terça-feira, setembro 01, 2009

AUGUSTO NUNES

Viva a Segunda Independência!

1 de setembro de 2009

Soube-se neste histórico 31 de Agosto (A maiúsculo, como convém a uma data condenada a virar feriado nacional) que o pré-sal é uma dádiva de Deus ao maior estadista de todos os tempos, escolhido pessoalmente por Ele para salvar o país onde ambos nasceram. Soube-se também que o Brasil proclamou a Segunda Independência, e que haverá dinheiro de sobra para tudo e para todos. Logo estarão nadando num oceano de reais, dólares e euros os governadores do litoral e os sem-praia, o sistema de saúde, o ensino público, a Petrobras, o turismo, a Amazônia, as estradas federais, o trem-bala, a transposição do Rio São Francisco, o esquema de combate às secas e enchentes, os companheiros de primeira hora e os recém-chegados, os generais da base alugada e os soldados rasos das tropas de choque, a navegação fluvial, a indústria automobilística, os amigos do ministro de Minas e Energia, os parentes do dono daquela diretoria que fura poço, a aviação civil, as Forças Armadas, a rede de atalhos, trilhas e picadas que ligam o Brasil aos vizinhos bolivarianos, os destacamentos militares da fronteira, a Polícia Militar e a a Polícia Civil, o progresso da Bolívia e o desenvolvimento sustentado do Paraguai, a campanha de Dilma Rousseff, os presídios federais de segurança máxima — fora o resto.

Graças às fabulosas jazidas nas profundezas do Atlântico (ainda não se sabe direito como içar o tesouro, mas com o Brasil ninguém pode, e antes da eleição a gente chega lá), as favelas se transformarão em bairros chiques, a TV Brasil ficará maior que a Globo, a gripe suína será erradicada, os parlamentares que faltam assinarão o contrato de aluguel, o novo salário mínimo subirá para 10 mil dólares mensais, a elite golpista agonizará confinada em Roraima e os pobres que restarem serão tão poucos que, expostos à visitação pública a 10 reais por visitante, logo ficarão mais ricos que os ricos desde sempre. Melhor que a outra, essa Segunda Independência.

Só não ficou muito claro o que o governo ainda está esperando para baixar a carga tributária em pelo menos meia tonelada.

O IDIOTA FALANDO MERDA

GOSTOSAS


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DIRETO DA FONTE

Pena-longa

SONIA RACY

O ESTADO DE SÃO PAULO

Depois de ter desistido, no ano passado, da compra da National Beef, o JBS-Friboi está comprando o maior abatedouro de frangos dos EUA.

A Pilgrim?s Pride, bastante endividada, faturou no ano passado nada menos que US$ 8,5 bilhões.

Natural que seja assim

Mesmo com todos os assaltos que têm ocorrido nos Jardins, o bairro não se desvaloriza de jeito algum.

Uma casa acaba de ser comprada por nada menos que... R$ 56 milhões.


Em cima da hora

Primeiro efeito da absolvição de Antonio Palocci.

Ciro Gomes adiou o anúncio de seu título eleitoral em São Paulo. De 15 para 20 de setembro.


Parto polêmico

José Temporão, da Saúde, já se prepara para batalha na Câmara.

Prega o veto de dois projetos de lei que regulamentam o trabalho de parteira no País. Embora reconheça a profissão (tanto que o ministério dá cursos de capacitação às parteiras), o ministro defende que apenas duas categorias estejam habilitadas para a realização de partos. Os médicos e os enfermeiros.


Boa colheita

Não há crise para a Monsanto brasileira. André Dias acaba de informar à matriz que ela cresceu 25% de julho a julho.

Trata-se da unidade que melhor reagiu à crise no planeta, graças à introdução da biotecnologia no milho.

Noves fora

Sorte ou azar? O pedido de extradição de Cesare Battisti será julgado, no STF, no dia 9/9/2009, em sessão que começa às 9 horas.Por nove ministros.

Da cera à cera

Michael Jackson só perde para a rainha Elizabeth II. Acaba de ganhar sua 13ª estátua de cera, todas feitas pelo Madame Tussauds.


Dia de Marina

Único verde do governo Lula, o ministro Juca Ferreira evitou o microfone e o público na festa-filiação de Marina Silva no PV, domingo, em São Paulo. Perguntado sobre "Dilma ou Marina em 2010", contra-atacou: "Isso só pode ser provocação."

Até o presidente do PV, José Penna, tomou cuidados: chegou com três seguranças, mesmo sabendo que a maioria, na plateia era gente sua. À vontade, mesmo, estava Zequinha Sarney. Tirou fotos com todo mundo e até anunciou o futuro líder do PV na Câmara: o baiano Edson Duarte.

Dia de Marina 2

Marina mal chegou ao partido e já recebeu cobrança social. De Maria Cristina Mendes Caldeira, que apareceu com Vitor Fasano e Cristiane Torloni, exibindo camiseta com foto de Chico Mendes, repetida no colete de seu beagle.

"Estou entregando a minha ficha de filiação a Marina. Mas só fico se ela expulsar os corruptos do partido", avisa. Já de saída?

Blindagem eleitoral

Lula não quer saber de bala perdida ou achada.

Mandou colocar vidros a prova de bala no seu gabinete em reforma, no Planalto.

Lé com cré

Há razão oficial para a Argentina não ter enviado representantes ao encontro das Agências Sanitárias da América Latina.

Alegam que estão ocupados demais com a... gripe suína.

Cuba em Sampa

Os músicos do Buena Vista Social Club chegaram animados a SP, ontem. Foram direto fazer compras na... rua Teodoro Sampaio.

Muvuca Chic pela Oscar Freire

O tempo ajudou e o clima era de passeio no Promenade Chandon, evento promovido domingo na rua Oscar Freire - a "Rodeo Drive tupiniquim". Pela muvuca chique passaram quase 15 mil pessoas, durante quatro horas, observando 33 lojas que se travestiram de showrooms. Com direito a minifestas, mas só para quem tinha pulseira vip.

Marcado por intervenções culturais, como show de Jairzinho e Simoninha e o Balé da Cidade, o evento contou com cenografia e presença de Daniela Thomas, que transformou as ruelas dos Jardins em pequenas "Places de la Concorde".

Sorte dos restaurantes, que foram literalmente atacados no pós-festa, depois do consumo de mais de 4.110 garrafas de Chandon. Santé!

