FOLHA DE SP - 28/01
Para certas sociedades, valores como 'secularismo' e 'individualismo' soam estranhos e ameaçadores
Tony Blair regressa ao mundo dos vivos: em artigo para o jornal "The Observer", o ex-premiê britânico escreve que as lutas do século 21 não serão mais ideológicas, como aconteceu na centúria anterior. Serão culturais, religiosas. Civilizacionais. Ó Deus, onde é que eu já ouvi isso?
Obviamente, em 1993, quando Samuel Huntington horrorizou as consciências politicamente corretas com "The Clash of Civilizations?", o artigo publicado na "Foreign Affairs".
Reli o texto de Huntington. Com 20 anos de distância, voltei a pasmar com a inteligência (e a presciência) do senhor. Blair e Huntington podem partir do mesmo ponto: há um "choque de civilizações" inegável. Mas chegam a conclusões radicalmente distintas.
No ensaio, Huntington perguntava onde estariam os conflitos futuros quando todo mundo falava triunfalmente do "fim da história". E respondia: esqueça as lutas clássicas entre Estados. E esqueça também as lutas no interior do Ocidente, motivadas por disputas econômicas ou políticas, como sucedeu no século 20. Esse tempo acabou: imaginar a França nas trincheiras contra a Alemanha é cenário irrealista.
Os conflitos acabarão por emergir entre civilizações --ou, melhor dizendo, entre diferentes concepções do mundo que não podem ser resolvidas, ou harmonizadas, por um piquenique multiculturalista ou um seminário acadêmico entre pacifistas "new age".
Como escrevia Huntington, a questão futura não passa por saber qual é o lado certo da batalha; a questão primeira será saber quem somos nós. Porque é a identidade cultural, e não os interesses momentâneos do Estado, que irá definir os conflitos futuros. E, quando as coisas são postas nesses termos, não é possível ser meio muçulmano e meio cristão ao mesmo tempo.
Aliás, as tensões entre o Ocidente e o Islã são analisadas por Huntington sem eufemismos: se Tony Blair, na sua coluna para o "Observer", usa a palavra "Islã" com medo, Huntington é glacial. O conflito entre o Ocidente e o radicalismo islâmico dura 1.300 anos. Será mais violento nos anos próximos. E, pormenor importantíssimo que Blair (e Bush) esqueceu, não se resolve pela imposição de qualquer modelo democrático, por mais nobre que ele seja em teoria.
Para certas sociedades, os valores fundamentais da civilização ocidental --"individualismo", "secularismo", "constitucionalismo" etc.-- soam estranhos e, pior, ameaçadores. Por mais "primaveras árabes" que floresçam (e feneçam) no Oriente Médio.
Perante este "choque de civilizações", que fazer?
Tony Blair, em momento de "mea culpa", reconhece que o caminho não é militar: a democracia não se impõe à força porque os resultados, no Afeganistão e no Iraque, não foram propriamente brilhantes. Mas depois, com a ignorância que o define, Blair regressa a um mundo imaginário de fadas e duendes: o "choque de civilizações" só será evitado pelo entendimento e pela tolerância entre culturas.
Como é evidente, Blair está falando para a minoria "ocidentalizada" que ele encontra no lobby dos hotéis de luxo no Cairo ou em Beirute. Ou então prepara o seu discurso de Miss Universo.
Samuel Huntington, uma vez mais, revela a lucidez e a coragem que Blair não tem: perante o "choque de civilizações", deve haver maior coesão no interior do próprio Ocidente, entre países que partilham os mesmos valores fundamentais.
Isso implica um Ocidente que não esteja disposto a desarmar-se perante potenciais inimigos porque a palavra "inimigo" ainda continua fazendo parte da linguagem política contemporânea.
E, claro, o Ocidente pode sempre apoiar grupos de outras civilizações que se interessam por essas extravagâncias como a "democracia" e os "direitos humanos", sem ceder à tentação de tentar exportá-los pela força. A evolução para a modernidade é um caminho solitário que só essas civilizações podem (ou não) percorrer.
Vinte anos depois do ensaio de Huntington e dez anos depois das aventuras no Afeganistão e no Iraque, continuo preferindo o realismo carnívoro do professor de Harvard ao idealismo vegetariano de Tony Blair.
terça-feira, janeiro 28, 2014
Esse tango eu já ouvi (e vivi) - CLÓVIS ROSSI
FOLHA DE SP - 28/01
Sucessivos governos argentinos foram incapazes de acabar com o esporte nacional: comprar dólares
Quando me instalei em Buenos Aires, como correspondente da Folha, no início de 1981, o dólar estava congelado e, por isso, era o único produto barato em um país de inflação tresloucada, conduzido por uma ditadura genocida.
Ao tentar matricular as crianças (três) na escola, verifiquei que o custo da matrícula, dos uniformes (sim, era obrigatório à época) e do material escolar comeria todo o meu salário. Todinho. Não sobraria nem para uma miserável empanada.
Liguei para Boris Casoy, meu chefe à época, e lhe disse que voltaria ao Brasil no dia seguinte pela óbvia razão de que não dava para viver assim. Boris dobrou meu salário.
Mas, ainda assim, só podíamos comprar três casquinhas de sorvete para dividir pelos cinco membros da família.
O dia de receber o salário, em vez de ser de festa, era de tormento. Não dava para ficar com um bolo de belas notas coloridas de peso, que, ao fim do mês, valiam a metade ou menos. Era preciso correr para trocar por dólares.
Passava a manhã na rua San Martín, então concentração de casas de câmbio, para ver qual delas oferecia a melhor cotação para a compra de dólares.
Era o esporte nacional. Uma vez, um grupo de estudantes juntou suas economias, foi à San Martín, escolheu o melhor preço para o dólar, trocou seus pesos e sentou-se a uma mesa de café próximo para esperar. De vez em quando, um deles levantava e fazia uma incursão pelas casas de câmbio para ver a cotação da moeda americana. Até que decidiram retrocar os dólares por um peso já mais fraco, ganhando uma "mesada" na operação sem fazer força.
Três meses depois, mudou o general-presidente e, com ele, o ministro da Economia, que convocou uma entrevista coletiva.
Na hora em que anunciou uma desvalorização de 30% do peso, os correspondentes estrangeiros quase jogamos para o alto nossos cadernos de anotação para festejar o começo do fim do sufoco.
Era só o começo mesmo. O primeiro apartamento que alugamos em Buenos Aires, velho, sem iluminação natural na cozinha, dois dormitórios (um dos filhos dormia na sala), custava US$ 1.000. No fim de nosso período lá, três anos depois, morávamos em um apartamento de quatro dormitórios, novo e iluminadíssimo, por um terço do custo do primeiro (exatamente US$ 340).
Conto essa história para que o leitor, que recebeu no fim de semana boas análises técnicas sobre a crise argentina, entenda como é a coisa na prática, ao rés-do-chão.
Trinta anos depois, comprovo que o argentino continua tratando o dólar como o seu "verdadeiro metal precioso", como escreveu o sociólogo Eduardo Fidanza, especialista em opinião pública. Nem a ditadura, nem a democracia, nem governos liberais, nem governos populistas conseguiram devolver a confiança do público na moeda nacional. Esse é o real fundo da crise.
Nesse ponto, o Brasil descolou-se da Argentina. Tem fraquezas que poderiam levar ao contágio, que até está ocorrendo com outros emergentes, mas, pelo menos, o real não queima nas mãos.
Sucessivos governos argentinos foram incapazes de acabar com o esporte nacional: comprar dólares
Quando me instalei em Buenos Aires, como correspondente da Folha, no início de 1981, o dólar estava congelado e, por isso, era o único produto barato em um país de inflação tresloucada, conduzido por uma ditadura genocida.
Ao tentar matricular as crianças (três) na escola, verifiquei que o custo da matrícula, dos uniformes (sim, era obrigatório à época) e do material escolar comeria todo o meu salário. Todinho. Não sobraria nem para uma miserável empanada.
Liguei para Boris Casoy, meu chefe à época, e lhe disse que voltaria ao Brasil no dia seguinte pela óbvia razão de que não dava para viver assim. Boris dobrou meu salário.
Mas, ainda assim, só podíamos comprar três casquinhas de sorvete para dividir pelos cinco membros da família.
O dia de receber o salário, em vez de ser de festa, era de tormento. Não dava para ficar com um bolo de belas notas coloridas de peso, que, ao fim do mês, valiam a metade ou menos. Era preciso correr para trocar por dólares.
Passava a manhã na rua San Martín, então concentração de casas de câmbio, para ver qual delas oferecia a melhor cotação para a compra de dólares.
Era o esporte nacional. Uma vez, um grupo de estudantes juntou suas economias, foi à San Martín, escolheu o melhor preço para o dólar, trocou seus pesos e sentou-se a uma mesa de café próximo para esperar. De vez em quando, um deles levantava e fazia uma incursão pelas casas de câmbio para ver a cotação da moeda americana. Até que decidiram retrocar os dólares por um peso já mais fraco, ganhando uma "mesada" na operação sem fazer força.
Três meses depois, mudou o general-presidente e, com ele, o ministro da Economia, que convocou uma entrevista coletiva.
Na hora em que anunciou uma desvalorização de 30% do peso, os correspondentes estrangeiros quase jogamos para o alto nossos cadernos de anotação para festejar o começo do fim do sufoco.
Era só o começo mesmo. O primeiro apartamento que alugamos em Buenos Aires, velho, sem iluminação natural na cozinha, dois dormitórios (um dos filhos dormia na sala), custava US$ 1.000. No fim de nosso período lá, três anos depois, morávamos em um apartamento de quatro dormitórios, novo e iluminadíssimo, por um terço do custo do primeiro (exatamente US$ 340).
Conto essa história para que o leitor, que recebeu no fim de semana boas análises técnicas sobre a crise argentina, entenda como é a coisa na prática, ao rés-do-chão.
Trinta anos depois, comprovo que o argentino continua tratando o dólar como o seu "verdadeiro metal precioso", como escreveu o sociólogo Eduardo Fidanza, especialista em opinião pública. Nem a ditadura, nem a democracia, nem governos liberais, nem governos populistas conseguiram devolver a confiança do público na moeda nacional. Esse é o real fundo da crise.
Nesse ponto, o Brasil descolou-se da Argentina. Tem fraquezas que poderiam levar ao contágio, que até está ocorrendo com outros emergentes, mas, pelo menos, o real não queima nas mãos.
Fidel surta! Dilma em Cuba! - JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 28/01
E diz que a Dilma vai inaugurar um porto em Cuba. Pros balseros fugirem pra Miami! Rarará!
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Socorro! Confirmado! Jennifer Lopez, Pitbull e Claudia Leitte cantarão a música-tema da Copa, "We Are One". Então #naovaitercopa. Esse é o único motivo que eu encontro para não ter Copa: Claudia Leitte! Rarará.
Vai ter Copa. Aliás, não vai ter Copa. Os black brócolis vão quebrar tudo antes: Fusca, porta de teatro, ponto de ônibus, esses símbolos do capitalismo! Rarará!
E socuerro! Dilma e Cristina Kirchner em Cuba! Juntas! Dessa vez o Fidel empacota! Rarará! Elas vão estressar o Fidel, El Coma Andante! E eu sei o que a Dilma foi fazer em Cuba! Curso de gambiarra! Cubano é bom de gambiarra. Pega uma batedeira anos 1930 e transforma num Chevrolet anos 1960!
Cuba é boa em saúde, educação e funilaria. Cuba é a prova de que os carros americanos são os melhores do mundo! Rarará!
E acho que a Dilma Grande Toura Chefa Sentada errou no modelito. Ela devia ter descido com shortinho de estampa de Che Guevara. Fazendo o tipo "Soy Loco Por Ti America". E diz que ela vai inaugurar um porto em Cuba. Pros balseros fugirem pra Miami! Rarará. Miami é o Morumbi de Cuba!
E diz que ela desceu cantando "O Brasil já lançou foguete/ Quero ver Cuba lançar/ Lança Cuba lança/ Quero ver Cuba lançar". Rarará. Ô esculhambação!
E ela continua andando como caubói, como John Wayne em "Sangue dos Heróis!" Tiraram o cavalo e ela não percebeu, continuou andando! Rarará!
E o Corinthians? Perdeu de um a zero pro São Bernardo! Tão perdendo até de cachorro. Diz que corintiano não quer ver nunca mais aquele filme "Beethoven"! E o site FuteboldaDepressao: "Corintiano invade casa pra tentar roubar uma bicicleta e é surpreendido por um São Bernardo feroz". Sendo que eu nunca vi um São Bernardo feroz! Rarará! E essa é do tuiteiro Nelson Evencio: "Corintianos fazem a versão da música-tema da Copa, We Are One'. Nóis é um, mano'". Rarará!
É mole? É mole, mas sobe!
Os Predestinados! Olha esse cartaz num poste: "Montamos móveis. Falar com Parafuso". Rarará! E tem um professor de psiquiatria na Universidade Stanford chamado: William DEMENT! E uma amiga contratou um pintor chamado José Suvinil! Rarará. Nóis sofre, mas nós goza! Hoje, só amanhã. Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
Marcação pesada - ANCELMO GOIS
O GLOBO - 28/01
Pela primeira vez desde 1998, Celso Barros vai ter um adversário na eleição, dia 25 de fevereiro, para a presidência da Unimed, patrocinadora do Fluminense. O cardiologista Cláudio Salles promete, caso eleito, manter o patrocínio ao clube, que gira em torno dos R$ 70 milhões por ano.
Mas...
Salles critica a intromissão de Celso Barros no time tricolor: — O patrocínio ao clube engrandece a Unimed. Mas o presidente da empresa não pode decidir quem será o técnico, nem escalar jogador. Disso cuida o Fluminense. Aliás, Salles não torce pelo time de Fred.
Crônica do Império X
Vai virar livro, pela Nova Fronteira, a trajetória das empresas X, de Eike Batista. “Ascensão e queda do Império X”, do coleguinha Sérgio Leo, mergulha nos bastidores dos acontecimentos que levaram à perda de uma fortuna estimada em US$ 34 bilhões. A versão digital entra em pré-venda amanhã.
Parabéns
De Cuba, Dilma telefonou ontem para dar parabéns a Sérgio Cabral pelo seu aniversário.
Só dá ela
Fernanda Lima, musa da Copa, vai ser garota-propaganda da Arezzo. Ela fotografa a campanha semana que vem, em São Paulo.
Sem conversa
As negociações entre a Brahma e David Beckham não foram adiante. O astro inglês gravaria um comercial da cervejaria com Sabrina Sato.
Coisa de amigo
O ator americano Wallace Shawn, o malvado de “A princesa prometida”, alugou o Café Pequeno, no Leblon, e bancou a montagem da sua peça “The Designated Mourner” para que Glenn Greenwald pudesse assisti-la ontem. Como se sabe, Glenn, o jornalista que divulgou as denúncias de Edward Snowden, corre risco de ser preso se voltar aos EUA.
‘Arquivo N’
Frei Betto embarca dia 10 agora para Cuba, a convite de Fidel Castro. Na mala, uma cópia do programa “Arquivo N” sobre os 55 anos da revolução cubana, que vai ao ar aqui no dia 5. O pedido foi feito pelo próprio Comandante, quando soube que seria lembrado na GloboNews.
Direto do frio
A cantora Alice Caymmi, neta caçula de Dorival, recebeu elogio, via Facebook, da cantora Björk. A islandesa ouviu a versão que a carioca fez para sua música “Unravel” e ficou encantada: “Não se pode fazer muito melhor do que essa versão de Alice Caymmi”, escreveu Björk.
Debutando na folia
O guia de blocos de carnaval “Rio que encanta” está completando 15 anos, veja a capa. Produzido por Eliomar Coelho e colegas do PSOL, sem uso de dinheiro público, é o mais antigo da cidade. A edição deste ano será lançada domingo, na sede do Bola Preta.
Que horror!
Acusado de matar a sobrinha, o namorado dela e a mãe do estilista Beto Neves, o advogado Michel Salin Saud entrou na 4ª Vara Criminal de São Gonçalo com pedido de prisão domiciliar. Diz que Bangu 8 não é adequado para ele.
Mão presa
A 19ª Câmara Cível do Rio, condenou a SuperVia a pagar R$ 30 mil de indenização por danos morais a uma passageira que ficou com a mão direita presa na porta de um vagão. A concessionária também terá que pagar uma pensão vitalícia de 25% do salário-mínimo à vítima.
Corrida no tiro
A 135 dias da Copa, a atuação de táxis piratas no Galeão-Tom Jobim ainda é um problema. Na manhã de ontem, um senhor, dirigindo um carro de passeio, um Voyage prata, pegava passageiros no setor de desembarque do Terminal 1.
Maçarico carioca
O piloto do voo 3487, da TAM, que saiu de Natal, às 2h17m de ontem, com destino ao Rio, anunciou, antes de decolar, que a temperatura na Cidade Maravilhosa era de... 27°. E uma passageira: — Ai, meu Jesus! Mas num tá de madrugada?!
