ZERO HORA - 22/12
Aconteceu em 2005. Eu estava almoçando com uma amiga na cidade onde ela mora, fora do Brasil. De repente, olhei para sua mão e fiz um elogio ao anel lindíssimo que ela usava. Ato contínuo, ela retirou o anel e me deu. É seu. Fiquei superconstrangida, não era essa minha intenção, queria apenas elogiar, mas ela me convenceu a ficar com ele, dizendo que ela mesma fazia aqueles anéis e que poderia fazer outro igualzinho. De fato, fez. Acabaram virando nossas alianças: desde então nossa amizade só cresceu.
Certa vez Marilia Gabriela entrevistou Ivete Sangalo em seu programa no GNT quando aconteceu uma cena idêntica. Ela elogiou o anel da cantora e esta, na mesma hora, tirou-o do dedo e deu de presente a Gabi, que ficou envergonhada, não estava ali para ganhar presentes, mas tanto Ivete insistiu, e com tanto carinho, que recusar seria deselegância, e lá se foi o anel da morena para a mão da loira.
Diante de tanto acúmulo e posse, gestos de desprendimento são raros e transformam um dia banal em um dia especial. Não é comum alguém retirar do próprio corpo algo de que gosta e dar de presente, numa reação espontânea de afeto. Pessoas fazem isso por inúmeras razões. Por gostarem realmente da pessoa com quem estão. Pelo senso de oportunidade. Pelo prazer de surpreender. Por saberem que certas atitudes falam mais do que palavras. E por terem a exata noção de que um anel, ou qualquer outro bem material, pode ser substituído, mas um momento de extasiar um amigo é coisa que não vale perder.
Estou falando deste assunto não porque também seja assim desprendida. Já me desfiz de muita coisa, mas me desfaço com planejamento, pensando antes. De supetão, por impulso, raramente. Meu único mérito é reconhecer a grandeza alheia.
Devo estar me transformando numa sentimentaloide, mas acredito que estes pequenos instantes de delicadeza merecem um holofote, já que andamos muito rudes e autofocados. Desfazer-se dos próprios bens é uma coisa meio franciscana, mas não se pode negar que um pouco de desapego torna qualquer relação mais fácil. E não falo só de bens materiais. Desapego das mágoas, desapego da inveja, desapego das próprias verdades para ouvir atentamente a dos outros. Não estaria aí a fórmula do tal “mundo melhor” que tanto perseguimos?
Bom, o anel que minha amiga me deu seguirá no meu dedo, nem adianta vir elogiá-lo para testar se o truque funciona. Faz parte da minha história pessoal. Mas posso me desprender de outras coisas das quais gosto, basta que eu saiba que serão mais bem aproveitadas por outras pessoas.
É com esse espírito de compartilhamento que encerro esta crônica desejando a todos os leitores um Natal com muitos presentes – mas no sentido de presença. Que, junto aos seus afetos, você comemore o que lhe for mais tocante: seja o nascimento de Jesus, seja a reunião familiar, seja apenas mais uma noite festiva de dezembro, seja um momento de paz entre tanto barulho, ou simplesmente a sensação de que uma inesperada gentileza pode ser o melhor pacotinho embaixo da nossa árvore.
domingo, dezembro 22, 2013
Má educação é a nossa Cartago - TONY BELLOTTO
O GLOBO - 22/12
Torcedores rivais se enfrentaram numa batalha de fazer inveja ao mais descerebrado dos hunos
Colosso
O coliseu de Roma tem seu nome originado na expressão latina colosseum, que se referia à estátua gigantesca do imperador Nero que adornava seus entornos. O anfiteatro foi usado por quatro séculos como centro de entretenimento, e suas ruínas permanecem como símbolo fotografável do Império Romano e ponto turístico concorrido. Lá se exibiam combates de gladiadores, lutas e caçadas de animais selvagens, execuções sangrentas e até batalhas navais, quando a arena era inundada por dutos subterrâneos alimentados por aquedutos, prodígio da arquitetura etrusca assimilado pelos romanos.
Panis et circensis
A política do pão e circo foi utilizada por antigos administradores romanos com o intuito de dirimir o descontentamento do povo com seus governantes. A estratégia consistia em oferecer grandes espetáculos públicos enquanto se distribuía pão ao povaréu animado. A prática teve como consequências elevação de impostos e a subsequente derrocada da economia do Império. Vale dizer que tudo isso ocorreu dois mil anos antes da criação do Bolsa Família, do Ultimate Fighting e do Campeonato Brasileiro de Futebol.
De volta para o futuro
Há duas semanas um grupo de bárbaros brasileiros protagonizou na Arena Joinville — na aprazível cidade catarinense de altos índices de desenvolvimento humano — cenas lamentáveis de violência, embora desafortunadamente corriqueiras. Durante o jogo entre Atlético Paranaense e Vasco, torcedores rivais se enfrentaram numa batalha de fazer inveja ao mais descerebrado dos hunos, socando-se e chutando-se como se vivêssemos na Roma antiga. Injustiça: na Roma antiga o pessoal era mais civilizado. Lá os espetáculos aconteciam na arena, conduzidos por lutadores profissionais, enquanto o povo se divertia nas arquibancadas. Em Joinville, ao mesmo tempo em que jogadores profissionais se horrorizavam em campo com a barbárie, nas arquibancadas alguns representantes do cordial, alegre e pacífico povo brasileiro se incumbiam de tentar matar uns aos outros.
Breve pausa para orientação espacial
Onde está o Brasil verdadeiro? Na imagem dos boçais se agredindo em Joinville ou na da bela figura de Fernanda Lima anunciando na Bahia o sorteio das seleções da Copa do Mundo? Ambas as alternativas estão corretas? Respostas para a Redação.
Rebeldes sem causa, sem calça e sem graça
Com torcedores como esses, por que se preocupar com manifestantes?
As autoridades, a FIFA, a polícia e os brasileiros pacíficos não devem temer black blocs e outros possíveis — e prováveis — manifestantes que se insurjam violentamente contra a realização da Copa do Mundo no Brasil. Torcedores como os que se digladiaram em Joinville são manifestantes muito mais contundentes e radicais da grande desgraça brasileira e representam uma ameaça bem mais aterradora e eficiente. Ainda que se possa reduzi-los todos a farelo do mesmo sacolé, ao contrário dos black blocs os bárbaros de Joinville não usam máscaras, despreocupados com a revelação de suas identidades. Se forem presos, outros milhares surgirão, como zumbis, com a mesma determinação obstinada de destruição. Também ao contrário dos black blocs, os vândalos dos estádios — desculpe, das “arenas” — não agem motivados por nenhuma ideologia além da devoção canina a agremiações esportivas e preferem o aniquilamento sangrento de semelhantes à ingênua depredação de vidraças e placas de trânsito.
“Eis a beleza da coisa”, diria o doutor Strangelove com um sorriso, momentos antes de o mundo acabar numa grande hecatombe.
Catão
Os acontecimentos de Joinville só atestam mais uma vez que chegamos ao fundo do poço. E que o fundo do poço — surpresa! — não tem fundo. Desculpem-me os burocratas, os otimistas e os empreendedores de plantão, mas parece só haver uma solução para a barbárie brasileira: a Educação. Claro que situações como essa demandam medidas urgentes de segurança pública, infraestrutura, organização dos estádios e vergonha na cara, mas é bastante coerente que enquanto angariarmos resultados pífios em pesquisas sobre índices de educação, continuaremos a manifestar nossa violência irracional com requintes de campeões do mundo. No primeiro governo Lula uma das poucas coisas realmente animadoras foi a nomeação de Cristovam Buarque como ministro da Educação. Cristovam, assim como seu xará genovês, sabe que só se descobre um novo mundo com coragem, conhecimento de causa e determinação inabaláveis. Buarque preconizava uma revolução radical no ensino, mas caiu fora do governo tão logo os escândalos de corrupção começaram a pipocar. “Delenda est Carthago”, dizia Catão, político romano que sempre finalizava seus discursos alertando que Cartago, por ameaçar o Império Romano, devia ser aniquilada.
Torcedores rivais se enfrentaram numa batalha de fazer inveja ao mais descerebrado dos hunos
Colosso
O coliseu de Roma tem seu nome originado na expressão latina colosseum, que se referia à estátua gigantesca do imperador Nero que adornava seus entornos. O anfiteatro foi usado por quatro séculos como centro de entretenimento, e suas ruínas permanecem como símbolo fotografável do Império Romano e ponto turístico concorrido. Lá se exibiam combates de gladiadores, lutas e caçadas de animais selvagens, execuções sangrentas e até batalhas navais, quando a arena era inundada por dutos subterrâneos alimentados por aquedutos, prodígio da arquitetura etrusca assimilado pelos romanos.
Panis et circensis
A política do pão e circo foi utilizada por antigos administradores romanos com o intuito de dirimir o descontentamento do povo com seus governantes. A estratégia consistia em oferecer grandes espetáculos públicos enquanto se distribuía pão ao povaréu animado. A prática teve como consequências elevação de impostos e a subsequente derrocada da economia do Império. Vale dizer que tudo isso ocorreu dois mil anos antes da criação do Bolsa Família, do Ultimate Fighting e do Campeonato Brasileiro de Futebol.
De volta para o futuro
Há duas semanas um grupo de bárbaros brasileiros protagonizou na Arena Joinville — na aprazível cidade catarinense de altos índices de desenvolvimento humano — cenas lamentáveis de violência, embora desafortunadamente corriqueiras. Durante o jogo entre Atlético Paranaense e Vasco, torcedores rivais se enfrentaram numa batalha de fazer inveja ao mais descerebrado dos hunos, socando-se e chutando-se como se vivêssemos na Roma antiga. Injustiça: na Roma antiga o pessoal era mais civilizado. Lá os espetáculos aconteciam na arena, conduzidos por lutadores profissionais, enquanto o povo se divertia nas arquibancadas. Em Joinville, ao mesmo tempo em que jogadores profissionais se horrorizavam em campo com a barbárie, nas arquibancadas alguns representantes do cordial, alegre e pacífico povo brasileiro se incumbiam de tentar matar uns aos outros.
Breve pausa para orientação espacial
Onde está o Brasil verdadeiro? Na imagem dos boçais se agredindo em Joinville ou na da bela figura de Fernanda Lima anunciando na Bahia o sorteio das seleções da Copa do Mundo? Ambas as alternativas estão corretas? Respostas para a Redação.
