CORREIO BRAZILIENSE - 07/02
Acompanho os noticiários na tevê, com comentaristas anunciando crimes bárbaros em família ou fora dela, latrocínios, sequestros relâmpagos e toda sorte de atentado à vida e à segurança da população. Ouço as últimas notícias do dia trazidas pela minha doméstica, sobre o atendimento perverso recebido pelo povo carente (quando é atendido) nos postos de saúde e hospitais. E fico pensando aqui com meus botões: parece que o apocalipse chegou; pelo menos para nós, brasileiros.
Nunca se matou tanto, nunca se roubou tanto, nunca se cometeu tanta violência, nunca a insensibilidade foi tão grande. Mas, pensando melhor, será que o nosso apocalipse não foi fomentado aqui mesmo, numa mistura explosiva de injustiça, corrupção generalizada, descrença na política e em seus agentes, desesperança total, somados à opção de muitos pela malandragem e o querer se dar bem com pouco ou nenhum esforço?
Vejo no noticiário a evolução do tal rolezinho e o espaço dado pela mídia a esse movimento de menores desocupados, agregados a delinquentes contumazes, chegando a elevar os atentados desses bandos à segurança pública e privada, pasmem, ao nível de movimento social. Me economizem, como diria uma amiga carioca. Essa mesma tropa vem queimando, sistematicamente, os meios de transportes que os servem e a toda a população trabalhadora. Destroem o comércio que lhes oferece emprego.
A quem querem atingir, afinal? Não sabem. Qualquer desculpa é válida. Até o atropelamento de uma galinha passa a ser motivo para se interditar vias públicas e pôr fogo em ônibus. Não têm ideologia. Destroem apenas, com o mesmo raciocínio de uma manada de búfalos estourando sem rumo, movida pelo instinto de pisotear, destruir o que acham pela frente.
Deputados e senadores, responsáveis por leis equivocadas, obsoletas, casuísticas, que funcionam como combustível para tanta revolta, não andam de ônibus, de trem nem de metrô. Andam em veículos blindados de altíssimo custo, com seguranças a postos. Deslocam-se para outros cantos e para fora do país em aviões da Força Aérea Brasileira ou em voos de primeira classe em aviões de carreira pagos pelos impostos tirados de nosso bolso, para não sofrerem o desgosto de enfrentar nossos aeroportos lotados e a cara desesperada do povo que os elegeu.
Mas o que pode ainda ser feito? Pode ser feito o que deveria ter sido feito desde a elaboração da Constituição Federal. Elevar a saúde, a educação e a segurança à condição de prioridade nacional em todos os níveis de governo. Essa trilogia funcionando em perfeita harmonia nos elevaria do plano da barbárie em que nos encontramos ao estado do homo sapiens, pelo menos, e já seria um ganho expressivo.
Vejam o SUS, por exemplo. Jamais deveria ter sido criado, posto não possuirmos confiabilidade em qualquer nível político, seja no federal, seja no estadual, seja no municipal, para administrar recursos econômicos vultosos com credibilidade. Os meios de fiscalização de que dispõe o SUS são os colegiados formados por pessoas da confiança do prefeito. Colocam a raposa para cuidar dos carneirinhos. No estado é a mesma coisa, com um pouco menos de descaramento. Nesse caso, são os aliados políticos que formam o tal colegiado.
Na segurança pública, o pior embaraço são as leis penais que favorecem o criminoso ou infrator, e as péssimas condições de trabalho a que são submetidos seus agentes. Fizemos um código do menor sem qualquer condição de cumpri-lo da forma como foi idealizado e escrito. Assim como foi feito o planejamento para a saúde como coisa de primeiro mundo, para o primeiro mundo. Não poderia dar certo. Os presídios estão superlotados, porque construir cadeias não dá ibope. É como construir muro de cemitério e infraestrutura sanitária. Não dá mídia. Ninguém vê.
Volto à questão dos políticos que andam em avião da FAB e carro de última geração, blindado, de preferência. Qual a formação que se exige de um político desses, suficiente a que proponha leis realmente de interesse social? Qual deles sabe para que serve a Constituição? Quantos sabem ler e escrever com acerto? O que sabem do Brasil do ponto de vista socioeconômico? Acercam-se de assessores para formularem propostas de leis e com isso formarem currículo eleitoral. É o que a eles importa.
Tais propostas esbarram na Comissão de Constituição e Justiça por total ou parcial inconstitucionalidade ou por repetirem proposições já formuladas e indeferidas. O resto do tempo é para passear em outros países e gargantear para as próximas eleições. Faço justiça aos políticos verdadeiros que, infelizmente, estão em fase de extinção, mas ainda existem para garantir alguma decência no processo legislativo.
E o que a população faz, diante de tais despautérios? Pratica a autofagia. Destroe-se, destruindo os meios que a servem, ou elege figuras caricatas para o Congresso Nacional, como protesto. Quem é atingido com tal insensatez? Quem seriam as vítimas desse "protesto"? Pois é, adivinhou.
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