ZERO HORA - 01/01
Ao reler o livro A alma imoral, do rabino Nilton Bonder, encasquetei com uma expressão que, na primeira leitura, feita anos antes, não havia me despertado a atenção – e isso explica a razão de releituras serem necessárias, pois acontecem num outro momento da vida, em que o que não era relevante passa a ser. E nem preciso dizer que essa predisposição à releitura deveria existir para tudo, não só para livros.
Mas retornando ao ponto.
No livro, o rabino diz que muitos dos nossos sacrifícios e esforços são oferendas ao nada. Oferendas ao nada. Foi esta a expressão que me fez refletir sobre a quantidade de privações e abstinências a que nos submetemos e que têm serventia nula. Zero.
Todo novo ano que se inicia é um convite a uma releitura de si mesmo. Você já passou pelos mesmos janeiros e fevereiros e marços que aí vêm, os mesmos carnavais e páscoas, as mesmas mordidas do Leão, as mesmas estações, o mesmo do mesmo. Se daqui para frente queremos extrair alguma novidade de fato, ela virá da nossa maneira de encarar a vida, de desfrutá-la com mais proveito.
Então, que se oferende flores à Iemanjá, já que rituais de otimismo e fé não fazem mal a ninguém, e que se oferte abraços e bons votos aos amigos, já que a alegria é uma energia que vale a pena ser trocada, e que a gente doe sempre o que temos de melhor, aquilo que nos movimenta – e não o que nos trava.
A timidez, por exemplo. O que a timidez tem feito por você? Ela impede que você se relacione olho no olho, que arrisque uma conversa com um desconhecido, que apresente aos outros seu trabalho, suas propostas, suas ideias. Orgulhar-se da sua timidez, colocando-a num altar, é fazer uma oferenda ao nada.
O que a culpa tem feito por você? Tem impedido você de se responsabilizar pelos seus atos e renegociar com a vida, tem trancafiado você em casa, obrigando-o a lidar incessantemente com questões passadas, tem envelhecido você, consumido você, paralisado você, e você ainda se ajoelha e reza para cultuá-la. Outra oferenda ao nada.
O que a insegurança tem feito por você? Nada. O que o medo tem feito por você? Nada.
O narcisismo, menos ainda. Cultuando esse deus chamado “Eu”, você não olha para fora, não exercita a solidariedade, não considera o sentimento dos outros, não compreende, não perdoa, não evolui. Oferece a si próprio uma homenagem patética, fica preso a uma energia que não circula, não realiza troca alguma. Joga flores para a solidão.
Que em 2014 consigamos romper com nossos receios sobre o que os outros irão pensar de nós, com o que não nos traz retorno, com o que não nos insere no universo de uma forma mais efetiva e bonita. Chega de cultuar impedimentos. Façamos, para variar, oferendas ao risco.
quarta-feira, janeiro 01, 2014
Entre tempos e sentimentos - ROBERTO DaMATTA
O Estado de S.Paulo - 01/01/14
O famoso brasilianista Richard Moneygrand me escreve neste período de festas desejando o que ele chama de óbvio: votos de felicidade e saúde. "Não falo mais em dinheiro - diz - porque sei que para nós, professores, escritores e pesquisadores, isso não vem ao caso. O que nos sobra em ideias falta em dinheiro. São raros os que conseguiram guardar ou até mesmo manter a fortuna herdada. Ganhar bem com docência e livros de sociologia só se você virar escritor, mas, mesmo assim, você teria que ser um Balzac, um Thomas Mann ou um Hemingway - e ser vendido a Hollywood. Mas lhe desejo tudo de bom, como ordena a data e o tempo."
Meu amigo abre 2014 com essa notificação exagerada, mas fala de algo real: as datas obrigam a fazer coisas e despertam de fora para dentro e do todo para a parte, certos sentimentos. As emoções são muito mais obrigatórias do que automáticas, como descobriu faz tempo um certo Marcel Mauss.
Sou amigo de Dick faz uns 50 e tantos anos - há meio século. Ficamos muito mais impressionados quando a temporalidade surge sem números mas com um nome. Cinco dezenas falam mais do que 50 anos, quando se trata de certas emoções como o amor ou o ódio, que, supostamente, são sentidos e não promovidos, exceto nas vinganças e da má-fé entre pessoas e famílias. No amor e no ódio, vale mais o adjetivo, já que o amor seria "eterno" ou "infinito" e o ódio, "mortal". Os sentimentos nos levam para longe do relógio e do calendário. Mas retornam quando o tempo precisa ser sentido e vivido.
O amor, como a fidelidade, a fé, a lealdade, a temperança, e coisas mais tenebrosas como a inveja, o ressentimento, a ingratidão e o abandono são duros de medir. Quanto tempo dura a ingratidão? Ou a avareza que, dizem, não tem cura? Mas o ódio e certos tipos de amor podem ser medidos como ocorreu com um amigo quando ele se apaixonou pela moça mais linda da aldeia e, cinco minutos depois, quando ela lhe sorriu, desapaixonou-se porque em vez de pérolas, encontrou entre os seus lábios rubros, uma dupla fieira de dentes podres.
Confirmando essas dificuldades filosóficas deixadas aos cronistas sem assunto e aos que se atrevem a falar de tudo, dizer-se-ia que a vergonha teria fim, exceto no Brasil. O mesmo ocorre com a honra. Mas tal não é o caso da culpa, a qual permanece intacta na paisagem humana, mesmo quando aparentemente soterrada por outros acontecimentos. Marcamos o tempo de modo regular, mas os sentimentos e eventos a ele ligados, são desmedidos.
Na mesma mensagem, Richard Moneygrand, que é um mestre viciado em citações, menciona um ensaio no qual um estudioso de países antigamente chamados de "atrasados" ou "subdesenvolvidos", faz uma descoberta sensacional: quanto mais atrasado o país, mais os seus relógios estão fora de sincronia. O relógio do aeroporto marca 10 horas; mas da estação rodoviária, 10h30; o da catedral, 9h50; ao passo que o do palácio do governo crava 10h45. Já nos países em que alguns dos meus mais queridos amigos gostariam de morar - Suécia, Dinamarca, Suíça, Finlândia -, todos os relógios públicos e privados estão sincronizados. Rigorosamente marcando a mesmíssima hora, minutos e segundos!
Num Brasil antigo, isso era a mais pura verdade. Hoje, eu afirmo que pelo menos os 270 milhões de relógios dos nossos telefones celulares estão em sintonia, marcando o tempo certo e obrigando os seus donos a andarem no tempo determinado por suas obrigações.
Na era de Dom João Charuto o tempo era feito pelas pessoas. Havia o tempo do Rei, sereno e grandioso; e o tempo do povo e dos escravos: exato, exigente e rotineiro. Hoje, vivemos o tempo de cobrança de certos papéis sociais. Ninguém atura mais médicos que não chegam na hora e funcionários públicos relapsos. O mesmo vale para administradores públicos que, sendo importantes, chegam atrasados porque se consideram os mais importantes. Presidentes, quando chegam, aparecem com horas de atraso, governadores com algumas horas; prefeitos com alguns minutos. Mas tudo se complica quando eles se encontram. Diante do presidente, o governador chega em cima da hora e, diante deste, o prefeito é um cronômetro.
E por aí segue essa lógica do tempo medido em relação à seriedade e ao progresso dos países. Bem mesmo faziam os povos tribais que seguiam a Lua e o Sol, cujo tempo começava quando eles resolviam fazer alguma coisa. Assim, era a tarefa social que marcava o tempo e não o contrário. Quando se comia era tempo de comer. Não havia uma "hora do almoço", entenderam?
Por favor, caro leitor ou leitora, não se esqueçam que hoje é 1.º de janeiro de 2014. Não percam a hora de dizer a todos e a cada um dos seus que o seu amor por eles não tem tempo ou hora.
Feliz ano-novo!
O famoso brasilianista Richard Moneygrand me escreve neste período de festas desejando o que ele chama de óbvio: votos de felicidade e saúde. "Não falo mais em dinheiro - diz - porque sei que para nós, professores, escritores e pesquisadores, isso não vem ao caso. O que nos sobra em ideias falta em dinheiro. São raros os que conseguiram guardar ou até mesmo manter a fortuna herdada. Ganhar bem com docência e livros de sociologia só se você virar escritor, mas, mesmo assim, você teria que ser um Balzac, um Thomas Mann ou um Hemingway - e ser vendido a Hollywood. Mas lhe desejo tudo de bom, como ordena a data e o tempo."
Meu amigo abre 2014 com essa notificação exagerada, mas fala de algo real: as datas obrigam a fazer coisas e despertam de fora para dentro e do todo para a parte, certos sentimentos. As emoções são muito mais obrigatórias do que automáticas, como descobriu faz tempo um certo Marcel Mauss.
Sou amigo de Dick faz uns 50 e tantos anos - há meio século. Ficamos muito mais impressionados quando a temporalidade surge sem números mas com um nome. Cinco dezenas falam mais do que 50 anos, quando se trata de certas emoções como o amor ou o ódio, que, supostamente, são sentidos e não promovidos, exceto nas vinganças e da má-fé entre pessoas e famílias. No amor e no ódio, vale mais o adjetivo, já que o amor seria "eterno" ou "infinito" e o ódio, "mortal". Os sentimentos nos levam para longe do relógio e do calendário. Mas retornam quando o tempo precisa ser sentido e vivido.
O amor, como a fidelidade, a fé, a lealdade, a temperança, e coisas mais tenebrosas como a inveja, o ressentimento, a ingratidão e o abandono são duros de medir. Quanto tempo dura a ingratidão? Ou a avareza que, dizem, não tem cura? Mas o ódio e certos tipos de amor podem ser medidos como ocorreu com um amigo quando ele se apaixonou pela moça mais linda da aldeia e, cinco minutos depois, quando ela lhe sorriu, desapaixonou-se porque em vez de pérolas, encontrou entre os seus lábios rubros, uma dupla fieira de dentes podres.
Confirmando essas dificuldades filosóficas deixadas aos cronistas sem assunto e aos que se atrevem a falar de tudo, dizer-se-ia que a vergonha teria fim, exceto no Brasil. O mesmo ocorre com a honra. Mas tal não é o caso da culpa, a qual permanece intacta na paisagem humana, mesmo quando aparentemente soterrada por outros acontecimentos. Marcamos o tempo de modo regular, mas os sentimentos e eventos a ele ligados, são desmedidos.
Na mesma mensagem, Richard Moneygrand, que é um mestre viciado em citações, menciona um ensaio no qual um estudioso de países antigamente chamados de "atrasados" ou "subdesenvolvidos", faz uma descoberta sensacional: quanto mais atrasado o país, mais os seus relógios estão fora de sincronia. O relógio do aeroporto marca 10 horas; mas da estação rodoviária, 10h30; o da catedral, 9h50; ao passo que o do palácio do governo crava 10h45. Já nos países em que alguns dos meus mais queridos amigos gostariam de morar - Suécia, Dinamarca, Suíça, Finlândia -, todos os relógios públicos e privados estão sincronizados. Rigorosamente marcando a mesmíssima hora, minutos e segundos!
Num Brasil antigo, isso era a mais pura verdade. Hoje, eu afirmo que pelo menos os 270 milhões de relógios dos nossos telefones celulares estão em sintonia, marcando o tempo certo e obrigando os seus donos a andarem no tempo determinado por suas obrigações.
Na era de Dom João Charuto o tempo era feito pelas pessoas. Havia o tempo do Rei, sereno e grandioso; e o tempo do povo e dos escravos: exato, exigente e rotineiro. Hoje, vivemos o tempo de cobrança de certos papéis sociais. Ninguém atura mais médicos que não chegam na hora e funcionários públicos relapsos. O mesmo vale para administradores públicos que, sendo importantes, chegam atrasados porque se consideram os mais importantes. Presidentes, quando chegam, aparecem com horas de atraso, governadores com algumas horas; prefeitos com alguns minutos. Mas tudo se complica quando eles se encontram. Diante do presidente, o governador chega em cima da hora e, diante deste, o prefeito é um cronômetro.
