segunda-feira, dezembro 19, 2011
Pós-modernos de tacape - LYA LUFT
REVISTA VEJA
Que somos homens das cavernas fantasiados de pós-moderninhos, isso todo mundo sabe (poucos sabem o que seria esse “pós-moderno”). Estamos em forma, visitamos os melhores resorts, temos vários cartões de crédito e dívidas que se acumulam, mas quem liga? Marido um galão, mulher uma gatinha, os filhos olhando. Aí o cara das cavernas desperta, grunhe, ou ruge, e ataca. Pega a clava, o tacape – que pode ser de material sólido mesmo ou metafórico, feito de palavras, ou de atitudes –, e pau no outro.
A hostilidade deve andar de mãos dadas com o stress, que hoje desculpa quase tudo. No trânsito, o número de loucos à solta cresce assustadoramente: costuras bizarras, para-choque do carro ameaçando uma trombada sem motivo, gestos obscenos pela janela ou atrás do vidro. No estacionamento, alguém te amassa o para-lama ou risca a porta claramente com a chave do seu carro: maldade, divertimento boçal, retardados cidadãos. Nos condomínios, nem sempre as coisas são pacíficas: onde tem gente reunida floresce vizinhança boa e amizade, mas também muita insensatez, falta de compostura, de consideração. Nas ruas, cotoveladas para abrir caminho, nos ônibus senhoras em pé e mangolões atirados nos bancos, no cinema comilança, conversa e arrotos, nas salas de aula celulares e outros a pleno vapor. Greves trancam a educação já tão por baixo, agora deram para protestar queimando livros (ouvi faiar de alguém que fazia isso em outros tempos, chamava-se Adolf...). Transportes, aeroportos, hotéis, precários, rudo parando, vivam as férias, viva a Copa e semelhantes. E nós, cada vez mais irritados, quer dizer, também agressivos. Viver e conviver é difícil. Tem de sublimar para continuar curtindo o seu canto e abrindo seu caminho sem pisar no outro.
Vai ver a gente pede demais, espera demais, quer demais, quer compostura e paz, onde já se viu? Confesso que eu queria, sim, que a gente fosse um pouco mais manso (trouxa, nunca), mais construtivo, mais aberto às possibilidades boas, pois as ruins não são as únicas. Queria que em vez de hostis e agressivos fôssemos mais gentis e mais civilizados. E que, em lugar desta sociedade fascista do "tem de", a gente se permitisse uma atitude mais bondosa consigo mesmo, perguntando, afinal, o que é que eu quero, o que é que eu posso, o que me deixa mais realizado, mais contente, mais produtivo, mais feliz – ou o que me faz assim ansioso e hostil? Deixando de transformar o ressentimento em insulto, o stress em pedradas, usando esterco para sujar o que existe de positivo, e ainda cuspir em cima, assim, gratuitamente, sem fundamento que não a nossa errática agressividade. Eu ando sem paciência e pouco simpática. Fora da realidade, me disse alguém. Pode ser. A idade tem suas chatices, mas pode nos fazer mais tolerantes (ou mais implicantes) ou nos toma mais alertas – porque, como diz o dito popular, o diabo não é esperto por ser diabo, mas por ser velho. A gente entende que basta um momento só nosso, parar e pensar, contemplar o outro, curtir a natureza, a vida, indagar dentro da gente mesmo, para diminuir essa irritação dos estressados. Pois o hostil, o agressivo, não se manifesta a toda hora nem em toda parte; talvez nem seja a maioria sempre pronta a rosnar e atacar. Muito jovem estuda e trabalha com grande dificuldade e é amoroso com a família. Muito velho ainda curte afetos. Muito trabalhador, do gari ao intelectual, dá o melhor de si para um mundo mais habitável.
Qualquer um pode escapar, de graça, para uma beira de estrada com borboletas de um espantoso azul; descobrir as nuvens por cima dos telhados, num jogo de cores que pincel nenhum pode criar; curtir a algazarra de crianças no pátio do edifício, mesmo entre altos muros; ou ter alguma visão de beleza dentro da mais modesta casa. E vai se reconciliar com este atrapalhado, sedutor e hostil mundo nosso, da corrupção, da impunidade, do endividamento, da miséria, da grandeza e da iniquidade; não se consegue por todo o sempre, mas por algum tempinho. E já será bom.
A perigosa hegemonia - CARTA AO LEITOR
REVISTA VEJA
Não é incompatível com a democracia a indicação de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) identificados com a força política dominante, desde que dos escolhidos se exijam, além da óbvia conduta ilibada, competência jurídica e independência de pensamento e voto. A sociedade deve começar a se preocupar, porém, quando, à inexistência de alternância de poder, se acrescenta ao cenário um objetivo oficial perseguido com férrea obstinação e cuja consecução depende de decisões da suprema corte. Nesses casos, é tentador emascular a Justiça. Essa tentação foi levada a cabo sem freios por regimes totalitários no século passado. Dela não se viu livre nem a madura democracia americana. Irritado com a decretação de inconstitucionalidade de leis que julgava essenciais para tirar o país da profunda recessão econômica provocada pela quebra das bolsas em 1929, o presidente Franklin Roosevelt tentou dar um golpe na Justiça. Em 1937, ele pediu ao Congresso poderes para, em última análise, nomear de uma só vez seis novos juízes para a Suprema Corte. Apesar de um discurso apaixonado à nação feito pelo rádio e de seus transbordante carisma, Roosevelt não dobrou a opinião pública, e a iniciativa foi desidrata antes da derrota certa no Congresso.
Uma reportagem desta edição de VEJA mostra que o Brasil vive um momento incomparavelmente menos épico, mas que tem certa semelhança com a coceira mandonista de Roosevelt. Aqui não se trata de mudar a regra do jogo, mas de influenciar seu resultado. Desde que pôs de pé a temerária tese de que a mais comprovada malfeitoria de um governo na história recente da República, o escândalo do mensalão, não passou de uma ilusão coletiva dos brasileiros, o PT se colocou como missão prioritária obter a absolvição dos seus 36 réus no STF. O PT no governo se esmerou na escolha de indicados para ocupar vagas abertas no STF, cobrando deles, acima da competência jurídica, afinamento com as diretrizes partidárias - entre elas, a principal, a obtenção da chacela jurídica definitiva sobre a benignidade dos eventos reunidos sob o rótulo do mensalão.
Na semana passada, um desses escolhidos a dedo, o ministro Ricardo Lewandowski, saiu-se com a tese de que o julgamento dos réus do mensalão, previsto para abril do próximo ano, pode acontecer apenas em 2013. Ele alega que a complexidade do assunto exige mais tempo para a análise do processo. Se o adiamento vier a ocorrer, a impunidade dos réus do mensalão estará assegurada - seja pela prescrição das eventuais penas, seja pela consolidação da hegemonia petista na composição do STF, já que mais duas vagas serão preenchidas até o fim de 2012. A opinião pública salvou os Estados Unidos da hipertrofia do Executivo nos anos 30. A opinião pública precisa operar esse mesmo milagre no Brasil neste começo de século XXI.
Uma reportagem desta edição de VEJA mostra que o Brasil vive um momento incomparavelmente menos épico, mas que tem certa semelhança com a coceira mandonista de Roosevelt. Aqui não se trata de mudar a regra do jogo, mas de influenciar seu resultado. Desde que pôs de pé a temerária tese de que a mais comprovada malfeitoria de um governo na história recente da República, o escândalo do mensalão, não passou de uma ilusão coletiva dos brasileiros, o PT se colocou como missão prioritária obter a absolvição dos seus 36 réus no STF. O PT no governo se esmerou na escolha de indicados para ocupar vagas abertas no STF, cobrando deles, acima da competência jurídica, afinamento com as diretrizes partidárias - entre elas, a principal, a obtenção da chacela jurídica definitiva sobre a benignidade dos eventos reunidos sob o rótulo do mensalão.
Na semana passada, um desses escolhidos a dedo, o ministro Ricardo Lewandowski, saiu-se com a tese de que o julgamento dos réus do mensalão, previsto para abril do próximo ano, pode acontecer apenas em 2013. Ele alega que a complexidade do assunto exige mais tempo para a análise do processo. Se o adiamento vier a ocorrer, a impunidade dos réus do mensalão estará assegurada - seja pela prescrição das eventuais penas, seja pela consolidação da hegemonia petista na composição do STF, já que mais duas vagas serão preenchidas até o fim de 2012. A opinião pública salvou os Estados Unidos da hipertrofia do Executivo nos anos 30. A opinião pública precisa operar esse mesmo milagre no Brasil neste começo de século XXI.
Posto vazio - ANCELMO GOIS
O que se diz na Rádio Gasolina é que a Petrobras Distribuidora está meio quebrada e cheia de dívidas. A culpada seria outra estatal, Eletrobrás, que deveria uns R$ 3 bi à BR, fornecedora de combustível para as térmicas. Segue... Dinheiro é o que não falta na Eletrobrás. É que os consumidores de energia pagam uns R$ 5 bi por ano, por uma conta chamada CCC, para subsidiar exatamente este tipo de usina em lugares onde não há outras fontes mais baratas de energia. A falta de negros As escolas de samba continuam reclamando da falta de negros. É que, em 2012, Portela, Beija-Flor e Vila Isabel, que desfilam no domingo, levarão à Sapucaí temas ligados à cultura negra — e não há afrodescendentes suficientes para as alas. Aconteceu com a Beija-Flor, lembra? Pois bem... Agora, a Portela precisa de 80 negros para uma ala que virá antes do abre-alas, e só conseguiu pouco mais da metade. O coreógrafo da ala, Márcio Moura, explica: — Além da concorrência com as outras escolas que também precisam de negros, é necessário que eles queiram aprender as coreografias. Baile de Yokohama I É como diz o nosso gaiato Hélio de la Peña: — O Barcelona de Messi é o verdadeiro Santos de Pelé. Com todo o respeito. Sabe como é... O ministro Fernando Pimentel era esperado semana passada num almoço com empresários das áreas de química e petroquímica, em São Paulo. Na hora H, avisou que não ia. No horário, almoçava com o advogado Márcio Thomaz Bastos. SABRINA SATO, rainha de bateria da Vila Isabel, excede em beleza no ensaio da escola, sábado. A apresentadora, que surgiu para o Brasil no “Big Boa”, perdão, “Big Brother”, da TV Globo, deixou a rapaziada da bateria e os marmanjos da quadra encantados. Repare no... bailado da deusa. Ei, eu disse no bailado! Baile de Yokohama II O economista José Roberto Afonso, doido pelo Santos, mandou- se para o Japão e testemunhou seu time perder de 4 a 0 para o Barcelona. Mas ficou impressionado com sua torcida: — A proporção era de um catalão para dez nossos. Havia santistas em tudo que é canto. No metrô, nos templos, nas principais atrações turísticas... Baile de Yokohama III Do botafoguense Emir Sader, ontem, depois do baile de 4 a 0: — Muricy (técnico santista) ganha mais que Guardiola (técnico do Barcelona). Mas Messi e Daniel Alves, juntos, são mais caros que todo o time do Santos, com Ganso e Neymar incluídos. Baile de Yokohama IV De Milton Neves, o coleguinha gaiato, em seu Twitter, ontem: — Os gandulas ficaram mais com bola do que o Santos... ‘Favela est belle’ Um casal francês comprou uma cobertura dúplex em Botafogo, no Rio, em plena Rua da Matriz, por quase R$ 2 milhões. Fechou negócio porque teria ficado admirado com a bela “vista bucólica da Favela Dona Marta”. Horror à vista Amanhã, a Câmara de Vereadores do Rio vota um projeto horroroso que permite o fechamento de varandas dos prédios em quase toda a cidade, ao bel prazer do morador, sem qualquer padronização ou cuidado arquitetônico. Fio da velha A Light conseguiu liminar contra sua obrigação de tornar subterrânea, em cinco anos, toda a rede aérea elétrica do Rio, como manda o Plano Diretor. A decisão, pena, obriga a cidade a conviver com esse emaranhado de fios, cabos e postes por todos os lados. Alô, Eduardo Paes! As produtoras de cinema andam chateadas com a prefeitura do Rio. É que, agora, para dar entrada no sistema de incentivo fiscal via ISS, é preciso preencher um formulário on line de umas 12 páginas com o orçamento detalhado do longa. A operação, linha por linha, leva horas. O popular Barreto Uma parceira da coluna foi semana passada ao posto do Detran-RJ em Vila Isabel fazer vistoria do carro. Ficou uma hora e meia na fila. Notou que vários motoristas queriam ser atendidos pelo “Barreto”. O sujeito é popular. VEJA COMO A beleza vem no DNA. Luiza Brunet e sua filha Yasmin (acima) batem pernas no New York City Center, na Barra. Antonia Frering e sua linda Maria enfeitam o desfile de uma coleção de joias. A dupla mais linda é a... não sei PONTO FINAL No mais No encontro com coleguinhas, Dilma, ao responder a uma pergunta sobre o combate à corrupção no governo, usou de novo a palavra “malfeito”. No meu tempo, malfeito era, por exemplo, dar um beliscão na irmã mais nova e se esconder no quintal. No caso de alguns ministros, a palavra certa é roubalheira mesmo. |
A encruzilhada de José - DENISE ROTHENBURG
Correio Braziliense - 19/12/2011
Serra nunca esteve tão emparedado na política. Se não for candidato a prefeito, será acusado de ter dado as costas ao PSDB. Se concorrer e vencer estará "preso" em 2014. Se perder, permanece no fim da fila presidencial
Nos bastidores da política, nunca se falou tanto do ex-governador de São Paulo, José Serra. Uns dizem que ele precisava fazer uma terapia para parar de reclamar de tudo e de todos. Outros consideram um absurdo a forma como o PSDB o trata. Para completar, apareceu o livro do jornalista Amaury Ribeiro Jr., colega do tempo de escola, jogando mais lenha na fogueira com denúncias do tempo da privatização.
