sábado, junho 13, 2009

MÍRIAM LEITÃO

Contrafilé

O GLOBO - 13/06/09

A decisão das grandes redes de supermercados — Carrefour, Wal-Mart e Pão de Açúcar — de exigir dos frigoríficos comprovações de que a carne fornecida por eles não vem de áreas de desmatamento é um salto civilizatório. O caso vai separar as empresas modernas das arcaicas. As primeiras reações dos frigoríficos e da CNA não são animadoras. O BNDES ficou de averiguar as denúncias feitas pelo Greenpeace. Os supermercados tomaram a decisão certa.

Se as grandes redes cumprirem o que disseram, o consumidor brasileiro em breve terá o conforto de saber que, ao degustar um filé, não está derrubando a Amazônia.

O presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), Sussumu Honda, me disse numa entrevista recente que a tendência é que as grandes redes sejam seguidas em breve pelas redes regionais. Assim, a pressão pode se generalizar.

O frigorífico Bertin divulgou ontem um comunicado dizendo que já foi informado pelo Pão de Açúcar que não poderá fornecer carne das unidades industriais localizadas no Pará, e que vai acatar, só fornecendo de outras unidades.

Disse também que antes de fazer suas compras, faz consultas diárias à lista suja do trabalho escravo e à lista de propriedades embargadas pelo Ibama. Na nota, o frigorífico repete o que está em seu site: que já tinha descredenciado 141 produtores de gado de áreas embargadas pelo Ibama e 24 produtores que entraram na lista suja do trabalho escravo.

Outros frigoríficos, e os líderes da classe, preferem o arrogante silêncio ou o confronto.

A Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA) e a Associação das Indústrias Exportadores de Carne (Abiec), vão processar o Greenpeace, autor do estudo que rastreou a carne servida aos brasileiros e mostrou que os grandes frigoríficos tem unidades de processamento em região de desmatamento e compram de produtores que criam gado em área desmatada.

O BNDES foi acusado no estudo de ser sócio do desmatamento: tem R$ 6 bilhões em ações dos três maiores frigoríficos citados — JBS Friboi, Marfrig e Bertin. Ele ainda tem feito vultosos empréstimos ao setor. O banco se reuniu com o Greenpeace e divulgou esta resposta: “Vamos analisar cuidadosamente o relatório. Se forem comprovados indícios de irregularidades, serão adotadas medidas já previstas em contrato, que vão desde a suspensão dos desembolsos até o vencimento antecipado dos contratos”.

O diretor de campanhas do Greenpeace, Sérgio Leitão, (a propósito: não é meu parente), disse que saiu insatisfeito da reunião porque em três horas o banco não conseguiu responder às três perguntas fundamentais: quem são os financiados na cadeia da pecuária? Quando haverá uma auditoria independente como a que está sendo exigida pela Abras? Quais são as condições do financiamento aos três grandes frigoríficos? O Ministério Público, no começo do mês, entrou com 21 ações contra os frigoríficos e pecuaristas que produzem ou comercializam carne em áreas de desmatamento.

Neste caso, a resposta da CNA foi, de novo, ameaçar com “medidas judiciais cabíveis”.

Segundo a entidade ruralista, a ação do MP vai “inviabilizar toda a cadeia de pecuária de corte do Pará, que responde por 35% do abastecimento de carne do país”.

O Greenpeace fez uma investigação detalhada, mas não é o primeiro a falar isso.

Reportagens, estudos técnicos como os do Imazon, já vinham mostrando a estreita ligação entre pecuária e desmatamento no Brasil. A revista “Época” publicou, meses atrás, a lista dos grandes frigoríficos e suas unidades de abate em municípios campeões de desmatamento.

Perguntei, num programa recente na Globonews, sobre este texto da revista ao atual presidente da Abiec, Roberto Gianetti da Fonseca. Ele disse desconhecer o assunto e duvidar da informação. Eu entreguei a ele uma cópia da reportagem.

Isso foi antes do estudo do Greenpeace. As denúncias estavam sendo postas com frequência para os grandes produtores mas eles preferiram ignorar o alerta. Agora, veio o estudo da ONG e a reação das redes de supermercados.

A notícia correu o mundo.

Jornais estrangeiros e agências internacionais estão acompanhando o assunto e por dois bons motivos: a Amazônia é a maior floresta tropical do planeta e o Brasil é o maior exportador de carne. Seria ingenuidade achar que a falta de controle e o mau comportamento dos produtores não seriam vigiados por outros países. Aqui neste espaço alertei várias vezes o setor, como na coluna “Pecados da carne”, de 2007. O Brasil em poucos anos passou todos os seus competidores em exportação: Argentina, Nova Zelândia, Canadá, Austrália e Estados Unidos. Hoje, de cada três toneladas de carne exportada, uma sai do Brasil.

Com um desempenho assim, o certo a fazer era aumentar as garantias de produção sustentável, melhorar a sanidade animal, montar sistema de rastreabilidade para comprovar ao cliente a origem da carne.

Pressionados pelo mercado europeu, os grandes produtores — como esses citados no estudo: Marfrig, Friboi, Bertin — criaram sistemas de rastreabilidade para atender às exigências sanitárias.

Mas não adotaram o mesmo sistema para garantir que a carne não vem da Amazônia. A pressão do consumidor pode mudar isso.

ROBERTO POMPEU DE TOLEDO

REVISTA VEJA

Roberto Pompeu de Toledo
Palavras no muro

"Prepare-se o leitor para o sublime encontro entre
um autor anônimo, possivelmente sujo, talvez faminto
e desocupado, e um dos luminares da literatura"

O amor é importante, pombas. No original, não é "pombas". É um palavrão, que também começa com "po". A frase, desenhada com as letras angulosas e sem curvas dos grafiteiros, nas últimas semanas tomou conta de muros, paredes e beiradas de viadutos de São Paulo. Enfim, um grafiteiro inteligente. Ou poético, ou pungente, dependendo do estado de espírito de quem o lê. "O amor é importante, po", de autoria desconhecida, eleva o grafite paulistano da habitual indigência ao nível dos clássicos do ramo produzidos no maio de 1968 francês – "A imaginação no poder", "Seja realista: exija o impossível", "É proibido proibir".