Rebeldes sem causa, sem calça e sem graça
Com torcedores como esses, por que se preocupar com manifestantes?
As autoridades, a FIFA, a polícia e os brasileiros pacíficos não devem temer black blocs e outros possíveis — e prováveis — manifestantes que se insurjam violentamente contra a realização da Copa do Mundo no Brasil. Torcedores como os que se digladiaram em Joinville são manifestantes muito mais contundentes e radicais da grande desgraça brasileira e representam uma ameaça bem mais aterradora e eficiente. Ainda que se possa reduzi-los todos a farelo do mesmo sacolé, ao contrário dos black blocs os bárbaros de Joinville não usam máscaras, despreocupados com a revelação de suas identidades. Se forem presos, outros milhares surgirão, como zumbis, com a mesma determinação obstinada de destruição. Também ao contrário dos black blocs, os vândalos dos estádios — desculpe, das “arenas” — não agem motivados por nenhuma ideologia além da devoção canina a agremiações esportivas e preferem o aniquilamento sangrento de semelhantes à ingênua depredação de vidraças e placas de trânsito.
“Eis a beleza da coisa”, diria o doutor Strangelove com um sorriso, momentos antes de o mundo acabar numa grande hecatombe.
Catão
Os acontecimentos de Joinville só atestam mais uma vez que chegamos ao fundo do poço. E que o fundo do poço — surpresa! — não tem fundo. Desculpem-me os burocratas, os otimistas e os empreendedores de plantão, mas parece só haver uma solução para a barbárie brasileira: a Educação. Claro que situações como essa demandam medidas urgentes de segurança pública, infraestrutura, organização dos estádios e vergonha na cara, mas é bastante coerente que enquanto angariarmos resultados pífios em pesquisas sobre índices de educação, continuaremos a manifestar nossa violência irracional com requintes de campeões do mundo. No primeiro governo Lula uma das poucas coisas realmente animadoras foi a nomeação de Cristovam Buarque como ministro da Educação. Cristovam, assim como seu xará genovês, sabe que só se descobre um novo mundo com coragem, conhecimento de causa e determinação inabaláveis. Buarque preconizava uma revolução radical no ensino, mas caiu fora do governo tão logo os escândalos de corrupção começaram a pipocar. “Delenda est Carthago”, dizia Catão, político romano que sempre finalizava seus discursos alertando que Cartago, por ameaçar o Império Romano, devia ser aniquilada.
Confusão no domingo - FERREIRA GULLAR
FOLHA DE SP - 22/12
Cada qual tem seus hábitos e manias; se quer que o namoro dure, o melhor é viver cada um no seu canto
Eles são namorados, mas moram em casas separadas. Ele no Leme, ela em Botafogo. É que, como já não são jovens, cada qual tem seus hábitos e manias, como querer de repente ficar só, gostar de programas de televisão diferentes, enfim, se quer que o namoro dure, o melhor é viver cada um no seu canto.
Disso resulta que, em vez de marido e mulher, continuam namorados. Telefonam-se todos os dias, mas nem sempre se encontram. Quando se encontram é para passear, jantar ou ir ao cinema, em geral aos domingos e feriados.
Ele lê para ela ao telefone o nome dos filmes que estão passando, a que hora e em qual cinema, e se encontram lá. Depois vão tomar um lanche, ou vai um para a casa do outro que ninguém é de ferro. Tudo certinho, como convém aos casais que não gostam de dramas nem de arranca-rabos.
E assim foi que marcaram para ir ao cinema naquela tarde de domingo. A escolha do filme foi feita, como de hábito, e já que o cinema era mais perto da casa dela que da dele, encarregou-se ela de comprar os ingressos.
Ele almoçou na hora de sempre e ligou a televisão para a última corrida do ano da Fórmula 1, particularmente interessante porque era a despedida de Felipe Massa da equipe da Ferrari. Depois lembrou-se que não ia dar tempo de ver o fim da corrida, pois prometera chegar ao cinema uns 20 minutos antes de começar o filme.
Fez os cálculos e concluiu que, se saísse de casa às 15h15, chegaria a tempo. Por isso, às 15h, começou a trocar de roupa, e na hora prevista estava já na rua tomando um táxi que o levaria ao cinema.
Chegou um pouco antes do que previra, pois o trânsito estava fluente, mais do que de costume. Ela ainda não havia chegado, conforme deduziu depois de atravessar a sala de espera e entrar na livraria que há ali. Estranhou, mas ficou vendo os livros para fazer hora. Abriu um deles, leu alguma coisa e, depois de um tempo, foi sentar-se na única cadeira que ainda estava livre, na entrada da lanchonete. Havia gente demais, formara-se uma fila enorme para ver não sabia qual filme. Mas ela não chegava!
Consultou o relógio, já estava na hora de entrar na sala de projeção, ela nada. Isso nunca havia acontecido, ela sempre chegava antes. Foi então que se lembrou de que, ao sair do apartamento, ao entrar no elevador, ouviu um telefone tocar, poderia ser o seu? Entrou no elevador e seguiu adiante. Seria ela? Teria acontecido alguma coisa e ela tentara avisar? E pior é que ele não usa celular, só o telefone fixo de casa. Não é nada disso, pensou, ela deve estar chegando.
Mas a aflição não cedia. Viu um rapaz com um celular e pediu a ele para fazer uma ligação. Ligou para a casa dela e ninguém atendeu. Ela tem celular, mas ele não sabia o número. Aflito, foi até a porta de entrada para esperá-la. Ficou ali uns dez minutos e nada. Decidiu tomar um táxi, ir até em casa e de lá telefonar para o celular dela. Foi, ligou, ela atendeu. "Estou aqui no cinema, acabei de chegar". E ele: "Mas já passam das 16 horas, o filme já começou. Você chegou depois de ter começado? Não acredito!".
E ela: "Já vou para aí", disse e desligou. Ele ficou perplexo, mas logo tomou uma decisão: desceu, pegou um táxi e voltou para o cinema. Encontrou-a na lanchonete: "Você está maluco. Por que veio tão cedo para o cinema? O filme só começa às cinco, são quatro e meia".
"É, você tem razão. Estou ficando matusquela. Meti na cabeça que o filme começava às quatro. Como você não chegou, fui para casa e de lá te liguei". E ela: "Você estava em casa?! Pensei que estivesse na porta do cinema me esperando! Que confusão!".
Riram e decidiram entrar na sala de cinema. Sentaram-se rindo da encrenca em que se haviam metido, até que as luzes se apagaram e na tela surgiram os anúncios. Depois a projeção de um trailer que não terminava nunca e, de repente, a luz acendeu de novo, cessou a projeção. Passaram-se os minutos e nada. Até que surgiu um funcionário do cinema e anunciou que o projetor dera um defeito, a sessão estava cancelada.
Sem dúvida alguma, aquele não era um dia de sorte do casal.
Cada qual tem seus hábitos e manias; se quer que o namoro dure, o melhor é viver cada um no seu canto
Eles são namorados, mas moram em casas separadas. Ele no Leme, ela em Botafogo. É que, como já não são jovens, cada qual tem seus hábitos e manias, como querer de repente ficar só, gostar de programas de televisão diferentes, enfim, se quer que o namoro dure, o melhor é viver cada um no seu canto.
Disso resulta que, em vez de marido e mulher, continuam namorados. Telefonam-se todos os dias, mas nem sempre se encontram. Quando se encontram é para passear, jantar ou ir ao cinema, em geral aos domingos e feriados.
Ele lê para ela ao telefone o nome dos filmes que estão passando, a que hora e em qual cinema, e se encontram lá. Depois vão tomar um lanche, ou vai um para a casa do outro que ninguém é de ferro. Tudo certinho, como convém aos casais que não gostam de dramas nem de arranca-rabos.
E assim foi que marcaram para ir ao cinema naquela tarde de domingo. A escolha do filme foi feita, como de hábito, e já que o cinema era mais perto da casa dela que da dele, encarregou-se ela de comprar os ingressos.
Ele almoçou na hora de sempre e ligou a televisão para a última corrida do ano da Fórmula 1, particularmente interessante porque era a despedida de Felipe Massa da equipe da Ferrari. Depois lembrou-se que não ia dar tempo de ver o fim da corrida, pois prometera chegar ao cinema uns 20 minutos antes de começar o filme.
Fez os cálculos e concluiu que, se saísse de casa às 15h15, chegaria a tempo. Por isso, às 15h, começou a trocar de roupa, e na hora prevista estava já na rua tomando um táxi que o levaria ao cinema.
Chegou um pouco antes do que previra, pois o trânsito estava fluente, mais do que de costume. Ela ainda não havia chegado, conforme deduziu depois de atravessar a sala de espera e entrar na livraria que há ali. Estranhou, mas ficou vendo os livros para fazer hora. Abriu um deles, leu alguma coisa e, depois de um tempo, foi sentar-se na única cadeira que ainda estava livre, na entrada da lanchonete. Havia gente demais, formara-se uma fila enorme para ver não sabia qual filme. Mas ela não chegava!
Consultou o relógio, já estava na hora de entrar na sala de projeção, ela nada. Isso nunca havia acontecido, ela sempre chegava antes. Foi então que se lembrou de que, ao sair do apartamento, ao entrar no elevador, ouviu um telefone tocar, poderia ser o seu? Entrou no elevador e seguiu adiante. Seria ela? Teria acontecido alguma coisa e ela tentara avisar? E pior é que ele não usa celular, só o telefone fixo de casa. Não é nada disso, pensou, ela deve estar chegando.
Mas a aflição não cedia. Viu um rapaz com um celular e pediu a ele para fazer uma ligação. Ligou para a casa dela e ninguém atendeu. Ela tem celular, mas ele não sabia o número. Aflito, foi até a porta de entrada para esperá-la. Ficou ali uns dez minutos e nada. Decidiu tomar um táxi, ir até em casa e de lá telefonar para o celular dela. Foi, ligou, ela atendeu. "Estou aqui no cinema, acabei de chegar". E ele: "Mas já passam das 16 horas, o filme já começou. Você chegou depois de ter começado? Não acredito!".
E ela: "Já vou para aí", disse e desligou. Ele ficou perplexo, mas logo tomou uma decisão: desceu, pegou um táxi e voltou para o cinema. Encontrou-a na lanchonete: "Você está maluco. Por que veio tão cedo para o cinema? O filme só começa às cinco, são quatro e meia".
