FOLHA DE SP - 19/12
Caro Papai Noel, como presente, queria que você interferisse (de leve, claro) na realidade do dia a dia
Quando eu era criança, os adultos ao meu redor se esforçavam para que acreditasse no Papai Noel, no Natal e no bebê Jesus.
Um dia, os mesmos adultos começaram a me explicar que, para eu crescer, era melhor que eu não acreditasse mais no Papai Noel, no Natal e no bebê Jesus.
Mesmo assim, às vezes, embora duvidando que ele entregue meus presentes no dia 25, fico a fim de fazer meus pedidos ao Papai Noel.
Um amigo leitor, Sergio Beni Luftglas, em dezembro, faz parte das "duas dúzias de papais noéis judeus na praça". Ele me contou que o entusiasmo produzido por sua chegada é cada vez mais breve: "Acho estranho uma pessoa ser tão esperada e depois de pouco tempo já não ser tão especial". Explicação: "É que tem muito Papai Noel na praça... Um em cada esquina... Acho que deviam falar para as crianças: o Papai Noel só tem um... estes que vocês estão vendo são os irmãos dele".
Seguindo a recomendação de Sergio, não entregarei minha carta para o Papai Noel do shopping. Vou publicá-la aqui mesmo.
Caro Papai Noel, não quero brinquedos, nem roupa, nem eletrônicos, nem livros --essas coisas, prefiro comprar eu mesmo. Como presente, queria que você interferisse (de leve, claro) na realidade do meu dia a dia.
1) Gostaria que, ao menos por um tempo (que você escolhe --entre uma semana e um ano, ok?), ninguém possa mais lamentar o fato de que estaríamos todos apaixonados por nós mesmos.
Desculpe, Papai Noel, mas não aguento mais ler e ouvir críticos culturais improvisados (ou não) castigando nosso "narcisismo". Você dirá: mas não é verdade que somos narcisistas? Claro que é verdade, mas acontece que você é um homem culto, até porque faz séculos que passa o ano lendo ao lado da lareira, lá no polo Norte, enquanto seus gnomos fabricam os brinquedos.
Você, desde os anos 60, estudou Kernberg, Kohut e Christopher Lasch, e sabe que "narcisista" pouco tem a ver com a história de Narciso apaixonado por sua imagem: somos narcisistas no sentido clínico, ou seja, somos tragicamente inseguros e carentes, eternamente dependentes da apreciação dos outros.
Vivemos contando os "curtiu" nos nossos posts no Instagram. Longe de pensar só em nós, agimos em função das reações que gostaríamos de provocar nos outros; seduzimos, provocamos, mas raramente seguimos uma necessidade que seja realmente nossa.
Não adianta: aqui o pessoal fala que somos narcisistas porque morremos de amor por nós mesmos.
2) Gostaria que, por alguma mágica, todos tivéssemos sempre que fazer a diferença entre o que achamos e o que realmente sabemos. Você já constatou que, sobretudo em psicologia, a gente pode se expressar em linguagem natural --consequência: o pessoal fala qualquer opinião ou preconceito como se fosse ciência, na cara dura.
Exemplo. Há os que afirmam "a mulher não tem fantasias de prostituição, e os que pensam que ela tem são os últimos (dos) machistas". Você, que se mantém informado e assina as melhores revistas há tempos, sabe (desde os anos 30) que a fantasia de prostituição é mais que trivial --aliás, não só nas jovens mulheres, mas também nos homens. Papai Noel, acredite, discutir com conversa-fiada dá um cansaço tremendo.
3) Gostaria que, a partir deste Natal, os jovens de 13 anos soubessem quem é Thomas Mann, mesmo se, para isso, eles tivessem que ignorar quem é Lady Gaga.
4) Gostaria que nenhum professor, de primário, secundário ou terciário, ganhasse presente de Natal, se ele ou ela disser mais uma vez para seus alunos que dar um Google num tema significa "fazer pesquisa".
5) Gostaria que as pessoas pensassem mais em promover sua liberdade e menos em limitar a liberdade dos outros. Tipo: "Eu sou contra o casamento gay", tudo bem, não seja gay e, se for, não case. Qual é o problema?
6) Gostaria que os adultos parassem de tentar ser (ou parecer) adolescentes e, com isso, deixassem aos adolescentes a chance de se tornarem adultos. Por que os adolescentes cresceriam, se eles são objetos de inveja dos adultos?
A carta continua; tem 78 itens (a generosidade do Papai Noel é conhecida), alguns dos quais retomarei em outras colunas. Mas eis como termina:
76) Gostaria que existisse um serviço da Tim para cancelar linhas de dados (e, existindo, que respondesse).
77) Gostaria que o Brasil parasse de ser o país mais caro dos que eu conheço.
78) Enfim, gostaria que todos, neste Natal, recebessem de você ao menos um presente que não sabiam que eles desejavam.
quinta-feira, dezembro 19, 2013
O cinema americano no ano - MARIO SERGIO CONTI
O GLOBO - 19/12
É cedo para decretar a morte do cinema, ainda que a quantidade de bobagens mostradas nas telas de 2013 tenha sido colossal
É cedo para decretar a morte do cinema, ainda que a quantidade de bobagens mostradas nas telas de 2013 tenha sido colossal. Até onde a memória alcança, todos os anos são assim. Só nos períodos em que o mundo e a vida se tornam interessantes os filmes melhoram. Os saltos de qualidade costumam acontecer na forma de movimentos nacionais. Foi assim com o cinema soviético dos anos 1920, o neorrealismo italiano do pós-guerra, a nouvelle vague francesa e o cinema novo brasileiro na década de 60, os filmes americanos dos 70.
Entre um surto e outro há dúzias de bons filmes, claro, feitos por talentos individuais que atuam em condições favoráveis. Além do que, a arte tem um núcleo de mistério e mágica. Mas hoje o movimento geral é de conformismo estético e inércia industrial. A cadência do sistema exige lançamentos bombásticos, filmes arrasa-quarteirão que mobilizam investimentos formidáveis. Para darem retorno, eles buscam atingir o público por meio do sadismo.
A pasmaceira artística é disfarçada pela tecnologia, da qual os filmes se tornaram caudatários. Vai-se ao cinema para estontear-se com a trepidação sensurround, atarantar-se com o Imax, deixar-se entorpecer pelas explosões em Dolby e 3D — além de comer pipoca, conversar alto com os amigos, checar o celular e responder mensagens. (Há progresso real também: comprar pela internet o ingresso com lugar marcado é escapar das filas).
O cinema americano continuou a sua saga de embrutecimento e emburrecimento. As quatro maiores bilheterias nos Estados Unidos foram “Homem de Ferro 3”, “Meu malvado favorito 2”, “Jogos vorazes 2” e “O Homem de Aço”, a enésima franquia com Super-Homem. Ou seja, foram continuações; basearam-se em histórias em quadrinhos e livros para adolescentes; sobrepuseram efeitos especiais a uma dramaturgia esquálida.
O conteúdo deles é a violência. São cenas e mais cenas com corpos destroçados, explosões de pessoas e prédios, chantagem psicológica, pancadaria coreografada, tortura explícita. O cinema americano adestra o público, sobretudo as novas gerações, para a bestialidade do mundo que os Estados Unidos comandam. Sistemática, a truculência torna a barbaridade corriqueira. Fantasias de destruição são tidas como filmes para crianças. Na verdade, são filmes educativos.
A complexidade deles aumentou neste ano. “Jogos vorazes 2” mostra uma elite mundial que domina massas escravizadas. Ela monta um reality show em que adolescentes matam uns aos outros, para gáudio de proletários cruéis. Em “Elysium”, a elite nem mora na Terra. Mudou-se para um condomínio fechado que orbita em torno do planeta. Lá, privilegiados tomam coquetéis entre jardins floridos e desfrutam do melhor plano de saúde jamais visto, o que evita até a interação humana. Embaixo, a plebe rala num trabalho insalubre e incompreensível, o banditismo campeia, policiais-robôs batem indiscriminadamente, o mundo é uma favela sem fim.
É presumível que no próximo “Jogos vorazes” a ditadura mundial de Donald Sutherland — um mestre em risadinhas sinistras e sobrancelhas arqueadas — seja devidamente destronada pela heroína boazinha. Em “Elysium”, Matt Damon acabou sozinho com o condomínio dos biliardários. Hollywood não aposentou a lógica do final feliz.
Os minutos finais de redenção não alteram a escatologia que sustenta as superproduções. De “Círculo de fogo” a “Guerra Mundial Z”, o apocalipse já aconteceu, vale o salve-se quem puder, a guerra de todos contra todos, a solidão que se afirma na destruição dos outros. A atrocidade nas telas atinge então os píncaros. Triste consolo: por ter homofonia com a realidade, ela é superior à patriotada de “Lincoln” e ao racismo de “Capitão Phillips”.
Nesse panorama, outras cinematografias nacionais encolhem. Os filmes franceses (os que chegam aqui) mais e mais se refugiam na temática do relacionamento íntimo. São romancezinhos insossos, famílias mais ou menos desajustadas, vidas que pairam num vácuo social. Assemelham-se a “Gravidade”, só que sem tecnologia e sem Mallarmé: em vez do silêncio eterno de espaços infinitos que apavoram, falatório incessante. No Brasil, deram o tom as comédias em que todos berram e fazem caretas.
As exceções, na França e no Brasil, foram “Azul é a cor mais quente” e “O som ao redor”, filmes criativos que enriquecem o espectador mesmo quando deles se discorda. (“O som ao redor” é chatíssimo, mas não é obrigação da arte autêntica ser agradável ou bela). Anomalia houve até nos Estados Unidos, com “Blue Jasmine”. Ao mostrar um país dividido, no qual uma classe se aproveita da outra, Woody Allen não fez uma tese sociológica. Expôs personagens e riu deles. É uma mágica e mistério do cinema que o filme seja um prodígio de profundidade.
É cedo para decretar a morte do cinema, ainda que a quantidade de bobagens mostradas nas telas de 2013 tenha sido colossal
É cedo para decretar a morte do cinema, ainda que a quantidade de bobagens mostradas nas telas de 2013 tenha sido colossal. Até onde a memória alcança, todos os anos são assim. Só nos períodos em que o mundo e a vida se tornam interessantes os filmes melhoram. Os saltos de qualidade costumam acontecer na forma de movimentos nacionais. Foi assim com o cinema soviético dos anos 1920, o neorrealismo italiano do pós-guerra, a nouvelle vague francesa e o cinema novo brasileiro na década de 60, os filmes americanos dos 70.
Entre um surto e outro há dúzias de bons filmes, claro, feitos por talentos individuais que atuam em condições favoráveis. Além do que, a arte tem um núcleo de mistério e mágica. Mas hoje o movimento geral é de conformismo estético e inércia industrial. A cadência do sistema exige lançamentos bombásticos, filmes arrasa-quarteirão que mobilizam investimentos formidáveis. Para darem retorno, eles buscam atingir o público por meio do sadismo.
A pasmaceira artística é disfarçada pela tecnologia, da qual os filmes se tornaram caudatários. Vai-se ao cinema para estontear-se com a trepidação sensurround, atarantar-se com o Imax, deixar-se entorpecer pelas explosões em Dolby e 3D — além de comer pipoca, conversar alto com os amigos, checar o celular e responder mensagens. (Há progresso real também: comprar pela internet o ingresso com lugar marcado é escapar das filas).
O cinema americano continuou a sua saga de embrutecimento e emburrecimento. As quatro maiores bilheterias nos Estados Unidos foram “Homem de Ferro 3”, “Meu malvado favorito 2”, “Jogos vorazes 2” e “O Homem de Aço”, a enésima franquia com Super-Homem. Ou seja, foram continuações; basearam-se em histórias em quadrinhos e livros para adolescentes; sobrepuseram efeitos especiais a uma dramaturgia esquálida.
O conteúdo deles é a violência. São cenas e mais cenas com corpos destroçados, explosões de pessoas e prédios, chantagem psicológica, pancadaria coreografada, tortura explícita. O cinema americano adestra o público, sobretudo as novas gerações, para a bestialidade do mundo que os Estados Unidos comandam. Sistemática, a truculência torna a barbaridade corriqueira. Fantasias de destruição são tidas como filmes para crianças. Na verdade, são filmes educativos.
A complexidade deles aumentou neste ano. “Jogos vorazes 2” mostra uma elite mundial que domina massas escravizadas. Ela monta um reality show em que adolescentes matam uns aos outros, para gáudio de proletários cruéis. Em “Elysium”, a elite nem mora na Terra. Mudou-se para um condomínio fechado que orbita em torno do planeta. Lá, privilegiados tomam coquetéis entre jardins floridos e desfrutam do melhor plano de saúde jamais visto, o que evita até a interação humana. Embaixo, a plebe rala num trabalho insalubre e incompreensível, o banditismo campeia, policiais-robôs batem indiscriminadamente, o mundo é uma favela sem fim.
É presumível que no próximo “Jogos vorazes” a ditadura mundial de Donald Sutherland — um mestre em risadinhas sinistras e sobrancelhas arqueadas — seja devidamente destronada pela heroína boazinha. Em “Elysium”, Matt Damon acabou sozinho com o condomínio dos biliardários. Hollywood não aposentou a lógica do final feliz.
Os minutos finais de redenção não alteram a escatologia que sustenta as superproduções. De “Círculo de fogo” a “Guerra Mundial Z”, o apocalipse já aconteceu, vale o salve-se quem puder, a guerra de todos contra todos, a solidão que se afirma na destruição dos outros. A atrocidade nas telas atinge então os píncaros. Triste consolo: por ter homofonia com a realidade, ela é superior à patriotada de “Lincoln” e ao racismo de “Capitão Phillips”.
Nesse panorama, outras cinematografias nacionais encolhem. Os filmes franceses (os que chegam aqui) mais e mais se refugiam na temática do relacionamento íntimo. São romancezinhos insossos, famílias mais ou menos desajustadas, vidas que pairam num vácuo social. Assemelham-se a “Gravidade”, só que sem tecnologia e sem Mallarmé: em vez do silêncio eterno de espaços infinitos que apavoram, falatório incessante. No Brasil, deram o tom as comédias em que todos berram e fazem caretas.
As exceções, na França e no Brasil, foram “Azul é a cor mais quente” e “O som ao redor”, filmes criativos que enriquecem o espectador mesmo quando deles se discorda. (“O som ao redor” é chatíssimo, mas não é obrigação da arte autêntica ser agradável ou bela). Anomalia houve até nos Estados Unidos, com “Blue Jasmine”. Ao mostrar um país dividido, no qual uma classe se aproveita da outra, Woody Allen não fez uma tese sociológica. Expôs personagens e riu deles. É uma mágica e mistério do cinema que o filme seja um prodígio de profundidade.
Perseguição cinematográfica (Artigo) SÍLVIO RIBAS
CORREIO BRAZILIENSE - 19/12
Respostas aparentemente simplistas para resolver problemas complexos quase sempre soam como frases marqueteiras e sem muita consistência, coisa de candidato em campanha. Ocorre, contudo, que, pelo menos no caso da nossa cotidiana e crescente violência urbana no Distrito Federal e seu entorno, a solução parece óbvia demais. Recorro aqui ao velho bordão dos diretores de cinema para condensar o trinômio necessário para combater roubos, furtos, sequestros e homicídios. Luz, câmera e ação.
Não tenho dúvidas de que são essas três medidas que fazem mais falta no enfrentamento à criminalidade e cuja adoção daria retorno positivo mais rapidamente. Explico já. Luz de postes para acabar com as enormes manchas de escuridão que ainda teimam em cobrir os espaços urbanos de nossas cidades. Não consigo entender por que Brasília e suas cidades são tão escuras para o pedestre noturno. Fiat lux para os que se escondem nos cantos escuros à espreita das vítimas.
O big brother urbano também já deu provas suficientes de sucesso imediato em todas os lugares em que foi implantado. Os fora da lei não vão se sentir impelidos a sorrir porque estão sendo filmados. É preciso dar um basta de vez à discussão estéril sobre privacidade em espaço público. Ruas, avenidas e estabelecimentos comerciais podem, sim, ser vigiados 24 horas por dia com câmeras.
Por fim, temos de pedir a mais elementar das tarefas: ação das autoridades, sobretudo as fardadas diante dos ataques de bandidos maiores e menores de idade. O posto policial perto de casa já não é mais sinônimo de pronta reação às flagrantes violações da lei. Há muita burocracia e embuste na relação entre pontos avançados de atendimento da Polícia Militar e o cidadão. Seria melhor copiar as boas práticas de onde prosperou o conceito de agente público de defesa social integrado à comunidade.
Antes de o mal tocar nossos ombros ou, pior, colocar o pé dentro de nossos lares, poderíamos clamar pelo anjo da guarda da PM mais próximo. Em resumo, torço para que, em vez de assistirmos a perseguição cinematográfica de meliantes motorizados por viaturas da PMDF ou ficarmos boquiabertos com os intrigantes casos de crueldade alheia, tenhamos a nosso favor as condições mínimas para nos sentimos seguros.
Não tenho dúvidas de que são essas três medidas que fazem mais falta no enfrentamento à criminalidade e cuja adoção daria retorno positivo mais rapidamente. Explico já. Luz de postes para acabar com as enormes manchas de escuridão que ainda teimam em cobrir os espaços urbanos de nossas cidades. Não consigo entender por que Brasília e suas cidades são tão escuras para o pedestre noturno. Fiat lux para os que se escondem nos cantos escuros à espreita das vítimas.
O big brother urbano também já deu provas suficientes de sucesso imediato em todas os lugares em que foi implantado. Os fora da lei não vão se sentir impelidos a sorrir porque estão sendo filmados. É preciso dar um basta de vez à discussão estéril sobre privacidade em espaço público. Ruas, avenidas e estabelecimentos comerciais podem, sim, ser vigiados 24 horas por dia com câmeras.
Por fim, temos de pedir a mais elementar das tarefas: ação das autoridades, sobretudo as fardadas diante dos ataques de bandidos maiores e menores de idade. O posto policial perto de casa já não é mais sinônimo de pronta reação às flagrantes violações da lei. Há muita burocracia e embuste na relação entre pontos avançados de atendimento da Polícia Militar e o cidadão. Seria melhor copiar as boas práticas de onde prosperou o conceito de agente público de defesa social integrado à comunidade.
Antes de o mal tocar nossos ombros ou, pior, colocar o pé dentro de nossos lares, poderíamos clamar pelo anjo da guarda da PM mais próximo. Em resumo, torço para que, em vez de assistirmos a perseguição cinematográfica de meliantes motorizados por viaturas da PMDF ou ficarmos boquiabertos com os intrigantes casos de crueldade alheia, tenhamos a nosso favor as condições mínimas para nos sentimos seguros.
