quinta-feira, outubro 17, 2013

Piratarias em terra e mar - LUCAS MENDES

BBC Brasil - 17/10


Quando um texto é publicado na mídia com os podres de um político ou celebridade é reportagem investigativa. Se as mesmas informações forem publicadas numa biografia não autorizada, é pirataria do escritor. O repórter saqueou segredos e direitos do autografado.


A Constituição do Brasil, como a americana, garante o direito de privacidade e a liberdade de expressão. Quem decide se uma informação é invasão de privacidade ou liberdade de expressão é o juiz. Qual é o mistério?

Nos Estados Unidos, há pelo menos um biografado que se sente pirateado por semana. Estamos na semana de Johnny Carson, um dos apresentadores/comediantes mais bem sucedidos, afáveis, moderados e engraçados dos talk showsda TV americana. Um modelo para o Jô.

Ele já está morto, mas os descendentes ou pessoas citadas no livro podem processar. O livro foi escrito por Henry Bushkin, advogado de Carson durante 18 anos. Conta as canalhices do animador com as mulheres, os filhos, com todos com quem conviveu de perto e, muitas vezes, também de longe. Foi um solitário incapaz de amar, ser amado e manter amizades. A culpa, dizia ele, era da mãe repressora.

Biografia autorizada nem sempre é garantia de retrato positivo. O historiador William Manchester tinha publicado uma biografia deslumbrada sobre o presidente John F. Kennedy quatro anos depois da morte deste. Jacqueline Kennedy e Bob Kennedy, irmão do presidente, encomendaram a Manchester um outro livro para contar a história do dia do assassinato em Dallas.

Pagaram a ele US$ 40 mil de adiantamento, teriam controle do conteúdo e os royalties iriam para a biblioteca Kennedy. Quando Manchester vendeu os direitos de serialização para a revista Look, por US$ 650 mil, os Kennedys protestaram. Além de exigir o dinheiro para a biblioteca, queriam fazer cortes.

Entre eles, trechos sobre Jacqueline fumando, um segredo, a informação que o presidente não tinha dormido com ela na véspera porque estava com diarreia e que, no avião, entre Dallas e Washington, com o corpo do marido a bordo, ela se olhava no espelho e fazia comentários preocupados com as rugas.

Manchester fez alguns cortes, mas não todos. Os Kennedys entraram na Justiça. A repercussão foi péssima para ela e quando ameaçou a campanha politica de Bob, fizeram um acordo antes do julgamento.

Se biografia não autorizada é pirataria, o maior pirata do nosso tempo é Kitty Kelley, que não é uma gatinha. Os pirateados dela foram ou são todos feras: Jacqueline Kennedy Onassis (dez anos depois da briga com Manchester), Frank Sinatra, Elizabeth Taylor, Nancy Reagan, quando ainda primeira-dama, a família Bush, a família real inglesa e Oprah Winfrey.

Cada biografia provocou desmentidos, insultos, pressões de todos os lados, mas só Sinatra processou. Queria US$ 2 milhões pelo que afirmava ser mentira ou difamação. Depois de dois anos desistiu.

Os Reagan conseguiram tirar o nome dela das manchetes do jornalWashington Post, mas não impediram que o livro fosse um best seller e vendesse mais de 1 milhão de exemplares, como quase todos outros.

Oprah Winfrey, com suas conexões e prestígio na mídia, conseguiu bloquear as aparições de Kitty Kelley nas redes de rádio e TV para promover o livro e bateu tanto na credibilidade da autora que o livro não passou dos 300 mil exemplares.

Além da biografia de Johnny Carson, há dois casos de pirataria nas manchetes dos tabloides desta semana. Captain Phillips, o filme com Tom Hanks sobre o navio Alabama, sequestrado por piratas na costa da Somália, estreou com sucesso, mas o capitão, um herói americano, está sendo processado por 11 de seus tripulantes que se sentem pirateados por ele. Querem US$ 50 milhões. Acusam o capitão de ter colocado a vida deles em risco porque tinha um desejo enrustido de ser sequestrado. Contrariando instruções, navegava muito muito perto da costa.

Mais bizarro e engraçado foi o golpe da polícia belga, que conseguiu convencer dois chefões da pirataria na Somália a ir a Bélgica acertar os detalhes para assinar um contrato e receber um pagamento pelos direitos de uma biografia e um filme sobre eles e os sequestro de um navio belga. Os dois patetas foram presos quando desceram do avião.

O guru das biografias não autorizadas é o advogado Lloyd Rich. Ele dá o passo a passo, são nove, para evitar processos. Passo fundamental, o autor precisa se cercar de provas. Entrevistas gravadas, recibos, fotos, imagens, o diabo.

Os biografados raramente processam porque correm o risco de pagar uma conta cara, perder a briga e ajudar a promover o livro.

De todas as biografias não autorizadas do nosso tempo, para mim, a mais audaciosa não foi sobre um poderoso ou uma celebridade. FoiHell's Angel, sobre Madre Teresa de Calcutá. Para o autor, Christopher Hitchens, ela era uma fraude, fanática e fundamentalista. Amiga da pobreza e não dos pobres porque era contra controle de natalidade e aborto. Aceitava doações de ditadores assassinos e escroques.

Em vez de processar, a Madre rezava para Hitchens e para família dele.

Qual romance você está lendo? - CONTARDO CALLIGARIS

FOLHA DE SP - 17/10

Se eu for chamado a sabatinar um candidato, perguntarei sem falta: qual romance você está lendo?


Sempre pensei que fosse sábio desconfiar de quem não lê literatura. Ler ou não ler romances é para mim um critério. Quer saber se tal político merece seu voto? Verifique se ele lê literatura. Quer escolher um psicanalista ou um psicoterapeuta? Mesma sugestão.

E, cuidado, o hábito de ler, em geral, pode ser melhor do que o de não ler, mas não me basta: o critério que vale para mim é ler especificamente literatura --ficção literária.

Você dirá que estou apenas exigindo dos outros que eles sejam parecidos comigo. E eu teria que concordar, salvo que acabo de aprender que minha confiança nos leitores de ficção literária é justificada.

Algo que eu acreditava intuitivamente foi confirmado em pesquisa que acaba de ser publicada pela revista "Science" (migre.me/gkK9J), "Reading Literary Fiction Improves Theory of Mind" (ler ficção literária melhora a teoria da mente), de David C. Kidd e Emanuele Castano.

Uma explicação. Na expressão "teoria da mente", "teoria" significa "visão" (esse é o sentido originário da palavra). Em psicologia, a "teoria da mente" é nossa capacidade de enxergar os outros e de lhes atribuir de maneira correta crenças, ideias, intenções, afetos e sentimentos.

A teoria da mente emocional é a capacidade de reconhecer o que os outros sentem e, portanto, de experimentar empatia e compaixão por eles; a teoria da mente cognitiva é a capacidade de reconhecer o que os outros pensam e sabem e, portanto, de dialogar e de negociar soluções racionais. Obviamente, enxergar o que os outros sentem e pensam é uma condição para ter uma vida social ativa e interessante.

Existem vários testes para medir nossa "teoria da mente" --os mais conhecidos são o RMET ou o DANVA, testes de interpretação da mente do outro pelo seu olhar ou pela sua expressão facial. Em geral, esses testes são usados no diagnóstico de transtornos que vão desde o isolamento autista até a inquietante indiferença ao destino dos outros da qual dão prova psicopatas e sociopatas.

Kidd e Castano aplicaram esses testes em diferentes grupos, criados a partir de uma amostra homogênea: 1) um grupo que acabava de ler trechos de ficção literária, 2) um grupo que acabava de ler trechos de não ficção, 3) um grupo que acabava de ler trechos de ficção popular, 4) um grupo que não lera nada.

Conclusão: os leitores de ficção literária enxergam melhor a complexidade do outro e, com isso, podem aumentar sua empatia e seu respeito pela diferença de seus semelhantes. Com um pouco de otimismo, seria possível apostar que ler literatura seja um jeito de se precaver contra sociopatia e psicopatia. Mais duas observações.

1) A pesquisa mede o efeito imediato da leitura de trechos literários. Não sabemos se existem efeitos cumulativos da leitura passada (hoje não tenho tempo, mas "já li muito na adolescência"): o que importa não é se você leu, mas se está lendo.

2) A pesquisa constata que a ficção popular não tem o mesmo efeito da literária. A diferença é explicada assim: a leitura de ficção literária nos mobiliza para entender a experiência das personagens.

"Como na vida real, os mundos da ficção literária são povoados por indivíduos complexos cujas vidas interiores devem ser investigadas, pois são raramente de fácil acesso." "Contrariamente à ficção literária, a ficção popular (...) tende a retratar o mundo e as personagens como internamente consistentes e previsíveis. Ela pode confirmar as expectativas do leitor em vez de promover o trabalho de sua teoria da mente."

Em suma, o texto literário é aquele que pede esforços de interpretação por aquelas caraterísticas que foram notadas pelos melhores leitores do século 20: por ser ambíguo (William Empson), aberto (Umberto Eco) e repleto de significações secundárias (Roland Barthes).

Na hora de fechar esta coluna, na terça-feira, encontro a mesma pesquisa comentada na seleção do "New York Times" oferecida semanalmente pela Folha. A jornalista do "Times" pensou que a leitura literária, ajudando-nos a enxergar e entender os outros, facilitaria nossas entrevistas de emprego ou nossos encontros românticos.

Quanto a mim, imaginei que, na próxima vez em que eu for chamado a sabatinar um candidato, não esquecerei de perguntar: qual é o romance que você está lendo? E espero que o candidato mencione um livro que conheço, para verificar se está falando a verdade.

:) :( >:/ : Máscaras em série - MARIO SERGIO CONTI

O GLOBO - 17/10

A rarefação dos sinais de pontuação não foi apenas aquilo que, black bloc das antigas, Eike Batista chamaria de concessão da imprensa ao mercado


Pode procurar; não há mais ponto e vírgula. Ele sumiu como as reticências, fila jururu de três pontinhos que prolongavam uma impressão ambígua e induziam a leitora a concluí-la, ainda que o escritor soubesse muito bem aonde queria levá-la... Desapareceu junto com o ponto de exclamação, dedo em riste ameaçador que ninguém mais aponta!