"É, você tem razão. Estou ficando matusquela. Meti na cabeça que o filme começava às quatro. Como você não chegou, fui para casa e de lá te liguei". E ela: "Você estava em casa?! Pensei que estivesse na porta do cinema me esperando! Que confusão!".
Riram e decidiram entrar na sala de cinema. Sentaram-se rindo da encrenca em que se haviam metido, até que as luzes se apagaram e na tela surgiram os anúncios. Depois a projeção de um trailer que não terminava nunca e, de repente, a luz acendeu de novo, cessou a projeção. Passaram-se os minutos e nada. Até que surgiu um funcionário do cinema e anunciou que o projetor dera um defeito, a sessão estava cancelada.
Sem dúvida alguma, aquele não era um dia de sorte do casal.
Imagina na... ah, você sabe - FÁBIO PORCHAT
O Estado de S.Paulo - 22/12
Acabei de voltar do Japão, na sexta-feira. Foi uma viagem sensacional, minha segunda vez por lá. Uma cultura completamente diferente e um país maravilhoso. Tóquio será a sede das Olimpíadas de 2020. Agora, adivinha qual é o papo que rola por lá entre os locais? O país não tem dinheiro para isso. A Olimpíada não é uma prioridade. Foi o tipo de decisão que só agradou aos governantes. Pra que fazer mais estádios? Pouca gente vai ganhar dinheiro com isso e aqueles que já tem dinheiro...
Ou seja, a população lá, tal qual a daqui, também não tá muito fã do evento. 95% da população japonesa não fala inglês e não compreende qualquer tipo de gesto explicativo. Comer num restaurante exige, no mínimo, medalha de prata no quesito mímica e onomatopeias. O povo japonês não morre de amores por estrangeiros e não se mistura de jeito nenhum. Fui expulso de dois restaurantes em Kyoto simplesmente porque eu não era japonês. A garçonete me empurrou pra fora assim que eu cruzei a porta de entrada. Mas me empurrou de verdade. Dizia: "no Japan". No Japan. Na maioria dos pontos turísticos não havia nenhum tipo de explicação em inglês ou até qualquer palavra utilizando letras reconhecíveis. E olha que eles receberam uma Copa do Mundo recentemente.
O que quero dizer com isso tudo? Que eu acho que vai dar tudo certo por aqui. Vamos superfaturar as obras (o que é um absurdo, óbvio), não falamos uma palavra de língua nenhuma, não temos o menor preparo para receber turista nenhum de outro país, mas mesmo assim, vai ser tudo um sucesso. Temos que cobrar sim, temos que protestar sim, temos que fazer barulho e ficar em cima, mas pelo que eu tô entendendo, nenhuma população de nenhum lugar do mundo acha muita graça em receber um evento dessa magnitude.
É mais caótico do que divertido. E o brasileiro adora menosprezar o Brasil. O aeroporto de Guarulhos é um lixo? É. Mas ficar uma hora esperando a bagagem chegar eu também fiquei em Paris e em Nova York. A escada rolante do aeroporto parada e em manutenção eu também encontrei em Lisboa. Pessoas esparramadas no chão dormindo pelo saguão da sala de embarque? Foi o que eu vi em Dubai. Claro que um erro não justifica o outro, mas é assim em toda cidade grande no mundo. As coisas dão errado.
Mas, em Paris, eu não vi nenhum brasileiro mandando um "imagina na Copa". É porque lá fora é primeiro mundo, né? Outro dia passando pelo detector de metais no Galeão, uma mulher, que teve que tirar o sapato porque tinha mais metal nele do que numa armadura medieval, falava em alto e bom som que só no Brasil mesmo para ela ter que passar por essa vergonha. Paisinho de merda. Eu não desejo a ela uma singela viagem pra Miami. Ela praticamente vai ter que tirar o DIU no aeroporto de lá.
A gente cisma que a gente é péssimo. Cisma que a gente é terceiro mundo. Cisma que nada aqui dá certo. E a gente até tem razão. Mas não vem pra cima de mim cismar que lá fora é que é legal que eu já te adianto que legal mesmo é onde a gente mora! Ponto.
Acabei de voltar do Japão, na sexta-feira. Foi uma viagem sensacional, minha segunda vez por lá. Uma cultura completamente diferente e um país maravilhoso. Tóquio será a sede das Olimpíadas de 2020. Agora, adivinha qual é o papo que rola por lá entre os locais? O país não tem dinheiro para isso. A Olimpíada não é uma prioridade. Foi o tipo de decisão que só agradou aos governantes. Pra que fazer mais estádios? Pouca gente vai ganhar dinheiro com isso e aqueles que já tem dinheiro...
Ou seja, a população lá, tal qual a daqui, também não tá muito fã do evento. 95% da população japonesa não fala inglês e não compreende qualquer tipo de gesto explicativo. Comer num restaurante exige, no mínimo, medalha de prata no quesito mímica e onomatopeias. O povo japonês não morre de amores por estrangeiros e não se mistura de jeito nenhum. Fui expulso de dois restaurantes em Kyoto simplesmente porque eu não era japonês. A garçonete me empurrou pra fora assim que eu cruzei a porta de entrada. Mas me empurrou de verdade. Dizia: "no Japan". No Japan. Na maioria dos pontos turísticos não havia nenhum tipo de explicação em inglês ou até qualquer palavra utilizando letras reconhecíveis. E olha que eles receberam uma Copa do Mundo recentemente.
O que quero dizer com isso tudo? Que eu acho que vai dar tudo certo por aqui. Vamos superfaturar as obras (o que é um absurdo, óbvio), não falamos uma palavra de língua nenhuma, não temos o menor preparo para receber turista nenhum de outro país, mas mesmo assim, vai ser tudo um sucesso. Temos que cobrar sim, temos que protestar sim, temos que fazer barulho e ficar em cima, mas pelo que eu tô entendendo, nenhuma população de nenhum lugar do mundo acha muita graça em receber um evento dessa magnitude.
É mais caótico do que divertido. E o brasileiro adora menosprezar o Brasil. O aeroporto de Guarulhos é um lixo? É. Mas ficar uma hora esperando a bagagem chegar eu também fiquei em Paris e em Nova York. A escada rolante do aeroporto parada e em manutenção eu também encontrei em Lisboa. Pessoas esparramadas no chão dormindo pelo saguão da sala de embarque? Foi o que eu vi em Dubai. Claro que um erro não justifica o outro, mas é assim em toda cidade grande no mundo. As coisas dão errado.
Mas, em Paris, eu não vi nenhum brasileiro mandando um "imagina na Copa". É porque lá fora é primeiro mundo, né? Outro dia passando pelo detector de metais no Galeão, uma mulher, que teve que tirar o sapato porque tinha mais metal nele do que numa armadura medieval, falava em alto e bom som que só no Brasil mesmo para ela ter que passar por essa vergonha. Paisinho de merda. Eu não desejo a ela uma singela viagem pra Miami. Ela praticamente vai ter que tirar o DIU no aeroporto de lá.
A gente cisma que a gente é péssimo. Cisma que a gente é terceiro mundo. Cisma que nada aqui dá certo. E a gente até tem razão. Mas não vem pra cima de mim cismar que lá fora é que é legal que eu já te adianto que legal mesmo é onde a gente mora! Ponto.
Remorso - CAETANO VELOSO
O GLOBO - 22/12
Uma vez, em Hamburgo, gritei desprezo pela Europa, mencionei Hitler e senti-me tomado por uma fúria brasileirista e autocentrada
Uma vez, em Hamburgo, durante uma excursão europeia, perdi o controle dos meus nervos. Pode ter sido o show do “Circuladô” ou o do “Livro”, o certo é que Jaquinho Morelenbaum estava comigo. O show tinha muitas mudanças de clima e sutis dinâmicas. Todas as apresentações por cidades da Europa vinham sendo muito bonitas, com as plateias reagindo muito bem (sobretudo na Itália, onde nos apresentamos em várias cidades, a concentração e o calor do público nos contagiando). Em Hamburgo éramos parte de um festival e nos apresentávamos numa tenda grande e bem construída. Na plateia havia muitos jovens alemães e um número considerável de brasileiros — e de alemães não tão jovens que tinham relações com o Brasil. No fundo e nas laterais do auditório bebidas eram vendidas. O grupo que se colocou no centro e mais próximo ao palco acompanhava o que fazíamos, mas era (assim como nós) permanentemente incomodado pelo barulho da falação descuidada dos cervejeiros, muitos esperando uma atração de r&b americana que entraria depois. O barulho ficava mais agressivo quando canções suaves eram executadas. Numa determinada altura, falei, entre uma música e outra, pedindo silêncio. Nem por curiosidade a respeito do que estava sendo dito as pessoas silenciavam. Talvez umas muito poucas. As vozes altas se destacavam — predominantemente em alemão — sobre a relativa quietude. Eu disse, em inglês (a língua internacional, a dos cinco olhos), que os alemães eram famosos por serem ordeiros: nós, brasileiros, não tínhamos essa reputação, mas gostávamos de música. Eu pensava no show da Praça do Canhão, em Realengo, onde, meses antes, uma multidão de perder de vista fazia um silêncio religioso para ouvir “Circuladô” ou “Itapuã”.
Depois do espetáculo — que, afinal, pôde ser apreciado com moderação pelos que estavam atentos a ele — veio conversar comigo um amigo (um ex-amigo, temo) alemão que fala português. Ele estava acompanhado de uma namorada (ou esposa) brasileira. Enquanto ele tentava me convencer, em tom carinhoso, de que não teria sido necessário reclamar do barulho (explicando de que tipo de plateia se tratava), a brasileira me olhava com cara séria e afirmava que quem estava fazendo barulho eram os brasileiros. Bem, era claramente perceptível para mim que esse não era o caso. Talvez houvesse brasileiros entre os barulhentos, mas a maioria deles compunha o centro atento que, inclusive, às vezes pedia silêncio também. O fato é que o comentário da moça me irritou desproporcionalmente — e comecei a falar alto e zangado contra sua hipótese, contra aquele evento, contra os alemães em geral. Havia cansaço dos muitos dias de viagens, desconforto de estar longe de casa, e a intolerância com o sintoma de vira-latismo da interlocutora. Fiquei exasperado. Gritei desprezo pela Europa, mencionei Hitler (coisa que entra mal em quase toda discussão), senti-me tomado por uma fúria brasileirista e autocentrada que desfez o sorriso do rapaz.
