terça-feira, dezembro 04, 2012

Sobrou para Rosemary - ANCELMO GOIS


O GLOBO - 04/12


De Lula, 67 anos, descontraído, a um grupo de amigos, sobre suas relações com Rosemary Noronha, 57:
— Se eu fosse político de direita, iam inventar uma namorada mais jovem, 18 anos. Como sou de esquerda, sobrou uma mais velha.

Opção sexual
A 1ª Turma do TST condenou a Oi a indenizar em R$ 20 mil uma trabalhadora que teria sido discriminada por causa de sua preferência sexual.
A moça foi perseguida por supervisores, que, segundo o processo, chegaram a “impedi-la de fazer horas extras por ser lésbica”. Meu Deus.

Navio não voa
O preço das passagens aéreas está nas alturas no Brasil, e a carga tributária do setor, idem.
Acredite. Sobre o querosene de aviação, incide até uma tal de ARFMM, ou Adicional de Renovação de Frota da... Marinha Mercante.

Morar bem
Fred, o ídolo do Fluminense, é o novo dono de um apartamentão de frente para o mar, no Leblon, no Rio.

Joaquim 2014
O site joaquimbarbosa.com.br, criado por fãs do presidente do STF para lançar sua candidatura à sucessão de Dilma, já teve mais de 370 mil acessos em cerca de um mês.

Ana na cabeça
A querida escritora Ana Maria Machado deve ser reconduzida quinta agora à presidência da ABL.

Chávez de cadeia
A Rádio Planalto diz que Hugo Chávez pode faltar à Cúpula do Mercosul, em Brasília, hoje.
Motivo: estaria em Cuba para tratamento de saúde. A conferir.

A fritura de Mano
Uma das mágoas de Mano Meneses é a suspeita de que vinha sendo fritado há dois meses por José Maria Marin.
Por essa versão, Felipão, quando pediu demissão do Palmeiras — que ainda brigava para não ser rebaixado —, já havia recebido o convite do presidente da CBF para assumir a seleção.

Rio para inglês ver
O Rio deve ser a base da seleção inglesa para a Copa de 14.
Antes mesmo de se classificar para o Mundial, o país que inventou o futebol já reservou um hotel em Copacabana, como concentração, e a Escola de Educação Física do Exército, na Urca, como campo de treinos.

Defesa do Ecad
Desembarca hoje em Brasília uma caravana de artistas importantes da MPB, como Danilo Caymmi, Sandra de Sá, Jair Rodrigues, Zezé Motta, entre outros, para protestar contra um projeto do senador Randolfe Rodrigues, do PSOL.
É que a proposta submete o direito
autoral à tutela do Ministério da Justiça.

Zona Franca
José Roberto de Castro Neves lança “Medida por medida, o direito em Shakespeare”, hoje, às 17h, na Amaerj.
Joana e Aloyzito Teixeira homenagearam Cíntia Ventura e Luís Eduardo Tenório, no Copa Praia.
Estreia hoje a nova montagem do grupo Tentáculos Espetáculos, no Teatro Maria Clara Machado. 
A deputada Juliana Brizola participa da reunião do diretório nacional do PDT, em Brasília. 
Anselmo Vasconcellos e Marcello Novaes, além do jornal de bairros “Globo-Barrá, serão homenageados hoje no 8º Troféu AIB de Imprensa.
Hoje, Ernesto Pires, Luiza Dionizio e César Veneno cantam sucessos de Ratinho, no Cariocando.
Amanhã, Nora Esteves recebe título de Carioca Honorária da vereadora Andrea Gouvêa Vieira. CasaShopping lança Casa Corporate, nova área dedicada a espaços corporativos. 
William Douglas e Rubens Teixeira lançam hoje “As 25 leis bíblicas do sucesso”, na Travessa.

Mamãe, sou forte
Mariano Beltrame, 55 anos, fez a sua avaliação física de fim de ano.
O gasto calórico do xerife é de 2.174 calorias. Sua frequência cardíaca em repouso, 70. Segundo seu preparador físico, Saulo Barbutti, o secretário perdeu 6kg de gordura e ganhou 3kg de massa muscular em três meses.

Na reza com Madonna
Sérgio Cabral, mais uma vez, foi chamado para a oração de Madonna, antes do show de domingo, no Rio.

Aliás...
O show demorou tanto para começar que o povão, irritado, só para espezinhar a cantora, começou a gritar o nome de sua conterrânea e, digamos, concorrente musical: “Lady Gaga! Lady Gaga!”
Atraso que segue, não satisfeita, teve gente na plateia que baixou o nível: “Piranha! Piranha!” Calma, gente.

Morar na Mangueira
Eduardo Paes e Sérgio Cabral, em parceria com Dilma, entregam hoje apartamentos na Mangueira e celebram 1 milhão de unidades do programa Minha Casa, Minha Vida.

Jamelão, cem anos
A celebração do centenário de Jamelão (1913-2008), ano que vem (12 de maio), vai começar dia 14 agora, no novo Imperator, no Rio, com um show do cantor Eduardo Canto.
O repertório será o do grande intérprete que defendeu a Mangueira de 1949 até seus últimos dias. Merece.

Cena carioca
Uma estudante de 22 anos andava com seu notebook debaixo do braço, na Rua Paulo VI, no Flamengo, quinta, por volta das 16h, quando um ladrão lhe arrancou o computador e correu.
Segundos depois, o próprio bandido voltou e devolveu. Disse que não ia levar porque... não era um Mac.
Ah, bom!

O amor que não ousa ladrar seu nome - JOÃO PEREIRA COUTINHO

FOLHA DE SP - 04/12


Como será o olhar apaixonado de um bode?
A disponibilidade sexual de uma cabra?


Confesso: nunca tive paixões por animais. Falo de paixões românticas, arrebatadoras, sejam platônicas ou mesmo carnais. Nunca perdi a cabeça por um porco, nunca me apaixonei por um cavalo, nunca pensei em constituir família com uma vaca ou uma galinha.

Às vezes penso que a culpa é da minha educação: uma educação repressiva, católica, claramente "especista", para quem os seres humanos eram seres humanos, os animais eram animais. E a arca de Noé não era a casa da mãe Joana. Terei perdido alguma coisa?

Provavelmente. Michael Kiok, líder de um dos principais grupos zoófilos da Alemanha, tem alguns pensamentos sobre o assunto. Aos quatro ou cinco anos, conta Kiok à revista "Der Spiegel", ele olhava para os animais domésticos com uma ternura especial. Nada de alarmante: quem, em juízo perfeito, não gosta de afagar um cachorro ou sentir o doce ronronar de um gato?

Acontece que os sentimentos de Kiok pela bicharada começaram a ganhar outros contornos na adolescência. Contornos eróticos que levaram a atos eróticos.

Para Kiok, que se escusa a esclarecer se hoje mantém relacionamentos monogâmicos ou promíscuos com bípedes ou quadrúpedes, os animais não são animais, muito menos "irracionais". São parceiros de pleno direito, que sabem como expressar a sua afetividade. Mais: segundo palavras do próprio, "os animais são mais fáceis de compreender do que as mulheres".

Sobre este último ponto, e com o devido respeito a Kiok, tenho dúvidas. É um fato que até Freud, no leito da morte, terá confessado uma certa frustração por partir deste mundo sem nunca ter entendido a cabeça feminina.

Mas o mundo evoluiu muito depois de Freud. E existe literatura abundante sobre os sinais românticos que as mulheres gostam de emitir para conquistar um homem. A forma como falam. Como sorriem. Como mexem no cabelo. Como tocam casualmente no braço do potencial parceiro.

Como será o olhar apaixonado de um bode? A disponibilidade sexual de uma cabra? O momento sacramental em que um hamster se rende às evidências, desiste de pedalar a sua roda e está pronto para ser beijado?

Temo bem que todas essas perguntas ficarão agora sem resposta. Isso porque a Alemanha tenciona ilegalizar o bestialismo com multas que podem atingir os 25 mil euros (mais de R$ 65 mil).

A Alemanha está cansada de pertencer ao mesmo clube que a Dinamarca, a Suécia e, claro, a Bélgica, onde o bestialismo é legal (no duplo sentido da palavra). Agora, através da câmara baixa do Parlamento, Berlim quer punir "comportamentos impróprios" com a espécie animal.

Não sei que dizer. Por um lado, entendo a necessidade de proteger os animais indefesos do país, que continuam à mercê dos cerca de 100 mil predadores sexuais que se aproveitam da fraqueza emocional de um pato ou de um esquilo para fazerem o que não têm coragem de fazer com um ouriço.

Mas que fazer nos casos de paixão correspondida? Devemos nós, humanos arrogantes, legislar afetos que não entendemos?

Por outro lado, prevejo dificuldades na aplicação da lei. A primeira, evidente, é saber como detectar casos de assédio e, sobretudo, agressões consumadas. Partindo do pressuposto de que o testemunho de um animal não tem grande peso na justiça, como detectar o olhar amedrontado de uma ovelha, obrigada a fugir continuamente das investidas do seu pastor? E como agir a tempo e horas quando, em prados ou chiqueiros, canis ou capoeiras, se estiver na iminência de um crime?

Sem falar do óbvio: se o Parlamento alemão deseja punir as "relações impróprias", o que será uma relação apropriada? Onde traçar a linha? Será possível beijar um cachorro? Em caso afirmativo, com língua ou sem língua? E, já agora, língua dele ou língua nossa?

Dúvidas, dúvidas, dúvidas. E, suspeito, o início de uma vida clandestina para amantes como Michael Kiok, condenados a viver as suas histórias nos calabouços da clandestinidade.

Só espero que Michael, e milhares como ele, não desistam dos seus sonhos e sigam em frente. A grande literatura romântica sempre se fez de amores proibidos. Tenho a certeza que a perseguição de hoje será um novo capítulo na história literária de amanhã.