Mas...
Salles critica a intromissão de Celso Barros no time tricolor: — O patrocínio ao clube engrandece a Unimed. Mas o presidente da empresa não pode decidir quem será o técnico, nem escalar jogador. Disso cuida o Fluminense. Aliás, Salles não torce pelo time de Fred.
Crônica do Império X
Vai virar livro, pela Nova Fronteira, a trajetória das empresas X, de Eike Batista. “Ascensão e queda do Império X”, do coleguinha Sérgio Leo, mergulha nos bastidores dos acontecimentos que levaram à perda de uma fortuna estimada em US$ 34 bilhões. A versão digital entra em pré-venda amanhã.
Parabéns
De Cuba, Dilma telefonou ontem para dar parabéns a Sérgio Cabral pelo seu aniversário.
Só dá ela
Fernanda Lima, musa da Copa, vai ser garota-propaganda da Arezzo. Ela fotografa a campanha semana que vem, em São Paulo.
Sem conversa
As negociações entre a Brahma e David Beckham não foram adiante. O astro inglês gravaria um comercial da cervejaria com Sabrina Sato.
Coisa de amigo
O ator americano Wallace Shawn, o malvado de “A princesa prometida”, alugou o Café Pequeno, no Leblon, e bancou a montagem da sua peça “The Designated Mourner” para que Glenn Greenwald pudesse assisti-la ontem. Como se sabe, Glenn, o jornalista que divulgou as denúncias de Edward Snowden, corre risco de ser preso se voltar aos EUA.
‘Arquivo N’
Frei Betto embarca dia 10 agora para Cuba, a convite de Fidel Castro. Na mala, uma cópia do programa “Arquivo N” sobre os 55 anos da revolução cubana, que vai ao ar aqui no dia 5. O pedido foi feito pelo próprio Comandante, quando soube que seria lembrado na GloboNews.
Direto do frio
A cantora Alice Caymmi, neta caçula de Dorival, recebeu elogio, via Facebook, da cantora Björk. A islandesa ouviu a versão que a carioca fez para sua música “Unravel” e ficou encantada: “Não se pode fazer muito melhor do que essa versão de Alice Caymmi”, escreveu Björk.
Debutando na folia
O guia de blocos de carnaval “Rio que encanta” está completando 15 anos, veja a capa. Produzido por Eliomar Coelho e colegas do PSOL, sem uso de dinheiro público, é o mais antigo da cidade. A edição deste ano será lançada domingo, na sede do Bola Preta.
Que horror!
Acusado de matar a sobrinha, o namorado dela e a mãe do estilista Beto Neves, o advogado Michel Salin Saud entrou na 4ª Vara Criminal de São Gonçalo com pedido de prisão domiciliar. Diz que Bangu 8 não é adequado para ele.
Mão presa
A 19ª Câmara Cível do Rio, condenou a SuperVia a pagar R$ 30 mil de indenização por danos morais a uma passageira que ficou com a mão direita presa na porta de um vagão. A concessionária também terá que pagar uma pensão vitalícia de 25% do salário-mínimo à vítima.
Corrida no tiro
A 135 dias da Copa, a atuação de táxis piratas no Galeão-Tom Jobim ainda é um problema. Na manhã de ontem, um senhor, dirigindo um carro de passeio, um Voyage prata, pegava passageiros no setor de desembarque do Terminal 1.
Maçarico carioca
O piloto do voo 3487, da TAM, que saiu de Natal, às 2h17m de ontem, com destino ao Rio, anunciou, antes de decolar, que a temperatura na Cidade Maravilhosa era de... 27°. E uma passageira: — Ai, meu Jesus! Mas num tá de madrugada?!
GIL NO GALO - MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 28/01
PAPEL E LÁPIS
As aulas do deputado João Paulo Cunha (PT-SP), que faz direito em uma universidade de Brasília, recomeçam na próxima semana. Ele pretende apresentar à Justiça pedido para continuar estudando, mesmo preso, já que foi condenado ao regime semiaberto. Num primeiro momento, tentará exercer o mandato na Câmara dos Deputados. Mas a possibilidade de renúncia não está descartada.
ASSIM ME DESPEÇO
Netinho de Paula (PCdoB-SP) deixará a Secretaria Municipal de Promoção da Igualdade Racial assim que fechar um acordo para selar a paz entre os organizadores dos "rolezinhos" e os donos de shoppings. Uma reunião nesta semana, mediada pelo secretário e pelo Ministério Público, pode pôr fim ao conflito. "Os shoppings se comprometeram a interromper a judicialização e a deixar de tratar a situação como caso de polícia", diz ele.
SÓ RINDO
Marcelo Madureira vai apresentar um telejornal de notícias bizarras. O programa de quatro minutos e meio, a ser veiculado no GShow, novo portal de entretenimento da Globo, está em fase final de formatação. "O piloto está pronto e falta definir a periodicidade", explica o humorista do "Casseta e Planeta". O nome da atração é "Só se Fala de Outra Coisa".
NO MEIO DO SAMBA
A escola de samba Vai-Vai parou na semana passada para receber a ex-globeleza Aline Prado, que participou de um ensaio da agremiação. Detalhe: ela estava nua o tempo todo, posando para fotos da "Playboy".
CADÊ O FIGURANTE?
Num determinado momento, a produção da revista perdeu o controle sobre integrantes da escola, que apareceriam desfocados numa foto em que ela estaria em primeiro plano. Todos queriam ver Aline mais de perto e deixaram atabalhoadamente os locais em que deveriam ficar para compor a cena.
DUPLA
Lucas e Ana são os nomes mais comuns entre os alunos entre 11 e 17 anos matriculados na rede estadual de ensino em SP. O levantamento da Secretaria da Educação do Estado com 4 milhões de estudantes revelou que há mais de 90 mil Lucas e cerca de 70 mil Anas. Gabriel e Matheus são o 2º e o 3º lugares entre os meninos. E Maria e Larissa, o 2º e o 3º lugares entre as meninas.
ELE SABE
O técnico Felipão foi convidado pelo IDP (Instituto Brasiliense de Direito Público), do ministro Gilmar Mendes, do STF, para falar, no dia 7, sobre a organização de grandes eventos.
CONECTADO
Entre o público da terceira idade, 40% acessam a internet ao menos uma vez por semana e 27%, diariamente. Os gaúchos são mais ligados na rede (45%) que paulistanos (30%) e cariocas (13%). O levantamento foi feito com os 3.800 participantes do Viver Mais, projeto do Itaú Unibanco para pessoas com mais de 55 anos nas regiões metropolitanas de SP, Rio e Porto Alegre.
CONECTADO 2
A rede social preferida é o Facebook (72%). A média de idade dos pesquisados é de 68 anos. A maioria é mulher (98%) e aposentada (69%).
SAMBA NO ITAIM
O retorno do bloco de rua Gueri-Gueri ao Carnaval paulistano foi comemorado na rua Amauri, no Itaim, no sábado. O fundador da cordão, Roberto Suplicy, recebeu convidados ao lado da mulher, Vera, e da publicitária Fernanda Suplicy, sua filha. Mayara Santos, 1ª princesa do Carnaval de SP, foi ao evento, que também contou com a presença da modelo Daiane Conterato, do cantor Sebá (Inimigos da HP) e da executiva Denise Schirch.
CLIMA DE VERÃO
A apresentadora e atriz Caroline Bittencourt aproveitou o calor do fim de semana no Guarujá, no litoral de SP. O produtor de moda Marcio Vicentini e a modelo Alinne Samy também estiveram no resort Casa Grande.
CURTO-CIRCUITO
O MAM (Museu de Arte Moderna) de SP abre hoje, às 20h, a exposição "140 Caracteres", inspirada nas redes sociais e nas manifestações de 2013.
Pedro Burgos lança o livro "Conecte-se ao que Importa" (editora LeYa), hoje, às 22h30, na Campus Party.
Alessandra Ambrosio foi nomeada a Schutz Girl 2014. A modelo vai estrelar campanhas da marca.
Pezão solta o verbo - ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 28/01
Vem aí o mensalão mineiro
A Procuradoria Geral da República enviará nesta quinta-feira ao STF sua posição sobre o chamado “mensalão mineiro”. Na segunda-feira seguinte, dia 3 de fevereiro, o ministro relator Luís Roberto Barroso abrirá prazo, até dia 17, para a defesa dos réus — o deputado Eduardo Azeredo (PSDB) e o senador Clésio Andrade (PMDB). O ministro revisor Celso de Mello receberá o relatório de Barroso um mês depois de entregues os últimos argumentos da defesa, entre 20 e 30 de março. A expectativa no STF é que o julgamento seja rápido e ocorra até julho. Um ministro explica que são apenas dois réus. Quando a campanha eleitoral começar, já estarão absolvidos ou condenados.
“Esse toma-lá-dá-cá existe e sempre existiu, mas o PT passou dos limites”
Cássio Cunha Lima Senador (PSDB-PB), sobre uso da máquina do Estado na campanha eleitoral
De olho na continuidade
O presidente do Senado, Renan Calheiros, e o PMDB de Alagoas decidiram em reunião em Maceió que o deputado Renan Filho será o candidato ao governo. O pai quer ficar mais tempo no comando do Senado.
Planejamento 0.0
A presidente Dilma determinou aos ministros das áreas de infraestrutura que se reúnam sistematicamente para garantir que tudo dê certo na Copa. Um desses ministros reclama que ela deveria ter priorizado as obras há mais de um ano e que é tarde demais para resolver obras de mobilidade que ficaram pelo meio do caminho.
Em campanha
A presidente da CNA, senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), anda em campanha pelo Palácio do Planalto em favor do colega de bancada Waldemir Moka (MS), para o lugar de Antônio Andrade no Ministério da Agricultura.
Nova fase
Advogada de presos políticos, Rosa Maria Cardoso está anunciando que a Comissão da Verdade vai abrir um novo veio de atuação, o do envolvimento de empresários e de empresas com a repressão, na ditadura militar. Ela prevê que, no final de março, a Comissão divulgue o primeiro documento sobre o tema.
Passando a bola
Os primos Garibaldi Alves (ministro) e Henrique Alves (presidente da Câmara) discursavam para plateia de 500 pessoas. Um grupo puxou o coro: “Henrique, governador”. Sem graça, respondeu: “A claque foi contratada por Garibaldi!”
Dançou, trocou de par
O PSD negocia com o PSDB de Minas a indicação de Paulo Safady Simão, presidente da Cbic, para suplente de senador, na chapa com Antonio Anastasia. Simão foi preterido para o Ministério do Desenvolvimento.
O EX-PRESIDENTE FERNANDO HENRIQUE receberá título de Doctor Philosophae Honoris Causa da Universidade de Tel Aviv, no dia 15 de maio.
Bolsa Candidato - VERA MAGALHÃES - PAINEL
FOLHA DE SP - 28/01
O PT vai dar um emprego a Alexandre Padilha na direção do partido em São Paulo assim que ele deixar o Ministério da Saúde, no início de fevereiro. O pré-candidato ao governo paulista receberá salário equivalente ao de outros dirigentes da sigla, de cerca de R$ 10 mil. Ele vai coordenar as caravanas que o partido vai organizar pelo Estado. Os petistas acreditam que, com o cargo, Padilha poderá participar dos eventos com menor risco de ser acusado de campanha antecipada.
Saideira Padilha vai aparecer em rede nacional de rádio e TV na quarta-feira para um pronunciamento sobre o início do calendário anual de vacinação, com foco na campanha contra o HPV.
Em aberto 1 Nas conversas para definir a reforma ministerial, Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula ainda não chegaram a um acordo sobre a presença de Ricardo Berzoini (PT-SP) no governo.
Em aberto 2 Com a provável ida de Paulo Bernardo para a coordenação da campanha, o PT insiste em indicar o deputado para o Ministério das Comunicações. Lula, no entanto, prefere a Secretaria de Relações Institucionais. Segundo interlocutores, Dilma está indecisa.
Sete vidas A presidente reluta em demitir Ideli Salvatti, apesar do desgaste da titular da coordenação política com o PT e a base aliada.
Time Valdir Simão foi convidado por Aloizio Mercadante para ocupar a secretaria-executiva da Casa Civil. Simão, que hoje coordena o gabinete digital do Palácio do Planalto, foi presidente do INSS e secretário-executivo do Ministério do Turismo após a crise de 2011 na pasta.
Indigestão Dilma não gostou de ver uma fotografia em que aparece com profundas e escuras olheiras e semblante cansado divulgada no Instagram pela rede de hotéis Thema, que controla o restaurante Eleven, onde a presidente jantou em Lisboa.
#fail Não bastasse o flagrante, o administrador da conta na rede social ainda postou comentário concordando com seguidores que criticaram a aparência da presidente. "Nem todos podemos ser bonitos", escreveu o responsável pelo perfil.
Antes tarde... O governo vai entrar na próxima semana com agravo regimental contra liminar concedida pelo ministro Ari Pargendler, do STJ, que suspendeu medida da CGU (Controladoria-Geral da União) que tornou inidôneas a empreiteira Delta e sua subsidiária, Técnica.
... do que nunca Na CGU, causou estranheza o fato de a liminar ter sido dada em 19 de dezembro, último dia antes do recesso do Judiciário, o que provocou um hiato de mais de um mês até que o governo pudesse recorrer.
Batalhão Geraldo Alckmin (PSDB) convocou o secretário de Segurança, Fernando Grella, e o comandante da PM, Benedito Meira, ontem para discutir os protestos do fim de semana. Integrantes do governo temem que as manifestações ganhem corpo e repitam junho de 2013.
Tropeço Agnelo Queiroz (PT) enfrentou percalços na Corrida de Reis, organizada pelo governo do DF, no domingo. Estampando o número 13 na camiseta, o governador deu a largada da prova de 6 km e foi vaiado quando teve seu nome anunciado.
Marinês As diretrizes programáticas da Rede e do PSB, que serão lançadas no dia 4, vão retomar o conceito de "Estado mobilizador", que Marina Silva defendeu em 2010. A ideia é criar alternativa ao Estado "intervencionista", associado ao PT, e ao Estado "neoliberal", que seria defendido pelo PSDB.
TIROTEIO
"Um ministro do STF que parece um popstar quer cassar o direito de uma pessoa falar. Não parece que vivemos em uma democracia."
DO DEPUTADO ANDRÉ VARGAS (PT-PR), sobre a declaração de Joaquim Barbosa de que os condenados pelo mensalão devem "ficar no ostracismo".
CONTRAPONTO
Em busca da aliança perdida
Em meio a uma crise conjugal com a mulher Rosane, em agosto de 1991, o então presidente Fernando Collor provocou rebuliço ao aparecer em eventos públicos sem a aliança no dedo anular da mão esquerda.
Dias depois da descoberta do fato, o presidente chamou para uma audiência no Palácio do Planalto o governador da Paraíba, Ronaldo Cunha Lima, que era seu adversário político. Ao fim da conversa, jornalistas perguntaram ao governador qual havia sido o tema da reunião. Cunha Lima riu e respondeu:
--O presidente está em busca de uma aliança...
O PT vai dar um emprego a Alexandre Padilha na direção do partido em São Paulo assim que ele deixar o Ministério da Saúde, no início de fevereiro. O pré-candidato ao governo paulista receberá salário equivalente ao de outros dirigentes da sigla, de cerca de R$ 10 mil. Ele vai coordenar as caravanas que o partido vai organizar pelo Estado. Os petistas acreditam que, com o cargo, Padilha poderá participar dos eventos com menor risco de ser acusado de campanha antecipada.
Saideira Padilha vai aparecer em rede nacional de rádio e TV na quarta-feira para um pronunciamento sobre o início do calendário anual de vacinação, com foco na campanha contra o HPV.
Em aberto 1 Nas conversas para definir a reforma ministerial, Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula ainda não chegaram a um acordo sobre a presença de Ricardo Berzoini (PT-SP) no governo.
Em aberto 2 Com a provável ida de Paulo Bernardo para a coordenação da campanha, o PT insiste em indicar o deputado para o Ministério das Comunicações. Lula, no entanto, prefere a Secretaria de Relações Institucionais. Segundo interlocutores, Dilma está indecisa.
Sete vidas A presidente reluta em demitir Ideli Salvatti, apesar do desgaste da titular da coordenação política com o PT e a base aliada.
Time Valdir Simão foi convidado por Aloizio Mercadante para ocupar a secretaria-executiva da Casa Civil. Simão, que hoje coordena o gabinete digital do Palácio do Planalto, foi presidente do INSS e secretário-executivo do Ministério do Turismo após a crise de 2011 na pasta.
Indigestão Dilma não gostou de ver uma fotografia em que aparece com profundas e escuras olheiras e semblante cansado divulgada no Instagram pela rede de hotéis Thema, que controla o restaurante Eleven, onde a presidente jantou em Lisboa.