E por aí segue essa lógica do tempo medido em relação à seriedade e ao progresso dos países. Bem mesmo faziam os povos tribais que seguiam a Lua e o Sol, cujo tempo começava quando eles resolviam fazer alguma coisa. Assim, era a tarefa social que marcava o tempo e não o contrário. Quando se comia era tempo de comer. Não havia uma "hora do almoço", entenderam?
Por favor, caro leitor ou leitora, não se esqueçam que hoje é 1.º de janeiro de 2014. Não percam a hora de dizer a todos e a cada um dos seus que o seu amor por eles não tem tempo ou hora.
Feliz ano-novo!
O que fez a diferença - ZUENIR VENTURA
O GLOBO - 01/01/14
No país onde se dizia que ricos e poderosos não iam para a cadeia houve a prisão de importantes políticos, empresários e banqueiros condenados por corrupção
Num ano como o de 2013, em que se repetiram tantas coisas ruins, mazelas crônicas como as propinas no serviço público, houve pelo menos um consenso em relação a dois personagens extraordinários: um saindo de cena, Nelson Mandela, e o outro chegando, o Papa Francisco. O primeiro, que teve vida exemplar, foi original até ao partir. Sua morte provocou uma comoção planetária que se manifestou não tanto por choros e velas, mas por meio de uma impressionante celebração. Acho que nunca se dançou e cantou tanto durante um velório. Mais do que uma triste cerimônia de adeus, foi uma alegre festa de gratidão a um herói na hora de ele entrar para a História. Quanto ao Papa Francisco, foi a “personalidade do ano” em vários países. Ainda é cedo para santificá-lo, mas as mudanças que introduziu nos ritos e na tradição — em vez dos trajes alegóricos, a batina branca; o crucifixo de prata e não de ouro; o sapato preto em lugar do chamativo vermelho — permitem falar numa “revolução da simplicidade”, que vai além das aparências. Não foi pouco o que fez em relação a certos dogmas, como o da questão gay, privilegiando a tolerância em lugar da condenação. Também não deixou de ser um milagre ter conseguido ser amado pelos brasileiros, sendo argentino.
O que de mais inesperado entre nós, porém, aconteceu em junho. O povo foi para as ruas, levado por uma geração aparentemente sem projeto. Ninguém desconfiava que esses jovens tidos pelos estereótipos como alienados seriam justamente os que iriam “acordar o gigante adormecido” e devolver ao país o ânimo de poder mudá-lo. E isso sem a máquina do Estado, sem a cobertura dos sindicatos nem dos partidos. Apenas com a internet. O movimento acabou desvirtuado pela infiltração dos vândalos, mas durou o suficiente para sacudir o governo e assustar os políticos. Espera-se que em 2014 retome a proposta inicial.
O 2013 foi especial para três Fernandas — a Montenegro, a Torres e a Lima. O Emmy de melhor atriz da TV para Fenandona por “Doce de mãe” foi mais do que esperado. Devia ter vindo na forma de Oscar pelo filme “Central do Brasil”, de Walter Salles. Coube à TV a reparação da injustiça. Já sua filha Nanda surpreendeu não mais como atriz, mas como grande escritora, brilhando com seu primeiro romance, “Fim”. A terceira delas, a Lima, obteve sucesso ao apresentar com o marido o sorteio da Copa. As modelos nos acostumaram a acreditar no equívoco de que elegância era andar trocando as pernas nas passarelas. Fernanda, com seus passos firmes e retos, ensinou ao mundo o que é ser elegante.
Mas foi quase no final, em novembro, no país onde se dizia que ricos e poderosos não iam para a cadeia, que houve o mais inédito dos episódios: a prisão de importantes políticos, empresários e banqueiros condenados por corrupção. Era uma possibilidade tão improvável que um dos envolvidos, tranquilo, previu no começo que o destino do mensalão era virar “piada de salão”. Não virou, e isso fez grande diferença em 2013, talvez a maior.
No país onde se dizia que ricos e poderosos não iam para a cadeia houve a prisão de importantes políticos, empresários e banqueiros condenados por corrupção
Num ano como o de 2013, em que se repetiram tantas coisas ruins, mazelas crônicas como as propinas no serviço público, houve pelo menos um consenso em relação a dois personagens extraordinários: um saindo de cena, Nelson Mandela, e o outro chegando, o Papa Francisco. O primeiro, que teve vida exemplar, foi original até ao partir. Sua morte provocou uma comoção planetária que se manifestou não tanto por choros e velas, mas por meio de uma impressionante celebração. Acho que nunca se dançou e cantou tanto durante um velório. Mais do que uma triste cerimônia de adeus, foi uma alegre festa de gratidão a um herói na hora de ele entrar para a História. Quanto ao Papa Francisco, foi a “personalidade do ano” em vários países. Ainda é cedo para santificá-lo, mas as mudanças que introduziu nos ritos e na tradição — em vez dos trajes alegóricos, a batina branca; o crucifixo de prata e não de ouro; o sapato preto em lugar do chamativo vermelho — permitem falar numa “revolução da simplicidade”, que vai além das aparências. Não foi pouco o que fez em relação a certos dogmas, como o da questão gay, privilegiando a tolerância em lugar da condenação. Também não deixou de ser um milagre ter conseguido ser amado pelos brasileiros, sendo argentino.
O que de mais inesperado entre nós, porém, aconteceu em junho. O povo foi para as ruas, levado por uma geração aparentemente sem projeto. Ninguém desconfiava que esses jovens tidos pelos estereótipos como alienados seriam justamente os que iriam “acordar o gigante adormecido” e devolver ao país o ânimo de poder mudá-lo. E isso sem a máquina do Estado, sem a cobertura dos sindicatos nem dos partidos. Apenas com a internet. O movimento acabou desvirtuado pela infiltração dos vândalos, mas durou o suficiente para sacudir o governo e assustar os políticos. Espera-se que em 2014 retome a proposta inicial.
O 2013 foi especial para três Fernandas — a Montenegro, a Torres e a Lima. O Emmy de melhor atriz da TV para Fenandona por “Doce de mãe” foi mais do que esperado. Devia ter vindo na forma de Oscar pelo filme “Central do Brasil”, de Walter Salles. Coube à TV a reparação da injustiça. Já sua filha Nanda surpreendeu não mais como atriz, mas como grande escritora, brilhando com seu primeiro romance, “Fim”. A terceira delas, a Lima, obteve sucesso ao apresentar com o marido o sorteio da Copa. As modelos nos acostumaram a acreditar no equívoco de que elegância era andar trocando as pernas nas passarelas. Fernanda, com seus passos firmes e retos, ensinou ao mundo o que é ser elegante.
Mas foi quase no final, em novembro, no país onde se dizia que ricos e poderosos não iam para a cadeia, que houve o mais inédito dos episódios: a prisão de importantes políticos, empresários e banqueiros condenados por corrupção. Era uma possibilidade tão improvável que um dos envolvidos, tranquilo, previu no começo que o destino do mensalão era virar “piada de salão”. Não virou, e isso fez grande diferença em 2013, talvez a maior.
Um ano fraco - CELSO MING
O Estado de S.Paulo - 01/01/14
A partir das manifestações de junho, a presidente Dilma e seus ministros trataram de injetar doses diárias maciças de otimismo na economia, destinadas a contrapor ao que entenderam como campanha de pessimismo disseminada por analistas da economia, a tal "guerra psicológica", que "instila desconfianças" e "inibe investimentos", a que se referiu a presidente em sua mensagem de fim de ano no rádio e na TV.
No entanto, essa grande operação destinada a mudar corações e mentes não foi capaz de inverter os resultados insatisfatórios, especialmente o resumo de tudo: a repetição de um avanço pífio do PIB, desta vez algo em torno dos 2,2% em 12 meses, conjugado com inflação muito alta, perto dos 6,0% ao ano, e necessidade de juros básicos (Selic) de 10,0% ao ano, um pouco acima dos 4,0% reais (descontada a inflação), para tentar segurar a alta de preços.
Insistir em que foi a crise global que impediu a entrega de resultados melhores é ignorar que, entre os principais países emergentes, esses números fracos só foram registrados no Brasil, embora a crise fosse comum a todos.
A principal decisão de política econômica do governo Dilma foi turbinar o consumo. Para isso, derrubou os juros a perto de 2% em termos reais (descontada a inflação), acionou o crédito, que até agosto cresceu em torno de 15% ao ano, e deixou que as despesas públicas corressem soltas.
Logo depois da virada do ano, o Banco Central advertia que teria de reduzir a ração de moeda da economia e puxar os juros básicos para cima. Mesmo assim, o governo Dilma, aparentemente contrariado pelo endurecimento do Banco Central, insistia em que a alta de preços não tinha propriamente causas monetárias, caracterizadas por volume excessivo de moeda na economia que devesse ser tratada com aumento dos juros, mas não passava de consequência de fatores sazonais ou de choques de oferta produzidos fora do Brasil.
Afora isso, persistiu dentro do governo o antigo entendimento proveniente de um keynesianismo mal assimilado, de que, em países emergentes, não há crescimento possível sem seu preço em inflação.
Não foi o discurso do Banco Central, que vinha repetindo que sem controle da inflação não há crescimento sustentável; foram as manifestações de junho que convenceram o governo a combater mais seriamente a escalada dos preços. Se nada fosse feito, a reação das classes médias viria a galope e tirariam o chão do governo, como quase aconteceu.
De lá para cá, embora tardiamente, algo mudou. A turma do cofre não foi mais autorizada a praticar contorcionismos contábeis e o ministro da Fazenda anunciou que as desonerações tributárias e as concessões de subsídios temporários tinham acabado; e, depois de ter passado os dois primeiros anos condenando a privatização de serviços públicos, o governo intensificou as concessões. Ficou reconhecido que não basta ativar o consumo; é preciso cuidar da oferta de bens e serviços e da modernização da infraestrutura.
Mas o governo avançou apenas um pedaço do caminho. Graves distorções mantêm a inflação muito próxima dos 6% ao ano. Uma dessas distorções, comentada aqui dia 21, é o enorme desalinhamento entre preços administrados (que dependem de autorização para reajustes) e preços livres. Enquanto a inflação de 2013 acumulada até novembro chegou a 4,95%, a variação dos preços administrados não passou de 0,9%. Ou seja, o governo continuou a represar preços à custa do caixa da Petrobrás, da Eletrobrás e de outras instituições. Aparentemente, não tem outra saída senão corrigi-los em ano eleitoral.
A disposição de conter as despesas públicas também ficou a meio caminho. Falta uma política de estímulo à poupança e ao investimento e as reformas urgentes também foram adiadas.
Essas são as razões pelas quais 2014 começa projetando os mesmos resultados insatisfatórios dos dois anos anteriores; crescimento merreca do PIB, inflação nas vizinhanças dos 6% ao ano e um rombo de 3% do PIB nas contas externas (contas correntes).
A partir das manifestações de junho, a presidente Dilma e seus ministros trataram de injetar doses diárias maciças de otimismo na economia, destinadas a contrapor ao que entenderam como campanha de pessimismo disseminada por analistas da economia, a tal "guerra psicológica", que "instila desconfianças" e "inibe investimentos", a que se referiu a presidente em sua mensagem de fim de ano no rádio e na TV.
No entanto, essa grande operação destinada a mudar corações e mentes não foi capaz de inverter os resultados insatisfatórios, especialmente o resumo de tudo: a repetição de um avanço pífio do PIB, desta vez algo em torno dos 2,2% em 12 meses, conjugado com inflação muito alta, perto dos 6,0% ao ano, e necessidade de juros básicos (Selic) de 10,0% ao ano, um pouco acima dos 4,0% reais (descontada a inflação), para tentar segurar a alta de preços.
Insistir em que foi a crise global que impediu a entrega de resultados melhores é ignorar que, entre os principais países emergentes, esses números fracos só foram registrados no Brasil, embora a crise fosse comum a todos.