Ora, livros-reportagens sempre foram publicados sobre um ou outro assunto. Só na época em que Fernando Collor sofreu um processo de impeachment foram pelo menos três com as peripécias de seu governo. José Sarney, Antonio Carlos Magalhães, Lula, todos já foram personagens de livros que não eram necessariamente uma biografia.
O que está em jogo dentro do PSDB não é um livro, é o futuro, independentemente de livros de quem quer que seja. Afinal, fala sério: a maioria do eleitorado vive no Brasil real e não nas redes sociais. Embora sejam uma ferramenta importante, ainda não são o fator preponderante nas eleições. E, para este futuro, o caminho na maioria das conversas partidárias é buscar o novo. E, no caso dos tucanos, o novo, dizem eles, é o senador Aécio Neves (MG). Muitos se arrependeram de não ter dado a Aécio a candidatura à Presidência da República em 2010, deixando a Serra o papel de representar o partido no governo de São Paulo, como candidato a reeleição.
Serra, entretanto, não pensa assim. Tem dito a amigos que parte de suas agruras se devem ao seu partido que não o apoiou como deveria em 2010. Agora, quer um espaço para percorrer o Brasil e voltar a ser candidato a presidente em 2014. Sua aposta tem sido a de que a economia dará sinais de fadiga, assim como o governo do PT, apesar da alta popularidade da presidente Dilma Rousseff. Aécio, na visão de Serra, não conseguirá se tornar um nome nacional. Aí, a candidatura cairá no colo dele como um presente de papai Noel.
Ocorre que, para convencer o comando tucano dessa perspectiva, Serra teria que jogar para o time. Ser humilde como foi o jovem Neymar ontem ao final do jogo contra o Barcelona. Serra cresceu na derrota de 2002, quando ninguém esperava que ele chegasse ao segundo turno e chegou. Cresceu na prefeitura de São Paulo, no governo estadual. Mas, saiu menor da última campanha presidencial, onde, na reta final, deixou de discutir o Brasil.
Hoje, Serra tem alta rejeição entre os paulistanos e, dentro do PSDB, é visto como alguém que, em campanha, não ouve os aliados. Dia desses, em Brasília, o primeiro-secretário da Câmara, deputado Eduardo Gomes, brincou que o slogan está pronto: "vote no Serra, só ele vai reclamar".
Atualmente, Serra tem mesmo do que reclamar. Nunca esteve tão emparedado na política. É a encruzilhada. Se deixar de ser candidato a prefeito, pode ser acusado lá na frente de ter dado as costas ao partido. Se concorrer, estará fadado a permanecer na prefeitura por quatro anos, se vencer; e liquidado, se perder. Por isso, quer ficar fora dessa disputa e aguardar a próxima, onde as opções de cenário nacional são maiores. Faz sentido.
Serra se mira no exemplo de Lula que ficava sem mandato entre uma eleição presidencial e outra. Mas há uma grande diferença aí: Lula era — e ainda é — chamado por todo o PT para as campanhas municipais, era alavancado e alavancava seu partido. No palanque, ao falar com as pessoas, conquistava corações, ia para o meio do povo.
O PSDB não se mostra disposto a dar a Serra tantos palanques pelo Brasil no ano da sucessão municipal. O partido prefere aproveitar essa fase para testar e tentar popularizar Aécio. E, de mais a mais, há um sentimento entre os tucanos de que, se continuarem jogando sua força na disputa interna, alguém pode ultrapassá-los. Hoje, os tucanos ocupam o segundo lugar, mas muitos deles não esquecem do desempenho de Marina Silva, do PV, na eleição passada. Se vier alguém com mais musculatura política, podem perder a posição.
O primeiro lugar hoje é do PT, dada a popularidade da presidente Dilma Rousseff, melhor do que a de Lula e a de Fernando Henrique Cardoso ao final do primeiro ano de mandato. Se nada mudar, é bem provável que o fim da encruzilhada de Serra seja mesmo ficar em São Paulo e encerrar a sua carreira na província.
Tributo a uma jornalista (vigarista) assassinada - EUGÊNIO BUCCI
REVISTA ÉPOCA
A morte da jornalista Marcela Coutinho é notícia velha. Velha de três semanas. Na noite de 28 de novembro, uma segunda-feira, ela foi covardemente asfixiada. Deixou a vida sem dar o último suspiro. Puseram-lhe um travesseiro na cara.
Marcela estava numa cama de hospital. Tinha sido baleada, mas sobrevivera. Foi então que sua arqui-inimiga, Tereza Cristina Velmont, uma burguesa empetecada e ociosa, conseguiu entrar no quarto da repórter e consumou seu vil propósito. Disfarçada com uma peruca loura, a criminosa se fez passar por “uma amiga de São Paulo”, ficou sozinha com a vítima e, então, entregou-se fogosamente à prática do homicídio. Foi um espetáculo inesquecível e brega, um dos mais brutais e mais novelescos atentados contra a imprensa já perpetrados por uma grã-fina ao longo de toda a história da televisão brasileira.
Isso mesmo: Marcela Coutinho era uma personagem da novela das 9, Fina estampa. Interpretada – e bem – pela atriz Susana Pires, tinha os olhos oblíquos, ainda que oceânicos, com os quais mentia, chantageava, semeava intrigas e invadia privacidades. Abria um sorriso curto, lambuzado de cinismo, e descarregava seu fel na primeira página. Verme a devorar a carne imaterial das celebridades, era a síntese da escória mais desclassificada, a mais baixa das subespécies humanas.
O castigo que a matou, porém, foi desproporcionalmente cruel. Agora, talvez para vingar-se de seu fim torturante, o espectro maligno da personagem nos espreita a cada capítulo, dentro e fora da tela. Dentro de Fina estampa, seu fantasma ameaça incriminar a assassina. Fora da novela, enxovalha a reputação da imprensa. Parece piada – e é piada, posto que a trama de Aguinaldo Silva sacoleja como um dramalhão cômico –, mas também é um problema. Um problema tão incômodo que, mesmo velha de três semanas, a notícia dessa morte por asfixia, por falta de ar, merece nossa atenção e nosso luto.
Antes de qualquer outra providência, Marcela merece um desagravo, no mesmo tom e no mesmo vocabulário com que foi ofendida pelo crime que a despachou da trama: “Adeus, Marcela. Que as incompreensões das elites fúteis e parasitárias, encarnadas e escarradas na figura hirta, ímpia e sádica de Tereza Cristina, não a alcancem em seu passeio aos infernos.Você foi uma vigarista inominável, isso não se discute, mas quem a matou é mais vigarista ainda. Receba, então, o reconhecimento deste seu colega de ofício, que, modestamente, não aprovaria seus métodos imundos, mas não se conforma com a pena que lhe deram”. Pronto. Fim da homenagem. Fim das novelices. Sigamos adiante.
Prestadas as honras póstumas à infeliz que morreu no exercício (imoral) da profissão, esta coluna agora assume um tom menos irônico, se é que ainda dá tempo, e lança uma interrogação mais séria: será que a Marcela de Fina estampa corresponde à visão que a sociedade, na média, tem dos profissionais de imprensa?
Eis o núcleo de nosso problema. Claro, não é a primeira vez que um jornalista faz as vezes de cafajeste numa obra de ficção. Lembremos Renato Mendes (Fábio Assunção), editor da fictícia revista “Fama”, de Celebridade. No teatro, não tem sido diferente. Amado Ribeiro, o repórter policial da peça O beijo no asfalto, de Nélson Rodrigues, dedica todo o seu talento à invencionice mais caluniosa – e ainda se diverte.
Não é só. No início do século passado, em 1919, ninguém menos que o alemão Max Weber, inventor da sociologia, fez uma palestra famosa, “A política como vocação”, em que afirmou que “os poderosos da Terra” recebem os jornalistas em seus salões para, em seguida, chamá-los de “esses lixeiros da imprensa”. Até hoje, bem a propósito, os políticos se comprazem em bajular pela frente e difamar pelas costas os editores de jornal.
Marcela Coutinho não é, pois, uma exceção na literatura. Ela é a regra. Não é sempre, porém, que um autor faz com que outra personagem, esta cheia de poder e de dinheiro, mate uma repórter com tanto gosto e tanto requinte. Esse gesto é crucial para a compreensão de nosso problema. Ele revela com total nitidez um desejo profundo dos “poderosos da Terra”, sejam eles traficantes, mafiosos, generais, políticos ou líderes religiosos corruptos: o desejo de dar cabo daqueles que investigam seus negócios mal explicados.
Por isso, enfim, esta homenagem. Não pela vileza da biografia de Marcela, mas pela torpeza do gesto que a sufocou e que nos lembra, na linguagem histriônica e sentimental das novelas de TV, os assassinatos impunes de jornalistas pelas vielas da nossa dita vida real.
“É PRECISO ESTAR SEMPRE A SERVIÇO DA MÚSICA” - SONIA RACY
O ESTADÃO - 19/12/11
O maestro Roberto Minczuk fala sobre sua carreira e o futuro da OSB
Ele vive para a música. “É amor, mesmo. Aquilo que torna tudo melhor”, costuma dizer. À frente da Orquestra Sinfônica Brasileira desde 2005 e regente-titular da Filarmônica de Calgary, no Canadá, Roberto Minczuk viveu período turbulento no começo de 2011, com a crise na OSB. A troca de parte dos músicos gerou críticas até então desconhecidas para o trompista premiado que sempre associou a música à iluminação divina. “Foi difícil, mas eu tinha uma missão”. Qual? Transformar a orquestra numa potência sonora à altura das credenciais que seu regente carrega desde 1998, quando estreou no Central Park, à frente da Filarmônica de Nova York. Ao que parece, este paulistano de 44 anos venceu. “Hoje tocamos com muita garra, comprometidos com a qualidade”. Ele concedeu entrevista à coluna pelo telefone, de sua casa no Rio de Janeiro, dias depois de a OSB fazer grande apresentação no Complexo do Alemão. “Fiquei muito empolgado. Foi um ano de muito aprendizado para mim.”
A seguir, os melhores momentos da conversa.
• Como foi reger a OSB no Complexo do Alemão? Emocionante. Uma alegria, porque apresentamos a Nona Sinfonia, de Beethoven, celebrando um ano de pacificação da comunidade. Usamos um coro de crianças muito bacana. O ponto alto foi a Ode à Alegria, que é o tema da sinfonia... a evocação à paz. Muito alegórico para o momento. Todos precisamos disso, o Brasil precisa disso. E o mais legal é que a Nona faz parte da minha vida desde muito cedo. A primeira vez que a interpretei eu tinha 11 anos.
• Tocando trompa?
Sim, trompa. Todos os meus irmãos (somos oito) tocam instrumentos. Meu pai também é músico, foi professor de oboé dos meus irmãos.
• Mas por que trompa? Não é um instrumento usual...
Antes da trompa, eu tocava trompete, estudava piano. Um dia, meu pai me ouviu tocando trompa e sugeriu que eu estudasse mais a fundo. Porque percebeu que eu tinha um ouvido muito bom e trompa é um instrumento que só quem tem bom ouvido consegue tocar. Aí comecei. E gostei muito do instru-
mento, viu? Eu tinha 9 anos de idade. Aos 12, já tocava profissionalmente, aos 13 me tornei primeira trompa do Teatro Municipal. Em 1985, com 18 anos, ganhei a primeira edição do Prêmio Eldorado, tocando Haydn e Mozart. E isso foi muito importante para a minha carreira.
• O que o levou à batuta?
Meu pai, desde que eu tinha 6 anos, me preparou para isso, para a regência. Comecei a reger com 15 anos. Estava nos Estados Unidos. Fui para lá aos 14, estudar na Juilliard, em Nova York. Aos 20, fui para a Alemanha, ser trompista da Orquestra Gewandhaus, de Leipzig. Mas porque eu queria estudar com o Kurt Masur, que era o maestro-titular. Ele me ensinou algo muito importante: que é preciso estar sempre a serviço da música.
• Como foi voltar ao Brasil para estudar com Eleazar de Carvalho? Eleazar era um mestre total. Mas minha relação com ele é muito mais antiga. Toquei pela primeira vez com o maestro aos 11 anos, no Festival de Campos do Jordão
de 1978. Ele também dizia que eu tinha bom ouvido.
• Mas o fato é que o senhor não tem “bom ouvido”, mas ouvido absoluto. Pois é. Quando eu ouço uma música, ouço todas as notas.