O ponto e vírgula, o de exclamação e as reticências, no entanto, configuram a linguagem oral, são a sua música — a pontuação marca pausas, inflexões, ênfases, acelera ou retarda a elocução. Agora é hora de soprar a trombeta de outro sinal gráfico, a serpente que se contrai e se concentra, toma impulso, dá um bote e indaga à leitora: por que a pontuação mudou? Tenho uma hipótese, responde ela.

O ponto e vírgula sumiu primeiro aqui, na imprensa. Ao almejar um público amplo e de educação desnivelada, o jornal privilegiou a comunicação rápida do imediato — e parou de empregá-lo. Isso não se deu por ignorância da norma que orienta o seu uso. À parte as exceções que são o néctar dos gramáticos, a regra é singela: o ponto e vírgula sinaliza uma pausa menor que a do ponto final e maior do que a da vírgula. A sua abolição emudeceu um compasso, em proveito do rumor contínuo do resfolegante trator que nivela as complicações da vida real.

Nas revistas, cujo tempo de fruição é mais dilatado que o do jornal diário, o ponto e vírgula veio também a sucumbir à generalização do desuso; restando as vírgulas. Numa delas, “The New Yorker”, o seu fundador, Harold Ross, era um fanático da virgulação. Fosse brasileiro, deveria se chamar Virgulino. Ele achava que as vírgulas são holofotes, esclarecem o escrito. A ponto de botar uma na frase “Depois do jantar, os homens foram para a sala de estar”. Um leitor achou a interrupção abusiva e, em alto e bom som, estrilou: por que a vírgula?! Foi-lhe dito que a vírgula dava tempo aos homens de afastar a cadeira e ficar de pé depois do jantar.

A “New Yorker” ainda virgula adoidada; vem até de ponto e vírgula. Mas nada que se equipare à redação entrecortada, aos solavancos dos anos de Harold Ross, no início do século passado, quando as vírgulas esclareciam, mas truncavam, reportagens; artigos; resenhas; perfis; peças de humor, até.

A rarefação dos sinais de pontuação não foi apenas aquilo que, black bloc das antigas, Eike Batista chamaria de concessão da imprensa ao mercado. A rarefação diz o que ocorreu na sociedade: se não há mais jantares onde os homens se retiram para fumar charuto e beber brandy numa sala aconchegante, a elegante vírgula de Ross perde sentido. Em tempos de lufa-lufa e restaurante a quilo, onde ninguém se ergue da cadeira com polidez, a vírgula inútil enfeita a petulância — os bons modos de quem teve berço — do redator, que a põe no texto como um cravo no smoking.

Imprensa é isso mesmo: redução. Não cabe, numa notícia de pé de página, remontar à vida pregressa e à situação material do motorista e do pedestre de um atropelamento no Aterro. A brutalidade da pontuação sem matizes corresponde à fúria veloz e desatenta da vida de hoje. Pau nele, no ponto e vírgula, como treinamento para os desastres da realidade.

Com a arte, a figura muda. Ela existe para captar o confuso e expressar o inexprimível, a trombada entre o indivíduo e a sociedade. É o que buscam três romances nacionais recentes, “A maçã dourada”, de Michel Laub; “Noites de alface”, de Vanessa Barbara; e “O drible”, de Sérgio Rodrigues. No conteúdo, o que os une é a violência contemporânea: massacre e suicídios no livro de Laub; assassinato e ocultação de cadáver no de Barbara; suicídio e incriminação no de Rodrigues. Na forma, nenhum deles emprega ponto e vírgula e parênteses (concha que encapsula outro sentido), o que leva a serpente a atacar de novo: por quê?

Sendo a pergunta absurda, não há resposta. Note-se contudo que o modernismo limpou a prosa artística do trololó beletrista, e os três autores a ele se filiam. E que eles, por serem jornalistas, talvez tenham levado para a ficção algo do reducionismo da imprensa. Como não há utilitarismo em arte, o uso nulo ou amiúde do ponto e vírgula não conduz a obras-primas — nem ao socialismo, como gostaria Eike Batista...

O que vale no romance é a expressão do autor. Desde que ele seja um artista, una conteúdo e forma num todo inextricável. Senão, poderá apelar para emoticons como os do título. Essas carinhas fofas — sirenes do kitsch, uivos da breguice — não dão música à emoção. Elas difundem máscaras em série, com as quais o indivíduo automático se anula na cidade onde todos têm o mesmo rosto. Já os sinais de pontuação, em vez de harmonizar da linguagem escrita, são cílios e ciscos que desenham a mudez conformada :)

Ou dão uma piscada ;)

A grande festa de Belém - CORA RÓNAI

O GLOBO - 17/10

Não dá para explicar o que é o Círio de Nazaré; não dá para se ter ideia do que é aquela quantidade compacta de gente, numa festa de paz


Ouço falar no Círio de Nazaré há muitas e muitas luas. Não pela mídia, mas pela fonte mais privilegiada no que lhe diz respeito, minha amiga Fafá de Belém, que vive, como ninguém, a maior festa religiosa da Amazônia. Há anos ela me diz que o Círio é algo que se tem que ver pessoalmente, que filmes e fotos não conseguem transmitir o que acontece no Pará quando todo mundo vai para a rua ao mesmo tempo, homenagear a sua santa padroeira. Pois este ano aceitei o desafio, e fui lá, conferir a grande romaria.

Fafá está certa. Não dá para explicar o que é o Círio de Nazaré; não dá para se ter ideia do que é aquela quantidade compacta de gente junta, numa festa de paz. Acomodada na varanda de uma casa antiga, eu olhava para a multidão que passava e não conseguia ver uma fresta entre os corpos. Às vezes havia um empurra-empurra, às vezes pessoas caíam desmaiadas e eram socorridas por padioleiros que iam e vinham afobados, cercados por gente encarregada de abrir caminho.

A primeira impressão — e a segunda, e a terceira — é de pânico. No sábado à noite, a procissão reuniu quase dois milhões de fiéis; no domingo pela manhã, foram cem mil a mais. Uma multidão dessas, num calor daqueles, está sempre a um passo da calamidade. Se alguma coisa der errado, dará muito errado — não há para onde correr. Não há Plano B.

Felizmente, ano após ano, entra Círio, sai Círio, nada dá muito errado. Como no nosso Réveillon, a energia geral é positiva, com a diferença de que ninguém vai ao Círio para beber. Cada uma daquelas pessoas está lá movida por um bom sentimento, pedindo alguma coisa, agradecendo uma graça alcançada, vivendo a sua fé.

É um mar de brasileirinhos que ainda não perdeu a esperança.

Puxando a famosa corda vem uma garotada implorando para passar no vestibular, ou agradecendo por ter passado. Aqui e ali se vê alguém trazendo o pequeno modelo de uma casa, um carro, um barco, uma lojinha. Há ex-votos clássicos também: braços, pernas, cabeças. E velas. Muitas velas.

Não sou uma pessoa religiosa. Não me impressiono com multidões. Mas tive vontade de abraçar cada uma daquelas pessoas que seguiam a santa com uma oferenda na cabeça, puxar para o canto e pedir que me contassem a sua história.

O Círio de Nazaré é uma antologia de lutas, trabalho, conquistas, alegrias e sofrimento.

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Fafá, que caiu no caldeirão de poção mágica quando era criancinha, é a grande animadora da festa. Sua varanda é o ponto alto da procissão, o epicentro de um engarrafamento de fiéis que ela dispersa entre uma música e outra: “Vamos andando, gente! A santa tem hora!” Suas canções embalam o cortejo noturno até a passagem do último peregrino e, poucas horas depois, animam o da manhã. Isso sem falar que, na sexta à noite, ela fez show com Teresa Salgueiro, Wagner Tiso e Márcio Mallard até tarde e, já no sábado, aos primeiros raios do sol, foi para o rio, participar da romaria fluvial. Ufa.

Já vi muitos shows da Fafá em teatros e espaços abertos, mas nada que se compare à sua atuação durante o Círio, o encontro perfeito entre uma artista e seu público. Os fiéis adoram Fafá, mas curiosamente não há distância entre eles: o que se percebe nas pessoas que passam encantadas diante da varanda é um misto de intimidade e de orgulho, como se alguém da família tivesse ido para o mundo e voltado em triunfo. E, no fundo, é disso mesmo que se trata.

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Sinal dos tempos: foi desenvolvido pela organização da festa um ótimo aplicativo sobre o Círio de Nazaré, que contemplou todas as plataformas de smartphones. Traz informações úteis, telefones de emergência, notícias, a história do Círio, orações e músicas. Seu ponto alto, porém, foi a localização da santa em tempo real, durante o trajeto, feita por GPS, através de um módulo chamado “KD a berlinda?”. Berlinda, fiquei sabendo, é aquela caixa de vidro na qual se transportam as imagens religiosas.

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Quanto mais a gente viaja por aí, mais se aflige com o que espera os incautos turistas que vêm à Copa. No aeroporto de Belém um ímã de geladeira dos mais feios sai a R$ 13. Não sei a quanto saem os bonitos porque não se encontram. Uma camiseta básica custa R$ 60.

O Pará tem um dos artesanatos mais ricos do Brasil. Tem cerâmica marajoara, que quando é bonita é muito bonita, tem cuias pintadas, tem palha, tem brinquedos encantadores feitos de miriti, tem bijuterias de sementes e penas coloridas, tem esculturas de madeira e o que mais se possa imaginar.

Fui a Belém num pé, voltei no outro, e supus que, no aeroporto, poderia encontrar algum desses tesouros. O que as lojas oferecem, porém, é triste, caro e importado. Não havia um só barquinho de miriti à venda.

Aqui no Rio, no Pão de Açúcar, onde por acaso estive no começo da semana, umas bonequinhas de pano de Carmem Miranda custam nada menos do que R$ 180. As lojas nas quais são vendidas, aliás, têm um repertório de lembrancinhas paupérrimo, e uma atitude ainda pior: os turistas não podem fotografar em seu interior, mania antipática que, no resto do mundo, já saiu de moda até nos museus.

Ueba! Biografia da Lassie pode? - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 17/10

Daqui a pouco, vai ter manifestação de biógrafos! Na Cinelândia! Black biógrafos! Rarará!


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Polêmica! Vou lançar a biografia não autorizada do Maluf: "Minha Vida é uma Esfirra Aberta". Vai ser um romance policial. Rarará!

Mas como disse um cara no Twitter: "Biografa, mas não mata". Subtítulos sugeridos: "Não tenho conta no exterior" ou "Minha vida foi uma roubada". Rarará!