A principal decisão de política econômica do governo Dilma foi turbinar o consumo. Para isso, derrubou os juros a perto de 2% em termos reais (descontada a inflação), acionou o crédito, que até agosto cresceu em torno de 15% ao ano, e deixou que as despesas públicas corressem soltas.
Logo depois da virada do ano, o Banco Central advertia que teria de reduzir a ração de moeda da economia e puxar os juros básicos para cima. Mesmo assim, o governo Dilma, aparentemente contrariado pelo endurecimento do Banco Central, insistia em que a alta de preços não tinha propriamente causas monetárias, caracterizadas por volume excessivo de moeda na economia que devesse ser tratada com aumento dos juros, mas não passava de consequência de fatores sazonais ou de choques de oferta produzidos fora do Brasil.
Afora isso, persistiu dentro do governo o antigo entendimento proveniente de um keynesianismo mal assimilado, de que, em países emergentes, não há crescimento possível sem seu preço em inflação.
Não foi o discurso do Banco Central, que vinha repetindo que sem controle da inflação não há crescimento sustentável; foram as manifestações de junho que convenceram o governo a combater mais seriamente a escalada dos preços. Se nada fosse feito, a reação das classes médias viria a galope e tirariam o chão do governo, como quase aconteceu.
De lá para cá, embora tardiamente, algo mudou. A turma do cofre não foi mais autorizada a praticar contorcionismos contábeis e o ministro da Fazenda anunciou que as desonerações tributárias e as concessões de subsídios temporários tinham acabado; e, depois de ter passado os dois primeiros anos condenando a privatização de serviços públicos, o governo intensificou as concessões. Ficou reconhecido que não basta ativar o consumo; é preciso cuidar da oferta de bens e serviços e da modernização da infraestrutura.
Mas o governo avançou apenas um pedaço do caminho. Graves distorções mantêm a inflação muito próxima dos 6% ao ano. Uma dessas distorções, comentada aqui dia 21, é o enorme desalinhamento entre preços administrados (que dependem de autorização para reajustes) e preços livres. Enquanto a inflação de 2013 acumulada até novembro chegou a 4,95%, a variação dos preços administrados não passou de 0,9%. Ou seja, o governo continuou a represar preços à custa do caixa da Petrobrás, da Eletrobrás e de outras instituições. Aparentemente, não tem outra saída senão corrigi-los em ano eleitoral.
A disposição de conter as despesas públicas também ficou a meio caminho. Falta uma política de estímulo à poupança e ao investimento e as reformas urgentes também foram adiadas.
Essas são as razões pelas quais 2014 começa projetando os mesmos resultados insatisfatórios dos dois anos anteriores; crescimento merreca do PIB, inflação nas vizinhanças dos 6% ao ano e um rombo de 3% do PIB nas contas externas (contas correntes).
2014: o ano que já acabou - ALEXANDRE SCHWARTSMAN
FOLHA DE SP - 01/01/14
Não parece provável que o governo se engaje em um esforço de austeridade às vésperas da eleição
Não que eu acredite muito nisto. Se aprendi algo ao longo dos anos, é que eventos inesperados têm o péssimo hábito de ocorrer justamente quando não se espera e cenários que parecem dados --como baixo crescimento e alta inflação em 2014-- podem tomar rumos surpreendentes.
Isto dito, para ser sincero, creio mesmo que este ano não será muito diferente de 2013, mas o verdadeiro objeto do título não é exatamente o desempenho concreto da economia, mas sim a percepção de que, apesar dos problemas, são baixas as chances de mudança na política econômica, ao menos até 2015.
Não há economista sério que não esteja, em algum grau, preocupado com os desenvolvimentos recentes. Mesmo os que, até há pouco, faziam da defesa da política econômica um estilo (quando não um meio) de vida já começaram, cautelosamente, a recuar de suas trincheiras.
A expansão medíocre do produto, a inflação mal e mal contida a golpes de controles diretos de preços, o crescente deficit externo, somados ao desempenho pífio da produtividade, sugerem que o atual arranjo de política é insustentável.
Há, a bem da verdade, exemplos de países que mantiveram (ou mantêm) situações insustentáveis por períodos até bastante longos, alguns do quais desconfortavelmente próximos, mas não há casos de economias que tenham prosperado sob essas condições. Pelo contrário, há sempre um momento em que a farsa se desfaz e a crise sobrevém.
Sabe-se, portanto, ser necessária uma mudança nos rumos de política econômica para evitar que o país atinja um estado do qual não conseguirá sair sem consequências dolorosas. É cada vez mais claro, em particular, que o governo precisa encarar um considerável ajuste fiscal, principalmente no que se refere às suas despesas.
Não se requer, contudo, nenhum conhecimento político mais profundo para concluir que --tendo evitado fazê-lo sob condições eleitorais mais favoráveis-- não parece nada provável que o governo possa se engajar em um esforço de austeridade às vésperas da eleição. Ainda que Brasília acene timidamente com promessas de não piorar adicionalmente seu já lamentável desempenho, os Estados, crescentemente livres das amarras previamente impostas pela União, devem aumentar ainda mais seus gastos.
Por outro lado, o Banco Central sinaliza com a interrupção do processo de aperto monetário ainda no primeiro trimestre, mantendo a taxa de juros em níveis que seus próprios modelos apontam ser incompatíveis com o retorno da inflação à meta até ao menos o final de 2015.
É nesse aspecto preciso que o ano que hoje se inicia parece já ter terminado. Os dados da política econômica estão lançados: o que irá ocorrer em 2014, portanto, está determinado deste ponto de vista. O ambiente externo e outros fenômenos imprevisíveis terminarão de dar forma à economia neste ano, mas a contribuição do governo foi feita.
A dúvida (talvez a esperança) que persiste refere-se a 2015. Um novo governo se instalará (muito provavelmente, a continuação do atual) e terá a oportunidade de promover os ajustes requeridos livre da camisa de força eleitoral. Resta saber se a aproveitará.
Confesso meu pessimismo. No cenário político mais provável, isto é, continuidade, a vitória nas eleições dificilmente poderia ser interpretada como pedido de mudança --muito pelo contrário.
A menos que alterações sejam impostas por desenvolvimentos desfavoráveis no front externo (por exemplo, um rebaixamento das notas do país, ameaçando o grau de investimento), a tendência, creio, seria a de redobrar a aposta fracassada: piora fiscal, descaso com a inflação e intervenção indiscriminada, predominando a ideologia onde deveria governar o pragmatismo.
E, aí sim, iremos testar os limites da sustentabilidade e atribuir nosso fracasso à "guerra psicológica".
Não parece provável que o governo se engaje em um esforço de austeridade às vésperas da eleição
Não que eu acredite muito nisto. Se aprendi algo ao longo dos anos, é que eventos inesperados têm o péssimo hábito de ocorrer justamente quando não se espera e cenários que parecem dados --como baixo crescimento e alta inflação em 2014-- podem tomar rumos surpreendentes.
Isto dito, para ser sincero, creio mesmo que este ano não será muito diferente de 2013, mas o verdadeiro objeto do título não é exatamente o desempenho concreto da economia, mas sim a percepção de que, apesar dos problemas, são baixas as chances de mudança na política econômica, ao menos até 2015.
Não há economista sério que não esteja, em algum grau, preocupado com os desenvolvimentos recentes. Mesmo os que, até há pouco, faziam da defesa da política econômica um estilo (quando não um meio) de vida já começaram, cautelosamente, a recuar de suas trincheiras.
A expansão medíocre do produto, a inflação mal e mal contida a golpes de controles diretos de preços, o crescente deficit externo, somados ao desempenho pífio da produtividade, sugerem que o atual arranjo de política é insustentável.
Há, a bem da verdade, exemplos de países que mantiveram (ou mantêm) situações insustentáveis por períodos até bastante longos, alguns do quais desconfortavelmente próximos, mas não há casos de economias que tenham prosperado sob essas condições. Pelo contrário, há sempre um momento em que a farsa se desfaz e a crise sobrevém.
Sabe-se, portanto, ser necessária uma mudança nos rumos de política econômica para evitar que o país atinja um estado do qual não conseguirá sair sem consequências dolorosas. É cada vez mais claro, em particular, que o governo precisa encarar um considerável ajuste fiscal, principalmente no que se refere às suas despesas.
Não se requer, contudo, nenhum conhecimento político mais profundo para concluir que --tendo evitado fazê-lo sob condições eleitorais mais favoráveis-- não parece nada provável que o governo possa se engajar em um esforço de austeridade às vésperas da eleição. Ainda que Brasília acene timidamente com promessas de não piorar adicionalmente seu já lamentável desempenho, os Estados, crescentemente livres das amarras previamente impostas pela União, devem aumentar ainda mais seus gastos.
Por outro lado, o Banco Central sinaliza com a interrupção do processo de aperto monetário ainda no primeiro trimestre, mantendo a taxa de juros em níveis que seus próprios modelos apontam ser incompatíveis com o retorno da inflação à meta até ao menos o final de 2015.
É nesse aspecto preciso que o ano que hoje se inicia parece já ter terminado. Os dados da política econômica estão lançados: o que irá ocorrer em 2014, portanto, está determinado deste ponto de vista. O ambiente externo e outros fenômenos imprevisíveis terminarão de dar forma à economia neste ano, mas a contribuição do governo foi feita.
A dúvida (talvez a esperança) que persiste refere-se a 2015. Um novo governo se instalará (muito provavelmente, a continuação do atual) e terá a oportunidade de promover os ajustes requeridos livre da camisa de força eleitoral. Resta saber se a aproveitará.
Confesso meu pessimismo. No cenário político mais provável, isto é, continuidade, a vitória nas eleições dificilmente poderia ser interpretada como pedido de mudança --muito pelo contrário.
A menos que alterações sejam impostas por desenvolvimentos desfavoráveis no front externo (por exemplo, um rebaixamento das notas do país, ameaçando o grau de investimento), a tendência, creio, seria a de redobrar a aposta fracassada: piora fiscal, descaso com a inflação e intervenção indiscriminada, predominando a ideologia onde deveria governar o pragmatismo.
E, aí sim, iremos testar os limites da sustentabilidade e atribuir nosso fracasso à "guerra psicológica".
Há alguém de parafuso solto na GM - ELIO GASPARI
O GLOBO - 01/01/14
Demitir trabalhadores às vésperas do Ano Novo parece ser apenas malvadeza, mas o cheiro é de coisa pior
Alguém está com um parafuso solto na diretoria da GM brasileira. Ela é presidida por Jaime Ardila, um quadro da elite da empresa. Ainda assim, na véspera do Ano Novo, mandou um telegrama a centenas de funcionários de sua unidade de São José dos Campos, informando-os que estavam desempregados.
Podiam fazer isso na próxima semana, evitando o mal-estar nas famílias das vítimas. A medida não parece ter sido produto da pura malvadeza. Parece coisa pior. A montadora criou um fato social para pressionar o governo, que determinou o retorno gradativo da alíquota do IPI dos automóveis aos níveis de 2012. As empresas temem uma queda nas vendas. Segundo as montadoras, a volta do tributo poderá provocar um aumento médio de 2,2% no preço dos carros só com a mudança destes dias.
A coincidência de datas, com as demissões ocorrendo junto com a restauração gradativa do IPI, sugere que nela está embutida a estratégia da tensão: você encarece meu carro, eu demito trabalhadores. Nos próximos meses o retorno do imposto elevará a alíquota para 7%.
A GM está com um parafuso solto porque tem todos os argumentos para fechar uma de suas fábricas de São José dos Campos. Outras sete da região continuarão funcionando. A empresa investiu R$ 5,7 bilhões em quatro outras unidades e a carta das demissões estava no baralho desde janeiro de 2013. Foram dadas férias coletivas e licença remunerada aos trabalhadores que agora perderam o emprego. Nenhuma empresa pode ser obrigada a manter uma linha de produção que se mostrou inviável. Ademais, segundo a montadora, suas fábricas de São José dos Campos têm um custo de produção elevado.