#fail Não bastasse o flagrante, o administrador da conta na rede social ainda postou comentário concordando com seguidores que criticaram a aparência da presidente. "Nem todos podemos ser bonitos", escreveu o responsável pelo perfil.
Antes tarde... O governo vai entrar na próxima semana com agravo regimental contra liminar concedida pelo ministro Ari Pargendler, do STJ, que suspendeu medida da CGU (Controladoria-Geral da União) que tornou inidôneas a empreiteira Delta e sua subsidiária, Técnica.
... do que nunca Na CGU, causou estranheza o fato de a liminar ter sido dada em 19 de dezembro, último dia antes do recesso do Judiciário, o que provocou um hiato de mais de um mês até que o governo pudesse recorrer.
Batalhão Geraldo Alckmin (PSDB) convocou o secretário de Segurança, Fernando Grella, e o comandante da PM, Benedito Meira, ontem para discutir os protestos do fim de semana. Integrantes do governo temem que as manifestações ganhem corpo e repitam junho de 2013.
Tropeço Agnelo Queiroz (PT) enfrentou percalços na Corrida de Reis, organizada pelo governo do DF, no domingo. Estampando o número 13 na camiseta, o governador deu a largada da prova de 6 km e foi vaiado quando teve seu nome anunciado.
Marinês As diretrizes programáticas da Rede e do PSB, que serão lançadas no dia 4, vão retomar o conceito de "Estado mobilizador", que Marina Silva defendeu em 2010. A ideia é criar alternativa ao Estado "intervencionista", associado ao PT, e ao Estado "neoliberal", que seria defendido pelo PSDB.
TIROTEIO
"Um ministro do STF que parece um popstar quer cassar o direito de uma pessoa falar. Não parece que vivemos em uma democracia."
DO DEPUTADO ANDRÉ VARGAS (PT-PR), sobre a declaração de Joaquim Barbosa de que os condenados pelo mensalão devem "ficar no ostracismo".
CONTRAPONTO
Em busca da aliança perdida
Em meio a uma crise conjugal com a mulher Rosane, em agosto de 1991, o então presidente Fernando Collor provocou rebuliço ao aparecer em eventos públicos sem a aliança no dedo anular da mão esquerda.
Dias depois da descoberta do fato, o presidente chamou para uma audiência no Palácio do Planalto o governador da Paraíba, Ronaldo Cunha Lima, que era seu adversário político. Ao fim da conversa, jornalistas perguntaram ao governador qual havia sido o tema da reunião. Cunha Lima riu e respondeu:
--O presidente está em busca de uma aliança...
A Copa das ruas - DENISE ROTHENBURG
CORREIO BRAZILIENSE - 28/01
O Não vai ter Copa ainda é um bicho estranho. Ninguém sabe ao certo a sua cor, o seu tamanho e, principalmente, em que ele se transformará até meados de junho, quando o Mundial será iniciado. Uma coisa é certa: vai ter eleição. E é por isso que, publicamente, o governo federal faz que não é com ele. Ontem, negou que existisse qualquer tipo de reunião emergencial para tratar do assunto. A estratégia é não evidenciar preocupação e se manter afastado de qualquer tema polêmico. Mas o temor é generalizado.
O ato violento registrado em São Paulo, no sábado, que terminou com um jovem baleado pela polícia, acendeu o sinal de alerta. O filme é recente. Em junho do ano passado, um movimento pelo passe livre no transporte público da capital paulista ganhou corpo e incorporou as mais diversas pautas. Sobrou para todos os políticos, sobretudo para Dilma Rousseff, que viu sua popularidade cair rapidamente.
Eleição é maratona. Não são 100 metros rasos. Na reta final, pode faltar perna para recuperar a aprovação perdida. Dilma sabe disso. O calendário não é amigo dela. Nos bastidores, só pensa em estratégias para minimizar o impacto eleitoral de um possível recrudescimento das manifestações. Um exército já foi recrutado na internet para espalhar a hashtag #copadascopas e minimizar o #nãovaitercopa. Resta esperar.
Carona
O PSol havia definido como prioritária a bandeira da tarifa zero, principal mote das manifestações de junho do ano passado, para ser utilizada na campanha presidencial do senador Randolfe Rodrigues (AP). Agora, com o fortalecimento do Não vai ter Copa, o partido também decidiu abraçar a causa. Já tem gente dizendo que o programa de governo será escrito no vão livre do Masp, na Avenida Paulista, palco dos maiores protestos.
Retorno
Quem volta da licença em caráter particular de 120 dias é o senador Jayme Campos (DEM-MT). Em quatro anos de mandato, Campos ficou 240 dias afastado. O suplente dele, Oswaldo Sobrinho, já fez a faxina no gabinete, mas planeja voltar em breve.
De novo
O senador Humberto Costa (PT-PE) deve ser o próximo líder da sigla no Senado, posto que ocupou em 2011. Pelo sistema de rodízio, a vaga seria de outro senador. O problema é que muitos são candidatos. As articulações já foram iniciadas. O nome deve ser fechado após a oficialização de Mercadante na Casa Civil.
Comeu e não gostou/ O rolezinho da presidente Dilma Rousseff por Lisboa rendeu uma foto no Instagram com o chef do restaurante Eleven, Joachim Koerper (foto). Na imagem, enquanto ele dá uma boa risada, Dilma aparece com uma expressão fechada. A tática é utilizada pelo futuro chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante. Quando é fotografado ao lado de uma pessoa que não conhece, o ministro sempre fecha a cara para evitar sair sorrindo ao lado de alguém que possa ter um currículo desabonador.
Frigideira amiga/ O empresário Josué Gomes (PMDB) decidiu. Vai mesmo para o sacrifício e vai enfrentar Antonio Anastasia (PSDB) na disputa por uma vaga no Senado. O Palácio do Planalto fritou Josué ao alimentar o noticiário negativamente, vazando que nenhum industrial importante havia manifestado apoio à indicação. Isso fez com que ele, constrangido pelo fogo amigo, recuasse e declarasse que prefere disputar as eleições.
Tudo em casa/ O governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), não foi ao Fórum Econômico Mundial, em Davos, porque o filho Miguel está para nascer. “Família em primeiro lugar”, publicou no Facebook. Faz sentido. Campos colocou a mãe, Ana Arraes, no TCU; o marido da prima, Paulo Câmara, na Secretaria da Fazenda; o primo, Tadeu Alencar, como pré-candidato ao governo e o filho mais velho deve disputar uma vaga na Câmara.
Vai pegar?/ A chamada Lei Anticorrupção entra em vigor amanhã. A Controladoria-Geral da União (CGU) se apressa para fechar a regulamentação da nova legislação, que deve mudar o relacionamento das empresas com o poder público. As apostas do governo são: multas pesadas para tentar coibir o pagamento de propinas a servidores públicos e as fraudes em licitações e a criação de um código de conduta dentro das firmas que incentive os funcionários a denunciar improbidades.
MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO
FOLHA DE SP - 28/01
Grupo investirá R$ 350 mi em gasodutos em PE
A Copergás, companhia mista que tem como sócios o governo de Pernambuco, a Petrobras e a Mitsui, vai investir R$ 350 milhões para interiorizar a distribuição de gás natural no Estado.
O principal aporte será feito na expansão do gasoduto que liga a capital, Recife, a Caruaru, que hoje tem 120 quilômetros de extensão.
Serão adicionados 125 quilômetros, o que garantirá o gás canalizado até Arcoverde, no sertão pernambucano.
"O primeiro trecho será entregue até dezembro de 2015", afirma Jailson Galvão, executivo que representa a Gaspetro (subsidiária da Petrobras) na direção da Copergás.
Nessa primeira etapa, serão 50 quilômetros entre Caruaru e Belo Jardim. "A Baterias Moura, que tem fábrica em Belo Jardim e será uma das principais beneficiadas, é parceira no projeto e investirá R$ 10 milhões", diz.
Na segunda fase, a partir de 2016, os 75 quilômetros restantes serão construídos até o município de Arcoverde.
O plano de expansão, que inclui ainda a ampliação de redes em cidades já atendidas, deverá elevar em cerca de 35% o volume de gás natural distribuído no Estado.
Hoje, são 1,15 milhão de metros cúbicos por dia --80% do total vai para indústrias.
O governo de Pernambuco detém 51% da companhia. A Petrobras, por meio da Gaspetro, e a japonesa Mitsui têm 24,5% cada uma.
EM DAVOS
Ainda veloz como... Apesar da preocupação com uma desaceleração do crescimento chinês, executivos estrangeiros de grandes multinacionais se diziam ainda animados com o país, no Fórum Econômico Mundial (em Davos, na Suíça), encerrado no domingo.
...na Fórmula 1 Carlos Ghosn, presidente da Renault-Nissan, para quem 2014 será bom no Brasil, embora a expansão do setor "se limite um pouco", disse que, na China, "90% dos carros vendidos em 2013 foram para quem os comprava pela primeira vez".
Anote... Apesar da recuperação econômica nos EUA e em parte da Europa, empresários dessas regiões ainda apontam incertezas, que incluem a perspectiva de estagnação de salários em países desenvolvidos.
...a lição "Nos sentimos melhor ante 2014 do que em 2013 e 2012", disse Indra Nooyi, presidente da PepsiCo, no Fórum de Davos. Mas "estamos aprendendo a dirigir empresas que crescem de 2% a 3%".
CRISE CORPORATIVA
Problemas financeiros e questões contábeis foram os responsáveis por 28% das crises corporativas ocorridas no país no ano passado, segundo pesquisa da Imagem Corporativa. Ao todo, 1.222 situações de tensões em empresas foram analisadas.
O percentual registrado é o mais elevado desde 2007, quando a pesquisa começou a ser realizada. No ano retrasado, as crises financeiras corresponderam a 19% do total.
A indústria do petróleo, com 12%, foi a mais afetada em 2013, principalmente pela falta de cumprimento de metas de produção e pelo cancelamento de investimentos.
Em segundo lugar, com 10%, ficou o segmento de alimentos, no qual ocorreram crises decorrentes de qualidade de produtos e de relações com os consumidores.
Aviação, telecomunicações e financeiro ficaram na terceira posição, com 7% cada um.
ESTÍMULO NACIONAL
Um condomínio industrial será construído em Pindamonhangaba (SP) para abrigar empresas importadoras de máquinas interessadas em produzir componentes no Brasil.
O projeto, liderado pela Abimei (entidade que reúne importadores do setor), deve estimular também montagem e estocagem de máquinas e equipamentos localmente, além da criação de centros tecnológicos para projetos industriais.
"Algumas associadas não trabalham somente com importações e têm poucos incentivos para produzir no país. Queremos que elas fabriquem pelo menos 40% dos componentes aqui", afirma Ennio Crispino, presidente da associação.
A prefeitura do município vai conceder descontos em impostos municipais e será responsável pela infraestrutura do entorno, como água, luz e saneamento.
Os investimentos para a área comum podem chegar a R$ 80 milhões, estima Paulo Castelo Branco, vice-presiente da Abimei.
JUROS PÓS-ELEIÇÕES
A SulAmérica Investimentos projeta que a taxa básica de juros, a Selic, deverá chegar a 13% em 2015.
O dado, que constará em um relatório que será divulgado hoje, foi calculado em uma reunião do comitê de investimentos da gestora.
Com um cenário de volatilidade em 2014 e com as expectativas sobre a inflação mostrando-se desalinhadas em relação ao centro da meta, o esforço da política monetária terá de ser maior, de acordo com a empresa.
Por causa da desvalorização cambial que deverá ocorrer neste ano, segundo a gestora, a elevação da Selic até 11,25% em 2014 não será suficiente, o que levará o Banco Central a iniciar um novo ciclo de alta em 2015.
As eleições de 2014 impedirão que esse aperto maior ocorra já neste ano, ainda segundo a SulAmérica.
A última alteração da taxa básica ocorreu no dia 15 de janeiro, quando o BC elevou a Selic em 0,50 ponto percentual, para 10,5% ao ano.
MUSCULATURA ECONÔMICA
A maioria dos brasileiros (61%) entrevistados pela Ipsos acredita que a economia vai se fortalecer nos próximos seis meses. A pesquisa foi conduzida em 24 países.
O número é quase o triplo da média geral (23%) e coloca o país no topo da lista.
Nas dez primeiras posições, estão outros emergentes e latino-americanos: Índia (46%), China (44%) e Argentina (37%).
Na comparação com o mês anterior, os argentinos perderam quatro pontos e os brasileiros, um.
Os franceses ocupam o último lugar, com 5%.
Grupo investirá R$ 350 mi em gasodutos em PE
A Copergás, companhia mista que tem como sócios o governo de Pernambuco, a Petrobras e a Mitsui, vai investir R$ 350 milhões para interiorizar a distribuição de gás natural no Estado.
O principal aporte será feito na expansão do gasoduto que liga a capital, Recife, a Caruaru, que hoje tem 120 quilômetros de extensão.
Serão adicionados 125 quilômetros, o que garantirá o gás canalizado até Arcoverde, no sertão pernambucano.
"O primeiro trecho será entregue até dezembro de 2015", afirma Jailson Galvão, executivo que representa a Gaspetro (subsidiária da Petrobras) na direção da Copergás.
Nessa primeira etapa, serão 50 quilômetros entre Caruaru e Belo Jardim. "A Baterias Moura, que tem fábrica em Belo Jardim e será uma das principais beneficiadas, é parceira no projeto e investirá R$ 10 milhões", diz.
Na segunda fase, a partir de 2016, os 75 quilômetros restantes serão construídos até o município de Arcoverde.
O plano de expansão, que inclui ainda a ampliação de redes em cidades já atendidas, deverá elevar em cerca de 35% o volume de gás natural distribuído no Estado.
Hoje, são 1,15 milhão de metros cúbicos por dia --80% do total vai para indústrias.
O governo de Pernambuco detém 51% da companhia. A Petrobras, por meio da Gaspetro, e a japonesa Mitsui têm 24,5% cada uma.
EM DAVOS
Ainda veloz como... Apesar da preocupação com uma desaceleração do crescimento chinês, executivos estrangeiros de grandes multinacionais se diziam ainda animados com o país, no Fórum Econômico Mundial (em Davos, na Suíça), encerrado no domingo.
...na Fórmula 1 Carlos Ghosn, presidente da Renault-Nissan, para quem 2014 será bom no Brasil, embora a expansão do setor "se limite um pouco", disse que, na China, "90% dos carros vendidos em 2013 foram para quem os comprava pela primeira vez".
Anote... Apesar da recuperação econômica nos EUA e em parte da Europa, empresários dessas regiões ainda apontam incertezas, que incluem a perspectiva de estagnação de salários em países desenvolvidos.
...a lição "Nos sentimos melhor ante 2014 do que em 2013 e 2012", disse Indra Nooyi, presidente da PepsiCo, no Fórum de Davos. Mas "estamos aprendendo a dirigir empresas que crescem de 2% a 3%".
CRISE CORPORATIVA
Problemas financeiros e questões contábeis foram os responsáveis por 28% das crises corporativas ocorridas no país no ano passado, segundo pesquisa da Imagem Corporativa. Ao todo, 1.222 situações de tensões em empresas foram analisadas.
O percentual registrado é o mais elevado desde 2007, quando a pesquisa começou a ser realizada. No ano retrasado, as crises financeiras corresponderam a 19% do total.
A indústria do petróleo, com 12%, foi a mais afetada em 2013, principalmente pela falta de cumprimento de metas de produção e pelo cancelamento de investimentos.
Em segundo lugar, com 10%, ficou o segmento de alimentos, no qual ocorreram crises decorrentes de qualidade de produtos e de relações com os consumidores.
Aviação, telecomunicações e financeiro ficaram na terceira posição, com 7% cada um.
ESTÍMULO NACIONAL
Um condomínio industrial será construído em Pindamonhangaba (SP) para abrigar empresas importadoras de máquinas interessadas em produzir componentes no Brasil.
O projeto, liderado pela Abimei (entidade que reúne importadores do setor), deve estimular também montagem e estocagem de máquinas e equipamentos localmente, além da criação de centros tecnológicos para projetos industriais.
"Algumas associadas não trabalham somente com importações e têm poucos incentivos para produzir no país. Queremos que elas fabriquem pelo menos 40% dos componentes aqui", afirma Ennio Crispino, presidente da associação.
A prefeitura do município vai conceder descontos em impostos municipais e será responsável pela infraestrutura do entorno, como água, luz e saneamento.
Os investimentos para a área comum podem chegar a R$ 80 milhões, estima Paulo Castelo Branco, vice-presiente da Abimei.
JUROS PÓS-ELEIÇÕES
A SulAmérica Investimentos projeta que a taxa básica de juros, a Selic, deverá chegar a 13% em 2015.
O dado, que constará em um relatório que será divulgado hoje, foi calculado em uma reunião do comitê de investimentos da gestora.
Com um cenário de volatilidade em 2014 e com as expectativas sobre a inflação mostrando-se desalinhadas em relação ao centro da meta, o esforço da política monetária terá de ser maior, de acordo com a empresa.
