!". E esta faixa: "Cruz das Almas saúda a cantora Elza Soares na cidade! 113 anos de história". Cruz das Almas ou Elza Soares? Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Imigração com regras e controles - MURILLO DE ARAGÃO


FOLHA DE SP - 21/01/12
Precisamos ter uma política clara e pragmática sobre a imigração, com regras e controles adequados.
Impedir a imigração de forma ampla e geral é uma grande burrice e um contrassenso histórico, já que o Brasil tem sido construído por várias levas de imigrantes. Não podemos deixar de reconhecer o papel de portugueses, alemães, japoneses, italianos, poloneses e espanhóis, entre outros povos, na formação do país.
Em junho de 2010, escrevi que o Brasil não estava preparado para a nova onda de imigrantes que vem se constituindo. Eu alertava para o fato de que o ciclo de crescimento econômico do país e os tempos duros da economia mundial fariam do Brasil um alvo para a imigração.
Na época, o então ministro da Justiça dizia que não estava satisfeito com o tratamento que os brasileiros em viagem na Europa recebiam.
Dei como exemplo os milhares de bolivianos que vivem em São Paulo, muitos em condições sub-humanas. De fato, os episódios verificados desde então indicam que estamos a caminho de ser um destino mais relevante para imigrantes.
No entanto, nos faltam parâmetros e controles. Que tipo de imigrantes queremos no Brasil? Que tipo de trabalhadores e de empreendedores desejamos importar?
Existem necessidades regionais particulares que desejamos suprir? Ou simplesmente vamos deixar os imigrantes rumarem para São Paulo atrás de empregos?
Pois bem, o governo e a sociedade devem olhar para a questão a partir de alguns princípios. O primeiro deles é que o Brasil jamais deve deixar de ser uma opção para estrangeiros que venham para cá por razões humanitárias.
O segundo aspecto é que deve existir uma política nacional que estabeleça metas específicas para o imigrante. Em especial, com relação ao pagamento de impostos e ao acesso aos serviços públicos.
O terceiro aspecto é que devemos ter uma atitude proativa. Não adianta esperar a casa ser arrombada para só depois tomar providências. Ter uma boa política de imigração pode ser um fator de sucesso econômico e cultural. Devemos, por exemplo, estimular determinados tipos de imigrantes, visando atender às necessidades econômicas, educacionais e tecnológicas do país.
O outro desafio que deve ser enfrentado se refere aos controles de nossas fronteiras. O Brasil é um imenso buraco negro. Aqui, as pessoas podem viver durante anos sem qualquer importunação relacionada à fiscalização por parte de autoridades públicas.
Nossas fronteiras são imensas áreas descampadas que podem ser cruzadas de forma tranquila. Terroristas localizados em países vizinhos muitas vezes fazem a travessia e compram aqui mantimentos e remédios calmamente.
O Brasil tem uma imensa fronteira seca, com mais de 15 mil quilômetros de extensão, tangenciando quase todos os países da América do Sul. Apesar de o governo ter anunciado um programa para aumentar a vigilância nessas regiões, as iniciativas demoram a sair do papel.
Os EUA, com pouco mais de 3 mil quilômetros de fronteira com o México, já enfrentam sérias dificuldades. Caso o ciclo de crescimento brasileiro se consolide, teremos muitos problemas para garantir a nossa segurança.
Ter segurança e controle em nossa fronteira é um desafio, pelo volume de recursos financeiros e tecnológicos que a questão exige. Também é uma oportunidade para poder desenvolver tecnologias na indústria nacional e em nossos centros de pesquisas.
Os episódios recentes com os haitianos que chegam ao Brasil pelo Acre servem de alerta. Temos de ter preocupações humanitárias, mas não podemos deixar de exercer nossa soberania.

Os dias de mão de obra chinesa barata estão perto do fim - KATHLEEN E. MCLAUGHLIN

O ESTADÃO - 21/01/12

O que isso significará para consumidores dos EUA e de outros países é simples: em breve, os preços dos produtos chineses começarão a subir



As fábricas do principal polo industrial da China voltaram a sentir o aperto financeiro: pela segunda vez em menos de um ano, os salários mínimos da província de Guangdong subiram nada menos que 20% em janeiro.

