FOLHA DE SP - 18/11
América Latina resiste à crise, mas está ainda a anos-luz dos atolados países europeus
CÁDIZ - Por mais que os países latino-americanos tenham se apresentado para a 22ª Cúpula Ibero-americana como os melhores alunos da classe, na comparação com os dois parceiros ibéricos, Espanha e Portugal, enfiados numa crise que parece não ter fim, o fato é que estão felizes, mas são ainda muito pobrinhos.
Mesmo em recessão, "o nível de bem estar [na Europa em geral] é muito maior".
Não só é maior como é mais justamente distribuído, até porque a América Latina "é a região mais desigual do mundo", como fez questão de ressaltar Alícia Bárcena, a secretária-executiva da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina, braço da ONU).
O que mais dói, para quem acompanha cúpulas internacionais há uns 30 anos, é ouvir uma frase como essa ano após ano.
Dói mais ainda quando se somam duas informações: 1) O Brasil, apesar de ser o país mais rico do subcontinente, é um dos mais desiguais; 2) A queda da desigualdade, no Brasil, diminuiu nos últimos 10 anos apenas entre salários, não entre o rendimento do capital e do trabalho, que é a mais obscena.
Desigualdade não é o único capítulo em que a América Latina, conjunturalmente feliz, precisa progredir -e muito.
A tributação, por exemplo, "é baixa para proporcionar serviços públicos de qualidade, que atendam à demanda social", como diz Ángel Gurria, secretário-geral da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), o clubão dos países desenvolvidos, do qual o Brasil só não é parte porque não quer.
Os impostos, na região, pularam de 14% para 19% do Produto Interno Bruto, entre 1990 e 2010, em grande medida pelo que ocorreu no Brasil. Ainda assim, é uma porcentagem baixa, se comparada aos 34% da média da OCDE.
Mas, atenção, aqui o Brasil não entra na foto geral: tanto ele como a Argentina arrecadam basicamente os 34% dos países ricos.
Pulemos para educação: 50% dos estudantes latino-americanos não alcançam os níveis mínimos de compreensão de leitura, nos testes internacionais, quando, no mundo rico, a porcentagem de fracassados é de 20%.
Passemos ao investimento em inovação e tecnologia: não supera nunca de 0,7% do PIB, quando na Coreia, por exemplo, é de 3%.
"Se não corrigirmos o rumo, seremos todos empregados dos coreanos", fulmina Gurria. Poderia ter acrescentado "ou dos chineses", que investem nessa área vital tanto quanto os coreanos.
Mais um dado: a América Latina está investindo 2% de seu PIB em infraestrutura, quando precisaria de 5%, ano a ano, até 2020, pelas contas de Gurria.
Nem preciso acrescentar que infraestrutura não é exatamente o forte do Brasil, por mais que se lancem PACs, Copas e Olimpíadas.
Para fechar: Alícia Bárcena lembra que a conexão de banda larga custa US$ 25 na América Latina, apenas US$ 5 na Europa e, na Coreia, US$ 0,05.
Moral da história: estamos rindo do quê?
domingo, novembro 18, 2012
Britto, um homem de bem com a vida - ELIO GASPARI
FOLHA DE SP - 18/11
O ministro do Supremo atravessou um julgamento histórico deixando uma lição de tolerância e suavidade
Foi-se embora do Supremo Tribunal Federal o ministro Carlos Ayres Britto. Ocupou a presidência da Casa por apenas sete meses e presidiu o maior julgamento de sua história, engrandecendo a corte e o país. Sua maestria esteve na habilidade com que costurou em silêncio vaidades, conflitos e manobras. Em 2003, quando Lula nomeou-o para a corte, para os leigos sua biografia resumia-se a um viés regionalista e pitoresco: era sergipano e poeta. Depois soube-se que era também vegetariano. Antes de assumir a presidência do tribunal ele fixou outra característica: seus votos indicavam um jurista convicto de que a Constituição tem um espírito.
Num país onde a Carta é emendada como se fosse uma lista de compras, acreditar que há nela um indicador da alma da sociedade foi a maior das suas contribuições. Com esse entendimento, matou a Lei de Imprensa da ditadura com tamanho vigor que até hoje o Judiciário não digeriu direito seu voto.
Presidindo o julgamento do mensalão, deu um exemplo aos costumes nacionais mostrando que na política brasileira há espaço para a suavidade. Nunca elevou a voz, jamais acrescentou arestas a debates crispados. Num tribunal que passara pela presidência alegórica de Gilmar Mendes e irritadiça de Cezar Peluso, ele descalçava as meias sem tirar os sapatos. Britto aposentou-se dias depois da morte do mestre-sala Delegado da Mangueira, outro campeão da suavidade. Na política, ecoou a serenidade de Tancredo Neves e de Fernando Henrique Cardoso, dois mágicos, capazes de fazer com que as crises entrassem grandes e barulhentas em seus gabinetes e saíssem menores, em surdina.
De bem com a própria vida, Carlos Ayres Britto melhorou a dos outros.
PAPAI NOEL
O doutor Vinicius Couto, presidente da Associação dos Servidores do Superior Tribunal de Justiça, avisa:
"Informamos aos associados e demais servidores que foi deferido no Conselho de Administração, nesta manhã e por unanimidade, requerimento da ASSTJ solicitando que o feriado natalino e de final de ano fosse instituído para o período de 20 de dezembro a 6 de janeiro, conforme preceitua o inciso I do art. 62 da lei 5.010 de 20 de maio de 1996."
O STJ intitula-se "Tribunal da Cidadania", mas só seus cidadãos-servidores usufruem desse presente.
ISSO DÁ CADEIA
Uma parte do empresariado brasileiro está assustada com as sentenças do STF que mandaram para a cadeia diretores de bancos e de agências de publicidade. Entendem que a jurisprudência aplicada no caso das teias do mensalão cria um clima de insegurança para seus executivos.
Os doutores poderiam passar os olhos num manual oferecido na semana passada pelo governo americano às empresas que operam no exterior. Chama-se "A Resource Guide to the U.S. Foreign Corrupt Practices Act". Ele ensina as empresas a tomar cuidado com contratos de consultoria, com pagamentos feitos em contas existentes em terceiros países e com mimos em geral. Mostra o risco que um empresário corre quando prefere não saber o que há por baixo do negócio.
O manual avisa que cada propina pode custar à empresa uma multa de até US$ 2 milhões. Diretores e funcionários arriscam canas de até 20 anos.
FERIADÃO
Para quem foi apanhado desprevenido no feriadão e gostaria de perder tempo com um grande livro. Está na rede "The Last Lion" ("O Último Leão - O Defensor do Reino"), por US$ 19,99). É a biografia de Winston Churchill, do historiador americano William Manchester. Vai de 1940, quando o Leão assumiu o governo da Inglaterra, até 1965, quando morreu.
Manchester foi-se em 2004 e escreveu só uma parte do livro. A obra foi terminada, a seu pedido, pelo jornalista Paul Reid, que se baseou no seu roteiro e nas notas que deixou. No papel, é um cartapácio de 1.232 páginas, mas ninguém precisa se assustar. O primeiro capítulo, "O Leão Caçado", com umas 120 páginas, é um magnífico retrato de Churchill, com sua obstinação, seus hábitos, charutos e bebidas. Entornava champanhe, conhaque e uísque, mas não chegava ao porre. Egocêntrico, não dava ordens verbais, tudo por escrito, para que ninguém pudesse falar em seu nome. Detalhista, mandou que se cuidasse dos bichos do zoológico porque as bombas alemãs podiam soltá-los. Era cruel ("eu não desejo mal a Stanley Baldwin -que ocupou o cargo de primeiro-ministro-, mas teria sido melhor se ele não tivesse existido") e antiquado, dizia "Pérsia", jamais Irã, e quando passaram a chamar a capital da Turquia de Ancara insistia em dizer Angora, pois não mudaria a designação dos gatos. Detestou "Cidadão Kane" e, depois que Frank Sinatra pegou em sua mão para festejá-lo, perguntou: "Quem é esse sujeito?"
Depois desse esplêndido retrato, sobra o gigante na Segunda Guerra, mas isso pode ficar para outro dia.
OS TABLETS DO COMISSÁRIO MERCADANTE
O governo da Índia anunciou que distribuirá milhões de tabuletas Aakash para estudantes ao preço de US$ 21 por unidade. Trata-se de uma venda subsidiada, pois no mercado as peças custam até US$ 80.
Grande notícia para quem achava que não se conseguiria produzir computadores por menos de US$ 100. É verdade que essas tabuletas não podem ser chamadas de computadores, mas dão para o gasto dos projetos pedagógicos que pretendem atender.
No Brasil está em curso a seguinte gracinha: em fevereiro passado o comissário Aloizio Mercadante anunciou que a Viúva compraria até 600 mil tablets para serem entregues a professores do ensino médio. O que eles fariam com os equipamentos, não se sabe, pois não havia projeto pedagógico para acompanhá-los. Nove meses depois, a Boa Senhora já comprometeu R$ 115 milhões para a compra de 380 mil tabuletas.
Eremildo idiota, fez a conta: cada uma sairá por R$ 302, ou US$ 150. Essa compra resulta de um pregão vencido por fornecedores que ofereceram quatro modelos, indo de R$ 277 a R$ 462. Tomando-se o preço do mercado indiano (US$ 80) e o mais baixo do pregão nacional (US$ 138), o cretino operou o Milagre de Simonsen. Brilhante economista e ministro da Fazenda de 1974 a 1979, Mário Henrique Simonsen enunciou uma lei segundo a qual em certos casos é preferível pagar a comissão para que se esqueça o projeto. Sem julgar o que houve na compra dos tablets, o cretino propõe o seguinte: reservam-se 10% dos R$ 115 milhões para despesas imprevistas. Sobram R$ 103,5 milhões e gasta-se esse dinheiro comprando 647 mil tabuletas de US$ 80, em vez de 380 mil a US$ 150.
Mesmo sem saber o que fará com elas, a Viúva ganha mais 267 mil tabuletas e, como sobraram os 10%, ficará todo mundo feliz.
O ministro do Supremo atravessou um julgamento histórico deixando uma lição de tolerância e suavidade
Foi-se embora do Supremo Tribunal Federal o ministro Carlos Ayres Britto. Ocupou a presidência da Casa por apenas sete meses e presidiu o maior julgamento de sua história, engrandecendo a corte e o país. Sua maestria esteve na habilidade com que costurou em silêncio vaidades, conflitos e manobras. Em 2003, quando Lula nomeou-o para a corte, para os leigos sua biografia resumia-se a um viés regionalista e pitoresco: era sergipano e poeta. Depois soube-se que era também vegetariano. Antes de assumir a presidência do tribunal ele fixou outra característica: seus votos indicavam um jurista convicto de que a Constituição tem um espírito.
Num país onde a Carta é emendada como se fosse uma lista de compras, acreditar que há nela um indicador da alma da sociedade foi a maior das suas contribuições. Com esse entendimento, matou a Lei de Imprensa da ditadura com tamanho vigor que até hoje o Judiciário não digeriu direito seu voto.
Presidindo o julgamento do mensalão, deu um exemplo aos costumes nacionais mostrando que na política brasileira há espaço para a suavidade. Nunca elevou a voz, jamais acrescentou arestas a debates crispados. Num tribunal que passara pela presidência alegórica de Gilmar Mendes e irritadiça de Cezar Peluso, ele descalçava as meias sem tirar os sapatos. Britto aposentou-se dias depois da morte do mestre-sala Delegado da Mangueira, outro campeão da suavidade. Na política, ecoou a serenidade de Tancredo Neves e de Fernando Henrique Cardoso, dois mágicos, capazes de fazer com que as crises entrassem grandes e barulhentas em seus gabinetes e saíssem menores, em surdina.
De bem com a própria vida, Carlos Ayres Britto melhorou a dos outros.
PAPAI NOEL
O doutor Vinicius Couto, presidente da Associação dos Servidores do Superior Tribunal de Justiça, avisa:
"Informamos aos associados e demais servidores que foi deferido no Conselho de Administração, nesta manhã e por unanimidade, requerimento da ASSTJ solicitando que o feriado natalino e de final de ano fosse instituído para o período de 20 de dezembro a 6 de janeiro, conforme preceitua o inciso I do art. 62 da lei 5.010 de 20 de maio de 1996."
O STJ intitula-se "Tribunal da Cidadania", mas só seus cidadãos-servidores usufruem desse presente.
ISSO DÁ CADEIA
Uma parte do empresariado brasileiro está assustada com as sentenças do STF que mandaram para a cadeia diretores de bancos e de agências de publicidade. Entendem que a jurisprudência aplicada no caso das teias do mensalão cria um clima de insegurança para seus executivos.
Os doutores poderiam passar os olhos num manual oferecido na semana passada pelo governo americano às empresas que operam no exterior. Chama-se "A Resource Guide to the U.S. Foreign Corrupt Practices Act". Ele ensina as empresas a tomar cuidado com contratos de consultoria, com pagamentos feitos em contas existentes em terceiros países e com mimos em geral. Mostra o risco que um empresário corre quando prefere não saber o que há por baixo do negócio.
