domingo, dezembro 09, 2012

Poder paralelo - REVISTA VEJA


REVISTA VEJA

Rosemary Noronha, a ex-chefe do escritório da Presidência da República em São Paulo cujo poder emanava da relação com Lula, era mais influente do que se supunha - e também mais próxima de José Dirceu

ADRIANO CEOLIN E LAURA DINIZ

A personagem mais misteriosa flagrada pela Operação Porto Seguro, da Polícia Federal, vai ganhando contornos mais nítidos conforme avançam as investigações. Documentos a que VEJA teve acesso revelam que a ex-secretária Rosemary Noronha, a Rose - cujo poder emanava do fato de ter mantido uma relação íntima com o ex-presidente Lula por quase duas décadas -, era bem mais influente do que se supunha e mais próxima do ex-ministro José Dirceu do que fizeram crer as primeiras informações. A força de Rose, que nasceu e cresceu no governo Lula, continuou na administração de Dilma Rousseff, a ponto de ela conseguir a façanha de, numa só empreitada, envolver três dos mais importantes auxiliares da presidente para atender aos interesses da quadrilha a que prestava serviços.

Há quinze dias, Rose foi demitida do cargo de chefe do gabinete da Presidência da República em São Paulo, para onde foi levada por Lula. A Polícia Federal descobriu que ela usava suas credenciais para facilitar a ação de um bando que vendia decisões administrativas em órgãos públicos - e a indiciou por corrupção passiva e tráfico de influência. Desde então, Rose deixou seu apartamento na Rua 13 de Maio, centro de São Paulo, para se refugiar na casa de uma de suas filhas, Mirelle, na Mooca, Zona Leste da cidade. Lá, encontra seus advogados e, por duas vezes, recebeu uma cabeleireira. Nas poucas vezes que saiu de casa, escondeu-se por trás de um lenço na cabeça e um par de óculos escuros. A perspectiva de ter de depor diante do Congresso foi afastada por ora. Parlamentares governistas trabalharam para evitar que ela, conhecida por seu temperamento instável, comparecesse diante das mesmas comissões que ouviram o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, sobre a operação da PR Caso tivesse ido, Rose teria muito que contar.

VEJA teve acesso a mensagens eletrônicas trocadas entre ela e Paulo Vieira - exonerado do cargo de diretor da Agência Nacional de Águas (ANA) depois de ter sido apontado pela polícia como o chefe da quadrilha que negociava pareceres - numa operação destinada a garantir a promoção da juíza Vivian Josete Pantaleão Caminha para o cargo de desembargadora do Tribunal Regional Federal (TRF) da 4 a Região. Cabe à presidente da República escolher os

magistrados que serão promovidos. É comum que os interessados façam um périplo por Brasília para apresentar seus respectivos currículos. Era a segunda vez que a juíza Vivian disputava a vaga. Na primeira tentativa, em 2011, ela não conseguiu a indicação. Na segunda, neste ano, decidiu pedir ajuda. A magistrada soube que "uma certa secretária próxima aos ministros" poderia conseguir o que ela sozinha jamais conseguiria: acesso ao poder. A "certa secretá- ria" era Rosemary Noronha. A pedido de Paulo Vieira, a ex-chefe do escritório presidencial conseguiu agendar encontros da juíza com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, o ministro-chefe da Advocacia-Geral da União, Luís Adams, e o secretário executivo da Casa Civil, Beto Vasconcelos, um dos assessores mais próximos da presidente.

O lobby surtiu o efeito desejado, e a promoção foi assinada pela presidente Dilma em 8 de outubro de 2012. Os assessores atenderam aos pedidos de reunião com a juíza que se candidatava a desembargadora. "Caro Paulo, tarefa cumprida", diz Rosemary a Paulo Vieira, o chefe da quadrilha dos pareceres, sobre o agendamento das audiências com Cardozo, Adams e Vasconcelos. A mensagem foi enviada em I o de agosto deste ano. O Ministério da Justiça confirmou que a audiência com José Eduardo Cardozo foi marcada a pedido do escritório da Presidência em São Paulo, ressaltando que esse tipo de conversa entre o ministro e candidatos é praxe no processo de seleção dos desembargadores. Beto Vasconcelos também confirmou que a audiência foi solicitada por Rosemary Noronha e que ele igualmente recebeu outros candidatos à vaga. Já a AGU disse que a então juíza solicitou o encontro, mas que Adams não pôde recebê-la na data agendada. Rosemary Noronha provou que realmente representava um poder paralelo.

VEJA teve acesso a novos detalhes do inquérito da Operação Porto Seguro. Os papéis detalham o funcionamento do esquema de corrupção e mostram o espraiamento da quadrilha por órgãos do governo federal, até chegar a gabinetes do primeiro escalão. Na última sexta- feira, a Polícia Federal entregou à Justiça uma nova leva de documentos. São mais quarenta volumes, com uma descrição detalhada do conteúdo de arquivos de computadores, contratos, recibos e dinheiro apreendidos no escritório da Presidência em São Paulo e nas casas dos suspeitos. É essa munição que mantém Lula e o PT calados. Além da intimidade com o ex-presidente, Rose usava como trunfo para suas ações a proximidade com o mensaleiro José Dirceu. Em conversas interceptadas pela PF com autorização judicial, Rose revela a intimidade que tinha com o chefe da quadrilha. "Eu fui almoçar com o Zé na casa dele (...). Ele acha que tem grandes chances de ser condenado a quatro anos e cumprir um terço da pena", diz Rose. Paulo Vieira, seu interlocutor, procura tranquilizar a amiga, que se dizia "superpreocupada" com a possibilidade de Dirceu ir para a cadeia. "Preso ele não vai, não, Rose (...). Sem chance", afirma o chefe da quadrilha dos pareceres sobre o chefe da quadrilha do mensalão.

Uma semana antes de ser detida pela Polícia Federal, Rose e seu marido, João Vasconcelos, passaram o feriado de 15 de novembro, como mostram as fotos em que a ex-secretária apareceu ao lado do ex-ministro José Dirceu (de bermuda da marca francesa Vilebrequin, à venda por cerca de 600 reais no Brasil) e da namorada dele, Evanise Santos (de óculos Pra- da), numa casa de- frente para o mar na praia em Camaçari, na Bahia. Rose ainda era a chefe do gabinete regional da Presidência. Não é o único episódio a demonstrar a proximidade dos dois. Em maio deste ano, quando o STF ainda se preparava para julgar o mensalão, Rose contou a Paulo Vieira que havia levado Dirceu para fazer compras, para relaxar. "Fiquei feliz. Levei ele ao Ricardo Almeida à tarde para fazer umas roupas que ele tava precisando, e achei ele melhor, porque ultimamente ele andava muito nervoso. Achei um astral melhor." Não foi à toa, portanto, que, no dia em que foi detida pela PF, Rose telefonou para Dirceu para informar o que estava ocorrendo. Ele disse que nada podia fazer. Antes, ela tentara* sem sucesso, falar com o ministro da Justiça, o mesmo que acolhera seu pedido de audiência com a juíza Vivian. Os rolos de Rosemary e Paulo Vieira ilustram à perfeição como certos petistas construíram uma carreira bem-sucedida graças aos laços de intimidade com os amigos do governo.

Os dois se conheceram no berço do PT, em São Bernardo do Campo. Á amizade ganhou mais força após a chegada de Lula à Presidência. A influência de Rose sobre o então presidente levou Paulo a traçar uma estratégia para aproximar-se ainda mais dela. Ao descobrir que ela se considerava uma exímia de- coradora, viu nisso uma oportunidade. Naquele período, ele fazia dinheiro com leilões judiciais de imóveis, que comprava barato, reformava, decorava e revendia com lucro. Convidou-a, então, para ajudá-lo no negócio. Em 2004, Paulo, filiado ao partido, ganhou uma senhora boquinha na administração: a nomeação para presidente do Conselho Fiscal da Companhia Docas do Estado de São Paulo, a Codesp. Ele foi indicado pelo PT de São Paulo. Efetivado no cargo, Paulo Vieira atendeu a um pedido feito por telefone pelo deputado estadual Rui Falcão, atual presidente do partido, para que recebesse o empresário e ex-senador Gilberto Miranda (PMDB-AM). Não era propriamente um pedido, mas uma "missão partidária", conforme expressão usada por Falcão. Ele nega: "Nunca pedi nada disso. Nunca tive qualquer relação com os citados". O resto da história está contada no inquérito. Para a Polícia Federal, Vieira ajudou Miranda a conseguir pareceres favoráveis à ocupação de duas ilhas no litoral paulista. As investigações dão a dimensão exata de como se misturam interesses públicos e privados no Brasil.

O Brasil se tornou craque na prática do "voo de galinha" - PAULO GUEDES

REVISTA ÉPOCA


Tenho insistido em que o Brasil é prisioneiro da armadillha social-democrata de baixo crescimento. Os dados mais recentes divulgados pelo IBGE mostram que a economia se expandiu apenas 0,6% no terceiro trimestre de 2012, metade da expectativa de 1,2% antes anunciada pelo governo. A taxa anual de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano será uma decepção, em torno de 1%, um balde de água fria também sobre as expectativas de crescimento para 2013.

Nos anos de 2010 e 2011, recorremos com sucesso a políticas contracíclicas de expansão da demanda para escapar do buraco negro que ameaçou tragar a economia mundial em 2008 e 2009. Mas sabemos todos que o arsenal keynesiano tem efeitos transitórios. Funciona por algum tempo para estimular a demanda, mas não consegue promover o crescimento sustentável da oferta. Exatamente por isso, o país tornou-se aspirante à excelência na prática do "voo de galinha", modalidade de crescimento em que há muito barulho e curto alcance.

Nossos instrumentos de inclusão social são orçamentos públicos — e não o mergulho nos mercados globais de trabalho, em busca de uma integração competitiva, como fazem os asiáticos. A ênfase brasileira está na expansão do consumo à base do crédito fácil, como fazem os americanos, agora enrascados nas bolhas em série. Nosso sistema de aposentadoria pública tem pretensões europeias. Isso garante sua falência antes mesmo do envelhecimento de nossa população. O consumismo desenfreado, estimulado por financistas, e os delirantes benefícios sociais prometidos por uma social-democracia hegemônica nos colocam na rota de uma crise futura de grandes proporções, como enfrentam agora americanos e europeus.

Sabemos todos que a verdadeira trilha de crescimento sustentável exige, tanto do sistema financeiro convencional quanto de um regime previdenciário moderno, contribuições reais à dinâmica de acumulação de capital. Os sistemas financeiro e previdenciário devem apoiar a ampliação da capacidade produtiva no país. Trata-se da busca pelo aumento da taxa de investimento e pela maior eficiência na seleção dos setores e das empresas em que os recursos serão investidos.

Esse bom funcionamento da engrenagem produtiva exige as reformas de modernização, que uma hesitante social-democracia não soube oferecer ao país. Ao contrário, o governo tem insistido nas políticas contracíclicas de fôlego curto, particularmente nos últimos anos. O baixo ritmo de crescimento registrado em 2012 não deveria, portanto, nos surpreender. Trata-se, de um lado, do gradual esgotamento dos estímulos à expansão de demanda. E, de outro lado, da ausência de adequados incentivos ao crescimento da oferta.

Verifica-se hoje uma superposição de fenômenos preocupantes. Desce, lenta mas sistematicamente, a taxa de investimento da economia. Aumenta a participação do setor público na seleção e no financiamento dos grandes projetos de investimentos. Isso pode ser sinal de menor eficiência econômica e de maior influência política nos critérios de avaliação adotados. Avança o desconcertante processo de desindustrialização. É inegável nossa perda de competitividade ante a avalanche industrial asiática. A balança comercial prossegue em franca deterioração, com estagnação das exportações e disparada das importações.