• Isso pode ser um problema para um maestro, não? Ah, sim! Porque é como ver em raio X. O que está aparente e o que está dentro. Sou capaz de ouvir a diferença mínima de afinação numa mesma nota executada por um mesmo músico. Se ele toca um ré bemol, por exemplo, eu noto a nuance da afinação. Com o passar do tempo, fui aprendendo a
“desligar” o ouvido. Senão, ficaria louco (risos).
• Porque a perfeição não existe. Claro. Muitos compositores, músicos e maestros sofrem com isso. E é algo que precisa ser trabalhado, porque pode se tornar paralisante.
• Como foi a estreia internacional como regente?
Muito bonita. Foi em 1998, no Central Park, com a Filarmônica de Nova York. Tocamos para 90 mil pessoas. Foi o que abriu as portas do mercado para mim. O concerto foi muito bem recebido, teve críticas muito boas. A partir dali pude desenvolver carreira internacional, regendo as grandes orquestras do mundo.
• E quais as melhores?
Ah, são muitas. Filadélfia, Cleveland, Atlanta, Dallas, Calgary (da qual eu sou regente titular). Na Europa, a Filarmônica de Londres, a Orquestra da BBC de Londres, a Nacional da França, a Filarmônica de Israel. Também tenho regido a Filarmônica de Tóquio. É um privilégio. E sempre uma chance para mostrar os compositores brasileiros lá fora.
• O senhor, sempre que possível, inclui compositores brasileiros em suas apresentações fora do País. É mais fácil tocar autores nacionais no exterior? Porque há aquela sensação de que o brasileiro resiste ao que é nacional.
Hoje em dia o interesse é maior. Houve época em que só lá fora se dava valor à obra nacional. Acho que o Brasil está evoluindo. Não podemos nos achar menores do que os outros países. Temos compositores excelentes. Não estou nem falando de Villa-Lobos, que é um gênio, mas é sempre maravilhoso poder reger Guarnieri, o padre José Maurício Nunes Garcia e os contemporâneos Almeida Prado (recentemente falecido), Edino Krieger. Também faço muitas estreias mundiais de autores contemporâneos.
• Isso também era um tabu, não, maestro? Dizia-se que música erudita tinha data de começo e de término.
Nós vivemos um momento em que não há mais espaço para tabus. Liberdade é tudo. E hoje o compositor não precisa se sentir censurado pelos colegas, pelos acadêmicos. Se a música não é abstrata, é considerada anacrônica. Havia muito isso até metade do século 20. O próprio Villa-Lobos era considerado old fashioned (risos). Hoje, ainda bem, isso acabou.
• O senhor tem um compositor favorito?
Bach. É pão, como diria o Arthur Nestrovski. É perfeito. Faz bem à alma e à mente. Tive a oportunidade de morar em Leipzig, a cidade de Bach, onde comprei muitos manuscritos. Raramente há uma correção, a música dele já nascia perfeita. E para qualquer instrumento. Recentemente, estava com a OSB, o Yamandu Costa e o Hamilton de Holanda. Eles tocaram uma peça de Bach. Parecia ter sido escrita para violão e bandolim.
• Como está a OSB hoje?
Muito bem. Estou muito satisfeito. Os músicos têm demonstrado uma paixão que é fundamental – tanto para o erudito quanto para o popular, porque fazemos muita MPB também. É preciso encarar Paralamas com a mesma seriedade, A mesma devoção com que se enfrenta a Quarta Sinfonia de Mahler. Sem preconceito, com muita garra, comprometido com a qualidade, com a música. Só assim as coisas dão certo.
• Que gravações estão previstas para o ano que vem?
Estou gravando todas as sinfonias de Beethoven com a Filarmônica de Calgary. Já fizemos a 1ª, a3 ª, a 5ª, a7ªea8ª.Em2012, gravaremos a 2ª, a 4ª e a Pastoral (6ª). Além disso, o DVD e o CD do show no Rock in Rio serão lançados no primeiro semestre. A OSB gravou ao vivo com Paralamas, Titãs e Legião, uma maravilha. Fiz também uma gravação belíssima, em abril, com a Orquestra de Câmara da Filadélfia, de obras de um compositor americano contemporâneo chamado Jonathan Leshnoff. É um oratório chamado Hope. A peça foi indicada ao prêmio Pulitzer, o que me deixou muito feliz. O DVD e o CD serão lançados no começo de 2012.
• E a agenda da OSB? Ainda não divulgamos. Mas haverá muitas novidades, será um grande ano para nós.
• Como foi a celebração de 20 anos de casamento?
(risos) A gente celebra não só o casamento, mas a família diariamente, porque é prioridade. A família sempre foi mais importante que a carreira para mim. Sempre que possível, levava minha família em minhas viagens. Às vezes, gastava tudo que ganhava, mas valia a pena. Acho uma bênção de Deus a Valéria e nossos quatro filhos, a Nata-lie, de 19 anos, a Rebecca, que tem 17, o Joshua, de 14, e a Julia, que está com 8.
• Eles tocam o quê?
A Natalie toca violoncelo, piano, canta e rege o coro da igreja. A Rebeca é compositora, em primeiro lugar. Também toca piano e canta, só que curte mais MPB e gospel. Já o Joshua é roqueiro mesmo (risos), toca guitarra elétrica. E a Julia estuda piano e canto. Tem música o dia inteiro em casa. O que me fascina é que eles se divertem. Nem sei se, profissionalmente, irão para esse caminho. A Natalie, por exemplo, está terminando o segundo ano de Economia na GV.
• O senhor é um homem religioso. Como é isso na vida do músico e do maestro?
Sou protestante. Na verdade, sou cristão, meu relacionamento é com Cristo. Sou uma pessoa que vai à igreja, sou dedicado. Não é questão só de tradição, mas de fé mesmo. A música, para mim, é algo espiritual, é a luz.
• Quando não está regendo, gosta de fazer o quê?
Adoro rafting. Tenho duas experiências memoráveis. Uma foi no sul da Bahia, em Itacaré; a outra, no rio Colorado. Mas quero conhecer Brotas. Também adoro dançar e gostaria de me aperfeiçoar. Invejo quem conhece todos os estilos de dança, da valsa ao rock.
• Qual o seu estilo preferido?
Melhor não dizer (risos)
Ele vive para a música. “É amor, mesmo. Aquilo que torna tudo melhor”, costuma dizer. À frente da Orquestra Sinfônica Brasileira desde 2005 e regente-titular da Filarmônica de Calgary, no Canadá, Roberto Minczuk viveu período turbulento no começo de 2011, com a crise na OSB. A troca de parte dos músicos gerou críticas até então desconhecidas para o trompista premiado que sempre associou a música à iluminação divina. “Foi difícil, mas eu tinha uma missão”. Qual? Transformar a orquestra numa potência sonora à altura das credenciais que seu regente carrega desde 1998, quando estreou no Central Park, à frente da Filarmônica de Nova York. Ao que parece, este paulistano de 44 anos venceu. “Hoje tocamos com muita garra, comprometidos com a qualidade”. Ele concedeu entrevista à coluna pelo telefone, de sua casa no Rio de Janeiro, dias depois de a OSB fazer grande apresentação no Complexo do Alemão. “Fiquei muito empolgado. Foi um ano de muito aprendizado para mim.”
A seguir, os melhores momentos da conversa.
• Como foi reger a OSB no Complexo do Alemão? Emocionante. Uma alegria, porque apresentamos a Nona Sinfonia, de Beethoven, celebrando um ano de pacificação da comunidade. Usamos um coro de crianças muito bacana. O ponto alto foi a Ode à Alegria, que é o tema da sinfonia... a evocação à paz. Muito alegórico para o momento. Todos precisamos disso, o Brasil precisa disso. E o mais legal é que a Nona faz parte da minha vida desde muito cedo. A primeira vez que a interpretei eu tinha 11 anos.
• Tocando trompa?
Sim, trompa. Todos os meus irmãos (somos oito) tocam instrumentos. Meu pai também é músico, foi professor de oboé dos meus irmãos.
• Mas por que trompa? Não é um instrumento usual...
Antes da trompa, eu tocava trompete, estudava piano. Um dia, meu pai me ouviu tocando trompa e sugeriu que eu estudasse mais a fundo. Porque percebeu que eu tinha um ouvido muito bom e trompa é um instrumento que só quem tem bom ouvido consegue tocar. Aí comecei. E gostei muito do instru-
mento, viu? Eu tinha 9 anos de idade. Aos 12, já tocava profissionalmente, aos 13 me tornei primeira trompa do Teatro Municipal. Em 1985, com 18 anos, ganhei a primeira edição do Prêmio Eldorado, tocando Haydn e Mozart. E isso foi muito importante para a minha carreira.
• O que o levou à batuta?
Meu pai, desde que eu tinha 6 anos, me preparou para isso, para a regência. Comecei a reger com 15 anos. Estava nos Estados Unidos. Fui para lá aos 14, estudar na Juilliard, em Nova York. Aos 20, fui para a Alemanha, ser trompista da Orquestra Gewandhaus, de Leipzig. Mas porque eu queria estudar com o Kurt Masur, que era o maestro-titular. Ele me ensinou algo muito importante: que é preciso estar sempre a serviço da música.
• Como foi voltar ao Brasil para estudar com Eleazar de Carvalho? Eleazar era um mestre total. Mas minha relação com ele é muito mais antiga. Toquei pela primeira vez com o maestro aos 11 anos, no Festival de Campos do Jordão
de 1978. Ele também dizia que eu tinha bom ouvido.
• Mas o fato é que o senhor não tem “bom ouvido”, mas ouvido absoluto. Pois é. Quando eu ouço uma música, ouço todas as notas.
• Isso pode ser um problema para um maestro, não? Ah, sim! Porque é como ver em raio X. O que está aparente e o que está dentro. Sou capaz de ouvir a diferença mínima de afinação numa mesma nota executada por um mesmo músico. Se ele toca um ré bemol, por exemplo, eu noto a nuance da afinação. Com o passar do tempo, fui aprendendo a
“desligar” o ouvido. Senão, ficaria louco (risos).
• Porque a perfeição não existe. Claro. Muitos compositores, músicos e maestros sofrem com isso. E é algo que precisa ser trabalhado, porque pode se tornar paralisante.
• Como foi a estreia internacional como regente?
Muito bonita. Foi em 1998, no Central Park, com a Filarmônica de Nova York. Tocamos para 90 mil pessoas. Foi o que abriu as portas do mercado para mim. O concerto foi muito bem recebido, teve críticas muito boas. A partir dali pude desenvolver carreira internacional, regendo as grandes orquestras do mundo.
• E quais as melhores?
Ah, são muitas. Filadélfia, Cleveland, Atlanta, Dallas, Calgary (da qual eu sou regente titular). Na Europa, a Filarmônica de Londres, a Orquestra da BBC de Londres, a Nacional da França, a Filarmônica de Israel. Também tenho regido a Filarmônica de Tóquio. É um privilégio. E sempre uma chance para mostrar os compositores brasileiros lá fora.
• O senhor, sempre que possível, inclui compositores brasileiros em suas apresentações fora do País. É mais fácil tocar autores nacionais no exterior? Porque há aquela sensação de que o brasileiro resiste ao que é nacional.
Hoje em dia o interesse é maior. Houve época em que só lá fora se dava valor à obra nacional. Acho que o Brasil está evoluindo. Não podemos nos achar menores do que os outros países. Temos compositores excelentes. Não estou nem falando de Villa-Lobos, que é um gênio, mas é sempre maravilhoso poder reger Guarnieri, o padre José Maurício Nunes Garcia e os contemporâneos Almeida Prado (recentemente falecido), Edino Krieger. Também faço muitas estreias mundiais de autores contemporâneos.
• Isso também era um tabu, não, maestro? Dizia-se que música erudita tinha data de começo e de término.
Nós vivemos um momento em que não há mais espaço para tabus. Liberdade é tudo. E hoje o compositor não precisa se sentir censurado pelos colegas, pelos acadêmicos. Se a música não é abstrata, é considerada anacrônica. Havia muito isso até metade do século 20. O próprio Villa-Lobos era considerado old fashioned (risos). Hoje, ainda bem, isso acabou.
• O senhor tem um compositor favorito?
Bach. É pão, como diria o Arthur Nestrovski. É perfeito. Faz bem à alma e à mente. Tive a oportunidade de morar em Leipzig, a cidade de Bach, onde comprei muitos manuscritos. Raramente há uma correção, a música dele já nascia perfeita. E para qualquer instrumento. Recentemente, estava com a OSB, o Yamandu Costa e o Hamilton de Holanda. Eles tocaram uma peça de Bach. Parecia ter sido escrita para violão e bandolim.
• Como está a OSB hoje?
Muito bem. Estou muito satisfeito. Os músicos têm demonstrado uma paixão que é fundamental – tanto para o erudito quanto para o popular, porque fazemos muita MPB também. É preciso encarar Paralamas com a mesma seriedade, A mesma devoção com que se enfrenta a Quarta Sinfonia de Mahler. Sem preconceito, com muita garra, comprometido com a qualidade, com a música. Só assim as coisas dão certo.
• Que gravações estão previstas para o ano que vem?