O manual avisa que cada propina pode custar à empresa uma multa de até US$ 2 milhões. Diretores e funcionários arriscam canas de até 20 anos.
FERIADÃO
Para quem foi apanhado desprevenido no feriadão e gostaria de perder tempo com um grande livro. Está na rede "The Last Lion" ("O Último Leão - O Defensor do Reino"), por US$ 19,99). É a biografia de Winston Churchill, do historiador americano William Manchester. Vai de 1940, quando o Leão assumiu o governo da Inglaterra, até 1965, quando morreu.
Manchester foi-se em 2004 e escreveu só uma parte do livro. A obra foi terminada, a seu pedido, pelo jornalista Paul Reid, que se baseou no seu roteiro e nas notas que deixou. No papel, é um cartapácio de 1.232 páginas, mas ninguém precisa se assustar. O primeiro capítulo, "O Leão Caçado", com umas 120 páginas, é um magnífico retrato de Churchill, com sua obstinação, seus hábitos, charutos e bebidas. Entornava champanhe, conhaque e uísque, mas não chegava ao porre. Egocêntrico, não dava ordens verbais, tudo por escrito, para que ninguém pudesse falar em seu nome. Detalhista, mandou que se cuidasse dos bichos do zoológico porque as bombas alemãs podiam soltá-los. Era cruel ("eu não desejo mal a Stanley Baldwin -que ocupou o cargo de primeiro-ministro-, mas teria sido melhor se ele não tivesse existido") e antiquado, dizia "Pérsia", jamais Irã, e quando passaram a chamar a capital da Turquia de Ancara insistia em dizer Angora, pois não mudaria a designação dos gatos. Detestou "Cidadão Kane" e, depois que Frank Sinatra pegou em sua mão para festejá-lo, perguntou: "Quem é esse sujeito?"
Depois desse esplêndido retrato, sobra o gigante na Segunda Guerra, mas isso pode ficar para outro dia.
OS TABLETS DO COMISSÁRIO MERCADANTE
O governo da Índia anunciou que distribuirá milhões de tabuletas Aakash para estudantes ao preço de US$ 21 por unidade. Trata-se de uma venda subsidiada, pois no mercado as peças custam até US$ 80.
Grande notícia para quem achava que não se conseguiria produzir computadores por menos de US$ 100. É verdade que essas tabuletas não podem ser chamadas de computadores, mas dão para o gasto dos projetos pedagógicos que pretendem atender.
No Brasil está em curso a seguinte gracinha: em fevereiro passado o comissário Aloizio Mercadante anunciou que a Viúva compraria até 600 mil tablets para serem entregues a professores do ensino médio. O que eles fariam com os equipamentos, não se sabe, pois não havia projeto pedagógico para acompanhá-los. Nove meses depois, a Boa Senhora já comprometeu R$ 115 milhões para a compra de 380 mil tabuletas.
Eremildo idiota, fez a conta: cada uma sairá por R$ 302, ou US$ 150. Essa compra resulta de um pregão vencido por fornecedores que ofereceram quatro modelos, indo de R$ 277 a R$ 462. Tomando-se o preço do mercado indiano (US$ 80) e o mais baixo do pregão nacional (US$ 138), o cretino operou o Milagre de Simonsen. Brilhante economista e ministro da Fazenda de 1974 a 1979, Mário Henrique Simonsen enunciou uma lei segundo a qual em certos casos é preferível pagar a comissão para que se esqueça o projeto. Sem julgar o que houve na compra dos tablets, o cretino propõe o seguinte: reservam-se 10% dos R$ 115 milhões para despesas imprevistas. Sobram R$ 103,5 milhões e gasta-se esse dinheiro comprando 647 mil tabuletas de US$ 80, em vez de 380 mil a US$ 150.
Mesmo sem saber o que fará com elas, a Viúva ganha mais 267 mil tabuletas e, como sobraram os 10%, ficará todo mundo feliz.
Deuses e demônios - MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 18/11
A condenação do ex-ministro José Dirceu a uma pena que implica regime de prisão fechada desencadeou uma onda de protestos por parte dos seus seguidores que está revelando os instintos mais perversos de um grupo político radicalizado, que se vê de repente atingido por uma mancha moral de que dificilmente se livrará na História.
Além do território da internet, onde tudo é permitido e muitos espaços pagos para uma propaganda política ignóbil, lê-se na imprensa tradicional, que os petistas tentam desqualificar, mas à qual recorrem para dar legitimidade às suas teses, ora que é preciso rever a pena dada a Dirceu por corrupção ativa e formação de quadrilha porque nesse último item houve uma suposta divisão do plenário do STF, ora que os juízes do Supremo não têm estatura moral para condenar um herói nacional, que colocou a vida em risco na luta pela democracia.
Ou que a condenação de Dirceu, Genoino e Delúbio não significa que os poderosos estão sendo alcançados pela Justiça, pois eles não seriam tão poderosos assim. Fora a patética tentativa de transformar os membros do núcleo político petista em meros mequetrefes, ou simples ladrões sem intenções políticas de controlar o Congresso, é espantoso que tentem ainda agora, depois de mais de três meses em que foram revelados os detalhes do golpe armado de dentro do Palácio do Planalto, fazer de Dirceu um herói nacional, intocável por seu passado político de resistência à ditadura.
Um conhecido intelectual orgânico petista teve o desplante de escrever que enquanto Dirceu lutava contra a ditadura, os ministros do STF viviam suas vidas burguesas à sombra do governo ditatorial, seguindo uma vidinha medíocre que acabou levando-os ao Supremo. Outro, citando um artigo do historiador Keneth Maxwell, comparando o julgamento do mensalão ao dos inconfidentes pela Alçada criada por d. Maria, assumiu a absurda comparação como fato.
Maxwell escreveu que "os membros da Alçada estavam sujeitos a influências externas - em um caso, inclusive, pelo pagamento de um grande suborno em ouro. Ao final, Tiradentes foi sacrificado. E, se por acaso os processos da Alçada começam a lhe parecer estranhamente semelhantes com o mensalão, isso não deveria causar surpresa: de fato, são. Algumas coisas nunca mudam".
No espírito de endeusamento que começa a se revelar entre os petistas, podem querer comparar Dirceu a Tiradentes quando, como bem destacou o historiador José Murilo de Carvalho em recente entrevista ao Estado de S. Paulo, "o que está em julgamento no mensalão não é Tiradentes, mas dona Maria I, não são os rebeldes, mas a tradição absolutista da impunidade dos poderosos". Historiadores e intelectuais enviaram mensagens a Maxwell rebatendo a esdrúxula tese.
Com relação à condenação de Dirceu por formação de quadrilha, de fato houve quatro votos contrários - dos indefectíveis ministros Dias Toffolli e Lewandowski e mais as ministras Cármem Lúcia e Rosa Weber -, o que permitirá embargo infringente. Mas não houve uma divisão do plenário, e sim uma maioria condenatória.
As tentativas de desmoralizar o Supremo Tribunal Federal, de maneira institucional através de nota oficial do PT, ou de pronunciamentos de elementos isolados ligados ao partido, são demonstrações de que um movimento político de tendência totalitária, vendo-se denunciado em suas ações antidemocráticas, busca reverter o quadro negativo demonizando seus condenadores e endeusando os condenados.
Mais uma vez colocam os interesses partidários acima dos da democracia, e a reação causada pela condenação do "chefe da quadrilha" José Dirceu reforça apenas que ele era mesmo quem detinha "o domínio do fato", como parece dominar até este momento, sendo capaz de mobilizar seguidores para tentativa de desqualificar o Poder Judiciário do país.
O ministro Joaquim Barbosa não inovou, nem deu demonstração de não seguir a tradição, ao escolher o ministro Luiz Fux para saudá-lo em sua posse, em vez do decano ministro Celso de Mello. Não há regra, nem força de tradição, que faça relação direta entre o orador da posse do novo presidente ser o decano da corte. É uma escolha livre e pessoal do presidente.
A condenação do ex-ministro José Dirceu a uma pena que implica regime de prisão fechada desencadeou uma onda de protestos por parte dos seus seguidores que está revelando os instintos mais perversos de um grupo político radicalizado, que se vê de repente atingido por uma mancha moral de que dificilmente se livrará na História.
Além do território da internet, onde tudo é permitido e muitos espaços pagos para uma propaganda política ignóbil, lê-se na imprensa tradicional, que os petistas tentam desqualificar, mas à qual recorrem para dar legitimidade às suas teses, ora que é preciso rever a pena dada a Dirceu por corrupção ativa e formação de quadrilha porque nesse último item houve uma suposta divisão do plenário do STF, ora que os juízes do Supremo não têm estatura moral para condenar um herói nacional, que colocou a vida em risco na luta pela democracia.
Ou que a condenação de Dirceu, Genoino e Delúbio não significa que os poderosos estão sendo alcançados pela Justiça, pois eles não seriam tão poderosos assim. Fora a patética tentativa de transformar os membros do núcleo político petista em meros mequetrefes, ou simples ladrões sem intenções políticas de controlar o Congresso, é espantoso que tentem ainda agora, depois de mais de três meses em que foram revelados os detalhes do golpe armado de dentro do Palácio do Planalto, fazer de Dirceu um herói nacional, intocável por seu passado político de resistência à ditadura.
Um conhecido intelectual orgânico petista teve o desplante de escrever que enquanto Dirceu lutava contra a ditadura, os ministros do STF viviam suas vidas burguesas à sombra do governo ditatorial, seguindo uma vidinha medíocre que acabou levando-os ao Supremo. Outro, citando um artigo do historiador Keneth Maxwell, comparando o julgamento do mensalão ao dos inconfidentes pela Alçada criada por d. Maria, assumiu a absurda comparação como fato.
Maxwell escreveu que "os membros da Alçada estavam sujeitos a influências externas - em um caso, inclusive, pelo pagamento de um grande suborno em ouro. Ao final, Tiradentes foi sacrificado. E, se por acaso os processos da Alçada começam a lhe parecer estranhamente semelhantes com o mensalão, isso não deveria causar surpresa: de fato, são. Algumas coisas nunca mudam".
No espírito de endeusamento que começa a se revelar entre os petistas, podem querer comparar Dirceu a Tiradentes quando, como bem destacou o historiador José Murilo de Carvalho em recente entrevista ao Estado de S. Paulo, "o que está em julgamento no mensalão não é Tiradentes, mas dona Maria I, não são os rebeldes, mas a tradição absolutista da impunidade dos poderosos". Historiadores e intelectuais enviaram mensagens a Maxwell rebatendo a esdrúxula tese.
Com relação à condenação de Dirceu por formação de quadrilha, de fato houve quatro votos contrários - dos indefectíveis ministros Dias Toffolli e Lewandowski e mais as ministras Cármem Lúcia e Rosa Weber -, o que permitirá embargo infringente. Mas não houve uma divisão do plenário, e sim uma maioria condenatória.
As tentativas de desmoralizar o Supremo Tribunal Federal, de maneira institucional através de nota oficial do PT, ou de pronunciamentos de elementos isolados ligados ao partido, são demonstrações de que um movimento político de tendência totalitária, vendo-se denunciado em suas ações antidemocráticas, busca reverter o quadro negativo demonizando seus condenadores e endeusando os condenados.
Mais uma vez colocam os interesses partidários acima dos da democracia, e a reação causada pela condenação do "chefe da quadrilha" José Dirceu reforça apenas que ele era mesmo quem detinha "o domínio do fato", como parece dominar até este momento, sendo capaz de mobilizar seguidores para tentativa de desqualificar o Poder Judiciário do país.
O ministro Joaquim Barbosa não inovou, nem deu demonstração de não seguir a tradição, ao escolher o ministro Luiz Fux para saudá-lo em sua posse, em vez do decano ministro Celso de Mello. Não há regra, nem força de tradição, que faça relação direta entre o orador da posse do novo presidente ser o decano da corte. É uma escolha livre e pessoal do presidente.
O Brasil está emperrado - VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP - 18/11
A coisa encrencou em infraestrutura, custo da energia, petróleo, educação e investimento público
POR QUANTO tempo o Brasil pode crescer "politicamente" antes de o caldo econômico entornar?
Crescimento "político", por assim dizer, é o que temos visto nos últimos dois anos. As pessoas consomem mais, há emprego, o governo é popular. Mas não há investimento, mais produtividade, inovação. O investimento, aliás, vai encolher neste 2012.
A pergunta é apenas mais ou menos retórica. Não dá para responder que o caldo vai entornar em tanto ou quanto tempo. Mas entorna. A conta do consumo crescente sem produção adequada vai aparecer em algum lugar: na inflação, no deficit do governo, no deficit externo.
Além do desperdício mais óbvio, o crescimento baixo, estamos perdendo anos de um período de boas condições demográficas para crescer. Isto é, há menos crianças e ainda poucos idosos: temos, por ora, relativamente mais gente em condição de trabalhar.