O Maluf escreveu mesmo uma biografia chamada "Ele". E os advogados de defesa sugeriram mudar o nome pra "Não Foi Ele!". Rarará! E vou lançar a biografia autorizada do Sarney: "Moribundo de Fogo!". Rarará! E vou vender pro cinema: "Duro de Matar 5".

Aliás, aquele livro do Sarney "Dono do Mar" devia se chamar "Dono do Mar...anhão". Rarará! E eu vou escrever a biografia do Bial chamada: "OI, BIAL". Porque brasileiro já nasce falando "Oi, Bial". O Bial inventou um novo tipo de biografia: a BIALGRAFIA do doutor Marinho!

E vou lançar a biografia do Edir Macedo intitulada: "EDÍRZIMO". Edírzimo Macedo! E vou lançar a biografia do Kid Bengala: "O Gigante Acordou". E entrar pra ABL com o apoio da Ana Maria Braga e Louro José! E eu já disse que duas coisas nunca deram certo: humor a favor e biografia autorizada.

E a manchete do Piauí Herald: "PM carioca reprime biógrafos com truculência". Daqui a pouco, vai ter manifestação de biógrafos! Na Cinelândia! Black biógrafos! Rarará! E acaba de sair uma nova versão do hit do Roberto Carlos: "O cara que censura toda hora/ qualquer livro da Jovem Guarda/ esse cara sou eu". Rarará!

E eu não gosto de biografia chapa-branca. Gosto de biografia chapa quente: com sexo, sangue e Doritos com Coca-Cola. Daquelas bem podres! E a Saraiva botou a biografia de Freud na seção de autoajuda! Rarará! É mole? É mole, mas sobe!

E eu não gosto de polêmica. Quem gosta de polêmica é o Nelson Rubens! Polêmica virou pauta do "TV Fama"! Já reparou nas manchetes do "TV Fama"? Todas começam com "POLÊMICA". Tipo: "Polêmica! Cantor sertanejo do Camaro Amarelo' diz que Miss Bumbum tem celulite". "Polêmica: Doutor Hollywood quer passar dois anos trabalhando no SUS de Rodeo Drive". Rarará!

E biografia da Lassie pode? Pode! Contanto que não chame ela de cachorra! Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

MÃO NA MASSA - MONICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 17/10

O Fundo de Previdência dos funcionários do Judiciário foi formalizado nesta semana. Com R$ 26 milhões antecipados pelo Tesouro Nacional, ele já pode começar a funcionar. Um headhunter (caça-talentos) roda o país em busca de um executivo que possa tocar a empreitada.

MÃO 2
O fundo deve ser um dos maiores do país, com a adesão de funcionários de todos os tribunais superiores --entre eles, STF (Supremo Tribunal Federal), STJ (Superior Tribunal de Justiça), TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e TST (Tribunal Superior do Trabalho).

DAS ARÁBIAS
São Paulo vai abrigar o Museu da Língua e da Cultura Árabe, a primeira instituição do gênero no mundo. O diretor será o professor Paulo Daniel Farah, da USP, que foi curador da exposição "Islã", em 2010. "A Secretaria Municipal de Cultura ofereceu alguns espaços no centro e no Ipiranga para a futura sede do museu a ser inaugurado em 2014", diz Farah, que está visitando os locais para definir a sede.

DAS ARÁBIAS 2
A ideia é abrir um espaço para interessados na cultura árabe, entre eles os 16 milhões de descendentes que vivem hoje no Brasil.

MAIS RENDA
O aumento médio de renda dos alunos formados pelo programa ViraVida, que capacita jovens que passaram por exploração sexual, foi de R$ 183,55. Uma elevação de cerca de 45%, tão logo eles são inseridos no mercado de trabalho. De cada R$ 1 a mais de renda, R$ 0,40 vão compor o orçamento familiar.

MAIS RENDA 2
Os dados sobre o programa do Sesi (Serviço Social da Indústria), que já atendeu 3.700 estudantes em 23 cidades, serão apresentados hoje, em Washington, na 27ª Conferência Mundial de Avaliação de Programas, Tecnologias e Profissionais.

NOVELÃO
As fundações Roquete Pinto, Azeredo, Padre Anchieta e Fundac foram desqualificadas do processo de licitação para gerenciamento da TV Alerj, canal da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, sob a justificativa de que não possuem registro no Crea (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia). A única concorrente que atendia a tal requisito é a Digilab, atual administradora do canal.

NOVELÃO 2
Vencedora da nova licitação do canal da assembleia paulista após recorrer à Justiça para ser reabilitada no processo, a Fundac entrou com recurso administrativo contra a decisão no Rio. "Produtoras de TV precisam de engenheiros de telecomunicações, mas não de registro no Crea", afirma o advogado Danilo Mayriques, da fundação paulista. Em nota, a Alerj diz que a procuradoria-geral irá analisar a legalidade dos recursos.

CASO CONTRÁRIO
Ao erguer o caso de Glória Perez como bandeira para justificar a defesa que fazem da restrição à publicação de biografias, artistas como Chico Buarque e Caetano Veloso demonstram desconhecimento do assunto, segundo juristas e advogados ouvidos pela coluna.

CASO CONTRÁRIO 2
Quando a novelista conseguiu impedir a circulação do livro que o assassino de sua filha tentou publicar, na década de 90, o artigo 20 do Código Civil, que restringe as biografias, nem sequer existia. Ele entrou em vigor em 2003.

CALENDÁRIO
Outro caso citado por Chico Buarque ontem, em artigo no jornal "O Globo" --o de que já foi publicada uma biografia de Cabo Anselmo --esbarra na mesma questão. O livro sobre o delator foi lançado em 1999, antes da existência do artigo 20. Hoje, o autor teria dificuldade de publicar a obra sem autorização do personagem.

CALENDÁRIO 2
Também a biografia sobre Garrincha escrita pelo jornalista Ruy Castro foi recolhida em 1995, oito anos antes de o artigo 20 entrar em vigor. "A Constituição sempre garantiu o direito à privacidade e permitiu a discussão em tribunais", diz o advogado Fernando Lottenberg, que atuou em parte do caso Garrincha pela Companhia das Letras.

LENTE
Lottenberg, que é consultor da Companhia das Letras, mas já patrocinou causas contra em nome de personagens atingidos pela publicação de livros, diz que a discussão está desfocada. "A remoção do artigo 20 não é suficiente. É necessária uma regra que resguarde expressamente a livre expressão. A Constituição e outras normas continuariam garantindo o direito à reparação por danos causados e à retificação de informações falsas."

EM DIA
A Associação Procure Saber, da qual Chico e Caetano fazem parte, deve reunir em breve advogados para discutir as questões jurídicas relativas ao tema.

CASAL 
Cláudia Raia e seu namorado, Jarbas Homem de Mello, estreiam "Crazy for You", em 21 de novembro, no teatro do Complexo Ohtake Cultural, em SP; será o primeiro musical de sapateado da Broadway montado no país

NOITE DE ARRECADAÇÃO
Maria Bernadete Marques da Silva, da AACD, recebeu convidados no jantar beneficente promovido pela instituição anteontem, no restaurante Figueira Rubaiyat. A apresentadora Isabella Fiorentino, a relações-públicas Maysa Marques, o consultor da TV Globo Octávio Florisbal e o executivo Clovis Ermirio Scripilliti com a mulher, Marcia, estiveram no evento.

CURTO-CIRCUITO
Claudia Matarazzo autografa hoje o livro "Amor sem Frescura", às 19h, na Livraria Cultura do shopping Iguatemi.

As agências de marketing George P. Jonhson e Mill Publicitá fazem festa hoje para comemorar nova parceria, no hotel Hyatt.

Renata de Almeida abre hoje a 37ª Mostra Internacional de Cinema, às 20h30, no Auditório Ibirapuera.

Sem acordo no Rio - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 17/10

O governo Sérgio Cabral está só ganhando tempo ao pedir que o PT não desembarque de seu governo. O ex-presidente Lula disse, a um velho amigo petista, que está fechado com o senador Lindbergh Farias (PT) e aprecia seu estilo “determinado”. Quanto a Cabral, não acredita que ele se recupere e critica sua atitude “arrogante”. Sobre o vice Luiz Pezão, diz que é um candidato “pesado”.

Estado de espírito
O pouco tempo de propaganda na TV e os parcos recursos para fazer a campanha não assustam o candidato do PSB. O time do governador Eduardo Campos está convencido de que as eleições serão definidas pelo “contexto político e histórico” em que ela for disputada. Lembram que, em 2010, ao fazer 19% dos votos, Marina Silva acabou com os mitos do poder econômico, das alianças e da propaganda na TV. Sua equipe avalia que o mais importante é o candidato surfar na onda de opinião pública que se formar. Os socialistas acreditam que o país está cansado da briga PT x PSDB e quer um candidato que saiba construir a unidade, consensos e que promova a renovação.


“O nosso adversário é o Aécio (Neves). A presidente Dilma já está no segundo turno. Só tem duas vagas. Vamos disputar com quem?”
Roberto Amaral Vice-presidente nacional do PSB

Os padrinhos
Marina Silva apelidou o senador Pedro Simon (PMDB) de “patriarca” e a deputada Luiza Erundina (PSB) de “matriarca” da aliança PSB/Rede. Ontem, na reunião, disse que os dois foram fundamentais para seu ingresso no PSB.

As tarefas
O candidato tucano Aécio Neves vai se dedicar agora às alianças. Com o Solidariedade e o DEM fechados, a tarefa imediata é agarrar o PPS e o PV. Feito isso, diz o deputado Marcus Pestana (MG), na foto, o passo seguinte será tentar obter a neutralidade de partidos da base aliada, como PTB e PP. O objetivo é reduzir o tempo de TV da presidente Dilma.

No escurinho do cinema
Para convidados da presidente Dilma, será exibido na sexta-feira, no Palácio da Alvorada, o filme “O dia que durou 21 anos”, de Camilo Tavares. O documentário trata da efervescência dos anos 60 e dos bastidores do golpe militar.

Me deixa em paz. Não aguento mais
Ao final de reunião no Palácio do Jaburu, na noite de terça-feira, o vice Michel Temer estava irritado com a cúpula do PMDB no Senado. “Ela só falou em cargo, cargo, cargo. Os senadores querem a garantia da nomeação de Vital do Rêgo para a Integração”, explicou um deputado. Os senadores querem que Temer marque uma audiência com a presidente Dilma para colocá-la contra a parede.