Têm sido também infelizes as macrointervenções setoriais anunciadas pelo governo. A mudança do sistema de concessões para o regime de partilha, na exploração de petróleo, acabou retardando o ritmo de investimento no setor. Afundaram os preços das ações da Petrobras. Desabaram também os preços das ações da Companhia Vale do Rio Doce, quando o governo decidiu interferir na direção da empresa e em sua política de investimentos. O uso dos bancos oficiais para derrubar os juros e comprimir margens de lucro do setor derrubou em sequência os preços das ações das instituições financeiras. O anúncio de mudança no marco regulatório do setor elétrico fez desabar também aí os preços das ações.

Claro que tudo isso deprime o ímpeto de investimentos na economia. Se os preços dos ativos existentes são derrubados por intervenções que aumentam os riscos e ameaçam os retornos futuros, desaparecem os incentivos à ampliação da capacidade produtiva nacional. Justamente quando esses ativos disparam em preços — excedendo o custo de produção de novas fábricas, equipamentos e instalações industriais —, surgem os incentivos à ampliação da capacidade produtiva por meio de novos investimentos.

Macroambiente favorável aos negócios, clima propício aos investimentos, expressiva valorização dos ativos existentes e expectativas de baixo risco e bons retornos futuros são indicadores visíveis ao longo da trilha de crescimento sustentável. Essa não é definitivamente a configuração macroeconômica que observamos.

Há recursos financeiros de sobra no mundo, em busca de boas oportunidades de investimento. Há também a realocação de recursos internos, que reagem à queda dos juros. Eles saem das aplicações em títulos de renda fixa, em busca da maior rentabilidade dos ativos de risco. São circunstâncias extraordinárias para criar ondas colossais de novos investimentos. Áreas críticas, como educação, logística e infraestrutura, podem receber essas novas ondas de recursos, aumentando a produtividade do trabalhador brasileiro e a competitividade das empresas.

As perspectivas para 2013 são um pouco melhores, mas não muito. Um crescimento econômico de 2,5% a 3% e uma taxa de inflação em torno de 6% seriam estimativas críveis. Um desempenho aparentemente satisfatório em meio à grande crise contemporânea e à guerra mundial por empregos, mas absolutamente medíocre ante o potencial econômico do país. Essa longa pausa no crescimento mundial, uma fase de estagnação das economias centrais, é uma janela de oportunidade para os emergentes reduzirem suas distâncias de riqueza. Somos por bom período a nova fronteira do crescimento econômico mundial. Mas não estamos sabendo aproveitar essa oportunidade. Uma boa dose de inteligência de negócios em nossos marcos regulatórios pode fazer toda a diferença para destravar os investimentos e acelerar o crescimento.


O instinto animal da fuga - CARTA AO LEITOR - REVISTA VEJA


REVISTA VEJA

A mesma revista inglesa de circulação mundial, The Economist, que em 2009 colocou na capa a imagem do Cristo Redentor decolando impulsionada por um foguete, o que representava a força emergente da economia brasileira, fez um diagnóstico bem mais sombrio na semana passada: "O Brasil despenca". A revista registrou o crescimento pífio do PIB e sugeriu à presidente Dilma Rousseff que troque de equipe econômica se quiser se reeleger em 2014. Descontando-se o excesso de otimismo de três anos atrás e o catastrofismo de agora, a realidade é que a política econômica do atual governo tem falhado consistentemente em promover o crescimento da economia.

O fracasso não se deu por Brasília não ter tentado impulsionar a economia. A presidente fez tudo o que os empresários pediram. Eles queriam juros baixos? Os juros baixaram a patamares recorde. Queriam câmbio favorável à exportação? O dólar superou a casa dos 2 reais. Queriam menos encargos na folha salarial? Os encargos foram reduzidos em alguns setores. Queriam combustíveis e energia elétrica mais baratos? O governo espremeu a Petrobras, e a estatal segurou os preços, subsidiando- os. Agora espreme a Eletrobras e as estatais estaduais de energia para que façam a mesma coisa.

Com tantos incentivos entregues sob medida, a presidente tinha a certeza de que despertaria nos empresários o "instinto animal", expressão do economista J.M. Keynes para definir a vocação de investir. Despertou, sim, mas apenas o instinto animal da fuga. Há cinco trimestres o investimento vem caindo. A indústria, que deveria ter se beneficiado mais dos incentivos, terá seu pior ano desde 2009. Uma reportagem desta edição de VEJA traz pane da explicação para esse aparente paradoxo.

A reportagem mostra o significado político da recente queda de braço entre Brasília e os estados governados pelo PSDB que discordam na maneira de reduzir a tarifa elétrica para empresas e domicílios. Todo mundo quer gasolina e conta de luz mais baratas. Mas fazer isso na marra é um equívoco perigoso. Um erro que explica não apenas a briga entre Brasília e os estados, mas o despertar do instinto de fuga dos investidores ao verem estatais do porte da Petrobras e da Eletrobras ser dilapidadas por políticas de preço definidas em Brasília. A desconfiança é o mínimo denominador comum das recentes medidas econômicas. Elas disseminaram o temor generalizado de que os investimentos no Brasil não obedecem à lógica de mercado, mas ficam à mercê da vontade do governo e das conveniências políticas da presidente.

Ficou difícil, Guido... - EDITORIAL REVISTA ÉPOCA


REVISTA ÉPOCA

O crescimento irrisório da economia transformou o ministro da Fazenda em anedota - e não demoveu Dilma de sua visão ideológica ultrapassada

Herdeira de uma economia em expansão em 2010, a presidente Dilma Rousseff chega à metade de seu mandato numa situação medíocre. Embora o desemprego esteja baixo e a massa de salários continue em alta - fatos que explicam a alta aprovação popular de Dilma - nossa economia está em situação de risco.

O índice de crescimento tem rotineiramente sido acompanhado do adjetivo "pífio". No terceiro trimestre de 2012, foi de 0,6%, metade do que o governo esperava. Isso sepultou as esperanças de uma virada antes do fim do ano. Numa iniciativa destinada a transformar-se em anedota, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, sugeriu que o IBGE modificasse as regras de cálculo do PIB - uma tentativa de manipulação tão estapafúrdia quanto inábil. Sua demissão foi recomendada por ninguém menos que a revista britânica The Economist- leitura de cabeceira de Dilma, publicação que não cansou de publicar artigos favoráveis a seu governo nos últimos anos.

Em junho, quando o banco Credit Suisse anuciou que reduzira a previsão de crescimento anual de 2% para 1,5%, Mantega reagiu com brutalidade: "É uma piada". Agora, uma análise do Itaú, nem de longe a mais pessimista, anuncia 0,9% em 2012.

Esses índices são preocupantes. Dilma enfrenta dificuldades que seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, não teve de enfrentar: a queda no valor das commodities, o esgotamento do modelo de crescimento à base de consumo e crédito barato, e a incapacidade de incorporar mais força de trabalho a uma economia que funciona virtualmente a pleno emprego. Some-se a isso a dificuldade das autoridades econômicas para enxergar o que acontece no Brasil real. O índice de 0,6% veio após meses de ativismo febril, quando, semanalmente, eram lançados em média dois pacotes de estímulo, segundo o economista Armando Castellar, da Fundação Getulio Vargas.

Nossa economia não voltará a crescer sem aumentar sua produtividade e seus níveis de investimento - hoje eles estão em torno de 19% do PIB, ante 30% no Peru e 27% no Chile e na Colômbia. Para isso, é preciso acabar com os entraves que emperram qualquer negócio: impostos extorsivos, burocracia infernal, infraestrutura precária e leis trabalhistas e previdenciárias anacrônicas.

Nesse ponto, Dilma tem uma desvantagem em relação a Lula. Enquanto ele era pragmático para tomar suas decisões econômicas - agradava a pobres e banqueiros -, Dilma tem convicções ideológicas paralisantes. Seu dirigis- mo econômico não favorece o diálogo com os auxiliares nem negociações produtivas com os empresários, que não mostram a indispensável disposição de arrriscar nas atuais condições de temperatura e pressão.

Da redução da taxa de juros, em agosto de 2011, à desoneração da folha de salários da construção civil, na semana passada, é possível elaborar uma lista de boas intenções do governo. Mas a falta de diálogo impede o resultado esperado. No maior exemplo, o Planalto fracassou num projeto que deveria agradar a 100% dos brasileiros: reduzir a conta de energia elétrica em 20%. A dificuldade de diálogo com os empresários deriva da dificuldade que Dilma tem para entender que apenas se lucrarem as empresas investirão. E, sem empresas lucrando e gerando riqueza, não há como o país crescer mais. Ao mesmo tempo tão simples - e tão difícil...

O paradoxo dos presídios paulistas

As penitenciárias de São Paulo vivem uma situação absurda. Em vez de funcionar como um local onde criminosos condenados pela Justiça cumprem suas penas em regime fechado, sem contato com o mundo exterior, elas se transformaram no Q.G. do crime organizado. Instalados em suas celas, munidos de telefones celulares, os principais chefes de facções criminosas dirigem os subordinados que atuam do outro lado das grades. Comandam o tráfico de drogas, extorquem famílias de prisioneiros rivais, planejam assassinatos de policiais e negociam armamento pesado com outras organizações, conforme demonstrou reportagem de ÉPOCA publicada na semana passada.

Nesse universo paradoxal, a vida dos chefes de quadrilha parece mais segura, do ponto de vista operacional, quando eles se encontram sob proteção do Estado do que fora dali, quando se expõem ao confronto direto com outras facções criminosas e podem mesmo enfrentar a violência da polícia. A causa dessa situação é menos misteriosa do que parece. Consiste, basicamente, num sistema capilar de corrupção, que transforma os presídios brasileiros num dos mais vulneráveis do mundo.

A consolidação da facção PCC como principal organização criminosa de São Paulo só foi possível graças a uma sucessão de erros. Acreditou-se, numa primeira fase, que seria melhor negociar concessões com a quadrilha do que lhes dar um combate sem quartel. Noutra etapa, vendeu-se a ilusão de que o PCC estava tão enfraquecido com a prisão dos líderes mais conhecidos que se tranformara numa "lenda". As duas atitudes estavam erradas. O crime organizado só pode ser enfrentado com dureza. Isso começa pelo isolamento real dos líderes. Isso implica, acima de tudo, transformar os presídios em prisões de verdade.

Os Solares - MARTHA MEDEIROS

ZERO HORA - 09/12


Também tenho meu lado cachecol e botas, mas se fosse obrigada a escolher uma de mim, nunca mais descalçaria o chinelo de dedos.



Quando pequena, sentia um orgulho bobo de ser de Leão, só porque o planeta regente desse signo era o Sol. Afora esse detalhe, não sabia nada sobre astrologia, mas agora passei a levar o assunto mais a sério e reconheci de vez o dinamismo relacionado ao astro rei.

Sou mais verão do que inverno, mais mar do que campo, mais diurna do que noturna. Intensamente solar, e isso é, antes de tudo, uma sorte, pois sem essa energia vital eu provavelmente teria tido um destino mais sombrio.

Ainda assim, conheço outros “solares” que são de Touro, Libra, Gêmeos e demais signos – é uma característica que, mesmo quem não a herdou do cosmos, pode e deve desenvolver. Gente é pra brilhar, já dizia outro leonino.

Não vou continuar me referindo aos astros, pois não é minha praia. Minha praia é Torres, Ipanema, Maresias, Mole, Sancho, Porto de Galinhas, Espelho, Ferradurinha, Quatro Ilhas e demais paraísos distribuídos por esse Brasil cuja orla é um exagero
de radiante.

Quando penso que minha cidade preferida fora do país é Londres, fico até ressabiada com este meu perfil camaleônico, capaz de me fazer sentir em casa num lugar cujo sol não é visita constante. Mas é preciso passear por todos os pontos antagônicos da nossa personalidade – ninguém é uma coisa só. Também tenho meu lado cachecol e botas, mas se fosse obrigada a escolher apenas uma de mim, nunca mais descalçaria o chinelo de dedos.