No biênio 2011-12, teremos crescido algo entre 2% e 2,2%. Não é lá muito difícil crescer entre 3,5% e 4%. O ideal seria crescer uns 7% a fim de dobrar a renda média em uma década, com o que nossos problemas materiais estariam mais ou menos resolvidos.
Sim, a situação da economia mundial não nos ajuda. Ajuda mais nossos vizinhos, mais dependentes de commodities -nós temos uma indústria, ainda que avariada. Eles, não. Mas alguns de nossos vizinhos puseram a cabeça para funcionar.
Nós paramos de pensar faz quase uma década. Afora a ampliação do mercado interno, sob Lula, quase não aconteceu mais nada. O consumo não pode crescer mais, de modo duradouro, se não tomarmos outras providências.
Onde está o programa de passar para empresas privadas a construção e a operação de estrada, porto, ferrovia, aeroporto, que já veio tarde e a contragosto?
O programa de redução do custo da energia elétrica está emperrando. O governo não consegue aumentar o seu já miúdo investimento desde o final de 2010.
A exploração de petróleo não anda desde 2008. A lei dos royalties, de distribuição de parte da renda do petróleo para União, Estados e municípios, foi aprovada no início do mês, mas vai dar em confusão e atraso. O programa de desenvolvimento do setor que o governo impôs à Petrobras revela-se caro e lerdo.
Em suma: infraestrutura, energia e regulação do mercado estão emperradas.
A maior invenção brasileira nas últimas quatro décadas, se não a única, o etanol, vai mal por excesso de intervenção do governo nos combustíveis (o governo tabela a gasolina, vende-se pouco etanol e a coisa encrenca nas usinas).
Depois do Bolsa Escola, lá ainda no primeiro governo FHC (1995-1998), nada mais se inventou em educação básica. Sim, há o Prouni, mas o analfabetismo funcional no Brasil está na casa dos 30%. Mas a presidente e os governadores mais importantes mal tocam no assunto.
Provavelmente vamos crescer pelo menos uns 3% em 2013. Mas como podemos crescer mais e por mais tempo se o mercado de trabalho está no osso, a inovação é marginal, a infraestrutura está emperrada, a regulação está cada vez mais confusa etc. etc.?
Parece que pouca gente nota, mas o país está emperrado.
A coisa encrencou em infraestrutura, custo da energia, petróleo, educação e investimento público
POR QUANTO tempo o Brasil pode crescer "politicamente" antes de o caldo econômico entornar?
Crescimento "político", por assim dizer, é o que temos visto nos últimos dois anos. As pessoas consomem mais, há emprego, o governo é popular. Mas não há investimento, mais produtividade, inovação. O investimento, aliás, vai encolher neste 2012.
A pergunta é apenas mais ou menos retórica. Não dá para responder que o caldo vai entornar em tanto ou quanto tempo. Mas entorna. A conta do consumo crescente sem produção adequada vai aparecer em algum lugar: na inflação, no deficit do governo, no deficit externo.
Além do desperdício mais óbvio, o crescimento baixo, estamos perdendo anos de um período de boas condições demográficas para crescer. Isto é, há menos crianças e ainda poucos idosos: temos, por ora, relativamente mais gente em condição de trabalhar.
No biênio 2011-12, teremos crescido algo entre 2% e 2,2%. Não é lá muito difícil crescer entre 3,5% e 4%. O ideal seria crescer uns 7% a fim de dobrar a renda média em uma década, com o que nossos problemas materiais estariam mais ou menos resolvidos.
Sim, a situação da economia mundial não nos ajuda. Ajuda mais nossos vizinhos, mais dependentes de commodities -nós temos uma indústria, ainda que avariada. Eles, não. Mas alguns de nossos vizinhos puseram a cabeça para funcionar.
Nós paramos de pensar faz quase uma década. Afora a ampliação do mercado interno, sob Lula, quase não aconteceu mais nada. O consumo não pode crescer mais, de modo duradouro, se não tomarmos outras providências.
Onde está o programa de passar para empresas privadas a construção e a operação de estrada, porto, ferrovia, aeroporto, que já veio tarde e a contragosto?
O programa de redução do custo da energia elétrica está emperrando. O governo não consegue aumentar o seu já miúdo investimento desde o final de 2010.
A exploração de petróleo não anda desde 2008. A lei dos royalties, de distribuição de parte da renda do petróleo para União, Estados e municípios, foi aprovada no início do mês, mas vai dar em confusão e atraso. O programa de desenvolvimento do setor que o governo impôs à Petrobras revela-se caro e lerdo.
Em suma: infraestrutura, energia e regulação do mercado estão emperradas.
A maior invenção brasileira nas últimas quatro décadas, se não a única, o etanol, vai mal por excesso de intervenção do governo nos combustíveis (o governo tabela a gasolina, vende-se pouco etanol e a coisa encrenca nas usinas).
Depois do Bolsa Escola, lá ainda no primeiro governo FHC (1995-1998), nada mais se inventou em educação básica. Sim, há o Prouni, mas o analfabetismo funcional no Brasil está na casa dos 30%. Mas a presidente e os governadores mais importantes mal tocam no assunto.
Provavelmente vamos crescer pelo menos uns 3% em 2013. Mas como podemos crescer mais e por mais tempo se o mercado de trabalho está no osso, a inovação é marginal, a infraestrutura está emperrada, a regulação está cada vez mais confusa etc. etc.?
Parece que pouca gente nota, mas o país está emperrado.
Feirão federativo - VERA MAGALHÃES - PAINEL
FOLHA DE SP - 18/11
Preocupado em demonstrar empenho nas parcerias do Estado com o governo federal após o impasse na segurança, Geraldo Alckmin recomendou a secretários que percorram os ministérios em busca de acordos de cooperação nas áreas de habitação, saneamento, infraestrutura esportiva e transportes. O próprio governador incluiu em sua agenda reuniões com ministros -esteve recentemente com Aguinaldo Ribeiro (Cidades), Aldo Rebelo (Esporte) e Guido Mantega (Fazenda).
Onde pega
Além da blindagem contra o PT, que critica o tucano pela lenta entrada de programas da União em São Paulo, o tour alckmista por Brasília tem finalidade pragmática: o governo paulista busca recursos e financiamentos, sobretudo do BNDES, para tocar obras prometidas na campanha até 2014.
Vai ou racha
A mobilização de quadros de cidades próximas à capital para o secretariado de Fernando Haddad foi acompanhada de perto por Lula. O ex-presidente tem dito a petistas que a prefeitura paulistana é a prioridade do partido em detrimento de outras administrações.
Médio prazo
Aliados de José de Filippi consideraram arriscada a ida do ex-prefeito para o primeiro escalão de Haddad. Com a recente derrota em Diadema, avaliam que o deputado será alvo de campanha por ter abandonado o mandato e a cidade.
DNA
Além de Andrea Matarazzo, outro vereador eleito entrou na disputa pela presidência do PSDB paulistano: Mario Covas Neto, filho do ex-governador Mario Covas.
É a economia
A aliança de Gilberto Kassab com Dilma Rousseff foi precipitada por prognóstico otimista de Henrique Meirelles sobre a economia brasileira. O ex-presidente do Banco Central, um dos ministeriáveis do PSD, relatou a Kassab que o pleno emprego deve blindar o país de crises até 2014.
Sujou
Aliados de Paulo Maluf em São Paulo, petistas e tucanos consideram que a decisão da Justiça de Jersey dificulta, em médio prazo, a permanência do deputado à frente do PP paulista. Com o cerco judicial, o ex-prefeito dificilmente conseguirá registro para postular novo mandato na Câmara em 2014.
Rateio
O diretório nacional do PMDB se recusou a assumir dívida de R$ 7 milhões da campanha de Gabriel Chalita em São Paulo. A tesouraria do partido autorizou as direções municipal e estadual a dividirem o prejuízo.
Apego
Aloizio Mercadante (Educação) tem feito críticas, em privado, à provável nomeação de Chalita para o Ministério de Ciência e Tecnologia. O ministro não gostaria de perder influência sobre a pasta, onde deixou aliados em postos de destaque.
Meteorologia
Chalita guarda vínculos afetivos com o ministério que deseja ocupar. O Inpe, principal órgão da pasta, mantém pioneiro centro de estudos climáticos em Cachoeira Paulista, cidade natal do peemedebista.
Novos ares
Blairo Maggi (MT) prepara seu desembarque do PR. Protocolou consulta no TSE para saber as consequências jurídicas sobre seu mandato, e dos suplentes, caso deixe o partido. PMDB e PSB são os destinos mais prováveis do senador.
Apetite
Ainda não acabou a série de jantares de Dilma Rousseff com a base aliada. O PC do B pediu para ser recebido no Alvorada.
Isonomia
Chamou a atenção da PF bilhete de Carlinhos Cachoeira apreendido na casa de sua mulher, Andressa Mendonça. O empresário pergunta, como "preso político", o motivo de ele estar preso e José Dirceu, solto.
Tiroteio
"Em tempos de apagão, o governo continua jogando para a arquibancada. Aliás, não faz outra coisa ao longo dos últimos dez anos."
DO SENADOR FLEXA RIBEIRO (PSDB-PA), sobre a redação da MP 579, que trata da renovação de concessões do setor elétrico e que pretende reduzir as tarifas.
Contraponto
Preto ou caju?
Recém-eleito prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto (PSDB) visitava gabinetes no Senado na semana passada quando esbarrou em Alfredo Nascimento (PR-AM) no corredor. O tucano logo brincou:
-Alfredo! Está bonito, hein?
O presidente nacional do PR, que costuma tingir o cabelo, respondeu sem titubear:
-Bonito eu estou sempre...
Minutos depois, após tratarem de outros temas, Nascimento voltou à seara estética.
-Você acha que eu estava bonito mesmo?
Preocupado em demonstrar empenho nas parcerias do Estado com o governo federal após o impasse na segurança, Geraldo Alckmin recomendou a secretários que percorram os ministérios em busca de acordos de cooperação nas áreas de habitação, saneamento, infraestrutura esportiva e transportes. O próprio governador incluiu em sua agenda reuniões com ministros -esteve recentemente com Aguinaldo Ribeiro (Cidades), Aldo Rebelo (Esporte) e Guido Mantega (Fazenda).
Onde pega
Além da blindagem contra o PT, que critica o tucano pela lenta entrada de programas da União em São Paulo, o tour alckmista por Brasília tem finalidade pragmática: o governo paulista busca recursos e financiamentos, sobretudo do BNDES, para tocar obras prometidas na campanha até 2014.
Vai ou racha
A mobilização de quadros de cidades próximas à capital para o secretariado de Fernando Haddad foi acompanhada de perto por Lula. O ex-presidente tem dito a petistas que a prefeitura paulistana é a prioridade do partido em detrimento de outras administrações.
Médio prazo
Aliados de José de Filippi consideraram arriscada a ida do ex-prefeito para o primeiro escalão de Haddad. Com a recente derrota em Diadema, avaliam que o deputado será alvo de campanha por ter abandonado o mandato e a cidade.
DNA
Além de Andrea Matarazzo, outro vereador eleito entrou na disputa pela presidência do PSDB paulistano: Mario Covas Neto, filho do ex-governador Mario Covas.
É a economia
A aliança de Gilberto Kassab com Dilma Rousseff foi precipitada por prognóstico otimista de Henrique Meirelles sobre a economia brasileira. O ex-presidente do Banco Central, um dos ministeriáveis do PSD, relatou a Kassab que o pleno emprego deve blindar o país de crises até 2014.
Sujou
Aliados de Paulo Maluf em São Paulo, petistas e tucanos consideram que a decisão da Justiça de Jersey dificulta, em médio prazo, a permanência do deputado à frente do PP paulista. Com o cerco judicial, o ex-prefeito dificilmente conseguirá registro para postular novo mandato na Câmara em 2014.
Rateio
O diretório nacional do PMDB se recusou a assumir dívida de R$ 7 milhões da campanha de Gabriel Chalita em São Paulo. A tesouraria do partido autorizou as direções municipal e estadual a dividirem o prejuízo.
Apego
Aloizio Mercadante (Educação) tem feito críticas, em privado, à provável nomeação de Chalita para o Ministério de Ciência e Tecnologia. O ministro não gostaria de perder influência sobre a pasta, onde deixou aliados em postos de destaque.
Meteorologia
Chalita guarda vínculos afetivos com o ministério que deseja ocupar. O Inpe, principal órgão da pasta, mantém pioneiro centro de estudos climáticos em Cachoeira Paulista, cidade natal do peemedebista.
Novos ares
Blairo Maggi (MT) prepara seu desembarque do PR. Protocolou consulta no TSE para saber as consequências jurídicas sobre seu mandato, e dos suplentes, caso deixe o partido. PMDB e PSB são os destinos mais prováveis do senador.
Apetite
Ainda não acabou a série de jantares de Dilma Rousseff com a base aliada. O PC do B pediu para ser recebido no Alvorada.