Os objetivos da missão na Exortação de Francisco - OLIVEIROS S. FERREIRA
O Estado de S.Paulo - 19/12
Não custa reiterar a advertência papal: "Tanto os intelectuais como os jornalistas caem, frequentemente, em generalizações grosseiras...". O papa Francisco define desde o início de sua Exortação qual é a missão a cumprir: "Neste momento, não nos serve uma 'simples administração'. Constituamo-nos em 'estado permanente de missão', em todas as regiões da Terra".
O objetivo principal é levar ao mundo a palavra de Cristo, mas com nova linguagem. Essa não é a de "... quem, no fundo... se sente superior aos outros... por ser irredutivelmente fiel a um certo estilo católico próprio do passado". O objetivo secundário é fazer os ricos compreenderem que "a solidariedade deve ser vivida como a decisão de devolver ao pobre o que lhe corresponde". Na missão de conquistar os dois objetivos, ele é claro: "Ninguém pode exigir-nos que releguemos a religião para a intimidade secreta das pessoas, sem qualquer influência na vida social e nacional, sem nos preocuparmos com a saúde das instituições da sociedade civil, sem nos pronunciarmos sobre os acontecimentos que interessam aos cidadãos".
O "terreno" em que a missão de evangelizar deve cumprir-se é diferente de cultura para cultura: "Não podemos pretender que todos os povos dos vários continentes, ao exprimir a fé cristã, imitem as modalidades adotadas pelos povos europeus... É indiscutível que uma única cultura não esgota o mistério da redenção de Cristo". É aos bispos que incumbirá a tarefa não só de valorizar o serviço dos leigos, mas também de transmitir a doutrina tendo em vista as particularidades culturais: "Penso, aliás, que não... convém que o papa substitua os episcopados locais no discernimento de todas as problemáticas que sobressaem nos seus territórios. Neste sentido, sinto a necessidade de proceder a uma salutar 'descentralização'". Essa "descentralização" não significa que a Doutrina varie de cultura para cultura: "Se for bem entendida, a diversidade cultural não ameaça a unidade da Igreja. É o Espírito Santo, enviado pelo Pai e o Filho, que... constrói a comunhão e a harmonia do povo de Deus".
Soldados para cumprir a missão não faltam: "Embora não suficiente, pode-se contar com um numeroso laicato, dotado de... grande fidelidade ao compromisso da caridade, da catequese, da celebração da fé. Mas a tomada de consciência desta responsabilidade laical... não se manifesta de igual modo em toda parte; nalguns casos, porque (os leigos) não se formaram... noutros por não encontrarem espaço... para poderem exprimir-se e agir por causa dum excessivo clericalismo que os mantém à margem das decisões".
Os bispos são, vale a comparação, os "comandantes de campo" que têm sob seu comando e orientação "cada Igreja particular, porção da Igreja Católica...": as paróquias. Para o papa Francisco, "a paróquia não é uma estrutura caduca... Isto supõe que... não se torne... um grupo de eleitos que olham para si mesmos... É comunidade de comunidades... As outras instituições eclesiais, comunidades de base e pequenas comunidades, movimentos e outras formas de associação são uma riqueza da Igreja que o Espírito suscita para evangelizar todos os ambientes e setores... Mas é muito salutar que não percam o contato com esta realidade muito rica da paróquia local e que se integrem de bom grado na pastoral orgânica da Igreja particular. Esta integração evitará que fiquem só com uma parte do Evangelho e da Igreja, ou que se transformem em nômades sem raízes". A Exortação fixa, pois, os limites de autonomia e reforça as hierarquias.
A Igreja militante de Francisco não se esquece dos intelectuais, necessários à renovação do pensamento: teólogos e universidade. Os teólogos têm importante papel a desempenhar: "A Igreja, comprometida na evangelização, aprecia e encoraja o carisma dos teólogos e o seu esforço na investigação teológica... Faço apelo aos teólogos para que cumpram este serviço como parte da missão salvífica da Igreja. Mas para isso é necessário que tenham a peito a finalidade evangelizadora da Igreja e da própria teologia, e não se contentem com uma teologia de gabinete". As universidades não podem ficar alheias à missão que é de todos os católicos. Elas são "um âmbito privilegiado para pensar e desenvolver este compromisso de evangelização de modo interdisciplinar e inclusivo... constituem uma contribuição muito válida para a evangelização da cultura, mesmo em países e cidades onde uma situação adversa nos incentiva a usar a nossa criatividade para encontrar os caminhos adequados".
Um intelectual presunçoso e prepotente não poderá deixar de notar que há um momento em que o registro do discurso da Exortação se altera. O inimigo era, até aqui, o indivíduo membro de uma sociedade indiferente preocupada com o dinheiro. Para conquistá-lo basta a evangelização; é como se fora uma guerra de usura, de aproximação frontal. Mas há inimigos encastelados nas instituições - e contra eles apenas a aproximação indireta poderá obter resultados, pois "a Igreja não tem soluções para todas as questões específicas".
Como aproximar-se do adversário e convencê-lo do verdadeiro Evangelho? Pelo diálogo: "Neste momento, existem sobretudo três campos de diálogo em que a Igreja deve estar presente": com os Estados, com a sociedade "e com os outros crentes que não fazem parte da Igreja Católica". Ao papa, tudo parece indicar, cabe conduzir o diálogo com "os outros crentes" e as ciências; aos bispos, aquele com o Estado.
É nesse diálogo que a Exortação de Francisco ganha sentido político: a Igreja militante não relegará "a religião para a intimidade secreta das pessoas", pretenderá exercer "influência na vida social e nacional", preocupada que está "com a saúde das instituições da sociedade civil..."
Não custa reiterar a advertência papal: "Tanto os intelectuais como os jornalistas caem, frequentemente, em generalizações grosseiras...". O papa Francisco define desde o início de sua Exortação qual é a missão a cumprir: "Neste momento, não nos serve uma 'simples administração'. Constituamo-nos em 'estado permanente de missão', em todas as regiões da Terra".
O objetivo principal é levar ao mundo a palavra de Cristo, mas com nova linguagem. Essa não é a de "... quem, no fundo... se sente superior aos outros... por ser irredutivelmente fiel a um certo estilo católico próprio do passado". O objetivo secundário é fazer os ricos compreenderem que "a solidariedade deve ser vivida como a decisão de devolver ao pobre o que lhe corresponde". Na missão de conquistar os dois objetivos, ele é claro: "Ninguém pode exigir-nos que releguemos a religião para a intimidade secreta das pessoas, sem qualquer influência na vida social e nacional, sem nos preocuparmos com a saúde das instituições da sociedade civil, sem nos pronunciarmos sobre os acontecimentos que interessam aos cidadãos".
O "terreno" em que a missão de evangelizar deve cumprir-se é diferente de cultura para cultura: "Não podemos pretender que todos os povos dos vários continentes, ao exprimir a fé cristã, imitem as modalidades adotadas pelos povos europeus... É indiscutível que uma única cultura não esgota o mistério da redenção de Cristo". É aos bispos que incumbirá a tarefa não só de valorizar o serviço dos leigos, mas também de transmitir a doutrina tendo em vista as particularidades culturais: "Penso, aliás, que não... convém que o papa substitua os episcopados locais no discernimento de todas as problemáticas que sobressaem nos seus territórios. Neste sentido, sinto a necessidade de proceder a uma salutar 'descentralização'". Essa "descentralização" não significa que a Doutrina varie de cultura para cultura: "Se for bem entendida, a diversidade cultural não ameaça a unidade da Igreja. É o Espírito Santo, enviado pelo Pai e o Filho, que... constrói a comunhão e a harmonia do povo de Deus".
Soldados para cumprir a missão não faltam: "Embora não suficiente, pode-se contar com um numeroso laicato, dotado de... grande fidelidade ao compromisso da caridade, da catequese, da celebração da fé. Mas a tomada de consciência desta responsabilidade laical... não se manifesta de igual modo em toda parte; nalguns casos, porque (os leigos) não se formaram... noutros por não encontrarem espaço... para poderem exprimir-se e agir por causa dum excessivo clericalismo que os mantém à margem das decisões".
Os bispos são, vale a comparação, os "comandantes de campo" que têm sob seu comando e orientação "cada Igreja particular, porção da Igreja Católica...": as paróquias. Para o papa Francisco, "a paróquia não é uma estrutura caduca... Isto supõe que... não se torne... um grupo de eleitos que olham para si mesmos... É comunidade de comunidades... As outras instituições eclesiais, comunidades de base e pequenas comunidades, movimentos e outras formas de associação são uma riqueza da Igreja que o Espírito suscita para evangelizar todos os ambientes e setores... Mas é muito salutar que não percam o contato com esta realidade muito rica da paróquia local e que se integrem de bom grado na pastoral orgânica da Igreja particular. Esta integração evitará que fiquem só com uma parte do Evangelho e da Igreja, ou que se transformem em nômades sem raízes". A Exortação fixa, pois, os limites de autonomia e reforça as hierarquias.
A Igreja militante de Francisco não se esquece dos intelectuais, necessários à renovação do pensamento: teólogos e universidade. Os teólogos têm importante papel a desempenhar: "A Igreja, comprometida na evangelização, aprecia e encoraja o carisma dos teólogos e o seu esforço na investigação teológica... Faço apelo aos teólogos para que cumpram este serviço como parte da missão salvífica da Igreja. Mas para isso é necessário que tenham a peito a finalidade evangelizadora da Igreja e da própria teologia, e não se contentem com uma teologia de gabinete". As universidades não podem ficar alheias à missão que é de todos os católicos. Elas são "um âmbito privilegiado para pensar e desenvolver este compromisso de evangelização de modo interdisciplinar e inclusivo... constituem uma contribuição muito válida para a evangelização da cultura, mesmo em países e cidades onde uma situação adversa nos incentiva a usar a nossa criatividade para encontrar os caminhos adequados".
Um intelectual presunçoso e prepotente não poderá deixar de notar que há um momento em que o registro do discurso da Exortação se altera. O inimigo era, até aqui, o indivíduo membro de uma sociedade indiferente preocupada com o dinheiro. Para conquistá-lo basta a evangelização; é como se fora uma guerra de usura, de aproximação frontal. Mas há inimigos encastelados nas instituições - e contra eles apenas a aproximação indireta poderá obter resultados, pois "a Igreja não tem soluções para todas as questões específicas".
Como aproximar-se do adversário e convencê-lo do verdadeiro Evangelho? Pelo diálogo: "Neste momento, existem sobretudo três campos de diálogo em que a Igreja deve estar presente": com os Estados, com a sociedade "e com os outros crentes que não fazem parte da Igreja Católica". Ao papa, tudo parece indicar, cabe conduzir o diálogo com "os outros crentes" e as ciências; aos bispos, aquele com o Estado.
É nesse diálogo que a Exortação de Francisco ganha sentido político: a Igreja militante não relegará "a religião para a intimidade secreta das pessoas", pretenderá exercer "influência na vida social e nacional", preocupada que está "com a saúde das instituições da sociedade civil..."
Medo do povo - CARLOS RAMALHETE
GAZETA DO POVO - PR - 19/12
Mesmo com as urnas eletrônicas – essas caixas-pretas que não imprimem o voto e não permitem verificação independente –, mesmo com todo tipo de programa assistencialista, mesmo com o voto de legenda que faz dos deputados efetivamente eleitos uma ínfima minoria e tudo o mais, os políticos ainda têm algum medo do povo.
Isso pôde ser visto com clareza na retirada de vários itens do delirante projeto de Código Penal que foi votado anteontem; o aborto continua como está, as drogas não foram legalizadas, e a “homofobia” ainda não é crime. Afinal, tais projetos, ainda que alavancados pelas elites transnacionais que distribuem fortunas em sua propaganda, são rejeitados pela avassaladora maioria do eleitorado. Uma lista de políticos que tenham votado a favor de um projeto de legalização do aborto é uma lista de políticos que terão sérias dificuldades para reeleger-se.
Não que isso faça muita diferença prática: o poder, o dinheiro envolvido e o cacife dos militantes a favor das causas ditas “progressistas” faz com que sempre se arranje um jeitinho. Ora é uma lei disfarçando o aborto de outra coisa, ora é uma decisão de juízes mais alinhados com as elites internacionais que com o povo brasileiro, ora é uma “norma técnica” como aquela com que José Serra fez dos médicos do SUS aborteiros.
São maneiras de driblar a vontade popular e fazer valer a vontade de alguns poucos, riquíssimos, que procuram demolir o que resta da civilização que nos trouxe até aqui. Os efeitos diretos e indiretos desta campanha antipovo fazem-se sentir na criminalidade exacerbada pelo desarmamento das vítimas (reprovado nas urnas pela imensa maioria da população, mas que continua firme e forte), pela quase legalização do crack (não dá cadeia...) e do furto (idem), e pelos programas assistencialistas. Afinal, sem uma família estável, sem um modelo de comportamento a seguir, a vida de viciado, alternando o êxtase absoluto da droga com momentos de poder e adrenalina nos furtos cometidos para sustentar o vício, passa a parecer uma excelente opção de vida para muitos rapazes que poderiam estar trabalhando honestamente. Não que o Estado facilite isso, claro: a legislação trabalhista, que é uma mãe para o empregado, é uma madrasta cruel para quem está procurando emprego.
Em suma, a situação administrativa do Brasil continua propositadamente crítica. A única notícia boa é que algum medo do povo ainda existe entre nossos empregados no Estado, e não foi desta vez, abertamente, que pioraram mais um pouco a nossa vida.
Mesmo com as urnas eletrônicas – essas caixas-pretas que não imprimem o voto e não permitem verificação independente –, mesmo com todo tipo de programa assistencialista, mesmo com o voto de legenda que faz dos deputados efetivamente eleitos uma ínfima minoria e tudo o mais, os políticos ainda têm algum medo do povo.
Isso pôde ser visto com clareza na retirada de vários itens do delirante projeto de Código Penal que foi votado anteontem; o aborto continua como está, as drogas não foram legalizadas, e a “homofobia” ainda não é crime. Afinal, tais projetos, ainda que alavancados pelas elites transnacionais que distribuem fortunas em sua propaganda, são rejeitados pela avassaladora maioria do eleitorado. Uma lista de políticos que tenham votado a favor de um projeto de legalização do aborto é uma lista de políticos que terão sérias dificuldades para reeleger-se.
Não que isso faça muita diferença prática: o poder, o dinheiro envolvido e o cacife dos militantes a favor das causas ditas “progressistas” faz com que sempre se arranje um jeitinho. Ora é uma lei disfarçando o aborto de outra coisa, ora é uma decisão de juízes mais alinhados com as elites internacionais que com o povo brasileiro, ora é uma “norma técnica” como aquela com que José Serra fez dos médicos do SUS aborteiros.
São maneiras de driblar a vontade popular e fazer valer a vontade de alguns poucos, riquíssimos, que procuram demolir o que resta da civilização que nos trouxe até aqui. Os efeitos diretos e indiretos desta campanha antipovo fazem-se sentir na criminalidade exacerbada pelo desarmamento das vítimas (reprovado nas urnas pela imensa maioria da população, mas que continua firme e forte), pela quase legalização do crack (não dá cadeia...) e do furto (idem), e pelos programas assistencialistas. Afinal, sem uma família estável, sem um modelo de comportamento a seguir, a vida de viciado, alternando o êxtase absoluto da droga com momentos de poder e adrenalina nos furtos cometidos para sustentar o vício, passa a parecer uma excelente opção de vida para muitos rapazes que poderiam estar trabalhando honestamente. Não que o Estado facilite isso, claro: a legislação trabalhista, que é uma mãe para o empregado, é uma madrasta cruel para quem está procurando emprego.
Em suma, a situação administrativa do Brasil continua propositadamente crítica. A única notícia boa é que algum medo do povo ainda existe entre nossos empregados no Estado, e não foi desta vez, abertamente, que pioraram mais um pouco a nossa vida.
Ueba! Flu entra pro Guiness! - JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 19/12
Você pede três pizzas e só chegam duas. O que aconteceu? Derrubaram a Portuguesa! Rarará!
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Manchete bombástica: "Vanusa cantará o hino da Copa com tradução do intérprete sul-africano". Rarará! Seria hilário! "Ouviram do Ipiranga". E o intérprete doido: "A Elvira tá de tanga". Vai ser O VÍRUS DO IPIRANGA. O Hino Gardenal! Rarará!
Morreu o Ronald Biggs! Vai ter o avião da Dilma, o Aerolouco? Vai ter comitiva pro funeral? O Sarney e o Collor vão na comitiva? Ou vai precisar de dez Boeings pra levar todo mundo! Rarará!
E atenção! A Polícia Federal acaba de descobrir o dono do pó do helipóptero dos Perrella: o PóPó Noel! Rarará! O dono do pó é o PóPó Noel! E as últimas do Fluminense, ops, do Tapetense. Você pede três pizzas e só chegam duas. O que aconteceu? Derrubaram a Portuguesa! Rarará!
E o site FuteboldaDepressao revela: "O Fluminense vai entrar pro Guiness Book. Como o único time a cair três vezes pra cima!". Rarará!
Essa foi a pior vitória pro Fluminense! E torno a repetir que STJD quer dizer Sou Tricolor, Já Decidi. E CBF quer dizer Como Beneficiar o Fluminense! E tem gente dando essa ideia: a Portuguesa disputar a série B com a camiseta do Fluminense! Rarará!
E um amigo postou no Twitter: "Precisava uma Comissão da Verdade no futebol brasileiro". Novidades pra 2014: o Serra Vampiro Anêmico desistiu da candidatura! Mas ele ainda pertencia ao mundo dos vivos? Rarará!
E o que ele vai ser agora? Presidente do Palmeiras? Miss Bumbum 2014? Porteiro de necrotério? Ou sósia do Mister Burns dos Simpsons? O Serra parece a van da Família Addams. Sempre com aquela nuvenzinha preta em cima! Se o Serra ganhasse pra presidente, não ia ter mais sol no Brasil! Rarará!
E a partir de hoje só vejo shopping pela TV. Já imaginou encarar escada rolante de shopping? Lotada! Precisa de senha pra subir! Senha 4.079! Aquela de collant de bolinhas e TV de plasma na cabeça, pode subir! E diz que os shoppings já têm chequeporto. Pra cheque voador!
É mole? É mole, mas sobe!
O Brasil é Lúdico! Olha essa placa num supermercado de Itaquaquecetuba: "Oferta! Carne bovina resfriada! PICACANHA, 21,50 kg". O cara era gago? Queria ver escrever o nome da cidade: Itaquaquecetuba! Rarará!
Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
Você pede três pizzas e só chegam duas. O que aconteceu? Derrubaram a Portuguesa! Rarará!