Não vejo o solar como alguém espalhafatoso. Pode ser discreto no agir, mas ele tem uma luz íntima que cintila, que se manifesta nos seus impulsos criativos, nas suas ideias que magnetizam. Ele não precisa de extravagâncias para atrair. É uma pessoa que naturalmente se dilata, que abre espaço para o novo, que circula por várias tribos, que faz do seu prazer de estar vivo uma
natural ferramenta de sedução.

O solar tem seus momentos de introspecção, normal. Não há quem não precise de um recolhimento para recarregar baterias, fazer balanços, conectar-se consigo próprio. Mas ele volta, sempre volta, e vem ainda mais expressivo em sua vibração espontânea. Há pessoas que possuem uma nuvem preta pairando sobre a cabeça.

São criaturas carregadas, pesadas – a gente percebe só de olhar. Uma tempestade está sempre prestes a desabar sobre elas. Respeito-as, ninguém é assim porque quer, mas considero
uma bobeira defender o azedume como traço de inteligência. Os pessimistas se acham mais profundos que os alegres. Não são.

“She´s only happy in the sun”, canta Ben Harper, e faço de conta que ele se inspirou em mim, mesmo sem eu saber quem é “she” – pode ser a iguana do cara, vá saber. Que seja. Iguana, toque aqui. Sol combina com erotismo (que tons de cinza, o quê), com bom humor, com leveza, com sorriso luminoso, com água cristalina, com calor, música, cores, vida. Quando ele se põe, me ponho junto, mas não apago: quando estou no escuro, me dedico aos vaga-lumes.

Quem ama mata - ou morre - DANUZA LEÃO

FOLHA DE SP - 09/12


Um homem ao lado da mulher que ama é outra pessoa, alguém que nem sua própria mãe reconhece


O amor é maravilhoso, não é? É, responde o mundo em coro. Mas por que será que as pessoas mudam tanto quando apaixonadas? Os mais boêmios, que passavam as madrugadas contando histórias idiotas, mas muito divertidas, que tinham sempre uma opinião diferente e original sobre os assuntos do dia, tornam-se austeros -e a bem da verdade, bem menos interessantes.

O "affair" do diretor do FMI, por exemplo: qualquer homem, em companhia de seus íntimos, dirá que, se a camareira fosse gostosa, faria a mesma coisa. Única ressalva: negaria até o fim, mesmo diante da Suprema Corte. Mas, se estiver ao lado da namorada, vai dizer que esse tipo de procedimento é indigno e que um homem que se respeita não pode, jamais, fazer nada de parecido. Quanto a elas -bem, se eles são assim, por que elas seriam diferentes?

Num almoço só de mulheres, depois da segunda caipirinha, algumas serão suficientemente francas para dizer que adoram homens atrevidos e ousados. Mas ponha essas mesmas mulheres ao lado dos maridos e pasme diante do que elas vão dizer, dele e da pobre camareira.

Um homem ao lado da mulher que ama é outra pessoa, alguém que nem mesmo sua própria mãe é capaz de reconhecer; ele é capaz de dizer que não acha a menor graça em mulher alguma, que quem ama é fiel e que para ele só existem duas coisas que realmente importam: ela -em primeiro lugar- e o time pelo qual torce. Se você encontrar esse mesmo homem almoçando com três amigos no centro da cidade, traçando uma linguicinha com um chope, vai descobrir que se trata de outra pessoa, só pelo som das gargalhadas. E, se passar uma bela morena com as pernas de fora, será um belo festival de baixarias.

Se você tiver uma única e grande amiga e ela se apaixonar, fique sabendo que ficou sozinha no mundo. Fazer uma refeição com um casal apaixonado está acima das forças de qualquer ser humano não apaixonado, pois o mundo deles é diferente, e nele não há lugar para pessoas normais.

Quem ama se transforma em outra pessoa, com outros gostos e outras opiniões, capaz de roubar a aliança da própria mãe para passar um fim de semana no Caribe com o ser amado, isto é: torna-se uma pessoa indigna de nossa confiança.

Aquela mulher que, quando entrava na discoteca, começava a mexer o corpo, hoje em dia fica paralisada, surda e muda, talvez pelas lembranças que a música traz -ah, como são coerentes, as mulheres. Só que ele se apaixonou por ela exatamente quando ela mexia não só o corpo, como o gelo do copo de uísque com o dedo, e agora, quando olha para aquela mulher austera, não entende por que a vida era tão melhor.

Você já foi a um show de striptease com seu amado? Bem, quando o romance começou, ele brincava e atiçava seu ciúme com elogios às gostosas no palco; agora, quando vê uma mulher pelada numa revista, olha sério, sem uma só expressão no rosto, como se estivesse vendo um quadro num museu. Ele virou um marido, tudo que você sempre quis, e por nada no mundo você faria um strip particular só para ele, como já fez; certas coisas não são para serem feitas com o marido.

Tente ir com ele a uma praia da Europa, daquelas em que as mulheres tiram muito naturalmente o sutiã para tomar sol. Nervoso ele vai ficar -ah, isso vai. Faça então uma experiência e diga que vai tirar o seu: um homem das cavernas vai surgir de dentro daquele que passava a mão nas suas pernas no carro, no meio do trânsito, com o ar mais sério do mundo.

Onde foi parar esse homem? Onde foi parar aquela mulher que vivia feliz e risonha, que não queria nada da vida a não ser ficar junto com ele, agarrada, apaixonada? Quem ama não mata? Mata, sim; ou mata o outro, ou mata a si próprio -e o fim dessa história a gente conhece.

A decisiva segunda metade - PEDRO MALAN


O Estado de S.Paulo - 09/12


Dilma Rousseff não contou, na primeira metade de seu mandato presidencial - e não contará na segunda -, com um contexto internacional favorável como contou Lula, embora o ex-presidente nunca tenha reconhecido o quanto dele se beneficiou. E se Lula preferiu "esquecer" esse fato, o governo Dilma viu-se obrigado a chamar a atenção - com insistência - para a crise no mundo desenvolvido, seu ministro da Fazenda chegando a afirmar que se não fosse a crise internacional o Brasil poderia estar crescendo em torno de 4,5% a 5% ao ano.

Mas o fato é que há países no mundo que estão respondendo bem à crise com que se defrontam os Estados Unidos, a Europa e o Japão. Para ficar apenas aqui, na América Latina, as taxas de crescimento no biênio 2011-2012 no Chile, na Colômbia, no Peru e no México são - em muito - superiores à brasileira. As taxas de inflação desses quatro países são - em muito - inferiores à brasileira. E as taxas de investimento desses mesmos quatro países estão na faixa dos 23% a 25%, ante os 18% a 19% do Brasil.

Há um quase consenso entre economistas brasileiros das mais variadas persuasões de que a chave para o nosso crescimento econômico sustentado é o aumento de nossa taxa de investimento dos atuais 18%-19% para níveis próximos dos desses quatro países latino-americanos citados acima (que já são abaixo dos asiáticos). Volto ao tema do artigo publicado neste espaço em junho deste ano (Urgências no gradualismo), agora com referência mais específica aos problemas do setor de petróleo e gás.

Em 7 de setembro de 2009 a então chefe da Casa Civil e óbvia candidata à Presidência da República concedeu ao jornal Financial Times longa e detalhada entrevista sobre o tema. A primeira e natural pergunta do jornalista foi: "Por que mudar o regime de concessão para o de partilha?".

Dilma Rousseff foi muito clara ao apresentar, e reiterar, ao longo da importante entrevista as suas três razões básicas: baixo risco exploratório no pré-sal, alta taxa de retorno sobre o investimento na área e reservas potenciais de petróleo e gás que poderiam chegar a dezenas de bilhões de barris de petróleo equivalente. A conclusão ou o corolário natural que a então ministra defendeu com convicção: "Nós (governo) queremos uma fatia maior das receitas deste petróleo". Daí a decisão de mudança do regime de concessões para partilha. (A propósito, acaba de sair um bom livro sobre esse tema, editado por Fabio Giambiagi e Luiz Paulo Velloso Lucas.)

Deixemos de lado uma pergunta fundamental: era mesmo preciso mudar totalmente a Lei do Petróleo de 1997 apenas para aumentar a fatia do governo? (Algo que o regime de concessões, adaptado, já permitiria, dizem especialistas, por meio do aumento da "participação especial" para os novos campos do pré-sal.) A questão relevante, no entanto, após a controvertida decisão da mudança de regime, passou a ser a viabilização dos investimentos para a empreitada, principalmente com a Petrobrás tendo de assumir a posição de operadora, com pelo menos 30% de todos os campos do pré-sal a serem explorados.

Em entrevista a este jornal há exatos três anos (2/12/2009, Economia, página B3), Sergio Gabrielli, então presidente da Petrobrás, diz o seguinte: "Hoje, a Petrobrás tem um plano de investimentos de US$ 174 bilhões para cinco anos (2009-13), que vai aumentar. Quanto eu não sei ainda. Mas, com certeza, é maior. US$ 174 bilhões em cinco anos significa cerca de US$ 35 bilhões por ano". E acrescenta: "A companhia não é capaz de gerar caixa livre para fazer esse investimento". Em 2009 a Petrobrás levantou US$ 31 bilhões de dívida nova (fato muito enfatizado pela ministra-chefe da Casa Civil na entrevista de 7 de setembro, supondo que captações adicionais não seriam problema, dadas as suas três razões básicas já mencionadas).

Mas Gabrielli nota que a Petrobrás tem de respeitar certos limites na relação dívida/capital próprio. E que seria necessária uma capitalização da empresa - como veio a ser feito. Sobre a capacidade de endividamento futuro da empresa, Gabrielli refere-se ao "potencial de produção" de quatro campos, diz que em outros quatro não se sabe qual o volume e que "das áreas não concedidas ninguém sabe nada". Como continuamos não sabendo, porque não há leilões nem para o pré-sal nem para nenhuma outra área, inclusive em terra, desde dezembro de 2008 - quatro anos atrás. Tempo precioso.

A pergunta fundamental continua sendo: a mudança de regime de concessão para o de partilha aumentou os incentivos ao investimento, público e privado (doméstico e internacional) no setor de petróleo e gás e em sua cadeia? Em outras palavras: para a mesma expectativa quanto às possibilidades de produção potencial do pré-sal, o ambiente de negócios melhora, piora ou é indiferente no que se refere ao regime escolhido?

Os casos do petróleo - e da energia elétrica - não são isolados. As mesmas controvérsias sobre os papéis relativos do Estado, de empresas públicas e do setor privado existem em outras áreas, como portos, aeroportos, rodovias, ferrovias, trens-bala, saneamento, abastecimento de água. A convivência de diferentes visões por vezes levou a paralisias decisórias, que a presidente Dilma vem, à sua maneira, procurando enfrentar.

Vale concluir com pertinente observação de Felipe González, ex-primeiro ministro da Espanha: "Paradoxalmente, o grande problema da ideologia é que ela obscurece o debate de ideias sobre a ação do poder público ao tratar como grandes questões políticas e morais problemas específicos que deveriam ser enfrentados como questões de eficiência operacional do setor público, quando não há diferenças de vulto sobre os objetivos a alcançar, e sim sobre as formas mais eficazes de fazê-lo".

Até 2014 teremos, talvez, alguma indicação adicional sobre essa questão.

Até lá, um feliz Natal e um próspero ano-novo a todos!

O que procura o mercado de trabalho - JOSÉ PASTORE

CORREIO BRAZILIENSE - 09/12


Já foi o tempo em que as empresas contratavam com base em diploma e recomendações. Nos dias atuais, as exigências vão muito além disso. As empresas querem capacidade de resposta, buscam bom-senso, lógica de raciocínio, boa comunicação, habilidade para trabalhar em grupo, domínio de línguas e outros requisitos. É por isso que sobram vagas e candidatos.