Até onde o sindicato dos trabalhadores finge surpresa, não se sabe. Já o Ministério da Fazenda entrou no lance com a parolagem típica do doutor Guido Mantega. Informou que um acordo com as empresas garantia que a elevação do IPI não provocaria alta nos preços, nem demissões de trabalhadores. Se alguém fez esse acordo, entrou nele achando que o outro era bobo. Ou ambos continuam tratando os consumidores como tolos. Numa época em que o governo da doutora Dilma faz mágicas fiscais, assiste-se à ressurreição da lorota dos acordos com empresários, coisa comum ao tempo em que se fabricava inflação.
As montadoras não querem que o retorno da alíquota do IPI reduza suas vendas. Os consumidores também não querem carros mais caros, mas Brasília quer arrecadar, para gastar sabe-se lá onde. Essa é a discussão verdadeira. Demitir funcionários nos últimos dias do ano é chutar o cachorro manso.
As manifestações de junho mostraram que houve uma mudança nos sentimentos do andar de baixo. O próprio doutor Ardila expôs a questão com clareza: “Não pedem a derrocada do governo. Pedem melhores serviços públicos. O que pode ser mais razoável?” A rua roncou contra governadores e prefeitos que subiram tarifas de transportes e mandaram a polícia cuidar do caso. (Geraldo Alckmin e Fernando Haddad foram para Paris, onde formaram uma dupla cantando “Trem das Onze” num ágape.) Salvo a ação de baderneiros, ninguém se mobilizou contra empresas. A turma de parafuso solto da GM e a guilda das montadoras desafia um ato do governo desempregando trabalhadores às vésperas do Ano Novo. Má ideia
Demitir trabalhadores às vésperas do Ano Novo parece ser apenas malvadeza, mas o cheiro é de coisa pior
Alguém está com um parafuso solto na diretoria da GM brasileira. Ela é presidida por Jaime Ardila, um quadro da elite da empresa. Ainda assim, na véspera do Ano Novo, mandou um telegrama a centenas de funcionários de sua unidade de São José dos Campos, informando-os que estavam desempregados.
Podiam fazer isso na próxima semana, evitando o mal-estar nas famílias das vítimas. A medida não parece ter sido produto da pura malvadeza. Parece coisa pior. A montadora criou um fato social para pressionar o governo, que determinou o retorno gradativo da alíquota do IPI dos automóveis aos níveis de 2012. As empresas temem uma queda nas vendas. Segundo as montadoras, a volta do tributo poderá provocar um aumento médio de 2,2% no preço dos carros só com a mudança destes dias.
A coincidência de datas, com as demissões ocorrendo junto com a restauração gradativa do IPI, sugere que nela está embutida a estratégia da tensão: você encarece meu carro, eu demito trabalhadores. Nos próximos meses o retorno do imposto elevará a alíquota para 7%.
A GM está com um parafuso solto porque tem todos os argumentos para fechar uma de suas fábricas de São José dos Campos. Outras sete da região continuarão funcionando. A empresa investiu R$ 5,7 bilhões em quatro outras unidades e a carta das demissões estava no baralho desde janeiro de 2013. Foram dadas férias coletivas e licença remunerada aos trabalhadores que agora perderam o emprego. Nenhuma empresa pode ser obrigada a manter uma linha de produção que se mostrou inviável. Ademais, segundo a montadora, suas fábricas de São José dos Campos têm um custo de produção elevado.
Até onde o sindicato dos trabalhadores finge surpresa, não se sabe. Já o Ministério da Fazenda entrou no lance com a parolagem típica do doutor Guido Mantega. Informou que um acordo com as empresas garantia que a elevação do IPI não provocaria alta nos preços, nem demissões de trabalhadores. Se alguém fez esse acordo, entrou nele achando que o outro era bobo. Ou ambos continuam tratando os consumidores como tolos. Numa época em que o governo da doutora Dilma faz mágicas fiscais, assiste-se à ressurreição da lorota dos acordos com empresários, coisa comum ao tempo em que se fabricava inflação.
As montadoras não querem que o retorno da alíquota do IPI reduza suas vendas. Os consumidores também não querem carros mais caros, mas Brasília quer arrecadar, para gastar sabe-se lá onde. Essa é a discussão verdadeira. Demitir funcionários nos últimos dias do ano é chutar o cachorro manso.
As manifestações de junho mostraram que houve uma mudança nos sentimentos do andar de baixo. O próprio doutor Ardila expôs a questão com clareza: “Não pedem a derrocada do governo. Pedem melhores serviços públicos. O que pode ser mais razoável?” A rua roncou contra governadores e prefeitos que subiram tarifas de transportes e mandaram a polícia cuidar do caso. (Geraldo Alckmin e Fernando Haddad foram para Paris, onde formaram uma dupla cantando “Trem das Onze” num ágape.) Salvo a ação de baderneiros, ninguém se mobilizou contra empresas. A turma de parafuso solto da GM e a guilda das montadoras desafia um ato do governo desempregando trabalhadores às vésperas do Ano Novo. Má ideia
Dias de cão no jardim das ilusões de Dilma - JOSÉ NÊUMANNE
O Estado de S.Paulo - 01/01/14
Sempre que se fala em Glauber Rocha a tendência é relembrar obras-primas do cinema nacional que dirigiu, como Deus e o Diabo na Terra do Sol, principalmente, e Terra em Transe, primoroso registro cinematográfico do subdesenvolvimento político nacional. Embora o documentário Maranhão 66 já circule há muito tempo no YouTube, poucos telespectadores o destacarão para o panteão em que figuram os dois grandes filmes citados. Afinal, trata-se de trabalho encomendado e pago e, portanto, suspeito de ser o registro hagiográfico de um político que sobreviveu ao cineasta e ainda atua com força e poder na gestão pública do seu Estado, onde seu clã reina até hoje, com raros interregnos insignificantes, e também na cena federal.
No entanto, Maranhão 66 é uma obra que só melhora com o tempo, sem ter sido necessária uma única mudança ou intervenção de seu diretor, o que seria impossível tanto tempo após sua morte precoce. Como é possível esse absurdo? Procure o filme e veja. O que assistirá é ao discurso competente, bem alinhavado e de certa forma barroco do jovem deputado federal do grupo rebelde da chamada banda de música da UDN nos anos 60 José Sarney assumindo o governo do Maranhão. As imagens acompanham, de início, o povo na praça ouvindo o eloquente tribuno e, depois, fazem um mergulho profundo num abismo de miséria e sordidez que confirma as palavras ditas na praça denunciando a barbárie vivida por aquela gente sob o jugo do padrinho e, depois, principal adversário do novo governador, o pessedista Vitorino Freire. E, coerente com as ancestrais utopias políticas nordestinas, prometendo uma era de paz, bonança e prosperidade, similar às profecias de peregrinos como Antônio Conselheiro, protagonista do massacre de Canudos. Hoje, quase meio século depois, a miséria é a mesma, o discurso é igual e o filme de Glauber, que parecia laudatório, torna-se uma denúncia política coerente e forte.
Já não se fazem documentários em p&b como antigamente e talentos como Glauber não existem mais. No entanto, o contraste brutal entre a retórica salvacionista e a horrenda realidade do subdesenvolvimento real manifesta-se de forma mais crua no cotidiano de informações e entretenimento da televisão colorida do dia a dia.
Ao começar o último fim de semana do ano passado, os telejornais diários exibiram de forma franca a atualidade ululante do documentário de Glauber no Maranhão de 1966. Câmeras e microfones registraram o drama de uma jovem mãe com seu bebê nos braços em peregrinação pelos hospitais públicos de sua cidade para encontrar um pediatra para consultar. Ela não estava no Vale do Jequitinhonha nem no sertão do Piauí, mas em plena capital da República e seus arredores. A criança não foi examinada, mas o secretário da Saúde do governo distrital, sob comando petista, não teve pejo de registrar a ausência de pediatras em sua jurisdição e terminou com a promessa de hábito: em março serão contratados novos profissionais. A pobre mãe e seu bebê que os esperem.
Domingo, à noite, em horário nobre, com discurso dessemelhante ao de seu aliado Sarney pelo estilo, mas bastante similar pelo afastamento da realidade, a presidente Dilma Rousseff descreveu e deu números positivos sobre o que seu governo tem feito pela saúde de pobres mães e bebês como aqueles. Vieram médicos de Cuba e eles estão garantindo o atendimento nos ermos do sertão brasileiro.
Por falar em sertão, os telejornais também noticiaram a falta de água em Itapipoca, no interior do Ceará, porque uma adutora, que custou R$ 16 milhões ao contribuinte, se rompeu e a construtora que vencera a concorrência para construí-la faliu. Ninguém responde pela obra inconclusa: os falidos sumiram e os que retomaram a obra nada têm a dizer. O governador Cid Gomes - que rompeu com o chefão de seu partido (PSB), Eduardo Campos, governador de Pernambuco, para ficar no palanque da presidente petista - tentou resolver o problema mergulhando num tanque buscando fechar um registro e evitar que a água vazasse. Enquanto isso, a população da cidade não tem água para lavar, cozinhar ou matar a sede de nenhum vivente.
Mas no Paraíso na Terra descrito por Dilma no domingo seguinte o País vive uma prosperidade não só inédita na própria História, como singular num planeta afundado em crise. E o único risco é provocado pela canalha oposicionista que maldiz a própria terra criando empecilhos para investimentos e prejudicando, assim, o pobre povo brasileiro. No discurso da presidente, de 15 minutos recheados de deselegantes gerúndios sem dês (estou fazeno, estou realizano, e por aí afora), os anjos dizem-lhe sempre amém, mas o diabo corre atrás para demolir sua fantástica obra de governo.
Só que no Maranhão governado por Roseana Sarney ainda resta um exemplo de que o endereço de nosso inferno é o mesmo do Éden de Dilma, embora o baiano Patinhas, que escreve seus discursos, não saiba. Na Penitenciária de Pedrinhas, em São Luís, os chefões do crime organizado, que à ausência de autoridade mandam e desmandam, matam com métodos cruéis presos desassistidos pelo Estado cujas mulheres, irmãs e mães se neguem a lhes prestar favores sexuais. O Conselho Nacional de Justiça já contou 60 cadáveres e a Organização dos Estados Americanos cobrou reação imediata dos governos do Estado e da União. Ninguém apareceu para responder. O ofício foi para o Ministério da Justiça, o causídico Cardozo negou ser assunto dele e o reencaminhou para a Secretaria dos Direitos Humanos, cuja titular, Maria do Rosário, mandou de volta para o destinatário original. "Não é comigo" é o jeito gerentão com que Dilma modernizou o "não vi, não ouvi, não falei" do padim Lula de Caetés.
Infelizmente, contudo, ninguém encontrou nos longos e tediosos votos presidenciais de boas-festas uma só referência à segurança do bem-aventurado cidadão do Brasil sob a égide do PT e do PMDB. A vida de seu súdito não é da conta dela, nunca foi, nunca será. Vade retro! E amém nós tudo.
Sempre que se fala em Glauber Rocha a tendência é relembrar obras-primas do cinema nacional que dirigiu, como Deus e o Diabo na Terra do Sol, principalmente, e Terra em Transe, primoroso registro cinematográfico do subdesenvolvimento político nacional. Embora o documentário Maranhão 66 já circule há muito tempo no YouTube, poucos telespectadores o destacarão para o panteão em que figuram os dois grandes filmes citados. Afinal, trata-se de trabalho encomendado e pago e, portanto, suspeito de ser o registro hagiográfico de um político que sobreviveu ao cineasta e ainda atua com força e poder na gestão pública do seu Estado, onde seu clã reina até hoje, com raros interregnos insignificantes, e também na cena federal.
