quinta-feira, julho 12, 2012
O bloco dos descarados - EDITORIAL O ESTADÃO
O Estado de S.Paulo - 12/07
Na política, quando chove cinismo, é uma tempestade. Dias atrás, por exemplo, o ainda senador Demóstenes Torres alegou, em desespero de causa, que não seria justo ele perder o mandato por ter mentido aos seus pares sobre as suas relações com o contraventor Carlinhos Cachoeira, com quem trocou pelo menos 300 telefonemas, segundo a Polícia Federal. Mentir, sofismou o desmascarado paladino da ética numa das sete vezes em que discursou para se safar da cassação, é uma questão de consciência, não de quebra de decoro parlamentar, até porque os legisladores são invioláveis por suas palavras e atos.
Corte para a sala de sessões da CPI do Cachoeira, onde o prefeito petista de Palmas, no Tocantins, Raul de Jesus Lustosa Filho, tenta se defender do indefensável: a proposta que fez ao bicheiro em 2004 pela qual, em troca de recursos para a campanha, a empreiteira Delta receberia de mão beijada um contrato de coleta de lixo na capital. Pobre político: ele ignorava que Cachoeira tinha escondido uma câmera de vídeo no ar-condicionado do escritório onde se reuniam, na cidade goiana de Anápolis. A fita foi descoberta com diversas outras pela Polícia Federal na casa do ex-cunhado do contraventor. "Tive a infelicidade de ser filmado", lamentou-se o prefeito negocista.
Aplica-se aos dois casos o implacável dito popular: "Vergonha não é roubar; é roubar e não poder carregar". Demóstenes enganou muita gente durante muito tempo. Raul Filho só enganou os que gostavam de ser enganados, ou pouco se lhes dava, como o ex-presidente Lula, que agasalhou no PT o político que começou a vida no PDS (a ex-Arena da ditadura militar) em 1982, passou para o PFL (atual DEM), daí para o PSDB e, enfim, para o PPS. Agora, transpirando indignação, os companheiros preparam o seu desligamento da sigla, como se nunca antes tivessem encontrado o menor indício de má conduta do prefeito eleito e reeleito sob a sua bandeira. Tanto encontraram que tentaram expulsá-lo no ano passado, mas ficou por isso mesmo.
Raul de Jesus Lustosa Filho é uma figura. "O senhor Carlos Cachoeira (sic) nunca fez doação para a minha campanha", disse à CPI, alegando ainda não se lembrar como veio a conhecer o interlocutor nem se sabia de suas atividades no ramo da batotagem. "E nenhuma empresa (dele) venceu qualquer licitação durante o meu governo." De fato, o bicheiro não é formalmente acionista da Delta - com a qual a prefeitura de Palmas firmou seis contratos em sete anos para a coleta de lixo. Mas ele, Raul, não teve nada com isso. Quem cuidava das licitações municipais era uma certa Kenia Duailibe, coincidentemente sua cunhada. Quem as fiscalizava era outro cunhado.
Decerto uma coisa também nada tem que ver com a outra, mas a irmã de Kenia e mulher de Raul, a deputada estadual, também pelo PT, Solange Duailibe, tem uma assessora em cuja conta a Delta depositou R$ 120 mil. À CPI, o prefeito não negou o depósito, mas disse não saber por que foi feito e para que teria sido usado. O cinismo de Raul enfureceu os inquiridores tanto da oposição como da base aliada, enquanto os membros petistas do colegiado, à exceção do relator Odair Cunha, de Minas Gerais, faziam a proverbial cara de paisagem. Um deputado, Chico Alencar, do PSOL fluminense, disse que o prefeito encarnava o "padrão degradado" da política nacional.
Esse padrão se materializa no trânsito dos políticos pelas siglas, reduzidas a cabides de candidaturas em benefício das caciquias que as controlam. A conivência com a corrupção vem de cambulhada. Ainda agora, o País acompanha, bestificado, as alianças mais improváveis para as eleições municipais de outubro próximo. O pacto entre o PT de Lula e o PP de Paulo Maluf em torno do ex-ministro Fernando Haddad em São Paulo só virou escândalo por causa da teatralização exigida pelo ex-prefeito. Já o dono do PSD, Gilberto Kassab, que apoia na capital o seu antecessor tucano José Serra, impõe ao partido em Belo Horizonte uma aliança em torno do candidato do PT - que só se explicaria, segundo se especula, pela ambição de se tornar ministro de Dilma Rousseff no ano que vem.
O que os une a todos é o descaramento.
Excesso de esperteza - EDITORIAL FOLHA DE SP
FOLHA DE SP - 12/07
Gilberto Kassab arrasta seu PSD para alianças tão díspares que até correligionários como Kátia Abreu lhe cobram coerência
Já se tornou folclórica, mas não por isso menos verdadeira, a frase de Gilberto Kassab para definir o PSD, partido que ele mesmo criou: "Não será de direita, não será de esquerda, nem de centro". Os fatos mostram que ele estava certo.
O enunciado gelatinoso revelou-se capaz de descrever com exatidão um partido que, em São Paulo, quase se aliou ao PT de Fernando Haddad e Luiz Inácio Lula da Silva, mas terminou com o antípoda PSDB de José Serra.
Isso, claro, bem depois de ter ensaiado uma fusão com o PSB de Eduardo Campos. No plano federal, faz a corte a Dilma Rousseff. Para completar a salada partidária, que não é especialidade do kassabismo, em Porto Alegre apoia a candidata do PC do B, Manuela D"Ávila.
Nesse comportamento errante da jovem legenda é possível divisar a expressão das características volúveis inscritas em seu DNA. Dessa perspectiva, esperar do PSD alguma coerência ideológica seria uma atitude impertinente.
Não deveria causar espanto, assim, o apoio de Kassab ao petista Patrus Ananias em Belo Horizonte, ainda que essa união pese contra Márcio Lacerda (PSB), aliado na capital mineira do mesmo PSDB que Kassab esposou em SP.
O pacto em Belo Horizonte, determinado com mão pesada por Kassab, desagradou figuras importantes do PSD, porém. O ex-ministro da Previdência Roberto Brant, segundo-vice-presidente do partido, anunciou sua desfiliação.
A senadora Kátia Abreu, vice-presidente nacional da sigla e presidente da Confederação de Agricultura e Pecuária, endereçou carta desafiadora a Kassab: "[Houve] um grave e insolente dano ao espírito do nosso partido, nascido sob a inspiração da ruptura com os rótulos ideológicos anacrônicos".
Declarando-se em dissidência crítica e vigilante, Kátia Abreu insinuou ainda que Kassab teria usado sua legenda para prejudicar o senador mineiro Aécio Neves, rival de Serra no PSDB.
É forçoso ressalvar que não há, entre os nomes envolvidos, personagem que possa ser descrito como ingênuo. Candura seria imaginar que alguém ingressou no PSD movido por pendores republicanos.
Reedita-se, em mais esta campanha, a "geleia geral" da política brasileira. Não seria o caso de exigir, por aqui, a nitidez ideológica de partidos europeus ou americanos, mas de cobrar um mínimo de clareza programática.
O racha no PSD, antes um agrupamento de conveniência que um partido, confirma o estado depauperado da política. O exagero de incoerência vitima mesmo os mais hábeis articuladores, fama que até aqui se atribuía a Gilberto Kassab.
Gilberto Kassab arrasta seu PSD para alianças tão díspares que até correligionários como Kátia Abreu lhe cobram coerência
Já se tornou folclórica, mas não por isso menos verdadeira, a frase de Gilberto Kassab para definir o PSD, partido que ele mesmo criou: "Não será de direita, não será de esquerda, nem de centro". Os fatos mostram que ele estava certo.
O enunciado gelatinoso revelou-se capaz de descrever com exatidão um partido que, em São Paulo, quase se aliou ao PT de Fernando Haddad e Luiz Inácio Lula da Silva, mas terminou com o antípoda PSDB de José Serra.
Isso, claro, bem depois de ter ensaiado uma fusão com o PSB de Eduardo Campos. No plano federal, faz a corte a Dilma Rousseff. Para completar a salada partidária, que não é especialidade do kassabismo, em Porto Alegre apoia a candidata do PC do B, Manuela D"Ávila.
Nesse comportamento errante da jovem legenda é possível divisar a expressão das características volúveis inscritas em seu DNA. Dessa perspectiva, esperar do PSD alguma coerência ideológica seria uma atitude impertinente.
Não deveria causar espanto, assim, o apoio de Kassab ao petista Patrus Ananias em Belo Horizonte, ainda que essa união pese contra Márcio Lacerda (PSB), aliado na capital mineira do mesmo PSDB que Kassab esposou em SP.
O pacto em Belo Horizonte, determinado com mão pesada por Kassab, desagradou figuras importantes do PSD, porém. O ex-ministro da Previdência Roberto Brant, segundo-vice-presidente do partido, anunciou sua desfiliação.
A senadora Kátia Abreu, vice-presidente nacional da sigla e presidente da Confederação de Agricultura e Pecuária, endereçou carta desafiadora a Kassab: "[Houve] um grave e insolente dano ao espírito do nosso partido, nascido sob a inspiração da ruptura com os rótulos ideológicos anacrônicos".
Declarando-se em dissidência crítica e vigilante, Kátia Abreu insinuou ainda que Kassab teria usado sua legenda para prejudicar o senador mineiro Aécio Neves, rival de Serra no PSDB.
É forçoso ressalvar que não há, entre os nomes envolvidos, personagem que possa ser descrito como ingênuo. Candura seria imaginar que alguém ingressou no PSD movido por pendores republicanos.
Reedita-se, em mais esta campanha, a "geleia geral" da política brasileira. Não seria o caso de exigir, por aqui, a nitidez ideológica de partidos europeus ou americanos, mas de cobrar um mínimo de clareza programática.
O racha no PSD, antes um agrupamento de conveniência que um partido, confirma o estado depauperado da política. O exagero de incoerência vitima mesmo os mais hábeis articuladores, fama que até aqui se atribuía a Gilberto Kassab.
Mundo gira… - SONIA RACY
O ESTADÃO - 12/07
A intenção é tirar o peso do BNDES como praticamente único financiador nacional.
…futuro chega
Para ouvir a exposição, foram convidados Guido Mantega e Luciano Coutinho.
Que, pelo que se apurou, gostaram muito.
Chamada
Para atender a nova lei de combate à lavagem de dinheiro, o governo Dilma vai precisar de… gente treinada.
O CNJ fará este papel. Começa por convocar juízes e promotores para participar de evento, em Brasília, sobre a aplicação das novas regras.
Como deveria ser
Andrea Matarazzo bateu o martelo. Registrou o número 45.450 para sua candidatura a vereador por SP.
O QG? Será em antigo pet shop, fechado por ele mesmo quando era coordenador das subprefeituras. Mesmo sendo o dono seu amigo Dinho Diniz. “Ele entendeu na época. E agora foi supergentil em me alugar o espaço”, justifica o candidato.
Més que un amigo
Sandro Rosell, do Barcelona, tem acompanhado de perto o desenrolar do caso de suposto suborno envolvendo o amigo Teixeira e Havelange.
Segundo fonte da coluna em Zurique, ele teme que a investigação volte a expor suas relações empresariais com o ex-presidente da CBF.
E faça ruir um sonho: o de se tornar presidente da Fifa.