As empresas sabem que profissionais prontos e acabados para resolver problemas específicos não existem. Por isso, ao contratar, elas buscam pessoas que sejam capazes de apreender rapidamente o que precisam saber. Isso é essencial porque as tecnologias e os processos produtivos mudam muito depressa e exigem boa capacidade para acompanhar as mudanças. Nos dias atuais, já não basta ser adestrado. É preciso ser educado e bem-educado.

A educação só faz diferença no salário e na carreira do profissional quando é de boa qualidade. Isso explica por que muitos formados em cursos superiores ganham menos do que bons técnicos formados nas escolas técnicas de alta reputação. No Seminário sobre Educação e Formação de Mão de Obra para o Crescimento, realizado pelo jornal O Estado de S. Paulo, os dados ali aportados foram eloquentes.

Os técnicos projetistas e os técnicos em automação industriais, assim como os técnicos em energias renováveis, têm salário inicial por volta de R$ 3,5 mil por mês - bem acima do de muitas profissões de nível superior. Com 10 anos de experiência, ganham R$ 6 mil mensais e até mais. Pessoas com esse perfil são mais difíceis de ser encontradas do que os formados pelas universidades. Ainda hoje, a situação está desequilibrada. O país tem cerca de 6,5 milhões de estudantes nas universidades (15% do total) - o que ainda é pouco - e apenas 1,3 milhão nas escolas profissionais (7% do total) - o que é irrisório. Os países avançados possuem mais de 40% dos jovens matriculados nessas escolas. No Japão, são 55%; na Alemanha, 53%.

Os estudos do Senai indicam que, só para o setor industrial, serão necessários cerca de 1,1 milhão de profissionais qualificados novos até 2015, sem falar na necessidade de atualizar e reciclar os milhões já empregados. Mas o sistema brasileiro de formação profissional é acanhado. Isso tem efeitos perversos para as pessoas e para a economia.

Do lado das pessoas, muitas perdem oportunidade de melhores salários diante de vagas que não são preenchidas por falta de qualificação. Do lado da economia, a produtividade do trabalho se mantém baixa e inferior ao aumento do custo do trabalho, o que compromete a competitividade e os próprios investimentos futuros. Nenhuma economia se sustenta com produtividade baixa e custos crescentes.

Felizmente, há luzes no fundo do túnel. O Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (PRONATEC) está bem estruturado e promete ampliar substancialmente as matrículas nas escolas profissionais de nível médio. O Programa Ciência sem Fronteiras, com a oferta de mais de 100 mil bolsas de estudo, é fundamental para melhorar a qualidade das escolas superiores nas áreas tecnológicas e, com isso, sustentar a expansão das escolas de nível médio. As iniciativas das empresas por meio de cursos intensivos de qualificação técnica e de universidades corporativas trazem uma chama de esperança de dias melhores.

É animadora também a expansão do Sistema S. A propósito, estive na última semana na Olimpíada do Conhecimento, promovida pelo Senai em São Paulo, quando pude ver o vigor e o sucesso do ensino de boa qualidade. Os participantes do certame mostraram enorme capacidade de combinar a teoria com a prática no exercício das profissões técnicas que abraçaram. Dali eles seguem para Leipzig, onde disputarão as Olimpíadas Mundiais. Em 2011, os brasileiros se colocaram em segundo lugar, prova que as coisas benfeitas dão certo - mesmo no Brasil.

Demite Mantega. E daí? - SUELY CALDAS


O Estado de S.Paulo - 09/12

Depois de um PIB no chão e cinco trimestres seguidos de queda nos investimentos, o governo Dilma anuncia mais dois pacotes - regras de regulação para portos e mais R$ 100 bilhões para o BNDES financiar investimentos. Quantos são os pacotes em dois anos? Já se perdeu a conta. O Ministério da Fazenda inventou o empacotamento em série, e a cada resultado econômico negativo tira mais um pacote do armário, onde outros estão prontinhos aguardando o próximo fiasco do PIB. E, junto com o mais novo pacote, o ministro Guido Mantega repete a mesma ladainha: agora vai, os investimentos vão explodir, o futuro sorri, é promissor. Nestes dois anos, o futuro promissor não chegou. E ninguém mais nele acredita.

Dentro e fora do governo crescem as pressões políticas pela demissão de Guido Mantega. Na edição desta semana, a revista inglesa The Economist deu voz a essas pressões: argumenta que ele perdeu a confiança dos investidores e sugere à Dilma que nomeie um novo ministro capaz de recuperá-la.

Não faltaram tentativas de virada, mas no jogo do crescimento econômico Dilma só acumulou derrotas nestes dois anos. Restam-lhe mais dois anos para virar o jogo no segundo tempo e não sair com o placar de mais baixa taxa de investimento e crescimento mais medíocre desde Collor. Porém, é preciso reconhecer que desgastado e desacreditado não está só Mantega, mas o modelo escolhido pela presidente para desenvolver o País. É certo que não faltaram nela ânimo e disposição para acelerar a economia, e a queda da taxa de juros Selic para 7,25% foi a jogada mais acertada. Mas, no resto, o modelo já deu provas e provas de equívocos.

No campo dos investimentos, o exemplo mais evidente vem das primeiras rodovias e aeroportos licitados. Pelas regras do leilão, venceram os grupos que apresentaram custo de operação mais baixo e tarifa mais barata. Todos os demais fatores foram submetidos a esses dois objetivos. Só que, ao definir o preço da tarifa, é preciso calcular custos de investimentos futuros em ampliação e manutenção. Sem obras, as rodovias se deterioram, como aconteceu na Região Sul. E, na licitação dos Aeroportos de Brasília, Guarulhos e Viracopos, o governo só conseguiu atrair grupos de segunda linha, sem experiência em operar grandes terminais. Agora, para os Aeroportos de Confins (MG) e Galeão (RJ), ele tenta corrigir o erro com regras capazes de atrair as operadoras dos maiores aeroportos do planeta, mas submetendo-as ao comando da Infraero. Óbvio, todas avisaram que não aceitam.

Se o governo não tem dinheiro e precisa do investidor privado, ele deve vê-lo como amigo, não como inimigo, e definir regras que conciliem os interesses do País e dos usuários do serviço com as necessidades do negócio.

Trabalhar em parceria implica negociação e diálogo, não imposição. Recusar esse princípio de boa convivência tem sido outro equívoco do governo Dilma. Por falta de negociação com as geradoras elétricas, a redução de 20% nas contas de luz ameaça parar na Justiça, ou todos os brasileiros (o Tesouro) bancarão a queda da tarifa que eles próprios vão usufruir. Que vantagem Maria leva?

O cacife de manter a taxa de desemprego baixa e a ascensão salarial, ao longo de seu mandato, está se esgotando. Dilma precisa reagir com urgência e tentar virar o jogo no segundo tempo. Afastar a equipe econômica identificada com o modelo fracassado, e buscar um ministro de fora do governo, pode ser uma saída. Mas não é suficiente. Ao escolher um país para sediar seu negócio, o investidor precisa de certas previsibilidades de que o governo Dilma tem descuidado. Previsões certeiras do governo dos indicadores econômicos são uma delas. Ao projetar um crescimento de 4,5% e entregar 1%, o governo gera descrença e afasta o investidor. Decisões de investimento dependem também de segurança jurídica e estabilidade de regras - e as miúdas mudanças do governo só alimentam desconfiança.

Dilma tem dois anos para acelerar o PIB, elevar a medíocre taxa de investimentos (18,7%) e aproximá-la do Peru (30%) e do Chile (27%). A ver.

A guerra sem batalhas - FERREIRA GULLAR

FOLHA DE SP - 09/12


Muito melhor do que enfrentar o inimigo no campo de batalha é solapar o moral de seus soldados


Falei aqui de uma China que, em pleno século 18, se julgava um império celestial, centro do mundo civilizado, e que considerava todos os demais povos como bárbaros. Isso está no livro de Henry Kissinger "Sobre a China". Mas se você continua lendo-o, tem outras surpresas, como se verá.

A civilização chinesa, diferentemente da ocidental, não criou uma religião que prometesse a salvação da humanidade, nem acreditava em vida após a morte. Guiou-se fundamentalmente pelo pensamento de um filósofo chamado Confúcio, cuja sabedoria estava voltada para a solução de problemas do mundo real.

Confúcio ensinava que o fundamental para cada um é conhecer seu lugar e buscar uma harmonia superior. Nesse sentido, o imperador era concebido como um soberano supremo da raça humana, a ligação entre o céu, a Terra e a humanidade. Se se desviasse do caminho da virtude, o mundo se tornaria um caos.

Dá, assim, para imaginar a responsabilidade que pesava sobre seus ombros. Por isso mesmo, o protocolo insistia no reconhecimento de sua condição soberana no

"kowtow" -um ato de completa prostração, a que todos estavam obrigados diante dele, tocando o chão três vezes com as costas, a cada reverência.

Essa mescla, que une a divinização do imperador e do próprio reino chinês a uma compreensão prática da vida e da política, é uma das surpreendentes originalidades da China. Tal visão pragmática decorre dos ensinamentos de Confúcio, que ajudaram a formar uma espécie de sacerdócio de funcionários -eruditos, selecionados por meio de exames realizados em todo o país e encarregados de manter a harmonia nos outros domínios do imperador.

Essa elite administrativa desenvolveu uma visão política que norteava as decisões do governo em face das questões que surgiam com os que lhe invadiam o território.

Em vez de tentar derrotar e submeter aqueles "bárbaros", tratava de dividi-los, e se aproveitava dessa divisão para jogá-los uns contra os outros. "Favorecemos um lado ou outro e deixemos que lutem entre si", escreveu um funcionário da dinastia Ming.

Como observa Kissinger, em raras ocasiões os estadistas chineses arriscaram o resultado de um conflito em uma única batalha de tudo ou nada. O seu estilo, pelo contrário, era usar de elaboradas manobras de longa duração. Não é por acaso que o jogo mais antigo da China é o "wei qi", que implica submeter o adversário a um cerco estratégico. Múltiplas batalhas são disputadas simultaneamente em diferentes pontos do tabuleiro. No final do jogo, o tabuleiro está repleto de domínios estratégicos parcialmente interligados e o vencedor nem sempre é fácil de identificar. É o contrário do jogo de xadrez jogado no ocidente, em que a vitória é total e óbvia.

A finalidade do jogo, aqui, é o xeque-mate. Disso resulta que, se o xadrez é uma batalha decisiva, o "wei qi" é uma campanha prolongada. Se o jogo de xadrez visa à vitória total, o "wei qi" busca a vantagem relativa. O jogador de "wei qi" precisa avaliar não só as pedras que estão no tabuleiro, como também os reforços que o adversário está em condições de mobilizar. É um jogo que ensina a arte do cerco estratégico, e nisso se assemelha à teoria militar chinesa, que igualmente busca a vantagem psicológica e procura evitar o conflito direto, como ensina o célebre tratado "A Arte da Guerra", de Sun Tzu, escrito há mais de 2.000 anos.

Conforme observa Kissinger, o que distingue essa teoria militar da teoria ocidental é a ênfase nos elementos psicológicos e políticos, em vez dos puramente militares. Os estrategistas ocidentais testam suas convicções pelas vitórias nas batalhas, enquanto Sun Tzu as testa pelas vitórias em que as batalhas não foram necessárias.

Sun Tzu pergunta em que o estadista deve se mostrar prudente, e responde que a vitória não é simplesmente o triunfo das armas e, sim, a realização dos objetivos políticos que o conflito militar pretendia assegurar.

Por isso, muito melhor do que enfrentar o inimigo no campo de batalha é solapar o moral de seus soldados. No fundo, a estratégia militar, segundo ele, resolve-se em uma disputa psicológica. A suprema vitória consiste em vencer o inimigo sem travar qualquer combate.

