ZERO HORA - 07/03
Nudez, meus amigos, essa é outra coisa e, por sorte, não ocorre somente no Carnaval
Lembro do dia em que descobri o que era a nudez. Era Carnaval e não havia baile infantil de clube ou de rua naquela cidade uruguaia, a folia era simples e sem graça: circular pelas ruas mais povoadas do balneário, esperando e temendo ser atingida por uma bombinha d’água ou um jato. Era isso o que os garotos faziam, e eram eles que me interessavam. Com sorte, o banho seria de confetes ou serpentinas, mas eu não conseguia decidir se isso era um mérito em relação a ser atingida pela água, mais incômoda, ou um descaso.
Não sei que idade tinha, mas acho que não havia atingido os dois dígitos. Minha fantasia era composta de um sarongue e um colar daqueles de flores de plástico, usados sobre a parte de baixo do biquíni. A parte de cima, naqueles tempos mais ingênuos, sequer era usada na praia. Sarongue, colar e flores para a cabeça, saí toda primaveril para a rua, disposta a brincar de temer ser molhada.
Foi quando notei a presença dos meus seios. Não me refiro aos reais, que nem sugeridos estavam naquela ocasião, mas, sim, àqueles que um dia apareceriam. Foi naquele dia em que pela primeira vez me senti nua. O fim da infância chegou, sem anunciar-se, em pleno Carnaval.
Meia quadra depois, corri para casa de volta, completei a fantasia com o resto do biquíni, mas já era tarde: mesmo oculto, meu corpo de criança já tinha o que mostrar. A nudez é um sentimento que pode atingir a pessoa mesmo quando não há nada para ser visto, assim como pode estar ausente quando tudo está explícito. O que me expôs a um olhar cuja existência eu ignorava até aquele Carnaval foi o desejo que senti de ser alvo das brincadeiras dos meninos.
O Carnaval está aí para que a sensualidade possa se exibida, enfeitada, fantasiada, desnudada ou travestida, numa festa civilizada. A exposição dos corpos de passistas e destaques carnavalescos é, no fim das contas, tão educada quanto uma praia de nudismo, onde se pode andar sem roupas sem ser incomodado.
Já o desejo que a nudez revela é diferente do direito de andar pelado e rebolar em público, ele se alimenta daquilo que quando visto produz algum efeito, algum rubor, algum frisson nos envolvidos. Pode e costuma ser controlado, mas move montanhas. No começo da vida de todos há esse divisor de águas: aquele momento do surgimento da nudez, no qual o corpo se torna desejável. A partir daí a intimidade é necessária e a porta do banheiro se fecha para os olhos da família.
O momento carnavalesco dessa história de infância foi dado pela oportunidade de parecer uma havaiana. A diversão estava garantida se tivesse continuado o passeio sem ficar envergonhada, mas fui atropelada por um desejo que ainda desconhecia e toda nudez tem algo a ver com ele: a ideia de que o que pode ser visto denunciará as mais recônditas fantasias do portador. Essas fantasias não desfilam, elas costumam sair na calada do sexo, na intimidade dos casais. Os pelados da avenida são lindos, exuberantes, vistosos e sejam bem-vindos. Mas nudez, meus amigos, essa é outra coisa e, por sorte, não ocorre somente no Carnaval.
sexta-feira, março 07, 2014
Os gringos estão chegando! - BARBARA GANCIA
FOLHA DE SP - 07/03
E eles vêm animadíssimos para ficar na casa do amigo, da ex-namorada... Ninguém quer perder a Copa no Brasil
Sem querer desanimar meu leitor habitual --se é que ele existe--, mas já desanimando, começo a me dar conta de que sou eu a Velhinha de Taubaté, Eremildo, o Idiota e sabe lá quantas outras virgens iludidas que vegetam por aí como zumbis. Apenas existindo, consumindo oxigênio, sem conseguir diferenciar o que é peito do que é a carne escura na hora de destrinchar o frango assado.
Andava reconfortada pelo fato de que, sendo caro demais o pernoite nos hotéis tapuias durante a Copa, a gringolândia não iria se aventurar a tomar um avião para vir ser assaltada do outro lado do mundo.
Fui perceber o quanto estava enganada durante o Carnaval, passado em Nova York, no qual me entretive desfilando no bloco das ofertas da Bloomingdale's, quero dizer, na ala das baianas do MoMA, do Guggenheim e do Lincoln Center.
Fiquei sabendo pelo motorista do táxi, pelo garçom e até pelos ursos que hibernam no Central Park (mentira) que meio mundo pretende vir ao Brasil em junho passar uma temporada na casa do amigo que mora em Belo Horizonte, do ex-colega de faculdade que trabalha na Petrobras ou da namorada cearense. A fuzarca está armada.
Visse que animação. Mal sabem eles que tem gente por aqui fazendo até novena na esperança de que nada ocorra de mais grave... Alô, controladores de voo! Já estamos tratando de garantir que, durante a Copa, ninguém irá trabalhar pressionado, não é mesmo? Alô, nobres engenheiros responsáveis pelos cálculos das estruturas dos estádios! Falem agora ou calem-se para sempre! Ainda está em tempo de revelar ao Folhaleaks aquele errinho que anda lhe tirando o sono.
Eu sei, eu sei. Oscilo entre a passividade lobotomizada e a paranoia mirabolante. Mas melhor uma neurótica viva do que uma mula morta, é o que eu sempre digo.
Na Quarta de Cinzas fui à operadora de celular repor um chip perdido. Cheguei antes de a loja abrir e dei de cara com uma fila. Puxei papo. Foi só o que tinha tido o celular furtado na Sapucaí contar sua história que outras seguiram. O atendente da loja confirmou. "Depois de fim de ano e Carnaval sempre há filas de compra de aparelho para repor o roubado". Imagino que na Índia, Costa Rica, Malásia, Vietnã, Croácia e Ucrânia aconteça o mesmo. Não? Será? O que você acha?
Também odeio quem fala mal como se não fizesse parte desta geleia de jabiraca de país, como se vivesse suspenso em uma redoma blindada. Mas ainda estou me esforçando para atingir os níveis de otimismo do Ronaldo e do Nizan.
E a tarefa ficou mais tenebrosa ainda depois de passar pelo aeroporto André Franco Montoro, com suas esteiras de malas da época do avião à lenha e o indefectível táxi para voltar para casa a preço de cocaína pura.
Por falar em droga, o Conselho Internacional de Controle de Narcóticos divulgou estudo dizendo que o consumo de cocaína dobrou nos últimos dez anos no Brasil e que estamos entre os que mais consomem no cosmos.
Imagino que gostemos tão mais da droga do que os outros países pela facilidade em obtê-la, por sermos rota de tráfico e pelas disparidades que tornam tanto o consumo quanto o tráfico atraentes a uma camada menos favorecida e escolarizada. Mas, além destes fatores, há entre nós e ela uma atração fatal.
Veja: a cocaína é a droga do eu, nós somos um dos países em que mais se realizam cirurgias plásticas e mais se gasta, em termos proporcionais, com aparência. Por excelência, o demônio ralado é a droga da superficialidade. Bem, um de nossos mais famosos produtos de exportação é a depilação da virilha. O outro são as telenovelas e o terceiro é o Michel Teló.
E eles vêm animadíssimos para ficar na casa do amigo, da ex-namorada... Ninguém quer perder a Copa no Brasil
Sem querer desanimar meu leitor habitual --se é que ele existe--, mas já desanimando, começo a me dar conta de que sou eu a Velhinha de Taubaté, Eremildo, o Idiota e sabe lá quantas outras virgens iludidas que vegetam por aí como zumbis. Apenas existindo, consumindo oxigênio, sem conseguir diferenciar o que é peito do que é a carne escura na hora de destrinchar o frango assado.
Andava reconfortada pelo fato de que, sendo caro demais o pernoite nos hotéis tapuias durante a Copa, a gringolândia não iria se aventurar a tomar um avião para vir ser assaltada do outro lado do mundo.
Fui perceber o quanto estava enganada durante o Carnaval, passado em Nova York, no qual me entretive desfilando no bloco das ofertas da Bloomingdale's, quero dizer, na ala das baianas do MoMA, do Guggenheim e do Lincoln Center.
Fiquei sabendo pelo motorista do táxi, pelo garçom e até pelos ursos que hibernam no Central Park (mentira) que meio mundo pretende vir ao Brasil em junho passar uma temporada na casa do amigo que mora em Belo Horizonte, do ex-colega de faculdade que trabalha na Petrobras ou da namorada cearense. A fuzarca está armada.
Visse que animação. Mal sabem eles que tem gente por aqui fazendo até novena na esperança de que nada ocorra de mais grave... Alô, controladores de voo! Já estamos tratando de garantir que, durante a Copa, ninguém irá trabalhar pressionado, não é mesmo? Alô, nobres engenheiros responsáveis pelos cálculos das estruturas dos estádios! Falem agora ou calem-se para sempre! Ainda está em tempo de revelar ao Folhaleaks aquele errinho que anda lhe tirando o sono.
Eu sei, eu sei. Oscilo entre a passividade lobotomizada e a paranoia mirabolante. Mas melhor uma neurótica viva do que uma mula morta, é o que eu sempre digo.
Na Quarta de Cinzas fui à operadora de celular repor um chip perdido. Cheguei antes de a loja abrir e dei de cara com uma fila. Puxei papo. Foi só o que tinha tido o celular furtado na Sapucaí contar sua história que outras seguiram. O atendente da loja confirmou. "Depois de fim de ano e Carnaval sempre há filas de compra de aparelho para repor o roubado". Imagino que na Índia, Costa Rica, Malásia, Vietnã, Croácia e Ucrânia aconteça o mesmo. Não? Será? O que você acha?
Também odeio quem fala mal como se não fizesse parte desta geleia de jabiraca de país, como se vivesse suspenso em uma redoma blindada. Mas ainda estou me esforçando para atingir os níveis de otimismo do Ronaldo e do Nizan.
E a tarefa ficou mais tenebrosa ainda depois de passar pelo aeroporto André Franco Montoro, com suas esteiras de malas da época do avião à lenha e o indefectível táxi para voltar para casa a preço de cocaína pura.
Por falar em droga, o Conselho Internacional de Controle de Narcóticos divulgou estudo dizendo que o consumo de cocaína dobrou nos últimos dez anos no Brasil e que estamos entre os que mais consomem no cosmos.
Imagino que gostemos tão mais da droga do que os outros países pela facilidade em obtê-la, por sermos rota de tráfico e pelas disparidades que tornam tanto o consumo quanto o tráfico atraentes a uma camada menos favorecida e escolarizada. Mas, além destes fatores, há entre nós e ela uma atração fatal.
Veja: a cocaína é a droga do eu, nós somos um dos países em que mais se realizam cirurgias plásticas e mais se gasta, em termos proporcionais, com aparência. Por excelência, o demônio ralado é a droga da superficialidade. Bem, um de nossos mais famosos produtos de exportação é a depilação da virilha. O outro são as telenovelas e o terceiro é o Michel Teló.
Arsenal - FERNANDA TORRES
FOLHA DE SP - 07/03
Essa mistura de drogas tem um significado diferente da rebeldia contra o status quo na revolução de costumes
A venda de Rivotril e Lexotan no Brasil aumentou 42% nos últimos cinco anos.
Aplacar a angústia com psicoativos virou rotina corriqueira. Crianças são medicadas na idade escolar e até o luto já tem definição clínica, podendo ser suplantado com duas ou três pílulas ao dia.
O avanço da neurologia é recente. Na minha adolescência, a psicanálise era vista como a solução definitiva para o tratamento das neuroses. Hoje, o confessionário de Freud se transformou em uma terapia alternativa, quase obsoleta, no controle dos impulsos incontroláveis do ser humano.
A impressão, nesses 35 anos que me separam da juventude, é que, para o bem e para o mal, servimos todos de cobaia. A pesquisa propiciou lucros estratosféricos para a indústria farmacêutica e fez avançar a ciência, mas, aos ratos, sempre restam as sequelas.
Um dos efeitos colaterais dos novos tempos pode ser sentido na geração que adentra os 20 anos, filhos de gente como eu. Os medos, as insatisfações, entusiasmos, amores, raivas e hormônios que antes encontravam vazão no sexo, nas drogas e no rock and roll, ainda se utilizam dos mesmos instrumentos para conhecer e contestar o mundo.
Mas, além do Nirvana, dos Mutantes, da camisinha, da bebida, da maconha e do pó, bolas com carimbo de fábrica, facilmente adquiridas nas melhores farmácias do ramo, vieram se juntar ao arsenal.
Tenho ouvido casos e casos de jovens clinicamente interditados depois de sofrer o que se convencionou chamar de surto psicótico. Ao contrário da passageira, quando não fatal, overdose, comum nas minhas priscas eras, ou do démodé coma alcoólico da turma do funil, o apagão do momento lembra as bad trips do LSD, capazes de provocar curtos-circuitos cerebrais de efeito duradouro.
O surto psicótico, até onde pude entender, é deflagrado pelo abuso de excitantes e relaxantes variados: do "speedball" ao benzodiazepínico, do álcool ao THC, do MDMA ao special K. O coquetel provoca crises de ansiedade tão violentas que a internação clínica, antes bissexta, tornou-se comum.
O laudo de morte de Philip Seymour Hoffman indica a presença de heroína, cocaína, anfetaminas e benzodiazepínicos, além de outras substâncias não identificadas no sangue do ator.
Essa mistura de drogas lícitas e ilícitas, de tráfico e medicina, de cura e doença tem um significado diferente da rebeldia contra o status quo presente na aurora da revolução de costumes, e também do hedonismo niilista do pós-punk.
Cacá Diegues observa que as drogas já serviram para escapar, e até desafiar uma sociedade repressora e moralista; mas hoje, ao contrário, elas existem para ajustar o ser humano à pressão social.
Muitos amigos que antes entendiam a legalização das drogas como uma questão de livre-arbítrio, do direito de fazer o que bem quisessem do próprio organismo, agora, diante dos filhos grandes, alguns presos na ciranda de calmantes, antidepressivos e aditivos proibidos, ou não, por lei, suspeitam do poder da força de vontade das crias e defendem a circulação restrita de certos químicos.
No Brasil, a falta de um sistema eficiente de saúde faz com que o farmacêutico, muitas vezes, funcione como médico. É da cultura. A duras penas, o comércio de antibióticos sem prescrição foi coagido, mas a automedicação ainda é um costume da terra.
O elixir paregórico, tido desde os tempos da vovó menina como uma santa mesinha para bebês com cólica, contém láudano. O láudano é uma tintura de ópio largamente usada por dependentes que tentam, por si mesmos, driblar a síndrome de abstinência. Três vidros reduzidos garantem uma boa dose do mesmo vício.
No Rio de Janeiro, é comum encontrar três, quatro farmácias em um só quarteirão. Não raro, dá-se com um balconista compreensivo que vende o remedinho do neném sem receita, o comprimidinho para dormir e o Viagra do tiozinho. A demanda é grande, e a fiscalização, pequena.
Discute-se a falência da criminalização das drogas, o Uruguai já permite o porte e o plantio da Cannabis, mas a nova onda se abastece, em parte, no balcão das drogarias. Legalizar ou não, apesar de relevante, não é a questão principal.
O problema não é o crime, mas a dependência, que cresceu 42% em meia década.
Essa mistura de drogas tem um significado diferente da rebeldia contra o status quo na revolução de costumes
A venda de Rivotril e Lexotan no Brasil aumentou 42% nos últimos cinco anos.
Aplacar a angústia com psicoativos virou rotina corriqueira. Crianças são medicadas na idade escolar e até o luto já tem definição clínica, podendo ser suplantado com duas ou três pílulas ao dia.
O avanço da neurologia é recente. Na minha adolescência, a psicanálise era vista como a solução definitiva para o tratamento das neuroses. Hoje, o confessionário de Freud se transformou em uma terapia alternativa, quase obsoleta, no controle dos impulsos incontroláveis do ser humano.
A impressão, nesses 35 anos que me separam da juventude, é que, para o bem e para o mal, servimos todos de cobaia. A pesquisa propiciou lucros estratosféricos para a indústria farmacêutica e fez avançar a ciência, mas, aos ratos, sempre restam as sequelas.
Um dos efeitos colaterais dos novos tempos pode ser sentido na geração que adentra os 20 anos, filhos de gente como eu. Os medos, as insatisfações, entusiasmos, amores, raivas e hormônios que antes encontravam vazão no sexo, nas drogas e no rock and roll, ainda se utilizam dos mesmos instrumentos para conhecer e contestar o mundo.
Mas, além do Nirvana, dos Mutantes, da camisinha, da bebida, da maconha e do pó, bolas com carimbo de fábrica, facilmente adquiridas nas melhores farmácias do ramo, vieram se juntar ao arsenal.
Tenho ouvido casos e casos de jovens clinicamente interditados depois de sofrer o que se convencionou chamar de surto psicótico. Ao contrário da passageira, quando não fatal, overdose, comum nas minhas priscas eras, ou do démodé coma alcoólico da turma do funil, o apagão do momento lembra as bad trips do LSD, capazes de provocar curtos-circuitos cerebrais de efeito duradouro.
O surto psicótico, até onde pude entender, é deflagrado pelo abuso de excitantes e relaxantes variados: do "speedball" ao benzodiazepínico, do álcool ao THC, do MDMA ao special K. O coquetel provoca crises de ansiedade tão violentas que a internação clínica, antes bissexta, tornou-se comum.
O laudo de morte de Philip Seymour Hoffman indica a presença de heroína, cocaína, anfetaminas e benzodiazepínicos, além de outras substâncias não identificadas no sangue do ator.
Essa mistura de drogas lícitas e ilícitas, de tráfico e medicina, de cura e doença tem um significado diferente da rebeldia contra o status quo presente na aurora da revolução de costumes, e também do hedonismo niilista do pós-punk.