O segredo da frase é a palavrinha que começa com "po" aposta à oração principal. É o que faz que um pensamento banal adquira vísceras e atinja o leitor. "O amor é importante", sozinho, seria uma bobagem. Ocorre que o grafiteiro queria dizer exatamente isso, que o amor é importante. Encontrou um jeito de driblar o lugar-comum ao socorrer-se do palavrão. O palavrão contrapõe-se à pieguice do desabafo sentimental e o redime. A violência do expletivo chulo compensa a moleza do pensamento central. Produz-se o inesperado. E o rabisco na rua alcança o patamar da beleza literária.

Esse mesmo fenômeno de uma expressão secundária, na frase, sobrepor-se ao principal e salvá-la encontra-se em… (em quê? em quem? …prepare-se o leitor para saltar dos clandestinos assaltos aos muros de São Paulo para os textos antológicos da literatura universal) …em Jorge Luis Borges. Não que se queira comparar o desconhecido grafiteiro com o criador do Aleph (ou melhor: é o que se quer, sim; prepare-se o leitor para o sublime encontro entre um autor anônimo, possivelmente sujo, talvez faminto, quase certamente desocupado, cuja diversão é vagar pelas ruas da cidade nas horas vazias da noite, e um dos luminares da literatura do século XX). O recurso empregado em "O amor é importante, po" é o mesmo de dois versos do poema La Luna, de Borges:

"Según se sabe, esta mudable vida

Puede, entre tantas cosas, ser muy bella".

A ideia central, a de que a vida pode ser bela, é simplória como a de que o amor é importante. A maravilha dos versos se deve ao "segundo se sabe" com que se abrem e ao "entre tantas coisas" que precede a qualificação da vida. Eis, de novo, a mágica de componentes secundários da frase – dois, neste caso – tomarem o lugar do principal e o modificarem a ponto de conferir-lhe estatuto de obra de arte. O "segundo se sabe" prepara o espírito para algo já muito repisado, e com isso ameniza a banalidade do que virá a seguir, mas não está aí seu efeito principal. Mais relevante é que se trata de uma expressão marcadamente prosaica, frequente em peças de argumentação, aquelas em que se procura defender um ponto, como um editorial de jornal, uma tese acadêmica ou um arrazoado de advogado. Encontrá-la num poema, a escorar um luminoso momento de encantamento com a vida, produz um contraste da mesma família do palavrão sacado pelo grafiteiro para sublinhar o recado de que o amor é importante.

O "entre tantas coisas" abre ao infinito o leque de feições que pode assumir a vida. Nenhuma surpresa. A vida pode ser bela, mas pode ser muitas outras coisas, feia inclusive. "Vida", como mulher fácil, pode ir com qualquer adjetivo. Mas aí que está. Se a vida pode ser também feia, trágica, cruel, frustrante e dura, além de agradável, surpreendente ou reconfortante, quando nos damos conta de que, "entre tantas coisas", ela pode também ser bela, aí sim é que se torna mais bela ainda. Se Borges tivesse apenas escrito que a vida pode ser bela, que decepção, para um escritor de sua estatura. Seria como se o grafiteiro afirmasse que o amor é importante, e ponto final. Ao escrever que a vida "puede, entre tantas cosas, ser muy bella", ele a torna extraordinariamente bela, ofuscantemente bela.

Se a frase do grafiteiro é digna de Borges, como aqui se procurou demonstrar, a recíproca é verdadeira. Borges é também digno do grafiteiro. Não. Não dá para imaginar o argentino, spray na mão, a esgueirar-se na noite, em busca do muro mais imaculado para aplicar sua marca, isso não. Mesmo porque enxergava mal e podia acidentar-se. Mas dá para imaginar o "Según se sabe, esta mudable vida…" aplicado a um muro, uma parede, uma beirada de viaduto. O efeito seria o mesmo do "O amor é importante, po". O de uma pausa, uma surpresa e um renovador respiro, em meio à selva da cidade.

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RUTH AQUINO

REVISTA ÉPOCA
O metalúrgico de Taubaté
O milionário da Mega-Sena retirou o prêmio horas antes do fim do prazo. O bilhete ficara três meses num copo de chope na estante
RUTH DE AQUINO
Revista Época
RUTH DE AQUINO
é diretora da sucursal de ÉPOCA no Rio de Janeiro
raquino@edglobo.com.br

Só poderia ser em Taubaté. Foi ali, a 140 quilômetros da capital paulista, que um metalúrgico corintiano virou celebridade anônima. A sorte o procurava desde março, quando a Mega-Sena premiou, com R$ 5,2 milhões, seu bilhete de R$ 1,75. Tinham sido sorteados os números em que apostava toda a vida. Mas ele não sabia. O canhoto do bilhete não estava, como de costume, debaixo da imagem de Nossa Senhora Aparecida. Horas antes de encerrar-se o prazo de 90 dias para retirar a bolada, na terça-feira, apareceu.

“Quase tive uma parada cardíaca”, disse. Na véspera, ele vira na televisão que a Caixa Econômica Federal estava em busca de um apostador de Taubaté. Era o concurso 1.055 da Mega-Sena, com dois premiados. Um já tinha retirado seus milhões. Onde andava o outro? Às 16 horas do dia seguinte, a fortuna menosprezada seria destinada ao Fies, fundo de financiamento de ensino superior do governo federal. Ele, que nunca colocara os pés numa universidade, acreditava tenazmente na sorte, nos santos e no Brasil. Já sabia que metalúrgicos corintianos podem chegar a presidente do país.