Bom humor
Sentado ao lado de Paulo Volker, no jantar em que recebeu o John W. Kluge Prize– espécie de Nobel da área de Ciências Humanas –, FHC não disfarçou sua alegria por ser o primeiro brasileiro agraciado com o prêmio: “Foi uma honra para nós”, disse a ele um conterrâneo presente. “Honra foi para mim”, rebateu.
Além da homenagem, o ex-presidente ganhou cheque no valor de US$ 1 milhão.
Missão de paz
Depois de 15 meses, o Brasil vai finalmente reabrir sua embaixada na Líbia. O novo embaixador no país, Afonso Carbonar, já está nomeado e deve assumir nos próximos 30 dias.
É o primeiro ato de volta à normalidade nas relações entre Brasil e Líbia após a queda de Kadafi – quando o País chegou a ser acusado de ajudar o regime, colocando-se contra os então rebeldes.
Missão 2
Carbonar chega com a nada fácil missão de pacificar o ambiente para os negócios.
Nos últimos meses, as operações da Petrobrás na Líbia e as obras que estavam nas mãos das empreiteiras Odebrecht, Andrade Gutierrez e Queiroz Galvão ficaram paradas. Negócios estimados em US$ 6 bilhões.
Missão 3
A brasileira que sofreu maior desgaste perante o novo governo provisório foi a Odebrecht.
Responsável por obras como o bilionário aeroporto de Trípoli, projetado pelo regime.
Missão 4
Até a Petrobrás, que goza de boa imagem, sofre as consequências da escolha da diplomacia brasileira. Espera há meses retornar ao país. A decisão deve acontecer nos próximos meses.
Na frente
Serra compareceu a jantar sexta-feira na casa deseu amigoIvam Cabral, dono do Satyros. Sem políticos a sua volta, mostrou-se… animado.
A abertura da exposição de Carlos Cruz-Diez acontece sábado. Na Pinacoteca.
Fausto De Sanctis fala em Harvard. Dia 25 de agosto.
O grupo Choristas da Capital se apresenta no Ponto do Livro, em Pinheiros. Amanhã.
O Diquinta inaugura sua própria Escola de Dança. Hoje.
A Trash comemora o Dia Mundial do Rock amanhã. Com repertório que vai de Bon Jovi a Queen.
Danilo Miranda recebe a Commandeur de l’Ordre de la Couronne, em agradecimento pelos serviços e méritos na promoção dos interesses culturais da Bélgica no Brasil.
Demóstenes Torres, ontem, no Senado, sobre amizade com Cachoeira: “Cristo andava com Judas”. Pergunta que não quer calar: cadê os outros 11 apóstolos?
De rei a cão sarnento - ELIANE CANTANHÊDE
FOLHA DE SP - 12/07
"Cai o rei de espadas, cai o rei de ouros, cai o rei de paus, não fica nada", dizia Ivan Lins nos anos 1970, repetiu ontem Demóstenes Torres, o segundo senador cassado pelos seus pares em 188 anos.
Estava sendo contraditório. Se ele é "bode expiatório", como diz, não vai cair mais nenhum rei, nem de ouros nem de paus. Tudo como dantes.
Ontem mesmo, a Câmara começou a inocentar os deputados envolvidos de alguma forma nesse esquemão do Cachoeira que inundava o Centro-Oeste e respingava em toda parte. Só sobrou o tucano Carlos Alberto Lereia para contar a história - e ser julgado pelo Conselho de Ética.
Demóstenes, porém, não é só um rei a mais no castelo de cartas que começou a ruir em 29 de fevereiro, com a prisão de Cachoeira e a profusão de fitas. É um rei muito especial. Quanto mais alto, maior é o tombo. Demóstenes desabou do trono.
Como procurador, foi presidente do Conselho Nacional dos Procuradores Gerais de Justiça. Como senador, presidiu a poderosa Comissão de Constituição e Justiça. Filiado ao DEM, era líder do partido no Senado e potencial candidato a vice-presidente da República.
E, como arauto da ética e da moralidade, conquistou respeito e simpatia até mesmo no Supremo e na imprensa. Mas, ao ser cassado, era um ser absolutamente solitário -"cão sarnento". Tudo tinha, nada tem.
Se Renan, Sarney, ACM e Jader tiveram suas tropas de choque, Demóstenes morreu só e seu enterro foi sem choro nem vela. Nem ira nem comemoração, só silêncio. Desolador.
Demóstenes se vai e a CPI tende a ir atrás da campanha municipal, de palanques e holofotes, já que "a justiça foi feita" e o bode já expiou sua culpa. O resto? Deixa a polícia fazer. Reis, rainhas, cavalos e torres vão continuar deslizando em segurança no tabuleiro, até surgirem outros Demóstenes, outros Luiz Estêvão. Vai demorar. Caiu uma peça, vem o suplente aí. E o jogo continua.
"Cai o rei de espadas, cai o rei de ouros, cai o rei de paus, não fica nada", dizia Ivan Lins nos anos 1970, repetiu ontem Demóstenes Torres, o segundo senador cassado pelos seus pares em 188 anos.
Estava sendo contraditório. Se ele é "bode expiatório", como diz, não vai cair mais nenhum rei, nem de ouros nem de paus. Tudo como dantes.
Ontem mesmo, a Câmara começou a inocentar os deputados envolvidos de alguma forma nesse esquemão do Cachoeira que inundava o Centro-Oeste e respingava em toda parte. Só sobrou o tucano Carlos Alberto Lereia para contar a história - e ser julgado pelo Conselho de Ética.
Demóstenes, porém, não é só um rei a mais no castelo de cartas que começou a ruir em 29 de fevereiro, com a prisão de Cachoeira e a profusão de fitas. É um rei muito especial. Quanto mais alto, maior é o tombo. Demóstenes desabou do trono.
Como procurador, foi presidente do Conselho Nacional dos Procuradores Gerais de Justiça. Como senador, presidiu a poderosa Comissão de Constituição e Justiça. Filiado ao DEM, era líder do partido no Senado e potencial candidato a vice-presidente da República.
E, como arauto da ética e da moralidade, conquistou respeito e simpatia até mesmo no Supremo e na imprensa. Mas, ao ser cassado, era um ser absolutamente solitário -"cão sarnento". Tudo tinha, nada tem.
Se Renan, Sarney, ACM e Jader tiveram suas tropas de choque, Demóstenes morreu só e seu enterro foi sem choro nem vela. Nem ira nem comemoração, só silêncio. Desolador.
Demóstenes se vai e a CPI tende a ir atrás da campanha municipal, de palanques e holofotes, já que "a justiça foi feita" e o bode já expiou sua culpa. O resto? Deixa a polícia fazer. Reis, rainhas, cavalos e torres vão continuar deslizando em segurança no tabuleiro, até surgirem outros Demóstenes, outros Luiz Estêvão. Vai demorar. Caiu uma peça, vem o suplente aí. E o jogo continua.
Os outros que ajudam (ou não) - CONTARDO CALLIGARIS
FOLHA DE SP - 12/07
Amigos e próximos, em vez de nos ajudar com reforços positivos, torcem contra nossos esforços para mudar
Muitos anos atrás, conheci um alcoólatra, que, aos 40 anos, quis parar de beber. O que o levou a decidir foi um acidente no qual ele, bêbado, quase provocara a morte da companheira que ele amava, por quem se sentia amado e que esperava um filho dele.
O homem frequentou os Alcoólatras Anônimos. Deu certo, mas, depois de um tempo, houve uma recaída brutal. Desanimado, mas não menos decidido, com o consenso de seu grupo dos AA, o homem se internou numa clínica especializada, onde ficou quase um ano -renunciando a conviver com o filho bebê.
Ele voltou para casa (e para as reuniões dos AA), convencido de que nunca deixaria de ser um alcoólatra -apenas poderia se tornar, um dia, um "alcoólatra abstêmio".
Mesmo assim, um dia, depois de dois anos, ele se declarou relativamente fora de perigo. Naquele dia, o homem colocou o filhinho na cama e, enfim, sentou-se na mesa para festejar e jantar.
E eis que a mulher dele chegou da cozinha erguendo, triunfalmente, uma garrafa de "premier cru" de Château Lafite: agora que ele estava bem, certamente ele poderia apreciar um grande vinho, para brindar, não é?
O homem saiu na noite batendo a porta. A mulher que ele amava era uma idiota? Ou ela era (e sempre tinha sido) companheira, não da vida do marido, mas de sua autodestruição? Seja como for, a mulher dessa história não é um caso isolado.
Quem foi fumante e conseguiu parar, quase certamente encontrou um dia um amigo que lhe propôs um cigarro "sem drama": agora que você parou, vai poder fumar de vez em quando -só um não pode fazer mal.
Também há parentes e próximos que patrocinam qualquer exceção ao regime que você tenta manter estoicamente: se for só hoje, uma massa não vai fazer diferença, nem uma carne vermelha. Seja qual for a razão de seu regime e a autoridade de quem o prescreveu, para parentes e próximos, parece que há um prazer em você transgredir.
Em suma, há hábitos que encurtam a vida, comprometem as chances de se relacionar amorosa e sexualmente e, mais geralmente, levam o indivíduo a lidar com um desprezo do qual ele não sabe mais se vem dos outros ou dele mesmo.
Se você precisar se desfazer de um desses hábitos, procure encorajamento em qualquer programa que o leve a encontrar outros que vivem o mesmo drama e querem os mesmos resultados que você. É desses outros que você pode esperar respeito pelo seu esforço -e até elogio (quando merecido).
Hoje, encontrar esses outros é fácil. Há comunidades on-line de pessoas que querem se livrar de seu sedentarismo, de sua obesidade, do fumo, do alcoolismo, da toxicomania etc. Os membros de uma comunidade registram e transmitem, todos os dias, seus fracassos e seus sucessos. No caso do peso, por exemplo, há uma comunidade cujos membros instalam em casa uma balança conectada à internet: o indivíduo se pesa, e a comunidade sabe imediatamente se ele progrediu ou não.
Parêntese. A balança on-line não funciona pela vergonha que provoca em quem engorda, mas pelos elogios conquistados por quem emagrece. Podemos modificar nossos hábitos por sentirmos que nossos esforços estão sendo reconhecidos e encorajados, mas as punições não têm a mesma eficácia. Ou seja, Skinner e o comportamentalismo têm razão: uma chave da mudança de comportamento, quando ela se revela possível, está no reforço que vem dos outros ("Valeu! Força!").
Já as ideias de Pavlov são menos úteis: os reflexos condicionados existem, mas, em geral, se você estapeia alguém a cada vez que ele come, fuma ou bebe demais, ele não parará de comer, fumar ou beber -apenas passará a comer, fumar e beber com medo.
Volto ao que me importa: por que, na hora de tentar mudar um hábito, é aconselhável procurar um grupo de companheiros de infortúnio desconhecidos? Por que os próximos da gente, na hora em que um reforço positivo seria bem-vindo, preferem nos encorajar a trair nossas próprias intenções?
Há duas hipóteses. Uma é que eles tenham (ou tenham tido) propósitos parecidos com os nossos, mas fracassados; produzindo nosso malogro, eles encontrariam uma reconfortante explicação pelo seu.
Outra, aparentemente mais nobre, diz que é porque eles nos amam e, portanto, querem ser nossa exceção, ou seja, querem ser aqueles que nós amamos mais do que nossa própria decisão de mudar. Como disse Voltaire, "Que Deus me proteja dos meus amigos. Dos inimigos, cuido eu".