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Manchete bombástica: "Vanusa cantará o hino da Copa com tradução do intérprete sul-africano". Rarará! Seria hilário! "Ouviram do Ipiranga". E o intérprete doido: "A Elvira tá de tanga". Vai ser O VÍRUS DO IPIRANGA. O Hino Gardenal! Rarará!
Morreu o Ronald Biggs! Vai ter o avião da Dilma, o Aerolouco? Vai ter comitiva pro funeral? O Sarney e o Collor vão na comitiva? Ou vai precisar de dez Boeings pra levar todo mundo! Rarará!
E atenção! A Polícia Federal acaba de descobrir o dono do pó do helipóptero dos Perrella: o PóPó Noel! Rarará! O dono do pó é o PóPó Noel! E as últimas do Fluminense, ops, do Tapetense. Você pede três pizzas e só chegam duas. O que aconteceu? Derrubaram a Portuguesa! Rarará!
E o site FuteboldaDepressao revela: "O Fluminense vai entrar pro Guiness Book. Como o único time a cair três vezes pra cima!". Rarará!
Essa foi a pior vitória pro Fluminense! E torno a repetir que STJD quer dizer Sou Tricolor, Já Decidi. E CBF quer dizer Como Beneficiar o Fluminense! E tem gente dando essa ideia: a Portuguesa disputar a série B com a camiseta do Fluminense! Rarará!
E um amigo postou no Twitter: "Precisava uma Comissão da Verdade no futebol brasileiro". Novidades pra 2014: o Serra Vampiro Anêmico desistiu da candidatura! Mas ele ainda pertencia ao mundo dos vivos? Rarará!
E o que ele vai ser agora? Presidente do Palmeiras? Miss Bumbum 2014? Porteiro de necrotério? Ou sósia do Mister Burns dos Simpsons? O Serra parece a van da Família Addams. Sempre com aquela nuvenzinha preta em cima! Se o Serra ganhasse pra presidente, não ia ter mais sol no Brasil! Rarará!
E a partir de hoje só vejo shopping pela TV. Já imaginou encarar escada rolante de shopping? Lotada! Precisa de senha pra subir! Senha 4.079! Aquela de collant de bolinhas e TV de plasma na cabeça, pode subir! E diz que os shoppings já têm chequeporto. Pra cheque voador!
É mole? É mole, mas sobe!
O Brasil é Lúdico! Olha essa placa num supermercado de Itaquaquecetuba: "Oferta! Carne bovina resfriada! PICACANHA, 21,50 kg". O cara era gago? Queria ver escrever o nome da cidade: Itaquaquecetuba! Rarará!
Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
Os escrúpulos - LUIS FERNANDO VERISSIMO
FOLHA DE SP - 19/12
Nunca fumei ou usei drogas. Meus porres de adolescência acabaram porque o martírio das minhas ressacas era muito maior do que o prazer do porre
Há dias, na sua coluna, num texto exemplar como sempre, o Zuenir Ventura lembrava que há 45 anos era assinado o Ato Institucional n° 5, que instaurava a ditadura sem disfarces no Brasil. Congresso fechado, fim dos direitos constitucionais, censura e repressão a valer, poderes absolutos para o governo militar, e que se danassem os escrúpulos. Os escrúpulos não tinham sido suficientes para deter o golpe de 64, mas alguns ainda sobreviveram por quatro anos. O AI-5 acabou com todos. Também é bom e saudável não esquecer o clima de antiesquerdismo furioso que justificou o golpe de 64 e o golpe dentro do golpe de 68. Ser “de esquerda” era um risco, durante o recesso dos escrúpulos. Pode-se imaginar que a renúncia aos escrúpulos entre os que assinaram o AI-5 significasse um drama de consciência para alguns, mas foi a desobrigação com qualquer escrúpulo que liberou a mão do torturador. Com a “abertura” foram restituídos os escrúpulos. Hoje quem é — ou pretende ser — “de esquerda” só se arrisca a ouvir o rosnar da direita, que não parece ser preâmbulo de nada parecido com o que já houve. Mas não custa ficar de sobreaviso, né, Zuenir?
Sou um careta assumido. Tão careta que ainda uso o termo “careta”. Nunca fumei ou usei drogas e meus porres de adolescência acabaram porque o martírio das minhas ressacas era muito maior do que o prazer do porre. E... Mas espera um pouquinho. Preciso fazer uma confissão. Tomava-se muita Cuba Libre, na época, há 200 anos. Coca-Cola com rum. Ou rum com Coca-Cola, dependendo da pressa. E um dia alguém apareceu com uma novidade: desmanchar dois comprimidos de Melhoral na Cuba Libre daria um barato espetacular. Experimentei. Quem se lembra do jingle do Melhoral? “Melhoral, Melhoral, é melhor e não faz mal”? O Melhoral desmanchado na Cuba Libre não me fez mal — nem bem. Não me fez nada. O barato desejado não aconteceu e eu nunca mais experimentei. Mas foi a coisa mais depravada que fiz na vida, se concordarmos que sonho não vale.
Tudo isto para dizer que não tenho credenciais para opinar sobre a liberação da maconha, como fez o Mujica no Uruguai. Sou um ignorante na matéria. A fumaça da maconha faz tanto mal quanto a fumaça do cigarro comum? Vicia como cigarro comum? Também dá câncer? Se já é usada para fins medicinais, também funciona para fins profiláticos? Dá mesmo um barato bom ou pertence à mesma categoria do Melhoral na Cuba Libre? Não sei. Só sei que o Mujica está fazendo um governo bacana — olha aí, eu também ainda uso “bacana” — no Uruguai, inclusive vencendo alguns escrúpulos. No bom sentido.
Nunca fumei ou usei drogas. Meus porres de adolescência acabaram porque o martírio das minhas ressacas era muito maior do que o prazer do porre
Há dias, na sua coluna, num texto exemplar como sempre, o Zuenir Ventura lembrava que há 45 anos era assinado o Ato Institucional n° 5, que instaurava a ditadura sem disfarces no Brasil. Congresso fechado, fim dos direitos constitucionais, censura e repressão a valer, poderes absolutos para o governo militar, e que se danassem os escrúpulos. Os escrúpulos não tinham sido suficientes para deter o golpe de 64, mas alguns ainda sobreviveram por quatro anos. O AI-5 acabou com todos. Também é bom e saudável não esquecer o clima de antiesquerdismo furioso que justificou o golpe de 64 e o golpe dentro do golpe de 68. Ser “de esquerda” era um risco, durante o recesso dos escrúpulos. Pode-se imaginar que a renúncia aos escrúpulos entre os que assinaram o AI-5 significasse um drama de consciência para alguns, mas foi a desobrigação com qualquer escrúpulo que liberou a mão do torturador. Com a “abertura” foram restituídos os escrúpulos. Hoje quem é — ou pretende ser — “de esquerda” só se arrisca a ouvir o rosnar da direita, que não parece ser preâmbulo de nada parecido com o que já houve. Mas não custa ficar de sobreaviso, né, Zuenir?
Sou um careta assumido. Tão careta que ainda uso o termo “careta”. Nunca fumei ou usei drogas e meus porres de adolescência acabaram porque o martírio das minhas ressacas era muito maior do que o prazer do porre. E... Mas espera um pouquinho. Preciso fazer uma confissão. Tomava-se muita Cuba Libre, na época, há 200 anos. Coca-Cola com rum. Ou rum com Coca-Cola, dependendo da pressa. E um dia alguém apareceu com uma novidade: desmanchar dois comprimidos de Melhoral na Cuba Libre daria um barato espetacular. Experimentei. Quem se lembra do jingle do Melhoral? “Melhoral, Melhoral, é melhor e não faz mal”? O Melhoral desmanchado na Cuba Libre não me fez mal — nem bem. Não me fez nada. O barato desejado não aconteceu e eu nunca mais experimentei. Mas foi a coisa mais depravada que fiz na vida, se concordarmos que sonho não vale.
Tudo isto para dizer que não tenho credenciais para opinar sobre a liberação da maconha, como fez o Mujica no Uruguai. Sou um ignorante na matéria. A fumaça da maconha faz tanto mal quanto a fumaça do cigarro comum? Vicia como cigarro comum? Também dá câncer? Se já é usada para fins medicinais, também funciona para fins profiláticos? Dá mesmo um barato bom ou pertence à mesma categoria do Melhoral na Cuba Libre? Não sei. Só sei que o Mujica está fazendo um governo bacana — olha aí, eu também ainda uso “bacana” — no Uruguai, inclusive vencendo alguns escrúpulos. No bom sentido.
CASA NOVA - MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 19/12
Um ano depois da posse, o prefeito Fernando Haddad (PT-SP) pode ser obrigado a promover uma reforma no secretariado. Pelo menos três integrantes do primeiro escalão do governo devem deixar os cargos no começo de 2014 para se candidatar a uma vaga na Câmara dos Deputados. Outros três já estudam a mesma possibilidade.
CORDÃO
Já são dadas como certas as saídas de Eliseu Gabriel (PSB-SP) da secretaria de Trabalho, de Ricardo Teixeira (PV-SP) da pasta do Verde e de Netinho de Paula (PC do B) da Igualdade Racial. Os três se lançariam candidatos como puxadores de votos de seus respectivos partidos.
QUEM SABE
Outros três secretários, do PT, discutem com Haddad a possibilidade de deixar o cargo: Jilmar Tatto, da secretaria de Transportes, Simão Pedro, da pasta de Serviços, e João Antonio, de Relações Governamentais. De zero a cem, a chance de eles permanecerem nos cargos, no entanto, seria de 70%, de acordo com um deles.
EU FICO
Outro secretário que poderia disputar novo mandato de deputado, José de Filippi Jr., já decidiu que permanece na Secretaria de Saúde.
DOCE LAR
O STJ (Superior Tribunal de Justiça) concedeu direito de habitação à mulher que, não sendo casada, compartilha o imóvel com o companheiro quando este falece. Ou seja, mesmo que a casa ou o apartamento seja partilhado com os filhos, ela terá direito de residir nele. Até então esse direito só era de fato assegurado à esposa.
FATOS REAIS
Escândalos investigados pela Polícia Federal vão virar série de ficção no canal TNT. Dirigida por Heitor Dhalia, "O Grampo" será produzida pelo canal e pela Paranoid, que tem o cineasta e Tatiana Quintella como sócios. O programa, anunciado como "thriller policial", será exibido para toda a América Latina, a partir de 2015.
DE VOLTA...
O cantor João Gilberto já contratou equipe técnica para trabalhar na regravação de alguns de seus clássicos. O Tribunal de Justiça do Rio decidiu ontem que as matrizes dos álbuns "Chega de Saudade", "O Amor, o Sorriso e a Flor" e "João Gilberto", além do compacto em vinil "João Gilberto" (em que canta músicas do filme "Orfeu do Carnaval"), devem mesmo ficar com o autor. A posse dos trabalhos era disputada com a gravadora EMI.
...PRA CASA
"O tribunal agiu acertadamente. João Gilberto é um gênio musical e tem o direito de trabalhar sobre suas criações", diz o advogado Flávio Galdino. A EMI, que já tinha sido obrigada a devolver as matrizes por meio de liminar, ainda pode recorrer.
MAIS CULTURA
A ministra Marta Suplicy e o secretário Juca Ferreira definiram o destino do antigo prédio da Prodam, no Ibirapuera. O espaço vai passar, em comodato, para o Ministério da Cultura, que planeja transformá-lo em centro cultural internacional. O acervo que abriga hoje será transferido para o edifício dos Correios, no centro de São Paulo.
THE VOICE
O estilista Amir Slama vai narrar a nova temporada do programa "50 por 1", de Alvaro Garnero, que estreia no próximo domingo, na Record. Os dois retomam uma parceria antiga: quando Alvaro fundou o Café de La Musique, Slama era um dos responsáveis pelas estampas da decoração da casa.
No ano que vem, o estilista deve desfilar coleções nos 12 clubes de praia do empresário espalhados pelo Brasil.
SEM CERIMÔNIA
João Vicente de Castro e Gregorio Duvivier fazem graça mesmo com figurino de gala, como o que vestiram para ensaio da revista "Top Magazine". Quando os humoristas do Porta dos Fundos estão juntos, é como se voltassem "a ter 12 anos", diz Duvivier, que também é colunista da Folha.
Com 60 milhões de visitas por mês na internet, o grupo tem hoje 40 funcionários.
ENTÃO É NATAL
A apresentadora Adriane Galisteu foi com o filho, Vittorio, ao evento beneficente Natal Solidário, anteontem, na Ótica Ventura da rua Bela Cintra. Os anfitriões Francisco, Deborah e Felipe Ventura receberam a atriz Adriana Alves, o promotor de eventos Helinho Calfat, a empresária Karina Friedman e Rayssa Chaddad, da novela "Chiquititas" (SBT).
CURTO-CIRCUITO
Sabrina Sato será a madrinha do Camarote Brahma no Carnaval de SP.
A nova edição da revista "Unique Magazine" será lançada hoje, a partir das 19h, no Skye, nos Jardins.
Raphael Falci e H2OH! recebem convidados em almoço, hoje, no Chez Oscar.
Fabiana Cozza lança DVD e CD em homenagem a Clara Nunes, hoje, às 19h30, na Fnac Pinheiros.
Um ano depois da posse, o prefeito Fernando Haddad (PT-SP) pode ser obrigado a promover uma reforma no secretariado. Pelo menos três integrantes do primeiro escalão do governo devem deixar os cargos no começo de 2014 para se candidatar a uma vaga na Câmara dos Deputados. Outros três já estudam a mesma possibilidade.
CORDÃO
Já são dadas como certas as saídas de Eliseu Gabriel (PSB-SP) da secretaria de Trabalho, de Ricardo Teixeira (PV-SP) da pasta do Verde e de Netinho de Paula (PC do B) da Igualdade Racial. Os três se lançariam candidatos como puxadores de votos de seus respectivos partidos.
QUEM SABE
Outros três secretários, do PT, discutem com Haddad a possibilidade de deixar o cargo: Jilmar Tatto, da secretaria de Transportes, Simão Pedro, da pasta de Serviços, e João Antonio, de Relações Governamentais. De zero a cem, a chance de eles permanecerem nos cargos, no entanto, seria de 70%, de acordo com um deles.
EU FICO
Outro secretário que poderia disputar novo mandato de deputado, José de Filippi Jr., já decidiu que permanece na Secretaria de Saúde.
DOCE LAR
O STJ (Superior Tribunal de Justiça) concedeu direito de habitação à mulher que, não sendo casada, compartilha o imóvel com o companheiro quando este falece. Ou seja, mesmo que a casa ou o apartamento seja partilhado com os filhos, ela terá direito de residir nele. Até então esse direito só era de fato assegurado à esposa.
FATOS REAIS
Escândalos investigados pela Polícia Federal vão virar série de ficção no canal TNT. Dirigida por Heitor Dhalia, "O Grampo" será produzida pelo canal e pela Paranoid, que tem o cineasta e Tatiana Quintella como sócios. O programa, anunciado como "thriller policial", será exibido para toda a América Latina, a partir de 2015.
DE VOLTA...
O cantor João Gilberto já contratou equipe técnica para trabalhar na regravação de alguns de seus clássicos. O Tribunal de Justiça do Rio decidiu ontem que as matrizes dos álbuns "Chega de Saudade", "O Amor, o Sorriso e a Flor" e "João Gilberto", além do compacto em vinil "João Gilberto" (em que canta músicas do filme "Orfeu do Carnaval"), devem mesmo ficar com o autor. A posse dos trabalhos era disputada com a gravadora EMI.
...PRA CASA
"O tribunal agiu acertadamente. João Gilberto é um gênio musical e tem o direito de trabalhar sobre suas criações", diz o advogado Flávio Galdino. A EMI, que já tinha sido obrigada a devolver as matrizes por meio de liminar, ainda pode recorrer.
MAIS CULTURA
A ministra Marta Suplicy e o secretário Juca Ferreira definiram o destino do antigo prédio da Prodam, no Ibirapuera. O espaço vai passar, em comodato, para o Ministério da Cultura, que planeja transformá-lo em centro cultural internacional. O acervo que abriga hoje será transferido para o edifício dos Correios, no centro de São Paulo.
THE VOICE
O estilista Amir Slama vai narrar a nova temporada do programa "50 por 1", de Alvaro Garnero, que estreia no próximo domingo, na Record. Os dois retomam uma parceria antiga: quando Alvaro fundou o Café de La Musique, Slama era um dos responsáveis pelas estampas da decoração da casa.
No ano que vem, o estilista deve desfilar coleções nos 12 clubes de praia do empresário espalhados pelo Brasil.
SEM CERIMÔNIA
João Vicente de Castro e Gregorio Duvivier fazem graça mesmo com figurino de gala, como o que vestiram para ensaio da revista "Top Magazine". Quando os humoristas do Porta dos Fundos estão juntos, é como se voltassem "a ter 12 anos", diz Duvivier, que também é colunista da Folha.
Com 60 milhões de visitas por mês na internet, o grupo tem hoje 40 funcionários.
ENTÃO É NATAL
A apresentadora Adriane Galisteu foi com o filho, Vittorio, ao evento beneficente Natal Solidário, anteontem, na Ótica Ventura da rua Bela Cintra. Os anfitriões Francisco, Deborah e Felipe Ventura receberam a atriz Adriana Alves, o promotor de eventos Helinho Calfat, a empresária Karina Friedman e Rayssa Chaddad, da novela "Chiquititas" (SBT).
CURTO-CIRCUITO
Sabrina Sato será a madrinha do Camarote Brahma no Carnaval de SP.
A nova edição da revista "Unique Magazine" será lançada hoje, a partir das 19h, no Skye, nos Jardins.
Raphael Falci e H2OH! recebem convidados em almoço, hoje, no Chez Oscar.
Fabiana Cozza lança DVD e CD em homenagem a Clara Nunes, hoje, às 19h30, na Fnac Pinheiros.
Pimentel e Padilha - ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 19/12
A pressão dos candidatos do PT a governador Fernando Pimentel (MG) e Alexandre Padilha (SP) funcionou. A reforma ministerial foi empurrada para março. Sem mandato, eles precisam de um palco. O alvo de Padilha é chegar aos 13 mil médicos previstos no Mais Médicos. A meta de Pimentel é dar o pontapé inicial na negociação do acordo de livre comércio com a União Européia.
O vice de Aécio
O Solidariedade, a exemplo do DEM, não quer uma chapa pura do PSDB para o Planalto. Seu presidente, o deputado Paulo Pereira da Silva (SP), vai levar duas sugestões de vice ao candidato Aécio Neves. Uma delas é o atual presidente da Força Sindical, Miguel Torres. Ele é paulista, líder trabalhista e reforçaria a vacina do tucano no debate sobre a continuidade das políticas sociais.