E, embora o salário mínimo de uma província chinesa possa parecer um problema local, a questão salarial demonstra que na China agora há um impulso constante para o estabelecimento de empresas voltadas à produção de artigos de alta qualidade, que remunerem melhor o trabalho.

Em outras palavras, os dias da mão de obra chinesa inesgotável e barata estão prestes a acabar. O que isso significará para consumidores dos Estados Unidos e de outros países é simples: em breve, os preços dos produtos chineses começarão a subir. "Acho que é um bom argumento, agora que a corrida global para um mercado de trabalho muito barato acabou", disse Geoffrey Crothall do China Labour Bulletin, grupo de defesa dos direitos do trabalhador com sede em Hong Kong. "Não há mais para onde ir."

O Delta do Rio das Pérolas deixou de ser um lugar favorável à indústria em termos de custos; ali foram criadas cadeias de suprimentos, fábricas e infraestrutura. As companhias que querem produzir a custo ultra baixo estão se mudando para o interior da China, ou para países mais pobres, como Bangladesh e Camboja. Entretanto, não há nada no horizonte que possa substituir o modelo chinês dos anos 1990 e 2000. "Talvez seja possível encontrar mão de obra mais barata fora da China, mas nunca na mesma escala", disse Crothall.

Dados recentes mostraram uma desaceleração significativa da indústria chinesa. Os analistas advertiram que essa tendência continuará, e será um problema para o governo, preocupado em manter o emprego elevado. No entanto, a China está decidida a produzir mercadorias de valor mais elevado e pressiona nesse sentido.

Em Guangdong, onde milhares de pequenas fábricas fecharam as portas nos últimos anos por causa da alta dos custos, os seus proprietários protestam contra a obrigatoriedade de aumentar salários. Entretanto, organizações trabalhistas afirmam que a medida é necessária para que os trabalhadores possam enfrentar o rápido aumento da inflação e defendem o objetivo do governo - deixar de produzir mercadorias baratas.

Os diretores das fábricas dizem que compreendem o desejo do governo de fazer a transição para a produção de mercadorias mais caras, mas ela não pode ser forçada nem poderá ocorrer da noite para o dia. Várias associações de industriais de Hong Kong protestaram contra o recente aumento dos salários adotado pelo governo de Guangdong, argumentando que é excessivo e rápido demais.

Stanley Lau, vice-diretor da Federação das Indústrias de Hong Kong, afirmou que os industriais precisam de um período de transição. Segundo ele, as empresas querem investir em moderna automação, pesquisa e desenvolvimento, mas é um processo que leva tempo. "Para isso, precisamos de recursos, Não posso simplesmente fazer o upgrade de uma fábrica com palavras."

Ao mesmo tempo, os proprietários de pequenas empresas do Delta do Rio das Pérolas afirmam que o aumento dos custos, e não apenas para pagar os salários, os está levando para o colapso.

"O que mais podemos fazer? Precisamos jogar de acordo com as regras", observa Wu Keshu, da fábrica de Cerâmicas Hongtai, de Chaozhou, em entrevista por telefone. "Não temos maneiras inovadoras para reagir."

"Teremos de nos adaptar a essa nova situação elevando os preços", disse Wu. "Estamos observando um certo declínio nos negócios, mas não muito."

Durante dezenas de anos, a província de Guangdong e o Delta do Rio das Pérolas foram o centro da ascensão econômica da China. E, embora as grandes indústrias e as companhias estatais tenham contribuído significativamente para a expansão da economia, as pequenas e médias empresas também ajudaram a impulsionar a China, tornando-a a segunda maior economia mundial.

Com o aumento dos salários, dos custos das matérias-primas e de outros custos, as empresas menores afirmam que estão sendo obrigadas a sair do ramo.

Segundo Lau, a se manter o ritmo atual, este ano 30% das fábricas de Guangdong reduzirão a produção ou fecharão em razão da elevação do salário mínimo decretada no ano passado. Outro aumento de 18 a 20% acabará com a indústria.