Estou gravando todas as sinfonias de Beethoven com a Filarmônica de Calgary. Já fizemos a 1ª, a3 ª, a 5ª, a7ªea8ª.Em2012, gravaremos a 2ª, a 4ª e a Pastoral (6ª). Além disso, o DVD e o CD do show no Rock in Rio serão lançados no primeiro semestre. A OSB gravou ao vivo com Paralamas, Titãs e Legião, uma maravilha. Fiz também uma gravação belíssima, em abril, com a Orquestra de Câmara da Filadélfia, de obras de um compositor americano contemporâneo chamado Jonathan Leshnoff. É um oratório chamado Hope. A peça foi indicada ao prêmio Pulitzer, o que me deixou muito feliz. O DVD e o CD serão lançados no começo de 2012.
• E a agenda da OSB? Ainda não divulgamos. Mas haverá muitas novidades, será um grande ano para nós.
• Como foi a celebração de 20 anos de casamento?
(risos) A gente celebra não só o casamento, mas a família diariamente, porque é prioridade. A família sempre foi mais importante que a carreira para mim. Sempre que possível, levava minha família em minhas viagens. Às vezes, gastava tudo que ganhava, mas valia a pena. Acho uma bênção de Deus a Valéria e nossos quatro filhos, a Nata-lie, de 19 anos, a Rebecca, que tem 17, o Joshua, de 14, e a Julia, que está com 8.
• Eles tocam o quê?
A Natalie toca violoncelo, piano, canta e rege o coro da igreja. A Rebeca é compositora, em primeiro lugar. Também toca piano e canta, só que curte mais MPB e gospel. Já o Joshua é roqueiro mesmo (risos), toca guitarra elétrica. E a Julia estuda piano e canto. Tem música o dia inteiro em casa. O que me fascina é que eles se divertem. Nem sei se, profissionalmente, irão para esse caminho. A Natalie, por exemplo, está terminando o segundo ano de Economia na GV.
• O senhor é um homem religioso. Como é isso na vida do músico e do maestro?
Sou protestante. Na verdade, sou cristão, meu relacionamento é com Cristo. Sou uma pessoa que vai à igreja, sou dedicado. Não é questão só de tradição, mas de fé mesmo. A música, para mim, é algo espiritual, é a luz.
• Quando não está regendo, gosta de fazer o quê?
Adoro rafting. Tenho duas experiências memoráveis. Uma foi no sul da Bahia, em Itacaré; a outra, no rio Colorado. Mas quero conhecer Brotas. Também adoro dançar e gostaria de me aperfeiçoar. Invejo quem conhece todos os estilos de dança, da valsa ao rock.
• Qual o seu estilo preferido?
Melhor não dizer (risos)
A conexão brasileira do Hamas - REVISTA VEJA
REVISTA VEJA
Documentos da maior entidade de financiamento do grupo terrorista, fechada em 2001, revelam que seu ex-chefe é brasileiro e que seus agentes atuaram no país
Documentos da maior entidade de financiamento do grupo terrorista, fechada em 2001, revelam que seu ex-chefe é brasileiro e que seus agentes atuaram no país
JÚLIA CARVALHO
Por mais que as autoridades brasileiras neguem, seguem aparecendo provas de que organizações terroristas de orientação islâmica estendem seus tentáculos no país. Em abril passado, uma reportagem de VEJA revelou as conexões de cinco grupos extremistas no Brasil. Agora, a análise de processos judiciais e de relatórios do Departamento de Justiça, do Exército e do Congresso americanos expõe laços de extremistas que vivem aqui com a Fundação Holy Land (Terra Santa, em inglês), uma entidade que durante treze anos financiou e aparelhou o Hamas, o grupo radical palestino que desde 2007 controla a Faixa de Gaza e cujo objetivo declarado é destruir o estado de Israel. A Holy Land tinha sede em Dallas, no Texas, e era registrada como instituição filantrópica. Descobriu-se que havia enviado pelo menos 12,4 milhões de dólares ao Hamas e que ajudava o grupo a recrutar terroristas nos Estados Unidos e na América do Sul. Em 2001, entrou para a lista de organizações terroristas da ONU e, em 2008, seus diretores foram condenados na Justiça americana por 108 crimes, entre os quais financiamento de ações terroristas, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. A maior pena, de 65 anos de prisão, foi para Shukri Abu Baker, fundador, presidente e diretor executivo da Holy Land. Curiosamente, passou despercebido o fato de que Baker é brasileiro. Mais do que isso: durante muitos anos ele manteve operações no Brasil, e alguns de seus comparsas ainda estão por aqui.
Shukri Abu Baker nasceu em Catanduva, no interior de São Paulo, em 3 de fevereiro de 1959. Sua mãe, Zaira Guerzoni, é filha de italianos e seu pai, Ahmad Abu Baker, um imigrante palestino. Em 1965, Shukri, seus pais e seus dois irmãos mudaram-se para a Cisjordânia. Ele terminou os estudos no Kuwait, mudou-se para a Inglaterra, onde fez faculdade, e em 1980 se estabeleceu nos Estados Unidos. Em 1988, com Mohammed El-Mezain e Ghassan Elashi, fundou a Holy Land. Enquanto isso, seu irmão Jamal Abu Baker, também brasileiro, adotava o nome de Jamal Issa e subia as escadas de poder do Hamas – primeiro na filial do Sudão e, depois, na do Iêmen. Jamal, atualmente radicado na Síria, foi um dos líderes do Hamas a receber os 1 027 presos que Israel libertou em troca do soldado Gilad Shalil, em outubro passado.
Na transcrição de uma ligação telefônica feita no dia 30 de janeiro de 2000, Jamal e Shukri Baker discutem as vantagens de usar um programa de computador para fazer chamadas internacionais para o Brasil. Os contatos com o país natal que realmente interessavam aos irmãos terroristas não eram os familiares. Eles tinham "negócios" por aqui. Prova disso é que a Holy Land pagou viagens de representantes do Hamas ao Brasil, a fim de arrecadar fundos. El-Mezain esteve no país por três semanas em 1993, para conseguir dinheiro e "avaliar como andavam as atividades da Holy Land", diz um documento da fundação. Entre os planos de ação para o ano de 1992 estava "aumentar o número de Ikhwans (milícias jihadistas) no Brasil".
Segundo o depoimento do ex-embaixador dos Estados Unidos na Organização dos Estados Americanos (OEA) Roger Noriega ao Congresso dos EUA, em julho passado, as operações da Holy Land na Tríplice Fronteira – região entre Brasil, Argentina e Paraguai – eram comandadas pelo xeque Khaled Rezk El Sayed Taky El-Din. De fato, o clérigo islâmico aparece nas agendas telefônicas da Holy Land como um comato "importante" na América do Sul. Noriega também confirmou informações de que, em 1995, El-Din hospedou em Foz do Iguaçu Khalid Sheikh Mohammed, terrorista da Al Qaeda que organizou os atentados de 11 de setembro de 2001. O xeque estava à frente da mesquita de Guarulhos havia onze anos, mas pediu demissão em junho passado. Hoje, é diretor para assuntos islâmicos da Federação das Associações Muçulmanas no Brasil (Fambras). Procurado por VEJA, El-Din negou envolvimento com a Holy Land e com Shukri Baker. Outro contato da Holy Land no Brasil, de acordo com uma investigação encomendada pelo Departamento de Justiça americano em 2005, era Ayman Hachem Ghotme, considerado o principal arrecadador de fundos para o Hamas na Tríplice Fronteira. O libanês chegou a ser preso em 1998 pela Polícia Nacional do Paraguai, suspeito de envolvimento com o grupo terrorista Hezbollah. Depois do fechamento da Holy Land, Ghotme teria passado a comandar uma célula do Hamas especializada em contrabando e tráfico de drogas em Foz do Iguaçu, onde reside até hoje. Na semana passada, a reportagem de VEJA foi informada por seus parentes na cidade de que Ghotme está no Líbano.
Documentos secretos divulgados pelo WikiLeaks revelam que os Estados Unidos não têm conseguido sensibilizar o governo brasileiro para prestar atenção nas conexões do terror estabelecidas no país. Entre novembro de 2002 e fevereiro de 2010, a Embaixada dos Estados Unidos em Brasília produziu 279 telegramas que tocam nessa questão. Em duas dezenas deles, informa-se que os americanos pediram ao governo brasileiro a investigação de dezesseis pessoas e organizações ligadas ao terrorismo internacional. As autoridades daqui se limitaram a pesquisar no Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). No âmbito policial, a julgar pelo relato dos telegramas, nenhuma medida foi tomada. O governo brasileiro também hesita em estabelecer uma lei antiterror, alegando que ela atrairia terroristas, o que em raciocínio inverso equivale a dizer que ladrões só roubam porque existem leis de crimes contra o patrimônio. "Não se percebe a relevância de uma lei antiterror porque até agora fomos poupados de ataques", diz Rubens Ricupero, ex-embaixador nos Estados Unidos. Enquanto isso, extremistas estão livres para conspirar no Brasil.
Shukri Abu Baker nasceu em Catanduva, no interior de São Paulo, em 3 de fevereiro de 1959. Sua mãe, Zaira Guerzoni, é filha de italianos e seu pai, Ahmad Abu Baker, um imigrante palestino. Em 1965, Shukri, seus pais e seus dois irmãos mudaram-se para a Cisjordânia. Ele terminou os estudos no Kuwait, mudou-se para a Inglaterra, onde fez faculdade, e em 1980 se estabeleceu nos Estados Unidos. Em 1988, com Mohammed El-Mezain e Ghassan Elashi, fundou a Holy Land. Enquanto isso, seu irmão Jamal Abu Baker, também brasileiro, adotava o nome de Jamal Issa e subia as escadas de poder do Hamas – primeiro na filial do Sudão e, depois, na do Iêmen. Jamal, atualmente radicado na Síria, foi um dos líderes do Hamas a receber os 1 027 presos que Israel libertou em troca do soldado Gilad Shalil, em outubro passado.
Na transcrição de uma ligação telefônica feita no dia 30 de janeiro de 2000, Jamal e Shukri Baker discutem as vantagens de usar um programa de computador para fazer chamadas internacionais para o Brasil. Os contatos com o país natal que realmente interessavam aos irmãos terroristas não eram os familiares. Eles tinham "negócios" por aqui. Prova disso é que a Holy Land pagou viagens de representantes do Hamas ao Brasil, a fim de arrecadar fundos. El-Mezain esteve no país por três semanas em 1993, para conseguir dinheiro e "avaliar como andavam as atividades da Holy Land", diz um documento da fundação. Entre os planos de ação para o ano de 1992 estava "aumentar o número de Ikhwans (milícias jihadistas) no Brasil".
Segundo o depoimento do ex-embaixador dos Estados Unidos na Organização dos Estados Americanos (OEA) Roger Noriega ao Congresso dos EUA, em julho passado, as operações da Holy Land na Tríplice Fronteira – região entre Brasil, Argentina e Paraguai – eram comandadas pelo xeque Khaled Rezk El Sayed Taky El-Din. De fato, o clérigo islâmico aparece nas agendas telefônicas da Holy Land como um comato "importante" na América do Sul. Noriega também confirmou informações de que, em 1995, El-Din hospedou em Foz do Iguaçu Khalid Sheikh Mohammed, terrorista da Al Qaeda que organizou os atentados de 11 de setembro de 2001. O xeque estava à frente da mesquita de Guarulhos havia onze anos, mas pediu demissão em junho passado. Hoje, é diretor para assuntos islâmicos da Federação das Associações Muçulmanas no Brasil (Fambras). Procurado por VEJA, El-Din negou envolvimento com a Holy Land e com Shukri Baker. Outro contato da Holy Land no Brasil, de acordo com uma investigação encomendada pelo Departamento de Justiça americano em 2005, era Ayman Hachem Ghotme, considerado o principal arrecadador de fundos para o Hamas na Tríplice Fronteira. O libanês chegou a ser preso em 1998 pela Polícia Nacional do Paraguai, suspeito de envolvimento com o grupo terrorista Hezbollah. Depois do fechamento da Holy Land, Ghotme teria passado a comandar uma célula do Hamas especializada em contrabando e tráfico de drogas em Foz do Iguaçu, onde reside até hoje. Na semana passada, a reportagem de VEJA foi informada por seus parentes na cidade de que Ghotme está no Líbano.
Documentos secretos divulgados pelo WikiLeaks revelam que os Estados Unidos não têm conseguido sensibilizar o governo brasileiro para prestar atenção nas conexões do terror estabelecidas no país. Entre novembro de 2002 e fevereiro de 2010, a Embaixada dos Estados Unidos em Brasília produziu 279 telegramas que tocam nessa questão. Em duas dezenas deles, informa-se que os americanos pediram ao governo brasileiro a investigação de dezesseis pessoas e organizações ligadas ao terrorismo internacional. As autoridades daqui se limitaram a pesquisar no Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). No âmbito policial, a julgar pelo relato dos telegramas, nenhuma medida foi tomada. O governo brasileiro também hesita em estabelecer uma lei antiterror, alegando que ela atrairia terroristas, o que em raciocínio inverso equivale a dizer que ladrões só roubam porque existem leis de crimes contra o patrimônio. "Não se percebe a relevância de uma lei antiterror porque até agora fomos poupados de ataques", diz Rubens Ricupero, ex-embaixador nos Estados Unidos. Enquanto isso, extremistas estão livres para conspirar no Brasil.
