FOLHA DE SP - 07/02
"Os desvios da prefeitura de S. André iam para o PT, o próprio Gilberto Carvalho me disse", afirma Tuma Jr.
Ah, esses homens públicos maravilhosos e suas ações desinteressadas, que nunca ocorrem em benefício próprio!
O Roberto Jefferson da vez chama-se Romeu Tuma Jr., autor do bestseller "Assassinato de Reputações", 70 mil cópias vendidas, nenhuma surpresa aí, uma vez que o prato servido satisfaz o apetite de uma imensidão de curiosos.
Assim como Roberto Jefferson, Tuma Jr. alega ser movido por civismo e nobreza de espírito.
Não duvido. Mas que mal há em aproveitar a onda e os 70 mil interessados no que ele tem a dizer e se eleger a um cargo público nas próximas eleições, não é mesmo?
A expressão de ressentimento, até de fúria em certos momentos, que podiam ser percebidos em seu rosto no "Roda Viva" da última segunda-feira, a mim não enganaram.
Me disseram que ele ainda nutre algum ressentimento por ter sido afastado das investigações do caso Daniel Dantas sob alegação de que mantinha contato com um criminoso chinês.
E que nunca engoliu o ódio a Lula, a quem culpa por apressar indiretamente a morte do pai, o senador Romeu Tuma, que já estava doente quando o filho foi formalmente acusado de ter vínculos com o mafioso.
O delegado foi absolvido e livrado de qualquer constrangimento, mas seu pai acabou morrendo depois de uma internação longa e dolorosa.
E agora temos o livro. Mais uma vez, sem que as consequências de acusações gravíssimas sejam mensuradas ou corroboradas por provas minimamente detalhadas. O que existe é a prova testemunhal e nenhum desmentido até agora.
É válido tentar varrer do mapa o único partido constituído da democracia tapuia por ter ele imitado o "padrão Fifa" (literalmente) de outros partidos. Mas valeria lembrar que não foram só Silvinhos Pereiras que fundaram o PT, há gente séria e pensante, discorde-se dela ou não, que ajudou a construí-lo. Parece às vezes que esquecemos que é um patrimônio de todos.
Quem será que o senhor Tuma Jr., cego de rancor, gostaria de ver tomar o lugar do PT quando ele e os Jeffersons da vida tiverem terminado de afundar o barco? A turma do Feliciano? Do Crivela?
Bem, vamos ao livro de Tuma Jr., um rapaz que insiste que o pai "redemocratizou o Dops", isto, note, em plena ditadura (é para rir?). Diz ele que Lula era informante do Dops. Até agora, não o vi revelar qualquer informação prestada por Lula ou dar o nome de alguém a quem ele tenha entregado. É para quando, Júnior?
O caso Celso Daniel ocorre em 2002 e Tuma Jr. diz que seu desfecho não ficou claro porque Lula foi eleito. Ué? Mas se o processo correu em uma vara paulista, como a PF de Lula poderia interferir? E o DHPP (departamento de homicídios)? E o Ministério Público de SP? Se havia tanta sujeira, por que ele aceitou integrar o governo Lula em 2007?
Tuma Jr. promete novo livro com provas. Acho bom, já que no "Roda Viva" deu uma de Maluf (lembra do Maluf sacodindo recorte de jornal em debate?) e sacou uma papelada para provar que Daniel Dantas deu R$ 1,5 milhão para a campanha Dilma. Sei. Até parece que todos eles não doam uma soma para cada candidato sistematicamente. Em vez de sacodir, porque não pôs no livro?
E, mais adiante, na página 263: "Os desvios da prefeitura de Santo André eram canalizados para o partido, o próprio Gilberto Carvalho me disse isso". Ora. Carvalho é conhecido pelo comedimento. Imagine se ia abrir o bico justamente para o filho do Tuma? Do Tuma, gente! Sendo que, pelo próprio ato da concepção do livro já dá para ver que o camarada é uma matraca.
Deixa ver se entendo: o PT tentava incriminá-lo por envolvimento com a máfia chinesa e o braço direito do Lula resolve se abrir com ele sobre o caso Celso Daniel? Só falta dizer que viu o Fidel Castro beijando o Paulinho da Força à força.
sexta-feira, fevereiro 07, 2014
Muita fumaça e pouco fogo - NELSON MOTTA
O GLOBO - 07/02
Diante do mercado milionário de analgésicos tarja preta, que já tem seis milhões de dependentes nos Estados Unidos, o tráfico de marijuana virou coisa de pobre
Em Barcelona, já são mais de 400 clubes legalizados, onde a inscrição custa dez euros e o sócio pode comprar até 80 gramas por mês de diversas qualidades de maconhas orgânicas, produzidas por pequenos agricultores autorizados. Está ficando banal, todo dia se tem noticia de mais um lugar em que o tabu está sendo quebrado, além dos 20 estados americanos que já permitem o “uso medicinal” e dos dois que liberaram geral, da estatização no Uruguai, da bem-sucedida descriminalização portuguesa…
Mudou muita coisa e, ao mesmo tempo, não mudou nada na vida desses lugares e de seus cidadãos. As pessoas não estão saindo enlouquecidas pelas ruas, não há hordas de doidões invadindo lanchonetes em busca de laricas, os funcionários não estão dormindo nos escritórios, a criminalidade e a violência nem aumentaram e nem diminuíram, as famílias não estão se sentindo ameaçadas, a polícia tem mais o que fazer do que perseguir cidadãos honestos e pacíficos que gostam de fumar um baseado.
Um golpe mortal no tráfico e no crime organizado? Nem chapado alguém pode acreditar nisso. O tráfico de verdade, o definitivo e invencível, faz fortunas e milhares de mortos com cocaína, crack, heroína, ecstasy e uma infinidade de novas drogas sintéticas e quase invisíveis, que dão muito mais lucro com muito menos risco do que a volumosa e olorosa maconha.
Diante do mercado milionário de analgésicos tarja preta, que já tem seis milhões de dependentes nos Estados Unidos, o tráfico de marijuana virou coisa de pobre, do passado.
O mais triste é pensar nos trilhões de dólares torrados, no tempo, no trabalho e nas vidas perdidas, nas incontáveis pessoas de bem que sofreram o diabo nas cadeias por alguns baseados, nos que se tornaram bandidos e marginais, na trágica inutilidade de tudo isso. Tanto barulho por nada, por um bagulho.
Enquanto isso, no Brasil, onde os consumidores dizem que se fuma uma das piores e mais caras maconhas do mundo, produzida no Paraguai e distribuída pelas facções do crime organizado, o governo e o Congresso vão enrolando, a polícia vai apertando e continuamos queimando tempo e dinheiro.
Diante do mercado milionário de analgésicos tarja preta, que já tem seis milhões de dependentes nos Estados Unidos, o tráfico de marijuana virou coisa de pobre
Em Barcelona, já são mais de 400 clubes legalizados, onde a inscrição custa dez euros e o sócio pode comprar até 80 gramas por mês de diversas qualidades de maconhas orgânicas, produzidas por pequenos agricultores autorizados. Está ficando banal, todo dia se tem noticia de mais um lugar em que o tabu está sendo quebrado, além dos 20 estados americanos que já permitem o “uso medicinal” e dos dois que liberaram geral, da estatização no Uruguai, da bem-sucedida descriminalização portuguesa…
Mudou muita coisa e, ao mesmo tempo, não mudou nada na vida desses lugares e de seus cidadãos. As pessoas não estão saindo enlouquecidas pelas ruas, não há hordas de doidões invadindo lanchonetes em busca de laricas, os funcionários não estão dormindo nos escritórios, a criminalidade e a violência nem aumentaram e nem diminuíram, as famílias não estão se sentindo ameaçadas, a polícia tem mais o que fazer do que perseguir cidadãos honestos e pacíficos que gostam de fumar um baseado.
Um golpe mortal no tráfico e no crime organizado? Nem chapado alguém pode acreditar nisso. O tráfico de verdade, o definitivo e invencível, faz fortunas e milhares de mortos com cocaína, crack, heroína, ecstasy e uma infinidade de novas drogas sintéticas e quase invisíveis, que dão muito mais lucro com muito menos risco do que a volumosa e olorosa maconha.
Diante do mercado milionário de analgésicos tarja preta, que já tem seis milhões de dependentes nos Estados Unidos, o tráfico de marijuana virou coisa de pobre, do passado.
O mais triste é pensar nos trilhões de dólares torrados, no tempo, no trabalho e nas vidas perdidas, nas incontáveis pessoas de bem que sofreram o diabo nas cadeias por alguns baseados, nos que se tornaram bandidos e marginais, na trágica inutilidade de tudo isso. Tanto barulho por nada, por um bagulho.
Enquanto isso, no Brasil, onde os consumidores dizem que se fuma uma das piores e mais caras maconhas do mundo, produzida no Paraguai e distribuída pelas facções do crime organizado, o governo e o Congresso vão enrolando, a polícia vai apertando e continuamos queimando tempo e dinheiro.
Maconha comestível - RUY CASTRO
FOLHA DE SP - 07/02
RIO DE JANEIRO - No Estado americano do Colorado, onde o uso recreativo de maconha foi liberado, as crianças ainda sem idade para fumar não precisam passar sem a erva. Em Denver, sua capital, lojas dedicadas ao produto oferecem fascinantes derivados: compotas de pêssego e tangerina, drops de melancia, trufas de chocolate, barras de menta, biscoitos amanteigados, bolos, pirulitos e outros doces, todos enriquecidos em sua preparação com uma calda de maconha. Deu no "New York Times" de 31/1.
Os médicos, professores e associações de pais não ficaram tão empolgados. Seus filhos lhes apareceram sonolentos, desorientados, babando e com respiração difícil. Levados ao hospital, testaram positivo para THC (tetraidrocanabinol), que é a substância psicoativa da droga. A ideia de tornar a maconha comestível surgiu para atender usuários impedidos de fumá-la em certos ambientes e pessoas com dificuldade para engolir fumaça. Era inevitável que seu uso atraísse outros interessados.
As lojas alegam que é difícil manter esses produtos fora do alcance dos menores. Eles não estão impedidos de comprá-los e, mesmo que estivessem, sempre haveria quem comprasse por eles. Uma medida imposta pelas autoridades, proibir que as embalagens mostrassem personagens tipo Piu-Piu ou Pica-Pau, revelou-se inócua. Resta o preço, diz o "Times": uma única bala de maconha custa o equivalente a um saco de balas comuns.
Intelectuais ativistas da liberação desprezam o fato de que a maconha atual contém dez vezes mais THC que a dos anos 60 --ou seja, Bob Marley precisaria fumar dez baseados para valer um fumado hoje por Justin Bieber. Talvez por isso os médicos não a recomendem para crianças.
Mas, como a tendência parece irreversível, podemos esperar pelas novas redes de junk food: a Hashishburger, McHemp e Kentucky Fried Skunk.
RIO DE JANEIRO - No Estado americano do Colorado, onde o uso recreativo de maconha foi liberado, as crianças ainda sem idade para fumar não precisam passar sem a erva. Em Denver, sua capital, lojas dedicadas ao produto oferecem fascinantes derivados: compotas de pêssego e tangerina, drops de melancia, trufas de chocolate, barras de menta, biscoitos amanteigados, bolos, pirulitos e outros doces, todos enriquecidos em sua preparação com uma calda de maconha. Deu no "New York Times" de 31/1.
Os médicos, professores e associações de pais não ficaram tão empolgados. Seus filhos lhes apareceram sonolentos, desorientados, babando e com respiração difícil. Levados ao hospital, testaram positivo para THC (tetraidrocanabinol), que é a substância psicoativa da droga. A ideia de tornar a maconha comestível surgiu para atender usuários impedidos de fumá-la em certos ambientes e pessoas com dificuldade para engolir fumaça. Era inevitável que seu uso atraísse outros interessados.
As lojas alegam que é difícil manter esses produtos fora do alcance dos menores. Eles não estão impedidos de comprá-los e, mesmo que estivessem, sempre haveria quem comprasse por eles. Uma medida imposta pelas autoridades, proibir que as embalagens mostrassem personagens tipo Piu-Piu ou Pica-Pau, revelou-se inócua. Resta o preço, diz o "Times": uma única bala de maconha custa o equivalente a um saco de balas comuns.
Intelectuais ativistas da liberação desprezam o fato de que a maconha atual contém dez vezes mais THC que a dos anos 60 --ou seja, Bob Marley precisaria fumar dez baseados para valer um fumado hoje por Justin Bieber. Talvez por isso os médicos não a recomendem para crianças.
Mas, como a tendência parece irreversível, podemos esperar pelas novas redes de junk food: a Hashishburger, McHemp e Kentucky Fried Skunk.
O arco-íris da seca anunciada - IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO
O Estado de S.Paulo - 07/02
Vinha pela rua, a empregada regava a calçada, eu disse amavelmente:
- Desculpe-me, a senhora não sabe que a água está sendo um problema?
Ah! É?
Não tem chovido, precisamos economizar a água.
Hum, hum...
E continuava sem me olhar.
A senhora ouviu o que eu disse?
Ouvi.
E...?
O senhor se meta com a sua vida.
Outro dia, cena semelhante. Um senhor atirava o jato de água contra as folhas, conduzindo-as aos bueiros. Divertia-se. Interpelei:
Por que faz isso?
O quê? O que estou fazendo para irritar o senhor?
Mudei o tom, não percebi, devia ter me exaltado.
- Primeiro, gastando água. Segundo, mandando as folhas para o bueiro, que vai entupir. E quando as chuvas chegarem vai ser aquela calamidade.
- Quem é o senhor? Fiscal?
- Não.
- Por que se preocupa com a água? Está faltando?
- Pode ser que falte, olhe a seca, o sol, o calor.
- Quando faltar o problema é meu.
