segunda-feira, agosto 23, 2010

MARCELO DE PAIVA ABREU


Desfaçatez em escala industrial
Marcelo de Paiva Abreu
O ESTADO DE SÃO PAULO - 23/08/10


Decididamente, há algo de podre no reino da Dinamarca. A farta lubrificação fiscal promovida pelo governo para eleger a sua candidata tem feito os agraciados com as suas benesses perder a compostura na defesa de seus interesses privados, quase sempre tentando confundi-los com os interesses do País.

O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) concedeu memorável entrevista (jornal Valor de 17/8), em que defende as políticas públicas que o Brasil deveria adotar. As importações deveriam ser "penalizadas", controladas quantitativa e qualitativamente, o Brasil teria que, "de alguma forma, se fechar". "O duro é aumentar salário para o cara consumir bem importado." "Importação benéfica para o país é aquela que complementa além do limite (que é possível) produzir. Se há demanda para 105 e produzimos 100, assim os 5 vêm de fora, para equilibrar a inflação." A taxa Selic deveria ser reduzida para permitir a desvalorização cambial. "A nossa taxa deveria ser um ou dois pontos porcentuais acima da inflação." "Precisamos de três bancos como o BNDES para atender à demanda por investimentos." "Essa discussão sobre o BNDES é secundária e inoportuna." Não há qualquer referência às raízes microeconômicas das dificuldades competitivas da indústria. Tudo é resultado da política macroeconômica indevidamente restritiva e do dumping praticado pelos nossos parceiros comerciais.

O primitivismo é estarrecedor. O modelo de crescimento advogado combina acesso a fontes de financiamento subsidiado do investimento, insumos baratos e reserva de mercado. Tudo apresentado como se fosse novidade e bom para todos nós. Em que isso se diferenciaria do que foi feito no passado? Muitas décadas de protecionismo redundaram em gordos lucros para os cartórios protecionistas e muito pouca inovação. Como é mesmo que essa tradição seria contrariada? O entendimento do presidente da Fiesp do que seja comércio internacional é uma completa sandice: os preços não têm função, o papel das importações é meramente residual. Há clara tolerância quanto à aceleração inflacionária. O que se prega não tão veladamente é o abandono do regime de metas de inflação. Não interessa quem paga a conta da proteção ou da inflação. E o lamento vem de um empresário cujos negócios vêm sendo beneficiados por notável aumento de preços de commodities.

Em vista da pobreza da argumentação, a entrevista não é eficaz nem mesmo como defesa de interesses setoriais. Se a Fiesp desejasse seriamente abrir caminho para a redução de juros, deveria concentrar suas baterias na contenção de gastos públicos. E a agenda para reduzir o custo Brasil é longa: melhoria da infraestrutura, incentivos à inovação com o uso de subsídios seletivos. Não há objeção a gasto público efetivamente contracíclico - e não fantasiado de contracíclico - nem a defesa comercial sem viés protecionista.

A entrevista veio na esteira de um manifesto em defesa do BNDES, assinado por entidades que congregam empresas que se beneficiam dos empréstimos a taxas subsidiadas do próprio BNDES. Que valor efetivo pode ter manifestação que simplesmente afirma o seu apoio a um sistema que lhe permite acesso a benefícios que não são universalmente disponíveis. Tenho certeza de que 190 milhões de brasileiros assinariam um documento que expressasse a sua preferência por maior volume de recursos do que hoje dispõem. Tal documento, ao simplesmente expressar um axioma conhecido sobre o comportamento dos agentes econômicos, seria tão trivial quanto o manifesto dos comensais da farra do BNDES.

O manifesto foi duramente criticado por analistas que questionaram a concessão de subsídios a projetos de duvidoso interesse público, a falta de transparência que cerca as operações do banco e as artimanhas que estão sendo utilizadas pelo governo para violar as suas próprias metas fiscais. E não é que surgem agora defensores ardorosos do manifesto e que pretendem inaugurar uma nova era no processo de mistificação da opinião pública? A história é assim. Funcionário de empresa multinacional é diretor de uma associação de classe signatária do manifesto pró-BNDES e também professor universitário. O manifesto, uma simples variante da frase trivial "prefiro mais dinheiro a menos", foi duramente criticado. A reação do diretor é vestir a pele de professor e, sem explicitar a sua condição de diretor da entidade signatária, defender o manifesto. Haja conflito de interesses...

Em tempo: os argumentos, sejam do professor, sejam do diretor, são péssimos. Os empréstimos do BNDES são subsidiados com base em qualquer análise econômica aceitável. A tentativa de ocultar o óbvio rentismo industrial com base na denúncia de rentismo financeiro é pífia. A taxa Selic poderia ser reduzida se os gastos públicos fossem disciplinados. Alternativamente, poderia ser abandonado o regime de metas de inflação, mas parece haver falta de coragem para usar este argumento publicamente.

É o país do "quero o meu", defendido com ares de que é bom para todos. Às favas com o interesse público. E danem-se os conflitos de interesses.

Marcelo de Paiva Abreu é DOUTOR EM ECONOMIA PELA UNIVERSIDADE DE CAMBRIDGE, É PROFESSOR TITULAR NO DEPARTAMENTO DE ECONOMIA DA PUC-RIOD