Léguas a percorrer - DORA KRAMER
O Estado de S.Paulo - 12/07
A cassação do mandato de Demóstenes Torres obviamente não piora, mas também não melhora a imagem do Senado que encerrou a carreira política de um de seus pares sem, contudo, quitar a imensa dívida que acumula com a sociedade.
Em pé, de braços cruzados, acompanhando a sessão com um quase imperceptível sorriso no rosto, Renan Calheiros era a materialização de uma evidência: Demóstenes não caiu em decorrência do rigor ético dos senadores, mas por um conjunto de circunstâncias para ele adversas.
Se o critério predominante fosse o zelo ao decoro parlamentar, Calheiros não teria assistido à cena em posição tão privilegiada.
Assistiu porque foi absolvido a despeito de ter tido contas particulares (a pensão da filha) pagas por um lobista de empreiteira, de ter mentido apresentando a seus pares documentos falsos na hora da defesa.
Descontados os detalhes, na essência comportamento tão indecoroso quanto o de Demóstenes, cuja situação se diferenciou basicamente por dois fatores: ausência da rede de proteção - no caso de Renan extensiva do Palácio do Planalto à sustentação de um partido de peso imenso (PMDB) passando pelo receio reverencial de senadores intimidados - e a contradição entre o personagem que encarnava e as ações ocultas que executava.
Ativos importantes com os quais não contou o agora ex-senador. Disso, aliás, deu notícia em seu pronunciamento final recheado de sofismas. Numa desassombrada conversão à lei não escrita da boa convivência na Casa assumiu o que na visão dele foi seu "único erro".
Qual? Ser "intolerante" com os demais, perceber que não vale a pena "buscar a fama" em cima do defeito alheio. Pediu perdão aos que "levianamente" ofendeu e a todos aconselhou: "Não entrem por esse caminho".
Como legado do processo deixa uma lição. A austeridade, ainda que estudada e presumida, não compensa.
Certamente não foi essa a intenção, mas quando se viu perdido por um Demóstenes Torres perdeu-se por mil, confessando que seu rigor ético era mesmo artificial, que almejava com ele notoriedade e que deveria ter-se preocupado menos com as causas que defendeu ao encarnar doutor Jekyll e mais com a tessitura dos laços de amizade que garantiriam proteção à sua face mister Hyde.
Foi-se Demóstenes, mas ficou o Senado às voltas com seu passivo. Suas excelências têm desde já uma chance de escolher se o aumentam ou o reduzem na decisão sobre o que fazer com o suplente do senador cassado.
Se valer o critério aplicado ao suplente de Joaquim Roriz, Gim Argelo, Wilder Pedro de Morais será recebido de braços abertos, não obstante seja acusado de ocultação de patrimônio à Justiça Eleitoral e tenha relações notórias com Carlos vulgo Cachoeira.
Calendas. Se já era difícil a Câmara dar continuidade ao trabalho do Senado que aprovou o fim do voto secreto, a cassação de Demóstenes Torres torna a hipótese ainda mais remota.
Saciados os apetites, arrefecerão as pressões e prevalecerá a alegação de que o voto sigiloso, afinal, não foi obstáculo para a cassação.
Lacuna. Lula, CUT, UNE e os demais sócios da versão de que em 2005 não houve um escândalo que revelou a existência de um esquema de cooptação de partidos e desvio de dinheiro público, mas um golpe "das elites" para derrubar o então presidente, todos incorrem em falha grave de roteiro.
Se não houve fatos, por que não denunciaram a conspiração? Lula, por exemplo, pediu desculpas. Isso antes de ir à televisão propagar a história de que o PT fez o "que todo mundo faz" e de usar a autoridade presidencial para defender o crime eleitoral como atividade corriqueira perfeitamente aceitável.
Daí a extemporaneidade das ameaças de manifestações contrárias ao curso (sem que se saiba qual será) do julgamento do processo do mensalão no Supremo Tribunal Federal.
Em pé, de braços cruzados, acompanhando a sessão com um quase imperceptível sorriso no rosto, Renan Calheiros era a materialização de uma evidência: Demóstenes não caiu em decorrência do rigor ético dos senadores, mas por um conjunto de circunstâncias para ele adversas.
Se o critério predominante fosse o zelo ao decoro parlamentar, Calheiros não teria assistido à cena em posição tão privilegiada.
Assistiu porque foi absolvido a despeito de ter tido contas particulares (a pensão da filha) pagas por um lobista de empreiteira, de ter mentido apresentando a seus pares documentos falsos na hora da defesa.
Descontados os detalhes, na essência comportamento tão indecoroso quanto o de Demóstenes, cuja situação se diferenciou basicamente por dois fatores: ausência da rede de proteção - no caso de Renan extensiva do Palácio do Planalto à sustentação de um partido de peso imenso (PMDB) passando pelo receio reverencial de senadores intimidados - e a contradição entre o personagem que encarnava e as ações ocultas que executava.
Ativos importantes com os quais não contou o agora ex-senador. Disso, aliás, deu notícia em seu pronunciamento final recheado de sofismas. Numa desassombrada conversão à lei não escrita da boa convivência na Casa assumiu o que na visão dele foi seu "único erro".
Qual? Ser "intolerante" com os demais, perceber que não vale a pena "buscar a fama" em cima do defeito alheio. Pediu perdão aos que "levianamente" ofendeu e a todos aconselhou: "Não entrem por esse caminho".
Como legado do processo deixa uma lição. A austeridade, ainda que estudada e presumida, não compensa.
Certamente não foi essa a intenção, mas quando se viu perdido por um Demóstenes Torres perdeu-se por mil, confessando que seu rigor ético era mesmo artificial, que almejava com ele notoriedade e que deveria ter-se preocupado menos com as causas que defendeu ao encarnar doutor Jekyll e mais com a tessitura dos laços de amizade que garantiriam proteção à sua face mister Hyde.
Foi-se Demóstenes, mas ficou o Senado às voltas com seu passivo. Suas excelências têm desde já uma chance de escolher se o aumentam ou o reduzem na decisão sobre o que fazer com o suplente do senador cassado.
Se valer o critério aplicado ao suplente de Joaquim Roriz, Gim Argelo, Wilder Pedro de Morais será recebido de braços abertos, não obstante seja acusado de ocultação de patrimônio à Justiça Eleitoral e tenha relações notórias com Carlos vulgo Cachoeira.
Calendas. Se já era difícil a Câmara dar continuidade ao trabalho do Senado que aprovou o fim do voto secreto, a cassação de Demóstenes Torres torna a hipótese ainda mais remota.
Saciados os apetites, arrefecerão as pressões e prevalecerá a alegação de que o voto sigiloso, afinal, não foi obstáculo para a cassação.
Lacuna. Lula, CUT, UNE e os demais sócios da versão de que em 2005 não houve um escândalo que revelou a existência de um esquema de cooptação de partidos e desvio de dinheiro público, mas um golpe "das elites" para derrubar o então presidente, todos incorrem em falha grave de roteiro.
Se não houve fatos, por que não denunciaram a conspiração? Lula, por exemplo, pediu desculpas. Isso antes de ir à televisão propagar a história de que o PT fez o "que todo mundo faz" e de usar a autoridade presidencial para defender o crime eleitoral como atividade corriqueira perfeitamente aceitável.
Daí a extemporaneidade das ameaças de manifestações contrárias ao curso (sem que se saiba qual será) do julgamento do processo do mensalão no Supremo Tribunal Federal.
E tudo sem governo - CARLOS ALBERTO SARDENBERG
O GLOBO - 12/07
Conhecem a cidade de Luís Eduardo Magalhães, no Oeste da Bahia? Pois é um polo agropecuário e industrial de nível global. Ali se produz algodão, por exemplo, com a maior produtividade do mundo em plantio não irrigado .
Estive lá há duas semanas, período de colheita, em um momento ruim, por falta de chuvas. Há quebra de safra. Mas topei com muitos estrangeiros, executivos de vários países que estavam lá para negociar contratos de compra. Os produtores locais são conhecidos no mercado internacional pela pontualidade e rigor na entrega. Vai daí, conseguem contratos de longo prazo, o que minimiza os problemas de uma safra ruim .
E tudo sem governo, comenta o pessoal de lá. Foi assim mesmo que a região se desenvolveu, inclusive com a recuperação do algodão. Esse cultivo estava praticamente morto no Brasil, quando foi restabelecido por agricultores de Luís Eduardo e Rondonópolis, esta no Mato Grosso, com base em genética e tecnologia de ponta. Esses agricultores vieram principalmente do Paraná, de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. Saindo do nada, ali desenvolveram o terreno e novas modalidades .
A cidade baiana ainda não é muito grande, mal passou dos 50 mil habitantes, mas sofre, na sua escala, os problemas de uma metrópole congestionada. Tem trânsito, falta infraestrutura na cidade e nas áreas produtivas .
Ou seja, a iniciativa privada toca os negócios, o governo não ajuda. Não faz nem deixa fazer. Ali, como em diversos outros polos dinâmicos, há empresas privadas dispostas a investir em rodovias, aeroporto, via fluvial e porto (no Rio São Francisco). Mas dependem de concessões, que simplesmente não saem .
É exatamente igual à situação que encontrei recentemente em Foz de Iguaçu (PR), turismo, e São José dos Campos (SP), centro industrial de ponta. Projetos de aeroportos privados estão praticamente prontos, incluindo o financiamento, aguardando as decisões do governo federal. Pessoas envolvidas contam que há anos buscam autorização para fazer até mesmo simples obras paralelas, como a ampliação de estacionamentos, e topam com burocracias e má vontade dos funcionários do governo federal .
Em Luís Eduardo, construíram um aeroporto assim, digamos, meio na marra, em propriedade particular. Está lá, novinho, mas não dá para replicar essa solução em cidades com necessidades maiores .
A ministra do Planejamento, Miriam Belchior, disse, nesta semana, que o governo anunciará em agosto um grande programa de concessões de aeroportos, ferrovias, rodovias e usinas de eletricidade. É positivo, mas em termos. Será um anúncio de intenções, porque a partir daí se iniciará o processo que leva até a licitação e entrega das obras às empresas privadas .
É nisso que o governo se atrasa. E está aí uma das causas do baixo nível de crescimento do país, a falta de investimentos em infraestrutura. Não é uma coisa do outro mundo, há modelos já testados no Brasil e em outros países.
Se demora tanto, isso é um sinal de incompetência, mas também de restrições e resistências que partem da máquina governamental e dos políticos no poder. Alguns são contra as privatizações por razões ideológicas. Outros, a maioria, porque precisam de cargos nas estatais e na administração para nomear e contratar .
Difícil superar essa combinação.
(Em tempo: perguntei aos luiseduardenses se estavam confortáveis com o nome da cidade. Responderam: era pior, Mimoso do Oeste) .
DUPLO CALOTE
O banco ou a empresa concede crédito ao cliente. Este não paga, o caso vai para a Justiça. Quanto o credor consegue recuperar no Brasil? Menos de 20% do dinheiro emprestado .
Na Inglaterra, o credor pega de volta quase 100%. Dirão: mas é um país desenvolvido, com um sistema judiciário tradicional. Pode ser, mas na Colômbia, aqui ao lado, na Coreia do Sul e Taiwan, o nível de recuperação é de quase 90% .