No entanto, Maranhão 66 é uma obra que só melhora com o tempo, sem ter sido necessária uma única mudança ou intervenção de seu diretor, o que seria impossível tanto tempo após sua morte precoce. Como é possível esse absurdo? Procure o filme e veja. O que assistirá é ao discurso competente, bem alinhavado e de certa forma barroco do jovem deputado federal do grupo rebelde da chamada banda de música da UDN nos anos 60 José Sarney assumindo o governo do Maranhão. As imagens acompanham, de início, o povo na praça ouvindo o eloquente tribuno e, depois, fazem um mergulho profundo num abismo de miséria e sordidez que confirma as palavras ditas na praça denunciando a barbárie vivida por aquela gente sob o jugo do padrinho e, depois, principal adversário do novo governador, o pessedista Vitorino Freire. E, coerente com as ancestrais utopias políticas nordestinas, prometendo uma era de paz, bonança e prosperidade, similar às profecias de peregrinos como Antônio Conselheiro, protagonista do massacre de Canudos. Hoje, quase meio século depois, a miséria é a mesma, o discurso é igual e o filme de Glauber, que parecia laudatório, torna-se uma denúncia política coerente e forte.
Já não se fazem documentários em p&b como antigamente e talentos como Glauber não existem mais. No entanto, o contraste brutal entre a retórica salvacionista e a horrenda realidade do subdesenvolvimento real manifesta-se de forma mais crua no cotidiano de informações e entretenimento da televisão colorida do dia a dia.
Ao começar o último fim de semana do ano passado, os telejornais diários exibiram de forma franca a atualidade ululante do documentário de Glauber no Maranhão de 1966. Câmeras e microfones registraram o drama de uma jovem mãe com seu bebê nos braços em peregrinação pelos hospitais públicos de sua cidade para encontrar um pediatra para consultar. Ela não estava no Vale do Jequitinhonha nem no sertão do Piauí, mas em plena capital da República e seus arredores. A criança não foi examinada, mas o secretário da Saúde do governo distrital, sob comando petista, não teve pejo de registrar a ausência de pediatras em sua jurisdição e terminou com a promessa de hábito: em março serão contratados novos profissionais. A pobre mãe e seu bebê que os esperem.
Domingo, à noite, em horário nobre, com discurso dessemelhante ao de seu aliado Sarney pelo estilo, mas bastante similar pelo afastamento da realidade, a presidente Dilma Rousseff descreveu e deu números positivos sobre o que seu governo tem feito pela saúde de pobres mães e bebês como aqueles. Vieram médicos de Cuba e eles estão garantindo o atendimento nos ermos do sertão brasileiro.
Por falar em sertão, os telejornais também noticiaram a falta de água em Itapipoca, no interior do Ceará, porque uma adutora, que custou R$ 16 milhões ao contribuinte, se rompeu e a construtora que vencera a concorrência para construí-la faliu. Ninguém responde pela obra inconclusa: os falidos sumiram e os que retomaram a obra nada têm a dizer. O governador Cid Gomes - que rompeu com o chefão de seu partido (PSB), Eduardo Campos, governador de Pernambuco, para ficar no palanque da presidente petista - tentou resolver o problema mergulhando num tanque buscando fechar um registro e evitar que a água vazasse. Enquanto isso, a população da cidade não tem água para lavar, cozinhar ou matar a sede de nenhum vivente.
Mas no Paraíso na Terra descrito por Dilma no domingo seguinte o País vive uma prosperidade não só inédita na própria História, como singular num planeta afundado em crise. E o único risco é provocado pela canalha oposicionista que maldiz a própria terra criando empecilhos para investimentos e prejudicando, assim, o pobre povo brasileiro. No discurso da presidente, de 15 minutos recheados de deselegantes gerúndios sem dês (estou fazeno, estou realizano, e por aí afora), os anjos dizem-lhe sempre amém, mas o diabo corre atrás para demolir sua fantástica obra de governo.
Só que no Maranhão governado por Roseana Sarney ainda resta um exemplo de que o endereço de nosso inferno é o mesmo do Éden de Dilma, embora o baiano Patinhas, que escreve seus discursos, não saiba. Na Penitenciária de Pedrinhas, em São Luís, os chefões do crime organizado, que à ausência de autoridade mandam e desmandam, matam com métodos cruéis presos desassistidos pelo Estado cujas mulheres, irmãs e mães se neguem a lhes prestar favores sexuais. O Conselho Nacional de Justiça já contou 60 cadáveres e a Organização dos Estados Americanos cobrou reação imediata dos governos do Estado e da União. Ninguém apareceu para responder. O ofício foi para o Ministério da Justiça, o causídico Cardozo negou ser assunto dele e o reencaminhou para a Secretaria dos Direitos Humanos, cuja titular, Maria do Rosário, mandou de volta para o destinatário original. "Não é comigo" é o jeito gerentão com que Dilma modernizou o "não vi, não ouvi, não falei" do padim Lula de Caetés.
Infelizmente, contudo, ninguém encontrou nos longos e tediosos votos presidenciais de boas-festas uma só referência à segurança do bem-aventurado cidadão do Brasil sob a égide do PT e do PMDB. A vida de seu súdito não é da conta dela, nunca foi, nunca será. Vade retro! E amém nós tudo.
Educar para não punir - FERNANDO FRAGOSO
O GLOBO - 01/01/14
Valores éticos e honestidade precisam ser transmitidos de forma hereditária
Os casos de corrupção e violência, seguidos de impunidade, levam a população a acreditar em uma ideologia punitiva perigosa. Sem avaliar as consequências dessas medidas, a sociedade clama pelo aumento de penas criminais, a conversão de crimes em hediondos e a imposição do regime fechado, mesmo para infrações mais brandas, como se a cadeia fosse a solução para todos os problemas ou instrumento de vingança social. Pressionados pela opinião pública, nossos representantes no Legislativo estão moldando o Código Penal ao punitivismo excessivo e pouco ou nada educativo. Uma inversão de valores em relação aos papéis do Estado e do Judiciário.
É preciso entender, acima de tudo, que a lei tem o papel de garantir prerrogativas fundamentais de cada indivíduo, mantendo a ordem e o bem-estar coletivo. Não se pode esperar dela função alguma de corrigir e superar deficiências provocadas pela desigualdade social, pela ausência de oportunidades e pela falta de sistemas adequados de assistência humana, acesso à cultura e à educação, todas estas de responsabilidade do poder público. Nenhum destes valores e bens se adquire por lei, mas sim e apenas por políticas públicas engajadas e duradouras, como um verdadeiro e inalienável fim do Estado.
Se investirmos em um sistema social capaz de educar as crianças com cidadania e valores, além de oferecer às famílias acesso à saúde, à cultura, educando-as para ter os filhos que consigam preparar para o exercício da cidadania, serão mínimas as chances de que se tornem infratores. O termo marginal quer justamente significar que o cidadão está à margem da sociedade, sem acesso aos direitos que ela precisa lhe garantir. Devemos ter consciência de que punir custa mais do que educar e que a inclusão social é a única via de desenvolver uma sociedade justa.
Não faz muito tempo, noticiou-se que o governo federal dispende cerca de R$ 40 mil ao ano por cada presidiário, três vezes mais do que aplicava por um estudante universitário. Segundo o Departamento Penitenciário Nacional (Depen), o Brasil tem cerca de 500 mil presos, a quarta maior População carcerária do mundo. Como esse número é crescente, o país enfrenta grande demanda por presídios. Mesmo as penitenciárias disponíveis não têm estrutura para ressocializar os internos, permitindo que regressem ao mundo do crime e não justificando os recursos nelas investidos. Não há qualquer política de reinserção do egresso que nada mais deve pelo crime cometido. A ele resta reincidir!
A Reforma do Judiciário não garante a segurança pública. Não podemos advogar mais pessoas presas, e sim propiciar os meios para que todos entendam que é melhor agir dentro da lei. Precisamos construir uma sociedade na qual a honestidade e os valores éticos sejam transmitidos de forma hereditária. Que as estruturas familiares sejam incentivadas, para que os filhos recebam bons exemplos. Que a miséria seja eficientemente contornada, e os brasileiros acreditem na possibilidade de restaurarmos a paz social, para a qual a lei penal nada tem a contribuir.
Pessimismo de um otimista - HÉLIO SCHWARTSMAN
FOLHA DE SP - 01/01/14
SÃO PAULO - Analisando friamente, eu me classifico como um otimista incorrigível. Sou daqueles que acham que, do Pleistoceno para cá, a vida das pessoas melhorou quase infinitamente. Mesmo no horizonte mais curto dos milênios e séculos, penso que o progresso tem sido notável. Descobrimos uma série de coisas úteis, como agricultura, especialização do trabalho, dinheiro, uso de fontes de energia, antibióticos, vacinas, que nos fizeram viver mais e com maior opulência.
Assim, não creio que seja por flertar de forma contumaz com o pessimismo que digo que o Brasil está perdendo mais um bonde da história. Essa minha constatação, infelizmente, tem amparo na realidade.
Sob o governo de Dilma Rousseff, o PIB brasileiro vem crescendo por volta de 2% ao ano em média. É bem menos que os 4,05% de Lula e não supera os 2,31% de FHC (que o PT sempre pintou como medíocres). As cifras de Dilma, portanto, embora longe de brilhantes, não chegam a ser desesperadoras --ao menos não quando analisadas isoladamente.
O problema é que o Brasil está desperdiçando seu bônus demográfico, o período em que o contingente de pessoas em idade de trabalhar é maior que as coortes de dependentes (jovens e idosos). É nessa fase que países reúnem as condições mais propícias ao crescimento.
Nosso bônus demográfico teve início nos anos 70 e estamos chegando perto de seu apogeu. A situação deve permanecer favorável mais ou menos até 2030 e, a partir de 2043, a população começará a declinar.
Se não aproveitarmos a janela auspiciosa dos próximos anos para tornar o Brasil um país relativamente rico, será bem mais difícil fazê-lo depois, quando a população de idosos estará crescendo rapidamente, o que implicará mais gastos com aposentadorias e o sistema de saúde. E os 2% anuais de crescimento entregues até aqui ficam muito aquém de colocar o Brasil numa posição confortável.
SÃO PAULO - Analisando friamente, eu me classifico como um otimista incorrigível. Sou daqueles que acham que, do Pleistoceno para cá, a vida das pessoas melhorou quase infinitamente. Mesmo no horizonte mais curto dos milênios e séculos, penso que o progresso tem sido notável. Descobrimos uma série de coisas úteis, como agricultura, especialização do trabalho, dinheiro, uso de fontes de energia, antibióticos, vacinas, que nos fizeram viver mais e com maior opulência.
Assim, não creio que seja por flertar de forma contumaz com o pessimismo que digo que o Brasil está perdendo mais um bonde da história. Essa minha constatação, infelizmente, tem amparo na realidade.
Sob o governo de Dilma Rousseff, o PIB brasileiro vem crescendo por volta de 2% ao ano em média. É bem menos que os 4,05% de Lula e não supera os 2,31% de FHC (que o PT sempre pintou como medíocres). As cifras de Dilma, portanto, embora longe de brilhantes, não chegam a ser desesperadoras --ao menos não quando analisadas isoladamente.
O problema é que o Brasil está desperdiçando seu bônus demográfico, o período em que o contingente de pessoas em idade de trabalhar é maior que as coortes de dependentes (jovens e idosos). É nessa fase que países reúnem as condições mais propícias ao crescimento.
Nosso bônus demográfico teve início nos anos 70 e estamos chegando perto de seu apogeu. A situação deve permanecer favorável mais ou menos até 2030 e, a partir de 2043, a população começará a declinar.
Se não aproveitarmos a janela auspiciosa dos próximos anos para tornar o Brasil um país relativamente rico, será bem mais difícil fazê-lo depois, quando a população de idosos estará crescendo rapidamente, o que implicará mais gastos com aposentadorias e o sistema de saúde. E os 2% anuais de crescimento entregues até aqui ficam muito aquém de colocar o Brasil numa posição confortável.
Uma retórica perigosa - EDITORIAL O ESTADÃO
O Estado de S.Paulo - 01/01/14
Sem nada melhor para explicar e justificar a inflação alta, a estagnação econômica, a piora das finanças públicas e a deterioração das contas externas, a presidente Dilma Rousseff inventou uma estapafúrdia "guerra psicológica" de "alguns setores" contra o governo. Se esses "setores" criarem uma "desconfiança injustificada" em relação à política econômica, poderão, segundo ela, inibir investimentos. A presidente deveria ter mais cuidado com seus marqueteiros, conhecidos pelos maus conselhos e por sua perigosa influência nas decisões - quase sempre de inspiração eleitoreira - tomadas pelo Executivo. Mas sobra uma dúvida: e se, desta vez, a turma do marketing for inocente de mais essa experiência ridícula vivida por sua cliente? Nesse caso, ela deveria ter mais cuidado com os próprios impulsos e pesar mais suas palavras, imaginando como reagirá um espectador medianamente inteligente e razoavelmente informado. Detalhe relevante: pesar mais as palavras antes de pronunciá-las.