De noite, na cama do hotel, senti remorso e vergonha de minha reação. E ainda hoje, passados tantos anos, é um dos momentos de minha vida que mais me causam inquietação íntima quando estou sozinho e conversando comigo mesmo. Isso só tem feito crescer com a tendência ao barulho das plateias brasileiras. Parece que, para me ensinar amarga lição, um deus fermentou a má educação dos meus compatriotas e, do Tim Festival aos shows nos falsos canecões que se construíram pelo Brasil, passando por praças e ruas, fui vendo crescer, ano a ano, o barulho nos nossos locais de espetáculos. Curiosamente, atribuo esse triste fato a outro aspecto do mesmo vira-latismo que julguei notar na companheira do simpático alemão. Ao mesmo tempo em que sinto quão profundamente errado eu estava ali, observo que a confusão que se fez entre potência de som para estádios e “primeiro mundo” elevou o volume das caixas de som em qualquer ambiente (com espectadores brasucas reclamando de “baixo volume” em shows como o de Devendra), o que contribuiu para a gritaria desleixada. Depois de anos tendo de me submeter a isso, cantei em uma praça de Buenos Aires, só de violão, e o silêncio me emocionou. Dedico esta campanha pelo volume adequado e pela fruição atenta ao alemão de quem acho que perdi a amizade. Sempre sinto que ele e sua mulher estão presentes em cada show com brasileiros ruidosos em que canto ou a que assisto. Não esqueço a contribuição da axé music, o carnaval rock-festival de Salvador, para esse estado de coisas. O barulho na Bahia tomou conta de tudo. O Brasil ecoa. Temos de achar o caminho do autorrespeito.
Uma vez, em Hamburgo, gritei desprezo pela Europa, mencionei Hitler e senti-me tomado por uma fúria brasileirista e autocentrada
Uma vez, em Hamburgo, durante uma excursão europeia, perdi o controle dos meus nervos. Pode ter sido o show do “Circuladô” ou o do “Livro”, o certo é que Jaquinho Morelenbaum estava comigo. O show tinha muitas mudanças de clima e sutis dinâmicas. Todas as apresentações por cidades da Europa vinham sendo muito bonitas, com as plateias reagindo muito bem (sobretudo na Itália, onde nos apresentamos em várias cidades, a concentração e o calor do público nos contagiando). Em Hamburgo éramos parte de um festival e nos apresentávamos numa tenda grande e bem construída. Na plateia havia muitos jovens alemães e um número considerável de brasileiros — e de alemães não tão jovens que tinham relações com o Brasil. No fundo e nas laterais do auditório bebidas eram vendidas. O grupo que se colocou no centro e mais próximo ao palco acompanhava o que fazíamos, mas era (assim como nós) permanentemente incomodado pelo barulho da falação descuidada dos cervejeiros, muitos esperando uma atração de r&b americana que entraria depois. O barulho ficava mais agressivo quando canções suaves eram executadas. Numa determinada altura, falei, entre uma música e outra, pedindo silêncio. Nem por curiosidade a respeito do que estava sendo dito as pessoas silenciavam. Talvez umas muito poucas. As vozes altas se destacavam — predominantemente em alemão — sobre a relativa quietude. Eu disse, em inglês (a língua internacional, a dos cinco olhos), que os alemães eram famosos por serem ordeiros: nós, brasileiros, não tínhamos essa reputação, mas gostávamos de música. Eu pensava no show da Praça do Canhão, em Realengo, onde, meses antes, uma multidão de perder de vista fazia um silêncio religioso para ouvir “Circuladô” ou “Itapuã”.
Depois do espetáculo — que, afinal, pôde ser apreciado com moderação pelos que estavam atentos a ele — veio conversar comigo um amigo (um ex-amigo, temo) alemão que fala português. Ele estava acompanhado de uma namorada (ou esposa) brasileira. Enquanto ele tentava me convencer, em tom carinhoso, de que não teria sido necessário reclamar do barulho (explicando de que tipo de plateia se tratava), a brasileira me olhava com cara séria e afirmava que quem estava fazendo barulho eram os brasileiros. Bem, era claramente perceptível para mim que esse não era o caso. Talvez houvesse brasileiros entre os barulhentos, mas a maioria deles compunha o centro atento que, inclusive, às vezes pedia silêncio também. O fato é que o comentário da moça me irritou desproporcionalmente — e comecei a falar alto e zangado contra sua hipótese, contra aquele evento, contra os alemães em geral. Havia cansaço dos muitos dias de viagens, desconforto de estar longe de casa, e a intolerância com o sintoma de vira-latismo da interlocutora. Fiquei exasperado. Gritei desprezo pela Europa, mencionei Hitler (coisa que entra mal em quase toda discussão), senti-me tomado por uma fúria brasileirista e autocentrada que desfez o sorriso do rapaz.
De noite, na cama do hotel, senti remorso e vergonha de minha reação. E ainda hoje, passados tantos anos, é um dos momentos de minha vida que mais me causam inquietação íntima quando estou sozinho e conversando comigo mesmo. Isso só tem feito crescer com a tendência ao barulho das plateias brasileiras. Parece que, para me ensinar amarga lição, um deus fermentou a má educação dos meus compatriotas e, do Tim Festival aos shows nos falsos canecões que se construíram pelo Brasil, passando por praças e ruas, fui vendo crescer, ano a ano, o barulho nos nossos locais de espetáculos. Curiosamente, atribuo esse triste fato a outro aspecto do mesmo vira-latismo que julguei notar na companheira do simpático alemão. Ao mesmo tempo em que sinto quão profundamente errado eu estava ali, observo que a confusão que se fez entre potência de som para estádios e “primeiro mundo” elevou o volume das caixas de som em qualquer ambiente (com espectadores brasucas reclamando de “baixo volume” em shows como o de Devendra), o que contribuiu para a gritaria desleixada. Depois de anos tendo de me submeter a isso, cantei em uma praça de Buenos Aires, só de violão, e o silêncio me emocionou. Dedico esta campanha pelo volume adequado e pela fruição atenta ao alemão de quem acho que perdi a amizade. Sempre sinto que ele e sua mulher estão presentes em cada show com brasileiros ruidosos em que canto ou a que assisto. Não esqueço a contribuição da axé music, o carnaval rock-festival de Salvador, para esse estado de coisas. O barulho na Bahia tomou conta de tudo. O Brasil ecoa. Temos de achar o caminho do autorrespeito.
Utopias e distopias - LUIS FERNANDO VERISSIMO
O GLOBO - 22/12
O governo seria exercido por um príncipe eleito, que poderia ser substituído se mostrasse tendência à tirania, e as leis seriam tão simples que dispensariam advogados
Todas as utopias imaginadas até hoje acabaram em distopias, ou tinham na sua origem um defeito que as condenava. A primeira, que deu nome às várias fantasias de um mundo perfeito que viriam depois, foi inventada por sir Thomas Morus em 1516. Dizem que ele se inspirou nas descobertas recentes do Novo Mundo, e mais especificamente do Brasil, para descrever sua sociedade ideal, que significaria um renascimento para a humanidade, livre dos vícios do mundo antigo. Na Utopia de Morus o direito à educação e à saúde seria universal, a diversidade religiosa seria tolerada e a propriedade privada, proibida. O governo seria exercido por um príncipe eleito, que poderia ser substituído se mostrasse alguma tendência para a tirania, e as leis seriam tão simples que dispensariam a existência de advogados. Mas para que tudo isto funcionasse Morus prescrevia dois escravos para cada família, recrutados entre criminosos e prisioneiros de guerra. Além disso, o príncipe deveria sempre ser homem e as mulheres teriam menos direitos do que os homens. Morus tirou o nome da sua sociedade perfeita da palavra grega para “lugar nenhum”, o que de saída já significava que ela só poderia existir mesmo na sua imaginação.
Platão imaginou uma república idílica em que os governantes seriam filósofos, ou os filósofos governantes. Nem ele nem os outros filósofos gregos da sua época se importavam muito com o fato de viverem numa sociedade escravocrata. Em “Candide”, Voltaire colocou sua sociedade ideal, onde haveria muitas escolas mas nenhuma prisão, em El Dorado, mas “Candide” é menos uma visão de um mundo perfeito do que uma sátira da ingenuidade humana. Marx e Engels e outros pensadores previram um futuro redentor em que a emancipação da classe trabalhadora traria igualdade e justiça para todos. O sonho acabou no totalitarismo soviético e na sua demolição. Até John Lennon, na canção “Imagine”, propôs sua utopia, na qual não haveria, entre outros atrasos, violência e religião. Ele mesmo foi vítima da violência, enquanto no mundo todo e cada vez mais as pessoas se entregam a religiões e se matam por elas.
Quando surgiu e se popularizou o automóvel anunciou-se uma utopia possível. No futuro previsto os carros ofereceriam transporte rápido e lazer inédito em estradas magnetizadas para guiá-los mesmo sem motorista. Isso se os carros não voassem, ou se não houvesse um helicóptero em cada garagem. Nada disso aconteceu. Foi outra utopia que pifou. Hoje vivemos em meio à sua negação, em engarrafamentos intermináveis, em chacinas nas estradas e num caos que só aumenta, sem solução à vista. Mais uma vez, deu distopia.
O governo seria exercido por um príncipe eleito, que poderia ser substituído se mostrasse tendência à tirania, e as leis seriam tão simples que dispensariam advogados
Todas as utopias imaginadas até hoje acabaram em distopias, ou tinham na sua origem um defeito que as condenava. A primeira, que deu nome às várias fantasias de um mundo perfeito que viriam depois, foi inventada por sir Thomas Morus em 1516. Dizem que ele se inspirou nas descobertas recentes do Novo Mundo, e mais especificamente do Brasil, para descrever sua sociedade ideal, que significaria um renascimento para a humanidade, livre dos vícios do mundo antigo. Na Utopia de Morus o direito à educação e à saúde seria universal, a diversidade religiosa seria tolerada e a propriedade privada, proibida. O governo seria exercido por um príncipe eleito, que poderia ser substituído se mostrasse alguma tendência para a tirania, e as leis seriam tão simples que dispensariam a existência de advogados. Mas para que tudo isto funcionasse Morus prescrevia dois escravos para cada família, recrutados entre criminosos e prisioneiros de guerra. Além disso, o príncipe deveria sempre ser homem e as mulheres teriam menos direitos do que os homens. Morus tirou o nome da sua sociedade perfeita da palavra grega para “lugar nenhum”, o que de saída já significava que ela só poderia existir mesmo na sua imaginação.