Isonomia
Chamou a atenção da PF bilhete de Carlinhos Cachoeira apreendido na casa de sua mulher, Andressa Mendonça. O empresário pergunta, como "preso político", o motivo de ele estar preso e José Dirceu, solto.
Tiroteio
"Em tempos de apagão, o governo continua jogando para a arquibancada. Aliás, não faz outra coisa ao longo dos últimos dez anos."
DO SENADOR FLEXA RIBEIRO (PSDB-PA), sobre a redação da MP 579, que trata da renovação de concessões do setor elétrico e que pretende reduzir as tarifas.
Contraponto
Preto ou caju?
Recém-eleito prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto (PSDB) visitava gabinetes no Senado na semana passada quando esbarrou em Alfredo Nascimento (PR-AM) no corredor. O tucano logo brincou:
-Alfredo! Está bonito, hein?
O presidente nacional do PR, que costuma tingir o cabelo, respondeu sem titubear:
-Bonito eu estou sempre...
Minutos depois, após tratarem de outros temas, Nascimento voltou à seara estética.
-Você acha que eu estava bonito mesmo?
Algodão entre cristais - DORA KRAMER
O Estado de S.Paulo - 18/11
Fácil não foi. Houve mesmo momentos em que o ministro Carlos Ayres Britto achou que não conseguiria cumprir o propósito de incluir o julgamento do processo do mensalão na agenda do Supremo Tribunal Federal durante sua breve presidência.
Seriam apenas sete meses, em função da aposentadoria compulsória aos 70 anos completados hoje, a respeito dos quais Ayres Britto começou a pensar desde o ano anterior.
Decidiu que se empenharia no exame da Ação Penal 470 ao juntar os fatos: o caso acontecera há sete anos, a denúncia havia sido recebida há quase cinco, a instrução terminara um ano antes, a prescrição de alguns crimes batia à porta do processo.
Não obstante as condições objetivas favoráveis, Ayres Britto sentia a atmosfera desfavorável e um obstáculo concreto a ser transposto: o revisor Ricardo Lewandowski dava indicações de que não liberaria seu parecer tão cedo.
Além disso, recebia ponderações de amigos de que talvez não fosse um bom negócio se envolver numa confusão desse tamanho em tão pouco tempo de presidência.
O tribunal paralisaria os trabalhos, viveria boa parte de sua gestão em função de um único processo e ainda receberia críticas por ter feito coincidir o julgamento com as eleições municipais.
Os argumentos não pareciam consistentes ao ministro Ayres Britto. A paralisia de outros processos seria um preço inevitável e as eleições fazem parte da rotina do País. O ministro quis antecipar o julgamento para maio, mas não conseguiu devido às resistências no colegiado.
Vencidas pouco a pouco em negociações prolongadas. Foram inúmeros encontros preparatórios até que no dia 6 de junho foi anunciada oficialmente a data do início do julgamento para dali a dois meses. Lewandowski e Antonio Dias Toffoli não foram à reunião, alegando outros compromissos.
Entre as poucas pessoas que apoiavam a empreitada estava a ex-ministra do STF Ellen Gracie. Presidente da Corte quando a denúncia foi aceita, em 2007, ela telefonou para Ayres Britto para dar apoio e dizer que ele era a pessoa certa, no lugar certo.
A combinação de suavidade, persistência e firmeza faziam dele o perfil ideal para levar adiante o processo.
Ainda assim houve um momento, mais ou menos um mês antes de conseguir bater o martelo, em que o ministro viu a coisa feia e achou que não seria possível fazer o julgamento a tempo de evitar a prescrição de alguns crimes, tamanha era a pressão. Implícita, jamais explícita.
Ele perdeu a conta das vezes em que ouviu a pergunta "por que julgar?". À qual rebatia com um "por que não julgar?" que deixava o interlocutor sem resposta.
Olhando os últimos três meses no retrovisor o ministro evita qualquer crítica aos colegas, mas aponta que os desentendimentos entre eles foram responsáveis pelas situações mais difíceis que teve de enfrentar durante o julgamento. Principalmente quando as divergências resvalavam para o campo pessoal, beirando o insulto.
Nessas ocasiões Ayres Britto via a coisa realmente feia - "um verdadeiro sarapatel de coruja", na expressão da Sergipe natal - e improvisava.
Quando era possível cuidava de elevar a "taxa de cordialidade" no plenário com alguma tirada poética, mas quando não havia jeito suspendia a sessão e promovia um entendimento informal que se traduzia na restauração da formalidade na volta dos ministros ao plenário.
Carlos Ayres Britto deixa o Supremo Tribunal Federal sem nostalgia - "tenho facilidade para virar a página", diz - e absolutamente tranquilo quanto ao dever cumprido pela Corte.
Não vê sentido nas críticas de que o STF deixou de lado a ortodoxia jurídica para se comportar como tribunal de exceção.
"Heterodoxo foi o caso. A novidade não está no julgador, mas no processo julgado, na quantidade de réus, na gravidade dos crimes e na ousadia dos criminosos. O Supremo fez o que deveria ser feito."
Fácil não foi. Houve mesmo momentos em que o ministro Carlos Ayres Britto achou que não conseguiria cumprir o propósito de incluir o julgamento do processo do mensalão na agenda do Supremo Tribunal Federal durante sua breve presidência.
Seriam apenas sete meses, em função da aposentadoria compulsória aos 70 anos completados hoje, a respeito dos quais Ayres Britto começou a pensar desde o ano anterior.
Decidiu que se empenharia no exame da Ação Penal 470 ao juntar os fatos: o caso acontecera há sete anos, a denúncia havia sido recebida há quase cinco, a instrução terminara um ano antes, a prescrição de alguns crimes batia à porta do processo.
Não obstante as condições objetivas favoráveis, Ayres Britto sentia a atmosfera desfavorável e um obstáculo concreto a ser transposto: o revisor Ricardo Lewandowski dava indicações de que não liberaria seu parecer tão cedo.
Além disso, recebia ponderações de amigos de que talvez não fosse um bom negócio se envolver numa confusão desse tamanho em tão pouco tempo de presidência.
O tribunal paralisaria os trabalhos, viveria boa parte de sua gestão em função de um único processo e ainda receberia críticas por ter feito coincidir o julgamento com as eleições municipais.
Os argumentos não pareciam consistentes ao ministro Ayres Britto. A paralisia de outros processos seria um preço inevitável e as eleições fazem parte da rotina do País. O ministro quis antecipar o julgamento para maio, mas não conseguiu devido às resistências no colegiado.
Vencidas pouco a pouco em negociações prolongadas. Foram inúmeros encontros preparatórios até que no dia 6 de junho foi anunciada oficialmente a data do início do julgamento para dali a dois meses. Lewandowski e Antonio Dias Toffoli não foram à reunião, alegando outros compromissos.
Entre as poucas pessoas que apoiavam a empreitada estava a ex-ministra do STF Ellen Gracie. Presidente da Corte quando a denúncia foi aceita, em 2007, ela telefonou para Ayres Britto para dar apoio e dizer que ele era a pessoa certa, no lugar certo.
A combinação de suavidade, persistência e firmeza faziam dele o perfil ideal para levar adiante o processo.
Ainda assim houve um momento, mais ou menos um mês antes de conseguir bater o martelo, em que o ministro viu a coisa feia e achou que não seria possível fazer o julgamento a tempo de evitar a prescrição de alguns crimes, tamanha era a pressão. Implícita, jamais explícita.
Ele perdeu a conta das vezes em que ouviu a pergunta "por que julgar?". À qual rebatia com um "por que não julgar?" que deixava o interlocutor sem resposta.
Olhando os últimos três meses no retrovisor o ministro evita qualquer crítica aos colegas, mas aponta que os desentendimentos entre eles foram responsáveis pelas situações mais difíceis que teve de enfrentar durante o julgamento. Principalmente quando as divergências resvalavam para o campo pessoal, beirando o insulto.
Nessas ocasiões Ayres Britto via a coisa realmente feia - "um verdadeiro sarapatel de coruja", na expressão da Sergipe natal - e improvisava.
Quando era possível cuidava de elevar a "taxa de cordialidade" no plenário com alguma tirada poética, mas quando não havia jeito suspendia a sessão e promovia um entendimento informal que se traduzia na restauração da formalidade na volta dos ministros ao plenário.
Carlos Ayres Britto deixa o Supremo Tribunal Federal sem nostalgia - "tenho facilidade para virar a página", diz - e absolutamente tranquilo quanto ao dever cumprido pela Corte.
Não vê sentido nas críticas de que o STF deixou de lado a ortodoxia jurídica para se comportar como tribunal de exceção.
"Heterodoxo foi o caso. A novidade não está no julgador, mas no processo julgado, na quantidade de réus, na gravidade dos crimes e na ousadia dos criminosos. O Supremo fez o que deveria ser feito."
Sonhos de supersimetria - MARCELO GLEISER
FOLHA DE SP - 18/11
É difícil dizer quando uma hipótese propondo um novo fenômeno deve ser descartada pelos cientistas
Quando os cientistas aceitam que uma hipótese está errada? Em princípio, a coisa é simples: formula-se uma hipótese para explicar um fenômeno já conhecido ou propor a existência de algo novo. Experimentos são montados com o intuito de verificar a hipótese. Caso o fenômeno já seja conhecido, a hipótese é comparada com hipóteses rivais. A que for mais simples e explicar melhor o que foi observado é escolhida.
A partir daí, ela fica sendo a explicação aceita até que novos fenômenos venham contradizê-la. O segundo caso, hipóteses científicas que propõem novos fenômenos, é bem mais complicado.
A complicação vem de como as hipóteses são construídas. Em geral, especialmente na física e na astronomia, hipóteses são baseadas em modelos matemáticos, descrições aproximadas de como a Natureza opera. Todo modelo é uma aproximação, ou seja, nenhum é réplica perfeita do real. Consequentemente, nenhum modelo é completo.
Por exemplo, na física de partículas, que estuda os menores componentes da matéria, tudo o que conhecemos se resume ao Modelo Padrão, que explica as partículas descobertas até agora e as quatro forças com que interagem entre si.
Sua estrutura é relativamente simples: 12 partículas de matéria arranjadas em três "famílias". A mais conhecida descreve a matéria da qual somos compostos (elétrons, prótons e nêutrons). As duas outras descrevem partículas que surgem em experimentos de altíssimas energias, como os do LHC, famoso pela descoberta do bóson de Higgs.
Mas, como todo modelo é incompleto, existem lacunas no Modelo Padrão. Para preenchê-las, físicos propõem extensões do Modelo Padrão, novos modelos com mais partículas. O teste dessas hipóteses é sempre descobrir as novas partículas propostas pelos modelos.
Deles, o mais famoso é o que invoca uma nova simetria da natureza, a supersimetria. Essa simetria dobraria o número de partículas que existem na Natureza.
Se a supersimetria existe, deveríamos encontrar um monte de novas partículas. Isso parece ruim, mas a ideia é que a supersimetria explicaria vários problemas que existem no Modelo Padrão, os quais não temos espaço para abordar. (Trato disso em meu livro "Criação Imperfeita".)
A supersimetria também pode resolver um enigma cósmico, a existência da matéria escura, que afeta a rotação das galáxias.
Por causa disso, físicos no LHC e em outros experimentos vem buscando partículas previstas por teorias supersimétricas. Até o momento, nada. Recentemente, um raro decaimento ("decomposição") de uma partícula conhecida como méson B criou mais problemas para a supersimetria, que prevê que o decaimento seja muito mais comum do que é.
Por que a supersimetria não é abandonada? A complicação é que modelos matemáticos dependem de parâmetros que podem ser ajustados (massa das partículas, por exemplo), de modo que suas previsões escapem dos instrumentos de detecção: a teoria pode se esconder, em princípio indefinidamente.
E que critério, então, é usado para descartar uma hipótese que não está funcionando? Não existe uma resposta clara. Apenas a humildade de aceitar o erro e propor o novo, mesmo que menos elegante.
É difícil dizer quando uma hipótese propondo um novo fenômeno deve ser descartada pelos cientistas
Quando os cientistas aceitam que uma hipótese está errada? Em princípio, a coisa é simples: formula-se uma hipótese para explicar um fenômeno já conhecido ou propor a existência de algo novo. Experimentos são montados com o intuito de verificar a hipótese. Caso o fenômeno já seja conhecido, a hipótese é comparada com hipóteses rivais. A que for mais simples e explicar melhor o que foi observado é escolhida.
A partir daí, ela fica sendo a explicação aceita até que novos fenômenos venham contradizê-la. O segundo caso, hipóteses científicas que propõem novos fenômenos, é bem mais complicado.
A complicação vem de como as hipóteses são construídas. Em geral, especialmente na física e na astronomia, hipóteses são baseadas em modelos matemáticos, descrições aproximadas de como a Natureza opera. Todo modelo é uma aproximação, ou seja, nenhum é réplica perfeita do real. Consequentemente, nenhum modelo é completo.
