O GLOBO - 21/03/12
Na reunião de segunda entregovernadores e parlamentares com os ministros Mantega e Ideli sobre o novo pacto federativo, o senador Ricardo Ferraço arrancou gargalhadas com uma revelação, ao reclamar que seu Espírito Santo pode perder R$ 1 bi com o fim do incentivo às importações: — Mantega, o botox endureceu seu coração...
Aliás...
Mantega não negou.
Nosso dinheiro voa
Essa Locanty, flagrada pelo “Fantástico”, da TV Globo, numa operação de assalto aos cofres públicos, tem um jatinho Gulfstream G-IV, brinquedo de uns US$ 30 milhões. A matrícula é PPWJB.
AeroDilma
Dilma parece que ouviu nosso Jorge Moreno, que andou reclamando que ela sempre levava o baiano Jaques Wagner nas viagens. A presidente convidou o sergipano Marcelo Déda e a capixaba Rosalba Ciarlini para acompanhá-la na visita à Índia.
Calma, gente
O engenheiro Glen Gary Edwards estava nos EUA quando soube que era um dos 17 executivos da Chevron e da Transocean impedidos de deixar o Brasil sem autorização judicial, por causa do vazamento de óleo na Bacia de Campos. Ao invés de ficar por lá, tratou de retornar ao Brasil. Na verdade, esta decisão de reter os passaportes dos executivos parece exagerada. E é.
Mengooooo!
O Flamengo, como se sabe, lançou versões de seu site em inglês e espanhol. Em três dias, a página em inglês teve 6 mil visitas de 85 países. Até do Irã. Na versão em espanhol, foram mais de 4 mil acessos de 36 países. Até da Líbia.
SÉRGIO CABRAL, o governador, que também é coleguinha, flagrou no Galeão-Tom Jobim estas peças de propaganda da candidatura do Rio aos Jogos de 2016. Estão aí, no mínimo, desde 2009, quando o COI anunciou a vitória carioca. A dois anos da Copa, a lerdeza para retirálas atenta contra a esperança de que as coisas melhorem nos nossos aeroportos. Com todo o respeito.
É muita pressão
De Dilma, ontem, depois de abraçar e beijar Ana de Hollanda no Palácio do Planalto: — Ana, seja forte. Eu estou com você.
É que...
Segunda, a ministra sofreu nova onda de ataques especulativos de que estaria demitida.
Nó na orelha
O rapper Criolo, que despertou a curiosidade do historiador inglês Eric Hobsbawm, 94 anos, foi autorizado a captar pela Lei Rouanet R$ 1.032.750 para a turnê de seu CD “Nó na orelha”.
Caso médico
Hermínio Bello de Carvalho, nosso grande poeta e compositor, passa por cirurgia na Casa de Saúde São José, no Rio, amanhã, por causa de um câncer de mama. Nada grave.
CBF continua no Rio
José Maria Marin, presidente da CBF, garantiu, no encontro com Eduardo Paes, que, em abril, começa, finalmente, a construção do centro de treinamentos e da nova sede da entidade, na Barra. O prefeito do Rio celebrou: — Ou seja, um paulista garantindo que a CBF fica aqui!
Língua traiçoeira...
Aliás, em ano de eleição, Eduardo Paes tem suplicado contra os “maldizentes”. Ontem, na sala do Palácio da Cidade onde recebeu Sebastian Coe, presidente do comitê organizador dos Jogos de Londres, um conviva flagrou uma Bíblia aberta no salmo 120. Um trechinho: “Livrame, Senhor, dos lábios mentirosos e da língua traiçoeira.”
‘Big Feet’...
Ainda neste almoço, Coe ficou impressionado ao saber que o vice Pezão calça sapatos 48. Em seu discurso, chamou Pezão de... “Big Feet”.
Economia criativa
Quem sai aos seus não degenera. Daniel de Souza, filho de Betinho,se vira nos 30 para conseguir transformar a sede da Ação da Cidadania, na Av. Barão de Tefé, no Rio, numa usina de capacitação em cultura e economia criativa para jovens pobres.
‘Down no soçaite’
Segunda, após jantar no elegante Gero, em Ipanema, uma vovó de uns 70 anos passou muito mal e foi levada à Clínica São Vicente, onde o médico constatou “intoxicação alimentar”. A família acionou advogado.
quarta-feira, março 21, 2012
Uma medida anticorrupção - FERNANDO RODRIGUES
FOLHA DE SP - 21/03/12
BRASÍLIA - A esta altura, só quem acaba de chegar de Marte não conhece o caso de corrupção num hospital universitário do Rio. Como parece não haver políticos envolvidos, alguns congressistas estão assanhados para criar uma CPI da Saúde. Outros querem novas leis para punir corruptos. O governo promete ser enérgico. Enfim, Brasília faz o que mais gosta nessas horas: tenta faturar com a desgraça alheia.
De todos os aspectos revelados pelo repórter Eduardo Faustini, um em especial é o procedimento quase surreal e nunca esclarecido da burocracia brasileira. Trata-se da exigência, em licitações públicas, para que os interessados retirem pessoalmente o edital e deixem registrados os nomes de suas empresas.
No escândalo do hospital do Rio, um corruptor explica a razão de tal sistemática esdrúxula existir. É que, quando há uma licitação, só é possível montar um conluio se todos os concorrentes são conhecidos com alguma antecedência. Essa identificação se dá na retirada dos editais. A partir daí, cada um é abordado para a montagem de um acordo de divisão prévia do butim.
Se o governo desejasse ir além da retórica em notas indignadas sobre o ocorrido, bastaria uma canetada da presidente Dilma Rousseff determinando o fim dessa prática indefensável. Há relevância e urgência. Uma medida provisória está plenamente justificada. A partir da alteração, os editais de todas as licitações federais poderiam muito bem passar a ser publicados na internet. Os interessados ficariam então anônimos até o momento em que entregassem suas propostas lacradas.
Essa providência sozinha, é evidente, não eliminaria a corrupção dentro do governo. Estados e cidades também teriam de seguir a mesma regra. Ainda assim, seria uma medida profilática, fácil e a custo zero no plano federal. As máfias levariam algum tempo até achar outra brecha e voltar a roubar.
Um golpe no golpe - ZUENIR VENTURA
O GLOBO - 21/03/12
Sempre que surgem descontentamentos nos meios militares, mesmo sem consequências graves como agora, espera-se, é bom olhar para três momentos dramáticos de nossa história política recente: suicídio de Vargas em 1954; renúncia de Jânio em 1961; queda de Jango em 1964. A segunda dessas crises está sendo contada no livro “1961 — o golpe derrotado”, em que Flávio Tavares relata o que chama de “Os treze dias que mudaram o Brasil”, quando um movimento liderado por Leonel Brizola, então governador do Rio Grande Sul, resistiu à pressão dos ministros militares que tentavam impedir a posse do vicepresidente João Goulart. Com estilo literário e rigor jornalístico, num ritmo de thriller policial, o livro é o relato de quem viu tudo como repórter e viveu como protagonista, já que o autor, armado de um 38, tinha como missão “grudar-se em Brizola”, para cobrir os acontecimentos e para o que desse e viesse.
O resultado é uma mistura de gestos heroicos, lances patéticos e números engraçados, como o do trote telefônico que Flávio passou no general José Machado e em Dom Vicente Scherer. Exímio imitador do sotaque alemão, ele ligou para o comandante do III Exército como se fosse o arcebispo, e para este como se fosse o general, um propondo ao outro resistir ao golpe. Sem esse acordo, é possível que o desfecho da crise fosse diferente, assim como o adiamento do Gre-Nal ajudou a manter a unidade dos resistentes, divididos entre gremistas e colorados.
O jogo punha em risco a coesão de que tanto precisavam naquele domingo.
Enquanto isso, em Paris, eu servia de intérprete de um Jango indeciso, sem saber se voltava para resistir ou se aguardava por lá. Foi quando um colega parisiense me entregou em uma nota: “O contato de Goulart com a imprensa é um empregado de Carlos Lacerda, seu maior inimigo.” Eu era correspondente da Tribuna da Imprensa. Não podia errar na tradução.
Quando, em vez dos tanques, apareceu no prédio o general Machado para conversar com o governador rebelado, houve apreensão. “Foi o momento mais difícil de minha vida”, confessaria Brizola a Flávio em 1979, em Lisboa. “Eu esperava tudo e qualquer coisa; que ele viesse me abraçar ou me prender”. Machado fora anunciar que o III Exército tinha decidido dar posse ao vice-presidente.
Em meio a tantas peripécias que não cabem neste espaço, chama a atenção o papel do rádio no movimento. Toda a mobilização e todas as proclamações foram feitas através da Cadeia da Legalidade, transmitida do porão do Palácio. “O radinho de pilha começava a popularizar-se, fazendo a palavra de Brizola chegar ao inalcançável”, conta o autor, e não há como não lembrar o fenômeno das redes sociais nas várias “Primaveras” no mundo de hoje. A imagem de alguém com o transistor colado ao ouvido era tão comum quanto a do celular agora.
O poder do consumidor - HÉLIO SCHWARTSMAN
FOLHA DE SP - 21/03/12
SÃO PAULO - Esta coluna vem com uma semana de atraso, mas a importância do tema escusa a impontualidade. Vou falar do consumidor, cujo dia foi celebrado na quinta-feira passada, e do marketing. Trago em meu auxílio a psicologia evolutiva, mais especificamente o livro "Darwin Vai às Compras", de Geof-frey Miller, que acaba de ganhar uma edição brasileira.
A tese central da obra é que o ser humano consome não apenas para satisfazer suas necessidades básicas mas também para exibir suas qualidades para o grupo, em especial para possíveis parceiros sexuais. Se eu uso um Rolex estupidamente caro, é porque tenho dinheiro o bastante para desperdiçá-lo com supérfluos, donde se depreende que sou rico, um sinal de minhas aptidões físicas ou intelectuais.
Esse pendor humano pelo consumo conspícuo alimenta o marketing, que, de acordo com Miller, está promovendo uma das mais importantes revoluções na história. Até as primeiras décadas do século 20, empresas fabricavam seus produtos e procuravam vendê-los. Faziam uma propagandazinha, no máximo. Mas, desde que o marketing se tornou uma força, as firmas passaram a dedicar grande parte de suas energias a tentar descobrir quais são os desejos de seus clientes e satisfazê-los.
É claro que nem tudo são flores na vida do consumidor. O marketing também encerra perigos. Ele nos impinge ilusões e nos leva a tomar decisões que podem ir contra nossos interesses. É falsa, por exemplo, a ideia de que o Rolex sinaliza nossas qualidades de maneira mais eficiente do que alguns minutos de conversa.
Essa mudança de foco da produção para o marketing, sustenta Miller, deslocou de forma inédita o poder de instituições para indivíduos. O paralelo é com a democracia. Ela, sem dúvida, fortalece o cidadão. Isso não significa, como já apontava Platão, que ele fará as escolhas certas. O poder, de todo modo, é pulverizado.
Burrocracia - MARTHA MEDEIROS
ZERO HORA - 21/03/12
Recebi convite para participar de um evento literário em João Pessoa. Já quase não viajo a trabalho, preciso ficar mais tempo no meu escritório, mas respondi que, dependendo da data, talvez conseguisse ir. Foi então que me chegou uma lista de documentos que eu deveria providenciar para viabilizar minha participação.
Não acreditei. Nem para um ex-presidiário acusado de desfalque do Banco Central exigiriam tamanha quantidade de certificados de idoneidade moral e financeira. Eu teria que passar uma semana percorrendo cartórios e contratar um ou dois advogados. Muito grata, mas fica pra próxima.
Nunca vi um país se entravar tanto. Nada avança em ritmo razoável. As incensadas obras prometidas para a Copa do Mundo são apenas um exemplo. Afora maledicências, pilantragens e disputas de poder, ainda temos a questão da papelada: é 1 milhão de pareceres, assinaturas, carimbos e rubricas que impedem o andar da carruagem. Pois é, ainda estamos nos tempos da carruagem, trotando.
Durante a enxurrada que desabou sobre Porto Alegre, semana passada, tivemos mais do mesmo: ruas alagadas nos pontos de sempre. Ok, o asfalto não absorve a água, o lixo é jogado em locais impróprios e choveu o esperado para o mês inteiro. Mas não há pessoas dentro das secretarias de governo sendo pagas para resolver os problemas da cidade?
Vai chover de novo, e forte. E os carros ficarão boiando, poucos conseguirão chegar ao trabalho, o comércio terá que fechar, moradores perderão seus móveis, grávidas terão que ser retiradas de barco de dentro de suas casas. É um déjà vu recorrente.
Como não imagino que haja almas satânicas por trás da nossa administração, só posso pensar que a burocracia tem algo a ver com isso. Quantos estudos, laudos, aprovações, orçamentos, prazos remarcados, projetos refeitos serão necessários para resolver nossas pendências? É o país da novela, de fato.
Fizemos progresso na emissão de documentos pessoais – hoje se pode tirar uma certidão de nascimento ou uma carteira de identidade sem trâmites e demoras, mas ainda falta, como falta, para a gente ser uma nação que flui. A expressão “é pra ontem”, que configura a pressa, passou a ser literal. Não conseguimos sair do ontem e entrar no amanhã.
Os reféns da burocracia se defendem dizendo que não é culpa deles, exige-se o cumprimento da lei, e estão certos, senão vira bagunça. Mas alguém lá em cima, com a caneta na mão, tem o dever de promover mais agilidade nesse Brasil que só é rápido na informalidade. Há que se encontrar um meio de trabalhar de forma legal e ao mesmo tempo atender as demandas em prazo de país desenvolvido, que é o que almejamos ser.
O que é preciso para promover a desburocratização? Claro, uns 3.479 estudos de viabilidade. Pocotó, pocotó.
Recebi convite para participar de um evento literário em João Pessoa. Já quase não viajo a trabalho, preciso ficar mais tempo no meu escritório, mas respondi que, dependendo da data, talvez conseguisse ir. Foi então que me chegou uma lista de documentos que eu deveria providenciar para viabilizar minha participação.
Não acreditei. Nem para um ex-presidiário acusado de desfalque do Banco Central exigiriam tamanha quantidade de certificados de idoneidade moral e financeira. Eu teria que passar uma semana percorrendo cartórios e contratar um ou dois advogados. Muito grata, mas fica pra próxima.
Nunca vi um país se entravar tanto. Nada avança em ritmo razoável. As incensadas obras prometidas para a Copa do Mundo são apenas um exemplo. Afora maledicências, pilantragens e disputas de poder, ainda temos a questão da papelada: é 1 milhão de pareceres, assinaturas, carimbos e rubricas que impedem o andar da carruagem. Pois é, ainda estamos nos tempos da carruagem, trotando.
Durante a enxurrada que desabou sobre Porto Alegre, semana passada, tivemos mais do mesmo: ruas alagadas nos pontos de sempre. Ok, o asfalto não absorve a água, o lixo é jogado em locais impróprios e choveu o esperado para o mês inteiro. Mas não há pessoas dentro das secretarias de governo sendo pagas para resolver os problemas da cidade?
Vai chover de novo, e forte. E os carros ficarão boiando, poucos conseguirão chegar ao trabalho, o comércio terá que fechar, moradores perderão seus móveis, grávidas terão que ser retiradas de barco de dentro de suas casas. É um déjà vu recorrente.