A outra é o seu líder na Câmara, Fernando Francischini (PR). Ele é delegado da Polícia Federal e fortaleceria o compromisso com o resgate da ética e o combate à corrupção. O nome mais forte para vice é o senador Aloysio Nunes Ferreira(PSDB-SP).
"A triste verdade é que as empresas que doam aos partidos são exatamente as que têm grandes interesses no governo. Em política, não há almoço de graça"
Pedro Simon, senador (PMDB-RS), pela proibição do financiamento das campanhas por empresas privadas
Quem dá mais
O presidente da CNI, Robson Andrade (foto), recebe hoje o diretor-geral da OMC, Roberto Azevedo.
No almoço, presentes também duas dezenas de empresários de peso. Na mesa, as oportunidades após o histórico acordo de Bali, fechado no início de dezembro, que vai facilitar o comércio mundial. Há 19 anos não se produzia nenhum acordo.
Quem sabe?
Mesmo apoiando Aécio Neves no primeiro turno, no PSB se trabalha com a possibilidade de o prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda (PSB), virar candidato do PSDB ao governo mineiro.
Uma bancada de artistas
Os deputados do Rio subiram ao palco no jantar de fim de ano da Câmara na noite de terça-feira, em Brasília. Stepan Nercessian (PPS) fez piadas de improviso, inclusive imitando seus colegas. Jandira Feghali (PCdoB) entoou "Não deixe o samba morrer" Chico Alencar (PSOL) cantou "A Rita" e Jean Wyllys (PSOL) atacou de Chico César.
O espólio de Marina Silva
O PSDB encomendou pesquisa sobre eleição presidencial em Brasília. O resultado sinaliza que a presidente Dilma foi beneficiada com a saída de Marina Silva. Aécio Neves ficou no mesmo lugar.
Dilma na TV
As conquistâs sociais vão dar o tom da mensagem de fim de ano da presidente Dilma em rede de TV. O Mais Médicos, o êxito das concessões, como a do Galeão, e o leilão de Libra serão as estrelas. O programa deve ir ao ar no domingo dia 22.
A reação
O governador Beto Richa (PSDB-PR) afirma que seu secretário Ricardo Barros "mentiu e foi desleal" ao dizer que ele só pagou o 13^ em função de um financiamento do Banco Mundial. Mas o secretário continua firme em suas funções.
UM MINISTRO DO GOVERNO conta que o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles, do PSD, está prontinho para voltar a ocupar um ministério.
A pressão dos candidatos do PT a governador Fernando Pimentel (MG) e Alexandre Padilha (SP) funcionou. A reforma ministerial foi empurrada para março. Sem mandato, eles precisam de um palco. O alvo de Padilha é chegar aos 13 mil médicos previstos no Mais Médicos. A meta de Pimentel é dar o pontapé inicial na negociação do acordo de livre comércio com a União Européia.
O vice de Aécio
O Solidariedade, a exemplo do DEM, não quer uma chapa pura do PSDB para o Planalto. Seu presidente, o deputado Paulo Pereira da Silva (SP), vai levar duas sugestões de vice ao candidato Aécio Neves. Uma delas é o atual presidente da Força Sindical, Miguel Torres. Ele é paulista, líder trabalhista e reforçaria a vacina do tucano no debate sobre a continuidade das políticas sociais.
A outra é o seu líder na Câmara, Fernando Francischini (PR). Ele é delegado da Polícia Federal e fortaleceria o compromisso com o resgate da ética e o combate à corrupção. O nome mais forte para vice é o senador Aloysio Nunes Ferreira(PSDB-SP).
"A triste verdade é que as empresas que doam aos partidos são exatamente as que têm grandes interesses no governo. Em política, não há almoço de graça"
Pedro Simon, senador (PMDB-RS), pela proibição do financiamento das campanhas por empresas privadas
Quem dá mais
O presidente da CNI, Robson Andrade (foto), recebe hoje o diretor-geral da OMC, Roberto Azevedo.
No almoço, presentes também duas dezenas de empresários de peso. Na mesa, as oportunidades após o histórico acordo de Bali, fechado no início de dezembro, que vai facilitar o comércio mundial. Há 19 anos não se produzia nenhum acordo.
Quem sabe?
Mesmo apoiando Aécio Neves no primeiro turno, no PSB se trabalha com a possibilidade de o prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda (PSB), virar candidato do PSDB ao governo mineiro.
Uma bancada de artistas
Os deputados do Rio subiram ao palco no jantar de fim de ano da Câmara na noite de terça-feira, em Brasília. Stepan Nercessian (PPS) fez piadas de improviso, inclusive imitando seus colegas. Jandira Feghali (PCdoB) entoou "Não deixe o samba morrer" Chico Alencar (PSOL) cantou "A Rita" e Jean Wyllys (PSOL) atacou de Chico César.
O espólio de Marina Silva
O PSDB encomendou pesquisa sobre eleição presidencial em Brasília. O resultado sinaliza que a presidente Dilma foi beneficiada com a saída de Marina Silva. Aécio Neves ficou no mesmo lugar.
Dilma na TV
As conquistâs sociais vão dar o tom da mensagem de fim de ano da presidente Dilma em rede de TV. O Mais Médicos, o êxito das concessões, como a do Galeão, e o leilão de Libra serão as estrelas. O programa deve ir ao ar no domingo dia 22.
A reação
O governador Beto Richa (PSDB-PR) afirma que seu secretário Ricardo Barros "mentiu e foi desleal" ao dizer que ele só pagou o 13^ em função de um financiamento do Banco Mundial. Mas o secretário continua firme em suas funções.
UM MINISTRO DO GOVERNO conta que o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles, do PSD, está prontinho para voltar a ocupar um ministério.
Pouso autorizado - VERA MAGALHÃES - PAINEL
FOLHA DE SP - 19/12
Enquanto o governo discutia a escolha do caça que será comprado para o projeto FX-2 da Força Aérea Brasileira, o prefeito Luiz Marinho (PT) acertou nos últimos meses com a sueca Saab os detalhes da abertura de uma nova fábrica da empresa em São Bernardo do Campo. Segundo o acordo, a planta começará a ser construída em 8 meses para produzir a asa e outros componentes do Gripen. O petista foi informado da decisão do governo no início da tarde de ontem e avisou os suecos.
Cronologia 1 Dilma Rousseff decidiu pelos caças suecos em novembro, mas aguardou a visita de François Hollande ao Brasil para fazer o anúncio. Auxiliares da presidente dizem que a decisão começou a ser amadurecida após seu discurso na ONU.
Cronologia 2 Por considerar a reação do governo dos EUA às denúncias de espionagem insuficientes, a presidente voltou ao Brasil decidida a definir a troca das aeronaves e o fez por exclusão, já que o modelo norte-americano era o favorito.
Slots No governo Lula, o hoje ministro da Defesa, Celso Amorim, e o então ministro Nelson Jobim defendiam a compra do caça francês Rafale. Agora, Fernando Pimentel (Desenvolvimento) advogava pelas aeronaves da Boeing.
Azarão Após o atrito entre Brasil e EUA, a Rússia fez chegar a emissários da presidente, no G-20, a ideia de colocar o caça Sukhoi na disputa, o que foi descartado, pois reabriria todo o processo.
Adeus, Mickey Dilma montou força-tarefa para monitorar o fluxo nos aeroportos no fim de ano e obrigou Moreira Franco (Aviação Civil) a cancelar viagem aos EUA.
Território Geraldo Magela, secretário-geral do PT, e Romênio Pereira levaram ao governo o nome de Biel Rocha para suceder Maria do Rosário na Secretaria de Direitos Humanos. Ele é secretário de Promoção da pasta.
Nova... O governo Geraldo Alckmin (PSDB) acatou determinação do Tribunal de Justiça de São Paulo e entrou com ação de indenização contra a Siemens e mais 13 empresas acusadas de formação de cartel em contratos de metrô e trem no Estado.
... investida A ação foi protocolada no dia 4, na 4ª Vara da Fazenda Pública de São Paulo. Alckmin decidiu incluir as outras empresas no processo como um gesto de que o governo está tomando atitudes para recuperar os valores que teriam sido superfaturados nos contratos.
Hedge O time jurídico de Alckmin vai retirar a ação caso o Cade, que apura as denúncias, não consiga comprovar a existência do conluio entre as empresas.
Agora vai Alckmin vai mergulhar nas atividades de pré-campanha de Aécio Neves (PSDB-MG) em São Paulo a partir do ano que vem, superada a disputa interna com José Serra. O senador tem eventos previstos no Estado no início de fevereiro.
Arauto Paulo Bernardo é cotado para assumir um dos postos-chave na coordenação de campanha de Dilma. Ele se licenciaria do Ministério das Comunicações e seria, nas palavras de um interlocutor do PT, "a pessoa que fala as coisas para a presidente".
Santo... Pesquisa do Vox Populi para o PT no Acre concluída anteontem mostra a dificuldade de Marina Silva transferir votos para Eduardo Campos (PSB) na disputa presidencial até o momento.
... de casa No Estado, base eleitoral da ex-senadora, Dilma tem 51% das intenções de voto, seguida por Aécio, com 16%. O governador de Pernambuco aparece em terceiro lugar, com apenas 9%.
com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN
tiroteio
"A aliança entre o PSB e a Rede é moderna. Comparada a um casamento, tem fidelidade na capital, mas pode trair quando viaja?"
DO SENADOR JORGE VIANA (PT-AC), sobre a flexibilização das alianças entre o partido de Eduardo Campos e o grupo de Marina Silva nos Estados em 2014.
contraponto
Aos 45 do 2º tempo
Roberto Freire (PPS) discursava na solenidade em que seu partido formalizou a intenção de apoiar a candidatura presidencial de Eduardo Campos (PSB), na segunda-feira, quando seu telefone celular tocou. Sem graça, o presidente da sigla se desculpou:
--É incrível... O telefone passou o dia sem tocar e, exatamente nessa hora, ele toca!
Um deputado na plateia fez piada:
--Deve ser o Aécio Neves tentando reverter a decisão do partido, ainda que na última hora! --disse o parlamentar, provocando gargalhadas.
Enquanto o governo discutia a escolha do caça que será comprado para o projeto FX-2 da Força Aérea Brasileira, o prefeito Luiz Marinho (PT) acertou nos últimos meses com a sueca Saab os detalhes da abertura de uma nova fábrica da empresa em São Bernardo do Campo. Segundo o acordo, a planta começará a ser construída em 8 meses para produzir a asa e outros componentes do Gripen. O petista foi informado da decisão do governo no início da tarde de ontem e avisou os suecos.
Cronologia 1 Dilma Rousseff decidiu pelos caças suecos em novembro, mas aguardou a visita de François Hollande ao Brasil para fazer o anúncio. Auxiliares da presidente dizem que a decisão começou a ser amadurecida após seu discurso na ONU.
Cronologia 2 Por considerar a reação do governo dos EUA às denúncias de espionagem insuficientes, a presidente voltou ao Brasil decidida a definir a troca das aeronaves e o fez por exclusão, já que o modelo norte-americano era o favorito.
Slots No governo Lula, o hoje ministro da Defesa, Celso Amorim, e o então ministro Nelson Jobim defendiam a compra do caça francês Rafale. Agora, Fernando Pimentel (Desenvolvimento) advogava pelas aeronaves da Boeing.
Azarão Após o atrito entre Brasil e EUA, a Rússia fez chegar a emissários da presidente, no G-20, a ideia de colocar o caça Sukhoi na disputa, o que foi descartado, pois reabriria todo o processo.
Adeus, Mickey Dilma montou força-tarefa para monitorar o fluxo nos aeroportos no fim de ano e obrigou Moreira Franco (Aviação Civil) a cancelar viagem aos EUA.
Território Geraldo Magela, secretário-geral do PT, e Romênio Pereira levaram ao governo o nome de Biel Rocha para suceder Maria do Rosário na Secretaria de Direitos Humanos. Ele é secretário de Promoção da pasta.
Nova... O governo Geraldo Alckmin (PSDB) acatou determinação do Tribunal de Justiça de São Paulo e entrou com ação de indenização contra a Siemens e mais 13 empresas acusadas de formação de cartel em contratos de metrô e trem no Estado.
... investida A ação foi protocolada no dia 4, na 4ª Vara da Fazenda Pública de São Paulo. Alckmin decidiu incluir as outras empresas no processo como um gesto de que o governo está tomando atitudes para recuperar os valores que teriam sido superfaturados nos contratos.
Hedge O time jurídico de Alckmin vai retirar a ação caso o Cade, que apura as denúncias, não consiga comprovar a existência do conluio entre as empresas.
Agora vai Alckmin vai mergulhar nas atividades de pré-campanha de Aécio Neves (PSDB-MG) em São Paulo a partir do ano que vem, superada a disputa interna com José Serra. O senador tem eventos previstos no Estado no início de fevereiro.
Arauto Paulo Bernardo é cotado para assumir um dos postos-chave na coordenação de campanha de Dilma. Ele se licenciaria do Ministério das Comunicações e seria, nas palavras de um interlocutor do PT, "a pessoa que fala as coisas para a presidente".
Santo... Pesquisa do Vox Populi para o PT no Acre concluída anteontem mostra a dificuldade de Marina Silva transferir votos para Eduardo Campos (PSB) na disputa presidencial até o momento.
... de casa No Estado, base eleitoral da ex-senadora, Dilma tem 51% das intenções de voto, seguida por Aécio, com 16%. O governador de Pernambuco aparece em terceiro lugar, com apenas 9%.
com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN
tiroteio
"A aliança entre o PSB e a Rede é moderna. Comparada a um casamento, tem fidelidade na capital, mas pode trair quando viaja?"
DO SENADOR JORGE VIANA (PT-AC), sobre a flexibilização das alianças entre o partido de Eduardo Campos e o grupo de Marina Silva nos Estados em 2014.
contraponto
Aos 45 do 2º tempo
Roberto Freire (PPS) discursava na solenidade em que seu partido formalizou a intenção de apoiar a candidatura presidencial de Eduardo Campos (PSB), na segunda-feira, quando seu telefone celular tocou. Sem graça, o presidente da sigla se desculpou:
--É incrível... O telefone passou o dia sem tocar e, exatamente nessa hora, ele toca!
Um deputado na plateia fez piada:
--Deve ser o Aécio Neves tentando reverter a decisão do partido, ainda que na última hora! --disse o parlamentar, provocando gargalhadas.
Operação amarra Eduardo - DENISE ROTHENBURG
CORREIO BRAZILIENSE - 19/12
Pernambuco virou uma obsessão do PT. Ao sair do Congresso, onde participou da sessão solene de devolução simbólica do mandato presidencial do ex-presidente João Goulart, a presidente Dilma Rousseff e o deputado João Paulo Lima (PT-PE) comentaram que “marcaram o território”. Na viagem com os ex-presidentes, Fernando Henrique Cardoso perguntou a Lula: “E Pernambuco?” A resposta do petista foi “vou me mudar para lá e só saio quando derrotar Eduardo”. Referia-se ao pré-candidato a presidente da República e atual governador, Eduardo Campos.
A estratégia do PT, em manter Lula em solo pernambucano por um tempo superior ao normal, é forçar Eduardo a ficar mais tempo no estado do que gostaria. Assim, o socialista não terá tanto espaço de agenda para percorrer o país conquistando corações e mentes que votaram no Partido dos Trabalhadores nas últimas três eleições. Afinal, o PT está convencido de que a campanha de Eduardo será em cima daqueles que até aqui fizeram de Lula e de Dilma presidentes da República.
O último sair é…
O período que antecede o carnaval será longo para os ministros que planejam concorrer às eleições de 2014. É que a presidente Dilma pretende fazer a reforma ministerial a conta-gotas. “Tenho um limite à direita e outro à esquerda. Nesse intervalo vai saindo”, disse ela.
“Estamos pra lá de atrasados nessa história dos caças. Enquanto os outros estão produzindo, nós vamos comprar de outros países”
Cristovam Buarque (PDT-DF), senador
Tudo adiado
O deputado Alfredo Kaefer (PSDB-PR) conseguiu quase que sozinho adiar a votação do Código de Processo Civil (CPC) para o ano que vem. Tudo por causa da penhora on-line. Integrante da comissão que analisou o texto, ele defende que esse recurso seja usado com mais parcimônia para evitar que as empresas tenham o capital de giro penhorado logo na primeira instância. Essa será uma das brigas de 2014.
O tempo foi curto…
… O assunto foi ficando para depois e… Terminou que ninguém perguntou sobre o escândalo do mensalão no café com a presidente Dilma. Para alegria do PT, o tema está perdendo fôlego.
Ele faltou
Antonio Dias Toffoli, sempre apresentado como o amigo dos petistas, não compareceu ao coquetel de Natal da presidente Dilma Rousseff. Reforçou assim a sensação de que a sua relação com o Planalto já viveu dias melhores.
CURTIDAS
História de Jango/ Na saída do Congresso ontem, o secretário de Cultura do Distrito Federal, Hamilton Pereira, interrompe uma conversa do deputado Alessandro Molon (PT-RJ) com a coluna: “Estou recuperando o projeto de construção do memorial João Goulart. Foi projetado por Niemeyer e ficou estacionado porque o governo anterior não queria. Vamos lançar a pedra fundamental em 1º de maio”, contou Pereira a Molon, autor do pedido para a sessão solene de ontem, para a devolução simbólica do mandato do ex-presidente. Molon prometeu ajudar e comparecer ao evento.
Antes do jogo… / As jogadoras de futebol feminino não escondiam a ansiedade por conta do atraso da audiência ontem com a presidente Dilma Rousseff. Tudo por causa do jogo de ontem contra o Canadá, no Mané Garrincha, marcado para as 21h50. Lá pelas tantas, enquanto esperava a presidente no Planalto, a atacante Marta (foto) brincou com o técnico Márcio Oliveira: “Hoje, pelo jeito, você não vai fazer preleção antes do jogo, né? Quem vai fazer é a presidente Dilma”.
$$$/ O senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) almoçou dia desses com o executivo da Ambev, Milton Seligman. Há quem diga que vem aí financiamento de campanha.
É natal, Dilma!/ Nem às vésperas do recesso, a presidente dá sossego aos assessores. No café com jornalistas, ela pediu um dado sobre o PIB. “Tenho memória visual e sei que o documento não está aqui.” Uma assessora, então, começou a procurar o papel: “Eu já lhe disse que não está aqui”, retrucou a chefe. “Está lá no meu computador. E não tem ninguém para pegar meu computador, né!?” Eis que lá vem Anderson, o secretário particular, com o laptop em mãos: “Agora não quero mais!”, respondeu, ríspida.