SERRA PRESIDENTE

ANTONIO PENTEADO MENDONÇA

Previdência privada exige cuidados

Antonio Penteado Mendonça
O Estado de S. Paulo - 23/08/2010
 
 Se o valor a ser investido for alto, é melhor buscar uma gestão profissional e ficar atento ao custo da taxa de administração
O que é melhor: um plano de previdência privada aberta ou uma carteira de investimentos? Como sempre, quando se trata de aplicações financeiras, depende. Depende do perfil do investidor, das quantias a serem investidas, do tempo do investimento e, acima de tudo, da paciência e dos nervos para eventualmente aguentar emoções fortes ao longo do percurso.
Se a soma a ser investida for muito alta, não há razão para o aplicador não diversificar, colocando o dinheiro numa vasta gama de investimentos diferentes para permanentemente aproveitar as vantagens imediatas e de longo prazo de cada um deles, otimizando o resultado final com a soma dos resultados de cada aplicação ao longo do tempo.
Ou, melhor ainda, por que não dar o dinheiro para ser investido por alguém especializado na gestão de grandes fortunas? De grandes organizações financeiras a gestores altamente profissionalizados, com foco em negócios menores, há toda uma gama de opções para a gestão de ativos, que, com certeza, conseguirão resultados mais expressivos que a imensa maioria das outras aplicações.
Como a imensa maioria da população com capacidade para ter um plano de previdência privada ou fazer uma cesta de aplicações não se enquadra no desenho anterior, a pergunta inicial começa a ser respondida pela própria dinâmica da vida. A maioria de nós não tem tempo ou acesso às informações de mercado para fazer a gestão de nossos ativos no nível de sofisticação indispensável para conseguir aproveitar o melhor momento de cada aplicação.
Assim, o plano de previdência privada aberta, tendo claro que estamos falando de investimentos com maturação de dez anos, passa a ser, pelas próprias características do produto, uma solução no mínimo inteligente, na medida em que tem uma enorme redução da carga tributária como contrapartida para o prazo da aplicação. O que não acontece com os outros tipos de investimento, que carregam a mesma carga tributária por todo o tempo da aplicação.
Em nenhum país, onde aplicações de longo prazo são normais, se consegue uma rentabilidade real acima de 6% ao ano, durante todo o período em que o dinheiro fica investido neste tipo de produto. Pelo contrário, invariavelmente a rentabilidade mal atinge 3% reais ao ano, tanto que algumas nações tiveram que mudar a legislação que tratava destas aplicações para preservar as empresas gestoras, porque, em função da oscilação dos juros ao longo do tempo, não estavam conseguindo pagar a remuneração mínima exigida pela lei. 
Além disso, a aplicação em previdência privada aberta dá ao investidor um corpo de gestores especializados para administrar seus recursos. Ainda que dispondo de valores bem menores do que os exigidos pelos administradores de patrimônio, o aplicador em previdência privada aberta passa a contar com uma equipe de profissionais preparados para tomar as decisões na gestão de seu dinheiro.
Será que uma carteira com valores semelhantes, tocada individualmente pelo aplicador, teria a mesma vantagem ou as decisões teriam que ser tomadas diretamente pelo interessado, sujeitas a informações não confiáveis ou ao desconhecimento dos detalhes de cada investimento?
O problema com os planos de previdência privada aberta é quanto é cobrado pela operadora para administrá-los. Atualmente, este custo pode comprometer seriamente o resultado do plano. A tendência dos juros, no longo prazo, é de queda. Além disso, a inflação está na casa dos 4% ao ano. Assim, com base na taxa de juros atual, a remuneração real de um investimento típico de classe média não ultrapassa os 6% ao ano.
Se a operadora do plano de previdência privada aberta cobra os mesmos 6% ao ano, a remuneração do plano será inteiramente dela, em detrimento do investidor que deveria ser o beneficiário da aplicação.
Várias operadoras já estão aceitando reduzir suas taxas. Se a sua ainda não o está fazendo, valha-se da portabilidade para mudar de plano e ganhar mais do que sua remuneração atual.

GOSTOSA

LUIZ ANTONIO SANTINI

Mais chances

 Luiz Antonio Santini
O Globo - 23/08/2010
 
 Nos últimos sete anos, os transplantes de medula óssea cresceram 57,51% no Brasil. O Ministério da Saúde investiu R$ 673 milhões no Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome). O Registro é a estratégia mais eficaz para encurtar a fila para esse tipo de transplante, à medida que aproxima o doador de medula e seu receptor, quando este não pode ser encontrado dentro da própria família. O acesso ao Redome é simples, pode ser feito pelo próprio médico.
Hoje, há 1.200 pessoas aguardando por um doador compatível, depois de esgotadas as chances de encontrar a medula óssea entre parentes. Mas não se pode chamar isso de fila porque não há uma ordem de chegada os transplantes são realizados à medida que os doadores compatíveis são localizados no Redome. Anualmente, são realizados cerca de 1.800 transplantes no país uns 150 entre não aparentados.

A busca por um doador compatível de medula óssea por meio do Redome, que já foi de um ano, fica hoje em torno de quatro a seis meses, período semelhante ao registrado nos EUA, por exemplo. O Redome, que tinha apenas 12 mil doadores no ano 2000, passou a ter 1,7 milhão de doadores em 2010, atrás apenas dos EUA e da Alemanha. O crescimento do cadastro possibilitou o aumento de 240% do número de transplantes de medula entre não aparentados, no período de 2003 a 2009. Isso porque a busca para esse tipo de transplante é feita prioritariamente no registro nacional, podendo ser realizada no exterior também. A quantidade de doadores em potencial cresceu em razão de campanhas de sensibilização. Como a chance de se encontrar um doador não aparentado é de uma em cem mil, houve mobilização.
O aumento dos transplantes no Brasil incluiu as três modalidades realizadas: os autólogos (quando as células são retiradas do próprio paciente), os aparentados (quando as células são retiradas de pessoas da mesma família) e os não aparentados (células doadas por pessoas fora da família).
Para aumentar ainda mais as chances de encontrar doador compatível, desde 2004, o Ministério da Saúde criou a Rede BrasilCord, que está implantando bancos públicos de sangue de cordão umbilical e placentário em todas as regiões do país. Hoje, existem nove bancos em diversas regiões do país para contemplar a diversidade genética da população. A coleta, o processamento e o armazenamento são totalmente financiados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A meta é chegar a 13 bancos públicos de sangue de cordão umbilical até o ano que vem. Com essas iniciativas e investimentos de porte do Ministério da Saúde, eleva-se a chance e também a esperança para quem aguarda um transplante de medula óssea atualmente no Brasil.

SERRA PRESIDENTE

CARLOS ALBERTO SARDENBERG

Pagamos mais caro. E agora?

Carlos Alberto Sardenberg
O Estado de S. Paulo - 23/08/2010
 

 A globalização contemporânea apresenta esta vantagem: amplia a capacidade do consumidor de comparar preços. Os computadores, jogos eletrônicos, celulares, roupas, tênis, perfumes, etc. são os mesmos pelos shoppings mundo afora. Aliás, os shoppings são iguais. Viagens internacionais mais frequentes e baratas e, sobretudo, a internet completam o quadro. Dá para saber o preço de um carro em qualquer país.
O consumidor brasileiro está ligado nisso e já toma consciência de como os mesmos produtos são muito caros por aqui. O artigo da semana passada, mais a reportagem e o comentário no Jornal da Globo de quinta-feira (19/8) trouxeram ampla variedade de e-mails e relatos de experiências diversas. 
Eis alguns exemplos:
Luiz Brandão chama a atenção para os remédios. Conta que um medicamento produzido pela AstraZeneca, chamado Nexium esomeprazol, custa na Argentina a metade do preço praticado no Brasil.
André Blau, de São Paulo, contou: "Minha esposa me comprou de presente um pulôver sem mangas, pelo qual ela pagou R$ 240. A peça não passou na primeira lavagem. Saiu com aparência feia e cheia de bolinhas. Aí, entrei na internet e comprei da Inglaterra malhas feitas de Cashmere misturada com lã merinos. Paguei cerca de R$ 60, inclusive com despacho. Paga-se com cartão de crédito. Na alfândega brasileira, passa sem pagar imposto todo pacote que tem até três ou quatro malhas."

Antonio Carlos Reis, de Piracicaba, contou sobre a diferença de preços entre uma mesma pick-up aqui e em Buenos Aires. E pergunta: "Minha mulher e eu podemos, num fim de semana, voar para Buenos Aires para um passeio romântico e de lá voltar na desejada pick-up? Pelo que sei sobre comércio exterior na esfera do Mercosul, não há imposto de importação."