Como não imagino que haja almas satânicas por trás da nossa administração, só posso pensar que a burocracia tem algo a ver com isso. Quantos estudos, laudos, aprovações, orçamentos, prazos remarcados, projetos refeitos serão necessários para resolver nossas pendências? É o país da novela, de fato.
Fizemos progresso na emissão de documentos pessoais – hoje se pode tirar uma certidão de nascimento ou uma carteira de identidade sem trâmites e demoras, mas ainda falta, como falta, para a gente ser uma nação que flui. A expressão “é pra ontem”, que configura a pressa, passou a ser literal. Não conseguimos sair do ontem e entrar no amanhã.
Os reféns da burocracia se defendem dizendo que não é culpa deles, exige-se o cumprimento da lei, e estão certos, senão vira bagunça. Mas alguém lá em cima, com a caneta na mão, tem o dever de promover mais agilidade nesse Brasil que só é rápido na informalidade. Há que se encontrar um meio de trabalhar de forma legal e ao mesmo tempo atender as demandas em prazo de país desenvolvido, que é o que almejamos ser.
O que é preciso para promover a desburocratização? Claro, uns 3.479 estudos de viabilidade. Pocotó, pocotó.
Deu uma olhada na água? - ANTONIO PRATA
FOLHA DE SP - 21/03/12
Faz parte da condição masculina enfrentar os perigos de cabeça erguida e olhos fechados
EU E ela voltávamos de nossa primeira viagem juntos, um fim de semana em Ubatuba. Vínhamos saindo havia dois meses, mas o jogo nem de perto estava ganho: a moça era dura na queda e, apesar de dar alguns sinais de interesse, ainda não parecia convencida de que eu fosse um bom investimento a longo prazo.
Paramos para abastecer e resolvi calibrar pessoalmente os pneus -menos por necessidade do que pelo gesto, que a meu ver envolvia certo charme viril. Acho que não preciso dizer, mas um cara que vê na calibragem dos pneus uma atitude máscula está mais para um Woody Allen do que, digamos, para um John Wayne. Agachado ali, contudo, sentia-me um cowboy a ajustar as ferraduras de meu cavalo e quase mascava um fumo imaginário. Minha panca, infelizmente, foi pra cucuia assim que, temeroso, ouvi a garota perguntando: "Você não quer dar uma olhada na água?".
Veja: eu não poderia jamais "dar uma olhada na água", pois não tinha a menor ideia de onde ficava a água, para que servia a água e, mesmo que a encontrasse, seria incapaz de avaliar se o nível estava alto, baixo, certo ou errado. A pergunta, no entanto, trouxe-me a incômoda suspeita de que ela estivesse acostumada a sair com caras que sabiam "dar uma olhada na água". Marlon Brandons em "Um Bonde Chamado Desejo", de calça jeans e camiseta justa, que voltavam pro carro limpando as mãos num pedaço de estopa e acendendo fósforos na sola da bota. De modo que só me restou fazer uma cara de profissional e responder, resoluto, "claro!", já abrindo o capô.
Depois de angustiantes segundos perscrutando o labirinto do motor em busca de alguma pista, finalmente encontrei algo que parecia auspicioso: uma tampinha sobre um pequeno galão, com um desenho que se assemelhava a um regador de jardim. Do bico da figura, um líquido gotejava. Ora, o que seria aquilo senão água? Como ao lado da bomba de gasolina havia um regador, muito semelhante ao do desenho, fiz a óbvia conexão mental, enchi o troço até a boca, desrosqueei a tampinha e entornei uns cinco litros pelo orifício.
Só na estrada, já subindo a serra, é que a brotoeja da dúvida começou a coçar. E se aquele galão não fosse o lugar da água? Mal a questão surgiu e descobri aterrorizado a resposta, na forma de um pequeno luminoso no painel: o mesmo regadorzinho do motor, mas, dessa vez, com legenda: óleo.
E aí? Assumir o erro era impensável. Não queria, de forma alguma, que minhas últimas palavras para aquela bela moça fossem "Desculpa, reguei o motor. Acho melhor chamarmos um guincho". O jeito era seguir em frente. E foi o que eu fiz, até que, duas horas depois, graças a Deus -e aos engenheiros da Ford, a quem mando aqui meus sinceros cumprimentos-, chegamos a São Paulo.
Imagino que tenha corrido o risco de ficar pelo acostamento, quem sabe até de fundir meu carro, mas não me arrependo: faz parte da condição masculina enfrentar os perigos de cabeça erguida e olhos fechados. Mesmo aqueles perigos que nós mesmos, por conta de nossa obtusa hombridade, nos metemos. E, convenhamos, valeu a pena: hoje a moça mora comigo e somos felizes -ou pelo menos éramos, até a publicação desta crônica.
PROGRAMAÇÃO ESPORTIVA NA TV
12h - Suécia x China, Mundial fem. de curling, Sportv 2
14h30 - B. M'gladbach x B. de Munique, Copa da Alemanha, Esporte Interativo
16h - Fenerbahce x Samsunspo, Copa da Turquia, Bandsports
16h40 - Napoli x Siena, Copa da Itália, ESPN Brasil
16h40 - Manchester City x Chelsea, Campeonato Inglês, ESPN
17h - Everton x Arsenal, Campeonato Inglês, ESPN HD
19h30 - Palmeiras x Coruripe-AL, Copa do Brasil, ESPN Brasil e Sportv
19h30 - Grêmio x River Plate-SE, Copa do Brasil, ESPN e Sportv 2
19h45 - The Strongest (BOL) x Internacional, Taça Libertadores, Fox Sports
21h50 - Botafogo x Treze-PB, Copa do Brasil, Band, ESPN Brasil e Sportv
22h - Corinthians x Cruz Azul (MEX), Taça Libertadores, Globo (para SP) e Fox Sports
22h - Vasco x Libertad (PAR), Taça Libertadores, Globo (menos SP) e FX
22h - Torneio Interligas de basquete, Sportv 2
22h30 - LA Lakers x Dallas Mavericks, NBA, ESPN e ESPN HD
Reajuste convém sair logo em ano eleitoral - ADRIANO PIRES
O aumento da tensão entre o Irã e o Ocidente vem pressionando o preço do petróleo nos últimos dias, principalmente após a decisão do Irã de cortar as exportações de petróleo para a Europa. Além do impacto da redução da exportação de 715 mil barris por dia (b/d), causa preocupação a possibilidade de o Irã dificultar a passagem de navios petroleiros pelo Estreito de Ormuz, por onde circulam cerca de 30% do trafego marítimo de óleo.
O petróleo continua sendo produto de alta importância estratégica, responsável por mais de 30% da matriz energética global. Seu consumo em escala mundial está perto dos 90 milhões de barris diários, e, nesta época de recessão, cresce a quase 1% ao ano. Em contrapartida, a produção tem apresentado taxas de crescimento menores em função da falta de reposição de reservas provadas.
A recente escalada dos preços do petróleo possui uma característica bem distinta daquela verificada em 2007 e 2008. A atual alta nos preços ocorre não obstante à queda da atividade econômica na Europa e ao menor crescimento em diversas outras economias do mundo. A pressão atual nos preços está ligada a fatores de oferta de petróleo, enquanto em 2007 e 2008 a alta foi provocada pelo forte aquecimento da demanda, uma vez que o mundo crescia de forma generalizada e a taxas pujantes.
Teoricamente, a redução de exportações de 715 mil b/d pode ser substituída por um eventual aumento de produção da Arábia Saudita. No entanto, esse aumento de produção diminuiria sobremaneira a capacidade ociosa para níveis bastante baixos, cerca de 1,3 milhão de b/d, o menor desde 2008.
A elevação do preço do petróleo e a perspectiva de que essa alta seja persistente reafirmam algumas preocupações relativas à política de preços de combustíveis no mercado doméstico. A primeira dessas preocupações diz respeito à situação da Petrobrás, que já estava registrando vultosos prejuízos mesmo antes da recente escalada dos preços.
Só em janeiro deste ano a Petrobrás já perdeu R$1 bilhão. Como a expectativa é de continuidade do crescimento da demanda doméstica por gasolina e diesel, as perdas efetivas da Petrobrás tendem a aumentar. O parque de refino brasileiro encontra-se no limite de sua capacidade e a demanda excedente será suprida com a elevação das importações, a preços mais altos.
Em ano eleitoral, o mais adequado seria a concessão do reajuste o mais breve possível, uma vez que a resistência a medidas impopulares no segundo semestre certamente aumentará.
O petróleo continua sendo produto de alta importância estratégica, responsável por mais de 30% da matriz energética global. Seu consumo em escala mundial está perto dos 90 milhões de barris diários, e, nesta época de recessão, cresce a quase 1% ao ano. Em contrapartida, a produção tem apresentado taxas de crescimento menores em função da falta de reposição de reservas provadas.
A recente escalada dos preços do petróleo possui uma característica bem distinta daquela verificada em 2007 e 2008. A atual alta nos preços ocorre não obstante à queda da atividade econômica na Europa e ao menor crescimento em diversas outras economias do mundo. A pressão atual nos preços está ligada a fatores de oferta de petróleo, enquanto em 2007 e 2008 a alta foi provocada pelo forte aquecimento da demanda, uma vez que o mundo crescia de forma generalizada e a taxas pujantes.
Teoricamente, a redução de exportações de 715 mil b/d pode ser substituída por um eventual aumento de produção da Arábia Saudita. No entanto, esse aumento de produção diminuiria sobremaneira a capacidade ociosa para níveis bastante baixos, cerca de 1,3 milhão de b/d, o menor desde 2008.
A elevação do preço do petróleo e a perspectiva de que essa alta seja persistente reafirmam algumas preocupações relativas à política de preços de combustíveis no mercado doméstico. A primeira dessas preocupações diz respeito à situação da Petrobrás, que já estava registrando vultosos prejuízos mesmo antes da recente escalada dos preços.
Só em janeiro deste ano a Petrobrás já perdeu R$1 bilhão. Como a expectativa é de continuidade do crescimento da demanda doméstica por gasolina e diesel, as perdas efetivas da Petrobrás tendem a aumentar. O parque de refino brasileiro encontra-se no limite de sua capacidade e a demanda excedente será suprida com a elevação das importações, a preços mais altos.
Em ano eleitoral, o mais adequado seria a concessão do reajuste o mais breve possível, uma vez que a resistência a medidas impopulares no segundo semestre certamente aumentará.
Esperando Lula - MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 21/03/12
O mais provável é que até o dia 23 de abril o quadro político brasileiro continue instável como está, à espera de uma definição sobre a situação da saúde do ex-presidente Lula. Nesse dia os médicos do Hospital Sírio-Libanês em São Paulo farão os exames que definirão se será preciso continuar o tratamento do câncer na laringe de Lula ou se o tumor desapareceu por efeito da quimioterapia e da radioterapia.
O ex-presidente já é capaz de receber líderes políticos selecionados, está recuperando alguns quilos perdidos durante o tratamento e ainda fala com dificuldade devido à inflamação no local da doença.
Se tudo der certo, Lula retomará as rédeas da situação política, e a inquietação na base aliada do governo tenderá a ser controlada.
O que está acontecendo neste momento é uma mistura de estranhamento dos políticos à maneira brusca com que a presidente Dilma decidiu conduzir as negociações partidárias com uma desconfiança de que Lula não retornará à vida política com o vigor anterior, o que daria margem a vários movimentos no interior dos partidos, a começar pelo próprio PT.
Políticos são como o mercado financeiro: trabalham com rumores e precificam consequências futuras desses mesmos rumores.
Passam a vida tentando antecipar para onde o vento do poder está soprando para poder se posicionar, a favor ou contra, mas sempre com o olho na próxima eleição.
Anos eleitorais, então, são pródigos em mudanças de lado, a partir de pesquisas de opinião e do contato direto com as chamadas "bases".
Por isso, mesmo quando o Palácio do Planalto, como agora, está convencido de que tudo vai bem, os políticos andam freneticamente tentando uma sintonia fina com o que vem por aí, seja o aumento da inflação ou o aumento do crédito, questões imediatistas que se refletirão nas urnas em outubro, nunca questões estruturais, pois essas geralmente não dão votos e podem ser no máximo temas para entressafras eleitorais.
Em anos como este que vivemos, em que os partidos disputarão os espaços políticos regionais de olho nas eleições de 2014 e nas alianças que poderão ser feitas com vistas à Presidência da República, o importante é saber quem manda em quem, e a presidente Dilma ainda é uma incógnita a ser decifrada.
Dá-se como improvável que o ex-presidente Lula tenha mesmo dito ao novo líder do governo, Senador Eduardo Braga, que apoiaria a presidente em sua cruzada contra o fisiologismo.
Simplesmente porque esse não é o estilo de Lula que seus "companheiros" tanto enaltecem e de que sentem tanta falta.
O máximo que é possível aceitar é que Lula compreenda que a presidente não aceite ser chantageada, mas nesse caso seria apenas questão de acertar essa sintonia fina entre o que é reivindicação justa e o que é chantagem explícita. Lula era um craque em se antecipar às demandas de sua base aliada, não dando margem a que algum líder tentasse uma chantagem.
Dilma, ao contrário, parece estar muito satisfeita com sua capacidade de enfrentar a tentativa de chantagem, embora reconheça que a relação entre Executivo e Legislativo tende a ser de atritos pela característica quase "parlamentarista" de nosso presidencialismo de coalizão.
A derrota no Senado da recondução do presidente da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) parece ter sido o detonador dessa ação-relâmpago do Executivo sobre o Legislativo, trocando seus líderes na Câmara e no Senado de uma vez, inclusive mexendo no seu próprio partido.
A presidente viu nesse episódio uma afronta pessoal, já que o nome indicado era de sua confiança, e uma oportunidade de demonstrar seu descontentamento. Determinar o fim do chamado "toma lá dá cá", no entanto, não depende apenas da vontade soberana da presidente, mesmo que nosso presidencialismo seja imperial. Mesmo porque a presidente Dilma, tendo exercido a chefia da Casa Civil durante tanto tempo no governo Lula, não pode dizer para seus interlocutores no Legislativo que desconhecia essa prática ou que não concordava com ela.
A Dilma-ministra deve ter sido a negociadora de muitos acordos desse tipo, mesmo a contragosto se for o caso, e deve ter assumido muitos compromissos com a base aliada quando era a candidata de Lula.
Além de ter herdado outros tantos acertos feitos pelo próprio ex-presidente, que culminaram, alguns, em nomeações para o seu primeiro Ministério.
Assim como Lula e seus ministros assumiram compromissos em nome de seus sucessores para a realização da Copa do Mundo, com mais razão ainda também na organização da base partidária que daria apoio a Dilma na sua sucessão, o ex-presidente Lula deve ter assumido compromissos com os líderes partidários que terão de ser cumpridos.
Por isso mesmo, até o momento, a presidente tem feito exibições de força que não resultaram em mudanças efetivas no relacionamento com os aliados.
Além do mais, há uma tradição na política brasileira de o Legislativo se curvar ao Executivo quando é de seu interesse, ou melhor, quando seus interesses mesquinhos são poupados nessa relação.
É difícil, no entanto, ver-se o Executivo impor ao Legislativo alguma decisão que não seja negociada. Pois, quando querem, os parlamentares sabem perfeitamente usar os poderes que têm para ganhar mais força nas negociações.