Ao ver os seis números do bilhete premiado, levou um susto. Checou na internet a notícia da televisão. Eram os mesmos números de 20 anos de apostas vãs. “Saí desesperado à procura do bilhete. Minha mulher tinha feito faxina e colocado o bilhete num copo de chope na estante.” A mulher do metalúrgico de Taubaté deve ter aprendido que não se mexe com a fé. O bilhete não poderia ter saído dos pés da imagem da santa para ir parar em algo tão mundano quanto um copo decorativo de chope. Mesmo que a cerveja também fosse sagrada para o marido nos fins de semana.

O apostador conta que passou a noite em claro quando viu que ficara milionário. E ficou mais nervoso ainda ao perceber que, por uma questão de horas, poderia ter ficado pobre novamente. “Não conseguimos dormir e só sossegamos quando a agência da Caixa abriu. Essa mania de mulher de fazer faxina e tirar as coisas do devido lugar... A sorte é que a minha guardou o bilhete.”

Só poderia ser em Taubaté, cidade paulista do Vale do Paraíba. Não por ser o endereço do Sítio do Pica-Pau Amarelo e do escritor de histórias fantásticas Monteiro Lobato. Mas porque ali nasceu e morreu uma sábia anônima, personalidade do povo, cultuada até em Brasília.

O milionário da Mega-Sena retirou o prêmio horas antes do fim do
prazo. O bilhete ficara três meses num copo de chope na estante

A velhinha de Taubaté, personagem imaginária criada pelo escritor Luis Fernando Verissimo durante o governo do general João Baptista Figueiredo, viveu 90 anos, de 1915 a 2005. Morava com um gato numa casa de madeira. A velhinha, dizia Verissimo, “é a última pessoa no Brasil que acredita”. “Ela acredita em anúncio, acredita em nota de esclarecimento, acredita até nos ministros da área econômica.” Acreditava. Não resistiu aos escândalos. No dia 25 de agosto de 2005, em plena crise do mensalão, ela teria morrido em frente à TV, decepcionada com a política brasileira, e especialmente com seu ídolo, Antônio Palocci.

“Ela morreu na frente da televisão, talvez com o choque de alguma notícia. Mas a polícia mandou os restos do chá que a velhinha estava tomando com bolinhos de polvilho para exame de laboratório. Pode ter sido suicídio”, escreveu Verissimo. Segundo ele, a importância da velhinha era medida pelo beija-mão de poderosos. Sarney, na Presidência, telefonava frequentemente para Taubaté, para saber se a velhinha, pelo menos, ainda acreditava nele. Collor foi visitá-la mais de uma vez para pedir que ela não o deixasse só.

É prudente que o metalúrgico não ceda a impulsos de posar com Lula em Brasília e conversar sobre destino e futebol. Perderia a paz. Mesmo sem divulgar o nome, a velhinha de Taubaté teria virado atração turística – perto de casa surgiriam estandes de tiro ao alvo, uma roda-gigante, tendas para vender caldo de cana e pamonha e até ônibus de excursão.

O apostador e a mulher acreditam que vão viver muito. Investiram R$ 3 milhões em previdência privada. Ele sempre acreditou na sorte, no Lula, no Ronaldo e no Corinthians. Mas vai contratar outra faxineira.

INFORME JB

Mulheres exigem espaço no pleito

Leandro Mazzini

JORNAL DO BRASIL - 13/06/09

O anteprojeto de minirreforma eleitoral tocado por um grupo suprapartidário na Câmara dos Deputados – cujos itens foram adiantados pela coluna – pode ganhar mais um ponto. Polêmico, não por enquanto. Mas o será se, nas campanhas, os partidos não respeitarem o que propõem as deputadas Luiza Erundina (PSB-SP) (D) e Alice Portugal (PCdoB-BA). Elas reivindicam ao deputado Flávio Dino (PCdoB-MA) (E), redator da proposta, que inclua na Lei 9.504/97 a obrigação de os partidos reservarem 30% das vagas na lista aberta para as candidatas à Câmara. Atualmente, esse índice não é respeitado pelas legendas. Dino vai levar a ideia ao debate no grupo. A minirreforma deve ser votada esta semana.

Mais um Ei, ei!

O deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR) vai além. Propôs uma PEC que reserva 30% das 513 vagas na Câmara para as mulheres. O redator é Flávio Dino.

Alice Portugal chegou a perseguir Dino nos corredores da Casa para cobrar dele a proposta.

Labuta

O presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), quer mostrar trabalho. Literalmente. Fez um levantamento de todos os projetos já aprovados em sua gestão até aqui. Foram 69 as proposições.

Agora vai

Destaca-se a PEC 22/09, que autoriza o divórcio depois de um ano de separação. Além do airbag obrigatório nos carros populares.

Batom na cueca

Nada louvável ontem, ao vivo na TV, um oficial presentear, com um livro, no meio de risos, uma repórter aniversariante, no fim da coletiva do desastre do AF447.

Tudo na rede

Por ordem do CNJ, tribunais do país terão de criar nos sites, até janeiro, o link Transparência, com dados da programação e execução orçamentária (despesas com pessoal e investimentos).

Brasil consciente

Pesquisa recente do Ibope mostra que quase duplicou a quantidade de entrevistados em desacordo com a afirmação "Não tenho interesse na proteção ambiental". Em 2000, só 29% não concordavam. O índice subiu para 55% no ano passado.

"Invasão"

A Limpeza Urbana de Duque de Caxias cansou de esperar a equipe do Rio e começou a limpar as margens da Linha Vermelha na altura de Vigário Geral. Cortam capim e tiram lixo.

Calmaria

Segundo assessores de Caxias, a turma da Prefeitura do Rio disse que também tinha pressa no serviço, mas daria "uma resposta" na próxima terça.

DIOGO MAINARDI

REVISTA VEJA

Diogo Mainardi
Eugh!