Na cova dos leões - DAVID COIMBRA

ZERO HORA - 09/12


Já passei a mão no lombo de um leão. Foi quando estive na África, na Copa de 2010. Era um filhote de leão, na verdade. Um leãozinho. Mas se tratava de um bicho robusto, do tamanho de um cachorro, e cheio de dentes dilacerantes. Ele estava numa área reservada para filhotes no Parque dos Leões de Joanesburgo, uma espécie de creche de leões.

Nós, seres humanos, podíamos entrar lá, se quiséssemos, mas isso ficava por nossa conta. No portão de entrada havia uma placa bem grande lembrando que “leões são animais selvagens” e que, se nós entrássemos naquele local, o parque não se responsabilizava pelo que ocorreria.

Isso me deixou um pouco apreensivo. Fiquei ainda mais ao saber que um cinegrafista da Globo foi afagar um daqueles filhotes e o bicho, por algum motivo, se irritou e deu-lhe um tapa. Foi um só, mas bastou para rasgar-lhe primeiro a calça jeans e depois a carne. O cinegrafista foi para o hospital. Hoje ele deve andar pelo Rio contando que foi atacado por um leão na África, sabe como são os cariocas.

Então, entrei no lugar meio sestroso, observando os pequenos leões à distância segura. Havia dezenas deles, espalhados preguiçosamente em grupos de três ou quatro. Irmãos, supus. Ou primos. Encaravam nossa presença com indiferença felina. De qualquer forma, não ia passar a mão em leão nenhum. Para quê? Mas todo mundo estava passando e tirando fotos. Diziam:

– Passa a mão no leão! Passa a mão no leão!

Suspirei, conformado. Não sairia dali sendo chamado de covarde. Pedi para o fotógrafo Emerson Souza preparar a máquina. Escolhi um leãozinho que me pareceu pacífico, deitado indolente sobre uma pedra. Fui chegando perto. Mais perto. Mas não muito perto. Sentei ao lado dele. Ele virou a cabeça e me olhou, piscando sem muito interesse. Levantei o braço. Abri a mão. Pousei-a devagar no pelo do filhote. Esforcei-me para sorrir para a foto. Retirei-a, rápido, e saí dali. Passar a mão em leão, francamente. Pelo menos eu tinha a história para contar, que é o que estou fazendo agora.

Os devoradores de homens

Mas por que venho lembrar essa trepidante aventura animal num 9 de dezembro? Você já deve saber, todo mundo sabe: porque, precisamente nessa data, um dos mais famosos leões da história leonina de todos os tempos foi assassinado a tiros.

A história desse leão, e de um amigo dele, foi contada naquele filme com o Val Kilmer e o Michael Douglas, “A sombra e a escuridão”. Trata-se de um caso verídico. Passou-se no Quênia, que fica a boa distância de Joanesburgo, lá em cima, na, digamos, base do Chifre da África.

Na partilha que os europeus fizeram da África, o Quênia coube aos ingleses. No fim do século 19, eles decidiram cortar parte do país por uma ferrovia. Estavam construindo os trilhos na região do Rio Tsavo, quando esses dois leões, chamados pelos nativos de Sombra e Escuridão, começaram a atacar.

Se você vê National Geographic, está ciente de que pessoas não são o prato preferido dos leões. Não, pessoas são muito magras, com exceção de tipos como o Jô e a Lady Gaga depois que o pai dela montou uma pizzaria. Assim, leões apreciam jantar tenros filhotes de zebras e, muito mais, carnosos gnus. No entanto, Sombra e Escuridão transformaram-se em devoradores de gente.

Desde aquela época, 1898, os cientistas especulam acerca das razões dessa mudança de dieta. Uns acham que os dois leões começaram a comer cadáveres insepultos de escravos e, depois disso, adquiriram o gosto por carne humana. Outros acreditam que as feras tinham problemas dentários, fazendo com que seus dentes doessem quando mordiam o duro pescoço de uma girafa, optando, assim, por arrancar nacos de homens molinhos.

Seja qual for o motivo, eles passaram o ano comendo os trabalhadores da ferrovia. Eram leões gigantescos, maiores do que o normal, com três metros de comprimento. Leões sem juba, ao contrário do que mostra o filme. E o mais estranho: agiam coordenadamente, atacando em dupla, sempre à noite, arrastando os homens para uma caverna e só então jantando-os.

Sombra e Escuridão se repimparam com dezenas de pessoas. Há quem diga que foram 140 mortos. Os quenianos juravam que eram demônios e, desesperados, interromperam o trabalho. Aí entrou em ação o coronel John Patterson, interpretado por Val Kilmer no filme. Ele era um daqueles britânicos valentes do século 19.

Depois de inúmeras tentativas e de quase servir de repasto de leão, desferiu um certeiro tiro de rifle num dos integrantes da dupla e o matou, no dia 9 de dezembro. No fim do ano, matou o outro membro do par. Concluiu a ferrovia em três meses, escreveu livro a respeito, tornou-se herói dos britânicos e dos africanos. Não meu. Eu, aqui, prefiro a Sombra e a Escuridão.

Joanesburgo

Em Joanesburgo, os brancos sentem medo dos negros, e os negros sentem medo dos nigerianos. O medo dos brancos pode ser resumido pela história da Noite da Faca. Que é a seguinte: quando o nonagenário Nelson Mandela morrer, os negros sairão às ruas para enfim se vingar pelos anos de apartheid. Todos eles estarão armados de facas, cutelos, punhais e adagas. Quando encontrarem um branco, qualquer branco, conhecido ou desconhecido, irão retalhá-lo como se fosse um boi de açougue. Terrível.

Já os negros sul-africanos sentem medo dos nigerianos porque as gangues mais perigosas do país são formadas por eles. A Nigéria fica tão distante da África do Sul quanto o Quênia, só que o Quênia está a leste e a Nigéria a oeste do continente. Muitos dos nigerianos são da etnia dos ibos.

Esses ibos uma vez fundaram o estado de Biafra, que, aliás, também é nome daquele sujeito que cantava “voar, voar, subir, subir.” Outra etnia forte da Nigéria é a dos iorubás, os mesmos que vieram (à força, evidentemente) para a Bahia.

É fácil identificar um nigeriano em Joanesburgo. Eles são altos, usam colares e adereços brilhantes, estão debaixo de grandes chapéus e se reúnem em grupos nas esquinas. Ficam observando prováveis vítimas. O maior medo de uma mulher africana é ser sequestrada por uma gangue de nigerianos. Eles capturam uma mulher na sexta, ocupam-se dela no sábado e no domingo, e, na segunda, ou a executam ou a soltam contaminada por HIV.

Joanesburgo é uma cidade dura. Melhor visitar outros lugares da África do Sul.

Deus e a ciência - HÉLIO SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 09/12


SÃO PAULO - Bela tentativa. É o que se pode dizer do livro "Onde Realmente Está o Conflito - Ciência, Religião e Naturalismo", de Alvin Plantinga, lançado no fim do ano passado nos EUA. O projeto da obra é ambicioso. Plantinga, que é, ao mesmo tempo, um filósofo analítico de renome e um protestante devoto, pretende demonstrar não apenas que as discrepâncias entre a ciência e a religião (em especial, a cristã) são superficiais como também que existe uma contradição insuperável entre a ciência e o naturalismo.

Não creio que tenha alcançado o objetivo, mas isso não implica que o livro seja desinteressante. Ao contrário, ele levanta questões instigantes. É particularmente feliz ao mostrar que naturalismo e materialismo apresentam várias dificuldades filosóficas e, como as religiões, também trazem embutidos uma ontologia e, se quisermos fazer com que Popper revire na tumba, uma metafísica.

Assim como Thomas Nagel, de quem falei algumas semanas atrás, Plantinga explora as implicações do problema mente-corpo. O naturalismo não tem como assegurar que pelo menos parte de nossas percepções e a própria razão (e, com elas, nossas teorias científicas) sejam confiáveis.

O livro falha, creio, quando tenta produzir evidências em favor do teísmo. Minha impressão é a de que aqui Plantinga abre mão do rigor com que tratou o naturalismo. Um exemplo: ele coloca a fé (o "sensus divinitatis" de Calvino) como uma fonte de formação de crenças tão válida quanto a razão ou as percepções.

O resultado é que Plantinga vai criando esconderijos para Deus, nichos filosóficos ou linguísticos onde o todo-poderoso pode abrigar-se de questionamentos contundentes. Mesmo assim, para os que se interessam pelo debate entre ciência e religião, que é um dos grandes temas da atualidade, o livro oferece uma perspectiva teísta que não se restringe a reafirmar os velhos contos da carochinha (embora eles estejam lá).

A base aliada na ilha - JOÃO UBALDO RIBEIRO

O GLOBO - 09/12


— Uma amante só? — interrompeu Alma Roxa, que até então estivera concentrado num mocotó. — Deixe de ser besta, uma só não é nem pra vereador! Você acha que um homem desses vira presidente e não vai papar as mulheres, isso não existe!



Da mesma forma que o Bar de Espanha, o Mercado Municipal Santa Luzia, em Itaparica, sempre foi palco de debates sobre todos os assuntos, de biológicos a políticos. Entre suas paredes, ainda ecoam discursos de Piroca Vieira, que denunciava tudo, todos e todas, conferências de Sete Ratos, que testemunhou várias vezes jararacas cruzando com caramurus, narrativas autobiográficas de Gueba, onde ele sempre provava que todo mundo é avariado da ideia, e um sem-número de lembranças de afamados tribunos conterrâneos que já se foram. Os saudosistas se queixam que, depois do desaparecimento de vultos dessa estatura, o Mercado nunca mais foi o ágora de antigamente. Comparado ao dos velhos tempos, hoje seria até uma pasmaceira completa.

Exagero de velhotes inconformados com a marcha do tempo. Pois, ao caminhar o visitante ali por trás da Matriz, bem antes de chegar ao Mercado, não poderá deixar de descortinar ao longe as silhuetas dos debatedores, uns dando passadas dramáticas para lá e para cá, outros exibindo uma quironomia arrebatadora, outros ainda falando de rosto para cima como quem clama aos céus. À chegada, vê-se que os principais oradores são Ary de Maninha e Jacob Branco, quer dizer, jogo duro para qualquer um. É cada anástrofe de entontecer, cada aliteração de repenicar nos ouvidos, cada metáfora de cair o queixo, cada citação de Castro Alves de arrepiar, cada perífrase que mais parece uma serpentina — coisa que só se presenciando para acreditar. A palavra está com Jacob, que, além de orador, é grande estudioso da rica história da ilha.

— A verdade histórica é que a instituição da rapariga — disse ele —, faz parte indissolúvel de nossa mais nobre tradição! O feminismo e outros movimentos deletérios, todos capitaneados por uns merdíocres colonizados, aqui almejando implantar costumes exóticos, querem destruir essa venerável tradição. Sabem os senhores que nossos ancestrais sempre tiveram raparigas e muitos de nós, cala-te boca, somos descendentes de grandes homens com grandes raparigas. Agora estão fazendo essa onda toda com ele, inclusive gente que não tem moral para abrir a boca nesse caso, como se o caso dele fosse alguma novidade. Vamos fazer oposição, mas não oposição desleal! Aqui alguém tem coragem de me dizer que é contra a rapariga?

Antes que Ary, que já estava com aquela cara de águia de Haia que ele faz antes de exibir seus dotes de orador, pudesse iniciar sua intervenção, instalou-se intensa curiosidade e mesmo perplexidade, entre os presentes. Quem era esse de que Jacob falava? Que história era aquela, de que rapariga se tratava, que grande novidade se apresentava, alguém estava estranhando o alguém por ter uma rapariga fora de casa, tudo dentro da normalidade? Anormal e pobre é que não têm e, assim mesmo, muitos pobres se viram direitinho, não envergonham os amigos.