Pernambuco virou uma obsessão do PT. Ao sair do Congresso, onde participou da sessão solene de devolução simbólica do mandato presidencial do ex-presidente João Goulart, a presidente Dilma Rousseff e o deputado João Paulo Lima (PT-PE) comentaram que “marcaram o território”. Na viagem com os ex-presidentes, Fernando Henrique Cardoso perguntou a Lula: “E Pernambuco?” A resposta do petista foi “vou me mudar para lá e só saio quando derrotar Eduardo”. Referia-se ao pré-candidato a presidente da República e atual governador, Eduardo Campos.
A estratégia do PT, em manter Lula em solo pernambucano por um tempo superior ao normal, é forçar Eduardo a ficar mais tempo no estado do que gostaria. Assim, o socialista não terá tanto espaço de agenda para percorrer o país conquistando corações e mentes que votaram no Partido dos Trabalhadores nas últimas três eleições. Afinal, o PT está convencido de que a campanha de Eduardo será em cima daqueles que até aqui fizeram de Lula e de Dilma presidentes da República.
O último sair é…
O período que antecede o carnaval será longo para os ministros que planejam concorrer às eleições de 2014. É que a presidente Dilma pretende fazer a reforma ministerial a conta-gotas. “Tenho um limite à direita e outro à esquerda. Nesse intervalo vai saindo”, disse ela.
“Estamos pra lá de atrasados nessa história dos caças. Enquanto os outros estão produzindo, nós vamos comprar de outros países”
Cristovam Buarque (PDT-DF), senador
Tudo adiado
O deputado Alfredo Kaefer (PSDB-PR) conseguiu quase que sozinho adiar a votação do Código de Processo Civil (CPC) para o ano que vem. Tudo por causa da penhora on-line. Integrante da comissão que analisou o texto, ele defende que esse recurso seja usado com mais parcimônia para evitar que as empresas tenham o capital de giro penhorado logo na primeira instância. Essa será uma das brigas de 2014.
O tempo foi curto…
… O assunto foi ficando para depois e… Terminou que ninguém perguntou sobre o escândalo do mensalão no café com a presidente Dilma. Para alegria do PT, o tema está perdendo fôlego.
Ele faltou
Antonio Dias Toffoli, sempre apresentado como o amigo dos petistas, não compareceu ao coquetel de Natal da presidente Dilma Rousseff. Reforçou assim a sensação de que a sua relação com o Planalto já viveu dias melhores.
CURTIDAS
História de Jango/ Na saída do Congresso ontem, o secretário de Cultura do Distrito Federal, Hamilton Pereira, interrompe uma conversa do deputado Alessandro Molon (PT-RJ) com a coluna: “Estou recuperando o projeto de construção do memorial João Goulart. Foi projetado por Niemeyer e ficou estacionado porque o governo anterior não queria. Vamos lançar a pedra fundamental em 1º de maio”, contou Pereira a Molon, autor do pedido para a sessão solene de ontem, para a devolução simbólica do mandato do ex-presidente. Molon prometeu ajudar e comparecer ao evento.
Antes do jogo… / As jogadoras de futebol feminino não escondiam a ansiedade por conta do atraso da audiência ontem com a presidente Dilma Rousseff. Tudo por causa do jogo de ontem contra o Canadá, no Mané Garrincha, marcado para as 21h50. Lá pelas tantas, enquanto esperava a presidente no Planalto, a atacante Marta (foto) brincou com o técnico Márcio Oliveira: “Hoje, pelo jeito, você não vai fazer preleção antes do jogo, né? Quem vai fazer é a presidente Dilma”.
$$$/ O senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) almoçou dia desses com o executivo da Ambev, Milton Seligman. Há quem diga que vem aí financiamento de campanha.
É natal, Dilma!/ Nem às vésperas do recesso, a presidente dá sossego aos assessores. No café com jornalistas, ela pediu um dado sobre o PIB. “Tenho memória visual e sei que o documento não está aqui.” Uma assessora, então, começou a procurar o papel: “Eu já lhe disse que não está aqui”, retrucou a chefe. “Está lá no meu computador. E não tem ninguém para pegar meu computador, né!?” Eis que lá vem Anderson, o secretário particular, com o laptop em mãos: “Agora não quero mais!”, respondeu, ríspida.
MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO
FOLHA DE SP - 19/12
Taxa antidumping sobre cadeado chinês é mantida
A indústria nacional de cadeados obteve a prorrogação da validade da medida antidumping sobre os produtos provenientes da China.
Com a decisão, cada cadeado importado do país asiático continuará recebendo a sobretaxa de US$ 3,56 (aproximadamente R$ 8,34).
A mercadoria é alvo da medida desde 1995, depois que as empresas nacionais Papaiz e Pado, principais fabricantes do setor, solicitaram a investigação de dumping.
A prática é caracterizada quando o artigo é vendido com preço abaixo do praticado no país de origem.
"Isso é concorrência desleal. A indústria tem de usar os meios legais que existem para se defender e foi o que fizemos, respeitando as normas internacionais", afirma a empresária Sandra Papaiz, presidente do grupo Papaiz.
Desde que a ação protetiva entrou em vigor, em 1995, ela já havia sido prorrogada outras duas vezes, em 2001 e 2006. Com a extensão atual, a sobretaxa valerá pelos próximos cinco anos.
Dessa vez, os fabricantes nacionais também protocolaram uma denúncia de origem contra as empresas chinesas, com o argumento de que elas estavam triangulando suas mercadorias por intermédio da Malásia.
O objetivo era escapar da alíquota antidumping ao enviar os cadeados ao Brasil.
"Fomos verificar e descobrimos que a Malásia não fabrica, eram produtos chineses que entravam no país como se fossem malaios", afirma Sandra.
O governo reteve a entrada dos cadeados malaios para que a sobretaxa seja regularmente aplicada.
Maioria das agências de turismo projeta alta no verão
Quase a metade das agências e operadoras acredita que a movimentação de turistas será maior na atual temporada de verão, na comparação com o período anterior, segundo o Sindetur-SP (sindicato paulista do setor).
As empresas otimistas representam 45,2% das 368 que foram ouvidas na pesquisa.
"Entre os motivos [para o aumento] está a antecipação de viagens que seriam feitas apenas nas férias de julho. Isso tem ocorrido por influência da Copa", diz Marciano Freire, do Ipeturis, responsável pelo levantamento.
Para 24,7% das companhias entrevistadas, no entanto, a temporada será de recuo na movimentação.
Entre as empresas que estão nesse grupo, os preços mais altos de pacotes e passagens e o câmbio desfavorável foram citados como as maiores razões para a baixa.
O incremento nos custos dos serviços turísticos é apontado como uma das consequências da realização do Mundial no país.
A pesquisa mostrou ainda um certo equilíbrio entre a preferência por destinos nacionais (49,3% dos ouvidos) e estrangeiros (50,7%).
Dentro do país, as localidades mais citadas foram Fortaleza, Rio de Janeiro, Natal, e Maceió. Os principais destinos internacionais são Orlando, Paris, Miami, Buenos Aires e Nova York.
CHAVE PARA A EXPANSÃO
Puxado principalmente pelo segmento de acessórios para esquadrias de alumínio, o grupo Papaiz projeta crescer 15% em 2014. As linhas de cadeados e fechaduras devem avançar em um ritmo um pouco menor.
A companhia fechará 2013 com alta de 12% e um faturamento de R$ 220 milhões.
"Há regiões onde a construção civil permanece bem aquecida, como o Nordeste e o Centro-Oeste", afirma a presidente, Sandra Papaiz.
"Na Udinese, nossa fábrica que faz peças para esquadrias de alumínio, a produção já está vendida até março", diz a empresária.
Neste ano, a empresa investiu cerca de R$ 25 milhões para automatizar processos fabris nas plantas de Diadema (SP) e Salvador (BA), de acordo com ela.
1.150
é o número de funcionários do grupo, que tem fábricas em São Paulo e na Bahia
Finança estagnada
O ano de 2013 não trouxe mudanças significativas para as economias dos canadenses, segundo um levantamento realizado pela Ipsos.
A maioria dos entrevistados (57%) afirmou não estar melhor financeiramente do que estava há um ano. Quase 40% acreditam que sua situação econômica hoje é superior à de 2012.
Quando analisados demograficamente, as mulheres são as mais propensas (61%) a dizer que melhoraram suas economias neste ano na comparação com 2012.
A população com mais de 55 anos, entretanto, foi a mais pessimista quanto à condição de suas finanças em 2013.
Os entrevistados que perceberam uma melhora econômica foram os mais propensos (69%) a quitar as despesas de casa.
O estudo ouviu 1.234 pessoas. A margem de erro do levantamento é de três pontos percentuais para mais ou para menos.
LARGADA PARA START-UPS
O Fundo Inovação Paulista, que prevê investimento de mais de R$ 100 milhões no Estado, realizou ontem a primeira reunião entre os investidores da Desenvolve SP, da Fapesp, da Finep, do Sebrae-SP e da Caixa Andina de Fomento (CAF).
Com o encontro, a gestora SP Ventures começa a fase de captação das empresas.
O fundo, criado pelo governo paulista para apoiar empresas em estágio inicial, vai priorizar projetos em tecnologia, nanotecnologia, fotônica e ciências da vida.
Opções... A mesa de operações da XP bateu o seu recorde de volume na Bovespa ontem. Foi o melhor desempenho da empresa em 12 anos.
... à mesa Foram negociados em pré-exercício de opções de ações R$ 2.4 bilhões. O segundo colocado, o UBS, negociou R$ 1.4 bilhão no dia.
Taxa antidumping sobre cadeado chinês é mantida
A indústria nacional de cadeados obteve a prorrogação da validade da medida antidumping sobre os produtos provenientes da China.
Com a decisão, cada cadeado importado do país asiático continuará recebendo a sobretaxa de US$ 3,56 (aproximadamente R$ 8,34).
A mercadoria é alvo da medida desde 1995, depois que as empresas nacionais Papaiz e Pado, principais fabricantes do setor, solicitaram a investigação de dumping.
A prática é caracterizada quando o artigo é vendido com preço abaixo do praticado no país de origem.
"Isso é concorrência desleal. A indústria tem de usar os meios legais que existem para se defender e foi o que fizemos, respeitando as normas internacionais", afirma a empresária Sandra Papaiz, presidente do grupo Papaiz.
Desde que a ação protetiva entrou em vigor, em 1995, ela já havia sido prorrogada outras duas vezes, em 2001 e 2006. Com a extensão atual, a sobretaxa valerá pelos próximos cinco anos.
Dessa vez, os fabricantes nacionais também protocolaram uma denúncia de origem contra as empresas chinesas, com o argumento de que elas estavam triangulando suas mercadorias por intermédio da Malásia.
O objetivo era escapar da alíquota antidumping ao enviar os cadeados ao Brasil.
"Fomos verificar e descobrimos que a Malásia não fabrica, eram produtos chineses que entravam no país como se fossem malaios", afirma Sandra.
O governo reteve a entrada dos cadeados malaios para que a sobretaxa seja regularmente aplicada.
Maioria das agências de turismo projeta alta no verão
Quase a metade das agências e operadoras acredita que a movimentação de turistas será maior na atual temporada de verão, na comparação com o período anterior, segundo o Sindetur-SP (sindicato paulista do setor).
As empresas otimistas representam 45,2% das 368 que foram ouvidas na pesquisa.
"Entre os motivos [para o aumento] está a antecipação de viagens que seriam feitas apenas nas férias de julho. Isso tem ocorrido por influência da Copa", diz Marciano Freire, do Ipeturis, responsável pelo levantamento.
Para 24,7% das companhias entrevistadas, no entanto, a temporada será de recuo na movimentação.
Entre as empresas que estão nesse grupo, os preços mais altos de pacotes e passagens e o câmbio desfavorável foram citados como as maiores razões para a baixa.
O incremento nos custos dos serviços turísticos é apontado como uma das consequências da realização do Mundial no país.
A pesquisa mostrou ainda um certo equilíbrio entre a preferência por destinos nacionais (49,3% dos ouvidos) e estrangeiros (50,7%).
Dentro do país, as localidades mais citadas foram Fortaleza, Rio de Janeiro, Natal, e Maceió. Os principais destinos internacionais são Orlando, Paris, Miami, Buenos Aires e Nova York.
CHAVE PARA A EXPANSÃO
Puxado principalmente pelo segmento de acessórios para esquadrias de alumínio, o grupo Papaiz projeta crescer 15% em 2014. As linhas de cadeados e fechaduras devem avançar em um ritmo um pouco menor.
A companhia fechará 2013 com alta de 12% e um faturamento de R$ 220 milhões.
"Há regiões onde a construção civil permanece bem aquecida, como o Nordeste e o Centro-Oeste", afirma a presidente, Sandra Papaiz.
"Na Udinese, nossa fábrica que faz peças para esquadrias de alumínio, a produção já está vendida até março", diz a empresária.
Neste ano, a empresa investiu cerca de R$ 25 milhões para automatizar processos fabris nas plantas de Diadema (SP) e Salvador (BA), de acordo com ela.
1.150
é o número de funcionários do grupo, que tem fábricas em São Paulo e na Bahia
Finança estagnada
O ano de 2013 não trouxe mudanças significativas para as economias dos canadenses, segundo um levantamento realizado pela Ipsos.
A maioria dos entrevistados (57%) afirmou não estar melhor financeiramente do que estava há um ano. Quase 40% acreditam que sua situação econômica hoje é superior à de 2012.
Quando analisados demograficamente, as mulheres são as mais propensas (61%) a dizer que melhoraram suas economias neste ano na comparação com 2012.
A população com mais de 55 anos, entretanto, foi a mais pessimista quanto à condição de suas finanças em 2013.
Os entrevistados que perceberam uma melhora econômica foram os mais propensos (69%) a quitar as despesas de casa.
O estudo ouviu 1.234 pessoas. A margem de erro do levantamento é de três pontos percentuais para mais ou para menos.
LARGADA PARA START-UPS
O Fundo Inovação Paulista, que prevê investimento de mais de R$ 100 milhões no Estado, realizou ontem a primeira reunião entre os investidores da Desenvolve SP, da Fapesp, da Finep, do Sebrae-SP e da Caixa Andina de Fomento (CAF).
Com o encontro, a gestora SP Ventures começa a fase de captação das empresas.
O fundo, criado pelo governo paulista para apoiar empresas em estágio inicial, vai priorizar projetos em tecnologia, nanotecnologia, fotônica e ciências da vida.
Opções... A mesa de operações da XP bateu o seu recorde de volume na Bovespa ontem. Foi o melhor desempenho da empresa em 12 anos.
... à mesa Foram negociados em pré-exercício de opções de ações R$ 2.4 bilhões. O segundo colocado, o UBS, negociou R$ 1.4 bilhão no dia.
Maconheiro liberal - CARLOS ALBERTO SARDENBERG
O GLOBO - 19/12
No Uruguai, onde a legalização é uma iniciativa da esquerda, o governo quer fazer um tipo de política pública
Um conservador de verdade deve ser a favor ou contra a legalização da maconha? Depende, isso pelo menos nos Estados Unidos — onde, aliás, em janeiro agora, entra em vigor a legalização do plantio, processamento e venda nos estados de Colorado e Washington.
O conservador social foi contra. O argumento é ético e religioso. O uso da droga é considerado um desvio moral e um pecado, assim como, por exemplo, a homossexualidade ou a prática do aborto. Aqui se encontrou a ala mais direitista do Partido Republicano.
Já o conservador fiscal foi a favor. Para este lado, a liberdade individual é o valor dominante. Radicalizando, se a pessoa quiser fumar um baseado, ninguém tem nada com isso, desde que não prejudique a liberdade, os direitos dos outros e a vida em sociedade. E que também faça o que quiser de seu corpo, nas mesmas condições
Deste lado do mundo e também na Europa, esse é o legítimo ponto de vista liberal. Sempre que se apresenta a escolha entre uma obrigação coletiva e a liberdade individual, prevalece esta última. Por exemplo: o voto não pode ser uma obrigação social ou política, mas um direito que a pessoa exerce ou não conforme sua vontade.
Mas por que nos EUA, em meio ao debate sobre a legalização da maconha, se recorreu a essa designação de “conservador fiscal”? Por causa dos impostos.
O conservador fiscal pensa assim: o governo está perdendo a guerra contra as drogas, embora gaste um caminhão de dinheiro nisso, tanto nas operações policiais quanto nos cuidados com as doenças (físicas, psíquicas e sociais) resultantes do uso dos entorpecentes.
Logo, convém legalizar a coisa e cobrar impostos pesados em toda essa operação.
De fato, no estado de Washington, por exemplo, o governo local está dividindo o setor econômico da marijuana em três fases: produção (plantio), processamento e venda no varejo. Planeja cobrar 25% de imposto (valor agregado, tipo ICMS) na passagem de cada fase. Prefeituras também poderão cobrar taxas adicionais na produção e no varejo.
Tudo considerado, o Departamento de Controle do Álcool do governo de Washington estima que o preço do grama de maconha pura vai chegar ao consumidor final por 12 dólares, fora as eventuais taxas municipais.
Já no Uruguai, que também legalizará a maconha no ano que vem, o governo estima que o preço deve ser de um dólar por grama, da “melhor qualidade”, como assegurou o ministro da Saúde.
Preço é crucial, pois se for muito caro abre espaço de novo para o tráfico ilegal.
E assim, para se ver como o assunto é complicado, a legalização da maconha, em toda parte, juntou conservadores fiscais, conservadores liberais, liberais puros, mais o pessoal da esquerda liberal e os — como dizer? — remanescentes de Woodstock?
Cada um tem seu motivo: a liberdade individual; tirar um peso do Estado; acabar com a violência e a corrupção da guerra ao tráfico; livrar os não usuários da droga, a grande maioria, claro, dos custos provocados pelos usuários; e, afinal, tirar um barato.
Já o processo de legalização divide as opiniões de novo. No Uruguai, por exemplo, onde a legalização é uma iniciativa da esquerda, o governo quer fazer um tipo de política pública. Tudo tem que ser controlado pelo Estado, desde o plantio até a venda. Até o usuário, para ter o direito de comprar seu bagulho, precisa se registrar no departamento competente. É o barato estatizado e baratinho.
Já nos EUA, a tendência é inversa. O barato será caro. Imposto neles! O negócio será regulado e fiscalizado pelo Estado, como se faz com álcool e tabaco, mas toda produção, distribuição e consumo serão privados. A empresa precisará de licença para atuar no ramo. O governo poderá limitar o número de licenças, mas não negá-la a uma empresa legalmente constituída. Se houver mais pedidos de licença do que o definido em lei? Sorteio.
Tudo considerado, são experiências em andamento. A rigor, ninguém sabe exatamente como a coisa vai funcionar. O Washington State Liquor Control Board traz na sua página (lcb.wa.gov) um FAQ sobre o processo de legalização.