Em um terceiro encontro, adverti a empregada que lavava usando motorzinho, o jato levantava poeira, folhas, galhos, tampinhas, maços de cigarros, frascos de iogurte. Nas ruas tem de tudo, jogam a torto e a direito.
Não sabe que o governo está pedindo para racionar água?
Não sei de nada.
- Com o calor, sem as chuvas, as represas estão vazias, vai dar o maior problema.
- Que represas? Do que o senhor fala?
- As represas que abastecem a cidade. A água pode acabar.
- Se acabar, meu patrão compra. Sabe quem é meu patrão?
- Não, não tenho ideia.
- Um ricão. Não se preocupe, aqui nunca vai faltar água.
A via-sacra se estendeu, porque, como diz o povinho humilde, quando "encatiço" com uma coisa, prossigo. Nova cena.
- Por que você está gastando água desse jeito, se começou a faltar?
Aqui ainda não. Quem disse que vai faltar?
Os jornais, o noticiário da televisão.
- Bobagem. Se fosse faltar, o Boechat tava mandando o pau, ele é bom. O José Paulo Andrade ia pegar no pé do prefeito. Se fosse faltar, a Sabesp ia avisar. Tudo o que vi da Sabesp foram comerciais dizendo que o litoral está limpo, saneado. O senhor pensa que está falando com um bobo? Leio, converso, sei, sou instruído, sou zelador aqui do prédio. O síndico daqui não deu nenhuma orientação, a piscina está cheia, tudo em paz. O senhor quer é pentelhar. É um missionário?
Não sou, tenho meus ataques, ainda que nesta cidade os ataques sejam perigosíssimos, você pode estar morto no minuto seguinte a uma palavra mal interpretada. Está todo mundo ouriçado, estressado, o calor abafando, antessala do inferno, os bandidos atacando, o Haddad nem se importando, o transito congestionando, o sol queimando, a chuva desaparecida. Está na hora de convocar a dança da chuva pelos índios. Uma senhora de seus 60 anos, varria cuidadosamente a calçada, apanhou o lixo num saquinho, fechou e amarrou. Fiquei olhando. Finalmente alguém consciente. Ia elogiar quando ela puxou a mangueira, abriu a torneira e começou a molhar a parede. Não resisti:
O que está fazendo?
Molhando a parede.
Para que molhar?
Não vê? É de pedra. Para esfriar, Molho três vezes ao dia.
Não devia! Não sabe que com a seca a água está a perigo?
- Só sei que faço o que me mandam fazer. O senhor não é meu patrão. Venha falar com ele. Isso é briga de grandão, não me meta, não me encha. Com esse calor, vou molhar a parede até esfriar quantas vezes eu quiser. Ou molho ou sou despedida. O problema da água não é comigo, é com o prefeito, com o governador, é com a Dilma. Vai falar com eles, já que é tão intrometido.
- Bem que queria, bem que devia, mas eles estão em campanha eleitoral. A senhora tem razão. Pena! Muita pena que todos nós não estejamos nos intrometendo, não estejamos pentelhando. Quando faltar água, vamos trazer da Bolívia, de Cuba, da Venezuela, dos países amigos...
A senhora me olhou intrigada, deu as costas, mandou o jato na parede, o sol se refletiu, formou um arco-íris lindo, as cores da seca que se anunciam, da calamidade anunciada.
Vinha pela rua, a empregada regava a calçada, eu disse amavelmente:
- Desculpe-me, a senhora não sabe que a água está sendo um problema?
Ah! É?
Não tem chovido, precisamos economizar a água.
Hum, hum...
E continuava sem me olhar.
A senhora ouviu o que eu disse?
Ouvi.
E...?
O senhor se meta com a sua vida.
Outro dia, cena semelhante. Um senhor atirava o jato de água contra as folhas, conduzindo-as aos bueiros. Divertia-se. Interpelei:
Por que faz isso?
O quê? O que estou fazendo para irritar o senhor?
Mudei o tom, não percebi, devia ter me exaltado.
- Primeiro, gastando água. Segundo, mandando as folhas para o bueiro, que vai entupir. E quando as chuvas chegarem vai ser aquela calamidade.
- Quem é o senhor? Fiscal?
- Não.
- Por que se preocupa com a água? Está faltando?
- Pode ser que falte, olhe a seca, o sol, o calor.
- Quando faltar o problema é meu.
Em um terceiro encontro, adverti a empregada que lavava usando motorzinho, o jato levantava poeira, folhas, galhos, tampinhas, maços de cigarros, frascos de iogurte. Nas ruas tem de tudo, jogam a torto e a direito.
Não sabe que o governo está pedindo para racionar água?
Não sei de nada.
- Com o calor, sem as chuvas, as represas estão vazias, vai dar o maior problema.
- Que represas? Do que o senhor fala?
- As represas que abastecem a cidade. A água pode acabar.
- Se acabar, meu patrão compra. Sabe quem é meu patrão?
- Não, não tenho ideia.
- Um ricão. Não se preocupe, aqui nunca vai faltar água.
A via-sacra se estendeu, porque, como diz o povinho humilde, quando "encatiço" com uma coisa, prossigo. Nova cena.
- Por que você está gastando água desse jeito, se começou a faltar?
Aqui ainda não. Quem disse que vai faltar?
Os jornais, o noticiário da televisão.
- Bobagem. Se fosse faltar, o Boechat tava mandando o pau, ele é bom. O José Paulo Andrade ia pegar no pé do prefeito. Se fosse faltar, a Sabesp ia avisar. Tudo o que vi da Sabesp foram comerciais dizendo que o litoral está limpo, saneado. O senhor pensa que está falando com um bobo? Leio, converso, sei, sou instruído, sou zelador aqui do prédio. O síndico daqui não deu nenhuma orientação, a piscina está cheia, tudo em paz. O senhor quer é pentelhar. É um missionário?
Não sou, tenho meus ataques, ainda que nesta cidade os ataques sejam perigosíssimos, você pode estar morto no minuto seguinte a uma palavra mal interpretada. Está todo mundo ouriçado, estressado, o calor abafando, antessala do inferno, os bandidos atacando, o Haddad nem se importando, o transito congestionando, o sol queimando, a chuva desaparecida. Está na hora de convocar a dança da chuva pelos índios. Uma senhora de seus 60 anos, varria cuidadosamente a calçada, apanhou o lixo num saquinho, fechou e amarrou. Fiquei olhando. Finalmente alguém consciente. Ia elogiar quando ela puxou a mangueira, abriu a torneira e começou a molhar a parede. Não resisti:
O que está fazendo?
Molhando a parede.
Para que molhar?
Não vê? É de pedra. Para esfriar, Molho três vezes ao dia.
Não devia! Não sabe que com a seca a água está a perigo?
- Só sei que faço o que me mandam fazer. O senhor não é meu patrão. Venha falar com ele. Isso é briga de grandão, não me meta, não me encha. Com esse calor, vou molhar a parede até esfriar quantas vezes eu quiser. Ou molho ou sou despedida. O problema da água não é comigo, é com o prefeito, com o governador, é com a Dilma. Vai falar com eles, já que é tão intrometido.
- Bem que queria, bem que devia, mas eles estão em campanha eleitoral. A senhora tem razão. Pena! Muita pena que todos nós não estejamos nos intrometendo, não estejamos pentelhando. Quando faltar água, vamos trazer da Bolívia, de Cuba, da Venezuela, dos países amigos...
A senhora me olhou intrigada, deu as costas, mandou o jato na parede, o sol se refletiu, formou um arco-íris lindo, as cores da seca que se anunciam, da calamidade anunciada.
Ueba! O Galinheiro dos Bambis! - JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 07/02
'Fumaça obriga Metrô a esvaziar trem'. Foram os vândalos orquestrados que fizeram fogueira! Rarará!
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Prenderam o Pizzolato.
E todos os trocadilhos de pizza com pizzolato já foram feitos! Diz que ele foi preso porque pediu uma napolitana sem tomate! Aí o dono da pizzaria gritou: "Carabiniere! Carabiniere!". Eu não quero esse Pizzolato. Pode deixar na Itália mesmo! Eu quero dois tênis da Prada! Esse é o meu pedido às autoridades italianas: dois tênis da Prada! Troco o Pizzolato por dois tênis da Prada! Ou então troca pelo Sarney! Rarará! Tudo é o Sarney mesmo!
E o meu São Paulo? Vai contratar o Pato. Vai virar um galinheiro. Daqueles de fundo de quintal! O Galinheiro dos Bambis: Pato, Ganso, os frangos do Ceni e a cara de galo véio do Muricy!
E sabe qual a semelhança entre o Pato e o Ganso? Ambos estão bichados! Rarará! Bichos bichados!
O Pato é desastrado como um ganso e o Ganso é mais lento que um pato. E nós vamos pagar o pato! E afogar o ganso! Rarará! Acho que o São Paulo está cometendo um avicídio! "Corinthians e São Paulo trocam Jadson por Pato". E ambos fizeram um péssimo negócio!
E o Corinthians? Diz que o Mano bateu um recorde: deu quatro seguidas. Negativas, mas deu! E o site FuteboldaDepressão fez um versinho: "O Ribéry é francês/ O Tevez é argentino/ Enquanto você lia/ Gol do Bragantino". Perdeu do Bragantino, a terra da linguiça. Os manos levaram uma linguiça.
Mas também, o goleiro do Bragantino se chama Rafael Defendi! E aí um corintiano fez gol contra! Não conseguia bater no Defendi, fez um gol contra!
E outro milagre: o Botafogo conseguiu lotar um estádio. Diz que o Botafogo terceiriza torcida. Eles têm uma empresa de contratação de torcedores. Pra fazer olas e mosaicos! "Contrata-se torcedores para olas e mosaicos". Rarará! E diz que o Botafogo achou o Wally! o Wallyson! Rarará! É mole? É mole, mas sobe!
E um aviso ao secretário de Transportes de SP: hoje, às sete da manhã, a plataforma da estação Sé do Metrô estava lotada de vândalos orquestrados! Rarará! Não é ele que tá chamando os usuários de metrô de vândalos orquestrados?!
E mais essa: "Fumaça obriga Metrô a esvaziar trem". Foram os vândalos orquestrados que fizeram uma fogueira! Rarará!
Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje, só amanhã
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
'Fumaça obriga Metrô a esvaziar trem'. Foram os vândalos orquestrados que fizeram fogueira! Rarará!
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Prenderam o Pizzolato.
E todos os trocadilhos de pizza com pizzolato já foram feitos! Diz que ele foi preso porque pediu uma napolitana sem tomate! Aí o dono da pizzaria gritou: "Carabiniere! Carabiniere!". Eu não quero esse Pizzolato. Pode deixar na Itália mesmo! Eu quero dois tênis da Prada! Esse é o meu pedido às autoridades italianas: dois tênis da Prada! Troco o Pizzolato por dois tênis da Prada! Ou então troca pelo Sarney! Rarará! Tudo é o Sarney mesmo!
E o meu São Paulo? Vai contratar o Pato. Vai virar um galinheiro. Daqueles de fundo de quintal! O Galinheiro dos Bambis: Pato, Ganso, os frangos do Ceni e a cara de galo véio do Muricy!
E sabe qual a semelhança entre o Pato e o Ganso? Ambos estão bichados! Rarará! Bichos bichados!
O Pato é desastrado como um ganso e o Ganso é mais lento que um pato. E nós vamos pagar o pato! E afogar o ganso! Rarará! Acho que o São Paulo está cometendo um avicídio! "Corinthians e São Paulo trocam Jadson por Pato". E ambos fizeram um péssimo negócio!
E o Corinthians? Diz que o Mano bateu um recorde: deu quatro seguidas. Negativas, mas deu! E o site FuteboldaDepressão fez um versinho: "O Ribéry é francês/ O Tevez é argentino/ Enquanto você lia/ Gol do Bragantino". Perdeu do Bragantino, a terra da linguiça. Os manos levaram uma linguiça.
Mas também, o goleiro do Bragantino se chama Rafael Defendi! E aí um corintiano fez gol contra! Não conseguia bater no Defendi, fez um gol contra!
E outro milagre: o Botafogo conseguiu lotar um estádio. Diz que o Botafogo terceiriza torcida. Eles têm uma empresa de contratação de torcedores. Pra fazer olas e mosaicos! "Contrata-se torcedores para olas e mosaicos". Rarará! E diz que o Botafogo achou o Wally! o Wallyson! Rarará! É mole? É mole, mas sobe!
E um aviso ao secretário de Transportes de SP: hoje, às sete da manhã, a plataforma da estação Sé do Metrô estava lotada de vândalos orquestrados! Rarará! Não é ele que tá chamando os usuários de metrô de vândalos orquestrados?!
E mais essa: "Fumaça obriga Metrô a esvaziar trem". Foram os vândalos orquestrados que fizeram uma fogueira! Rarará!
Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje, só amanhã
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
Para não ficarmos, todos, cegos e surdos- WASHINGTON NOVAES
O Estado de S.Paulo - 07/02
Nunca foi tão difícil para a comunicação, tão complexo, retratar a realidade e alguns de seus conflitos. Em certos momentos parecemos imobilizados diante do emaranhado de interesses, do confronto entre eles - sem saber o que propor para a sociedade, para o poder público. O exemplo mais gritante é o dos chamados "rolês". Que se fará? Não se pode proibir a presença de pessoas ou grupos em espaços abertos ao público. Mas como proteger os estabelecimentos comerciais sem restringir direitos de cidadãos? Vai-se cobrar ingresso? Reduzir a frequência aos lugares e sua rentabilidade? E o poder público, o que ele fará?