O dado consta da pesquisa "Fazendo Negócios", do Banco Mundial. Acrescentamos: na concessão do crédito, banco ou empresa recolhem impostos elevados, isso aqui no Brasil. Quando o devedor não paga, o credor tem que pedir ao governo a devolução do imposto já recolhido. Já perceberam. Se der tudo certo, o credor recebe parte do IR, no mínimo um ano depois de solicitado .
Ou seja, é um duplo calote .
Conhecem a cidade de Luís Eduardo Magalhães, no Oeste da Bahia? Pois é um polo agropecuário e industrial de nível global. Ali se produz algodão, por exemplo, com a maior produtividade do mundo em plantio não irrigado .
Estive lá há duas semanas, período de colheita, em um momento ruim, por falta de chuvas. Há quebra de safra. Mas topei com muitos estrangeiros, executivos de vários países que estavam lá para negociar contratos de compra. Os produtores locais são conhecidos no mercado internacional pela pontualidade e rigor na entrega. Vai daí, conseguem contratos de longo prazo, o que minimiza os problemas de uma safra ruim .
E tudo sem governo, comenta o pessoal de lá. Foi assim mesmo que a região se desenvolveu, inclusive com a recuperação do algodão. Esse cultivo estava praticamente morto no Brasil, quando foi restabelecido por agricultores de Luís Eduardo e Rondonópolis, esta no Mato Grosso, com base em genética e tecnologia de ponta. Esses agricultores vieram principalmente do Paraná, de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. Saindo do nada, ali desenvolveram o terreno e novas modalidades .
A cidade baiana ainda não é muito grande, mal passou dos 50 mil habitantes, mas sofre, na sua escala, os problemas de uma metrópole congestionada. Tem trânsito, falta infraestrutura na cidade e nas áreas produtivas .
Ou seja, a iniciativa privada toca os negócios, o governo não ajuda. Não faz nem deixa fazer. Ali, como em diversos outros polos dinâmicos, há empresas privadas dispostas a investir em rodovias, aeroporto, via fluvial e porto (no Rio São Francisco). Mas dependem de concessões, que simplesmente não saem .
É exatamente igual à situação que encontrei recentemente em Foz de Iguaçu (PR), turismo, e São José dos Campos (SP), centro industrial de ponta. Projetos de aeroportos privados estão praticamente prontos, incluindo o financiamento, aguardando as decisões do governo federal. Pessoas envolvidas contam que há anos buscam autorização para fazer até mesmo simples obras paralelas, como a ampliação de estacionamentos, e topam com burocracias e má vontade dos funcionários do governo federal .
Em Luís Eduardo, construíram um aeroporto assim, digamos, meio na marra, em propriedade particular. Está lá, novinho, mas não dá para replicar essa solução em cidades com necessidades maiores .
A ministra do Planejamento, Miriam Belchior, disse, nesta semana, que o governo anunciará em agosto um grande programa de concessões de aeroportos, ferrovias, rodovias e usinas de eletricidade. É positivo, mas em termos. Será um anúncio de intenções, porque a partir daí se iniciará o processo que leva até a licitação e entrega das obras às empresas privadas .
É nisso que o governo se atrasa. E está aí uma das causas do baixo nível de crescimento do país, a falta de investimentos em infraestrutura. Não é uma coisa do outro mundo, há modelos já testados no Brasil e em outros países.
Se demora tanto, isso é um sinal de incompetência, mas também de restrições e resistências que partem da máquina governamental e dos políticos no poder. Alguns são contra as privatizações por razões ideológicas. Outros, a maioria, porque precisam de cargos nas estatais e na administração para nomear e contratar .
Difícil superar essa combinação.
(Em tempo: perguntei aos luiseduardenses se estavam confortáveis com o nome da cidade. Responderam: era pior, Mimoso do Oeste) .
DUPLO CALOTE
O banco ou a empresa concede crédito ao cliente. Este não paga, o caso vai para a Justiça. Quanto o credor consegue recuperar no Brasil? Menos de 20% do dinheiro emprestado .
Na Inglaterra, o credor pega de volta quase 100%. Dirão: mas é um país desenvolvido, com um sistema judiciário tradicional. Pode ser, mas na Colômbia, aqui ao lado, na Coreia do Sul e Taiwan, o nível de recuperação é de quase 90% .
O dado consta da pesquisa "Fazendo Negócios", do Banco Mundial. Acrescentamos: na concessão do crédito, banco ou empresa recolhem impostos elevados, isso aqui no Brasil. Quando o devedor não paga, o credor tem que pedir ao governo a devolução do imposto já recolhido. Já perceberam. Se der tudo certo, o credor recebe parte do IR, no mínimo um ano depois de solicitado .
Ou seja, é um duplo calote .
Morte política - MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 12/07
O ex-senador Demóstenes Torres já chegou nessa condição à tribuna do Senado quando fez sua defesa final antes da votação. O erro do site do Senado, que antecipou em algumas horas a cassação do senador, é um dos mais comuns em jornalismo, mas desta vez traduzia uma certeza interna.
Prepara-se uma matéria com o resultado mais provável e aguarda-se o momento certo para divulgá-la, bastando para isso apertar um botão. É a competição da notícia em tempo real que faz com que erros como esse aconteçam com certa frequência depois da chegada da internet.
O que impressionou na sessão de ontem do Senado foi o clima de expiação que a cercou, o que levou um político não identificado a defini-la como "o velório de quem já estava morto politicamente".
E não era apenas Demóstenes Torres o morto político, mas o próprio Senado Federal, mesmo tendo tomado a decisão que coincidiu com o anseio da opinião pública, como vários senadores ressaltaram, na tentativa imediata de recuperação de imagem.
A fala rude do senador Mario Couto pode não ter sido a mais bonita, nem a mais apropriada para um momento de constrangimento generalizado, mas tocou na ferida, refletindo o sentimento no Senado. "Não há moralidade nesta Casa", apontou o senador, que, aliás, já confessara, no decorrer do processo, que trabalhou para um bicheiro antes de entrar na política.
Cassar o senador Demóstenes Torres foi apenas o cumprimento de uma obrigação dolorosa para alguns, mas também a oportunidade de muitos se vingarem do "falso moralista", que ontem, pateticamente, pediu perdão pelo "dedo em riste" de ontem.
Mas não devolverá ao Congresso a respeitabilidade perdida em muitas manobras corporativas, em inúmeras maracutaias e, sobretudo, na impossibilidade de se impor como parte fundamental do xadrez político. Quando o faz, quase nunca está defendendo conceitos, programas, teses, mas interesses classistas ou medidas populistas, que podem ser trocados por favores palacianos.
Houve indiscutível progresso com a sessão de ontem sendo transmitida ao vivo pela TV Senado, e aberta ao público nas galerias, ao contrário do que aconteceu em 2007, quando o senador Renan Calheiros foi absolvido em uma votação apertada: 40 a 35, com seis abstenções.
Naquela ocasião, numa decisão arbitrária, a presidência do Senado usou o fato de a votação ser secreta para fechar a sessão aos olhos da opinião pública.
O senador Demóstenes Torres, em plena vigência de sua "persona" de defensor da moral e da ética na política, abriu seu voto a favor da cassação de Calheiros, que ontem acompanhou seu discurso de tentativa de defesa em pé no plenário.
Desta vez, não apenas a sessão foi completamente aberta como se realizou sob a égide do fim do voto secreto, que está sendo decidido no Congresso.
Há, aparentemente, o entendimento no Senado de que os limites da imoralidade estão sendo atingidos, o que faz com que o Congresso como um todo seja mal visto pela opinião pública.
Vários foram os senadores que defenderam o voto aberto para as cassações de mandatos, e outros usaram as redes sociais, como o Twitter, para abrir seus votos.
A defesa do senador Demóstenes Torres variou de tom, entre o técnico e o emocional, em alguns momentos ainda beirando a arrogância, sem encontrar o ponto certo desde o primeiro instante em que foi flagrado em conversas comprometedoras com o bicheiro Carlinhos Cachoeira.
Quando subiu à tribuna para explicar os presentes que recebera do bicheiro pelo seu casamento - um fogão e uma geladeira - o senador Demóstenes garantiu a seus pares que não havia mais nada ligando ele a Cachoeira.
Os presentes, diante do que se ouviu, parecem hoje brincadeira de criança, assim como o rádio Nextel. Mas, enquanto os presentes poderiam refletir uma relação de amizade questionável, mas não necessariamente criminosa, o rádio registrado em Miami é a prova de que sua relação com o bicheiro era mais do que uma simples amizade descompromissada.
O que se comprovou com a gravação do dia 22 de abril de 2009, quando Demóstenes e Cachoeira conversam sobre a tramitação de um projeto que criminaliza o jogo ilegal, mas que, segundo o contraventor, daria margem também à legalização das loterias estaduais.
Em 2002, o então senador Maguito Vilela apresentara o projeto de lei, que foi aprovado por voto de liderança no Senado e, àquela altura, estava tramitando na Câmara.
Cachoeira pede que Demóstenes se empenhe junto ao então presidente da Câmara, Michel Temer, para pôr em votação o projeto, que classifica de "interessantíssimo". Uma semana depois, a 29 de abril, os dois voltam a conversar sobre o mesmo tema, e Demóstenes pergunta: "Que importância tem a aprovação disso?" Cachoeira: "É bom demais, mas aí também regulamenta as estaduais."
O senador explica ao contraventor que o projeto de lei não regulamenta nada, que essa será uma segunda etapa, depois de o projeto ser aprovado. E adverte Cachoeira de um problema: "O que tá aprovado lá é o seguinte: transforma em crime qualquer jogo que não tenha autorização. Então inclusive te pega, né ?"
Nesse simples diálogo, estão provadas duas das mais graves acusações contra o agora ex-senador Demóstenes: que ele pôs seu mandato a serviço do bicheiro, e que ele sabia, sim, que Cachoeira continuava na contravenção.
A cassação de Demóstenes Torres, além de ser a decisão justa diante da opinião pública, representa apenas um primeiro e tímido passo do Congresso na busca da credibilidade perdida.
Infantaria paga - VERA MAGALHÃES - PAINEL
FOLHA DE SP - 12/07
Enquanto a militância petista mantém discrição na campanha paulistana, Fernando Haddad contratou 1.200 cabos eleitorais que seguirão a partir da próxima semana em périplo pelos bairros de São Paulo "vendendo seu peixe", nas palavras de um aliado. Distribuídos em 8 grupos de 150 pessoas e recrutados pelas zonais do PT, os haddadistas abordarão eleitores com material impresso divulgando o nome do candidato e seus apoiadores -notadamente Lula e Dilma.
Santo de casa Haddad quer diferenciar a ofensiva da deflagrada em 2004 por Marta Suplicy. A então candidata à reeleição escalou os chamados "moranguinhos" para fazer porta a porta. O resultado foi contestado porque eles desconheciam as demandas das regiões percorridas. Desta vez, só participarão pessoas recrutadas nos bairros.
Muito prazer O PT providenciou carro de som para acompanhar Haddad na periferia. Um locutor apresenta o candidato, pouco conhecido. Desde ontem, o ex-ministro cumprimenta as pessoas na rua dizendo: "Meu nome é Fernando Haddad e gostaria de contar com seu voto".
Quem manda A permanência de Edson Aparecido, ligado a Geraldo Alckmin, na coordenação da campanha de José Serra não alivia o desconforto do governador. No Bandeirantes, é voz corrente que as decis?es no QG serrista são concentradas por Gilberto Kassab e Luiz Gonzalez.