Nesse sentido, o Executivo terá boas dificuldades com sua própria base aliada se não puder contar com o apoio de Lula nessas negociações ou se perder a expectativa de poder que a presença ativa do ex-presidente garante.
Apenas um exemplo das dificuldades que esperam a presidente Dilma: com a nova tramitação das medidas provisórias determinada pelo Supremo Tribunal Federal, a Comissão Mista que passará a recebê-las ganhará uma força política incalculável. Fazer parte dela valerá ouro.
E o Congresso será obrigado a exercer seu poder sobre o Executivo, o que lhe dará uma nova margem de manobra.
O mais provável é que até o dia 23 de abril o quadro político brasileiro continue instável como está, à espera de uma definição sobre a situação da saúde do ex-presidente Lula. Nesse dia os médicos do Hospital Sírio-Libanês em São Paulo farão os exames que definirão se será preciso continuar o tratamento do câncer na laringe de Lula ou se o tumor desapareceu por efeito da quimioterapia e da radioterapia.
O ex-presidente já é capaz de receber líderes políticos selecionados, está recuperando alguns quilos perdidos durante o tratamento e ainda fala com dificuldade devido à inflamação no local da doença.
Se tudo der certo, Lula retomará as rédeas da situação política, e a inquietação na base aliada do governo tenderá a ser controlada.
O que está acontecendo neste momento é uma mistura de estranhamento dos políticos à maneira brusca com que a presidente Dilma decidiu conduzir as negociações partidárias com uma desconfiança de que Lula não retornará à vida política com o vigor anterior, o que daria margem a vários movimentos no interior dos partidos, a começar pelo próprio PT.
Políticos são como o mercado financeiro: trabalham com rumores e precificam consequências futuras desses mesmos rumores.
Passam a vida tentando antecipar para onde o vento do poder está soprando para poder se posicionar, a favor ou contra, mas sempre com o olho na próxima eleição.
Anos eleitorais, então, são pródigos em mudanças de lado, a partir de pesquisas de opinião e do contato direto com as chamadas "bases".
Por isso, mesmo quando o Palácio do Planalto, como agora, está convencido de que tudo vai bem, os políticos andam freneticamente tentando uma sintonia fina com o que vem por aí, seja o aumento da inflação ou o aumento do crédito, questões imediatistas que se refletirão nas urnas em outubro, nunca questões estruturais, pois essas geralmente não dão votos e podem ser no máximo temas para entressafras eleitorais.
Em anos como este que vivemos, em que os partidos disputarão os espaços políticos regionais de olho nas eleições de 2014 e nas alianças que poderão ser feitas com vistas à Presidência da República, o importante é saber quem manda em quem, e a presidente Dilma ainda é uma incógnita a ser decifrada.
Dá-se como improvável que o ex-presidente Lula tenha mesmo dito ao novo líder do governo, Senador Eduardo Braga, que apoiaria a presidente em sua cruzada contra o fisiologismo.
Simplesmente porque esse não é o estilo de Lula que seus "companheiros" tanto enaltecem e de que sentem tanta falta.
O máximo que é possível aceitar é que Lula compreenda que a presidente não aceite ser chantageada, mas nesse caso seria apenas questão de acertar essa sintonia fina entre o que é reivindicação justa e o que é chantagem explícita. Lula era um craque em se antecipar às demandas de sua base aliada, não dando margem a que algum líder tentasse uma chantagem.
Dilma, ao contrário, parece estar muito satisfeita com sua capacidade de enfrentar a tentativa de chantagem, embora reconheça que a relação entre Executivo e Legislativo tende a ser de atritos pela característica quase "parlamentarista" de nosso presidencialismo de coalizão.
A derrota no Senado da recondução do presidente da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) parece ter sido o detonador dessa ação-relâmpago do Executivo sobre o Legislativo, trocando seus líderes na Câmara e no Senado de uma vez, inclusive mexendo no seu próprio partido.
A presidente viu nesse episódio uma afronta pessoal, já que o nome indicado era de sua confiança, e uma oportunidade de demonstrar seu descontentamento. Determinar o fim do chamado "toma lá dá cá", no entanto, não depende apenas da vontade soberana da presidente, mesmo que nosso presidencialismo seja imperial. Mesmo porque a presidente Dilma, tendo exercido a chefia da Casa Civil durante tanto tempo no governo Lula, não pode dizer para seus interlocutores no Legislativo que desconhecia essa prática ou que não concordava com ela.
A Dilma-ministra deve ter sido a negociadora de muitos acordos desse tipo, mesmo a contragosto se for o caso, e deve ter assumido muitos compromissos com a base aliada quando era a candidata de Lula.
Além de ter herdado outros tantos acertos feitos pelo próprio ex-presidente, que culminaram, alguns, em nomeações para o seu primeiro Ministério.
Assim como Lula e seus ministros assumiram compromissos em nome de seus sucessores para a realização da Copa do Mundo, com mais razão ainda também na organização da base partidária que daria apoio a Dilma na sua sucessão, o ex-presidente Lula deve ter assumido compromissos com os líderes partidários que terão de ser cumpridos.
Por isso mesmo, até o momento, a presidente tem feito exibições de força que não resultaram em mudanças efetivas no relacionamento com os aliados.
Além do mais, há uma tradição na política brasileira de o Legislativo se curvar ao Executivo quando é de seu interesse, ou melhor, quando seus interesses mesquinhos são poupados nessa relação.
É difícil, no entanto, ver-se o Executivo impor ao Legislativo alguma decisão que não seja negociada. Pois, quando querem, os parlamentares sabem perfeitamente usar os poderes que têm para ganhar mais força nas negociações.
Nesse sentido, o Executivo terá boas dificuldades com sua própria base aliada se não puder contar com o apoio de Lula nessas negociações ou se perder a expectativa de poder que a presença ativa do ex-presidente garante.
Apenas um exemplo das dificuldades que esperam a presidente Dilma: com a nova tramitação das medidas provisórias determinada pelo Supremo Tribunal Federal, a Comissão Mista que passará a recebê-las ganhará uma força política incalculável. Fazer parte dela valerá ouro.
E o Congresso será obrigado a exercer seu poder sobre o Executivo, o que lhe dará uma nova margem de manobra.
Habemus papam - MARCELO COELHO
FOLHA DE SP - 21/03/12
O filme é menos cômico do que parece; o que há de dramático no argumento aparece sob luz benevolente
É difícil falar do novo filme de Nanni Moretti sem estragar pelo menos uma surpresa, a que funciona como ponto de partida para o resto da história. Evite ler este artigo se você gosta de chegar "virgem" à sala de cinema.
Depois da crise inicial, a história de "Habemus Papam" não conhece grandes reviravoltas. Como nos episódios de "Caro Diário", Moretti faz mais um cinema de situações do que de acontecimentos.
E seu filme é menos cômico do que parece. Ou melhor, o que há de dramático no seu argumento aparece sob uma luz benevolente. Todo esse humor sem crueldade pode bem ser classificado de cristão.
Estamos longe dos tempos de Dante Alighieri, que pôs na antessala do seu "Inferno" o cardeal Pietro da Morrone. Eleito papa em 1294, Celestino 5º passou a compartilhar o destino dos tíbios, ou "ignavi", perseguidos eternamente pelo aguilhão de vespas e moscardos.
Trata-se dos que viveram sem dar motivos para o elogio nem para a crítica. Os neutros, os indiferentes.
"A justiça os despreza", explica Virgílio ao narrador da "Divina Comédia", e continua: "Deles não cogitemos: olha, e passa" ("non ragionam di lor, ma guarda e passa").
Também o cardeal de Nanni Moretti, depois de eleito no conclave, é alguém "che per viltade fece il gran rifiuto". Por covardia ou pequenez, foi protagonista da maior recusa: não quis ser papa.
Moretti não trata seu personagem com severidade dantesca. Poderíamos pensar que não é covardia, mas humildade, o que faz o cardeal Melville (Michel Piccoli) resistir a ocupar o trono de são Pedro.
Do ponto de vista católico, todavia, essa modéstia equivale a uma falta de fé. Se a vontade de Deus indicou seu nome, quem é ele para recusar a missão?
O problema é que o pânico de Melville não se resume a um drama pessoal. Já investido de suas funções pontifícias, ele começa um discurso apontando a necessidade de grandes transformações na igreja; felicidade e esperança surgem no rosto de seus ouvintes.
Mas ele não tem forças para isso. "Non ce la faccio!", repete o cardeal ao longo do filme, lembrando o "preferiria não fazer" do escriturário Bartleby, na novela de seu homônimo Herman Melville.
Logicamente, não fazer uma coisa equivale a fazer outra em seu lugar; e o filme de Moretti explora essa ideia de vários ângulos.
Quem, na verdade, deve ser acusado pela "grande recusa"? O cardeal que não quer ser papa, ou a igreja que continua imóvel, mesmo em questões menores, suscetíveis a revisão histórica?
Outra recusa atinge especialmente o protagonista. Dedicado à vida clerical, Melville sente que, com isso, deixou de viver a vida. Seu maior sonho, o de ser ator, foi cortado na juventude. Não por acaso, nas suas andanças incógnito pelas ruas de Roma, ele dá com uma trupe de teatro que está encenando uma peça de Tchékhov.
No palco, uma das atrizes está de preto. Celebra o luto pela vida não vivida; de certa forma, é o luto de todo clérigo quando renuncia ao mundo terreno.
O humor de Moretti intervém nas horas certas, para não pesar demais num tema desses. Sem ter o que fazer enquanto a crise se prolonga, os cardeais do conclave acabam aderindo a um torneio de vôlei, organizado pelo psicanalista que deveria cuidar do papa.
O entusiasmo aos poucos toma conta dos jogadores, para não falar das belas freirinhas da torcida. A cena tem muito de cômica, mas é comovente também. Sugere a possibilidade de que igreja e mundo secular se aproximem, e que a fé não é questão só de respeito ao dogma mas de entusiasmo e alegria.
Alegria católica, sem dúvida. Penso num conto de Graham Greene, em que uma turma de adolescentes baderneiros, entre as ruínas de Londres no pós-guerra, resolve aprontar uma vingança terrível contra um velhote, que, no fundo, não tinha feito nada de errado.
Destroem completamente a casa em que ele morava. O feito exige grande planejamento e dissimulação. O toque de gênio é fazer com que a última parede da casa venha abaixo de um modo totalmente imprevisto, quando um motorista dá marcha a ré em seu furgão.
Tamanha é a disparidade entre causa e consequência que o motorista cai na risada. Nesse riso se esconde, creio, uma forma de perdão.
O filme é menos cômico do que parece; o que há de dramático no argumento aparece sob luz benevolente
É difícil falar do novo filme de Nanni Moretti sem estragar pelo menos uma surpresa, a que funciona como ponto de partida para o resto da história. Evite ler este artigo se você gosta de chegar "virgem" à sala de cinema.
Depois da crise inicial, a história de "Habemus Papam" não conhece grandes reviravoltas. Como nos episódios de "Caro Diário", Moretti faz mais um cinema de situações do que de acontecimentos.
E seu filme é menos cômico do que parece. Ou melhor, o que há de dramático no seu argumento aparece sob uma luz benevolente. Todo esse humor sem crueldade pode bem ser classificado de cristão.
Estamos longe dos tempos de Dante Alighieri, que pôs na antessala do seu "Inferno" o cardeal Pietro da Morrone. Eleito papa em 1294, Celestino 5º passou a compartilhar o destino dos tíbios, ou "ignavi", perseguidos eternamente pelo aguilhão de vespas e moscardos.
Trata-se dos que viveram sem dar motivos para o elogio nem para a crítica. Os neutros, os indiferentes.
"A justiça os despreza", explica Virgílio ao narrador da "Divina Comédia", e continua: "Deles não cogitemos: olha, e passa" ("non ragionam di lor, ma guarda e passa").
Também o cardeal de Nanni Moretti, depois de eleito no conclave, é alguém "che per viltade fece il gran rifiuto". Por covardia ou pequenez, foi protagonista da maior recusa: não quis ser papa.
Moretti não trata seu personagem com severidade dantesca. Poderíamos pensar que não é covardia, mas humildade, o que faz o cardeal Melville (Michel Piccoli) resistir a ocupar o trono de são Pedro.
Do ponto de vista católico, todavia, essa modéstia equivale a uma falta de fé. Se a vontade de Deus indicou seu nome, quem é ele para recusar a missão?
O problema é que o pânico de Melville não se resume a um drama pessoal. Já investido de suas funções pontifícias, ele começa um discurso apontando a necessidade de grandes transformações na igreja; felicidade e esperança surgem no rosto de seus ouvintes.
Mas ele não tem forças para isso. "Non ce la faccio!", repete o cardeal ao longo do filme, lembrando o "preferiria não fazer" do escriturário Bartleby, na novela de seu homônimo Herman Melville.
Logicamente, não fazer uma coisa equivale a fazer outra em seu lugar; e o filme de Moretti explora essa ideia de vários ângulos.
Quem, na verdade, deve ser acusado pela "grande recusa"? O cardeal que não quer ser papa, ou a igreja que continua imóvel, mesmo em questões menores, suscetíveis a revisão histórica?
Outra recusa atinge especialmente o protagonista. Dedicado à vida clerical, Melville sente que, com isso, deixou de viver a vida. Seu maior sonho, o de ser ator, foi cortado na juventude. Não por acaso, nas suas andanças incógnito pelas ruas de Roma, ele dá com uma trupe de teatro que está encenando uma peça de Tchékhov.
No palco, uma das atrizes está de preto. Celebra o luto pela vida não vivida; de certa forma, é o luto de todo clérigo quando renuncia ao mundo terreno.
O humor de Moretti intervém nas horas certas, para não pesar demais num tema desses. Sem ter o que fazer enquanto a crise se prolonga, os cardeais do conclave acabam aderindo a um torneio de vôlei, organizado pelo psicanalista que deveria cuidar do papa.
O entusiasmo aos poucos toma conta dos jogadores, para não falar das belas freirinhas da torcida. A cena tem muito de cômica, mas é comovente também. Sugere a possibilidade de que igreja e mundo secular se aproximem, e que a fé não é questão só de respeito ao dogma mas de entusiasmo e alegria.
Alegria católica, sem dúvida. Penso num conto de Graham Greene, em que uma turma de adolescentes baderneiros, entre as ruínas de Londres no pós-guerra, resolve aprontar uma vingança terrível contra um velhote, que, no fundo, não tinha feito nada de errado.
Destroem completamente a casa em que ele morava. O feito exige grande planejamento e dissimulação. O toque de gênio é fazer com que a última parede da casa venha abaixo de um modo totalmente imprevisto, quando um motorista dá marcha a ré em seu furgão.
Tamanha é a disparidade entre causa e consequência que o motorista cai na risada. Nesse riso se esconde, creio, uma forma de perdão.
O que é isso, presidenta? - TUTTY VASQUES
O ESTADÃO - 21/03/12
Mal comparando, se uma miss eleita discursasse a favor do aborto ou uma freira fizesse topless na missa de domingo, a estranheza seria a mesma.
Nunca antes na história da Noruega alguém premiado com o Nobel da Paz havia defendido ideias que poderiam muito bem ser da lavra de um Jair Bolsonaro qualquer.
A presidente da Libéria, Ellen Johnson Sirleaf, laureada em 2011 por sua luta pelos direitos da mulher, disse em entrevista ao jornal britânico ‘Guardian’ que 1 ano de cadeia é pouco para punir a “sodomia voluntária” em seu país.