"Agora há menos socialistas na Europa do que na
assessoria de imprensa da Petrobras. Os imigrantes
beijam, tocam e cutucam a unha do pé. Os europeus
fizeram uma escolha. Entre os socialistas, que acolhem
os estrangeiros, e os direitistas, que prometem
mandá-los embora, eles preferiram os direitistas"

Um dos concorrentes do Big Brother do Reino Unido é nosso – é do Brasil. Os redatores do programa o caracterizaram da seguinte maneira:

"Ele abraça! Ele beija! Ele toca! É um fato cultural. Ao menos é o que ele diz...".

Além de beijar e de tocar, Rodrigo Lopes – esse é seu nome – também sonha em ficar preso no elevador com a rainha Elizabeth, tira meleca do nariz e cutuca a unha do pé. Comentário enojado dos redatores do Big Brother:

"Eugh!".

Como foi que ele, Rodrigo Lopes, acarinhando um, molestando o outro, tirando meleca do nariz e cutucando a unha do pé, acabou com o socialismo na Europa? Aconteceu de uma hora para a outra. A Europa tolerante, a Europa miscigenada, a Europa tomada por imigrantes de todas as partes, decidiu se fechar. Rodrigo Lopes é só um dos concorrentes estrangeiros do Big Brother do Reino Unido. Há também uma cantora russa, um estudante indiano, um estilista iraniano. Os ingleses, os franceses, os espanhóis, os italianos, os holandeses olharam essa gente toda e disseram:

"Eugh!".

Eleitoralmente, esse "Eugh!" representou, na última semana, a perda de 56 deputados socialistas – ou social-democratas – no Parlamento Europeu. Agora há menos socialistas na Europa do que na assessoria de imprensa da Petrobras. Só os lituanos ainda elegem socialistas. Os imigrantes beijam, tocam, tiram meleca do nariz e cutucam a unha do pé. Eles se dedicam também a um monte de outras besteiras. A maioria delas, ilegal. Os europeus fizeram uma escolha. Entre os socialistas, que acolhem os estrangeiros, e os direitistas, que prometem mandá-los embora, eles preferiram os direitistas, acabando – e acabando para sempre – com os socialistas.

Quando o poder público é tolerante com a ilegalidade, ele alimenta os intolerantes. Mas é uma palermice imaginar que o eleitorado europeu, rejeitando os imigrantes, tenha se tornado mais racista. Ele só tentou recuperar um certo sentimento de ordem que se perdeu nas últimas décadas. Num momento em que todos aplaudiam a retórica internacionalista de Barack Obama, com seus pressupostos de elasticidade moral, os eleitores europeus foram para o lado oposto, desafiando o dogma do multiculturalismo e reafirmando sua identidade local. Que mal há nisso? Nenhum.

Assim como a Europa repudiou os grandes planos de engenharia social, ela repudiou também os grandes planos de engenharia financeira. Nada de perder o controle do gasto público. Nada de imprimir dinheiro. Nada de zerar o juro. A receita europeia para recuperar a economia é mais simplória, mais caseira: aperto monetário e rigor fiscal. No ano passado, na ONU, Lula anunciou o triunfo do estatismo sobre o mercado, decretando a morte do neoliberalismo. Mas quem morreu primeiro foi o socialismo. "Eugh!"

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BRASÍLIA - DF

Meirelles ri à toa

LUIZ CARLOS AZEDO

CORREIO BRAZILIENSE - 13/06/09

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, ganhou mais uma parada. Foram para o espaço as críticas à política cambial. Luciano Coutinho, presidente do BNDES, por exemplo, defendia uma desvalorização do Real sem acabar com o câmbio flutuante. Como? Baixando a taxa de juros. Os juros foram reduzidos a um dígito pelo Banco Central (9,25%) e o Real continua se valorizando. O dólar, ontem, caiu mais 1,23% . Fechou em R$ 1,927. A moeda americana acumula queda de 17,4% no ano e, em plena crise, faz a alegria de quem gosta de viajar para o exterior, comprar produtos importados e exportar commodities (soja, milho, minérios de ferro, petróleo). Mas deixa no sufoco nossa indústria tradicional.

É a outra face do comportamento anticíclico da economia brasileira . Quando o preço das commodities sobe, o Real valoriza. Ou seja, o dólar cai em relação ao Real. É parte de um fenômeno mundial. O dólar australiano e o dólar neozelandês também variam de acordo com o preço das commodities. A valorização do real também resulta da queda da aversão ao risco. Os investidores correm para Brasil em busca de oportunidades de negócios.

Em maio, ingressaram US$ 2,570 bilhões em recursos externos no Brasil para aplicação na Bolsa de Valores. Os investimentos diretos atingiram US$ 2,750 bilhões. Os recursos estrangeiros aplicados em títulos públicos (renda fixa), atraídos pelo juro, ficaram em US$ 937 milhões. Os recursos externos no mês passado para aplicação em renda fixa não atingiram 15% do total que entrou. E Banco Central comprou U$ 3,63 bilhões dos U$ 3,7% que entraram líquidos no país. Ou seja, quase tudo.

O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu não gostou da indicação do presidente da BR Distribuidora, José Eduardo Dutra, como candidato do Campo Majoritário (hoje denominado Construindo o Novo Brasil) a presidente do PT. Avalia que o grupo paulista da antiga Articulação ficará à margem do centro de decisões da campanha de Dilma Rousseff (PT). Dutra foi uma indicação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Vacilou

O prestígio do presidente da Vale do Rio Doce, Roger Agnelli, nunca esteve tão baixo no Palácio do Planalto. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva acha que ele amarelou na crise mundial. A forma como a Vale enxugou os gastos da empresa e sustou investimentos, para o governo, ajudou a puxar a economia para baixo. Atrapalhou mais do que ajudou a enfrentar a crise. Além disso, fortaleceu os ministros que defendem a retomada do controle da empresa pelo governo, via fundos de pensão.