Edson Pinto, que ajudou um filho a montar uma loja em shopping, conta dos custos elevadíssimos para fazer negócios no Brasil. São custos públicos, digamos assim, como os impostos e as infinitas taxas. Lá pelas tantas, relata, "entra o Ecad e exige o pagamento de taxas pela música que o caixa ouve no computador da loja; a prefeitura exige que a vitrine tenha faixas para evitar que os clientes desatentos batam a cabeça no vidro; o Procon passa e multa porque um determinado produto entre dezenas na vitrine não traz o preço". E há custos privados, ou seja, aqueles cobrados pelos administradores dos shoppings. Tudo somado, diz nosso leitor, o empresário tende a colocar margens brutas muito elevadas, que lhe parecem a melhor saída para enfrentar os custos atuais e possíveis no futuro. Resultado: "Vira um jogo de malandragem necessária em que a lei da oferta e da procura clássica só se sustenta a curto prazo. Claro que poucos comprarão. Talvez se venda em quantidade suficiente para ganhar algum. Se não, parte-se para outro produto e a roda-viva continua até que o pequeno comércio, sonhado pelos jovens que acreditam inocentemente no País, vá se incorporar à estatística tenebrosa da mortalidade precoce de novos negócios no Brasil."

Tudo considerado, há cinco classes de problemas:

Impostos: não a há a menor dúvida, a carga tributária impõe custos elevados ao consumidor. O caso dos remédios é dramático: num medicamento de R$ 10 o governo pega R$ 3,50, mesmo para produtos de uso contínuo. Em produtos eletrônicos a carga pode chegar à metade do preço final.

O custo de fazer negócios no Brasil: uma pesquisa nacional da Firjan mostra que a abertura de uma empresa exige de seis a oito etapas burocráticas, pagamento de 12 a 16 taxas, tudo com 43 documentos (alvarás, licenças, etc.). Abrir uma empresa pequena no Rio, no ramo da alimentação, sai por mais de R$ 5 mil. Há Estados em que os bombeiros cobram R$ 2.500 para darem um alvará. Em Santa Catarina, a OAB local tabelou em R$ 2.681 o trabalho do advogado de assinar o contrato de abertura de empresa, em geral um contrato-padrão. Um estudo da Fiesp calcula que as empresas brasileiras gastam anualmente cerca de R$ 45 bilhões com a burocracia. Uma enormidade, equivalem a 1,5% do PIB. Incluem-se aqui custos trabalhistas e o dinheiro e a energia aplicados pelas empresas nas relações com o Fisco.

Custo da infraestrutura: fretes elevados e demorados, taxas e tempo perdido nos aeroportos, portos, etc.

Ineficiências: o trabalhador brasileiro, com educação comprometida, produz menos e absorve de maneira limitada as novas tecnologias.

Margens elevadas: ou porque o mercado é protegido ou porque, como diz Edson Pinto, é a defesa que o empresário, especialmente o menor, encontra para se manter à tona.

Soluções? Obviamente, é preciso reduzir a carga tributária. Não é simples, porém. O governo arrecada muito porque gasta muito. Logo, sem uma redução do gasto público, sem uma limitação no tamanho do Estado, não haverá como diminuir impostos.

Mas é possível adotar desde já algumas medidas emergenciais, como retirar a carga de produtos essenciais, como medicamentos.

Outras soluções foram indicadas pelos leitores: abertura dos mercados. Se, por exemplo, fosse possível ir a Buenos Aires, comprar o carro e trazê-lo para cá, essa competição pressionaria os preços brasileiros. (O leitor Reis pode passear na Argentina, mas não conseguirá comprar a pick-up nem circular com ela por aqui.)

André Blau conseguiu uma boa saída via internet. Há muitos sites confiáveis, mas isso é limitado a compras pequenas. E nem é bom falar muito, porque daqui a pouco vão tentar cortar essa onda.

Facilidades maiores nas compras de quem vem do exterior são limitadíssimas. E injustas. Beneficiam a parte da população que tem dinheiro para viajar. Impostos menores e abertura às importações beneficiariam a todos.

Reduzir burocracias e o custo de fazer negócios no País é muito possível. São mudanças no nível microeconômico, que podem ser feitas por prefeituras, por exemplo. Infelizmente, não temos visto esses temas na campanha eleitoral. Mas a consciência dos consumidores é cada vez maior. Um bom começo.

GOSTOSA

CARLOS ALBERTO DI FRANCO

Lula e Cabral, vídeo revelador

Carlos Alberto Di Franco
O Estado de S. Paulo - 23/08/2010

Autor e personagem de um vídeo que tomou conta da internet, em que é chamado de otário e sacana pelo governador Sérgio Cabral, além de ouvir do presidente Lula que tênis é esporte de burguesia, o estudante Leandro dos Santos, morador de um barraco na favela Nelson Mandela, no Rio de Janeiro, não tinha ideia da repercussão da gravação. O episódio foi reproduzido por Italo Nogueira, repórter do jornal Folha de São Paulo e pode ser conferido pelo amigo leitor http://www.youtube.com/watch?v=KOKS_apCwzA.  O jovem, xingado por Cabral e ironizado por Lula, desnudou as duas caras dos homens públicos: o rosto amável e as palavras medidas diante das câmeras  e  o desprezo debochado na vida real. 

Segundo Nogueira, o estudante abordou o governador e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em dezembro do ano passado, após a inauguração de obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) em Manguinhos. Primeiro, o rapaz reclama da ausência de uma quadra de tênis no local, e Lula diz que isso é esporte da burguesia. O presidente então pergunta por que ele não nada. Ao ouvir que a piscina fica fechada, Lula se dirige a Cabral: O dia que a imprensa vier aí e vir isso fechado, o prejuízo político é infinitamente maior do que colocar dois guardas aí. O comentário de Lula é revelador. O que interessa não é o bem-estar dos pobres, mas o eventual arranhão na sua imagem.

Em seguida, Leandro reclama do barulho do Caveirão, o blindado da Polícia Militar, em sua rua. Cabral o interrompe e pergunta se lá não tem tráfico não. Quando o jovem diz que não, o governador rebate: Deixa de ser otário, está fazendo discurso de otário. 

Otário, sacana e burguês. Três carimbadas no rosto de um jovem favelado que teve a coragem de exercer a cidadania e de questionar governantes carregados de arrogância e armados de ironia cruel, mas que diante dos holofotes da mídia se apresentam como paladinos da luta contra qualquer discriminação. Uma imagem grita mais que mil palavras. O vídeo está bombando na internet e causa irado constrangimento.

Nós, jornalistas, devemos refletir a respeito desse episódio. Ele revelou o que nossas pautas não costumam contar. Mostrou a face verdadeira, o rosto sem maquiagens, a alma desprovida do botox do marketing. E é exatamente isso que devemos fazer.

Dilma Rousseff, por exemplo, diz que vai fazer o trem-bala. Baita declaração. Mas é viável? Como vai contornar a muralha da Serra das Araras? E as infinitas desapropriações? Ninguém fala disso. O que fica é o efeito: vou fazer o trem-bala. Sou contra o aborto, mas considero o aborto um problema de saúde pública. Afinal, é favor ou é contra? Quer ampliar os casos previstos na legislação ou quer deixar como está? Sou contra a censura. Beleza. Então, como explicar sua assinatura no Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3)? Como explicar as sucessivas maquiagens nos seus planos de governo? Sou contra qualquer ditadura. Ótimo. Mas como explicar as declarações de voto de Hugo Chávez para a amiga Dilma?  E o José Serra, é a favor ou contra a independência do Banco Central? 