Lá se diz, por exemplo, que a receita estimada com o imposto de marijuana varia de “zero a US$ 2 bilhões em cinco anos”. Por que tanta disparidade? Porque não se sabe o tamanho real do mercado, nem qual a reação do governo federal, pois a legalização é apenas uma lei estadual.
Isso mesmo, o cidadão do Colorado e de Washington pode ser autorizado a produzir, vender, comprar e fumar um baseado pela lei estadual e preso por isso mesmo pela federal.
Mais confusão à vista. De todo modo, o governo de Washington informa que está contratando 35 funcionários para trabalhar no sistema de licenciamento e fiscalização da marijuana. E avisa: o Departamento é “local de trabalho livre de drogas”. Os candidatos serão testados para qualquer droga, incluindo marijuana.
No Uruguai, onde a legalização é uma iniciativa da esquerda, o governo quer fazer um tipo de política pública
Um conservador de verdade deve ser a favor ou contra a legalização da maconha? Depende, isso pelo menos nos Estados Unidos — onde, aliás, em janeiro agora, entra em vigor a legalização do plantio, processamento e venda nos estados de Colorado e Washington.
O conservador social foi contra. O argumento é ético e religioso. O uso da droga é considerado um desvio moral e um pecado, assim como, por exemplo, a homossexualidade ou a prática do aborto. Aqui se encontrou a ala mais direitista do Partido Republicano.
Já o conservador fiscal foi a favor. Para este lado, a liberdade individual é o valor dominante. Radicalizando, se a pessoa quiser fumar um baseado, ninguém tem nada com isso, desde que não prejudique a liberdade, os direitos dos outros e a vida em sociedade. E que também faça o que quiser de seu corpo, nas mesmas condições
Deste lado do mundo e também na Europa, esse é o legítimo ponto de vista liberal. Sempre que se apresenta a escolha entre uma obrigação coletiva e a liberdade individual, prevalece esta última. Por exemplo: o voto não pode ser uma obrigação social ou política, mas um direito que a pessoa exerce ou não conforme sua vontade.
Mas por que nos EUA, em meio ao debate sobre a legalização da maconha, se recorreu a essa designação de “conservador fiscal”? Por causa dos impostos.
O conservador fiscal pensa assim: o governo está perdendo a guerra contra as drogas, embora gaste um caminhão de dinheiro nisso, tanto nas operações policiais quanto nos cuidados com as doenças (físicas, psíquicas e sociais) resultantes do uso dos entorpecentes.
Logo, convém legalizar a coisa e cobrar impostos pesados em toda essa operação.
De fato, no estado de Washington, por exemplo, o governo local está dividindo o setor econômico da marijuana em três fases: produção (plantio), processamento e venda no varejo. Planeja cobrar 25% de imposto (valor agregado, tipo ICMS) na passagem de cada fase. Prefeituras também poderão cobrar taxas adicionais na produção e no varejo.
Tudo considerado, o Departamento de Controle do Álcool do governo de Washington estima que o preço do grama de maconha pura vai chegar ao consumidor final por 12 dólares, fora as eventuais taxas municipais.
Já no Uruguai, que também legalizará a maconha no ano que vem, o governo estima que o preço deve ser de um dólar por grama, da “melhor qualidade”, como assegurou o ministro da Saúde.
Preço é crucial, pois se for muito caro abre espaço de novo para o tráfico ilegal.
E assim, para se ver como o assunto é complicado, a legalização da maconha, em toda parte, juntou conservadores fiscais, conservadores liberais, liberais puros, mais o pessoal da esquerda liberal e os — como dizer? — remanescentes de Woodstock?
Cada um tem seu motivo: a liberdade individual; tirar um peso do Estado; acabar com a violência e a corrupção da guerra ao tráfico; livrar os não usuários da droga, a grande maioria, claro, dos custos provocados pelos usuários; e, afinal, tirar um barato.
Já o processo de legalização divide as opiniões de novo. No Uruguai, por exemplo, onde a legalização é uma iniciativa da esquerda, o governo quer fazer um tipo de política pública. Tudo tem que ser controlado pelo Estado, desde o plantio até a venda. Até o usuário, para ter o direito de comprar seu bagulho, precisa se registrar no departamento competente. É o barato estatizado e baratinho.
Já nos EUA, a tendência é inversa. O barato será caro. Imposto neles! O negócio será regulado e fiscalizado pelo Estado, como se faz com álcool e tabaco, mas toda produção, distribuição e consumo serão privados. A empresa precisará de licença para atuar no ramo. O governo poderá limitar o número de licenças, mas não negá-la a uma empresa legalmente constituída. Se houver mais pedidos de licença do que o definido em lei? Sorteio.
Tudo considerado, são experiências em andamento. A rigor, ninguém sabe exatamente como a coisa vai funcionar. O Washington State Liquor Control Board traz na sua página (lcb.wa.gov) um FAQ sobre o processo de legalização.
Lá se diz, por exemplo, que a receita estimada com o imposto de marijuana varia de “zero a US$ 2 bilhões em cinco anos”. Por que tanta disparidade? Porque não se sabe o tamanho real do mercado, nem qual a reação do governo federal, pois a legalização é apenas uma lei estadual.
Isso mesmo, o cidadão do Colorado e de Washington pode ser autorizado a produzir, vender, comprar e fumar um baseado pela lei estadual e preso por isso mesmo pela federal.
Mais confusão à vista. De todo modo, o governo de Washington informa que está contratando 35 funcionários para trabalhar no sistema de licenciamento e fiscalização da marijuana. E avisa: o Departamento é “local de trabalho livre de drogas”. Os candidatos serão testados para qualquer droga, incluindo marijuana.
A Kombi, no tapetão - CELSO MING
O Estado de S.Paulo - 19/12
A coluna de hoje começa com um assunto e termina com outro.
O primeiro está sintetizado no título acima. Tanto foi bom e moralizador manter em 1º de janeiro a data-base para a entrada em vigor das novas exigências de segurança nos veículos de fabricação nacional quanto foi vexatória e desmoralizadora a proposta de criar um tapetão especial para abrir uma exceção para a cinquentona Kombi (após o fechamento da coluna, o Contran anunciou recusa do pedido).
Não há justificativa séria para isso. A Volkswagen já havia anunciado oficialmente a "descontinuação" da produção do modelo para a qual teve cinco anos para se preparar.
Estudo do Centro de Experimentação e Segurança Viária concluiu que ao menos 500 mortes e 10,1 mil ferimentos seriam evitados por ano se todos os veículos brasileiros possuíssem airbag.
Empurrar mais prazo para tirar a Kombi das linhas de montagem, em nome de preservação provisória de empregos ou de contenção da inflação, é o mesmo que permitir a comercialização de remédios com prazo vencido.
É também incompreensível que a Volkswagen mantenha as vendas de um produto condenado por razões de segurança. Na Alemanha, país-sede da Volks, um despropósito dessas proporções não seria tolerado.
Afora isso, parece óbvio que, além do risco para sua própria segurança, os eventuais novos compradores dessas Kombis "Jesus-está-chamando" enfrentarão queda mais rápida do valor de revenda de seus veículos. O argumento de que é preciso favorecer o comprador de menor poder aquisitivo também não cola. Que banco se disporá a financiar a compra de um produto sujeito a forte deterioração da garantia? Enfim, essa é também uma questão de marketing e a Volks deve ter noção disso.
O outro tema desta coluna é o crescimento rápido do rombo nas contas externas, os números que compõem receitas e despesas do País com comércio exterior de mercadorias e serviços, mais transferências unilaterais de recursos. O ano passado terminou com um déficit externo de US$ 54,2 bilhões, ou 2,4% do PIB. Neste ano, saltará para algo em torno dos US$ 78 bilhões, 3,5% do PIB, nada menos que 44,0% maior do que o do ano anterior (veja, ainda, o gráfico).
Por enquanto, esse déficit está sendo em boa parte coberto com Investimentos Estrangeiros Diretos (IEDs) - veja o Confira. O governo vê os US$ 63 bilhões que estão entrando neste ano como prova de confiança na política econômica do Brasil. Mas a maior parte desses recursos ou é de empréstimos entre matrizes estrangeiras e filiais ou pagamento de bônus de assinatura de leilões de concessão, como foi, em novembro, o caso das reservas de Libra.
O alargamento do déficit em conta corrente reflete consumo além da capacidade das pernas do brasileiro. São cada vez mais importações de bens e serviços, destinados a suprir a insuficiência da oferta da produção interna. Esse forte consumo, por sua vez, tem a ver com a disparada das despesas públicas do governo federal, que estão crescendo ao ritmo de 14% ao ano.
A coluna de hoje começa com um assunto e termina com outro.
O primeiro está sintetizado no título acima. Tanto foi bom e moralizador manter em 1º de janeiro a data-base para a entrada em vigor das novas exigências de segurança nos veículos de fabricação nacional quanto foi vexatória e desmoralizadora a proposta de criar um tapetão especial para abrir uma exceção para a cinquentona Kombi (após o fechamento da coluna, o Contran anunciou recusa do pedido).
Não há justificativa séria para isso. A Volkswagen já havia anunciado oficialmente a "descontinuação" da produção do modelo para a qual teve cinco anos para se preparar.
Estudo do Centro de Experimentação e Segurança Viária concluiu que ao menos 500 mortes e 10,1 mil ferimentos seriam evitados por ano se todos os veículos brasileiros possuíssem airbag.
Empurrar mais prazo para tirar a Kombi das linhas de montagem, em nome de preservação provisória de empregos ou de contenção da inflação, é o mesmo que permitir a comercialização de remédios com prazo vencido.
É também incompreensível que a Volkswagen mantenha as vendas de um produto condenado por razões de segurança. Na Alemanha, país-sede da Volks, um despropósito dessas proporções não seria tolerado.
Afora isso, parece óbvio que, além do risco para sua própria segurança, os eventuais novos compradores dessas Kombis "Jesus-está-chamando" enfrentarão queda mais rápida do valor de revenda de seus veículos. O argumento de que é preciso favorecer o comprador de menor poder aquisitivo também não cola. Que banco se disporá a financiar a compra de um produto sujeito a forte deterioração da garantia? Enfim, essa é também uma questão de marketing e a Volks deve ter noção disso.
O outro tema desta coluna é o crescimento rápido do rombo nas contas externas, os números que compõem receitas e despesas do País com comércio exterior de mercadorias e serviços, mais transferências unilaterais de recursos. O ano passado terminou com um déficit externo de US$ 54,2 bilhões, ou 2,4% do PIB. Neste ano, saltará para algo em torno dos US$ 78 bilhões, 3,5% do PIB, nada menos que 44,0% maior do que o do ano anterior (veja, ainda, o gráfico).
Por enquanto, esse déficit está sendo em boa parte coberto com Investimentos Estrangeiros Diretos (IEDs) - veja o Confira. O governo vê os US$ 63 bilhões que estão entrando neste ano como prova de confiança na política econômica do Brasil. Mas a maior parte desses recursos ou é de empréstimos entre matrizes estrangeiras e filiais ou pagamento de bônus de assinatura de leilões de concessão, como foi, em novembro, o caso das reservas de Libra.
O alargamento do déficit em conta corrente reflete consumo além da capacidade das pernas do brasileiro. São cada vez mais importações de bens e serviços, destinados a suprir a insuficiência da oferta da produção interna. Esse forte consumo, por sua vez, tem a ver com a disparada das despesas públicas do governo federal, que estão crescendo ao ritmo de 14% ao ano.
Ainda tem muito jogo nos EUA - VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP - 19/12
Começo do fim do estímulo monetário por ora nem de longe reduz incertezas e risco de tumulto
O GOVERNO estava "extremamente preparado" para a mudança da política econômica americana (palavras de Dilma Rousseff). O "mercado" brasileiro tinha "precificado" a decisão do banco central americano, o Fed (isto é, taxas de juros e câmbio, por exemplo, já seriam negociados como se a mudança esperada tivesse ocorrido).
Isto é, donos do dinheiro e governo estariam preparados para o começo do fim do programa de despejo de dinheiro do Fed na economia dos EUA, que começou ontem a conta-gotinhas. A partir de 2014, o Fed vai comprar menos dívida privada e pública, programa que ajudou a reduzir os juros de longo prazo.
Ainda que fosse verdade ou desse para levar muito sério esse tipo de afirmação dos "preparados", o BC dos EUA, o Fed, anunciou ontem que seu programa só acaba quando termina, que a história ainda vai durar muito tempo e que o pouso será suavíssimo, mas sujeito a arremetidas e mudanças de rota a fim de aumentar a segurança do procedimento.
Ou seja, além das incertezas do efeito mesmo do início do fim do programa de estímulos à economia, surgiram novas oportunidades de especulação sobre o ritmo de fechamento da torneira monetária americana.
O Fed até que está animado com o crescimento da economia em 2014, que estima em 3%. Mas está cismado com a inflação baixa demais (sinal de algum tipo de anemia econômica) e com o desemprego ainda alto demais.
Sugeriu, pois, que: 1) A taxa de juros de curto prazo, a taxa "básica" deles, deve ficar em zero até 2015, pelo menos (até bem depois que o desemprego baixe de 6,5%). Ou seja, o que tira com uma mão agora dá com outra no futuro; 2) Pretende reduzir paulatinamente a compra de títulos de dívida no mercado, talvez até dando cabo do programa no final de 2014. Mas tudo vai depender do ritmo da economia: da inflação e do emprego.
E nós com isso?
A taxa de juros de longo prazo dos EUA tende a aumentar paulatinamente. Até agora, a alta dos juros americanos (títulos de dez anos) foi acompanhada passo a passo pela alta do dólar, relação que ficou estremecida apenas pela intervenção do BC brasileiro no mercado.
Se a relação vai continuar tão estreita, é difícil dizer. Depende das intervenções do BC em 2014, do efeito da alta dos juros brasileiros, da gestão econômica do governo. Mas é certo que o dólar vai ficar mais caro; os juros, ao menos um tico adicional mais altos.
Há mais incertezas. Em qual ritmo o mercado americano vai chutar os juros deles para cima? Qual o efeito disso na atividade econômica (que será favorecida por alguma folga fiscal em 2014)?
Vai haver "acidentes"? Com juros baixíssimos, a taxa de calote das empresas baixou. Vai continuar assim? As empresas boas inflaram suas margens de lucro com a redução do custo financeiro (e demissões e queda dos salários). A festa vai continuar? Dado o ritmo suavíssimo de redução dos estímulos, as Bolsas americanas vão desenvolver bolhas?
Vai haver tumultos devido à flutuação de dados e expectativas de crescimento dos EUA, o que poderia modificar o ritmo do Fed? Haverá problemas nos "emergentes" mais frágeis, o que pode nos contaminar (se é que o problema não vai acontecer mesmo conosco)?
Difícil estar bem preparado para tantas possibilidades.
Começo do fim do estímulo monetário por ora nem de longe reduz incertezas e risco de tumulto
O GOVERNO estava "extremamente preparado" para a mudança da política econômica americana (palavras de Dilma Rousseff). O "mercado" brasileiro tinha "precificado" a decisão do banco central americano, o Fed (isto é, taxas de juros e câmbio, por exemplo, já seriam negociados como se a mudança esperada tivesse ocorrido).
Isto é, donos do dinheiro e governo estariam preparados para o começo do fim do programa de despejo de dinheiro do Fed na economia dos EUA, que começou ontem a conta-gotinhas. A partir de 2014, o Fed vai comprar menos dívida privada e pública, programa que ajudou a reduzir os juros de longo prazo.
Ainda que fosse verdade ou desse para levar muito sério esse tipo de afirmação dos "preparados", o BC dos EUA, o Fed, anunciou ontem que seu programa só acaba quando termina, que a história ainda vai durar muito tempo e que o pouso será suavíssimo, mas sujeito a arremetidas e mudanças de rota a fim de aumentar a segurança do procedimento.
Ou seja, além das incertezas do efeito mesmo do início do fim do programa de estímulos à economia, surgiram novas oportunidades de especulação sobre o ritmo de fechamento da torneira monetária americana.
O Fed até que está animado com o crescimento da economia em 2014, que estima em 3%. Mas está cismado com a inflação baixa demais (sinal de algum tipo de anemia econômica) e com o desemprego ainda alto demais.
Sugeriu, pois, que: 1) A taxa de juros de curto prazo, a taxa "básica" deles, deve ficar em zero até 2015, pelo menos (até bem depois que o desemprego baixe de 6,5%). Ou seja, o que tira com uma mão agora dá com outra no futuro; 2) Pretende reduzir paulatinamente a compra de títulos de dívida no mercado, talvez até dando cabo do programa no final de 2014. Mas tudo vai depender do ritmo da economia: da inflação e do emprego.
E nós com isso?
A taxa de juros de longo prazo dos EUA tende a aumentar paulatinamente. Até agora, a alta dos juros americanos (títulos de dez anos) foi acompanhada passo a passo pela alta do dólar, relação que ficou estremecida apenas pela intervenção do BC brasileiro no mercado.
Se a relação vai continuar tão estreita, é difícil dizer. Depende das intervenções do BC em 2014, do efeito da alta dos juros brasileiros, da gestão econômica do governo. Mas é certo que o dólar vai ficar mais caro; os juros, ao menos um tico adicional mais altos.
Há mais incertezas. Em qual ritmo o mercado americano vai chutar os juros deles para cima? Qual o efeito disso na atividade econômica (que será favorecida por alguma folga fiscal em 2014)?
Vai haver "acidentes"? Com juros baixíssimos, a taxa de calote das empresas baixou. Vai continuar assim? As empresas boas inflaram suas margens de lucro com a redução do custo financeiro (e demissões e queda dos salários). A festa vai continuar? Dado o ritmo suavíssimo de redução dos estímulos, as Bolsas americanas vão desenvolver bolhas?
Vai haver tumultos devido à flutuação de dados e expectativas de crescimento dos EUA, o que poderia modificar o ritmo do Fed? Haverá problemas nos "emergentes" mais frágeis, o que pode nos contaminar (se é que o problema não vai acontecer mesmo conosco)?
Difícil estar bem preparado para tantas possibilidades.
Economia, política e crise de governança no Brasil - JOSÉ MATIAS-PEREIRA
CORREIO BRAZILIENSE - 19/12
A crescente insatisfação de parcela significativa da população, que saiu às ruas para protestar contra os governantes e políticos, reflete claro desejo de mudanças na forma de gestão do Estado. Destacam-se nesse cenário, conforme revelam as pesquisas de opinião pública, as exigências por mais ética na política, o enfrentamento da corrupção e a prestação de serviços públicos de qualidade. Por sua vez, o atendimento das demandas exige reestruturação do Estado, pois implica reavaliação de práticas e valores arraigados na sociedade. Deve-se reconhecer que essa não é tarefa fácil.