Mas Crothall não é muito condescendente, e observa que, embora a inflação tenha diminuído um pouco, os trabalhadores chineses precisarão de mais do que isso para sobreviver./ TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

GOSTOSA


CHÁ DAS CINCO - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 21/01/12




A banda Trupe Chá de Boldo lança seu segundo disco, "Nave Manha", em fevereiro; o CD tem participações de André Abujamra, Simone Soul e Tata Aeroplano, entre outros; o primeiro show da nova turnê dos 13 músicos está marcado para 15 de março no Sesc Vila Mariana

OBRA EM FATIAS
A Promotoria da Habitação de SP pretende focar em 2012 os grandes empreendimentos geradores de tráfego na cidade. O promotor José Carlos de Freitas afirma que as construtoras têm repartido projetos para escapar de fazer estudos de impacto de vizinhança, obrigatórios para obras com mais de 500 vagas de estacionamento. "As empresas dividem em vários empreendimentos com 499 vagas cada um e conseguem aprovar", diz.

TERCEIRIZADO
Nesta semana, Freitas questionou o pedido do Palmeiras para aumentar, de 2.000 para 3.000 carros, o número de vagas da futura Arena Palestra. O promotor quer mirar também em faculdades que ampliam suas instalações e, em vez de construir novas garagens, fazem convênios com estacionamentos da vizinhança.

JANELINHA
Regina Monteiro, criadora da Lei Cidade Limpa, está fazendo campanha no Facebook para "preservar a paisagem arquitetônica" de São Paulo. Ela convoca paulistanos a postarem fotos de vistas que eles temam ser tampadas por construções ou fiação. Diz ser um jeito de "provocar" as pessoas para pesquisa que ela pretende realizar para elaborar um "plano diretor de paisagem".

QUEREMOS PRESIDENTE
O site Brado Retumbante, do jornalista Paulo Markun sobre as Direitas Já, está pegando carona na minissérie "O Brado Retumbante", da TV Globo. Nesta semana, sua média de acessos diários passou de 300 para cerca de 3.000 -a maioria, provavelmente, de internautas procurando a página do programa, que traz o blog do presidente fictício Paulo Ventura (Domingos Montagner), da atração televisiva.

Ó BATE O PÉ
A versão portuguesa da novela "Dancin' Days", sucesso de Gilberto Braga de 1978, começará a ser gravada em março, em Lisboa.

A figurinista Marilia Carneiro e o cenógrafo Mario Monteiro, que trabalharam na trama original, estarão no projeto, que é uma parceria da Globo com a SIC.

NÃO VOU, MAS FUI
O estilista Ronaldo Fraga, que desistiu de participar desta edição da SPFW e declarou que "a moda acabou", está presente no evento. Seu rosto aparece nos telões antes dos desfiles, em que uma vinheta exibe imagens dos "pensamentos" dos participantes da semana e de nomes como Gilberto Gil.

VIAGEM SEM VOLTA
A atriz Larissa Maciel fez cara de medo quando, participando de uma reportagem de Matheus Mazzafera para a RedeTV!, o stylist pediu que a promoter Fernanda Barbosa desse "uma voltinha" para a câmera. Pediu socorro à empresária, Márcia Marbá, para não fazer o mesmo.

ATÔMICA
O tema da coleção que Gloria Coelho apresentará nesta segunda, na SPFW, serão os neutrinos (partículas subatômicas) e os vulcões. "Mostraremos peças leves, com transparências", diz a estilista. A apresentação será transmitida ao vivo pelo site da Casa Electrolux.

SHOW DE ESTILO
As atrizes Carol Castro, Larissa Maciel e Carla Lamarca conferiram o primeiro dia de desfiles da São Paulo Fasion Week, anteontem, no prédio da Bienal.

MODA NA CABEÇA
A modelo Mariana Weickert e o estilista Oscar Metsavaht foram ao lançamento do livro "Projeto Brasil 01: Pensamento", no Espaço Fashion do shopping Iguatemi.

CURTO-CIRCUITO

O Ici Bistrô será reaberto hoje, no jantar.