Quem vai ficar com as crianças? - ROSELY SAYÃO

FOLHA DE SP - 04/12


Passar mais tempo com os filhos durante as férias escolares transformou-se em problema para os pais


TENHO RECEBIDO mensagens de pais -de mães, principalmente- que comentam as consequências que as férias escolares dos filhos provocam em suas vidas, levantam questões e manifestam dúvidas sobre o que fazer com as crianças durante o recesso.

Muitos deles perguntam se faz mal para a criança frequentar a escola nessa época, já que muitas delas oferecem recreação e cursos extracurriculares para a criançada ter o que fazer ou com quem ficar enquanto os pais trabalham.

Outros questionam se a criança precisa mesmo passar tanto tempo sem ir para a escola, sem encontrar seus colegas, sem ter atividades diferentes para realizar com seu grupo.

Há também os que reclamam. Vou citar uma leitora que, magoada, contou que havia planejado fazer um cruzeiro em meados do semestre próximo, mas que, como não encontrou alternativa para o filho, teve de renunciar ao passeio e marcar suas férias para o mês de janeiro, sem direito de viajar sozinha.

Alguns pais perguntam a partir de qual idade a criança pode ir para um acampamento, outros querem dicas do que inventar para os filhos fazerem em casa, perguntam se devem manter rotina, hora de sono, tempo no videogame ou computador, escola de esportes etc.

Há dúvidas de todo tipo. Então, vamos ajudar a esclarecê-las antes de refletir a respeito do tema.

Ir para a escola quando a maioria dos colegas não está lá não deve ser muito agradável para crianças, não acha, leitor? Além disso, deixar sua casa quando não é necessário -as crianças sabem o significado de férias- é custoso para elas.

Descansar dos adultos que trabalham na escola, do ambiente físico, das regras que lá existem, tais como hora de se alimentar, de trocar de roupa etc., é revigorante. Você não gostaria de passar dias de suas férias em seu local de trabalho, não é verdade?

À escola a criança vai para aprender. Mesmo no ciclo da educação infantil, o brincar da criança é diferente e promove o aprendizado. Nem sempre sabemos dizer o que ela está aprendendo, mas que aprende, aprende. E isso é exaustivo. Por isso, a criança precisa de férias escolares, mesmo quando pequena.

Ter filhos significa ter de renunciar, mesmo que temporariamente, a diversas coisas. Reclamar não é produtivo, já que o desejo de ter filhos foi dos próprios pais.

É recente essa ânsia dos adultos de criar programação para os filhos. Eles mesmos podem fazer isso, mas só se tiverem tempo para o ócio. Claro que, depois de viver apenas com os adultos dirigindo suas atividades, eles estranharão um pouco, mas vão aprender o quanto é valioso serem donos de seu tempo, de suas escolhas, da ordem de seus afazeres.

Por último, vale a pena pensarmos nos motivos que levaram muitos pais a tratar as férias dos filhos como um problema. Talvez, seja difícil saber o que fazer com as crianças sem a mediação dos horários rígidos e dos compromissos da agenda escolar. Talvez, seja mais difícil ainda conviver com os filhos por períodos maiores do que os pais estão acostumados.

A partir de quando ficar com os filhos em casa transformou-se em um problema? Desde o momento em que ter filhos passou a ser uma ideia diferente da de acompanhar a vida de uma criança, cuidar dela, dedicar-se a ela, ficar disponível para o que possa acontecer; desde que passamos a querer viver com filhos do mesmo modo que vivíamos antes de tê-los. A partir do momento em que nossa vida desobrigada deles parece ser muito mais sedutora.

Por que temos filhos?

Arte como estratégia - ANTONIO GRASSI


O GLOBO - 04/12

O entusiasmo quase embriagado com que os portugueses têm recebido o Ano do Brasil tem um sentido maior. A alegria brasileira contagiou o país e é percebida como antídoto para a crise financeira que ameaça a União Europeia e tem em Portugal um de seus pontos mais sensíveis. Mas essa celebração vai muito além das circunstâncias. No momento em que o Brasil se torna uma peça cada vez mais relevante no panorama mundial, a parceria com a ex-metrópole é também uma inteligente estratégia de longo prazo.

Para quem vivencia a festa que nossa arte tem provocado, a impressão é de que os portugueses pressentiram o óbvio, que juntos somos mais fortes. Tome-se o exemplo dos americanos e britânicos. Foi dura a Guerra de Independência dos Estados Unidos e levou sete longos anos até o reconhecimento da nova nação pela Coroa Britânica. No entanto, no fim do século XIX já amadurecia uma parceria que se revelou fundamental para o êxito dos dois países, que culminou com a vitória na II Guerra Mundial e sobreviveu ao teste do tempo.

Os artistas que agora nos representam em Portugal podem se tornar a vanguarda de um intenso e vitorioso processo de intercâmbio social, comercial, industrial, tecnológico e afetivo. Como não pensamos nisso antes? Há um desconhecimento mútuo entre nós, não viramos além das primeiras páginas, não mergulhamos além dos ícones, como as telenovelas e Saramago. Milhares de brasileiros passam por ano pelo aeroporto de Lisboa em escalas para outras cidades europeias, sem descer para conhecer um país acolhedor, que possui estonteantes atrações turísticas.

O Ano do Brasil em Portugal vai quebrar esse gelo. Compreendemos que os setores de cultura e turismo brasileiros precisam agir de forma mais coordenada e abrangente. O Ano do Brasil na França fez aumentar em 27% o número de turistas franceses por aqui, isso nos serviu de lição. Precisamos olhar para a nossa cultura também como um insumo, a cada dia mais bem cotado no mercado internacional.

Com investimentos do ministério da cultura e da Embratur, vamos levar, até junho de 2013, arte de qualidade a um público estimado em mais de seis milhões de portugueses. Desde o início da programação, um elenco estelar já fez o povo da Terrinha lotar casas de espetáculos e invadir as ruas. Até junho de 2013, outros artistas e coletivos vão integrar essa trupe de primeira linha. Parte dessa programação será selecionada por meio de chamada pública. Recebemos mais de 3.500 inscrições, o que prova a vontade do brasileiro de participar da festa.

Algumas conquistas dessa celebração vieram para ficar, a exemplo do Espaço Brasil, construído para abrigar nossa programação, mas que continuará em plena atividade depois. Ele representa o legado do Ano do Brasil em Portugal. As comemorações terminam, suas sementes germinam. A amizade entre nós se intensifica em progressão geométrica, com benefícios para os dois países. No momento em que a Ásia reforça os caminhos do Pacífico, cá estamos nós a preservar a relevância material e sociocultural do Atlântico, a redescobrir o bem que faz deixar o porto e saber que amigos nos esperam do outro lado.

Questão de identidade - JAIRO MARQUES

FOLHA DE SP - 04/12


Por que as pessoas com deficiência não têm um 'igual' no cargo criado para cuidar dos interesses delas?


POR TODO o país, prefeitos eleitos estão anunciando seus secretariados. Devido à pressão social e à necessidade latente, uma pasta relativamente nova pipoca nas administrações: a da pessoa com deficiência e com mobilidade reduzida, que deveria servir para atender demandas diversas e para representar esse público.

Porém, na maior cidade brasileira, São Paulo, que vai ser tocada pelo seu Fernando Haddad, do PT, o rumo de um órgão que seria fundamental para milhares de pessoas já descambou mais uma vez.

O petista, ao contrário de todas as correntes de seu partido, que vivem defendendo cotas, justiça social, oportunidades para todos, resolveu não considerar nada disso e fez do órgão um cabide para acomodar interesses partidários e políticos, o mesmo que já havia acontecido em outras administrações.

De novo, uma pessoa sem deficiência, ligada à área da saúde, vai ocupar a cadeira, que só tem rodas para facilitar o giro na mesa imponente, não para serem tocadas e dar rumo à vida, como são as dos veículos dos cadeirantes.

Não sou defensor da reserva de mercado e curto o discurso da promoção e do reconhecimento por competência, mas, por que raios as pessoas que puxam cães-guia, que tem o escutador de novela avariado, que babam um pouquinho, que são quebradas das partes ou que são descompensadas no geral não têm um representante que as identifiquem em um cargo público criado para cuidar dos interesses delas?

Não seria no mínimo estranho um "macho man" assumir a Secretaria da Mulher? E uma loirona de olhos azuis assumir a Secretaria da Igualdade Racial? O debate parece embolorado, até um pouco ingênuo, mas também é antiga a batalha do povo com sentidos e movimentos comprometidos em busca de maior acesso social, respeito a seus direitos e dignidade para suas condições.

Deficiência é uma condição humana, e não algo que, necessariamente, tem de ser tratado por pessoas que supostamente entendem de medicina, de doenças ou de administração hospitalar. Pensar assim é ultrajante, antigo como é a palavra "démodé".

Secretarias voltadas às pessoas com deficiência possuem orçamentos minguados e forte atrelamento aos recursos de outras pastas. O que resta, então, é o poder de dizer à população: "Olha, esse povo estropiado existe, viu?! Estão aí na praça e possuem seus direitos e deveres".

Não escolher um "igual" para o órgão ajuda a reforçar um conceito nefasto que teimam em aplicar a cegos, surdos, paralisados cerebrais, downs, amputados, cadeirantes: são semialfabetizados e nada qualificados para ocupar postos estratégicos seja no poder público, seja na iniciativa privada.

Só me resta latir do lado de cá, em território bem apartado, excluído, contra essas barbaridades que cometem, do lado de lá, de uma forma tão natural que emplacam sem fazer muito ruído e sem causar grande repercussão.

E minhas desculpas aos leitores pelo tom raivoso em pleno Natal. Vou tomar maracugina para ver se passa. Até uva, afinal, passa.

O futuro da internet - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S.Paulo - 04/12


A internet, essa maravilha sem dono, há tempos atiça a cobiça de governos, sempre dispostos a tentar controlar o fluxo das ideias, e de empresas de telecomunicação, interessadas em impor à rede mundial regras que lhes confiram receitas adicionais. Esse espectro paira sobre a conferência da União Internacional de Telecomunicações (UIT), que vai até 14 de dezembro em Dubai e que tratará dos ITRs (regulamentos internacionais de telecomunicação, na sigla em inglês). A última reunião para revisar os ITRs foi em 1988, quando a web, criada fora do mundo tradicional das telecomunicações, apenas engatinhava. De lá para cá, ela ameaça condenar os velhos modelos de negócio e de comunicação à obsolescência, razão pela qual é provável que surjam propostas para que se dê à UIT o poder de impor uma regulação que acabe por manietar a internet, situação que merece enfático repúdio.