A presidente e o equilibrista - REVISTA VEJA
REVISTA VEJA
Apesar das suspeitas de tráfico de influência, o ministro Fernando Pimentel é oficialmente autorizado a não dar explicações
Apesar das suspeitas de tráfico de influência, o ministro Fernando Pimentel é oficialmente autorizado a não dar explicações
Daniel Pereira
Na semana passada, a presidente Dilma Rousseff reforçou uma suspeita corrente entre os partidos que apoiam o governo: a faxina ética é seletiva, sobretudo quando bate às portas do PT. Numa declaração pública, ela blindou o ministro do Desenvolvimento, o petista Fenando Pimentel. Livrou-o de prestar esclarecimentos ao Congresso sobre os 2 milhões de reais que ele recebeu, em 2009 e 2010, como consultor de empresas privadas. Sob o argumento de que esse trabalho foi feito antes de Pimentel assumir um cargo no governo federal, a presidente contrariou o receituário adotado nos nos casos anteriores de ministros envolvidos em denúncias de irregularidades. Afora o petista Antonio Palocci, que caiu justamente por se recusar a dar explicações sobre suas atividades de consultor, os outros ministros abatidos por denúncias foram orientados pela presidente a tentar convencer os parlamentares de sua inocência. Eles cumpriram a ordem, foram ao Congresso, mas não resistiram em seus postos. Diante dos precedentes, Dilma mudou a estratégia.
"E estranho que um ministro preste satisfações ao Congresso sobre a vida pessoal dele", afirmou a presidente. De estranho, não há nada. Bancos e empresas contratam políticos sem mandato e financiam sua campanha de olho em eventuais retribuições. É um jogo conhecido. Que o diga Palocci, abatido pela suspeita de tráfico de influência. Coordenador da campanha da presidente, Pimentel amealhou uma pequena fortuna ao supostamente prestar serviços a quatro clientes. Em três dos quatro casos, ele não elaborou sequer um documento que comprovasse as tais consultorias. Para piorar a situação, o jornal O Globo mostrou que nem as palestras que teriam sido encomendadas pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais foram, de fato, realizadas. Enquanto Pimentel diz que já deu Todas as explicações necessárias, sobram perguntas sem respostas e versões confrontadas pelos fatos. O ministro não pretende ir ao Congresso nem se for convidado para falar de assuntos caros à sua pasta, como desonerações tributárias. Teme que os parlamentares aproveitem a audiência e abordem seu trabalho de consultor.
Dilma dispensou um tratamento diferenciado a Pimentel por uma combinação de fatores. O petista é seu amigo há mais de quarenta anos, ex-companheiro de guerrilha, conselheiro e um dos poucos ministros que gozam de prestígio – político e gerencial – com ela. Foi uma combinação parecida que levou Dilma a proteger, em junho, Aloizio Mercadante depois que VEJA revelou que petistas o apontavam como mentor da compra de um dossiê fajuto contra o tucano José Serra. Mercadante não só foi mantido no comando da Ciência e Tecnologia como agora é o favorito para assumir o Ministério da Educação. A presidente deveria dar mais ouvido às pesquisas que a aprovam por não tolerar corruptos.
"E estranho que um ministro preste satisfações ao Congresso sobre a vida pessoal dele", afirmou a presidente. De estranho, não há nada. Bancos e empresas contratam políticos sem mandato e financiam sua campanha de olho em eventuais retribuições. É um jogo conhecido. Que o diga Palocci, abatido pela suspeita de tráfico de influência. Coordenador da campanha da presidente, Pimentel amealhou uma pequena fortuna ao supostamente prestar serviços a quatro clientes. Em três dos quatro casos, ele não elaborou sequer um documento que comprovasse as tais consultorias. Para piorar a situação, o jornal O Globo mostrou que nem as palestras que teriam sido encomendadas pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais foram, de fato, realizadas. Enquanto Pimentel diz que já deu Todas as explicações necessárias, sobram perguntas sem respostas e versões confrontadas pelos fatos. O ministro não pretende ir ao Congresso nem se for convidado para falar de assuntos caros à sua pasta, como desonerações tributárias. Teme que os parlamentares aproveitem a audiência e abordem seu trabalho de consultor.
Dilma dispensou um tratamento diferenciado a Pimentel por uma combinação de fatores. O petista é seu amigo há mais de quarenta anos, ex-companheiro de guerrilha, conselheiro e um dos poucos ministros que gozam de prestígio – político e gerencial – com ela. Foi uma combinação parecida que levou Dilma a proteger, em junho, Aloizio Mercadante depois que VEJA revelou que petistas o apontavam como mentor da compra de um dossiê fajuto contra o tucano José Serra. Mercadante não só foi mantido no comando da Ciência e Tecnologia como agora é o favorito para assumir o Ministério da Educação. A presidente deveria dar mais ouvido às pesquisas que a aprovam por não tolerar corruptos.
Previdência para o vovô - GUSTAVO CERBASI
REVISTA ÉPOCA
Em época de decisões para o Ano-Novo e efusão de propagandas sobre planos de previdência, multiplicam-se queixas de excessos cometidos na venda desse tipo de serviço financeiro. Boa parte dessas reclamações envolve a venda de planos de previdência a aposentados. Geralmente, filhos e netos sentem-se indignados quando seus ascendentes anunciam a contratação de um plano tipo VGBL, principalmente quando já estão aposentados. Afinal, a maioria das pessoas supõe que plano de previdência se presta apenas a planejar a aposentadoria, como o próprio nome sugere.
Mas não é a sede pelo cumprimento de metas que vem levando gerentes de banco e corretores de seguros a oferecer soluções desse tipo aos supostamente ingênuos aposentados. Os planos de previdência têm uma característica exclusiva, garantida por lei. No caso de morte do contratante do plano, a instituição financeira torna os recursos imediatamente disponíveis para os dependentes informados por ele. Isso dispensa os planos de previdência de ser incluídos em inventário. Sobre esses planos, não incidem os custos advocatícios e judiciais nem o imposto sobre transmissão de herança. Não raro, a soma desses custos ultrapassa 15% do valor do patrimônio.
Na prática, essa regra transforma os planos de previdência privada numa espécie de testamento, incluindo uma estratégia de sucessão com economia de custos.
Quem, por exemplo, teme por sua vida e pela segurança financeira de dependentes e tem uma boa reserva financeira deve incluir entre suas opções a transferência de recursos para um VGBL. Ao fazer isso, pode dispensar a contratação de seguros de vida, dependendo do valor aplicado.
Se, por razões justificadas ou não, um aposentado com alguma reserva financeira se dirige a um gerente de conta ou consultor de previdência e pede que seus recursos sejam investidos para facilitar a vida de pessoas queridas, a orientação mais provável que ele receberá será essa. Dependendo do perfil de investidor que tiver, ele pode ser orientado a investir num plano composto, com algum grau de exposição ao risco do mercado de ações. Essa orientação não deve ser julgada como equivocada, salvo se a proteção de terceiros não era intenção de quem a contratou.
Se o interessado foi devidamente orientado quanto aos custos tributários de resgates antecipados e quanto à necessidade de contar com outras reservas para emergências, pode fazer um bom negócio. Por isso, pense duas vezes antes de se indignar. A previdência pode não ser para o vovô, mas sim para você.
Novo capítulo da história americana - LEE SIEGEL
A guerra dos Estados Unidos no Iraque terminou na última quinta-feira, mas ninguém parecia saber disso. Não se viram multidões empolgadas em Times Square. Não houve desfiles.Não houve marinheiros beijando enfermeiras. A retirada formal pelos Estados Unidos de quase todos os seus soldados – o restante será mandado para casa em 31 de dezembro deixando apenas algumas centenas de "consultores" – causou quase tanto impacto nas vidas das pessoas quanto a ruptura de uma represa num país distante.
Ocorre que durante quase nove angustiantes anos de conflito encharcados de sangue no Iraque, o país levou sua vidacomose não estivesse havendo uma guerra. Foi um período estranho, surreal.Quase 5 mil soldados americanos foram mortos e – segundo o levantamento oficial – mais de 32 mil feridos; centenas de milhares de combatentes e civis iraquianos foram feridos ou mortos. No entanto,osrelatosdaincrível carnificina e atrocidade se confundiam com a ascensão dos reality shows na TV, o alastramento das idiotices na internet, a crescente bufonaria da política.
Se o leitor pertencer à feliz maioria de americanos cujos filhos, ou esposas, ou pais, ou amigos, ou amados não foram massacrados nem feridos no Iraque, ele não teve nenhuma razão para se sentir implicado na guerra. Não consigo pensar em outro momento histórico, em nenhum outro lugar da Terra, em que um segmento da sociedade era dilacerado enquanto outro seguia sua vida como se nada estivesse acontecendo. As pessoas não foram indiferentes. Estavam vivendo uma existência paralela.
A sensação estranha de que estávamos desfrutando paz quando estávamos realmente em guerra teve muito a ver com os ataques terroristas de 11 de Setembro. Quando os Estados Unidos invadiram o Iraque, quase dois anos e meio depois, os americanos sentiram que a pior violência havia terminado.
Invadir o Iraque não sugeria o início de uma guerra prolongada e sim a amarração de uma ponta solta. As pessoastambém sentiam que a violência real estava no futuro, com a possibilidade de um novo ataque em solo americano. O que estava ocorrendo no Iraque era um show secundário ligado ao passado chocante e ao futuro aziago.
Houve também as atitudes polarizadas para o presidente George W. Bush. Seus apoiadores estavam tão otimistas com as perspectivas de uma vitória completa, descomplicada e feliz que a seus olhos a conflagraçãonoIraque era uma ação política breve, necessária e quase indolor: o Iraque tinha cruzado um farol vermelho e agora teria de pagar uma multa. Por outro lado, as pessoas que desprezavam Bush gastaram toda sua indignação no que consideraram seu roubo da eleição de 2000. Para elas, a guerra era uma guerra de Bush. Talvez por isso não houve manifestações portentosas contra a guerra, comoas da era Vietnã. Era a guerra deles. Eles que lhe dessem um fim.
E, à medida que a guerra se tornava mais fútil, que ficava claro que nada minimamente de uma vitória era possível numa situação fragmentada, desconcertante, os especialistas e intelectuais que haviam pedido a guerra mudaram de assunto. Eles avaliaram retrospectivamente seus julgamentos fatais e escreveram livros e ensaios intermináveis fazendo novas proclamações sobre o futuro. Os contratos lucrativos que haviam obtido para livros defendendo a guerra eles agora recebiam por livros lamentando a guerra. Diferentemente de vidas perdidas, palavras perdidas podem ser rejeitadas e substituídas por outras.
A bênção e maldição da vida americana é que os americanos não gostam de remoer fracassos, e a guerra no Iraque rapidamente deixará de ocupar a atenção até mesmo dos historiadores. Isso será uma tragédia quase igual à tragédia no Iraque. Assim como as Guerras do Peloponeso arruinaram Atenas, a guerra no Iraque algum dia será considerada a virada fatal dos Estados Unidos. Mais que as crisesbancária e imobiliária, a Guerra do Iraque afundou a economia americana. Bush não só travou a guerra sem aumentar impostos; ele cortou impostos. Esse foi outro aspecto surreal dos últimos nove anos. Enquanto um setor da economia estava enterrandoUS$ 1 bilhão por dia num conflito no exterior, outro estava gananciosamente esfregando suas mãos e pedindo cada vez mais dinheiro. O resultado foi catastrófico.
Espantosamente, não se ouve um único político americano, nem sequer o presidente Obama, culpando a Guerra no Iraque pela situação claudicante da economia americana. A tentação de fruir um final feliz é grande demais. Mas, em vez de um final, a última quinta-feira marcou quase nove anos de um novo capítulo da história americana que apenas começou.
Saudade das carroças - EDITORIAL O ESTADÃO
O Estado de S.Paulo - 19/12/11
Com dificuldade para se adaptar ao século 21, o governo insiste em reeditar o protecionismo dos anos 50 e 60 do século passado, quando a maior parte da indústria era nascente e esse tipo de política ainda tinha algum sentido. Esse velho padrão foi reeditado na elaboração do Plano Brasil Maior, já em vigor, e poderá servir de inspiração para um "novo" regime automotivo com elevada exigência de conteúdo nacional (mais precisamente, produzido no Mercosul). O Plano Brasil Maior já estabeleceu a exigência de pelo menos 65% de conteúdo local para os veículos comercializados no Brasil, impondo uma taxação adicional de 30 pontos porcentuais aos produtos sem essa especificação. Esse critério deverá valer nos próximos 12 meses. Nesse período serão definidas as condições para vigorar em 2013, segundo informou o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel.