Por causa da desvalorização cambial que deverá ocorrer neste ano, segundo a gestora, a elevação da Selic até 11,25% em 2014 não será suficiente, o que levará o Banco Central a iniciar um novo ciclo de alta em 2015.
As eleições de 2014 impedirão que esse aperto maior ocorra já neste ano, ainda segundo a SulAmérica.
A última alteração da taxa básica ocorreu no dia 15 de janeiro, quando o BC elevou a Selic em 0,50 ponto percentual, para 10,5% ao ano.
MUSCULATURA ECONÔMICA
A maioria dos brasileiros (61%) entrevistados pela Ipsos acredita que a economia vai se fortalecer nos próximos seis meses. A pesquisa foi conduzida em 24 países.
O número é quase o triplo da média geral (23%) e coloca o país no topo da lista.
Nas dez primeiras posições, estão outros emergentes e latino-americanos: Índia (46%), China (44%) e Argentina (37%).
Na comparação com o mês anterior, os argentinos perderam quatro pontos e os brasileiros, um.
Os franceses ocupam o último lugar, com 5%.
Dias ruins para quem nada nu - VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP - 28/01
Tumulto viaja por 'emergentes' e bate até nos EUA; pode passar hoje, mas ano terá mais sustos
"NÃO ESTÁ FÁCIL para ninguém", como se diz por aí. Dos "mercados emergentes" às Bolsas americanas, sobrou para todo mundo. Não tem sobrado é explicação em miúdos de mais esta rodada de tumulto na finança mundial.
A coisa parece ter sido detonada na semana passada por um indicador que antecipa os dados sobre a produção industrial chinesa, que teria encolhido, segundo um bancão. Se a China consome menos, o dinheiro fica curto para muito país "emergente" que vende para os chine- ses, em especial para os que já estão na extrema pindaíba, como a Argentina.
Mas essa andorinha, rumores chineses, aparece vez e outra e sozinha não faz um verão, um inverno e nem mesmo uma semana de tumulto. Decerto, claro, pânicos não têm lá muita explicação.
Sim, há vários países "emergentes" no bico do corvo. A Argentina vinha em estado crítico desde o início do mês. Outro país com contas externas no vermelho e, de resto, em crise política, a Turquia pisou na bola de sua política monetária.
Há a desgraça da Ucrânia. África do Sul e Indonésia estão passando mal, e o Brasil mesmo, o mais relevante de todos, não está lá muito bem, embora tenha meios de se defender e de sair desta. Países com escassez de dólares, políticas econômicas extravagantes e desordem política estão apanhando mais.
Sim, já havia um elefante na sala de 2014, a mudança na política econômica americana, que vai aspirar dólares do restante do mundo, deixando a vida mais cara e difícil, em especial nos emergentes com excesso de consumo (inflação e deficit externos altos). Um elefante e um dragão chinês, juntos na mesma sala, incomodam muito mais.
Seja lá qual for o motivo preciso do paniquito, o incômodo foi visível até no centro do império, nos EUA. Os donos do dinheiro grosso compraram títulos da dívida pública americana, colchão do mercado em dias de tumulto. Os juros americanos, que vinham em alta pelo menos desde o segundo trimestre do ano passado, caíram de modo relevante. As Bolsas americanas, ainda em euforia, caíram também.
Amanhã, mais essa rodada de tumulto pode ter passado, mas não se tratou de um raio em dia de céu azul. Como diz outro clichê, no entanto ilustrativo, quando a maré baixa é que a gente vê quem estava nadando pelado. A maré da abundância de dinheiro está baixando e expõe a nudez ou os trapos de muito país. De modo improvisado, o pessoal está tratando de se cobrir, evitar desvalorizações brutais, crises de financiamento externo, que no fim das contas levam países ao hospital do FMI.
O banco central da Turquia se reúne hoje, provavelmente para elevar as taxas de juros, o que não fizera outro dia, aumentando a desconfiança sobre suas contas externas, no vermelho. No seu método confuso típico, a Argentina procura acertar sua crise cambial, embora não saiba cuidar da inflação.
Em Londres, o presidente do Banco Central brasileiro, Alexandre Tombini, resumiu o problema: os emergentes vão ter de apertar suas políticas monetárias (aumentar a taxa de juros). Isto é, viver de dieta braba para não cair de cama. Enfim, vai custar ainda muito mais fazer bobagem econômica. Bom dia, presidenta.
Tumulto viaja por 'emergentes' e bate até nos EUA; pode passar hoje, mas ano terá mais sustos
"NÃO ESTÁ FÁCIL para ninguém", como se diz por aí. Dos "mercados emergentes" às Bolsas americanas, sobrou para todo mundo. Não tem sobrado é explicação em miúdos de mais esta rodada de tumulto na finança mundial.
A coisa parece ter sido detonada na semana passada por um indicador que antecipa os dados sobre a produção industrial chinesa, que teria encolhido, segundo um bancão. Se a China consome menos, o dinheiro fica curto para muito país "emergente" que vende para os chine- ses, em especial para os que já estão na extrema pindaíba, como a Argentina.
Mas essa andorinha, rumores chineses, aparece vez e outra e sozinha não faz um verão, um inverno e nem mesmo uma semana de tumulto. Decerto, claro, pânicos não têm lá muita explicação.
Sim, há vários países "emergentes" no bico do corvo. A Argentina vinha em estado crítico desde o início do mês. Outro país com contas externas no vermelho e, de resto, em crise política, a Turquia pisou na bola de sua política monetária.
Há a desgraça da Ucrânia. África do Sul e Indonésia estão passando mal, e o Brasil mesmo, o mais relevante de todos, não está lá muito bem, embora tenha meios de se defender e de sair desta. Países com escassez de dólares, políticas econômicas extravagantes e desordem política estão apanhando mais.
Sim, já havia um elefante na sala de 2014, a mudança na política econômica americana, que vai aspirar dólares do restante do mundo, deixando a vida mais cara e difícil, em especial nos emergentes com excesso de consumo (inflação e deficit externos altos). Um elefante e um dragão chinês, juntos na mesma sala, incomodam muito mais.
Seja lá qual for o motivo preciso do paniquito, o incômodo foi visível até no centro do império, nos EUA. Os donos do dinheiro grosso compraram títulos da dívida pública americana, colchão do mercado em dias de tumulto. Os juros americanos, que vinham em alta pelo menos desde o segundo trimestre do ano passado, caíram de modo relevante. As Bolsas americanas, ainda em euforia, caíram também.
Amanhã, mais essa rodada de tumulto pode ter passado, mas não se tratou de um raio em dia de céu azul. Como diz outro clichê, no entanto ilustrativo, quando a maré baixa é que a gente vê quem estava nadando pelado. A maré da abundância de dinheiro está baixando e expõe a nudez ou os trapos de muito país. De modo improvisado, o pessoal está tratando de se cobrir, evitar desvalorizações brutais, crises de financiamento externo, que no fim das contas levam países ao hospital do FMI.
O banco central da Turquia se reúne hoje, provavelmente para elevar as taxas de juros, o que não fizera outro dia, aumentando a desconfiança sobre suas contas externas, no vermelho. No seu método confuso típico, a Argentina procura acertar sua crise cambial, embora não saiba cuidar da inflação.
Em Londres, o presidente do Banco Central brasileiro, Alexandre Tombini, resumiu o problema: os emergentes vão ter de apertar suas políticas monetárias (aumentar a taxa de juros). Isto é, viver de dieta braba para não cair de cama. Enfim, vai custar ainda muito mais fazer bobagem econômica. Bom dia, presidenta.
Perda de peso - CELSO MING
O Estado de S.Paulo - 28/01
Embora confusa e sem foco, a flexibilização do controle das negociações com moeda estrangeira (cepo cambiário) na Argentina conteve, provisoriamente, a corrida ao dólar.
Mas é improvável que conserte a economia. A crise cambial não ocorreu porque o argentino precisou aumentar sua poupança familiar. Ocorreu porque falta confiança na política econômica e a moeda local está sendo rejeitada. O governo da Argentina se comporta como se o problema fosse de natureza cambial. Tudo indica que o vazamento do câmbio seja a manifestação de uma doença mais grave.
O principal problema é fiscal. O setor público não consegue arrecadar o suficiente para dar conta das despesas de seu programa populista e tem recorrido a emissões de moeda e à queima de reservas para cobrir despesas correntes. Há dois anos, as reservas eram de US$ 48 bilhões, o equivalente a 70,6% das importações anuais. Na semana passada, não passavam de US$ 29 bilhões, 39,2% das importações de 2013.
Ou seja, não basta liberalizar parcialmente o fluxo de moeda estrangeira para reduzir a corrida às casas de câmbio. Uma solução sustentável exige a estabilização das contas públicas. Para isso, será preciso impor sacrifícios à população, algo que o governo de Cristina Kirchner pretende evitar. De mais a mais, de que valeria redistribuir a conta sem um plano consistente de saneamento?
O primeiro foco imediato de incêndio está na praticamente inevitável escalada dos preços e dos salários. A desvalorização do peso diante do dólar, de 23,5% nos últimos três meses (veja o gráfico), deve provocar pressão sobre os preços internos. Não alcançará apenas os importados, agora mais caros em pesos. Cairá sobre os alimentos, que são cotados em dólares, especialmente o trigo e a carne. O primeiro obstáculo é o de que preços, salários e aposentadorias estão controlados e não há nenhuma indicação de como se dará a transferência da alta do dólar sobre os preços da economia.
O segundo foco imediato está nos juros. É muito difícil de obter estabilidade cambial sem forte alta dos juros, com o objetivo tanto de conter a inflação como de reestimular a poupança interna em pesos. Não é o dólar que precisa subir. É o peso que vale cada vez menos porque perdeu consistência. Reduzir a disponibilidade de pesos contribuiria para dar mais valor à moeda, mas seria preciso consertar muito mais. Toda a economia precisa de ajuste e não está claro que haja condições políticas para isso. O efeito colateral tende a ser uma recessão, o que implica perda de renda que, como sempre, prejudicaria as camadas da população menos defendidas. A verdadeira crise não é econômica; é política.
A desvalorização do peso, a eventual puxada nos juros e outras correções da economia tenderiam a derrubar as exportações de produtos manufaturados do Brasil para a Argentina. No ano passado, apesar das travas sobre importações baixadas pelo governo Kirchner, a Argentina comprou quase US$ 20 bilhões em produtos brasileiros, o correspondente a 8,1% das exportações totais (veja o Confira). Parte desse fluxo comercial, especialmente no setor de veículos e autopeças, corre riscos.
Embora confusa e sem foco, a flexibilização do controle das negociações com moeda estrangeira (cepo cambiário) na Argentina conteve, provisoriamente, a corrida ao dólar.
Mas é improvável que conserte a economia. A crise cambial não ocorreu porque o argentino precisou aumentar sua poupança familiar. Ocorreu porque falta confiança na política econômica e a moeda local está sendo rejeitada. O governo da Argentina se comporta como se o problema fosse de natureza cambial. Tudo indica que o vazamento do câmbio seja a manifestação de uma doença mais grave.
O principal problema é fiscal. O setor público não consegue arrecadar o suficiente para dar conta das despesas de seu programa populista e tem recorrido a emissões de moeda e à queima de reservas para cobrir despesas correntes. Há dois anos, as reservas eram de US$ 48 bilhões, o equivalente a 70,6% das importações anuais. Na semana passada, não passavam de US$ 29 bilhões, 39,2% das importações de 2013.
Ou seja, não basta liberalizar parcialmente o fluxo de moeda estrangeira para reduzir a corrida às casas de câmbio. Uma solução sustentável exige a estabilização das contas públicas. Para isso, será preciso impor sacrifícios à população, algo que o governo de Cristina Kirchner pretende evitar. De mais a mais, de que valeria redistribuir a conta sem um plano consistente de saneamento?
O primeiro foco imediato de incêndio está na praticamente inevitável escalada dos preços e dos salários. A desvalorização do peso diante do dólar, de 23,5% nos últimos três meses (veja o gráfico), deve provocar pressão sobre os preços internos. Não alcançará apenas os importados, agora mais caros em pesos. Cairá sobre os alimentos, que são cotados em dólares, especialmente o trigo e a carne. O primeiro obstáculo é o de que preços, salários e aposentadorias estão controlados e não há nenhuma indicação de como se dará a transferência da alta do dólar sobre os preços da economia.
O segundo foco imediato está nos juros. É muito difícil de obter estabilidade cambial sem forte alta dos juros, com o objetivo tanto de conter a inflação como de reestimular a poupança interna em pesos. Não é o dólar que precisa subir. É o peso que vale cada vez menos porque perdeu consistência. Reduzir a disponibilidade de pesos contribuiria para dar mais valor à moeda, mas seria preciso consertar muito mais. Toda a economia precisa de ajuste e não está claro que haja condições políticas para isso. O efeito colateral tende a ser uma recessão, o que implica perda de renda que, como sempre, prejudicaria as camadas da população menos defendidas. A verdadeira crise não é econômica; é política.
A desvalorização do peso, a eventual puxada nos juros e outras correções da economia tenderiam a derrubar as exportações de produtos manufaturados do Brasil para a Argentina. No ano passado, apesar das travas sobre importações baixadas pelo governo Kirchner, a Argentina comprou quase US$ 20 bilhões em produtos brasileiros, o correspondente a 8,1% das exportações totais (veja o Confira). Parte desse fluxo comercial, especialmente no setor de veículos e autopeças, corre riscos.
Vizinho em apuros - MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 28/01
O Brasil depende da Argentina e a crise do vizinho piorou. Vão para a Argentina 87,5% das nossas exportações de automóveis, 55% das autopeças, 56% dos veículos de carga, 58% dos tratores. O país é nosso terceiro maior parceiro comercial e 91% do que o Brasil vende são manufaturados. Como a crise cambial se agrava, a AEB, Associação do Comércio Exterior Brasileiro, está de olho no país vizinho.
José Augusto de Castro, da AEB, não descarta a possibilidade de déficit comercial, o que não acontece desde 2003. Ele acha que as exportações do Brasil para a Argentina tendem a cair no mínimo 10% este ano pelas restrições impostas pela crise cambial. Em 2013, o país teve superávit de US$ 3,2 bi com a Argentina, uma alta de 103% em relação a 2012. Só as exportações de automóveis somaram US$ 4,8 bi no ano passado, um aumento de 55% em relação a 2012.
— Mas este ano o cenário já está mudando. As exportações de material de transporte, excluindo plataformas de petróleo e aviões, estão em queda de mais de 10% nesse começo de janeiro, decorrente da redução nas vendas do setor automobilístico para a Argentina. Com o agravamento da crise cambial, a queda pode ficar mais acentuada — diz.
Essa é a mesma impressão em Buenos Aires. Para Dante Sica, ex-secretário da Indústria da Argentina e diretor da consultoria Abeceb, uma crise cambial no seu país tem o efeito de debilitar a demanda interna de bens importados, porque a desvalorização vai diminuir o poder aquisitivo da população.
— As importações de bens do Brasil serão afetadas, mas, de qualquer maneira, as compras externas argentinas já estão sendo contidas desde o início de 2012. Se houver recessão, as importações cairão ainda mais — diz Dante.
Castro, da AEB, alerta também que o produto argentino vai ficar mais barato para o Brasil. Com isso,
eles podem colocar mais vinho e leite no mercado brasileiro, por exemplo, a preços mais competitivos.
— É câmbio, não é dumping. A tendência na Argentina é que, com a desvalorização, a produção volte a ser estimulada. A desvalorização aumentará a competitividade — explica.
O país passou nos últimos dias por forte valorização da moeda americana, no oficial e paralelo. As autoridades tomaram medidas confusas, voltaram atrás, mas acabaram se fixando num sistema estranho. Permite-se a compra de dólar desde que a pessoa prove que ganha mais de dois salários mínimos. Como parte da procura por moeda estrangeira é para proteção contra a inflação, o governo está, na verdade, expondo os mais pobres aos efeitos perversos de uma alta de preços que já chega a 28%, quase o triplo do índice oficial. O país está com um nível baixíssimo de reservas: US$ 28 bilhões. O Brasil, para se ter uma ideia, tem US$ 376 bilhões.
Dante Sica acha que os efeitos da estratégia que o governo pôs em prática nas últimas horas pode ser o de elevar mais o dólar e a inflação. O efeito positivo de médio prazo será aumentar a exportação, o negativo seria elevar a dívida pública.
— O maior déficit fiscal se traduzirá em uma maior emissão para financiá-lo. Com isso, a pressão sobre o mercado cambial e sobre a inflação permanecerão.
Dante estima que a inflação de 2014 pode chegar a 30%, mas com viés de alta, após a recente valorização do dólar. Segundo ele, a inflação tem acelerado recentemente, puxada por alimentos, bebidas, combustíveis e transportes. E lembra ainda que nas próximas semanas começarão a ser negociados os aumentos salariais deste ano, outra fonte de pressão.