Sai daí

Amigos aconselham o diretor-geral do Senado José Alexandre Lima Gazineu a pedir demissão do cargo e botar a boca no trombone. Virou o bode expiatório dos atos secretos e outras coisas erradas da Casa. Além disso, o primeiro-secretário Heráclito Fortes, que ontem fez uma cirurgia bariátrica no Hospital Sírio e Libanês (SP) e passa bem, já tem um nome na manga do paletó para o seu lugar.

Fica

Na conversa que teve com o deputado Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), o presidente Lula elogiou Ciro Gomes. Ressaltou sua competência e fidelidade, e disse que ele deve manter a candidatura a presidente da República. Prefere o ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci (PT-SP) como candidato ao Palácio dos Bandeirantes.

No cafezinho

Azebudsman/ República encaminhada ao presidente Lula não foi eleita pela PGR, mas pela Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR). Com 482 votos, o subprocurador-geral Roberto Monteiro Gurgel Santos foi o mais votado. Em segundo, ficou o subprocurador-geral Wagner Gonçalves, com 429 votos, mais cotado para o cargo. A subprocuradora-geral Wiecko Volkmer de Castilho teve 314 votos.

Rouanet/ O deputado federal Geraldo Magela (PT-DF), será o novo presidente da Frente Parlamentar Mista em Defesa da Cultura, que defende a aprovação da PEC 150, que destina 2% dos recursos federais, 1,5% dos recursos dos estados e 1% dos recursos municipais para a cultura. As mudanças na Lei Rouanet também estão nos planos de Magela.

Refugiados/ O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), a Agência Espanhola de Cooperação Internacional(AECI) e o Instituto Cervantes promoverão de 18 a 21 de junho, em Brasíliaa I Mostra de Cinema sobre Refúgio e Migração "Cinema sem Fronteiras". Diretores latino-americanos e espanhóis abordam o refúgio e a migração no mundo.

Sobrou/ O senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) entrou em risco eleitoral. Para ter o apoio dos petistas, o governador Sérgio Cabral (PMDB) articula uma chapa ao Senado com o presidente da Assembléia, Jorge Picciani (PMDB), e o prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias (PT).

Desabafo/ Pedro Simon, desconsolado senador do PMDB gaúcho, diante do noticiário policial sobre o Congresso: "O Parlamento era o poder mais transparente, até descobrir que existem 500 atos secretos no Senado."

COISAS DA POLÍTICA

O escândalo que saiu do baú

Villas-Bôas Corrêa

JORNAL DO BRASIL - 13/06/09

Quando a temporada de escândalos do pior Congresso de todos os tempos parecia ter esgotado o repertório para a pré-campanha eleitoral, que começa a esquentar no primeiro trimestre do próximo ano, eis que surge do fundo do baú dos segredos da cumplicidade o que parece disputar o recorde do maior do período do mandato e meio da reeleição do presidente Lula.

A esta altura, a encruada CPI da Petrobras ou a esquálida CPI das ONGs foram rebaixadas das manchetes para os destaques das páginas internas. E desta vez cabe ao Senado o lugar no alto do pódio. Ele não compartilha com a Câmara dos Deputados, apesar das muitas leviandades e trampas do seu repertório, a descoberta que a Mesa do Senado vinha guardando a sete chaves, à espera da melhor hora de divulgar o seu feito histórico.

Vamos aos fatos, antes de mais delongas. A atenta e severa Mesa Diretora do Senado foi informada, com o suporte de dados preliminares, da descoberta de mais de 500 atos secretos, que nunca foram publicados no Boletim Administrativo, como é da rotineira exigência da lei, que distribuem, com a generosidade dos que lidam com o dinheiro da explorada Viúva, favores em cascata para senadores e a sua enorme parentela dos afins, além do cupinchas, cabos eleitorais e amigos do peito e do bolso, de nomeações aos privilégios que podem render mais do que o salário.

Alguns senadores com o queixo enterrado no pescoço mexem-se para a apuração rigorosa do tamanho da trapaça, uma vez que o seu principal responsável é de fácil identificação: o ex-diretor-geral do Senado Agaciel Maia, genial inventor da fraude dos atos secretos, utilizados pelos ex-presidentes nos últimos dez anos.

E na forma do costume a apuração deslizou como água de córrego, sem bulha, na maior moita. Quando começou a varredura, o otimismo da Mesa do Senado foi alimentado pela avaliação da comissão instalada para investigar os atos secretos, em cerca de 300.

De 300 para 500 é menos que o dobro, uma mixaria. Mas não há como manter o sigilo depois do estouro do traque. E o relatório, final que deveria ser apresentado hoje, ficou adiado para a próxima semana, tempo para recuperar o fôlego. O azar nunca anda sozinho. O Ministério Público vai pedir ao Tribunal de Contas da União (TCU) a anulação dos atos secretos e a devolução do dinheiro que os ex-felizardos embolsaram e, por certo, gastaram com a imprevidente com que se costuma dissipar o que não custou o suor e o esforço do bestunto.

Até aqui, a corriola dos senadores vinha tentando abafar o estrondo da denúncia, com o pinga-pinga da liberação das apurações nas últimas páginas do Boletim Administrativo.

Não será tarefa para amadores encolher escândalo que se alinha entre os recordistas, com o tom de criatividade e ineditismo, da nomeação secreta de meio milhar de parentes, amigos, cupinchas, crias da casa, além de cargos de agentes secretos, aumentar salários ou a mais simples criação de horas extras sem limite.

Afinal, a longa permanência do ex-diretor-geral do Senado Agaciel Maia, e a sua prosperidade de milionário pródigo, tem a sua explicação exposta à luz dos números na apuração da comissão criada para apurar o milagre. Até prova em contrário, senadores de todos os partidos, do governo e da oposição fartaram-se nos banquetes do ex-diretor-geral. Nada impedirá que contamine a campanha eleitoral e seja um dos destaques da rede nacional de TV e na de rádio para a propaganda eleitoral gratuita.