Cacá Diegues observa que as drogas já serviram para escapar, e até desafiar uma sociedade repressora e moralista; mas hoje, ao contrário, elas existem para ajustar o ser humano à pressão social.
Muitos amigos que antes entendiam a legalização das drogas como uma questão de livre-arbítrio, do direito de fazer o que bem quisessem do próprio organismo, agora, diante dos filhos grandes, alguns presos na ciranda de calmantes, antidepressivos e aditivos proibidos, ou não, por lei, suspeitam do poder da força de vontade das crias e defendem a circulação restrita de certos químicos.
No Brasil, a falta de um sistema eficiente de saúde faz com que o farmacêutico, muitas vezes, funcione como médico. É da cultura. A duras penas, o comércio de antibióticos sem prescrição foi coagido, mas a automedicação ainda é um costume da terra.
O elixir paregórico, tido desde os tempos da vovó menina como uma santa mesinha para bebês com cólica, contém láudano. O láudano é uma tintura de ópio largamente usada por dependentes que tentam, por si mesmos, driblar a síndrome de abstinência. Três vidros reduzidos garantem uma boa dose do mesmo vício.
No Rio de Janeiro, é comum encontrar três, quatro farmácias em um só quarteirão. Não raro, dá-se com um balconista compreensivo que vende o remedinho do neném sem receita, o comprimidinho para dormir e o Viagra do tiozinho. A demanda é grande, e a fiscalização, pequena.
Discute-se a falência da criminalização das drogas, o Uruguai já permite o porte e o plantio da Cannabis, mas a nova onda se abastece, em parte, no balcão das drogarias. Legalizar ou não, apesar de relevante, não é a questão principal.
O problema não é o crime, mas a dependência, que cresceu 42% em meia década.
Oscar, carnaval e muitos parênteses - IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO
O Estado de S.Paulo - 07/03
Custei, mas quando reconheci fiquei estarrecido. Deprimido, quase chorei. Quando Ellen DeGeneres, apresentadora insossa (mas adorada pelos americanos) anunciou Kim Novak chegando, me aprumei na poltrona. Kim foi o mito de minha geração. Uma beleza fria, ainda que estonteante (palavra antiga). "Construída" pelo produtor Harry Cohn, da Columbia (um dos grandes canalhas de Hollywood), para substituir outra deusa, Rita Hayworth. Babamos diante de Kim em filmes como Um Corpo que Cai, Meus Dois Carinhos, O Homem do Braço de Ouro.
Porém, para minha geração, o máximo foi Férias de Amor (nos referíamos ao filme pelo título original, Picnic), de Joshua Logan, baseado em William Inge, um drama em que o quarentão William Holden, para fazer o papel de garotão sarado, teve que se depilar inteirinho para aparecer sem camisa (da mesma maneira que Humberto Martins atua nas novelas da Globo). Quem esquece a cena de dança entre Holden e Kim ao som de Moonglow?
Maldito seja, para sempre, o Oscar 2014. Maldito por ter feito o que fizeram com Kim Novak, destruindo o sonho e os desejos de milhões. Aquela mulher deformada, monstrengo que nem conseguia falar uma frase, botox puro, cabelos desarrumados, boca paralisada, ar vago e bestificado não era (não é) Kim Novak. Cancelem tudo. Tragam de volta a verdadeira Kim. Por que a pessoa ao deixar a sala de um cirurgião plástico não processa o profissional, assassino de sua imagem? Por que a associação dos plásticos não cancela o registro do homem? Depõe contra eles. Aquela walking dead que apareceu trôpega, fantasmagórica, não é a minha, a sua, a nossa Kim, a diva. Pegaram alguém nas imediações do Dolby Theatre e colocaram no palco, a balbuciar.
Bastou para que eu, após 50 anos de fidelidade, abandonasse o Oscar. Não mais ligarei a tevê nessas noites em que a festinha familiar hollywoodiana junta seus trapinhos. Pois não é que tiraram até fotografias com celulares, iPad, seja lá o que for? E as pizzas, meu Deus? Falar nisso, cadê o Jack Nicholson, de óculos escuros e sorriso cínico? Ele ficava na primeira fila, gozando tudo e todos, espécie de grilo falante daquela cerimônia que, à medida que a tecnologia se desenvolveu, piorou.
No momento em que deram o Oscar ao Matthew McConaughey, desliguei a televisão. Esquecer Bruce Dern, veterano e ótimo ator, por este mocinho perfeito em filmes como Velozes e Furiosos (sei ele não fez este filme, mas é talhado para o gênero) foi demais. Faço uma aposta. Quantos conseguem pronunciar o nome McConaughey corretamente?
As premiações. Oscars demais para Gravidade que não é lá essas coisas. Nenhum Oscar a O Lobo de Wall Street. Oscar justíssimo para A Grande Beleza. Oscars de menos para 12 Anos de Escravidão. Correto o Oscar para Cate Bianchett, melhor atriz. Sandra Bullock deveria ter ganho um Oscar pela cara de decepção que fez quando ouviu o nome da Cate. Pior do que a dela, somente a amargura expressa por Robert Downey, décadas atrás, quando não levou o Oscar por Chaplin. Jared Leto (onde arranjaram este nome?) foi ótimo, ganhou o público, elogiando a mãe, confessando que é filho sem pai. Ele está melhor do que o Mathew não sei o quê em Clube de Compras Dallas. Aplaudi quando in memoriam citou Eduardo Coutinho. O Oscar quase se redimiu ali.
Mudando o registro. Não assisto mais, como antigamente, o desfile das escolas de samba. Uma das razões é que, como jornalista, me penaliza os profissionais designados para os bastidores. Os que, microfone em mão, tentam buscar notícias antes e depois da passagem da escola pela avenida (assim se dizia, avenida). Na concentração e na dispersão. Os coitados (ou coitadas) se esgoelam para fazer uma pergunta junto ao ouvido do puxador de samba, da rainha da bateria (e tome Sabrina Sato em tudo que é jornal, tevê, camarote, frisa, pista) ou dos mestres disto e daquilo, em meio ao rimbombar de surdos e caixas de repiques e cuícas. Um não ouve a pergunta, outro não ouve a resposta (nós, telespectadores, também nada ouvimos, pouco importa, mudamos de canal à espera da nova escola) e fica por isso. Como não vi tudo, não sei. Mas onde esteve a Lecy Brandão, que desvenda as árvores genealógicas inteiras do who's who do samba? Quase uma semana depois, neste tempo de rapidez, internet, rede social, Twitter e What's Up, esta crônica pode parecer anacrônica. É que eu não tinha dado opinião para a turma de minha idade. E nunca ninguém me viu escrever com tantos parênteses, o que faria o horror de meu "amado mestre" (obrigado, Rogério Cardoso) de português Jurandyr Gonçalves Ferreira.
Custei, mas quando reconheci fiquei estarrecido. Deprimido, quase chorei. Quando Ellen DeGeneres, apresentadora insossa (mas adorada pelos americanos) anunciou Kim Novak chegando, me aprumei na poltrona. Kim foi o mito de minha geração. Uma beleza fria, ainda que estonteante (palavra antiga). "Construída" pelo produtor Harry Cohn, da Columbia (um dos grandes canalhas de Hollywood), para substituir outra deusa, Rita Hayworth. Babamos diante de Kim em filmes como Um Corpo que Cai, Meus Dois Carinhos, O Homem do Braço de Ouro.
Porém, para minha geração, o máximo foi Férias de Amor (nos referíamos ao filme pelo título original, Picnic), de Joshua Logan, baseado em William Inge, um drama em que o quarentão William Holden, para fazer o papel de garotão sarado, teve que se depilar inteirinho para aparecer sem camisa (da mesma maneira que Humberto Martins atua nas novelas da Globo). Quem esquece a cena de dança entre Holden e Kim ao som de Moonglow?
Maldito seja, para sempre, o Oscar 2014. Maldito por ter feito o que fizeram com Kim Novak, destruindo o sonho e os desejos de milhões. Aquela mulher deformada, monstrengo que nem conseguia falar uma frase, botox puro, cabelos desarrumados, boca paralisada, ar vago e bestificado não era (não é) Kim Novak. Cancelem tudo. Tragam de volta a verdadeira Kim. Por que a pessoa ao deixar a sala de um cirurgião plástico não processa o profissional, assassino de sua imagem? Por que a associação dos plásticos não cancela o registro do homem? Depõe contra eles. Aquela walking dead que apareceu trôpega, fantasmagórica, não é a minha, a sua, a nossa Kim, a diva. Pegaram alguém nas imediações do Dolby Theatre e colocaram no palco, a balbuciar.
Bastou para que eu, após 50 anos de fidelidade, abandonasse o Oscar. Não mais ligarei a tevê nessas noites em que a festinha familiar hollywoodiana junta seus trapinhos. Pois não é que tiraram até fotografias com celulares, iPad, seja lá o que for? E as pizzas, meu Deus? Falar nisso, cadê o Jack Nicholson, de óculos escuros e sorriso cínico? Ele ficava na primeira fila, gozando tudo e todos, espécie de grilo falante daquela cerimônia que, à medida que a tecnologia se desenvolveu, piorou.
No momento em que deram o Oscar ao Matthew McConaughey, desliguei a televisão. Esquecer Bruce Dern, veterano e ótimo ator, por este mocinho perfeito em filmes como Velozes e Furiosos (sei ele não fez este filme, mas é talhado para o gênero) foi demais. Faço uma aposta. Quantos conseguem pronunciar o nome McConaughey corretamente?
As premiações. Oscars demais para Gravidade que não é lá essas coisas. Nenhum Oscar a O Lobo de Wall Street. Oscar justíssimo para A Grande Beleza. Oscars de menos para 12 Anos de Escravidão. Correto o Oscar para Cate Bianchett, melhor atriz. Sandra Bullock deveria ter ganho um Oscar pela cara de decepção que fez quando ouviu o nome da Cate. Pior do que a dela, somente a amargura expressa por Robert Downey, décadas atrás, quando não levou o Oscar por Chaplin. Jared Leto (onde arranjaram este nome?) foi ótimo, ganhou o público, elogiando a mãe, confessando que é filho sem pai. Ele está melhor do que o Mathew não sei o quê em Clube de Compras Dallas. Aplaudi quando in memoriam citou Eduardo Coutinho. O Oscar quase se redimiu ali.
Mudando o registro. Não assisto mais, como antigamente, o desfile das escolas de samba. Uma das razões é que, como jornalista, me penaliza os profissionais designados para os bastidores. Os que, microfone em mão, tentam buscar notícias antes e depois da passagem da escola pela avenida (assim se dizia, avenida). Na concentração e na dispersão. Os coitados (ou coitadas) se esgoelam para fazer uma pergunta junto ao ouvido do puxador de samba, da rainha da bateria (e tome Sabrina Sato em tudo que é jornal, tevê, camarote, frisa, pista) ou dos mestres disto e daquilo, em meio ao rimbombar de surdos e caixas de repiques e cuícas. Um não ouve a pergunta, outro não ouve a resposta (nós, telespectadores, também nada ouvimos, pouco importa, mudamos de canal à espera da nova escola) e fica por isso. Como não vi tudo, não sei. Mas onde esteve a Lecy Brandão, que desvenda as árvores genealógicas inteiras do who's who do samba? Quase uma semana depois, neste tempo de rapidez, internet, rede social, Twitter e What's Up, esta crônica pode parecer anacrônica. É que eu não tinha dado opinião para a turma de minha idade. E nunca ninguém me viu escrever com tantos parênteses, o que faria o horror de meu "amado mestre" (obrigado, Rogério Cardoso) de português Jurandyr Gonçalves Ferreira.
Ueba! O Galvão ficou cegueta! - JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 07/03
O Putin tem cara de Guerra Fria! E tá proibido fazer trocadilho com o Putin. Só com o filho do Putin
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Piada Pronta: Unidos da Tijuca tirou primeiro lugar porque homenageou o Senna. Se tivesse homenageado o Rubinho, teria ficado em segundo! Ou teria quebrado na largada! Estouraria o pneu do alegórico! Rarará!
E se tivesse homenageado o Massa, um dos carros alegóricos ia bater, com certeza! Engavetamento de alegóricos! E todo ano, no Rio, sai o bloco Me Beija que Eu Sou Cineasta. E em São Paulo, depois das manifestações, saiu pela primeira vez: Me Bate que Eu Sou Jornalista. Rarará!
E o site Futirinhas fez uma apuração de notas do futebol. "Quesito Apanhando da Torcida, Sport Club Corinthians, nota deeeezzzz". "Quesito Virada de Mesa, Fluminense Football Club, nota deeeezzzz". "Quesito Ajuda da Arbitragem, Clube de Regatas Flamengo, nota deeeeezzzz". "Quesito Falta D'água, Clube de Regatas Vasco da Gama, nota miiiil". Rarará!
E o amistoso Brasil x África do Sul! O Galvão ficou cego. Tá cegueta. Mr. Magoo! Não viu, nem narrou e nem gritou o primeiro gol do Brasil! Ele fala tanto, quer mostrar tanta informação que não vê mais nada! Ele passa o jogo inteiro gritando: "Olha o gol, olha o gol, olha o gol", que na hora de olhar ele não olhou! Rarará!
E a Ucrânia? Como disse uma amiga: "por favor, alguém me explica o que está acontecendo na Ucrânia?". Silêncio geral. Rarará! Traumatismo ucraniano! A Ucrânia é um país tão louco que, nas eleições de 2004, ambos os candidatos se chamavam Viktor! E ambos se consideraram VIKTORIOSOS.
E a Rússia é um país tão louco que proibiu a Parada Gay. Por cem anos! Rarará! E o Putin tem cara de vilão de filme de 007. O Putin tem cara de Guerra Fria! E tá proibido fazer trocadilho com o Putin. Só com o filho do Putin. Rarará!
E como dizia o Golias, o Bronco: "A civilização não se comportou". E como dizia o Nelson Rodrigues: "A humanidade não deu certo".
E esse repórter de programa policial em Natal: "mulher foi presa por tentar entrar na penitenciária com drogas alojadas em suas cavidades naturais". Essa é inédita: chamar as partes pudendas de cavidades naturais. Buraco agora é cavidade natural! E teve um bloco em Marituba, no Pará, só de idosos, chamado Bloco da Rola Morta! Rarará!
Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
O Putin tem cara de Guerra Fria! E tá proibido fazer trocadilho com o Putin. Só com o filho do Putin
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Piada Pronta: Unidos da Tijuca tirou primeiro lugar porque homenageou o Senna. Se tivesse homenageado o Rubinho, teria ficado em segundo! Ou teria quebrado na largada! Estouraria o pneu do alegórico! Rarará!
E se tivesse homenageado o Massa, um dos carros alegóricos ia bater, com certeza! Engavetamento de alegóricos! E todo ano, no Rio, sai o bloco Me Beija que Eu Sou Cineasta. E em São Paulo, depois das manifestações, saiu pela primeira vez: Me Bate que Eu Sou Jornalista. Rarará!
E o site Futirinhas fez uma apuração de notas do futebol. "Quesito Apanhando da Torcida, Sport Club Corinthians, nota deeeezzzz". "Quesito Virada de Mesa, Fluminense Football Club, nota deeeezzzz". "Quesito Ajuda da Arbitragem, Clube de Regatas Flamengo, nota deeeeezzzz". "Quesito Falta D'água, Clube de Regatas Vasco da Gama, nota miiiil". Rarará!
E o amistoso Brasil x África do Sul! O Galvão ficou cego. Tá cegueta. Mr. Magoo! Não viu, nem narrou e nem gritou o primeiro gol do Brasil! Ele fala tanto, quer mostrar tanta informação que não vê mais nada! Ele passa o jogo inteiro gritando: "Olha o gol, olha o gol, olha o gol", que na hora de olhar ele não olhou! Rarará!
E a Ucrânia? Como disse uma amiga: "por favor, alguém me explica o que está acontecendo na Ucrânia?". Silêncio geral. Rarará! Traumatismo ucraniano! A Ucrânia é um país tão louco que, nas eleições de 2004, ambos os candidatos se chamavam Viktor! E ambos se consideraram VIKTORIOSOS.
E a Rússia é um país tão louco que proibiu a Parada Gay. Por cem anos! Rarará! E o Putin tem cara de vilão de filme de 007. O Putin tem cara de Guerra Fria! E tá proibido fazer trocadilho com o Putin. Só com o filho do Putin. Rarará!
E como dizia o Golias, o Bronco: "A civilização não se comportou". E como dizia o Nelson Rodrigues: "A humanidade não deu certo".
E esse repórter de programa policial em Natal: "mulher foi presa por tentar entrar na penitenciária com drogas alojadas em suas cavidades naturais". Essa é inédita: chamar as partes pudendas de cavidades naturais. Buraco agora é cavidade natural! E teve um bloco em Marituba, no Pará, só de idosos, chamado Bloco da Rola Morta! Rarará!
Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
O pito de Roma - LUIZ GARCIA
O GLOBO - 07/03
Em mensagem à CNBB, a propósito da recém-iniciada Campanha da Fraternidade deste ano, o Papa faz severa condenação ao tráfico de seres humanos
O Papa Francisco — que, sendo argentino, conhece bem os problemas de países sul-americanos — acaba de nos mandar um recado tão severo quanto pertinente.
Em mensagem dirigida à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, a propósito da recém-iniciada Campanha da Fraternidade deste ano, ele faz severa — e obviamente justa — condenação ao tráfico de seres humanos. Certamente, como argentino, Francisco sabe do que está falando, e principalmente a quem está dirigindo suas palavras.
São palavras duras. Mas não surpreendem. Ele está, na verdade, aplaudindo a escolha pelo clero brasileiro do tema da campanha deste ano, que é, precisamente, esse comércio maldito. O Papa define com precisão o seu tema: “Pense-se em adoções de crianças para remoção de órgãos, em mulheres enganadas e obrigadas a prostituir-se, em trabalhadores explorados, sem direito nem voz.”