A UIT, órgão da ONU que conta com a participação dos governos e das grandes teles, define padrões de modulação e coordena recursos de telefonia e de uso do espectro de radiofrequência. Sobre a estrutura de telecomunicações, mas indo muito além dela, roda a internet. Hoje, tudo acaba sendo transportado pela rede das redes, seja a antiga telefonia, seja o correio, seja a comunicação entre indivíduos, gerando novas formas de ganhos.

De certa maneira, a UIT vê sua atuação sendo reduzida nos novos tempos e vê os modelos tradicionais de receita das teles assediados por formas muito competitivas e baratas, capazes de implementar os mesmos serviços, mas de forma melhor. Assim, certamente haverá em Dubai quem defenda o aumento do espectro de atuação da UIT, tentando domar a internet, bem como haverá propostas de geração adicional de receitas sobre serviços de rede, que já pagam pelo que usam, mas que, pelo fato de gerarem ganhos em abundância, atraem a atenção das teles.

Se bem-sucedidas, essas propostas trarão múltiplos riscos à internet. Por um lado, pode ser quebrada a neutralidade da rede, em que a infraestrutura se encarrega apenas de levar a informação do gerador ao consumidor, sem distinção, garantindo uma rede em que todos podem ter acesso a tudo, dentro do plano de velocidade de conexão contratado. Se essa neutralidade for quebrada, não será de espantar que passemos a ter de assinar serviços específicos, como voz ou dados. Seria como voltar aos tempos antigos da telefonia a longa distância. O Parlamento Europeu e as entidades reguladoras de comunicações eletrônicas do continente já se posicionaram contra essa proposta. Ademais, taxas extras seriam um obstáculo à criatividade e ao empreendedorismo, que são as marcas da internet, onde ninguém precisa de licença ou contrato para testar ideias.

Outro valor em risco é o que se refere à abertura e à liberdade da rede. Através da UIT, governos tentam introduzir mecanismos de controle de conteúdo e comportamento na rede, ignorando o fato de que nela não há, nem pode haver, fronteiras claras. Quem deve escolher que sítios visita é o próprio indivíduo.

Finalmente, é importante notar que a internet usa infraestrutura de telecomunicações, mas com ela não se confunde. Não há porque a UIT arvorar-se em órgão regulador da internet. O Brasil é um bom exemplo nessa área porque aqui, desde 1995, a internet é considerada "serviço de valor adicionado" e, portanto, não submetida à Lei Geral de Telecomunicações de 1997 ou ao órgão regulador de telecomunicações. O Marco Civil da Internet, hoje em trâmite no Congresso, garantirá valores como os da neutralidade e do respeito à privacidade dos usuários, para que as conquistas que a web potencializou e que já fazem parte do nosso dia a dia não se percam.

A internet, por definição, é um ambiente livre. Quantidades imensas de informação tornaram-se disponíveis a todos, transações passaram a estar ao alcance dos dedos, opiniões puderam ser exprimidas facilmente gerando e articulando grupos de interesse e de ação. O mundo mudou muito desde a criação da internet e, cremos, para muito melhor. Esperemos que esses valores, tão caros a todos, não sejam ameaçados em Dubai.

A desmoralização das agências reguladoras - MURILLO DE ARAGÃO

BRASIL ECONÔMICO - 04/12


Dois episódios comprovaram o fracasso do modelo de agências reguladoras implantado no Brasil. O primeiro e mais escandaloso foi a venda de pareceres técnicos com a intermediação de dois ir-mãos integrantes da ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil) e da ANA (Agência Nacional de Águas).
O segundo refere-se à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que está demorando anos para autorizar o licenciamento de medicamentos no Brasil. A denúncia é da associação de fabricantes de medicamentos. A criação das agências reguladoras foi uma boa ideia no papel que acabou não funcionando bem. As razões são muitas e variadas. Faltam recursos e material humano. As agências são sabotadas pelos ministérios, que relutam em perder poder. As indicações que deveriam ser estritamente técnicas são políticas e pouco transparentes, além de seguirem critérios duvidosos. A indicação de dois irmãos por meio da ex-chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo é uma vergonha e demonstra como o modelo padece da necessária seriedade e transparência. Tampouco é adequado o papel de “proconzão” que as agências estão assumindo. Não custa lembrar que elas regulam setores estratégicos. E, como tal, não devem se comportar exclusivamente como agências setoriais de defesa do consumidor. Na época em que foi instituído pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o comando das agências tinha um perfil mais técnico e independente.
Ainda no governo FHC, a situação começou a piorar em termos de autonomia. No governo Lula, sucederam indicações políticas de cunho técnico precário que só fragilizaram ainda mais o modelo. O Senado Federal, responsável por analisar as indicações para as diretorias das agências, também tem seu quinhão de culpa, não dando o devido tratamento às sabatinas. O ideal seria que estabelecesse critérios técnicos que poderiam rejeitar a indicação de personalidades de perfil comprometido ou inadequado. O Senado deveria cobrar, de todos os indicados e sabatinados, um relatório anual de suas atividades a fim de que este seja submetido a debate parlamentar. Já que referendou a indicação do Executivo, cabe aos Senadores fiscalizar o desempenho do indicado.Falta, também, uma espécie de ombudsman para as agências, ou seja, uma instituição na qual os desvios possam ser denunciados e investigados, e o denunciante seja protegido. Ninguém, em sã consciência, critica abertamente uma agência reguladora, sob pena de ter seus interesses prejudicados na forma de uma retaliação.
A existência de uma corregedoria seria ideal para fiscalizar a atuação das agências. Além de serem fiscalizadas, elas deveriam também ter uma espécie de rating anual acerca de sua eficiência. Uma espécie de Enem para as agências. Tais avaliações deveriam ser divulgadas amplamente e submetidas a debate no Congresso.Considero a existência de agências reguladoras um avanço frente ao modelo anterior. Mas, da forma como funcionam, é essencial reavaliar o modelo e aperfeiçoá-lo. Urgentemente. Há anos tramita uma proposta na Câmara sobre o papel das agências. Infelizmente, o projeto não avança.

Um pedaço de Estado - GILLES LAPOUGE


O Estado de S.Paulo - 04/12


Depois de a Assembleia-Geral das Nações Unidas ter outorgado, por grande maioria, o status de membro observador à Palestina, o presidente Mahmoud Abbas, o arquiteto desse sucesso e chefe dos palestinos moderados, foi recebido triunfalmente em Ramallah, na Cisjordânia. E afirmou: "Agora temos um Estado".

Muito bom. Mas tal Estado é apenas um "pedaço de Estado". Além disso, os israelenses já lançaram uma violenta contraofensiva. Orquestrado pelo primeiro-ministro Binyamin Netanyahu, no momento, o contra-ataque envolve dois aspectos, ambos ameaçadores: de um lado, a retomada espetacular da ampliação de assentamentos na Cisjordânia. De outro, o bloqueio dos fluxos financeiros.

No aspecto financeiro, o governo israelense arrecada mensalmente impostos e direitos alfandegários em nome da Autoridade Palestina que repassa depois para o governo em Ramallah. Domingo, anunciou que não repassará a soma de 460 milhões de shekels, o equivalente a 92,7 milhões, que deveria remeter à Autoridade Palestina. Motivo: o desconto de uma dívida que a Palestina tem com a concessionária de energia israelense.

Quanto aos assentamentos, Netanyahu afirmou que autorizará a construção de 3 mil novas casas na Cisjordânia. O premiê israelense justificou a decisão como "uma resposta ao ataque contra o sionismo e o Estado de Israel nas Nações Unidas".

E Netanyahu precisou: "Hoje, nós construímos e continuaremos a construir em Jerusalém e em todos os lugares estabelecidos no mapa de interesses estratégicos da Terra de Israel".

Há muito tempo Israel vem ampliando assentamentos, apesar da desaprovação internacional. Mas a construção mencionada agora é de uma natureza muito particular. Ela se situa na chamada zona E-1, entre Jerusalém Oriental e o assentamento de Maale Adumin.

Especialistas israelenses, como Laurent Zecchini, entenderam rapidamente que este lugar não é inocente. O futuro assentamento terá um sentido bastante estratégico. Na verdade, será uma "continuação territorial" israelense em Jerusalém Oriental, o que significa que vai realizar um corte na Cisjordânia a ponto de comprometer de fato a viabilidade deste Estado palestino anunciado por Abbas no seu retorno a Ramallah, no domingo.

Alerta. A viva reação do governo israelense contra a votação nas Nações Unidas colocou de sobressalto as capitais ocidentais, especialmente Londres e Paris. O ministro francês do Exterior, Laurent Fabius, e seu homólogo britânico, William Hague, consultaram-se. E protestaram ao governo de Israel. Na manhã de ontem o jornal israelense Haaretz chegou a anunciar que os governos francês e britânico estariam prontos para recolher seus representantes diplomáticos em Israel. Informação desmentida. No momento.

Outros países europeus, como Alemanha e Holanda, além da União Europeia como bloco, também manifestaram inquietação. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

A lei vs. a "vontade" de Israel - CLÓVIS ROSSI

FOLHA DE SP - 04/12


Governo israelense despreza completamente a legalidade internacional e se isola ainda mais


Foi inútil, como se poderia antecipar, a pressão de um punhado de países europeus para que Israel abandone o projeto de construir mais 3.000 residências para colonos judeus na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, territórios que pertencem aos palestinos, de acordo com a legislação internacional.

Na semana passada, o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu já havia dado uma solene bofetada na legalidade internacional, com a sua frase sobre a decisão da Assembleia Geral das Nações Unidas de conceder à Palestina o status de Estado observador.