Uns são mais iguais que outros
O deputado Newton Cardoso (PMDB-MG), na audiência com o presidente da Anac, Marcelo Guaranys, defendeu “tratamento diferenciado” para parlamentares nos aeroportos. Disse se sentir “desrespeitado” ao ser revistado.

Iniciativa pelo social
O novo presidente do Conselho Nacional de Secretários de Transportes, Júlio Lopes (RJ), vai deflagrar movimento para que o governo Dilma dê subsídios para a adoção do Bilhete Único em todas as regiões metropolitanas do país.

LIBRA. 
A presidente Dilma não vai ao primeiro leilão do pré-sal e do regime de partilha. Ministra de Minas e Energia, também não ia nesses eventos.

Aviso prévio? - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 17/19

Empenhados em desconstruir o discurso crítico adotado por Eduardo Campos após entregar os cargos do PSB no governo federal, petistas concluem lista das vagas que continuam ocupadas por aliados do governador, um mês depois do anúncio do desembarque. Além de postos na Chesf e no Ministério da Integração, o PT cita o nome de Marcos Arraes de Alencar, tio de Campos, indicado pelo governador para mandato na diretoria da Hemobrás (Empresa Brasileira de Hemoderivados).

Bons tempos Já o ex-ministro Fernando Bezerra, que deixou a Integração e é cotado para ser o candidato de Campos à sua sucessão em Pernambuco, usa o Twitter diariamente para propagandear as obras da pasta.

Numerologia Convidado para a reunião da Executiva do PSB e da Rede ontem, Pedro Simon (PMDB) fez duras críticas a Dilma Rousseff. O senador gaúcho sugeriu que, se for criar ministérios para agradar a base aliada, a presidente anuncie duas pastas, para que o total seja 41, e não 40, número do PSB.

Sem pressa Aliados de Aécio Neves (PSDB) decidiram em reunião ontem que usarão os próximos meses para consolidar a aliança com DEM, Solidariedade e PPS. Só devem buscar as siglas da base de Dilma (como PP, PTB e PR) após março.

Ameaça Reunidos com Michel Temer anteontem, senadores do PMDB reclamaram que o PT dá sinais de rompimento em Estados cruciais para a sigla, como Ceará, Rio de Janeiro e Maranhão. E aventam o risco (remoto) de o apoio a Dilma não passar na Convenção Nacional.

Procuração Na casa de Eunício Oliveira (PMDB-CE), os parlamentares pediram ao vice-presidente uma comissão para negociar acordos com os aliados nos Estados, mas só após a reeleição de Rui Falcão na presidência do PT, prevista para novembro.

Ficha completa A Secretaria da Micro e Pequena Empresa vai permitir que a ONG Transparência Brasil tenha acesso aos dados das 27 juntas comerciais do país para listar empresas pertencentes a parlamentares e candidatos em 2014. O acordo será assinado no mês que vem.

Integrado Prefeitura e governo de São Paulo preparam acordo que prevê repasse de quase R$ 300 milhões do município para obras de monotrilhos na zona sul e na zona leste. Parte do dinheiro previsto é proveniente da venda de títulos da Operação Urbana Água Espraiada.

Trem caipira O governo paulista expandiu para outras regiões uma campanha publicitária na TV que destaca projetos da gestão Geraldo Alckmin (PSDB) no interior. O objetivo é reforçar marcas da gestão no principal reduto eleitoral do governador.

Tensão Deputados estaduais da base de Alckmin preveem impasse na votação das gratificações e planos de carreira para as polícias Civil e Militar, graças a interesses conflitantes das duas corporações. Acreditam que a votação pode ficar para 2014.

Na janelinha O Planalto não gostou de o presidente da Embratur, Flávio Dino, ter sugerido a abertura do mercado de voos domésticos para empresas aéreas estrangeiras. Auxiliares de Dilma dizem que o tema não foi discutido com ministros responsáveis pela Copa do Mundo.

Rota Eduardo Sanovicz, presidente da Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas), diz que foi o setor que pediu ao governo a flexibilização da malha aérea na Copa. O governo deve abrir autorizações especiais de voos para forçar a queda das tarifas durante o evento.

com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN

tiroteio
"Dilma deveria lançar o programa Vela para Todos', para os agraciados com casas sem energia elétrica que ela corre para inaugurar."

DO DEPUTADO RODRIGO MAIA (DEM-RJ), sobre a presidente ter inaugurado unidades do Minha Casa, Minha Vida sem ligações de luz nem de água.

contraponto


Bate e volta
Em seu segundo mandato como governador de São Paulo, nos anos 70, Laudo Natel (Arena) chamou seu motorista em uma sexta-feira, entrou em um Opala e viajou de improviso para Cordeirópolis para inaugurar um centro de saúde. Chegando à cidade, foi à prefeitura para buscar o prefeito, mas descobriu que ele não estava.

Contrariado e atrasado, Natel chegou ao centro de saúde às 18h e teve uma nova decepção: o público havia ido embora e o posto estava fechado.

--Declaro inaugurado o centro de saúde --disse.

Logo depois, entrou no Opala e voltou para São Paulo.

Cenário se consolida - LUIZ CARLOS AZEDO

CORREIO BRAZILIENSE - 17/10

Pesquisa Vox Populi, realizada de 11 a 13 de outubro e divulgada ontem, aponta uma forte tendência de consolidação do favoritismo da presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição, e da candidaturas do senador Aécio Neves (PSDB-MG). A presidente tem chances reais de vitória no primeiro turno, com 43% das intenções de voto contra 30% da soma dos percentuais de Aécio Neves (20%) e Eduardo Campos (10%). A saída de Marina Silva elevou o número de votos brancos, nulos e de indecisos, que somam 27%.

Isso não significa que Dilma já possa ser considerada imbatível, mas sua recuperação lança uma pá de cal no “volta Lula”, de combustão espontânea quando a petista perde força nas pesquisas. Só ressurgirá, nas condições atuais, se a brasa for soprada pelo próprio ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

José Serra, num cenário alternativo, obteve 21% de intenções de votos. Essa ligeira vantagem de Serra — já foi muito maior — serve para consolidar a candidatura de Aécio. Não há alteração na situação dos tucanos se a chapa for a dobradinha Aécio-Serra (20%). A mudança de cenário só ocorre com Marina Silva (PSB) na cabeça de chapa: teria 23% de intenções de votos, o que hoje poderia até levar a eleição para o segundo turno. Uma chapa Campos-Marina, porém, teria 17 de intenções de votos, o que revela potencial de crescimento e pode consolidar essa dobradinha.

Revalida// O resultado do Revalida, que examina os profissionais formados no exterior para validar seus diplomas, somente será divulgado após a votação do Programa Mais Médicos no Senado. O governo teme que os números negativos possam prejudicar as articulações para aprovação da lei que permite a contratação de estrangeiros.

Professores/ A Comissão de Educação, Cultura e Esporte aprovou ontem projeto de autoria do senador Osvaldo Sobrinho (PTB-MT), que pode conceder aos profissionais da educação adicional de até um terço do salário para período reservado a estudos e planejamento das aulas. Atualmente, esse período é permitido apenas ao magistério. Será, ainda, analisado em caráter terminativo na Comissão de Assuntos Sociais (CAS).

Estrada/ A pedido do senador Walter Pinheiro (PT-BA), o ministro dos Transportes, César Borges, abriu processo contra a concessionária Via Bahia, que detém as concessões das BRs 324 e 116. A intenção é cancelar o contrato por causa dos péssimos serviços.

Mais do mesmo
O presidente do PSDB, Aécio Neves (MG), agarrou com as duas mãos as críticas de Marina Silva à condução da economia pelo governo: “É aquilo que o PSDB historicamente vem pregando. A flexibilização dos pilares macroeconômicos é uma das razões do baixo crescimento da economia hoje. Há um retrocesso na condução da política econômica, e o PSDB tem dito isso de forma incessante”, ressaltou. Marina criticou Dilma Rousseff por abandonar o tripé câmbio flutuante, meta de inflação e superávit primário, o que Dilma rebate.

Chantagem
Aécio aproveitou para criticar a relação de Dilma Rousseff com a base do governo no Congresso, que anda sempre esgarçada. “Ela não lidera, ela é conduzida pela sua base no Congresso Nacional. Por isso, há uma dissonância, uma distância muito grande entre a pregação e a prática da presidente. O aparelhamento da máquina pública hoje é vergonhoso”, disparou.

Economia
O horário de verão, que começa no próximo fim de semana, representará uma economia de investimentos em geração e transmissão de energia e uso de usinas térmicas de R$ 5 bilhões

Está difícil
O presidente do PT, Rui Falcão, deve se encontrar hoje com o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), para tentar um acordo sobre as eleições de 2014 no estado. O PT quer lançar a candidatura do senador Lindbergh Farias (foto) e, ao mesmo tempo, garantir o palanque do vice-governador, Luiz Fernando Pezão (PMDB), o pré-candidato de Cabral, para a campanha de Dilma Rousseff. O governador fluminense, até agora, diz que não tem papo: se o PT insistir com a candidatura de oposição ao seu governo, o PMDB poderá apoiar outro candidato a presidente, provavelmente Aécio Neves (PSDB).

Gastos
O deputado Chico Alencar (PSol-RJ) comemora a aprovação pela Mesa Diretora da Câmara das novas regras para uso da cota parlamentar destinada a aluguel de veículos, de sua iniciativa. Foi fixado um teto mensal de R$ 10 mil para a locação, com um subteto percentual de até 5% do valor de mercado do veículo locado; limite de R$ 2,5 mil para serviços de táxi, pedágios e estacionamentos; obrigatoriedade da locação de veículo ser prestada por pessoa jurídica especializada; e a não inclusão do serviço de motorista, entre outros pontos.

Mães e filhos
A Comissão de Constituição e Justiça do Senado aprovou ontem Projeto de Lei 16/2013, do líder do PPS na Câmara, deputado federal pelo Paraná Rubens Bueno (foto), que permite às mulheres, em condição de igualdade com os homens, realizar o registro de nascimento dos filhos. “Não há mais cabimento, em pleno século 21, não permitir que uma mulher tenha autonomia plena para registrar seu filho”, argumentou. Relatado pelo senador Humberto Costa (PT-PE), deve ir à sanção presidencial.