Nosso papel, embora com civilidade e respeito, não é registrar, mas questionar. Willian Bonner, âncora do Jornal Nacional, fez a sua parte com notável profissionalismo. O PT errou quando insultava Sarney, Collor e Renan Calheiros ou errou depois ao se aliar a eles? Antes o PT não tinha experiência, amadureceu no governo, respondeu Dilma. A candidata, sem a blindagem imediata do marketing, mostrou sua concepção de política: um jogo pragmático e sem qualquer tipo de baliza ética. Para ela, ser maduro é juntar-se ao que há de pior. Cobrada sobre o resultado fraco no crescimento econômico se comparado com outros emergentes, culpou a herança maldita do governo Fernando Henrique. Ainda não passou pela cabeça da candidata culpar Pedro Álvares Cabral pelo gargalo na infraestrutura. Mas chegaremos lá. O telespectador, sem contrabando opinativo, tira suas conclusões. 

O jornalismo de qualidade, firme e independente, é rastreador da verdade. Não é nosso papel embalar candidatos, mas mostrar suas contradições. É preciso incomodar. Jornalismo cor-de-rosa não faz bem à democracia.

SERRA PRESIDENTE

FABIO GIAMBIAGI

O modelo e o futuro

Fabio Giambiagi
O Estado de S. Paulo - 23/08/2010
 
 Ao longo dos últimos meses as autoridades, ao rejeitarem a tese de que a política econômica do governo Lula seria uma continuação daquela adotada nos anos FHC, têm repetido a tese de que, em contraste com o que teria sido a marca do governo anterior, a administração atual se caracterizaria pelos projetos de inclusão social e pela expansão do mercado interno e que essa característica estaria na base dos resultados inequivocamente positivos alcançados pelo País nos últimos anos em matéria de crescimento e geração de emprego. Sem entrar no mérito da questão acerca de em que medida as diretrizes adotadas a partir de 2003 configuram ou não um rompimento com as que vigoravam até então, cabe refletir sobre até que ponto aquilo que foi válido até agora poderá se manter inalterado nos próximos anos.
Vale lembrar ao leitor que o que no jargão dos economistas é conhecido como o Produto Interno Bruto (PIB) nada mais é do que a soma do consumo (C) com a formação bruta de capital, equivalente ao investimento (I), se deixarmos de lado a variação de estoques; e com o resultado líquido (R) das transações reais com o exterior, ou seja, a diferença entre as exportações e importações de bens e serviços.
Em termos absolutos é possível que, no contexto de uma economia em expansão, todas as variáveis cresçam ao mesmo tempo, elevando tanto o consumo como o investimento e o resultado das exportações deduzido do valor das importações. Mas, em termos relativos, aumentar todas as frações do valor do produto ao mesmo tempo é uma impossibilidade matemática. Em outras palavras, nessa identidade das contas nacionais (PIB = C + I + R), o peso relativo dos componentes à direita do sinal de igualdade não pode aumentar em todos os casos, pois a soma das partes não pode ser maior que o todo: na composição da economia, se a parcela representada pelo peso de uma variável em relação ao total tiver de aumentar, outra deverá diminuir.
Eis onde reside o dilema posto ao País no futuro próximo. Note-se que todo o discurso de exaltação do momento favorável que o País vive é de que "enfim a população está podendo consumir", dando a entender que o consumo continuará a ser devidamente "turbinado", pelo fato de isso ser parte integrante do DNA do modelo vigente (nos últimos cinco anos, enquanto o PIB teve um aumento acumulado de 19%, o consumo familiar se expandiu a uma taxa bem maior, de 30%). Ao mesmo tempo, 10 entre 10 economistas defendem o aumento da taxa de investimento. Finalmente, os riscos de que o País conserve a atual trajetória de deterioração das contas externas saltam aos olhos, e é de bom tom reverter essa trajetória, ou seja, aumentar o resultado, expresso como fração do PIB, da diferença entre exportações e importações (ou ao menos evitar que ela continue tendo uma trajetória de piora recente).
O conflito entre objetivos diferentes se resolveu de maneira diversa em diferentes situações da história do País. Por exemplo, a taxa de investimento, que em 1966 tinha atingido um mínimo de 16% do PIB, chegou a 24% do PIB no final da década de 70, ao custo de que o saldo de transações reais com o exterior, que era positivo em 1% do PIB em 1966, se tornasse negativo em 2% do PIB quase 15 anos depois, e de que o consumo total caísse de 81% para 79% do PIB nesse período. Já na crise dos anos 80 o País se ajustou, com o citado saldo externo passando de negativo em 1% do PIB, em 1982, para positivo em 6% do PIB, em 1984, mas com uma queda dramática do investimento de 23% para 19% do PIB no período, acompanhada ainda de uma perda de peso do consumo.
O problema que se coloca no momento, e na perspectiva dos próximos anos, não é difícil de entender: não é possível conseguir tudo ao mesmo tempo. Pode-se aumentar o consumo a taxas superiores ao PIB, como nos últimos anos, mas reduzindo o peso do investimento ou ao custo de uma piora das contas externas. Da mesma forma, faz sentido ampliar a taxa de investimento, mas neste caso o consumo terá de diminuir seu peso no PIB ou as importações crescerem mais que as exportações. Finalmente, é razoável melhorar o resultado do setor externo, mas só se a soma de consumo e investimento crescer menos. O que não dá para conseguir é que todas as rubricas aumentem seu peso em relação ao PIB.
A questão é como fazer para que o País eleve a taxa de investimento até os almejados 22% ou 23% do PIB. Nesse sentido, é útil olhar para o que ocorreu em outras duas ocasiões recentes em que o País passou por momentos de aumento do investimento: em 2000 o PIB cresceu 4,3%, a taxa de investimento aumentou 1,1% do PIB e a poupança doméstica se elevou em 1,9% do PIB, graças a um crescimento do consumo de 3%, inferior ao do PIB. Já em 2004, o PIB cresceu 5,7%, a taxa de investimento do País elevou-se em 0,8% do PIB e a poupança doméstica aumentou 2,5% do PIB, em virtude do consumo total ter crescido 3,9%, também abaixo do PIB. Para que o investimento aumente, sem pôr em risco as conquistas alcançadas na atual década no setor externo, é preciso implementar uma mudança no padrão de crescimento, agora com uma expansão mais moderada do consumo. Ao formular planos para os próximos anos, é importante levar em conta essa perspectiva.

A TERRORISTA MENTIROSA

RODRIGO L. MEDEIROS

Novas políticas industriais

 Rodrigo L. Medeiros
O Globo - 23/08/2010

Economias bem-sucedidas sempre contaram com políticas públicas promotoras do crescimento
A temática da política industrial voltou ao debate internacional. Diversos pensadores, entre eles Ha-Joon Chang, Dani Rodrik e Justin Lin, apontam a atualidade desse tema. Lançada pouco antes da crise de 2008, a Política de Desenvolvimento Produtivo brasileira procurou recuperar o terreno da ação política nesse campo.