É deprimente, para os brasileiros, ouvir essas palavras sobre uma situação que todos conhecemos. Principalmente, que o governo brasileiro conhece há muito tempo. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, não desmentiu as palavras do Papa, mas se limitou a tentar dar um álibi para as autoridades brasileiras: “O tráfico de humanos é um crime subterrâneo, de difícil apuração.” A dificuldade estaria concentrada no fato de que “as pessoas não noticiam o tráfico de pessoas”.
Poderia ficar calado: o combate a qualquer atividade criminosa de larga escala pode ser ajudado pela iniciativa de cidadãos corajosos, mas não depende apenas disso. A investigação de um crime que ocorre em larga escala deve ser feita, como ocorre em muitos países, a partir do trabalho das autoridades públicas. Quando esse trabalho existe — igualmente em larga escala — e é eficiente, a opinião pública não só aplaude como ajuda.
Enfim, as autoridades brasileiras estão diante de um apelo sério e importante do Papa. A resposta obviamente não pode ser limitada às lamentações do ministro da Justiça sobre a escassa colaboração da opinião pública. Em geral, quando as autoridades mostram empenho e eficiência no seu trabalho, os cidadãos tendem a colaborar. O que parece estar faltando no Brasil é um exemplo de empenho e eficiência do poder público. Algo que mereça um sincero aplauso de Roma.
Em mensagem à CNBB, a propósito da recém-iniciada Campanha da Fraternidade deste ano, o Papa faz severa condenação ao tráfico de seres humanos
O Papa Francisco — que, sendo argentino, conhece bem os problemas de países sul-americanos — acaba de nos mandar um recado tão severo quanto pertinente.
Em mensagem dirigida à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, a propósito da recém-iniciada Campanha da Fraternidade deste ano, ele faz severa — e obviamente justa — condenação ao tráfico de seres humanos. Certamente, como argentino, Francisco sabe do que está falando, e principalmente a quem está dirigindo suas palavras.
São palavras duras. Mas não surpreendem. Ele está, na verdade, aplaudindo a escolha pelo clero brasileiro do tema da campanha deste ano, que é, precisamente, esse comércio maldito. O Papa define com precisão o seu tema: “Pense-se em adoções de crianças para remoção de órgãos, em mulheres enganadas e obrigadas a prostituir-se, em trabalhadores explorados, sem direito nem voz.”
É deprimente, para os brasileiros, ouvir essas palavras sobre uma situação que todos conhecemos. Principalmente, que o governo brasileiro conhece há muito tempo. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, não desmentiu as palavras do Papa, mas se limitou a tentar dar um álibi para as autoridades brasileiras: “O tráfico de humanos é um crime subterrâneo, de difícil apuração.” A dificuldade estaria concentrada no fato de que “as pessoas não noticiam o tráfico de pessoas”.
Poderia ficar calado: o combate a qualquer atividade criminosa de larga escala pode ser ajudado pela iniciativa de cidadãos corajosos, mas não depende apenas disso. A investigação de um crime que ocorre em larga escala deve ser feita, como ocorre em muitos países, a partir do trabalho das autoridades públicas. Quando esse trabalho existe — igualmente em larga escala — e é eficiente, a opinião pública não só aplaude como ajuda.
Enfim, as autoridades brasileiras estão diante de um apelo sério e importante do Papa. A resposta obviamente não pode ser limitada às lamentações do ministro da Justiça sobre a escassa colaboração da opinião pública. Em geral, quando as autoridades mostram empenho e eficiência no seu trabalho, os cidadãos tendem a colaborar. O que parece estar faltando no Brasil é um exemplo de empenho e eficiência do poder público. Algo que mereça um sincero aplauso de Roma.
TERAPIA DE ESPELHO - MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 07/03
ESPELHO 2
Como Dilma, a presidente chilena enfrentará desafios como uma forte demanda por mais qualidade dos serviços públicos depois de um período de crescimento e melhoria de vida da população. Terá que aumentar impostos numa fase de instabilidade econômica no mundo.
GIRO
Dilma deve também agendar viagem ao México nos próximos meses.
TEMPO AO TEMPO
E a presidente ainda não decidiu se autoriza a vinda de mais cerca de 3.000 médicos cubanos para o Brasil, além dos já anunciados. Quer mais detalhes da situação dos doutores já instalados em cidades brasileiras.
ENTRE PÁGINAS...
Jean Wyllys (PSOL-RJ) vai lançar um livro com textos com reflexões políticas e sociais. "Tempo Bom, Tempo Ruim" sai em abril pela editora Paralela, braço da Companhia das Letras. "Escrevo sobre meus pensamentos, as questões com as quais trabalho", diz o deputado federal.
...E CENAS
E Wyllys estreia em outubro no Canal Brasil um programa apresentado e roteirizado por ele. Com o título provisório de "Cinema em Outras Cores", a atração vai exibir filmes com temática LGBT feitos por diretores envolvidos na causa. "Vou conciliar as gravações com o lançamento do livro e a campanha de reeleição", conta.
AMIGO VELHO
Tony Bellotto, o escritor, vem aí com o seu detetive Remo Bellini em dose dupla. Além de uma "grafhic novel" ("Bellini e o Corvo"), ele pretende lançar mais um romance da série. "Isso se o novo disco do Titãs deixar", diz. Bellotto afirma que fazer a sinopse para o trabalho gráfico o fez retomar o prazer de mergulhar no personagem com o qual se lançou na literatura. "Foi como reencontrar um velho amigo."
É TUDO VERDADE
O documentário "Rio Sete", de Ana Paula Guimarães, tem pré-estreia hoje, às 20h, na Cinemateca, em SP. Rodado em Santa Catarina, o trabalho mostra as impressões de moradores de uma colônia alemã sobre a vida no campo. O filme faz parte da série "Majestades Anônimas", em que a diretora aborda histórias desconhecidas do grande público.
SAI DE MIM
No ar como uma ex-viciada em "A Teia" (Globo), a atriz Juliana Schalch, 28, não leva a carga da personagem para casa: "Aprendi a separar as coisas"
CARNAVAL SEM "LEPO LEPO"
Rico Mansur e Ana Paula Junqueira foram à apresentação do DJ Jack-E no Café de La Musique, no Itaim, na terça-feira de Carnaval. O empresário e DJ Paulo Velloso, que também tocou na festa, foi acompanhado da top Caroline Bittencourt, com quem reatou namoro recentemente. Os atores Danton Mello e Miguel Rômulo também participaram do evento.
CURTO-CIRCUITO
Alexandra Richter estreia a comédia "Minimanual de Qualidade de Vida", hoje, às 21h30, no Teatro Jaraguá, na Bela Vista. 12 anos.
A banda Bixiga 70 faz show hoje e amanhã no Sesc Santo Amaro. 10 anos.
Alunos do Colégio I. L. Peretz, da Vila Mariana, iniciaram a 13ª edição do projeto de inclusão digital para jovens de Heliópolis.
A peça "Bola de Ouro" encerra temporada no Teatro Faap, hoje, às 21h. 12 anos.
O rojão que aumenta as chances de 1º turno - MARIA CRISTINA FERNANDES
Valor Econômico - 07/03
Desde que inventaram eleição em dois turnos no Brasil dela só escapou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, tanto em 1994 quanto em 1998. Em nenhuma das três eleições posteriores o PT foi capaz de chegar à maioria absoluta dos votos para liquidar a fatura de uma só vez.
Num momento em que pemedebistas e petistas deixados ao relento, além de empresários e banqueiros queixosos, só se ocupam do "volta Lula", a aposta de que a reeleição da presidente Dilma Rousseff pode repetir a façanha de FHC parece uma alucinação.
A aposta tem nome e endereço e está a léguas, em distância e propósito, do quartel-general da campanha presidencial. Chama-se Alexandre Marinis, foi analista do banco Garantia e hoje tem uma consultoria que se dedica a esquadrinhar a política em números para seus clientes.
Todos se surpreendem até serem apresentados ao caminho percorrido pelo economista da Mosaico até as previsões que, só à primeira vista, parecem uma ressaca mal curada de carnaval. O ponto de partida são as manifestações de junho do ano passado. Duas pesquisas Datafolha feitas antes e depois de as ruas se encherem mostram que o percentual de eleitores dispostos a dar um voto em branco ou anulá-lo havia mais do que duplicado.
Até o início de junho o patamar se mantinha no limite padrão de 7%. A partir das manifestações, esse percentual cresceria a ponto de chegar a 18% na última rodada de fevereiro.
Se um maior número de eleitores se diz disposto a anular sua opção para presidente ou votar em branco, diminui a cesta de votos válidos a partir da qual se conta a maioria necessária para que se liquide a fatura no primeiro turno. A remissão às duas eleições de FHC é obrigatória. De cada dez eleitores que compareceram para votar em 1994 e 1998, oito validaram seus votos. O ex-presidente elegeu-se com metade desses votos.
Na era petista o sarrafo aumentou. Caiu o percentual de nulos, muito provavelmente por causa da universalização da urna eletrônica. Os votos nulos sempre foram maiores em cidades com maior número de analfabetos. A urna eletrônica facilitou o voto dessas pessoas.
Com isso, de cada dez eleitores que compareceram aos locais de votação nas três últimas disputas presidenciais nove validaram seus votos. Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma precisavam fazer uma metade mais robusta de votos que a de FHC. Falharam e acabaram enfrentando um segundo turno.
A julgar por todas as pesquisas desde as manifestações, o patamar de nulos estará mais próximo daquele observado nas eleições de FHC do que na dos petistas, o que embasa as convicções de Marinis sobre as chances de um único turno em outubro.
Além das evidências aritméticas, as pesquisas revelam que o alheamento prejudica a oposição porque tira do mercado os eleitores mais oposicionistas do pedaço. É duas vezes mais fácil encontrar um eleitor que aprova governo Dilma entre aqueles que pretendem escolher o senador Aécio Neves ou o governador Eduardo Campos do que entre aqueles que pretendem votar em branco ou nulo.
A entrada da ex-senadora Marina Silva como vice de Campos ou mesmo como candidata melhora as chances do PSB, mas não reduz o alheamento eleitoral. Tanto Campos quanto Aécio devem torcer por candidaturas que ajudem a captar esse voto nulo. Se o pré-candidato do PSOL, o senador Randolfe Rodrigues (AP), começar a ser ouvido pelos desencantados pode ajudar a oposição. O mesmo talvez não possa ser dito se o ministro Joaquim Barbosa resolver disputar e, além dos alheios, roubar os votos da oposição.
O alheamento acendeu o sinal amarelo no Tribunal Superior Eleitoral, que prepara campanha institucional sobre a importância do voto. Ao contrário de outras, de teor mais educativo e voltada para grotões analfabetos, esta, com um apelo mais cívico, buscará o eleitor das grandes cidades. Desde as massivas demonstrações de junho, os protestos reduziram-se em escopo, mas não é só quem solta rojão que se afasta da urna. A violência gerada por ambos os lados e seu noticiário inflam a descrença na política institucional.
A despeito do empenho do governo em aprovar lei contra os rojões, as manifestações, pelo que mostram as contas de Marinis, podem acabar ajudando a reeleição. À dura tarefa de conquistar quem quer votar, soma-se aos percalços da oposição a façanha de arrebanhar os alheios.
Num momento em que pemedebistas e petistas deixados ao relento, além de empresários e banqueiros queixosos, só se ocupam do "volta Lula", a aposta de que a reeleição da presidente Dilma Rousseff pode repetir a façanha de FHC parece uma alucinação.
A aposta tem nome e endereço e está a léguas, em distância e propósito, do quartel-general da campanha presidencial. Chama-se Alexandre Marinis, foi analista do banco Garantia e hoje tem uma consultoria que se dedica a esquadrinhar a política em números para seus clientes.
Todos se surpreendem até serem apresentados ao caminho percorrido pelo economista da Mosaico até as previsões que, só à primeira vista, parecem uma ressaca mal curada de carnaval. O ponto de partida são as manifestações de junho do ano passado. Duas pesquisas Datafolha feitas antes e depois de as ruas se encherem mostram que o percentual de eleitores dispostos a dar um voto em branco ou anulá-lo havia mais do que duplicado.
Até o início de junho o patamar se mantinha no limite padrão de 7%. A partir das manifestações, esse percentual cresceria a ponto de chegar a 18% na última rodada de fevereiro.
Se um maior número de eleitores se diz disposto a anular sua opção para presidente ou votar em branco, diminui a cesta de votos válidos a partir da qual se conta a maioria necessária para que se liquide a fatura no primeiro turno. A remissão às duas eleições de FHC é obrigatória. De cada dez eleitores que compareceram para votar em 1994 e 1998, oito validaram seus votos. O ex-presidente elegeu-se com metade desses votos.
Na era petista o sarrafo aumentou. Caiu o percentual de nulos, muito provavelmente por causa da universalização da urna eletrônica. Os votos nulos sempre foram maiores em cidades com maior número de analfabetos. A urna eletrônica facilitou o voto dessas pessoas.
Com isso, de cada dez eleitores que compareceram aos locais de votação nas três últimas disputas presidenciais nove validaram seus votos. Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma precisavam fazer uma metade mais robusta de votos que a de FHC. Falharam e acabaram enfrentando um segundo turno.
A julgar por todas as pesquisas desde as manifestações, o patamar de nulos estará mais próximo daquele observado nas eleições de FHC do que na dos petistas, o que embasa as convicções de Marinis sobre as chances de um único turno em outubro.
Além das evidências aritméticas, as pesquisas revelam que o alheamento prejudica a oposição porque tira do mercado os eleitores mais oposicionistas do pedaço. É duas vezes mais fácil encontrar um eleitor que aprova governo Dilma entre aqueles que pretendem escolher o senador Aécio Neves ou o governador Eduardo Campos do que entre aqueles que pretendem votar em branco ou nulo.
A entrada da ex-senadora Marina Silva como vice de Campos ou mesmo como candidata melhora as chances do PSB, mas não reduz o alheamento eleitoral. Tanto Campos quanto Aécio devem torcer por candidaturas que ajudem a captar esse voto nulo. Se o pré-candidato do PSOL, o senador Randolfe Rodrigues (AP), começar a ser ouvido pelos desencantados pode ajudar a oposição. O mesmo talvez não possa ser dito se o ministro Joaquim Barbosa resolver disputar e, além dos alheios, roubar os votos da oposição.
O alheamento acendeu o sinal amarelo no Tribunal Superior Eleitoral, que prepara campanha institucional sobre a importância do voto. Ao contrário de outras, de teor mais educativo e voltada para grotões analfabetos, esta, com um apelo mais cívico, buscará o eleitor das grandes cidades. Desde as massivas demonstrações de junho, os protestos reduziram-se em escopo, mas não é só quem solta rojão que se afasta da urna. A violência gerada por ambos os lados e seu noticiário inflam a descrença na política institucional.
A despeito do empenho do governo em aprovar lei contra os rojões, as manifestações, pelo que mostram as contas de Marinis, podem acabar ajudando a reeleição. À dura tarefa de conquistar quem quer votar, soma-se aos percalços da oposição a façanha de arrebanhar os alheios.
Petrobras mergulhada em escândalos e suspeitas - ROBERTO FREIRE
Brasil Econômico - 07/03
Entra ano, sai ano, mais um carnaval chega ao fim, mas a folia das ruas não é capaz de fazer os brasileiros se esquecerem dos desmandos do governo de Dilma Rousseff. O escândalo da vez atinge novamente a Petrobras, alvo de denúncias de pagamento de propina em um esquema que movimentou mais de US$ 250 milhões e envolveu a empresa holandesa SBM Offshore, a maior fabricante de plataformas marítimas de exploração de petróleo do mundo. Segundo a revista "Veja", funcionários e intermediários da Petrobras teriam recebido ao menos US$ 30 milhões.
As operações seriam comandadas por um dos mais influentes lobistas do setor, que assinava os contratos de consultoria com a SBM nos quais se previa o pagamento de uma "comissão" de 3% do valor dos acordos (1% ao próprio empresário e 2% a diretores da Petrobras). A investigação aponta que uma troca de e-mails entre três diretores da empresa holandesa faz referência a uma suposta reunião com um engenheiro-chefe da Petrobras, para que se tratasse da renovação do aluguel de uma plataforma de petróleo sem licitação.
Este não é o primeiro escândalo que atinge a estatal nos governos petistas. Em 2006, a companhia comprou por nada menos que USS 360 milhões 50% de uma pequena refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, que não tinha condições de processar o petróleo extraído na costa brasileira. Um ano antes, a mesma empresa havia sido adquirida pela belga Astra Oil por USS 42,5 milhões - o que significa que houve uma valorização inexplicável de 1.500% em apenas 12 meses. Após uma disputa judicial com os belgas, a Petrobras foi derrotada e teve de pagar mais USS 839 milhões pela outra metade da refinaria americana, acumulando um prejuízo de mais de USS 1 bilhão.
Patrimônio de todos os brasileiros, a Petrobras não pode continuar sendo dilapidada, como tem acontecido desde aquela que já é reconhecida como gestão temerária do petista José Sérgio Gabrielli. É fundamental que o Congresso aprove a criação de uma comissão externa ou mesmo de uma CPI para investigar o novo escândalo. Desta vez, apesar da pressão governista para que a iniciativa não prospere, é provável que a comissão seja instalada, pois o PMDB e outros partidos da base aliada, em conflito aberto com o governo Dilma, estão muito propensos a votar favoravelmente às investigações.
Algumas pessoas se dizem preocupadas com os eventuais danos à imagem do Brasil que podem ser causados por algumas camisetas sobre a Copa do Mundo, confeccionadas por uma fornecedora alemã de material esportivo, com imagens de mulheres de biquíni. É evidente que se trata de uma hipocrisia sem tamanho, pois não é nada muito diferente daquilo que todos estamos acostumados a ver diariamente em nossas praias. Devemos nos preocupar, isso sim, é com o incalculável prejuízo que escândalos em série em nossa principal empresa certamente trazem à reputação do pais.