Disse Netanyhau: "Não há decisão da ONU que possa romper 4.000 anos de vínculos entre o povo de Israel e a terra de Israel".

Dane-se a legalidade internacional. O que vale é exclusivamente a vontade "do povo de Israel".

Uma frase com esse desprezo pela única legalidade global disponível (as decisões da ONU), se pronunciada por um líder muçulmano, mais ainda se fosse iraniano, provocaria uma tempestade de condenações no Ocidente (e em Israel).

E seria justo porque, se se desrespeita o que decide a organização internacional mais legítima de que o planeta dispõe, resta apenas a lei do mais forte -e os judeus já experimentaram em carne própria o que significa a lei do mais forte.

Pena que Israel se dedique nos últimos muitos anos a adotar o seu próprio arbítrio. Não cumpre resoluções da ONU desde 1967, pelo menos, quando a organização internacional determinou que deveria devolver os territórios ocupados na guerra daquele ano.

Despreza também uma das convenções de Genebra, que veda a implantação de populações em territórios conquistados.

O número de colonos que Israel foi implantando em território palestino beira os 350 mil, sem contar os 200 mil instalados na parte oriental de Jerusalém, legalmente árabe.

Pior ainda: boa parte desses colonos dedica-se ao exercício de hostilizar os palestinos, conforme recente relatório do Comitê de Política e de Segurança da União Europeia. "Os ataques são cada vez mais severos e, em algumas áreas, mais coordenados", diz o texto, além de mais frequentes (aumentaram 32% em 2011 sobre 2010).

As hostilidades afetam homens, mulheres, crianças, campos agrícolas (10 mil árvores já foram arrancadas) e lugares de culto (só este ano, dez mesquitas foram destruídas). Não cabe aqui o argumento israelense de que, como Israel é atacada por foguetes lançados de Gaza, não pode ficar de braços cruzados. Ao contrário de Gaza, na Cisjordânia ocupada, os palestinos não disparam foguetes contra judeus.

A frase de Netanyahu torna inútil qualquer peroração legalista ou moralista a respeito da ocupação.

O que conta, na prática, é apenas o seguinte: a violação da legalidade internacional funciona para Israel?

Por enquanto, está funcionando. Mas o crescente isolamento internacional do país e o crescente alcance dos foguetes do Hamas/Jihad Islâmica sugerem que a "terra de Israel" não pode indefinidamente impor sua vontade imperial.

As masmorras brasileiras - GIL CASTELLO BRANCO

O GLOBO - 04/12

O GLOBO - 04/12


O aumento da criminalidade está relacionado à negligência do Estado por meio dos seus vários agentes



Há três anos, a Holanda enfrentou uma crise em seu sistema prisional. Como a criminalidade decrescia, o governo holandês viu-se na iminência de fechar penitenciárias e demitir 1.200 funcionários, tal a quantidade de celas vazias e de carcereiros desocupados. Em resumo, enquanto lá faltam criminosos, aqui faltam presídios.

A explicação para esse paradoxo está, em parte, na Educação. No século XIX, o poeta e estadista francês Victor Hugo disse: “Quem abre escolas, fecha prisões.” O conselho não foi absorvido por todas as nações. Na semana passada, por exemplo, foi divulgado o Índice Global de Habilidades Cognitivas e Realizações Educacionais, que avaliou a qualidade da Educação em 39 países. A Holanda ficou em sétimo lugar enquanto o Brasil foi o penúltimo.

Além da Educação, outros fatos justificam a degradação do sistema penitenciário. Em 1940, o IBGE constatou que 69% da população viviam no campo e apenas 31% moravam nas cidades. Atualmente, 84% dos brasileiros residem nas cidades e somente 16% na área rural. As cidades incharam sem políticas públicas de habitação, saúde, saneamento, entre outras, o que contribuiu para o surgimento de cinturões de miséria que abrigam alguns milhões de pessoas sem direitos e esperanças. Assim, é evidente que o aumento da criminalidade está diretamente relacionado à negligência do Estado por meio dos seus vários agentes. Como consequência, nos últimos 16 anos, o indicador “número de presos por cem mil habitantes” praticamente triplicou, passando de 95 para 270. Atualmente temos 514 mil presos, a quarta maior população carcerária do mundo. Só ficamos atrás dos Estados Unidos (2,2 milhões), China (1,6 milhão) e Rússia (740 mil). No entanto, a capacidade máxima das 1.312 unidades prisionais brasileiras é de apenas 306 mil detentos, o que gera déficit de 208 mil vagas. Como cada vaga criada custa cerca de R$ 20 mil, o rombo é de R$ 4,2 bilhões. Essa situação seria atenuada caso o Judiciário fosse mais ágil, visto que 37% dos detentos são presos provisórios, com processos não julgados. Por outro lado, imaginem se fossem executados os 500 mil mandados de prisão expedidos e não cumpridos...

A manutenção dos presídios brasileiros — verdadeiras filiais do inferno — não é barata. Como 82% dos presos não trabalham, o ócio é subsidiado. O custo médio mensal para a manutenção de um preso em presídio comum é de R$ 1.500, chegando a R$ 4.500 em penitenciária de segurança máxima.

Estes números foram apurados pela CPI do sistema carcerário, instaurada em 2007 na Câmara dos Deputados. Após oito meses de trabalho e diligências em 18 estados, os parlamentares emitiram relatório abrangente com 42 recomendações. Apresentaram também 12 projetos de lei, mas apenas cinco foram aprovados. O próprio relator da CPI, deputado Domingos Dutra (PT-AM), considera que a maioria das questões não foi tratada com a seriedade devida.

Entre as sugestões encaminhadas aos ministérios da Justiça e do Planejamento estava, por exemplo, a de evitar o contingenciamento de recursos do Fundo Penitenciário Nacional (Funpen). A recomendação foi inútil. Em 2011, a dotação do Funpen foi de R$ 269,9 milhões, mas apenas R$ 91,4 milhões foram pagos, incluindo os restos a pagar. Em 2012, a menos de um mês do fim do ano, dos R$ 435,3 milhões autorizados somente R$ 89 milhões (20,6%) foram gastos.

A Lei Complementar 79/1994, que criou o Funpen, definiu diversas fontes de recursos para o aprimoramento do sistema penitenciário. A mais relevante é o percentual de 3% das loterias federais. Ocorre que o dinheiro das apostas é “contabilizado” no Fundo, mas não é integralmente utilizado. Parcela significativa fica esterilizada para a formação dos superávits primários. Tal prática caracteriza o descumprimento da lei que deu origem ao Fundo, tornando necessárias providências do Ministério Público junto ao Judiciário para resgatar os objetivos da legislação. É contraditório o ministro preferir morrer a ficar preso enquanto o Funpen tem R$ 1,4 bilhão em “disponibilidade”.

Nelson Mandela, que passou quase três décadas na cadeia, comentou no passado: “Para avaliar a situação sócio-econômica de um país, visite as suas prisões.” No Brasil, as masmorras são conhecidas. Na Holanda, o drama são as prisões vazias. Como os problemas são complementares, não duvido que algum iluminado proponha o aluguel (em euros) das ociosas celas holandesas para “hospedar” os condenados pelo STF. Posso até imaginar ministros simpáticos à ideia...

O custo de uma condução equivocada da economia - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S.Paulo - 04/12


A frustração dos meios econômicos diante da divulgação dos dados do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre passou ao largo de um aspecto importante, a saber, das consequências de um modelo de desenvolvimento baseado no consumo e a responsabilidade do governo na escolha de um modelo inadequado para enfrentar a atual conjuntura.

Os dados do lado das despesas mostram que essa política econômica conseguiu o que o governo queria: o consumo das famílias cresceu mais do que o PIB no trimestre - 0,9%, para um aumento de 0,6% do PIB -, enquanto, pela quarta vez consecutiva, a Formação Bruta de Capital Fixo apresentou o pior resultado de cinco trimestres, com queda de 2,8%.

Para entender esse resultado, temos de examinar os dados do PIB do ponto de vista da oferta. O setor industrial, no seu conjunto, apresentou queda de 0,9%, assim composta: mineração, -2,8%; transformação, -1,6%; construção civil, +1,7%; e eletricidade, +2,1%. Vê-se, claramente, que a oferta da indústria de transformação ficou bem abaixo da demanda doméstica, embora as contas nacionais apresentem uma redução bastante grande, de 6,5%, das importações. Isso porque as importações de gasolina não foram incluídas nas estatísticas, o que mereceria, aliás, explicação do governo. Outra explicação seria por que a mencionada queda de 6,5% nas importações de bens e serviços não aparece nas estatísticas do comércio exterior nem nas dos serviços.

O mais importante se registra nos serviços de intermediação financeira, que, com uma queda de 1,3%, responderam pelo resultado pífio do PIB, o que surpreendeu os analistas.

Trata-se de um setor em que a intervenção do governo foi profunda, com a queda da taxa Selic, que se traduziu em recuo das taxas efetivamente praticadas pelas instituições financeiras, embora continuemos com taxas de juros muito elevadas. Pode-se perguntar se a intervenção não foi excessivamente rápida e não apresenta um risco de desestabilização das instituições financeiras.

Porém, o que mais preocupa é que as contas nacionais estão mostrando uma queda dos investimentos. Se eles fossem maiores, teriam efeito mais sadio sobre a demanda, sem afetar a balança comercial nem os preços, e permitiriam à indústria brasileira dispor de melhor infraestrutura para aumentar a competitividade dos bens oferecidos nas exportações, a um preço muito mais baixo do que agora, com a redução dos custos de transporte terrestre, portuário e marítimo.

Voltarão os investimentos? - ANTONIO DELFIM NETTO


Valor Econômico - 04/12


Segundo os cálculos do IBGE, o crescimento do PIB no terceiro trimestre de 2012 sobre o segundo trimestre foi da ordem de 0,6%, depois da correção sazonal. Anualizado, anda às voltas de 2,4%. O desencanto geral refere-se menos à taxa que vem caindo desde o primeiro semestre de 2011, quando se mede através do crescimento acumulado nos últimos quatro trimestres (como se vê abaixo), e mais à surpresa do número.