Com a crise de 2008, Keynes seria revisitado e o Estado seria chamado a intervir na arena econômica de forma intensa e heterodoxa. Não se pode deixar de citar a "nacionalização" da General Motors nos EUA. Keynes era contrário a nacionalizações. Pode-se dizer que o Estado de bem-estar tem pouco a ver com a concepção minimalista de Keynes. Ele foi, entretanto, o primeiro a perceber que uma moeda apreciada seria uma moeda fraca e não forte.
Políticas industriais nunca deixaram de ser efetivamente praticadas nos países mais desenvolvidos. Economias bem-sucedidas sempre contaram com políticas públicas promotoras do crescimento mediante a aceleração de transformações estruturais. A simplória separação entre Estado e mercado não se sustenta como um fato nas sociedades mais desenvolvidas. Observa-se, em muitos casos, a cooperação pelo desenvolvimento econômico e o bem-estar.
Em defesa das políticas industriais deve-se ressaltar que, além da complementariedade entre manufaturas e serviços, a produtividade costuma ser mais elevada nas manufaturas, tendendo a aumentar mais rapidamente do que na agricultura ou nos serviços. Portanto, sem um setor de manufatura forte, trata-se de algo muito difícil desenvolver serviços de alta produtividade.
Países como Japão, Coreia do Sul, Taiwan e China compreenderam essa questão na segunda metade do século XX. Suas extraordinárias capacidades produtivas adquiridas assentam-se, em grande parte, no apoio governamental a novos setores produtivos. Facilidades de acesso a crédito e exigências de conteúdo local na produção resultaram no nascimento de fornecedoras de produtos sofisticados. Incentivos à exportação ajudaram suas empresas a penetrar em mercados mais exigentes e competitivos.
Na parte desenvolvida do mundo, o departamento de energia dos EUA planeja gastar mais de US$ 40 bilhões em financiamentos e subsídios para estimular empresas privadas a desenvolver tecnologias verdes - carros elétricos, novas baterias, turbinas eólicas e painéis solares. A nacionalização da GM integra essas ações, pois inovações desse porte não podem ser simplesmente confiadas a pequenas e médias empresas.
O desenvolvimento de novos setores produtivos em muitos momentos demanda um "empurrãozinho" governamental e a existência de grandes empresas. Esse empurrão pode assumir formas distintas - subsídios, empréstimos, oferta de infraestrutura e outros tipos de apoio. Do ponto de vista da transparência e da eficácia da política pública desejada, metas de desempenho e contrapartidas empresariais são necessárias.
Praticantes de políticas industriais bem-sucedidas compreendem ser importante criar um clima de colaboração entre governo e setor privado. Conselhos deliberativos, fóruns de desenvolvimento de fornecedores, conselhos consultivos para investimentos, mesas-redondas setoriais ou fundos público-privados para investimentos de risco ajudam a aglutinar esforços e estreitam a colaboração sobre as oportunidades de investimento nos pontos de estrangulamento da economia.
Receitas para o desenvolvimento das sociedades organizadas são muitas. As sociedades precisam estar abertas à experimentação. Em uma análise econométrica empreendida por Rodrik, chama a atenção o fato de que os países que conseguiram sustentar o processo de crescimento econômico após a Segunda Guerra foram capazes de articular uma ambiciosa política de investimentos produtivos com instituições capazes de lidar com os choques externos adversos, não os que confiaram na mobilidade do capital e na redução indiscriminada de suas barreiras alfandegárias.
No início da década de 1960, a renda per capita sul-coreana era menor do que a do Sudão e não ultrapassava 33% da renda mexicana. Sua rápida industrialização derivou em grande parte do emparelhamento tecnológico e no desenvolvimento de aptidões tecnológicas. O Estado jogou um papel-chave ao longo do processo de mudança econômica no momento em que os agentes econômicos nacionais mostravam-se frágeis frente aos riscos e às incertezas do desafio do desenvolvimento.
Hyundai e Kia são realidades na indústria automobilística mundial. A Kia iniciou suas operações, em 1944, como fabricante de bicicletas em Seul. Atualmente ela se faz presente em mais de 170 países vendendo automóveis. Essas empresas sul-coreanas evoluíram tecnologicamente desde sua constituição e elas buscam atualmente convergir esforços no desenvolvimento de tecnologias mais limpas do ponto de vista ambiental. Os chineses, por sua vez, apontam para a estratégia de desenvolvimento e popularização do carro elétrico a partir da constituição de marcas nacionais.
As grandes empresas não estão presas à "disciplina do mercado". Elas não ficam expostas a um ambiente próximo à competição perfeita, onde a receita marginal tenderia ao custo marginal de produção e o lucro seria praticamente nulo.
Oligopólios não são males a serem combatidos a todo custo, pois eles constituem as estruturas que reúnem excelentes condições para inovar e criar novas oportunidades de negócios, inclusive para as firmas menores. Compreende-se, portanto, como os campeões nacionais são bem tratados pelos governos dos países mais desenvolvidos.
Alguns podem alegar ideologicamente e de forma reducionista que esse debate versa sobre a escolha dos vencedores na arena econômica. Essa discussão costuma ser mais complexa porque as políticas públicas, incluindo os direcionamentos de crédito e gasto público, afetam a renda e as possibilidades das pessoas mais humildes em uma sociedade emergente.

ELLIS WAYNE BROWN

Qualidade não vem por decreto
ELLIS WAYNE BROWN 
FOLHA DE SÃO PAULO - 23/08/10

O postulado da autonomia universitária, consentâneo com a iniciativa democrática, tem sido ignorado pela intervenção do governo 


Há quem reclame que é preciso tematizar mais sobre a educação superior no âmbito das políticas públicas, embora estes mesmos não o façam de forma sistêmica e continuem defendendo interesses fragmentados e corporativos.
O artigo 207 da Constituição Federal estabelece que "as universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão".
O postulado legal da autonomia universitária, consentâneo com a liberdade de pensamento e de iniciativa democráticas, reguladas pela evolução da demanda socioeconômica, tem sido ignorado pela intervenção normativa do governo.
A Lei de Diretrizes e Bases estabelece, por exemplo, que a universidade deve ter pelo menos 1/3 de mestres e doutores, podendo os demais, portanto, ser especialistas.
Os reguladores, contudo, passaram a exigir que esta proporção seja mantida para cada curso e campus.
Na sequência, estabeleceram que os doutores tivessem peso 20 na avaliação institucional, e os mestres, apenas 5. A nota deste quesito na avaliação institucional agora depende também da relação do quadro da instituição com uma média regional, que ninguém conhece fora do MEC e que é inflacionada pelos quadros das universidades públicas, custeadas pelo contribuinte anônimo. Agora, preconizam 70% de mestres e doutores!
Independentemente do mérito, é interessante como os reguladores se mostram à vontade para progressivamente circundar os postulados da lei. Ademais, confundem também os meios com os fins e, dessa forma, desviam o foco dos resultados de fato alcançados pelas universidades em termos da qualificação dos egressos.
Caberia à universidade decidir e prover os meios para tanto, regulada pela demanda social que inclui a viabilidade de acesso da população, notadamente de menor renda, ao ensino superior.
Quem não se vê atingido diretamente e não enxerga os efeitos desse intervencionismo aceita tudo e ainda aplaude. Resta ver como reagirá na medida em que a regulação o atingir, assim como reage a própria imprensa diante da ameaça à sua autonomia. Embora possa também cometer erros, não se justifica por isso a anulação de sua liberdade editorial.
Não se trata, ainda, de negar o princípio e a validade da "indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão", mas, sim, de discutir a natureza, origem, proporção, custo, aplicação e produtividade dos recursos envolvidos em cada um destes componentes, à luz de sua efetiva agregação de valor em termos do desenvolvimento educacional e socioeconômico, considerando sempre como questão de fundo a acessibilidade da população.
Necessário, pois, é buscar, para além dos interesses corporativos, a melhor equação possível entre qualidade educacional, produção e socialização do conhecimento, democratização do acesso e desenvolvimento socioeconômico do país.
É com esta equação que deveria se preocupar a política educacional e seu aparato regulatório.