Roupa... O governo de São Paulo vai rebatizar a Nossa Caixa Desenvolvimento, que passará a se chamar Desenvolve SP. A mudança foi definida após pesquisa com empresários apontar que 76% vinculavam a agência de fomento à Nossa Caixa, comprada pelo Banco do Brasil.
...nova Segundo o levantamento, os empresários consideravam o banco "atrasado" e "burocrático", o contrário da imagem que o governo quer dar à sua agência.
Torpedo Paulo Vieira da Souza, o Paulo Preto, tem enviado mensagens de texto em tom de ameaça a empresários e políticos afirmando que seu depoimento à CPI do Cachoeira será bom momento para esclarecer os "fatos verdadeiros'', em letras garrafais. A ação tem sido interpretada como pedido de proteção.
Retiro Assim como outros réus do mensalão, Duda Mendonça viajou para o exterior antes do julgamento do mensalão. O marqueteiro está em Portugal e ofereceu sua casa na Bahia para que o advogado Antonio de Almeida Castro revise sua defesa.
Tô fora O candidato do PT em Recife, Humberto Costa, vê tentativa do PSB de associá-lo ao ex-ministro José Dirceu, réu no mensalão, para enfraquecê-lo na disputa. Diz que os fiadores de sua candidatura são Lula e o presidente do PT, Rui Falcão.
Mordaça Já Dirceu avalia que os ataques dos pessebistas a ele são covardes, já que os "aliados" sabem que, pela proximidade do julgamento, ele tem de manter silêncio.
Prato frio Após a cassação, Demóstenes Torres disse aos seus poucos interlocutores que foi traído pelo grupo do senador José Sarney (PMDB-AP), que teria atuado para assegurar alto quórum pela perda do mandato.
Olho no... O vice-presidente Michel Temer convidou a senadora Kátia Abreu (PSD-TO) para se filiar ao PMDB. A presidente da CNA abriu dissidência no partido do prefeito Gilberto Kassab por discordar da aliança com o PT em Belo Horizonte.
...lance O argumento é que Kátia pode se desfiliar por justa causa, e o PSD não pode pedir seu mandato, já que ela foi eleita pelo DEM.
com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI
tiroteio
"Espero que, desta vez, não recusem o socorro do Alckmin, como Kassab e Schneider fizeram com as 172 creches do governo federal."
DO VEREADOR ANTONIO DONATO (PT), coordenador da campanha de Fernando Haddad, sobre a ampliação do programa estadual Creche-Escola na capital.
contraponto
Famoso quem?
Em reunião da campanha de José Serra com candidatos a vereador de sua coligação, na sexta-feira passada, o locutor do evento anunciou na plateia a presença do "ministro Gilberto Carvalho".
Percebendo a gafe, a ex-deputada Zulaiê Cobra (PSD) subiu ao palco e falou ao microfone, explicando que se tratava de Clóvis Carvalho, ex-chefe da Casa Civil de FHC, e não do atual secretário-geral da Presidência:
-Na verdade, ele quis dizer Clóvis Carvalho. Ministro, peço desculpas. É chato ser confundido com uma coisa horrorosa dessas...
Mais vozes contra o Estado-anunciante - EUGÊNIO BUCCI
O Estado de S.Paulo - 12/07
Há quase dois meses, no dia 17 de maio, neste mesmo espaço, apontei a distorção perversa trazida pelo recrudescimento do Estado-anunciante no Brasil. É bem verdade que não foi a primeira vez que toquei no assunto. Há pelos menos dez anos essa nova modalidade do patrimonialismo pátrio - o uso de verbas públicas para fins de propaganda partidária (que corresponde a interesses particulares) - vem crescendo a um ritmo que clama por atenção. No artigo de 17 de maio traduzi as razões de preocupação em números, com as cifras rombudas que as autoridades despejam anualmente no mercado publicitário. No mesmo artigo listei as razões pelas quais a hipertrofia do Estado-anunciante é, por definição, antidemocrática.
Agora peço licença ao leitor para insistir. O motivo é muito simples: de dois meses para cá, outros três articulistas - Fernando Henrique Cardoso, J. R. Guzzo e Vittorio Medioli - passaram a denunciar o mesmo problema, o que pode prenunciar algo de novo no horizonte.
Antes de relermos o que escreveram os articulistas, convém deixar bem claro por que é inaceitável a hipertrofia do Estado-anunciante. Ele se impõe como uma força unilateral, pró-governo, que desequilibra com o peso de milhões e milhões de reais as disputas eleitorais e a pluralidade do debate político no País. No limite, tende a sabotar o princípio da alternância no poder, uma vez que só existe para convencer o eleitor de que o governo em curso (qualquer que seja ele) é o melhor do mundo.
Tomemos o exemplo da cidade de São Paulo, que terá eleições para prefeito este ano. Aqui a Prefeitura pôs no ar, no primeiro semestre, uma campanha que mais parecia uma avalanche propagandística para entorpecer o cidadão. A pretexto de "informar" o contribuinte, as peças promocionais repetiram à exaustão o slogan "antes não tinha, agora tem", tentando provar que hoje o paulistano conta com serviços de saúde e educação deslumbrantes, esplêndidos, paradisíacos, gozosos como nunca teve.
Óbvio número 1: esse tipo de publicidade é propaganda eleitoral antes da abertura do período eleitoral regulamentar. É partidária, ostensivamente partidária. A publicidade governista, ainda que formalmente não descumpra a lei, não está propriamente em sintonia com os princípios que orientam a legislação eleitoral vigente. Fingindo "informar" o eleitor, faz campanha eleitoral explícita e antecipada, ainda que não fale de candidatos.
Óbvio número 2: todos os governos agem assim. Todas as prefeituras, todos os governadores dos Estados e, claro, o governo federal, que é incontestavelmente o campeão invicto nesse esporte nacional.
A solução para conter o Estado-anunciante é uma só: a lei teria de estabelecer, se não a proibição total, ao menos uma barreira sólida de contenção contra as despesas públicas em campanhas publicitárias pagas. Simples assim. Bem sabemos que o Congresso dificilmente tomará essa pauta como prioridade, pois os parlamentares, comprometidos com agendas partidárias, não vão espontaneamente contrariar o apetite que os governantes têm por visibilidade. Portanto, é preciso quebrar a inércia.
Para quebrá-la a mobilização deve nascer da opinião pública. De três semanas para cá, outras vozes passaram a falar contra o Estado-anunciante. Não exageremos com a esperança, mas talvez elas contribuam para um pouco de lucidez no ambiente político. Uma dessas vozes é a do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. No dia 3 de junho, um domingo, em sua coluna aqui, no Estado, nesta mesma página, ele escreveu: "Será que é democrático deixar que os governos abusem nas verbas publicitárias ou que as empresas estatais, sub-repticiamente, façam coro à mesma publicidade sob pretexto de estarem concorrendo em mercados que, muitas vezes, são quase monopólicos? (...) O efeito deletério desse tipo de propaganda disfarçada não é tão sentido na grande mídia, pois nesta há sempre a concorrência de mercado que a leva a pesar o interesse e mesmo a voz do consumidor e do cidadão eleitor. Mas nas mídias locais e regionais o pensamento único impera sem contraponto".
O ex-presidente alerta para o peso que as verbas públicas adquiriram nos veículos de médio porte, que, muitas vezes, acabam se tornando dependentes dessa receita. Ora, se são economicamente dependentes das contas governamentais, eles talvez percam independência editorial quando se trata de criticar a administração pública. Também por isso, o Estado-anunciante hipertrofiado é indesejável na democracia.
A segunda voz que se levantou foi a de José Roberto Guzzo, ex-diretor e atual colunista da revista Veja. Em sua coluna de 6 de junho, sob o título Nós e os outros, ele definiu bem a distorção com que temos convivido, que seria repelida em qualquer democracia: "Dá para imaginar o governo da Itália, por exemplo, gastando fortunas na mídia para dizer 'Itália - um país para todos'? Ou algo assim: 'Prefeitura de Londres - antes não tinha, agora tem'? Não dá. O funcionário que sugerisse uma coisa dessas seria provavelmente encaminhado a uma instituição psiquiátrica".
Além de FHC e de Guzzo, Vittorio Medioli, ex-deputado federal por Minas Gerais, primeiro pelo PSDB e depois pelo PV, e proprietário da Editora Sempre, que publica os jornais O Tempo e SuperNotícias, em Belo Horizonte, argumentou na mesma linha. Em editorial publicado em O Tempo, de 10 de junho, Medioli afirmou: "O aspecto nefasto desse acintoso desperdício, que solapa verbas destinadas a quem as gerou (os contribuintes), paradoxalmente se verte contra os próprios, pois até um imberbe jovem compreende que essa mídia, além de cara, frauda uma realidade bem diferente e desequilibra eleições".
Que surjam outras vozes. Se a sociedade não falar, a propaganda governamental vai virar um monólogo no Brasil.
"De fusquinha no mundo da Fórmula 1" - FERNANDO ROCHA
Valor Econômico - 12/07
O Brasil sempre contou com mão de obra abundante e barata. Isso não é mais verdade. A população brasileira vem passando por uma notável mudança de padrão demográfico. O crescimento da população economicamente ativa é de apenas 1,3% ao ano, atualmente, quando era de 2,3% na década de 90. Entre 2020 e 2030, será zero. A taxa de crescimento da economia é uma função do crescimento da população ocupada, do estoque de capital e da produtividade. Se a população ocupada vai ficar estável, dependeremos do investimento e da produtividade para crescer. Não existe outro caminho.
Para aumentar a produtividade é preciso educar a população. O título deste artigo vem do excelente livro "Além da Euforia: Riscos e Lacunas do Modelo Brasileiro de Desenvolvimento", de Fabio Giambiagi e Armando Castelar. O autor do capítulo que leva esse título, Marcio Gold Firmo, faz um diagnóstico detalhado da educação brasileira. A taxa de escolaridade média da população economicamente ativa brasileira é muito baixa, de 7,5 anos, ficando acima apenas da África subsaariana e dos países pobres do sul da Ásia. No entanto, ao contrário do que se poderia supor, o investimento público em educação não é baixo, fica acima da média da OCDE em percentagem do PIB. A conclusão é que esse investimento é mal feito e ineficiente.
O percentual de alunos do 3 º ano do ensino médio com notas consideradas adequadas à sua série é de apenas 11%, sendo de 6% na rede pública. O Brasil fica muito mal no ranking de notas médias obtidas na pesquisa PISA conduzida pela OCDE em vários países. A pesquisa indica que o percentual de notas abaixo do mínimo em matemática, leitura e ciências é de 69%, 50% e 54%, respectivamente. Só para citar um exemplo, a Coreia do Sul tem 8%, 6% e 6% na mesma base de comparação.
Estamos fazendo algum progresso, mas muito lentamente. O progresso é visível quando se compara a escolaridade por faixa etária. Entre 25 e 34 anos, 53% da população tem educação secundária. Na faixa de 55 a 64 anos, esse percentual cai para 25%. O país conseguiu avançar ao diminuir o analfabetismo e aumentar a escolaridade, mas a qualidade do ensino está sendo insuficiente, particularmente se levarmos em conta que o trabalhador brasileiro tem que competir com trabalhadores educados e treinados em outros países do mundo, onde a qualidade do ensino é bem melhor. Levando em conta a velocidade em que o Brasil progrediu na última década, levaríamos 50 anos para atingir a média da OCDE em matemática. O que fazer diante desse desafio?