A insegurança nas relações trabalhistas - PAULO SAFADY SIMÃO

O GLOBO - 17/10

Nos últimos anos temos assistido a um intenso debate sobre o futuro das relações trabalhistas no Brasil. É evidente que a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que em 2013 completou 70 anos, não consegue mais responder à complexidade do mundo atual, com suas novas e desafiantes características. Esse descompasso entre a legislação e a realidade gera um ambiente de insegurança jurídica que compromete a segurança de trabalhadores e empresários, ameaça o crescimento da nossa economia e a própria oferta de mais e melhores empregos.

Neste contexto, o tema da terceirização do trabalho tem se destacado como o mais polêmico na agenda das reformas trabalhistas de que o país tanto necessita. Ao longo de décadas, a prática da terceirização foi sendo incorporada ao dia a dia de diversos segmentos da economia e tornou-se condição fundamental para várias atividades que pressupõem a necessidade de serviços especializados, como a indústria da construção, por exemplo. Todavia, na contramão do que ocorre nas principais economias do mundo, a prática da terceirização tem sido "satanizada" no Brasil, ao ponto de o termo ter se tornado sinônimo de precarização de direitos trabalhistas.

A verdade é que a figura do trabalho terceirizado tornou-se imprescindível para elevarmos o nível de competitividade da economia. Precisamos desonerar as contratações e permitir que as empresas lancem mão de prestadoras de serviços, incorporando os melhores recursos e tecnologia, obtendo produtividade e qualidade e diminuindo os custos. Afinal, como imaginar, por exemplo, que empresas da construção de pequeno e médio porte - que são a maioria no país - consigam abrigar permanentemente em seus quadros de funcionários um conjunto de trabalhadores especializados para cada uma das inúmeras etapas de uma obra? Empresas mais produtivas podem oferecer empregos mais qualificados e mais bem remunerados. Na mesma linha, empresas com melhor nível de produtividade se inserem na formalidade e estão em condições de investir na formação de capital humano.

Quanto ao temor manifesto pelas centrais sindicais sobre o risco de a terceirização promover uma precarização dos direitos trabalhistas, é importante ressaltar que a maior ameaça à segurança dos trabalhadores não é a aprovação de um regramento jurídico que legalize a figura da terceirização, mas a inexistência de uma regulamentação que coíba as distorções. É a falta de disciplinamento e controle que propicia o surgimento de oportunistas que acabam comprometendo a imagem das empresas sérias que realizam a terceirização de forma correta.

Esperamos que os debates que têm lugar neste momento no Congresso Nacional avancem no sentido de pôr termo a essa longa espera. É impossível que as empresas evoluam com o nível de insegurança que domina as relações trabalhistas, onde as regras podem ser interpretadas das formas mais discrepantes. É imperioso criarmos um ambiente que estimule o diálogo entre trabalhadores e empresários, simplifique as regras, reduza os conflitos de interpretação, desonere os custos de contratações e abra espaço para ganhos de ambos os lados.

É preciso criar um ambiente que estimule o diálogo entre trabalhadores e empresários, simplifique as regras, reduza os conflitos de interpretação e desonere os custos  de contratações

Maior desânimo - CARLOS ALBERTO SARDENBERG

O GLOBO - 17/10

A queixa se iguala: ‘Estamos trabalhando para os caras’. Mesmo quando não é corrupta, a burocracia tende a se tornar um fim em si mesma



Começou com um ouvinte do programa CBN Brasil, que se apresentou como pequeno empresário da indústria e fez uma espécie de consulta: que tal se ele vendesse a fábrica, o que lhe daria uns R$ 3 milhões, e passasse a viver de aplicações financeiras, hoje em fundos imobiliários?

Por que faria isso se, como ele mesmo disse, a fábrica ia bem e dava dinheiro?

Por cansaço e desânimo, respondeu. Contou então que, como pequeno empresário, precisa estar em cima de tudo, da produção à contabilidade, das vendas aos fornecedores. E que ele não aguentava mais a trabalheira, não na produção de suas peças, mas na burocracia em volta, na dificuldade da gestão.

Colocamos a história no ar, na última terça-feira, Mara Luquet comentou, e imediatamente começamos a receber e-mails com casos parecidos. Alguns deles reclamavam da queda de atividade em seus setores — como um rapaz produtor de parafusos e outras peças para portas de vidro, com vendas em queda por causa do declínio da construção civil.

Mas mesmo esse dizia que ainda estava no lucro. Na verdade, como os demais, também estava mais cansado da trabalheira, digamos, institucional: lidar com as leis e regulamentos, suas autoridades, os tribunais, os fiscais, o pessoal do Fisco. É o maior desânimo, explicava um fabricante de roupas, também jovem, empreendedor: "Parece que a gente não trabalha no negócio, trabalha para os outros que ficam ali... atrapallhando".

Parecia a esses empreendedores, da economia real, que a vida de investidor financeiro, rentista, era mais fácil e mais segura.

Estava com isso na pauta quando escuto, pela tevê, o comentário de um dos chefes do crime em São Paulo, grampeado numa conversa com um colega: "Tô no maior desânimo, irmão, só trabalho para os caras; neste ano, já paguei uns 700 contos pra eles".

Sim, são situações bem diferentes. Não estamos nem de longe comparando empreendedores honestos com empresários do crime. Mas reparem: nos dois casos tem uma falha do Estado e das instituições. No primeiro, a burocracia (no sentido amplo) atrapalha uma atividade legal e produtiva, que deveria ser facilitada; no segundo, atrapalha uma atividade ilegal que deveria ser coibida, mas é preservada exatamente para dar lucro a agentes do Estado.

A queixa se iguala: "Estamos trabalhando poara os caras". Mesmo quando não é corrupta, a burocracia tende a se tornar um fim em si mesma. Quando se chega a esse ponto, ela não existe mais para regular e controlar a atividade legal ou coibir a ilegal, mas a atividade privada, qualquer que seja, só existe para dar sentido (e vantagens) à burocracia e seus agentes.

A que ponto chegamos: o fabricante de parafusos e o distribuidor de cocaína no maior desânimo...

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O pré-sal e os índios

Era um debate com investidores financeiros e empresários, inclusive do agronegócio. Lá pelas tantas, Marina Silva disse: "Meu orgulho não é o pré-sal, mas as 38 comunidades (indígenas) que até hoje não têm contato (com os brancos)".

Qual o sentido disso?

Ela já havia dito que considerava o petróleo uma vantagem importante — a ser explorada com responsabilidade ambiental e uso consciente dos lucros para financiar o futuro, a educação por exemplo. Mas seu entusiasmo apareceu mesmo quando falou da energia solar e da eólica, cujo desenvolvimento considera crucial para que o país não seja dependente de uma só fonte, mesmo que seja a hidrelétrica.

O objetivo, afirmou, tem de ser a economia de baixo carbono.

Bom, petróleo é carbono puro. Hidrelétrica não é, mas aqui entram os índios e a floresta. Entram também no agronegócio, que era o tema de Marina quando falou, entusiasmada, das 38 comunidades indígenas ainda preservadas do contato com a assim chamada civilização ocidental. Na opinião da Marina, essas comunidades têm que ser preservadas como estão, na pura vida original, sendo o papel do Estado fazer essa proteção.

Eis como a frase lá de cima começa a ganhar sentido. Há uma agenda desenvolvimentista no Brasil, que inclui o pré-sal, a construção de uma pesada infraestrutura e um agronegócio que é um campeão mundial. Tudo com riscos ambientais. E um outro risco, daí derivado, o de bloqueio ao desenvolvimento por excesso de zelo ambiental.

Eduardo Campos é desenvolvimentista. Penambuco é um canteiro de obras, inclusive de alto carbono. Marina vem pelo outro lado. Nada pode prejudicar a vida das 38 comunidades, nem que seja obra crucial para o desenvolvomento. Vai ser aí uma difícil combinação programática e pragmática.

Fortalecer o navio - CELSO MING

O Estado de S.Paulo - 17/10

O Fórum Estadão sobre Comércio Exterior, realizado terça-feira, voltou a discutir problema velho de guerra, que só é tudo isso porque não tem solução à vista.

São as distorções que as políticas de câmbio produzem no comércio global. De um outro jeito, a presidente Dilma queixou-se do mesmo afogamento da produção quando reclama do "tsunami monetário" provocado pelas emissões de moeda forte pelos países ricos. E o ministro Guido Mantega, quando denuncia a "guerra cambial".

O fato é que os grandes bancos centrais, especialmente o Federal Reserve (Fed, dos Estados Unidos), o Banco Central Europeu e o Banco do Japão, passaram a imprimir impressionantes volumes de moeda, não propriamente para garantir uma desvalorização cambial que aumentasse as próprias exportações, mas para tirar seus respectivos países do sufoco da crise.

O problema é que essas políticas produzem efeitos colaterais de grandes proporções. Entre esses estão as distorções no mercado financeiro, porque imensos volumes de moeda produzem solavancos nos preços dos ativos; e a anulação das barreiras alfandegárias, cujo objetivo é proteger o produto local com um adicional de impostos sobre produtos importados. Assim, os acordos comerciais se transformam em ficção. É que a desvalorização das moedas fortes que se segue a essas brutais emissões barateia também em moeda forte os produtos desses países ricos, de um jeito tal que alija dos mercados o produto concorrente.

O diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), o embaixador brasileiro Roberto Azevêdo, também presente ao debate, jogou um balde de gelo sobre aqueles que entendem que é preciso primeiro resolver esse problema antes de realinhar tarifas aduaneiras. "Essa questão só será devidamente tratada se houver cooperação dos grandes países emissores de moeda forte no mundo", disse ele.

Como não há essa cooperação, porque os senhores do mundo não têm interesse nessa negociação, conclui-se que sobra para os incomodados apenas o recurso do esperneio, enfeitado pela retórica do "tsunami monetário" ou da "guerra cambial".

A atual desordem cambial provém de 1971, quando o então presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon, sepultou o Sistema de Bretton Woods (criado em 1944), ao decretar unilateralmente o fim da conversibilidade do dólar em ouro. De lá para cá, as moedas dançam freneticamente, como dervixes.

Em tese, só há duas soluções para a criação de uma nova ordem monetária: ou um grande acordo, como o sugerido por Azevêdo, ou a criação de uma moeda única global. Essas saídas não estão na tela de nenhum radar. As coisas teriam de piorar muito para todos, como aconteceu nos anos 40, depois de uma Grande Depressão e duas Guerras Mundiais, para que alguma solução, como a de Bretton Woods, se torne possível.