A edição brasileira da revista "Glamour" será lançada hoje, no Carlota.

com DIÓGENES CAMPANHA (interino), LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

O verdadeiro problema - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S.Paulo - 21/01/12


As dimensões e o rápido e contínuo crescimento do déficit do sistema previdenciário dos servidores públicos, ao mesmo tempo que diminui o déficit do regime válido para os trabalhadores da iniciativa privada, não deixam dúvidas de que o problema é muito mais grave na área governamental. É preciso encontrar com urgência uma solução que, em algum momento, interrompa o processo de crescimento desse déficit. Por isso, é mais do que acertada a decisão da presidente Dilma Rousseff de adiar todos os concursos públicos e todas as nomeações dos aprovados até que seja instituído o fundo de previdência complementar do servidor público federal, conhecido pela sigla Funpresp.

O Regime Geral de Previdência Social (RGPS), onde estão os trabalhadores do setor privado, teve déficit de R$ 36,5 bilhões no ano passado, o menor desde 2002 e inferior em 22,3% ao de 2010. Em contraste, o déficit da previdência dos servidores públicos passou de R$ 51,2 bilhões, em 2010, para R$ 56 bilhões, em 2011, e neste ano deverá superar os R$ 60 bilhões, calcula o ministro da Previdência, Garibaldi Alves.

Esses números embutem uma brutal diferença de tratamento previdenciário dos brasileiros vinculados ao RGPS e dos servidores públicos. Embora atenda quase 30 milhões de pessoas - contra 1 milhão de aposentados e pensionistas do setor público -, o regime geral tem déficit bem menor e o crescimento do saldo negativo nos últimos anos é bem mais lento - quando não diminui, como em 2011 - do que o do funcionalismo.

Mas não é apenas por propiciar aos servidores vantagens com que o contribuinte do regime geral nem pode sonhar que o sistema previdenciário precisa ser reformado. Do ponto de vista das finanças públicas, se o processo observado atualmente não for interrompido, dentro de algum tempo o déficit previdenciário do setor público se transformará num pesadelo para os governantes e para os contribuintes em geral.

A presidente Dilma Rousseff tinha definido como prioritário, e por isso tinha pedido sua tramitação em regime de "urgência constitucional", o projeto de criação do fundo de previdência do servidor que tramita há anos no Congresso. Ela queria ter o projeto aprovado em seu primeiro ano de mandato. Não conseguiu. Com a decisão de suspender contratações e a realização de concursos públicos até que o Funpresp seja criado, Dilma reitera, na prática, sua disposição de forçar o Congresso a decidir sobre o assunto com rapidez.

A criação do fundo não resolverá o problema imediatamente. Os servidores da ativa manterão o regime atual, e só aderirão ao Funpresp por decisão voluntária. O novo regime será obrigatório para todos os servidores admitidos após sua criação. Assim, seus resultados práticos surgirão somente quando esses novos servidores começarem a usufruir de seus direitos previdenciários, ou seja dentro de 30 ou 40 anos. Mesmo assim, a criação do Funpresp é urgente, pois indicará que, em algum momento, o problema deixará de piorar e uma das maiores fontes do desequilíbrio das finanças públicas começará a ser secada.

Quanto aos resultados de 2011, eles mostram que o INSS se beneficiou de uma situação macroeconômica favorável, de quase pleno emprego, com aumento da formalização do trabalho e salários em alta real. É o que explica o melhor resultado, cuja sustentação será mais difícil, doravante, pois as despesas serão maiores, mas o País continuará crescendo em ritmo lento.

Ressalte-se que, apesar da queda, o déficit do INSS continua sendo muito elevado, mas nada que se compare ao déficit da previdência dos servidores públicos. Em 2010, a despesa total com os funcionários inativos civis e militares foi de R$ 73,9 bilhões, para uma arrecadação de apenas R$ 22,7 bilhões. Os dados de 2011 ainda não são conhecidos, mas já se sabe que o crescimento do déficit é inexorável, como reconhece o secretário de Políticas de Previdência Complementar do Ministério da Previdência, Jaime Mariz de Faria Junior. A situação tende a piorar na segunda metade da década, quando se prevê um "boom" de pedidos de aposentadoria no setor público, pois 40% dos servidores já terão cumprido o tempo necessário para se aposentar.