Neste momento em que se lembram os 40 anos do incêndio do edifício Joelma, em São Paulo - com os espectadores assistindo "ao vivo", na hora, pela TV, ao pânico e à morte de muitas das 187 vítimas - pode valer a pena recordar episódio provavelmente já mencionado neste espaço. O autor destas linhas era então chefe da redação do Globo Repórter, da TV Globo, quando foi procurado no dia seguinte a um programa por uma jovem. Ela relatava que, ao ver na televisão um programa (dirigido por Fernando Pacheco Jordão) que relatava com competência a presença de agrotóxicos em muitos dos alimentos mais vendidos no maior centro de abastecimento da capital paulista, seu filho de 8 anos - que já não comia carnes por causa da repulsa adquirida ao ver documentados na TV alguns dos problemas decorrentes desse hábito - passara a recusar-se também a comer vegetais. "O senhor criou o problema com o programa. Agora é obrigação sua dizer o que eu devo fazer", afirmava a mãe. Pouco era possível, apenas sugerir que levasse o filho a um psicólogo.
Ao relatar o problema ao então diretor de Jornalismo da emissora, Armando Nogueira, ele foi direto. "Eu sei bem do que você está falando. Há poucos dias, quando aconteceu o incêndio do edifício Joelma, em São Paulo (cujo 40% aniversário se lembrou há pouco), também fui procurado por uma mulher. Um filho dela, adolescente, tivera uma parada cardíaca ao ver na televisão as cenas impressionantes: o cinegrafista acompanhara, segundo a segundo, quando uma das vítimas, já na cobertura do edifício, cercada pelo fogo, se atirara no espaço - até documentá-la ao se despedaçar no chão." Socorrido, o jovem sobreviveu. Mas Armando deu ordem para que já à noite, no Jornal Nacional, só se exibisse a cena com "quadro parado", sem mostrar o salto e a trajetória da vítima.
Pouco se pensa, na comunicação ou fora, nas possíveis consequências de uma informação sobre o público. E alguns dias depois desse episódio do Joelma a perplexidade estava de volta, com a presença no Globo Repórter de uma delegação de surdos-mudos. Reivindicavam eles que no programa não se "cobrisse" a imagem de entrevistados, deixando deles apenas a voz. Porque com isso os espectadores surdos-mudos perdiam alguns dos poucos momentos em que podiam acompanhar, com leitura labial, o que diziam os entrevistados, mesmo que outras pessoas os mantivessem informados do restante da fala. A reivindicação passou a ser atendida obrigatoriamente. Mais algum tempo, entretanto, compareceu um grupo de cegos. Eles acompanhavam, com a família, a narração dos programas. Mas ficavam sem saber de quem se tratava quando os entrevistados eram identificados apenas por escrito na tela, sem menção do narrador. Passou-se a tornar obrigatória a identificação também pela voz do narrador.
Claro que tudo isso seria superado se houvesse a obrigatoriedade legal, na televisão, de ocupar um pedaço da tela, num dos cantos, com alguém que fizesse a narração labial. Com a obrigação de identificar também na narração quem está falando. Até hoje não há essa obrigação.
Ao comentar esses episódios pouco tempo depois com o então diretor de pesquisas da TV, Homero Icaza Sánchez - extraordinário poeta, amigo e tradutor de Manoel Bandeira -, ele deu a lição inesquecível: "Na televisão, você tem de se lembrar sempre que fala ao mesmo tempo com todos os públicos - homens e mulheres, idosos e crianças, doutores e analfabetos, ricos e pobres; tem der ser atraente e claro para todos, sem ser maçante para alguns Se alguém não entender o que foi dito e parar para perguntar de que se tratava, perderá o fio da narração, poderá desinteressar-se e mudar de canal" (e isso talvez explique parte da perda progressiva de audiência que vem ocorrendo, até chegar aos níveis de hoje).
Não é apenas na TV. Quem pensa nisso quando a comunicação toda está hoje diante de temas extremamente complexos - nacionais e internacionais - que afetam a vida de cada cidadão? Como fazer se cada segundo na televisão ou cada centímetro na comunicação escrita tem alto valor e precisa ser economizado? Como tratar - por exemplo, voltando ao começo deste artigo - a questão dos "rolês"? Como situá-la para os interessados diretos, para os comerciantes e o público habitual de shoppings? Que propor ou exigir ao poder público? Com que recursos? Quais as consequências de cada rumo proposto?
O mesmo raciocínio vale para praticamente tudo de que trata a comunicação. Como cada cidadão se deve comportar, por exemplo, diante do problema cada vez maior e mais urgente das mudanças climáticas (veja-se o noticiário atual sobre redução de chuvas em São Paulo e em vastas regiões, ameaça de racionamento)? Ou, então, que deve fazer a sociedade diante dos dramas da violência, da ineficiência na repressão, da semifalência do Judiciário e do Executivo no sistema penal? Ou, ainda, que faremos diante da paralisação das cidades pelo acúmulo de veículos, motivado pelos estímulos ao transporte individual e pela carência brutal de transporte público?
Seria leviandade acreditar que essas e outras questões se resolverão sem um debate aberto - que só a comunicação pode promover - entre todos os interlocutores. Sem ele estaremos condenados a "rolês" e a protestos violentos e/ou paralisantes.
Nunca foi tão difícil para a comunicação, tão complexo, retratar a realidade e alguns de seus conflitos. Em certos momentos parecemos imobilizados diante do emaranhado de interesses, do confronto entre eles - sem saber o que propor para a sociedade, para o poder público. O exemplo mais gritante é o dos chamados "rolês". Que se fará? Não se pode proibir a presença de pessoas ou grupos em espaços abertos ao público. Mas como proteger os estabelecimentos comerciais sem restringir direitos de cidadãos? Vai-se cobrar ingresso? Reduzir a frequência aos lugares e sua rentabilidade? E o poder público, o que ele fará?
Neste momento em que se lembram os 40 anos do incêndio do edifício Joelma, em São Paulo - com os espectadores assistindo "ao vivo", na hora, pela TV, ao pânico e à morte de muitas das 187 vítimas - pode valer a pena recordar episódio provavelmente já mencionado neste espaço. O autor destas linhas era então chefe da redação do Globo Repórter, da TV Globo, quando foi procurado no dia seguinte a um programa por uma jovem. Ela relatava que, ao ver na televisão um programa (dirigido por Fernando Pacheco Jordão) que relatava com competência a presença de agrotóxicos em muitos dos alimentos mais vendidos no maior centro de abastecimento da capital paulista, seu filho de 8 anos - que já não comia carnes por causa da repulsa adquirida ao ver documentados na TV alguns dos problemas decorrentes desse hábito - passara a recusar-se também a comer vegetais. "O senhor criou o problema com o programa. Agora é obrigação sua dizer o que eu devo fazer", afirmava a mãe. Pouco era possível, apenas sugerir que levasse o filho a um psicólogo.
Ao relatar o problema ao então diretor de Jornalismo da emissora, Armando Nogueira, ele foi direto. "Eu sei bem do que você está falando. Há poucos dias, quando aconteceu o incêndio do edifício Joelma, em São Paulo (cujo 40% aniversário se lembrou há pouco), também fui procurado por uma mulher. Um filho dela, adolescente, tivera uma parada cardíaca ao ver na televisão as cenas impressionantes: o cinegrafista acompanhara, segundo a segundo, quando uma das vítimas, já na cobertura do edifício, cercada pelo fogo, se atirara no espaço - até documentá-la ao se despedaçar no chão." Socorrido, o jovem sobreviveu. Mas Armando deu ordem para que já à noite, no Jornal Nacional, só se exibisse a cena com "quadro parado", sem mostrar o salto e a trajetória da vítima.
Pouco se pensa, na comunicação ou fora, nas possíveis consequências de uma informação sobre o público. E alguns dias depois desse episódio do Joelma a perplexidade estava de volta, com a presença no Globo Repórter de uma delegação de surdos-mudos. Reivindicavam eles que no programa não se "cobrisse" a imagem de entrevistados, deixando deles apenas a voz. Porque com isso os espectadores surdos-mudos perdiam alguns dos poucos momentos em que podiam acompanhar, com leitura labial, o que diziam os entrevistados, mesmo que outras pessoas os mantivessem informados do restante da fala. A reivindicação passou a ser atendida obrigatoriamente. Mais algum tempo, entretanto, compareceu um grupo de cegos. Eles acompanhavam, com a família, a narração dos programas. Mas ficavam sem saber de quem se tratava quando os entrevistados eram identificados apenas por escrito na tela, sem menção do narrador. Passou-se a tornar obrigatória a identificação também pela voz do narrador.
Claro que tudo isso seria superado se houvesse a obrigatoriedade legal, na televisão, de ocupar um pedaço da tela, num dos cantos, com alguém que fizesse a narração labial. Com a obrigação de identificar também na narração quem está falando. Até hoje não há essa obrigação.
Ao comentar esses episódios pouco tempo depois com o então diretor de pesquisas da TV, Homero Icaza Sánchez - extraordinário poeta, amigo e tradutor de Manoel Bandeira -, ele deu a lição inesquecível: "Na televisão, você tem de se lembrar sempre que fala ao mesmo tempo com todos os públicos - homens e mulheres, idosos e crianças, doutores e analfabetos, ricos e pobres; tem der ser atraente e claro para todos, sem ser maçante para alguns Se alguém não entender o que foi dito e parar para perguntar de que se tratava, perderá o fio da narração, poderá desinteressar-se e mudar de canal" (e isso talvez explique parte da perda progressiva de audiência que vem ocorrendo, até chegar aos níveis de hoje).
Não é apenas na TV. Quem pensa nisso quando a comunicação toda está hoje diante de temas extremamente complexos - nacionais e internacionais - que afetam a vida de cada cidadão? Como fazer se cada segundo na televisão ou cada centímetro na comunicação escrita tem alto valor e precisa ser economizado? Como tratar - por exemplo, voltando ao começo deste artigo - a questão dos "rolês"? Como situá-la para os interessados diretos, para os comerciantes e o público habitual de shoppings? Que propor ou exigir ao poder público? Com que recursos? Quais as consequências de cada rumo proposto?
O mesmo raciocínio vale para praticamente tudo de que trata a comunicação. Como cada cidadão se deve comportar, por exemplo, diante do problema cada vez maior e mais urgente das mudanças climáticas (veja-se o noticiário atual sobre redução de chuvas em São Paulo e em vastas regiões, ameaça de racionamento)? Ou, então, que deve fazer a sociedade diante dos dramas da violência, da ineficiência na repressão, da semifalência do Judiciário e do Executivo no sistema penal? Ou, ainda, que faremos diante da paralisação das cidades pelo acúmulo de veículos, motivado pelos estímulos ao transporte individual e pela carência brutal de transporte público?
Seria leviandade acreditar que essas e outras questões se resolverão sem um debate aberto - que só a comunicação pode promover - entre todos os interlocutores. Sem ele estaremos condenados a "rolês" e a protestos violentos e/ou paralisantes.
Esqueceram o principal - HÉLIO SCHWARTSMAN
FOLHA DE SP - 07/02
SÃO PAULO - Houve um tempo em que os ditos setores progressistas pautavam suas ações por filosofias coerentes. Assim, advogados da infância buscavam promover os interesses das crianças, feministas visavam a afirmar a autonomia das mulheres e militantes dos direitos de homossexuais tentavam acabar com a discriminação contra gays, mas sem perder de vista teses mais gerais da esquerda não marxista, que incluíam a ampliação das liberdades e a despenalização do direito.
As coisas mudaram. E para pior, a meu ver. Hoje, os defensores das criancinhas deblateram para que o Congresso mantenha um mecanismo jurídico que permite mandar para a cadeia o pai que não paga em dia pensão do filho. Pouco importa que a prisão por dívidas represente um retrocesso de 2.600 anos --uma das reformas de Sólon que facilitou a introdução da democracia em Atenas foi justamente o fim da servidão por dívidas-- e que é quase certo que, encarcerado, o pai da criança terá muito menor probabilidade de honrar seus compromissos financeiros.
As feministas agora apoiam o acórdão do Supremo Tribunal Federal que retirou das mulheres o direito de decidir se querem ou não processar companheiros, tornando agressões leves no âmbito do lar um crime de ação pública incondicionada. Pouco importa que isso torne as mulheres menos livres e introduza uma diferenciação de gênero (na situação inversa, um homem pode decidir se processa ou não).
Por fim, homossexuais pedem a edição de uma lei que torne crime referir-se a gays em termos depreciativos ou condenatórios. Pouco importa que tal medida, se adotada, representaria uma limitação da liberdade de expressão, o mais fundamental dos princípios democráticos.
É natural que grupos de ativistas se especializem e, ao fazê-lo, percam de vista as grandes questões, mas fico com a impressão de que estão colocando a parte à frente do todo.
SÃO PAULO - Houve um tempo em que os ditos setores progressistas pautavam suas ações por filosofias coerentes. Assim, advogados da infância buscavam promover os interesses das crianças, feministas visavam a afirmar a autonomia das mulheres e militantes dos direitos de homossexuais tentavam acabar com a discriminação contra gays, mas sem perder de vista teses mais gerais da esquerda não marxista, que incluíam a ampliação das liberdades e a despenalização do direito.
As coisas mudaram. E para pior, a meu ver. Hoje, os defensores das criancinhas deblateram para que o Congresso mantenha um mecanismo jurídico que permite mandar para a cadeia o pai que não paga em dia pensão do filho. Pouco importa que a prisão por dívidas represente um retrocesso de 2.600 anos --uma das reformas de Sólon que facilitou a introdução da democracia em Atenas foi justamente o fim da servidão por dívidas-- e que é quase certo que, encarcerado, o pai da criança terá muito menor probabilidade de honrar seus compromissos financeiros.
As feministas agora apoiam o acórdão do Supremo Tribunal Federal que retirou das mulheres o direito de decidir se querem ou não processar companheiros, tornando agressões leves no âmbito do lar um crime de ação pública incondicionada. Pouco importa que isso torne as mulheres menos livres e introduza uma diferenciação de gênero (na situação inversa, um homem pode decidir se processa ou não).