Enquanto isso, sobra para um país como o Brasil, que pretende passar incólume por tempestades desse tipo, a opção de fortalecer o navio. Isso implica dar solidez aos fundamentos da economia - e não esse mais ou menos defendido pela presidente Dilma; e dar competitividade a todo o setor produtivo nacional - e não só à indústria.

Baixo crescimento - MÍRIAM LEITÃO

O GLOBO - 17/10
O Brasil está estagnado no terceiro trimestre e o PIB deve ser o pior do ano. Isso foi reforçado pelo dado divulgado ontem pelo Banco Central, de crescimento de apenas 0,08% em agosto. Mas o mercado de trabalho permanece dando boas notícias e o comércio surpreendeu com um dado mais positivo do que o esperado. A distância entre indústria e varejo aumenta.
O índice de Atividade Econômica (IBC-Br) de agosto surpreendeu negativamente. O mercado esperava em tomo de 0,2%. Aumentou o risco de não haver crescimento no terceiro trimestre. Em julho, o dado do BC caiu. Já o comércio surpreendeu positivamente, mas em parte isso é resultado dos incentivos à compra de eletrodomésticos através do programa Minha Casa Melhor.

A sexta alta consecutiva do comércio é positiva, mas o mau desempenho da indústria mostra que o país continua crescendo puxado pelo consumo. O gráfico abaixo, elaborado pelo Banco ABC Brasil, mostra que o setor industrial está há três anos andando de lado e o consumo continua em alta. A distância entre os dois está aumentando, em termos absolutos.

Vários indicadores sobre o terceiro trimestre não estão bons. A indústria caiu 2,5% em julho e ficou estagnada em agosto. O IBC-Br caiu 0,33% em julho e subiu 0,08% em agosto. Só o varejo cresceu: 2,1% e 0,9%.

O Minha Casa Melhor tem o mérito de facilitar a compra de eletrodomésticos e móveis para equipar as casas das famílias de baixa renda. Mas o programa foi implementado de forma a aumentar muito a exposição da Caixa Econômica. O "Estado de S. Paulo" publicou recentemente relatórios internos do banco alertando que há risco  de 50% de inadimplência em algumas faixas de renda. As perdas poderiam chegar a R$ 2,9 bilhões até 2016. 

A inflação do terceiro trimestre, entre julho e setembro, foi baixa e isso levou o índice acumulado em 12 meses " para menos de 6% pela primeira vez no ano. O problema continua sendo a inflação reprimida nos preços administrados. Eles tiveram, em 12 meses, 1,27% de alta, enquanto os preços livres subiram 7,64%.

O varejo vai bem, mas a taxa em 12 meses do comércio mostra desaceleração. Em novembro de 2012, as vendas cresceram 8,6%. Em agosto, dado divulgado pelo IBGE na terça-feira, a alta foi de 5,1%. O Departamento de Estudos Econômicos do Bradesco estima que o ano fechará com crescimento de 4%. 

O economista José Márcio Camargo, da Opus Gestão de Recursos, avalia que o PIB pode cair 0,5% ou ficar estagnado no terceiro trimestre. No quarto, o crescimento deve melhorar para uma alta de 0,5%. Com isso, o ano fecharia em tomo de 2,5%.

- Essa aceleração não continua no ano que vem, porque o Banco Central está subindo juros para combater a inflação. O aumento dos juros reais vai ter efeito sobre a atividade em 2014 - explicou o economista.

A decisão do BC americano de adiar a retirada dos estímulos monetários reduziu a pressão inflacionária que estava aumentando com a desvalorização do real. Mas o crescimento continua baixo e oscilante. 

O melhor mês do pior ano - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 17/10

Resultados melhores no comércio e no emprego mal disfarçam ano mais fraco da década


FOI O MELHOR setembro desde 2010 no mercado de trabalho formal, soubemos ontem pelos números do Ministério do Trabalho.

As vendas do comércio cresceram pelo sexto mês consecutivo, soubemos anteontem pelos números do IBGE. Superaram de longe a média das previsões dos economistas.

Está bem.

Este 2013, porém, deve ser o mais fraco no que diz respeito ao aumento relativo do número de empregos formais, com carteira assinada, desde 2003.

Este 2013, porém, deve ser o de menor crescimento das vendas do comércio de varejo desde 2003.

Está ruim, então?

Não, não está, se a gente leva em conta apenas o cotidiano da média dos brasileiros.

O número de empregos formais cresceu até agosto 2,6% sobre o ano passado.

O faturamento do varejo cresceu 3,8% (janeiro a agosto deste ano sobre o mesmo período de 2012). Esse crescimento fica desenxabido, sem graça, se a gente lembra das taxas de 2010 a 2012, de 9% em média, "chinesas", como diz o clichê.

A renda do trabalho, pelo menos nas maiores regiões metropolitanas, está crescendo mais devagar, mas cresce ainda, com o menor desemprego em décadas.

A economia está esfriando, mas a sensação térmica não é tão ruim.

Neste ano, aliás, até antes de junho, o nível de otimismo dos brasileiros com a economia flutuava em torno das médias bem altas verificadas desde 2007.

Foi então, nos protestos, que as pessoas descobriram que eram infelizes, mas não sabiam, embora a mudança de humor súbita aparentemente tenha sido apenas temperada pela piora econômica, inflação em particular.

É preciso lembrar que nestes três anos de Dilma Rousseff a economia terá crescido apenas uns 2% ao ano. O crescimento per capita, por cabeça, pouco mais de 1% ao ano.

Ainda assim, dado o mau estado geral da saúde econômica do Brasil, portanto, estamos tirando leite de pedra, por assim dizer. Ou matando a galinha dos ovos de bronze. Dourando a pílula. Adiando o dia de pagar as contas de excessos dos últimos três, quatro anos.

Inflação alta, deficit externo em alta contínua, investimento ainda muito parco, tudo isso é sinal de que a economia está com a língua de fora. O crédito nos bancos privados cresce também bem mais devagar. Isto é, trata-se de outro sinal de desconfiança no crescimento da economia e da renda, além de receio devido ao endividamento ainda excessivo do público.

Mesmo o governo passa a impressão de que enfim percebeu que não tem como gastar muito mais; o Banco Central vai elevando os juros.

Logo, as notícias mais animadoras que aparecem depois dos abalos de junho-julho não refletem uma "reação", como dizem o pessoal do governo e agregados. Ou, pelo menos, de que se trate de que "voltamos aos trilhos", de que "agora vai", de que "a crise passou" ou seja lá qual for a conversa.

A depuração dos excessos não começou, ou mal começou, se a gente leva em conta a alta dos juros. Como o governo não vai tomar providências eleitoralmente irritantes daqui até a eleição, e talvez nem depois disso, o acerto de contas fica para 2015.

Ela e as quatro Marias de Sete Lagoas - ROBERTO MACEDO

O Estado de S.Paulo - 17/10

O dia 15 que passou foi o Dia do Professor. Decidi deixar de lado meu tema usual, a economia, e escrever em homenagem às minhas quatro primeiras mestras fora de casa. E à minha mãe, Juldete, única também em sua capacidade de ensinar. Aquelas, todas de nome Maria: Pontes Lanza, Braga, Rachid e José Machado. Nessa ordem as tive em cada um dos quatro anos do antigo curso primário, que hoje corresponde às primeiras quatro séries do ensino fundamental. Cursei-o em Sete Lagoas (MG), no Grupo Escolar Arthur Bernardes, da rede estadual de ensino.

Em casa, minha mãe também era professora. Hoje centenária, na juventude passou por escola de nível médio, voltada para o magistério. Mas só o exerceu por pouco tempo, pois passou a cuidar dos oito filhos que foram chegando. Nisso se esmerou também em oferecer-lhes adequadas condições de aprendizado no próprio lar. Como a disponibilidade da coleção Thesouro da Juventude, de 18 volumes, voltados para ciência, arte e ética numa linguagem popular. Havia também uma enciclopédia e muitos clássicos da literatura nacional e internacional, incluída uma coleção de obras de Machado de Assis. Mamãe também ajudava muito nas lições de casa e ao ensinar sobre o cotidiano da vida. Toda a família está sempre a homenageá-la.

Quanto às Marias, ignoro se alguma ainda sobrevive, mas tenho a face delas e suas atitudes marcadas na memória. Lembro-me mais da primeira, pois o início da vida escolar é para sempre um momento marcante na vida de cada um. E não só pelo aprendizado em si, como também pela sociabilidade que a convivência com outras pessoas enseja. Maria Pontes, como era chamada, ensinou-me a ler, escrever e fazer contas. Assim, fui alfabetizado e "numerizado" logo no primeiro ano de escola. Hoje fico perplexo ao saber que nas escolas públicas há quem chegue ao terceiro ano sem completar essa etapa.

Ela era exigente e durona, em particular com sua filha e minha colega, Vera Maria. Costumava dar lições de leitura e compreensão reunindo quatro ou cinco alunos em torno de sua mesa. Certo dia, num desses grupos, eu aguardava minha vez, mas por alguns momentos fiquei desatento e a olhar para trás, por cima do meu ombro direito. Puxando-me a orelha do mesmo lado, ela retornou minha atenção para o devido lugar. Mas pegou leve e não guardei mágoas.

Foi ela que me nomeou para meu primeiro "cargo público". A sala de aula, sempre a mesma, tinha uma pequena estante de livros à disposição dos alunos, até para as citadas lições. O conjunto tinha nome pomposo, Clube de Leitura Castro Alves. Tornei-me seu tesoureiro, pelo fato de meu pai ser bancário e ela presumir que eu soubesse lidar com dinheiro. Meu trabalho consistia em arrecadar mensalmente de cada aluno dez centavos do antigo cruzeiro, um valor então conhecido como tostão, com o objetivo de comprar mais livros para a estante.

Além de competentes e exigentes, essas quatro Marias tinham a assiduidade como outro traço marcante. Hoje há notícias de que o excesso de faltas de professores é um dos problemas que a escola pública enfrenta. Havia professoras que até se excediam em sua dedicação. Lembro-me de uma que cuidava de um aluno muito pobre que andava descalço e era cronicamente atacado por bichos-de-pé, que ela ajudava a extirpar.