ELLIS WAYNE BROWN, formado em ciências sociais e mestre em comunicação social, é vice-reitor da Uniban Brasil. 


JAPA GOSTOSA

OTAVIANO HELENE, JOSÉ MARCELINO DE REZENDE PINTO E TIAGO ALVES

Educação, um terrível círculo vicioso
Otaviano Helene, José Marcelino de Rezende Pinto e Thiago Alves 
O Estado de S.Paulo - 23/08/10

O problema da formação de pessoas no País é muito grave. Na creche e na pré-escola, atingimos um nível de atendimento correspondente apenas à metade do previsto no Plano Nacional de Educação (PNE), cujos dez anos de vigência se encerram em breve. No ensino fundamental, estamos atrasados mais de 20 anos em relação ao que nos propusemos na Constituição de 1988, que o definiu como obrigatório: atualmente, uma em cada três crianças deixa o sistema educacional sem completá-lo.

Ao final do ensino médio, a evasão já terá atingido cerca da metade das pessoas, situação muito pior do que nossa realidade econômica e demográfica exige e permite. Quanto ao ensino superior, não apenas não cumprimos o deliberado no PNE, como continuamos com taxas de atendimento próximas à metade da observada em muitos dos nossos vizinhos geográficos ou geopolíticos.

Essa carência educacional se manifesta também, como não poderia deixar de ser, na formação de profissionais de nível superior. Vamos ver qual a nossa situação no caso de duas profissões para as quais há dados internacionais disponíveis. Segundo a Organização Mundial da Saúde, temos 17 médicos para cada 10 mil habitantes, número abaixo da média dos países sul-americanos (19) e perto da metade do que têm Uruguai (39), Argentina (32) e México (29). No caso da engenharia, profissão indicadora das possibilidades de crescimento futuro de um país, temos uma proporção de estudantes em relação à população total próxima da metade da de Índia, China, Argentina ou Chile. Além dos indicadores quantitativos estarem aquém do necessário, temos carências qualitativas graves e má distribuição geográfica dos cursos e dos profissionais.

Vamos ao caso de professores, cujos déficits são enormes: em algumas áreas de conhecimento a quantidade de novos licenciados formados a cada ano é insuficiente sequer para repor o quadro se este estivesse completo e se a eficiência no aproveitamento dos formados fosse de 100%, o que não ocorre em nenhuma profissão em nenhum lugar do mundo. Por que isso?

Como nas outras profissões, essa carência é causada pela pequena quantidade de formados no ensino médio e a pouca presença do setor público na oferta de cursos de graduação. Mas, no caso de professores, há outra causa mais marcante: a má perspectiva profissional, em especial quanto à remuneração.

Os números falam por si. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2008, enquanto a renda mensal média na ocupação principal dos trabalhadores com nível superior completo era de aproximadamente R$ 3 mil, a renda média dos professores que têm formação superior e atuam nas redes estaduais ou municipais de educação básica (nas quais está a grande maioria dos estudantes e professores) variava na faixa de R$ 1 mil a R$ 1.600, dependendo do vínculo administrativo (municipal ou estadual) e do nível em que ensinam. Esses valores estão mais próximos da renda dos trabalhadores com ensino médio, cerca de R$ 1 mil mensais. Tal diferença salarial entre professores com formação superior e os demais trabalhadores também com mesmo nível educacional existe, com raríssimas exceções, em todos os municípios e Estados, inclusive no Estado de São Paulo.

Não é, portanto, surpreendente que cerca da terça parte dos professores do ensino básico não tenha o nível superior, ou que as taxas de evasão nos cursos de licenciatura sejam altíssimas, ou que perto da metade dos cerca de 2 milhões de potenciais professores com nível superior existentes no País não se dedique ao ensino. Não é também surpreendente o mau desempenho dos estudantes das redes públicas, com muitas "aulas vagas" e atendidos por professores sobrecarregados, nem o fato de que muitos dos que concluem o ensino médio estejam insuficientemente preparados e motivados para continuar seus estudos e prover o País com os profissionais de que tanto precisa. Surpreendente seria observarmos o contrário disso.

Como já apontado à exaustão, não há como corrigir nossos problemas educacionais sem um significativo aumento dos recursos públicos. Precisamos melhorar o desempenho dos estudantes e reduzir a evasão escolar, necessitamos de mais (e bons) profissionais em muitas áreas do conhecimento, os ambientes escolares precisam melhorar. Precisamos de mais professores e não podemos depender apenas de abnegados ou militantes, que sacrificam a vida pessoal em nome da educação escolar dos outros, não porque isso não seja bonito e louvável, mas porque não há abnegados em quantidade suficiente. Além disso, a qualidade de uma política pública, qualquer que seja, depende de pessoas bem preparadas e de recursos materiais, não de abnegados ou militantes.

Professores bem preparados e motivados - embora não suficientes -, essa é condição necessária para se construir um sistema educacional sólido e eficiente. Como corolário, a ausência disso é suficiente para tornar inviável o sistema educacional. Como é esta última a situação que vivemos, vemos fechar-se um círculo vicioso terrível: a falta de professores e a sobrecarga de trabalho são responsáveis pela educação infantil fraca e insuficiente, pela alta evasão e baixa qualidade no ensino básico, pelo pequeno número de jovens que concluem o ensino médio e, finalmente, pouca procura pelos cursos superiores fundamentais para a construção de um País soberano e que garanta a toda a população condições dignas de vida.

RESPECTIVAMENTE, PROFESSOR NO INSTITUTO DE FÍSICA DA USP, EX-PRESIDENTE DO INEP E DA ASSOCIAÇÃO DOS DOCENTES DA USP; PROFESSOR DE FILOSOFIA, CIÊNCIAS E LETRAS DA USP DE RIBEIRÃO PRETO, EX-DIRETOR DE TRATAMENTO E DISSEMINAÇÃO DE INFORMAÇÕES EDUCACIONAIS DO INEP; DOUTORANDO EM ADMINISTRAÇÃO PELA FEA-USP E GESTOR GOVERNAMENTAL DE FINANÇAS E CONTROLE DE GOIÁS

PAINEL DA FOLHA

O dia seguinte 
Renata Lo Prete

Folha de S.Paulo - 23/08/2010

A perspectiva de revés nacional e de transformação do Estado de São Paulo numa espécie de enclave azul no país vermelho alimenta nos bastidores especulações sobre a eleição para prefeito da capital em 2012. Há quem veja o próprio José Serra concorrendo de novo ao posto que ocupou de 2005 a 2006, mas aliados próximos acham difícil que ele considere a hipótese.