Por fim, homossexuais pedem a edição de uma lei que torne crime referir-se a gays em termos depreciativos ou condenatórios. Pouco importa que tal medida, se adotada, representaria uma limitação da liberdade de expressão, o mais fundamental dos princípios democráticos.
É natural que grupos de ativistas se especializem e, ao fazê-lo, percam de vista as grandes questões, mas fico com a impressão de que estão colocando a parte à frente do todo.
Chegou a hora de recolocar o Brasil nos trilhos - ROBERTO FREIRE
Brasil Econômico - 07/02
Um dia depois de um deputado petista cerrar os punhos em solidariedade aos mensaleiros condenados pelo Supremo Tribunal Federal, um novo caminho para o Brasil começou a ser trilhado a partir do lançamento das diretrizes do programa de governo de Eduardo Campos. Ao lado de Marina Silva, o pré-candidato do PSB à Presidência apresentou os eixos centrais de um novo projeto de desenvolvimento, ao qual o PPS se associa. Após 11 anos de governos lulodilmistas, os sinais de que o país “saiu dos trilhos”, como afirmou Campos, são variados.
O rombo nas contas públicas, a gestão temerária que levou à desmoralização da Petrobras, a desindustrialização acelerada, a escalada inflacionária, o loteamento da máquina pública, o desmantelo na área da saúde e o desastre na educação são alguns dos exemplos mais latentes. As jornadas de junho de 2013, quando o povo brasileiro tomou as ruas pelo fim da corrupção e por transporte, saúde e educação de qualidade, foram o estopim de uma insatisfação generalizada. Enquanto a propaganda oficial cria um mundo de fantasia, o Brasil real convive com graves problemas cotidianos que parecem não repercutir nos gabinetes do Planalto.
A agenda apresentada por Campos trata, entre outros pontos, de desburocratização do Estado, reforma política, recuperação da indústria, investimentos em tecnologia, fortalecimento do Sistema Único de Saúde, educação de qualidade, reforma urbana e aperfeiçoamento dos órgãos de segurança. A essas diretrizes, serão incorporadas as propostas apresentadas pelo PPS, em conjunto com toda a sociedade, que participará ativamente da construção do programa de governo.
O alinhamento das forças democráticas de esquerda representa um reencontro histórico entre os socialistas e o PPS, herdeiro do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Desde a origem do PSB, com a redemocratização pós-Estado Novo, a aliança com os comunistas se inscreveu em páginas marcantes da vida política brasileira. Em Pernambuco, um dos estados mais avançados do país na luta democrática daquele período, essa união levou ao surgimento da Frente do Recife, movimento que elegeu Pelópidas da Silveira prefeito da capital, em 1955, e Miguel Arraes governador do estado, em 1962.
Após o golpe de 1964, os dois partidos se integraram às trincheiras do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), em oposição à ditadura militar. Essa parceria também se fez presente na eleição de Tancredo Neves pelo Colégio Eleitoral, na Constituinte, no impeachment de Fernando Collor e na participação no governo de Itamar Franco. Em 2002, apoiamos a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva no segundo turno da eleição presidencial, mas o PPS se sentiu fraudado e rompeu com o governo em 2004. Recentemente, o PSB deixou a gestão de Dilma Rousseff e optou por construir um novo caminho para o país.
Não é cerrando punhos em defesa da corrupção, o que enxovalha um digno gestual das esquerdas em todo o mundo, muito menos aviltando as instituições ou loteando cargos em nome de interesses eleitorais, que o Brasil sairá do atoleiro em que se encontra. Um novo país só emergirá coma retomada do crescimento, o respeito ao meio ambiente e o resgate da ética como valor fundamental na vida pública. Ao lado de Eduardo Campos e Marina Silva, o PPS trabalha para que a nação volte aos trilhos do desenvolvimento econômico, social e político.
O rombo nas contas públicas, a gestão temerária que levou à desmoralização da Petrobras, a desindustrialização acelerada, a escalada inflacionária, o loteamento da máquina pública, o desmantelo na área da saúde e o desastre na educação são alguns dos exemplos mais latentes. As jornadas de junho de 2013, quando o povo brasileiro tomou as ruas pelo fim da corrupção e por transporte, saúde e educação de qualidade, foram o estopim de uma insatisfação generalizada. Enquanto a propaganda oficial cria um mundo de fantasia, o Brasil real convive com graves problemas cotidianos que parecem não repercutir nos gabinetes do Planalto.
A agenda apresentada por Campos trata, entre outros pontos, de desburocratização do Estado, reforma política, recuperação da indústria, investimentos em tecnologia, fortalecimento do Sistema Único de Saúde, educação de qualidade, reforma urbana e aperfeiçoamento dos órgãos de segurança. A essas diretrizes, serão incorporadas as propostas apresentadas pelo PPS, em conjunto com toda a sociedade, que participará ativamente da construção do programa de governo.
O alinhamento das forças democráticas de esquerda representa um reencontro histórico entre os socialistas e o PPS, herdeiro do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Desde a origem do PSB, com a redemocratização pós-Estado Novo, a aliança com os comunistas se inscreveu em páginas marcantes da vida política brasileira. Em Pernambuco, um dos estados mais avançados do país na luta democrática daquele período, essa união levou ao surgimento da Frente do Recife, movimento que elegeu Pelópidas da Silveira prefeito da capital, em 1955, e Miguel Arraes governador do estado, em 1962.
Após o golpe de 1964, os dois partidos se integraram às trincheiras do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), em oposição à ditadura militar. Essa parceria também se fez presente na eleição de Tancredo Neves pelo Colégio Eleitoral, na Constituinte, no impeachment de Fernando Collor e na participação no governo de Itamar Franco. Em 2002, apoiamos a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva no segundo turno da eleição presidencial, mas o PPS se sentiu fraudado e rompeu com o governo em 2004. Recentemente, o PSB deixou a gestão de Dilma Rousseff e optou por construir um novo caminho para o país.
Não é cerrando punhos em defesa da corrupção, o que enxovalha um digno gestual das esquerdas em todo o mundo, muito menos aviltando as instituições ou loteando cargos em nome de interesses eleitorais, que o Brasil sairá do atoleiro em que se encontra. Um novo país só emergirá coma retomada do crescimento, o respeito ao meio ambiente e o resgate da ética como valor fundamental na vida pública. Ao lado de Eduardo Campos e Marina Silva, o PPS trabalha para que a nação volte aos trilhos do desenvolvimento econômico, social e político.
'Institutos de pesquisa em crise' - ADIB JATENE
O Estado de S.Paulo - 07/02
A leitura, na página A3 do Estado do dia 28 de janeiro, de editorial com o título acima, comentando as dificuldades dos pesquisadores e a deterioração das instituições de pesquisa do Estado, fez-me lembrar do dr. Dante Pazzanese e dos fundos de pesquisa. Em 1954, durante o governo de Lucas Nogueira Garcez, o dr. Dante Pazzanese, que era o chefe do serviço de Cardiologia do Hospital Municipal, conseguiu criar o Instituto de Cardiologia do Estado de São Paulo (Icesp), na Secretaria Estadual de Saúde. Em 1958, já instalado no Ibirapuera, em ambulatório com 1.000 m2, convenceu o governador Jânio Quadros de que uma instituição pública que incorporasse pesquisa, seja na área de saúde ou em qualquer outra, não poderia sobreviver apenas com os recursos do orçamento. Este, que era apresentado no ano anterior, e desgastado pela inflação, era sabidamente insuficiente.
A gestão da instituição ficava refém da administração pública, que, por causa da isonomia salarial, não conseguia diferenciar a remuneração conforme o mérito de cada um e dispor de agilidade para atender necessidades que, muitas vezes, o caso exigia. Era necessário recurso extraorçamentário, que ele propôs fosse buscado pela própria instituição. O governador concordou com a criação do Fundo de Pesquisa do Icesp, hoje Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia.
A proposta visava a captar recursos de doadores ou dos clientes atendidos, de acordo com suas posses, classificados pelo serviço social em três categorias, chamadas A - que não pagava nada, e este grupo representava 60% dos clientes; B - subdividida em quatro grupos, respectivamente contribuindo com 10%, 20%, 40% e 60%; e C - que pagava o valor integral. Cada ano o Diário Oficial trazia o valor de cada procedimento, que era o corrente da clínica privada. A essa época os segurados da Previdência não eram atendidos em próprios do Estado, reservados exclusivamente aos indigentes.
Esses recursos eram depositados numa conta bancária, movimentada, em reunião, pelos diretores da instituição, com a presença de um representante da Secretaria da Fazenda.
Quando, em 1961, pedi demissão do Hospital das Clínicas e fui trabalhar, em tempo integral e dedicação exclusiva, no Instituto de Cardiologia, isso só foi possível porque o fundo de pesquisa suplementou meu salário, com valor equivalente ao que eu ganhava no Hospital das Clínicas. Participações em congressos no País e no exterior eram financiadas pelo fundo de pesquisa. Missões específicas, como envio de profissional para adquirir, em prazo curto, qualificações em determinada técnica desenvolvida no exterior, eram feitas sem delongas burocráticas.
Foi assim que o instituto foi pioneiro, em nosso meio, na implantação de prótese aórtica, em outubro de 1962. Também foi pioneiro em cinecoronariografia, o que lhe possibilitou o pioneirismo da ponte de safena aorto-coronária, em setembro de 1968. Também a Oficina Experimental e de Pesquisa, que implantamos em 1961, teve contribuições pioneiras na construção de oxigenadores de bolhas e conjuntos de coração-pulmão artificial. Em 1964, outra contribuição pioneira, a de prótese valvular de bola, seguida por oxigenadores descartáveis de bolha e de membrana, de marca-passo implantável, rim artificial de membrana, desfibrilador externo e interno de corrente contínua, próteses valvulares de pericárdio de boi e grande parte do material utilizado em cirurgia cardíaca.
O fundo de pesquisas tinha duas características responsáveis por seu sucesso: não era orçamentado e a aplicação dos recursos era feita, predominantemente, em pesquisa e em pessoal, o que nos permitia evitar a isonomia salarial. As pessoas criativas e que contribuem para o avanço fazem jus à remuneração diferenciada. Se a inovação resultar em patente, com desdobramento comercial, deve participar do resultado financeiro. É a forma de reter no serviço público os que são criativos, responsáveis pelos avanços. Afinal, o tempo integral e a dedicação exclusiva não podem ser voto de pobreza, que resulta em seleção negativa, ressalvados sempre os idealistas.
O Fundo de Pesquisa do Icesp deu tão certo que, logo, todas as instituições de pesquisa do Estado criaram seus próprios fundos para esse fim.
Foi um período que durou pouco mais de 20 anos. No governo Paulo Egydio Martins (1975-1979), o secretário da Fazenda fez uma reforma administrativa, no seu conceito, tão perfeita que não precisaria mais dos fundos. Por decisão administrativa, extinguiu todos os fundos, mas não abdicou da receita, criando o Fundo Especial de Despesa, com duas novidades: passava a ser orçamentado e proibia a aplicação em pessoal.
Tive a oportunidade de comparecer, por mais de uma vez, à Assembleia Legislativa, com representantes dos vários fundos de pesquisa, pleiteando a sua recriação, o que não conseguimos.
Infelizmente, em nosso meio, todos querem mudanças, que implicam alteração de leis preexistentes para adequá-las à mudança, enquanto está sedimentado um sentimento de que a lei é a indutora de mudança. Por isso há uma profusão de leis, que não são cumpridas nem cobradas. Sempre pensei que a lei deve ser consolidadora de práticas que deram certo, a única forma de incorporar avanços.
Uma luz se abriu quando o professor Euryclides de Jesus Zerbini, que construiu o Instituto do Coração (InCor), criou a fundação de apoio, que significou para o InCor o que os fundos de pesquisa fizeram com as respectivas instituições. A ideia de que a fundação de apoio cria uma dupla porta é um equívoco. Na verdade, combate a dupla militância e cria condições de serviços mais eficientes, que aumentam a disponibilidade para o Sistema Único de Saúde (SUS).
A leitura, na página A3 do Estado do dia 28 de janeiro, de editorial com o título acima, comentando as dificuldades dos pesquisadores e a deterioração das instituições de pesquisa do Estado, fez-me lembrar do dr. Dante Pazzanese e dos fundos de pesquisa. Em 1954, durante o governo de Lucas Nogueira Garcez, o dr. Dante Pazzanese, que era o chefe do serviço de Cardiologia do Hospital Municipal, conseguiu criar o Instituto de Cardiologia do Estado de São Paulo (Icesp), na Secretaria Estadual de Saúde. Em 1958, já instalado no Ibirapuera, em ambulatório com 1.000 m2, convenceu o governador Jânio Quadros de que uma instituição pública que incorporasse pesquisa, seja na área de saúde ou em qualquer outra, não poderia sobreviver apenas com os recursos do orçamento. Este, que era apresentado no ano anterior, e desgastado pela inflação, era sabidamente insuficiente.
A gestão da instituição ficava refém da administração pública, que, por causa da isonomia salarial, não conseguia diferenciar a remuneração conforme o mérito de cada um e dispor de agilidade para atender necessidades que, muitas vezes, o caso exigia. Era necessário recurso extraorçamentário, que ele propôs fosse buscado pela própria instituição. O governador concordou com a criação do Fundo de Pesquisa do Icesp, hoje Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia.
A proposta visava a captar recursos de doadores ou dos clientes atendidos, de acordo com suas posses, classificados pelo serviço social em três categorias, chamadas A - que não pagava nada, e este grupo representava 60% dos clientes; B - subdividida em quatro grupos, respectivamente contribuindo com 10%, 20%, 40% e 60%; e C - que pagava o valor integral. Cada ano o Diário Oficial trazia o valor de cada procedimento, que era o corrente da clínica privada. A essa época os segurados da Previdência não eram atendidos em próprios do Estado, reservados exclusivamente aos indigentes.