Propinas, compra suspeita de refinaria, perda em valor de mercado, atraso no pagamento a fornecedores, dívidas fiscais milionárias, entre outras proezas que só um governo incompetente é capaz de produzir, transformaram a Petrobras em um dos maiores símbolos de um momento sombrio de nossa história. A mais importante empresa brasileira mergulhou 8 mil metros abaixo do nível do mar em busca do pré-sal. Mas, sob comando do PT, afundou mesmo é nas profundezas da corrupção.
As operações seriam comandadas por um dos mais influentes lobistas do setor, que assinava os contratos de consultoria com a SBM nos quais se previa o pagamento de uma "comissão" de 3% do valor dos acordos (1% ao próprio empresário e 2% a diretores da Petrobras). A investigação aponta que uma troca de e-mails entre três diretores da empresa holandesa faz referência a uma suposta reunião com um engenheiro-chefe da Petrobras, para que se tratasse da renovação do aluguel de uma plataforma de petróleo sem licitação.
Este não é o primeiro escândalo que atinge a estatal nos governos petistas. Em 2006, a companhia comprou por nada menos que USS 360 milhões 50% de uma pequena refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, que não tinha condições de processar o petróleo extraído na costa brasileira. Um ano antes, a mesma empresa havia sido adquirida pela belga Astra Oil por USS 42,5 milhões - o que significa que houve uma valorização inexplicável de 1.500% em apenas 12 meses. Após uma disputa judicial com os belgas, a Petrobras foi derrotada e teve de pagar mais USS 839 milhões pela outra metade da refinaria americana, acumulando um prejuízo de mais de USS 1 bilhão.
Patrimônio de todos os brasileiros, a Petrobras não pode continuar sendo dilapidada, como tem acontecido desde aquela que já é reconhecida como gestão temerária do petista José Sérgio Gabrielli. É fundamental que o Congresso aprove a criação de uma comissão externa ou mesmo de uma CPI para investigar o novo escândalo. Desta vez, apesar da pressão governista para que a iniciativa não prospere, é provável que a comissão seja instalada, pois o PMDB e outros partidos da base aliada, em conflito aberto com o governo Dilma, estão muito propensos a votar favoravelmente às investigações.
Algumas pessoas se dizem preocupadas com os eventuais danos à imagem do Brasil que podem ser causados por algumas camisetas sobre a Copa do Mundo, confeccionadas por uma fornecedora alemã de material esportivo, com imagens de mulheres de biquíni. É evidente que se trata de uma hipocrisia sem tamanho, pois não é nada muito diferente daquilo que todos estamos acostumados a ver diariamente em nossas praias. Devemos nos preocupar, isso sim, é com o incalculável prejuízo que escândalos em série em nossa principal empresa certamente trazem à reputação do pais.
Propinas, compra suspeita de refinaria, perda em valor de mercado, atraso no pagamento a fornecedores, dívidas fiscais milionárias, entre outras proezas que só um governo incompetente é capaz de produzir, transformaram a Petrobras em um dos maiores símbolos de um momento sombrio de nossa história. A mais importante empresa brasileira mergulhou 8 mil metros abaixo do nível do mar em busca do pré-sal. Mas, sob comando do PT, afundou mesmo é nas profundezas da corrupção.
Hora de chamar o síndico Haddad - ROMEU CHAP CHAP
O Estado de S.Paulo - 07/03
Em março de 2012, neste jornal, publiquei o artigo Cidades malcuidadas, cidades mal-amadas. A ideia foi convidar o então prefeito a incentivar suas 31 subprefeituras a promoverem um verdadeiro mutirão de zeladoria. Ruas sem luz e esburacadas, com placas de sinalização sujas ou danificadas, lixo não recolhido e muitas calçadas intransitáveis são problemas que devem ser atacados por quem está ali e investido de autoridade para tomar providências, até por questões de ordem econômica.
Dedução lógica: buracos e bueiros afundados nas ruas geram trânsito lento; trânsito significa perda de tempo e tempo é dinheiro; falta de iluminação gera insegurança (favorece a criminalidade) e retém as pessoas em casa; pessoas em casa não consomem; menos consumo, menos produção, menos arrecadação. E se os acidentados em ruas e calçadas acionassem a Prefeitura? Não haveria reajuste de IPTU suficiente para dar conta de tantos processos. E, por mais que se diga que calçada é responsabilidade do cidadão, tenho para mim que passeio público deveria ser responsabilidade do poder público.
Em outubro daquele ano, Fernando Haddad foi eleito prefeito da maior cidade do Brasil, responsável por significativa parcela do Produto Interno Bruto. Esperanças renovadas. Quem sabe alguém para entender a importância da zeladoria para o Município. A expectativa foi ainda maior quando Haddad criou o Conselho da Cidade.
Esse órgão consultivo, que funcionou muito bem em algumas gestões anteriores e que defendi diretamente com o atual prefeito, teria por objetivo reunir um grupo de lideranças para auxiliá-lo na gestão dos problemas do município. O organismo foi criado, mas pecou pelo gigantismo: são 150 representantes de movimentos sociais, sindicatos (entre eles o Secovi-SP), associações, artistas, políticos, lideranças religiosas, jornalistas, etc. Boa parte, aliás, a dizer amém, dado o alinhamento ideológico com o partido que ocupa o poder.
A proposta do conselho seria acompanhar o plano de metas, discutir com o prefeito e seus auxiliares os pequenos, porém inúmeros problemas da cidade, além de analisar a revisão do Plano Diretor. Mas, num grupo tão desse tamanho, é praticamente impossível obter consenso quanto a prioridades. É bacana, democrático, republicano, mas será que funciona? Quais os resultados concretos? Menos não seria mais? É certo que, no que diz respeito ao Plano Diretor, o fórum foi oportuno para a discussão de premissas que acabaram incorporadas no projeto de lei enviado à Câmara Municipal, como a necessidade de adotar novos modelos de ocupação urbana, com adensamento inteligente e sustentável, melhorando a mobilidade e a qualidade de vida da população ao aproximar moradia e trabalho.
Mas, enquanto o Plano Diretor aponta para o que virá, o que estamos vendo é uma São Paulo cada vez mais abandonada em questões que poderiam ser tratadas por simples zeladoria.
Estarrecidos, assistimos à instalação de uma "toxicolândia" em plena região da Avenida Paulista, objeto de denúncia do jornal Estado. Pode-se dizer que isso é responsabilidade das Polícias Civil e Militar. Mas também temos a Guarda Civil Metropolitana, com a missão de proteger bens, serviços e instalações municipais, além de desenvolver programas de proteção às pessoas, atuando junto com órgãos das esferas estadual e federal voltados à segurança pública e urbana. À luz desses objetivos, não seria o caso de o prefeito se envolver na solução? E o que dizer do subprefeito da região? Estivesse ele dedicado à zeladoria, não teria impedido essa feira livre de drogas?
Posso estar sendo duro demais, até mesmo injusto nessa análise. Mas o espírito é construtivo: acorde, prefeito Haddad! Ponha seus zeladores para trabalhar. Como síndico de nossa cidade, o senhor tem muito a fazer. E conte conosco!
Em março de 2012, neste jornal, publiquei o artigo Cidades malcuidadas, cidades mal-amadas. A ideia foi convidar o então prefeito a incentivar suas 31 subprefeituras a promoverem um verdadeiro mutirão de zeladoria. Ruas sem luz e esburacadas, com placas de sinalização sujas ou danificadas, lixo não recolhido e muitas calçadas intransitáveis são problemas que devem ser atacados por quem está ali e investido de autoridade para tomar providências, até por questões de ordem econômica.
Dedução lógica: buracos e bueiros afundados nas ruas geram trânsito lento; trânsito significa perda de tempo e tempo é dinheiro; falta de iluminação gera insegurança (favorece a criminalidade) e retém as pessoas em casa; pessoas em casa não consomem; menos consumo, menos produção, menos arrecadação. E se os acidentados em ruas e calçadas acionassem a Prefeitura? Não haveria reajuste de IPTU suficiente para dar conta de tantos processos. E, por mais que se diga que calçada é responsabilidade do cidadão, tenho para mim que passeio público deveria ser responsabilidade do poder público.
Em outubro daquele ano, Fernando Haddad foi eleito prefeito da maior cidade do Brasil, responsável por significativa parcela do Produto Interno Bruto. Esperanças renovadas. Quem sabe alguém para entender a importância da zeladoria para o Município. A expectativa foi ainda maior quando Haddad criou o Conselho da Cidade.
Esse órgão consultivo, que funcionou muito bem em algumas gestões anteriores e que defendi diretamente com o atual prefeito, teria por objetivo reunir um grupo de lideranças para auxiliá-lo na gestão dos problemas do município. O organismo foi criado, mas pecou pelo gigantismo: são 150 representantes de movimentos sociais, sindicatos (entre eles o Secovi-SP), associações, artistas, políticos, lideranças religiosas, jornalistas, etc. Boa parte, aliás, a dizer amém, dado o alinhamento ideológico com o partido que ocupa o poder.
A proposta do conselho seria acompanhar o plano de metas, discutir com o prefeito e seus auxiliares os pequenos, porém inúmeros problemas da cidade, além de analisar a revisão do Plano Diretor. Mas, num grupo tão desse tamanho, é praticamente impossível obter consenso quanto a prioridades. É bacana, democrático, republicano, mas será que funciona? Quais os resultados concretos? Menos não seria mais? É certo que, no que diz respeito ao Plano Diretor, o fórum foi oportuno para a discussão de premissas que acabaram incorporadas no projeto de lei enviado à Câmara Municipal, como a necessidade de adotar novos modelos de ocupação urbana, com adensamento inteligente e sustentável, melhorando a mobilidade e a qualidade de vida da população ao aproximar moradia e trabalho.
Mas, enquanto o Plano Diretor aponta para o que virá, o que estamos vendo é uma São Paulo cada vez mais abandonada em questões que poderiam ser tratadas por simples zeladoria.
Estarrecidos, assistimos à instalação de uma "toxicolândia" em plena região da Avenida Paulista, objeto de denúncia do jornal Estado. Pode-se dizer que isso é responsabilidade das Polícias Civil e Militar. Mas também temos a Guarda Civil Metropolitana, com a missão de proteger bens, serviços e instalações municipais, além de desenvolver programas de proteção às pessoas, atuando junto com órgãos das esferas estadual e federal voltados à segurança pública e urbana. À luz desses objetivos, não seria o caso de o prefeito se envolver na solução? E o que dizer do subprefeito da região? Estivesse ele dedicado à zeladoria, não teria impedido essa feira livre de drogas?
Posso estar sendo duro demais, até mesmo injusto nessa análise. Mas o espírito é construtivo: acorde, prefeito Haddad! Ponha seus zeladores para trabalhar. Como síndico de nossa cidade, o senhor tem muito a fazer. E conte conosco!
Hora de partir para o abraço - ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 07/03
Santa burocracia
Prefeitos de todo o país estarão em Brasília dias 18 e 19 para tentar destravar projetos em parceria com o governo. A principal queixa é a burocracia para fechar convênios com repasses da União. A presidente Dilma é esperada no encontro da Associação Brasileira de Municípios. Além do apelo pela desburocratização, os prefeitos vão discutir com os ministros problemas e demandas decorrentes do programa Mais Médicos; a elaboração dos planos municipais de cultura; e os prazos para elaboração de projetos de saneamento, resíduos sólidos e logística reversa. Os municípios estão com muita dificuldade em cumprir o cronograma estabelecido.
“O Congresso não decide nada. Levamos oito anos para tomar uma decisão tão óbvia”
Ricardo Ferraço
Senador (PMDB-ES), sobre projeto que dormia há quase uma década no Senado permitindo a incineração imediata de drogas apreendidas pela polícia
De olho em 2015
Beto Vasconcelos, que foi secretário executivo da Casa Civil, negocia a volta ao governo, agora como chefe de gabinete da presidente Dilma. Em eventual reeleição, a expectativa é que ele assuma a Advocacia Geral da União.
Vai dar samba?
Filiado ao PSDB, o carnavalesco Paulo Barros pode concorrer a deputado estadual ou federal. Ele vem sendo cortejado pelos tucanos desde 2010. O deputado Otavio Leite (PSDBRJ) está empenhado na tarefa. O tricampeão pela Unidos da Tijuca disse que gostaria de trabalhar pela qualificação de mão de obra e profissionalização do carnaval.
Um a menos
Aliado de Eduardo Campos (PSB) em Pernambuco, o PP lançou a vereadora Michele Collins ao governo, incomodado por ter sido preterido na chapa majoritária, formada por PSB e PMDB. O PP queria indicar o nome ao Senado.
Ranking do estresse
A área de Segurança do governo está preocupada com as delegações de três países durante a realização da Copa do Mundo:
Estados Unidos, Irã e Rússia, que entrou no radar há algumas semanas pela tensão com a Ucrânia. As três seleções ficarão em cidades de São Paulo e exigirão trabalho redobrado dos agentes federais.
Fim de uma era
O PCdoB propôs a revogação da Lei de Segurança Nacional, do governo Figueiredo, que vem sendo usada nas prisões recentes de manifestantes. O partido acha que não é preciso nenhuma lei nova nem antiga para tratar dos protestos.
Contando com a sorte
O DEM apresentou requerimentos de convocação do ministro Arthur Chioro (Saúde) em quatro comissões da Câmara.
Como o partido tem apenas 26 deputados, precisa contar com um cochilo dos governistas para aprovar o pedido.
DE OLHO NA PROIBIÇÃO de perfil não oficial de Eduardo Campos no Facebook, PSDB e PT estão ajustando as páginas de seus candidatos.
Sonho de bilhão - VERA MAGALHÃES - PAINEL
FOLHA DE SP - 07/03
O ministro Paulo Bernardo (Comunicações) descarta a possibilidade de liberar a internet 4G da neutralidade de rede para aumentar a arrecadação na fase dois dos leilões, prevista para agosto. Segundo ele, o governo não abre mão de ver o princípio aprovado no projeto do Marco Civil, em discussão no Congresso. "A neutralidade será mantida. Alguém pode ter apostado nisso, mas foi sonho de uma noite de verão", diz, numa referência à divergência sobre o modelo do edital.
Lados Bernardo confirma o debate sobre as regras. "Estamos tratando com o Tesouro sobre a previsão de receita. Eles têm de cumprir a meta fiscal e querem saber com que recursos poderão contar. Já o modelo da licitação cabe à Anatel", disse à coluna.
Infomaré Gilberto Gil aceitou ser o porta-voz da campanha da Avaaz sobre o Marco Civil. Seis milhões de brasileiros receberão um e-mail assinado por Gil pedindo apoio para a aprovação do projeto, com votação prevista para a próxima semana.
Carona Deputados do PSDB decidiram aderir informalmente ao "blocão" de dissidentes do governo Dilma Rousseff liderado pelo PMDB e acompanhar o voto do grupo de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) contra o Marco Civil. O relator do texto, Alessandro Molon (PT-RJ), contava com os votos dos tucanos.
Over A ala mais governista do PMDB passou ao Palácio do Planalto anteontem um diagnóstico de que Cunha é minoritário, e que o partido não tem "plano B" na corrida presidencial. Esse grupo diz que o deputado passou do ponto em suas declarações.
Eu sozinho A ira dos peemedebistas com o comando do PT foi catalisada pela dificuldade na formação de alianças nos Estados. Por enquanto, os petistas só apoiam dois candidatos do PMDB a governador: no Pará e no Amazonas. Em 2010, isso aconteceu em sete Estados.
Timing Na reunião de quarta-feira, o núcleo da reeleição de Dilma definiu que a presidente não vai se engajar em atos de pré-campanha e só participará de atividades promovidas pelo PT a partir de junho. Enquanto isso, o partido e o ex-presidente Lula farão esse trabalho.
Fluxo 1 O Ministério de Minas e Energia prevê que a chuva dos últimos dias deve ajudar a elevar os ponteiros do nível das usinas hidrelétricas, mas a água ainda pode demorar até uma semana para chegar aos reservatórios.
Fluxo 2 O governo diz ver um cenário de "equilíbrio estrutural" do setor elétrico e reforça que não trabalha com risco de racionamento.
Folião Arthur Chioro (Saúde) percorreu o circuito completo do Carnaval para divulgar programas de prevenção da Aids e outras doenças. Esteve no desfile das escolas de samba de São Paulo na sexta, no Recife no sábado, em Salvador no domingo e no Rio na segunda-feira.
Tela... A Justiça devolveu ao PSDB paulista 12,5 minutos em inserções de televisão no primeiro semestre deste ano. O tempo havia sido cassado após vídeo que foi considerado propaganda antecipada para José Serra em 2012.
... quente O calendário previa a exibição das peças no fim de março e em maio. A sigla quer usar o tempo para dar sequência ao balanço da gestão Geraldo Alckmin.
No bolso Com receio de que interessados na PPP de Habitação não conseguissem financiamento para propostas, o governo paulista decidiu dividir em sete lotes, e não mais em três, as 20 mil moradias da parceria. A pasta envia hoje para o conselho gestor a versão final do edital.
TIROTEIO
"A presidente Dilma transforma o Alvorada em comitê de sua campanha e tem a coragem de dizer que cara de pau é a oposição."
DE CARLOS SAMPAIO (PSDB-SP), que entra hoje com ação no TSE alegando que a reunião de anteontem teve caráter eleitoral e ocorreu durante o expediente.
CONTRAPONTO
Octógono na taba
O deputado Sérgio Guerra (PSDB-PE), que morreu ontem, costumava contar, nos jantares que promovia em seu apartamento de Brasília, sobre uma batalha épica entre o então senador Arthur Virgílio e um índio do Pará.