A “presidenta”, como diriam em Brasília, deixou a “militância do bem” numa espécie de saia justa global. “O Nobel da Paz subiu no telhado!” – só se falava disso ontem em Oslo.
Celebridade de primeira grandeza dos direitos humanos justificando o endurecimento das leis africanas de criminalização da homossexualidade, convenhamos, é como líder do movimento ‘Ocupem Wall Street’ pregando o estado mínimo e o livre mercado no Zuccotti Park. Maluquice total!
Pra você ver o que a ronda zodiacal inaugurada esta semana pelo ingresso do Sol no signo de Áries é capaz de fazer com as pessoas. Cuidado com o que falas ao vento por aí!
Pai do ThorNão satisfeito com o lugar de destaque que ocupa na mídia como o homem mais rico do Brasil, o insaciável Eike Batista tem se esforçado um bocado para virar capa de revista como o Pai do Ano em 2012.
A confirmarDepois de renunciar à presidência da CBF e a cargo no Comitê Executivo da Fifa, Ricardo Teixeira teria deixado de ser ex-genro de João Havelange.
PropinodutoA fraude generalizada que o ‘Fantástico’ denunciou na contratação de empresas pelo sistema de saúde no Rio não muda, basicamente, nada no esquema:
Licitação pública vai continuar sendo o jeito mais seguro de se roubar no Brasil.
Nem todas!A polícia de São Paulo está na pista de uma certa “gangue das loiras” de classe média alta.
Até que enfim, mas precisa tomar muito cuidado para não generalizar!
A Marília Gabriela, por exemplo, já não pratica sequestro relâmpago faz tempo.
EsclarecimentoCompromisso com a Fifa não obriga o Brasil a liberar a maconha nos estádios durante a Copa do Mundo.
E não se fala mais nisso, ok?
Efeito bumerangueJosé Serra disse dia desses que a promessa que assinou em 2004 de não ambicionar a presidência da República quando concorria à Prefeitura de São Paulo era apenas “um papelzinho” de nada. Desconfia até que possa ter sido o mesmo que, durante a campanha ao Planalto, voltou-se contra sua cabeça em forma de bolinha – lembra?
BandeiraSenadores do PR decidiram estrear na oposição votando a favor do governo. Aí tem!
Mal comparando, se uma miss eleita discursasse a favor do aborto ou uma freira fizesse topless na missa de domingo, a estranheza seria a mesma.
Nunca antes na história da Noruega alguém premiado com o Nobel da Paz havia defendido ideias que poderiam muito bem ser da lavra de um Jair Bolsonaro qualquer.
A presidente da Libéria, Ellen Johnson Sirleaf, laureada em 2011 por sua luta pelos direitos da mulher, disse em entrevista ao jornal britânico ‘Guardian’ que 1 ano de cadeia é pouco para punir a “sodomia voluntária” em seu país.
A “presidenta”, como diriam em Brasília, deixou a “militância do bem” numa espécie de saia justa global. “O Nobel da Paz subiu no telhado!” – só se falava disso ontem em Oslo.
Celebridade de primeira grandeza dos direitos humanos justificando o endurecimento das leis africanas de criminalização da homossexualidade, convenhamos, é como líder do movimento ‘Ocupem Wall Street’ pregando o estado mínimo e o livre mercado no Zuccotti Park. Maluquice total!
Pra você ver o que a ronda zodiacal inaugurada esta semana pelo ingresso do Sol no signo de Áries é capaz de fazer com as pessoas. Cuidado com o que falas ao vento por aí!
Pai do ThorNão satisfeito com o lugar de destaque que ocupa na mídia como o homem mais rico do Brasil, o insaciável Eike Batista tem se esforçado um bocado para virar capa de revista como o Pai do Ano em 2012.
A confirmarDepois de renunciar à presidência da CBF e a cargo no Comitê Executivo da Fifa, Ricardo Teixeira teria deixado de ser ex-genro de João Havelange.
PropinodutoA fraude generalizada que o ‘Fantástico’ denunciou na contratação de empresas pelo sistema de saúde no Rio não muda, basicamente, nada no esquema:
Licitação pública vai continuar sendo o jeito mais seguro de se roubar no Brasil.
Nem todas!A polícia de São Paulo está na pista de uma certa “gangue das loiras” de classe média alta.
Até que enfim, mas precisa tomar muito cuidado para não generalizar!
A Marília Gabriela, por exemplo, já não pratica sequestro relâmpago faz tempo.
EsclarecimentoCompromisso com a Fifa não obriga o Brasil a liberar a maconha nos estádios durante a Copa do Mundo.
E não se fala mais nisso, ok?
Efeito bumerangueJosé Serra disse dia desses que a promessa que assinou em 2004 de não ambicionar a presidência da República quando concorria à Prefeitura de São Paulo era apenas “um papelzinho” de nada. Desconfia até que possa ter sido o mesmo que, durante a campanha ao Planalto, voltou-se contra sua cabeça em forma de bolinha – lembra?
BandeiraSenadores do PR decidiram estrear na oposição votando a favor do governo. Aí tem!
Espuma & ouriços - DENISE ROTHENBURG
CORREIO BRAZILIENSE - 21/03/12
A CPI dos Correios, que desaguou no mensalão, começou por uma cobrança de propina de R$ 3 mil nos Correios pelo então diretor de Material, Maurício Marinho. Há quem acredite que algo semelhante pode ocorrer via escândalo na saúde
Nas pedras, sempre se faz espuma quando a onda se quebra. O perigo é o sujeito, em meio à espuma, andar pelos recifes de coral e acabar pisando num ouriço. No meio da confusão da base aliada hoje, há muito mais espuma do que ouriço. E, por enquanto, os ouriços são mais perigosos para o PT e para os próprios parlamentares do que propriamente para a presidente Dilma Rousseff.
No caso dos políticos, um ouriço já entrou no pé: o projeto que extingue o 14º e o 15º salários das excelências é um exemplo. Chegou-se ao ponto de que, ou eles votam a proposta que a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, apresentou quando era senadora, ou vão passar maus bocados perante o eleitorado. Afinal, pelo que se conhece, a situação dos congressistas hoje perante a população não é das melhores.
Por falar em salários extras…
Para você que não acompanhou o dia a dia dessa novela, o Correio Braziliense fez dezenas de reportagens nos últimos dias mostrando que o Senado paga esses dois salários no início e no fim de cada ano Legislativo e não pagam imposto sobre esses valores. A Receita Federal foi atrás do que lhe é devido. Espera a resposta até 2 de abril — logo depois do dia da mentira!
O projeto que extingue a mordomia estava nas gavetas da Casa desde fevereiro de 2011. Só saiu da gaveta quando o Correio jogou um pouco de luz sobre o problema. Agora, com o pedido de vistas coletivo sobre o projeto na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) — feito pelo senador Eduardo Suplicy (PT-SP) como forma de evitar que seus pares adiassem indefinidamente a votação —, a proposta tem tudo para ir a votos na semana que vem. Agora, em meio à balbúrdia na base aliada e declarações do próprio líder do governo, senador Eduardo Braga (PMDB-AM), insinuando que o Congresso só funcionava na base do toma lá dá cá, eis uma boa oportunidade para os senadores mostrarem que se preocupam em economizar o dinheiro do contribuinte.
Por falar em base aliada…
Sob a ótica do governo federal, há dois grandes ouriços que podem machucar: um deles é o Código Florestal. Como já dissemos aqui no último domingo, Dilma dificilmente conseguirá cumprir o plano de deixar o texto para votar depois da Rio+20. E, se a proposta for votada, como fechado por 14 partidos, o desgaste para o governo virá tanto em relação aos congressistas — que prometem derrotar o governo — quanto na Rio+20, onde passará pelo constrangimento de ter de explicar por que não conseguiu passar uma proposta mais palatável aos ambientalistas. Portanto, se quiser escapar do troféu motosserra que mencionamos aqui recentemente, só mesmo o veto ao projeto do deputado Paulo Piau (PMDB-MG), que, até aqui, tem o aval de uma grande parte dos colegas.
O outro ouriço são as CPIs. A que pretende investigar as atividades do banqueiro do bicho Carlinhos Cachoeira pretende abalroar não só o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) por suas ligações com o empresário, como também o PT. A CPI da Saúde também é outro tema que preocupa o governo pelo poder de paralisia congressual que uma comissão dessa natureza pode causar. Afinal, na base do governo, ninguém se esquece que a CPI dos Correios, que desaguou no mensalão, começou por uma cobrança de propina de R$ 3 mil nos Correios pelo então diretor de Material, Maurício Marinho. Algo semelhante pode vir via escândalo na saúde.
E a espuma…
Vale lembrar que, no início do mensalão, o PT acreditava que a crise na base do governo Lula era só espuma e que nada afetaria a popularidade presidencial. É bem verdade que insatisfações por parte do PMDB, do PTB e do PR — ou mesmo a tentativa de tirar Ideli Salvatti do governo por parte do próprio PT — são mais espuma do que crise séria. Mas, na hora em que os desacertos políticos se juntam a escândalos de corrupção, cria-se um nó cego, no qual o governo sempre paga o pato. Ou melhor, os cargos. O governo Dilma ainda não chegou a esse ponto, mas o risco existe. Embora a população acredite na honestidade de Dilma como acreditava na de Lula ao ponto de reelegê-lo, ele precisou ser hábil na política. Com a presidente não será muito diferente se chegar a essa situação. Mas, por enquanto, essa habilidade ela ainda não mostrou. Está no ponto que o mercado de ações chama de “wait and see” — esperar e aguardar. Afinal, muita água ainda vai passar sob essa ponte.
A CPI dos Correios, que desaguou no mensalão, começou por uma cobrança de propina de R$ 3 mil nos Correios pelo então diretor de Material, Maurício Marinho. Há quem acredite que algo semelhante pode ocorrer via escândalo na saúde
Nas pedras, sempre se faz espuma quando a onda se quebra. O perigo é o sujeito, em meio à espuma, andar pelos recifes de coral e acabar pisando num ouriço. No meio da confusão da base aliada hoje, há muito mais espuma do que ouriço. E, por enquanto, os ouriços são mais perigosos para o PT e para os próprios parlamentares do que propriamente para a presidente Dilma Rousseff.
No caso dos políticos, um ouriço já entrou no pé: o projeto que extingue o 14º e o 15º salários das excelências é um exemplo. Chegou-se ao ponto de que, ou eles votam a proposta que a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, apresentou quando era senadora, ou vão passar maus bocados perante o eleitorado. Afinal, pelo que se conhece, a situação dos congressistas hoje perante a população não é das melhores.
Por falar em salários extras…
Para você que não acompanhou o dia a dia dessa novela, o Correio Braziliense fez dezenas de reportagens nos últimos dias mostrando que o Senado paga esses dois salários no início e no fim de cada ano Legislativo e não pagam imposto sobre esses valores. A Receita Federal foi atrás do que lhe é devido. Espera a resposta até 2 de abril — logo depois do dia da mentira!
O projeto que extingue a mordomia estava nas gavetas da Casa desde fevereiro de 2011. Só saiu da gaveta quando o Correio jogou um pouco de luz sobre o problema. Agora, com o pedido de vistas coletivo sobre o projeto na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) — feito pelo senador Eduardo Suplicy (PT-SP) como forma de evitar que seus pares adiassem indefinidamente a votação —, a proposta tem tudo para ir a votos na semana que vem. Agora, em meio à balbúrdia na base aliada e declarações do próprio líder do governo, senador Eduardo Braga (PMDB-AM), insinuando que o Congresso só funcionava na base do toma lá dá cá, eis uma boa oportunidade para os senadores mostrarem que se preocupam em economizar o dinheiro do contribuinte.
Por falar em base aliada…
Sob a ótica do governo federal, há dois grandes ouriços que podem machucar: um deles é o Código Florestal. Como já dissemos aqui no último domingo, Dilma dificilmente conseguirá cumprir o plano de deixar o texto para votar depois da Rio+20. E, se a proposta for votada, como fechado por 14 partidos, o desgaste para o governo virá tanto em relação aos congressistas — que prometem derrotar o governo — quanto na Rio+20, onde passará pelo constrangimento de ter de explicar por que não conseguiu passar uma proposta mais palatável aos ambientalistas. Portanto, se quiser escapar do troféu motosserra que mencionamos aqui recentemente, só mesmo o veto ao projeto do deputado Paulo Piau (PMDB-MG), que, até aqui, tem o aval de uma grande parte dos colegas.
O outro ouriço são as CPIs. A que pretende investigar as atividades do banqueiro do bicho Carlinhos Cachoeira pretende abalroar não só o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) por suas ligações com o empresário, como também o PT. A CPI da Saúde também é outro tema que preocupa o governo pelo poder de paralisia congressual que uma comissão dessa natureza pode causar. Afinal, na base do governo, ninguém se esquece que a CPI dos Correios, que desaguou no mensalão, começou por uma cobrança de propina de R$ 3 mil nos Correios pelo então diretor de Material, Maurício Marinho. Algo semelhante pode vir via escândalo na saúde.
E a espuma…
Vale lembrar que, no início do mensalão, o PT acreditava que a crise na base do governo Lula era só espuma e que nada afetaria a popularidade presidencial. É bem verdade que insatisfações por parte do PMDB, do PTB e do PR — ou mesmo a tentativa de tirar Ideli Salvatti do governo por parte do próprio PT — são mais espuma do que crise séria. Mas, na hora em que os desacertos políticos se juntam a escândalos de corrupção, cria-se um nó cego, no qual o governo sempre paga o pato. Ou melhor, os cargos. O governo Dilma ainda não chegou a esse ponto, mas o risco existe. Embora a população acredite na honestidade de Dilma como acreditava na de Lula ao ponto de reelegê-lo, ele precisou ser hábil na política. Com a presidente não será muito diferente se chegar a essa situação. Mas, por enquanto, essa habilidade ela ainda não mostrou. Está no ponto que o mercado de ações chama de “wait and see” — esperar e aguardar. Afinal, muita água ainda vai passar sob essa ponte.
Amigos da onça - DORA KRAMER
O Estado de S.Paulo - 21/03/12
Quando o Legislativo ou o Judiciário resolvem atravessar a Praça dos Três Poderes na direção um do outro para defender o atendimento dos respectivos interesses, o interesse do público entra em zona de risco.
Não foi uma nem foram duas vezes que representantes do Supremo Tribunal Federal fizeram essa travessia para depositar nos gabinetes das presidências da Câmara e do Senado suas reivindicações salariais, cujo efeito inevitável é o aumento de gastos em "cascata".
No sentido contrário, da última vez que uma delegação do Congresso visitou os aposentos da presidência do STF foi para tratar da regra que obrigava as alianças eleitorais a cumprirem regra única nas eleições nacionais e regionais.
A chamada "verticalização" foi para o espaço e o resultado é o que se vê: uma anarquia partidária desprovida de lógica programática em que o aliado nacional é também o inimigo local e partidos nascem com o fito explícito de se alugar.
Na mixórdia, do eleitor evidentemente é subtraído fator decisivo na hora de decidir: a distinção entre uns e outros.
Suas excelências congressuais prometem para breve - nesta semana, talvez - uma nova travessia. Desta vez em visita ao presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Ricardo Lewandowski, para pedir encarecidamente a revisão da decisão de exigir "contas limpas" de quem se pretenda candidato.