Para relativizar o resultado, é preciso considerar que as altas taxas de crescimento iniciais ainda refletem a comparação com as vigentes ao longo de 2008-2010 depois da grave crise iniciada com a falência do Lehman Brothers, e que nos levou a uma taxa de crescimento negativa no terceiro trimestre de 2009.

A brutal flutuação da nossa taxa de crescimento (6,4% no primeiro trimestre de 2008, -1,4% no terceiro de 2009 e 7,6% no terceiro de 2010) esconde o fato de que nunca crescemos consistentemente mais do que 4% ao ano no período de 2003 a 2012, ou mais do que 3% entre 1995 e 2002. O administrador deve aprender que não deve brigar com os números. Por mais desagradáveis que sejam, eles são o passado. Estão dados. O que não está dado é o futuro! Esse depende da capacidade do governo de cooptar o setor produtivo privado para aumentar os investimentos.

O resultado revelou o conhecimento precário da realidade tanto das autoridades como dos famosos "analistas financeiros", que se supõem portadores de um "conhecimento científico". Todos agem de acordo com o velho axioma: o erro coletivo é inofensivo para reputação do agente!

Todos (inclusive quem escreve esta coluna) estávamos convencidos de que o crescimento entre o terceiro e o segundo trimestres seria parecido com 1%, e acreditávamos que dispúnhamos de "indicadores antecedentes" de boa qualidade. Agora só resta uma saída para salvar a cara perdida: é que o IBGE tenha errado feio, o que, honestamente, é pouco provável.

Mas ainda há esperança. Mesmo decepcionantes, os números revelam que a situação está melhorando. Enquanto no terceiro e quarto trimestres de 2011, e no primeiro de 2012, a taxa de crescimento com relação aos anteriores, corrigida pela variação estacional, ficou estável em 0,1% (o que sugere um crescimento anualizado de 0,4%), no segundo trimestre deste ano com relação ao primeiro, o crescimento foi de 0,2%, sugerindo um crescimento anual da ordem de 0,8%, e o do terceiro trimestre de 0,6%, o que leva à estimativa para um crescimento anualizado de 2,4%.

Se os efeitos de todos os estímulos já dados forem capazes de acordar o "espírito animal" dos empresários, talvez possamos ter um crescimento de 0,8% no quarto trimestre sobre o terceiro, o que nos levaria a deixar para trás o difícil 2012, rodando a uma taxa anualizada de 3,6%!

O fato realmente trágico das contas nacionais de julho-setembro de 2012 é que elas revelam o quinto trimestre consecutivo de redução do nível de investimentos. O problema é que nem a bem-sucedida política de queda da taxa de juros real, nem o controle do movimento de capitais, que levou a uma recuperação da taxa de câmbio, nem os incentivos fiscais, alguns da maior importância no longo prazo, como é o caso da desoneração da folha de salários, nem o excepcional esforço através do BNDES, nem os estímulos à inclusão social, que asseguram um aumento da demanda, foram capazes de mobilizar os investidores privados.

Estímulos não foram capazes de mobilizar investidores privados

A verdade é que a resposta ao ativismo do governo, em geral na direção correta, foi, infelizmente, acompanhada de ruídos de comunicação por parte dos agentes públicos que interagem com o setor privado no campo fundamental da infraestrutura.

Frequentemente eles manifestam alguma prepotência e muita idiossincrasia, o que tem comprometido a relação de confiança que deve prevalecer entre o setor público e o privado. Obviamente, o primeiro pode e deve fixar as regras do jogo com lógica aceitável numa economia de mercado, mas o segundo tem todo o direito de exigir que sejam de máxima clareza, transparentes e respeitadas.

A falsa ideia que se generalizou no setor financeiro e no setor real da economia - que a política do governo objetiva ampliar a sua ação, fixar preços, regular e controlar atividade privada, ampliar a "estatização de setores estratégicos" - é consequência da relação vista como hostil pelos que têm contato necessário e direto com os agentes públicos que detém o poder, o que, aparentemente, têm produzido mais calor do que luz.

Quem conhece a inteligência da presidente, sua disposição de estudar cuidadosamente cada problema e seu pragmatismo, tem muita dificuldade de entender como se chegou a tal distância de confiança entre o governo e o setor privado de infraestrutura. Uma coisa é certa. Enquanto ela não for anulada, é pouco provável que o "espírito animal" volte a comandar os empresários e se ampliem os investimentos.

Um alívio para os gregos - MIRIAM LEITÃO


O GLOBO - 04/12

A Grécia enfrenta desemprego de 25%, está em recessão há cinco anos e em março deu calote em parte da dívida. Mas, no meio desse caos econômico, pelo menos um indicador tem apresentado melhora nos últimos seis meses: os juros cobrados do governo estão em forte queda; saíram de 37% em março para 14% ontem. Isso diminui o risco de saída do país da zona do euro.

O retorno para 14% representa um alívio para os gregos, embora a taxa ainda esteja bem acima da de outros países. O governo português, por exemplo, paga 7,3%. A Espanha, 5,2%, e a Itália, 4,4%, para títulos com vencimento em 10 anos. De qualquer forma, a trajetória tem sido de queda e isso é uma boa notícia.

A taxa de juros cobrada dos governos é um dos principais indicadores de solvência. Se os juros são muito altos, isso quer dizer que ninguém quer financiar o déficit público. Há receio de calote, por isso, o preço cobrado é maior.

Parte dessa melhora é resultado do enorme esforço feito pelos gregos nos últimos anos para cortar gastos. Outra parte está relacionada ao programa de recompra de títulos públicos que o governo apresentou ontem. Os papéis que estão nas mãos de credores privados serão recomprados com desconto de até 70%. Para isso, serão usados recursos dos fundos de socorro. De forma simplificada, a Grécia ficará devendo menos ao mercado e mais aos seus vizinhos da zona do euro.

- Se a operação der certo, diminui bastante o risco de saída da Grécia da zona do euro. Os gregos ficam mais protegidos pelos outros países da região quando a dívida sai das mãos de credores privados e passa para fundos públicos - explicou Monica de Bolle, da Galanto Consultoria.

A chanceler alemã, Angela Merkel, disse que o bloco pode perdoar um pedaço da dívida que a Grécia fez com os fundos de socorro. Para isso, será preciso que as contas gregas voltem ao azul, o que não acontecerá antes de 2014, pelas projeções da chanceler. Ou seja, o caminho é longo.

Ao lado do abismo fiscal americano, a Europa representa uma das principais ameaças para a economia mundial em 2013. Saber que o risco grego está em queda é uma ótima notícia não só para os gregos, mas também para o crescimento de nossa economia, que minguou nos últimos dois anos.

Espanha: maior dívida em 100 anos
A dívida pública da Espanha só faz crescer, enquanto a economia encolhe. No terceiro trimestre, superou ¬ 817 bilhões, o que equivale a 77,4% do PIB, o nível mais alto em 100 anos. E os números ainda vão piorar: estimada em ¬ 41 bilhões, a ajuda da Europa trará alívio a alguns bancos espanhóis, mas o efeito colateral será mais aumento de dívida para o governo.

Quem puxará o PIB?
Imagine que o PIB é uma carruagem puxada por sete cavalos. Três deles são a indústria, os serviços e a agropecuária. Outros quatro são os consumidores, o governo, os investimentos e o comércio com o exterior. Adaptando o exemplo para a economia brasileira, a indústria passa por um momento complicado, e os investimentos estão em queda. Os dois estão fora de forma. Já o governo gastou demais, e os consumidores fizerem muitas dívidas. Dão a impressão de cansaço. Como os países ricos estão em crise, o comércio com o exterior perdeu o ritmo. Difícil que ele aguente o tranco. Só restam, então, para puxar o nosso PIB, a agropecuária e o setor de serviços, incluindo aí o comércio. Parece pouco provável que o andar da carruagem seja forte apenas com esses dois. Ontem, o Boletim Focus reduziu para 1,27% a estimativa de crescimento deste ano e para 3,7% a do ano que vem.

TUDO DE BOM - MÔNICA BERGAMO


FOLHA DE SP - 04/12

Madonna enviou um presente a Dilma Rousseff ontem: uma foto da turnê com autógrafo. "Presidente Dilma Rousseff, lamento que não pudemos nos encontrar. Eu desejo todo o melhor para o seu lindo país. Com todo o meu amor, Madonna." Com agenda lotada, a presidente não conseguiu abrir espaço compatível com as poucas janelas que a cantora tinha para ir a Brasília.

VIP
A filha de Dilma, Paula, foi convidada para o camarote VIP preparado para receber os convidados da cantora no Rio.

REFEITÓRIO
Madonna não deu as caras no restaurante do hotel Fasano do Rio, onde estava hospedada. A cantora e seu entourage comiam as refeições preparadas pelo chef da própria comitiva em um refeitório improvisado no business center do local.

O OLHO DO DONO
O empresário de Madonna, Guy Oseary, casado com a top Michelle Alves, ficou menos de cinco minutos no espaço chamado de "golden triangle" (triângulo dourado), em frente ao palco. Viu um convidado acender um cigarro de maconha e o repreendeu, em inglês: "É proibido isso aqui. Apague, por favor". O homem não respeitou e foi expulso do local. Depois, Guy ficou fotografando a cantora de cima do palco.

IRMANDADE
Os filhos de Madonna, David Banda e Mercy James, ambos com sete anos, foram para o parque dos Atletas, no Rio, com a mãe. Uma hora antes de o show começar, os dois, junto com uma babá, dançavam atrás do palco ao som de "Another Brick in the Wall", do Pink Floyd.

BATERIA PROLONGADA
E os filhos de Michelle e Guy, Oliver, 6, e Mia, 3, estavam com os avós maternos na festinha no backstage, antes do show. O menino, que vive com os pais em Los Angeles, respondia com um "oi" a quem tentava cumprimentá-lo em inglês.

SHALOM
O professor de cabala da rainha do pop, o rabino Yehuda Berg, estava no camarim com ela. Participou da reza antes de o show começar. Fizeram algumas orações em português.