Por exemplo, na física de partículas, que estuda os menores componentes da matéria, tudo o que conhecemos se resume ao Modelo Padrão, que explica as partículas descobertas até agora e as quatro forças com que interagem entre si.
Sua estrutura é relativamente simples: 12 partículas de matéria arranjadas em três "famílias". A mais conhecida descreve a matéria da qual somos compostos (elétrons, prótons e nêutrons). As duas outras descrevem partículas que surgem em experimentos de altíssimas energias, como os do LHC, famoso pela descoberta do bóson de Higgs.
Mas, como todo modelo é incompleto, existem lacunas no Modelo Padrão. Para preenchê-las, físicos propõem extensões do Modelo Padrão, novos modelos com mais partículas. O teste dessas hipóteses é sempre descobrir as novas partículas propostas pelos modelos.
Deles, o mais famoso é o que invoca uma nova simetria da natureza, a supersimetria. Essa simetria dobraria o número de partículas que existem na Natureza.
Se a supersimetria existe, deveríamos encontrar um monte de novas partículas. Isso parece ruim, mas a ideia é que a supersimetria explicaria vários problemas que existem no Modelo Padrão, os quais não temos espaço para abordar. (Trato disso em meu livro "Criação Imperfeita".)
A supersimetria também pode resolver um enigma cósmico, a existência da matéria escura, que afeta a rotação das galáxias.
Por causa disso, físicos no LHC e em outros experimentos vem buscando partículas previstas por teorias supersimétricas. Até o momento, nada. Recentemente, um raro decaimento ("decomposição") de uma partícula conhecida como méson B criou mais problemas para a supersimetria, que prevê que o decaimento seja muito mais comum do que é.
Por que a supersimetria não é abandonada? A complicação é que modelos matemáticos dependem de parâmetros que podem ser ajustados (massa das partículas, por exemplo), de modo que suas previsões escapem dos instrumentos de detecção: a teoria pode se esconder, em princípio indefinidamente.
E que critério, então, é usado para descartar uma hipótese que não está funcionando? Não existe uma resposta clara. Apenas a humildade de aceitar o erro e propor o novo, mesmo que menos elegante.
Eu amo o Nero - MARTHA MEDEIROS
ZERO HORA - 18/11
Carência é uma enfermidade universal. Nem os gatos, tão altivos e superiores, escapam
Ao lado da minha escrivaninha, onde fica o meu computador, há um sofá repleto de livros, revistas e jornais, e que também acomoda o gato aqui de casa. É onde ele se instala quando está carente ou quando está com fome. Quando está carente, é um santo. Fica quietinho, perto de mim, e dorme a tarde inteira. Mas quando está com fome é um inferno.
Fica miando com insistência e não sossega até que eu vá com ele à área de serviço onde fica seu prato. Só que no prato sempre tem comida. Por que tenho que ir junto? Ora, porque ele quer que eu coloque um pouco mais. Nem que sejam duas partículas extras de ração, é preciso que ele veja que está sendo colocado mais. O que está no prato não basta.
Eu estava aqui sem assunto, o que não é nenhuma novidade, quando meu gato se aproximou e começou a miar. Em vez de jogar um chinelo nele (estou brincando, estou brincando), olhei bem dentro de seus olhos e pensei: será que esse bichano, em vez de azucrinar, não me rende alguma crônica? Será que todos os gatos são assim voluntariosos? Por que diabos ele tem que ver o prato sendo abastecido a cada vez que deseja comer, se ali já tem comida suficiente?
Algum expert em felinos há de elucidar esse mistério, provavelmente estou errando em alguma coisa. Mas um profissional ligado às ciências humanas talvez me saísse com essa: ele apela para o dengo porque precisamos de constantes demonstrações de amor. Homens, mulheres e, pelo visto, gatos também.
Você sabe que é amado, o amor já lhe foi entregue, está ali, no seu prato. É todo seu. Em caso de dúvida, é só chegar e pegar seu quinhão, nunca vai faltar. Serve assim? Não serve.
Você quer a renovação diária de declarações, quer ouvir “eu te amo” todos os dias, quer ser mimado, cuidado, quer que os outros parem de trabalhar para lhe dar atenção, quer que reparem na sua fome, quer se sentir importante. Em suma, quer que seja colocado mais amor no seu prato, de quatro a cinco vezes por dia, todos os dias.
Eu amo o Nero – é como ele se chama. Eu o adotei, o trouxe pra casa, deixo que ele se enrosque no meu edredom, que afie as garras nos meus móveis, que mastigue minhas plantas e que brinque com minhas lixas de unha.
Como moro em edifício, fecho todas as janelas para ele não saltar (mesmo no auge do calor), o levo para tomar banho (principalmente no auge do calor), compro ração da melhor qualidade e de vez em quando até dou a ele uns pedacinhos de filé mignon extraídos do meu próprio almoço, o que ninguém recomenda fazer, mas faço. Encho o bicho de carinho, de cafuné, de olhares afetuosos – não é qualquer um que consegue isso de mim. O Nero consegue, e ainda assim é inseguro.
Pelo visto, carência é uma enfermidade universal. Nem os gatos, tão altivos e superiores, escapam.
Carência é uma enfermidade universal. Nem os gatos, tão altivos e superiores, escapam
Ao lado da minha escrivaninha, onde fica o meu computador, há um sofá repleto de livros, revistas e jornais, e que também acomoda o gato aqui de casa. É onde ele se instala quando está carente ou quando está com fome. Quando está carente, é um santo. Fica quietinho, perto de mim, e dorme a tarde inteira. Mas quando está com fome é um inferno.
Fica miando com insistência e não sossega até que eu vá com ele à área de serviço onde fica seu prato. Só que no prato sempre tem comida. Por que tenho que ir junto? Ora, porque ele quer que eu coloque um pouco mais. Nem que sejam duas partículas extras de ração, é preciso que ele veja que está sendo colocado mais. O que está no prato não basta.
Eu estava aqui sem assunto, o que não é nenhuma novidade, quando meu gato se aproximou e começou a miar. Em vez de jogar um chinelo nele (estou brincando, estou brincando), olhei bem dentro de seus olhos e pensei: será que esse bichano, em vez de azucrinar, não me rende alguma crônica? Será que todos os gatos são assim voluntariosos? Por que diabos ele tem que ver o prato sendo abastecido a cada vez que deseja comer, se ali já tem comida suficiente?
Algum expert em felinos há de elucidar esse mistério, provavelmente estou errando em alguma coisa. Mas um profissional ligado às ciências humanas talvez me saísse com essa: ele apela para o dengo porque precisamos de constantes demonstrações de amor. Homens, mulheres e, pelo visto, gatos também.
Você sabe que é amado, o amor já lhe foi entregue, está ali, no seu prato. É todo seu. Em caso de dúvida, é só chegar e pegar seu quinhão, nunca vai faltar. Serve assim? Não serve.
Você quer a renovação diária de declarações, quer ouvir “eu te amo” todos os dias, quer ser mimado, cuidado, quer que os outros parem de trabalhar para lhe dar atenção, quer que reparem na sua fome, quer se sentir importante. Em suma, quer que seja colocado mais amor no seu prato, de quatro a cinco vezes por dia, todos os dias.
Eu amo o Nero – é como ele se chama. Eu o adotei, o trouxe pra casa, deixo que ele se enrosque no meu edredom, que afie as garras nos meus móveis, que mastigue minhas plantas e que brinque com minhas lixas de unha.
Como moro em edifício, fecho todas as janelas para ele não saltar (mesmo no auge do calor), o levo para tomar banho (principalmente no auge do calor), compro ração da melhor qualidade e de vez em quando até dou a ele uns pedacinhos de filé mignon extraídos do meu próprio almoço, o que ninguém recomenda fazer, mas faço. Encho o bicho de carinho, de cafuné, de olhares afetuosos – não é qualquer um que consegue isso de mim. O Nero consegue, e ainda assim é inseguro.
Pelo visto, carência é uma enfermidade universal. Nem os gatos, tão altivos e superiores, escapam.
Vergonha - DANUZA LEÃO
FOLHA DE SP - 18/11
Ambição é um perigo. Quando as pessoas querem mais, fazem qualquer negócio para conseguir
A semana foi pesada, com muitas chuvas e trovoadas.
Por mais que se achasse que os envolvidos no mensalão mereciam ser condenados, pensar que pessoas que foram tão importantes na vida brasileira, vão para a prisão -aquela prisão à qual se referiu o ministro da Justiça e que conhecemos bem através de fotos- não deixa de mexer com quem tem um mínimo de compaixão.
Algumas coisas me fazem pensar. Será que os muito poderosos, quando ocupam os cargos mais importantes na vida do país, acham que podem tudo, que o poder é eterno, que podem fazer o que quiserem e que jamais serão punidos?
E já que o poder é tão bom, que vale tudo para que ele seja eterno? Não só eles mas também seus amigos, seus ajudantes nos crimes, do mais humilde dos contínuos ao mais íntimo dos chefões, todos se acham imunes às leis.
Se não fosse assim, não fariam o que fazem quase todos os que têm o poder. E no caso em questão, não me parece que quisessem tanto dinheiro para ficarem ricos -não todo-, mas para poderem continuar poderosos.
Mas talvez eu esteja enganada; os que mandam num país devem se sentir tão onipotentes que nem acham que estão fazendo alguma coisa de errado. Podem tudo e, claro, querem continuar podendo.
Fico pensando em Katia Rabello, presidente do Banco Rural, que se meteu nessa enrascada nem sei bem por quê. Ela já era rica o suficiente, importante o suficiente, inteligente -imagino- o suficiente, como é que foi entrar nessa? Dezesseis anos de prisão é muito tempo, e se fosse só um ano também seria; como é que se encara o futuro, depois de receber uma pena dessas?
A ambição é um perigo, seja ela de que tipo for. Quando as pessoas querem mais, sempre mais, fazem qualquer negócio para conseguir. Mesmo que no fundo de algum desses réus que foram condenados houvesse (talvez) um ideal, o ideal de transformar o país, não há quem me convença de que o poder não lhes subiu à cabeça.
Entrar num restaurante e ser saudado com mesuras pelos garçons, ter a melhor mesa, ser paparicado por todos, isso deve deslumbrar muita gente, sobretudo os que nunca tiveram essas regalias. Mas essas regalias não eram para eles, e sim para o cargo que tinham, e assim que outra pessoa assume esse lugar, elas automaticamente são dirigidas aos novos ocupantes dos cargos. E o que são essas regalias, no fundo? Rigorosamente nada.
E será que é tão importante assim ter gente em volta, literalmente -e desculpem a expressão- lhes puxando o saco? É preciso ser muito ingênuo ou despreparado para se deslumbrar com essas coisas.
O curioso é que a maioria dos que foram condenados sofreram na carne os horrores da ditadura, e quando, depois de muita luta, chegaram ao poder, ficaram muito parecidos com os que comandavam o antigo regime. Não prenderam nem torturaram ninguém, mas em matéria de autoritarismo se comportaram da mesma maneira.
O que me leva a pensar que todo radicalismo, seja ele de esquerda ou de direita, é muito parecido, e que a única diferença entre eles é que estão em campos opostos.
E dizer "não vi", como disse Lula quando foi perguntado sobre as penas que sofreram seus companheiros, foi constrangedor. Uma vergonha, vindo de um ex-presidente da República.
Ambição é um perigo. Quando as pessoas querem mais, fazem qualquer negócio para conseguir
A semana foi pesada, com muitas chuvas e trovoadas.
Por mais que se achasse que os envolvidos no mensalão mereciam ser condenados, pensar que pessoas que foram tão importantes na vida brasileira, vão para a prisão -aquela prisão à qual se referiu o ministro da Justiça e que conhecemos bem através de fotos- não deixa de mexer com quem tem um mínimo de compaixão.
Algumas coisas me fazem pensar. Será que os muito poderosos, quando ocupam os cargos mais importantes na vida do país, acham que podem tudo, que o poder é eterno, que podem fazer o que quiserem e que jamais serão punidos?
E já que o poder é tão bom, que vale tudo para que ele seja eterno? Não só eles mas também seus amigos, seus ajudantes nos crimes, do mais humilde dos contínuos ao mais íntimo dos chefões, todos se acham imunes às leis.
Se não fosse assim, não fariam o que fazem quase todos os que têm o poder. E no caso em questão, não me parece que quisessem tanto dinheiro para ficarem ricos -não todo-, mas para poderem continuar poderosos.
Mas talvez eu esteja enganada; os que mandam num país devem se sentir tão onipotentes que nem acham que estão fazendo alguma coisa de errado. Podem tudo e, claro, querem continuar podendo.
Fico pensando em Katia Rabello, presidente do Banco Rural, que se meteu nessa enrascada nem sei bem por quê. Ela já era rica o suficiente, importante o suficiente, inteligente -imagino- o suficiente, como é que foi entrar nessa? Dezesseis anos de prisão é muito tempo, e se fosse só um ano também seria; como é que se encara o futuro, depois de receber uma pena dessas?