— Pois é — disse Jacob, a voz ainda fremindo um pouco. — Eu sei que ninguém aqui vai acreditar, mas é a pura verdade, saiu em todos os jornais. Está todo mundo esculhambando Lula, porque dizem que descobriram que ele tem uma amante.

— Uma amante só? — interrompeu Alma Roxa, que até então estivera concentrado num mocotó. — Deixe de ser besta, uma só não é nem pra vereador! Você acha que um homem desses vira presidente e não vai papar as mulheres, isso não existe! Triste seria, se ele não aproveitasse, era caso de desconfiar! Ele está no papel dele! O sujeito se elege e vai deixar passar essa oportunidade? Só doido, ali é de artista de cinema pra cima, dá para ele fazer um grande catado no mulherio. Queria eu estar no lugar dele, você ia ver, não ia sobrar uma, era elas chegando, era eu traçando. Não, mentira sua, deve ser outra coisa, rapariga não.

— Rapariga, rapariga.

— Rapariga sustentada mesmo?

— Aí é que está o problema — interveio finalmente Ary, que estivera se coçando o tempo todo para falar. — É porque ela é sustentada por um salário de funcionária pública, não sai nada do bolso dele.

— Mas taí, taí, e era pra sair? Eu pergunto novamente: o sujeito sobe na política, chega até a ser presidente da República duas vezes e não pode conseguir uma simples colocação para o pessoal dele? O indivíduo vai trabalhar pra quê, se não for pra procurar suas melhoras e dos seus? Por que é que ele vai gastar o dinheiro dele sem necessidade? É cada uma!

— Mas não está certo, ele devia sustentar, é o correto. Todos os jornalistas que eu li concordam, ele…

— É a voz dos invejosos e maledicentes, isso tudo é olho grande e despeito, esses jornalistas são todos uns pés-rapados sem ter onde cair morto e, quando pensam que o homem, além de estar por cima da carne seca e com puxa-saco por todo lado, ainda pega aquelas mulheres do Sul do país, aí eles se lascam de inveja e ficam procurando difamar. Agora fazem essas caras de santos do pau oco e cometem essa injustiça com o rapaz.

O dia já estava alto, aí pelas nove horas, quando Alma Roxa encerrou seus comentários. Mas, anunciou ele, agora ia recolher umas assinaturas para o telegrama de solidariedade que resolvera enviar ao ex-presidente: “Cidadãos conscientes da Ilha de Itaparica prestam integral solidariedade Vossência caso rapariga pt Conte conosco.”

— E eu vou oferecer a ele umas instalações aqui — concluiu Alma Roxa. — De repente ele aceita, o mulherio vem todo atrás dele e a gente pega as rebarbas. Eu posso não ser ele, mas sempre fui um homem de visão.

A frágil Esfera Azul - MARCELO GLEISER

FOLHA DE SP - 09/12


Imagem clássica da Terra vista do espaço marcou transição entre exploração cósmica tripulada e robótica


a Sexta-feira passada, dia 7, foi o aniversário de 40 anos de uma foto histórica da Terra inteira, vista pela tripulação da Apollo 17. A foto, tirada de uma distância de 45 mil quilômetros, mostra o planeta em "fase cheia", isto é, com o Sol iluminando-o por trás da Lua, no arranjo Sol-Lua-Terra; para vermos a Lua cheia, o arranjo é invertido: Sol-Terra-Lua.

Vemos a África, parte da Antártida e muitas nuvens. Foi a última vez que humanos pisaram num mundo que não o nosso, a sexta missão Apollo a conseguir tal feito.

A foto, uma das mais reproduzidas da história, marca um momento de transição: por um lado, a percepção de nosso planeta como uma frágil esfera flutuando na vastidão cósmica deu grande força ao movimento ecológico nos anos 1970.

Por outro, a própria exploração do espaço também se transformou, já que tripulações humanas ficaram restritas a órbitas "baixas", isto é, próximas da órbita da Terra. Esse é o caso da Estação Espacial Internacional, por exemplo.

Outros mundos, como Marte e os outros planetas e luas do Sistema Solar, passaram a ser explorados por máquinas, devido a avanços de tecnologia em robótica e computação. Estendemos nosso alcance ao espaço e aprendemos muito, mesmo que perdendo um pouco do lado heroico que sempre marca viagens ao desconhecido.

No início deste ano, comemorando os 40 anos da foto histórica, a Nasa lançou uma nova versão da Esfera Azul -compilada remotamente pelo satélite meteorológico Suomi NPP, no dia 4 de janeiro.

Desta vez, foi uma máquina, e não os olhos humanos, que controlou a câmera. E são muitas fotos retratando a Terra em hemisférios e ângulos diferentes. Na primeira semana desde seu lançamento no portal Flickr, a imagem -chamada de "Esfera Azul 2012" (a tradução literal é Bola de Gude Azul, mas fica horrível em português), foi vista por mais de 3 milhões de visitantes.

Do ponto de vista econômico, não há dúvida de que enviar robôs a Marte ou pelas vizinhanças de Saturno é bem mais barato e "safo". Do ponto de vista científico, que não pode ser separado da questão econômica -missões muito caras são, obviamente, muito mais raras-, o ganho tem sido enorme.

É o que vemos com a incrível sonda Opportunity, que continua explorando a superfície marciana desde 2004, mesmo que projetada para fazê-lo por apenas 90 dias; e mais recentemente com sua "prima" maior, o jipe-robô Curiosity.

Segundo a Nasa, o Curiosity acaba de completar sua primeira análise da composição química do solo marciano, encontrando uma rica variedade de compostos, incluindo alguns com carbono. Mas nenhum sinal de vida; não se sabe se esse carbono é nativo de Marte ou se veio de meteoritos ou cometas.

Apesar dos avanços, nada se compara à presença humana; o que a sonda faz, com grande lentidão, humanos poderiam fazer rapidamente. Se quisermos manter vivo o espírito da exploração, temos de continuar enviando humanos a outros mundos. Talvez a solução esteja em colaborações internacionais ou na iniciativa privada. Mesmo com sérios riscos, tenho certeza de que não faltariam candidatos. Grandes exploradores querem voltar, mas sabem que nem sempre voltam.

Justiça é feita - CARLOS HEITOR CONY

FOLHA DE SP - 09/12


RIO DE JANEIRO - À margem dos comentários e do impacto causados pelas transmissões do STF no julgamento do mensalão, surgiu uma pequena e ociosa questão: valeu a pena o espetáculo em si, os debates, uma ou outra discussão mais violenta a respeito da culpa ou da inocência dos réus?

Em minha opinião, valeu, e valeu muito. Somente no final, quando suas excelências começaram a discutir a redução das penas, percebi a dificuldade do exercício da justiça dentro dos critérios do Código Penal em vigor.

Em cada delito, há elasticidade das penas, previstas atenuantes ou agravantes de cada caso. Os artigos do CPP (Código de Processo Penal) me parecem claros, deixando aos juízes largos espaços para a penalização dos delitos, e aí abre-se a oportunidade para avaliações pessoais e contraditórias de cada magistrado.

Felizmente, não temos a pena de morte, que não pode ser parcializada, nem agravada, nem atenuada. Mas a questão se complica quando se trata de considerar três ou quatro anos de reclusão, com acréscimos de frações que podem criar penas excessivas ou leves. No fundo, abre-se a possibilidade para o arbítrio.

Não me refiro a determinado crime ou réu, a transparência dos debates deixou evidente a isenção e os critérios legais adotados, mas sempre resta a questão: porque um terço ou dois para acrescentar à base prevista no código?

Fica aberto o caminho legal dos recursos, que, a longo prazo, podem reduzir e até anular as condenações. Há um filme francês, de André Cayatte (que era um advogado militante), sobre um caso de morte em que o réu foi penalizado em oito anos. O diretor-advogado coloca a questão: se o réu é culpado, a pena é pouca. Se é inocente, a pena é muita. E conclui com a frase final que dá nome ao filme: "Justice Est Faite".

O que eu acho de Deus - PAULO SANT’ANA

ZERO HORA - 09/12


Esses dias, escrevi uma coluna em que dizia que ultimamente tenho conversado com Deus.

Quero explicar aos meus leitores que a compreensão que tenho de Deus não é a daquele ancião de barbas hirsutas (pelos longos, duros e espessos), o Jeová das Sagradas Escrituras.

A ideia que tenho de Deus é de que ele é uma massa fluídica que paira sobre o universo e de alguma forma controla e comanda todos os fenômenos naturais, incluindo neles o funcionamento da raça humana.

Segundo penso, tudo é originado em Deus e as injustiças que há sobre a Terra pertencem aos enigmas divinos a que nenhum humano tem acesso. Podem ser pertinentes a um estranho código de castigos e pragas que a divindade derruba sobre os seres.

A conversa minha com Deus que descrevi naquela coluna é sobre um relativo entendimento que tenho com ele: ele me designa alguns severos sofrimentos que no entanto são suportáveis. Deus nunca me castigou de forma a que eu não pudesse suportar.

E frequentemente me premia com benesses tão grandes, que meu coração parece que vai explodir com tanto contentamento.

Deus é um bom parceiro que tenho. Ele até agora tem-me concedido favores que não concede a tanta outra gente.

Eu me entendo com ele. Às vezes, temos rusgas, mas nada que possa afetar nosso relacionamento a ponto de uma ruptura.

Esqueci-me ontem de citar um novo e prometedor colunista de Zero Hora: Celso Gutfreind. Ele escreveu segunda-feira passada sobre o risco divisório entre as duas nádegas, imagino que ele ache que ali é a Faixa de Gaza, quem conseguir passar por aquela fronteira atinge o paraíso de Jerusalém.

Eu já tinha começado a gastar por conta quando a presidente Dilma prometeu que a conta de luz iria sair 20% mais barata.

Parece que não vai ser bem assim, chegaremos a 16% de desconto, mas nós, consumidores, vamos dormir com o remorso de que esse abatimento pode significar um apagão na energia em todo o país.

Pobre, quando ganha uma esmola, passa a ser responsabilizado por um desastre.

Um banco me deu cinco cartões de crédito e débito. Mas nenhum deles funciona, ora a senha não confere, ora aparece no aparelhinho a inscrição: “Débito não autorizado”. Tenho passado vergonha em algumas lojas em que compro, depois de tudo empacotado, vêm me dizer que o cartão não aceitou as despesas.

Eu sou um completo idiota em negociações eletrônicas. Ou então me esqueci de colocar fundo nas contas dos cartões, mas, se foi isso, por que então que me concederam os cartões?

Há uma coisa que não consigo entender: são essas pessoas que comem nas saladas as cenouras e as beterrabas raladas.

Por que é que ralam? Melhor seria passá-las no liquidificador.

Eu só compreendo cenoura e beterraba, por sinal as adoro, que eu possa morder para saborear.

Essa menina sou eu - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 09/12


Ao virar protagonista na TV, Nanda Costa, 26, enfrenta desconfianças com a bagagem de quem saiu de casa aos 14 anos para ser atriz e já tem dez longas no currículo

Ela assistiu ao especial de Natal de Roberto Carlos pela tevê ao lado da mãe, Patrícia, em 2010. "Ano que vem, eu te levo", prometeu Nanda Costa, ao ver a apresentação do Rei em Copacabana, transmitida pela Globo, da sala de casa da família em Paraty (RJ). Ainda era uma atriz desconhecida do grande público.

Cumpriria a promessa em grande estilo dois anos depois. Convidada de honra do especial do Rei de 2012, a intérprete de Morena na novela "Salve Jorge" levou a mãe para assistir à gravação na primeira fila. "Foi um dos momentos mais marcantes de nossas vidas", disse à repórter Eliane Trindade.