PREVENIDA
Em plena pista VIP, Regina Casé sacou um par de tampões e colocou nos ouvidos antes de Madonna entoar a primeira canção.

NERVO
A demissão de sua filha Mirella da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) levou a ex-secretária da Presidência Rosemary Noronha "ao desespero", segundo interlocutor dela.

A outra filha, que dá aulas em uma escola particular de inglês, também foi afastada do trabalho por um tempo.

NERVO 2
Na tentativa, até agora infrutífera, de falar com Lula, Rosemary dizia que queria dar a ele "explicações". Até o fim de semana, o ex-presidente evitava atendê-la.

LIBERDADE CORRIDA
Luis Octávio Índio da Costa, ex-controlador do Banco Cruzeiro do Sul, está aproveitando a liberdade. Depois de ter ficado duas semanas preso e ser indiciado pela Polícia Federal por um rombo contábil de R$ 3,1 bilhões, correu neste fim de semana a prova Family Run, na fazenda Boa Vista, interior de SP.

NOVO QUADRO
O artista plástico Roberto Camasmie está alugando o andar de baixo de seu ateliê, na rua Oscar Freire. "Só preciso do mezanino para trabalhar, então faço parcerias." O próximo evento será a venda de acessórios das filhas do investidor Naji Nahas. Camasmie não faz mais retratos de celebridades, como Madonna e Lady Gaga.

MADONNA DO RIO
Madonna se apresentou anteontem no parque dos Atletas, no Rio. Estavam no camarim da artista Oliver e Mia Alves Oseary, filhos do empresário da cantora, Guy Oseary, e da modelo Michelle Alves, com a avó Katia Alves. Murilo Rosa e a mulher, Fernanda Tavares, estavam na pista VIP. Um camarote fez "esquenta" para o show no hotel Copacabana Palace, ao qual foram os atores Taís Araújo, Christiane Torloni e Claudia Jimenez, o tenista Guga e a artista plástica Adriana Varejão.

Curto-circuito

Isa Grinspum Ferraz lança hoje o DVD do filme "Marighella", às 20h30, na Cinemateca.

Paula Pedroso inaugurou seu novo escritório de comunicação, na rua Francisco Leitão.

A Associação Cedro do Líbano faz hoje sua festa de Natal.

O Procon-SP diz que as operadoras de celular também terão que quebrar o sigilo das ligações indesejadas recebidas por consumidores de centros de telemarketing em geral.

O médico francês Henry Leleu participa de seminário organizado pela ANS, no Rio.

Conversa franca - SONIA RACY


O ESTADÃO - 04/12


Não há expectativa de que novas medidas econômicas sejam anunciadas hoje, depois do encontro entre Dilma e Guido Mantega.

Segundo se apurou ontem, no Planalto, o ministro deve explicar – agora pessoalmente – o porquê do ‘pibinho’. A Fazenda atribui o fraco desempenho da economia a um erro do IBGE. Mais precisamente, no cálculo do consumo do governo, baseado em dados do BC.

Conversa 2
Mantega aposta que o instituto vai rever seu procedimento e fazer a compensação.

Na semana pas sada, Dilma enfrentou agenda difícil, cheia de negociações. Mas o que irritou a presidente mesmo foi o PIB. Não pelo número, mas pelo grave erro de projeção.

Lugar garantido
Depois de elegerem seus sucessores, os prefeitos tucanos Barjas Negri e Vitor Lippi, de Piracicaba e Sorocaba, ganharam pontos com Alckmin e estão bem cotados para assumir cargos no governo do Estado.
Uma das vagas a serem abertas nos próximos dias é a da presidência da Companhia Paulista de Obras e Serviços.

Cabeças...
Tem gente apavorada com a ida de Luís Inácio Adams ao Congresso para explicar o caso Rosemary. Motivo? É tido como péssimo orador.

Dilma teria condicionado a permanência dele no comando da AGU ao seu desempenho.

...a prêmio?
Por outro lado, ninguém duvida da desenvoltura de José Eduardo Cardozo, ex-deputado, ao tratar do imbróglio. Embora setores da PF queiram vê-lo demitido na próxima reforma ministerial.

E o tatu?
Começou cedo. Já tem site vendendo ingresso para a Copa das Confederações com ágio de mais de 300%.
O jogo de abertura do torneio, entre Brasil e Japão, cujo ingresso mais caro foi tabelado pela Fifa em R$ 266, sai por, no mínimo, R$ 976.

Quem se habilita?
O grande “problema” de Kaká, atualmente, são os estimados 750 mil euros que recebe mensalmente do Real Madrid. O clube garante que, para levá-lo do Bernabéu, basta ao interessado... pagar seu salário.

O contrato do jogador se encerra em junho de 2015.

Em português
E a Rocco arrematou os direitos de publicação do concorrido A Luz Entre Oceanos – romance de estreia da advogada M. L. Stedman. Que está, desde outubro, entre os mais vendidos no mundo.

No forno
Fernando Meirelles está em Londres trabalhando na pré-produção de Nêmesis, sobre o magnata grego Aristóteles Onassis.

Procura um protagonista –- que, no longa, vai dos 48 aos 73 anos. Dúvida: escolher entre ator velho ou envelhecer um jovem.

Non grata
Tem credor do Banco Cruzeiro do Sul indignado.

Teve de assistir, passivamente, Luis Octavio Índio da Costa participar de corrida no condomínio Fazenda Boavista, no interior de São Paulo, no fim de semana.

Suando a camisa
Selton Mello está em Los Angeles com sua produtora, Vânia Catani. Cumprem intensa agenda de eventos para emplacar O Palhaço no Oscar.

Ai, o bolso
Está explicada a forte presença de advogados na votação da OAB-SP, que chegou a tumultuar ainda mais o trânsito paulistano. A multa por não votar é de... 20% sobre a anuidade.

Ueba! Madonna é perigosa! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 04/12


A Madonna vem tanto ao Brasil que um amigo encontrou com ela na fila do pãozinho do Bom Preço!


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Semana animada: Madonna, Rosemary e Timão! E diz que a Rosemary é corruptrefe: corrupta mequetrefe!

E um leitor disse que o Lula é muito cabra macho, nasceu em Garanhões! Garanhuns vira Garanhões! Rarará! E um amigo me disse que a imprensa virou fiscal de pinto e fiscal de rosca! E uma petista disse que "este caso Rosemary é futrica". Futrica, não! FUCKTRICA! Rarará!

E a Madonna? A Madonna tá igual ao Roberto Carlos, dois shows por ano. Um no início e outro no final! A Madonna vem tanto ao Brasil que um amigo meu encontrou com ela na fila do pãozinho do Bom Preço em Itaquera! Rarará!

Eu amo a Madonna! Ela conhece o Brasil melhor do que qualquer sociólogo. Olha a palavra que ela gritou no palco e tatuou nas costas: "PERIGUETE!" Isso! O Brasil é o pais das periguetes. E a Madonna é perigosa: periguete idosa! E gostosa! Ainda!

Na primeira vez que esteve no Brasil, ela falou "perereca". Na segunda, falou "Flamengo". E agora: "periguete". Já sabe falar português: perereca, Flamengo e periguete! O resumo do Brasil: perereca, Flamengo e periguete. Tudo o que um ser humano precisa pra ser feliz! Rarará!

E ela no palco: "Eu sou periguete! Estou gostosa?". Tá! Mas tá com a roupa da Xuxa! Paquita total! Atrasou três horas pra se fantasiar de Xuxa? Rarará!

Olha o que uma amiga escreveu no Twitter: "Tô de saco cheio de Dirceu, Lula, FHC, PT e PSDB e do ativismo político pastelaria do Facebook". Eu também! Apoiado! Assino embaixo! E dou fé! Registro no cartório!

E São Paulo x Corinthians? O São Paulo carimbou o passaporte do Corinthians! 3 x 1! Sabe o que o Corinthians levou pro Japão? Um chocolate! Chocolate reserva! Rarará!

E isso não pode, comentarista da Globo: "A torcida do São Paulo ficou feliz em ver o Ganso!". E ainda falou isso pro próprio! E o comentarista Muller: "O legal do Lucas é que ele foi ao banco de sangue e doou do próprio sangue". Rarará! Pérolas do Brasileirão!

E um são-paulino pediu pra tranquilizar a nação corintiana: o Chelsea é bem pior do que os reservas do São Paulo. E atenção! Timão rumo a Tóquio! Os corintianos arrombaram as janelas do avião pra ficar batendo com as canecas na lataria! Rarará!

Nóis sofre, mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Os cabelos de Celeste - ARNALDO JABOR


O Estado de S.Paulo - 04/12


Um dia meu avô me apresentou a sua amante. Chamava-se Celeste e tinha o cabelo muito ruivo, desgrenhado, olhos muito azuis que me fitaram com um afeto risonho onde havia uma ponta de tristeza. Ela me beijou trêmula e carente como uma avó postiça. Eu era o único membro conhecido de uma família que a excluíra da vida. Ao mesmo tempo, ela se sentia vítima e traidora, o drama das amantes da época. Daí a melancolia que reprimia com seu sorriso. D. Celeste. "É de uma importante família de militares", dizia meu avô com secreto orgulho da namorada. "Que gracinha... você é xará do seu avô..." Eu não sabia o que era 'xará' - tinha uns 7 anos, no máximo. Meu avô não disse nada, mas eu via que entre os dois havia mais do que a amizade de colegas. Havia uma intimidade disfarçada, toques rápidos nos braços, carícias que paravam no meio, um cuidado suspeitoso comigo, tão pequeno para os segredos da vida.

Foi a primeira vez que eu a vi. A segunda vez foi muitos anos depois.