Nos três anos seguintes, além de avanços em Aritmética e Língua Pátria, hoje Matemática e Português, lembro-me de que vieram ensinamentos de História e Geografia. Recordo-me também de aulas que incluíam cuidados de higiene pessoal.

Memorável também era a hora do recreio, a escola oferecia um amplo espaço, coberto de árvores e cercado apenas por grades. Hoje vejo escolas públicas muradas e com portões de chapas de aço, entre outras razões, para evitar o assédio de traficantes de drogas.

E havia celebrações como a do Dia da Árvore, já indicando uma preocupação ecológica. Num desses dias integrei uma cantiga de roda. Girava-se cantando um refrão que enaltecia as árvores, com intervalos em que cada um dos participantes ia para o centro e cantava representando uma delas. Coube-me o papel de coqueiro, a enaltecer seus frutos e as respectivas cocadas. Noutra celebração, da Independência, antes houve competição para decidir quem faria o papel de dom Pedro I a ecoar o Grito do Ipiranga. Venceu aluno de voz forte que ainda jovem se tornou locutor da rádio local.

Infelizmente, são raríssimos os contatos com os colegas da época. Hoje, com a internet, até crianças têm a sua rede de contatos que pode ser preservada e atualizada pós-formatura. Mas sei que a criança que gritou "Independência ou Morte", Carlos Afonso Moreira Soares, se tornou engenheiro químico. Outro colega, Márcio Reinaldo Dias Moreira, é o atual prefeito da cidade.

Vinte anos depois do grupo escolar, ao buscar escolas para minhas filhas, vi com tristeza que as públicas haviam perdido muito em qualidade. Mas houve pelo menos uma melhoria, a do acesso das crianças a essas escolas. Naquela época, muito da pobreza se concentrava na zona rural, sem transporte e outros meios para chegar a escolas quase que só existentes nas cidades. Hoje é ampla a circulação de ônibus, vans e Kombis escolares pelas estradas rurais, uma tarefa executada por prefeituras e seus prestadores de serviços.

Assim, ampliou-se o acesso, mas há que retomar a qualidade que a escola pública tinha no passado. No muito de que ela carece, há também o que aprender com outra grande mestra, a história das escolas públicas e das antigas práticas educacionais brasileiras. E cabe também puxar as orelhas das famílias para que atentem para a necessidade de garantir bom ambiente educacional em casa, igualmente indispensável à boa educação de seus filhos. Sozinha, a escola não resolve.

Alvos móveis - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 17/10

Marina será candidata a vice na chapa de Eduardo Campos, mas o anúncio oficial só sai em 2014. Até lá, eles ficarão ambos na vitrine, trocando de lugar para deixar o PT zonzo, assim como Lula e Dilma fizeram no passado, para desnortear a oposição


Ao longo de dois anos e nove meses, o país conviveu com Dilma Rousseff no papel de presidente e Lula naquela posição de reserva, ameaçando entrar em campo ao menor sinal de fraqueza política da atual chefe da nação. Chegou ao ponto de Lula ter que dizer que a candidata era Dilma, antecipando todo o calendário eleitoral do ano que vem. Pois é mais ou menos nessa posição que estão hoje o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e a ex-senadora Marina Silva, embora esteja tudo acertado entre os dois.

Marina será vice na chapa de Eduardo. Foi essa a sugestão da própria ex-senadora, durante a conversa que eles tiveram na noite em que ela decidiu ingressar no PSB. Obviamente, o anúncio oficial só será feito no ano que vem. Até a data da foto, eles ficarão do jeito que Lula e Dilma estiveram para o grande público, até o dia em que o ex-presidente informou ao PT que ela era a candidata. Ora Dilma era o alvo da oposição, ora Lula. E assim eles seguiram deixando o PSDB, o DEM e o PPS meio zonzos, sem saber em quem bater ou contra quem se preparar.

A vida de alvo móvel é o melhor dos mundos para Eduardo e Marina. Enquanto o presidente do PSB sai a campo em busca de aliados e vai, aos poucos, tentando conquistar os eleitores da Rede, e dos partidos aliados ao governo, Marina faz o contraponto com a presidente da República, chamando o governo para o ringue.

Até aqui, avaliam os socialistas, deu certo. Dilma e Marina contracenam na mídia, enquanto Eduardo vai deixando o PT com mais problemas nos estados. O Maranhão é o caso mais emblemático no momento. Eduardo Campos esteve com Flávio Dino, candidato a governador pelo PCdoB, há cerca de duas semanas. Foi o suficiente para que os petistas corressem ao comunista oferecendo a delícia de aliado preferencial da presidente-candidata. Os petistas bagunçaram aí a seara do ex-presidente do Senado José Sarney e sua filha, a governadora Roseana. Uma desfeita sem tamanho àquele que jamais faltou ao governo Lula e nem ao governo Dilma. Afinal, não dá para esquecer que Sarney chegou ao ponto de acompanhar Lula quando o líder petista deixou Brasília pela primeira vez como ex-presidente.

O Planalto desmentiu o apoio a Flávio Dino, mas a sequela da desconfiança ficou. Para muitos peemedebistas, está claro que o PT ainda não absorveu a aliança entre Marina e Eduardo. E, meio tonto, empurra a dupla para a oposição definitivamente (uma palavra forte em política). Isso tudo porque os petistas temem que sua ampla base se desfaça por conta da musculatura que a união dos dois ex-ministros de Lula traz a um projeto alternativo de poder. E, nesse caso, raciocinam os peemedebistas, se desde já o PT pensa em rifar o PMDB do Maranhão, terra de Sarney, não tem limites para o que pode ocorrer nos demais estados. Ou seja, mais uma vez a aliança balança.

Enquanto isso, no PSD...
A continuar desse jeito, com Eduardo e Marina movimentando o cenário político, voltará a crescer no PT, o tal “volta, Lula”, como forma de debelar as forças da dupla. Ocorre que, o saldo final não será mais essa maravilha toda. O PSD de Gilberto Kassab, por exemplo, deve rachar ao meio com o retorno do ex-presidente ao centro do ringue como candidato. Embora muitos tenham saído da oposição para se aproximar do governo, apoiar Lula soa impossível para muitos integrantes da legenda.

Apesar do mal-estar no PSD, os petistas que sonham com a volta de Lula não desistem de tentar recolocar o ex-presidente como uma opção. Nem que seja apenas para ter mais um alvo móvel capaz de confrontar Eduardo Campos como Dilma se contrapõe hoje à estrela da Rede Sustentabilidade. Afinal, tudo o que o PT não deseja é perder a condição de comandante em chefe das Forças Armadas. Pior do que remodelar uma campanha com Lula, avaliam alguns petistas, é correr o risco de derrota. Embora as pesquisas não tragam essa sinalização agora, o PT não deixa de estar preocupado com Aécio Neves, do PSDB, e Eduardo Campos. Daqui até outubro do ano que vem, todo o cuidado é pouco.

Política "vintage" - VERA MAGALHÃES

FOLHA DE SP - 17/10

SÃO PAULO - Depois de junho, virou moda no Brasil se dizer representante da tal "nova política".

Justiça seja feita: Marina Silva já usava esse discurso antes de as manifestações tomarem as ruas, tanto é que foi a única candidata a crescer logo depois do pico dos protestos.

A novidade é que a ex-senadora ganhou companhia, a começar por seu possível companheiro de chapa, Eduardo Campos. Apesar de ser membro de uma família de políticos tradicional, o governador (em segundo mandato) também passou a ser vendido com rótulo de lançamento.

Mais curioso ainda é reparar que, para conferir verossimilhança à pregação da "nova política", estão sendo escalados justamente os veteranos que estavam no banco de reservas.

Antes sob risco de ter sua candidatura à reeleição para o Senado cassada pelo PT, Eduardo Suplicy foi chamado a estrelar comerciais de TV da sigla. Seu figurino "outsider", o descolamento da máquina partidária e as atitudes "independentes" (embora sempre calculadas para gerar exposição) o fizeram voltar à moda depois que a geração Facebook deu as caras.

A mesma lógica explica por que Luiza Erundina (PSB-SP) e Pedro Simon (PMDB-RS) --sempre vistos com fastio pelas cúpulas de seus partidos, graças à rebeldia de quem não tem papas na língua-- estão em alta com a dupla Campos-Marina.

O octogenário senador gaúcho foi saudado como artífice da aliança. A deputada e ex-prefeita de São Paulo ganhou lugar de destaque à mesa na cerimônia que selou o casamento.

Assim, o que se propõe como "novo" na política ganha ares "vintage", como a volta à febre do vinil.

Dado esse súbito protagonismo, Suplicy pode virar líder do governo caso Dilma Rousseff seja reeleita? Ou os autênticos Erundina e Simon seriam ministros num eventual governo de Campos e/ou Marina?

Improvável. A presença deles na fotografia serve mais para dar aquele tom sépia descolado e aumentar o número de "curtidas" nas redes sociais.

A nova política - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 17/10
A ex-senadora Marina Silva deu mais um passo na denúncia de que o governo da presidente Dilma se tornou refém de chantagens de sua base aliada em busca de mais cargos e nomeações fisiológicas. Ela propôs em uma reunião, ontem, do PSB que os partidos independentes se unam no Congresso para impedir que os partidos governistas obstruam votações de assuntos importantes para o país, como maneira de pressionar o governo.
Essa proposta heterodoxa, que foi acolhida pelo plenário socialista, seria uma maneira de mostrar, na prática, o que é realmente a "nova maneira de fazer política" que está sendo proposta pela coligação PSB/Rede.

Ao mesmo tempo, Marina dá uma demonstração de que seu grupo político, aliado ao PSB, não pretende se aproveitar das dificuldades do governo para fragilizar ainda mais a presidente Dilma no Congresso, mesmo que a campanha eleitoral já esteja em pleno andamento.

A expressão "chantagem" com que Marina classificou a pressão dos partidos da base, não foi endossada pelo outro candidato da oposição, o senador Aécio Neves, do PSDB. Mas Aécio concordou com o conceito da crítica: "A presidente se submeteu, sim, às piores práticas aqui no Congresso".

O provável candidato do PSDB abordou outro tema que tem sido frequente em suas críticas, e que é também alvo do governador de Pernambuco Eduardo Campos: o aparelhamento da máquina pública, que chamou de "vergonhoso", não só pelo número "acintoso" de ministérios, mas pela qualificação de seu pessoal, o que resulta, segundo análise de Aécio Neves, num "baixo crescimento e ineficiência gerencial enorme".