JOSÉ PASTORE

A fadiga das leis do trabalho


O Estado de S. Paulo - 01/09/2009

Um dos temas mais fascinantes do 15º Congresso Mundial de Relações do Trabalho, realizado em Sydney na semana passada, foi o da busca de meios de proteção para as novas formas de trabalhar.

Embora o emprego por prazo indeterminado continue sendo a forma mais utilizada, multiplicam-se as atividades até há pouco tempo consideradas atípicas e que hoje viraram típicas de tão frequentes que se tornaram. Assim é o caso do trabalho temporário, intermitente, casual, por tarefa, realizado a distância, mediante acordos tácitos ou contratos padronizados e que, muitas vezes, seguem mais as características das profissões do que as do trabalho.

Ao lado dessa diversificação se acentua a predominância das ideias nas atividades humanas e que podem ser transportadas de um trabalho para outro, ao arrepio das regras de propriedade intelectual e dos segredos industriais. Os que realizam esse trabalho detêm mais poder do que os donos dos empreendimentos.

Neste novo mundo, há gente que trabalha em horários regulares e outros que seguem turnos intermitentes, sem falar nos que definem a sua própria rotina, o local e o horário de trabalhar.

Com tantas variações, como aplicar as fórmulas homogêneas de proteção que foram desenhadas para atividades realizadas de forma regular, rotineira e previsível? O direito do trabalho entrou em crise.

A situação é ainda mais complexa porque o mundo não é povoado apenas por essas formas sofisticadas de trabalhar. Persiste nos países mais pobres uma avassaladora quantidade de pessoas que, apesar de trabalharem de forma relativamente convencional, não dispõem de proteções. No Brasil a informalidade atinge 50% da força de trabalho; na Índia, 85%; e em muitos países da África, 90%. Uma calamidade.

Aqui, também o direito do trabalho é impotente para proteger atividades em que, com frequência, os empregadores são tão vulneráveis quanto os empregados, além de um enorme segmento que é formado por pessoas que, involuntariamente, trabalham por conta própria e de forma errática.

O desafio se torna intransponível quando se tenta regular tais situações com mecanismos que requerem a estabilidade das relações empregatícias convencionais. O tema é realmente difícil. Não se trata de simplesmente criticar ou abandonar a regulação atual, mas, sim, de buscar novas formas de proteção para trabalhos atípicos que se tornaram típicos.

O Brasil deu um importante primeiro passo com a lei do microempreendedor individual, que garante proteções parciais aos trabalhadores de baixa renda que vivem de atividades autônomas.

Em Sydney, a citação despertou o interesse de vários congressistas. Entre eles, foi enfática a recomendação de buscar na realidade desses grupos as formas mais adequadas de proteção.

Mesmo no caso dos bolsões de pobreza do mercado informal, há de se reconhecer que, apesar de todos os riscos e da alta vulnerabilidade ali existentes, os grupos humanos encontram reguladores mínimos que garantem a sobrevivência e, porque não dizer, o seu próprio progresso. Mesmo vivendo em situação de extrema precariedade nos campos da habitação, do saneamento, da segurança individual, do trabalho e da renda, as pessoas definem pactos não formais que asseguram um mínimo de respeito mútuo.

Por isso, em lugar de relatar resultados da imposição de regras de proteção de cima para baixo, os participantes do congresso mostraram haver mais sucesso quando se investe em aperfeiçoamento das regras existentes. Muito lembrados foram as lições de Hernando de Soto e o trabalho dos antropólogos sociais que sempre enxergam, no meio de um aparente caos, os mecanismos de sustentação dos grupos sociais.

O que fazer daqui para a frente? Depois de ter equacionado de forma bastante razoável as condições de proteção dos pobres que trabalham por conta própria, sobrou para o Brasil a tarefa de buscar uma regulação realista - de baixo para cima - para os que trabalham como empregados no mundo da informalidade: um Simples Trabalhista. E de igual importância será a geração de uma regulação realista para o trabalho terceirizado. Um desafio e tanto.

Mas assim é a vida das leis do trabalho. Umas mais, outras menos, elas também sofrem fadiga. Quando isso ocorre, não há como impor as leis existentes, mas, sim, procurar outras e em novas bases.

*José Pastore é professor de relações do trabalho da Universidade de São Paulo

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COISAS DA POLÍTICA

Há resistências ao Palocci até no PT

Tales Faria
Jornal do Brasil - 01/09/2009

O ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci mal saiu absolvido pelo Supremo Tribunal Federal da acusação de ter rompido o sigilo bancário do caseiro Francenildo Pereira, e já é tido como o favorito dentro do PT para disputar a candidatura ao governo de São Paulo. O motivo do favoritismo vem das declarações em favor de Palocci feitas por alguns dirigentes do Campo Majoritário, tendência hegemônica no partido, como o ex-deputado José Dirceu, e da presunção de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva também acabará trabalhando por seu ex-ministro, como fez, no plano nacional, para emplacar a candidatura presidencial de Dilma Rousseff. Mas a coisa não é tão simples.

O deputado Cândido Vacarezza (SP) é líder do PT na Câmara e integrante do Campo Majoritário, mas não se empolga com Palocci nem com as declarações de Dirceu. Diz apoiar a candidatura do prefeito de Osasco, Emídio de Souza, para governador, e que, antes disso tudo, o PT tem de discutir uma aliança com o PSB, o PCdoB, o PDT e o PR:

– Só depois é que se pode falar em nomes. E se o PSB colocar a candidatura de Ciro Gomes a governador? É uma alternativa forte, que o PT de São Paulo terá de levar em conta. Não podemos partir para uma aliança querendo impor o Palocci, o Emídio ou quem quer que seja. Essa é a questão inicial.

Muito embora Vacarezza não se renda às declarações de Dirceu, aliás seu amigo pessoal, ele admite que pode mudar de opinião se o presidente Lula entrar na decisão.

– Caso o presidente Lula se manifeste em favor da candidatura Palocci, como fez com a ministra Dilma, isso sim terá um peso grande no partido. Mas, por enquanto, Lula só falou em Ciro Gomes, em mais ninguém. A verdade é que este assunto precisa amadurecer, ainda não é o momento – argumenta o líder.