Virgílio, que é lutador de jiu-jítsu, desafiou o guerreiro de uma tribo à qual foi com o colega Flexa Ribeiro.
--O índio ficou só medindo o Arthur. Depois, com um golpe só, o derrubou pelo pé --se divertia Guerra.
Virgílio aquiescia com o relato, rindo, mas arrematava:
--É porque vocês separaram! Se tivessem me deixado pedir a revanche, eu derrubava o índio!
O ministro Paulo Bernardo (Comunicações) descarta a possibilidade de liberar a internet 4G da neutralidade de rede para aumentar a arrecadação na fase dois dos leilões, prevista para agosto. Segundo ele, o governo não abre mão de ver o princípio aprovado no projeto do Marco Civil, em discussão no Congresso. "A neutralidade será mantida. Alguém pode ter apostado nisso, mas foi sonho de uma noite de verão", diz, numa referência à divergência sobre o modelo do edital.
Lados Bernardo confirma o debate sobre as regras. "Estamos tratando com o Tesouro sobre a previsão de receita. Eles têm de cumprir a meta fiscal e querem saber com que recursos poderão contar. Já o modelo da licitação cabe à Anatel", disse à coluna.
Infomaré Gilberto Gil aceitou ser o porta-voz da campanha da Avaaz sobre o Marco Civil. Seis milhões de brasileiros receberão um e-mail assinado por Gil pedindo apoio para a aprovação do projeto, com votação prevista para a próxima semana.
Carona Deputados do PSDB decidiram aderir informalmente ao "blocão" de dissidentes do governo Dilma Rousseff liderado pelo PMDB e acompanhar o voto do grupo de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) contra o Marco Civil. O relator do texto, Alessandro Molon (PT-RJ), contava com os votos dos tucanos.
Over A ala mais governista do PMDB passou ao Palácio do Planalto anteontem um diagnóstico de que Cunha é minoritário, e que o partido não tem "plano B" na corrida presidencial. Esse grupo diz que o deputado passou do ponto em suas declarações.
Eu sozinho A ira dos peemedebistas com o comando do PT foi catalisada pela dificuldade na formação de alianças nos Estados. Por enquanto, os petistas só apoiam dois candidatos do PMDB a governador: no Pará e no Amazonas. Em 2010, isso aconteceu em sete Estados.
Timing Na reunião de quarta-feira, o núcleo da reeleição de Dilma definiu que a presidente não vai se engajar em atos de pré-campanha e só participará de atividades promovidas pelo PT a partir de junho. Enquanto isso, o partido e o ex-presidente Lula farão esse trabalho.
Fluxo 1 O Ministério de Minas e Energia prevê que a chuva dos últimos dias deve ajudar a elevar os ponteiros do nível das usinas hidrelétricas, mas a água ainda pode demorar até uma semana para chegar aos reservatórios.
Fluxo 2 O governo diz ver um cenário de "equilíbrio estrutural" do setor elétrico e reforça que não trabalha com risco de racionamento.
Folião Arthur Chioro (Saúde) percorreu o circuito completo do Carnaval para divulgar programas de prevenção da Aids e outras doenças. Esteve no desfile das escolas de samba de São Paulo na sexta, no Recife no sábado, em Salvador no domingo e no Rio na segunda-feira.
Tela... A Justiça devolveu ao PSDB paulista 12,5 minutos em inserções de televisão no primeiro semestre deste ano. O tempo havia sido cassado após vídeo que foi considerado propaganda antecipada para José Serra em 2012.
... quente O calendário previa a exibição das peças no fim de março e em maio. A sigla quer usar o tempo para dar sequência ao balanço da gestão Geraldo Alckmin.
No bolso Com receio de que interessados na PPP de Habitação não conseguissem financiamento para propostas, o governo paulista decidiu dividir em sete lotes, e não mais em três, as 20 mil moradias da parceria. A pasta envia hoje para o conselho gestor a versão final do edital.
TIROTEIO
"A presidente Dilma transforma o Alvorada em comitê de sua campanha e tem a coragem de dizer que cara de pau é a oposição."
DE CARLOS SAMPAIO (PSDB-SP), que entra hoje com ação no TSE alegando que a reunião de anteontem teve caráter eleitoral e ocorreu durante o expediente.
CONTRAPONTO
Octógono na taba
O deputado Sérgio Guerra (PSDB-PE), que morreu ontem, costumava contar, nos jantares que promovia em seu apartamento de Brasília, sobre uma batalha épica entre o então senador Arthur Virgílio e um índio do Pará.
Virgílio, que é lutador de jiu-jítsu, desafiou o guerreiro de uma tribo à qual foi com o colega Flexa Ribeiro.
--O índio ficou só medindo o Arthur. Depois, com um golpe só, o derrubou pelo pé --se divertia Guerra.
Virgílio aquiescia com o relato, rindo, mas arrematava:
--É porque vocês separaram! Se tivessem me deixado pedir a revanche, eu derrubava o índio!
A vida como ela é - DENISE ROTHENBURG
CORREIO BRAZILIENSE - 07/03
As rusgas entre o presidente do PT, Rui Falcão, e o líder Eduardo Cunha (PMDB-RJ) prometem ser um mal menor na relação PT-PMDB. O clima vai esquentar mesmo é se a bancada de Minas Gerais perder o Ministério da Agricultura. É que, com a iminente saída de Antônio Andrade para disputar um mandato eletivo em outubro, a bancada indicou Silas Brasileiro. Se os mineiros perderem essa, o que já está ruim ficará pior. E, por mais que o PT tente disfarçar, o partido não pode hoje prescindir do PMDB.
Primeiro, é sabido que os seis minutos de tevê dos peemedebistas valem peso dois num momento em que os petistas jogarão tudo para evitar um provável segundo turno. Aliás, isso foi dito com todas as letras na reunião entre Dilma, Lula e o comando de campanha pela reeleição, há dois dias, no Alvorada. Também é consenso que, para manter esse tempo no colo de Dilma, não basta Michel Temer na vice. Daí, algum afago ao peemedebistas virá. Nem que seja apenas para contradizer o líder do partido, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
O problema
A escolha dos ministros emperrou porque Dilma Rousseff não quer amarrar as decisões a um possível segundo mandato. E colocar Vital do Rego na equipe seria torná-lo “indemissível” em caso de reeleição. E é justamente isso que o PMDB deseja. Fechar alguns acordos agora para não ficar na chuva depois, quando a presidente não terá mais direito a concorrer a um novo mandato.
A solução
Está tudo combinado: se os peemedebistas ficarem a ver navios nessa reforma ministerial, eles cruzarão os braços no Congresso e na campanha. No Parlamento, esse movimento começa na semana que vem.
“Eu vou ficar quieto até segunda-feira. Não vou provocar. Agora, se me provocarem, não vou ficar calado. Não tem quem me cale”
Do líder do PMDB, Eduardo Cunha, referindo-se à movimentação dos últimos dias
Adeus a Sérgio Guerra
O PSDB e o PSB estarão unidos, hoje, no velório do ex-presidente Sérgio Guerra. Ele era o mais socialista dos tucanos, assim como o deputado Júlio Delgado (PSB-MG) é visto como o mais tucano dos socialistas.
CURTIDAS
Entre os Xavantes…/ O ministro do Esporte, Aldo Rebelo (foto), passou o carnaval bem longe da muvuca. Optou por uma aldeia de índios Xavante, em Mato Grosso. Foram mais de mil quilômetros de viagem entre carro e barco. Acordava com o canto dos meninos da tribo. Atravessou o belo Rio das Mortes, tudo para ficar bem longe das cobranças de ingressos, de estádios, de mobilidade urbana e lá vai. Foi a última pausa até a Copa.
…E os jogos/ O ziriguidum de Aldo vai começar agora. Domingo, estará no Amazonas para inaugurar mais um estádio da Copa. Como o estado é berço de outras tribos, os políticos locais querem saber se os índios terão ingressos e como será o transporte para as capitais em que serão disputadas as partidas.
Engenharia criativa/ Quando as coisas são feitas de qualquer jeito, até o que era para ser solução vira problema. Veja só o que houve no Minstério da Fazenda: o elevador instalado para pessoas deficientes virou um transtorno que ninguém sabe como resolver. O tal elevador tem um desnível em relação ao piso e precisa de rampa de acesso, que não foi feita.
Tem mais!/ No andar de cima, a porta abre para um vão de meio metro que não permite a passagem de cadeira de rodas. Os clientes do posto de atendimetno do Banco do Brasil que funciona ali terão que esperar um bom tempo para usar o elevador. A gerência informa que as pessoas com deficiência, por falta de acesso, estão sendo atendidas no térreo.
MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO
FOLHA DE SP - 07/03
Resorts registram fevereiro fraco por causa da Copa do Mundo, diz entidade
Após um janeiro com resultados acima da média, os resorts do país tiveram um fevereiro mais fraco.
A ocupação média ficou em 60% no segundo mês de 2014 --mesmo patamar do ano passado, mas abaixo dos 62,1% registrados em igual período de 2012--, segundo dados da entidade que reúne o setor, Resorts Brasil, compilados pelo Senac.
A queda na taxa é decorrente das alterações feitas no calendário escolar por causa da Copa do Mundo. Em grande parte dos colégios, a volta às aulas foi antecipada para que os alunos estejam de férias durante o Mundial.
"Foi um fevereiro aquém do potencial. Normalmente, esse é um mês de boa performance também por causa do Carnaval", diz Daniel Guijarro, presidente da associação.
Março, porém, não deve ter sua ocupação alavancada por causa do feriado encerrado na quarta-feira.
"O Carnaval de 2014 foi muito menos concorrido do que o de anos anteriores. As férias acabaram sendo encurtadas devido à Copa e muitos deixaram de viajar."
No Rio Quente Resorts, as taxas de ocupação seguiram a tendência nacional. O resultado de fevereiro, porém, foi atribuído apenas ao Carnaval.
"O feriado migrou para março, mês que devemos ter número melhores", afirma Fernanda Brunetta, executiva da empresa.
O grupo não divulga dados mensais, mas projeta um semestre com faturamento 6% superior à meta.
TURISMO AFETADO
A taxa média de ocupação em três resorts da rede Mabu ficou oito pontos percentuais abaixo da meta em fevereiro. Apenas a unidade de Foz do Iguaçu alcançou o índice estipulado.
"Lá, o que movimenta são os eventos. Temos salões para encontros de até 5.000 pessoas", diz o CEO da empresa, Wellington Estruquel.
"Os resorts que dependem 100% do turismo tiveram resultados mais fracos. Na última semana de janeiro, já sentimos uma queda por causa do retorno às aulas, marcado para mais cedo neste ano em alguns colégios."
Calendários escolares foram alterados para que as férias de inverno sejam em junho, durante os jogos da Copa do Mundo.
Março, porém, deverá ser de recuperação. No Carnaval, a taxa de ocupação atingiu 100% em todas as unidades. Para a Páscoa, é esperado que ela fique em 89% --63% dos apartamentos já estão reservados.
A rede Mabu tem resorts em Foz do Iguaçu (PR), Campina Grande do Sul (PR), Barra de São Miguel (AL) e Santa Cruz Cabrália (BA), além de hotéis.
MEIO a MEIO
A Adcos, marca brasileira de cosméticos, pretende ampliar sua participação no varejo a partir deste ano.
Hoje, a empresa tem 75 lojas, sendo que dois terços do faturamento são resultantes da venda para profissionais das áreas médica e estética.
O plano de expansão para 2014 prevê a abertura de 22 lojas em todo o país, com foco no interior de São Paulo.
"A intenção é que os negócios fiquem distribuídos metade no varejo e metade em venda profissional", diz Ada Mota, fundadora da marca.
O aporte neste ano para a expansão e o desenvolvimento de novos produtos será de R$ 15 milhões.
A Adcos faturou R$ 140 milhões em 2013 e espera crescer 29% neste ano.
FERTILIZANTE IMPORTADO
Impulsionada pelo melhor desempenho da agricultura, a demanda por produtos químicos cresceu 7,1% em 2013 --três vezes mais que o PIB, segundo a Abiquim (entidade que representa o setor).
A última vez que a indústria teve desempenho semelhante foi em 2003, quando o avanço foi quatro vezes maior que o indicador da economia.
O crescimento médio anual da indústria química é 25% superior ao PIB, desde o início da série histórica, iniciada em 1990.
"Todo esse mercado em crescimento está sendo ocupado por produtos importados", diz Fernando Figueiredo, presidente da Abiquim.
A produção nacional de químicos cresceu 1,6%, enquanto o volume de importados subiu 17,6%, puxado pelo grupo de intermediários para fertilizantes.
O deficit na balança comercial da indústria química atingiu em 2013 recorde histórico de US$ 32,2 bilhões.
O valor corresponde a 30,4% do deficit brasileiro de produtos manufaturados, segundo a entidade.
PESSIMISMO DO CONSUMIDOR
A inflação está deixando os brasileiros mais preocupados. É o que afirma o Instituto Assaf após analisar os dados do Inec (Índice Nacional de Expectativa do Consumidor), levantamento da Confederação Nacional da Indústria em parceria com o Ibope.
O indicador no Inec para a inflação tem média mensal neste ano de -3,48%, aponta Fabiano Guasti Lima, pesquisador do Instituto Assaf.
Quanto mais o índice cai, maiores o pessimismo e a motivação para cortar gastos, em razão de incertezas. No ano passado, a média mensal foi de -0,06%.
"Os produtos aumentam de preço, e o salário não. Isso causa um temor", diz.
A inflação do IPCA está em 5,59% no acumulado de 12 meses. O Inec ouve mensalmente 2.002 pessoas no país para fazer a pesquisa.
Investimento...
A América Latina registrou US$ 1,25 bilhão alocados em negócios de impacto social em 2012.
...de impacto
Desse montante, US$ 800 milhões já foram investidos, afirma o Insead Entrepreneurship Club.
Sinistros
A Yasuda e a Marítima movimentaram juntas cerca de R$ 1 bilhão em indenizações pagas em 2013.
Retorno...
O valor pago pelo Grupo Bradesco Seguros atingiu R$ 34 bilhões, uma alta de 28% ante o ano anterior.
...assegurado
Em seguros de vida, foram desembolsados R$ 1,2 bilhão para mais de 100 mil assegurados.
Os "fios desencapados" no caminho de Dilma - CLAUDIA SAFATLE
VALOR ECONÔMICO - 07/03
A rebelião do PDMB -maior partido da base aliada - contra a pretensão hegemônica do PT no governo Dilma Rousseff e nos Estados entra na lista dos "fios desencapados" que atormentam o Palácio do Planalto e preocupam os mercados. O foco dos agentes econômicos não é propriamente a disputa política envolvida nessa trama nem os seus desdobramentos na reforma ministerial, mas o risco que o governo incorre de "tomar uma bola nas costas" do Congresso.
São pelo menos dois os temas que lá tramitam e que o PMDB - encorpado por sete partidos da base aliada e um da oposição (Solidariedade), que se juntaram sob o nome "blocão"-pode aprovar, deixando um bom estrago para Dilma resolver: a derrubada do veto da presidente ao projeto que abre as porteiras para a criação de centenas de municípios; e a aprovação da mudança do indexador das dívidas dos Estados e municípios retroativa ao ano de assinatura dos contratos de renegociação com a União.
Soma-se a esses dois projetos que têm potencial de forte aumento do gasto público a criação de uma comissão externa de investigação envolvendo denúncias de corrupção na Petrobras. Das gavetas do Parlamento sempre se pode sacar algum outro tema espinhoso para o Executivo.
"A encrenca no Congresso é grande. Se rejeitarem o veto da presidente, volta à tona a questão do rebaixamento do "rating" do Brasil", comentou um economista do setor privado para quem o programa fiscal recém-anunciado deu uma trégua ao risco de rebaixamento do grau de investimento do país.
Atentos aos movimentos do PMDB, vários economistas e analistas de mercado procuram medir nas rachaduras partidárias e nas insatisfações do próprio PT com Dilma a força do "Volta Lula".
Em fevereiro, mal ou bem o governo da presidente Dilma saltou três obstáculos: a elaboração e divulgação do programa fiscal para 2014; o anúncio do sofrível balanço da Petrobras e a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que reduziu o ritmo da elevação da taxa Selic.
Passado o Carnaval, as atenções voltam-se também para os outros "fios desencapados" que colocam pedras nos caminhos do governo: a crise de energia e os custos ainda não dimensionados do uso constante das usinas térmicas, os destinos dos preços congelados (combustíveis e energia) e seus impactos sobre a inflação e o julgamento, pelo Supremo Tribunal Federal (STF), dos planos econômicos e a correção da poupança, dentre outros.
Para esse último, o Supremo havia marcado 12 de março como data de desfecho. Ontem o assunto não constava da pauta. Essa, porém, contém duas outras ações de grande repercussão econômica, como o pedido de indenização bilionária da Va r i g pelo congelamento de tarifas durante o Plano Cruzado; e a definição sobre como devem ser pagos os precatórios. Ambas as contas são estimadas em R$ 6 bilhões e R$ 94 bilhões, respectivamente.
As fissuras na base aliada não são alimentadas só pelos parlamentares que não receberam suas emendas ao Orçamento nem conseguiram aprovar projetos de interesse dos prefeitos e não têm, portanto, muito o que mostrar aos seus eleitores. Há problemas na montagem de quase todos os palanques estaduais, onde os casos mais estridentes são os do Rio de Janeiro e do Ceará; e a distribuição de cargos na pequena reforma ministerial, tal como Dilma concebeu, que não agrada ao PMDB. Vendo-se preteridos, líderes do partido do vice-presidente Michel Temer falam até em deixar a aliança que elegeu Lula por duas vezes e levou Dilma ao Palácio do Planalto.