O líder do DEM, senador José Agripino Maia, antecipou-se na cobrança pública de punições e "com a devolução dos recursos aos cofres públicos". Não é tudo. O freio de mão da cautela aconselha prudência antes de conhecidos os beneficiários com a sangria secreta. Pois, o escândalo tem todo o jeito de ser superpartidário.

Mais afoito, o líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), adiantou que vai pedir a demissão do ex-diretor do Senado Agaciel Maia, por improbidade administrativa. Com a agravante de ter mentido quando questionado por senadores: "Perguntei ao Agaciel se havia atos secretos nesta Casa, ele respondeu que não. Já pedi as notas taquigráficas para entrar com um processo administrativo por ele ter mentido aos senadores".

Se não perder o embalo, este será o escândalo do ano.

GOSTOSA DO TEMPO ANTIGO


MAÍLSON DA NÓBREGA

REVISTA VEJA

Maílson da Nóbrega
O terceiro mandato arruinaria a economia

"O Brasil se distanciaria das nações bem-sucedidas, cuja trajetória de êxito precisamos e devemos emular"

Morreu a ideia de um terceiro mandato consecutivo para Lula. Mesmo que ele quisesse (o que não parece ser o caso), a proposta, de autoria do deputado Jackson Barreto (PMDB-SE), precisaria estar em vigor até setembro (artigo 16 da Constituição). Não há tempo hábil para aprovar uma emenda constitucional dessa complexidade.

Ainda assim, a ideia não pode ficar insepulta. É necessário enterrá-la. Há que desmontar a tese dos que a defendem com base nas quatro eleições de Franklin Roosevelt. É preciso desmoralizar os que a justificam com a crise e supostos riscos de ruptura na política econômica em caso de vitória da oposição.

Quando Roosevelt venceu pela primeira vez (1932), vigorava regra informal que restringia a dois o número de mandatos dos presidentes americanos. A norma surgiu com George Washington, o herói da guerra de independência e da Constituição (1787), e primeiro presidente. Para ele, cada um de seus passos estabeleceria precedente na nação que então nascia. A posse, a postura no governo e outras ações seriam exemplo para o futuro. Ele renunciou aos honorários, apesar de endividado. Entendia que o exercício do cargo seria a maior recompensa. Por razões óbvias, esse exemplo não vingou.

Reeleito em 1792, Washington rejeitou apelos para disputar o terceiro mandato. Não queria parecer um novo monarca. Diz-se que a recusa teria sido motivada por sua frágil saúde, mas a regra foi seguida por Thomas Jefferson, o terceiro presidente e autor da Declaração de Independência. E ficou até 1932.

As quatro eleições de Roosevelt salientaram a necessidade de institucionalizar o limite. Na era da comunicação de massa (que então surgia) um presidente pode eternizar-se, o que é indesejável. Daí a emenda constitucional 22, de 1951, que restringe o exercício da Presidência a dois períodos, consecutivos ou não. Assim, Roosevelt foi razão para limitar e não para ampliar o número de mandatos.

Lula provavelmente ganharia as eleições de 2010 caso lhe fosse possível concorrer. Viraríamos uma "democracia plebiscitária", em que o líder se comunica diretamente com as massas, sem peias institucionais. Um perigo. Eleições não caracterizam uma democracia. Hitler, Mussolini, Saddam Hussein e Hugo Chávez foram eleitos pelo povo.

A aprovação do terceiro mandato abriria campo para o quarto, e assim sucessivamente. Lula seria o nosso Chávez. Por isso, no presidencialismo há que limitar a reeleição, enquanto no parlamentarismo a regra é dispensável, pois maus governos podem ser destituídos a qualquer tempo. Mesmo assim, já se reivindica o limite de dois mandatos na Inglaterra, o berço do Parlamento moderno.

Na economia, a demanda do terceiro mandato parece estar associada a temores quanto aos instintos intervencionistas do candidato da oposição que lidera as pesquisas. Agentes de mercado sabem lidar com riscos, mas não com incertezas. Na dúvida, prefeririam a continuidade do governo que já conhecem.

Acontece que o crescente prestígio do Brasil se deve à percepção de que nossas instituições políticas e econômicas freiam o populismo. A estabilidade, o potencial de crescimento e o êxito em atravessar a atual crise atraem investimentos e ampliam o otimismo com a economia. Mas o pano de fundo é a convicção de que há restrições institucionais ao continuísmo político, que costuma dar origem ao arbítrio.

É equivocada, assim, a ideia de que o terceiro mandato de Lula seria fundamental para evitar o risco de uma ruptura desastrosa na gestão macroeconômica (pouco provável caso a oposição vença). O terceiro mandato abalaria a confiança construída nos últimos anos. Seria péssimo para a economia. O Brasil se distanciaria das nações bem-sucedidas, cuja trajetória de êxito precisamos e devemos emular.

É necessário estar alerta aos áulicos e ingê-nuos que defendem o terceiro mandato, agora e no futuro. Nos EUA, já existe um movimento para revogar a emenda 22 e tornar possível um terceiro mandato para Barack Obama (www.end22.com). Lá, a solidez dos 220 anos da Constituição e as convicções democráticas bloqueiam a proposta. Aqui, nossa jovem democracia ainda não dispõe dessa couraça. Todo o cuidado é pouco.

PAINEL DA FOLHA

Primeiros passos

RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 13/06/09

A partir do sinal verde dado pelo próprio Ciro Gomes (PSB) para a tentativa de colocar em pé sua candidatura ao governo de São Paulo no ano que vem, começam a sair do armário os partidários da ideia. Além do líder da bancada federal, Cândido Vaccarezza, José Genoino é um dos petistas mais simpáticos à ‘importação’’ do hoje deputado pelo Ceará.
O ‘ok’ dado pelo presidenciável também animou os artífices da tese a rascunhar qual seria a chapa ideal para atender a todos os interesses dos partidos envolvidos. A mais falada hoje incluiria Eduardo Suplicy (PT) para vice, e Aloizio Mercadante (PT) e Aldo Rebelo (PC do B) como postulantes ao Senado.