A China inova - MERVAL PEREIRA


O GLOBO - 21/01/12



A China, revelada esta semana mais urbana que rural, busca agora um crescimento qualitativo tanto no seu desenvolvimento social quanto no tecnológico. O processo de evolução das empresas chinesas está baseado no amadurecimento de sua capacidade de desenvolver tecnologia e produtos inovadores. O 12º Plano Quinquenal, que está em vigência desde março do ano passado, tem o objetivo central de fazer migrar o padrão de desenvolvimento da China para indústrias avançadas e desenvolvimento tecnológico, em busca do que classificam de "harmonização da sociedade".

A intenção é promover um "pouso suave" para um crescimento médio de 7% do PIB nacional "com qualidade", com metas que incluem promoção do consumo, redução das diferenças sociais pela melhoria do salário mínimo e metas de Eficiência energética.

O plano quinquenal pretende mudar a expressão Made in China, ligada a produtos de baixa qualidade, por Designed in China, com ambição de tornar a China um país "orientado para a inovação" até 2020.

Essas são algumas das conclusões de um documento resultado de um "termo de cooperação" entre a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República e a COPPE (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia) da UFRJ, abrangendo três setores que, combinados, produzem sinergias poderosas na conformação da base tecnológica de uma indústria nacional/regional: químico, eletroeletrônico e metal-mecânico.

A SAE no governo Dilma está sob o comando do ministro Moreira Franco, do PMDB do Rio, que nos tempos de juventude foi maoísta, a ponto de ter seu primeiro nome trocado de brincadeira por Ué-Lin-Ton. Hoje, ele tenta entender as transformações da China de Deng Xiaoping.

O propósito era avançar na compreensão das vantagens competitivas das empresas chinesas, além de custos baixos de mão de obra, câmbio subvalorizado e subsídios governamentais. Aspectos ligados a infraestrutura logística e carga tributária foram analisados marginalmente no estudo, que abrangeu não só conteúdo de avanços em campos específicos, mas também nas formas de organização de produção e inovação, e relacionamento das empresas com universidades e institutos de pesquisas.

Foram visitados departamentos e laboratórios das universidades de Tsinghua, em Beijing (que tem um Centro China-Brasil de Mudanças Climáticas e energia e é uma referência nacional, onde muitas lideranças chinesas estudaram, inclusive o presidente Hu Jintao); de Zejiang, em Hangzhou; Tianjin, em Tianjin; o Instituto de Tecnologia de Tratamento da Água; e um instituto da Academia de Ciências da China.

"Nada poderia ser mais central para a competitividade chinesa que a velocidade e a consistência de seu desenvolvimento tecnológico", conclui o estudo.

O saldo é uma indústria ampla e diversificada, em diferentes estágios de maturidade e com diversas maneiras de governança.

As empresas estatais centrais, ligadas ao governo de Beijing, são distintas das estatais locais e das coletivas, e todas diferentes das privadas.

O relatório afirma que, ao longo do estudo, ficou evidente o papel das políticas públicas na definição da trajetória de sucesso das empresas, políticas não apenas definidas pelo governo central mas também em nível provincial e das municipalidades e prefeituras.

Há evidente processo de influência mútua entre empresas e governos no estabelecimento das estratégias empresariais e das políticas públicas.

Bons exemplos são as empresas Haier, de eletrodomésticos; Huawei, de telecomunicações; Guodian, de geração eólica; Desano, de insumos farmacêuticos, e muitas outras.

O caso do setor de geração eólica é particularmente exemplar, destaca o estudo. Nos anos 90, o governo central sinalizou que o setor era essencial para o desenvolvimento do país, e as empresas começaram a prospectar o campo, as universidades promoveram estudos e pesquisas, e enviaram quadros para doutoramento no exterior.

Em 2005, o governo lançou uma política de apoio à indústria, e as empresas começaram a fazer acordos de transferência de tecnologia promovendo ciclos de inovação secundária, com formação de capacitações tecnológicas, até mesmo para a produção de turbinas eólicas.

Em 2011, as empresas chinesas já estão trabalhando com tecnologias de ponta em processos de inovação secundária avançada, e a China se torna o país com maior potência eólica instalada no mundo, representando 23% do total mundial, superando Estados Unidos e Alemanha.