Em novembro de 2013, a presidente vetou todo o projeto de Lei Complementar 98/2002, aprovado pelo Senado em outubro, que regulamenta a fusão, criação e desmembramento de municípios. Pelas regras do projeto, poderiam ser criados 188 novos municípios, segundo cálculos do Congresso, ou 363 conforme estudos do Ipea. A Emenda Constitucional no 15 congelou a criação de municípios até a definição de critérios nacionais, o que foi feito pelo Senado em outubro.
A presidente justificou o veto com base na análise do Ministério da Fazenda, de aumento inoportuno do gasto público. Cada novo município é um foco multiplicador de despesas com a criação do Executivo, a Câmara de Vereadores, a estrutura do Judiciário, sem qualquer geração de receitas. Em geral, vão viver da partilha do Fundo de Participação, subtraindo receitas de outros municípios.
No caso da troca do indexador da dívida dos Estados e municípios, originalmente o governo foi favorável inclusive à retroatividade da medida. A reação dos mercados e das agências de "rating" ao que foi avaliado como frouxidão fiscal levou o governo a interromper a tramitação da proposta.
O "blocão", agora, acena com a aprovação do projeto que daria uma folga financeira a vários municípios, mas, sobretudo, à Prefeitura de São Paulo, sob o comando de Fernando Haddad, do PT. O prefeito de São Bernardo do Campo (SP), Luiz Marinho, também do PT, disse recentemente que a rebelião da base aliada do governo na Câmara pode abrir uma "j a n e l a" para que seja negociada a aprovação do projeto que muda o indexador da dívida dos Estados e municípios.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, já avisou que o governo pode retirar o projeto se o Congresso insistir em aprovar o texto com a mudança retroativa do indexador.
Lula esteve em Brasília na Quarta-feira de Cinzas para uma reunião com Dilma e o comando da campanha da reeleição, destinada a reduzir os atritos dos partidos com o governo. Ontem, o Palácio do Planalto deu indicações de que vai prosseguir na reforma ministerial, mas manterá a pasta do Turismo nas mãos do PMDB.
No PT, há quem não veja qualquer problema na saída do PMDB da base aliada. Assim como há quem veja nas restrições que o setor privado faz à decisões do governo somente uma reação a interesses contrariados.
A rebelião do PDMB -maior partido da base aliada - contra a pretensão hegemônica do PT no governo Dilma Rousseff e nos Estados entra na lista dos "fios desencapados" que atormentam o Palácio do Planalto e preocupam os mercados. O foco dos agentes econômicos não é propriamente a disputa política envolvida nessa trama nem os seus desdobramentos na reforma ministerial, mas o risco que o governo incorre de "tomar uma bola nas costas" do Congresso.
São pelo menos dois os temas que lá tramitam e que o PMDB - encorpado por sete partidos da base aliada e um da oposição (Solidariedade), que se juntaram sob o nome "blocão"-pode aprovar, deixando um bom estrago para Dilma resolver: a derrubada do veto da presidente ao projeto que abre as porteiras para a criação de centenas de municípios; e a aprovação da mudança do indexador das dívidas dos Estados e municípios retroativa ao ano de assinatura dos contratos de renegociação com a União.
Soma-se a esses dois projetos que têm potencial de forte aumento do gasto público a criação de uma comissão externa de investigação envolvendo denúncias de corrupção na Petrobras. Das gavetas do Parlamento sempre se pode sacar algum outro tema espinhoso para o Executivo.
"A encrenca no Congresso é grande. Se rejeitarem o veto da presidente, volta à tona a questão do rebaixamento do "rating" do Brasil", comentou um economista do setor privado para quem o programa fiscal recém-anunciado deu uma trégua ao risco de rebaixamento do grau de investimento do país.
Atentos aos movimentos do PMDB, vários economistas e analistas de mercado procuram medir nas rachaduras partidárias e nas insatisfações do próprio PT com Dilma a força do "Volta Lula".
Em fevereiro, mal ou bem o governo da presidente Dilma saltou três obstáculos: a elaboração e divulgação do programa fiscal para 2014; o anúncio do sofrível balanço da Petrobras e a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que reduziu o ritmo da elevação da taxa Selic.
Passado o Carnaval, as atenções voltam-se também para os outros "fios desencapados" que colocam pedras nos caminhos do governo: a crise de energia e os custos ainda não dimensionados do uso constante das usinas térmicas, os destinos dos preços congelados (combustíveis e energia) e seus impactos sobre a inflação e o julgamento, pelo Supremo Tribunal Federal (STF), dos planos econômicos e a correção da poupança, dentre outros.
Para esse último, o Supremo havia marcado 12 de março como data de desfecho. Ontem o assunto não constava da pauta. Essa, porém, contém duas outras ações de grande repercussão econômica, como o pedido de indenização bilionária da Va r i g pelo congelamento de tarifas durante o Plano Cruzado; e a definição sobre como devem ser pagos os precatórios. Ambas as contas são estimadas em R$ 6 bilhões e R$ 94 bilhões, respectivamente.
As fissuras na base aliada não são alimentadas só pelos parlamentares que não receberam suas emendas ao Orçamento nem conseguiram aprovar projetos de interesse dos prefeitos e não têm, portanto, muito o que mostrar aos seus eleitores. Há problemas na montagem de quase todos os palanques estaduais, onde os casos mais estridentes são os do Rio de Janeiro e do Ceará; e a distribuição de cargos na pequena reforma ministerial, tal como Dilma concebeu, que não agrada ao PMDB. Vendo-se preteridos, líderes do partido do vice-presidente Michel Temer falam até em deixar a aliança que elegeu Lula por duas vezes e levou Dilma ao Palácio do Planalto.
Em novembro de 2013, a presidente vetou todo o projeto de Lei Complementar 98/2002, aprovado pelo Senado em outubro, que regulamenta a fusão, criação e desmembramento de municípios. Pelas regras do projeto, poderiam ser criados 188 novos municípios, segundo cálculos do Congresso, ou 363 conforme estudos do Ipea. A Emenda Constitucional no 15 congelou a criação de municípios até a definição de critérios nacionais, o que foi feito pelo Senado em outubro.
A presidente justificou o veto com base na análise do Ministério da Fazenda, de aumento inoportuno do gasto público. Cada novo município é um foco multiplicador de despesas com a criação do Executivo, a Câmara de Vereadores, a estrutura do Judiciário, sem qualquer geração de receitas. Em geral, vão viver da partilha do Fundo de Participação, subtraindo receitas de outros municípios.
No caso da troca do indexador da dívida dos Estados e municípios, originalmente o governo foi favorável inclusive à retroatividade da medida. A reação dos mercados e das agências de "rating" ao que foi avaliado como frouxidão fiscal levou o governo a interromper a tramitação da proposta.
O "blocão", agora, acena com a aprovação do projeto que daria uma folga financeira a vários municípios, mas, sobretudo, à Prefeitura de São Paulo, sob o comando de Fernando Haddad, do PT. O prefeito de São Bernardo do Campo (SP), Luiz Marinho, também do PT, disse recentemente que a rebelião da base aliada do governo na Câmara pode abrir uma "j a n e l a" para que seja negociada a aprovação do projeto que muda o indexador da dívida dos Estados e municípios.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, já avisou que o governo pode retirar o projeto se o Congresso insistir em aprovar o texto com a mudança retroativa do indexador.
Lula esteve em Brasília na Quarta-feira de Cinzas para uma reunião com Dilma e o comando da campanha da reeleição, destinada a reduzir os atritos dos partidos com o governo. Ontem, o Palácio do Planalto deu indicações de que vai prosseguir na reforma ministerial, mas manterá a pasta do Turismo nas mãos do PMDB.
No PT, há quem não veja qualquer problema na saída do PMDB da base aliada. Assim como há quem veja nas restrições que o setor privado faz à decisões do governo somente uma reação a interesses contrariados.
De gatos, ratos e mercados - LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
FOLHA DE SP - 07/03
China tem desafios complexos, mas previsão de 90% de chance de catástrofe não deve ser levada a sério
O novo governo chinês, na abertura da sessão anual do Congresso Nacional do Povo, fixou como objetivo da política econômica em 2014 um crescimento de 7,5%, nível necessário, segundo seus tecnocratas, para gerar 10 milhões de postos de trabalho. Mais importante do que esse número, para quem segue de perto a evolução da segunda economia do mundo, foram decisões complementares que definem o arcabouço da política econômica para os próximos anos.
Entre elas, chamam a atenção do analista um novo desenho da política fiscal e o controle ainda mais rígido do endividamento dos governos regionais. Os dois movimentos claramente na direção de um espaço maior para os agentes privados.
Para os que acreditam no modelo chinês de passagem de uma economia centrada no Estado para um híbrido de mercados privados e setor público, iniciado ainda na década de 80 do século passado, esses passos não surpreendem.
Eles seguem a direção definida por Deng Xiaoping ao propor sua imagem de que "não interessa a cor de um gato, desde que ele destrua os ratos de forma eficiente".
Hoje sabemos o que queria dizer com essa imagem da época da morte de Mao: não importa se os agentes que geram o desenvolvimento econômico são estatais ou privados, desde que o resultado final seja o crescimento da renda dos cidadãos.
Mas esse desenho de economia não encontra credibilidade na grande maioria dos analistas de mercados que continuam a olhar com muito pessimismo para o sucesso chinês das ultimas décadas.
Para eles o colapso vai ocorrer, de uma hora para outra, arrastando no seu caminho as nações emergentes que vivem da cocaína das exportações de commodities agrícolas e minerais para a China.
Ontem mesmo o "Financial Times" trouxe reportagem em que um grupo importante de analistas descreve suas expectativas sobre a origem de uma possível nova crise econômica grave. Para eles, 90% do risco está centrado na China, 42%, nos países da América Latina, e 33%, em outros emergentes.
Para o leitor ter uma boa ideia da qualidade das previsões dos chamados mercados, a pesquisa realizada pelo jornal britânico mostra que os agentes consultados associam o menor risco (13%) de uma crise aos acontecimentos futuros no espaço comum europeu. A grande maioria destes opinadores, há menos de dois anos, clamava aos céus o fim do mundo e da Europa Unida.
Por isso, aconselho a todos a não levarem a sério os 90% de chances associados a uma catástrofe da economia chinesa nos próximos anos.
Mas é importante entender que os desafios a serem vencidos na década em que os atuais governantes chineses estarão no poder são de grande complexidade. A sociedade chinesa mudou muito nos últimos anos e os novos desafios de natureza econômica e social têm hoje uma química diferente dos enfrentados, com sucesso, por Deng Xiaoping e seus sucessores.
O que tem chamado a atenção dos analistas que mais respeito é o fato de que uma nova geração de dirigentes tenha mostrado coragem de mudar o rumo do país, mesmo tendo em conta o sucesso já alcançado.
Isso não é comum em dirigentes políticos, que na maioria das vezes ficam escravos do sucesso passado e não conseguem dar um passo adiante. Vejam a reviravolta que está ocorrendo na Turquia depois que o sucesso de mais de dez anos de governo foi destruído pela incapacidade de acompanhar a evolução da sociedade e de se reinventar.
Aqui no nosso querido país também vivemos um momento importante de mudanças, principalmente na condução da economia.
O Brasil é um desses exemplos em que o sucesso continuado por um período muito grande --afinal foram 17 anos com a renda real do cidadão crescendo 4,7% ao ano-- precisa de uma corajosa mudança de rumo para consolidar os ganhos obtidos.
E qual é a principal mudança que precisa ocorrer para que uma nova década de crescimento se abra aos brasileiros? É necessária a passagem do consumo como a grande força do crescimento para um equilíbrio diferente em que os investimentos privados e os ganhos de produtividade assumam também parte importante no dinamismo da economia.
China tem desafios complexos, mas previsão de 90% de chance de catástrofe não deve ser levada a sério
O novo governo chinês, na abertura da sessão anual do Congresso Nacional do Povo, fixou como objetivo da política econômica em 2014 um crescimento de 7,5%, nível necessário, segundo seus tecnocratas, para gerar 10 milhões de postos de trabalho. Mais importante do que esse número, para quem segue de perto a evolução da segunda economia do mundo, foram decisões complementares que definem o arcabouço da política econômica para os próximos anos.
Entre elas, chamam a atenção do analista um novo desenho da política fiscal e o controle ainda mais rígido do endividamento dos governos regionais. Os dois movimentos claramente na direção de um espaço maior para os agentes privados.
Para os que acreditam no modelo chinês de passagem de uma economia centrada no Estado para um híbrido de mercados privados e setor público, iniciado ainda na década de 80 do século passado, esses passos não surpreendem.
Eles seguem a direção definida por Deng Xiaoping ao propor sua imagem de que "não interessa a cor de um gato, desde que ele destrua os ratos de forma eficiente".
Hoje sabemos o que queria dizer com essa imagem da época da morte de Mao: não importa se os agentes que geram o desenvolvimento econômico são estatais ou privados, desde que o resultado final seja o crescimento da renda dos cidadãos.
Mas esse desenho de economia não encontra credibilidade na grande maioria dos analistas de mercados que continuam a olhar com muito pessimismo para o sucesso chinês das ultimas décadas.
Para eles o colapso vai ocorrer, de uma hora para outra, arrastando no seu caminho as nações emergentes que vivem da cocaína das exportações de commodities agrícolas e minerais para a China.
Ontem mesmo o "Financial Times" trouxe reportagem em que um grupo importante de analistas descreve suas expectativas sobre a origem de uma possível nova crise econômica grave. Para eles, 90% do risco está centrado na China, 42%, nos países da América Latina, e 33%, em outros emergentes.
Para o leitor ter uma boa ideia da qualidade das previsões dos chamados mercados, a pesquisa realizada pelo jornal britânico mostra que os agentes consultados associam o menor risco (13%) de uma crise aos acontecimentos futuros no espaço comum europeu. A grande maioria destes opinadores, há menos de dois anos, clamava aos céus o fim do mundo e da Europa Unida.
Por isso, aconselho a todos a não levarem a sério os 90% de chances associados a uma catástrofe da economia chinesa nos próximos anos.
Mas é importante entender que os desafios a serem vencidos na década em que os atuais governantes chineses estarão no poder são de grande complexidade. A sociedade chinesa mudou muito nos últimos anos e os novos desafios de natureza econômica e social têm hoje uma química diferente dos enfrentados, com sucesso, por Deng Xiaoping e seus sucessores.
O que tem chamado a atenção dos analistas que mais respeito é o fato de que uma nova geração de dirigentes tenha mostrado coragem de mudar o rumo do país, mesmo tendo em conta o sucesso já alcançado.
Isso não é comum em dirigentes políticos, que na maioria das vezes ficam escravos do sucesso passado e não conseguem dar um passo adiante. Vejam a reviravolta que está ocorrendo na Turquia depois que o sucesso de mais de dez anos de governo foi destruído pela incapacidade de acompanhar a evolução da sociedade e de se reinventar.
Aqui no nosso querido país também vivemos um momento importante de mudanças, principalmente na condução da economia.
O Brasil é um desses exemplos em que o sucesso continuado por um período muito grande --afinal foram 17 anos com a renda real do cidadão crescendo 4,7% ao ano-- precisa de uma corajosa mudança de rumo para consolidar os ganhos obtidos.
E qual é a principal mudança que precisa ocorrer para que uma nova década de crescimento se abra aos brasileiros? É necessária a passagem do consumo como a grande força do crescimento para um equilíbrio diferente em que os investimentos privados e os ganhos de produtividade assumam também parte importante no dinamismo da economia.
Devagar demais - CELSO MING
O Estado de S.Paulo - 07/03
A balança comercial fechou o primeiro bimestre do ano ostentando um rombo de US$ 6,2 bilhões. Embora alto, é menor do que a maioria dos analistas esperava para o período.
O mau comportamento desse setor poderia reforçar as projeções de que todo o conjunto das contas externas (que incluem outras faturas em moeda estrangeira) esteja em deterioração. E, nessa área, apesar da baixa participação das exportações no PIB (menos de 13%), deterioração é coisa séria, dentro do princípio enunciado pelo professor Mário Henrique Simonsen de que "a inflação aleija, mas o câmbio mata".
No entanto, é cedo para uma avaliação confiável. Primeiro, porque o Ministério do Desenvolvimento deixou de ser transparente nesses dados. Passou a usar um conjunto errático de garrafinhas que enche e esvazia conforme precise apresentar ou não resultados. No final de 2012, por exemplo, deixou de fora importações de US$ 4,5 bilhões de petróleo e derivados que só foram contabilizadas ao longo de 2013, porque o governo decidiu mostrar serviço.
Em 2013 houve as exportações de plataformas de petróleo, de US$ 7,7 bilhões, que não saíram do País, embora tivessem gerado faturamento da Petrobrás local sobre a Petrobrás do exterior.
O ano começa com outra complicação: as importações de óleo diesel destinadas às termoelétricas, hoje acionadas para suprir a quebra de geração hídrica. A mesma seca vai derrubando a colheita de grãos. Não se sabe ainda até que ponto essa queda de produção será compensada com aumento dos preços.
Também não se conhece o impacto da desvalorização do real (alta do dólar), que em 12 meses está em torno de 18%. As autoridades da área econômica vêm repetindo que um dólar mais caro em reais levará a indústria a recuperar sua capacidade de exportar.
Até agora este é efeito pouco claro. Nos dois primeiros meses do ano (em relação ao mesmo período de 2013), as exportações de industrializados, em vez de subirem, caíram 6,1%, e a de manufaturados, 5,6%. Há poucos setores tão protegidos no Brasil quanto o de veículos. Conta com uma tarifa alfandegária que aumenta em 35% os preços de importação e com os benefícios do InovarAuto, que eleva em 30 pontos porcentuais o IPI de veículos importados fora do Mercosul e do México; e passou a tirar proveito dos 18% correspondentes à desvalorização do real já citada. Ainda assim, as exportações de veículos brasileiros em dezembro e janeiro registraram queda. (Não saíram os dados de fevereiro.)