A ambição é um perigo, seja ela de que tipo for. Quando as pessoas querem mais, sempre mais, fazem qualquer negócio para conseguir. Mesmo que no fundo de algum desses réus que foram condenados houvesse (talvez) um ideal, o ideal de transformar o país, não há quem me convença de que o poder não lhes subiu à cabeça.
Entrar num restaurante e ser saudado com mesuras pelos garçons, ter a melhor mesa, ser paparicado por todos, isso deve deslumbrar muita gente, sobretudo os que nunca tiveram essas regalias. Mas essas regalias não eram para eles, e sim para o cargo que tinham, e assim que outra pessoa assume esse lugar, elas automaticamente são dirigidas aos novos ocupantes dos cargos. E o que são essas regalias, no fundo? Rigorosamente nada.
E será que é tão importante assim ter gente em volta, literalmente -e desculpem a expressão- lhes puxando o saco? É preciso ser muito ingênuo ou despreparado para se deslumbrar com essas coisas.
O curioso é que a maioria dos que foram condenados sofreram na carne os horrores da ditadura, e quando, depois de muita luta, chegaram ao poder, ficaram muito parecidos com os que comandavam o antigo regime. Não prenderam nem torturaram ninguém, mas em matéria de autoritarismo se comportaram da mesma maneira.
O que me leva a pensar que todo radicalismo, seja ele de esquerda ou de direita, é muito parecido, e que a única diferença entre eles é que estão em campos opostos.
E dizer "não vi", como disse Lula quando foi perguntado sobre as penas que sofreram seus companheiros, foi constrangedor. Uma vergonha, vindo de um ex-presidente da República.
Aflições noturnas - JOÃO UBALDO RIBEIRO
O Estado de S.Paulo - 18/11
Vocês também devem ter lido a respeito da utilização de celulares como forma de pagamento ou transferência de dinheiro. Já está chegando, ou vai chegar em breve. Quando eu era menino e lia tudo o que podia, achei lá em casa um livro velho, com ilustrações sombrias, sobre os males da fraqueza nervosa, que eu não sabia o que era, mas de boa coisa não se tratava, a julgar pela cara franzida e meio tresvariada estampada na capa. Impressionava também a visão de um velhote, sentado de pijama na beira da cama com o cabelo desgrenhado, aparentemente desperto de um pesadelo. A legenda explicava que, depois de uma certa idade, muitos indivíduos (e indivíduas, segundo a gramática da República) padecem de aflições noturnas, ansiedades, dispneias, disúrias, discinesias, dispepsias e inúmeras outras condições molestosas, que não raro induzem a fundos estados melancólicos e, por vezes, até mesmo ao passamento prematuro - os textos de antigamente eram caprichados.
Faz pouco tempo, eu não tinha queixa, mas acho que estão começando a pintar umas aflições noturnas, há indícios de que a fraqueza nervosa já se encontra em processo de instalação. Foi essa notícia do celular que me chamou a atenção para o problema. Não o celular em si. Não tenho celular e já me costumei a ser a atração turística da mesa e objeto de comentários sociofilosóficos. Não só não tenho, como não quero ter. Não por nada, somente porque é mais uma geringonça de que na verdade nunca precisei e da qual passarei a depender perdidamente, depois de alguns dias. Uma repórter encarregada de fazer entrevistas sobre comunicações resolveu me ouvir e, quando eu lhe disse que não tinha celular, recusou-se a acreditar. Durante alguns segundos, acho que ela ficou pensando que, na Bahia, celular tinha outro nome, o único que eu conhecia, só podia ser. E desligou meio desconfiada, sem se conformar.
O que me afetou foi o que li a respeito dos celulares e pagamentos, ou melhor, do que o futuro nos reserva, a nós, terceiridadistas (resignemo-nos a "terceira idade", pois que não há mais jeito, e recebamos com um sorriso dúbio "atroz idade" e "indigna idade", mas reajamos a bengaladas contra "melhor idade" e "feliz idade"). Na matéria que vi, várias especialistas se manifestavam sobre a novidade. Operação facílima para pagar qualquer conta, transferir qualquer quantia. Teclam-se alguns botões no celular e a transação está feita. A inovação é bem recebida por todos, de consumidores a comerciantes. Mas, como sempre, há aspectos não tão alvissareiros. As autoridades do setor manifestaram alguma reserva quanto à adoção talvez precipitada do mecanismo, pois sua segurança requeria certas cautelas e habilidades. Em mãos vulneráveis, podia facilmente ser explorado por hackers criminosos e outros espertalhões. "Nossa preocupação principal", disse lá o entendido, "são os idosos e as pessoas de baixa instrução. Esses provavelmente precisarão de cuidados especiais ou atendimento diferenciado".
Pronto, meu caro coevo, minha distinta coetânea. Estamos ingressando em nova categoria estatística e administrativa, talvez ainda não batizada, embora logo deva aparecer o eufemismo oficial adequado. Deficientes cognitivos diversos? Geroanalfabetos? Excluídos por critérios etarioeducacionais? Não sei, mas, com a falta do que fazer que parece grassar em alguns dos incontáveis órgãos que cada vez mais nos dizem como devemos nos comportar, não somente em público como em casa, em que devemos acreditar, do que devemos gostar, como devemos falar e até como devemos entender o que lemos, acho que precisamos estar preparados para receber mais proteção por parte do Estado. Talvez, se o idoso e o analfabeto quiserem usar o celular para transações financeiras, precisem, para seu próprio bem, tomar um curso especial para a categoria e, depois disso, mediante requerimento ao Ministério da Fazenda, obter a Carteira Nacional de Movimentação Financeira para Idosos e Analfabetos, que os habilitará à realização de pagamentos simples.
Tudo razão para aflições noturnas. Agora compreendo aquele livro profético e até gostaria de tê-lo aqui, para uma consulta. Ainda não me levantei sobressaltado no meio da noite, mas não é preciso, é fácil fazer previsões assombradas sobre o que está por vir. Os idosos, como adverte todo dia algum comentarista de entonações sinistras, cada vez aumentam em número e já começam a causar uma série de problemas. Deixá-los trabalhar mais tempo antes da aposentadoria não resolve, porque atravanca o mercado de trabalho para os jovens. Sustentá-los é uma carga cada vez maior para a previdência social. O sistema de saúde também sofre, sobrecarregado por uma demanda que não para de crescer. Não é impossível que se conclua que representam um custo impossível de pagar e o correto é morrerem pela pátria, como está nos hinos.
Além disso, surgem boatos alarmistas inquietantes. Zecamunista, ele mesmo também da confraria idosa, andou denunciando uma conspiração multinacional para matar a velharia, através de estratagemas diabólicos, como epidemias artificiais. E, o que é pior, tudo para abastecer de matéria-prima o mercado de comida de cachorro dos Estados Unidos, da Europa e do próprio Brasil. Não botei fé, embora tenha ficado meio cabreiro, pois nunca se sabe de nada, neste mundo de hoje. Mas ele acabou me tranquilizando.
- Esqueça aquilo que eu falei - disse ele. - Não vão mais armar o esquema da comida de cachorro.
- Ah, eu sabia que era invenção, não iam fazer isso com os velhos.
- Não é por causa dos velhos - disse ele. - É por causa dos cachorros. As sociedades protetoras de animais declararam que essa comida ia fazer mal aos cachorros e ameaçaram boicote. Mas aguardemos os acontecimentos.
Felicidade do namoro é pura apreensão - FABRÍCIO CARPINEJAR
ZERO HORA - 18/11
“Tenho 26 anos, comecei a namorar recentemente, tudo está acontecendo rápido. Não me sentia insegura no início, pois não admitia nem a mim o que sentia. Mas a partir do momento que eu assumi, que a “sociedade” ficou sabendo do relacionamento, bateu aquele medo de abandono.
Acredito que isso é coisa da minha cabeça. Ele é súper atencioso em todos os momentos, mesmo quando não estamos juntos. Mas não compreendo essa insegurança. Um aperto no peito e minhocas na cabeça. Abraços Julieta”
Querida Julieta,
Apaixonar-se é isso: planejar o dia inteiro o que dizer e não falar nenhuma palavra ensaiada durante o encontro; é decorar uma vida sozinha para no fim improvisar a dois.
Previsível o que está passando. Procura investigar se seu par pensa exatamente igual, se sente exatamente igual, se deseja exatamente igual para não parecer tola. Confessa o passado por dias sucessivos (mais do que ofereceu a qualquer pessoa antes), e nunca a conversa é suficiente para se acalmar. Desliga o telefone e já bate a vontade de ligar de novo. Trata-se de um desespero prazeroso, pois tem como partilhar os sintomas com ele.
E acontece tão rápido que não dá para preparar resumo. A felicidade é pura apreensão. Mergulha o corpo em completo desequilíbrio, como se estivesse andando num colchão. Predomina a suspeita de que ele deixará de gostar a qualquer instante, ou que descobrirá quem você realmente é e perderá o encantamento.
O torpedo demora, os reencontros demoram: cada ato insignificante do cotidiano ganha o suspense de uma tragédia.
Quando você assumiu o relacionamento é que se conscientizou dessa fragilidade. Entendeu que ele pode machucá-la e desapontá-la. Antes restava a chance de desaparecer e não dar satisfação. Hoje todo mundo foi informado do envolvimento.
Formalizar o namoro é trocar um medo pelo outro. Antes tinha o medo de que ele não estivesse apaixonado, agora tem o medo de ser abandonada.
Não existe remédio. A insegurança é eterna. Quem tem certeza não ama mais.
“Tenho 26 anos, comecei a namorar recentemente, tudo está acontecendo rápido. Não me sentia insegura no início, pois não admitia nem a mim o que sentia. Mas a partir do momento que eu assumi, que a “sociedade” ficou sabendo do relacionamento, bateu aquele medo de abandono.
Acredito que isso é coisa da minha cabeça. Ele é súper atencioso em todos os momentos, mesmo quando não estamos juntos. Mas não compreendo essa insegurança. Um aperto no peito e minhocas na cabeça. Abraços Julieta”
Querida Julieta,
Apaixonar-se é isso: planejar o dia inteiro o que dizer e não falar nenhuma palavra ensaiada durante o encontro; é decorar uma vida sozinha para no fim improvisar a dois.
Previsível o que está passando. Procura investigar se seu par pensa exatamente igual, se sente exatamente igual, se deseja exatamente igual para não parecer tola. Confessa o passado por dias sucessivos (mais do que ofereceu a qualquer pessoa antes), e nunca a conversa é suficiente para se acalmar. Desliga o telefone e já bate a vontade de ligar de novo. Trata-se de um desespero prazeroso, pois tem como partilhar os sintomas com ele.
E acontece tão rápido que não dá para preparar resumo. A felicidade é pura apreensão. Mergulha o corpo em completo desequilíbrio, como se estivesse andando num colchão. Predomina a suspeita de que ele deixará de gostar a qualquer instante, ou que descobrirá quem você realmente é e perderá o encantamento.
O torpedo demora, os reencontros demoram: cada ato insignificante do cotidiano ganha o suspense de uma tragédia.
Quando você assumiu o relacionamento é que se conscientizou dessa fragilidade. Entendeu que ele pode machucá-la e desapontá-la. Antes restava a chance de desaparecer e não dar satisfação. Hoje todo mundo foi informado do envolvimento.
Formalizar o namoro é trocar um medo pelo outro. Antes tinha o medo de que ele não estivesse apaixonado, agora tem o medo de ser abandonada.
Não existe remédio. A insegurança é eterna. Quem tem certeza não ama mais.
Saber ver sem pensar - TOSTÃO
FOLHA DE SP - 18/11
A contratação de bons e diferentes técnicos estrangeiros seria ótima para o futebol brasileiro
Apesar das inexplicáveis escalações de Thiago Neves e Leandro Castán, o Brasil mostrou, contra a Colômbia, que está no caminho certo. Os que disseram que Neymar jogou isolado e de costas para o gol viram outro jogo. A equipe também teve problemas. Os dois laterais não tiveram apoio dos meias (Oscar, Kaká e Thiago Neves) na marcação pelos lados. Assim saíram o gol e outros lances de perigo.
Mudo de assunto. Dizem que contratar treinadores estrangeiros tem sido ótimo para as equipes olímpicas brasileiras. Isso estimula a discussão sobre trazer ou não técnicos de futebol de fora. Nos outros países, como aqui, há bons e maus treinadores. Para trazer, têm de ser os melhores e que sejam diferentes.
A diversidade de conceitos e de métodos enriqueceria o futebol brasileiro. Há muito tempo, quase todos os treinadores daqui fazem e falam as mesmas coisas. A repetição excessiva leva à mediocridade. No fim de ano, os "professores" se reúnem, trocam elogios e ficam ainda mais prepotentes.
Durante um longo tempo, quase todos os times brasileiros faziam marcação individual, tinham dois volantes brucutus, laterais que avançavam e só cruzavam para a área, um único meia para dar passes decisivos, um centroavante só para fazer gols, zagueiros encostados à grande área, enormes espaços entre os setores, além de excesso de jogadas aéreas, chutões, faltas e outros detalhes. Tudo com aplausos de parte da imprensa.