Tendo abusado das palavras ao falar de guerra psicológica, a presidente foi parcimoniosa, no entanto, quando deixou de nomear os setores perigosos para o País e de especificar as desconfianças injustificadas. Estará incluído nesse grupo o ministro da Fazenda? Ao falar sobre o crescimento econômico no próximo ano, ele mencionou uma taxa superior a 2,5%, mas sem arriscar uma previsão. A referência ao piso de 2,5% sugere um resultado nada brilhante, depois de três anos com taxa média próxima de 2%. Ou talvez a presidente se referisse às previsões do Banco Central (BC)?
Com juros básicos de 10% decididos em novembro e câmbio de R$ 2,35 por dólar, a inflação anual ainda estará em 5,4% no fim de 2015, segundo o BC. Continuará muito longe, portanto, da meta oficial de 4,5%. O banco ainda estimou uma expansão econômica de 2,3% nos quatro trimestres até setembro de 2014. Além disso, projetou para os próximos 12 meses um buraco de US$ 78 bilhões na conta corrente do balanço de pagamentos, muito parecido com o calculado para 2013. Quem estará mais empenhado na guerra psicológica contra o governo: o ministro da Fazenda ou o Comitê de Política Monetária do BC?
Os verdadeiros inimigos, ou talvez os mais perigosos, podem estar no mercado financeiro e nas consultorias privadas. Segundo a pesquisa Focus de 27 de dezembro, realizada com cerca de uma centena dessas fontes, a inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), deve ter ficado em 5,73% em 2013 e poderá subir para 5,98% nos próximos 12 meses. O número final de 2013 deve ser conhecido na primeira quinzena de janeiro, mas dificilmente será muito melhor que o indicado pela pesquisa. Quanto à projeção para 2014, é só um pouco pior que a do cenário central do BC, de 5,6%.
A pesquisa Focus também aponta resultados muito fracos para as contas externas, mas também parecidos com os do BC. No caso da conta corrente, a previsão do mercado é de um déficit de US$ 80 bilhões.
A presidente pode estar especialmente aborrecida com as avaliações da política fiscal. Essa política é marcada, segundo os críticos, pela gastança, pelos incentivos e subsídios mal concebidos, pela promiscuidade entre o Tesouro e os bancos federais e pelo recurso a truques para fechar o balanço do governo central. A expressão "contabilidade criativa" tem sido usada correntemente no Brasil e no exterior. O risco de rebaixamento da nota de crédito do País é consequência da indisfarçável piora das contas públicas e do uso de práticas discutíveis.
Mesmo sem o malabarismo contábil do fim de 2012, o governo tem melhorado suas contas com enormes receitas atípicas, bem exemplificadas pelos R$ 35 bilhões de arrecadação extraordinária de novembro. A combinação de simples aritmética e bom senso basta para situar as contas na perspectiva correta. Será isso guerra psicológica?
Mas o sentido mais perverso dessa expressão aparece quando se culpam "alguns setores" pela inibição de investimentos. Esse é um velho e bem conhecido vício da retórica totalitária: apresentar os críticos como inimigos da pátria. Falta ver se o discurso de fim de ano terá sido o começo de uma escalada.
Sem nada melhor para explicar e justificar a inflação alta, a estagnação econômica, a piora das finanças públicas e a deterioração das contas externas, a presidente Dilma Rousseff inventou uma estapafúrdia "guerra psicológica" de "alguns setores" contra o governo. Se esses "setores" criarem uma "desconfiança injustificada" em relação à política econômica, poderão, segundo ela, inibir investimentos. A presidente deveria ter mais cuidado com seus marqueteiros, conhecidos pelos maus conselhos e por sua perigosa influência nas decisões - quase sempre de inspiração eleitoreira - tomadas pelo Executivo. Mas sobra uma dúvida: e se, desta vez, a turma do marketing for inocente de mais essa experiência ridícula vivida por sua cliente? Nesse caso, ela deveria ter mais cuidado com os próprios impulsos e pesar mais suas palavras, imaginando como reagirá um espectador medianamente inteligente e razoavelmente informado. Detalhe relevante: pesar mais as palavras antes de pronunciá-las.
Tendo abusado das palavras ao falar de guerra psicológica, a presidente foi parcimoniosa, no entanto, quando deixou de nomear os setores perigosos para o País e de especificar as desconfianças injustificadas. Estará incluído nesse grupo o ministro da Fazenda? Ao falar sobre o crescimento econômico no próximo ano, ele mencionou uma taxa superior a 2,5%, mas sem arriscar uma previsão. A referência ao piso de 2,5% sugere um resultado nada brilhante, depois de três anos com taxa média próxima de 2%. Ou talvez a presidente se referisse às previsões do Banco Central (BC)?
Com juros básicos de 10% decididos em novembro e câmbio de R$ 2,35 por dólar, a inflação anual ainda estará em 5,4% no fim de 2015, segundo o BC. Continuará muito longe, portanto, da meta oficial de 4,5%. O banco ainda estimou uma expansão econômica de 2,3% nos quatro trimestres até setembro de 2014. Além disso, projetou para os próximos 12 meses um buraco de US$ 78 bilhões na conta corrente do balanço de pagamentos, muito parecido com o calculado para 2013. Quem estará mais empenhado na guerra psicológica contra o governo: o ministro da Fazenda ou o Comitê de Política Monetária do BC?
Os verdadeiros inimigos, ou talvez os mais perigosos, podem estar no mercado financeiro e nas consultorias privadas. Segundo a pesquisa Focus de 27 de dezembro, realizada com cerca de uma centena dessas fontes, a inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), deve ter ficado em 5,73% em 2013 e poderá subir para 5,98% nos próximos 12 meses. O número final de 2013 deve ser conhecido na primeira quinzena de janeiro, mas dificilmente será muito melhor que o indicado pela pesquisa. Quanto à projeção para 2014, é só um pouco pior que a do cenário central do BC, de 5,6%.
A pesquisa Focus também aponta resultados muito fracos para as contas externas, mas também parecidos com os do BC. No caso da conta corrente, a previsão do mercado é de um déficit de US$ 80 bilhões.
A presidente pode estar especialmente aborrecida com as avaliações da política fiscal. Essa política é marcada, segundo os críticos, pela gastança, pelos incentivos e subsídios mal concebidos, pela promiscuidade entre o Tesouro e os bancos federais e pelo recurso a truques para fechar o balanço do governo central. A expressão "contabilidade criativa" tem sido usada correntemente no Brasil e no exterior. O risco de rebaixamento da nota de crédito do País é consequência da indisfarçável piora das contas públicas e do uso de práticas discutíveis.
Mesmo sem o malabarismo contábil do fim de 2012, o governo tem melhorado suas contas com enormes receitas atípicas, bem exemplificadas pelos R$ 35 bilhões de arrecadação extraordinária de novembro. A combinação de simples aritmética e bom senso basta para situar as contas na perspectiva correta. Será isso guerra psicológica?
Mas o sentido mais perverso dessa expressão aparece quando se culpam "alguns setores" pela inibição de investimentos. Esse é um velho e bem conhecido vício da retórica totalitária: apresentar os críticos como inimigos da pátria. Falta ver se o discurso de fim de ano terá sido o começo de uma escalada.
Modernização rural - EDITORIAL O GLOBO
O GLOBO - 01/01/14
Tema eterno na agenda nacional de debates, a reforma agrária é assunto quase sempre intoxicado por viés político. Daí ser de difícil mediação o conflito entre apoiadores e opositores da distribuição de terras. Bandeira inicialmente relacionada a forças políticas de esquerda, esta reforma também foi abraçada por conservadores, tendo frequentado até mesmo programas de governo na ditadura militar.
Como a paixão ideológica costuma sacralizar assuntos, a palavra de ordem da “reforma agrária” foi convertida em mantra com a redemocratização, reforçada com a chegada do PT ao Planalto, em 2003, em cujo comboio político estavam “organizações sociais” como o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e similares.
Passados quase 12 anos com o PT no principal gabinete do Palácio do Planalto, o mantra se mantém. Mesmo que nas últimas décadas a agricultura brasileira tenha passado por uma modernização revolucionária, a ponto de superar a necessidade da reforma agrária como pensada no século passado.
Uma das vigas de sustentação desta mudança foi a criação da Embrapa, nos governos militares, laboratório estatal de desenvolvimento de tecnologias agrícolas. Na década de 70, com ajuda japonesa, o Cerrado, uma vasta região semiárida no centro do país, foi domada e, assim, a fronteira agrícola da produção, principalmente de grãos, avançou rumo à Amazônia.
Soja, seus derivados, e milho, entre outros, ligaram o interior do Brasil aos preços internacionais. A modernização se espalhou e o antigo “latifúndio improdutivo” foi atingido pelas ondas de choque da agricultura capitalista. Ao mesmo tempo, como é natural no processo de desenvolvimento, aumentou a migração para as cidades.
Eis por que as organização dos sem terra enfrentam dificuldades em encontrar pessoas que de fato queiram — e saibam — explorar a terra. Mesmo filhos de famílias que vivem em assentamentos sonham com uma vida urbana.
A evolução da agropecuária foi tal que o chamado agronegócio passou a ser o setor mais dinâmico da economia brasileira. Realizou-se a ideia, quase um chavão, do “Brasil, celeiro do mundo”.
A contribuição da atividade na captação de divisas é indiscutível. Em 2013,por exemplo, quando, na melhor hipótese, a balança comercial terá fechado em equilíbrio, de janeiro a setembro as exportações totais recuaram 1,6%; já as do agronegócio avançaram 9,5%. O setor havia contribuído com 44% de todas as vendas ao exterior. Com a indústria em fase de baixa capacidade de competição externa, as exportações agropecuárias é que compensam o problema, e com sobras, até para financiar a importação de alguns alimentos, como trigo.
E não há qualquer contradição entre extensas áreas de cultivo, como precisam ser algumas (grãos), e a chamada agricultura familiar, também beneficiada pelo agronegócio.
Tema eterno na agenda nacional de debates, a reforma agrária é assunto quase sempre intoxicado por viés político. Daí ser de difícil mediação o conflito entre apoiadores e opositores da distribuição de terras. Bandeira inicialmente relacionada a forças políticas de esquerda, esta reforma também foi abraçada por conservadores, tendo frequentado até mesmo programas de governo na ditadura militar.
Como a paixão ideológica costuma sacralizar assuntos, a palavra de ordem da “reforma agrária” foi convertida em mantra com a redemocratização, reforçada com a chegada do PT ao Planalto, em 2003, em cujo comboio político estavam “organizações sociais” como o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e similares.
Passados quase 12 anos com o PT no principal gabinete do Palácio do Planalto, o mantra se mantém. Mesmo que nas últimas décadas a agricultura brasileira tenha passado por uma modernização revolucionária, a ponto de superar a necessidade da reforma agrária como pensada no século passado.
Uma das vigas de sustentação desta mudança foi a criação da Embrapa, nos governos militares, laboratório estatal de desenvolvimento de tecnologias agrícolas. Na década de 70, com ajuda japonesa, o Cerrado, uma vasta região semiárida no centro do país, foi domada e, assim, a fronteira agrícola da produção, principalmente de grãos, avançou rumo à Amazônia.
Soja, seus derivados, e milho, entre outros, ligaram o interior do Brasil aos preços internacionais. A modernização se espalhou e o antigo “latifúndio improdutivo” foi atingido pelas ondas de choque da agricultura capitalista. Ao mesmo tempo, como é natural no processo de desenvolvimento, aumentou a migração para as cidades.