Esses recursos eram depositados numa conta bancária, movimentada, em reunião, pelos diretores da instituição, com a presença de um representante da Secretaria da Fazenda.
Quando, em 1961, pedi demissão do Hospital das Clínicas e fui trabalhar, em tempo integral e dedicação exclusiva, no Instituto de Cardiologia, isso só foi possível porque o fundo de pesquisa suplementou meu salário, com valor equivalente ao que eu ganhava no Hospital das Clínicas. Participações em congressos no País e no exterior eram financiadas pelo fundo de pesquisa. Missões específicas, como envio de profissional para adquirir, em prazo curto, qualificações em determinada técnica desenvolvida no exterior, eram feitas sem delongas burocráticas.
Foi assim que o instituto foi pioneiro, em nosso meio, na implantação de prótese aórtica, em outubro de 1962. Também foi pioneiro em cinecoronariografia, o que lhe possibilitou o pioneirismo da ponte de safena aorto-coronária, em setembro de 1968. Também a Oficina Experimental e de Pesquisa, que implantamos em 1961, teve contribuições pioneiras na construção de oxigenadores de bolhas e conjuntos de coração-pulmão artificial. Em 1964, outra contribuição pioneira, a de prótese valvular de bola, seguida por oxigenadores descartáveis de bolha e de membrana, de marca-passo implantável, rim artificial de membrana, desfibrilador externo e interno de corrente contínua, próteses valvulares de pericárdio de boi e grande parte do material utilizado em cirurgia cardíaca.
O fundo de pesquisas tinha duas características responsáveis por seu sucesso: não era orçamentado e a aplicação dos recursos era feita, predominantemente, em pesquisa e em pessoal, o que nos permitia evitar a isonomia salarial. As pessoas criativas e que contribuem para o avanço fazem jus à remuneração diferenciada. Se a inovação resultar em patente, com desdobramento comercial, deve participar do resultado financeiro. É a forma de reter no serviço público os que são criativos, responsáveis pelos avanços. Afinal, o tempo integral e a dedicação exclusiva não podem ser voto de pobreza, que resulta em seleção negativa, ressalvados sempre os idealistas.
O Fundo de Pesquisa do Icesp deu tão certo que, logo, todas as instituições de pesquisa do Estado criaram seus próprios fundos para esse fim.
Foi um período que durou pouco mais de 20 anos. No governo Paulo Egydio Martins (1975-1979), o secretário da Fazenda fez uma reforma administrativa, no seu conceito, tão perfeita que não precisaria mais dos fundos. Por decisão administrativa, extinguiu todos os fundos, mas não abdicou da receita, criando o Fundo Especial de Despesa, com duas novidades: passava a ser orçamentado e proibia a aplicação em pessoal.
Tive a oportunidade de comparecer, por mais de uma vez, à Assembleia Legislativa, com representantes dos vários fundos de pesquisa, pleiteando a sua recriação, o que não conseguimos.
Infelizmente, em nosso meio, todos querem mudanças, que implicam alteração de leis preexistentes para adequá-las à mudança, enquanto está sedimentado um sentimento de que a lei é a indutora de mudança. Por isso há uma profusão de leis, que não são cumpridas nem cobradas. Sempre pensei que a lei deve ser consolidadora de práticas que deram certo, a única forma de incorporar avanços.
Uma luz se abriu quando o professor Euryclides de Jesus Zerbini, que construiu o Instituto do Coração (InCor), criou a fundação de apoio, que significou para o InCor o que os fundos de pesquisa fizeram com as respectivas instituições. A ideia de que a fundação de apoio cria uma dupla porta é um equívoco. Na verdade, combate a dupla militância e cria condições de serviços mais eficientes, que aumentam a disponibilidade para o Sistema Único de Saúde (SUS).
Liberdade para Sandra - ANCELMO GOIS
O GLOBO - 07/02
Ontem, o escritor Domício Proença Filho, secretário-geral, em nome da ABL, escreveu à tradutora para o italiano da obra de Rachel de Queiroz, pedindo desculpas e convidando Sandra a visitar a casa. E concluiu: “Se desejar, venha de bermuda.”
Verão da bermuda...
Aliás, semana passada, Eduardo Paes liberou a bermuda para os servidores municipais e motoristas de táxi. Ontem, o reitor do Pedro II autorizou o uso do vestuário.
A permissão não é uma questão de evolução dos costumes. Com este calor, a bermuda virou necessidade.
Fifa exige respeito
A cavalaria da Fifa desembarcou ontem no Brasil em socorro da CBF.
Mandou ofício avisando que não vai tolerar que clubes entrem na Justiça comum contestando decisões de entidades esportivas. Teme pela segurança jurídica das competições.
O recado tem endereço certo: Portuguesa, Flamengo e Vasco.
Di libertado
O Órgão Especial do TJ do Rio decidiu, por unanimidade, que obras de Di Cavalcanti podem ser expostas sem autorização de Dalila Bogado.
Há mais de dez anos, a amiga do notável pintor alega que tem um documento dado pelo artista que lhe concedia este direito, questionado pelo MAM e pelo CCBB.
No mais
Em italiano, Pizzo é como se chama o dinheiro que é extorquido de comerciantes e industriais pela máfia.
Com todo o respeito. Russos estão chegando
A conta é do Ministério do Turismo. Entre 2010 e 2012, a chegada de turistas russos ao Brasil cresceu 150%, passando de 10.038 para 25.141 compatriotas de Putin.
Houve uma época que isto causava apreensão.
Segue...
Aliás, cerca de 25 mil russos estão sendo esperados na Copa.
Absorvente feminino
A Sétima Turma do Tribunal Superior do Trabalho (TST) condenou a Fax Point Indústria Importação e Exportação Ltda., de São Paulo, a pagar indenização por danos morais de R$ 20 mil a uma ex-funcionária.
É que uma chefe, incomodada em ver um absorvente usado no banheiro, resolveu descobrir de quem era.
Segue...
Só que ela, acredite, obrigou que as subordinadas baixassem as calças.
A relatora da decisão foi a ministra Delaíde Arantes.
Marcha do xixi
A TV Globo vai distribuir, durante a folia no Rio, mais de três mil
camisetas com os temas das marchinhas deste ano:
“Marcha do xixi”, “Se beber, não dirija” e “Não jogue lixo na rua”.
O objetivo é usar o carnaval para botar na rua o bloco da educação.
Por falar nisso...
Um grupo de foliões da Zona Sul do Rio decidiu se fantasiar de integrante da Mídia Ninja, grupo que ficou conhecido por fotografar, filmar e transmitir pela internet os protestos de junho.
Munidos de câmeras de verdade, a turma vai filmar... os mijões.
A costela de Berta
A querida atriz Berta Loran, 87 anos, fraturou três costelas ao tentar se livrar sábado de um assaltante, pilotando uma bicicleta, que tentou roubar a bolsa da atriz.
Isso em plena Av. Vieira Souto, em Ipanema, à luz do dia.
Daí que...
Passado o pesadelo, Berta desabafa:
— Nasci em Varsóvia, mas vim para cá aos 9 anos. Amo o Rio, mas morar aqui está um terror por causa dos bandidos. Isso sem falar na corrupção. Estamos mal. Tenho muita pena!
Verde e rosa
Leandra Leal vai desfilar como destaque na Mangueira, à frente da ala do Cordão da Bola Preta.
Caso resolvido
A Defesa Civil, viva!, retirou ontem a colmeia que se instalou na praia de Ipanema, objeto de nota aqui.
A GRANDE FESTA - MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 07/02
FESTA 2
Dom Orani está convidando Deus e todo mundo para a celebração. Na lista estão empresários e políticos como Paulo Skaf, da Fiesp.
LEGENDA
O Fora do Eixo vai lançar o o Puto, Partido das Utopias. O coletivo, que em 2010 fez o Partido da Cultura para debater com os presidenciáveis, diz que incluirá direitos humanos, comunicação e ambiente em seu programa.
LEI PRÓPRIA
O Fora do Eixo prepara também uma grande ocupação na Cinelândia, no Rio, para ali "fundar um país", segundo Pablo Capilé, líder do grupo. Eles já estão montando 300 barracas que serão as "casas" da "República". A "Constituinte" será transmitida ao vivo. Homofobia será crime e "rolezinhos" serão permitidos no lugar.
A CASA É SUA
De acordo ainda com Capilé, movimentos indígenas, de terreiros e outros estão se associando à iniciativa, que tem apoio de advogados para ser "legal e pacífica". A "República", que deve ser "instalada" em maio, também abrigará estrangeiros "que não têm dinheiro" para arcar com as tarifas de hotéis na Copa do Mundo.
NANICOS UNIDOS
Com um minuto e meio de tempo no horário eleitoral, PHS, PRP e PTN formaram bloco para as eleições. "Podemos apoiar a Dilma [Rousseff], o Aécio [Neves] ou o [Eduardo] Campos. Ou ainda lançar candidatura própria", diz Renata Abreu, vice-presidente do PTN.
TIETAGEM NO QUINTAL
A cantora Tiê e seu marido, o diretor de cinema Leandro HBL, abriram a casa para seus convidados assistirem a show da Banda Uó, anteontem, na Vila Romana. Candy Mel, vocalista, Davi Sabbag e Mateus Carrilho, também integrantes do grupo, apresentaram-se para uma plateia que tinha a DJ Marina Caires, o músico Ian Nunes e a apresentadora Adriana Couto.
MORTO E ENTERRADO
João Paulo Cuenca, 35, morreu. Pelo menos isso era o que diziam documentos descobertos pelo próprio escritor. Ao contrário do que consta, ele está vivíssimo e vai lançar livro e dirigir filme sobre o episódio insólito.
"Descobri que estava 'morto' em 2011, após uma confusão no meu prédio, em que puxaram minha ficha." Mistura de ficção e documentário, o longa "A Morte de J.P. Cuenca" mostrará uma investigação sobre a vida de um fugitivo da polícia que usava a identidade do autor.
Pelos falsos registros, Cuenca teria sido encontrado morto em 2008, em um edifício na rua da Relação (na foto), centro do Rio.
O romance sairá pela Companhia das Letras. "Tem coisa que só vou descobrir investigando para o filme", diz o também colunista da Folha.
QUEM SE HABILITA?
O PSDB está com dificuldade para escalar um candidato ao Senado em SP. Os líderes mais conhecidos não querem arriscar disputa com Eduardo Suplicy (PT-SP), considerado concorrente forte. José Serra prefere se lançar a deputado federal.
EM SEGUIDA
Circula também no partido que Serra seria opção para vice de Geraldo Alckmin, que disputará a reeleição.
OPÇÃO
E o deputado Campos Machado, do PTB e aliado de Alckmin, chegou a sugerir que sua mulher, Marlene, fosse a vice do tucano.
FICA A DICA
Paulo Coelho estreia sistema de envio de mensagens para celular com "lições diárias de autoconhecimento e sabedoria". O serviço, da Vivo, custa R$ 3,99 por semana. Uma das pílulas do escritor para os assinantes: "Somos todos alfaiates da vida com liberdade para costurar nosso destino".
SAMBA DO JOÃO
Gilberto Gil lançará no iTunes a música "Você e Eu", de Carlos Lyra e Vinicius de Moraes, que integrará seu novo CD, "Gilbertos Samba".
O clipe é assinado por Nina Cavalcanti, que acompanhou e registrou as gravações do disco -sonho antigo de Gil, que queria regravar sambas já interpretados por um de seus maiores ídolos, João Gilberto.
CAMPANHA LIMPA
O contrato que a Prefeitura de Paraty (RJ) assina hoje para conceder os serviços de abastecimento de água e tratamento de esgoto abre caminho para a cidade histórica tentar virar Patrimônio Cultural da Humanidade.
A existência de saneamento básico é um dos requisitos da Unesco para conceder o título. O grupo Águas do Brasil, que vai instalar e operar as redes, afirma que chegará a atender 80% da população até 2019.
CURTO-CIRCUITO
Jair Rodrigues comemora seus 75 anos com festa hoje no restaurante Escondidinho, na Granja Viana.
A festa Baile do Movimento celebra a Vai-Vai na edição de hoje, às 23h, na Lapa.
Mariana Aydar faz show no Sesc Belenzinho, hoje, às 21h. 12 anos.
A estreia de Mercadante - ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 07/02
O apagão político do Planalto
A indignação inundou o PMDB na madrugada de quarta-feira. A cúpula do partido, reunida no Jaburu, concluiu que a presidente Dilma, com a reforma, não queria acertar a vida do PMDB, mas resolver a sucessão do governador Cid Gomes (PROS-CE). Numa só tacada, com o aval de seu novo coordenador político, Mercadante, foi expulso do jogo o presidente da CCJ do Senado, Vital do Rêgo, e mandado para o banco o PMDB da Câmara, ao tirar-lhe o Turismo para dar ao PTB. A operação, qualificada de “amadora”, não teve costura prévia e o Planalto achava que a enfiaria goela abaixo. Naquele clima, o senador Gim Argello (PTB) antecipou que seu partido não participaria de uma manobra tão “desastrada”.
“Se o partido ganhar (um ministério), sai aleijado. Se o partido perder, sai morto”
Benito Gama
Presidente do PTB, reagindo à pecha de fisiologismo, anuncia que seu partido não aceitará convite nem vai indicar nomes para o Ministério do governo Dilma
Esperando no altar
O treinador da seleção de Vôlei, Bernardinho, em conversa com o candidato do PSDB ao Planalto, Aécio Neves, relatou que “sofre muitas pressões da família” para não concorrer ao governo do Rio. A leitura de Aécio:“ele não deu um não definitivo”.