Se a candidatura de Palocci a governador é motivo de polêmica dentro de seu próprio grupo no PT, o Campo Majoritário, imagina fora dele. O secretário de Relações Internacionais do PT, Valter Pomar, é da tendência chamada Articulação de Esquerda. E tem a seguinte avaliação sobre a entrada de Palocci na disputa pela vaga do PT:

– É um fato relevante, porque enterra de vez a tese de que o PT deva apoiar um nome de outro partido. Agora está claro que temos de ter um candidato próprio a governador. Só isso. Porque, o Palocci, em si, não é um bom nome. Os que defendem sua candidatura acham que ele terá o apoio do empresariado e tem um perfil semelhante ao dos tucanos. Eu acho que isso faz justamente com que o Palocci seja um mau nome. Se ele é uma cópia, o eleitor vai preferir os originais do PSDB. A verdade é que o deputado não tem um eleitorado consolidado e ainda sofre vários processos complicados. Na minha avaliação a escolha do nome do PT vai demorar algum tempo, coisa para virar o ano, lá para março ou abril. Teremos que testar nomes mais fortes, como a ex-prefeita Marta Suplicy; o Emídio, de Osasco; o senador Aloizio Mercadante; o deputado Arlindo Chinaglia; o ministro Fernando Haddad... Eu apostaria mais nesses nomes.

– O senhor não citou o senador Eduardo Suplicy – provoco.

E Valter Pomar não se faz de rogado:

– Quem é esse cara? É aquele juiz de futebol que apareceu com um cartão vermelho no plenário do Senado? Falando sério, não vejo o Suplicy como uma opção para cargo executivo. Mas é claro que, se ele apresentar formalmente sua pré-candidatura, o partido terá de avaliar.

De fato, é difícil encontrar na cúpula do PT quem veja com bons olhos a candidatura de Suplicy a governador. O homem pode ter a popularidade que tiver, pode estar nadando de braçada junto à opinião pública. Mas, no PT, não vai bem o Suplicy. Cândido Vacarezza, por exemplo, explica seus motivos:

– Pessoalmente, gosto do Suplicy. Nada tenho contra ele. Mas a sua candidatura seria uma coisa meio fora de foco. Ele não ajudaria a formar uma frente com o PSB, o PCdoB, o PDT e o PR. Na verdade, acho que o Suplicy não junta nem o PT.

ILN GOLDFAJN

A revisão da crise


O Globo - 01/09/2009


Dizem que medidas econômicas servem para evitar a crise passada, não necessariamente a futura. A crise passada é revista, analisada e discutida.

Novas medidas são propostas para evitar que a crise aconteça novamente.

Evita-se repetir os erros anteriores.

Mas desconhecem-se os problemas futuros. Há aqueles que consideram crises inevitáveis, pois ocorrem em áreas não afetadas anteriormente, nas quais os anticorpos dos agentes econômicos não foram criados.

Uma pergunta relevante para avaliar o avanço recente é se as medidas propostas até agora, se adotadas de forma diligente, seriam suficientes para evitar a crise que ocorreu. Não me refiro a crise futura, com o seu componente natural de imprevisibilidade, mas à crise que acabamos de sofrer. Em particular, a proposta de reforma do sistema financeiro pelo governo americano resolveria os problemas que levaram à crise recente? Nos EUA, houve uma alavancagem excessiva e a criação do chamado sistema bancário “sombra”. Medidas regulatórias atuais não impediriam alavancagem excessiva do sistema financeiro.

Houve a utilização de balanços de terceiros e de contabilidade criativa.

A utilização de balanços de terceiros ocorreu com a securitização das hipotecas, que permitiu a distribuição desses ativos para os balanços de terceiros, cuja restrição de capital é menor ou até inexistente. Para isso, houve a criação de veículos especias para carregar ativos, os structured investment vehicles (SIV).

A proposta de reforma financeira nos EUA adota uma série de medidas com o objetivo de ampliar a restrição de capital e flexibilizar a adaptação da legislação às inovações do sistema financeiro.

Essas medidas têm a intenção de restringir a alavancagem excessiva no sistema financeiro. A mudança na consolidação contábil das instituições financeiras relevantes, por exemplo, reduziria a capacidade de as mesmas se alavancarem via ativos fora do balanço. O aumento do capital legal dos bancos implicaria que apenas uma perda maior do que a ocorrida gerasse uma crise. A consolidação da regulamentação das instituições sistêmicas sob a direção do Fed vai na direção de cobrir espaços e diminuir conflitos entre as diferentes agência regulatórias, além de permitir uma atuação tempestiva das autoridades.

Mas se essas mudanças tivessem ocorrido no passado, a bolha nos preços de ativos teria sido evitada? Infelizmente, a resposta é negativa.

Parece pouco provável que a consolidação da regulação no Fed, por exemplo, gerasse uma atitude diferente da ocorrida, haja vista a confiança na autorregulação dos mercados financeiros. É difícil imaginar que, antes da crise, no apogeu da visão do sucesso macroeconômico (o Great Moderation: baixa inflação e alto crescimento) e financeiro (autorregulação e inovações), o regulador (mesmo o Fed, com maiores poderes) tomasse uma postura que restringisse a alavancagem. Inovações financeiras eram consideradas puramente avanços tecnológicos (e o são, mas sua difusão sem regulamentação adequada traz riscos ao sistema). Há diversos exemplos de medidas de desregulamentação financeira (e/ou de resistência a mais regulamentação financeira), que ocorreram nos anos anteriores à crise, com a anuência implícita do Fed. Um exemplo foi a resistência do Fed (sob liderança de Alan Greenspan) à proposta de regular minimamente o mercado de credit default swap (CDS).

Enfim, o sistema financeiro provavelmente continuaria sujeito a riscos parecidos aos que desembocaram na crise passada. Isso significa que a crise poderá se repetir da forma como ocorreu recentemente? Pouco provável, dada a mudança aparente no conjunto de crenças existentes. A grande moderação macroeconômica do passado é hoje questionada, assim como o excesso de risco incorrido nas aplicações. Mas se o fim da recessão der lugar à complacência com os erros do passado, o excesso de otimismo pode voltar, e as mudanças nas regras não serão suficientes para evitar crises futuras, nem mesmo aquelas aparentadas com a crise anterior.

OBS: Para uma análise mais completa, vejam texto coautorado com Roberto Almeida Prado para o e-book “A reforma do sistema financeiro americano”, do Iepe, Casa das Garças.