Nada de especialmente complicado, apenas a exigência de que as contas da campanha anterior tenham sido aprovadas. O TSE ainda facilitou: decidiu que quem não teve as contas julgadas por causa da lentidão da Justiça está livre para concorrer.
Até então bastava que fossem apresentadas, pouco importando se erradas e, por isso, impugnadas. Consta que existam 21 mil prestações de contas nessa situação.
Na ausência de regra de rigor claro é que os partidos (todos eles, do PT ao DEM) apelam ao TSE que reveja a decisão com base no argumento de que não pode haver alteração das normas eleitorais a menos de um ano do próximo pleito.
Sob essa alegação foram beneficiados em 2010 os políticos condenados ou que renunciaram aos mandatos para escapar de processos por quebra de decoro parlamentar, porque a Lei da Ficha Limpa havia sido aprovada em maio daquele ano.
Na ocasião, houve ministros favoráveis à aplicação imediata porque entendiam não se tratar de norma especificamente eleitoral, mas de um pré-requisito de elegibilidade já válido para outras questões como inscrição em concursos públicos.
O raciocínio pode ser aplicado à decisão sobre as contas: óbvio que o espírito da lei que exige apresentação da contabilidade à Justiça parte do pressuposto da lisura.
Se a aplicação era até então "frouxa", louve-se o fato de os juízes terem decidido que deixará de ser, principalmente em decorrência da obrigatoriedade da ficha limpa. Trata-se de harmonizar procedimentos a subir de patamar.
Adotado o critério da conduta pregressa para candidaturas, não faz sentido exigir ficha limpa e deixar passar impune a conta suja.
Papel. Ou José Serra abraça de fato a tese de que, se eleito, não renunciará à Prefeitura e para de desqualificar a promessa anterior de não renunciar, ou alimentará no eleitor a desconfiança.
Porto inseguro. Nenhuma ameaça dos partidos da base governista de "se aliar à oposição" resiste ao cotejo com os fatos. Seria uma aliança em torno do quê?
Do apoio a uma ou outra candidatura a prefeito de capital, talvez. Fora a disputa eleitoral, os oposicionistas não têm plano de voo e, portanto, por ora nada a oferecer que possa servir de atrativo ou amálgama com os ditos dissidentes.
Isso não significa que o governo possa dormir tranquilo, porque restam as manobras pontuais no Congresso, cuja execução independente dos oposicionistas. A amplitude e heterogeneidade da base dá conta sozinha delas.
Quando o Legislativo ou o Judiciário resolvem atravessar a Praça dos Três Poderes na direção um do outro para defender o atendimento dos respectivos interesses, o interesse do público entra em zona de risco.
Não foi uma nem foram duas vezes que representantes do Supremo Tribunal Federal fizeram essa travessia para depositar nos gabinetes das presidências da Câmara e do Senado suas reivindicações salariais, cujo efeito inevitável é o aumento de gastos em "cascata".
No sentido contrário, da última vez que uma delegação do Congresso visitou os aposentos da presidência do STF foi para tratar da regra que obrigava as alianças eleitorais a cumprirem regra única nas eleições nacionais e regionais.
A chamada "verticalização" foi para o espaço e o resultado é o que se vê: uma anarquia partidária desprovida de lógica programática em que o aliado nacional é também o inimigo local e partidos nascem com o fito explícito de se alugar.
Na mixórdia, do eleitor evidentemente é subtraído fator decisivo na hora de decidir: a distinção entre uns e outros.
Suas excelências congressuais prometem para breve - nesta semana, talvez - uma nova travessia. Desta vez em visita ao presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Ricardo Lewandowski, para pedir encarecidamente a revisão da decisão de exigir "contas limpas" de quem se pretenda candidato.
Nada de especialmente complicado, apenas a exigência de que as contas da campanha anterior tenham sido aprovadas. O TSE ainda facilitou: decidiu que quem não teve as contas julgadas por causa da lentidão da Justiça está livre para concorrer.
Até então bastava que fossem apresentadas, pouco importando se erradas e, por isso, impugnadas. Consta que existam 21 mil prestações de contas nessa situação.
Na ausência de regra de rigor claro é que os partidos (todos eles, do PT ao DEM) apelam ao TSE que reveja a decisão com base no argumento de que não pode haver alteração das normas eleitorais a menos de um ano do próximo pleito.
Sob essa alegação foram beneficiados em 2010 os políticos condenados ou que renunciaram aos mandatos para escapar de processos por quebra de decoro parlamentar, porque a Lei da Ficha Limpa havia sido aprovada em maio daquele ano.
Na ocasião, houve ministros favoráveis à aplicação imediata porque entendiam não se tratar de norma especificamente eleitoral, mas de um pré-requisito de elegibilidade já válido para outras questões como inscrição em concursos públicos.
O raciocínio pode ser aplicado à decisão sobre as contas: óbvio que o espírito da lei que exige apresentação da contabilidade à Justiça parte do pressuposto da lisura.
Se a aplicação era até então "frouxa", louve-se o fato de os juízes terem decidido que deixará de ser, principalmente em decorrência da obrigatoriedade da ficha limpa. Trata-se de harmonizar procedimentos a subir de patamar.
Adotado o critério da conduta pregressa para candidaturas, não faz sentido exigir ficha limpa e deixar passar impune a conta suja.
Papel. Ou José Serra abraça de fato a tese de que, se eleito, não renunciará à Prefeitura e para de desqualificar a promessa anterior de não renunciar, ou alimentará no eleitor a desconfiança.
Porto inseguro. Nenhuma ameaça dos partidos da base governista de "se aliar à oposição" resiste ao cotejo com os fatos. Seria uma aliança em torno do quê?
Do apoio a uma ou outra candidatura a prefeito de capital, talvez. Fora a disputa eleitoral, os oposicionistas não têm plano de voo e, portanto, por ora nada a oferecer que possa servir de atrativo ou amálgama com os ditos dissidentes.
Isso não significa que o governo possa dormir tranquilo, porque restam as manobras pontuais no Congresso, cuja execução independente dos oposicionistas. A amplitude e heterogeneidade da base dá conta sozinha delas.
O Brasil e a bacia do Atlântico - ROBERTO ABDENUR
FOLHA DE SP - 21/03/12
País, graças a contatos culturais e ao comércio, tem posição privilegiada na ponte com a África
Uma nova expressão começa a ganhar curso nos círculos de estudos internacionais -o novo Atlântico. Trata-se do reconhecimento, ainda por vezes incipiente, de que o Atlântico Sul passa por notável transformação, com o processo de integração na América do Sul e o surgimento de novos laços com a África.
Vai-se tornando claro que já não mais faz sentido pensar-se isoladamente no Atlântico Norte como sendo a principal área do oceano. Por demasiado tempo, a ideia de Atlântico tem sido identificada com os vínculos estratégicos entre os Estados Unidos e a Europa, como a chamada Aliança Atlântica e sua expressão mais forte, a Otan, a aliança militar entre os EUA e a maior parte dos países da Europa.
Um dado novo é o de que, com maior estabilidade e dinamismo econômicos e com os avanços em seu processo de integração -que vai sendo levado a cabo não só por forca de ações governamentais, mas também graças a crescentes fluxos de investimentos diretos entre diversos países-, a América do Sul conta hoje com maior grau de projeção política e econômica.
Isso se deve a instituições como o Mercosul e a Unasul, entre outras. A região, em outras palavras, conta com maior densidade e personalidade própria, o que lhe confere mais credibilidade do que no passado (descontados os casos de regimes autoritários como o da Venezuela e alguns de seus seguidores).
Devido a sua centralidade e capacidade de iniciativa, tem o Brasil ocupado, claro está, papel-chave nos avanços registrados pela região.
Mas tem também o Brasil, de outra parte, atuado como a ponta de lança numa inédita aproximação com a África. Basta citar a IBSA, o mecanismo de cooperação entre Brasil, Índia e África do Sul que tem, entre outros, o objetivo de apoiar países africanos mais pobres.
Ocupa o Brasil, graças a seus fluxos de comércio, investimentos, cooperação técnica e contatos culturais, posição privilegiada de ponte entre os dois continentes.
O ex-presidente Lula terá talvez exagerado ao dizer que América do Sul e África estão separados só por um rio. Mas não há duvida de que o Atlântico Sul se vai estreitando.
Nisso tudo, ocupa o Brasil posição privilegiada como principal parceiro dos EUA e da Europa na América do Sul. Temos hoje uma relação de maior mutualidade e equilíbrio com os EUA e contamos com parcerias estratégicas com a União Europeia como tal e com os principais países europeus individualmente.
Tem o Brasil, assim, papel significativo como ponte entre a América do Sul, de um lado, e os EUA, a Europa e agora a África, de outro. Cumpre, nessas circunstâncias, procurarmos enfatizar e valorizar o mais possível a ideia de uma bacia do Atlântico como espaço geopolítico que merece ser reconhecido como não menos importante do que a tão falada bacia do Pacífico.
País, graças a contatos culturais e ao comércio, tem posição privilegiada na ponte com a África
Uma nova expressão começa a ganhar curso nos círculos de estudos internacionais -o novo Atlântico. Trata-se do reconhecimento, ainda por vezes incipiente, de que o Atlântico Sul passa por notável transformação, com o processo de integração na América do Sul e o surgimento de novos laços com a África.
Vai-se tornando claro que já não mais faz sentido pensar-se isoladamente no Atlântico Norte como sendo a principal área do oceano. Por demasiado tempo, a ideia de Atlântico tem sido identificada com os vínculos estratégicos entre os Estados Unidos e a Europa, como a chamada Aliança Atlântica e sua expressão mais forte, a Otan, a aliança militar entre os EUA e a maior parte dos países da Europa.
Um dado novo é o de que, com maior estabilidade e dinamismo econômicos e com os avanços em seu processo de integração -que vai sendo levado a cabo não só por forca de ações governamentais, mas também graças a crescentes fluxos de investimentos diretos entre diversos países-, a América do Sul conta hoje com maior grau de projeção política e econômica.
Isso se deve a instituições como o Mercosul e a Unasul, entre outras. A região, em outras palavras, conta com maior densidade e personalidade própria, o que lhe confere mais credibilidade do que no passado (descontados os casos de regimes autoritários como o da Venezuela e alguns de seus seguidores).
Devido a sua centralidade e capacidade de iniciativa, tem o Brasil ocupado, claro está, papel-chave nos avanços registrados pela região.
Mas tem também o Brasil, de outra parte, atuado como a ponta de lança numa inédita aproximação com a África. Basta citar a IBSA, o mecanismo de cooperação entre Brasil, Índia e África do Sul que tem, entre outros, o objetivo de apoiar países africanos mais pobres.
Ocupa o Brasil, graças a seus fluxos de comércio, investimentos, cooperação técnica e contatos culturais, posição privilegiada de ponte entre os dois continentes.
O ex-presidente Lula terá talvez exagerado ao dizer que América do Sul e África estão separados só por um rio. Mas não há duvida de que o Atlântico Sul se vai estreitando.
Nisso tudo, ocupa o Brasil posição privilegiada como principal parceiro dos EUA e da Europa na América do Sul. Temos hoje uma relação de maior mutualidade e equilíbrio com os EUA e contamos com parcerias estratégicas com a União Europeia como tal e com os principais países europeus individualmente.
Tem o Brasil, assim, papel significativo como ponte entre a América do Sul, de um lado, e os EUA, a Europa e agora a África, de outro. Cumpre, nessas circunstâncias, procurarmos enfatizar e valorizar o mais possível a ideia de uma bacia do Atlântico como espaço geopolítico que merece ser reconhecido como não menos importante do que a tão falada bacia do Pacífico.
Jogo fisiológico - EDITORIAL FOLHA DE SP
FOLHA DE SP - 21/03/12
Fruto de garantias oferecidas à Fifa pelo presidente Lula, Lei da Copa transformou-se em trunfo na peleja entre Dilma Rousseff e o Congresso
Em meio às pressões e chantagens que dominam as relações entre o governo federal e sua base parlamentar, a tramitação da Lei Geral da Copa no Congresso ganhou renovada projeção.
Embora suas consequências tendam a ser limitadas e transitórias, as normas que disciplinam a realização do Mundial de 2014 no país tornaram-se objeto de discussões acaloradas, que parecem pautar-se, ao menos em parte, pela máxima fisiológica de "criar dificuldades para vender facilidades".
Como esta Folha já teve oportunidade de comentar, não havia razão para o Brasil apressar-se em fazer mesuras e concessões à Fifa -que pretendia, por exemplo, responsabilizar a União "integralmente e independentemente de culpa" por eventuais prejuízos relacionados à competição.
É preciso considerar, porém, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quando da confirmação do país como sede do Mundial, em 2007, ofereceu à Fifa garantias relativas a 11 tópicos, entre os quais figurava a comercialização de produtos.
Como se sabe, a entidade máxima do futebol mundial tem como um de seus patrocinadores uma marca de cerveja -e pretende vendê-la nos estádios. Tal intenção tornou-se o principal ponto de desacordo em torno da legislação.
Não existia em 2007, todavia, norma federal que proibisse o consumo de bebidas alcoólicas em praças esportivas. O veto passou a integrar o Estatuto do Torcedor em 2010, em decorrência de um protocolo firmado, em 2008, pela CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e pelo Conselho Nacional de Procuradores-Gerais -uma associação dos procuradores-gerais de Justiça dos Ministérios Públicos dos Estados e da União.
O texto incorporado ao Estatuto, diga-se, não prima pela precisão. Estabelece que "acesso e permanência do torcedor no recinto esportivo" não poderão ocorrer caso ele porte "objetos, bebidas ou substâncias proibidas ou suscetíveis de gerar ou possibilitar a prática de atos de violência". A regra, aliás, foi suspensa na Bahia por decisão liminar da Justiça.
Uma vez que a Presidência assumiu compromissos, é razoável que sejam cumpridos, desde que não se trate de despropósitos óbvios. Não parece ser esse o caso da venda de cerveja em bares situados em estádios durante o período de competição -soa como um exagero ver em tal medida uma ruptura da soberania nacional.
É preciso, no entanto, que as concessões se restrinjam ao evento. Não cabe, a título de cumprir promessas à Fifa, revogar em definitivo as restrições do Estatuto do Torcedor à comercialização de bebidas alcoólicas, uma ferramenta de combate à violência nos estádios.
Reação no Senado - ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 21/03/12
Os senadores estão irritados com o relator no Senado do projeto que cria o Funpresp. Fiel ao Planalto, o senador José Pimentel (PT-CE) rejeitou todas as emendas, pois o governo quer que os senadores digam “amém” ao aprovado na Câmara. Mas acontece que o STF não aceita dividir a aprovação do Estatuto e dos Planos do Funpresp do Judiciário com o Conselho Nacional de Justiça. O Supremo alega que o CNJ é um órgão de fiscalização e não um Poder da República.
Ruralistas pressionam com Lei da Copa
A bancada pluripartidária dos ruralistas está condicionando aprovar a Lei Geral da Copa à votação do Código Florestal. Eles levaram sua posição ontem para o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS). Diante da fragilidade do governo, devido à resistência das bancadas dos evangélicos e da Saúde em aprovar a liberação da venda de bebida alcoólica nos estádios da Copa, eles pressionam. Os líderes do governo não aceitam votar o Código Florestal antes da Rio+20, seguindo orientação do Planalto, mas estão se comprometendo a marcar uma data antes do recesso. Mas os ruralistas não confiam no governo.