Eis por que as organização dos sem terra enfrentam dificuldades em encontrar pessoas que de fato queiram — e saibam — explorar a terra. Mesmo filhos de famílias que vivem em assentamentos sonham com uma vida urbana.
A evolução da agropecuária foi tal que o chamado agronegócio passou a ser o setor mais dinâmico da economia brasileira. Realizou-se a ideia, quase um chavão, do “Brasil, celeiro do mundo”.
A contribuição da atividade na captação de divisas é indiscutível. Em 2013,por exemplo, quando, na melhor hipótese, a balança comercial terá fechado em equilíbrio, de janeiro a setembro as exportações totais recuaram 1,6%; já as do agronegócio avançaram 9,5%. O setor havia contribuído com 44% de todas as vendas ao exterior. Com a indústria em fase de baixa capacidade de competição externa, as exportações agropecuárias é que compensam o problema, e com sobras, até para financiar a importação de alguns alimentos, como trigo.
E não há qualquer contradição entre extensas áreas de cultivo, como precisam ser algumas (grãos), e a chamada agricultura familiar, também beneficiada pelo agronegócio.
Sucursais do inferno - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE
CORREIO BRAZILIENSE - 01/01/14
Não se debita à retórica a declaração do ministro da Justiça a respeito das cadeias nacionais. "Prefiro morrer", disse José Eduardo Cardozo em novembro, "a cumprir pena em presídios brasileiros." As masmorras espalhadas de norte a sul do país se tornaram cenários de horror que superam o inferno que Dante magistralmente descreveu na Divina Comédia.
Celas não isolam pessoas. Superlotadas, enjaulam homens e mulheres em condições que a Sociedade Protetora dos Animais não aceitaria como abrigo dos seres irracionais que representa. A degradação chega a tal ponto que nem Papai Noel acreditaria que apenados tenham a menor chance de recuperação. Ao contrário. Transformam-se em feras.
Não surpreendem, por isso, as notícias que vêm do Complexo Penitenciário de Pedrinhas, em São Luís. Em 2013, nada menos de 59 detentos perderam a vida, três por decapitação - número quase cinco vezes maior que o registrado no ano anterior. A violência, porém, não se restringe aos encarcerados. Atinge os familiares.
Um dos relatos mais chocantes informa que mulheres viraram moeda de troca. Para evitar que o detento seja assassinado, mulher, companheira, irmã ou filha são estupradas por líderes de facções. Tudo se passa sob o olhar complacente das autoridades encarregadas da segurança das cadeias. A conclusão só pode ser uma - o Estado é cúmplice dos bandidos.
A tragédia hoje encenada no Maranhão teve outros palcos e terá novos sem dúvida. Em 1982, a barbárie brasileira cobriu o país de vergonha internacional. A imagem dos 111 cadáveres do massacre de Carandiru rodou o mundo. Começou aí a série de processos abertos no Sistema Interamericano de Direitos Humanos, da OEA, por violações no sistema carcerário. Trata-se de atestado de incapacidade dos governos estaduais e federal de fazer o dever de casa.
Apesar do vexame, não se vislumbra luz no fim do túnel. Nos últimos 11 anos, o governo federal lançou com alarde dois planos para a área carcerária. Entre as propostas neles apresentadas, figura a promessa de criação de 83,5 mil vagas. Nenhuma foi entregue. As unidades da Federação, também responsáveis pelo setor, abriram 32 mil. A superlotação ocorre em todos os regimes.
O diagnóstico é amplamente conhecido. Mas falta vontade de aviar a receita. Ela passa necessariamente por duas vias. Uma é a da remediação. Condenados que precisam ser encarcerados têm de receber tratamento humano, apto a reconduzi-los ao convívio da sociedade. É necessário criar condições de ressocialização para evitar reincidências.
A outra, a da prevenção. Urge evitar o aumento da População carcerária. Investimentos em educação, segurança e lazer mantêm os jovens no sistema e, consequentemente, mais protegidos dos riscos que rondam os que não têm nada a perder.
Celas não isolam pessoas. Superlotadas, enjaulam homens e mulheres em condições que a Sociedade Protetora dos Animais não aceitaria como abrigo dos seres irracionais que representa. A degradação chega a tal ponto que nem Papai Noel acreditaria que apenados tenham a menor chance de recuperação. Ao contrário. Transformam-se em feras.
Não surpreendem, por isso, as notícias que vêm do Complexo Penitenciário de Pedrinhas, em São Luís. Em 2013, nada menos de 59 detentos perderam a vida, três por decapitação - número quase cinco vezes maior que o registrado no ano anterior. A violência, porém, não se restringe aos encarcerados. Atinge os familiares.
Um dos relatos mais chocantes informa que mulheres viraram moeda de troca. Para evitar que o detento seja assassinado, mulher, companheira, irmã ou filha são estupradas por líderes de facções. Tudo se passa sob o olhar complacente das autoridades encarregadas da segurança das cadeias. A conclusão só pode ser uma - o Estado é cúmplice dos bandidos.
A tragédia hoje encenada no Maranhão teve outros palcos e terá novos sem dúvida. Em 1982, a barbárie brasileira cobriu o país de vergonha internacional. A imagem dos 111 cadáveres do massacre de Carandiru rodou o mundo. Começou aí a série de processos abertos no Sistema Interamericano de Direitos Humanos, da OEA, por violações no sistema carcerário. Trata-se de atestado de incapacidade dos governos estaduais e federal de fazer o dever de casa.
Apesar do vexame, não se vislumbra luz no fim do túnel. Nos últimos 11 anos, o governo federal lançou com alarde dois planos para a área carcerária. Entre as propostas neles apresentadas, figura a promessa de criação de 83,5 mil vagas. Nenhuma foi entregue. As unidades da Federação, também responsáveis pelo setor, abriram 32 mil. A superlotação ocorre em todos os regimes.
O diagnóstico é amplamente conhecido. Mas falta vontade de aviar a receita. Ela passa necessariamente por duas vias. Uma é a da remediação. Condenados que precisam ser encarcerados têm de receber tratamento humano, apto a reconduzi-los ao convívio da sociedade. É necessário criar condições de ressocialização para evitar reincidências.
A outra, a da prevenção. Urge evitar o aumento da População carcerária. Investimentos em educação, segurança e lazer mantêm os jovens no sistema e, consequentemente, mais protegidos dos riscos que rondam os que não têm nada a perder.
A geografia da criminalidade - EDITORIAL O ESTADÃO
O Estado de S.Paulo - 01/01/14
Com a redistribuição da renda nacional e da atividade econômica, ocorrida no período de 2000 a 2010, mudou também a geografia da criminalidade no País, levando a violência urbana a migrar do Sudeste para as Regiões Norte e Nordeste. Essa é uma das conclusões de um estudo do diretor de Estado, Instituições e Democracia do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o economista Daniel Ricardo de Castro Cerqueira, cuja tese de doutorado sobre as causas e as consequências do crime no Brasil foi vencedora da última edição do Prêmio BNDES de Economia. O trabalho foi elaborado com base na análise das estatísticas do Ministério da Saúde.
Segundo o estudo, Estados que historicamente lideravam as estatísticas de homicídios, como São Paulo e Rio de Janeiro, registraram na década de 2000 queda de 66,6% e de 35,4% no número de assassinatos por 100 mil habitantes, respectivamente. Já o índice de homicídios cresceu 339,5% no Estado da Bahia, no mesmo período. No Estado do Maranhão, o aumento foi de 373%. Na Região Norte, o Estado do Pará registrou uma elevação de 258,4%.
Além da migração da violência de Estados mais ricos para áreas mais pobres dos Estados menos desenvolvidos, o estudo do diretor do Ipea aponta a tendência de interiorização da violência, com quedas em mortes nas capitais e elevação em municípios menores. O ranking das cidades com maior número de assassinatos é liderado por Simões Filho, uma cidade de 130 mil habitantes, vizinha a Salvador, e Ananindeua, situada na região metropolitana de Belém.
O estudo mostra ainda que as taxas de homicídios nos municípios considerados pequenos pelo Ipea - com menos de 100 mil habitantes - tiveram um crescimento médio de 52,2%, entre 2000 e 2010. Já as cidades consideradas grandes - com mais de 500 mil habitantes - registraram uma queda de 26,9% no mesmo período. Nas cidades de porte médio - com população entre 100 mil e 500 mil habitantes - a taxa de homicídios aumentou 7,6%. Entre as 20 cidades com maior índice de mortes violentas, 10 são pequenas, 9 são de porte médio e apenas 1 - Maceió, na sexta posição - é considerada grande.
As mudanças na geografia da criminalidade, ocorridas no decorrer da década de 2000, foram provocadas por diversos fatores - alguns de alcance nacional e outros com especificidade regional. Entre os fatores de alcance global, o estudo destaca o impacto do I Plano Nacional de Segurança, que aumentou o repasse de verbas da União para a expansão do sistema prisional federal e estadual, e do Estatuto do Desarmamento, que entrou em vigor em 2003. Também ressalta as mudanças ocorridas no mercado de drogas, que acompanhou a expansão econômica das cidades situadas fora dos eixos metropolitanos. "Essas localidades passaram a se tornar mais atrativas para o tráfico porque, com mais renda, o consumo de drogas tende a aumentar. Esse mercado ilegal é acompanhado da violência. O crescimento fica comprovado com o aumento no número de mortes por overdose em oito vezes no País, no período de 2000 a 2010", afirma Daniel Cerqueira.
Entre os fatores de caráter local e regional, o estudo do Ipea destaca a associação entre crescimento econômico e atividades criminosas em áreas de fronteira, desmatamento e extração ilegal de madeira. Destaca, igualmente, a formulação de novos padrões de política pública em matéria de segurança e assistência social, como a instalação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) nas favelas dominadas pelo narcotráfico na cidade do Rio de Janeiro, a partir de 2008, e a estratégia adotada pelo Estado de São Paulo, que intensificou operações e investigações com base na expansão dos serviços de inteligência e na utilização de estatísticas para planejar as ações preventivas e repressivas das Polícias Civil e Militar.
O estudo do Ipea fornece informações valiosas, mostrando como a combinação entre mais eficiência dos órgãos policiais com melhoria de serviços públicos pode ser decisiva para a redução da violência.
Com a redistribuição da renda nacional e da atividade econômica, ocorrida no período de 2000 a 2010, mudou também a geografia da criminalidade no País, levando a violência urbana a migrar do Sudeste para as Regiões Norte e Nordeste. Essa é uma das conclusões de um estudo do diretor de Estado, Instituições e Democracia do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o economista Daniel Ricardo de Castro Cerqueira, cuja tese de doutorado sobre as causas e as consequências do crime no Brasil foi vencedora da última edição do Prêmio BNDES de Economia. O trabalho foi elaborado com base na análise das estatísticas do Ministério da Saúde.
Segundo o estudo, Estados que historicamente lideravam as estatísticas de homicídios, como São Paulo e Rio de Janeiro, registraram na década de 2000 queda de 66,6% e de 35,4% no número de assassinatos por 100 mil habitantes, respectivamente. Já o índice de homicídios cresceu 339,5% no Estado da Bahia, no mesmo período. No Estado do Maranhão, o aumento foi de 373%. Na Região Norte, o Estado do Pará registrou uma elevação de 258,4%.
Além da migração da violência de Estados mais ricos para áreas mais pobres dos Estados menos desenvolvidos, o estudo do diretor do Ipea aponta a tendência de interiorização da violência, com quedas em mortes nas capitais e elevação em municípios menores. O ranking das cidades com maior número de assassinatos é liderado por Simões Filho, uma cidade de 130 mil habitantes, vizinha a Salvador, e Ananindeua, situada na região metropolitana de Belém.
O estudo mostra ainda que as taxas de homicídios nos municípios considerados pequenos pelo Ipea - com menos de 100 mil habitantes - tiveram um crescimento médio de 52,2%, entre 2000 e 2010. Já as cidades consideradas grandes - com mais de 500 mil habitantes - registraram uma queda de 26,9% no mesmo período. Nas cidades de porte médio - com população entre 100 mil e 500 mil habitantes - a taxa de homicídios aumentou 7,6%. Entre as 20 cidades com maior índice de mortes violentas, 10 são pequenas, 9 são de porte médio e apenas 1 - Maceió, na sexta posição - é considerada grande.