O processo de planejamento governamental chinês tem dois eixos principais: o Plano Nacional de Médio e Longo Prazo para o Desenvolvimento da Ciência e Tecnologia de 2006 a 2020, centrado no princípio de "inovação autônoma"; e o Plano Quinquenal.

O investimento em Pesquisa e Desenvolvimento, que em 2005 era de 1,35%, será equivalente a 2% do PIB chinês, para chegar a 2,5% em 2020.

Em cinco anos a meta é obter avanços científicos e tecnológicos também com educação da mão de obra para conseguir qualidade e eficácia na economia.

Três setores terão prioridade: saúde, energia e tecnologia. As indústrias-chave serão biotecnologia, novas energias, fabricação de equipamentos de ponta, conservação de energia e preservação ambiental, combustíveis limpos para veículos, novos materiais e nova geração de tecnologia da informação.

A China aumentou sua participação na exportação mundial de 3,9% em 2000 para 10,3% em 2010, ultrapassando a Alemanha em exportações.

Além de inundar o mundo com bens de consumo a preços baixos, a China tem exportado bens de capital, aumentando sua produtividade no exterior. A partir de 2006, apenas a China e a Coreia do Sul aumentaram sua participação nas exportações globais.

O estudo faz uma comparação com o Brasil: em 2000, a maior parte das exportações de Brasil e China era de baixa intensidade tecnológica (alimentos, matérias primas, têxteis e outros manufaturados).

Em 2009, a China reduziu em 16% essas exportações, aumentando a participação das de média (químicos básicos, maquinário elétrico, plástico) e alta tecnologia (fármacos, bens óticos).

Já o Brasil aumentou 11 pontos percentuais na exportação de baixa intensidade tecnológica, e reduziu também as de média e alta tecnologia. (Continua amanhã)

A quem interessa? - JOSÉ RENATO NALINI


O Estado de S.Paulo - 21/01/12


O alarde provocado pelo intenso noticiário a envolver a Justiça, nas últimas semanas, merece algumas reflexões que ainda não receberam destaque.

O pagamento antecipado de verbas salariais a alguns magistrados não é uma coisa que se possa elogiar. Na verdade, quem se autossatisfez de um montante de atrasados pensou com o egoísmo característico desta era. "Cuido dos meus interesses e cada um cuide dos seus", "quem parte e reparte e não fica com a melhor parte ou é tolo ou não tem arte", "Mateus, primeiro os teus..." seriam os provérbios aplicáveis, para o povo entender o que aconteceu.

Mas é preciso ficar claro que esse dinheiro era deles. Não pertencia ao povo nem ao governo. Não houve desfalque, maracutaia, falcatrua, embolso, corrupção. Quem tem direito a berrar contra isso são aqueles que não foram beneficiados. Tanto os demais juízes - a imensa maioria da Justiça - como os funcionários. Todos são igualmente credores de um Estado que arrecada muito e não tem condições, ou interesse maior, em saldar suas dívidas.

A mídia tem feito essa ressalva, é certo, mas de forma discreta. Reserva o tom espetacular para as manchetes e chamadas, como se estivesse a noticiar uma conduta que iguala o Judiciário aos demais Poderes, quando descobertos os "malfeitos" da atual República.

Há uma enorme diferença entre quem se apropria de dinheiro do povo para enriquecer e quem, por exercer uma função de mando ou ser íntimo de quem a titulariza, passa na frente dos demais para receber o que lhe é legítimo. Não é algo elogiável, porém os seus efeitos se circunscrevem a um universo restrito. Não se roubou a Nação.

O desserviço que se presta ao explorar o fato é não distinguir com exatidão as hipóteses. O Judiciário não desvia verbas que seriam destinadas a investimentos para se apropriar criminosamente delas. Não deixa os despossuídos sem saneamento, serviços de saúde, educação e moradia para embolsar dinheiro do erário. Pode não ser ainda o Poder ideal - e que o povo merece -, mas é, indiscutivelmente, o menos corrupto dentre os Poderes da República.

O perigo é que a reiteração e o tom das reportagens levem a população a acreditar que não há diferença entre quem lesa o Tesouro e quem "atropela" os colegas para reduzir seus créditos perante o devedor. Créditos legais, legítimos, sob a rubrica adequada de "alimentares", pois provenientes de diferenças salariais devidas.