“Peguei o cavalo no galope” — Arlindo Chinaglia, líder do governo na Câmara (PT-SP), sobre o zigue-zague do Planalto no debate da venda de bebida alcoólica na Copa
XÔ. A presidente Dilma mandou um recado público ontem para uma ala do setor cultural petista. Ao deixar a solenidade do Pronacampo, no Planalto, Dilma foi até a ministra Ana de Hollanda (Cultura), deu beijinhos, abraçou-a, teve uma breve conversa e tirou fotos sorridente. Depois que a presidente saiu, a ministra Helena Chagas (Comunicação de Governo) se dirigiu à plateia de repórteres e afirmou: “Gente, a ministra não sai!”
Redução de danos
O líder do PMDB, Henrique Alves (RN), levou o ministro Aldo Rebelo (Esporte) a conversar com sua bancada porque quer reduzir ao mínimo as defecções na Lei da Copa. Quer que elas se resumam aos evangélicos e à bancada da Saúde.
Nó no nó
Juristas estão propondo ao Congresso uma fórmula engenhosa para resolver o impasse criado na tramitação das MPs com a recente decisão do STF. Sugerem que a Comissão Especial seja integrada por 513 deputados e 81 senadores.
Copa: cada país com sua agonia
No Qatar, país islâmico, que será a sede da Copa de 2022, o maior drama das autoridades locais é com as torcedoras que vão aos jogos “de shortinho, top e gorro” (como diria o compositor Edu Krieger). Hoje não existe polêmica sobre a venda de bebidas alcoólicas, mas a preocupação existe. Nos meses de dezembro e janeiro, alegando excessos, o governo suspendeu a venda de bebidas no bairro The Pearl, onde ela é comercializada em hotéis e restaurantes frequentados por estrangeiros.
Sem política
Nenhum parlamentar de Goiás foi convidado para acompanhar a presidente Dilma, semana passada, em visita ao estado para ver as obras da Ferrovia Norte-Sul. Aos que reclamaram, o Planalto justificou: “A visita era ‘técnico-administrativa’.”
No papelzinho
Vinte dias após a assinatura do pacto da construção civil, os trabalhadores da usina de Jirau estão em greve. Integrante do consórcio, a Camargo Corrêa assinou o compromisso. A principal reivindicação é a antecipação do dissídio.
NA EUROCOPA, disputada entre seleções europeias, é proibida a comercialização de bebidas alcoólicas nos estádios. Moral da história: a Fifa poderia selecionar melhor os seus patrocinadores.
O GOVERNADOR Sérgio Cabral garantiu ao presidente do PT, Rui Falcão, que o PMDB apoiará a candidatura do petista Rodrigo Neves à Prefeitura de Niterói. Neves é secretário estadual de Assistência Social.
O PREFEITO de São Paulo, Gilberto Kassab, foi a Salvador ontem anunciar o apoio do PSD à candidatura de Nelson Pelegrino (PT) à prefeitura.
Ruralistas pressionam com Lei da Copa
A bancada pluripartidária dos ruralistas está condicionando aprovar a Lei Geral da Copa à votação do Código Florestal. Eles levaram sua posição ontem para o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS). Diante da fragilidade do governo, devido à resistência das bancadas dos evangélicos e da Saúde em aprovar a liberação da venda de bebida alcoólica nos estádios da Copa, eles pressionam. Os líderes do governo não aceitam votar o Código Florestal antes da Rio+20, seguindo orientação do Planalto, mas estão se comprometendo a marcar uma data antes do recesso. Mas os ruralistas não confiam no governo.
“Peguei o cavalo no galope” — Arlindo Chinaglia, líder do governo na Câmara (PT-SP), sobre o zigue-zague do Planalto no debate da venda de bebida alcoólica na Copa
XÔ. A presidente Dilma mandou um recado público ontem para uma ala do setor cultural petista. Ao deixar a solenidade do Pronacampo, no Planalto, Dilma foi até a ministra Ana de Hollanda (Cultura), deu beijinhos, abraçou-a, teve uma breve conversa e tirou fotos sorridente. Depois que a presidente saiu, a ministra Helena Chagas (Comunicação de Governo) se dirigiu à plateia de repórteres e afirmou: “Gente, a ministra não sai!”
Redução de danos
O líder do PMDB, Henrique Alves (RN), levou o ministro Aldo Rebelo (Esporte) a conversar com sua bancada porque quer reduzir ao mínimo as defecções na Lei da Copa. Quer que elas se resumam aos evangélicos e à bancada da Saúde.
Nó no nó
Juristas estão propondo ao Congresso uma fórmula engenhosa para resolver o impasse criado na tramitação das MPs com a recente decisão do STF. Sugerem que a Comissão Especial seja integrada por 513 deputados e 81 senadores.
Copa: cada país com sua agonia
No Qatar, país islâmico, que será a sede da Copa de 2022, o maior drama das autoridades locais é com as torcedoras que vão aos jogos “de shortinho, top e gorro” (como diria o compositor Edu Krieger). Hoje não existe polêmica sobre a venda de bebidas alcoólicas, mas a preocupação existe. Nos meses de dezembro e janeiro, alegando excessos, o governo suspendeu a venda de bebidas no bairro The Pearl, onde ela é comercializada em hotéis e restaurantes frequentados por estrangeiros.
Sem política
Nenhum parlamentar de Goiás foi convidado para acompanhar a presidente Dilma, semana passada, em visita ao estado para ver as obras da Ferrovia Norte-Sul. Aos que reclamaram, o Planalto justificou: “A visita era ‘técnico-administrativa’.”
No papelzinho
Vinte dias após a assinatura do pacto da construção civil, os trabalhadores da usina de Jirau estão em greve. Integrante do consórcio, a Camargo Corrêa assinou o compromisso. A principal reivindicação é a antecipação do dissídio.
NA EUROCOPA, disputada entre seleções europeias, é proibida a comercialização de bebidas alcoólicas nos estádios. Moral da história: a Fifa poderia selecionar melhor os seus patrocinadores.
O GOVERNADOR Sérgio Cabral garantiu ao presidente do PT, Rui Falcão, que o PMDB apoiará a candidatura do petista Rodrigo Neves à Prefeitura de Niterói. Neves é secretário estadual de Assistência Social.
O PREFEITO de São Paulo, Gilberto Kassab, foi a Salvador ontem anunciar o apoio do PSD à candidatura de Nelson Pelegrino (PT) à prefeitura.
Ressaca à vista - VERA MAGALHÃES - PAINEL
FOLHA DE SP - 21/03/12
O acordo para delegar aos Estados a responsabilidade pela liberação da venda de bebida nos estádios durante a Copa cria embaraço em particular para Geraldo Alckmin, que adota como bandeira de gestão o combate ao consumo de álcool entre jovens e procura desviar dos holofotes quando o assunto é o Mundial de 2014.
Para atender o acordo do governo federal com a Fifa, o tucano teria de atropelar lei estadual de 96, de autoria do ex-presidente da CBF Nabi Abi Chedid, que veda consumo e venda num raio de 200 metros das arenas. Ainda assim, medida de exceção para os seis jogos na capital pode ter a constitucionalidade questionada.
Não passarão Do capitão Luiz Gonzaga de Oliveira Júnior, que integra o QG de segurança da Copa: "Prevalecendo a lei, não haverá venda de bebida alcoólica em São Paulo. Seria um atentado contra a soberania estadual".
Está escrito Quem acompanha de perto os preparativos do Mundial pergunta: "Os Estados se candidataram a sediar as partidas. Não sabiam das exigências da Fifa?"
Falta combinar Os ministros de Dilma Rousseff haviam conversado com os governadores somente antes da polêmica sobre a bebida. A "terceirização" do problema foi decidida no escuro.
Bode expiatório Integrantes do governo responsabilizam o relator da Lei Geral, Vicente Cândido (PT-SP) pela confusão alcoólica. Cândido afirma que colocou a emenda que permitia a liberação de bebida a pedido do governo.
Deixa comigo O presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), disse que não vai consultar o Planalto para pautar a votação do Código Florestal. "Não vou falar com a Dilma. Se tiver de marcar, marco eu", disse, ontem.
In memorian Em busca dos votos para a Lei Geral da Copa, o ministro Aldo Rebelo (Esporte) abriu seu discurso em encontro com o PMDB afirmando que sua origem política era o partido e citando até Ulysses Guimarães.
Viva a vaia Da senadora Kátia Abreu (PSD-TO) sobre as vaias que recebeu dos sem-terra durante evento no Palácio do Planalto: "Se o MST me aplaudisse não ia pegar bem para o meu currículo".
Fui eu Na reta final da pré-campanha tucana, José Serra programou incursões por vitrines de suas gestões na prefeitura e no governo. Hoje, deve ir ao ambulatório médico do Jardim São Luís e ao hospital de M'Boi Mirim. Amanhã, quer visitar a Fatec vizinha ao Itaquerão.
Vaquinha A direção estadual do PSDB repassou R$ 150 mil à seção paulistana do partido para ajudar a custear as despesas das prévias marcadas para domingo.
Amnésia Dilma não citou o ex-ministro da Educação Fernando Haddad, pré-candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, no lançamento do PronaCampo, ontem. A presidente agradeceu apenas a Aloizio Mercadante.
Oremos No ato de hoje na Praça da Sé em que retomará a distribuição de panfletos anti-Dilma apreendidos na campanha de 2010, a Regional Sul-1 da CNBB lançará outro documento contra o aborto. Desta vez, pedirá a demissão da ministra Eleonora Menicucci (Mulheres).
Dilma da Dilma A presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, atua para desarmar a divisão política da empresa. Observadores apostam que ela pode demitir o diretor financeiro, Almir Barbassa, ligado ao ex-presidente José Sérgio Gabrielli.
Troll Indio da Costa (PSD-RJ) recorrerá ao STF contra multa de R$ 5.000 da Justiça Eleitoral por campanha prévia no Twitter em 2010. Dirá que a decisão se refere à "liberdade de manifestação do pensamento e ao ambiente mais simbólico da democracia moderna, a internet".
com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI
tiroteio
Serra está sempre às voltas com papeis. Em 2010 foi a bolinha de papel. Em 2004, diz que assinou um papelzinho. Na verdade, nos dois casos ele aprontou um papelão.
DO DEPUTADO FEDERAL JOSÉ MENTOR (PT-SP), sobre o pré-candidato tucano José Serra ter dito que, em 2004, não assinou um documento, e sim um "papelzinho", dizendo que não deixaria a prefeitura para concorrer em 2006.
contraponto
Com açúcar e com afeto
Na segunda-feira, Ideli Salvatti ofereceu bolo aos líderes governistas para festejar seu aniversário. Alvo de queixas da base, a ministra tirou até foto com Henrique Alves (PMDB-RN).
-Preciso te mandar nossa foto -, disse ela ontem, ao encontrar o peemedebista.
-Manda! Vou colocar num porta-retrato para todo dia olhar para a sra. -, respondeu Alves.
O acordo para delegar aos Estados a responsabilidade pela liberação da venda de bebida nos estádios durante a Copa cria embaraço em particular para Geraldo Alckmin, que adota como bandeira de gestão o combate ao consumo de álcool entre jovens e procura desviar dos holofotes quando o assunto é o Mundial de 2014.
Para atender o acordo do governo federal com a Fifa, o tucano teria de atropelar lei estadual de 96, de autoria do ex-presidente da CBF Nabi Abi Chedid, que veda consumo e venda num raio de 200 metros das arenas. Ainda assim, medida de exceção para os seis jogos na capital pode ter a constitucionalidade questionada.
Não passarão Do capitão Luiz Gonzaga de Oliveira Júnior, que integra o QG de segurança da Copa: "Prevalecendo a lei, não haverá venda de bebida alcoólica em São Paulo. Seria um atentado contra a soberania estadual".
Está escrito Quem acompanha de perto os preparativos do Mundial pergunta: "Os Estados se candidataram a sediar as partidas. Não sabiam das exigências da Fifa?"
Falta combinar Os ministros de Dilma Rousseff haviam conversado com os governadores somente antes da polêmica sobre a bebida. A "terceirização" do problema foi decidida no escuro.
Bode expiatório Integrantes do governo responsabilizam o relator da Lei Geral, Vicente Cândido (PT-SP) pela confusão alcoólica. Cândido afirma que colocou a emenda que permitia a liberação de bebida a pedido do governo.
Deixa comigo O presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), disse que não vai consultar o Planalto para pautar a votação do Código Florestal. "Não vou falar com a Dilma. Se tiver de marcar, marco eu", disse, ontem.
In memorian Em busca dos votos para a Lei Geral da Copa, o ministro Aldo Rebelo (Esporte) abriu seu discurso em encontro com o PMDB afirmando que sua origem política era o partido e citando até Ulysses Guimarães.
Viva a vaia Da senadora Kátia Abreu (PSD-TO) sobre as vaias que recebeu dos sem-terra durante evento no Palácio do Planalto: "Se o MST me aplaudisse não ia pegar bem para o meu currículo".
Fui eu Na reta final da pré-campanha tucana, José Serra programou incursões por vitrines de suas gestões na prefeitura e no governo. Hoje, deve ir ao ambulatório médico do Jardim São Luís e ao hospital de M'Boi Mirim. Amanhã, quer visitar a Fatec vizinha ao Itaquerão.
Vaquinha A direção estadual do PSDB repassou R$ 150 mil à seção paulistana do partido para ajudar a custear as despesas das prévias marcadas para domingo.
Amnésia Dilma não citou o ex-ministro da Educação Fernando Haddad, pré-candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, no lançamento do PronaCampo, ontem. A presidente agradeceu apenas a Aloizio Mercadante.
Oremos No ato de hoje na Praça da Sé em que retomará a distribuição de panfletos anti-Dilma apreendidos na campanha de 2010, a Regional Sul-1 da CNBB lançará outro documento contra o aborto. Desta vez, pedirá a demissão da ministra Eleonora Menicucci (Mulheres).
Dilma da Dilma A presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, atua para desarmar a divisão política da empresa. Observadores apostam que ela pode demitir o diretor financeiro, Almir Barbassa, ligado ao ex-presidente José Sérgio Gabrielli.
Troll Indio da Costa (PSD-RJ) recorrerá ao STF contra multa de R$ 5.000 da Justiça Eleitoral por campanha prévia no Twitter em 2010. Dirá que a decisão se refere à "liberdade de manifestação do pensamento e ao ambiente mais simbólico da democracia moderna, a internet".
com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI
tiroteio
Serra está sempre às voltas com papeis. Em 2010 foi a bolinha de papel. Em 2004, diz que assinou um papelzinho. Na verdade, nos dois casos ele aprontou um papelão.
DO DEPUTADO FEDERAL JOSÉ MENTOR (PT-SP), sobre o pré-candidato tucano José Serra ter dito que, em 2004, não assinou um documento, e sim um "papelzinho", dizendo que não deixaria a prefeitura para concorrer em 2006.
contraponto
Com açúcar e com afeto
Na segunda-feira, Ideli Salvatti ofereceu bolo aos líderes governistas para festejar seu aniversário. Alvo de queixas da base, a ministra tirou até foto com Henrique Alves (PMDB-RN).
-Preciso te mandar nossa foto -, disse ela ontem, ao encontrar o peemedebista.
-Manda! Vou colocar num porta-retrato para todo dia olhar para a sra. -, respondeu Alves.