Platão imaginou uma república idílica em que os governantes seriam filósofos, ou os filósofos governantes. Nem ele nem os outros filósofos gregos da sua época se importavam muito com o fato de viverem numa sociedade escravocrata. Em “Candide”, Voltaire colocou sua sociedade ideal, onde haveria muitas escolas mas nenhuma prisão, em El Dorado, mas “Candide” é menos uma visão de um mundo perfeito do que uma sátira da ingenuidade humana. Marx e Engels e outros pensadores previram um futuro redentor em que a emancipação da classe trabalhadora traria igualdade e justiça para todos. O sonho acabou no totalitarismo soviético e na sua demolição. Até John Lennon, na canção “Imagine”, propôs sua utopia, na qual não haveria, entre outros atrasos, violência e religião. Ele mesmo foi vítima da violência, enquanto no mundo todo e cada vez mais as pessoas se entregam a religiões e se matam por elas.
Quando surgiu e se popularizou o automóvel anunciou-se uma utopia possível. No futuro previsto os carros ofereceriam transporte rápido e lazer inédito em estradas magnetizadas para guiá-los mesmo sem motorista. Isso se os carros não voassem, ou se não houvesse um helicóptero em cada garagem. Nada disso aconteceu. Foi outra utopia que pifou. Hoje vivemos em meio à sua negação, em engarrafamentos intermináveis, em chacinas nas estradas e num caos que só aumenta, sem solução à vista. Mais uma vez, deu distopia.
Retrospectiva 2013! ESQUECI! - JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 22/12
E o melhor kit de Natal: um CD do Luan Santana mais um litro de álcool, mais uma caixa de fósforos!
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Bomba da semana: "Vanusa cantará o hino da Copa com tradução do intérprete sul-africano". Vai ser o VÍRUS DO IPIRANGA! Rarará! E o pensamento do dia: "é melhor um peru na mão do que dois na gôndola do Pão de Açúcar".
E o melhor kit de Natal: um CD do Luan Santana mais um litro de álcool, mais uma caixa de fósforos! BUM! E um tuiteiro: "Gostaria que na cela dos mensaleiros tivesse um alto-falante tocando dia e noite a música da Simone, Então é Natal'". Isso fere a Convenção de Genebra. Não tem pena de morte no Brasil! Rarará!
E sabe o que o Papai Noel de shopping pediu pro Papai Noel? Um emprego fixo! Aliás, eu tenho uma fotomontagem com o Sarney de Papai Noel de shopping com as crianças gritando e chorando. Tadinhas das crianças, vão odiar o Natal pra sempre!
E uma amiga foi transar com um Papai Noel de shopping e voltou revoltada: não encolheu a barriga e nem tirou as botas! E sabe como o Papai Noel dá risada em Brasília? HÔ HÔ HÔubamos muitos!
E o meu presente de Natal pro Fluminense: o "Vire a Mesa", da Estrela. E o meu presente de Natal pro Zé Dirceu: um par de sandálias Havaianas listradas de preto e branco. Verão na Papuda.
E o Serra e o Alckmin lançaram um novo panetone: Propinetone! Panetone fabricado com farinha de propina. Distribuído nos metrôs de São Paulo! E finalmente a Polícia Federal descobriu o dono do pó do helipóptero dos Perrella: o Pópó Noel! Rarará!
E já saiu o corno Papai Noel: aquele que vai embora, mas volta por causa das crianças! E o Papai Noel é gay: vive rodeado de viadinhos, usa as botinhas da Carla Perez, dá presente pros meninos e nos Estados Unidos é chamado de SANTA! Rarará.
E as retrospectivas? "Retrospectiva 2013! Só engordei!". "Retrospectiva 2013! ESQUECI!". É melhor esquecer mesmo. 2013 foi o ano do P: Protesto, Paulista, Propina, Papuda e Putaria!
O Brasil é Lúdico! Correu na internet um vírus: "O seu cartão foi cronado". O hacker não fez o Enem! "Cronado em Frorianóporis na estreia do Crô'!". Rarará. E na tela do "Cidade Alerta": "Presos queimam os colhões em motim". Rarará. Corta pra mim! Nóis sofre, mas nóis goza! Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
E o melhor kit de Natal: um CD do Luan Santana mais um litro de álcool, mais uma caixa de fósforos!
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Bomba da semana: "Vanusa cantará o hino da Copa com tradução do intérprete sul-africano". Vai ser o VÍRUS DO IPIRANGA! Rarará! E o pensamento do dia: "é melhor um peru na mão do que dois na gôndola do Pão de Açúcar".
E o melhor kit de Natal: um CD do Luan Santana mais um litro de álcool, mais uma caixa de fósforos! BUM! E um tuiteiro: "Gostaria que na cela dos mensaleiros tivesse um alto-falante tocando dia e noite a música da Simone, Então é Natal'". Isso fere a Convenção de Genebra. Não tem pena de morte no Brasil! Rarará!
E sabe o que o Papai Noel de shopping pediu pro Papai Noel? Um emprego fixo! Aliás, eu tenho uma fotomontagem com o Sarney de Papai Noel de shopping com as crianças gritando e chorando. Tadinhas das crianças, vão odiar o Natal pra sempre!
E uma amiga foi transar com um Papai Noel de shopping e voltou revoltada: não encolheu a barriga e nem tirou as botas! E sabe como o Papai Noel dá risada em Brasília? HÔ HÔ HÔubamos muitos!
E o meu presente de Natal pro Fluminense: o "Vire a Mesa", da Estrela. E o meu presente de Natal pro Zé Dirceu: um par de sandálias Havaianas listradas de preto e branco. Verão na Papuda.
E o Serra e o Alckmin lançaram um novo panetone: Propinetone! Panetone fabricado com farinha de propina. Distribuído nos metrôs de São Paulo! E finalmente a Polícia Federal descobriu o dono do pó do helipóptero dos Perrella: o Pópó Noel! Rarará!
E já saiu o corno Papai Noel: aquele que vai embora, mas volta por causa das crianças! E o Papai Noel é gay: vive rodeado de viadinhos, usa as botinhas da Carla Perez, dá presente pros meninos e nos Estados Unidos é chamado de SANTA! Rarará.
E as retrospectivas? "Retrospectiva 2013! Só engordei!". "Retrospectiva 2013! ESQUECI!". É melhor esquecer mesmo. 2013 foi o ano do P: Protesto, Paulista, Propina, Papuda e Putaria!
O Brasil é Lúdico! Correu na internet um vírus: "O seu cartão foi cronado". O hacker não fez o Enem! "Cronado em Frorianóporis na estreia do Crô'!". Rarará. E na tela do "Cidade Alerta": "Presos queimam os colhões em motim". Rarará. Corta pra mim! Nóis sofre, mas nóis goza! Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
Leitor e amigo - JOÃO UBALDO RIBEIRO
O GLOBO - 22/12
—Eu vejo você aqui no boteco todo fim de semana, há não sei quantos anos, de forma que acho que posso dizer que hoje somos amigos. Mais do que leitor, eu me sinto seu amigo, sinto que conheço você. Apenas nunca tivemos a chance de conversar.
— Foi por acaso, porque todo mundo aqui conversa comigo.
— E eu gostaria de conversar também, mas fico meio acanhado de abordar certos assuntos e não me fazer entender bem.
— Que nada, pode falar sobre o que você quiser. Prefiro que não seja sobre o Vasco, mas, de resto, tudo bem.
— É que talvez você possa colaborar num projeto de interesse geral. Você botaria o meu nome no jornal? Já não digo como personagem, mas numa citação. Você às vezes faz isso. “Meu amigo Fulano disse isso ou aquilo”, você escreve isso de vez em quando. O que eu queria é simples: é você citar meu nome no jornal, não precisa elogiar, basta citar, você sabe fazer essas coisas muito bem. Volta e meia, assim como quem não quer nada, você me cita.
— Mas o que é que eu vou dizer?
— Esta é a segunda parte, é a parte do aposto. A parte do aposto é a seguinte: você bota um aposto depois de meu nome. Pode ser “o Feliz”, mas, se você preferir outro adjetivo, tudo bem.
— Você quer ser conhecido como o Feliz?
— É, qualquer coisa assim. Eu quero projetar uma imagem de felicidade e realização, quero ser um símbolo para os homens de minha geração.
— E você acha que vai conseguir tudo isto, se eu botar seu nome no jornal?
— Não, somente com isso, não, isso é a parte inicial, a parte da construção de minha imagem. Eu venho pensando nisso a mil por hora, as coisas acontecem vertiginosamente. Todos os problemas humanos são sexuais e eu estou resolvendo cada um deles. Eu criei um aplicativo sem precedentes, revolucionário. Só falta acabar uns detalhezinhos, mas vai ser um grande passo na história sexual da humanidade, ou seja, na história da humanidade em geral, pois o problema sempre foi conseguir comer as mulheres e, depois de conseguir, comer corretamente. Este objetivo raramente é alcançado, daí a alarmante taxa de insatisfação, reclamação e rebeldia entre as mulheres, que agora ameaçam banir os homens de seus leitos amorosos e até mesmo dispensar a colaboração masculina para se reproduzir! Zangões! É isso o que seremos, zangões! Os machos que nascerem serão sacrificados em rituais onde seus pintinhos e ovinhos serão salteados e servidos a elas como tira-gostos, com exceção de alguns poucos, que vão ser castrados para compor corais de vozes juvenis, e mais dois ou três no zoológico e nas aulas de arqueologia!
— Rapaz, talvez você tenha ido um pouco fundo demais no chope, não foi, não?
— Fundo ao chope eu fui, mas não vou dirigir e, sobretudo, estou suficientemente sóbrio para perceber que você não parece nem um pouco interessado em colaborar com uma iniciativa de relevância pública, como esta. E eu só estou lhe pedindo para botar meu nome no jornal, com o aposto. Do resto cuido eu, de todo o resto.
— Sim, eu imaginava que devia haver alguma coisa, além de botar seu nome no jornal.