O Brasil foi um dos últimos países a abandonar o velho modelo de substituição de importações. A economia nacional foi muito prejudicada por isso. Outros países, principalmente da Ásia, deram o passo adiante nos anos 70 e 80. Passaram a absorver tecnologia, investiram em pesquisa e adotaram planos de educação ambiciosos e bem elaborados, preparando-se para conquistar espaços no mercado internacional. A Coreia do Sul foi um desses países. Absorveu e desenvolveu conhecimentos e tornou-se uma potência industrial e comercial adaptada a seu tempo. Enquanto isso, o Brasil pagava pelo fracasso da reserva de mercado para informática e entrava nos anos 90 com uma indústria de carroças motorizadas.
Nos anos 80 e em boa parte dos 90, o setor mais dinâmico da economia brasileira foi o agronegócio. Não por acaso, a modernização ocorreu mais prontamente naqueles segmentos mais voltados para o mercado internacional, como a produção de soja e derivados e a criação de animais para a exportação de carnes. Empenhados em disputar com os melhores produtores do mundo, os empresários envolvidos nesse trabalho tiveram de ajustar sua atividade aos níveis mais altos de eficiência, em vez de se refugiar no conforto de um mercado protegido. As instituições de pesquisa, com a Embrapa em posição central, tiveram um papel decisivo nesse esforço.
A abertura da economia brasileira, na virada dos anos 80 para os 90, foi um primeiro esforço de adaptação às mudanças globais. Os empresários com visão de maior alcance haviam começado a investir em modernização antes da abertura. Esses foram capazes de resistir ao impacto da mudança. A própria indústria automobilística adotou novas políticas, embora parte de sua produção tenha continuado defasada em relação aos padrões mundiais. Mas o Brasil jamais completou a sua inserção na economia globalizada. Os avanços na educação e na criação de tecnologia foram insuficientes, principalmente porque faltou uma clara e realista definição de prioridades. A infraestrutura continuou deficiente e inadequada e os custos de logística permanecem absurdamente altos. O sistema tributário é um desastre, porque onera o investimento, a produção e a exportação.
O Brasil não precisa de um novo regime automotivo nem de regras de conteúdo mínimo. Precisa de melhores condições para produzir e competir. Empresas poderão cumprir exigências de conteúdo nacional, num mercado protegido, sem tornar o País mais competitivo. Fala-se, em Brasília, de possível diminuição de impostos, como parte do regime automotivo, para quem investir em tecnologia. Nisso, pelo menos, há uma semente de bom senso. Mas seria muito mais sensato adotar uma política ampla de estímulo ao desenvolvimento tecnológico, em todos os setores, como parte de uma estratégia de modernização.
O presidente da Confederação Nacional da Indústria, Robson Andrade, apoiou a exigência de maior conteúdo nacional para os automóveis e ainda propôs uma alteração dos cálculos, para atribuição de maior peso aos componentes estritamente industriais. Daria uma contribuição muito melhor se cobrasse uma política de modernização produtiva e rejeitasse o ranço das políticas do passado. A CNI já produziu ideias mais luminosas.
Cachorros grandes - IGOR GIELOW
FOLHA DE SP - 19/12/11
Mas ela entra a semana com um abacaxi bem mais sério: a briga de cachorro grande entre PT e PMDB pelo controle da Caixa Econômica Federal e dos bilhões em fundos que passam pelo bancão.
Não bastasse o apetite petista pela vice-presidência que controla fundos de governo, na mão do PMDB-RJ, a Folha revelou ontem um caso com potencial sísmico grande para o condomínio dilmista.
Trata-se da fraude atribuída a uma corretora, na qual investidores compraram papéis micados como se fossem de boa qualidade. Eles embutem no seu valor adiantamentos feitos pelo governo aos bancos emissores.
Só que durante sua venda, o sistema da Caixa que aponta a desvalorização do papel estava fora do ar, algo sob responsabilidade dessa vice-presidência do PMDB.
Ainda há várias questões a serem respondidas. Mas quem entende da coisa já diz que o caso é bizarro não só pela omissão da Caixa, mas também porque os papéis eram velhos conhecidos do mercado.
Entre os coitadinhos que caíram no conto da corretora e querem que o governo banque o prejuízo, segundo a versão rósea da Caixa, está o Postalis, fundo de pensão comandado pelo mesmo PMDB.
Como no Brasil dos políticos é mais importante saber de onde veio o tiro do que socorrer o ferido, é previsível que PMDB e PT se digladiem com ameaças de coxia. Em tempo: o vice da área está para ser reconduzido ao poderoso Conselho Curador do FGTS.
Tal disputa é boa por abrir bueiros do poder. Mas a inevitável ação dos bombeiros tende a escamotear a apuração da fraude em si, que ao fim pode sair por R$ 1 bilhão para os pagadores de sempre: todos nós.
Propaganda falsa - RUY CASTRO
FOLHA DE SP - 19/12/11
RIO DE JANEIRO - Epa! Há dias, o governo da Holanda passou uma lei proibindo a venda de maconha nos cafés de Amsterdã e de outras cidades a quem for de fora do país. Ficam autorizados a servir-se do produto apenas os residentes nacionais ou estrangeiros, e que apresentem no coffee shop um "cartão da maconha" no ato da compra -cartão a ser fornecido pelo governo, através dos canais mais caretas e burocráticos.
A lei começa a valer em 1º de janeiro, mas haverá uma tolerância até 1º de maio, para que os comerciantes dos 670 cafés legalmente registrados se adaptem à nova realidade. É um duro golpe no "turismo da droga", que atrai milhões de visitantes a Amsterdã e traduz um fascinante liberalismo que eles, por acharem que lá deu certo, gostariam de ver aplicado em seus países.
Os turistas podem adorar esse liberalismo; os nativos nem tanto. Para eles, o turismo da droga é sinônimo de engarrafamento, poluição, lixo, barulho a noite toda e aumento da criminalidade, além do fumacê e do cheiro. E, diferentemente do que se acredita fora de lá, o fato de a erva ser vendida e usada livremente nos cafés não acabou com os traficantes.
Donde não quer dizer que, a partir de agora, turistas não autorizados a queimar fumo terão de se contentar em passear pelos canais de Amsterdã ou ir a museus admirar Vermeer. A lei só enquadrou os cafés. Quem quiser comprar maconha poderá continuar a fazê-lo, apelando para os traficantes nas ruas -os quais, com todo o liberalismo dos últimos 30 anos, não deixaram de existir e de fazer seus negócios nem por um dia.
Detalhe: só maiores de 18 anos terão direito ao cartão. E nenhum café autorizado a vender maconha poderá ficar a menos de 350 metros de uma escola -para manter a droga longe das crianças. Pelo visto, ao contrário do que insistem em nos fazer acreditar, a Holanda não gosta muito da maconha.
De novo no prumo - GEORGE VIDOR
O GLOBO - 19/12/11
A Câmara Brasileira da Indústria da Construção estima que o setor tenha evoluído 4,8% em 2011, o que é um ótimo resultado, bem acima da média esperada para o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB).
Ate abril de 2012 terão sido entregues mais de 1 milhão unidades da primeira fase do "Minha Casa, Minha Vida". E a segunda fase - com previsão de mais dois milhões de unidades - estará andando, com 60% dos imóveis destinados à faixa de renda de até três salários mínimos.
Paulo Simão, presidente da Câmara da Construção, não teme a falta de financiamentos para o setor. O FGTS e as cadernetas de poupança são as principais fontes de suprimento de crédito imobiliário, a custos razoáveis, e ambas ainda não se esgotaram (os bancos devem aplicar pelo menos 65% dos recursos das cadernetas nesse tipo de crédito, e, de fato, muitos não passaram de 25% de tal exigência). Em caso de esgotamento, será possível também reduzir o depósito compulsório recolhido ao Banco Central, e direcionar para o financiamento da construção civil, os valores que forem liberados
Há uma previsão que o crédito imobiliário dobre sua participação de 5% para 10% do PIB nesta década. Mesmo assim, o Brasil ainda ficará em patamar inferior a de países como o Chile e o México. De qualquer modo, no atual ritmo o Brasil conseguiria eliminar seu déficit habitacional crônico antes de 2020.
Simão considera hoje o maior desafio da indústria da construção a inovação, seja nos métodos construtivos, para acelerar as obras, seja no aproveitamento de materiais que reduzam o desperdício e reduzam o custo.
As universidades e faculdades particulares respondem por cerca de 70% das matrículas no ensino superior no país. Cinco grandes grupos detêm metade desse mercado. Já no caso do ensino fundamental e médio não existe tal concentração. Há mais de 25 mil escolas particulares no país, que, na melhor das hipóteses, estão associadas a um sistema de ensino (distribuição de livros e apostilas, algum apoio pedagógico, etc., mas sem relação acionária). Muitas dessas escolas têm o futuro ameaçado por problema na sucessão de seu comando, seja por falta de herdeiros ou de quem se interesse pela continuidade do negócio dentro das próprias famílias proprietárias dos colégios. A profissionalização não é uma marca do setor.
Luís Fernando Pessõa, da Local Invest, passou dois anos estudando pessoalmente o segmento e vislumbrou nele uma boa oportunidade de investimento. Em vez de apenas gerir fundos que negociam ações em bolsa ou outros títulos, como um asset manager mais convencional, Pessôa resolveu passar pela mesma experiência já observada no ensino superior, só que desta vez criando uma holding que se propõe a reunir sob seu controle mais de 40 escolas de nível fundamental e médio, com cerca de 80 mil alunos, no prazo de quatro anos. Um fundo de investimento fechado, administrado pela Local Invest, terá o controle da holding até que a empresa esteja apta a lançar ações em bolsa e caminhar pelas próprias pernas.
As escolas não perderão sua identidade, mas darão um salto de qualidade, com apoio acadêmico, administrativo e financeiro da nova controladora. Algumas se tornarão bilíngues, e com laboratórios de ensino bem equipados. E, principalmente, terão finanças saneadas e transparentes para remunerar o fundo controlador e atrair os futuros investidores.
Com a interiorização da economia, o raio de ação da holding se estenderá do Rio a Juiz de Fora e Vitória. Estão sendo adquiridos colégios em Volta Redonda, Cabo Frio, Macaé, Campos e São Gonçalo, por exemplo.
Os prédios onde estão instalados os colégios permanecerão com os antigos proprietários. A holding pagará por eles um aluguel que será corrigido de acordo também com o aumento do faturamento.
Pessõa pesquisou 240 escolas. Dessas, cem foram escolhidas para negociação, das quais 20 já estão negociadas ou apalavradas com a Local Invest. Ele acha que que esse processo ocorreria inevitavelmente com a chegada de grandes redes internacionais e preferiu se antecipar. Os amigos brincam dizendo a ele "a Dilma precisa saber disso".
O que o mercado segurador brasileiro tem a ver com o da Turquia ou o da Índia? Embora culturalmente muito diferentes, o denominador comum entre esses três mercados é o rápido crescimento, com a inclusão de multidões de clientes que vêm ascendendo socialmente. Em geral os clientes é que têm de se adaptar aos produtos que o mercado segurador oferece, mas a multinacional Aegon, sócia da centenária Mongeral no Brasil, resolveu inovar, e, por um sistema de pesquisas que vem aplicando nesses países, espera que o mercado é que se adapte às necessidades do cliente, e não o contrário. Pela metodologia, se o cliente se diz satisfeito, o objetivo não foi atingido. A meta deve ser "mais que satisfeito", o que só ocorrerá se toda a empresa se envolver no processo, se ela se redesenhar. Os diretores da Mongeral compraram a ideia.
Já está na praça o novo livro do professor Antonio Dias Leite, com o título " Brasil país rico, o que ainda falta". O livro - que tive a honra de prefaciar - trata de questões bem atuais, como o dilema crescimento econômico versus estabilidade da moeda. Com 91 anos, o professor conjuga saber e experiência em seus escritos, numa linguagem acessível a todos que têm algum interesse sobre economia. Tem nos brindado com livros na área de energia, mas pela economia transita com igual ou mais desenvoltura (desde os tempos em ajudou a implantar no país o sistema de contas nacionais, que possibilita o cálculo do PIB, por exemplo).
Feliz Natal!
Corpos nus - PAULO GUEDES
O GLOBO - 19/12/11
E só uma autoridade fiscal europeia, em contraposição às políticas fiscais nacionais, permitiria a sobrevivência da moeda única. Ora, o ouro circulou por milênios como moeda universal sem nenhuma coordenação fiscal de governos locais. Obviamente, esse é apenas um contraexemplo para ressaltar as diferentes origens de distintas instituições, a moeda e o crédito, a cotação do euro e o spread de risco das dívidas soberanas.
É claro que, nos modernos regimes de moeda fiduciária, as garantias dadas pelos governos se reforçam. A capacidade de extrair e transferir recursos amortece efeitos desfavoráveis da adoção da moeda única. Quando se dissociam, como é o caso europeu, os americanos martelam suas soluções como se fossem as únicas. Mas os alemães parecem dispostos a correr os riscos de aprofundamento da crise de liquidez bancária, freando a atuação do BCE como emprestador de última instância para exercer pressões de ajuste orçamentário sobre os demais governos europeus.
O Fed quer inflar os ativos e camuflar as perdas com a farra do crédito. Transfere para os contribuintes os custos das operações de salvamento. O BCE se comporta como a "instância dominante" da teoria dos jogos, forçando os tesouros nacionais a apertar os cintos. A moeda única já trazia embutida uma exigência de responsabilidade fiscal, que os alemães acabam de explicitar. Para os europeus, a virada de 2011-2012 registra o aprofundamento do Tratado de Maastricht, uma maior coordenação das políticas fiscais.