Viés de baixa - O governo de Goiás já é o plano B de Henrique Meirelles. O presidente do Banco Central não só cogitou seriamente disputar o Planalto como chegou a encomendar pesquisa para medir suas possibilidades.

Churrascaria - Sob o discurso do novo, Beto Albuquerque (PSB) tenta amarrar PC do B, PDT, PP e PTB em torno de sua candidatura ao governo do Rio Grande do Sul. ‘Estamos cansados desse rodízio político que serve as mesmas carnes há 16 anos’, diz o vice-líder do governo.

Prós... - Depois de costurar o apoio do governador Eduardo Braga (PMDB) e do prefeito de Manaus, Amazonino Mendes (PTB), à sua candidatura ao governo, o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento (PR), acena também para Arthur Virgílio.

... e contras - O acordo facilitaria a reeleição do líder tucano, mas deixaria o candidato presidencial do PSDB sem palanque no Amazonas.

Bonde - Paulo Hartung (PMDB) também tenta montar uma aliança ampla no Espírito Santo. A chapa mais provável no cenário atual tem Renato Casagrande (PSB) como candidato ao governo, com o próprio Hartung e o prefeito de Vitória, João Coser (PT), para o Senado.

Carona - O senador Magno Malta (PR) ainda tenta entrar no trem, mas o governador tem restrições a ele.

Curinga - Com quem conversa, Lula só tem elogios para Franklin Martins. O ministro da Comunicação Social desfruta de posição singular: está muito próximo do presidente e igualmente de sua candidata, Dilma Rousseff.

Ai! - Nos últimos dias, Lula voltou a reclamar de fortes dores nas costas.

Nova roupa - Quem conhece a rotina do TSE duvida que Joaquim Barbosa venha a manter, no comando do tribunal, o princípio de não receber advogados, que adota no STF.

Drive-thru - Durante a campanha eleitoral, as decisões precisam ser tomadas com rapidez, o que não raro exige contato direto do presidente com os representantes das partes envolvidas.

Quem sabia 1 - Além de Agaciel Maia e Alexandre Ganizeo, tinham conhecimento dos atos secretos da Mesa os diretores de Recursos Humanos do período, os senadores que tiveram nomeações às escondidas em seu gabinete e o ex-advogado-geral do Senado Antonio Cascais.

Quem sabia 2 - Também estavam cientes de que alguns atos não iam a publicação todos os ocupantes da primeira-secretaria desde que a prática começou a vigorar e os presidentes em cujos períodos foram feitos expedientes secretos. Daí a calma de Agaciel.

Tiroteio

Esta será a CPI da Batalha de Itararé, aquela que nunca aconteceu.
Do deputado CHICO ALENCAR (PSOL-RJ), sobre declaração do presidente do PSDB, Sérgio Guerra, segundo quem a oposição concorda em não investigar certos ‘setores da Petrobras’ para não prejudicar os negócios da empresa.

Outro lado - A Petrobras diz que respondeu a todos os requerimentos originários da Câmara e do Senado e encaminhados pelo Ministério de Minas e Energia à estatal. Segundo a Petrobras, de 2003 a 2009 foram respondidos 273 pedidos, de assuntos diversos.

Contraponto

Prendas domésticas

Presidente do PT do Paraná, Gleisi Hoffmann dava entrevista na manhã de ontem a uma emissora de rádio de Paranavaí. Depois de uma bateria de perguntas político-eleitorais, o entrevistador fez menção à data especial:
-E o que a senhora deu de presente para o ministro Paulo Bernardo pelo Dia dos Namorados?
-Ah, eu dei uma nova panela de pressão, que ele andava reclamando muito da antiga.
-Panela de pressão?- estranhou o entrevistador.
Gleisi, que não esconde a falta de traquejo culinário e delega as refeições especiais ao marido, explicou:
-É uma panela japonesa, bonita e muito prática. Acho que até eu serei capaz de usá-la!

GUARANÁ CHAMPAGNE


RUY CASTRO

A sétima corda

FOLHA DE SÃO PAULO - 13/06/09

RIO DE JANEIRO - Quando algo do dia a dia me intriga ou perturba, e faltam-me as palavras para definir tal incômodo, não vacilo: apelo para os mestres. Eles podem estar nos livros, nos discos ou nas rodas vadias. Não por acaso, Nei Lopes frequenta todos esses veículos. Neste momento, seu novo CD, "Chutando o Balde", é que me tem valido.
Como Nei, acho ridículo que as pessoas usem o boné com a pala para trás. Coisa de americano débil, claro, mas por que a moda tinha de pegar aqui? Agora já sei. Em "Pala pra Trás", ele esclarece: "A pala é a maior proteção/ Pros olhos e a visão/ Quando a luz é demais/ A não ser que a sensibilidade / Em Vossa Majestade/ Venha de trás".
Também como Nei, sou dos que se envergonham de ver certos brasileiros -"fake/ tudo fashion, tudo teen"- comemorando o Halloween. Mas só ele imaginou uma cena em que pseudo-darks e góticos, brincando de chamar coisa ruim num apê de cobertura, invocam justamente quem não queriam -de repente, "a cigana/ rodou a baiana/ riscou fogo no estopim/ Pombajira baixou no Halloween".
E, sempre como Nei, não me conformo ao ver a música popular atrair palavras ingênuas para fora do dicionário e corrompê-las com inglórios novos sentidos. Ele corrige: "No meu dicionário, roqueiro é aquilo/ Que fica lá em cima da rocha/ E fanqueiro é o cara/ Que vende tecido/ De linho e algodão/ Pra mim, sertanejo/ É, antes de tudo, um forte/ E axé é força e boa sorte/ No meu dicionário/ Galera é apenas uma embarcação".
Em outro grande samba do disco, Nei resume tudo ao falar dos oportunistas pouco à vontade dentro do terno de linho e do pisante branquinho, que batem o pandeiro "com mais ódio que amor" e, como só são sambistas porque essa agora é a onda, podem acabar se enforcando na sétima corda.