O problema fundamental parece ser de gestão. Melhorar a qualidade do ensino demanda dirigentes escolares e professores mais bem preparados e remunerados, instalações melhores e políticas complementares que envolvem a família no caso da população de baixa renda. Sem querer esgotar o assunto, seguem algumas sugestões: (i) vincular programas de renda mínima à permanência dos filhos na escola, com controle periódico, (ii) aumentar a ênfase do ensino médio em formação técnica profissional, (iii) introduzir sistemas de aferição da qualidade e criar incentivos financeiros para escolas e professores com bom desempenho.
A ênfase deve ser dada ao ensino fundamental e médio de qualidade e com formação técnica, pois a maioria dos postos de trabalho requer esse tipo de formação. No ensino superior, a iniciativa do FIES merece destaque. A ideia é financiar o aluno para que ele se matricule e curse o sistema privado de ensino. Essa é uma solução inventiva que pode poupar bilhões de reais direcionados ao ensino superior público e redirecioná-los ao ensino básico e fundamental. Através de financiamento, o aluno, mais bem preparado nas etapas anteriores, teria condição de cuidar da sua própria educação superior, liberando recursos públicos para serem concentrados nas universidades de ponta, que visam também o desenvolvimento em ciência e tecnologia.
Concluindo, precisamos atacar o problema da educação no Brasil com urgência, sob pena de continuarmos nos debatendo com uma taxa de crescimento medíocre.
Ueba! Pelaram o Debóchenes! - JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 12/07
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! O Demóstenes! Que depois que saiu do DEM virou Óstenes! O Debóchenes. Esse fez cocô na sala e limpou com o tapete.
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! O Demóstenes! Que depois que saiu do DEM virou Óstenes! O Debóchenes. Esse fez cocô na sala e limpou com o tapete.
Eu gosto dos senadores porque eles falam "peremptório". E "egrégia". Adoro "egrégia". "Egrégia" é tudo! Dicas de nomes de filhos! E adorei aquele senador que cita Sêneca e fala: "Nós não podemos se conformar". Rarará! E quantos senadores tem o Amapá, pelo amor de Deus?!
Eu já disse que o Debóchenes tem dois problemas: ético e estético! E a minha avó sempre dizia: "Não confie em ninguém com cara de coroinha". Descascaram a ética do coroinha. Ficou pelado! Rarará!
O destino do Debóchenes devia ser resolvido no videopôquer, no caça-níquel, na porrinha! No caça-níquel: "Deu três limões!". Cassado! "Deu dois sininhos e uma maçã." Perdoado!
Um amigo estava jogando num caça-níquel e apareceram três Demóstenes. E perguntou pro dono: "Seu Zé, o que eu faço? Deu três Demóstenes". "Paga uma propina e continua jogando." Rarará! E reparou que ele tá com cara de história em quadrinhos? Todos ficam assim! Viram charges! Rarará!
E "A Fazenda 5"? Aquele surreality show da Record? A lhama é a mais gostosa! E come de boca aberta igual a Angela Bismarchi! Que não come de boca fechada porque o botox não deixa. Não consegue fechar a boca! E a Gretchen saiu? Acho que levou um pé na bunda do marreco!
Como diz o humorista Marcio Ribeiro: depois de abandonar 16 maridos, Gretchen abandona "A Fazenda "! Pra procurar marido. Rarará! Ela teve abstinência matrimonial. E a bunda da Gretchen não é uma fazenda, é um latifúndio!
E agora o que o Debóchenes vai fazer? Criar uma dupla sertaneja em Goiânia: Cascatinha e Cachoeira! É mole? É mole, mas sobe! Ou como disse aquele outro: é mole, mas trisca pra ver o que acontece!
Os Predestinados! É que em São Carlos tem uma psicóloga: Sylvia PÂNICO! E uma amiga minha chamou um jardineiro pra fazer o orçamento do jardim do prédio e o nome dele era Jardinaldo. Rarará! O Jardinaldo virou jardineiro por força do destino, por falta de opção e conspiração dos astros. Rarará!
Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
Novo pibinho - MÍRIAM LEITÃO
O GLOBO - 12/07
A inflação também está em forte queda. Isso justifica a redução dos juros decidida ontem e abre espaço para novas diminuições da taxa Selic. Ao fim da reunião do Copom em maio, a aposta mais comum era de que havia pouco espaço para novas quedas. Poucos acreditavam que os juros pudessem ficar abaixo de 8%. Até pela insistente palavra "parcimônia" que começou a aparecer sem nenhuma parcimônia nos comunicados do Banco Central.
Depois da redução da inflação, que chegou a 0,08% no último índice divulgado, acredita-se que os juros podem chegar a 7%. Neste ponto é um excelente quadro: juros em recorde histórico de baixa e inflação caminhando para o centro da meta.
O que atrapalha a boa notícia é o crescimento. Ele está baixo e emagrece a cada nova revisão dos dados. O Banco Central já avisou que trabalha com o cenário de 2,5%. A pesquisa feita pelo BC no mercado indica um pessimismo maior, a média está em torno de 2%. Mas várias instituições estão revisando o número para um patamar abaixo disso. É o caso da consultoria Tendências, que prevê 1,9%.
A conta feita pelo economista Juan Jensen é simples: como o país teve um resultado muito fraco no primeiro trimestre (de 0,2%) e pode ter apenas 0,5% no segundo trimestre, terá que crescer numa média de 1,3% no segundo semestre, para chegar ao número previsto. O Brasil tem que acelerar no fim do ano para compensar o resultado baixo do começo. O diretor da Tendências, Gustavo Loyola, acha que parte desse resultado fraco é consequência de fatores internos.
- Nem tudo é resultado da crise internacional. O Brasil está com dificuldade de crescimento mesmo. O investimento público não está sendo realizado e o privado tem sido adiado ou cancelado.
O crescimento induzido por pacotes de reduções de impostos e por incentivo ao endividamento tem dado sinais de esgotamento. Isso é o que todo mundo acha, menos o governo.
O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, em entrevista à Folha de S.Paulo neste fim de semana criticou o pessimismo do empresário - mais especificamente a sua ciclotimia - pelo baixo crescimento. Por que será que ele está pessimista?
Não há uma agenda de modernização em curso; não há conversa com empresário da qual não surja uma história surrealista sobre a demora e a falta de lógica dos trâmites burocráticos no Brasil.
Esta semana numa conversa com a presidente da Boeing do Brasil, Donna Hrinak, quis saber por que as empresas de transporte aéreo de passageiros reclamam de resultados ruins, se o movimento aumentou muito. Ela respondeu que um dos motivos é que o custo de reposição é alto demais. A importação de peças é tão burocrática que as companhias têm, às vezes, que ficar uma semana com avião no solo, o que é um custo gigantesco. Para resolver isso, elas têm que ter estoque de peças, o que também é irracional no mundo do "just in time". Bom, não explica tudo, mas é um exemplo de como o Brasil está precisando buscar a eficiência.
O próprio Coutinho fez uma lista do que é necessário para o país crescer mais que tem pontos indispensáveis, como investimento em inovação. Resta a dúvida sobre o que há de inovador em certas apostas bilionárias feitas pelo BNDES.
O "Financial Times" publicou esta semana uma reportagem sobre o Brasil falando exatamente do peso estatal na economia - a carga tributária brasileira é dez pontos percentuais mais alta do que a da Coreia do Sul - e de como é baixo o índice de aumento de produtividade. Tudo isso tem tirado fôlego da economia. Nada disso se resolve com os pacotes curativos feitos em série pelo governo.
O grande problema não é, portanto, o fato de o Brasil crescer pouco em 2012. Isso está dado. O resultado será fraco. Mas o país tem chances de ir virando o jogo até o fim do ano e, mesmo com um resultado estatístico ruim, estar num ritmo de crescimento de 4% no fim de 2012. A dúvida é se conseguirá manter esse nível por muito tempo.
O ministro Guido Mantega disse, recentemente, em tom de autoelogio, que o país mudou de modelo de crescimento. Agora é câmbio desvalorizado, uma meta de juros e incentivos ao crédito e a alguns setores empresariais. Esse modelo, se é que se pode chamar assim, deixa solta a ponta da inflação. Passa a ser derivada de outras metas do Banco Central. O índice ficou baixo este ano, porque o país cresceu pouco. Mas o ideal é ter inflação baixa com crescimento alto. O teste dessas mudanças passa a ser 2013, quando se espera que o país tenha um ritmo maior do que dos anos de 2011 e 2012 que será um biênio de resultado pífio.
A crise externa atrapalhou bastante o Brasil mas virou uma espécie de grande desculpa do governo para o seu desempenho. A crise explica metade do resultado ruim do ano. Falta explicar a outra metade.
Engasgou - CELSO MING
O Estado de S.Paulo - 12/07
O tombo inesperado do consumo nacional em maio, conjugado com a forte expansão do calote, parece mostrar que a atual estratégia de política econômica do governo, baseada no estímulo ao consumo, está fracassando. O problema é que a opção é puxar pelo investimento, algo que o governo não vem conseguindo fazer.
O consumo em maio caiu 0,8% em relação a abril, um mês carregado de feriados e, portanto, em princípio, comercialmente mais fraco.
Ainda é cedo para concluir que esse desempenho ruim aponta para uma tendência firme de desempenho também medíocre no segmento que até agora vinha bem.
No entanto, esse recuo vem acompanhado de prolongada estagnação da indústria. E, agora se sabe, o indicador da Serasa Experian indica uma alta na inadimplência de nada menos que 19,1% no primeiro semestre deste ano em relação ao primeiro semestre do ano passado.
Na média, analisa a Serasa, "cada inadimplente carrega quatro dívidas não honradas e 60% dos inadimplentes têm dívidas acima de 100% da renda".
Essas agravantes sugerem que a expansão do crédito, instrumento fortemente acionado pelo governo para empurrar o consumo nessa conjuntura de crise global, esbarra em pronunciadas limitações técnicas. O governo Dilma já se deu conta de que os nove pacotes anticíclicos, destinados a estimular as vendas, não vêm reativando a produção e podem já não ter capacidade para puxar a demanda. Por isso, entendeu que devesse atuar na ponta dos investimentos. A Petrobrás está sendo cobrada para tocar mais agressivamente seu programa de negócios e o próprio governo, informa a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, se prepara para acionar os investimentos.
O problema é que esta administração vem dando demonstrações seguidas de deficiência gerencial. Como o jornalista Rolf Kuntz mostrou na sua coluna de ontem no Estado, os desembolsos do Tesouro no primeiro semestre deste ano corresponderam a apenas 21% do total previsto no Orçamento.
O PAC continua empacado, excessivamente concentrado em programas habitacionais. E a Petrobrás, de quem se esperam investimentos de US$ 236,5 bilhões nos próximos quatro anos, reconhecidamente vem se apresentando como contumaz furadora de cronogramas. Afora isso, o governo vem sendo incapaz de dar agilidade à concessão de licenciamentos ambientais.
Esses e tantos outros indicadores mostram que sobram dúvidas sobre a eficiência de uma provável mudança de ênfase nas políticas de estímulo, do consumo para o investimento.
O biólogo francês do século 19 Jean Lamarck se notabilizou por enunciar a tese evolucionista segundo a qual "a necessidade cria o órgão".
Pois o governo Dilma enfrenta inadiável necessidade de mostrar serviço na área econômica e ainda tem tempo de virar o jogo adverso.
Quem sabe essa cobrança possa ajudar a mudar a direção e, sobretudo, a qualidade de sua administração.
MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO
FOLHA DE SP - 12/07
Carência de mão de obra chega a setor de franquias
A dificuldade de contratação de mão de obra qualificada, que já atinge diversos setores no Brasil, começa a alcançar os sistemas de redes de franquias.
Questões ligadas a recursos humanos aparecem entre as maiores dificuldades que os franqueados enfrentam na gestão do negócio na opinião de 49% dos franqueadores, segundo Claudia Bittencourt, da consultoria Bittencourt.
"Falta gente e trabalho de gestão de pessoas. Há pouco preparo para reter talentos."
A maior demanda por trabalhadores qualificados obriga as empresas a contratar entre os menos preparados e ter de investir em treinamento, segundo Cristina Franco, vice-presidente da ABF (associação do setor).
"O apagão da mão de obra atinge também o segmento de franchising. Isso cresce desde que o país começou a viver um momento econômico mais pulsante", diz.
A entidade vai inaugurar, antes do final do ano, um centro de qualificação anexo a seu escritório. A meta é trabalhar na certificação de profissionais que atuem pelos franqueadores, como supervisores, vendedores de franquias e gestores financeiros e de marketing. A qualificação dos funcionários das redes é feita pelas próprias franquias, segundo Franco.
O setor de alimentação é o que mais sente a falta de mão de obra, segundo Ana Vecchi, da consultoria especializada em franquias Vecchi Ancona.
"As empresas desse segmento estão perdendo seus funcionários principalmente para os call centers, cuja faixa salarial é semelhante e oferece horários de trabalho mais flexíveis", afirma.
"As empresas estão perdendo seus funcionários para os call centers"
ANA VECCHI
da consultoria Vecchi Ancona
Mulheres representam mais de 40% dos seguros de carro
Em crescimento maior do que a média do setor nos últimos cinco anos, as mulheres passaram a representar mais de 40% da carteira das principais seguradoras de carro do país.
"Elas têm crescido 15% ao ano, enquanto o resultado do setor é de 10%", diz Marcelo Sebastião, diretor da Porto Seguro, que tem 45% de mulheres entre os clientes.
Em função da maior cautela para dirigir, as apólices são mais baratas para o sexo feminino. "A diferença de preço varia conforme a região do país, mas a média é de 10% a 12%", afirma Fernando Cheade, superintendente-executivo da Bradesco Auto/RE.
De acordo com estudo do grupo BB e Mapfre, as mulheres representam 19% menos riscos para as seguradoras.
"Elas costumam se envolver mais em pequenas colisões e menos em sinistros de perda total", diz Jabis Alexandre, diretor do grupo.
Para o executivo da Porto Seguro, a escolha de lugar para estacionar o carro também influencia no preço mais baixo para as mulheres. "Em geral, as motoristas preferem estacionamentos e evitam ao máximo parar na rua, ao contrário dos homens."
números
19% menor é o risco para as seguradoras ao venderem apólices para as mulheres, segundo o grupo BB e Mapfre
45% é a representatividade do sexo feminino nas carteiras de seguro de carro da Porto Seguro e da Bradesco Auto/RE
Sapateado
A marca de calçados Crocs, que chegou ao Brasil há cerca de cinco anos por meio de multimarcas e há pouco mais de um ano começou a abrir lojas próprias, prepara plano de expansão para este ano.
Com 47 pontos exclusivos hoje, entre licenciados e próprios, a empresa vai abrir mais dez até o fim de 2012.
O plano de diversificação dos canais de vendas inclui a abertura de um e-commerce também exclusivo para a marca, nas próximas semanas, segundo Odilon Lopes, diretor-geral da Crocs para a América Latina.
"O Brasil e a região ainda têm espaço para crescer nos canais. O país está entre os cinco principais mercados."
CONTRATAÇÃO NA CRISE
Os setores de seguros imobiliário e financeiro e de serviços são os que mais pretendem contratar no Brasil entre julho e setembro, segundo estudo do ManPowerGroup.
Em cada cem seguradoras de imóveis e financeiras, 43 esperam contratar funcionários nos próximos meses.
No setor de serviços, o índice é de 42%.
Em seguida, aparecem companhias de administração e educação pública (31%) e construção (29%).
O levantamento ouviu cerca de 850 executivos.
NOVIDADE PLÁSTICA
Uma nova empresa do setor de transformação de material plástico está em fase de instalação no Rio Grande do Sul.
Batizada de Multplast Extrusão e Termoformagens, a companhia irá investir R$ 25,4 milhões em uma planta em Osório (cerca de cem quilômetros de Porto Alegre), onde a resina termoplástica será transformada em produto final.
O projeto da empresa, que vem sendo desenvolvido há três anos, prevê que a indústria comece a operar já no primeiro semestre de 2013.
Nas alturas O grupo Baram criou uma divisão para o setor eólico. Batizada de HB Soluções Eólicas, a empresa irá realizar serviços de limpeza de equipamentos de parques.
Acordo por... O Instituto da Construção acaba de fechar parceria com a Votorantim Cimentos para o fornecimento de máquinas e insumos para os cursos de formação de pedreiros, mestre de obras e azulejistas.
..mão de obra A meta das companhias é formar 100 mil profissionais nos próximos cinco anos.
Pesquisa O laboratório Delboni, uma das marcas da Dasa, que investe R$ 10 milhões por ano na produção de pesquisas na área de medicina, apresentará 34 estudos científicos na próxima semana em Los Angeles (EUA).
Saúde A Bradesco Saúde foi a primeira operadora de saúde acreditada conforme os padrões da Agência Nacional de Saúde Suplementar com nota máxima.
Hotel A Atlantica Hotels recebeu certificação da Match Services, agência contratada pela FIFA para selecionar hotéis para a Copa, de parceira oficial para hospedagens durante o evento no Brasil.
Hashi A Câmara de Comércio Japonesa realiza evento em São Paulo amanhã para discutir investimentos no RS. O governador Tarso Genro e o secretário de Desenvolvimento, Mauro Knijnik, participarão.
Epidemia de leis arcaicas e insensíveis - FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
O Globo - 12/07
Estamos cada vez mais próximos de acabar com a Aids, mas, infelizmente, uma nova epidemia está dificultando os esforços e tornando a resposta ao HIV prisioneira do preconceito: a epidemia de leis arcaicas e insensíveis.
A Comissão Global sobre HIV e a Lei foi convocada pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) para debater o assunto e indicar soluções possíveis que ajudem a resolver esse problema. O resultado foi o lançamento recente do relatório "HIV e a Lei: Riscos, Direitos e Saúde", que não deixa dúvidas: é hora de libertarmos a resposta à Aids com leis menos punitivas e ações mais criativas e ousadas.
As leis que criminalizam a prostituição, o uso de drogas e a atividade sexual entre pessoas do mesmo sexo criam uma cultura do medo e afastam aqueles com maior risco de infecção pelo HIV dos serviços essenciais de saúde. Algumas leis punem a homossexualidade com prisão prolongada, e outras com a pena de morte. Algumas criminalizam a troca de seringas usadas por novas, apesar de evidências comprovadas de esta ser uma ferramenta eficaz de prevenção.
Além disso, dezenas de países penalizam a transmissão e a exposição ao HIV, apesar de essas leis acabarem por afastar as pessoas da testagem e do tratamento.
Ninguém é poupado do impacto negativo de leis ruins: os jovens são empurrados para fora dos serviços de prevenção do HIV e de saúde reprodutiva por leis que exigem o consentimento dos pais; as mulheres estão expostas a riscos inaceitáveis por leis e costumes como o casamento precoce e a mutilação genital feminina. Igualmente preocupantes são as proteções excessivas à propriedade intelectual que dificultam a produção de medicamentos a preços acessíveis, em vez de fornecer incentivos para o desenvolvimento de remédios baratos para os mais pobres.
Reconhecemos que algumas destas leis podem ter sido implementadas com a intenção de proteger as pessoas contra o HIV. Também reconhecemos que algumas leis foram criadas para sustentar as crenças culturais e morais e os valores daquela sociedade. Mas a história tem provado que as políticas de saúde pública só têm êxito quando são adotadas com base em evidências e nos direitos humanos, não em suposições e ideologia.
Pode ser difícil, mesmo incômodo, reverter leis discriminatórias, mas as leis - como a língua e a cultura - devem evoluir com o tempo. Os líderes locais e nacionais devem assegurar que o sistema jurídico nos mova para a frente. Retroceder, jamais.
Coragem!
A Suprema Corte Indiana em Delhi retirou do seu código penal as leis que criminalizavam a homossexualidade. Guiana e Fiji rejeitaram recentemente leis que tornariam crime a transmissão do HIV. Líderes como o ex-presidente de Botswana Festus Mogae e a presidente do Malawi, Joyce Banda, pedem a descriminalização da homossexualidade. A Comissão Nacional de Direitos Humanos do Quênia pediu a descriminalização da prostituição. O Vietnã aprovou uma lei que aboliu a prisão de profissionais do sexo. Países como Alemanha, Austrália, Suíça e Irã possuem leis em vigor que garantem aos usuários de drogas injetáveis o acesso a serviços essenciais de saúde.
Quando éramos líderes em nossos países, vimos o impacto social e na saúde causado por leis ruins e adotamos medidas rápidas. Em 1996, o Brasil anunciou que iria oferecer o tratamento com antirretrovirais de forma gratuita para todas as pessoas com HIV/Aids, e mais tarde desafiou as leis internacionais de patentes, de forma que isto permitisse ao Brasil produzir versões genéricas a preços acessíveis de determinados medicamentos anti-HIV. A Nova Zelândia descriminalizou o trabalho sexual e melhorou a proteção legal para lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros. Também aprovou leis que incentivam programas de redução de danos para usuários de drogas injetáveis. Em ambos os países as taxas de prevalência do HIV têm permanecido baixas.
A verdade é que, se podemos obter apoio multibilionário para um esforço global para acabar com a Aids, devemos também ter a coragem de implementar leis que justifiquem esse grande investimento.
Pela primeira vez na história da epidemia, temos as ferramentas para reduzir radicalmente a taxa de novas infecções e manter vivos quase todos aqueles que vivem com o HIV. No fim deste mês, líderes mundiais se reunirão em Washington para uma conferência histórica sobre Aids com o objetivo de definir planos para o futuro.
Não podemos permitir que essas leis, prejudiciais e ineficazes, continuem impedindo o caminho para um mundo livre do HIV/Aids.
Populismo racial - EDITORIAL FOLHA DE SP
FOLHA DE SP - 12/07
Não é comum a Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) se pronunciarem em conjunto sobre temas da agenda nacional, como fizeram em junho contra o novo Código Florestal, que julgaram "indulgente". Agora, unem forças para atacar cotas em universidades federais.
Nada menos que 56 desses estabelecimentos de ensino superior se lançaram numa greve irresponsável, que só prejudica seus alunos. A nota da ABC e da SBPC, no entanto, se volta para uma ameaça ainda mais insidiosa que paira sobre as universidades, o projeto de lei nº 180/2008, pronto para ser votado no Senado Federal.
Oriunda da Câmara, onde foi apresentada pela deputada Nice Lobão (PSD-MA) em 1999, a proposta prevê reserva de metade das vagas das instituições federais de ensino superior para estudantes que tenham cursado todo o ensino médio em escolas públicas.
Estipula, ainda, que as vagas reservadas sejam atribuídas a candidatos de contingentes raciais ("autodeclarados negros, pardos e indígenas") na mesma proporção demográfica encontrada pelo IBGE na unidade da Federação.
