FOLHA DE SP - 09/12
O Brasil teve a ousadia de organizar dois megaeventos na mesma temporada, a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016. Isso é inédito pela dimensão dos eventos, o desafio de executá-los e o ganho potencial que trazem.
Se bem-sucedidos, trarão efeitos muito positivos à imagem internacional do país num mundo cada vez mais globalizado. Por outro lado, o saldo pode ser muito negativo, como mostraram algumas experiências recentes em outros continentes.
Copa e Olimpíada são eventos bastante diferentes do ponto de vista de governança, estrutura operacional, desafios técnicos, logísticos e esportivos. A grande característica da Copa é ser organizada em número relativamente extenso de cidades, o que causa descentralização administrativa e decisória, tornando a coordenação geral mais complexa, com obras de governos estaduais, municipais e da União, além de participação importante dos clubes, como no estádio do Corinthians.
Essa complexidade é equilibrada pelo fato de a tecnologia de construção de estádios de futebol ser conhecida do setor público e privado. O grande desafio será a logística de transporte, já que a maioria dos estádios está em regiões muito adensadas e com deficiências estruturais.
A Olimpíada é um desafio completamente diferente, organizada em uma só cidade, com governança mais centralizada e poderes municipal, estadual e federal atuando juntos. Porém o desafio técnico é substancial. Há grande diversidade de equipamentos sofisticados que demandam precisão construtiva, tecnologia e experiência não prontamente disponíveis no Brasil. Membros do Olympic Delivery Authority, responsável pelos Jogos de Londres, me disseram que Olimpíada é projeto de engenharia de 30 anos executado em cinco, um desafio técnico de grandes proporções.
Os dois eventos têm característica incomum em obras públicas: a data de inauguração não pode ser adiada. A força do prazo mobiliza e regula investimentos públicos com maior foco e expediência, e agregam investimentos privados como hotéis, restaurantes, empreendimentos comerciais, turismo e serviços de marketing.
A exposição global é enorme, reveladora da capacidade organizacional e técnica do país. Isso pode ser transformacional do ponto de vista de construção de imagem de um país já desenvolvido, capaz de organizar eventos complexos.
Mas o risco de problemas não pode ser minimizado. Por isso, é necessário prestar muita atenção aos relatórios do Comitê Olímpico Internacional, com vasta experiência técnica.
Na Copa, o grande risco é o de mobilidade urbana. É nisso que os governantes devem focar a atenção a essa altura do campeonato.
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