Há um cenário em que Geraldo Alckmin e Gilberto Kassab superam o trauma de 2008 e lançam um candidato comum. Em outro, rompe-se o consórcio PSDB-DEM, mas disso as duas partes têm medo: é consenso que o PT estará forte e o grupo hoje no poder não tem um nome natural para a sucessão de Kassab.
Caciques 1Para haver entendimento entre Alckmin e Kassab, o escolhido precisará ter bom trânsito com ambos. Isso reduz as chances dos postulantes tucanos Walter Feldman (próximo do atual prefeito) e Andrea Matarazzo (para lá de distante).
Caciques 2

A lista de possíveis candidatos inclui ainda o vice da chapa de Alckmin, Guilherme Afif (DEM), mas há quem diga que essa carta será colocada na mesa apenas para ser trocada por outra mais adiante.
Conta outra
Tucanos e demos não levam a sério a ideia de que Aloizio Mercadante terá a primazia da candidatura do PT em 2012. Apostam que, tudo o mais constante, sua adversária será Marta Suplicy.
Para registroSem prejuízo de desentendimentos que tiveram no passado, Serra não tem reparos a fazer ao comportamento de Alckmin diante das dificuldades que enfrenta na campanha presidencial. Pelo contrário.
Ver para crerSão Lula nunca fez milagres eleitorais em São Paulo, mas, diante da avalanche que se desenha nacionalmente, há quem tema pela segurança do favoritismo de Alckmin.
Mais ninguémReceosa de que sua liderança folgada nas pesquisas puxe o gatilho das especulações sobre ocupação de cargos no próximo governo, Dilma Rousseff (PT) mandou avisar que, além dela mesma, somente três pessoas falam em nome da sua campanha: José Eduardo Dutra, Antonio Palocci e José Eduardo Cardozo.
Energético 1Candidatos do PT ao Senado terão o reforço de cerca de 200 prefeitos conhecidos pela capacidade de mobilização. O grupo havia sido convocado originalmente para puxar votos para candidatos a governador. Mas a largada bem-sucedida de Sérgio Cabral (PMDB-RJ), Hélio Costa (PMDB-MG), Jaques Wagner (PT-BA) e Tarso Genro (PT-RS) mudou o foco do projeto.
Energético 2Batizada de "Envelope dois", a rede de prefeitos lulistas começou a ser costurada pelo atual ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, há mais de dois anos.
SoloEm terceiro lugar na disputa por uma vaga do Senado em Minas, o petista Fernando Pimentel faz uma campanha um tanto descolada da dupla Hélio Costa-Patrus Ananias, que concorre ao governo do Estado. A despeito de suas conhecidas diferenças com ambos, Pimentel alega que o distanciamento é tático: "No interior, se chego junto com a chapa majoritária, eu desapareço."
PancakeCandidato ao Senado pelo Paraná, o ex-governador Roberto Requião (PMDB) tem chamado a atenção pela maquiagem carregada, tanto na televisão quanto em eventos públicos.
Tiroteio
"As rodovias federais administradas pelo PT são criminosas. Nelas, o pedágio não tapa buracos nem evita mortes terríveis. O dinheiro do usuário pega algum desvio"
DE ALOYSIO NUNES FERREIRA (PSDB), candidato a uma vaga no Senado por São Paulo, depois que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva classificou como "roubo" as tarifas cobradas nos pedágios das rodovias paulistas
contraponto
Crise de amnésia
Encerrado o debate da Band no Distrito Federal, na semana passada, Joaquim Roriz (PSC) foi abordado por jornalistas para falar sobre o mensalão candango, que no início do ano derrubou José Roberto Arruda.

-Começou no seu governo, não foi?

-Brasília começou no governo Juscelino- respondeu o ex-governador, como quem desse uma aula.

-Estou falando do mensalão- insistiu o repórter.

-Mas mensalão foi do Lula...- reagiu Roriz, para em seguida acrescentar que "não sabia de nada".

LUCIANA DE LA PEÑA

Questão de limite
LUCIANA DE LA PEÑA
O GLOBO - 23/08/10 

Qual será a sociedade do futuro se hoje os pais não construírem limites para seus filhos? Talvez uma sociedade de adultos despreparados para as incertezas da vida e sem consciência de que o mundo não gira em torno deles. Mas qual a saída para ajudar pais e responsáveis nessa difícil missão de educar crianças cada vez mais conectadas pela tecnologia a diferentes realidades e estímulos? Existem inúmeros caminhos de suporte educacional distantes da maioria da população, mas, ao propor a Lei da Palmada ao Congresso Nacional, proibindo o uso de castigos corporais sem dar às famílias subsídios para adotarem um comportamento diferenciado na hora de impor limites às suas crianças, o governo está apenas criando mais um assunto para as rodas de psicólogos e especialistas no tema.

Muitos pais na infância viveram a rotina da palmada para aprender o que não “deve ser feito”, desconhecendo outras soluções educativas. Se não viveram essa rotina na infância, para muitos a palmada é apenas o reflexo da falta de paciência para optar pelo caminho do diálogo, situação muito comum nos dias de hoje, em que a maioria dos pais trabalha fora e passa grande parte do tempo longe de casa. Muitos, inclusive, exatamente por estarem ausentes quase em tempo integral, se sentem culpados por isso e preferem até mesmo não impor limite algum.

Paralelamente, uma lei desse tipo gera outras situações controversas. A falta de informação sobre as regras que estabelece pode, amanhã ou depois, levar um filho a agredir um pai e achar-se no direito de ameaçá-lo de denúncia se ele retrucar.

Por outro lado, o que um pai considera como “palmada”, para outro pode ser considerado uma agressão mais violenta, e vice-versa. Cada um tem uma concepção diferente. Não dá para colocar a questão da educação e da saúde da criança e do adolescente “num mesmo saco”. Além disso, é utópico imaginar que uma lei dessa natureza conseguirá interferir na rotina pré-estabelecida das famílias.

Prática corriqueira na educação do passado, a partir do fim do século XX a punição física passa a ser mal vista por psicólogos e profissionais da educação, assim como qualquer castigo físico direcionado às crianças. É a partir da década de 80 que começam a surgir os primeiros programas específicos para atendimento dessa problemática e, em 1990, é criado o Estatuto da Criança e do Adolescente.

Seja qual for o caminho pedagógico ou psicológico adotado, uma coisa é certa: criança precisa de limites.

Mas um limite saudável. E, muitas vezes, dar uma palmada significa meramente aplicar um castigo, e não impor o limite efetivamente.

É preciso levar a público, de forma massificada, que existem formas saudáveis de se impor esses limites, seja através de campanhas educativas, realização de terapias direcionadas em unidades públicas voltadas para as famílias ou interferências dos poderes públicos nas políticas de ensino e pedagógicas. É possível construir uma sociedade sem violência doméstica e com cidadãos mais bem preparados para a vida. Mas, assim como educar, isso dá um baita trabalho.