— Claro. Eu já lhe falei que criei um aplicativo. Ainda não botei nome, mas não vai ser nenhuma dessas frescuras em inglês, acho que vai ser “Aperparado” mesmo, é uma homenagem a minhas origens nordestinas. É completo. Por exemplo, você sabe que, hoje em dia, o homem não precisa mais ficar sobressaltado com o fantasma da brochada fora de hora, por ter calculado mal o tempo da tomada do antibrochante. Nada disso, ele toma sua dosezinha todo santo dia, está sempre preparado, é o novíssimo tratamento. E o aplicativo lembra a ele a hora de tomar a pílula, com uma cornetadazinha de hastear bandeira muito discreta. O aplicativo lembra a ele todos os cuidados que tem que ter e tudo o que tem que fazer, em relação a cada contato, aparência pessoal, remédios, piadas, comentários sobre os últimos filmes, tudo, tudo. Com esse aplicativo, o usuário pode mudar de comportamento sexual de acordo com o perfil de cada parceira: se é no claro ou no escuro, se é com trilha sonora de gemido ou palavrão, se é com todas as armas e assim por diante, nunca mais uma mancada ou passo em falso. Vai ser criado o homem perfeito, vai estar ao alcance de cada um ser o homem perfeito, o verdadeiro homo erectus.
— Não acredito nisso, há muita coisa que o aplicativo não pode fazer.
— Mas é claro! É para isso que eu bolei o sexpa, o spa do sexo. Meu objetivo é fundar uma franquia e ter sexpas em todas as grandes cidades, logo nos primeiros anos. O sexpa é destinado a promover a felicidade sexual, oferecendo cursos e estágios de acordo com as diferentes necessidades e características dos clientes, tudo no maior profissionalismo e eu acho até que pode ser abatido no imposto de renda, como despesa com educação e saúde. Entendeu por que eu preciso que você bote meu nome no jornal? É meu pontapé inicial.
— Eu não posso fazer isso, é um empreendimento comercial.
— Ih, senti a fera, é isso mesmo, hoje em dia somente otário é que não aproveita, tem que cobrar mesmo, business is business. Tudo bem, você continua a promoção e leva um percentual da receita, depois a gente acerta os detalhes. E ainda arrumo para você um mês de sexpa grátis por ano. Quando é que você acha que vai poder botar meu nome no jornal?
—Eu vejo você aqui no boteco todo fim de semana, há não sei quantos anos, de forma que acho que posso dizer que hoje somos amigos. Mais do que leitor, eu me sinto seu amigo, sinto que conheço você. Apenas nunca tivemos a chance de conversar.
— Foi por acaso, porque todo mundo aqui conversa comigo.
— E eu gostaria de conversar também, mas fico meio acanhado de abordar certos assuntos e não me fazer entender bem.
— Que nada, pode falar sobre o que você quiser. Prefiro que não seja sobre o Vasco, mas, de resto, tudo bem.
— É que talvez você possa colaborar num projeto de interesse geral. Você botaria o meu nome no jornal? Já não digo como personagem, mas numa citação. Você às vezes faz isso. “Meu amigo Fulano disse isso ou aquilo”, você escreve isso de vez em quando. O que eu queria é simples: é você citar meu nome no jornal, não precisa elogiar, basta citar, você sabe fazer essas coisas muito bem. Volta e meia, assim como quem não quer nada, você me cita.
— Mas o que é que eu vou dizer?
— Esta é a segunda parte, é a parte do aposto. A parte do aposto é a seguinte: você bota um aposto depois de meu nome. Pode ser “o Feliz”, mas, se você preferir outro adjetivo, tudo bem.
— Você quer ser conhecido como o Feliz?
— É, qualquer coisa assim. Eu quero projetar uma imagem de felicidade e realização, quero ser um símbolo para os homens de minha geração.
— E você acha que vai conseguir tudo isto, se eu botar seu nome no jornal?
— Não, somente com isso, não, isso é a parte inicial, a parte da construção de minha imagem. Eu venho pensando nisso a mil por hora, as coisas acontecem vertiginosamente. Todos os problemas humanos são sexuais e eu estou resolvendo cada um deles. Eu criei um aplicativo sem precedentes, revolucionário. Só falta acabar uns detalhezinhos, mas vai ser um grande passo na história sexual da humanidade, ou seja, na história da humanidade em geral, pois o problema sempre foi conseguir comer as mulheres e, depois de conseguir, comer corretamente. Este objetivo raramente é alcançado, daí a alarmante taxa de insatisfação, reclamação e rebeldia entre as mulheres, que agora ameaçam banir os homens de seus leitos amorosos e até mesmo dispensar a colaboração masculina para se reproduzir! Zangões! É isso o que seremos, zangões! Os machos que nascerem serão sacrificados em rituais onde seus pintinhos e ovinhos serão salteados e servidos a elas como tira-gostos, com exceção de alguns poucos, que vão ser castrados para compor corais de vozes juvenis, e mais dois ou três no zoológico e nas aulas de arqueologia!
— Rapaz, talvez você tenha ido um pouco fundo demais no chope, não foi, não?
— Fundo ao chope eu fui, mas não vou dirigir e, sobretudo, estou suficientemente sóbrio para perceber que você não parece nem um pouco interessado em colaborar com uma iniciativa de relevância pública, como esta. E eu só estou lhe pedindo para botar meu nome no jornal, com o aposto. Do resto cuido eu, de todo o resto.
— Sim, eu imaginava que devia haver alguma coisa, além de botar seu nome no jornal.
— Claro. Eu já lhe falei que criei um aplicativo. Ainda não botei nome, mas não vai ser nenhuma dessas frescuras em inglês, acho que vai ser “Aperparado” mesmo, é uma homenagem a minhas origens nordestinas. É completo. Por exemplo, você sabe que, hoje em dia, o homem não precisa mais ficar sobressaltado com o fantasma da brochada fora de hora, por ter calculado mal o tempo da tomada do antibrochante. Nada disso, ele toma sua dosezinha todo santo dia, está sempre preparado, é o novíssimo tratamento. E o aplicativo lembra a ele a hora de tomar a pílula, com uma cornetadazinha de hastear bandeira muito discreta. O aplicativo lembra a ele todos os cuidados que tem que ter e tudo o que tem que fazer, em relação a cada contato, aparência pessoal, remédios, piadas, comentários sobre os últimos filmes, tudo, tudo. Com esse aplicativo, o usuário pode mudar de comportamento sexual de acordo com o perfil de cada parceira: se é no claro ou no escuro, se é com trilha sonora de gemido ou palavrão, se é com todas as armas e assim por diante, nunca mais uma mancada ou passo em falso. Vai ser criado o homem perfeito, vai estar ao alcance de cada um ser o homem perfeito, o verdadeiro homo erectus.
— Não acredito nisso, há muita coisa que o aplicativo não pode fazer.
— Mas é claro! É para isso que eu bolei o sexpa, o spa do sexo. Meu objetivo é fundar uma franquia e ter sexpas em todas as grandes cidades, logo nos primeiros anos. O sexpa é destinado a promover a felicidade sexual, oferecendo cursos e estágios de acordo com as diferentes necessidades e características dos clientes, tudo no maior profissionalismo e eu acho até que pode ser abatido no imposto de renda, como despesa com educação e saúde. Entendeu por que eu preciso que você bote meu nome no jornal? É meu pontapé inicial.
— Eu não posso fazer isso, é um empreendimento comercial.
— Ih, senti a fera, é isso mesmo, hoje em dia somente otário é que não aproveita, tem que cobrar mesmo, business is business. Tudo bem, você continua a promoção e leva um percentual da receita, depois a gente acerta os detalhes. E ainda arrumo para você um mês de sexpa grátis por ano. Quando é que você acha que vai poder botar meu nome no jornal?
ELA BATE UM BOLÃO - MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 22/12
A apresentadora Fernanda Lima diz que já sofreu preconceito "por ser loira" e que a sexualidade do brasileiro, na prática, é mixa
Eram 11h30 da manhã da última terça-feira. No apartamento de Fernanda Lima, 36, e Rodrigo Hilbert, 33, no Rio de Janeiro, predominava o cheiro do almoço dos gêmeos João e Francisco, 5.
É que a cozinha é integrada à sala. São 110 m², sem suíte. A grande vantagem é a localização: avenida Delfim Moreira, de frente para o mar, no Leblon, bairro com fama de ter o metro quadrado mais caro do Brasil (R$ 21.900).
Com uma camiseta em que se lia a inscrição "animais são amigos", Hilbert, que apresenta um programa gastronômico no GNT, preparava a "boia". Por opção, o casal decidiu não contar com os serviços de babá. Há uma diarista "faz-tudo", e só.
O espírito da decoração da sala, onde recebem amigos como Gloria Maria e Leo Jaime, segue a linha do luxo despojado. Há um jogo das célebres poltronas moles do designer brasileiro Sergio Rodrigues. Um quadro de Dudi Maia Rosa, outro de Felipe Cama. Não há tapetes. Na bancada abaixo do janelão, um órgão, um skate e meia dúzia de esteiras de ioga. Na mesa ao lado do sofá, estatuetas de Buda e de Ganesha (divindade hindu) e vela aromática.
Então a porta da rua se abre e entra Fernanda Lima com os dois meninos. Veste tênis, jeans justo e camisa. Já havia ido ao supermercado. Depois das compras, levou as crianças para cortar cabelo --os três na mesma bicicleta.
Ela sorri e pede ao repórter Morris Kachani um tempo para se maquiar. E avisa: "Não suporto ser fofinha. Tenho um humor superácido". Será? Minutos depois, é chegada a hora de comer. "Me-ri-to-cra-cia", diz ela a João e Francisco, enquanto os acomoda na bancada da cozinha. "Meritocracia", repetem. "Para comer chiclete...", pergunta a mãe. "Vai ter que almoçar!", completam os filhos.
É o último dia de aula dos meninos. Na quarta-feira, partiriam todos para uma temporada de férias no Havaí. Tempo para meditar sobre as grandes transformações ocorridas em 2013, ano em que Fernanda "bombou" como nunca. Mas que também registrou a morte de Gisela Matta, 36, que coproduzia "Amor & Sexo", apresentado por Fernanda, e foi atropelada por um ônibus quando saía de bicicleta do apartamento do casal, depois do almoço de Páscoa.
A atração está em sua sétima temporada na Globo. Registrou média de audiência de 16 pontos neste ano, com 46% de participação nos domicílios. Há duas semanas, contudo, a ex-modelo se projetou internacionalmente. Foi chamada de "deusa", "musa" e "anjo" por conta da apresentação no sorteio das chaves da Copa, na Costa do Sauipe, na Bahia. Usava sapatos Louboutin e tubinho Hervé Leger com decote generoso. Brilhava ao lado do marido.