Minha mãe e minha tia sabiam do caso. Ouvia-as falando 'por alto' ao telefone, comentando o 'crime' de meu avô, referindo-se em código a ela, como 'a sujeitinha, a tal'. Minha avó, creio, não sabia de nada. O estranho é que eu via tudo, na lucidez infantil diante do óbvio. E era mais intrigante ainda o fato de que ela parecia com minha avó Zulmira, muito branca, olhos claros e cabelo desgrenhado, só que azul. Isso. Minha avó tinha o cabelo azul, pintado para esconder as madeixas brancas. Minha pobre avozinha sofria calada, entretida com suas plantinhas que ela cuidava com amor - "minhas bromélias, meus "dentes-de-leão", "minhas margaridas". No fundo de suas prováveis suspeitas havia o consolo de se sentir casada, com família, para a qual D. Celeste não existia.

Minha avó era culta, falava francês bem ("Cachez votre bonheur!", me dizia ela que, sem dúvida, escondia a sua "malheur".)

Um de seus orgulhos era ter cuidado do Manuel Bandeira numa fazenda onde o poeta tentava a cura da tuberculose: "Despejei muito balde de hemoptises, coitado"...

As amantes de antigamente eram quase partes da família, partes ocultas, agregadas ao sistema sagrado do lar, quase um 'serviço social'.

D. Celeste me deu um beijo longo, quando saímos da repartição. Meu avô deixou-me dar uma tragada em seu cigarro e falou para si mesmo: "Me ajudou muito essa 'criatura'..." Achei a palavra estranha - carinhosa e cruel. D. Celeste. E esse amor não foi um casinho de colegas não; durou mais de 30 anos - bodas tristes, cinzentas, bodas de nada.

Os anos passaram. Eu levava meu avô, já gagá, ao Jockey Club para conversar com os tratadores seus amigos: "A Garboza corre hoje, Ernani?" Não, seu Arnaldo, ela já morreu. "Tudo se misturava - passado e presente eram iguais."

Vovô já vivia numa cadeira de balanço que ele impulsionava com muita rapidez, quase violência, como se quisesse voar pela janela afora.

Havia um grande ódio que o movia: (pasmem) era um ministro, Ary Franco, hoje presídio no Rio. Ary Franco era do STF quando vetou algum pleito dos funcionários aposentados... Isso prejudicou meu avô e seus amigos para quem telefonava sem parar: "Esse demônio diminuiu nossa pensão!" Esse ódio era seu único assunto no fim da vida, quando contava compulsivamente as notas na carteira para ver se fora roubado.

Um dia, sua cadeira parou de balançar e ele ficou calado, imóvel repetindo uma frase baixinho. Era um endereço. Ele 'conversava' com alguém: "Rua Ana Nery, casa tal, número tal.. eu sei, você quer que eu vá aí. Mas, e minha família, Celeste, que que eu faço...?" Minha avó andava pela sala ouvindo aquela ladainha sem estranheza, arrumando seus bibelôs de faiança, uns anjinhos de asas, um elefantinho.

Por amor, por curiosidade perversa, sei lá, um dia resolvi levá-lo ao tal endereço.

Os cabelos dela agora eram brancos. Não se erguiam como a antiga coroa ruiva. Esfarripados, caídos, brancos. D. Celeste estava numa mesinha da varanda recortando revistas com uma tesoura, guardando os recortes numa caixa... Ela nem estranhou a chegada de vovô. Parecia continuar uma conversa antiga, interrompida há pouco.

"Veja só... Lembra do crime do Sacopã? A Marina era amante do Afranio e o tenente Bandeira matou ele... Agora está na caixinha."

Recortava notícias e olhava para meu avô com um sorriso orgulhoso.

"Agora guardo tudo - desde quando eu nasci. Tudo. Olha a manchete: 'Silvia Serafim, a meretriz assassina'. Ela matou o dono do jornal... Tudo que aconteceu na minha vida está aqui. Está quase cheia, olha... Esse menino cresceu hein? Seu xará!"

"E esse Ary Franco que cortou nossa pensão?... Aqui se faz, aqui se paga, desgraçado!...

"Olha esta capa do O Cruzeiro. É a Dana de Teffé, linda. O advogado matou ela! Aqui, ó, a chegada dos pracinhas... Olha, a Martha Rocha coitada... perdeu..."

Ficaram um tempo em silêncio... Meu avô sentou ao seu lado, olhar perdido no céu. E ela, dobrando jornal.

Eu via os corpos que se amaram, se enroscaram, eu imaginava braços e pernas enlaçados, a cabeleira ruiva entre seus dedos, os seios chupados, os gritos de amor, o suor nos corpos, agora tão magros e encanecidos.

"Olha nós dois aqui, em Caxambu." Ele pegou a foto e seus dedos se tocaram por um instante.

"É..."

"Tinha tango no hotel, lembra? Eu dançava bem..."

"É..."

Outra pausa. Vovô se ergueu, com minha ajuda...

"Já vou indo..."

D. Celeste nem olhou, entretida nos recortes: "Olha aqui, a Greta Garbo. Vi sua filha uma vez, na rua. Ela é a cara da Greta Garbo..."

Meu avô e eu saímos lentamente pelo portãozinho. D. Celeste ainda avisou: "Não volta tarde..."

Pouco tempo depois, minha avó morreu. O cabelo azul espalhado no travesseiro.

No velório, meu avô calado num canto. Falou da gripe espanhola. "Em 1918, morreu gente como mosca. Eu escapei."

Ele já não entendia nada, mas seus olhos brilhavam como janelas para um passado remoto. Toda sua vida passava em alta velocidade. Fitou-me com um sorriso divertido e amargo e disse, como uma sentença: "Puta que pariu, seu Arnaldinho..."

Ali estava o resumo de sua vida.

Emprego - é hora de agir - JOSÉ PASTORE


O Estado de S.Paulo - 04/12

Estou antevendo dias difíceis no campo do emprego. Parece absurdo escrever isso num país que tem uma das mais baixas taxas de desemprego do mundo (5,3%). Mas a preocupação se justifica quando se analisam o fraco desempenho do PIB em 2012 (menos de 1%), a crise internacional e a perversidade da regulação no campo do trabalho.

A ameaça ao emprego é particularmente grave na indústria e na construção civil. O leitor deve estar intrigado. Afinal, a indústria gerou 17 mil postos de trabalho em outubro - bem superior aos 5 mil que foram criados no mesmo mês em 2011. Ocorre que, no período dos últimos 12 meses (novembro de 2011 a outubro de 2012), a geração de emprego nesse setor foi 82% menor do que nos 12 meses anteriores (novembro de 2010 a outubro de 2011). Na construção civil, a redução foi de 36%, e no mês de outubro houve uma perda líquida de 8.300 postos de trabalho. Analisado no conjunto, o crescimento do emprego industrial está derretendo.

O governo está parcialmente atento ao problema. No âmbito do Ministério da Fazenda, a decisão de desonerar a folha de salários e de reduzir o IPI e o preço da energia é indicativa de uma tempestiva tomada de consciência. Mas, no âmbito dos Ministérios do Trabalho e da Previdência Social e da Justiça do Trabalho, o quadro é outro. Além de se manterem insensíveis ao problema, esses órgãos vêm emitindo uma avalanche de regras de má qualidade e decisões impensadas que criam despesas adicionais, aumentam a insegurança jurídica e conspiram contra a contratação do trabalho. Nesse campo, o emprego está sendo minado por uma "regulamentite aguda".

Chegamos ao mês de dezembro, quando tradicionalmente ocorre o fechamento de muitos postos de trabalho. Este ano não será diferente. Mas e daí para a frente? Será que os inibidores do emprego industrial vão desaparecer no próximo ano? Penso que não. A crise externa continuará prejudicando as exportações de manufaturados. As incertezas da regulação continuarão inibindo os investimentos e os novos negócios. O intervencionismo estatal nas relações do trabalho continuará assustando os empregadores. É isso que me faz perder o sono.

Na crise de 2008, os problemas vieram de modo abrupto. Mas, como vieram, se foram. Em dezembro daquele ano, o Brasil destruiu 650 mil empregos e, em julho de 2009, tudo havia sido recomposto.

Para atenuar o impacto da crise, empresas e sindicatos procuraram se valer dos mecanismos existentes para preservar os empregos - redução de jornada com redução de salários, banco de horas e suspensão temporária do contrato de trabalho (lay off). Mas o uso dessas medidas foi limitado em razão da insegurança jurídica que as cerca e, em muitos casos, por causa da resistência das entidades sindicais para aceitar negociá-las. O Brasil não tinha, como ainda não tem, um mecanismo simples que, na hora da crise, seja capaz de segurar os trabalhadores empregados e de aliviar os gastos das empresas com a folha de pagamento e do governo com seguro-desemprego.

O Brasil precisa de um seguro-emprego. Em artigo anterior, descrevi o mecanismo da Kurzarbeit, da Alemanha, segundo o qual, perante uma queda de demanda, as empresas reduzem a jornada de trabalho e o salário dos empregados e o governo complementa a sua renda. O mecanismo é de interesse de todos. A empresa mantém seus quadros, evitando despesas de descontratação e recontratação. Os trabalhadores preservam seus empregos. O governo evita gastar com o seguro-desemprego. Passada a crise, tudo está no seu devido lugar e o país economizou recursos.

Penso que a hora de aprovar esse mecanismo é agora, antes que o problema se agrave em 2013. De nada adiantará pôr a tranca na porta depois de arrombada. A adoção de uma medida desse tipo não é complicada, se for atrelada ao seguro-desemprego e aos programas de qualificação hoje existentes. Quem se habilita para essa iniciativa?

Doping generalizado - HÉLIO SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 04/12


SÃO PAULO - Se há uma coisa que cresceu ao longo das últimas décadas, foram as diversas modalidades de doping. Hoje, conta-se com auxílio farmacológico para melhorar não só a performance atlética como também para aprimorar o desempenho intelectual, o humor e a própria estética. Até pela analogia com o esporte, a questão que se coloca é: essa ajuda bioquímica é lícita?

O problema é complexo, mas receio que tenhamos de aceitar o doping como algo inevitável, um efeito colateral da relativa eficácia de nossa indústria farmacêutica. A alternativa, que seria começar a testar todos para tudo, me parece socialmente mais desagregadora. Estudantes teriam de provar que não fizeram seus exames sob o efeito de anfetaminas como a Ritalina e modelos teriam de dispensar seus chips hormonais, capazes de reduzir o peso e a celulite. Até o sujeito excepcionalmente jovial precisaria jurar que não toma antidepressivos nem moduladores do humor para ser considerado autêntico.