O fator câmbio deveria trabalhar também no lado das importações, na medida em que encareceu em reais o produto importado. O problema aí é que a indústria parece tão dependente do suprimento externo de peças, componentes, matérias-primas, etc., que, em vez de dar mais competitividade, o dólar mais caro em reais pode estar tirando.
Outro fator limitador das exportações do País é a derrapada da economia argentina que, em 2013, importou 8% de tudo o que o Brasil exportou. A queda das exportações para lá nos primeiros dois meses do ano foi de 16%, o dobro do que em todo o Mercosul.
A balança comercial fechou o primeiro bimestre do ano ostentando um rombo de US$ 6,2 bilhões. Embora alto, é menor do que a maioria dos analistas esperava para o período.
O mau comportamento desse setor poderia reforçar as projeções de que todo o conjunto das contas externas (que incluem outras faturas em moeda estrangeira) esteja em deterioração. E, nessa área, apesar da baixa participação das exportações no PIB (menos de 13%), deterioração é coisa séria, dentro do princípio enunciado pelo professor Mário Henrique Simonsen de que "a inflação aleija, mas o câmbio mata".
No entanto, é cedo para uma avaliação confiável. Primeiro, porque o Ministério do Desenvolvimento deixou de ser transparente nesses dados. Passou a usar um conjunto errático de garrafinhas que enche e esvazia conforme precise apresentar ou não resultados. No final de 2012, por exemplo, deixou de fora importações de US$ 4,5 bilhões de petróleo e derivados que só foram contabilizadas ao longo de 2013, porque o governo decidiu mostrar serviço.
Em 2013 houve as exportações de plataformas de petróleo, de US$ 7,7 bilhões, que não saíram do País, embora tivessem gerado faturamento da Petrobrás local sobre a Petrobrás do exterior.
O ano começa com outra complicação: as importações de óleo diesel destinadas às termoelétricas, hoje acionadas para suprir a quebra de geração hídrica. A mesma seca vai derrubando a colheita de grãos. Não se sabe ainda até que ponto essa queda de produção será compensada com aumento dos preços.
Também não se conhece o impacto da desvalorização do real (alta do dólar), que em 12 meses está em torno de 18%. As autoridades da área econômica vêm repetindo que um dólar mais caro em reais levará a indústria a recuperar sua capacidade de exportar.
Até agora este é efeito pouco claro. Nos dois primeiros meses do ano (em relação ao mesmo período de 2013), as exportações de industrializados, em vez de subirem, caíram 6,1%, e a de manufaturados, 5,6%. Há poucos setores tão protegidos no Brasil quanto o de veículos. Conta com uma tarifa alfandegária que aumenta em 35% os preços de importação e com os benefícios do InovarAuto, que eleva em 30 pontos porcentuais o IPI de veículos importados fora do Mercosul e do México; e passou a tirar proveito dos 18% correspondentes à desvalorização do real já citada. Ainda assim, as exportações de veículos brasileiros em dezembro e janeiro registraram queda. (Não saíram os dados de fevereiro.)
O fator câmbio deveria trabalhar também no lado das importações, na medida em que encareceu em reais o produto importado. O problema aí é que a indústria parece tão dependente do suprimento externo de peças, componentes, matérias-primas, etc., que, em vez de dar mais competitividade, o dólar mais caro em reais pode estar tirando.
Outro fator limitador das exportações do País é a derrapada da economia argentina que, em 2013, importou 8% de tudo o que o Brasil exportou. A queda das exportações para lá nos primeiros dois meses do ano foi de 16%, o dobro do que em todo o Mercosul.
O dom de iludir - MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 07/03
Na economia, muitas vezes ficam todos presos a minúcias, sem ver o panorama. O Banco Central disse na ata do Copom que está "especialmente vigilante" no combate à inflação. Mas o fato concreto é que o Brasil está muito longe do centro da meta e não a encontrou desde o começo do governo Dilma. Comparado a vários países, nossos vizinhos, o Brasil tem taxa e meta altas.
A cada 45 dias, o Banco Central divulga a ata do Copom, sempre na quinta-feira da semana seguinte ao dia da reunião. Esses rituais têm seu valor. Servem para dar previsibilidade, o que na economia é muito importante. Mas esses comunicados não podem ser um palavrório atrás do qual se esconde a verdade. E ela é cristalina. O governo se acostumou com a taxa alta demais, o BC finge que acredita nos anúncios de austeridade fiscal e aceita a distorção de preços administrados congelados. Prevê, por exemplo, que os combustíveis não vão subir. Coisa estranha num período de volatilidade de preços e câmbio.
Assim que foi divulgada ontem a 181ª ata do Copom, ela foi comparada palavra por palavra com a anterior. Com lupa, procuram-se as inclusões e supressões para que os economistas possam traduzir tudo. A conclusão é que os 32 parágrafos são quase idênticos aos da ata da última reunião. O BC justificou a redução do ritmo de alta dos juros lembrando que as elevações se manifestam com defasagem. Ou seja, como as taxas já subiram bastante, o efeito continuará sendo sentido na economia nos próximos meses. E, com uma palavrinha aqui outra ali, os economistas concluíram que a autoridade monetária fará pelo menos mais uma elevação, para 11%, mas também pode parar de subir.
Isso resolve? Não. Não se combate inflação apenas com juros. É preciso controle de gastos públicos, como aprendemos há muito tempo. É preciso ter confiança de que o governo está mesmo determinado a levar a taxa para a meta. E a própria meta tem que ser declinante, porque 4,5% é muito.
Tudo o que se sabe é que para este governo um número que seja de 6,5% para baixo é considerado bom, comemorado e tratado como cumprimento de meta. Com os preços estacionados em nível tão alto, qualquer choque, crise ou inesperado eleva os preços.
Para todos os efeitos, a meta foi cumprida no ano passado, apesar de sabermos que a energia foi reduzida a um custo de R$ 9 bilhões para o Tesouro e que este ano o gasto será maior. O governo está dando para os consumidores a informação errada sobre o preço da energia. Isso faz com que não se reduza o consumo. E quanto mais consumo houver mais será preciso usar as térmicas e maior será a conta, que um dia chegará.
O BC sempre fala de dois cenários, o de referência e o de mercado. Nos dois, a inflação permanece acima do centro da meta até 2015. Da mesma forma que aconteceu em 2011, 2012 e 2013. E isso apesar de várias manobras como a que está arruinando o caixa da Petrobras. O governo administra mensalmente o índice, mas não consegue levar a inflação a 4,5% nem em um ambiente em que a economia cresce pouco.
É preciso mais ousadia e sinceridade em alguns comunicados. A previsibilidade da política monetária é boa, mas esse vocabulário ascético tem sido usado, hoje, apenas para encobrir problemas que estão ficando crônicos. Os países que estão com inflação do tamanho da do Brasil ou acima estão todos na lista dos frágeis e vulneráveis. Lista na qual não queremos ficar. Por isso, é necessário buscar taxas mais baixas da forma certa e não se dizer "especialmente vigilante" no quarto ano em que o país está perto do teto da meta.
Na economia, muitas vezes ficam todos presos a minúcias, sem ver o panorama. O Banco Central disse na ata do Copom que está "especialmente vigilante" no combate à inflação. Mas o fato concreto é que o Brasil está muito longe do centro da meta e não a encontrou desde o começo do governo Dilma. Comparado a vários países, nossos vizinhos, o Brasil tem taxa e meta altas.
A cada 45 dias, o Banco Central divulga a ata do Copom, sempre na quinta-feira da semana seguinte ao dia da reunião. Esses rituais têm seu valor. Servem para dar previsibilidade, o que na economia é muito importante. Mas esses comunicados não podem ser um palavrório atrás do qual se esconde a verdade. E ela é cristalina. O governo se acostumou com a taxa alta demais, o BC finge que acredita nos anúncios de austeridade fiscal e aceita a distorção de preços administrados congelados. Prevê, por exemplo, que os combustíveis não vão subir. Coisa estranha num período de volatilidade de preços e câmbio.
Assim que foi divulgada ontem a 181ª ata do Copom, ela foi comparada palavra por palavra com a anterior. Com lupa, procuram-se as inclusões e supressões para que os economistas possam traduzir tudo. A conclusão é que os 32 parágrafos são quase idênticos aos da ata da última reunião. O BC justificou a redução do ritmo de alta dos juros lembrando que as elevações se manifestam com defasagem. Ou seja, como as taxas já subiram bastante, o efeito continuará sendo sentido na economia nos próximos meses. E, com uma palavrinha aqui outra ali, os economistas concluíram que a autoridade monetária fará pelo menos mais uma elevação, para 11%, mas também pode parar de subir.
Isso resolve? Não. Não se combate inflação apenas com juros. É preciso controle de gastos públicos, como aprendemos há muito tempo. É preciso ter confiança de que o governo está mesmo determinado a levar a taxa para a meta. E a própria meta tem que ser declinante, porque 4,5% é muito.
Tudo o que se sabe é que para este governo um número que seja de 6,5% para baixo é considerado bom, comemorado e tratado como cumprimento de meta. Com os preços estacionados em nível tão alto, qualquer choque, crise ou inesperado eleva os preços.
Para todos os efeitos, a meta foi cumprida no ano passado, apesar de sabermos que a energia foi reduzida a um custo de R$ 9 bilhões para o Tesouro e que este ano o gasto será maior. O governo está dando para os consumidores a informação errada sobre o preço da energia. Isso faz com que não se reduza o consumo. E quanto mais consumo houver mais será preciso usar as térmicas e maior será a conta, que um dia chegará.
O BC sempre fala de dois cenários, o de referência e o de mercado. Nos dois, a inflação permanece acima do centro da meta até 2015. Da mesma forma que aconteceu em 2011, 2012 e 2013. E isso apesar de várias manobras como a que está arruinando o caixa da Petrobras. O governo administra mensalmente o índice, mas não consegue levar a inflação a 4,5% nem em um ambiente em que a economia cresce pouco.
É preciso mais ousadia e sinceridade em alguns comunicados. A previsibilidade da política monetária é boa, mas esse vocabulário ascético tem sido usado, hoje, apenas para encobrir problemas que estão ficando crônicos. Os países que estão com inflação do tamanho da do Brasil ou acima estão todos na lista dos frágeis e vulneráveis. Lista na qual não queremos ficar. Por isso, é necessário buscar taxas mais baixas da forma certa e não se dizer "especialmente vigilante" no quarto ano em que o país está perto do teto da meta.
O futuro da caridade - JOSÉ PIO MARTINS
GAZETA DOPOVO - PR - 07/03
Uma sociedade tem dois caminhos para ajudar os pobres e os incapacitados para o trabalho. O primeiro é a caridade individual, pela qual somos levados a fazer doações para pessoas e instituições de assistência. O segundo é a caridade coletiva, cujo instrumento é o pagamento de impostos ao governo para que este, em nome da sociedade, monte programas sociais de ajuda.
O primeiro caminho depende da cultura nacional e dos costumes do povo. Ao contrário do que se apregoa por aí – sobretudo quando multidões acorrem para fazer doações a desabrigados em enchentes –, o povo brasileiro é um dos que menos contribui com doações individuais no mundo. As instituições filantrópicas vivem à míngua e a frase mais ouvida é “não dou dinheiro para essas instituições porque não confio nelas e em seus dirigentes”.
No Brasil, é raro um empresário ou um ricaço doar parte de sua fortuna – nem mesmo depois de morto – a qualquer instituição social. Em vida é que ninguém doa nada mesmo. Nesse ponto, os Estados Unidos dão um show. Somente Bill Gates e Warren Buffett doaram US$ 70 bilhões para uma fundação social. Quando Bill Gates fez um cheque de US$ 1 bilhão somente para o programa de combate à malária na África, a Madre Teresa de Calcutá deve ter se virado no túmulo e pensado: “Esse homem, em dois minutos, fez mais pelos africanos que milhões de voluntários em um ano”.
O segundo caminho – o da caridade coletiva – depende da arrecação de tributos pelo governo e da eficiência no gerenciamento dos programas sociais. Pelo imposto, até os de coração duro são levados a fazer o bem, desde que trabalhem, ganhem dinheiro e paguem os tributos. Roberto Campos dizia que “o mundo será salvo pelos eficientes, não pelos caridosos”. Se os eficientes não produzirem – e não pagarem impostos –, os caridosos não terão o que distribuir. Mas isso não basta. O governo tem de fazer a sua parte e ser eficiente, do contrário o dinheiro se perde na burocracia e na corrupção.
Há alguns anos, o Banco Mundial fez severas críticas aos programas sociais – sobretudo nos países do terceiro mundo, nos quais apenas 20% de muitos programas chegavam ao destinatário final. Roberto Campos vivia escrevendo que os programas de ajuda social – a exemplo do Bolsa Família – devem ser instrumentos para mitigar a pobreza enquanto as pessoas se preparam para cuidar de si mesmas. Um homem somente tem condições de deixar a pobreza se ele acumular em si mesmo duas marcas: conhecimento e trabalho.
Foi pensando nisso que, ao assumir o Senado em 1983, Roberto Campos apresentou um conjunto de projetos voltados a dois temas: educação e emprego. Pela educação, o homem eleva seu nível de conhecimento; pelo emprego, ele tem a oportunidade de trabalhar e sustentar a si mesmo. Pois aí está o futuro da caridade coletiva. Os programas sociais deveriam exigir que os beneficiados se vinculem a programas de educação, treinamento e trabalho.
Confúcio, cinco séculos antes de Cristo, já ensinava: “Dê a um homem um peixe e você o alimentará por um dia. Ensine-o a pescar e você o alimentará por toda a vida”. Mas ensinar o homem a pescar é dar-lhe independência, e isso não é bom para os populistas que gostam de comprar votos com o dinheiro dos outros.
Uma sociedade tem dois caminhos para ajudar os pobres e os incapacitados para o trabalho. O primeiro é a caridade individual, pela qual somos levados a fazer doações para pessoas e instituições de assistência. O segundo é a caridade coletiva, cujo instrumento é o pagamento de impostos ao governo para que este, em nome da sociedade, monte programas sociais de ajuda.
O primeiro caminho depende da cultura nacional e dos costumes do povo. Ao contrário do que se apregoa por aí – sobretudo quando multidões acorrem para fazer doações a desabrigados em enchentes –, o povo brasileiro é um dos que menos contribui com doações individuais no mundo. As instituições filantrópicas vivem à míngua e a frase mais ouvida é “não dou dinheiro para essas instituições porque não confio nelas e em seus dirigentes”.
No Brasil, é raro um empresário ou um ricaço doar parte de sua fortuna – nem mesmo depois de morto – a qualquer instituição social. Em vida é que ninguém doa nada mesmo. Nesse ponto, os Estados Unidos dão um show. Somente Bill Gates e Warren Buffett doaram US$ 70 bilhões para uma fundação social. Quando Bill Gates fez um cheque de US$ 1 bilhão somente para o programa de combate à malária na África, a Madre Teresa de Calcutá deve ter se virado no túmulo e pensado: “Esse homem, em dois minutos, fez mais pelos africanos que milhões de voluntários em um ano”.
O segundo caminho – o da caridade coletiva – depende da arrecação de tributos pelo governo e da eficiência no gerenciamento dos programas sociais. Pelo imposto, até os de coração duro são levados a fazer o bem, desde que trabalhem, ganhem dinheiro e paguem os tributos. Roberto Campos dizia que “o mundo será salvo pelos eficientes, não pelos caridosos”. Se os eficientes não produzirem – e não pagarem impostos –, os caridosos não terão o que distribuir. Mas isso não basta. O governo tem de fazer a sua parte e ser eficiente, do contrário o dinheiro se perde na burocracia e na corrupção.
Há alguns anos, o Banco Mundial fez severas críticas aos programas sociais – sobretudo nos países do terceiro mundo, nos quais apenas 20% de muitos programas chegavam ao destinatário final. Roberto Campos vivia escrevendo que os programas de ajuda social – a exemplo do Bolsa Família – devem ser instrumentos para mitigar a pobreza enquanto as pessoas se preparam para cuidar de si mesmas. Um homem somente tem condições de deixar a pobreza se ele acumular em si mesmo duas marcas: conhecimento e trabalho.
Foi pensando nisso que, ao assumir o Senado em 1983, Roberto Campos apresentou um conjunto de projetos voltados a dois temas: educação e emprego. Pela educação, o homem eleva seu nível de conhecimento; pelo emprego, ele tem a oportunidade de trabalhar e sustentar a si mesmo. Pois aí está o futuro da caridade coletiva. Os programas sociais deveriam exigir que os beneficiados se vinculem a programas de educação, treinamento e trabalho.
Confúcio, cinco séculos antes de Cristo, já ensinava: “Dê a um homem um peixe e você o alimentará por um dia. Ensine-o a pescar e você o alimentará por toda a vida”. Mas ensinar o homem a pescar é dar-lhe independência, e isso não é bom para os populistas que gostam de comprar votos com o dinheiro dos outros.
O cartão de crédito vai estourar - VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP - 07/03
Desde 2005, Brasil gasta demais e perde a corrida da eficiência; assim, deficit externo cresce
DESDE 2007, o Brasil voltou a consumir "demais", compra mais do que vende, paga mais do que recebe, tem deficit externo (nas transações correntes, no jargão). É o padrão normal da nossa história. O superavit externo entre 2003 e 2007 foi uma raridade.
Agora, estamos à beira de ter deficit também no comércio, de importar mais que exportar (a balança comercial é uma parte das contas das transações correntes). Existe uma conversa sobre os motivos preocupantes da piora das nossas contas externas. Fala-se com nervosismo da alta das importações de combustíveis ou da baixa das exportações para a Argentina, por exemplo.
Mas isso é café pequeno. O grosso do problema vem de longe.