O leitor mal esclarecido pode perder a confiança que ainda resta e que deveria merecer a função encarregada de solucionar conflitos. Pode ser levado a acreditar que não há diferença entre uma licitação endereçada e essa prática egoísta. Poderá concluir que já não lhe resta esperança quanto ao nível de podridão atingido pelas entranhas da Pátria.

Também é perniciosa essa deslegitimação do Judiciário no momento em que se aproxima o julgamento de algo que deve ser bem esclarecido: o episódio do "mensalão". São hipóteses muito diferentes. Há uma distância de anos-luz entre as situações. A mídia teria o dever de esclarecer ao povo que existem diferenças entre infrações éticas e crimes - embora todo crime também seja uma vulneração ética.

De tudo isso há de restar algo de positivo. A necessidade de transparência, para que as verbas devidas e disponíveis sejam acessíveis a controle democrático. A urgência de se investir na formação ética dos integrantes da magistratura, para que a solidariedade passe a imprimir os seus critérios de repartição dos bônus de direito.

Essa prática de se valer da proximidade do poder para se beneficiar em detrimento dos demais não é recente. Nem se restringe ao Poder Judiciário. Se a mídia fizesse uma pesquisa, veria que esse procedimento parece justificar-se por inexata compreensão do que seja a discricionariedade. Examinem-se situações análogas em outros setores. A possibilidade de escolha mediante critérios de oportunidade e conveniência não autoriza o transitório titular de um cargo a preferir saldar seus créditos em detrimento dos demais.

Outra dimensão exagerada está na questão das Declarações de Imposto de Renda sonegadas ao tribunal. Os juízes entregam-nas à Receita Federal todos os anos, como o faz qualquer contribuinte. Se algo existir de irregular, não se escapa da "malha-fina", cada vez mais eficiente.

A maioria dos magistrados faz a sua declaração no setor disso encarregado pelo próprio tribunal. É compreensível que os juízes acreditem que a entrega dúplice - tanto à Receita como ao próprio Judiciário - seja automática. Melhor seria que todas essas duplicidades desaparecessem. Não é mais racional que a Receita Federal concentre tais informações? Os casos "atípicos" mereceriam comunicação a quem de direito. É preciso convênio para isso?

Também é prejudicial a exploração de posições antagônicas entre autoridades da magistratura igualmente dignas, respeitáveis, prestigiadas e que chegaram a seus postos de forma transparente e legítima. O pluralismo é um valor acolhido na Constituição da República e incide também sobre o Judiciário, que é eminentemente plural.

Homogeneidade é própria de formigueiros. O ser humano discute, diverge, toma partido, procura convencer o interlocutor. Tudo isso é natural na função típica de julgar, em que são normais a divergência e a declaração de voto vencido.

A circunstância de divergirem não significa falta de respeito. Sustentar seus pontos de vista é prova de coragem democrática.

No mais, quando o tema chega a ser objeto de pretensão submetida a qualquer órgão do Judiciário, notadamente ao Supremo Tribunal Federal - o primeiro tribunal na hierarquia desse Poder -, cessem as discussões e se aguarde a expressão de soberania que dali advirá.

Dúvidas do álcool - MIRIAM LEITÃO


O GLOBO - 21/01/12

Em cada litro de Etanol, incidem R$0,46 de PIS/Cofins. Na gasolina, são R$0,26. Deve ser o único caso de país que incentiva o combustível fóssil e pune o que emite menos gases de efeito estufa. Recentemente, o governo reduziu a Cide sobre a gasolina. A Petrobras paga mais pela gasolina importada do que cobra das distribuidoras. São muitas as distorções no mercado de combustíveis.

O Brasil lutou por 30 anos para derrubar as barreiras que impediam o Etanol brasileiro de entrar no mercado americano. E agora que caíram as sobretaxas o Brasil está importando Etanol dos Estados Unidos. O presidente da ETH Bioenergia, José Carlos Grubisich, disse que o Brasil comprou um bilhão de barris de Etanol na safra 2011/2012, mas exportou 1,5 bilhão de litros. Vende produto mais nobre, como álcool para bebidas e alimentos, e compra álcool anidro para a mistura na gasolina. Mesmo assim, é incrível que um país que investiu por décadas para ser o grande fornecedor desse combustível, alternativo à gasolina, esteja agora importando os dois produtos.