A verdade é que, muito antes de a indústria farmacêutica ser capaz de oferecer os produtos hoje disponíveis, nossa espécie já recorria à ajuda externa. A diferença entre um comprimido de Ritalina e uma xícara de café, afinal, é muito mais de grau do que de princípio. E o que são duas taças de vinho num evento social, senão uma forma de melhorar artificialmente o humor dos convivas?

Se há uma atitude atípica nessa história toda é a das autoridades esportivas, que declararam guerra ao doping e se lançaram numa infindável corrida armamentista contra atletas dispostos a tudo e farmacêuticos explorando os limites da fisiologia.

Melhor do que travar batalhas que não podem ser ganhas é jogar honestamente, reconhecendo que as pessoas têm o direito de buscar ajuda da ciência para melhorar sua performance, mas exigindo que elas sejam corretamente informadas dos muitos e sérios riscos que correm ao fazer uso "off label" de drogas.

Há que reequilibrar o Brasil - ILAN GOLDFAJN


O ESTADÃO - 04/12


Todos nós precisamos nos reinventar de vez em quando para continuar evoluindo. Países também. Após dois anos de crescimento fraco, fica claro que o Brasil precisa reequilibrar sua economia. Não basta ter um crescimento forte do consumo numa economia com mercado de trabalho aquecido e mercado doméstico pujante. Para continuar a crescer o Brasil terá de ser capaz de investir mais, educar mais. É necessário elevar a produtividade da economia para sustentar os salários altos e aumentar a competitividade das empresas. Conseguir reequilibrar a economia exige visão e planejamento, oferecendo segurança do caminho a seguir. O resultado seria a volta dos investimentos, que traria tanto a tão desejada retomada da atividade no curto prazo quanto o crescimento sustentado nos próximos anos.

A divulgação, na sexta-feira, do produto interno bruto (PIB) do Brasil no terceiro trimestre decepcionou e confirmou uma tendência preocupante. O crescimento foi apenas metade do esperado (pelo governo e por analistas). Mais preocupante ainda foi a composição desse crescimento. Enquanto o consumo das famílias continuou crescendo forte, os investimentos caíram pelo quinto trimestre consecutivo, apesar dos diversos incentivos já adotados pelo governo. A ausência de uma reação dos investimentos (hoje em 18,5% do PIB) mostra o desafio atual de reequilibrar a economia com vista a manter o crescimento no País.

A necessidade de reequilíbrio não é exclusividade do Brasil. Já faz cinco anos da crise financeira internacional de 2007/8 e vários países tiveram de mudar seu trajeto. Não havia mais espaço para o crescimento com base em crescente endividamento nas economias maduras (EUA, Europa). Os balanços do setor privado foram os primeiros a se ajustar, o que tende a ser contracionista, obrigando os governos a lidar com o risco de recessão e deflação. Agora ficou a difícil fase de ajustar os balanços dos governos para equilibrar as dívidas crescentes.

As economias emergentes também precisaram reinventar-se. O crescimento baseado em exportação para as economias maduras deixou de ser a via rápida e certa para o desenvolvimento. A China é o caso mais emblemático dessa mudança necessária.

De certa forma, a China precisa do inverso do Brasil: consumir mais e investir menos. Precisa "rebalancear" sua economia para seu próprio bem e pela saúde do resto do mundo. O investimento por lá chegou a 48% do PIB, mas o consumo não cresceu no mesmo ritmo. As razões para a falta de crescimento rápido do consumo são paradoxalmente parecidas com as razões daqui para a falta de investimento. Faltam perspectiva e segurança quanto ao futuro. Há receio de gastar e não ter uma aposentadoria digna, dada a falta de previdência pública. Ou de não ter os recursos para pagar gastos com saúde, dada a falta de um sistema público acessível a todos. O resultado da necessidade de ajuste na China tem sido a redução da taxa de crescimento nos últimos trimestres. Mas os sinais recentes são de estabilização do crescimento em patamar ainda muito alto, de 7,5%, e perspectivas de aumento de salário e reformas que devem incentivar o consumo.

No Brasil, o crescimento foi de 0,6% no terceiro trimestre na comparação com o segundo, já livre de efeitos sazonais (anualizado em torno de 2,5%). A retomada foi bem mais lenta do que a antecipada. Esperava-se o dobro, 1,2% de expansão (em torno de 5%, anualizado). Desta vez a decepção não foi consequência da fraqueza da indústria, que cresceu 1,1% no trimestre, nem da agricultura, que avançou 2,5%, mostrando recuperação. Foi o setor de serviços que decepcionou, pois simplesmente não cresceu.

A falta de crescimento do setor de serviços não era esperada. Os setores de transporte e de intermediação financeira recuaram e os serviços de administração, saúde e educação pública avançaram apenas 0,1%. O comércio, mesmo com o efeito positivo das vendas de veículos, cresceu somente 0,4%.

Ver o crescimento do PIB pela ótica dos gastos (consumo x investimento) pode ser mais elucidativo que pela divisão dos setores (indústria x serviços). O consumo parece não precisar de estímulos adicionais. O mercado de trabalho em condições favoráveis, a confiança em patamar elevado e os estímulos à compra de bens duráveis mantiveram o consumo em alta.

O foco de atenção deve ser o investimento, que decepcionou novamente. A queda acumulada nos últimos cinco trimestres alcançou 5,9%. Um recuo da taxa de investimento significa menor capacidade de crescer no futuro. É preciso reverter esse processo, dando condições e segurança para que ele seja retomado.

Com a decepção do terceiro trimestre e perspectivas de crescimento morno no quarto, o crescimento do ano de 2012 será mais baixo, ao redor de 1%. É um número bem modesto, principalmente após o PIB crescer apenas 2,7% em 2011. Normalmente, esperaríamos uma retomada após um ano fraco.

Como não está ocorrendo uma retomada no ritmo esperado, a confiança dos empresários sofre. O que há é uma desconfiança em relação ao futuro, o que enseja redução de investimentos. E isso pode impactar o crescimento de 2013, que deve ser retomado, mas apenas de forma moderada.

Como resultado, espera-se que mais estímulos sejam anunciados pelo governo, como mais desonerações, juros menores e câmbio mais depreciado (o mesmo arsenal deste ano aplicado em 2013). Esses estímulos podem até vir a contribuir para a retomada da economia, mas é fundamental diminuir as incertezas domésticas quanto ao futuro para potencializar os efeitos dos incentivos ao crescimento, especialmente quando o mundo continua incerto. A confiança no futuro, na estabilidade regulatória e um retorno adequado para projetos de longo prazo são fatores fundamentais para o crescimento sustentado da economia.

O projeto dos tucanos - ILIMAR FRANCO


O GLOBO - 04/12

A definição pela cúpula do PSDB de que seu candidato ao Planalto em 2014 é o senador Aécio Neves está muito longe do cenário ideal traçado pelos tucanos. Os estrategistas do partido avaliam que só terão alguma chance num "quadro multipolar". Por isso, seus dirigentes vão atuar para fomentar as candidaturas de Eduardo Campos (PSB), de Marina Silva e de um político do PSOL.

Os problemas de articulação
A ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) está sobrecarregada. Seus líderes no Congresso não dão conta do recado. Seus interlocutores no Congresso dizem que um dos líderes só pensa em presidir uma das Casas e, por isso, tem grande dificuldade para cumprir sua principal tarefa política: a de dizer não para os parlamentares da base aliada. Há outro, que desde a mudança do rito das Medidas Provisórias, ganhou novas atribuições, a de montar as comissões mistas de deputados e senadores. Mas segundo avaliação do Planalto, é preciso empurrá-lo para que cumpra a sua função. Estão sendo projetadas mudanças para março do ano que vem.

“O PSB não vai salvar o PSDB e o DEM. Não se iludam. Somos do campo da esquerda e não vamos entrar em aventura”
Roberto Amaral Vice-presidente do PSB

Ouça um bom conselho...
No sorteio da Copa das Confederações, o prefeito eleito de São Paulo, Fernando Haddad, ouviu do governador Eduardo Campos: "Aproveita muito até o dia 31 de dezembro. Ninguém é tão feliz como entre a vitória da eleição e o dia da posse".

Justamente
O senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) cometeu um ato falho no encontro dos tucanos. Questionado sobre a viagem do ex-governador José Serra para a Disney, onde foi para acompanhar os netos, no dia em que o senador Aécio Neves foi ungido candidato ao Planalto, respondeu: "Melhor coisa que ele podia fazer, né?"

Partido Bipolar da República
A votação no PSOL para decidir a expulsão do senador Randolfe Rodrigues (AP), por ter aceito o apoio do PSDB na eleição de Macapá, foi reveladora: 25 votaram pela expulsão e 35 para Randolfe concorrer ao Planalto em 2014.

Todo cuidado é pouco
Mesmo o senador Aécio Neves (PSDB-MG) tendo se esquivado de assumir a candidatura ao Planalto, os tucanos garantem que a questão está resolvida. Os interlocutores do mineiro dizem que ele foi cauteloso porque não houve nenhuma combinação com o governador Geraldo Alckmin (SP). Aécio só pretende assumir publicamente depois que todas as arestas forem aparadas.

Preparando a nova batalha
O senador Wellington Dias (PT-PI) já começou a coletar assinaturas na Câmara e no Senado pedindo urgência para a votação do veto à Lei dos Royalties. "Sou otimista", diz ele sobre a tarefa de obter o apoio de três quintos das duas Casas.

Direito constitucional originário
O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) pretende convencer os petistas dos estados não produtores a não derrubar o veto à Lei dos Royalties com o argumento de que eles perderão mais com a judicialização. Ele defende um grande acordo.

NOVE GOVERNADORES assinam convênios com o ministro Gastão Vieira, num total de R$ 305 milhões, para obras de infraestrutura para a Copa.