O grande momento para mãe e filha foi ouvir Roberto Carlos cantar "Esse Cara Sou Eu", música tema do romance de Morena e Theo (Ricardo Lombardi), protagonistas da novela de Gloria Perez. Aos 26 anos, a atriz vive fortes emoções ao ser alçada ao horário nobre da Globo. Em dezembro passado, Nanda foi acordada por um telefonema da autora: "Você acabou de passar para a minha novela". Assustou-se: "É trote?".

Não era. Até então escalada para o elenco provisório de uma nova das sete, mudou de horário e de status na emissora. Nome novo na constelação global, gerou desconfianças. "No começo, vi um movimento assim: 'Nanda? Será que ela tá preparada?'", conta. "Mas não estou sozinha nessa aposta."

No telefonema, a dona da história tratou de tranquilizar a atriz que até então tinha feito papéis menores na TV. "Conheço seu trabalho, assisti aos seus filmes e tenho vontade de trabalhar com você faz tempo", disse Gloria.

Antes de encarnar uma garota de favela que é traficada para ser prostituta na Europa, Nanda deu vida a personagens fortes no cinema. "Emendei um trabalho no outro desde 2006", conta. Desde então, foram dez longas.

Está em cartaz em "Gonzaga: de Pai pra Filho", de Breno Silveira, como mãe de Gonzaguinha. Ganhou melhor atriz no Festival do Rio por "Sonhos Roubados" (2009), de Sandra Werneck. Foi premiada em Paulínia (SP) por "Febre do Rato" (2011), de Cláudio Assis.

Foi no papel de Dolores Duran, no especial "Por Toda Minha Vida" (2008), que se reconheceu atriz. "Assistir à vida da Dolores era bem mais interessante do que o fato de eu estar ali representando. Ser atriz é isso."

É também encarar cascas de banana. Ganhou a pecha de "nada consta" de colegas de elenco, segundo sites de bastidores da tevê. "Dou risada", diz. "O chato são as justificativas. Uma hora dizem que não estou dando conta da atuação. Depois, dizem que não falo com a equipe e sou antissocial."

Ao chegar ao Projac, é recebida com carinho pelo maquiador e pela manicure. De All Star e jeans, só as unhas postiças e o aplique no cabelo lembram a personagem. Vai subir no salto, colocar short e top, uniforme das garotas do Alemão. Refuta o carimbo de periguete que tentam colocar na heroína de "Salve Jorge". "É normal andar assim na favela. Não é vulgar. Morena é uma mocinha fora dos padrões."

É hora de gravar a cena em que sua personagem, que termina o noivado, busca o vestido de casamento que não vai mais usar. O diretor Luciano Sabino está satisfeito, Nanda pede para repetir. "Ela é uma atriz visceral, vulcânica, um prato cheio para qualquer diretor", diz.

O desejo de ser atriz vem desde os oito anos, quando transformava o piso superior do restaurante da mãe em escolinha de teatro. Aos 14 anos, foi morar com uma tia em São Paulo para estudar na Escola de Atores Wolf Maya. Quatro meses depois, a tia morreu em um acidente de carro. "Voltar pra Paraty seria adiar o sonho. Queria mais do que nunca ser orgulho da família", emociona-se.

Um pensionato de freiras, nos Jardins, virou seu endereço paulistano. Fazia o curso de interpretação das 18h às 23h. "Levava um tênis na mochila. Voltava pra casa correndo." Sem dinheiro para táxi nem tempo para esperar ônibus, tinha que chegar antes de o portão fechar às 23h30. "Sofria com medo de dormir na rua."

Passou seis anos em São Paulo. Transferiu-se para o Rio em 2006, quando fez "Cobras e Lagartos". Assinava o primeiro contrato com a Globo. Renovado desde então. "É bom demais ter contracheque, 13º, plano de saúde."

Estabilidade que permitiu a ela declinar das sondagens para posar nua. "Quanto mais vivo da minha arte menos penso nisso." Nudez no set não é problema. Em "Febre do Rato" ficou nua em cima de um carro. "É um filme fortíssimo. Quando confio na equipe, me jogo. Quem quiser me ver pelada, vá ao cinema."

Na montagem do filme, Cláudio Assis perguntou se ela queria que a barriguinha e a celulite fossem corrigidas na finalização. Agradeceu o cuidado, mas disse não. "É o corpo que tenho. O legal é ser natural. Não fico pensando em tirar aqui, levantar ali."

É a mesma firmeza com que encerra o assunto quando indagada sobre namoros. "Estou feliz", despista. Mas fala abertamente sobre o fato de nunca ter tido contato com o pai. "Minha mãe me teve muito cedo e ele não participou. Não temos contato."

A ausência da figura paterna foi preenchida, com sobras, pelo avô materno, seu José, que morreu em 2010. "Ele era um cara incrível, a pessoa que mais admirava no mundo. Na minha primeira novela, ele gastou as economias para comprar uma TV imensa. Dizia que queria ver a neta em tamanho natural."

Em homenagem ao avô, ela fez uma tatuagem no pé direito: um elefante, símbolo de força. "É o que me impulsiona. Quando hesito, olho para o elefante e sei que tenho força pra ir adiante."

"Dou risada dessa história de me chamarem de 'nada consta'. O chato são as justificativas. Uma hora, dizem que não estou dando conta da atuação. Depois, dizem que é por não falar com a equipe, ser antissocial"

'A linha reta não sonha' - TOSTÃO

FOLHA DE SP - 09/12


Todos os grandes times da história, com estilos diferentes, jogam, primeiro, para vencer


A antiga e inapropriada discussão entre futebol-arte e futebol de resultados será ainda mais frequente até a Copa, por causa do fim do sonho de trazer Guardiola, símbolo do futebol bem jogado e bonito, e do retorno de Felipão à seleção, representante do futebol de resultados, embora, como todo bom técnico, tenha sucessos e fracassos.

Após a Copa de 1966, vencida pelos ingleses, só se falava, no Brasil, do fim do jogo moleque, inventivo e imprevisível das seleções de 1958 e 1962 e do novo futebol dos europeus, de resultado, força, disciplina tática, velocidade e objetividade.

Apenas quatro anos depois, após a Copa de 1970, o grande cineasta italiano Pasolini disse que a poesia brasileira tinha vencido a prosa italiana. Chico Buarque escreveu que os europeus eram os donos do campo, e os brasileiros, da bola. Hoje, não somos mais os donos do campo nem da bola. Não aprendemos a utilizar os espaços e damos a bola com facilidade ao adversário.

Entre 1974 e 1994, o Brasil não ganhou a Copa do Mundo, porque havia seleções melhores. A de 1982 foi exceção. Encantou, mas não venceu. José Miguel Wisnik, em seu excepcional livro "Veneno remédio", escreveu sobre esse período: "Predominava a ideia de que era preciso adotar um jogo eminentemente coletivo, tecnicamente responsável, compactamente defensivo, fisicamente forte e que abrisse mão de devaneios individualistas".

De 1994 até hoje, nas vitórias e nas derrotas, continuaram as discussões sobre o futebol-arte e de resultados.

As maiores equipes de todos os tempos, com vários estilos, sempre atuaram, primeiro, para vencer. A seleção de 1970 jogava um futebol de prosa e de poesia. Unem o pragmatismo criativo e o jogo coletivo com o talento individual e as fantasias. "A linha reta não sonha" (Oscar Niemeyer). Quando as grandes equipes perdem não é porque não são competitivas. Dezenas de detalhes, que, muitas vezes, duram uma fração de segundos, mudam a história de um jogo. "A vida é um sopro" (Oscar Niemeyer).

A arte necessita da técnica. Já a técnica sem a arte tende ao tecnicismo e à ineficiência. O que não se pode é confundir firula, habilidade sem técnica, com arte.

Infelizmente, um grande número de pessoas envolvidas profissionalmente com o futebol apenas se preocupa com o resultado, com os estereótipos, com o imediatismo e com as manchetes bombásticas.

A discussão entre futebol-arte e de resultados transcende o futebol. Faz parte das eternas dúvidas humanas entre a razão e a imaginação, o desejo e a ética, o real e o simbólico, e tantas outras dualidades. Quando vejo o Barcelona jogar, um time que une o individual com o coletivo, a beleza com o resultado e a utopia com a realidade, atenuam-se minhas dúvidas futebolísticas e existenciais.

Emendas & sonetos - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 09/12


Depois da história de recriação da Arena, o partido da ditadura militar, surge entre integrantes do DEM, a proposta de retomar o antigo nome: Partido da Frente Liberal (PFL) e, com ele, as bandeiras de defesa da iniciativa privada. "Quem inventou o DEM foi embora montar o PSD. É o mesmo grupo. Talvez fossem eles os fisiológicos. Tanto é que estão negociando com o governo", diz o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), referindo-se ao ex-ministro Jorge Bornhausen e seu grupo.

Pai da ideia, Onyx Lorenzoni considera a história do PFL bonita. O partido foi fundamental no processo de redemocratização. Passado o governo Sarney e Fernando Collor, os pefelistas ficaram um curto período na oposição durante o governo Itamar Franco. As portas da esperança e do Poder Executivo se abriram novamente quando Fernando Henrique Cardoso, então ministro da Fazenda, apresentou o projeto do Plano Real ao Congresso.

O parceiro que o PSDB queria para esse projeto era o PT. Mas os petistas recusaram apoio, uma vez que Lula despontava com vantagens nas pesquisas para presidente da República. Foi naquele momento que os detentores de uma grande bancada — o PFL era maior do que o PT é hoje — se apresentaram para apoiar o elenco de medidas do Plano. Foi aí que começou a história de parceria entre PSDB e PFL. A relação era tumultuada. Certa vez, a então primeira-dama Ruth Cardoso soltou uma frase que ficou famosa, ao dizer que havia o PFL de Gustavo Krause e o de Antonio Carlos Magalhães. Ela gostava do PFL de Krause.

Hoje, os democratas olham com uma certa nostalgia para o antigo nome, dos tempos de glória. Mas, quem tem voz ativa em alto e bom som dentro do partido considera irrelevante tratar dessa mudança, nesta altura do campeonato — faltando menos de dois anos para a eleição de 2014. "Será que vale à pena isso agora? Essa não é a questão crucial para o partido hoje. A prioridade é outra", comenta o senador José Agripinio Maia, do Rio Grande Norte, líder da bancada no Senado.

Agripino não deixa de ter razão quando expõe suas preocupações com esse tema. A mudança de nome traz embutida a ideia de fracasso do DEM. No geral, os democratas consideram que o pior já passou. Eles perderam quase duas dezenas de deputados, expulsaram o então senador Demostenes Torres, depois que apareceu enroscado no caso Carlos Cachoeira, isso para ficar apenas nas questões congressuais.

Tudo o que o DEM não quer agora são discussões paralelas que desviem o foco daquilo que o partido deseja mostrar em curto e médio prazos. Nunca um partido ficou tão feliz ao conquistar uma prefeitura, como foi o caso de ACM Neto, em Salvador. Especialmente, contra um candidato do PT, Nelson Pellegrino, detentor do apoio do governo estadual baiano, capitaneado pelo também petista Jaques Wagner. A presidente Dilma Rousseff, para lá de popular no Nordeste, fez questão de ir à Bahia ajudar Pellegrino, assim como o ex-presidente Lula. Para o democratas, a hora de viabilizar as administrações, transformá-las em vitrines e lançar programas que sirvam de contraponto às realizações do governo de Dilma. Fora isso, é emenda. E, reza o ditado, a emenda, geralmente, fica pior do que o soneto.

Por falar em Dilma...

A reportagem da The Economist sobre o fraco crescimento do Brasil acoplada à sugestão de troca da equipe econômica irritou muito a presidente Dilma Rousseff. Internamente, a equipe comenta que o governo cortou os juros — para ira dos bancos, daí um dos motivos para as referências nada elogiosas à administração da petista. Mas ela tem clareza total sobre um dado: se a economia não reagir a contento no próximo ano, vai ter muita gente fazendo coro com a revista estrangeira. Afinal, dentro da própria base do governo muitos têm ponderado que o Brasil não está nem esteve no epicentro da crise econômica, mas ficou no terceiro trimestre deste ano com um crescimento inferior ao registrado nos Estados Unidos. Só isso já vai dar pano para mais de metro. Vamos acompanhar.