O que o consumidor que comprou carro flex quer saber é quando haverá álcool a um preço competitivo nas bombas. E talvez isso não aconteça tão cedo.

Ismael Perina Júnior, presidente da Organização dos Plantadores de Cana-de-Açúcar do Centro Sul do Brasil, a Orplana, admite que vai demorar um pouco, porque há falta de matéria-prima:

- Não houve renovação dos canaviais nos últimos anos e portanto o Brasil não conseguirá elevar a produção de uma hora para outra. A regularização vai demorar ainda um pouco.

O BNDES anunciou um programa de R$4 bilhões em empréstimos para a renovação dos canaviais. Sem isso, não adiantaria muito continuar financiando a indústria. Como disse Grubisich, o Brasil hoje não está com problema de demanda, mas sim de oferta:

- Existe uma demanda potencial para 35 bilhões de litros no Brasil, o país já chegou a produzir 27 bilhões e hoje só produz 20 bilhões. Mas, quando em 2020 olharmos para trás, vamos considerar este momento como um incidente histórico, porque nós dominamos todo o ciclo de produção de álcool de cana-de-açúcar e seremos sempre grandes produtores.

Ouvi Perina e Grubisich na Globonews e os dois disseram que tanto para produtores de cana quanto para a indústria de álcool a conjuntura é desfavorável. Nos últimos três anos, houve seca, geada e crise financeira internacional atingindo a produção. A crise pegou vários investimentos na sua fase inicial, e o colapso do crédito impediu que os projetos fossem adiante. Hoje, há um parque instalado de processamento da cana maior do que a capacidade do país de produzir cana.

Só isso já seria o suficiente para elevar o preço do Etanol. Mas, além disso, o produto ficou relativamente mais caro por outras distorções. Apesar de o consumidor sentir o peso no bolso na hora de abastecer, a Petrobras vive a estranha situação de ter prejuízo na venda da gasolina importada. Só de janeiro a novembro do ano passado, segundo o consultor Adriano Pires, essa diferença custou R$460 milhões à empresa. Isso acontece porque o governo não admite mexer no preço. Para evitar que o preço da gasolina suba, impactando a inflação, os impostos foram reduzidos, aumentando as distorções.

- A volatilidade de preço é horrível para todo mundo. O governo precisa corrigir a aberração que é o combustível fóssil ser menos taxado que o produto mais sustentável - disse Perina.

Grubisich acha que as decisões já tomadas pelo governo, reduzindo impostos sobre a gasolina para evitar o reajuste do preço ao consumidor, provocaram várias assimetrias:

- Um fato concreto: a gasolina no mercado internacional tem preço mais alto do que a Petrobras vende às distribuidoras. A empresa perde ou deixa de ganhar R$0,12 por litro. Isso acaba tendo efeito no mercado do Etanol, pela regrinha mágica de que o biocombustível tem que ter um preço até 70% da gasolina para valer a pena a escolha.

A solução, na opinião dos empresários, é desonerar o Etanol, tanto de PIS/Cofins quanto de ICMS. E o governo financiar um novo ciclo de investimento.

Evidentemente, não basta dinheiro subsidiado e renúncia fiscal. É necessário ter uma política com uma visão mais ampla desse problema. O passo dado pelo BNDES mostra que o banco sabe que não adiantaria financiar só a indústria, que já tem capacidade ociosa, sem ver que o gargalo está na renovação dos canaviais. Não adianta apostar tudo em cana-de-açúcar sem pensar na segunda geração do Etanol, o celulósico, e há notícias de que o BNDES pretende também financiar pesquisas nessa área.

Mas, se a indústria do álcool for incentivada através de redução de impostos ou empréstimos de bancos públicos, que se cobre do setor compromisso com novas atitudes na área ambiental e social. O setor de açúcar e álcool tem um lado moderno e um arcaico, como se sabe há 500 anos. Só pode se apresentar como o substituto sustentável ao produto fóssil se for de fato sustentável.