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BRASÍLIA - DF

Maldade com Cabral


Correio Braziliense - 01/09/2009


Grande perdedor da negociação do pré-sal, o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), saiu desgastado das negociações com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No Palácio do Planalto, a avaliação é de que o governador fluminense exagerou no jantar presidencial, no Palácio da Alvorada, ao equiparar o projeto do pré-sal à transferência da capital para Brasília por Juscelino Kubitschek, à fusão dos antigos estados da Guanabara e Rio de Janeiro por Ernesto Geisel e à transferência do polo petroquímico de Santa Cruz (RJ) para Camaçari (BA) por José Sarney. São decisões presidenciais que os cariocas abominam, por serem apontadas como supostas causas da decadência da Cidade Maravilhosa. Para Cabral, o projeto do pré-sal é uma “maldade com o Rio de Janeiro”.

Aliado incondicional do presidente Lula até a semana passada, Cabral quase chorou quando o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), ponderou que o problema do Rio de Janeiro era nacional, e não uma questão meramente regional. Lula captou o perigo e resolveu restabelecer a participação especial dos estados produtores na partilha dos recursos do pré-sal, que não constava do projeto original apresentado pela ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.

Global// Além dos convites à plateia tupiniquim de autoridades e companheiros, a Presidência da República incluiu na lista de convidados cerca de 90 embaixadores e chefes de representações diplomáticas de Brasília, entre civis e militares, das quais 60 registraram presença no evento.

Reservas


Com a descoberta do pré-sal, as reservas de petróleo do Brasil — que vão de 9,5 bilhões a 14 bilhões de barris — , somente com as áreas de Tupi, Iara e Baleias, serão acrescidas de mais
23,5 bilhões de barris de petróleo.

Bombeiro


O prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), atuou como bombeiro, nos bastidores, para acalmar o governador Sérgio Cabral, disposto a romper com o presidente Lula se o Rio de Janeiro perder a participação especial na renda do pré-sal. Líder do governo no Congresso, a catarinense Ideli Salvatti, de um dos estados beneficiados pelos royalties, bota lenha na fogueira ao afirmar que o chororô de Cabral é para ganhar mais do que já tem.

O pai



Diretor de produção da Petrobras, Guilherme Estrela (foto) é o pai do novo marco regulatório do pré-sal. Durante visita de Lula ao centro de pesquisas da empresa, convenceu o presidente da República a sustar a 9ª rodada de leilões de blocos da plataforma continental convocada pela Agência Nacional de Petróleo (ANP). Mostrou que o pré-sal era uma área de baixo risco e alta produtividade para os investidores estrangeiros, que estavam deslocando a Petrobras da exploração nos leilões por falta de capacidade de investimento da empresa brasileira.



Renovação



Deputados do PV querem aproveitar a refundação da legenda, anunciada no discurso de filiação da senadora Marina Silva (foto) ao partido, para convocar eleições nos principais diretórios regionais, hoje comandados por indicações políticas. A legenda conquistou votos suficientes para escolher sua direção pelas urnas em São Paulo, em Minas Gerais e no Maranhão. Renovação mesmo, até agora, só no Acre.

Poita


O presidente Lula lembrou à cúpula do PT que o deputado José Pimentel (PT-CE) assumira o Ministério da Previdência, em junho de 2008, com a promessa de que permaneceria no cargo até o fim do mandato. Lula ouviu do PMDB um pedido para que segure o subordinado e leve o PT a apoiar o deputado Eunício Oliveira (PMDB-CE) a disputar o Senado, em 2010.


Risco/ Ao abrir a reunião do conselho político, ontem, Lula tranquilizou ministros e líderes da base no Congresso que não correriam o risco de contrair gripe suína. O presidente esteve em Bariloche, na semana passada, para a reunião da Unasul, onde também esteve o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, acometido da doença.

Breque/ Um argumento usado para convencer o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a brecar mudanças nas regras de divisão dos royalties do pré-sal foi o cronograma de produção dos novos campos. Já que o de Tupi deve entrar em operação comercial depois de 2011 e Iara, não antes de 2013, não haveria razão para pressa em mudar o regime de partilha do benefício.

Conselho/ Foi o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, quem convenceu o presidente Lula a voltar atrás na retirada do pedido de urgência para aprovação das novas regras do pré-sal no Congresso Nacional. Gabrielli alertou que a definição das normas de exploração é necessária para o planejamento, a médio prazo, da exploração do petróleo na região. Lula havia desistido da urgência a pedido do governador paulista, José Serra.

Meio-fio/ O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, aproveitou o Twitter para fazer troça dos jornalistas que montavam plantão em frente ao Palácio da Alvorada, no domingo, durante a reunião de Lula com os governadores do Sudeste. Escreveu: “Caminhei uma hora. Lua a pino. Na frente do Alvorada, metade dos jornalistas de Brasília. É o pré-sal”.

VINÍCIUS TORRES FREIRE

Lula inaugura a desprivatização


Folha de S. Paulo - 01/09/2009



Governo premia a Petrobras na festa chocha e confusa do pré-sal e não explica negocião da capitalização da petroleira