O incentivo da impunidade à corrupção - EDITORIAL O GLOBO
O Globo - 21/03/12
As cenas de corrupção explícita mostradas pelo último "Fantástico", da TV Globo, têm lugar garantido na seleção dos piores momentos - ou melhores, a depender do ponto de vista - das reportagens publicadas nos últimos anos pela imprensa profissional de denúncia do roubo do dinheiro do contribuinte tramado no setor público.
As tratativas de representantes de quatro empresas interessadas em contratos de fornecimento a um hospital da UFRJ, no Rio, feitas com um repórter da emissora passando-se por burocrata responsável pelas compras do estabelecimento, são um mergulho no escabroso cotidiano de um Estado que avança cada vez mais sobre o bolso do contribuinte e sem maiores zelos com o destino do dinheiro alheio.
As cenas já fazem parte da mesma galeria de vídeos em que está um empregado dos Correios, Maurício Marinho, no ato de embolsar um maço de dinheiro oferecido por um empresário, uma espécie de fio da meada que levou Roberto Jefferson (PTB), "padrinho" do funcionário, a denunciar o mensalão. Juntam-se também ao registro do patético pedido de propina feito sem rodeios por Waldomiro Diniz, ainda assessor do chefe da Casa Civil José Dirceu, ao bicheiro Carlinhos Cachoeira. E à farta distribuição de dinheiro vivo no governo de José Roberto Arruda, no caso do "Mensalão do DEM".
Uma das peculiaridades do material mostrado pelo "Fantástico", e ampliado no "Jornal Nacional" de segunda-feira, é registrar a tranquilidade e destreza com que representantes de empresas com tradição em negócios com o poder público - Locanty Soluções, Toesa Service, Bella Vista Refeições Industriais e Rufolo Serviços Técnicos e Construções - articulam o pagamento de propinas, falam sobre superfaturamento para financiar o "por fora" do funcionário público sentado do outro lado da mesa, e fraudam uma concorrência. Parece fazer parte do trabalho diário de todos. E deve fazer.
Existem indicações de que há uma roubalheira disseminada e institucionalizada do dinheiro do contribuinte, sob patrocínio de maus servidores, com ramificações no mundo da política. Para ficar no bilionário universo da saúde pública, apenas 2,5% dos enormes repasses federais a estados e municípios, feitos no âmbito do SUS, são auditados. Assim, entre 2007 e 2010, R$ 154 bilhões fluíram de Brasília para o resto do Brasil sem qualquer controle. Quanto deve ter sido desviado? Fiscalizações feitas por inspetores da Controladoria Geral da União (CGU), por amostragem, em municípios, apontam a possibilidade de desaparecerem 30% dos repasses federais, apenas entre prefeituras.
A denúncia da falcatrua arquitetada no hospital da UFRJ atraiu declarações fortes contra a corrupção. Mas, como sempre, nada deverá ocorrer. O Ministério Público investigará e, quando o caso chegar à Justiça, há um amplo arsenal de recursos à disposição dos advogados das firmas para mantê-las em operação como fornecedoras do estado. Estas mesmas empresas já haviam sido "punidas" em 2010, por iniciativa do MP estadual. Como se viu, nada foi para valer. A faceta grave em todas estas histórias de corrupção é a impunidade, um eficiente incentivo para o crime continuado. Tanto que agentes de empresas negociam assaltos ao contribuinte como se fosse um negócio normal. No dia em que corruptores e corrompidos forem mesmo condenados a penas condizentes, este cenário mudará. Caso contrário, novos vídeos virão.
As cenas de corrupção explícita mostradas pelo último "Fantástico", da TV Globo, têm lugar garantido na seleção dos piores momentos - ou melhores, a depender do ponto de vista - das reportagens publicadas nos últimos anos pela imprensa profissional de denúncia do roubo do dinheiro do contribuinte tramado no setor público.
As tratativas de representantes de quatro empresas interessadas em contratos de fornecimento a um hospital da UFRJ, no Rio, feitas com um repórter da emissora passando-se por burocrata responsável pelas compras do estabelecimento, são um mergulho no escabroso cotidiano de um Estado que avança cada vez mais sobre o bolso do contribuinte e sem maiores zelos com o destino do dinheiro alheio.
As cenas já fazem parte da mesma galeria de vídeos em que está um empregado dos Correios, Maurício Marinho, no ato de embolsar um maço de dinheiro oferecido por um empresário, uma espécie de fio da meada que levou Roberto Jefferson (PTB), "padrinho" do funcionário, a denunciar o mensalão. Juntam-se também ao registro do patético pedido de propina feito sem rodeios por Waldomiro Diniz, ainda assessor do chefe da Casa Civil José Dirceu, ao bicheiro Carlinhos Cachoeira. E à farta distribuição de dinheiro vivo no governo de José Roberto Arruda, no caso do "Mensalão do DEM".
Uma das peculiaridades do material mostrado pelo "Fantástico", e ampliado no "Jornal Nacional" de segunda-feira, é registrar a tranquilidade e destreza com que representantes de empresas com tradição em negócios com o poder público - Locanty Soluções, Toesa Service, Bella Vista Refeições Industriais e Rufolo Serviços Técnicos e Construções - articulam o pagamento de propinas, falam sobre superfaturamento para financiar o "por fora" do funcionário público sentado do outro lado da mesa, e fraudam uma concorrência. Parece fazer parte do trabalho diário de todos. E deve fazer.
Existem indicações de que há uma roubalheira disseminada e institucionalizada do dinheiro do contribuinte, sob patrocínio de maus servidores, com ramificações no mundo da política. Para ficar no bilionário universo da saúde pública, apenas 2,5% dos enormes repasses federais a estados e municípios, feitos no âmbito do SUS, são auditados. Assim, entre 2007 e 2010, R$ 154 bilhões fluíram de Brasília para o resto do Brasil sem qualquer controle. Quanto deve ter sido desviado? Fiscalizações feitas por inspetores da Controladoria Geral da União (CGU), por amostragem, em municípios, apontam a possibilidade de desaparecerem 30% dos repasses federais, apenas entre prefeituras.
A denúncia da falcatrua arquitetada no hospital da UFRJ atraiu declarações fortes contra a corrupção. Mas, como sempre, nada deverá ocorrer. O Ministério Público investigará e, quando o caso chegar à Justiça, há um amplo arsenal de recursos à disposição dos advogados das firmas para mantê-las em operação como fornecedoras do estado. Estas mesmas empresas já haviam sido "punidas" em 2010, por iniciativa do MP estadual. Como se viu, nada foi para valer. A faceta grave em todas estas histórias de corrupção é a impunidade, um eficiente incentivo para o crime continuado. Tanto que agentes de empresas negociam assaltos ao contribuinte como se fosse um negócio normal. No dia em que corruptores e corrompidos forem mesmo condenados a penas condizentes, este cenário mudará. Caso contrário, novos vídeos virão.
Alcançar o oásis - ROBERTO DaMATTA
O Estado de S.Paulo - 21/03/12
Estava quase desistindo porque o meu enorme esforço não produzia resultados - ou melhor, produzia somente ganhos marginais, como se diz em economês, essa língua do nosso deserto mundo. Eu me agitava com o máximo de energia, embora o velho corpo não respondesse. Bem na minha frente, ela estava perplexa e me olhava aguardando o sinal das miragens que prenunciam o oásis. O tal oásis que não vinha.
Eu não estava nervoso quando sondei a dimensão da tarefa e comecei o movimento repetitivo que levaria ao oásis indicado no meu mapa - uma velha, bolorenta e inconfiável carta topográfica. Ademais, eu seguia os preceitos dos peregrinos aprendidos com os velhos líderes de caravanas acostumadas a cruzar o deserto quando estive no Cairo, Egito, graças a um seminário devotado a discutir uma tão necessitada "Antropologia da Angústia".
- Só depois de estar com o corpo cheio de energia é que o beduíno usa com ousadia o seu cajado, sem o qual não se anda no deserto. Até atingir esse estágio, o peregrino deve evitar usar o bordão furiosamente, pois nada substitui uma consciente timidez.
- Mas o cajado não representa o caminhante?, indaguei eu dando um pequeno gole no meu chá de menta.
- Claro! Mas lembre-se de que tudo o que representa o corpo pode sabotá-lo. A voz aponta a falsidade nas mais fervorosas preces a Alá ou o futuro adultério numa declaração de amor. As mãos tremem ao assinar um contrato matrimonial com 200 virgens, como ocorreu com o Sheik árabe-germânico Waltzer Zinder Ben-Hur, quando ele vislumbrou as delícias que o esperavam sorrindo por trás das vendas que separam fantasia e realidade. O mesmo ocorre com a parte mais importante do corpo, pois seu fracasso faz surgir a pusilânime hiena dentro do homem!
Essas palavras, ouvidas há décadas, martelavam minha cabeça na fase do aquecimento. Um pouco aqui, menos ali, muito (mas sem exagero) acolá. Eu mobilizava meu corpo parceladamente e, na medida em que ganhava confiança, as pernas e coxas davam-me um apoio crucial.
Mas o tempo passava e a engrenagem que levaria ao oásis não afinava. A alma, essa entidade ilimitada que se imagina perto de Deus e pode estar em todos os lugares, ensaiou abandonar-me. Nos seus anseios tão incontroláveis quanto uma sinfonia de Beethoven, ela iniciou uma tremenda e insidiosa ventania de pensamentos. Primeiro, lembrou-me que aquela movimentação era ultrajante. Não estaria eu querendo oásis em excesso?
Em seguida, começou a relampejar lembranças intrusivas do tipo: não era melhor estar lendo um livro na quietude da minha varanda? Que tal uma boa conversa com o amigo escocês Joãozinho Caminhador: aquele que tudo ouve e nada diz? Não seria um grave pecado, insistia a alma, querer chegar ao oásis para se refastelar no fundo poço das suas endorfinas, comer as suas tâmaras e passas, quando tudo isso havia sido feito ainda ontem, com o requinte de saborear no fim um assado de pernil de cordeiro, devorado à Herodes?
Tais sinais da mais torpe traição promoviam fraqueza no meu corpo. A alma sabotava, o denodado corpo insistia. Continuar era um pecado e prosseguir, um ato de coragem. Eis a triste situação em que me encontrava. Um paradoxo comum entre nós, humanos e vazios de programação, incertos de quem somos e inseguros sobres os nossos limites.
- Veja, berravam valentemente minhas pernas, mais uns minutos e você chega lá. Note como o cajado está firme. Não abandone o navio: isto não é cruzeiro, é Cruzada!
Como um primeiro sintoma de uma possível pane, porém, senti que o bordão começava a pesar. A alma sugeriu parti-lo em dois. Mas, ajudado pelos braços, dei ao bastão mais uma oportunidade, porque o meu cronômetro indicava nove minutos e eu sabia que em dez ou onze eu chegaria lá.
Continuei em movimento e, num ato de desespero, dei tudo o que tinha, embora estivesse ouvindo as gargalhadas da alma que, pairando por cima da situação, projetava imagens dos vexames que meu corpo havia provocado. A pedra que, jogada para o alto, caiu na minha cabeça, valendo-me três dolorosos pontos; o porre de Cuba Libre tomado na festa de aniversário da irmã do Naninho que me fez sentar no meio fio; a vomitada nas costas do engenheiro amigo do meu pai durante uma viajem de Juiz de Fora a Porto Novo do Cunha, depois de comer arroz, feijão, farofa de ovo e bife com fritas; a gota d'água que eu penso ter engolido na manhã da minha primeira comunhão...
Perto do desespero, falei baixinho: tudo que tem começo termina. E num esforço supremo e dando tudo de mim, consegui chegar ao oásis. Corri 5 quilômetros em 35 minutos! A moça, cujos olhos duvidavam da minha capacidade, claudicava na sua máquina e, pelo visto, não iria chegar a nenhum oásis. Eu, pelo contrário, descia orgulhoso da minha esteira desértica para receber, nas costas molhadas de suor, um tapinha do Guilherme, meu personal trainer e xamã.
Era mais uma derrota vitoriosa da alma com o corpo e do corpo com a alma.
A ESCRITORA E O PASTOR - MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 21/03/12
A escritora Zíbia Gasparetto conseguiu que a Justiça mandasse recolher das livrarias o livro "Sem Medo de Viver", do pastor americano Max Lucado, lançado em 2009. O título é o mesmo de uma obra dela editada em 1986.
DANOS
O livro de Lucado chama-se originalmente "Fearless" ("Sem Medo"). O advogado de Zíbia, José de Araujo Novaes Neto, pede ainda indenização por danos morais e materiais. A Thomas Nelson, editora do pastor, não comenta. Cabe recurso.
EM CAMPO
Os presidentes dos quatro grandes clubes de SP estão marcando encontro para a próxima terça. "É hora de termos uma posição comum e afirmativa", diz Luis Alvaro Ribeiro, do Santos. Além dele, Juvenal Juvêncio, do São Paulo, Mario Gobbi, do Corinthians, e Arnaldo Tirone, do Palmeiras, vão discutir temas como a criação de uma liga de futebol, o calendário dos jogos e a convocação de jogadores pela seleção.
TELÃO SANTISTA
E o Santos vai reunir 1.200 "convidados ultraespeciais" na Vila Belmiro para uma "avant-première" do filme sobre o centenário do clube, dirigido por Lina Chamie. O longa será exibido num telão instalado no estádio. Até a presidente Dilma Rousseff será convidada.
PEIXE PEQUENO
O clube prepara também pelada em que cem crianças vão jogar contra os 11 jogadores do Peixe.
NATA
A presidente Dilma Rousseff recebe amanhã empresários e banqueiros no Planalto. Estão na lista Marcelo Odebrecht, Sergio Andrade, da Andrade Gutierrez, Roberto Setubal, do Itaú, Lázaro Brandão, do Bradesco, e Jorge Gerdau.
COMO UM FLASH
Jennifer Lopez, que desembarca em SP no domingo, fica só um dia na cidade. Na segunda, grava com Rodrigo Faro participação no programa "Q'Viva" (Record). À noite, circula em uma festa e embarca para Los Angeles.
DE CASA NOVA
Tulipa Ruiz, Marcelo Jeneci e Arnaldo Antunes fizeram show na inauguração do teatro GEO, no Instituto Tomie Ohtake, anteontem. João Roberto Marinho, das Organizações Globo, e o arquiteto Ruy Ohtake estavam lá. Antônio e Bruno Fagundes, que farão a peça de estreia do teatro, também circularam pelo evento.
MEMÓRIAS DE ARACY
Vem aí um documentário sobre a mulher do escritor Guimarães Rosa, Aracy. Na época do Holocausto, ela trabalhava no consulado do Brasil em Hamburgo e ajudou judeus a escaparem do nazismo. Aracy morreu em 2011, aos 102 anos. Alessandra Paiva, da produtora Cinevídeo, já tem autorização da família, que abriu seu arquivo com mais de mil cartões-postais e cartas. Deve ficar pronto em 2013.
NA TERRA DE PESSOA
Maria Bethânia vai levar o show em que canta músicas de Chico Buarque para Portugal. As apresentações devem ocorrer neste semestre, mas ainda não têm data certa nem local definido. O projeto tem direção de Monique Gardenberg.
NA TERRA 2
E Chico também fará turnê em Portugal com seu novo show.
O cantor embarca no segundo semestre.