Ele acha boa a flexibilização da compra de dólares pelos argentinos, mas diz que é preciso se preparar para os efeitos colaterais da crise.
— A menos que o BC deixe o dólar flutuar livremente, o que não parece provável, esta medida, certamente, terá um impacto negativo sobre as reservas internacionais — diz.
O governo foi contraditório. Limitou as compras de dólares e depois flexibilizou. Próprio de uma política econômica sem estratégia para enfrentar a crise. Com isso, o dólar acumulava, até sexta-feira passada, uma alta de nada menos que 22,8% no ano e de 37,5% em um ano. O dólar paralelo, quase o dobro do valor do oficial, subiu 27,8% no ano e 52,2% comparado com o mesmo período de 2013. As reservas caíram quase 30% no ano passado e devem continuar encolhendo.
O Brasil depende da Argentina e a crise do vizinho piorou. Vão para a Argentina 87,5% das nossas exportações de automóveis, 55% das autopeças, 56% dos veículos de carga, 58% dos tratores. O país é nosso terceiro maior parceiro comercial e 91% do que o Brasil vende são manufaturados. Como a crise cambial se agrava, a AEB, Associação do Comércio Exterior Brasileiro, está de olho no país vizinho.
José Augusto de Castro, da AEB, não descarta a possibilidade de déficit comercial, o que não acontece desde 2003. Ele acha que as exportações do Brasil para a Argentina tendem a cair no mínimo 10% este ano pelas restrições impostas pela crise cambial. Em 2013, o país teve superávit de US$ 3,2 bi com a Argentina, uma alta de 103% em relação a 2012. Só as exportações de automóveis somaram US$ 4,8 bi no ano passado, um aumento de 55% em relação a 2012.
— Mas este ano o cenário já está mudando. As exportações de material de transporte, excluindo plataformas de petróleo e aviões, estão em queda de mais de 10% nesse começo de janeiro, decorrente da redução nas vendas do setor automobilístico para a Argentina. Com o agravamento da crise cambial, a queda pode ficar mais acentuada — diz.
Essa é a mesma impressão em Buenos Aires. Para Dante Sica, ex-secretário da Indústria da Argentina e diretor da consultoria Abeceb, uma crise cambial no seu país tem o efeito de debilitar a demanda interna de bens importados, porque a desvalorização vai diminuir o poder aquisitivo da população.
— As importações de bens do Brasil serão afetadas, mas, de qualquer maneira, as compras externas argentinas já estão sendo contidas desde o início de 2012. Se houver recessão, as importações cairão ainda mais — diz Dante.
Castro, da AEB, alerta também que o produto argentino vai ficar mais barato para o Brasil. Com isso,
eles podem colocar mais vinho e leite no mercado brasileiro, por exemplo, a preços mais competitivos.
— É câmbio, não é dumping. A tendência na Argentina é que, com a desvalorização, a produção volte a ser estimulada. A desvalorização aumentará a competitividade — explica.
O país passou nos últimos dias por forte valorização da moeda americana, no oficial e paralelo. As autoridades tomaram medidas confusas, voltaram atrás, mas acabaram se fixando num sistema estranho. Permite-se a compra de dólar desde que a pessoa prove que ganha mais de dois salários mínimos. Como parte da procura por moeda estrangeira é para proteção contra a inflação, o governo está, na verdade, expondo os mais pobres aos efeitos perversos de uma alta de preços que já chega a 28%, quase o triplo do índice oficial. O país está com um nível baixíssimo de reservas: US$ 28 bilhões. O Brasil, para se ter uma ideia, tem US$ 376 bilhões.
Dante Sica acha que os efeitos da estratégia que o governo pôs em prática nas últimas horas pode ser o de elevar mais o dólar e a inflação. O efeito positivo de médio prazo será aumentar a exportação, o negativo seria elevar a dívida pública.
— O maior déficit fiscal se traduzirá em uma maior emissão para financiá-lo. Com isso, a pressão sobre o mercado cambial e sobre a inflação permanecerão.
Dante estima que a inflação de 2014 pode chegar a 30%, mas com viés de alta, após a recente valorização do dólar. Segundo ele, a inflação tem acelerado recentemente, puxada por alimentos, bebidas, combustíveis e transportes. E lembra ainda que nas próximas semanas começarão a ser negociados os aumentos salariais deste ano, outra fonte de pressão.
Ele acha boa a flexibilização da compra de dólares pelos argentinos, mas diz que é preciso se preparar para os efeitos colaterais da crise.
— A menos que o BC deixe o dólar flutuar livremente, o que não parece provável, esta medida, certamente, terá um impacto negativo sobre as reservas internacionais — diz.
O governo foi contraditório. Limitou as compras de dólares e depois flexibilizou. Próprio de uma política econômica sem estratégia para enfrentar a crise. Com isso, o dólar acumulava, até sexta-feira passada, uma alta de nada menos que 22,8% no ano e de 37,5% em um ano. O dólar paralelo, quase o dobro do valor do oficial, subiu 27,8% no ano e 52,2% comparado com o mesmo período de 2013. As reservas caíram quase 30% no ano passado e devem continuar encolhendo.
Brasil precisa ficar rico antes de envelhecer - ANTONINHO MARMO TREVISAN
BRASIL ECONÔMICO - 28/01
A propalada crise da meia idade dos BRICS ( Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), tão comentada nos bastidores do Fórum Econômico Mundial 2014, em Davos, na Suíça, mais do que sensibilizar o senso de humor relativo às dificuldades dos emergentes em meio à crise mundial, deve suscitar uma reflexão importante: os Estados Unidos e as nações da Europa Ocidental enriqueceram antes de envelhecer. A frase é uma alusão ao fato de terem aproveitado muito bem o chamado bônus demográfico para atingir elevados patamares de renda e desenvolvimento.
Não fosse esse bônus (fase em que a maioria da população está na faixa economicamente ativa), a demorada crise mundial teria feito muito mais estragos em sua economia. Portanto, foram salvos a tempo, considerando as perspectivas mais recentes de que começam a emergir para um novo fluxo de crescimento, ainda que moderado.
Os BRICS, por sua vez, continuaram crescendo na crise porque souberam adotar medidas anticíclicas e também porque têm um grande potencial de expansão econômica. Somente o processo de inclusão social, como ocorreu no Brasil, que antecedeu ao crash de 2008 e se manteve nos anos seguintes, garantiu alguns pontos percentuais amais na variação anual do PIB. Além disso, nosso país vive exatamente o início de seu bônus demográfico, que deverá perdurar por duas décadas. Esse é um fator importante.
Precisamos aproveitar este raro momento da pirâmide populacional para nos tornar, como já ocorreu com norte-americanos e europeus, uma economia de renda elevada e uma nação desenvolvida. Não podemos, em hipótese alguma, desperdiçar tal oportunidade. Perdê-la significaria envelhecer sem enriquecer, e isso seria absolutamente desastroso. Assim, independentemente das vicissitudes dos demais BRICS, não podemos nos dar ao luxo, nem por brincadeira, de nos perder em questões filosóficas, dilemas existenciais e crises de identidade sobre os rumos de nossa economia. É preciso pôr a mão na massa e trabalhar muito, cumprindo a agenda do desenvolvimento.
E ela exige medidas pontuais, como a retomada do crédito, que anda escasso, depois de um período de ampla disponibilidade. Também é decisivo o estímulo ao investimento estrangeiro direto. O Brasil ainda é o oitavo colocado nesse ranking mundial, o que é louvável. Entretanto, já foi o sétimo, passando a perder posições, acentuadamente a partir do segundo semestre de 2013. Ou seja, o governo deve acenar ao mundo, com transparência, que está firme no propósito da responsabilidade fiscal, controle da inflação e segurança jurídica.
Esses são os fatores que mais têm aguçado o ceticismo dos investidores quanto às perspectivas de nosso país. Nem é mais confortável, pois se torna constrangedor, bater nas teclas, já desgastadas, das reformas estruturais, que teimosamente seguem esquecidas em quase três décadas. Porém, não podemos ignorar a necessidade de um choque de produtividade, inovação e competitividade, sem o qual subaproveitaremos o nosso abençoado bônus demográfico.
Fizemos muita coisa certa neste século 21, principalmente a criação de um expressivo mercado consumidor, por meio da ascensão socioeconômica de aproximadamente 50 milhões de pessoas. Qualquer retrocesso poderá conduzir o país a um destino de envelhecimento sem riquezas, equação letal para o futuro.
A propalada crise da meia idade dos BRICS ( Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), tão comentada nos bastidores do Fórum Econômico Mundial 2014, em Davos, na Suíça, mais do que sensibilizar o senso de humor relativo às dificuldades dos emergentes em meio à crise mundial, deve suscitar uma reflexão importante: os Estados Unidos e as nações da Europa Ocidental enriqueceram antes de envelhecer. A frase é uma alusão ao fato de terem aproveitado muito bem o chamado bônus demográfico para atingir elevados patamares de renda e desenvolvimento.
Não fosse esse bônus (fase em que a maioria da população está na faixa economicamente ativa), a demorada crise mundial teria feito muito mais estragos em sua economia. Portanto, foram salvos a tempo, considerando as perspectivas mais recentes de que começam a emergir para um novo fluxo de crescimento, ainda que moderado.
Os BRICS, por sua vez, continuaram crescendo na crise porque souberam adotar medidas anticíclicas e também porque têm um grande potencial de expansão econômica. Somente o processo de inclusão social, como ocorreu no Brasil, que antecedeu ao crash de 2008 e se manteve nos anos seguintes, garantiu alguns pontos percentuais amais na variação anual do PIB. Além disso, nosso país vive exatamente o início de seu bônus demográfico, que deverá perdurar por duas décadas. Esse é um fator importante.
Precisamos aproveitar este raro momento da pirâmide populacional para nos tornar, como já ocorreu com norte-americanos e europeus, uma economia de renda elevada e uma nação desenvolvida. Não podemos, em hipótese alguma, desperdiçar tal oportunidade. Perdê-la significaria envelhecer sem enriquecer, e isso seria absolutamente desastroso. Assim, independentemente das vicissitudes dos demais BRICS, não podemos nos dar ao luxo, nem por brincadeira, de nos perder em questões filosóficas, dilemas existenciais e crises de identidade sobre os rumos de nossa economia. É preciso pôr a mão na massa e trabalhar muito, cumprindo a agenda do desenvolvimento.
E ela exige medidas pontuais, como a retomada do crédito, que anda escasso, depois de um período de ampla disponibilidade. Também é decisivo o estímulo ao investimento estrangeiro direto. O Brasil ainda é o oitavo colocado nesse ranking mundial, o que é louvável. Entretanto, já foi o sétimo, passando a perder posições, acentuadamente a partir do segundo semestre de 2013. Ou seja, o governo deve acenar ao mundo, com transparência, que está firme no propósito da responsabilidade fiscal, controle da inflação e segurança jurídica.
Esses são os fatores que mais têm aguçado o ceticismo dos investidores quanto às perspectivas de nosso país. Nem é mais confortável, pois se torna constrangedor, bater nas teclas, já desgastadas, das reformas estruturais, que teimosamente seguem esquecidas em quase três décadas. Porém, não podemos ignorar a necessidade de um choque de produtividade, inovação e competitividade, sem o qual subaproveitaremos o nosso abençoado bônus demográfico.
Fizemos muita coisa certa neste século 21, principalmente a criação de um expressivo mercado consumidor, por meio da ascensão socioeconômica de aproximadamente 50 milhões de pessoas. Qualquer retrocesso poderá conduzir o país a um destino de envelhecimento sem riquezas, equação letal para o futuro.
Zona de risco - JOSÉ PAULO KUPFER
O Estado de S.Paulo - 28/01
Assim como em outros indicadores econômicos, que registraram resultados piores em 2013, a impressionante deterioração das contas externas no ano passado parece ter influenciado, negativamente, as projeções para 2014. Até mesmo o Banco Central está projetando um desempenho não muito animador nas relações da economia brasileira com o resto do mundo.
O melhor a se esperar, para 2014, supondo a confirmação das previsões do momento, é que as perdas sejam estancadas e os números do setor externo permaneçam em área de desconforto. Nas projeções do Banco Central, por exemplo, o déficit em transações correntes, que bateu em 3,7% do PIB no fechamento de 2013, se mantém na zona de risco, alcançando 3,5% do PIB. O mercado, de acordo com a pesquisa Focus, não vai tão longe, mas ainda assim prevê um déficit externo equivalente a 3,3% do PIB.
É um quadro bem mais estressado do que o existente antes do fechamento de 2012. Embora os sinais de dificuldades começassem a se acumular em 2008, a partir da eclosão da atual grande crise global, até um ano atrás os limites de segurança estavam longe de serem testados. Em 2013, no entanto, mesmo com alguma desvalorização do real, a casa caiu e o setor externo desceu ladeira abaixo em ritmo acelerado.
A balança comercial registrou o menor saldo desde 2000 e ainda assim só foi obtido no último mês do ano, depois de manobras contábeis, que transformaram plataformas de petróleo que nunca saíram de onde estavam em produtos de exportação. O mau desempenho da balança comercial explica o forte avanço do déficit em transações correntes, que aumentou 50% sobre 2012 e foi do equivalente a 2,4% do PIB para 3,7% do PIB num único ano. Os demais componentes das transações correntes - serviços e rendas -, normalmente deficitários, acrescentaram ao déficit, em relação aos valores costumeiros, não mais de 10% cada um.
Com o salto negativo das transações correntes, o volume de Investimento Externo Direto (IED), pela primeira vez desde 2001, não foi suficiente para cobrir a totalidade do déficit. O total de recursos ao País não mudou em relação aos anos anteriores, mas com o aumento da necessidade de cobertura, o IED cobriu 80% do déficit. Dívidas e ativos financeiros completaram os 20% que faltaram, com destaque para as aplicações em renda fixa, que aumentaram cinco vezes no ano.
Além de insuficiente, o IED, em 2013, mostrou uma composição menos favorável, com recuo nos recursos dirigidos a participações no capital - o investimento direto propriamente dito - e um pulo no item "empréstimos intercompanhias", que contabiliza os recursos transferidos de matrizes de empresas no exterior a suas subsidiárias no Brasil. Historicamente, os empréstimos intercompanhias representam cerca de 20% do IED, mas, em 2013, sua participação elevou-se a 35%.
A perspectiva de uma estagnação das transações correntes, em 2014, nos níveis mais preocupantes de 2013, se sustenta em estimativas de uma modesta recuperação da balança comercial. O Banco Central projeta um saldo positivo de US$ 10 bilhões e o mercado aposta em números 20% menores. Mas há quem, mesmo concordando que a taxa de câmbio pode ir a R$ 2,50 por dólar, considera tais projeções muito otimistas. Janeiro, com um déficit na casa dos US$ 5 bilhões, levará água para esse moinho.
Previsões para a balança comercial, em todo caso, devem ser tomadas com o máximo de cautela. Elas estão entre as tradicionalmente mais sujeitas a chuvas e trovoadas. Se, no começo de 2012, os analistas previram o saldo comercial próximo de US$ 20 bilhões efetivamente registrado, erraram feio nos dois anos anteriores. Em 2010 e 2011, por exemplo, para ficar em casos mais recentes, os números reais foram, respectivamente, 80% e 240% maiores do que as previsões do começo do ano.
Assim como em outros indicadores econômicos, que registraram resultados piores em 2013, a impressionante deterioração das contas externas no ano passado parece ter influenciado, negativamente, as projeções para 2014. Até mesmo o Banco Central está projetando um desempenho não muito animador nas relações da economia brasileira com o resto do mundo.
O melhor a se esperar, para 2014, supondo a confirmação das previsões do momento, é que as perdas sejam estancadas e os números do setor externo permaneçam em área de desconforto. Nas projeções do Banco Central, por exemplo, o déficit em transações correntes, que bateu em 3,7% do PIB no fechamento de 2013, se mantém na zona de risco, alcançando 3,5% do PIB. O mercado, de acordo com a pesquisa Focus, não vai tão longe, mas ainda assim prevê um déficit externo equivalente a 3,3% do PIB.
É um quadro bem mais estressado do que o existente antes do fechamento de 2012. Embora os sinais de dificuldades começassem a se acumular em 2008, a partir da eclosão da atual grande crise global, até um ano atrás os limites de segurança estavam longe de serem testados. Em 2013, no entanto, mesmo com alguma desvalorização do real, a casa caiu e o setor externo desceu ladeira abaixo em ritmo acelerado.
A balança comercial registrou o menor saldo desde 2000 e ainda assim só foi obtido no último mês do ano, depois de manobras contábeis, que transformaram plataformas de petróleo que nunca saíram de onde estavam em produtos de exportação. O mau desempenho da balança comercial explica o forte avanço do déficit em transações correntes, que aumentou 50% sobre 2012 e foi do equivalente a 2,4% do PIB para 3,7% do PIB num único ano. Os demais componentes das transações correntes - serviços e rendas -, normalmente deficitários, acrescentaram ao déficit, em relação aos valores costumeiros, não mais de 10% cada um.