ALÉM DA politiquice, da imprecisão e de desrespeito em geral pelo público ainda desinformado, a festa do pré-sal foi turvada pelo fato de um notório senador do notório PMDB ter dado o tom da divulgação do que será feito da Petrobras e do dinheiro público que comprará ações da empresa.
Como a exploração do pré-sal será em boa parte estatizada, com grande participação da Petrobras, o capital da empresa vai crescer: a empresa vai emitir mais ações. Romero Jucá, líder do governo no Senado, disse ontem cedo que o governo vai comprar o equivalente a até US$ 50 bilhões em ações da Petrobras, aquisição que seria quitada com barris de petróleo (a US$ 10 cada) do pré-sal. A Petrobras enviou fato relevante à CVM (publicado às 11h04) e à Bovespa (11h18), sem relevar valores. Jucá falou e as ações caíram. Para início de conversa, Jucá não pode dar tal tipo de informação, pois afeta preços na Bolsa. Dá para fazer e perder dinheiro com tais dados.
Mais tarde, Dilma Rousseff também falou em US$ 10 por barril. Mas a confusão continua. Petrobras e governo dizem que o preço dos barril será avaliado de "forma independente"; dentro de dois anos, pode ser revisto. Mas por que US$ 10? Hoje em dia, há chutes de que o barril no incógnito pré-sal valeria de US$ 5 a US$ 12. O preço, porém, varia no tempo, não só devido a mudanças no mercado, de custos de produção e de financiamento etc., mas porque US$ 10 na mão, hoje, valem mais do que hipotéticos US$ 10 daqui a "n" anos.
É preciso atualizar financeiramente os valores, com o emprego de fatores por vezes controversos. O governo, parece, vai emitir dívida para comprar as ações da Petrobras. Isto é, vai se endividar a fim de antecipar a receita que teria com a venda dos barris, aqueles com os quais vai comprar as ações da petroleira. Quando e se vierem os barris do pré-sal, a dívida será paga. Mas o preço do barril pode ser superfaturado (o governo ficaria então com ações demais, os demais acionistas tendendo a perder).
Ou o barril pode valer pouco (o governo ficaria com dívida). De um modo ou outro, pode haver transferência de riqueza para o governo ou do governo (nós). Há mais complicações. Os blocos do pré-sal que podem ser entregues à Petrobras são vizinhos a áreas já licitadas (em que são sócios empresas privadas, múltis). Para entregá-los à Petrobras, é preciso saber se as áreas não são uma reserva só, o que leva tempo e não é simples de fazer.
Dizia-se ontem que uma empresa privada (OGX, de Eike Batista) vendeu ações com base na promessa de entregar petróleo. Problema dele e de quem comprou ações da OGX: houve uma venda pública de ações e o mercado achou um preço. Agora, o preço será meio "tabelado", e o governo (nós) vai pagar a compra. Isso importa porque a Petrobras é, por ora, a vencedora do pré-sal. Porque a empresa tem acionistas privados. Porque a Petrobras precisa de muito dinheiro para investir no pré-sal, dinheiro que pode vir do governo (nós). Porque a estatal pode investir demais e baixar sua rentabilidade -por decisão política, a Petrobras pode investir em áreas do pré-sal que, talvez, sejam menos rentáveis do que outros campos.
O rolo ainda é grande. E falamos apenas de Petrobras. Há bem mais.

O IDIOTA

INFORME JB

Jobim e Toffoli salvam os estados

Leandro Mazzini
JORNAL DO BRASIL - 01/09/09


O PRESIDENTE LULAestava convencido até sexta-feira de que poderia mudar a distribuição dos royalties do pré-sal e extinguir o pagamento da participação especial quando entraram em cena dois personagens. Deve-se a José Antonio Toffoli (E), advogado-geral da União, e Nelson Jobim, ministro da Defesa, a estratégia de convencer o chefe da nação de que estava errado. Tudo aconteceu no sábado e domingo. Toffoli foi a Lula e lembrou a ele o parágrafo primeiro do artigo 20 da Constituição, que já vale para os 29% licitados da camada. “Isso aqui é realidade?”, indagou Lula.

Não convencido ainda, chamou Jobim: “Você, que é ex-ministro do Supremo, acha que a mudança é inconstitucional?”. Jobim, cauteloso, desautorizou o homem: “Presidente, não podemos avançar na proposta”.

Os dois advogados mostraram a Lula que ele teria um desgaste político e que tudo cairia nas mãos do STF – problema maior ainda. Lula desistiu e chamou os governadores. Depois do “óleo e sal” no cardápio amargo, a sobremesa ficou para o Congresso decidir.



À mesa
Nelson Jobim fez companhia aos governadores Cabral, Hartung e Serra no jantar do Alvorada, que foi até à 1h da manhã de ontem. E animado.

Sal na mesa
Paulo Hartung, Sérgio Cabral e José Serra serão convidados para audiência pública na CAE do Senado, para debater o pré-sal.

Toga...

Vai se aposentar o ex-procuradorgeral da República Antonio Fernando de Souza – que ocupou o cargo por dois mandatos.

... no cabide
Antonio Fernando deixa suas funções no Ministério Público, aos 60 anos, na sexta-feira. Mas vai continuar trabalhando, agora como advogado.

Turma da carteira
Aleksander Santos, que trocou o PR pelo PMDB no Rio, quer construir um “PMDB empresarial” para ajudar na campanha de Sérgio Cabral.

Revoada
A presidente do PTB na cidade do Rio, vereadora Cristiane Brasil – filha de Roberto Jefferson – levou uma bronca do prefeito Eduardo Paes. O partido sofre esvaziamento para o PTdoB.

Revoada 2
Só no fim de semana foram uns 30 políticos para o braço dissidente do PTB. Cristiane tentou conter a debandada na sexta, sem sucesso. Paes já não conta muito com o partido.

Tecendo
A Abrapa passa a contar com 10 associações no país com a criação da Associação dos Produtores de Algodão da Paraíba. A meta do Brasil é passar de quarto a segundo maior exportador.

Lucro & ambiente
Gil Maranhão, diretor de desenvolvimento do GDF Suez, faz dia 8 raios x dos R$ 12 bilhões investidos no Brasil e dos projetos ambientais. No Fórum de Sustentabilidade da Câmara de Comércio França-Brasil, em Brasília.

Os campeões
Dois ex-prefeitos de Sobradinho, na Bahia, terão que ressarcir à União nada menos que R$ 64 milhões, repassados em 1995 pelo Ministério do Meio Ambiente.

Era o valor de um adutora, que, claro, não saiu do papel. É a maior multa da CGU em parceria com o TCE.

Pra macho
Márcia Bassit, secretária executiva da pasta, e o chefe da comunicação Marcier Trombiere comemoram o sucesso do estande do Ministério da Saúde na Festa do Peão em Barretos, com temática sobre programa de saúde para o homem.

Alô, Infraero
Quem viu as filas do check-in do Aeroporto de Brasília, das 7h às 9h de ontem, percebeu que a capital corre risco de um gol contra na Copa de 2014 se nada mudar.

ELIANE CANTANHÊDE

Pós-sal


Folha de S. Paulo - 01/09/2009

A solenidade de lançamento das regras do pré-sal até que ia bem, com Dilma mostrando densidade e liderança sobre o processo, sem resvalar para o tom de palanque. Aí... veio Lula.