UNIDOS VENCEREMOS
Um grupo de 30 pessoas se reúne hoje na casa da empresária Chris Bicalho para discutir com Marcelo Araújo, diretor da Pinacoteca, uma parceria com o museu. Formado por pessoas físicas, eles constituirão um patronato para auxiliar a instituição, nos moldes do que existe na Tate, em Londres. Pretendem arrecadar R$ 500 mil anuais para a aquisição de obras de arte contemporânea pela Pinacoteca. E não utilizarão a Lei Rouanet.
SUPRAPARTIDÁRIO
O prefeito Gilberto Kassab (PSD-SP) contratou o escritório Bottini & Tamasauskas para defendê-lo também em ação penal do caso Controlar. Os mesmos advogados trabalharam para a campanha presidencial de Dilma Rousseff em 2010.
COM DIREITO A FESTA
O advogado Modesto Carvalhosa fez almoço para comemorar seu aniversário de 80 anos na Fundação Maria Luisa e Oscar Americano, ao lado da mulher, Claudia. O ex-ministro Márcio Thomaz Bastos e Luiz Carlos Trabuco, presidente do Bradesco, estavam no evento, no Morumbi.
CURTO-CIRCUITO
Fernando Haddad participa de debate sobre o PT no governo, em simpósio em homenagem aos 80 anos de Paul Singer. Na quinta-feira, às 19h30, no auditório da FEA-USP.
A faculdade Zumbi dos Palmares promove hoje, às 14h, o seminário "O Negro no Mercado de Trabalho e na Educação". Apresentará também o "Observatório da População Negra".
A atriz Laura Neiva foi eleita pela "Vogue" americana uma das dez mulheres mais elegantes na semana de moda de Paris.
O instituto Olga Kos vai expor no MIS, até sábado, obras feitas por pessoas com síndrome de Down.
A locadora 2001 Vídeo promove hoje, no Sumaré, "debate-papo" sobre o filme "A Pele que Habito".
com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY
A escritora Zíbia Gasparetto conseguiu que a Justiça mandasse recolher das livrarias o livro "Sem Medo de Viver", do pastor americano Max Lucado, lançado em 2009. O título é o mesmo de uma obra dela editada em 1986.
DANOS
O livro de Lucado chama-se originalmente "Fearless" ("Sem Medo"). O advogado de Zíbia, José de Araujo Novaes Neto, pede ainda indenização por danos morais e materiais. A Thomas Nelson, editora do pastor, não comenta. Cabe recurso.
EM CAMPO
Os presidentes dos quatro grandes clubes de SP estão marcando encontro para a próxima terça. "É hora de termos uma posição comum e afirmativa", diz Luis Alvaro Ribeiro, do Santos. Além dele, Juvenal Juvêncio, do São Paulo, Mario Gobbi, do Corinthians, e Arnaldo Tirone, do Palmeiras, vão discutir temas como a criação de uma liga de futebol, o calendário dos jogos e a convocação de jogadores pela seleção.
TELÃO SANTISTA
E o Santos vai reunir 1.200 "convidados ultraespeciais" na Vila Belmiro para uma "avant-première" do filme sobre o centenário do clube, dirigido por Lina Chamie. O longa será exibido num telão instalado no estádio. Até a presidente Dilma Rousseff será convidada.
PEIXE PEQUENO
O clube prepara também pelada em que cem crianças vão jogar contra os 11 jogadores do Peixe.
NATA
A presidente Dilma Rousseff recebe amanhã empresários e banqueiros no Planalto. Estão na lista Marcelo Odebrecht, Sergio Andrade, da Andrade Gutierrez, Roberto Setubal, do Itaú, Lázaro Brandão, do Bradesco, e Jorge Gerdau.
COMO UM FLASH
Jennifer Lopez, que desembarca em SP no domingo, fica só um dia na cidade. Na segunda, grava com Rodrigo Faro participação no programa "Q'Viva" (Record). À noite, circula em uma festa e embarca para Los Angeles.
DE CASA NOVA
Tulipa Ruiz, Marcelo Jeneci e Arnaldo Antunes fizeram show na inauguração do teatro GEO, no Instituto Tomie Ohtake, anteontem. João Roberto Marinho, das Organizações Globo, e o arquiteto Ruy Ohtake estavam lá. Antônio e Bruno Fagundes, que farão a peça de estreia do teatro, também circularam pelo evento.
MEMÓRIAS DE ARACY
Vem aí um documentário sobre a mulher do escritor Guimarães Rosa, Aracy. Na época do Holocausto, ela trabalhava no consulado do Brasil em Hamburgo e ajudou judeus a escaparem do nazismo. Aracy morreu em 2011, aos 102 anos. Alessandra Paiva, da produtora Cinevídeo, já tem autorização da família, que abriu seu arquivo com mais de mil cartões-postais e cartas. Deve ficar pronto em 2013.
NA TERRA DE PESSOA
Maria Bethânia vai levar o show em que canta músicas de Chico Buarque para Portugal. As apresentações devem ocorrer neste semestre, mas ainda não têm data certa nem local definido. O projeto tem direção de Monique Gardenberg.
NA TERRA 2
E Chico também fará turnê em Portugal com seu novo show.
O cantor embarca no segundo semestre.
UNIDOS VENCEREMOS
Um grupo de 30 pessoas se reúne hoje na casa da empresária Chris Bicalho para discutir com Marcelo Araújo, diretor da Pinacoteca, uma parceria com o museu. Formado por pessoas físicas, eles constituirão um patronato para auxiliar a instituição, nos moldes do que existe na Tate, em Londres. Pretendem arrecadar R$ 500 mil anuais para a aquisição de obras de arte contemporânea pela Pinacoteca. E não utilizarão a Lei Rouanet.
SUPRAPARTIDÁRIO
O prefeito Gilberto Kassab (PSD-SP) contratou o escritório Bottini & Tamasauskas para defendê-lo também em ação penal do caso Controlar. Os mesmos advogados trabalharam para a campanha presidencial de Dilma Rousseff em 2010.
COM DIREITO A FESTA
O advogado Modesto Carvalhosa fez almoço para comemorar seu aniversário de 80 anos na Fundação Maria Luisa e Oscar Americano, ao lado da mulher, Claudia. O ex-ministro Márcio Thomaz Bastos e Luiz Carlos Trabuco, presidente do Bradesco, estavam no evento, no Morumbi.
CURTO-CIRCUITO
Fernando Haddad participa de debate sobre o PT no governo, em simpósio em homenagem aos 80 anos de Paul Singer. Na quinta-feira, às 19h30, no auditório da FEA-USP.
A faculdade Zumbi dos Palmares promove hoje, às 14h, o seminário "O Negro no Mercado de Trabalho e na Educação". Apresentará também o "Observatório da População Negra".
A atriz Laura Neiva foi eleita pela "Vogue" americana uma das dez mulheres mais elegantes na semana de moda de Paris.
O instituto Olga Kos vai expor no MIS, até sábado, obras feitas por pessoas com síndrome de Down.
A locadora 2001 Vídeo promove hoje, no Sumaré, "debate-papo" sobre o filme "A Pele que Habito".
com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY
China e a balança - REGINA ALVAREZ
O GLOBO - 21/03/12
Apreocupação com a desaceleração da economia chinesa afetou mais uma vez os mercados ontem. A redução da demanda do país por minério de ferro, mencionada em relatório da BHP Billiton, foi o mote para a queda do Ibovespa, que fechou em baixa de 0,64%, puxado pelas ações da Vale. A China é o nosso principal comprador de minério de ferro e as vendas do produto respondem por 16,3% das exportações brasileiras.
Não é de se estranhar então que a desaceleração da economia chinesa também cause preocupação por aqui, principalmente pelo peso que os produtos básicos têm na balança comercial. As exportações de minério de ferro caíram nos dois primeiros meses do ano, na comparação com o mesmo período de 2011, mas o que puxou a queda foi o valor das exportações, menos 19%; e não o volume, menos 4%.
O economista Marcos Lélis, coordenador da Unidade de Inteligência Comercial e Competitiva da Apex-Brasil, vê nesses números um indicativo de que a desaceleração chinesa não terá tanto impacto na performance da balança comercial em 2012. Os preços do minério de ferro estão caindo há meses no mercado internacional já influenciados pela expectativa do mercado financeiro de desaceleração da economia daquele país. E os sinais mais recentes são de acomodação desses preços.
- Já se percebe uma estabilização dos preços nesse patamar mais baixo. O mercado futuro antecipou o movimento de desaceleração da economia chinesa - observa.
Lélis lembra que, por enquanto, a queda nos preços do minério de ferro está sendo compensada pela alta nos preços do petróleo, o segundo maior peso na pauta de exportações. Se a desaceleração chinesa puxa para baixo os preços do minério de ferro, os problemas com o Irã e na região do Golfo estão puxando o preço do petróleo para cima, o que traz algum equilíbrio para a balança. Juntos, minério de ferro e petróleo respondem por 25% das exportações brasileiras.
Mas na visão do economista a alta não se manterá até dezembro e por isso a balança pode ter déficits mensais a partir do terceiro trimestre.
- Não dá pra afirmar que vamos ter déficit no ano, mas é possível que alguns déficits mensais ocorram no último trimestre - prevê.
Quem paga a conta?
O Ministério da Previdência e as centrais sindicais criticam, nos bastidores, a postura do Ministério da Fazenda, que decidiu, de forma unilateral, desonerar a folha de pagamento de alguns setores da indústria e negocia com outros o mesmo benefício. A queixa é que a equipe econômica ainda não concluiu a regulamentação que vai definir como será feita a compensação para a Previdência dessas desonerações.
Para alguns segmentos, como calçados, confecções e produtos de informática, desde dezembro a contribuição patronal para a Previdência de 20% sobre a folha foi substituída por uma alíquota entre 1,5% e 2,5% sobre o faturamento. O impacto estimado da renúncia fiscal nos três setores é de R$ 60 milhões por mês e na avaliação do pessoal da Previdência esses recursos farão falta lá na frente.
Risco I
Se o aumento do preço do petróleo pode ajudar a equilibrar a nossa balança comercial, é motivo de preocupação pelo impacto que pode causar nas economias do mundo. Ontem, a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, alertou que a alta da cotação poderá colocar em risco a recuperação mundial.
O Barril do tipo brent passou de US$ 128 este mês, e as tensões no Irã, segundo Lagarde, poderão rapidamente elevar o preço entre 20% a 30%. Isso faria com que a principal fonte de energia do mundo batesse o recorde de US$ 147 o barril, atingido pouco antes da crise financeira de 2008. Os preços já subiram 17% este ano.
Risco II
O Bank of America também está preocupado com a alta do petróleo e subiu sua estimativa para o preço do produto este ano. O banco vê com maus olhos principalmente os efeitos sobre a renda do consumidor americano. O BofA prevê o barril do tipo brent com média de US$ 118 este ano, contra projeção anterior de US$ 110. Além das tensões no Irã, há outros focos de pressão: injeção de liquidez por parte dos bancos centrais; risco menor de ruptura na Zona do Euro e estoques em níveis baixos. Há cautela também sobre o que pode acontecer com Itália e Espanha, países que são grandes importadores de petróleo.
Segregados
As centrais sindicais reclamam que o comitê de acompanhamento prometido pela presidente Dilma para monitorar o impacto das medidas na Previdência e no emprego não saiu do papel. Já o Ministério da Previdência gostaria de participar da discussão sobre a desoneração da folha com a Fazenda. Acredita que é parte envolvida e tem contribuições a oferecer.
Não é de se estranhar então que a desaceleração da economia chinesa também cause preocupação por aqui, principalmente pelo peso que os produtos básicos têm na balança comercial. As exportações de minério de ferro caíram nos dois primeiros meses do ano, na comparação com o mesmo período de 2011, mas o que puxou a queda foi o valor das exportações, menos 19%; e não o volume, menos 4%.
O economista Marcos Lélis, coordenador da Unidade de Inteligência Comercial e Competitiva da Apex-Brasil, vê nesses números um indicativo de que a desaceleração chinesa não terá tanto impacto na performance da balança comercial em 2012. Os preços do minério de ferro estão caindo há meses no mercado internacional já influenciados pela expectativa do mercado financeiro de desaceleração da economia daquele país. E os sinais mais recentes são de acomodação desses preços.
- Já se percebe uma estabilização dos preços nesse patamar mais baixo. O mercado futuro antecipou o movimento de desaceleração da economia chinesa - observa.
Lélis lembra que, por enquanto, a queda nos preços do minério de ferro está sendo compensada pela alta nos preços do petróleo, o segundo maior peso na pauta de exportações. Se a desaceleração chinesa puxa para baixo os preços do minério de ferro, os problemas com o Irã e na região do Golfo estão puxando o preço do petróleo para cima, o que traz algum equilíbrio para a balança. Juntos, minério de ferro e petróleo respondem por 25% das exportações brasileiras.
Mas na visão do economista a alta não se manterá até dezembro e por isso a balança pode ter déficits mensais a partir do terceiro trimestre.
- Não dá pra afirmar que vamos ter déficit no ano, mas é possível que alguns déficits mensais ocorram no último trimestre - prevê.
Quem paga a conta?
O Ministério da Previdência e as centrais sindicais criticam, nos bastidores, a postura do Ministério da Fazenda, que decidiu, de forma unilateral, desonerar a folha de pagamento de alguns setores da indústria e negocia com outros o mesmo benefício. A queixa é que a equipe econômica ainda não concluiu a regulamentação que vai definir como será feita a compensação para a Previdência dessas desonerações.
Para alguns segmentos, como calçados, confecções e produtos de informática, desde dezembro a contribuição patronal para a Previdência de 20% sobre a folha foi substituída por uma alíquota entre 1,5% e 2,5% sobre o faturamento. O impacto estimado da renúncia fiscal nos três setores é de R$ 60 milhões por mês e na avaliação do pessoal da Previdência esses recursos farão falta lá na frente.
Risco I
Se o aumento do preço do petróleo pode ajudar a equilibrar a nossa balança comercial, é motivo de preocupação pelo impacto que pode causar nas economias do mundo. Ontem, a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, alertou que a alta da cotação poderá colocar em risco a recuperação mundial.
O Barril do tipo brent passou de US$ 128 este mês, e as tensões no Irã, segundo Lagarde, poderão rapidamente elevar o preço entre 20% a 30%. Isso faria com que a principal fonte de energia do mundo batesse o recorde de US$ 147 o barril, atingido pouco antes da crise financeira de 2008. Os preços já subiram 17% este ano.
Risco II
O Bank of America também está preocupado com a alta do petróleo e subiu sua estimativa para o preço do produto este ano. O banco vê com maus olhos principalmente os efeitos sobre a renda do consumidor americano. O BofA prevê o barril do tipo brent com média de US$ 118 este ano, contra projeção anterior de US$ 110. Além das tensões no Irã, há outros focos de pressão: injeção de liquidez por parte dos bancos centrais; risco menor de ruptura na Zona do Euro e estoques em níveis baixos. Há cautela também sobre o que pode acontecer com Itália e Espanha, países que são grandes importadores de petróleo.
Segregados
As centrais sindicais reclamam que o comitê de acompanhamento prometido pela presidente Dilma para monitorar o impacto das medidas na Previdência e no emprego não saiu do papel. Já o Ministério da Previdência gostaria de participar da discussão sobre a desoneração da folha com a Fazenda. Acredita que é parte envolvida e tem contribuições a oferecer.
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