Volantes clássicos, com ótimo passe, como Martínez, que continua bem no Náutico, eram preteridos por volantes brucutus, que faziam faltas e davam carrinhos. Aos poucos, muitos desses conceitos têm sido abandonados. Demoraram a enxergar o óbvio.
Outros conceitos ultrapassados persistem, como os enormes espaços entre a defesa e o meio-campo. Em um gol do Grêmio, contra o São Paulo, Zé Roberto driblou um marcador ainda em seu campo, conduziu a bola até a entrada da grande área, sem ser combatido, até dar o passe decisivo. Os zagueiros permaneceram colados à grande área.
Quase todos os técnicos estrangeiros gostariam de trabalhar no Brasil, ainda mais com os absurdos salários pagos pelos clubes. Ao mesmo tempo, os clubes continuam endividados, além de não pagarem devidamente os impostos.
Os governos são muito bonzinhos. Após o fracasso da Timemania, feita para os clubes quitarem as dívidas com o governo, estuda-se, no Congresso, a possibilidade de se permitir apostas, em sites do Brasil, com a mesma finalidade.
Além de outras qualidades, é essencial, para ser um ótimo treinador, ser bom observador de detalhes subjetivos e objetivos. Isso não se aprende na faculdade. Pensamos muito e enxergamos pouco. "O essencial é saber ver, sem estar a pensar..." (Fernando Pessoa).
A contratação de bons e diferentes técnicos estrangeiros seria ótima para o futebol brasileiro
Apesar das inexplicáveis escalações de Thiago Neves e Leandro Castán, o Brasil mostrou, contra a Colômbia, que está no caminho certo. Os que disseram que Neymar jogou isolado e de costas para o gol viram outro jogo. A equipe também teve problemas. Os dois laterais não tiveram apoio dos meias (Oscar, Kaká e Thiago Neves) na marcação pelos lados. Assim saíram o gol e outros lances de perigo.
Mudo de assunto. Dizem que contratar treinadores estrangeiros tem sido ótimo para as equipes olímpicas brasileiras. Isso estimula a discussão sobre trazer ou não técnicos de futebol de fora. Nos outros países, como aqui, há bons e maus treinadores. Para trazer, têm de ser os melhores e que sejam diferentes.
A diversidade de conceitos e de métodos enriqueceria o futebol brasileiro. Há muito tempo, quase todos os treinadores daqui fazem e falam as mesmas coisas. A repetição excessiva leva à mediocridade. No fim de ano, os "professores" se reúnem, trocam elogios e ficam ainda mais prepotentes.
Durante um longo tempo, quase todos os times brasileiros faziam marcação individual, tinham dois volantes brucutus, laterais que avançavam e só cruzavam para a área, um único meia para dar passes decisivos, um centroavante só para fazer gols, zagueiros encostados à grande área, enormes espaços entre os setores, além de excesso de jogadas aéreas, chutões, faltas e outros detalhes. Tudo com aplausos de parte da imprensa.
Volantes clássicos, com ótimo passe, como Martínez, que continua bem no Náutico, eram preteridos por volantes brucutus, que faziam faltas e davam carrinhos. Aos poucos, muitos desses conceitos têm sido abandonados. Demoraram a enxergar o óbvio.
Outros conceitos ultrapassados persistem, como os enormes espaços entre a defesa e o meio-campo. Em um gol do Grêmio, contra o São Paulo, Zé Roberto driblou um marcador ainda em seu campo, conduziu a bola até a entrada da grande área, sem ser combatido, até dar o passe decisivo. Os zagueiros permaneceram colados à grande área.
Quase todos os técnicos estrangeiros gostariam de trabalhar no Brasil, ainda mais com os absurdos salários pagos pelos clubes. Ao mesmo tempo, os clubes continuam endividados, além de não pagarem devidamente os impostos.
Os governos são muito bonzinhos. Após o fracasso da Timemania, feita para os clubes quitarem as dívidas com o governo, estuda-se, no Congresso, a possibilidade de se permitir apostas, em sites do Brasil, com a mesma finalidade.
Além de outras qualidades, é essencial, para ser um ótimo treinador, ser bom observador de detalhes subjetivos e objetivos. Isso não se aprende na faculdade. Pensamos muito e enxergamos pouco. "O essencial é saber ver, sem estar a pensar..." (Fernando Pessoa).
Sem proposta - CELSO MING
O Estado de S.Paulo - 18/11
As manifestações e os protestos que se espalham pela Europa "contra os sacrifícios excessivos" expõem a enorme fragilidade das esquerdas.
Esta é a maior crise do sistema capitalista desde os anos 30 e, no entanto, socialistas e social-democratas seguem paralisados, incapazes de formular uma crítica mais abrangente e de fornecer propostas consistentes para uma saída.
A maioria dos governos da área do euro ou é liderada por socialistas (caso do presidente da França, François Hollande) ou por social-democratas (como a chanceler da Alemanha, Angela Merkel).
Às vezes, as lideranças insistem em discursos em defesa do crescimento (capitalista), como o do presidente Hollande, mas não conseguem mais do que alguma variação de austeridade e elevação de impostos.
Pior, o aumento do desemprego, especialmente na França e na Espanha, vai empurrando antigos internacionalistas, os mesmos socialistas e social-democratas, para um discurso nacionalista, de defesa da indústria local e a favor do controle mais feroz da imigração.
As propostas defendidas pelos governos social-democratas da área do euro, por exemplo, são mais ortodoxas e mais diluidoras de salários, de aposentadorias e de renda dos trabalhadores do que o ajuste colocado em marcha pelo governo dos Estados Unidos. Quando defendem o avanço econômico e o aumento do emprego, essas propostas vêm acompanhadas de recomendações que desembocam na austeridade: "não há crescimento sustentável sem equilíbrio das contas públicas" - martelam os governantes.
O aprofundamento do colapso econômico consolida a percepção de que as políticas de bem-estar social (welfare state) - consubstanciadas no seguro-desemprego e no financiamento estatal de programas básicos de saúde e ensino, todas elas conquistas da social-democracia - agravam a fragilidade das contas públicas. São políticas que sangram os tesouros nacionais, numa conjuntura de quebra de arrecadação.
Por vezes, as esquerdas ensaiam críticas às práticas predatórias dos bancos. Mas logo são desencorajadas pelo entendimento de que enfraquecer os bancos implicaria contribuir para o enfraquecimento do próprio trabalhador e das classes médias. Eles são grandes fornecedores de capitais para as instituições financeiras, por meio dos depósitos em conta corrente e por aplicações em fundos de pensão e em fundos de investimento.
Paradoxalmente, as causas mais profundas da crise econômica têm a ver com a incorporação da mão de obra asiática e latino-americana ao mercado global de trabalho em detrimento do emprego nos países ricos. A esse movimento, a primeira reação quase compulsiva das lideranças socialistas e social-democratas (supostamente internacionalistas) é evitar a todo o custo a "exportação de empregos".
Enfim, as esquerdas não têm respostas consistentes nem contra os abusos neoliberais nem contra a progressiva globalização do trabalho. Tampouco não sabem o que propor para enfrentar o rápido e inexorável envelhecimento da população, os novos movimentos de migração dos povos e as mudanças culturais que sobrevêm com a disseminação do islamismo.
"M" de mãe - LUIZ FERNANDO VERÍSSIMO
O GLOBO - 18/11
Depois do penteado que os irmãos Coen lhe arrumaram para o filme Onde os Fracos não Têm Vez era difícil imaginar coisa pior na cabeça do Javier Bardem. Mas em Skyfall, o último 007, ele usa uma cabeleira loira que escorre pela nuca e supera a anterior. Bardem ganhou um Oscar com a cabeleira dos irmãos Coen, é bem provável que ganhe outro com esta. Porque desde que entra em cena ele toma conta do filme. É certamente o melhor da longa lista de vilões excêntricos e megalomaníacos da série, o primeiro de sexualidade indefinida e o primeiro, desde que a Judi Dench começou a ser “M”, chefe do serviço secreto inglês, a tornar explícita a relação edipiana dos agentes com ela. Bardem é um ex-agente desgarrado que quer se vingar por ter sido abandonado por “M” e ao mesmo tempo destruir o serviço secreto. Bond é o filho favorito que perdoa “M” por quase tê-lo matado e a defende da vingança do outro. No fundo uma reedição da parábola do filho preferido e do filho réprobo, antiga como o mundo.
Espero não estar estragando o filme para quem ainda não viu, mas Judi Dench deve ter dado um ultimato aos produtores: só faria mais este no papel de “M”, mas sairia de cena em grande estilo. Em nenhum outro filme da série, mesmo quando “M” ainda era homem, o personagem teve tanto destaque e foi tão decisivo na trama. A sequência final de Skyfall, mais inverossímil do que qualquer outra num filme cheio de desafios às leis da probabilidade e da gravidade, é, no entanto, um desenlace perfeito para o drama edipiano. Bardem e Dench abraçados, têmpora contra têmpora, ele propondo que os dois se matem com a mesma bala, é uma cena sem precedentes na história da série – mesmo levando-se em conta que desde que Daniel Craig assumiu o papel principal as histórias têm ficado mais densas. Sam Mendes não deve ter hesitado em dirigir Skyfall depois de ler o roteiro, o filme não fará nenhum mal ao seu currículo.
No fim de Skyfall um homem volta a dirigir o serviço secreto inglês, inclusive com uma secretária chamada Moneypenny, como no começo da série. É uma espécie de restauração. A era da Judi Dench como “M” foi divertida, mas quem sabe para que atoleiros psicológicos nos levariam as implicações da relação de Bond com sua chefe, agora que se sabe que “M” era de “mãe”?
Depois do penteado que os irmãos Coen lhe arrumaram para o filme Onde os Fracos não Têm Vez era difícil imaginar coisa pior na cabeça do Javier Bardem. Mas em Skyfall, o último 007, ele usa uma cabeleira loira que escorre pela nuca e supera a anterior. Bardem ganhou um Oscar com a cabeleira dos irmãos Coen, é bem provável que ganhe outro com esta. Porque desde que entra em cena ele toma conta do filme. É certamente o melhor da longa lista de vilões excêntricos e megalomaníacos da série, o primeiro de sexualidade indefinida e o primeiro, desde que a Judi Dench começou a ser “M”, chefe do serviço secreto inglês, a tornar explícita a relação edipiana dos agentes com ela. Bardem é um ex-agente desgarrado que quer se vingar por ter sido abandonado por “M” e ao mesmo tempo destruir o serviço secreto. Bond é o filho favorito que perdoa “M” por quase tê-lo matado e a defende da vingança do outro. No fundo uma reedição da parábola do filho preferido e do filho réprobo, antiga como o mundo.
Espero não estar estragando o filme para quem ainda não viu, mas Judi Dench deve ter dado um ultimato aos produtores: só faria mais este no papel de “M”, mas sairia de cena em grande estilo. Em nenhum outro filme da série, mesmo quando “M” ainda era homem, o personagem teve tanto destaque e foi tão decisivo na trama. A sequência final de Skyfall, mais inverossímil do que qualquer outra num filme cheio de desafios às leis da probabilidade e da gravidade, é, no entanto, um desenlace perfeito para o drama edipiano. Bardem e Dench abraçados, têmpora contra têmpora, ele propondo que os dois se matem com a mesma bala, é uma cena sem precedentes na história da série – mesmo levando-se em conta que desde que Daniel Craig assumiu o papel principal as histórias têm ficado mais densas. Sam Mendes não deve ter hesitado em dirigir Skyfall depois de ler o roteiro, o filme não fará nenhum mal ao seu currículo.
No fim de Skyfall um homem volta a dirigir o serviço secreto inglês, inclusive com uma secretária chamada Moneypenny, como no começo da série. É uma espécie de restauração. A era da Judi Dench como “M” foi divertida, mas quem sabe para que atoleiros psicológicos nos levariam as implicações da relação de Bond com sua chefe, agora que se sabe que “M” era de “mãe”?
O nome de Deus - HÉLIO SCHWARTSMAN
FOLHA DE SP - 18/11
SÃO PAULO - Num ponto eu e a CNBB estamos de acordo: há coisas mais essenciais com as quais se preocupar do que o dito "Deus seja louvado" nas cédulas de real. Ainda assim, vejo com simpatia o pedido do Ministério Público para que a expressão seja retirada das notas.
Sou ateu, mas convivo bem com diferenças. Se a religião torna um sujeito feliz, minha recomendação para ele é que se entregue de corpo e alma. O mesmo vale para quem curte esportes, meditação e literatura. Cada qual deve procurar aquilo que o satisfaz, seja no plano físico ou espiritual. Desde que a busca não cause mal a terceiros, tudo é permitido.