Há definitivamente uma assimetria entre americanos e alemães no trato das quebras bancárias. Quando os corpos nus estendidos no chão são encontrados pelos alemães, ouve-se: "Contem os cadáveres, procurem os culpados, pagarão por seus erros." Já dos americanos ouvem-se sussurros: "Vistam os cadáveres, coloquem-nos sentados e vamos fingir que estamos conversando."
Natal - LUIZ FELIPE PONDÉ
FOLHA DE SP - 19/12/11
Nossa grávida era infeliz, mas era sábia: sabia que todos os animais queriam comê-la
Nossa grávida era infeliz, mas era sábia: sabia que todos os animais queriam comê-la
Quase nua, tentava esconder sua barriga enorme com as mãos porque, de alguma forma, sabia que sua barriga e o odor que exalava dentre suas pernas atraiam ainda mais predadores. Cada dia era um dia que ela roubava das mãos do mundo. Nossa pequena grávida era uma infeliz, mas era sábia: sabia que todos os animais queriam comê-la.
Lembrava que três homens a pegaram. Perdera-se do seu bando original e por isso caiu nas mãos de caçadores solitários. Não era tão feliz assim em seu bando, mas pelo menos tinha proteção em troca de abrir as pernas para alguns machos do bando de vez em quando.
Após dias de solidão em busca de alimento, a possibilidade de ter prazer com essa pequena menina (não era uma mulher plena, mas tinha um corpo que suportava dois homens ao mesmo tempo) parecia um presente dos "espíritos" para aqueles homens responsáveis pela sobrevivência de suas mulheres, velhos e crianças. Depois de um longo dia de "trabalho", penetrá-la era uma "bênção" e os acalmava.
Mantiveram a menina por alguns dias amarrada com as pernas abertas e de vez em quando a penetravam até o gozo. Tentaram por diversas vezes penetrar sua boca, mas ela resistia. Temiam seus dentes. Já por trás, foi mais fácil. Não queriam matá-la porque gostavam do movimento que ela fazia com as ancas e as pernas na tentativa inglória de se libertar. Lágrimas escorriam pelo seu rosto e eles as lambiam porque eram salgadas.
O choro dela os excitava. Com o tempo, ela se acalmou um pouco e comia pedaços de carne e bebia água enquanto eles se divertiam entre suas pernas. A fome era mais importante do que o desconforto da penetração violenta. Além do mais, eles a protegiam de alguma forma.
Um dia, eles foram embora e a deixaram ali amarrada com as pernas abertas. Depois de alguns dias, quase sentiu falta de seus agressores, afinal, eles lhe davam carne e água.
Tendo se soltado, nossa pequena heroína saiu da caverna onde se encontrava e se arriscou pelo espaço aberto. Passou muita fome e frio. Tentou se aproximar de alguns grupos de humanos semelhantes a ela, mas foi rechaçada, por mulheres como ela (crianças também chutaram sua cabeça quando ela caiu no chão depois de tanto apanhar).
As mulheres gritavam com ela e jogavam pedras em sua barriga. Uma pedra atingiu um dos seus olhos e o mundo ficou vermelho.
Disputou pedaços de animais mortos com outros bichos. Cortou mesmo alguns dos seus dedos com pedras e os comeu. Buscou avidamente algum grupo de homens semelhantes ao que estivera com ela, mas não teve sucesso. Apenas bandos, e as mulheres eram excepcionalmente cruéis com ela quando se aproximava.
Àquela altura, os dias em que permanecera amarrada com as pernas abertas lhe pareciam uma "bênção dos espíritos". Nossa heroína não gostava muito daquele velho feio que berrava em seu bando sobre "espíritos", mas tinha medo dele. E o medo era sempre o que contava em sua vida.
Num dado dia que chovia muito, barulhos (trovões) caiam do céu, começou a sentir dores insuportáveis. Sua enorme barriga ficava como que dura e aquilo dentro dela (que já se mexia há dias) parecia empurrar suas vísceras para fora.
Não conseguia mais andar. Arrastava-se, deixando um rastro de líquido viscoso em seu caminho.
Nossa pequena heroína já vira isso acontecer com mulheres como ela. Aliás, uma das coisas que aprendera é que o bando se dividia entre as que abriam as pernas e os que ficavam no meio das pernas das que abriam as pernas.
Nestas, depois de algum tempo cresciam barrigas como a que ela tinha agora. Elas gritavam de dor para por para fora pequenos seres que cresceriam e ficariam iguais a eles.
Ela acabou morrendo de dor. Alguns bichos comeram pedaços de seu corpo enquanto ainda estava viva. Milhares de anos depois, seus ossos e os ossos "daquilo" que estava dentro dela ainda esperam para ser encontrados.
O ano e a vez da vox - JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
O Estado de S. Paulo - 19/12/11
Apesar de faltarem apenas 13 dias no calendário, 2011 está longe de chegar ao fim. É daqueles anos que - com a licença de Zuenir Ventura - não terminam quando acabam. As ondas verberadas nos últimos 12 meses ainda vão ressoar por muito tempo. 2011 é o ano em que a opinião pública ganhou voz: rompeu a virtualidade das redes sociais, e se materializou em marchas, ocupações e revoluções. Nenhum governante, democrata ou ditador, dormirá com a mesma tranquilidade de 2010.
Raras vezes uma ideia contaminou tanta gente em tantos lugares tão rapidamente. Entre a primavera na Tunísia e o outono na Rússia, centenas de milhares de pessoas abdicaram da segurança doméstica e foram às ruas gritar em árabe, grego, espanhol, inglês, francês e russo. Ocuparam praças e chacoalharam governos. Em comum, o desejo de se fazer ouvir, de expressar sua inconformidade e de mudar o estado das coisas.
Para os governos totalitários, sem válvulas de escape, foi um estouro de boiada. A multidão atropelou o que tinha pela frente. E, como mostra a revolução permanente no Egito, reprimida cada vez com mais violência pelos militares que tentaram tutelá-la, é quase impossível guardar o gênio de volta na lâmpada depois que ele sente o gosto de liberdade. Os cadáveres nas ruas do Iraque, da Líbia e do Egito testemunham que derrubar um regime é muito mais fácil do que construir uma democracia.
E mesmo para os governos democráticos, há uma crise de representatividade. Setores expressivos das sociedades grega, espanhola, inglesa, francesa, russa e norte-americana, entre outras, mostraram que não se sentem representados pela política tradicional, pelos partidos nem pelos respectivos parlamentos. Seus protestos, pacíficos ou incendiários, nasceram da desigualdade crescente, mesmo quando a falta de oportunidade econômica deu brecha ao oportunismo saqueador.
Em um dos melhores trabalhos de investigação jornalística dos últimos tempos, o jornal The Guardian conseguiu georreferenciar onde mora grande parte dos jovens que participaram dos saques e das revoltas em Londres e em outras cidades inglesas. A superposição entre pobreza, violência e alto desemprego juvenil não deixou dúvidas sobre o que eles tinham em comum.
A economia decadente explica, em grande parte, as rebeliões nos países europeus e nos Estados Unidos. Os "indignados" espanhóis e os ocupadores de Wall Street são de uma geração que percebe ter menos opções profissionais e alternativas de emprego do que a de seus pais. E que se ressente da lenta resposta dos mecanismos da democracia representativa.
Acostumados ao imediatismo das novas tecnologias de comunicação, os jovens excluídos se impacientam com as discussões parlamentares bizantinas, com o partidarismo estéril e com a sucessão de promessas sempre repetidas e nunca cumpridas. Sua ação é diretamente proporcional à inércia de seus representantes.
A economia recessiva é regra nos países chacoalhados pela vox pública, mas há exceções. Na Rússia, quem desafiou o regime, temperaturas abaixo de zero e foi gritar contra a perpetuação no poder de Vladimir Putin foi a nova classe média, que, ironicamente, se consolidou durante o seu interminável governo. O ex-espião saiu do frio e seus compatriotas emergentes entraram nele de peito e boca abertos.
Também no Chile, altos porcentuais de crescimento do PIB não impediram que os estudantes se organizassem e demonstrassem meses a fio contra o governo conservador de Sebastián Piñera, por uma reforma educacional. O presidente chileno demonstrou tanta inabilidade política e usou tamanha violência contra marchas pacíficas que praticamente unificou a opinião pública do país contra si.
E no Brasil? No Brasil, houve marchas de fim-de-semana e invasão de reitoria. Faltaram, porém, volume de manifestantes, persistência nos protestos e radicalização que tornassem as manifestações da opinião pública brasileira comparáveis às árabes, europeias e norte-americanas - a ponto de provocar protestos de correspondentes estrangeiros sem notícia.
As pesquisas de avaliação de governo captam o silêncio da maioria da opinião pública e o traduzem em taxas de popularidade recorde para Dilma Rousseff. Também crescentes são a confiança do consumidor e o otimismo dos brasileiros quanto à sua situação financeira pessoal. Consumo em alta é igual a eleitor satisfeito, e o governo sabe disso. A fórmula funciona no curto prazo, mas é insuficiente para mudar um país. 2011 termina sem acabar para o mundo, nem para o Brasil e tampouco para Dilma.
A 'marola' da crise já chegou às nossas praias - MARCO ANTONIO ROCHA
O Estado de S. Paulo - 19/12/11
A marcha da economia brasileira neste momento indica duas coisas: 1) ela está na banguela e vai despencando; 2) ela já esteve na banguela e anda devagar porque chegou numa rampa, lotada de encargos.
As duas coisas podem ser verdadeiras.
Os números são adversos. O chamado "PIB do BC" - na prática uma avaliação mensal do andamento do Produto Interno Bruto feita pelo Banco Central e que, projetada, ajuda a estimar o PIB do ano - registrou retração de 0,32% no mês de outubro, em comparação com setembro, pior do que muitos economistas previam.
O fato foi logo atribuído à "crise internacional" por vários comentaristas, mas, na verdade, o gráfico do PIB do BC mostra que ele já vinha caindo, depois de ter alcançado um pico antes do início do segundo semestre. A queda de outubro apenas foi mais dramática. E, em virtude dela, a Confederação Nacional da Indústria (CNI), que apostava num crescimento de 3% do PIB em 2011, já cortou sua previsão para 2,8%. Do alto das minhas humildes sandálias, ouso ir além, ou seja, abaixo: o PIB de 2011, acredito, não deve superar os 2%. Palpite que só poderá ser confirmado, na melhor das hipóteses, no final do primeiro trimestre de 2012, dado o proverbial atraso das aferições estatísticas confiáveis no Brasil (estão melhorando, estão melhorando!).
Bem, o que está acontecendo na prática é que a economia brasileira parece que hoje em dia está mais "em fase" - como se diz - com a economia internacional, o que não ocorreu na crise de 2008-2009. Naquela época, houve uma defasagem que permitiu ao nosso guia genial dizer, como todos se lembram, que o que se passava na economia internacional era apenas uma "marolinha" que o Brasil não precisava temer. Ao perceber que o País teria muito a temer, e que não se tratava de "marolinha", o grande gênio pediu que se improvisassem medidas anticíclicas, que de fato levaram a economia brasileira para fora do desastre. Mas a diferença principal daquela crise, em relação à atual, é que ela era eminentemente bancária, provocada por excesso de facilitário creditício e inchaço da inadimplência - ou seja, afetava principalmente o setor bancário privado norte-americano. Nada que o Tesouro ianque não pudesse resolver com gordas injeções de liquidez, como, aliás, acabou fazendo.
A crise de hoje é diferente. Em primeiro lugar, é "soberana" - para usar esse modismo que esconde que se trata de crise das finanças de vários governos europeus e é resultado, fundamentalmente, da ação de governantes ineptos, demagógicos e covardes, assediados sempre por um sindicalismo altamente predador, tanto do lado patronal quanto do lado do trabalhador. Aliás, chamar, hoje em dia, de "trabalhador" um europeu com carteira assinada e sindicalizado é quase cuspir na cara dos trabalhadores do resto do mundo. A grande maioria desfruta de momentos de conversação amena nos locais de trabalho, vigiando a massa de imigrantes não sindicalizados que de fato trabalham.
Os déficits e dívidas monstruosos de vários governos europeus são o que se poderia esperar da falta de competência e coragem - na Grécia, na Espanha, em Portugal, na Itália e onde mais - de resistir aos vorazes comensais das pizzas orçamentárias: aposentados; funcionários públicos; assalariados de empresas públicas; mutuários e beneficiários de benesses governamentais especiais criadas pelos mais diversos títulos; máfias de empreiteiros e de empresas de equipamentos militares; bancos de investimento - enfim, a imensa clientela dos orçamentos públicos (sem esquecer, é claro, dos corruptos de diversos calibres).
Os governos da Europa que 50 anos atrás eram padrão mundial de higidez financeira e fiscal se transformaram na cornucópia de uma derrama praticamente sem limites a desafiar qualquer cálculo atuarial. A ponto de não poder saber por onde começar para consertar alguma coisa. E a moeda única, o euro, ainda por cima opera como uma espécie de vírus disseminador do quebra-cabeças.