PANORAMA

REVISTA VEJA

Panorama
Holofote

Felipe Patury


O caso Palocci

Sergio Lima/
Folha Imagem


Uma pesquisa encomendada pelo PT lançou dúvidas no partido sobre a eventual candidatura a governador do deputado Antonio Palocci. Ele já é conhecido por 40% dos paulistas, um bom índice. O problema surge na análise qualitativa. Metade dos que se lembram dele menciona fatos negativos do seu passado, como a quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo, e não o fato de ele ter sido um ótimo ministro da Fazenda. Marta Suplicy é a petista com maior intenção de votos: 9%. Palocci e o senador Aloizio Mercadante têm 3%. O ministro da Educação, Fernando Haddad, e o prefeito de Osasco, Emidio Souza, 2%. O tucano Geraldo Alckmin tem 53%.

Marcos Ribolli

Dia dos namorados

Neto do bilionário Aloysio Faria, Felipe Faria está montando uma confecção para a namorada, Janaína Barbosa. A JEF, que unirá as iniciais de ambos, custará 2 milhões de reais e terá sua primeira loja no bairro dos Jardins, em São Paulo. Isso é que é namorado...

Bala no trem

Roosewelt Pinheiro/ABR


O projeto do trem-bala entre o Rio e São Paulo conta com a desconfiança do governo paulista, da diretoria do BNDES e do presidente do banco, Luciano Coutinho. Suspeita-se que não haverá passageiros suficientes para justificar o investimento, estimado em 15 bilhões de dólares. Essa é a versão bem-comportada das críticas. Nas mais duras, os tucanos chamam o trem de "fura-fila" de Dilma Rousseff, a candidata do PT à Presidência em 2010. É uma referência ao factoide que ajudou Celso Pitta a se eleger prefeito de São Paulo em 1996.

É terceiro ou é segundo?

Valter Campanato/ABR


Uma pesquisa eleitoral feita pelo Vox Populi na Bahia, no fim de maio, ouviu 3.000 pessoas. Pelos resultados, o governador Jaques Wagner lidera a corrida para um segundo mandato com 34% das intenções de voto. Paulo Souto, do DEM, fica com 24%. O ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, tem 19%. Os índices de rejeição seguem essa toada. Não votariam em Wagner 24% dos eleitores, em Souto 20% e em Geddel 11%. Uma mudança ocorre quando não se apresenta lista de candidatos aos entrevistados. Nesse caso, Wagner aparece com 12% e Geddel, com 7%, ultrapassa Souto, que fica com 5%.

Resgate holandês

Divulgação


Líder mundial na produção de soja não transgênica, a Imcopa, de Frederico Busato, imergiu na crise financeira e deixou de pagar dívidas de 90 milhões de dólares. A saída depende de uma negociação com a holandesa Nidera, que, há um mês, faz uma auditoria na Imcopa. A Nidera quer comprar parte da empresa em associação com a japonesa Toyota.

Era uma vez uma casa de praia

Jarbas Oliveira

O empresário Tales Cavalcante há anos propala ter a mais espetacular casa de praia do Ceará. Avaliado em 4 milhões de reais, seu refúgio na Prainha do Canto Verde tem 900 metros quadrados e está alojado em um terreno do tamanho de quatro campos de futebol. Dono do maior grupo educacional do estado, Cavalcante orgulhava-se de hospedar celebridades. A apresentadora Xuxa, por exemplo, era uma convidada habitual. Era. Na semana passada, porém, um decreto presidencial transformou sua propriedade em reserva extrativista.

FERNANDO RODRIGUES

Lula e o PIB

FOLHA DE SÃO PAULO - 13/06/09

BRASÍLIA - Como bem escreveu Oscar Pilagallo na Folha nesta semana, a relação entre economia e política não é tão direta como na frase do marqueteiro James Carville ("é a economia, estúpido").
Há exemplos de políticos se dando bem com a economia em desarranjo. Fernando Henrique Cardoso se reelegeu em 1998 mesmo com o PIB brasileiro estagnado.
Já outros perdem mesmo quando as finanças do país dão sinais de reação. Em 1984, o Brasil cresceu 5,4%. Em 1985, o percentual foi de 7,9%. Ainda assim, o momento era de mudança. O candidato governista a presidente, Paulo Maluf, foi derrotado no Colégio Eleitoral.
Os casos em que políticos sofrem reveses eleitorais apesar de a economia estar andando para a frente são curiosos, porque nada têm a ver com as finanças do país. São momentos em que a população resolve mudar. É uma força difícil de conter. Atropela o establishment.
Mas, quando há um desejo de continuidade, vale a mesma lógica.
Essa é a variável trabalhada pelos lulistas. Propagam a interpretação de cristalização iminente de um desejo continuísta no eleitorado. O PIB reagindo e apontando para um crescimento em 2010 seria só a cereja num bolo político cuja preparação está em curso.
Pela estratégia traçada no Planalto, Lula repetirá o mesmo caminho de outros políticos. Venderá um oximoro ao eleitor: avance parado, não mude para ir adiante. Franco Montoro elegeu Orestes Quércia governador de São Paulo. Paulo Maluf emplacou Celso Pitta prefeito paulistano. Por obra de prestidigitação política, o eleitor de Quércia acreditou estar elegendo Montoro. O de Maluf enxergou em Pitta a perenização do malufismo.
Em todos esses casos, o criador sempre era muito mais popular do que a criatura. Dá-se o mesmo com Lula e Dilma Rousseff. E o petista ainda terá o PIB a seu favor.