Esta Folha defende formas de ação afirmativa de critério exclusivamente socioeconômico, mas enxerga várias razões para rejeitar o PL 180 -e não só por seu componente racial. Lamenta, ainda, que haja probabilidade real de aprovação no Senado, no atual clima de populismo racialista, reforçado pelo Supremo Tribunal Federal com sua decisão de abril pela constitucionalidade das cotas.
Mesmo quem não abomine a sagração em lei da discriminação racial (ainda que positiva) perceberá outros erros colossais da proposta.
Como bem assinalam a ABC e a SBPC, ainda que a inclusão social seja um objetivo legítimo e desejável nas universidades públicas, a excelência do ensino e da pesquisa não é menos importante -e ela certamente estará em risco se metade das vagas forem atribuídas por critérios indiferentes ao mérito.
O projeto de Nice Lobão desconsidera, além do mais, que várias instituições federais já adotam ou cogitam ações afirmativas. Ao impor um modelo único para todas elas, a proposta não só atropela esse processo como ainda afronta o artigo 207 da Constituição Federal, que garante autonomia didático-científica às universidades.
Da greve à expansão desordenada durante o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, as federais já contam com problemas a rodo. O Senado não carece de agravar ainda mais sua situação.
Não é comum a Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) se pronunciarem em conjunto sobre temas da agenda nacional, como fizeram em junho contra o novo Código Florestal, que julgaram "indulgente". Agora, unem forças para atacar cotas em universidades federais.
Nada menos que 56 desses estabelecimentos de ensino superior se lançaram numa greve irresponsável, que só prejudica seus alunos. A nota da ABC e da SBPC, no entanto, se volta para uma ameaça ainda mais insidiosa que paira sobre as universidades, o projeto de lei nº 180/2008, pronto para ser votado no Senado Federal.
Oriunda da Câmara, onde foi apresentada pela deputada Nice Lobão (PSD-MA) em 1999, a proposta prevê reserva de metade das vagas das instituições federais de ensino superior para estudantes que tenham cursado todo o ensino médio em escolas públicas.
Estipula, ainda, que as vagas reservadas sejam atribuídas a candidatos de contingentes raciais ("autodeclarados negros, pardos e indígenas") na mesma proporção demográfica encontrada pelo IBGE na unidade da Federação.
Esta Folha defende formas de ação afirmativa de critério exclusivamente socioeconômico, mas enxerga várias razões para rejeitar o PL 180 -e não só por seu componente racial. Lamenta, ainda, que haja probabilidade real de aprovação no Senado, no atual clima de populismo racialista, reforçado pelo Supremo Tribunal Federal com sua decisão de abril pela constitucionalidade das cotas.
Mesmo quem não abomine a sagração em lei da discriminação racial (ainda que positiva) perceberá outros erros colossais da proposta.
Como bem assinalam a ABC e a SBPC, ainda que a inclusão social seja um objetivo legítimo e desejável nas universidades públicas, a excelência do ensino e da pesquisa não é menos importante -e ela certamente estará em risco se metade das vagas forem atribuídas por critérios indiferentes ao mérito.
O projeto de Nice Lobão desconsidera, além do mais, que várias instituições federais já adotam ou cogitam ações afirmativas. Ao impor um modelo único para todas elas, a proposta não só atropela esse processo como ainda afronta o artigo 207 da Constituição Federal, que garante autonomia didático-científica às universidades.
Da greve à expansão desordenada durante o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, as federais já contam com problemas a rodo. O Senado não carece de agravar ainda mais sua situação.
O que é isso?! - ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 12/07
Por que parou? Parou por quê?
A oposição decidiu obstruir a votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias. Isso vai obrigar o Congresso a se reunir na próxima semana. Ontem, um assessor da ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) foi ao gabinete do presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), para negociar um acordo. Os líderes da oposição reclamam que o governo não cumpriu o acerto anterior. Ele previa empenhar R$ 4,5 milhões em emendas dos aliados e R$ 1,5 milhão em emendas da oposição, além de liberar restos a pagar dos anos de 2009, 2010 e 2011 para obras iniciadas. O governo prometeu e não entregou os recursos da oposição.
"Nós não temos o direito de macular a imagem do Senado, colocando o cargo a serviço de atividades estranhas ao exercício
parlamentar — Ricardo Ferraço, senador (PMDB-ES), no julgamento de Demóstenes Torres
ESTREIA EM GRANDE ESTILO. Wilder de Morais (DEM-GO), suplente de Demóstenes Torres, cassado, vai assumir o mandato numa situação de desconforto. Ele vai ser convocado pela CPI como testemunha para falar sobre a amizade e a ligação com Carlos Cachoeira. Eles foram amigos até que sua ex-mulher, Andressa Mendonça, trocou-o pelo contraventor. Integrantes da comissão acreditam que ele pode ser uma testemunha-bomba.
Filme mudo
A presidente Dilma não discursou no jantar com os petistas, na residência da presidência da Câmara, por causa de seu trauma com os vazamentos. No encontro anterior, com os senadores, o vazamento foi geral, e isso a irritou muito.
Retrato eleitoral
Os deputados federais do PT, candidatos a prefeitos nas eleições de outubro, aproveitaram o jantar na residência da presidência da Câmara, anteontem, para tirar fotos ao lado da presidente Dilma. Os aliados estão arrancando os cabelos.
A caçada ao cassado
O Ministério Público Federal vai entrar na próxima semana com uma ação por improbidade administrativa contra Demóstenes Torres. Promotor da Justiça de Goiás, o senador cassado será acionado pelo braço federal porque ao atuar no Congresso, estava no exercício de função federal. O MP de Goiás deve ajuizar ação contra ele por violar suas prerrogativas de agente público e pedir a perda do cargo de promotor.
Jogo duro
A orientação do Planalto para os líderes aliados, na aprovação da Lei de Diretrizes Orçamentárias, é para não aprovar qualquer tipo de reajuste, salarial ou de vale-refeição, para os servidores públicos do Executivo e também do Judiciário.
Verde
O estaleiro que será construído na Bahia, na Enseada do Paraguaçu, cuja pedra fundamental será lançada amanhã pela presidente Dilma e pelo governador Jaques Wagner, terá área de preservação ambiental de 400 mil metros quadrados.
PARADA. A CCJ da Câmara não consegue votar. As bancadas evangélica e do fumo estão obstruindo. Os evangélicos não querem votar a Lei da Palmada. A bancada do fumo não quer audiência pública para a Anvisa falar das restrições aos cigarros com sabor.
A CPI do Caso Cachoeira, ao retomar suas atividades, após o recesso, fará duas reuniões semanais: terças-feiras e quartas-feiras.
NA PRIMEIRA reunião na ONU com a presença do novo presidente do Comitê Nacional para Refugiados, Paulo Abrão, a organização pediu que os países recebam refugiados da Somália, do Iraque e do Afeganistão.
MELHOR DE TRÊS - MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 12/07
BIÓGRAFO MUY AMIGO
O ministro Gilmar Mendes, do STF, procurou a Wikipédia para reclamar da edição de seu perfil. Chamou a atenção de Mendes "ataques" postados pela mesma pessoa: Chico Venâncio, recém-formado em relações internacionais pela Universidade de Brasília. "Deve ser profissional do petismo", diz Mendes. Ele estuda que providências tomar, já que editor da Wikipédia não tem personalidade jurídica.
CURRÍCULO
Francisco Carvalho Venâncio, 23, tem status de eliminador, colaborador que pode apagar conteúdo inadequado. Ele explica que se baseia em fontes, como a "Carta Capital". "Não posso sumir com informações publicadas e que não foram desmentidas", justifica-se. Diz não ser filiado ao PT. Mendes estranha que só fatos positivos sejam apagados.
ENCICLOPÉDIA ON-LINE
A Wikipédia conta com cerca de 1.500 editores ativos em português. Além deles, há os eliminadores e um conselho de arbitragem analisa conflitos entre usuários.
GUINDASTE
O presidente da CBF, José Maria Marin, vai se reunir hoje com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, para bater o martelo sobre Recife como uma das sedes da Copa das Confederações. A conclusão da obra da arena para o evento teste da Copa de 2014 em junho do ano que vem é uma das preocupações do COL (Comitê Organizador Local).
CASA PAULISTANA
Neymar está à procura de um apartamento em São Paulo. A família do jogador do Santos tem olhado imóveis no bairro de Moema. A ideia, segundo Neymar Silva, pai do craque, é que ele tenha um lugar para ficar quando estiver a trabalho na cidade. Teria mais privacidade do que em hotéis ou no flat da família. "Estamos buscando sempre o melhor ambiente, o conforto pro Neymarzinho", diz o pai.
HASTA SIEMPRE
A um mês do julgamento do mensalão, amigos acharam o ex-ministro José Dirceu abatido no lançamento do livro "Rio Adentro" (ver fotos abaixo). Em sua dedicatória, o autor Jorge Ferreira escreveu ao réu: "Poesia para tempos difíceis". E terminou com um "hasta siempre", saudação dedicada a Che Guevara.
FÉRIAS
Antes de encarar a Justiça, Dirceu vai passar uns dias na casa da mãe, em Passa Quatro (MG), sua cidade natal.
VAI QUE É TUA
Helio de La Peña, do "Casseta & Planeta", está na fase de "passar o chapéu" para levar seu livro "Vai na Bola, Glanderson!" ao cinema. A história, que se passa em campinhos de futebol no subúrbio do Rio, será dirigida por Jeferson De ("Brother"). Segundo Peña, o ator Lázaro Ramos já topou participar.
LUTO NA FAZENDA
A irmã adotiva de Léo Áquilla, transexual que está confinado no reality show "A Fazenda" (Record), morreu na semana passada. "A família achou melhor não informá-lo", diz seu assessor. A Record diz não ter sido notificada pelos representantes de Áquilla, por isso não lhe informou sobre o ocorrido.
POESIA MINEIRINHA
O ex-ministro José Dirceu foi ao lançamento do livro de poemas "Rio Adentro", anteontem, no restaurante Consulado Mineiro, no bairro de Pinheiros. O autor Jorge Ferreira reuniu amigos para uma noite de autógrafo regada a chope e quitutes. Entre eles, o secretário de Turismo de São Paulo, Cláudio Valverde.
MÃO NA MASSA
O projeto Nem Tudo Acaba em Pizza, em prol das crianças da associação Face (centro que atende portadores de anomalias faciais), realizou pizzada anteontem no restaurante Chácara Santa Cecília. No evento, o músico Kiko Zambianchi e a cantora Mel Ravasio foram garçons por uma noite.
CURTO-CIRCUITO
A revista "Granta" com os 20 melhores jovens escritores brasileiros será lançada na Livraria da Vila da rua Fradique Coutinho, às 19h.
A campanha "A Petrobras Acredita em Quem Acredita" será anunciada hoje no Brazil Sports Show.
Lídia Lisboa abre a mostra "Vila das Oyas", na Fibra Galeria, hoje, às 19h.
O portal Casa de Valentina e a designer de interiores Marília Caetano realizam encontro na Casa Cor São Paulo, hoje, às 16h30.
A festa Selvagem acontece no domingo, no Paribar. De graça, às 16h. Livre.
com LÍGIA MESQUITA (interina), ELIANE TRINDADE (colaboração), ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER e OLÍVIA FLORÊNCIA
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