Isso dito, esclareço que não acompanho inteiramente a tese do procurador Jefferson Aparecido Dias de que o "Deus seja louvado" constrange os que cultuam outras divindades ou não creem. Em teoria, isso pode ocorrer, mas, convenhamos, não é um aborrecimento tão grave que coloque em risco a liberdade religiosa ou estorve a vida em sociedade.
Vou além. Embora o laicismo preconize uma separação radical entre Estado e Igreja, na prática, é impossível desligar inteiramente o poder público de elementos religiosos. Não me incomoda, por exemplo, que o governo paulista mantenha o Museu de Arte Sacra ou que financie uma orquestra que executa peças religiosas.
Penso que o "Deus seja louvado" deveria ser retirado por uma razão mais prosaica: cédulas, bem como as paredes de tribunais, não são um lugar adequado para manifestar a adesão a crenças religiosas. Ainda que a maioria da população professe alguma forma de cristianismo, não marcamos o nome de Deus em todos os bens públicos, como se vê pelas placas de trânsito, viaturas policiais etc. E as notas estão mais próximas dessa categoria do que dos museus.
O que me surpreende nessa história é o fato de religiosos não serem os primeiros a protestar pela inclusão do nome de Deus em algo tão profano e mal-afamado como o dinheiro.
SÃO PAULO - Num ponto eu e a CNBB estamos de acordo: há coisas mais essenciais com as quais se preocupar do que o dito "Deus seja louvado" nas cédulas de real. Ainda assim, vejo com simpatia o pedido do Ministério Público para que a expressão seja retirada das notas.
Sou ateu, mas convivo bem com diferenças. Se a religião torna um sujeito feliz, minha recomendação para ele é que se entregue de corpo e alma. O mesmo vale para quem curte esportes, meditação e literatura. Cada qual deve procurar aquilo que o satisfaz, seja no plano físico ou espiritual. Desde que a busca não cause mal a terceiros, tudo é permitido.
Isso dito, esclareço que não acompanho inteiramente a tese do procurador Jefferson Aparecido Dias de que o "Deus seja louvado" constrange os que cultuam outras divindades ou não creem. Em teoria, isso pode ocorrer, mas, convenhamos, não é um aborrecimento tão grave que coloque em risco a liberdade religiosa ou estorve a vida em sociedade.
Vou além. Embora o laicismo preconize uma separação radical entre Estado e Igreja, na prática, é impossível desligar inteiramente o poder público de elementos religiosos. Não me incomoda, por exemplo, que o governo paulista mantenha o Museu de Arte Sacra ou que financie uma orquestra que executa peças religiosas.
Penso que o "Deus seja louvado" deveria ser retirado por uma razão mais prosaica: cédulas, bem como as paredes de tribunais, não são um lugar adequado para manifestar a adesão a crenças religiosas. Ainda que a maioria da população professe alguma forma de cristianismo, não marcamos o nome de Deus em todos os bens públicos, como se vê pelas placas de trânsito, viaturas policiais etc. E as notas estão mais próximas dessa categoria do que dos museus.
O que me surpreende nessa história é o fato de religiosos não serem os primeiros a protestar pela inclusão do nome de Deus em algo tão profano e mal-afamado como o dinheiro.
COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO
“O ministro Joaquim agiu como legista, ao reconstituir os fatos”
Ministro aposentado Carlos Ayres Britto sobre o relator do processo do mensalão
REBELDES DO PMDB QUEREM PREPOSTO CONTRA RENAN
Os chamados dissidentes do PMDB ameaçaram lançar candidato à presidência do Senado, mas nenhum deles topa enfrentar a parada dura chamada Renan Calheiros (AL), o favorito. Receosos de criar indisposição com o provável sucessor de José Sarney, os “rebeldes” estimulam candidatos de outros partidos, como Randolfe Rodrigues (PSOL), que desafiou Sarney na última eleição ao comando da Casa.
SEM INTERESSE
O senador Pedro Taques (PDT-MT) também foi sondado para disputar contra Renan Calheiros, mas garante que não tem o menor interesse.
PULARAM FORA
O grupo chegou a cogitar os senadores do PMDB Jarbas Vasconcelos (PE) e Luiz Henrique (SC) para a disputa. Os dois desconversaram.
VOO SOLO
Para os dissidentes, só quem atua individualmente, como Pedro Simon (RS), aceitaria a empreitada. Mas com chances mínimas no PMDB.
BARGANHA POLÍTICA
O partido de maior bancada no Senado – no caso, o PMDB – elege o candidato a presidente que, pela tradição, é referendado no plenário.
BRITTO PODE USAR ESTRUTURA DO STF POR 90 DIAS
Desde sua aposentadoria, ontem, o ministro Carlos Ayres Britto pode usar seu gabinete no STF pelo prazo improrrogável de 90 dias, assim como funcionários e carro oficial (carro reserva) para deslocamentos. Ao final, funcionários serão redistribuídos, o carro retirado, assim como móveis e computadores. Britto terá direito também a cafezinho, mas, segundo lenda no funcionalismo público, será certamente servido frio.
ACORDO PAULISTA
O ministro Brizola Neto declarou apoio a Zé Silva (MG) para líder do PDT mas, na verdade, estaria bancando o deputado João Dado (SP).
PRIMEIRO O PRESIDENTE
O candidato a líder tucano, Domingos Sávio (MG), quer saber quem assumirá a presidência do PSDB: “Tudo depende dessa decisão”.
PRIMEIRO O LÍDER
Candidatos a líder do PMDB querem que o atual líder Henrique Alves (RN) promova sua sucessão antes de se eleger presidente da Câmara.
SÓ NO SAPATINHO
Condenados no mensalão temem passar o Natal na cadeia, se o Supremo acatar pedido da Procuradoria-Geral da República. Pior: o Papai Noel gordinho de vermelho avisou que, agora sem barba, não vai aparecer.
DEZ, NOVE, OITO...
Se o mundo pode acabar em 21 de dezembro, segundo os maias, a contagem regressiva começou com mísseis dos terroristas do Hamas atingindo pela primeira vez na História a cidade santa de Jerusalém.
FILME VELHO
O Granma, jornal oficial, apontou “manipulação midiática” de parte da imprensa internacional para “desacreditar o papel de Cuba na negociação de paz com as Farc”. Só faltou a “imprensa conservadora”.
MEU BEM, MEU MAL
O presidente do PT, Rui Falcão, bate e apanha, “incorporando” Lula, para chutar em canelas ilustres, inclusive no Judiciário, para depois ser “desautorizado” pelo ex-presidente. Tudo combinado.
GESTÃO PÚBLICA
Presidente da Frente pela Gestão Pública, Luiz Pitiman (PMDB-DF) organiza para os dias 12 e 13 de dezembro o Congresso Brasileiro de Gestão Pública Municipal. Ele espera reunir mais de dois mil prefeitos.
MINAS X SP
Apesar de ser considerado “aecista”, o deputado Carlos Sampaio (SP) conseguiu apoio da bancada paulista para ser o próximo líder do PSDB na Câmara. Estão no páreo Domingos Sávio (MG) e Otávio Leite (RJ).
HOMENAGEM
Advogado de Roberto Jefferson, Luiz Barbosa acredita que os ministros correram para definir a dosimetria dos figurões do mensalão para que o presidente Carlos Ayres Britto, em vias de se aposentar, participasse.
NEM PENSAR
O ex-governador Joaquim Roriz rejeita qualquer possibilidade de levar o seu grupo político a integrar a base de apoio ao governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, cuja gestão considera “falida”, por ele ser do Partido dos Trabalhadores.
PENSANDO BEM...
...com quase duas mil pessoas “lavando” R$ 37 milhões, segundo o Ministério da Fazenda, o PCC já pode virar partido político.
PODER SEM PUDOR
CAUSAS DIFÍCEIS
O general Artur Costa e Silva, o ditador do AI-5, recebeu o vice-líder da Arena no Senado, Eurico Resende (ES), e não economizou elogios:
- Gosto muito da forma como o senhor defende o meu governo...
- Presidente, sou advogado criminalista há trinta anos! - disse Resende.
Ao perceber o constrangimento do ditador com sua resposta, completou:
- É que estou acostumado a defender causas difíceis...
Ministro aposentado Carlos Ayres Britto sobre o relator do processo do mensalão
REBELDES DO PMDB QUEREM PREPOSTO CONTRA RENAN
Os chamados dissidentes do PMDB ameaçaram lançar candidato à presidência do Senado, mas nenhum deles topa enfrentar a parada dura chamada Renan Calheiros (AL), o favorito. Receosos de criar indisposição com o provável sucessor de José Sarney, os “rebeldes” estimulam candidatos de outros partidos, como Randolfe Rodrigues (PSOL), que desafiou Sarney na última eleição ao comando da Casa.
SEM INTERESSE
O senador Pedro Taques (PDT-MT) também foi sondado para disputar contra Renan Calheiros, mas garante que não tem o menor interesse.
PULARAM FORA
O grupo chegou a cogitar os senadores do PMDB Jarbas Vasconcelos (PE) e Luiz Henrique (SC) para a disputa. Os dois desconversaram.
VOO SOLO
Para os dissidentes, só quem atua individualmente, como Pedro Simon (RS), aceitaria a empreitada. Mas com chances mínimas no PMDB.
BARGANHA POLÍTICA
O partido de maior bancada no Senado – no caso, o PMDB – elege o candidato a presidente que, pela tradição, é referendado no plenário.
BRITTO PODE USAR ESTRUTURA DO STF POR 90 DIAS
Desde sua aposentadoria, ontem, o ministro Carlos Ayres Britto pode usar seu gabinete no STF pelo prazo improrrogável de 90 dias, assim como funcionários e carro oficial (carro reserva) para deslocamentos. Ao final, funcionários serão redistribuídos, o carro retirado, assim como móveis e computadores. Britto terá direito também a cafezinho, mas, segundo lenda no funcionalismo público, será certamente servido frio.
ACORDO PAULISTA
O ministro Brizola Neto declarou apoio a Zé Silva (MG) para líder do PDT mas, na verdade, estaria bancando o deputado João Dado (SP).
PRIMEIRO O PRESIDENTE
O candidato a líder tucano, Domingos Sávio (MG), quer saber quem assumirá a presidência do PSDB: “Tudo depende dessa decisão”.
PRIMEIRO O LÍDER
Candidatos a líder do PMDB querem que o atual líder Henrique Alves (RN) promova sua sucessão antes de se eleger presidente da Câmara.
SÓ NO SAPATINHO
Condenados no mensalão temem passar o Natal na cadeia, se o Supremo acatar pedido da Procuradoria-Geral da República. Pior: o Papai Noel gordinho de vermelho avisou que, agora sem barba, não vai aparecer.
DEZ, NOVE, OITO...
Se o mundo pode acabar em 21 de dezembro, segundo os maias, a contagem regressiva começou com mísseis dos terroristas do Hamas atingindo pela primeira vez na História a cidade santa de Jerusalém.
FILME VELHO
O Granma, jornal oficial, apontou “manipulação midiática” de parte da imprensa internacional para “desacreditar o papel de Cuba na negociação de paz com as Farc”. Só faltou a “imprensa conservadora”.
MEU BEM, MEU MAL
O presidente do PT, Rui Falcão, bate e apanha, “incorporando” Lula, para chutar em canelas ilustres, inclusive no Judiciário, para depois ser “desautorizado” pelo ex-presidente. Tudo combinado.
GESTÃO PÚBLICA
Presidente da Frente pela Gestão Pública, Luiz Pitiman (PMDB-DF) organiza para os dias 12 e 13 de dezembro o Congresso Brasileiro de Gestão Pública Municipal. Ele espera reunir mais de dois mil prefeitos.
MINAS X SP
Apesar de ser considerado “aecista”, o deputado Carlos Sampaio (SP) conseguiu apoio da bancada paulista para ser o próximo líder do PSDB na Câmara. Estão no páreo Domingos Sávio (MG) e Otávio Leite (RJ).
HOMENAGEM
Advogado de Roberto Jefferson, Luiz Barbosa acredita que os ministros correram para definir a dosimetria dos figurões do mensalão para que o presidente Carlos Ayres Britto, em vias de se aposentar, participasse.
NEM PENSAR
O ex-governador Joaquim Roriz rejeita qualquer possibilidade de levar o seu grupo político a integrar a base de apoio ao governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, cuja gestão considera “falida”, por ele ser do Partido dos Trabalhadores.
PENSANDO BEM...
...com quase duas mil pessoas “lavando” R$ 37 milhões, segundo o Ministério da Fazenda, o PCC já pode virar partido político.
PODER SEM PUDOR
CAUSAS DIFÍCEIS
O general Artur Costa e Silva, o ditador do AI-5, recebeu o vice-líder da Arena no Senado, Eurico Resende (ES), e não economizou elogios:
- Gosto muito da forma como o senhor defende o meu governo...
- Presidente, sou advogado criminalista há trinta anos! - disse Resende.
Ao perceber o constrangimento do ditador com sua resposta, completou:
- É que estou acostumado a defender causas difíceis...
Assinar:
Postagens (Atom)