É relevante alertar, diante da amplitude e complexidade das mudanças exigidas para alterar as relações entre o Estado e a sociedade, que elas só vão surtir efeitos a longo prazo. A avaliação dos instrumentos institucionais, recursos financeiros e meios políticos disponíveis para a execução de reformas políticas, administrativas e sociais necessárias para atender as demandas se revelam deficientes e frágeis. É sobre essas questões que tratarei a seguir.
As distorções e desajustes na gestão do Estado, traduzidas em serviços públicos de baixa qualidade, incompetência na gestão pública e corrupção endêmica, foram agravados pelos efeitos da crise econômica mundial e pelos baixos níveis de crescimento econômico do país nos últimos anos. Esse contexto indesejável foi construído a partir dos erros sistemáticos do governo federal, com a execução de política econômica inconsistente, baixo nível de poupança e de investimento, intervenção na economia, criação de "contabilidade criativa", invenção de "megaempresários", entre outros.
É sabido que o combate à corrupção se concretiza com a estruturação de órgãos e instituições estatais independentes, com recursos humanos preparados e bem remunerados. É necessário haver uma cultura social que apoie o esforço, sem distinções, visto que não é possível existir um Estado honesto sem uma sociedade íntegra. Assim, o combate à corrupção somente terá sucesso se houver mudança da estrutura estatal para enfrentar o problema e mudança da cultura social.
Por sua vez, a opção política do governo, na busca de uma base aliada confortável no parlamento, entregando ministérios e empresas públicas para partidos políticos aliados de porteira fechada, abriu os caminhos para a ineficiência e a corrupção em larga escala na administração pública. A escolha dos gestores públicos para os cargos estratégicos, com base apenas em critérios políticos, relegando a segundo plano a competência e o compromisso com a administração, revelou-se forma temerária de governar. A soma dessas variáveis explica, em grande parte, o baixo nível de desempenho da administração pública, que se tornou incapaz de ofertar serviços de qualidade, notadamente nas áreas de educação, saúde, segurança e transporte.
Pode-se argumentar, por fim, diante do cenário preocupante, em que está evidenciado crescente enfraquecimento das instituições, agravado pela prática continuada de decisões e ações políticas e governamentais que conflitam com os interesses da sociedade, que o Estado está a caminho de uma crise de governança. Os embates decorrentes do quadro vão se intensificar no próximo ano, quando o Brasil sediar a Copa do Mundo de Futebol e viver um ano eleitoral, no qual as demandas da sociedade e os conflitos políticos estarão entrando em ebulição.
É relevante alertar, diante da amplitude e complexidade das mudanças exigidas para alterar as relações entre o Estado e a sociedade, que elas só vão surtir efeitos a longo prazo. A avaliação dos instrumentos institucionais, recursos financeiros e meios políticos disponíveis para a execução de reformas políticas, administrativas e sociais necessárias para atender as demandas se revelam deficientes e frágeis. É sobre essas questões que tratarei a seguir.
As distorções e desajustes na gestão do Estado, traduzidas em serviços públicos de baixa qualidade, incompetência na gestão pública e corrupção endêmica, foram agravados pelos efeitos da crise econômica mundial e pelos baixos níveis de crescimento econômico do país nos últimos anos. Esse contexto indesejável foi construído a partir dos erros sistemáticos do governo federal, com a execução de política econômica inconsistente, baixo nível de poupança e de investimento, intervenção na economia, criação de "contabilidade criativa", invenção de "megaempresários", entre outros.
É sabido que o combate à corrupção se concretiza com a estruturação de órgãos e instituições estatais independentes, com recursos humanos preparados e bem remunerados. É necessário haver uma cultura social que apoie o esforço, sem distinções, visto que não é possível existir um Estado honesto sem uma sociedade íntegra. Assim, o combate à corrupção somente terá sucesso se houver mudança da estrutura estatal para enfrentar o problema e mudança da cultura social.
Por sua vez, a opção política do governo, na busca de uma base aliada confortável no parlamento, entregando ministérios e empresas públicas para partidos políticos aliados de porteira fechada, abriu os caminhos para a ineficiência e a corrupção em larga escala na administração pública. A escolha dos gestores públicos para os cargos estratégicos, com base apenas em critérios políticos, relegando a segundo plano a competência e o compromisso com a administração, revelou-se forma temerária de governar. A soma dessas variáveis explica, em grande parte, o baixo nível de desempenho da administração pública, que se tornou incapaz de ofertar serviços de qualidade, notadamente nas áreas de educação, saúde, segurança e transporte.
Pode-se argumentar, por fim, diante do cenário preocupante, em que está evidenciado crescente enfraquecimento das instituições, agravado pela prática continuada de decisões e ações políticas e governamentais que conflitam com os interesses da sociedade, que o Estado está a caminho de uma crise de governança. Os embates decorrentes do quadro vão se intensificar no próximo ano, quando o Brasil sediar a Copa do Mundo de Futebol e viver um ano eleitoral, no qual as demandas da sociedade e os conflitos políticos estarão entrando em ebulição.
O desafio que a espera está no 2º mandato - MARCO ANTONIO ROCHA
O Estado de S.Paulo - 19/12
As duas grandes tentações, quando se escreve um último artigo do ano sobre economia, são a do balanço e a da previsão.
Um balanço realmente útil não é, porém, o dos números e desempenhos, e, sim, o dos erros e acertos. Quanto à previsão, é geralmente tão inútil quanto equivocada, como as que têm vitimado nosso ministro Mantega quando cai na armadilha. Não vamos entrar nela. Nem na outra, a do balanço dos números ou dos acertos e erros.
Mas o que se pode dizer sobre a economia, nacional e mundial, quando se está na boca de um túnel pouco iluminado? Dá para enxergar alguma coisa nos primeiros metros, mas praticamente nada além da metade. E menos ainda como termina.
Um dos fatos relevantes que se veem com nitidez, mesmo sem vislumbrar seus desdobramentos, é a eleição presidencial na segunda metade do túnel de 2014. Isso no front interno. No front externo, o fato mais próximo - pode estar nos jornais de hoje - é o desmonte da lassidão monetária que o banco central americano implementa há algum tempo.
Essas duas coisas terão influência, de várias formas, em nossa economia ao longo do ano que entra.
E o que é que a economia brasileira precisa pedir ao Papai Noel neste Natal?
Uma boa aceleração do seu crescimento, impulsionado não mais pela euforia do consumo, e, sim, pela euforia dos investimentos. Sim, porque daqui por diante não se trata mais de aumentar empregos e renda mediante aumento das vendas do comércio. Isso já está se esgotando, se é que não se esgotou. O que o País precisa agora é do aumento do emprego e da renda na área da produção, principalmente industrial, e dos serviços. É isso que cria, de fato, o desenvolvimento sustentável, e não apenas uma sensação de bem-estar.
O governo Lula foi um período de bem-estar temporário. Favorecido pela economia internacional, pôde promover aumentos de salários, de empréstimos, de renda, etc., por meio de leis ou medidas administrativas simplesmente.
Outra coisa, bem mais difícil, é convencer os investidores, estrangeiros e nacionais, a investir pesadamente para promover a mesma coisa de forma mais permanente e estável: aumento do emprego, da folha de salários, da produção, da renda, dos recolhimentos para o INSS e o FGTS, para o Imposto de Renda, etc. Esse é o desafio ao longo do túnel do ano de 2014.
Nossa presidente Dilma entra em 2014 carregando um triênio de baixo crescimento da economia. Provavelmente, uma das médias mais baixas de um período de três anos. Por conseguinte, tem de tentar aumentar bastante o PIB em 2014 para melhorar a média do seu primeiro mandato. E não só para isso.
Como ela faz questão de ser reeleita, para reforçar o famoso projeto de poder do seu aguerrido partido, significa que terá de terminar bem melhor o primeiro mandato, em todos os aspectos, para poder entrar com o pé direito no segundo. Aí, sim, poderá reformar a casa da economia pelos alicerces, e não pelas lantejoulas e lustres de cristais. Lula criou uma classe média que pôde comprar geladeiras, máquinas de lavar, carros e até casas. Agora essa nova classe média está querendo mais e melhores empregos, mais e melhor ensino, mais segurança, melhor futuro para os filhos e para o País. Isso, só com empregos de melhor qualidade, mais estáveis e de mais futuro.
Aspirações que só serão atendidas com aumento substancial da Formação Bruta de Capital Fixo (perdão pelo economês) em indústrias, tecnologias, ensino. Ou seja, depende de um grau de confiança dos investidores que Dilma não conseguiu conquistar e até insistiu em perder.
Parece que se deu conta disso e tem feito algum esforço recente para mudar o estilo. Terá um ano para provar. Ou entrará perdedora num segundo mandato, mesmo que vitoriosa nas urnas de outubro.
As duas grandes tentações, quando se escreve um último artigo do ano sobre economia, são a do balanço e a da previsão.
Um balanço realmente útil não é, porém, o dos números e desempenhos, e, sim, o dos erros e acertos. Quanto à previsão, é geralmente tão inútil quanto equivocada, como as que têm vitimado nosso ministro Mantega quando cai na armadilha. Não vamos entrar nela. Nem na outra, a do balanço dos números ou dos acertos e erros.
Mas o que se pode dizer sobre a economia, nacional e mundial, quando se está na boca de um túnel pouco iluminado? Dá para enxergar alguma coisa nos primeiros metros, mas praticamente nada além da metade. E menos ainda como termina.
Um dos fatos relevantes que se veem com nitidez, mesmo sem vislumbrar seus desdobramentos, é a eleição presidencial na segunda metade do túnel de 2014. Isso no front interno. No front externo, o fato mais próximo - pode estar nos jornais de hoje - é o desmonte da lassidão monetária que o banco central americano implementa há algum tempo.
Essas duas coisas terão influência, de várias formas, em nossa economia ao longo do ano que entra.
E o que é que a economia brasileira precisa pedir ao Papai Noel neste Natal?
Uma boa aceleração do seu crescimento, impulsionado não mais pela euforia do consumo, e, sim, pela euforia dos investimentos. Sim, porque daqui por diante não se trata mais de aumentar empregos e renda mediante aumento das vendas do comércio. Isso já está se esgotando, se é que não se esgotou. O que o País precisa agora é do aumento do emprego e da renda na área da produção, principalmente industrial, e dos serviços. É isso que cria, de fato, o desenvolvimento sustentável, e não apenas uma sensação de bem-estar.
O governo Lula foi um período de bem-estar temporário. Favorecido pela economia internacional, pôde promover aumentos de salários, de empréstimos, de renda, etc., por meio de leis ou medidas administrativas simplesmente.
Outra coisa, bem mais difícil, é convencer os investidores, estrangeiros e nacionais, a investir pesadamente para promover a mesma coisa de forma mais permanente e estável: aumento do emprego, da folha de salários, da produção, da renda, dos recolhimentos para o INSS e o FGTS, para o Imposto de Renda, etc. Esse é o desafio ao longo do túnel do ano de 2014.
Nossa presidente Dilma entra em 2014 carregando um triênio de baixo crescimento da economia. Provavelmente, uma das médias mais baixas de um período de três anos. Por conseguinte, tem de tentar aumentar bastante o PIB em 2014 para melhorar a média do seu primeiro mandato. E não só para isso.
Como ela faz questão de ser reeleita, para reforçar o famoso projeto de poder do seu aguerrido partido, significa que terá de terminar bem melhor o primeiro mandato, em todos os aspectos, para poder entrar com o pé direito no segundo. Aí, sim, poderá reformar a casa da economia pelos alicerces, e não pelas lantejoulas e lustres de cristais. Lula criou uma classe média que pôde comprar geladeiras, máquinas de lavar, carros e até casas. Agora essa nova classe média está querendo mais e melhores empregos, mais e melhor ensino, mais segurança, melhor futuro para os filhos e para o País. Isso, só com empregos de melhor qualidade, mais estáveis e de mais futuro.
Aspirações que só serão atendidas com aumento substancial da Formação Bruta de Capital Fixo (perdão pelo economês) em indústrias, tecnologias, ensino. Ou seja, depende de um grau de confiança dos investidores que Dilma não conseguiu conquistar e até insistiu em perder.
Parece que se deu conta disso e tem feito algum esforço recente para mudar o estilo. Terá um ano para provar. Ou entrará perdedora num segundo mandato, mesmo que vitoriosa nas urnas de outubro.
Dilma dá o tom na economia - OCTÁVIO COSTA
BRASIL ECONÔMICO - 19/12
Ontem foi dia do café da manhã de fim de ano da presidente Dilma Rousseff com os jornalistas que fazem a cobertura diária do Palácio do Planalto. No evento que já se tornou tradição, Dilma se submete a uma saraivada de perguntas sem qualquer tipo de veto prévio aos temas, por mais que sejam inconvenientes.
Assim, logo depois que falou sobre a reforma ministerial que deverá realizar até fevereiro do ano que vem, foi questionada sobre a permanência de Guido Mantega à frente do Ministério da Fazenda. E deu uma resposta direta e firme, bem ao seu estilo: "Reitero pela vigésima ou trigésima vez que o ministro Guido está perfeitamente no lugar onde está". Portanto, os críticos da atual política econômica podem tirar o cavalo da chuva. Guido Mantega ficará no cargo até o fim do atual governo.
O motivo para o prestígio do ministro é muito simples. Nenhum passo na política econômica é dado sem o sinal verde da presidente da República. Economista formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Dilma chegou a fazer dois anos do curso de mestrado da Unicamp, onde foi aluna de Carlos Lessa.
Não concluiu sua dissertação porque deu prioridade ao trabalho na Secretariada Fazenda de Porto Alegre. Com esse perfil acadêmico, tem opinião própria sobre os rumos da economia do país e não esconde de ninguém a queda pelo estruturalismo de Celso Furtado, Maria da Conceição Tavares e do professor Lessa. É keynesiana assumida, daquelas que defendem que o Estado deve pavimentar o caminho para a ação do setor privado.
No governo Dilma, cabe ao BNDES o principal papel de indutor do investimento. E a Caixa é voltada para programas populares como o Minha Casa, Minha Vida (que o povo chama de "Minha Casa, Minha Dilma"). Já o Banco do Brasil tem o foco voltado para o financiamento das grandes empresas. De alguns meses para cá, o modelo - que deu certo na fase mais aguda da crise internacional- começou a ser questionado, exatamente o peso excessivo que confere ao Estado.
Há quem diga que a receita provoca desequilíbrio fiscal crescente, que só é contornado graças a manobras contábeis, a tal da "contabilidade criativa". Nesse contexto de descontrole nos gastos, só restaria ao Banco Central uma arma para combater a inflação: o aumento das taxas de juros. Como a diretoria do BC, nas atas do Copom, faz coro com os críticos ao atribuir as altas seguidas da Selic à falta de rigor fiscal,comenta-seque a relação entre Mantega e Alexandre Tombini não vai bem.
O mercado financeiro, obviamente, não tem nada de estruturalista ou keynesiano. É monetarista por natureza. E no confronto entre a Fazenda e o BC, toma o lado de Tombini. Isso explica os rumores, cada vez mais frequentes, sobre o desgaste e a provável queda de Mantega. Dilma estaria insatisfeita com os resultados da economia e preocupada com o impacto do baixo crescimento do PIB nas eleições de 2014. Resumo da ópera: os dias de Mantega no governo estariam contados.
Ontem, porém, a presidente jogou uma pá de cal no assunto. Além de confirmar seu ministro no cargo "pela trigésima vez", ela assumiu a responsabilidade pela política econômica: "Nós não temos nenhuma predileção por fazer política anticíclica, até porque ela é custosa. Quanto mais cedo nós sairmos disso, melhor para o país". Guido Mantega, portanto, fica onde está.
SOBE E DESCE
Sobe
Ontem foi dia do café da manhã de fim de ano da presidente Dilma Rousseff com os jornalistas que fazem a cobertura diária do Palácio do Planalto. No evento que já se tornou tradição, Dilma se submete a uma saraivada de perguntas sem qualquer tipo de veto prévio aos temas, por mais que sejam inconvenientes.
Assim, logo depois que falou sobre a reforma ministerial que deverá realizar até fevereiro do ano que vem, foi questionada sobre a permanência de Guido Mantega à frente do Ministério da Fazenda. E deu uma resposta direta e firme, bem ao seu estilo: "Reitero pela vigésima ou trigésima vez que o ministro Guido está perfeitamente no lugar onde está". Portanto, os críticos da atual política econômica podem tirar o cavalo da chuva. Guido Mantega ficará no cargo até o fim do atual governo.
O motivo para o prestígio do ministro é muito simples. Nenhum passo na política econômica é dado sem o sinal verde da presidente da República. Economista formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Dilma chegou a fazer dois anos do curso de mestrado da Unicamp, onde foi aluna de Carlos Lessa.
Não concluiu sua dissertação porque deu prioridade ao trabalho na Secretariada Fazenda de Porto Alegre. Com esse perfil acadêmico, tem opinião própria sobre os rumos da economia do país e não esconde de ninguém a queda pelo estruturalismo de Celso Furtado, Maria da Conceição Tavares e do professor Lessa. É keynesiana assumida, daquelas que defendem que o Estado deve pavimentar o caminho para a ação do setor privado.
No governo Dilma, cabe ao BNDES o principal papel de indutor do investimento. E a Caixa é voltada para programas populares como o Minha Casa, Minha Vida (que o povo chama de "Minha Casa, Minha Dilma"). Já o Banco do Brasil tem o foco voltado para o financiamento das grandes empresas. De alguns meses para cá, o modelo - que deu certo na fase mais aguda da crise internacional- começou a ser questionado, exatamente o peso excessivo que confere ao Estado.
Há quem diga que a receita provoca desequilíbrio fiscal crescente, que só é contornado graças a manobras contábeis, a tal da "contabilidade criativa". Nesse contexto de descontrole nos gastos, só restaria ao Banco Central uma arma para combater a inflação: o aumento das taxas de juros. Como a diretoria do BC, nas atas do Copom, faz coro com os críticos ao atribuir as altas seguidas da Selic à falta de rigor fiscal,comenta-seque a relação entre Mantega e Alexandre Tombini não vai bem.
O mercado financeiro, obviamente, não tem nada de estruturalista ou keynesiano. É monetarista por natureza. E no confronto entre a Fazenda e o BC, toma o lado de Tombini. Isso explica os rumores, cada vez mais frequentes, sobre o desgaste e a provável queda de Mantega. Dilma estaria insatisfeita com os resultados da economia e preocupada com o impacto do baixo crescimento do PIB nas eleições de 2014. Resumo da ópera: os dias de Mantega no governo estariam contados.
Ontem, porém, a presidente jogou uma pá de cal no assunto. Além de confirmar seu ministro no cargo "pela trigésima vez", ela assumiu a responsabilidade pela política econômica: "Nós não temos nenhuma predileção por fazer política anticíclica, até porque ela é custosa. Quanto mais cedo nós sairmos disso, melhor para o país". Guido Mantega, portanto, fica onde está.