Operação Nacional Tapa-Buracos - GAUDÊNCIO TORQUATO


O Estado de S.Paulo - 09/12


Nem bem as camadas tectônicas da política se acomodam, preenchendo as reentrâncias abertas pelo furacão eleitoral, e o território já começa a registrar movimentos que prenunciam o próximo sismo. Não há como disfarçar: a fogueira da campanha presidencial de 2014 começou a ser acesa. Do alto de seu prestígio no ninho tucano, o ex-presidente Fernando Henrique sugere que Aécio Neves se posicione, desde já, como o candidato do PSDB (e das forças de oposição) à Presidência da República, mesmo que a estratégia de antecipação implique jogar o senador mineiro num corredor polonês onde sofrerá solavancos e correrá o risco de ter a imagem corroída.

Os ventos eleitorais também sopram na sala principal do poder. Até então impermeável às pressões políticas, a presidente Dilma Rousseff passa a cumprir intensa agenda de articulação política, convocando lideranças de sua base para sentir o pulso e avaliar demandas. O terceiro movimento parte do presidente do PSB, o governador Eduardo Campos (PE), que olha para um lado e outro na tentativa de descobrir a vereda mais reta para caminhar rumo ao Planalto.

A movimentação dispara uma bateria de perguntas: tem sentido abrir agora a arena de 2014, quando o País se prepara para inaugurar novo período administrativo pilotado pelos prefeitos recém-eleitos? Que ameaças aguardam os contendores com a antecipação do processo eleitoral? As respostas sugerem examinar, inicialmente, a engrenagem da locomotiva econômica. É ela que puxa o trem da política. Hoje escapuliu dos trilhos. O crescimento do PIB é pífio (menos de 1% este ano?); os investidores se retraem; a gestão federal está travada, sem ações de envergadura; o retrato da desolação flagra mais de 30 obras inacabadas, ao custo de R$ 30 bilhões, segundo o Tribunal de Contas da União. A redentora transposição do Rio São Francisco vira quimera, a Ferrovia Norte-Sul vai para as calendas e os estádios da Copa sofrem grandes atrasos. Volumosos investimentos internacionais buscam novas praças. Prefeituras e Estados, de pires na mão, brigam pelo reparte dos royalties do pré-sal, enquanto a presidente Dilma, com seu estilo centralizador, usa o poder de veto (e a tinta da caneta) para agradar a uns e desagradar a outros, escancarando tensões entre os entes federativos. Para fechar a cadeia de fatores negativos, a receita usada em 2008 para girar a roda econômica (incentivo ao consumo) mostra-se inadequada. Ao fundo veem-se sombras em forma da inadimplência das famílias neste fim de ano.

É bem provável que os perfis cotados para entrar no figurino de 2014 vejam nessa paisagem esburacada oportunidade para fincar seu nome. Afinal, usar o manto de bombeiro em pleno incêndio pode fazer o diferencial de imagem. Ainda mais quando mais uma bomba explode nas cercanias do Palácio do Planalto, como se enxerga no affaire Rosemary. Dito isto, chega-se a outra bateria de dúvidas: quem garante que a paisagem devastada não será reflorestada um pouco mais adiante? Quem aposta na hipótese de enfraquecimento da presidente Dilma, cuja boa avaliação continua suplantando os índices alcançados pelos antecessores FHC e Luiz Inácio em seus primeiros mandatos? Atente-se para o fato de que a administração continua a expandir os eixos sociais do ciclo Lula (a partir do Bolsa-Família), por meio de extensões nas frentes de qualificação profissional, escola em tempo integral e saúde infantil (planos Brasil Sem Miséria e Brasil Carinhoso).

O estilo centralizador da presidente reforça seu perfil de xerife. Por isso explosões intermitentes que batem nos costados do governo não a atingem. A mineira/gaúcha mostra-se imune às intempéries que sugam os estoques de credibilidade do petismo. E não será surpresa se a imagem presidencial subir alguns metros quando a promessa de baixar em 20% o preço da energia chegar ao bolso do contribuinte. Ela confia tanto na medida que vem de desferir uma estocada nos tucanos pelo fato de estatais sob o comando de governos do PSDB não terem aderido à causa. Esse instantâneo da realidade mostra a extemporaneidade da ideia de abrir o torneio de 2014. Neste momento o País descortina novo patamar de valores e princípios na política, fruto do repertório esboçado pelo julgamento da Ação Penal 470. A expectativa geral é que as práticas dos nossos atores comecem a passar pelo filtro da moralização. Emendar uma campanha eleitoral na outra, sob a égide da velha política, quando a sociedade clama por assepsia, é tentar jogar esgoto em águas cristalinas. A hora é de faxina geral.

O pós-mensalão está a exigir uma reengenharia de métodos e processos. Todo o esforço se faz necessário para resgatar o conceito de política como missão a serviço da polis, e não de negócio entre indivíduos. A sociedade está cansada de refrãos pintados com promessas vãs. A competitividade do jogo político em nenhuma hipótese deve motivar os contendores a queimar etapas e fazer prevalecer os interesses de grupos sobre os anseios da Nação. Os jardins republicanos esperam sementes de novos frutos: mudanças em estatutos como sistema do voto, financiamento de campanha, coligações proporcionais, cláusulas de desempenho e modelos de campanha ajustados às demandas coletivas. Impõe-se fechar os compartimentos que propiciam corrupção nas três instâncias federativas. Cumpre fazer valer a Lei de Responsabilidade Fiscal, instrumento driblado por centenas de gestores públicos. Somos, por excelência, o território das leis (milhares) burladas.

Mais apropriado que antecipar cenários eleitorais seria produzir um projeto estratégico para o País, pré-requisito a acolher a ambição dos quadros políticos. Não seria mais eficaz que os governantes, neste momento, se dessem as mãos em torno de uma Operação Nacional Tapa-Buracos? A conclamação do almirante Barroso, barão do Amazonas, continua na ordem do dia: "O Brasil espera que cada um cumpra o seu dever". Principalmente quem tem o dever de prestar contas à sociedade.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO


 FOLHA DE SP - 09/12


MP 579 pode levar indústria a morrer na praia, diz Alcoa

"Estamos delegando a segundo plano um dos objetivos da medida provisória 579 que é a competitividade da indústria", diz Franklin Feder, presidente da Alcoa para América Latina e Caribe.

A medida provisória 579 reduz os encargos sobre a energia elétrica e prorroga as concessões, em troca da diminuição de tarifas.

Produtora de alumínio, a Alcoa é intensiva em energia e tem sido há anos uma das vozes mais ativas pelo corte de custos de eletricidade.

Em junho passado, em audiência no Planalto, Feder ouviu da presidente Dilma Rousseff a decisão de que cortaria o preço da energia, como havia feito com os juros.

"No nosso caso, nós chegamos a no máximo 11% de redução. E não conheço qualquer outra empresa eletrointensiva que tenha tido queda de 28%", afirma.

"Essa queda de 11% ainda depende de modificação no contrato com a Eletronorte", ressalva. Além disso, uma pequena valorização do real, pode zerar o ganho.

"A preocupação é que vamos acabar morrendo na praia. E creio que não seja só minha", afirma.

Apesar dos resultados até o momento, Feder continua a elogiar a iniciativa.

"Foi extremamente corajosa a medida da presidente Dilma. Tal qual fez com juros e câmbio, quando resolve fazer, ela faz."

Para ele, entretanto, a discussão tem se concentrado na renovação das concessões.

"Ela é importante, os números são claros: vale mais a pena não renovar nessas condições. Mas a questão da competitividade da indústria está sendo esquecida."

O futuro do mercado livre, onde estão os grandes usuários, "ainda é uma bola de cristal", diz.

Com pequenos ajustes, essa questão poderia se resolver, defende Feder.

Uma alternativa seria transferir uma cota de energia do mercado cativo (de pequenos e médios consumidores) para o mercado livre. A ideia, entretanto, poderia acarretar aumento para usuários como os residenciais.

"O que estamos pleiteando é apenas uma precificação que nos equipare a países produtores de alumínio."

O preço da energia no Brasil está entre 30% e 40%, dependendo da taxa de câmbio, acima da de outros países, segundo o executivo.

"Espero que todos sentemos à mesa e negociemos melhor. O maior investimento da Alcoa no mundo está aqui."

"Depois de tanto esforço, se a MP for aprovada como está, ficará uma situação complicada para a nação e o governo quando a indústria disser 'obrigada, foi uma iniciativa legal, mas não dá para manter as operações"

"No nosso caso, nós chegamos a no máximo 11% de redução do custo da energia. E não conheço qualquer outra empresa eletrointensiva que tenha tido queda de 28%. Com uma alta do real, voltamos à estaca zero"

DE VOLTA PARA A ESTRADA

Com investimentos de R$ 78 milhões, a Viação Cometa adquiriu 170 novos ônibus na semana passada para renovar sua frota.

O número representa 17% do total de veículos da empresa, de acordo com Carlos Otávio Antunes, presidente da Cometa, que compõe o Grupo JCA.

"Para 2013, esperamos um crescimento entre 11% e 12% devido à volta de passageiros que estavam usando o serviço aéreo", afirma.

Antunes diz também que serão mantidos os serviços de fretamento para transporte de funcionários de grandes empresas e as rotas de distância curta -medidas tomadas para diminuir o impacto da concorrência aérea.

"Obtivemos um ótimo retorno neste segmento."

Neste ano, o faturamento da companhia, que transporta cerca de 1,2 milhão de pessoas por mês, será de R$ 400 milhões, ante os R$ 352 milhões de 2011.

R$ 400 milhões será o faturamento da Cometa neste ano

R$ 78 milhões foram investidos na aquisição de 170 novos ônibus

14,4 milhões é a quantidade de passageiros transportados anualmente

1.000 é o tamanho da atual frota de ônibus da empresa

O QUE ESTOU LENDO

Tercio Sampaio Ferraz Jr., fundador do escritório Sampaio Ferraz Advogados

"Nunca leio um livro só", conta Tercio Sampaio Ferraz Jr., especialista em direito da concorrência, regulatório e econômico internacional e fundador do escritório Sampaio Ferraz Advogados.

No momento, ele se dedica também a releituras, como "A Tale of Two Cities", de Charles Dickens.

"Evoca-me a adolescência, com a descrição dramática do 'terror' na Revolução Francesa e do amor desprendido capaz de doar-se incondicionalmente."

Titular aposentado da Faculdade de Direito da USP, Ferraz lê também "Mephisto", do escritor alemão Klaus Mann.

A obra, que trata da tragédia de um ator em pleno nazismo, chegou a ser proibida por ordem da Suprema Corte alemã.

Para as horas de voo, Ferraz reserva "A Dama do Cachorrinho e Outras Histórias", coletânea de contos do russo Tchékhov.

"Se podem ler [as histórias] em uma curta viagem", diz.

"E para o prazer de curtir a arte de lecionar, 'Nietzsche', um compêndio das aulas de Martin Heidegger", afirma o professor.

ALTA NOS PREÇOS

Quase todas as empresas abertas (92%) esperam preços maiores ou mais estáveis em seu ramo de atividade no próximo ano, segundo pesquisa da Abrasca (Associação Brasileira das Companhias Abertas) que será lançada na terça-feira.

A expectativa das companhias é resultado de uma combinação do movimento de depreciação das taxas de câmbio e da melhor expectativa quanto ao desempenho das exportações, de acordo com a entidade.

O levantamento será apresentado durante a reunião de final de ano do conselho diretor da Abrasca, que será apoiada pelo escritório de direito BM&A - Barbosa, Müssnich & Aragão.