Em seu discurso, sem gafes e sem metáforas, ele disse que os recursos do pré-sal são de todos os eleitores, ops!, do operário, do lavrador, do intelectual, do servidor público. E que o país tem democracia estável, economia sofisticada e plenas condições para usar parte da renda do petróleo para aprofundar o combate às desigualdades.
Também fez rasgados elogios à Petrobras e alertou para o risco da "doença da Holanda", quando os países produtores de petróleo acabam transformando "uma dádiva em maldição", com dinheiro fácil, pouco investimento, desindustrialização e empobrecimento.
Tudo muito bom, tudo muito bem. Mas Lula não iria resistir, não é? E passou a atacar o governo FHC, ao comparar a situação atual com a era do "neoliberalismo", que chamava a "nossa querida Petrobras" de "último dinossauro". Foi a época do "deus mercado" e dos "tempos de pensamento subalterno", acusou, falando em juros altos, dívida externa, falta de reservas, um país que, "volta e meia quebrava".
Se não é campanha eleitoral, é o quê? Mas Serra estava lá, numa das primeiras filas, perto das faixas de ONGs reclamando: "Pré-sal e poluição, não dá para falar de um sem falar do outro". Ele e Dilma comportaram-se direito. Lula não precisava da mesquinharia política.
Como disse Dilma, o pré-sal consolida a posição política e econômica do Brasil no mundo. Não é exagero. Mas é uma vitória de décadas, e seus resultados não são de/para um governo, nem de/para uma geração.
São para o Brasil e os brasileiros de hoje e do futuro, ganhe quem ganhar a eleição de 2010.


Fechadas a reformulação da Defesa, a aliança dos submarinos com a França e a compra dos caças da FAB, Jobim vai voltar para casa?

GOSTOSA DO TEMPO ANTIGO

CLÓVIS ROSSI

Saúde e petróleo


Folha de S. Paulo - 01/09/2009

A Casa Branca está usando um método novo na batalha ideológica em torno do plano de saúde que o presidente Barack Obama tenta fazer passar no Congresso, mas enfrenta uma formidável oposição entre os próprios congressistas e em parte importante da opinião pública.
Em correspondência aos "obamistas" (e aos jornalistas), informa que o vice-presidente, Joe Biden, produziu um vídeo para desmascarar "a mais grossa mentira" de todas, a de que "nosso sistema de seguro saúde funciona bem e que os americanos não se importam com a reforma [do sistema]".
Aí, apela: "Você pode ajudar o vice-presidente a desmontar esse mito mandando seu próprio vídeo contando por que a reforma importa para você. É uma oportunidade para americanos de todos os perfis e situações advogarem pela reforma com suas próprias palavras".
Belo exemplo. Não seria aplicável ao Brasil, no caso do pré-sal?
Se se trata, como diz o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de "uma nova independência" para o Brasil, não seria natural -além de democrático- que o debate em torno do assunto envolvesse o maior número de pessoas?
Não parece elitista demais restringir a discussão aos especialistas de plantão, aos governadores (interessados menos no marco regulatório e mais nas receitas futuras) e ao Congresso (que não tem sido exatamente o palco de manifestações pelo bem público)?
Os especialistas dirão que o público em geral não entende patavina de petróleo para poder opinar. Mas mortais comuns, no Brasil como nos Estados Unidos, entendem da vida que levam e, por extensão, da vida que gostariam de levar, com a mexida na saúde, em um caso, e no petróleo, no outro.
PS - Inauguro hoje a coluna eletrônica "Janela para o mundo".

BENJAMIN STEINBRUCH

Devagar com o andor


Folha de S. Paulo - 01/09/2009

Para uma recuperação segura, é preciso manter por algum tempo os esquemas de UTI armados na crise



SETEMBRO chegou. Neste mesmo mês, um ano atrás, a economia mundial desabou e virou quase unanimidade a defesa das políticas conhecidas como anticíclicas. Elas eram óbvias, baseadas no princípio da formiga de La Fontaine, de que os recursos devem ser guardados quando a economia vai bem e gastados quando ela vai mal.
A ideia consensual era a de que o país deveria basear seu comportamento em três pontos: 1) Em nenhuma hipótese se render a teorias suicidas dos conservadores que sugeriam cortes de gastos públicos. A hora era de políticas keynesianas, com mais investimentos públicos e desonerações fiscais;
2) O Banco Central deveria deixar de lado sua política de juros altos, conhecida como uma das jabuticabas brasileiras, e cortar rapidamente a taxa básica, naquela época em 13,75% ao ano;
3) O governo também não deveria hesitar em usar reservas para evitar distorções no mercado de câmbio. Passado quase um ano, os jornais estão cheios de notícias sobre sinais de saída da crise tanto aqui quando no exterior.
A Europa parou de perder produção e os dois países da zona do euro, Alemanha e França, já apresentaram pequenas taxas de crescimento no segundo trimestre. O Japão também cresceu (0,9%) no período -assim como China, Rússia e Índia, estes com taxas mais altas.
No Brasil, a estimativa para o segundo trimestre é de expansão de 1,8% no PIB. Em julho, foram criadas 138 mil vagas de emprego no país, o índice de desemprego caiu para 8% (a taxa mais baixa do ano) e houve um pequeno aumento da renda média dos trabalhadores.
Ao olhar esses números, a tendência natural dos mais céticos é dizer que o crescimento em várias partes do mundo ainda é muito tênue e só ocorreu porque os recuos nos dois trimestres anteriores haviam sido muito fortes, em níveis nunca vistos desde os anos 30. Os menos céticos, entre os quais me incluo, observam que é muito melhor haver recuperação de produção, por menor que seja, do que continuar afundando.
Diante desse cenário, a dúvida que surge hoje é saber quando será o momento de parar com as medidas anticíclicas. Há sempre o risco de que a suspensão dos remédios antes da hora possa ameaçar a recuperação do doente. E isso vale para qualquer país.
Uma recomendação sensata, que tem sido feita por vários economistas, é olhar para os Estados Unidos. Lá o PIB ainda caiu 0,3% no segundo trimestre e a economia permanece bastante frágil, apesar de alguns sinais positivos. Em julho, o nível de consumo da população ainda era 6,8% inferior ao do mesmo mês do ano passado.
Enquanto não houver um claro sinal da retomada americana, não será hora de pensar da suspensão do receituário keynesiano, das medidas anticíclicas, e do alívio monetário e fiscal. Os Estados Unidos ainda são o pulmão do mundo, sozinhos, e têm um PIB quase igual ao de Japão, China, Alemanha e França juntos.
O Brasil está bem, mas é preciso ir devagar com o andor do conservadorismo. Nas conversas com empresários ligados à produção, todos preveem que a recuperação será lenta e gradual. Não há clareza sobre a economia em 2010. O risco de recaída será real se houver precipitação na supressão de estímulos fiscais, no corte de gastos públicos, na redução de crédito e na política de juros. Para ser segura, a recuperação terá de contar ainda por algum tempo com os esquemas de UTI armados nos piores momentos da crise.