Ontem mesmo o PMDB, o mais importante partido da coligação com o PT, explicitou os desencontros com o partido da presidente Dilma. Em comunicado oficial, avisou que apoiará na eleição presidencial Eduardo Campos contra Dilma em Pernambuco e no Piauí. Além disso, em nove estados o PMDB será adversário do PT nas eleições para
os governos estaduais.

No Rio de Janeiro e na Bahia, é possível que o PMDB apoie o candidato do PSDB, Aécio Neves, em retaliação às seções locais do PT.

Uma interpretação equivocada do papel dos partidos políticos no apoio a um governo levou a que a corrupção e o fisiologismo se tornassem elementos fundamentais da chamada "governabilidade". O nosso "presidencialismo de coalizão", nascido de uma Constituição feita para ser parlamentarista mas que vigora no presidencialismo, cria essas distorções.

Ocaso do PSB é mais paradoxal, pois é um desses partidos historicamente aliados ao PT que sofrem para ganhar um espaço maior no governo, sendo pragmaticamente trocados quando os interesses de curto prazo do governo assim determinem.

Um governo de coalizão pressupõe, segundo os especialistas, a partilha do próprio poder, o que dificilmente acontece no modelo petista. Como ficou claro recentemente na eleição municipal, o PT não respeita o território do parceiro, por mais comprometido com o governo que ele seja.

Por causa disso, o racha com o PSB teve início, na escolha do candidato a prefeito de Recife. A partir desse desentendimento, vencido por Eduardo Campos, o governador de Pernambuco foi se afastando do PT até chegar à situação atual.

Cientista político da Fundação Getúlio Vargas, Octávio Amorim Neto sustenta que um governo multipartidário, em um regime presidencialista, assemelha-se aos gabinetes de coalizão formados nos sistemas parlamentaristas quando o presidente obedece às seguintes normas: usa um critério eminentemente partidário de seleção dos ministros; aloca os ministérios aos partidos em bases proporcionais ao seu peso dentro da maioria legislativa do governo; usa mais projetos de lei do que medidas provisórias; e dá poder de veto aos seus parceiros de coalizão sobre os projetos a serem apreciados pelo Congresso.

Essa não é a receita de coalizão petista. E, para quebrar a centralização de decisões, os partidos da base têm que utilizar o que Marina chama de "chantagem" para ocupar espaços no governo Dilma.

"Monótono crescimento" - ELIANE CANTANHÊDE

FOLHA DE SP -17/10

BRASÍLIA - Em vez de transformar a eleição num "ringue", os candidatos deveriam discutir os principais problemas, como o fiasco do turismo num país tão "abençoado por Deus e bonito por natureza".

O tema ganhou visibilidade com a manchete da Folha, na segunda-feira, mostrando que as passagens aéreas já custam dez vezes mais na Copa, o que afugenta de vez os turistas. Embratur, Anac e Turismo sugerem soluções atabalhoadamente. Mas a culpa e a solução vão além deles.

O ministro Gastão Vieira admite que o número de turistas estrangeiros gira em torno de 5 milhões ao ano, com um "crescimento monótono". Um vexame para um país com 200 milhões de habitantes, litoral de fazer inveja, Amazônia, Pantanal, Itaipu, Nordeste, cidade maravilhosa, praia e sol o ano inteiro.

Uma alegação recorrente é a distância. "Mas por que 1 milhão de russos vão a Cuba por ano e não tem russo desembarcando aqui?", pergunta(-se?) o próprio ministro. Porque o Brasil é caríssimo, com impostos de amargar, infraestrutura péssima e constrangedora falta de investimento e de segurança.

A questão é de governo e transcende o Turismo, pequeno e sem recursos. É preciso atrair o capital privado internacional, inclusive no setor aéreo, aumentando o limite de 20% de capital estrangeiro das empresas e abrindo o máximo de rotas e voos para as companhias mundiais. Além, claro, de estimular a aviação regional e melhorar os aeroportos: 40 minutos esperando uma mala?!

Os aviões para os EUA, a Europa, e a Ásia estão sempre lotados porque brasileiros vão para lá, não porque estrangeiros vêm para cá. E por que os brasileiros preferem ir para lá, em vez de viajar cá? Por causa dos preços e das condições. No empurra-empurra no governo, ninguém vê isso. Nem os candidatos de 2014.

PS - O embaixador de um grande país queria levar a família a Salvador, mas, ao ver os preços, ficou em Brasília mesmo. Vai acabar no Caribe...

Pink blocs e romeiros disputam o seu olhar - EUGÊNIO BUCCI

O Estado de S.Paulo - 17/10

Essa expressão ardilosa, "pink blocs", veio carimbada na primeira página do Estadão de segunda-feira, 14 de outubro: Pink blocs na Parada Gay do Rio. Foi esse o título de um pequeno texto-legenda aos pés de uma fotografia tão ousada quanto imensa, bem pouco usual num diário circunspecto como este aqui. Na foto, desfraldada na metade superior da capa do jornal (com o crédito do fotógrafo Marcos de Paula), dois homens se beijam na boca em pleno sol carioca, tendo ao fundo a bandeira do arco-íris, que simboliza os direitos dos homossexuais.

Calma: dizer que os dois manifestantes se beijam na boca no espaço mais nobre deste sóbrio e centenário matutino talvez seja exagero, posto que os lábios de um não tocam os lábios do outro. Eles têm o rosto coberto por uma camiseta providencial. À moda dos black blocs, estão mascarados, apenas com os olhos à mostra - a diferença é que, enquanto os black blocs preferem tecidos negros, aqueles se valem de panos cor-de-rosa -, de tal maneira que, embora seus rostos se colem na posição inconfundível de um beijo, as camisetas cuidam de impedir maiores intimidades bucais.

E então, o que queriam os beijoqueiros em rosa? Direitos iguais, quem sabe. Ou um pouco de romance, um instante de divertimento. Acima de tudo, porém, eles procuram atrair o seu olhar, caro leitor. Com todo o respeito, eles se movem atrás do seu olhar.

Agora mudemos de jornal, mas não de dia nem de cidade. Fiquemos na mesma metrópole, na mesma segunda-feira, 14 de outubro de 2013. Só que, agora, em lugar da capa doEstadão, voltemos os nossos olhos para a primeira página da Folha de S.Paulo. Também ali temos uma foto de aglomeração humana, mas não mais em Copacabana, não mais de gays estridentes, mas de romeiros, mais silentes, na cidade de Belém. São homens, jovens em sua maior parte, com o semblante carregado, em sinal de fé, de devoção, de respeito - e também de desconforto. Nas ruas e calçadas da capital do Pará, sob o sol equatorial e sob a sombra das mangueiras que despacham mangas mortíferas contra a cabeça dos passantes, erguem os braços para tocar a corda sagrada do Círio de Nazaré.

E, nesse caso, o que buscam os fiéis? A compaixão de Deus, quem sabe. O perdão por pecados indizíveis. A paga de uma promessa por uma graça alcançada. Acima disso, porém, tropeçando nas imperfeições acidentadas do logradouro público, a céu aberto, diante das câmeras de repórteres dos mais longínquos países, eles suplicam pelo olhar do próximo e do distante, querem um pouco do olhar de cada um de nós.

Não, não diga que a analogia é profana, ultrajante e descabida. Numa era como a nossa, em que a imagem impera como o critério definitivo, em que a uma fotografia se atribui o poder de separar o que é verdade do que é mentira, em que a palavra imagem vira sinônimo da palavra reputação (quando se diz que um político ou uma empresa desfrutam uma boa imagem, o que se quer dizer é que esse político ou essa empresa têm uma boa reputação), todos os atos convergem para as câmeras.

Não adianta você argumentar que o Círio de Nazaré vem de uma tradição muito anterior à TV Tupi. As religiões, também elas, com exceções raríssimas, terminaram por se render à linguagem visual, à tirania dos enquadramentos impactantes, comoventes e cafonas. Assim é que as procissões e as romarias, bem como os jogos de futebol, as reuniões do Supremo Tribunal Federal, as revelações científicas, a guerra e o ambientalismo adotam coreografias as mais mirabolantes, com cenografias teatrais, tiradas circenses, efeitos especiais estonteantes e cada vez mais hiperbólicos.

Sim, a analogia procede. Os gays mais militantes e os cristãos mais recolhidos, de todas as cores, de todos os credos, querem apenas ser olhados no espetáculo do mundo. Existir virou sinônimo de ser visível.

Dentro desse cenário (um cenário, de fato), se uma categoria profissional não consegue chamar a atenção dos holofotes, poderá estar fadada à insignificância irreversível. O mesmo vale para um time de vôlei feminino, um laboratório farmacêutico, um povo indígena de Roraima, os astronautas chineses, as comunidades quilombolas, os parlamentares de partidos pequenos, os de partidos grandes, os escritores brasileiros que vão a Frankfurt, os escritores brasileiros que não vão a Frankfurt, os cantores que são contra as biografias não autorizadas e os vendedores de cachorro-quente na novela e na vida real. É para ser olhados que adolescentes fuzilam seus colegas de classe na escola. É para ser olhado que um ator proclama que é bissexual. É para ser olhado que o pastor jura fazer milagres. Quanto mais olhar o sujeito retém, mais valor ele terá.

Em meio a tanta encenação, o olhar da gente é assaltado a toda hora. Um protesto aqui, uma missa acolá, uma briga mais adiante, um strip-tease na outra esquina imploram por olhar, mais ou menos como os torcedores que vão aos estádios - que hoje são estúdios de gravação de programas publicitários tendo uma partida de futebol como pano de fundo - com aqueles cartazes onde se lê: "Filma eu, Galvão". Se os governantes se expressam por meio das técnicas de propaganda, é também como propaganda que os governados querem gritar suas vontades, suas identidades e suas insatisfações. É fazendo cena que eles gritam, e gritam bem alto, em imagens ensurdecedoras. O trio elétrico baiano, o carnaval de Olinda, a Marcha para Jesus e as manifestações de junho são enunciados visuais perfeitamente equivalentes, ainda que pareçam ter motivações distintas.

O seu olhar vale mais do que você pensa. Na realidade performática que nos rodeia, em que cada imagem é um manifesto, o seu olhar é a sua opinião. E aí? O que você vai apoiar com os seus olhos? O Círio de Nazaré ou a Parada Gay? Ou os dois?