Com o salto negativo das transações correntes, o volume de Investimento Externo Direto (IED), pela primeira vez desde 2001, não foi suficiente para cobrir a totalidade do déficit. O total de recursos ao País não mudou em relação aos anos anteriores, mas com o aumento da necessidade de cobertura, o IED cobriu 80% do déficit. Dívidas e ativos financeiros completaram os 20% que faltaram, com destaque para as aplicações em renda fixa, que aumentaram cinco vezes no ano.
Além de insuficiente, o IED, em 2013, mostrou uma composição menos favorável, com recuo nos recursos dirigidos a participações no capital - o investimento direto propriamente dito - e um pulo no item "empréstimos intercompanhias", que contabiliza os recursos transferidos de matrizes de empresas no exterior a suas subsidiárias no Brasil. Historicamente, os empréstimos intercompanhias representam cerca de 20% do IED, mas, em 2013, sua participação elevou-se a 35%.
A perspectiva de uma estagnação das transações correntes, em 2014, nos níveis mais preocupantes de 2013, se sustenta em estimativas de uma modesta recuperação da balança comercial. O Banco Central projeta um saldo positivo de US$ 10 bilhões e o mercado aposta em números 20% menores. Mas há quem, mesmo concordando que a taxa de câmbio pode ir a R$ 2,50 por dólar, considera tais projeções muito otimistas. Janeiro, com um déficit na casa dos US$ 5 bilhões, levará água para esse moinho.
Previsões para a balança comercial, em todo caso, devem ser tomadas com o máximo de cautela. Elas estão entre as tradicionalmente mais sujeitas a chuvas e trovoadas. Se, no começo de 2012, os analistas previram o saldo comercial próximo de US$ 20 bilhões efetivamente registrado, erraram feio nos dois anos anteriores. Em 2010 e 2011, por exemplo, para ficar em casos mais recentes, os números reais foram, respectivamente, 80% e 240% maiores do que as previsões do começo do ano.
Animal esquisito... - ANTÔNIO DELFIM NETO
VALOR ECONÔMICO - 28/01
Quando se olha a economia brasileira comparando-a com o resto do mundo, saltam à vista dois fatos intrigantes e, francamente, preocupantes. Sugerem uma disfuncionalidade muito séria - iniciada com a Constituição de 1988 -, que sobreviveu porque os poderes incumbentes (Sarney, Collor, Itamar, Fernando Henrique, Lula e Dilma) nunca enfrentaram seriamente a mudança fiscal que compatibilize os recursos finitos de que dispomos para atender ao processo civilizatório que nos propomos: um aumento continuado da igualdade de oportunidade para todo o cidadão, independentemente de sua origem, cor ou credo.
Sem dúvida tivemos um pouco mais de sucesso do que outros países emergentes na integração social e na redução das desigualdades, mas à custa de uma herança difícil de carregar. Os sinais vitais do Brasil parecem indicar uma sociedade madura ( avançada ) incompatível com a nossa renda per capita.
O gráfico 1, abaixo, mostra isso com clareza. O consumo do governo em 2000 estava junto à média dos países desenvolvidos e em 2011 ligeiramente acima, muito longe dos países emergentes. O nível de investimento público do Brasil é inferior à média dos desenvolvidos e muito menor do que o dos emergentes. Um animal esquisito, cujo fenótipo sugere um país avançado , mas cujo genótipo é emergente ...
A explicação mais plausível para tal curiosidade é dada pelo gráfico 2, onde se vê a brutalidade da rigidez orçamentária imposta pelo equivocado sistema de fixar gastos setoriais como porcentagem do Orçamento ou vinculados ao PIB, técnica com a qual cada corporação marca o seu gado para proteger-se de uma possível boa gestão do poder incumbente.
O problema orçamentário brasileiro é de tal monta, que nada menos do que um Orçamento de base zero será necessário para rever os milhares de programas que subsistem só por inércia histórica, corrigir os desperdícios que se eternizam pela acomodação natural dos mecanismos de controle e superar a prevalência de interesses paroquiais.
A grande oportunidade de fazer-se o aperfeiçoamento do sistema de receita e despesa do governo foi perdida no momento político de alto sucesso do brilhante plano de estabilização de 1994/95 (Itamar-FHC). E não foi por falta de insistência dos seus economistas! A rigidez orçamentária voltada às despesas de consumo do governo, a política de combate à inflação apoiada na valorização nominal do real e a exagerada pressão distributivista produziram uma valorização do câmbio real (a maior do mundo entre 2002-12) que subtraiu US$ 320 bilhões da demanda do nosso setor industrial no período.
A relação entre a política fiscal (qualidade dos gastos; consumo ou investimento) e a taxa de câmbio real é um problema controverso entre os economistas. O FMI acaba de divulgar um trabalho sobre o assunto com atenção especial ao Brasil, escrito por Badia e Segura-Ubiergo, que vale a pena ler pelo reconhecimento das dificuldades (teóricas e empíricas) do problema e pelo pragmatismo das recomendações. Dele foi extraído o gráfico
Como aperitivo transcrevemos uma das conclusões do trabalho: A política fiscal pode ter efeitos substanciais sobre a taxa de câmbio real efetiva nos mercados emergentes, operando, provavelmente, através de dois canais inter-relacionados. Primeiro, o aumento na poupança pública (isto é, um resultado fiscal estrutural mais robusto) pode reduzir a apreciação real da taxa de câmbio no longo prazo e, portanto, pode ser um importante instrumento para garantir maior competitividade. Segundo, a estrutura do gasto governamental importa. Os aumentos no investimento público levam, também, à redução das pressões de apreciação cambial. Esse último resultado tem importantes implicações para o Brasil, uma vez que o gasto corrente representa cerca de 90% do gasto total. Em particular, o artigo revela que há escopo para a melhora da composição do gasto público de forma a criar mais espaço para o investimento público. Uma ressalva importante, no entanto, é que ambos os canais têm aproximadamente o mesmo impacto sobre o câmbio real efetivo. Isso significa, na prática, que aumentos no investimento público que não forem acompanhados de medidas equivalentes de redução do gasto público corrente, provavelmente, terão pouco efeito sobre a taxa de câmbio real efetiva.
Bom apetite!
Quando se olha a economia brasileira comparando-a com o resto do mundo, saltam à vista dois fatos intrigantes e, francamente, preocupantes. Sugerem uma disfuncionalidade muito séria - iniciada com a Constituição de 1988 -, que sobreviveu porque os poderes incumbentes (Sarney, Collor, Itamar, Fernando Henrique, Lula e Dilma) nunca enfrentaram seriamente a mudança fiscal que compatibilize os recursos finitos de que dispomos para atender ao processo civilizatório que nos propomos: um aumento continuado da igualdade de oportunidade para todo o cidadão, independentemente de sua origem, cor ou credo.
Sem dúvida tivemos um pouco mais de sucesso do que outros países emergentes na integração social e na redução das desigualdades, mas à custa de uma herança difícil de carregar. Os sinais vitais do Brasil parecem indicar uma sociedade madura ( avançada ) incompatível com a nossa renda per capita.
O gráfico 1, abaixo, mostra isso com clareza. O consumo do governo em 2000 estava junto à média dos países desenvolvidos e em 2011 ligeiramente acima, muito longe dos países emergentes. O nível de investimento público do Brasil é inferior à média dos desenvolvidos e muito menor do que o dos emergentes. Um animal esquisito, cujo fenótipo sugere um país avançado , mas cujo genótipo é emergente ...
A explicação mais plausível para tal curiosidade é dada pelo gráfico 2, onde se vê a brutalidade da rigidez orçamentária imposta pelo equivocado sistema de fixar gastos setoriais como porcentagem do Orçamento ou vinculados ao PIB, técnica com a qual cada corporação marca o seu gado para proteger-se de uma possível boa gestão do poder incumbente.
O problema orçamentário brasileiro é de tal monta, que nada menos do que um Orçamento de base zero será necessário para rever os milhares de programas que subsistem só por inércia histórica, corrigir os desperdícios que se eternizam pela acomodação natural dos mecanismos de controle e superar a prevalência de interesses paroquiais.
A grande oportunidade de fazer-se o aperfeiçoamento do sistema de receita e despesa do governo foi perdida no momento político de alto sucesso do brilhante plano de estabilização de 1994/95 (Itamar-FHC). E não foi por falta de insistência dos seus economistas! A rigidez orçamentária voltada às despesas de consumo do governo, a política de combate à inflação apoiada na valorização nominal do real e a exagerada pressão distributivista produziram uma valorização do câmbio real (a maior do mundo entre 2002-12) que subtraiu US$ 320 bilhões da demanda do nosso setor industrial no período.
A relação entre a política fiscal (qualidade dos gastos; consumo ou investimento) e a taxa de câmbio real é um problema controverso entre os economistas. O FMI acaba de divulgar um trabalho sobre o assunto com atenção especial ao Brasil, escrito por Badia e Segura-Ubiergo, que vale a pena ler pelo reconhecimento das dificuldades (teóricas e empíricas) do problema e pelo pragmatismo das recomendações. Dele foi extraído o gráfico
Como aperitivo transcrevemos uma das conclusões do trabalho: A política fiscal pode ter efeitos substanciais sobre a taxa de câmbio real efetiva nos mercados emergentes, operando, provavelmente, através de dois canais inter-relacionados. Primeiro, o aumento na poupança pública (isto é, um resultado fiscal estrutural mais robusto) pode reduzir a apreciação real da taxa de câmbio no longo prazo e, portanto, pode ser um importante instrumento para garantir maior competitividade. Segundo, a estrutura do gasto governamental importa. Os aumentos no investimento público levam, também, à redução das pressões de apreciação cambial. Esse último resultado tem importantes implicações para o Brasil, uma vez que o gasto corrente representa cerca de 90% do gasto total. Em particular, o artigo revela que há escopo para a melhora da composição do gasto público de forma a criar mais espaço para o investimento público. Uma ressalva importante, no entanto, é que ambos os canais têm aproximadamente o mesmo impacto sobre o câmbio real efetivo. Isso significa, na prática, que aumentos no investimento público que não forem acompanhados de medidas equivalentes de redução do gasto público corrente, provavelmente, terão pouco efeito sobre a taxa de câmbio real efetiva.
Bom apetite!
Os pontos cruciais para o G20 - TONY ABBOTT
FOLHA DE SP - 28/01
Seria um grande passo se os líderes dos países que geram 85% do PIB mundial concordassem com uma cobrança de impostos justa
Apesar da lenta recuperação da crise financeira global, o mundo está em uma situação melhor do que frequentemente imaginamos.
Nos Estados Unidos, o crescimento econômico tende a aumentar quase 3% em 2014. Na China, o crescimento tem sido moderado, mas deve se manter acima de 7%. Até mesmo a zona do euro está crescendo.
Sabemos que a recuperação ainda é frágil, mas este início de ano nos traz otimismo.
A renda per capita no mundo cresceu mais de 60% na última década e prevê-se que a classe média mundial cresça de 1,8 bilhão para 3,2 bilhões de pessoas em dez anos. Em países populosos como China, Índia e Indonésia, muitas centenas de milhões de pessoas saíram da pobreza.
Esses índices resultam de nossa forma de pensar: a convicção de que um comércio livre e governos menores fortalecerão a prosperidade; o instinto de que os cidadãos com os meios adequados podem fazer mais por eles mesmos do que qualquer governo. O progresso real é construído sempre com base em fundamentos claros. Você não pode gastar o que não ganhou; nenhum país até hoje tributou ou subsidiou o seu caminho até a prosperidade; você não resolve débitos contraindo mais débitos; lucro não é uma palavra ruim --ao contrário, o sucesso é motivo de orgulho.
Neste ano, como presidente do G20 (grupo das grandes potências globais), a Austrália se encontra em uma posição única na promoção do crescimento global. Nossa agenda focará os assuntos que extrapolam a competência dos Estados, nos quais a ação coordenada internacional pode agregar valor.
Como sempre, o comércio vem em primeiro lugar. O G20 deverá, minimamente, renovar a sua determinação contra o protecionismo. Cada país deverá se comprometer com a liberalização do comércio bilateral, plurilateral e multilateral e com reformas domésticas que auxiliem as empresas nesse sentido.
Um efeito colateral da globalização é a maior capacidade de se aproveitar de diferentes regimes de tributação. O G20 lidará com a problemática que envolve as empresas que buscam se beneficiar das oportunidades provenientes dos impostos e não daquelas advindas do mercado. O princípio a ser seguido é que se deve pagar impostos no país em que se obtém a receita.
Seria um grande passo se os líderes dos países que geram 85% do PIB mundial concordassem com os princípios necessários para que a cobrança de impostos seja justa. Espero ter uma discussão franca no G20 sobre questões como a digitalização e suas implicações nos impostos, no comércio e na integração global.
Quase todos os países têm uma infraestrutura deficitária e estão lutando para conseguir financiar o seu aprimoramento. A Organização para Cooperação Econômica e Desenvolvimento (OCDE) estima que mais de U$ 50 trilhões em investimentos serão necessários até 2030.
Deveria ser mais fácil conseguir que os projetos fossem iniciados. Precisamos atrair capital privado com políticas sensatas de preços e práticas regulatórias melhores. Pretendo reunir-me com os "policy makers", financiadores e construtores para identificar caminhos práticos para aumentar o financiamento a longo prazo em infraestrutura.
O G20 assumiu a sua forma atual em resposta à crise desencadeada por práticas financeiras ruins. Trabalhamos pela resiliência do sistema financeiro, ou seja, procuramos ajudar a prevenir e gerenciar a falha de instituições financeiras importantes, tornar os mercados derivados mais seguros e melhorar a fiscalização do sistema bancário paralelo.
A regulação do sistema financeiro será sempre um trabalho em curso. O desafio para as autoridades é se manter a par do desenvolvimento e não se deixar ser ultrapassada por ele, como ocorrido antes da crise. Até onde cabe à Austrália, a tarefa do G20 será facilitar a vida das pessoas. O G20 não é sobre nós, que estamos no governo, mas sim sobre os cidadãos, nossos mestres.
Seria um grande passo se os líderes dos países que geram 85% do PIB mundial concordassem com uma cobrança de impostos justa
Apesar da lenta recuperação da crise financeira global, o mundo está em uma situação melhor do que frequentemente imaginamos.
Nos Estados Unidos, o crescimento econômico tende a aumentar quase 3% em 2014. Na China, o crescimento tem sido moderado, mas deve se manter acima de 7%. Até mesmo a zona do euro está crescendo.
Sabemos que a recuperação ainda é frágil, mas este início de ano nos traz otimismo.
A renda per capita no mundo cresceu mais de 60% na última década e prevê-se que a classe média mundial cresça de 1,8 bilhão para 3,2 bilhões de pessoas em dez anos. Em países populosos como China, Índia e Indonésia, muitas centenas de milhões de pessoas saíram da pobreza.
Esses índices resultam de nossa forma de pensar: a convicção de que um comércio livre e governos menores fortalecerão a prosperidade; o instinto de que os cidadãos com os meios adequados podem fazer mais por eles mesmos do que qualquer governo. O progresso real é construído sempre com base em fundamentos claros. Você não pode gastar o que não ganhou; nenhum país até hoje tributou ou subsidiou o seu caminho até a prosperidade; você não resolve débitos contraindo mais débitos; lucro não é uma palavra ruim --ao contrário, o sucesso é motivo de orgulho.
Neste ano, como presidente do G20 (grupo das grandes potências globais), a Austrália se encontra em uma posição única na promoção do crescimento global. Nossa agenda focará os assuntos que extrapolam a competência dos Estados, nos quais a ação coordenada internacional pode agregar valor.
Como sempre, o comércio vem em primeiro lugar. O G20 deverá, minimamente, renovar a sua determinação contra o protecionismo. Cada país deverá se comprometer com a liberalização do comércio bilateral, plurilateral e multilateral e com reformas domésticas que auxiliem as empresas nesse sentido.
Um efeito colateral da globalização é a maior capacidade de se aproveitar de diferentes regimes de tributação. O G20 lidará com a problemática que envolve as empresas que buscam se beneficiar das oportunidades provenientes dos impostos e não daquelas advindas do mercado. O princípio a ser seguido é que se deve pagar impostos no país em que se obtém a receita.
Seria um grande passo se os líderes dos países que geram 85% do PIB mundial concordassem com os princípios necessários para que a cobrança de impostos seja justa. Espero ter uma discussão franca no G20 sobre questões como a digitalização e suas implicações nos impostos, no comércio e na integração global.
Quase todos os países têm uma infraestrutura deficitária e estão lutando para conseguir financiar o seu aprimoramento. A Organização para Cooperação Econômica e Desenvolvimento (OCDE) estima que mais de U$ 50 trilhões em investimentos serão necessários até 2030.