Galo de rinha
O presidenciável Aécio Neves (PSDB) quer ficar no pé da campanha do PT pela reeleição da presidente Dilma. O ex-líder do PSDB, deputado Carlos Sampaio (SP), que é promotor de Justiça, foi escolhido para comandar a área jurídica de sua candidatura. Entre suas tarefas, está montar um sistema para monitorar tentativas de uso da máquina pública pelos governistas.
Segurando a vela
O candidato do DEM às Laranjeiras, vereador Cesar Maia, recebeu uma ligação do tucano Aécio Neves, quando estava na Espanha no congresso do PP local. Eles marcaram para conversar sobre as eleições no Rio. O encontro pode ocorrer hoje.
Céu de brigadeiro
Os dirigentes do PSB avaliam que o candidato tucano Aécio Neves vai ser comedido nos ataques ao socialista Eduardo Campos. Explicam: Aécio vai precisar dos eleitores de Campos no segundo turno. Os dirigentes do PSDB concordam. E justificam: Eduardo ajuda a levar a eleição para o segundo turno, mas não tem fôlego para chegar lá.
Em boca fechada não entra mosca
Numa audiência esses dias, o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) recebeu informe sobre o protesto no metrô de São Paulo. Riu e sussurrou: “Fico vibrando com essa confusão toda”. E foi contido por uma assessora: “Ministro, olha a conveniência”.
Filho de peixe
A atuação do vice Michel Temer foi criticada na reunião da bancada do PMDB. O filho do presidente do partido no Rio, Jorge Picciani, o deputado Leonardo Picciani, metralhou: “O Temer não pode ser o interlocutor da bancada com o governo”.
ELE TEM A FORÇA. A pedido do ex-presidente Lula, a direção do PT transferiu evento pelos 34 anos do PT, na segunda-feira, de Brasília para São Paulo.
Mandando recado - VERA MAGALHÃES - PAINEL
FOLHA DE SP - 07/02
Após uma semana de tensão, Aloizio Mercadante (Casa Civil) foi ontem até Michel Temer para discutir o espaço do PMDB na reforma ministerial. Dilma Rousseff mandou o ministro dizer ao vice-presidente que as negociações serão retomadas na semana que vem e o partido será atendido, mas que ela ficou irritada por saber pelos jornais da recusa da sigla em ocupar a pasta da Integração Nacional e com o início de motim capitaneado pela bancada da Câmara dos Deputados.
Assentamento Dilma deve nomear Miguel Rossetto para a vaga de Pepe Vargas no Desenvolvimento Agrário. Ele já ocupou o cargo no governo Lula e é da corrente petista Democracia Socialista, que controla o ministério.
É sua Mercadante se reuniu no fim de semana com o presidente do PP, Ciro Nogueira, para definir o quinhão do partido na reforma. O governo quer que o próprio senador substitua Aguinaldo Ribeiro na pasta das Cidades.
Nem tanto O PP insiste em liberar seus diretórios para apoiar adversários de Dilma nos Estados. O líder do partido na Câmara, Dudu da Fonte, está prestes a fechar acordo com Eduardo Campos (PSB) em Pernambuco.
Luz de velas O PSDB compartilhou nas redes sociais banner que imita as propagandas do governo federal alardeando o lançamento do programa "Meu Lampião, Minha Vida", numa alusão ao apagão em vários Estados.
Inaugural Dilma vai na segunda-feira à festa de 34 anos do PT, em São Paulo. O ato é considerado o lançamento da candidatura de Alexandre Padilha ao governo do Estado e deve contar ainda com o ex-presidente Lula.
Granada Um ministro criticou Padilha por ter responsabilizado o PSDB, em entrevista à Folha, pelo surgimento do PCC em São Paulo. Para o auxiliar de Dilma, o ex-colega errou no tom.
Fica para... A direção do PSB quer evitar que o evento do dia 22, que reunirá Eduardo Campos e Marina Silva em Porto Alegre para a discutir programa de governo, antecipe o debate sobre alianças no Rio Grande do Sul.
... depois Embora reduzido, o núcleo gaúcho da Rede tem restrições ao apoio do PSB à senadora Ana Amélia, do PP, sigla com ligação com o agronegócio no Estado.
Replay Lula prometeu ontem ajudar na campanha de Eduardo Braga (PMDB) ao governo do Amazonas. Em 2012 ele se empenhou por Vanessa Grazziotin (PC do B) em Manaus, mas o tucano Arthur Virgílio (PSDB) foi eleito.
No papel 1 A Prefeitura de São Paulo reativou em outubro contrato com um consórcio integrado pela empresa Focco -que tinha como sócio, até agosto, João Roberto Zaniboni, investigado por envolvimento com o cartel de trens no Estado de São Paulo.
No papel 2 O contrato foi retomado pela SPObras, empresa municipal comandada por Osvaldo Spuri. Ele trabalhou no governo paulista entre 1995 e 2003 e está sob investigação por suspeita de ligação com o mesmo cartel.
Vaivém O contrato com o consórcio integrado pela Focco, assinado na gestão Gilberto Kassab (PSD), havia sido suspenso por Fernando Haddad (PT) em 2013 antes de ser retomado. Segundo a prefeitura, a Focco não lidera o consórcio e não há irregularidades na documentação.
Vem pra rua Sob comando do metalúrgico Zé Maria (PSTU), a central sindical Conlutas convocou reunião no dia 22 de março com movimentos sociais para organizar um protesto em São Paulo na abertura da Copa.
TIROTEIO
Em época de prisão de mensaleiros do PT, Alexandre Padilha parece ter conhecimento de causa para falar sobre crime organizado.
DO DEPUTADO VANDERLEI MACRIS (PSDB-SP), sobre a declaração de Padilha de que a maior facção criminosa de São Paulo nasceu sob o governo tucano.
CONTRAPONTO
Comigo não!
Geraldo Alckmin (PSDB) deixava um evento do governo ontem, no centro de São Paulo, quando foi abordado por uma vendedora ambulante. A moça fez uma reclamação, mas chamou o tucano de "prefeito" por engano.
-Mas eu não sou o prefeito. Sou o governador...
-Então é melhor ainda! O senhor deve mandar mais do que o prefeito! -respondeu a vendedora.
Logo depois, do outro lado da rua, um outro homem pediu a Alckmin alterações na regulamentação da comida de rua. O governador teve que explicar que essa é uma atribuição do município, e não do Estado.
Os trabalhos de Temer - DENISE ROTHENBURG
CORREIO BRAZILIENSE - 07/02
Quanto ao partido, Temer é cristalino: “Se houver antecipação da convenção tem que decidir em definitivo. Tenho uma longa história no PMDB, de serviços prestados ao PMDB. Também devo muito ao PMDB”, afirmou. Temer acredita piamente que o melhor caminho para a legenda, que ele serve há décadas, é a reeleição da presidente Dilma, com a reedição da chapa. “Para mim, isso está acima de um projeto pessoal e farei todo o esforço para manter a aliança, mas o que o partido decidir, eu acato”, afirmou.
Temer frisou diversas vezes na conversa que tem servido ao PMDB ao longo desses anos, em uma conjuntura muitas vezes delicada, difícil. Mas nunca deixou o seu partido de lado. Nos próximos dias, pretende, em conjunto com a presidente Dilma e o ministro Aloizio Mercadante, da Casa Civil, encontrar a melhor saída. Falta combinar com as bancadas da Câmara, do Senado, com a própria Dilma e os demais aliados. Sem dúvida, não será tarefa fácil.
Sobrou para eles
Prefeitos de pequenas cidades do Rio Grande do Norte reclamaram ao deputado Felipe Maia (DEM-RN) que o governo está descontando o salário dos profissionais do programa Mais Médicos daqueles valores repassados para montagem de equipes do Saúde da Família. Antes, os municípios recebiam R$ 10 mil por cada equipe composta por um médico, um enfermeiro e um técnico de enfermagem. Agora, muitos não ficam nem com a metade disso. E ainda têm que arcar com alimentação e alojamentos para os cubanos.
$$$
O ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha usará os contatos feitos no período de titular da Secretaria de Relações Institucionais para tentar chegar ao empresariado paulista, leia-se financiadores de campanha. Terá como padrinhos nessa empreitada os integrantes do chamado “conselhão”, que constantemente era chamado para dar opiniões no governo Lula.
Goiás preocupa PT
O presidente petista Rui Falcão recebeu recentemente algumas pesquisas goianas feitas por institutos regionais e ficou preocupado com o que viu. É que, no cenário de hoje, há o risco de Dilma Rousseff ficar sem palanque no estado, na hipótese de ser obrigada a disputar o segundo turno.
Pop star/ Sabe aqueles ônibus estilizados, que levam os cantores sertanejos pelo interior do país? É mais ou menos o que o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha pretende usar para circular por municípios paulistas onde pretende reunir os militantes de seu partido e deflagrar a montagem de um programa de governo. O ônibus já tem até nome: “Padilhando”.
Passou recibo/ O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) notou: “Gleisi (Hoffmann, ex-ministra da Casa Civil) voltou para cá e, antes de nos dar bom dia, já fez um discurso criticando Eduardo Campos (do PSB, pré-candidato a presidente da República). Sinal de que Dilma acusou o golpe da aliança ‘mofada’ e que não trata Eduardo como um nanico”.
Tempo esgotado/ O tesoureiro do PSDB, deputado Rodrigo de Castro (MG), avisa que antes do carnaval, os tucanos de Minas Gerais farão um encontro para apresentar oficialmente o ex-ministro Pimenta da Veiga como pré-candidato ao governo estadual.
Mudança de hábito/ Houve tempos em que se dizia que o antigo PFL (hoje DEM) estava tão acostumado a andar de carro oficial que seus filiados não tinham sequer habilitação para dirigir. Hoje, esse papel cabe ao PT. O atual ministro da Saúde, Arthur Chioro (foto), quase perde o vôo para Brasília quando deixou a secretaria municipal em São Bernardo para vir assumir o ministério. Acostumando a esperar pelo motorista, nem se lembrou que teria que ir até o aeroporto de... táxi, ônibus ou dirigindo o próprio carro.
MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO
FOLHA DE SP - 07/02
Fila de espera por instalação de ar-condicionado tem alta
O aumento da demanda por aparelhos de ar-condicionado e ventiladores neste início de 2014 gerou não apenas a falta de produtos nas lojas, mas também ampliou a espera por serviços de instalação.
Em empresas que atuam com a colocação de ar-condicionado residencial em São Paulo, a fila passou de dois para até sete dias úteis, em média, segundo a Abrava (associação nacional do setor).
"Houve uma demanda muito acima do que a maioria das empresas estão preparadas", diz Arnaldo Lopes Parra, executivo da entidade.
Para fugir da espera, consumidores têm optado por aparelhos portáteis, que não precisam de montagem, afirma Daniel Pinheiro Santana, diretor comercial do Walmart.
"Os instaladores elevaram os preços dos serviços e o portátil é uma alternativa contra esse custo adicional." A venda de condicionadores de ar avançou 240% em janeiro, ante o mesmo mês de 2013, segundo o Walmart. A de ventiladores evoluiu 220%.
No Magazine Luiza, a comercialização de ventiladores cresceu cinco vezes e a de condicionadores triplicou.
A Via Varejo informou que, nos primeiros quinze dias do ano, as lojas físicas das Casa Bahia e do Ponto Frio venderam a mesma quantidade de aparelhos comercializada em todo o mês de janeiro de 2013.
A companhia diz que unidades ficaram sem produtos, mas que os estoques estão sendo reabastecidos.
A fabricante LG diz que tem sido procurada por revendedores com novos pedidos de condicionadores de ar, mas que não há como atender.
"Em setembro, já tínhamos a carteira de produção fechada até março", afirma Mauro Apor, executivo do grupo.
ENERGIA CONTABILIZADA
A CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica), responsável pela operação do mercado de energia no país, vai investir
R$ 23 milhões na modernização de seu sistema computacional.
Será feita uma atualização do atual programa de contabilização e liquidação de energia, segundo Luiz Eduardo Barata Ferreira, presidente da empresa.
"Essa mudança aumentará a produtividade, já que o tempo de processamento [dos dados] será reduzido."
O projeto foi aprovado em um programa da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos). Cerca de 90% do total aportado será financiado, de acordo com o executivo, que preferiu não falar sobre o apagão de terça-feira.
Em relação ao mercado de energia, Ferreira afirmou que os preços devem se manter em patamar alto no curto prazo. Em janeiro, o valor médio do megawatt-hora ficou em R$ 378.
O preço está abaixo do registrado no mesmo mês de 2013 (R$ 413,95), mas também está bastante acima do de 2012 (R$ 23,14).
"De maneira geral, a média não será baixa neste ano, mas ainda poderá haver alguma alteração. Se chover em março e em abril, os preços podem cair."
Ferreira disse ainda que, apesar das desvantagens ambientais, as termelétricas a carvão e a gás podem melhorar o gerenciamento do abastecimento de energia no país. "Quanto mais diversificada for a matriz, melhor."
Térmicas a carvão defendem novo modelo de leilão
O apagão ocorrido na terça-feira e o baixo nível dos reservatórios podem favorecer empresas que pretendem instalar usinas térmicas a carvão no país e que negociam com o governo um modelo diferente para o próximo leilão de energia.
Na última disputa do ano passado, o preço máximo estabelecido para o megawatt-hora de usinas a gás, a carvão, de biomassa e pequenas hidrelétricas foi de R$ 144.
Para o setor do carvão, porém, apenas valores acima de R$ 180 seriam viáveis.
"Desde 2012, o governo entende que as térmicas a carvão são necessárias. Só que, no ano passado, o preço estava muito baixo", afirma o presidente da Associação Brasileira do Carvão Mineral, Fernando Zancan.
"Talvez outro formato de disputa funcione melhor", diz. A entidade está em negociação com o governo. Uma possibilidade seria adotar um preço-teto diferente para cada tipo de fonte.