NO CU DA GALINHA


TODA MÍDIA

Dádiva & maldição

NELSON DE SÁ

FOLHA DE SÃO PAULO - 01/09/09

O dia começou com Lula no estreante Blog do Planalto e no Café com o Presidente, prometendo "segunda independência" ou "um novo Dia da Independência", ecoando toda a manhã por sites e portais sem fim, da Folha Online ao Terra.
À tarde, mais Lula, discursando que "o petróleo pertence ao povo" e a Petrobras, capitalizada pelo Estado, será operadora única, ecoando nas manchetes do Valor Online ao UOL e demais.
Entrando pela noite, mais e mais Lula por Folha Online, G1, proclamando que pré-sal é "dádiva de Deus" mas pode ser "maldição".

Na Record e na Band, os telejornais foram contidos. Noticiaram as regras, ponto.
Já o "Jornal Nacional" só foi falar de pré-sal após longa introdução do novo cenário, da "mesa novinha". E da "maior estrela", segundo William Bonner: "Agora o globo gira, porque a Terra gira". Daí para a escalada, "tá na hora de começar":
"Anunciadas as propostas do governo para exploração de petróleo abaixo da camada de sal. A decisão sobre dinheiro destinado aos Estados fica para depois".

ELA TAMBÉM
Dilma Rousseff não comandou o espetáculo, mas teve seus momentos na cobertura. No fim do dia, foi manchete na Folha Online e no G1, dizendo que os recursos "vão afastar a pobreza do país" e trazer "casa, comida e saúde". No "JN", surgiu incisiva.

E TEM MAIS
Ao longo do dia, submanchete no UOL, "Salário mínimo deve ir a R$ 507 em 2010", anunciou o governo.

ATRASADOS
Enquanto o ministro Edison Lobão garantia na Agência Brasil que "todos os Estados serão beneficiados", sites e portais seguiam os passos dos governadores Sérgio Cabral e José Serra.
Os dois foram à cerimônia, postou o Terra, mas chegaram "atrasados", perdendo a abertura, postou a Folha Online. Depois, no G1, "Cabral se diz satisfeito, Serra pede debate". No "JN", Serra surgiu no final, calmo, ponderado.

PRÉ-SAL & POLUIÇÃO
A imagem do dia, on-line e nos telejornais, veio com o ato do Greenpeace, invadindo a cerimônia e posando, diante de Lula, com a faixa "Pré-sal e poluição, não dá para falar de um sem falar do outro". No Twitter, especulou-se sobre a opinião de Marina Silva

INDEPENDENCE DAY
Foi a notícia de maior eco sobre o Brasil, pelo mundo. A "Forbes", que dias antes destacava a "apreensão" das companhias americanas, postou que "Brasil revela os controles sobre as descobertas de petróleo". O "Wall Street Journal" noticiou "mudança na política" e, em primeira reação, questionou o "Independence Day" de Lula, dizendo que pode afastar as estrangeiras. Observou porém que o "Big Oil" já está acostumado a regras assim. Também o "New York Times" sublinhou que a "gigante brasileira é beneficiada em prejuízo das rivais estrangeiras". Também MarketWatch, Bloomberg etc.
Em outra direção, o "Guardian" ressaltou que Lula "busca erradicar pobreza com os bilhões do petróleo".

AINDA A TV DIGITAL
Nos primeiros posts do Blog do Planalto, revelados ontem depois de tantas idas e vindas, nada de pré-sal. Focavam a defesa por Lula de projeto comum dos países da Amazônia para o clima. E o acordo com a Argentina, para a TV digital

CHINA CAI, BRASIL CAI
Nas manchetes pelo mundo, destaque para o tombo na Bolsa de Xangai, que levou à queda das commodities e se juntou ao pré-sal para derrubar a Petrobras. A baixa na Bovespa foi reportagem à parte no "WSJ" e no "Financial Times", dada como "uma das vítimas" emergentes, pelas relações comerciais com a China.

"BRASIL VENCE A GUERRA"
Também em destaque ontem no "WSJ", "Organização Mundial do Comércio permite que Brasil multe os EUA". "WSJ" e "FT" sublinharam a reação formal americana, que preferiu apontar a redução no valor de retaliação que havia sido pedido pelo Brasil.
Em tom inusual, o "JN" deu na escalada após o pré-sal, "Brasil vence a guerra contra Estados Unidos na OMC".

JANIO DE FREITAS

O futuro em 18 dias


Folha de S. Paulo - 01/09/2009

O governo precisou de ano e meio para formular projetos do pré-sal que quer apreciados com urgência no Congresso