Deveria ser mais fácil conseguir que os projetos fossem iniciados. Precisamos atrair capital privado com políticas sensatas de preços e práticas regulatórias melhores. Pretendo reunir-me com os "policy makers", financiadores e construtores para identificar caminhos práticos para aumentar o financiamento a longo prazo em infraestrutura.
O G20 assumiu a sua forma atual em resposta à crise desencadeada por práticas financeiras ruins. Trabalhamos pela resiliência do sistema financeiro, ou seja, procuramos ajudar a prevenir e gerenciar a falha de instituições financeiras importantes, tornar os mercados derivados mais seguros e melhorar a fiscalização do sistema bancário paralelo.
A regulação do sistema financeiro será sempre um trabalho em curso. O desafio para as autoridades é se manter a par do desenvolvimento e não se deixar ser ultrapassada por ele, como ocorrido antes da crise. Até onde cabe à Austrália, a tarefa do G20 será facilitar a vida das pessoas. O G20 não é sobre nós, que estamos no governo, mas sim sobre os cidadãos, nossos mestres.
Delícias do poder - JOSÉ CASADO
O GLOBO - 28/01
Gastos com luxo e mordomias nas viagens de Dilma Rousseff são encobertos pelo manto do sigilo, em nome da ‘segurança nacional’
Varandas privadas oferecem uma panorâmica com o casario à beira do Tejo, o Castelo de São Jorge, erguido por D. João I em homenagem ao padroeiro de cavaleiros e cruzadas, e a alameda relvada do parque Eduardo VII, imaginada na prancha de racionalismo do arquiteto Francisco Keil do Amaral durante a ditadura salazarista.
Mármore e mogno separam ambientes em duas centenas de metros quadrados, até o banheiro privado com hidromassagem. O elegante mobiliário da coleção Espírito Santo, as tapeçarias Portoalegre criadas por Calvet e António, e os cabides de seda acolchoados nos armários, entre outros detalhes, completam a sedução da suíte em que se abrigou Dilma Rousseff por uma noite em Lisboa, sábado passado.
Foi uma “escala técnica obrigatória”, justificou a Presidência. Na versão oficial, Dilma optou pelo majestoso Ritz, inaugurado há 54 anos pelo Rei Humberto de Itália e os príncipes de Saboia, porque o prédio do século XVII onde funciona a embaixada brasileira não podia receber a comitiva de três dezenas de assessores. A diária na tabela do hotel é de R$ 26 mil, anotou o repórter Jamil Chade. Equivale a 36 salários mínimos.
Talvez esse valor não seja excessivo, se comparado a algumas outras despesas da presidente. Em Paris, em dezembro de 2012, o governo gastou R$ 30 mil (41 salários mínimos) apenas com a instalação de linha telefônica na suíte de Dilma e no quarto do seu ajudante de ordens. Essa conta não inclui o serviço de telefonia.
Aparentemente, as escalas (“técnicas e obrigatórias”) mais caras foram as da viagem presidencial à China, em abril de 2011. Na ida, Dilma passou 24 horas em Atenas. Custou R$ 244 mil (344 salários mínimos) — ou seja, mais de R$ 9 mil por hora. Na volta, parou em Praga. Gastou R$ 75 mil (103 salários mínimos). Oito meses depois, em dezembro, ela esteve em Cannes para uma reunião de chefes de Estado do grupo dos 20 países mais desenvolvidos. Ao partir, um diplomata pediu recibo do pagamento de R$ 4.500 (mais de seis salários mínimos) em fotocópias.
Em março do ano passado Dilma foi à missa no Vaticano, a primeira celebrada pelo Papa Francisco. Preferiu hotel à estadia na embaixada brasileira, instalada no Palácio Pamphili, de 363 anos. Pagou-se R$ 204 mil (282 salários mínimos) pelo aluguel de 30 veículos da Rome Vip Limousine. O conta total da viagem beirou meio milhão de reais. Em seguida ela foi a Caracas, para o cerimonial fúnebre de Hugo Chávez. A volta a Brasília no jato presidencial teve um bufê Meliá faturado em R$ 7 mil (9,6 salários mínimos).
A Presidência mantém um contrato de R$ 1,9 milhão (2.600 salários mínimos) para serviço de bordo dos seus aviões, informa a ONG Contas Abertas. Neste mês recebeu aditivo de R$ 160 mil (220 salários mínimos). O cardápio da RA Catering inclui canapês de camarão e caviar, coelho assado, rã e pato, entre outros itens.
Diante dos gastos de R$ 11 milhões (15 mil salários mínimos) em 35 viagens entre 2011 e 2012, o Itamaraty recebeu ordens para resguardar como confidenciais todas as despesas de Dilma e assessores, como registrou o repórter Vitor Sorano. Duas semanas atrás, a Presidência reafirmou a classificação.
E, assim, o 29º ano da redemocratização começou com as delícias do poder encobertas pelo manto do sigilo. Como sempre, em nome da “segurança nacional”.
Gastos com luxo e mordomias nas viagens de Dilma Rousseff são encobertos pelo manto do sigilo, em nome da ‘segurança nacional’
Varandas privadas oferecem uma panorâmica com o casario à beira do Tejo, o Castelo de São Jorge, erguido por D. João I em homenagem ao padroeiro de cavaleiros e cruzadas, e a alameda relvada do parque Eduardo VII, imaginada na prancha de racionalismo do arquiteto Francisco Keil do Amaral durante a ditadura salazarista.
Mármore e mogno separam ambientes em duas centenas de metros quadrados, até o banheiro privado com hidromassagem. O elegante mobiliário da coleção Espírito Santo, as tapeçarias Portoalegre criadas por Calvet e António, e os cabides de seda acolchoados nos armários, entre outros detalhes, completam a sedução da suíte em que se abrigou Dilma Rousseff por uma noite em Lisboa, sábado passado.
Foi uma “escala técnica obrigatória”, justificou a Presidência. Na versão oficial, Dilma optou pelo majestoso Ritz, inaugurado há 54 anos pelo Rei Humberto de Itália e os príncipes de Saboia, porque o prédio do século XVII onde funciona a embaixada brasileira não podia receber a comitiva de três dezenas de assessores. A diária na tabela do hotel é de R$ 26 mil, anotou o repórter Jamil Chade. Equivale a 36 salários mínimos.
Talvez esse valor não seja excessivo, se comparado a algumas outras despesas da presidente. Em Paris, em dezembro de 2012, o governo gastou R$ 30 mil (41 salários mínimos) apenas com a instalação de linha telefônica na suíte de Dilma e no quarto do seu ajudante de ordens. Essa conta não inclui o serviço de telefonia.
Aparentemente, as escalas (“técnicas e obrigatórias”) mais caras foram as da viagem presidencial à China, em abril de 2011. Na ida, Dilma passou 24 horas em Atenas. Custou R$ 244 mil (344 salários mínimos) — ou seja, mais de R$ 9 mil por hora. Na volta, parou em Praga. Gastou R$ 75 mil (103 salários mínimos). Oito meses depois, em dezembro, ela esteve em Cannes para uma reunião de chefes de Estado do grupo dos 20 países mais desenvolvidos. Ao partir, um diplomata pediu recibo do pagamento de R$ 4.500 (mais de seis salários mínimos) em fotocópias.
Em março do ano passado Dilma foi à missa no Vaticano, a primeira celebrada pelo Papa Francisco. Preferiu hotel à estadia na embaixada brasileira, instalada no Palácio Pamphili, de 363 anos. Pagou-se R$ 204 mil (282 salários mínimos) pelo aluguel de 30 veículos da Rome Vip Limousine. O conta total da viagem beirou meio milhão de reais. Em seguida ela foi a Caracas, para o cerimonial fúnebre de Hugo Chávez. A volta a Brasília no jato presidencial teve um bufê Meliá faturado em R$ 7 mil (9,6 salários mínimos).
A Presidência mantém um contrato de R$ 1,9 milhão (2.600 salários mínimos) para serviço de bordo dos seus aviões, informa a ONG Contas Abertas. Neste mês recebeu aditivo de R$ 160 mil (220 salários mínimos). O cardápio da RA Catering inclui canapês de camarão e caviar, coelho assado, rã e pato, entre outros itens.
Diante dos gastos de R$ 11 milhões (15 mil salários mínimos) em 35 viagens entre 2011 e 2012, o Itamaraty recebeu ordens para resguardar como confidenciais todas as despesas de Dilma e assessores, como registrou o repórter Vitor Sorano. Duas semanas atrás, a Presidência reafirmou a classificação.
E, assim, o 29º ano da redemocratização começou com as delícias do poder encobertas pelo manto do sigilo. Como sempre, em nome da “segurança nacional”.
Vai que a moda pega... - ELIANE CANTANHÊDE
FOLHA DE SP - 28/01
BRASÍLIA - Comerciantes deram um passa-fora em políticos que votaram a favor da im(p)unidade de um senador corrupto: afixaram cartazes avisando que eles não seriam bem-vindos e cumpriram a ameaça. Uma embaixatriz europeia viu quando sua cabeleireira botou uma parlamentar para correr.
Foi no Paraguai, mas vai que a moda pega por aqui?! Muita gente não poderia mais ir a bar, restaurante, posto de gasolina, shopping --nem cortar os novos cabelos implantados.
Essa conscientização de comerciantes e fregueses paraguaios --profissionais liberais, professores, estudantes, funcionários-- vem crescendo já há algum tempo e resultou, por exemplo, na emocionante eleição do ex-bispo Fernando Lugo para presidente. Ele fracassou por incompetência política e administrativa, mas deixou a lição de que, quando o povo quer, muita coisa pode acontecer.
O Paraguai continua sendo um "pleonasmo" --é um dos países mais corruptos e com mais pobreza do continente--, mas a efervescência cívica, a vitória de Lugo e, depois, a eleição de um governo mais pragmático já produzem ventos alvissareiros e resultados: o país se descola do tutor Brasil e, segundo o Banco Mundial, tem 14,1% de crescimento, o terceiro maior do mundo em 2013.
Há uma sincronia: enquanto os paraguaios descobrem sua força, o país se moderniza e o crescimento dispara. O contraponto é a Argentina, que se jogou na teia imperial dos Kirchner e convive com corrupção, câmbio e inflação fora de controle. A sensação é de caos.
Esses contrastes estarão pairando na Celac (cúpula de América Latina e Caribe), hoje, em Cuba, com a presença de Dilma. Sem Chávez, com a Venezuela afundando e a Argentina fazendo água, o equilíbrio da região está mudando e o pequeno Paraguai, sempre o primo pobre, é um bom "case" dessa mudança.
Em tempo: com o boicote do comércio, os políticos paraguaios refizeram o voto e o senador foi cassado.
BRASÍLIA - Comerciantes deram um passa-fora em políticos que votaram a favor da im(p)unidade de um senador corrupto: afixaram cartazes avisando que eles não seriam bem-vindos e cumpriram a ameaça. Uma embaixatriz europeia viu quando sua cabeleireira botou uma parlamentar para correr.
Foi no Paraguai, mas vai que a moda pega por aqui?! Muita gente não poderia mais ir a bar, restaurante, posto de gasolina, shopping --nem cortar os novos cabelos implantados.
Essa conscientização de comerciantes e fregueses paraguaios --profissionais liberais, professores, estudantes, funcionários-- vem crescendo já há algum tempo e resultou, por exemplo, na emocionante eleição do ex-bispo Fernando Lugo para presidente. Ele fracassou por incompetência política e administrativa, mas deixou a lição de que, quando o povo quer, muita coisa pode acontecer.
O Paraguai continua sendo um "pleonasmo" --é um dos países mais corruptos e com mais pobreza do continente--, mas a efervescência cívica, a vitória de Lugo e, depois, a eleição de um governo mais pragmático já produzem ventos alvissareiros e resultados: o país se descola do tutor Brasil e, segundo o Banco Mundial, tem 14,1% de crescimento, o terceiro maior do mundo em 2013.
Há uma sincronia: enquanto os paraguaios descobrem sua força, o país se moderniza e o crescimento dispara. O contraponto é a Argentina, que se jogou na teia imperial dos Kirchner e convive com corrupção, câmbio e inflação fora de controle. A sensação é de caos.
Esses contrastes estarão pairando na Celac (cúpula de América Latina e Caribe), hoje, em Cuba, com a presença de Dilma. Sem Chávez, com a Venezuela afundando e a Argentina fazendo água, o equilíbrio da região está mudando e o pequeno Paraguai, sempre o primo pobre, é um bom "case" dessa mudança.
Em tempo: com o boicote do comércio, os políticos paraguaios refizeram o voto e o senador foi cassado.
Meninos do Rio - DORA KRAMER
O Estado de S.Paulo - 28/01
A ruptura entre o PT do Rio de Janeiro e o governador do Estado, Sérgio Cabral Filho, pode até não afetar a aliança nacional com o PMDB e o mais provável é que não afete mesmo.
Há interesses federais que se sobrepõem a circunstâncias locais. O principal deles: o presidente de fato do partido, Michel Temer, quer continuar sendo vice-presidente da República. Como as pesquisas apontam a presidente Dilma Rousseff como favorita e, além disso, nessa altura o PMDB já não tem para onde nem como correr, as condições do jogo estão dadas.
Portanto, por mais que seja significativo o peso do Rio na representação da convenção pemedebista (10% do total dos votos), o rompimento da relação regional não será determinante para a saúde já combalida da aliança.
Mas, pode contribuir para reduzir de maneira acentuada uma vantagem que a presidente não está em condições de dispensar. Em suma: o litígio local é um fator de risco na subtração dos votos de Dilma no cômputo geral.
Em 2010 ela teve 1,7 milhão de votos de frente no Rio. Com o apoio do governo do Estado que, por sua vez, contou com a sustentação do PT à reeleição de Sérgio Cabral. A hipótese de uma repetição é mais que remota. A começar pelos índices de intenções de votos da presidente entre os eleitores fluminenses: cerca de 30%.
Estamos falando do terceiro colégio eleitoral do País, atrás de São Paulo - onde o PSDB tem o governo do Estado e o PT luta para se desvencilhar do desgaste de Fernando Haddad - e de Minas Gerais, cidadela do tucano Aécio Neves.
Por mais que o ex-presidente Lula da Silva e a presidente Dilma tenham feito gestos de boa vontade em relação a Cabral nesse embate, cujo acirramento vem desde setembro último, obviamente o processo deixou marcas e alimentou mágoas.
O grupo do governador e os operadores do PMDB regional interpretam que se o PT nacional (leia-se Lula) quisesse e se empenhasse poderia ter levado o partido a desistir da candidatura própria ao governo, como fez em 2010.
Do ponto de vista petista, a desistência pela via da negociação seria uma concessão excessiva. Pelo caminho da força, a intervenção, um risco de aniquilamento do partido no Rio. O exemplo de 1998, quando a direção nacional interveio forçando aliança com Anthony Garotinho, que depois rompeu chamando o PT de "partido da boquinha", ficará para sempre registrado nos anais dos grandes equívocos.
Ocorre que o PMDB, assim como o PT, vê as coisas sob a perspectiva de seus interesses. E estes apontam para a candidatura do vice-governador Luiz Fernando Pezão porque o partido avalia como boas suas chances de ganhar.
Com todo o desgaste pessoal de Cabral, o PMDB dispõe das máquinas administrativas do Estado e da prefeitura da capital, e conta com a recuperação da popularidade baseado no perfil do vice, de atributos opostos aos que provocaram a queda do governador no conceito da sociedade.
Nesse cenário de divórcio litigioso, não é de se imaginar que os pemedebistas estejam no melhor dos ânimos para pôr seus instrumentos de poder local a serviço da candidatura de Dilma.
Pela lógica da dinâmica de medição de forças políticas, o mais provável é que tomem outra direção e, ainda que extraoficialmente, à revelia da decisão oficial do partido em âmbito nacional, ofereçam o patrimônio à oposição.
Mais especificamente a Aécio Neves, com quem Cabral e o prefeito Eduardo Paes mantêm relações estreitas e hoje muito mais pacíficas do que com o governo federal.
Um movimento de independência que guarda semelhança com aquele feito pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos, em decorrência de divergências com o PT local por causa da eleição para a prefeitura do Recife em 2012.
A ruptura entre o PT do Rio de Janeiro e o governador do Estado, Sérgio Cabral Filho, pode até não afetar a aliança nacional com o PMDB e o mais provável é que não afete mesmo.
Há interesses federais que se sobrepõem a circunstâncias locais. O principal deles: o presidente de fato do partido, Michel Temer, quer continuar sendo vice-presidente da República. Como as pesquisas apontam a presidente Dilma Rousseff como favorita e, além disso, nessa altura o PMDB já não tem para onde nem como correr, as condições do jogo estão dadas.
Portanto, por mais que seja significativo o peso do Rio na representação da convenção pemedebista (10% do total dos votos), o rompimento da relação regional não será determinante para a saúde já combalida da aliança.
Mas, pode contribuir para reduzir de maneira acentuada uma vantagem que a presidente não está em condições de dispensar. Em suma: o litígio local é um fator de risco na subtração dos votos de Dilma no cômputo geral.