Muitos pais desconhecem outras soluções educativas
LUCIANA DE LA PEÑA é psicóloga

ELEIÇÃO

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Setor de elevadores quer garantir mercado na Copa 
Maria Cristina Frias

Folha de S.Paulo - 23/08/2010

Fabricantes brasileiros de elevadores pleiteiam com o governo federal uma reserva de mercado de 30% no fornecimento desses equipamentos, além de escadas e esteiras rolantes, para a Copa do Mundo, em 2014, e para os Jogos Olímpicos, em 2016, segundo o sindicato do setor.
O mercado nacional é dominado por três multinacionais -Atlas Schindler, ThyssenKrupp e Otis- e tornou-se alvo também de chineses, com a proximidade dos eventos esportivos.
"O governo deve encontrar mecanismos para manter a indústria nacional", afirma Jomar Cardoso, presidente do Sindicato das Empresas de Elevadores do Estado de São Paulo.
Dos 102 participantes da Expo Elevador, feira da indústria que ocorreu neste mês na capital, 54 eram estrangeiros -dos quais 24 chineses. Em 2008, na última edição, havia apenas três expositores do país asiático.
Esse mercado movimentou R$ 2,5 bilhões em 2009, o que inclui o faturamento com a venda de equipamentos novos, além da receita com serviços de manutenção e conservação.
A estimativa do sindicato é que as empresas nacionais respondam por aproximadamente 10% desse valor.
O presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção, Paulo Safady Simão, porém, é contra a reserva de mercado.
"É preciso encontrar outros caminhos para estimular as empresas nacionais a se tornarem competitivas ante a concorrência das multinacionais", diz. "É um problema que incomoda a indústria brasileira como um todo."

Corretoras se preparam para aumento da demanda

Corretoras de valores investem em tecnologia, pessoal e educação financeira de olho na demanda que deve crescer com a campanha, estrelada por Pelé, que a BM&FBovespa lançará para chegar a 5 milhões de pessoas físicas.
A Planner investe neste ano cerca de R$ 3,5 milhões na infraestrutura da corretora. "Reforçamos o departamento comercial, investimos em novos softwares e contratamos diretores e gerentes", diz o diretor Marcus De Rosa.
A Votorantim Corretora também afirma ter feito "investimentos maciços em tecnologia e pessoal", segundo o diretor-geral Abraham Weintraub. Para ele, a chave do sucesso na retenção de clientes está no atendimento. "Corretora se parece mais com restaurante do que com banco", diz. "Sem serviço bom, ele não volta."
A Spinelli lançou uma ferramenta quase sem termos em inglês. "A campanha atrairá quem não conhece o idioma", diz Rodrigo Puga.
A Coinvalores lançará sistema simplificado e com acesso personalizado a analistas, enquanto a Socopa planeja um pacote de serviços para "evitar que iniciantes percam interesse", diz Fabrício Tota.
Já a Link Trade ampliou cursos e palestras. "Uma coisa é gerar demanda, outra, é ensinar a investir", diz a diretora Mônica Saccarelli.

Banco do Brasil lança fundo com Votorantim para a alta renda

A BB DTVM, subsidiária do Banco do Brasil responsável pela gestão de recursos, expande o seu portfólio no segmento de alta renda.
A gestora irá lançar nos próximos meses fundos com expectativa de captação de R$ 500 milhões, no mínimo, de acordo com projeção de Carlos Massaru Takahashi, presidente da BB DTVM.
Em parceria com o Banco Votorantim, a administradora de recursos irá lançar em setembro um fundo imobiliário, voltado para empreendimentos com alto valor, de construtoras conhecidas no mercado, além de outros dois Fidcs (Fundo de Investimento em Direitos Creditórios) vinculados a recebíveis de varejo, segundo Takahashi.
"Estamos ampliando e diversificando o nosso portfólio para os clientes de alta renda. A expectativa é positiva para esse segmento que tem demandado produtos de maior valor agregado", diz.
Com lançamento previsto para outubro, a BB DTVM prepara mais dois fundos na categoria capital protegido, um de ações ligado ao Ibovespa e outro multimercado ligado ao câmbio.
A BB DTVM é líder do mercado de gestão de recursos e fechou o primeiro semestre deste ano com patrimônio de R$ 345 bilhões.

APÊ PARA A 3ª IDADE

A Tecnisa inicia neste mês a comercialização de seu primeiro empreendimento com "consciência gerontológica". O projeto oferece facilidades para clientes da terceira idade, como portas mais largas, pisos antiderrapantes, rampas e detalhes para ajudar o acesso de idosos, como fechadura especial, características que podem ser emprestadas a outros empreendimentos da empresa no futuro.
Após esse primeiro empreendimento, em Santos (SP), com 200 unidades e VGV (Valor Geral de Vendas) de R$ 119 milhões, a empresa já tem em aprovação outros dois, que juntos ultrapassam mil apartamentos. Um projeto para Barueri (SP) tem 911 unidades. Outro, na zona leste de São Paulo, 112.

No ar A Indústria Fox inaugura em setembro, em Cabreúva (SP), com investimento de R$ 20 milhões, uma fábrica de reciclagem de geladeira, freezer e ar condicionado. A unidade poderá reciclar 420 mil aparelhos por ano.

Cidade... No último final de semana, cerca de cem pontos de iluminação pública no Viaduto do Chá e na Praça Ramos, em São Paulo, receberam lâmpadas de vapor metálico em substituição às de vapor de sódio. A troca faz parte de um projeto piloto da Liteman, que espera fornecer a tecnologia para a prefeitura. O contrato é estimado em R$ 11 milhões.

...luz Lâmpadas de vapor metálico, segundo a empresa, não demandam a troca de reatores dos postes, o que reduz o custo da renovação, e têm o mesmo consumo de outras.

Segurança... A AlertBoot, companhia norte-americana de soluções de criptografia, abre nesta semana uma subsidiária no Brasil.

...de dados... O foco será oferecer a ferramenta a bancos, seguradoras, operadoras de planos de saúde, escritórios de advocacia e companhias de capital aberto ou que planejam ir à Bolsa.

...e risco Para a abertura da subsidiária, a companhia recrutou como diretor no país Rodrigo Moura Fernandes, ex-diretor de gestão de risco do Banco Opportunity.

Pé na estrada A butique de inovação Mandalah, fundada em 2006, inaugurou operações em Nova York e Tóquio. Com sede em São Paulo, a empresa já tem escritório na Cidade do México.

AUMENTO DO ALUGUEL

Os valores cobrados nos contratos de aluguéis residenciais em São Paulo estão em alta.
Em julho, a categoria registrou aumento de 0,8% ante os valores praticados em junho, segundo levantamento do Secovi-SP.
Nos últimos 12 meses, o aumento médio acumulado foi de 10,9%. O valor supera os indicadores de inflação, como o IPCA, que alcançou 4,6% em igual período.
Os maiores acréscimos estão em casas e apartamentos de um dormitório, com alta de 1,2%.
A elevação é atribuída ao retorno escolar. "Esse aumento tem influência da demanda de estudantes por imóveis perto das universidades", afirma Francisco Crestana, do Secovi-SP.
O aluguel das residências de dois quartos teve desempenho semelhante ao valor médio da pesquisa. Nos imóveis de três quartos, o preço ficou estável.
As casas e os sobrados tiveram maior velocidade para serem alugados. Os apartamentos demoraram mais.