Se juntarmos à desordem financeira a crise maior, que é a da liderança política europeia atual, em que nenhum dos fantoches em movimento exibe o menor perfil do que antigamente se chamava de estadista - e mais se parecem, todos, com anões de jardim -, é fácil prever que essa crise terá longuíssima duração, e nada garante que não se aprofunde ainda mais.
Voltemos ao Brasil.
A população está satisfeita porque está podendo consumir mais e viver melhor. O governo está satisfeito porque está arrecadando mais e dispõe de um colchão de reservas cambiais e bancárias para usar em caso de baque na economia. O empresariado está menos otimista do que quando o ano começou, mas ainda aposta em melhorias. Os políticos cuidam da sua especialidade, que consiste em encher os bolsos e a paciência do público.
Mas a queda do PIB de outubro foi um sinal de que a "marola" está chegando às nossas praias e em 2012 a economia brasileira enfrentará muito mais rampa.
Mercadante no MEC - RENATA LO PRETE
FOLHA DE SP - 19/12/11
Dilma Rousseff decidiu colocar Aloizio Mercadante no lugar de Fernando Haddad quando este deixar o Ministério da Educação para disputar a Prefeitura de São Paulo pelo PT. A substituição deverá ocorrer em breve.
A presidente chegou a analisar a possibilidade de uma sucessão caseira, promovendo um dos quadros da atual cúpula do MEC, mas concluiu que o ex-senador petista, hoje ministro de Ciência e Tecnologia, é uma solução de mais peso para uma área que ela considera estratégica. Desde o início do governo, Mercadante tem se mantido distante de refregas partidárias e concentrado nos assuntos de sua pasta.
Marco Mercadante sempre esteve bem com Dilma, mas foi a partir da saída de Antonio Palocci da Casa Civil, em junho, que seu trânsito aumentou significativamente dentro do governo.
Hiato Uma vez fora do ministério, Haddad deve tirar duas semanas de descanso antes de mergulhar nas atividades de pré-campanha.
Morde... A recomendação, feita anteontem pelo presidente do PT paulista, Edinho Silva, para que seja mantido um "ambiente de cordialidade" com o PSD de Gilberto Kassab não encontra eco no diretório da capital. Ali se acredita que, ao menos no primeiro turno, o único caminho possível para o partido é bater duro na desgastada administração do prefeito.
...e assopra Acontece que Edinho faz parte de um invisível porém ativo grupo de petistas em permanente negociação com Kassab.
Transgênico A CNB, corrente majoritária petista, aprovou protocolo de apoio ao ex-tucano Gustavo Fruet (PDT), que enfrentará o prefeito Luciano Ducci (PSB) em Curitiba. Em desacordo, a ala liderada pelo deputado Dr. Rosinha promete lutar pela candidatura própria no diretório da capital paranaense.
Modos de ver Os peemedebistas mais benevolentes atribuem exclusivamente ao presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Hereda, o processo de desidratação a que vêm sendo submetidos no banco. Já os mais céticos ponderam que o petista não teria como levar a cabo tamanha ofensiva sem o respaldo do Palácio do Planalto.
Prévia$ A interminável discussão a respeito do tamanho do colégio eleitoral que escolherá, em 4 de março, o candidato do PSDB à prefeitura paulistana não se deve a questões programáticas ou mesmo sobre o grau de inserção de cada um dos postulantes na máquina partidária. Trata-se de saber quantos votantes será preciso convencer. E com que meios.
Os pássaros 1 No momento, Bruno Covas é o alvo preferencial dos demais pré-candidatos tucanos, notadamente Andrea Matarazzo e José Aníbal. O primeiro o enxerga por trás de ataques que sofreu nas redes sociais. O segundo o acusa de tentar estabelecer uma espécie de reserva de mercado sobre o legado do avô famoso. Matarazzo e Aníbal estão em clima de aliança tática.
Os pássaros 2 Também contribui para a má vontade com Bruno o fato de ele ter pontuado ligeiramente melhor do que seus adversários de prévia na mais recente pesquisa Datafolha.
Pavilhões Alckmin e Kassab divergem quanto à expansão de centros de convenções na capital. Enquanto o grupo mais próximo do prefeito quer prioridade à PPP do Piritubão, a ala mais próxima ao governador pretende acelerar a ampliação da área de exposições na Imigrantes.
tiroteio
Infelizmente, senhores deputados petistas, não posso deixar para amanhã o que estou falando hoje, pois nós não temos uma vida para ensaiar e outra para viver.
DO DEPUTADO CAMPOS MACHADO, LÍDER DO PTB NA ASSEMBLEIA, aos colegas que pretendiam interromper a acalorada discussão em plenário sobre o projeto de previdência complementar de servidores apresentado por Geraldo Alckmin.
contraponto
Coisa de craque
Na longa fila de autógrafos do lançamento de "Sócrates e Thomas More - Correspondências Imaginárias", na sexta passada em São Paulo, ouviu-se um prefeito dizer:
-Mas esse Gabriel Chalita sabe vender livro mesmo... O homem acabou de morrer e ele já faz uma homenagem! Toda a torcida corintiana vai comprar!
O político que o acompanhava então perguntou:
-E o tal do Thomas More jogava em qual time?
O prefeito respondeu de bate-pronto:
-No Corinthians tenho certeza de que nunca jogou...
com LETÍCIA SANDER e FABIO ZAMBELI
A presidente chegou a analisar a possibilidade de uma sucessão caseira, promovendo um dos quadros da atual cúpula do MEC, mas concluiu que o ex-senador petista, hoje ministro de Ciência e Tecnologia, é uma solução de mais peso para uma área que ela considera estratégica. Desde o início do governo, Mercadante tem se mantido distante de refregas partidárias e concentrado nos assuntos de sua pasta.
Marco Mercadante sempre esteve bem com Dilma, mas foi a partir da saída de Antonio Palocci da Casa Civil, em junho, que seu trânsito aumentou significativamente dentro do governo.
Hiato Uma vez fora do ministério, Haddad deve tirar duas semanas de descanso antes de mergulhar nas atividades de pré-campanha.
Morde... A recomendação, feita anteontem pelo presidente do PT paulista, Edinho Silva, para que seja mantido um "ambiente de cordialidade" com o PSD de Gilberto Kassab não encontra eco no diretório da capital. Ali se acredita que, ao menos no primeiro turno, o único caminho possível para o partido é bater duro na desgastada administração do prefeito.
...e assopra Acontece que Edinho faz parte de um invisível porém ativo grupo de petistas em permanente negociação com Kassab.
Transgênico A CNB, corrente majoritária petista, aprovou protocolo de apoio ao ex-tucano Gustavo Fruet (PDT), que enfrentará o prefeito Luciano Ducci (PSB) em Curitiba. Em desacordo, a ala liderada pelo deputado Dr. Rosinha promete lutar pela candidatura própria no diretório da capital paranaense.
Modos de ver Os peemedebistas mais benevolentes atribuem exclusivamente ao presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Hereda, o processo de desidratação a que vêm sendo submetidos no banco. Já os mais céticos ponderam que o petista não teria como levar a cabo tamanha ofensiva sem o respaldo do Palácio do Planalto.
Prévia$ A interminável discussão a respeito do tamanho do colégio eleitoral que escolherá, em 4 de março, o candidato do PSDB à prefeitura paulistana não se deve a questões programáticas ou mesmo sobre o grau de inserção de cada um dos postulantes na máquina partidária. Trata-se de saber quantos votantes será preciso convencer. E com que meios.
Os pássaros 1 No momento, Bruno Covas é o alvo preferencial dos demais pré-candidatos tucanos, notadamente Andrea Matarazzo e José Aníbal. O primeiro o enxerga por trás de ataques que sofreu nas redes sociais. O segundo o acusa de tentar estabelecer uma espécie de reserva de mercado sobre o legado do avô famoso. Matarazzo e Aníbal estão em clima de aliança tática.
Os pássaros 2 Também contribui para a má vontade com Bruno o fato de ele ter pontuado ligeiramente melhor do que seus adversários de prévia na mais recente pesquisa Datafolha.
Pavilhões Alckmin e Kassab divergem quanto à expansão de centros de convenções na capital. Enquanto o grupo mais próximo do prefeito quer prioridade à PPP do Piritubão, a ala mais próxima ao governador pretende acelerar a ampliação da área de exposições na Imigrantes.
tiroteio
Infelizmente, senhores deputados petistas, não posso deixar para amanhã o que estou falando hoje, pois nós não temos uma vida para ensaiar e outra para viver.
DO DEPUTADO CAMPOS MACHADO, LÍDER DO PTB NA ASSEMBLEIA, aos colegas que pretendiam interromper a acalorada discussão em plenário sobre o projeto de previdência complementar de servidores apresentado por Geraldo Alckmin.
contraponto
Coisa de craque
Na longa fila de autógrafos do lançamento de "Sócrates e Thomas More - Correspondências Imaginárias", na sexta passada em São Paulo, ouviu-se um prefeito dizer:
-Mas esse Gabriel Chalita sabe vender livro mesmo... O homem acabou de morrer e ele já faz uma homenagem! Toda a torcida corintiana vai comprar!
O político que o acompanhava então perguntou:
-E o tal do Thomas More jogava em qual time?
O prefeito respondeu de bate-pronto:
-No Corinthians tenho certeza de que nunca jogou...
com LETÍCIA SANDER e FABIO ZAMBELI
Ideias descartáveis - VINICIUS MOTA
FOLHA DE SP - 19/12/11
SÃO PAULO - Grandes supermercados, o governo paulista e a prefeitura da capital se uniram para salvar o planeta. Três gigantes do varejo vão transferir para você, consumidor, o custo, que era deles, de acondicionar as compras.
A partir de janeiro, comprometeram-se a não mais oferecer de graça as sacolinhas plásticas. Vamos pagar aos supermercados pelas sacolas do bem, reutilizáveis ou biodegradáveis.
Ai de quem reclamar. Prometem-se campanhas que vão transformar caixas de lojas em ativistas do Greenpeace. "É um preço modesto, senhor, para salvar a tartaruga marinha e desentupir nossos bueiros." Imaginemos que o plano dê certo e que todos passem a usar sacolas carimbadas pelo politburo verde. Um dos efeitos será o aumento relevante das vendas de sacos plásticos "do mal" para guardar o lixo doméstico. Aconteceu em cidades que adotaram essa prática.
Do outro lado, o plástico "verde", que se degrada por exemplo em dois anos, lança o carbono de que era composto na atmosfera, atiçando o efeito estufa. A baleia jubarte terá menos sacolas para engolir, mas o Ártico vai derreter mais cedo.
Racionalizar o uso de produtos danosos ao ambiente é justificável. Mas o volume desses resíduos será sempre acachapante no Brasil, destinado a elevar o nível de bem-estar de 200 milhões de pessoas.
Sem coleta seletiva e reciclagem, a degradação ambiental estará assegurada por décadas. Pouco importa se o plástico é "do bem" ou "do mal". Se for 100% recolhido e reciclado, não vai parar no estômago do peixe-boi nem na boca de lobo da avenida Pompeia.
São Paulo recicla menos de 1% de seu lixo. Em vez de lidarem com esse vexame, fruto da incompetência de sucessivas gestões, a prefeitura e o governo estadual preferem uma pantomima ecologicamente correta que pouco resolve.
SÃO PAULO - Grandes supermercados, o governo paulista e a prefeitura da capital se uniram para salvar o planeta. Três gigantes do varejo vão transferir para você, consumidor, o custo, que era deles, de acondicionar as compras.
A partir de janeiro, comprometeram-se a não mais oferecer de graça as sacolinhas plásticas. Vamos pagar aos supermercados pelas sacolas do bem, reutilizáveis ou biodegradáveis.
Ai de quem reclamar. Prometem-se campanhas que vão transformar caixas de lojas em ativistas do Greenpeace. "É um preço modesto, senhor, para salvar a tartaruga marinha e desentupir nossos bueiros." Imaginemos que o plano dê certo e que todos passem a usar sacolas carimbadas pelo politburo verde. Um dos efeitos será o aumento relevante das vendas de sacos plásticos "do mal" para guardar o lixo doméstico. Aconteceu em cidades que adotaram essa prática.
Do outro lado, o plástico "verde", que se degrada por exemplo em dois anos, lança o carbono de que era composto na atmosfera, atiçando o efeito estufa. A baleia jubarte terá menos sacolas para engolir, mas o Ártico vai derreter mais cedo.
Racionalizar o uso de produtos danosos ao ambiente é justificável. Mas o volume desses resíduos será sempre acachapante no Brasil, destinado a elevar o nível de bem-estar de 200 milhões de pessoas.
Sem coleta seletiva e reciclagem, a degradação ambiental estará assegurada por décadas. Pouco importa se o plástico é "do bem" ou "do mal". Se for 100% recolhido e reciclado, não vai parar no estômago do peixe-boi nem na boca de lobo da avenida Pompeia.
São Paulo recicla menos de 1% de seu lixo. Em vez de lidarem com esse vexame, fruto da incompetência de sucessivas gestões, a prefeitura e o governo estadual preferem uma pantomima ecologicamente correta que pouco resolve.
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