Fernanda se diz surpresa com a repercussão. "O Rodrigo foi tão bem quanto eu, não entendo", afirma, referindo-se ao fato de só ela ter recebido elogios. "Um dia depois do sorteio, passei três horas chorando na cama. Uma tristeza por estar longe dos meninos. Enquanto o mundo me exaltava, eu tinha que estar bem para gravar o programa [Amor & Sexo'] na TV."
Quanto à polêmica sobre racismo desencadeada pela informação de que a Fifa teria trocado Camila Pitanga e Lázaro Ramos por ela e Hilbert como apresentadores, Fernanda diz: "Eu tinha sido chamada há seis meses. O que sei é que a Globo apresentou um casting para a Fifa, que nos escolheu. Já havíamos feito a escolha do emblema do Brasil na África do Sul, em 2010".
"Quem me conhece sabe como sou. Prefiro deixar passar, o tempo fala por si. Tenho um monte de amigos e afilhados negros", afirma.
"Mas é óbvio que há preconceito de cor no Brasil", segue. "Aliás, eu também já fui vítima de preconceito. Por ser modelo, por ser loira." Segundo ela, o teste do sofá (em que diretores poderosos seduzem meninas jovens que aspiram a um trabalho) não é mito --acontece mesmo. "Sempre vi tudo isso. E sempre preferi o caminho mais longo."
A conversa se move para "Amor & Sexo", que fala sobre os dois temas em horário nobre na TV. "É difícil escrever esse programa, porque nele as pessoas não podem se ofender, é uma atração para a família."
Para ela, a sexualidade do brasileiro, na prática, é "mixa". "A liberdade do corpo, a dança, o funk, afloram nossa sensualidade. Mas isso é aparência. Na cama, em si, é diferente. O sentir profundo está muito precário."
"A descoberta do prazer da mulher é muito recente. Ela está à vontade e até avaliando os homens, mas pode descobrir muito mais coisas." Quanto ao homem, "ele diz que pega, que puxa o cabelo, que come todas --tudo no blá-blá-blá, a gente sabe da performance do vizinho".
E como seria o amor e o sexo na vida de Fernanda? "Graças a Deus consegui conciliar as duas coisas", ela diz. "Mas claro que já fiz muitas loucuras." De que tipo? "Dentro de um parâmetro normal. Vamos dizer, mais quantitativo e menos qualitativo. Do tipo experimentar sexo na primeira noite", responde. "Não sou tão moderna quanto pareço. Sou bastante conservadora em alguns sentidos." Diz que jamais assistiu a filmes pornográficos. "Nunca me serviram de combustível."
Na adolescência, ela se achava feia. Hoje se considera bonita "pelo conjunto da obra". Paqueras acontecem "com certa frequência". "Mais do convencional, aquela cantada de obra'. Quando é com educação e inteligência, a gente fica envaidecida."
Ela afirma que nunca usou drogas e não bebe. "Não gosto de sair do controle."
Com idas e vindas, Fernanda e Rodrigo começaram a namorar em 2002. "Temos uma história bonita." Em um período de crise, ela se envolveu com Ricardo Waddington, que hoje dirige seu programa. "Transformamos esse amor em uma relação de amizade e parceria", diz. Waddington se derrete: "Ela será certamente uma das principais comunicadoras da Globo nos próximos anos".
Profissionalmente, o ano de 2014 começa para Fernanda no dia 13 de janeiro, quando apresentará o Bola de Ouro da Fifa, evento que elegerá o melhor jogador de 2013, na Suíça. Planeja também abrir uma filial, no shopping Iguatemi, do restaurante Maní, do qual é sócia em SP.
Os planos da Globo ainda são incertos. Uma nova temporada de "Amor & Sexo", um outro programa vespertino e a participação na programação da Copa estão no horizonte. Nada mal para a ex-modelo gaúcha que, há sete anos, foi achincalhada como protagonista de "Bang Bang", novela das sete que patinou na emissora carioca, também dirigida por Waddington.
"[O homem] Diz que pega, que puxa o cabelo, que come todas --tudo no blá-blá-blá"
"Claro que já fiz muitas loucuras. Do tipo experimentar sexo na primeira noite"
"[Filmes pornô] Nunca me serviram de combustível"
A apresentadora Fernanda Lima diz que já sofreu preconceito "por ser loira" e que a sexualidade do brasileiro, na prática, é mixa
Eram 11h30 da manhã da última terça-feira. No apartamento de Fernanda Lima, 36, e Rodrigo Hilbert, 33, no Rio de Janeiro, predominava o cheiro do almoço dos gêmeos João e Francisco, 5.
É que a cozinha é integrada à sala. São 110 m², sem suíte. A grande vantagem é a localização: avenida Delfim Moreira, de frente para o mar, no Leblon, bairro com fama de ter o metro quadrado mais caro do Brasil (R$ 21.900).
Com uma camiseta em que se lia a inscrição "animais são amigos", Hilbert, que apresenta um programa gastronômico no GNT, preparava a "boia". Por opção, o casal decidiu não contar com os serviços de babá. Há uma diarista "faz-tudo", e só.
O espírito da decoração da sala, onde recebem amigos como Gloria Maria e Leo Jaime, segue a linha do luxo despojado. Há um jogo das célebres poltronas moles do designer brasileiro Sergio Rodrigues. Um quadro de Dudi Maia Rosa, outro de Felipe Cama. Não há tapetes. Na bancada abaixo do janelão, um órgão, um skate e meia dúzia de esteiras de ioga. Na mesa ao lado do sofá, estatuetas de Buda e de Ganesha (divindade hindu) e vela aromática.
Então a porta da rua se abre e entra Fernanda Lima com os dois meninos. Veste tênis, jeans justo e camisa. Já havia ido ao supermercado. Depois das compras, levou as crianças para cortar cabelo --os três na mesma bicicleta.
Ela sorri e pede ao repórter Morris Kachani um tempo para se maquiar. E avisa: "Não suporto ser fofinha. Tenho um humor superácido". Será? Minutos depois, é chegada a hora de comer. "Me-ri-to-cra-cia", diz ela a João e Francisco, enquanto os acomoda na bancada da cozinha. "Meritocracia", repetem. "Para comer chiclete...", pergunta a mãe. "Vai ter que almoçar!", completam os filhos.
É o último dia de aula dos meninos. Na quarta-feira, partiriam todos para uma temporada de férias no Havaí. Tempo para meditar sobre as grandes transformações ocorridas em 2013, ano em que Fernanda "bombou" como nunca. Mas que também registrou a morte de Gisela Matta, 36, que coproduzia "Amor & Sexo", apresentado por Fernanda, e foi atropelada por um ônibus quando saía de bicicleta do apartamento do casal, depois do almoço de Páscoa.
A atração está em sua sétima temporada na Globo. Registrou média de audiência de 16 pontos neste ano, com 46% de participação nos domicílios. Há duas semanas, contudo, a ex-modelo se projetou internacionalmente. Foi chamada de "deusa", "musa" e "anjo" por conta da apresentação no sorteio das chaves da Copa, na Costa do Sauipe, na Bahia. Usava sapatos Louboutin e tubinho Hervé Leger com decote generoso. Brilhava ao lado do marido.
Fernanda se diz surpresa com a repercussão. "O Rodrigo foi tão bem quanto eu, não entendo", afirma, referindo-se ao fato de só ela ter recebido elogios. "Um dia depois do sorteio, passei três horas chorando na cama. Uma tristeza por estar longe dos meninos. Enquanto o mundo me exaltava, eu tinha que estar bem para gravar o programa [Amor & Sexo'] na TV."
Quanto à polêmica sobre racismo desencadeada pela informação de que a Fifa teria trocado Camila Pitanga e Lázaro Ramos por ela e Hilbert como apresentadores, Fernanda diz: "Eu tinha sido chamada há seis meses. O que sei é que a Globo apresentou um casting para a Fifa, que nos escolheu. Já havíamos feito a escolha do emblema do Brasil na África do Sul, em 2010".
"Quem me conhece sabe como sou. Prefiro deixar passar, o tempo fala por si. Tenho um monte de amigos e afilhados negros", afirma.
"Mas é óbvio que há preconceito de cor no Brasil", segue. "Aliás, eu também já fui vítima de preconceito. Por ser modelo, por ser loira." Segundo ela, o teste do sofá (em que diretores poderosos seduzem meninas jovens que aspiram a um trabalho) não é mito --acontece mesmo. "Sempre vi tudo isso. E sempre preferi o caminho mais longo."
A conversa se move para "Amor & Sexo", que fala sobre os dois temas em horário nobre na TV. "É difícil escrever esse programa, porque nele as pessoas não podem se ofender, é uma atração para a família."
Para ela, a sexualidade do brasileiro, na prática, é "mixa". "A liberdade do corpo, a dança, o funk, afloram nossa sensualidade. Mas isso é aparência. Na cama, em si, é diferente. O sentir profundo está muito precário."
"A descoberta do prazer da mulher é muito recente. Ela está à vontade e até avaliando os homens, mas pode descobrir muito mais coisas." Quanto ao homem, "ele diz que pega, que puxa o cabelo, que come todas --tudo no blá-blá-blá, a gente sabe da performance do vizinho".
E como seria o amor e o sexo na vida de Fernanda? "Graças a Deus consegui conciliar as duas coisas", ela diz. "Mas claro que já fiz muitas loucuras." De que tipo? "Dentro de um parâmetro normal. Vamos dizer, mais quantitativo e menos qualitativo. Do tipo experimentar sexo na primeira noite", responde. "Não sou tão moderna quanto pareço. Sou bastante conservadora em alguns sentidos." Diz que jamais assistiu a filmes pornográficos. "Nunca me serviram de combustível."
Na adolescência, ela se achava feia. Hoje se considera bonita "pelo conjunto da obra". Paqueras acontecem "com certa frequência". "Mais do convencional, aquela cantada de obra'. Quando é com educação e inteligência, a gente fica envaidecida."
Ela afirma que nunca usou drogas e não bebe. "Não gosto de sair do controle."
Com idas e vindas, Fernanda e Rodrigo começaram a namorar em 2002. "Temos uma história bonita." Em um período de crise, ela se envolveu com Ricardo Waddington, que hoje dirige seu programa. "Transformamos esse amor em uma relação de amizade e parceria", diz. Waddington se derrete: "Ela será certamente uma das principais comunicadoras da Globo nos próximos anos".