OS COMPLEXOS problemas implícitos na exploração do pré-sal, capazes de decidir todo o futuro do Brasil como potência ou como retaguarda, vão ter o destino discutido, votado e definido na Câmara em apenas 12 a 18 dias e, em seguida, por igual período no Senado. É o que Lula impõe (conforme demonstração a seguir) com o pedido de urgência na apreciação, pelo Congresso, dos projetos do governo relativos ao sistema de exploração, investimentos públicos, captação de recursos privados, aplicação governamental dos resultados e distribuição das participações referentes ao pré-sal. É improvável que a história administrativa do Brasil registre maior leviandade proveniente da Presidência da República.
O pedido de urgência estabelece 45 dias para a Câmara e outro tanto para o Senado darem as respectivas decisões sobre um projeto. Mês e meio para cada, portanto. Em hipótese de extremo otimismo, digamos que a Câmara dedique à tarefa a terça, a quarta e a quinta de cada uma das seis semanas. Seriam 18 dias.
Com otimismo não extremado, a atividade fica em dois dias semanais, terça e quarta, como a Casa prefere sempre; até dois e meio se houver, com a boa vontade ocasional, um pedaço de algumas quintas-feiras. Logo, 12 dias, talvez com um tanto mais de horas. O Senado sempre promete mais do que a Câmara, mas a média de três dias aproveitados já o teto, perfazendo os seus 18 dias para o pré-sal.
Na soma dos dois períodos de 45 dias, esses três meses entram pelas férias natalinas do Congresso. Se Lula atribui tanta urgência à tramitação dos seus projetos, a tendência será de pressionar para que as duas tramitações terminem antes do prazo. A alternativa seria a convocação extraordinária do Congresso para a finalização em janeiro. Do contrário, a conclusão ficaria só para o novo ano legislativo, que já começará com o inconveniente, para Lula, das eleições como prioridade para grande número de deputados e senadores, e o velho problema de quorum em tais fases.
O governo precisou de ano e meio para formular os projetos que quer discutidos, votados e definidos pela Câmara no limite de 45 dias e pelo Senado em outro tanto. Fez as suas definições a portas fechadas, sem permitir o debate público com os saberes e o possível bom senso de muita gente conhecedora de aspectos setoriais dos problemas em questão.
Ano e meio para a sua obra, mas não foi nem sequer preciso mais do que um jantar de fim de semana com três governadores para Lula, Dilma Rousseff e Nelson Jobim (Edison Lobão presente, mas é uma ausência) recuarem da distribuição de participações estaduais e municipais que haviam decidido. Como recuaram do pedido de urgência, recuo do qual Lula recuou em menos de 24 horas, em mais uma evidência do grau de seriedade com que foram estabelecidas as premissas governamentais para o pré-sal e o futuro que pode proporcionar ao país.
O recuo de volta à urgência alerta para a inconfiança merecida pelo recuo na distribuição de participações, obtido no jantar pelos governadores Sérgio Cabral, Paulo Hartung e José Serra. Pode-se esperar de Lula que faça os governistas recomporem, no Congresso, a facada que planejou nos direitos participativos de Rio, Espírito Santo e São Paulo.
O recuo de Lula não deixou de ser uma vitória dos três, com especial mérito para a iniciativa desprendida e firme, e também surpreendente, que Sérgio Cabral tomou, logo com a companhia de Paulo Hartung e, enfim, com a adesão de José Serra. Mas a vitória é ainda parcial e incerta, exige muito mais. Os três têm em mãos, entregue por sua atitude, uma responsabilidade para com o país só comparável à esplêndida oportunidade política que a acompanha.
Dá bem ideia dessa oportunidade a recuperação, em tão poucos dias, da imagem bastante decaída de Cabral. Lula, por sua vez, tem mesmo que fantasiar a leviandade governamental, para não dizer contrária ao país, com suas festas e comícios de objetivos apenas eleitoreiros.

GOSTOSAS


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ARI CUNHA

Cenário político

CORREIO BRAZILIENSE - 01/09/09


PT e PMDB vetaram candidatura do ministro José Pimentel ao Senado. Isso, na hora em que a burocracia dos partidos procurava entendimento. O PSB do governo Cid Gomes e o PT da prefeita Louisianne Lins, o PMDB de Eunício de Oliveira e o PCdoB de Inácio Arruda tentaram fazer reunião. Foi realizada, mas Eunício de Oliveira se comunicou com o presidente Lula da Silva e anunciou que era candidato. As cadeiras do Senado e da Câmara dos Deputados nem entraram no assunto. Acham os políticos do Ceará que há muitas vagas para todos. O mais claro é que governo do estado e Senado estão nos desejos dos que querem serviços mais destacados. Só com o correr dos dias a gente poderá conhecer melhor a situação.


A frase que não foi pronunciada

“Resumindo, os ódios e amores comuns são a base das alianças políticas.”
Sinopse deduzida sobre as eleições 2010



Patrocínio
Contribuinte de Fortaleza participou com R$ 350 mil para o patrocínio do Cirque de Soleil. A indicação é que o circo aumentaria o fluxo de visitantes, diversificaria a cultura e seria responsável pela distribuição de empregos. O ato foi assinado pelo então secretário de Turismo Henrique Sergio Abreu.

Juvenal Galeno
Está para completar 90 anos a Casa Juvenal Galeno. O evento será a 27 de setembro. Galeno nasceu em 1836 e faleceu em 1931. A mesma sede e equipamentos estão sob a guarda da família.

Mãe Maria
Fortaleza amanheceu sábado com mais de 4 mil pessoas entoando cantos alegres e música bem exercitada. É o chamado dos Maria do Céu para a grande concentração a se realizar em Juazeiro.

Ruas
Todo cidadão paga imposto por ser proprietário de automóvel. A cada ano aumenta a cota e o número de carros novos que chegam a todas as cidades também cresce. Em Fortaleza, o governo federal não aplicou nada. As ruas são simples, quando deveriam correr sobre viadutos e túneis. Só assim seria facilitada a movimentação de carros. Já começa a ficar sufocante.

Mistura
Farinha pouca, meu pirão primeiro, já dizia o filósofo de Mondubim. Projeto na Câmara será ponto de partida para a independência do Brasil em relação à Argentina. Aos poucos a farinha de mandioca deverá ser acrescida à farinha de trigo vendida no Brasil. Resta acompanhar a força do lobby.

Câmara
»Debate em 22 de setembro promete discussões acirradas na Câmara dos Deputados. A Comissão de Ciência e Tecnologia e Comunicação já marcou a audiência pública. O assunto será a 1ª Conferência Nacional de Comunicação. A deputada Luiza Erundina defende o encontro como indicada pela Câmara para liderar o evento.

Troco
Quando soube que era um brasileiro, ativista americano se aproximou e perguntou ao turista. “Vocês não têm vergonha de derrubar as árvores da Amazônia?” A resposta foi: “Temos sim. E vocês não têm vergonha de derrubar crianças, idosos e inocentes no Iraque?” Silêncio.

Grupo
Decidido na Câmara que empresas diferentes de propriedade do mesmo grupo estão proibidas de concorrer a licitações na modalidade convite.

Trânsito
Dirigir em Fortaleza é sempre aventura. As filas de carros são comuns. Gananciosos saem de uma faixa para outra, buzinando a todo instante. Difícil encontrar trânsito educado como o de Brasília.


História de Brasília

Chamamos a atenção do secretário da Saúde da prefeitura para o plano de saúde do Distrito Federal. É um plano excelente, trabalho de equipe feito com afinco, a quem se deve, em grande parte, a colaboração do sr. Ernesto Silva. Façamos esta justiça, e defendamos a sua aplicação. (Publicado em 7/2/1961)