"O custo de instalação de uma usina a carvão pode ser mais alto, mas para ativá-la é barato", defende Zancan.
"Os projetos de térmicas estão no Sul, que recebe energia de outras regiões do país. Instalar essas plantas aliviaria o sistema de transmissão."
Eclusas do Tietê movimentam 30% a mais em 2013
A movimentação em eclusas localizadas em cinco usinas hidrelétricas do rio Tietê, em São Paulo, bateu recorde em 2013, segundo a AES Tietê, que opera as estruturas.
O número de acionamentos que permitem às embarcações transpor as barragens chegou a 21,4 mil em 2013, uma elevação de 30% em relação ao ano anterior.
A alta foi puxada pelo crescimento do transporte de cargas na hidrovia e por um número maior de passageiros.
O total de itens movimentados no ano passado avançou cerca de 40% em relação a 2012. A diversificação dos produtos transportados é um dos motivos, segundo Antonio Carlos Garcia, gerente de operações da empresa.
As barcaças que navegam pelo rio Tietê carregam principalmente soja, cana, areia e madeira.
Um novo sistema de gerenciamento das eclusas, com operação das estações à distância, deverá funcionar até o final deste ano. "Vai agilizar o processo, com um ganho estimado de 15 minutos para cada movimentação."
As eclusas ficam nas hidrelétricas de Barra Bonita, Bariri, Ibitinga, Promissão e Nova Avanhandava (duas).
Sem... A Serasa Experian fechou uma parceria com o Instituto Data Popular para criar uma ferramenta que auxilie as empresas a entenderem as nuances do consumidor da classe média.
...generalizar Desenvolvida com base em estatísticas e estudos comportamentais, a solução vai facilitar a criação de ações direcionadas a esse público. O anúncio será feito no dia 18, em São Paulo.
Carona... A Colômbia também quer atrair turistas durante os jogos da Copa do Mundo. Como muitos colombianos virão ao Brasil, a ideia é que os voos comerciais não retornem vazios ao país de origem.
...na Copa Segundo Alejandro Peláez, cônsul comercial da Colômbia, o país vai investir na divulgação de seus atrativos "para estrangeiros e brasileiros interessados em viajar durante os jogos".
Fila de espera por instalação de ar-condicionado tem alta
O aumento da demanda por aparelhos de ar-condicionado e ventiladores neste início de 2014 gerou não apenas a falta de produtos nas lojas, mas também ampliou a espera por serviços de instalação.
Em empresas que atuam com a colocação de ar-condicionado residencial em São Paulo, a fila passou de dois para até sete dias úteis, em média, segundo a Abrava (associação nacional do setor).
"Houve uma demanda muito acima do que a maioria das empresas estão preparadas", diz Arnaldo Lopes Parra, executivo da entidade.
Para fugir da espera, consumidores têm optado por aparelhos portáteis, que não precisam de montagem, afirma Daniel Pinheiro Santana, diretor comercial do Walmart.
"Os instaladores elevaram os preços dos serviços e o portátil é uma alternativa contra esse custo adicional." A venda de condicionadores de ar avançou 240% em janeiro, ante o mesmo mês de 2013, segundo o Walmart. A de ventiladores evoluiu 220%.
No Magazine Luiza, a comercialização de ventiladores cresceu cinco vezes e a de condicionadores triplicou.
A Via Varejo informou que, nos primeiros quinze dias do ano, as lojas físicas das Casa Bahia e do Ponto Frio venderam a mesma quantidade de aparelhos comercializada em todo o mês de janeiro de 2013.
A companhia diz que unidades ficaram sem produtos, mas que os estoques estão sendo reabastecidos.
A fabricante LG diz que tem sido procurada por revendedores com novos pedidos de condicionadores de ar, mas que não há como atender.
"Em setembro, já tínhamos a carteira de produção fechada até março", afirma Mauro Apor, executivo do grupo.
ENERGIA CONTABILIZADA
A CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica), responsável pela operação do mercado de energia no país, vai investir
R$ 23 milhões na modernização de seu sistema computacional.
Será feita uma atualização do atual programa de contabilização e liquidação de energia, segundo Luiz Eduardo Barata Ferreira, presidente da empresa.
"Essa mudança aumentará a produtividade, já que o tempo de processamento [dos dados] será reduzido."
O projeto foi aprovado em um programa da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos). Cerca de 90% do total aportado será financiado, de acordo com o executivo, que preferiu não falar sobre o apagão de terça-feira.
Em relação ao mercado de energia, Ferreira afirmou que os preços devem se manter em patamar alto no curto prazo. Em janeiro, o valor médio do megawatt-hora ficou em R$ 378.
O preço está abaixo do registrado no mesmo mês de 2013 (R$ 413,95), mas também está bastante acima do de 2012 (R$ 23,14).
"De maneira geral, a média não será baixa neste ano, mas ainda poderá haver alguma alteração. Se chover em março e em abril, os preços podem cair."
Ferreira disse ainda que, apesar das desvantagens ambientais, as termelétricas a carvão e a gás podem melhorar o gerenciamento do abastecimento de energia no país. "Quanto mais diversificada for a matriz, melhor."
Térmicas a carvão defendem novo modelo de leilão
O apagão ocorrido na terça-feira e o baixo nível dos reservatórios podem favorecer empresas que pretendem instalar usinas térmicas a carvão no país e que negociam com o governo um modelo diferente para o próximo leilão de energia.
Na última disputa do ano passado, o preço máximo estabelecido para o megawatt-hora de usinas a gás, a carvão, de biomassa e pequenas hidrelétricas foi de R$ 144.
Para o setor do carvão, porém, apenas valores acima de R$ 180 seriam viáveis.
"Desde 2012, o governo entende que as térmicas a carvão são necessárias. Só que, no ano passado, o preço estava muito baixo", afirma o presidente da Associação Brasileira do Carvão Mineral, Fernando Zancan.
"Talvez outro formato de disputa funcione melhor", diz. A entidade está em negociação com o governo. Uma possibilidade seria adotar um preço-teto diferente para cada tipo de fonte.
"O custo de instalação de uma usina a carvão pode ser mais alto, mas para ativá-la é barato", defende Zancan.
"Os projetos de térmicas estão no Sul, que recebe energia de outras regiões do país. Instalar essas plantas aliviaria o sistema de transmissão."
Eclusas do Tietê movimentam 30% a mais em 2013
A movimentação em eclusas localizadas em cinco usinas hidrelétricas do rio Tietê, em São Paulo, bateu recorde em 2013, segundo a AES Tietê, que opera as estruturas.
O número de acionamentos que permitem às embarcações transpor as barragens chegou a 21,4 mil em 2013, uma elevação de 30% em relação ao ano anterior.
A alta foi puxada pelo crescimento do transporte de cargas na hidrovia e por um número maior de passageiros.
O total de itens movimentados no ano passado avançou cerca de 40% em relação a 2012. A diversificação dos produtos transportados é um dos motivos, segundo Antonio Carlos Garcia, gerente de operações da empresa.
As barcaças que navegam pelo rio Tietê carregam principalmente soja, cana, areia e madeira.
Um novo sistema de gerenciamento das eclusas, com operação das estações à distância, deverá funcionar até o final deste ano. "Vai agilizar o processo, com um ganho estimado de 15 minutos para cada movimentação."
As eclusas ficam nas hidrelétricas de Barra Bonita, Bariri, Ibitinga, Promissão e Nova Avanhandava (duas).
Sem... A Serasa Experian fechou uma parceria com o Instituto Data Popular para criar uma ferramenta que auxilie as empresas a entenderem as nuances do consumidor da classe média.
...generalizar Desenvolvida com base em estatísticas e estudos comportamentais, a solução vai facilitar a criação de ações direcionadas a esse público. O anúncio será feito no dia 18, em São Paulo.
Carona... A Colômbia também quer atrair turistas durante os jogos da Copa do Mundo. Como muitos colombianos virão ao Brasil, a ideia é que os voos comerciais não retornem vazios ao país de origem.
...na Copa Segundo Alejandro Peláez, cônsul comercial da Colômbia, o país vai investir na divulgação de seus atrativos "para estrangeiros e brasileiros interessados em viajar durante os jogos".
Adiamento arriscado - CELSO MING
O Estado de S.Paulo - 07/02
Certos ambientalistas têm manifestado preocupação com o início da exploração de gás de xisto no Brasil.
Advertem que a tecnologia utilizada (injeção a alta pressão de uma mistura de água, areia e produtos químicos) carrega o risco de contaminar lençóis freáticos e os aquíferos do Brasil e de países vizinhos. Foi o que argumentaram os geólogos Gerôncio Albuquerque Rocha, Ricardo Hirata e Luiz Fernando Schelbe, em artigo publicado terça-feira no jornal Valor. Eles reivindicam o adiamento de iniciativas desse tipo "por pelo menos cinco anos (...), o tempo necessário para amadurecer uma estratégia para a próxima década".
Não são desprezíveis as razões apontadas por estes e outros técnicos. Mas são excessivamente fechadas em si mesmas. Há outras, tão importantes ou mais, a levar em conta.
Se é para ficar no campo puramente ambiental, considerações diferentes dessa recomendam, sim, a exploração do gás de xisto. Por exemplo, a produção de energia térmica por processamento de gás de xisto libera muito menos monóxido de carbono na atmosfera do que a obtida por outros combustíveis, como já acontece nos Estados Unidos.
Ou, pergunta-se, do ponto de vista do balanço ambiental, seria mais recomendável seguir queimando carvão ou óleo combustível, em vez de gás natural? Seria melhor inundar mais áreas e afogar florestas na Amazônia para construir novas hidrelétricas? Ou, então, seria melhor entrar de cabeça na produção de energia nuclear e enfrentar riscos de novos casos Chernobyl e Fukushima?
Há outras avaliações a fazer. É preciso saber, por exemplo, se os riscos de não começar já a exploração dessas reservas de xisto não são maiores do que os que estão temendo os ambientalistas.
A tecnologia atual da exploração do xisto (fraturamento hidráulico) vem evoluindo rapidamente e os riscos de contaminação já são bem mais controláveis. Além disso, outras tecnologias em substituição à do fraturamento hidráulico começam a ser adotadas nos Estados Unidos e nada impediria que também o fossem por aqui.
Adiar, por excesso de zelo ambientalista, o início do jogo seria dar enorme dianteira à concorrência externa, especialmente aos Estados Unidos, Canadá e México. Não há nenhuma questão financeira envolvida na exploração de gás de xisto, como equivocadamente alegam os geólogos. Há, sim, sérias questões econômicas a considerar, num país cuja matriz energética depende cada vez mais de fontes térmicas (veja, ainda, o Confira).
Os preços do milhão de BTU (medida britânica de gás) nos Estados Unidos estão embicando para US$ 4, quase um quarto do que é pago aqui. Essa revolução do xisto tende a alijar do mercado enormes segmentos da indústria brasileira, especialmente entre os de consumo eletrointensivo. Esta é uma questão estratégica que tem de ser enfrentada já. Encostar o corpo e esperar para ver é falta de vontade de encarar os desafios, é uma atitude que já vem atrasando demais o desenvolvimento do Brasil, que não pode ser subordinado unicamente a aplicações unilaterais do princípio de precaução.
Certos ambientalistas têm manifestado preocupação com o início da exploração de gás de xisto no Brasil.
Advertem que a tecnologia utilizada (injeção a alta pressão de uma mistura de água, areia e produtos químicos) carrega o risco de contaminar lençóis freáticos e os aquíferos do Brasil e de países vizinhos. Foi o que argumentaram os geólogos Gerôncio Albuquerque Rocha, Ricardo Hirata e Luiz Fernando Schelbe, em artigo publicado terça-feira no jornal Valor. Eles reivindicam o adiamento de iniciativas desse tipo "por pelo menos cinco anos (...), o tempo necessário para amadurecer uma estratégia para a próxima década".
Não são desprezíveis as razões apontadas por estes e outros técnicos. Mas são excessivamente fechadas em si mesmas. Há outras, tão importantes ou mais, a levar em conta.
Se é para ficar no campo puramente ambiental, considerações diferentes dessa recomendam, sim, a exploração do gás de xisto. Por exemplo, a produção de energia térmica por processamento de gás de xisto libera muito menos monóxido de carbono na atmosfera do que a obtida por outros combustíveis, como já acontece nos Estados Unidos.
Ou, pergunta-se, do ponto de vista do balanço ambiental, seria mais recomendável seguir queimando carvão ou óleo combustível, em vez de gás natural? Seria melhor inundar mais áreas e afogar florestas na Amazônia para construir novas hidrelétricas? Ou, então, seria melhor entrar de cabeça na produção de energia nuclear e enfrentar riscos de novos casos Chernobyl e Fukushima?
Há outras avaliações a fazer. É preciso saber, por exemplo, se os riscos de não começar já a exploração dessas reservas de xisto não são maiores do que os que estão temendo os ambientalistas.
A tecnologia atual da exploração do xisto (fraturamento hidráulico) vem evoluindo rapidamente e os riscos de contaminação já são bem mais controláveis. Além disso, outras tecnologias em substituição à do fraturamento hidráulico começam a ser adotadas nos Estados Unidos e nada impediria que também o fossem por aqui.
Adiar, por excesso de zelo ambientalista, o início do jogo seria dar enorme dianteira à concorrência externa, especialmente aos Estados Unidos, Canadá e México. Não há nenhuma questão financeira envolvida na exploração de gás de xisto, como equivocadamente alegam os geólogos. Há, sim, sérias questões econômicas a considerar, num país cuja matriz energética depende cada vez mais de fontes térmicas (veja, ainda, o Confira).