Tínhamos superavit comercial folgado porque consumíamos pouco aqui dentro. Em 2003, andávamos na pindaíba, o desemprego batia em 12%. Por outro lado, o mundo passava a consumir mais do que produzíamos, pagando mais também.
O ano de 2005 foi o auge da nossa balança comercial. A diferença entre exportações e importações era positiva, equivalente a 5% do PIB, do tamanho da economia. Agora, em fevereiro, o saldo comercial chegou a praticamente zero.
Sim, passamos a importar mais. Mas, desde janeiro de 2005, o salto das importações foi de uns 1,5% do PIB. As exportações caíram 3,5% do PIB. A baixa nas exportações deveu-se à queda das vendas da indústria.
Os motivos do tombo são diversos, embora entrelaçados.
Por exemplo, passamos a consumir mais aqui --sobra menos para exportar, digamos. Mais importante, nossos produtos ficaram caros, tanto porque o real ficou caro como porque os custos aumentaram (houve inflação). Além do mais, o mercado mundial para produtos industriais andou em baixa, por excesso de oferta, devido à crise mundial.
As causas da derrocada são uma política econômica ruim (inflação e deficit público crescente), problemas crônicos (impostos errados e infraestrutura péssima) e empresas que gostam de se encostar no governo, em busca de proteções, para ficar num resumo curto e grosso.
O aumento da importação não foi desimportante (e, claro, em parte tem a mesma causa da baixa de exportações: nossos produtos são caros). De 2005 para cá, o consumo de bens duráveis aumentou mais de 0,5% do PIB, alta forte, pois bens duráveis representam menos de 10% do total das nossas importações.
Mas o resumo da ópera é que consumimos além da conta, a eficiência é baixa e a política econômica é ruim.
Enfim, toda essa história de deficit externo e deficit comercial parece grave por dar a impressão de que estamos "no prejuízo". Porém, consumir mais do que produzir (ter deficit externo) pode ser interessante ou um desastre.
A fim de consumir mais do que produzimos, precisamos financiar a diferença no exterior. Até um certo ponto, até certo nível de deficit, os credores nos dão crédito. Agora, chegamos num nível de deficit chatinho, ainda mais porque a economia cresce pouco e está desarranjada. Pode faltar algum crédito.
Isso acaba por causar uma desvalorização do real e ajuda a reduzir nossa capacidade de consumo. Nada grave, pelo menos por ora. Ruim mesmo é não dar conta dos desarranjos que têm causado avarias econômicas, externas e internas.
Desde 2005, Brasil gasta demais e perde a corrida da eficiência; assim, deficit externo cresce
DESDE 2007, o Brasil voltou a consumir "demais", compra mais do que vende, paga mais do que recebe, tem deficit externo (nas transações correntes, no jargão). É o padrão normal da nossa história. O superavit externo entre 2003 e 2007 foi uma raridade.
Agora, estamos à beira de ter deficit também no comércio, de importar mais que exportar (a balança comercial é uma parte das contas das transações correntes). Existe uma conversa sobre os motivos preocupantes da piora das nossas contas externas. Fala-se com nervosismo da alta das importações de combustíveis ou da baixa das exportações para a Argentina, por exemplo.
Mas isso é café pequeno. O grosso do problema vem de longe.
Tínhamos superavit comercial folgado porque consumíamos pouco aqui dentro. Em 2003, andávamos na pindaíba, o desemprego batia em 12%. Por outro lado, o mundo passava a consumir mais do que produzíamos, pagando mais também.
O ano de 2005 foi o auge da nossa balança comercial. A diferença entre exportações e importações era positiva, equivalente a 5% do PIB, do tamanho da economia. Agora, em fevereiro, o saldo comercial chegou a praticamente zero.
Sim, passamos a importar mais. Mas, desde janeiro de 2005, o salto das importações foi de uns 1,5% do PIB. As exportações caíram 3,5% do PIB. A baixa nas exportações deveu-se à queda das vendas da indústria.
Os motivos do tombo são diversos, embora entrelaçados.
Por exemplo, passamos a consumir mais aqui --sobra menos para exportar, digamos. Mais importante, nossos produtos ficaram caros, tanto porque o real ficou caro como porque os custos aumentaram (houve inflação). Além do mais, o mercado mundial para produtos industriais andou em baixa, por excesso de oferta, devido à crise mundial.
As causas da derrocada são uma política econômica ruim (inflação e deficit público crescente), problemas crônicos (impostos errados e infraestrutura péssima) e empresas que gostam de se encostar no governo, em busca de proteções, para ficar num resumo curto e grosso.
O aumento da importação não foi desimportante (e, claro, em parte tem a mesma causa da baixa de exportações: nossos produtos são caros). De 2005 para cá, o consumo de bens duráveis aumentou mais de 0,5% do PIB, alta forte, pois bens duráveis representam menos de 10% do total das nossas importações.
Mas o resumo da ópera é que consumimos além da conta, a eficiência é baixa e a política econômica é ruim.
Enfim, toda essa história de deficit externo e deficit comercial parece grave por dar a impressão de que estamos "no prejuízo". Porém, consumir mais do que produzir (ter deficit externo) pode ser interessante ou um desastre.
A fim de consumir mais do que produzimos, precisamos financiar a diferença no exterior. Até um certo ponto, até certo nível de deficit, os credores nos dão crédito. Agora, chegamos num nível de deficit chatinho, ainda mais porque a economia cresce pouco e está desarranjada. Pode faltar algum crédito.
Isso acaba por causar uma desvalorização do real e ajuda a reduzir nossa capacidade de consumo. Nada grave, pelo menos por ora. Ruim mesmo é não dar conta dos desarranjos que têm causado avarias econômicas, externas e internas.
Otimistas e pessimistas - ARMANDO CASTELAR PINHEIRO
VALOR ECONÔMICO -07/03
A julgar pelo que se lê na imprensa, estar ou não preocupado com a economia depende de o observador ser pessimista ou otimista. Para Marcelo Kfoury, o investidor estrangeiro já percebeu a mudança de rota na política econômica e está mais otimista com o Brasil; enquanto "os investidores locais são mais céticos", talvez por "estar havendo interferência de debates movidos por paixões políticas" (Valor 5/3/2014). Já para Rogério Werneck, o problema é o oposto: para ele, há uma "demanda quase desesperada por otimismo que viceja no setor privado" (O Globo, 31/1/2014).
Nossa economia tem problemas sérios, que prejudicarão seu desempenho nos próximos anos? Ou se trata apenas de falhas de comunicação e "paixões políticas", que não deixam alguns analistas enxergar que a política econômica já sofreu correções relevantes, como vê Bráulio Borges (Valor , 6/3/2014), e bastam alguns ajustes para colocar a economia nos eixos, como sugere Tony Volpon (Valor Investe, 11/2/2014)? Esse debate apenas começou.
Para torná-lo mais produtivo, cabe considerar os principais pontos de preocupação. Aqui vai a minha lista.
Há um risco razoável de apagão elétrico. Segundo o Operador Nacional do Sistema, as usinas do Sudeste/ Centro-Oeste, responsáveis por 70% da geração no país, devem fechar março com 37,9% da capacidade, contra 54,1% um ano antes. A situação é menos preocupante no Nordeste (44,5% contra 42,9%), mas também difícil no Sul (37,9% contra 62,4%) e no Norte (87,3% contra 94,2%). Assustador que isso ocorra depois de se passar 2013 operando com quase todas as térmicas ligadas.
Os especialistas alertam para esse gargalo crescente e apontam que o risco de apagão será ainda maior em 2015. Como vamos ficar se a indústria voltar a crescer e o PIB parar de patinar em 2%? A dinâmica da dívida pública voltou a preocupar. Nos 12 meses anos a inflação foi de 6% ao ano.
Mas a inflação que o Banco Central (BC) controla, a dos preços livres, foi mais alta, de 6,9%. No processo, se comprimiram preços importantes, como os da gasolina, do diesel, das tarifas de eletricidade e de ônibus.
Estará o BC disposto a subir a Selic e conter o crescimento para fazer frente a isso? A postura do BC sugere que isso não é certo. Basta ver que o atual ciclo de alta de juros chega ao fim, ou quase, com uma Selic que ainda deixará a inflação de 2015 acima da meta. O leitor não leu errado; eu disse 2015.
Confirmadas as projeções de mercado, na média do quadriênio 2011-14 a inflação de preços livres terá ficado em 6,8%, mesmo com o PIB crescendo 1,9% ao ano. Isso sugere que o potencial de crescimento do PIB caiu bastante. Um dos motivos é que o emprego não cresce mais como antes, nem deve voltar a fazê-lo.
findos em janeiro, o superávit primário foi de 1,7% do PIB. O governo promete elevá-lo a 1,9% do PIB até dezembro, mas o analista mediano projeta 1,4% do PIB. Pessimismo? Pode ser, mas mesmo que o governo entregue o que prometeu, a dívida bruta vai aumentar, devido à crescente despesa com juros. Com a normalização da política monetária americana essa despesa vai crescer. A taxa de juros implícita da dívida líquida já está em 17,4% e vai subir.
Será que o governo vai elevar mais o superávit primário, inclusive para cobrir os gastos com a equalização de juros do Minha Casa Minha Vida e do Programa de Sustentação do Investimento, que não estão sendo pagos? Em 2013, as necessidades de financiamento externo do país bateram em 4,5% do PIB, o maior déficit na série atual das contas nacionais, iniciada em 1995. Eu acredito que esse hiato aumente este ano. A alta do déficit comercial no primeiro bimestre (US$ 6,2 bilhões, contra US$ 5,3 bilhões um ano antes) é um sinal nesse sentido.
No passado, déficits externos dessa ordem levaram a quedas fortes na demanda interna, com alta do desemprego e da inflação. Será diferente desta vez? Na média dos últimos quatro para produtos da área de gestão de fortunas - prática essa que alimenta a expansão artificial do crédito que se assemelha a um crescimento do M2. Nesse sentido, é a relutância das autoridades monetárias chinesas em abrir o setor financeiro formal ao capital privado nacional, ou de liberalizar a taxa de depósito, que está estimulando a expansão do setor bancário paralelo.
Com a incapacidade das empresas pequenas e médias - de longe o principal motor de crescimento da economia - de conseguir crédito suficiente do setor financeiro formal, elas foram obrigadas a recorrer aos canais informais. Pelo fato de o setor bancário paralelo ter se tornado a principal fonte de recursos para as pequenas e médias empresas - que tendem a ser tomadores de maior risco -, os riscos financeiros da economia chinesa cresceram exponencialmente.
O que ainda piora a situação é que os reiterados esforços do banco central chinês de enrijecer os meios de pagamento eleva o custo do capital. Em junho passado, a taxa de juros interbancária anualizada disparou para mais de 10% - nível que quase veio a igualar em dezembro. As pequenas e médias empresas são as que, em última instância, arcam com esses custos, o que diminui sua capacidade de contribuir para o A produtividade do trabalho também cresce pouco, mas há espaço para acelerar esse ritmo. Só que isso exige reformas que mexem com interesses estabelecidos e não há sinal de que o governo esteja disposto a fazê-las,nem que acredite nelas.
Eu acredito que o Brasil precisa realizar um ajuste duro, pouco palatável politicamente, entre outras coisas porque é um dos emergentes mais vulneráveis à normalização da política monetária americana (ver os números em bit.ly/1l1bQWI). Em especial, o elevado déficit externo, a inflação alta e persistente, e a inflação represada dos preços administrados indicam que é necessário reduzir a demanda doméstica. A desvalorização cambial deveria ter iniciado esse processo, mas não o fez porque o quadro externo piorou e o próprio governo não deixou.
Isso posto, acredito que o país não está à beira de uma crise; as reformas necessárias para acertar o rumo estão ao nosso alcance.
Apenas temo que a situação tenha que piorar antes que elas sejam feitas.
A julgar pelo que se lê na imprensa, estar ou não preocupado com a economia depende de o observador ser pessimista ou otimista. Para Marcelo Kfoury, o investidor estrangeiro já percebeu a mudança de rota na política econômica e está mais otimista com o Brasil; enquanto "os investidores locais são mais céticos", talvez por "estar havendo interferência de debates movidos por paixões políticas" (Valor 5/3/2014). Já para Rogério Werneck, o problema é o oposto: para ele, há uma "demanda quase desesperada por otimismo que viceja no setor privado" (O Globo, 31/1/2014).
Nossa economia tem problemas sérios, que prejudicarão seu desempenho nos próximos anos? Ou se trata apenas de falhas de comunicação e "paixões políticas", que não deixam alguns analistas enxergar que a política econômica já sofreu correções relevantes, como vê Bráulio Borges (Valor , 6/3/2014), e bastam alguns ajustes para colocar a economia nos eixos, como sugere Tony Volpon (Valor Investe, 11/2/2014)? Esse debate apenas começou.
Para torná-lo mais produtivo, cabe considerar os principais pontos de preocupação. Aqui vai a minha lista.
Há um risco razoável de apagão elétrico. Segundo o Operador Nacional do Sistema, as usinas do Sudeste/ Centro-Oeste, responsáveis por 70% da geração no país, devem fechar março com 37,9% da capacidade, contra 54,1% um ano antes. A situação é menos preocupante no Nordeste (44,5% contra 42,9%), mas também difícil no Sul (37,9% contra 62,4%) e no Norte (87,3% contra 94,2%). Assustador que isso ocorra depois de se passar 2013 operando com quase todas as térmicas ligadas.
Os especialistas alertam para esse gargalo crescente e apontam que o risco de apagão será ainda maior em 2015. Como vamos ficar se a indústria voltar a crescer e o PIB parar de patinar em 2%? A dinâmica da dívida pública voltou a preocupar. Nos 12 meses anos a inflação foi de 6% ao ano.
Mas a inflação que o Banco Central (BC) controla, a dos preços livres, foi mais alta, de 6,9%. No processo, se comprimiram preços importantes, como os da gasolina, do diesel, das tarifas de eletricidade e de ônibus.
Estará o BC disposto a subir a Selic e conter o crescimento para fazer frente a isso? A postura do BC sugere que isso não é certo. Basta ver que o atual ciclo de alta de juros chega ao fim, ou quase, com uma Selic que ainda deixará a inflação de 2015 acima da meta. O leitor não leu errado; eu disse 2015.
Confirmadas as projeções de mercado, na média do quadriênio 2011-14 a inflação de preços livres terá ficado em 6,8%, mesmo com o PIB crescendo 1,9% ao ano. Isso sugere que o potencial de crescimento do PIB caiu bastante. Um dos motivos é que o emprego não cresce mais como antes, nem deve voltar a fazê-lo.
findos em janeiro, o superávit primário foi de 1,7% do PIB. O governo promete elevá-lo a 1,9% do PIB até dezembro, mas o analista mediano projeta 1,4% do PIB. Pessimismo? Pode ser, mas mesmo que o governo entregue o que prometeu, a dívida bruta vai aumentar, devido à crescente despesa com juros. Com a normalização da política monetária americana essa despesa vai crescer. A taxa de juros implícita da dívida líquida já está em 17,4% e vai subir.
Será que o governo vai elevar mais o superávit primário, inclusive para cobrir os gastos com a equalização de juros do Minha Casa Minha Vida e do Programa de Sustentação do Investimento, que não estão sendo pagos? Em 2013, as necessidades de financiamento externo do país bateram em 4,5% do PIB, o maior déficit na série atual das contas nacionais, iniciada em 1995. Eu acredito que esse hiato aumente este ano. A alta do déficit comercial no primeiro bimestre (US$ 6,2 bilhões, contra US$ 5,3 bilhões um ano antes) é um sinal nesse sentido.
No passado, déficits externos dessa ordem levaram a quedas fortes na demanda interna, com alta do desemprego e da inflação. Será diferente desta vez? Na média dos últimos quatro para produtos da área de gestão de fortunas - prática essa que alimenta a expansão artificial do crédito que se assemelha a um crescimento do M2. Nesse sentido, é a relutância das autoridades monetárias chinesas em abrir o setor financeiro formal ao capital privado nacional, ou de liberalizar a taxa de depósito, que está estimulando a expansão do setor bancário paralelo.
Com a incapacidade das empresas pequenas e médias - de longe o principal motor de crescimento da economia - de conseguir crédito suficiente do setor financeiro formal, elas foram obrigadas a recorrer aos canais informais. Pelo fato de o setor bancário paralelo ter se tornado a principal fonte de recursos para as pequenas e médias empresas - que tendem a ser tomadores de maior risco -, os riscos financeiros da economia chinesa cresceram exponencialmente.
O que ainda piora a situação é que os reiterados esforços do banco central chinês de enrijecer os meios de pagamento eleva o custo do capital. Em junho passado, a taxa de juros interbancária anualizada disparou para mais de 10% - nível que quase veio a igualar em dezembro. As pequenas e médias empresas são as que, em última instância, arcam com esses custos, o que diminui sua capacidade de contribuir para o A produtividade do trabalho também cresce pouco, mas há espaço para acelerar esse ritmo. Só que isso exige reformas que mexem com interesses estabelecidos e não há sinal de que o governo esteja disposto a fazê-las,nem que acredite nelas.
Eu acredito que o Brasil precisa realizar um ajuste duro, pouco palatável politicamente, entre outras coisas porque é um dos emergentes mais vulneráveis à normalização da política monetária americana (ver os números em bit.ly/1l1bQWI). Em especial, o elevado déficit externo, a inflação alta e persistente, e a inflação represada dos preços administrados indicam que é necessário reduzir a demanda doméstica. A desvalorização cambial deveria ter iniciado esse processo, mas não o fez porque o quadro externo piorou e o próprio governo não deixou.
Isso posto, acredito que o país não está à beira de uma crise; as reformas necessárias para acertar o rumo estão ao nosso alcance.
Apenas temo que a situação tenha que piorar antes que elas sejam feitas.
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