As mudanças na geografia da criminalidade, ocorridas no decorrer da década de 2000, foram provocadas por diversos fatores - alguns de alcance nacional e outros com especificidade regional. Entre os fatores de alcance global, o estudo destaca o impacto do I Plano Nacional de Segurança, que aumentou o repasse de verbas da União para a expansão do sistema prisional federal e estadual, e do Estatuto do Desarmamento, que entrou em vigor em 2003. Também ressalta as mudanças ocorridas no mercado de drogas, que acompanhou a expansão econômica das cidades situadas fora dos eixos metropolitanos. "Essas localidades passaram a se tornar mais atrativas para o tráfico porque, com mais renda, o consumo de drogas tende a aumentar. Esse mercado ilegal é acompanhado da violência. O crescimento fica comprovado com o aumento no número de mortes por overdose em oito vezes no País, no período de 2000 a 2010", afirma Daniel Cerqueira.
Entre os fatores de caráter local e regional, o estudo do Ipea destaca a associação entre crescimento econômico e atividades criminosas em áreas de fronteira, desmatamento e extração ilegal de madeira. Destaca, igualmente, a formulação de novos padrões de política pública em matéria de segurança e assistência social, como a instalação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) nas favelas dominadas pelo narcotráfico na cidade do Rio de Janeiro, a partir de 2008, e a estratégia adotada pelo Estado de São Paulo, que intensificou operações e investigações com base na expansão dos serviços de inteligência e na utilização de estatísticas para planejar as ações preventivas e repressivas das Polícias Civil e Militar.
O estudo do Ipea fornece informações valiosas, mostrando como a combinação entre mais eficiência dos órgãos policiais com melhoria de serviços públicos pode ser decisiva para a redução da violência.
COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO
“Vamos entrar em 2014 para ganhar 2014”
Governador e presidenciável Eduardo Campos (PSB-PE), otimista em relação à eleição
MAIS PUBLICIDADE, MENOS PREVENÇÃO
Apesar da crônica anunciada que é a tragédia com as chuvas de fim do ano, o governo do Espírito Santo gastou mais com publicidade do que com prevenção. Segundo o Portal da Transparência, foram empenhados R$ 23,4 milhões, em 2013, ao programa Prevenção, Proteção
e Socorro a Desastres, dos quais apenas R$ 7,7 milhões foram pagos. O valor equivale a 10% do que foi liberado para área de Comunicação.
GRANA ALTA
O governo do ES empenhou R$ 114,8 milhões para a Comunicação Social nas diversas áreas, sendo que R$ 74,8 milhões já foram pagos.
IMPORTÂNCIA ZERO
Enquanto isso, destinou para a formação de profissionais da educação apenas R$ 753 mil, dos quais só foram desembolsados R$ 527 mil.
QUE DROGA
As despesas com gestão de política sobre drogas também ficaram bem abaixo do valor gasto com publicidade: R$ 928 mil.
PIOR RANKING
Na sequência dos programas com menos verba estão o de redução de homicídios (R$ 1 milhão) e habitação de interesse social (R$ 8 milhões).
EQUIPE TAPEIA DILMA
Na tentativa de evitar aborrecimentos e arranca-rabos com a presidente Dilma, a equipe de apoio presidencial desenvolveu uma série de ações rotineiras para fingir obedecer suas ordens “sem noção”. Segundo fontes palacianas, quando Dilma perde a paciência e decola antes dos assessores, pilotos já estão orientados a voar mais devagar, para dar tempo de a equipe chegar na frente e deixar tudo arrumado.
JOGO DOS...
Certa vez, Dilma percebeu que o helicóptero dos assessores estava ultrapassando o seu. Irritada, logo soltou: “Mas que m** é essa”.
...SETE ERROS
Como Dilma não tem paciência para esperar as malas, pilotos também enrolam o desembarque, para dar tempo de descarregar a bagagem.
MOTIVO DE BRIGAS
Segundo assessores, assim que desce do avião, Dilma nunca espera pela bagagem, mas cobra que tudo esteja lá assim que chega no hotel.
ISOLA O PSB
A cúpula nacional pressiona o PMDB de Pernambuco a se aliar ao senador petebista Armando Monteiro, que disputará o governo estadual em 2014, ou a lançar candidato próprio. O nome mais cotado é o do prefeito de Petrolina, Júlio Lóssio.
A SAGA CONTINUA
Quase um ano após ter sido denunciado por assédios moral e sexual no Consulado do Brasil, o embaixador Américo Fontenelle continua em Brasília, morando em apartamento funcional e recebendo em dólares, como se ainda estivesse em Sydney (Austrália), onde foi acusado.
MATÉRIA DE MEMÓRIA
Além de paraíso offshore, o Panamá – sede da empresa proprietária do Hotel St. Peter, de Paulo Abreu, tem cassinos, que lembram bingos, que lembram “laranjas” e Waldomiro Diniz, ex-assessor de José Dirceu.
PROBLEMÃO
Levantamento encomendado pelo PSDB à Consult Pesquisa revela que mais de 40% dos entrevistados consideram a segurança o maior problema enfrentado nas cidades de João Pessoa e Campina Grande, na Paraíba.
FALTA DAR...
Líder do PDT, André Figueiredo (CE) enviou requerimento de indicação à presidente Dilma sugerindo que ela estenda para cargos de confiança sua proposta de 20% de cotas para negros em concursos públicos.
...O EXEMPLO
Para Figueiredo, a iniciativa também deveria partir do prefeito Fernando Haddad (PT-SP), que apressou-se em aprovar lei municipal de cotas para negros antes mesmo de Dilma: “É uma questão de coerência”.
HONORIS JERICO
A presidente Dilma sancionou lei proibindo venda de produtos imitando cigarros, para reduzir o número de fumantes. Ainda não se sabe o formato dos cigarrinhos de maconha, caso a droga seja liberada.
COPA DA BANDIDAGEM
O inglês Daily Star alertou que bandidos armados, próximos ao estádio do Corinthians, ameaçam “arrastão” de torcedores ingleses na abertura em São Paulo, em junho. O chefão explicou ao jornal: “são ingênuos e têm mais grana”. Eles pretendem “arrecadar” uns R$ 100 mil.
PENSANDO BEM...
...2014 estreia hoje, mas só começa mesmo depois de fevereiro.
PODER SEM PUDOR
ASSÉDIO NO GABINETE
Jânio Quadros era governador de São Paulo quando recebeu em seu gabinete, na tarde de 3 de setembro de 1955, a funcionária Diva Pereira de Lima, que reivindicava a readmissão no Departamento de Saúde. Papo vai, papo vem, segundo relato de Diva, Jânio partiu para o ataque, abraçando-a e tentando entrar com ela num armário, o "ninho". Ela recusou, ele desistiu:
- Foi melhor, Diva... Foi melhor você ter me resistido.
E nunca mais a recebeu.
Governador e presidenciável Eduardo Campos (PSB-PE), otimista em relação à eleição
MAIS PUBLICIDADE, MENOS PREVENÇÃO
Apesar da crônica anunciada que é a tragédia com as chuvas de fim do ano, o governo do Espírito Santo gastou mais com publicidade do que com prevenção. Segundo o Portal da Transparência, foram empenhados R$ 23,4 milhões, em 2013, ao programa Prevenção, Proteção
e Socorro a Desastres, dos quais apenas R$ 7,7 milhões foram pagos. O valor equivale a 10% do que foi liberado para área de Comunicação.
GRANA ALTA
O governo do ES empenhou R$ 114,8 milhões para a Comunicação Social nas diversas áreas, sendo que R$ 74,8 milhões já foram pagos.
IMPORTÂNCIA ZERO
Enquanto isso, destinou para a formação de profissionais da educação apenas R$ 753 mil, dos quais só foram desembolsados R$ 527 mil.
QUE DROGA
As despesas com gestão de política sobre drogas também ficaram bem abaixo do valor gasto com publicidade: R$ 928 mil.
PIOR RANKING
Na sequência dos programas com menos verba estão o de redução de homicídios (R$ 1 milhão) e habitação de interesse social (R$ 8 milhões).
EQUIPE TAPEIA DILMA
Na tentativa de evitar aborrecimentos e arranca-rabos com a presidente Dilma, a equipe de apoio presidencial desenvolveu uma série de ações rotineiras para fingir obedecer suas ordens “sem noção”. Segundo fontes palacianas, quando Dilma perde a paciência e decola antes dos assessores, pilotos já estão orientados a voar mais devagar, para dar tempo de a equipe chegar na frente e deixar tudo arrumado.
JOGO DOS...
Certa vez, Dilma percebeu que o helicóptero dos assessores estava ultrapassando o seu. Irritada, logo soltou: “Mas que m** é essa”.
...SETE ERROS
Como Dilma não tem paciência para esperar as malas, pilotos também enrolam o desembarque, para dar tempo de descarregar a bagagem.
MOTIVO DE BRIGAS
Segundo assessores, assim que desce do avião, Dilma nunca espera pela bagagem, mas cobra que tudo esteja lá assim que chega no hotel.
ISOLA O PSB
A cúpula nacional pressiona o PMDB de Pernambuco a se aliar ao senador petebista Armando Monteiro, que disputará o governo estadual em 2014, ou a lançar candidato próprio. O nome mais cotado é o do prefeito de Petrolina, Júlio Lóssio.
A SAGA CONTINUA
Quase um ano após ter sido denunciado por assédios moral e sexual no Consulado do Brasil, o embaixador Américo Fontenelle continua em Brasília, morando em apartamento funcional e recebendo em dólares, como se ainda estivesse em Sydney (Austrália), onde foi acusado.
MATÉRIA DE MEMÓRIA
Além de paraíso offshore, o Panamá – sede da empresa proprietária do Hotel St. Peter, de Paulo Abreu, tem cassinos, que lembram bingos, que lembram “laranjas” e Waldomiro Diniz, ex-assessor de José Dirceu.
PROBLEMÃO
Levantamento encomendado pelo PSDB à Consult Pesquisa revela que mais de 40% dos entrevistados consideram a segurança o maior problema enfrentado nas cidades de João Pessoa e Campina Grande, na Paraíba.
FALTA DAR...
Líder do PDT, André Figueiredo (CE) enviou requerimento de indicação à presidente Dilma sugerindo que ela estenda para cargos de confiança sua proposta de 20% de cotas para negros em concursos públicos.
...O EXEMPLO
Para Figueiredo, a iniciativa também deveria partir do prefeito Fernando Haddad (PT-SP), que apressou-se em aprovar lei municipal de cotas para negros antes mesmo de Dilma: “É uma questão de coerência”.
HONORIS JERICO
A presidente Dilma sancionou lei proibindo venda de produtos imitando cigarros, para reduzir o número de fumantes. Ainda não se sabe o formato dos cigarrinhos de maconha, caso a droga seja liberada.
COPA DA BANDIDAGEM
O inglês Daily Star alertou que bandidos armados, próximos ao estádio do Corinthians, ameaçam “arrastão” de torcedores ingleses na abertura em São Paulo, em junho. O chefão explicou ao jornal: “são ingênuos e têm mais grana”. Eles pretendem “arrecadar” uns R$ 100 mil.
PENSANDO BEM...
...2014 estreia hoje, mas só começa mesmo depois de fevereiro.
PODER SEM PUDOR
ASSÉDIO NO GABINETE
Jânio Quadros era governador de São Paulo quando recebeu em seu gabinete, na tarde de 3 de setembro de 1955, a funcionária Diva Pereira de Lima, que reivindicava a readmissão no Departamento de Saúde. Papo vai, papo vem, segundo relato de Diva, Jânio partiu para o ataque, abraçando-a e tentando entrar com ela num armário, o "ninho". Ela recusou, ele desistiu:
- Foi melhor, Diva... Foi melhor você ter me resistido.
E nunca mais a recebeu.
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