SOBE E DESCE
Sobe
Os ativistas do Greenpeace que passaram cerca de dois meses detidos na Rússia receberam ontem a anistia. Entre eles está a brasileira Ana Paula Maciel. Trinta ativistas se envolveram em protesto no Ártico, em setembro.
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O STJ (Superior Tribunal de Justiça) negou o recurso da Prefeitura de São Paulo que visava derrubar a suspensão do aumento do IPTU, determinada pelo Tribunal de Justiça paulista. Fernando Haddad é prefeito de São Paulo.
Início da retirada - MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 19/12
A redução dos incentivos monetários da economia americana mexeu ontem com preços de ativos e humores dos investidores mesmo antes de ser anunciada. É uma pequena redução, de US$ 10 bilhões, mas confirma a entrada numa nova era, cuja tendência é de valorização do dólar: O Brasil vai passar por essa transição com déficit em transações correntes.
Para a economista Monica de Bolle, o pequeno movimento acaba com o debate sobre quando o estímulo seria reduzido:
— O mercado sempre tem que ter um fetiche, agora acaba o fetiche, e eu acho que na medida que foi já está no preço.
Quando compra os títulos, o Fed injeta dinheiro na economia e desvaloriza o dólar. Por isso, o dólar vinha subindo em vários países, na expectativa dessa mudança. O valor dos títulos do Tesouro americano de 10 anos subiu de 1,6% para 3% desde que se começou a falar na redução.
Há outras dúvidas sobre a economia americana. Monica da Bole, professora da PUC-Rio e consultora da Galanto, diz que um problema tem sido pouco tratado, mas apareceu no painel americano: a inflação baixa demais. Para nós, isso soa estranho, mas o fato é que a armadilha da deflação que aprisiona o Japão é sempre uma preocupação nas grandes economias. A deflação prolongada leva à recessão.
Os Estados Unidos estão se recuperando e isso é que levou o Fed a reduzir em US$ 5 bilhões a re-compra de títulos do Tesouro e outros R$ 5 bilhões de papéis imobiliários. Monica chama atenção para o PPI, índice que mede os preços ao produtor. Nos Estados Unidos, há uma relação mais direta entre os dois tipos de inflação.
— Há três meses o PPI está negativo, o que pode levar à queda dos preços ao consumidor. A recuperação èstá ocorrendo,
mas sem aumento de salário. O acordo feito no Congresso para aprovar o orçamento incluiu a revogação da ampliação do tempo do seguro-desemprego. Isso significa que quem está desempregado há mais tempo vai perder o auxílio — alerta Monica.Seja como for, o mercado financeiro já mudou suas apostas por causa do fim gradual das injeções de dinheiro na economia, conhecidas pelo nome de quantitative easing 3. E o número se refere ao fato de que no período de Ben Bemanke no Fed essa é a terceira rodada de injeção de dinheiro na economia.
Ontem foi a última reunião do Fed presidida por Bernanke. No ano que vem, assumirá a nova presidente Janet Yellen. Discute-se agora o seu legado. Ele exerceu o mandato com a preocupação central de evitar a repetição do que aconteceu nos anos 1930. Nesse aspecto, pode sair confiante de que cumpriu seu papel. Enfrentou crise grave e evitou que a economia entrasse no mesmo circulo vicioso que levou à depressão.
Cometeu erros no caminho. Demorou para ver o tamanho da bolha que se formara na economia; deixou um banco quebrar, o Lehman Brothers, provocando um episódio de pânico que sacudiu a economia do mundo inteiro, para no momento seguinte salvar todos os bancos e seguradoras que quebraram.
Despejou dinheiro na economia para combater o desemprego que chegara a 10%, e que agora volta aos 7%, e, antes de sair, deu ontem o primeiro passo para que o mercado viva sem o anabolizante de US$ 85 bilhões por mês a mais em circulação na economia. Não há um cronograma para eliminação do estímulo. É apenas um primeiro passo, mas com forte valor simbólico. Significa que para o Fed o pior passou. O caminho da normalização será longo. O nosso problema é conviver com a volatilidade do dólar nessa transição, principalmente em época de déficit em transações correntes, ou seja, as contas externas.
A redução dos incentivos monetários da economia americana mexeu ontem com preços de ativos e humores dos investidores mesmo antes de ser anunciada. É uma pequena redução, de US$ 10 bilhões, mas confirma a entrada numa nova era, cuja tendência é de valorização do dólar: O Brasil vai passar por essa transição com déficit em transações correntes.
Para a economista Monica de Bolle, o pequeno movimento acaba com o debate sobre quando o estímulo seria reduzido:
— O mercado sempre tem que ter um fetiche, agora acaba o fetiche, e eu acho que na medida que foi já está no preço.
Quando compra os títulos, o Fed injeta dinheiro na economia e desvaloriza o dólar. Por isso, o dólar vinha subindo em vários países, na expectativa dessa mudança. O valor dos títulos do Tesouro americano de 10 anos subiu de 1,6% para 3% desde que se começou a falar na redução.
Há outras dúvidas sobre a economia americana. Monica da Bole, professora da PUC-Rio e consultora da Galanto, diz que um problema tem sido pouco tratado, mas apareceu no painel americano: a inflação baixa demais. Para nós, isso soa estranho, mas o fato é que a armadilha da deflação que aprisiona o Japão é sempre uma preocupação nas grandes economias. A deflação prolongada leva à recessão.
Os Estados Unidos estão se recuperando e isso é que levou o Fed a reduzir em US$ 5 bilhões a re-compra de títulos do Tesouro e outros R$ 5 bilhões de papéis imobiliários. Monica chama atenção para o PPI, índice que mede os preços ao produtor. Nos Estados Unidos, há uma relação mais direta entre os dois tipos de inflação.
— Há três meses o PPI está negativo, o que pode levar à queda dos preços ao consumidor. A recuperação èstá ocorrendo,
mas sem aumento de salário. O acordo feito no Congresso para aprovar o orçamento incluiu a revogação da ampliação do tempo do seguro-desemprego. Isso significa que quem está desempregado há mais tempo vai perder o auxílio — alerta Monica.Seja como for, o mercado financeiro já mudou suas apostas por causa do fim gradual das injeções de dinheiro na economia, conhecidas pelo nome de quantitative easing 3. E o número se refere ao fato de que no período de Ben Bemanke no Fed essa é a terceira rodada de injeção de dinheiro na economia.
Ontem foi a última reunião do Fed presidida por Bernanke. No ano que vem, assumirá a nova presidente Janet Yellen. Discute-se agora o seu legado. Ele exerceu o mandato com a preocupação central de evitar a repetição do que aconteceu nos anos 1930. Nesse aspecto, pode sair confiante de que cumpriu seu papel. Enfrentou crise grave e evitou que a economia entrasse no mesmo circulo vicioso que levou à depressão.
Cometeu erros no caminho. Demorou para ver o tamanho da bolha que se formara na economia; deixou um banco quebrar, o Lehman Brothers, provocando um episódio de pânico que sacudiu a economia do mundo inteiro, para no momento seguinte salvar todos os bancos e seguradoras que quebraram.
Despejou dinheiro na economia para combater o desemprego que chegara a 10%, e que agora volta aos 7%, e, antes de sair, deu ontem o primeiro passo para que o mercado viva sem o anabolizante de US$ 85 bilhões por mês a mais em circulação na economia. Não há um cronograma para eliminação do estímulo. É apenas um primeiro passo, mas com forte valor simbólico. Significa que para o Fed o pior passou. O caminho da normalização será longo. O nosso problema é conviver com a volatilidade do dólar nessa transição, principalmente em época de déficit em transações correntes, ou seja, as contas externas.
Partidobrás S. A. - DEMÉTRIO MAGNOLI
O GLOBO - 19/12
‘As manifestações da população nas ruas mostraram que há uma crise muito profunda no modelo de representatividade. A origem desse mal está no sistema eleitoral.” Desse diagnóstico, expresso por seu presidente, Marcus Vinicius Coelho, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) extraiu a ação de inconstitucionalidade contra o financiamento empresarial de campanha em julgamento no STF. A OAB alega defender um princípio político, mas, de fato, promove um fim partidário: a instauração do financiamento público de campanha. Nesse passo, a entidade dos advogados rebaixa-se à condição de linha auxiliar do PT e agrava o mal que reivindica combater.
“O poder emana do povo, não das empresas”, proclamou o eloquente Coelho, argumentando que o financiamento empresarial viola o princípio da igualdade política e inclina as eleições na direção do dinheiro. Na prática, não é bem assim: os empresários doam para todos os partidos relevantes e são mais generosos com aqueles que ocupam o poder, como evidenciam as prestações de contas do PT nas campanhas de 2006 e 2010. Contudo, em tese, o argumento filosófico tem valor: a sociedade política é constituída por cidadãos, não por companhias. O problema é que, entre os inúmeros princípios constitucionais violados por nosso sistema eleitoral, a OAB selecionou caprichosamente apenas um — e isso converte em vício a aparente virtude de seu impulso reformista.
Nas eleições de 2010, 98% das receitas de Dilma e Serra originaram-se de pessoas jurídicas. Sem uma reforma política e eleitoral, o vácuo nos cofres partidários gerado pela proibição de doações empresariais empurrará o Congresso à aprovação do financiamento público — coincidentemente, uma proposta do PT que não obteve apoio parlamentar. No fim do arco-íris, a ação movida pela OAB completará a estatização dos partidos políticos, tornando-os ainda menos permeáveis à vontade dos cidadãos. O indômito Coelho que invoca a “população nas ruas” serve, efetivamente, aos interesses dos políticos nos gabinetes — e tem especial apreço por certos gabinetes.
No seu principismo seletivo, a OAB ignorou o princípio da liberdade partidária. O Brasil tem cerca de três dezenas de partidos, mas não tem liberdade partidária. Por aqui, curiosamente, um tribunal especializado decide sobre a existência legal de um partido com base em regras arcanas sobre números e distribuição geográfica de assinaturas. A recusa do registro da Rede, de Marina Silva, equivale à cassação da expressão partidária de uma vasta parcela do eleitorado. Coelho não enxerga nesse escândalo uma flagrante inconstitucionalidade. É que os doutos líderes da entidade dos advogados concordam com o traço mais antidemocrático de nosso sistema eleitoral: a natureza compulsoriamente estatal dos partidos políticos.
A Justiça Eleitoral, uma herança do varguismo, cumpre essencialmente a função de oficializar os partidos políticos, um ato que lhes abre as portas para o acesso a recursos públicos (o Fundo Partidário e o horário de propaganda eletrônica). Daí deriva o dinamismo da indústria de criação de partidos, tão ativa quanto a de fundação de sindicatos e igrejas. Um partido é um negócio, que se faz às custas do bolso de contribuintes indefesos. Mas, na santa indignação de Coelho, a invocação do “povo” não passa de uma estratégia retórica. “O poder emana do Estado e dos partidos, não do povo” — diria o presidente da OAB se ousasse ser sincero.
No seu principismo seletivo, a OAB ignorou, ainda, o princípio da liberdade de consciência. A substituição do financiamento empresarial de campanha pelo financiamento público, o fruto provável da ação dos ínclitos advogados, agride diretamente o direito dos cidadãos de não contribuírem com partidos que não representam sua visão de mundo. Diga-me, Coelho: por que devo transferir dinheiro para um anacrônico defensor da ditadura militar, como Jair Bolsonaro, ou para um partido que celebra figuras condenadas por corrupção no STF, como o PT?
A OAB ilude os incautos quando alega se insurgir contra o atual sistema eleitoral. De fato, ao empurrar o Congresso para a alternativa do financiamento público, o que faz é completar o edifício político e jurídico da estatização dos partidos. Nesse passo, os partidos alcançam uma “liberdade” absoluta — isto é, libertam-se inteiramente da necessidade de obter apoio financeiro dos eleitores. Não, Coelho, não venha com esse papo de “povo”: a ação que a OAB patrocina é uma oferenda à elite política e um escárnio do conceito de representação.
Uma reforma democrática do sistema eleitoral solicitaria enfrentar o conjunto das violações de princípios que formam a cena desoladora repudiada pelas “manifestações da população nas ruas”. Intelectualmente, é fácil imaginar um sistema decente. Elimine-se a Justiça Eleitoral: qualquer grupo de cidadãos deve ter o direito de formar um partido e disputar eleições. Fora com o Fundo Partidário: partidos são entes privados e, portanto, devem se financiar junto a seus apoiadores. Fora com as coligações proporcionais: partidos servem para veicular programas, não para comercializar minutos na televisão. Abaixo as campanhas milionárias: voto distrital misto e limitação obrigatória dos custos de propaganda política. Só nesse contexto seria apropriado proibir o financiamento empresarial de campanha e estabelecer limites razoáveis para contribuições privadas.
Na prática, uma reforma segundo essas linhas enfrenta ferrenha resistência da elite política, que se beneficia das inúmeras distorções de nosso sistema eleitoral. Os políticos não querem abrir mão das benesses estatais e dos truques que lhes permitem escapar do escrutínio dos eleitores. Meses atrás, o castelo no qual se entrincheiram foi assediado pelas manifestações de rua. Para sorte deles, e azar nosso, a OAB de Coelho decidiu erguer uma paliçada defensiva.
‘As manifestações da população nas ruas mostraram que há uma crise muito profunda no modelo de representatividade. A origem desse mal está no sistema eleitoral.” Desse diagnóstico, expresso por seu presidente, Marcus Vinicius Coelho, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) extraiu a ação de inconstitucionalidade contra o financiamento empresarial de campanha em julgamento no STF. A OAB alega defender um princípio político, mas, de fato, promove um fim partidário: a instauração do financiamento público de campanha. Nesse passo, a entidade dos advogados rebaixa-se à condição de linha auxiliar do PT e agrava o mal que reivindica combater.
“O poder emana do povo, não das empresas”, proclamou o eloquente Coelho, argumentando que o financiamento empresarial viola o princípio da igualdade política e inclina as eleições na direção do dinheiro. Na prática, não é bem assim: os empresários doam para todos os partidos relevantes e são mais generosos com aqueles que ocupam o poder, como evidenciam as prestações de contas do PT nas campanhas de 2006 e 2010. Contudo, em tese, o argumento filosófico tem valor: a sociedade política é constituída por cidadãos, não por companhias. O problema é que, entre os inúmeros princípios constitucionais violados por nosso sistema eleitoral, a OAB selecionou caprichosamente apenas um — e isso converte em vício a aparente virtude de seu impulso reformista.
Nas eleições de 2010, 98% das receitas de Dilma e Serra originaram-se de pessoas jurídicas. Sem uma reforma política e eleitoral, o vácuo nos cofres partidários gerado pela proibição de doações empresariais empurrará o Congresso à aprovação do financiamento público — coincidentemente, uma proposta do PT que não obteve apoio parlamentar. No fim do arco-íris, a ação movida pela OAB completará a estatização dos partidos políticos, tornando-os ainda menos permeáveis à vontade dos cidadãos. O indômito Coelho que invoca a “população nas ruas” serve, efetivamente, aos interesses dos políticos nos gabinetes — e tem especial apreço por certos gabinetes.
No seu principismo seletivo, a OAB ignorou o princípio da liberdade partidária. O Brasil tem cerca de três dezenas de partidos, mas não tem liberdade partidária. Por aqui, curiosamente, um tribunal especializado decide sobre a existência legal de um partido com base em regras arcanas sobre números e distribuição geográfica de assinaturas. A recusa do registro da Rede, de Marina Silva, equivale à cassação da expressão partidária de uma vasta parcela do eleitorado. Coelho não enxerga nesse escândalo uma flagrante inconstitucionalidade. É que os doutos líderes da entidade dos advogados concordam com o traço mais antidemocrático de nosso sistema eleitoral: a natureza compulsoriamente estatal dos partidos políticos.
A Justiça Eleitoral, uma herança do varguismo, cumpre essencialmente a função de oficializar os partidos políticos, um ato que lhes abre as portas para o acesso a recursos públicos (o Fundo Partidário e o horário de propaganda eletrônica). Daí deriva o dinamismo da indústria de criação de partidos, tão ativa quanto a de fundação de sindicatos e igrejas. Um partido é um negócio, que se faz às custas do bolso de contribuintes indefesos. Mas, na santa indignação de Coelho, a invocação do “povo” não passa de uma estratégia retórica. “O poder emana do Estado e dos partidos, não do povo” — diria o presidente da OAB se ousasse ser sincero.
No seu principismo seletivo, a OAB ignorou, ainda, o princípio da liberdade de consciência. A substituição do financiamento empresarial de campanha pelo financiamento público, o fruto provável da ação dos ínclitos advogados, agride diretamente o direito dos cidadãos de não contribuírem com partidos que não representam sua visão de mundo. Diga-me, Coelho: por que devo transferir dinheiro para um anacrônico defensor da ditadura militar, como Jair Bolsonaro, ou para um partido que celebra figuras condenadas por corrupção no STF, como o PT?
A OAB ilude os incautos quando alega se insurgir contra o atual sistema eleitoral. De fato, ao empurrar o Congresso para a alternativa do financiamento público, o que faz é completar o edifício político e jurídico da estatização dos partidos. Nesse passo, os partidos alcançam uma “liberdade” absoluta — isto é, libertam-se inteiramente da necessidade de obter apoio financeiro dos eleitores. Não, Coelho, não venha com esse papo de “povo”: a ação que a OAB patrocina é uma oferenda à elite política e um escárnio do conceito de representação.
Uma reforma democrática do sistema eleitoral solicitaria enfrentar o conjunto das violações de princípios que formam a cena desoladora repudiada pelas “manifestações da população nas ruas”. Intelectualmente, é fácil imaginar um sistema decente. Elimine-se a Justiça Eleitoral: qualquer grupo de cidadãos deve ter o direito de formar um partido e disputar eleições. Fora com o Fundo Partidário: partidos são entes privados e, portanto, devem se financiar junto a seus apoiadores. Fora com as coligações proporcionais: partidos servem para veicular programas, não para comercializar minutos na televisão. Abaixo as campanhas milionárias: voto distrital misto e limitação obrigatória dos custos de propaganda política. Só nesse contexto seria apropriado proibir o financiamento empresarial de campanha e estabelecer limites razoáveis para contribuições privadas.
Na prática, uma reforma segundo essas linhas enfrenta ferrenha resistência da elite política, que se beneficia das inúmeras distorções de nosso sistema eleitoral. Os políticos não querem abrir mão das benesses estatais e dos truques que lhes permitem escapar do escrutínio dos eleitores. Meses atrás, o castelo no qual se entrincheiram foi assediado pelas manifestações de rua. Para sorte deles, e azar nosso, a OAB de Coelho decidiu erguer uma paliçada defensiva.
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