Em 2010 ela teve 1,7 milhão de votos de frente no Rio. Com o apoio do governo do Estado que, por sua vez, contou com a sustentação do PT à reeleição de Sérgio Cabral. A hipótese de uma repetição é mais que remota. A começar pelos índices de intenções de votos da presidente entre os eleitores fluminenses: cerca de 30%.
Estamos falando do terceiro colégio eleitoral do País, atrás de São Paulo - onde o PSDB tem o governo do Estado e o PT luta para se desvencilhar do desgaste de Fernando Haddad - e de Minas Gerais, cidadela do tucano Aécio Neves.
Por mais que o ex-presidente Lula da Silva e a presidente Dilma tenham feito gestos de boa vontade em relação a Cabral nesse embate, cujo acirramento vem desde setembro último, obviamente o processo deixou marcas e alimentou mágoas.
O grupo do governador e os operadores do PMDB regional interpretam que se o PT nacional (leia-se Lula) quisesse e se empenhasse poderia ter levado o partido a desistir da candidatura própria ao governo, como fez em 2010.
Do ponto de vista petista, a desistência pela via da negociação seria uma concessão excessiva. Pelo caminho da força, a intervenção, um risco de aniquilamento do partido no Rio. O exemplo de 1998, quando a direção nacional interveio forçando aliança com Anthony Garotinho, que depois rompeu chamando o PT de "partido da boquinha", ficará para sempre registrado nos anais dos grandes equívocos.
Ocorre que o PMDB, assim como o PT, vê as coisas sob a perspectiva de seus interesses. E estes apontam para a candidatura do vice-governador Luiz Fernando Pezão porque o partido avalia como boas suas chances de ganhar.
Com todo o desgaste pessoal de Cabral, o PMDB dispõe das máquinas administrativas do Estado e da prefeitura da capital, e conta com a recuperação da popularidade baseado no perfil do vice, de atributos opostos aos que provocaram a queda do governador no conceito da sociedade.
Nesse cenário de divórcio litigioso, não é de se imaginar que os pemedebistas estejam no melhor dos ânimos para pôr seus instrumentos de poder local a serviço da candidatura de Dilma.
Pela lógica da dinâmica de medição de forças políticas, o mais provável é que tomem outra direção e, ainda que extraoficialmente, à revelia da decisão oficial do partido em âmbito nacional, ofereçam o patrimônio à oposição.
Mais especificamente a Aécio Neves, com quem Cabral e o prefeito Eduardo Paes mantêm relações estreitas e hoje muito mais pacíficas do que com o governo federal.
Um movimento de independência que guarda semelhança com aquele feito pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos, em decorrência de divergências com o PT local por causa da eleição para a prefeitura do Recife em 2012.
O preço da civilização - HÉLIO SCHWARTSMAN
FOLHA DE SP - 28/01
SÃO PAULO - Polícia é fundamental. O primeiro passo para um grupamento humano um pouco mais complexo deixar para trás a barbárie é reservar ao poder público o monopólio do uso legítimo da violência, ou seja, constituir uma polícia.
Para chegar à condição de sociedade civilizada, entretanto, isso ainda não basta. É preciso também ser capaz de controlar essa polícia, já que, excluído o cenário mais catastrófico da guerra de todos contra todos, são as forças do Estado que se tornam um dos principais focos de violência contra os cidadãos.
Em São Paulo, realizamos precariamente o primeiro objetivo, mas só engatinhamos no segundo.
É verdade que, na comparação com o resto do Brasil, a polícia paulista figura entre as melhores. Ela é, de longe, a que mais prende. São Paulo, com 20% dos habitantes do país, responde por 35% da população carcerária. O Estado também tem uma das menores taxas de homicídio do Brasil (13,5 por cem mil habitantes, contra 27,1 no país, segundo a pesquisa Mapa da Violência 2013).
Se a comparação se dá com nações desenvolvidas, aí os números paulistas se tornam obscenos. E pioram ainda mais quando passamos a analisar a tendência de crimes menos graves do que o homicídio ou nos debruçamos sobre outros indicadores de eficácia policial, como investigações bem-sucedidas, baixa letalidade em confrontos etc.
No quesito controle da força, a situação é ainda mais devastadora. Apesar de décadas de retórica de direitos humanos, a tortura ainda é uma das principais "ferramentas de investigação" em nossas delegacias.
Os protestos e "rolezinhos" mostraram que a polícia também não está preparada para lidar com multidões e nem mesmo para identificar os tais dos "black blocs" e instruir decentemente um processo contra eles.
Não é fácil criar e manter uma polícia eficiente e não violenta, mas fazê-lo é o preço da civilização.
SÃO PAULO - Polícia é fundamental. O primeiro passo para um grupamento humano um pouco mais complexo deixar para trás a barbárie é reservar ao poder público o monopólio do uso legítimo da violência, ou seja, constituir uma polícia.
Para chegar à condição de sociedade civilizada, entretanto, isso ainda não basta. É preciso também ser capaz de controlar essa polícia, já que, excluído o cenário mais catastrófico da guerra de todos contra todos, são as forças do Estado que se tornam um dos principais focos de violência contra os cidadãos.
Em São Paulo, realizamos precariamente o primeiro objetivo, mas só engatinhamos no segundo.
É verdade que, na comparação com o resto do Brasil, a polícia paulista figura entre as melhores. Ela é, de longe, a que mais prende. São Paulo, com 20% dos habitantes do país, responde por 35% da população carcerária. O Estado também tem uma das menores taxas de homicídio do Brasil (13,5 por cem mil habitantes, contra 27,1 no país, segundo a pesquisa Mapa da Violência 2013).
Se a comparação se dá com nações desenvolvidas, aí os números paulistas se tornam obscenos. E pioram ainda mais quando passamos a analisar a tendência de crimes menos graves do que o homicídio ou nos debruçamos sobre outros indicadores de eficácia policial, como investigações bem-sucedidas, baixa letalidade em confrontos etc.
No quesito controle da força, a situação é ainda mais devastadora. Apesar de décadas de retórica de direitos humanos, a tortura ainda é uma das principais "ferramentas de investigação" em nossas delegacias.
Os protestos e "rolezinhos" mostraram que a polícia também não está preparada para lidar com multidões e nem mesmo para identificar os tais dos "black blocs" e instruir decentemente um processo contra eles.
Não é fácil criar e manter uma polícia eficiente e não violenta, mas fazê-lo é o preço da civilização.
Máscaras em manifestações públicas - KLEBER LEYSER DE AQUINO
O Estado de S.Paulo - 28/01
Durante vários anos o povo brasileiro buscou o Estado Democrático de Direito e, depois de este se consolidar com muito sacrifício, vimos esse "direito" claramente expresso em nossa Constituição federal como um troféu pelo sucesso da luta do povo brasileiro nesse sentido. Pois bem, uma vez alcançada a tão almejada "democracia", temos assistido, nos últimos tempos, a uma verdadeira inversão de valores, prevalecendo a manifestação de vontade de alguns sujeitos inservíveis à sociedade em prejuízo da grande massa trabalhadora e de bem.
Confundem esses poucos sujeitos, que se devem achar verdadeiros "heróis de histórias em quadrinhos", intitulados black blocs, a democracia com a baderna. E no anonimato, armados com madeiras, placas, bombas caseiras, etc., agridem tudo e todos, ferem pessoas covardemente e depredam o patrimônio público e privado, como se estivessem vivendo numa terra de ninguém, sem lei e sem autoridades constituídas.
Dentre os direitos do povo brasileiro, a Constituição prevê o de "livre manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato", conforme seu artigo 5.º, inciso IV. Estabelece ainda a Carta Magna, em seu artigo 5.º, XVI, que "todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização...". Assim, o cidadão brasileiro, como tal, tem o direito de se manifestar publicamente, de forma pacífica, sem armas, expressando sua maneira de pensar, desde que não no anonimato.
O que nós vemos nas atuações dos black blocs, contudo, afronta todos os direitos constitucionais acima expressos, na medida em que atuam armados (com madeiras, ferros, placas, bombas caseiras, etc.), distribuindo violência tanto em face da pessoa como do patrimônio, público e privado. E o pior: fazem isso no anonimato, por causa das máscaras, das camisetas, dos panos, etc., que colocam no rosto, o que torna inviável a identificação deles - aliás, exatamente como fazem os presidiários diante de rebelião nos presídios.
A atuação violenta, armada e no anonimato desse grupo nas manifestações públicas, além de ferir diretamente a Constituição da República, no artigo e nos incisos acima citados, também afronta a Carta Magna quando impede o Estado de exercer o seu mister principal perante a sociedade, que é o de preservação da ordem pública - artigo 144, parágrafos 4.º, 5.º e 6.º, da nossa Lei Maior - por intermédio das Polícias Militar e Civil, na medida em que, assim agindo, impede a identificação dos autores dos crimes que são praticados, fazendo-os ficar impunes, o que serve de incentivo para que continuem agindo da mesma forma, desmoralizando as autoridades constituídas e afetando a ordem pública.
Além disso, também sobressai, com clareza, que colocar máscaras, panos, camisetas, etc., no rosto para esconder a identificação, em manifestações populares, é ato preparatório para a prática de crimes. E, embora não seja ainda um fato típico (previsto como crime), pode e deve ser impedido pela polícia, como obrigação legal que tem de impedir a prática de crimes, sob pena de sua omissão ser caracterizada como "penalmente relevante", nos termos do artigo 13, parágrafo 2.º, alínea a, do Código Penal. Ou seja, a omissão, que normalmente é um irrelevante penal, passa a ser algo de relevância penal nas hipóteses em que o omitente tem o dever de agir para evitar o crime e não o faz.
Considerando que o ato de participar de baderna pública com cobertura no rosto, impedindo a identificação, como dito, é fato antijurídico, ofensivo à nossa Constituição, além de ser também ato preparatório para a prática de crimes, as Polícias Militar e Civil devem agir para impedir tal conduta. A Polícia Militar, que atua de forma ostensiva, já no momento em que esses indivíduos colocam suas "máscaras", demonstrando claramente a intenção de agir no anonimato, deve agir e abordá-los para apreensão de tais instrumentos (máscaras, panos, camisetas, etc.), da mesma forma que essa mesma polícia apreende rojões, pedaços de madeira, de ferro, etc., de torcedores que entram nos estádios de futebol.
Enquanto o sujeito estiver apenas com a máscara no rosto, a providência da polícia de apreender o instrumento é o bastante e está dentro da estrita legalidade. Todavia tal providência pode ensejar desdobramentos, como o não atendimento à ordem legal do policial de apreensão, o que acarretará a prática do crime de desobediência, que poderá ainda ser seguido dos crimes de desacato caso o policial seja ofendido no exercício da função. E, se for o caso, de resistência, caso seja necessário o uso de força física pelo policial para a apreensão referida.
Nessas três hipóteses, em conjunto ou individualmente, já se justificaria a condução do agente à delegacia de polícia para as respectivas responsabilizações criminais.
À Polícia Civil caberia, no exemplo acima, a elaboração do Termo Circunstanciado, desde que o agente pratique um só dos crimes acima citados (desobediência: artigo 330 do Código Penal; desacato: artigo 331 do mesmo código; resistência: artigo 329, idem). Se praticar mais de um deles, o somatório das penas supera os dois anos de pena máxima em abstrato e foge à competência da lei do Juizado Especial Criminal (JECrim) - Lei n.º 9.099/95) -, cabendo o flagrante normalmente, independentemente da hipótese excepcional admitida no artigo 69, parágrafo único, primeira parte, da referida lei do JECrim. Isso, obviamente, somente como possíveis desdobramentos do fato de o sujeito estar participando de reunião pública escondendo o seu rosto e impossibilitando a sua identificação.
Durante vários anos o povo brasileiro buscou o Estado Democrático de Direito e, depois de este se consolidar com muito sacrifício, vimos esse "direito" claramente expresso em nossa Constituição federal como um troféu pelo sucesso da luta do povo brasileiro nesse sentido. Pois bem, uma vez alcançada a tão almejada "democracia", temos assistido, nos últimos tempos, a uma verdadeira inversão de valores, prevalecendo a manifestação de vontade de alguns sujeitos inservíveis à sociedade em prejuízo da grande massa trabalhadora e de bem.
Confundem esses poucos sujeitos, que se devem achar verdadeiros "heróis de histórias em quadrinhos", intitulados black blocs, a democracia com a baderna. E no anonimato, armados com madeiras, placas, bombas caseiras, etc., agridem tudo e todos, ferem pessoas covardemente e depredam o patrimônio público e privado, como se estivessem vivendo numa terra de ninguém, sem lei e sem autoridades constituídas.
Dentre os direitos do povo brasileiro, a Constituição prevê o de "livre manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato", conforme seu artigo 5.º, inciso IV. Estabelece ainda a Carta Magna, em seu artigo 5.º, XVI, que "todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização...". Assim, o cidadão brasileiro, como tal, tem o direito de se manifestar publicamente, de forma pacífica, sem armas, expressando sua maneira de pensar, desde que não no anonimato.
O que nós vemos nas atuações dos black blocs, contudo, afronta todos os direitos constitucionais acima expressos, na medida em que atuam armados (com madeiras, ferros, placas, bombas caseiras, etc.), distribuindo violência tanto em face da pessoa como do patrimônio, público e privado. E o pior: fazem isso no anonimato, por causa das máscaras, das camisetas, dos panos, etc., que colocam no rosto, o que torna inviável a identificação deles - aliás, exatamente como fazem os presidiários diante de rebelião nos presídios.
A atuação violenta, armada e no anonimato desse grupo nas manifestações públicas, além de ferir diretamente a Constituição da República, no artigo e nos incisos acima citados, também afronta a Carta Magna quando impede o Estado de exercer o seu mister principal perante a sociedade, que é o de preservação da ordem pública - artigo 144, parágrafos 4.º, 5.º e 6.º, da nossa Lei Maior - por intermédio das Polícias Militar e Civil, na medida em que, assim agindo, impede a identificação dos autores dos crimes que são praticados, fazendo-os ficar impunes, o que serve de incentivo para que continuem agindo da mesma forma, desmoralizando as autoridades constituídas e afetando a ordem pública.
Além disso, também sobressai, com clareza, que colocar máscaras, panos, camisetas, etc., no rosto para esconder a identificação, em manifestações populares, é ato preparatório para a prática de crimes. E, embora não seja ainda um fato típico (previsto como crime), pode e deve ser impedido pela polícia, como obrigação legal que tem de impedir a prática de crimes, sob pena de sua omissão ser caracterizada como "penalmente relevante", nos termos do artigo 13, parágrafo 2.º, alínea a, do Código Penal. Ou seja, a omissão, que normalmente é um irrelevante penal, passa a ser algo de relevância penal nas hipóteses em que o omitente tem o dever de agir para evitar o crime e não o faz.
Considerando que o ato de participar de baderna pública com cobertura no rosto, impedindo a identificação, como dito, é fato antijurídico, ofensivo à nossa Constituição, além de ser também ato preparatório para a prática de crimes, as Polícias Militar e Civil devem agir para impedir tal conduta. A Polícia Militar, que atua de forma ostensiva, já no momento em que esses indivíduos colocam suas "máscaras", demonstrando claramente a intenção de agir no anonimato, deve agir e abordá-los para apreensão de tais instrumentos (máscaras, panos, camisetas, etc.), da mesma forma que essa mesma polícia apreende rojões, pedaços de madeira, de ferro, etc., de torcedores que entram nos estádios de futebol.
Enquanto o sujeito estiver apenas com a máscara no rosto, a providência da polícia de apreender o instrumento é o bastante e está dentro da estrita legalidade. Todavia tal providência pode ensejar desdobramentos, como o não atendimento à ordem legal do policial de apreensão, o que acarretará a prática do crime de desobediência, que poderá ainda ser seguido dos crimes de desacato caso o policial seja ofendido no exercício da função. E, se for o caso, de resistência, caso seja necessário o uso de força física pelo policial para a apreensão referida.
Nessas três hipóteses, em conjunto ou individualmente, já se justificaria a condução do agente à delegacia de polícia para as respectivas responsabilizações criminais.
À Polícia Civil caberia, no exemplo acima, a elaboração do Termo Circunstanciado, desde que o agente pratique um só dos crimes acima citados (desobediência: artigo 330 do Código Penal; desacato: artigo 331 do mesmo código; resistência: artigo 329, idem). Se praticar mais de um deles, o somatório das penas supera os dois anos de pena máxima em abstrato e foge à competência da lei do Juizado Especial Criminal (JECrim) - Lei n.º 9.099/95) -, cabendo o flagrante normalmente, independentemente da hipótese excepcional admitida no artigo 69, parágrafo único, primeira parte, da referida lei do JECrim. Isso, obviamente, somente como possíveis desdobramentos do fato de o sujeito estar participando de reunião pública escondendo o seu rosto e impossibilitando a sua identificação.
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