Os preços do milhão de BTU (medida britânica de gás) nos Estados Unidos estão embicando para US$ 4, quase um quarto do que é pago aqui. Essa revolução do xisto tende a alijar do mercado enormes segmentos da indústria brasileira, especialmente entre os de consumo eletrointensivo. Esta é uma questão estratégica que tem de ser enfrentada já. Encostar o corpo e esperar para ver é falta de vontade de encarar os desafios, é uma atitude que já vem atrasando demais o desenvolvimento do Brasil, que não pode ser subordinado unicamente a aplicações unilaterais do princípio de precaução.
Tomara que chova - VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP - 07/02
Economistas começam a prever que o crescimento do PIB em 2014 será ainda mais seco que 2%
ECONOMISTAS DE alguns bancões e consultorias começaram a revisar para baixo suas estimativas de crescimento brasileiro para este ano.
Na mediana da centena de opiniões coletadas semanalmente pelo Banco Central, a previsão até 31 de janeiro era de crescimento de 1,9%. Há gente graúda dando agora chutes informados na direção de 1,5%.
Essas previsões de crescimento do PIB e de inflação para o ano costumam estar bastante erradas até o começo do segundo semestre, pelo menos desde que o Banco Central começou a fazer essa estatística, em 2001. Mas a vida é assim mesmo.
Isto posto, a gente poderia dar de ombros e esquecer tais estimativas tanto quanto a gente esquece os números de um bilhete azarado da loteria. Só que não.
Os economistas não costumam estar errados sobre o sentido da mudança, se para baixo ou para cima, embora ainda seja também cedo para saber para onde vai esse rebanho (o dos economistas).
Porém, o ano começou agourento, o que é mais importante. Por isso mesmo, as previsões estão mudando.
Houve solavancos fortes nas finanças mundiais, bastantes para fazer várias economias "emergentes" pedir água e elevar os juros --vão crescer menos. O dólar mais caro e girando feito uma biruta não favorece os negócios aqui.
Nossa vizinha Argentina está passando por crise feia. Vai comprar menos produtos da nossa indústria, já avariada faz mais de meia década. Aliás, o resultado horrível da indústria em dezembro não permite prognosticar coisa boa para este ano.
Nem mesmo o tempo está bom. O tempo, a temperatura, as chuvas. Calor e seca implicam energia mais cara, custos maiores para empresas, menos produção para outras e uma conta maior para o governo pagar.
A fim de evitar o repasse do custo da energia mais cara para o consumidor, o governo, na prática, ao menos temporariamente (anos?), banca a diferença, na casa dos bilhões (se mais para R$ 10 bilhões ou para R$ 20 bilhões, ainda é impossível saber). Como o governo não tem esse dinheiro, faz mais deficit e dívida. Ou seja, estamos numa situação em que o deficit depende até da chuva.
O ano está no comecinho. É possível virar o jogo, trabalhar para que o resultado de 2014 não seja ainda pior que a mediocridade prevista. Mas a gente levou gol nos primeiros minutos do jogo.
RECORDAR É VIVER
Não houve falha humana, não foi excesso de consumo, não foi falha no sistema de proteção da rede elétrica, não foi falha de manutenção. Mas o apagão de terça-feira pode ter sido causado por um raio, diz o pessoal do Operador Nacional do Sistema, que faz a "direção de trânsito" da eletricidade no país.
Pode ser. Mas vale lembrar o que já disse a presidente sobre esse assunto.
"Vocês se lembram da história do raio? De que caiu um raio? No dia em que falarem para vocês que caiu um raio, vocês gargalhem... Raio cai todo dia neste país, a toda hora. O raio não pode desligar o sistema. A nossa briga contra os raios é o seguinte: se desligou, é falha humana."
Era o que dizia Dilma Rousseff a respeito de explicações oficiais dos apagões, em 26 de dezembro de 2012, num café da manhã com jornalistas.
Economistas começam a prever que o crescimento do PIB em 2014 será ainda mais seco que 2%
ECONOMISTAS DE alguns bancões e consultorias começaram a revisar para baixo suas estimativas de crescimento brasileiro para este ano.
Na mediana da centena de opiniões coletadas semanalmente pelo Banco Central, a previsão até 31 de janeiro era de crescimento de 1,9%. Há gente graúda dando agora chutes informados na direção de 1,5%.
Essas previsões de crescimento do PIB e de inflação para o ano costumam estar bastante erradas até o começo do segundo semestre, pelo menos desde que o Banco Central começou a fazer essa estatística, em 2001. Mas a vida é assim mesmo.
Isto posto, a gente poderia dar de ombros e esquecer tais estimativas tanto quanto a gente esquece os números de um bilhete azarado da loteria. Só que não.
Os economistas não costumam estar errados sobre o sentido da mudança, se para baixo ou para cima, embora ainda seja também cedo para saber para onde vai esse rebanho (o dos economistas).
Porém, o ano começou agourento, o que é mais importante. Por isso mesmo, as previsões estão mudando.
Houve solavancos fortes nas finanças mundiais, bastantes para fazer várias economias "emergentes" pedir água e elevar os juros --vão crescer menos. O dólar mais caro e girando feito uma biruta não favorece os negócios aqui.
Nossa vizinha Argentina está passando por crise feia. Vai comprar menos produtos da nossa indústria, já avariada faz mais de meia década. Aliás, o resultado horrível da indústria em dezembro não permite prognosticar coisa boa para este ano.
Nem mesmo o tempo está bom. O tempo, a temperatura, as chuvas. Calor e seca implicam energia mais cara, custos maiores para empresas, menos produção para outras e uma conta maior para o governo pagar.
A fim de evitar o repasse do custo da energia mais cara para o consumidor, o governo, na prática, ao menos temporariamente (anos?), banca a diferença, na casa dos bilhões (se mais para R$ 10 bilhões ou para R$ 20 bilhões, ainda é impossível saber). Como o governo não tem esse dinheiro, faz mais deficit e dívida. Ou seja, estamos numa situação em que o deficit depende até da chuva.
O ano está no comecinho. É possível virar o jogo, trabalhar para que o resultado de 2014 não seja ainda pior que a mediocridade prevista. Mas a gente levou gol nos primeiros minutos do jogo.
RECORDAR É VIVER
Não houve falha humana, não foi excesso de consumo, não foi falha no sistema de proteção da rede elétrica, não foi falha de manutenção. Mas o apagão de terça-feira pode ter sido causado por um raio, diz o pessoal do Operador Nacional do Sistema, que faz a "direção de trânsito" da eletricidade no país.
Pode ser. Mas vale lembrar o que já disse a presidente sobre esse assunto.
"Vocês se lembram da história do raio? De que caiu um raio? No dia em que falarem para vocês que caiu um raio, vocês gargalhem... Raio cai todo dia neste país, a toda hora. O raio não pode desligar o sistema. A nossa briga contra os raios é o seguinte: se desligou, é falha humana."
Era o que dizia Dilma Rousseff a respeito de explicações oficiais dos apagões, em 26 de dezembro de 2012, num café da manhã com jornalistas.
Dois tempos - MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 07/02
Na CBN, ouvintes perguntaram se o Brasil está seguindo o caminho da Argentina. A resposta é um “não”; categórico e aliviado. Sim, temos problemas: de outra dimensão, de outra natureza, e alguns podem até lembrar erros argentinos, mas a situação é totalmente outra. A Argentina está em crise cambial, manipula seu índice de preços e revisita os perigos das décadas de 80 e 90.
As nossas virtudes nos distanciam completamente da conjuntura econômica do país vizinho: o Brasil, a sociedade, os institutos, as organizações jamais deixariam que o governo cometesse os erros da Argentina.
O primeiro e mais perigoso dos equívocos ocorreu quando o então presidente Nestor Kirchner decidiu intervir no Indec para manipular o índice de preços. Em vez de combater a inflação, perseguiu quem calculava o número. Aqui, não há qualquer demonstração de que se pretenda isso; nem o IBGE e o país permitiriam.
O governo brasileiro tem segurado preços públicos, mas os dados são transparentes. Eles mostram a inflação de preços administrados e a dos preços livres. Não é um bom sinal e isso terá que ser corrigido mais adiante, mas não é parecido com o que houve na Argentina. A “Economist” parou de publicar os dados do país, e o FMI determinou que se divulgue outro índice de preços. A data foi marcada para 13 de fevereiro.
O Brasil tem a vantagem de ter um instituto oficial com credibilidade, porque o maior risco é navegar nesses mares de inflação sem bússola. Os institutos privados, lá, chegaram a ser proibidos de divulgar seus levantamentos de preços e aí ficou mais estranho ainda: todo mundo sabe que a inflação está em torno de 30%, todos sentem que ela está acelerando, mas o governo permanece com o indicador oficial em 10% ao ano.
Nas últimas semanas, com a forte desvalorização do peso, já se fala em inflação de 6% só em janeiro. Nós estamos incomodados — com toda a razão — com uma inflação de 6% ao ano.
Brasil e Argentina viveram a tragédia da hiperinflação, mas o compromisso brasileiro em manter a estabilidade é mais forte do que eles demonstraram ter nos últimos anos. O país foi leniente demais com os erros dos governos Kirchner e agora está em crise cambial, com um volume de reservas absolutamente insuficiente para cobrir as necessidades da economia.
Ninguém está seguro num momento de turbulência internacional; mas aqui o Banco Central tem US$ 376 bi e instrumentos para enfrentar esse momento de transição da economia internacional. Aliás, os sacolejos de agora não têm a dimensão da crise de 2008, quando a rápida elevação do dólar pegou muitas empresas brasileiras com uma forte exposição cambial.
Naquela época, as reservas foram providenciais. Agora, também são importantes para evitar o excesso de volatilidade do dólar, ainda que não seja objetivo do BC brasileiro segurar qualquer cotação.
A Argentina vive uma clássica crise cambial. Está agora limitando o acesso dos importadores ao dólar. O país, no ano passado, importou US$ 74 bilhões e tem US$ 27 bilhões de reservas e compromissos da dívida externa para cumprir (veja o gráfico abaixo). Esse número das reservas, segundo uma recente análise da Bloomberg, pode estar superestimado. O que, se for verdade, aumentará a desconfiança em relação ao país.
Aqui, há dúvidas sobre a forma de calcular o superávit primário e críticas à política de se endividar para passar dinheiro a bancos públicos. Há vários problemas sobre os quais os analistas criticam o governo. São erros. Mas o que a Argentina tem feito é a volta a um caminho com o qual o Brasil rompeu há 20 anos.
Na CBN, ouvintes perguntaram se o Brasil está seguindo o caminho da Argentina. A resposta é um “não”; categórico e aliviado. Sim, temos problemas: de outra dimensão, de outra natureza, e alguns podem até lembrar erros argentinos, mas a situação é totalmente outra. A Argentina está em crise cambial, manipula seu índice de preços e revisita os perigos das décadas de 80 e 90.
As nossas virtudes nos distanciam completamente da conjuntura econômica do país vizinho: o Brasil, a sociedade, os institutos, as organizações jamais deixariam que o governo cometesse os erros da Argentina.
O primeiro e mais perigoso dos equívocos ocorreu quando o então presidente Nestor Kirchner decidiu intervir no Indec para manipular o índice de preços. Em vez de combater a inflação, perseguiu quem calculava o número. Aqui, não há qualquer demonstração de que se pretenda isso; nem o IBGE e o país permitiriam.
O governo brasileiro tem segurado preços públicos, mas os dados são transparentes. Eles mostram a inflação de preços administrados e a dos preços livres. Não é um bom sinal e isso terá que ser corrigido mais adiante, mas não é parecido com o que houve na Argentina. A “Economist” parou de publicar os dados do país, e o FMI determinou que se divulgue outro índice de preços. A data foi marcada para 13 de fevereiro.
O Brasil tem a vantagem de ter um instituto oficial com credibilidade, porque o maior risco é navegar nesses mares de inflação sem bússola. Os institutos privados, lá, chegaram a ser proibidos de divulgar seus levantamentos de preços e aí ficou mais estranho ainda: todo mundo sabe que a inflação está em torno de 30%, todos sentem que ela está acelerando, mas o governo permanece com o indicador oficial em 10% ao ano.
Nas últimas semanas, com a forte desvalorização do peso, já se fala em inflação de 6% só em janeiro. Nós estamos incomodados — com toda a razão — com uma inflação de 6% ao ano.
Brasil e Argentina viveram a tragédia da hiperinflação, mas o compromisso brasileiro em manter a estabilidade é mais forte do que eles demonstraram ter nos últimos anos. O país foi leniente demais com os erros dos governos Kirchner e agora está em crise cambial, com um volume de reservas absolutamente insuficiente para cobrir as necessidades da economia.
Ninguém está seguro num momento de turbulência internacional; mas aqui o Banco Central tem US$ 376 bi e instrumentos para enfrentar esse momento de transição da economia internacional. Aliás, os sacolejos de agora não têm a dimensão da crise de 2008, quando a rápida elevação do dólar pegou muitas empresas brasileiras com uma forte exposição cambial.
Naquela época, as reservas foram providenciais. Agora, também são importantes para evitar o excesso de volatilidade do dólar, ainda que não seja objetivo do BC brasileiro segurar qualquer cotação.
A Argentina vive uma clássica crise cambial. Está agora limitando o acesso dos importadores ao dólar. O país, no ano passado, importou US$ 74 bilhões e tem US$ 27 bilhões de reservas e compromissos da dívida externa para cumprir (veja o gráfico abaixo). Esse número das reservas, segundo uma recente análise da Bloomberg, pode estar superestimado. O que, se for verdade, aumentará a desconfiança em relação ao país.
Aqui, há dúvidas sobre a forma de calcular o superávit primário e críticas à política de se endividar para passar dinheiro a bancos públicos. Há vários problemas sobre os quais os analistas criticam o governo. São erros. Mas o que a Argentina tem feito é a volta a um caminho com o qual o Brasil rompeu há 20 anos.
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