Profissionalmente, o ano de 2014 começa para Fernanda no dia 13 de janeiro, quando apresentará o Bola de Ouro da Fifa, evento que elegerá o melhor jogador de 2013, na Suíça. Planeja também abrir uma filial, no shopping Iguatemi, do restaurante Maní, do qual é sócia em SP.
Os planos da Globo ainda são incertos. Uma nova temporada de "Amor & Sexo", um outro programa vespertino e a participação na programação da Copa estão no horizonte. Nada mal para a ex-modelo gaúcha que, há sete anos, foi achincalhada como protagonista de "Bang Bang", novela das sete que patinou na emissora carioca, também dirigida por Waddington.
"[O homem] Diz que pega, que puxa o cabelo, que come todas --tudo no blá-blá-blá"
"Claro que já fiz muitas loucuras. Do tipo experimentar sexo na primeira noite"
"[Filmes pornô] Nunca me serviram de combustível"
Passadas as festas - LUIS FERNANDO VERISSIMO
O ESTADÃO - 22/12
No Brasil, os anos se dividem em dias, semanas, meses, trimestres e semestres, mas também em dois períodos distintos chamados Passadas as festas e Depois do Carnaval. Como o ano brasileiro tradicionalmente só começa depois do Carnaval, isso significa que o período Passadas as festas, quando tudo que ficou em suspenso durante o Natal e o Ano Novo deveria ser retomado, na verdade fica esperando o Carnaval ou o Depois do Carnaval para recomeçar.
Há quem diga que o Passadas as festas é um período tão abrangente que engloba o Carnaval, a Páscoa, etc. e se estende por todo o ano, o que explicaria o fato do Brasil estar sempre adiando o que precisa ser feito. O Passadas as festas de um ano engata no Passadas as festas do ano seguinte e acaba sendo o nome do ano inteiro.
– Será que a reforma política sai este ano?
– Sai. Passadas as festas nos dedicaremos a... Espera um pouquinho. Passadas as festas não vem o Carnaval?
– Vem. E depois vem a Copa do Mundo.
– Ai, ai, ai. Acho que ainda não vai ser este ano.
Outra fragmentação do tempo muito popular no Brasil é o minutinho. Estranhamente, o minutinho não é um minuto que passa mais ligeiro do que os outros. Ao contrário: como o seu sinônimo “dois segundinhos”, passa mais lentamente. Em geral “um minutinho” não quer dizer um minuto pequeno. Dependendo da entonação, quer dizer “tenha paciência” ou “não me irrite”. Como em:
– Senhorita, eu estou esperando há meia hora...
– Um minutinho.
– Não posso esperar mais.
– Um minutinho, por favor.
– Quando é que vão me atender?
– Em dois segundinhos.
– Não! Dois segundinhos, não!
Passadas as festas teremos mais tempo, mais disposição, talvez até melhor caráter. As próprias festas vão nos regenerar, seremos outros depois das festas. O Natal trará à tona os nossos melhores sentimentos. Danem-se as evidências, a humanidade tem jeito sim. O homem é bom. A mulher é melhor ainda. O sarrabulho do peru nem se fala. O Papai Noel pode ser falso, mas a emoção é verdadeira. E no Ano Novo? Nos abraçaremos como se só estar vivo já fosse motivo para a comemoração. Ainda não morremos, oba!
E estaremos cheios de planos. Este ano vou largar o cigarro, a bebida, o hábito de limpar os ouvidos com uma tampa de Bic e todos os meu preconceitos. Lerei mais, irei mais ao cinema, carregarei velhinhas para o outro lado da rua mesmo que elas não queiram – tudo isso passadas as festas. O próprio país melhorará, passadas as festas. Faremos todas as reformas necessárias. Acabaremos com a miséria e a corrução. Seremos...
Espera um pouquinho. Acho que isso foi o que eu escrevi no ano passado.
No Brasil, os anos se dividem em dias, semanas, meses, trimestres e semestres, mas também em dois períodos distintos chamados Passadas as festas e Depois do Carnaval. Como o ano brasileiro tradicionalmente só começa depois do Carnaval, isso significa que o período Passadas as festas, quando tudo que ficou em suspenso durante o Natal e o Ano Novo deveria ser retomado, na verdade fica esperando o Carnaval ou o Depois do Carnaval para recomeçar.
Há quem diga que o Passadas as festas é um período tão abrangente que engloba o Carnaval, a Páscoa, etc. e se estende por todo o ano, o que explicaria o fato do Brasil estar sempre adiando o que precisa ser feito. O Passadas as festas de um ano engata no Passadas as festas do ano seguinte e acaba sendo o nome do ano inteiro.
– Será que a reforma política sai este ano?
– Sai. Passadas as festas nos dedicaremos a... Espera um pouquinho. Passadas as festas não vem o Carnaval?
– Vem. E depois vem a Copa do Mundo.
– Ai, ai, ai. Acho que ainda não vai ser este ano.
Outra fragmentação do tempo muito popular no Brasil é o minutinho. Estranhamente, o minutinho não é um minuto que passa mais ligeiro do que os outros. Ao contrário: como o seu sinônimo “dois segundinhos”, passa mais lentamente. Em geral “um minutinho” não quer dizer um minuto pequeno. Dependendo da entonação, quer dizer “tenha paciência” ou “não me irrite”. Como em:
– Senhorita, eu estou esperando há meia hora...
– Um minutinho.
– Não posso esperar mais.
– Um minutinho, por favor.
– Quando é que vão me atender?
– Em dois segundinhos.
– Não! Dois segundinhos, não!
Passadas as festas teremos mais tempo, mais disposição, talvez até melhor caráter. As próprias festas vão nos regenerar, seremos outros depois das festas. O Natal trará à tona os nossos melhores sentimentos. Danem-se as evidências, a humanidade tem jeito sim. O homem é bom. A mulher é melhor ainda. O sarrabulho do peru nem se fala. O Papai Noel pode ser falso, mas a emoção é verdadeira. E no Ano Novo? Nos abraçaremos como se só estar vivo já fosse motivo para a comemoração. Ainda não morremos, oba!
E estaremos cheios de planos. Este ano vou largar o cigarro, a bebida, o hábito de limpar os ouvidos com uma tampa de Bic e todos os meu preconceitos. Lerei mais, irei mais ao cinema, carregarei velhinhas para o outro lado da rua mesmo que elas não queiram – tudo isso passadas as festas. O próprio país melhorará, passadas as festas. Faremos todas as reformas necessárias. Acabaremos com a miséria e a corrução. Seremos...
Espera um pouquinho. Acho que isso foi o que eu escrevi no ano passado.
Retrato na parede - TOSTÃO
FOLHA DE SP - 22/12
Progressivamente, as grandes equipes do mundo estão abandonando o clássico meia de ligação
Lugano, zagueiro do Uruguai, disse que Cavani e Suárez formam a melhor dupla de ataque do mundo, entre as seleções. A da Argentina é superior a todas, com Messi e Agüero, além de formar um trio, com o ótimo Higuaín. Se Fred jogar no Mundial como fez na Copa das Confederações, ele e Neymar serão melhores que Cavani e Suárez, por causa de Neymar.
Alemanha e Espanha não possuem uma ótima dupla na frente, nem mesmo um grande atacante. A Espanha está mais animada com as boas atuações de Negredo, no Manchester City, e de Diego Costa, no Atlético de Madrid.
É preciso diferenciar o sistema tático com dois volantes e três meias que se aproximam do centroavante, sem uma dupla na frente, do com dois volantes, um meia de cada lado e dois atacantes. Na seleção brasileira, Neymar se movimenta tanto e é tão espetacular, que, em uma mesma partida, faz, naturalmente, as funções de um ponta pela esquerda e de um atacante pelo centro, formando dupla com Fred. E na movimentação independe das ordens de Felipão.
No Barcelona, a divisão de funções é mais evidente, com Neymar pela esquerda e Messi pelo centro. Quando o argentino não joga, Neymar ocupa seu lugar. Ainda falta a Neymar, quando joga ao lado de Messi, saber o momento exato de ser um ponta e o de se deslocar para o meio, como faz na seleção.
Nas equipes que atuam com uma dupla de atacantes e com um meia de cada lado, falta o armador pelo centro. Por isso, é frequente que um dos atacantes, ou os dois, alternadamente, recue para armar as jogadas. Outras vezes, é um dos volantes que avança como um meia. Repito, os jogadores se movimentam tanto que não faz mais sentido analisar a maneira de jogar de uma equipe pelo sistema tático. Há vários em um mesmo jogo.
Bayern e Barcelona atuam com um volante e dois meias, que marcam e atacam. Em vez de quatro, são cinco que chegam à frente (dois meias, dois pontas e um centroavante). Um dos conceitos de Guardiola é o de escalar, na posição de um único volante, o armador que tem o melhor passe, e não o que marca mais. Juventus e Itália fazem o mesmo com Pirlo. É o retorno dos antigos centromédios dos anos 1950.
Progressivamente, as grandes equipes do mundo estão abandonando o clássico meia de ligação, como Ronaldinho, Ganso e outros, que jogam em um pequeno espaço, não participam da marcação e esperam a bola no pé, para dar um passe magistral e decisivo. Brevemente, este tipo de meia se tornará um retrato na parede. Oscar, que ocupa essa posição, na seleção e no Chelsea, está em todos os lugares, marca e faz gols.
Mas se o Brasil não for campeão do mundo, por inúmeros fatores, com certeza, dirão que faltou o clássico meia, o camisa 10. As explicações, os lugares comuns, costumam estar prontos antes dos fatos.
Progressivamente, as grandes equipes do mundo estão abandonando o clássico meia de ligação
Lugano, zagueiro do Uruguai, disse que Cavani e Suárez formam a melhor dupla de ataque do mundo, entre as seleções. A da Argentina é superior a todas, com Messi e Agüero, além de formar um trio, com o ótimo Higuaín. Se Fred jogar no Mundial como fez na Copa das Confederações, ele e Neymar serão melhores que Cavani e Suárez, por causa de Neymar.
Alemanha e Espanha não possuem uma ótima dupla na frente, nem mesmo um grande atacante. A Espanha está mais animada com as boas atuações de Negredo, no Manchester City, e de Diego Costa, no Atlético de Madrid.
É preciso diferenciar o sistema tático com dois volantes e três meias que se aproximam do centroavante, sem uma dupla na frente, do com dois volantes, um meia de cada lado e dois atacantes. Na seleção brasileira, Neymar se movimenta tanto e é tão espetacular, que, em uma mesma partida, faz, naturalmente, as funções de um ponta pela esquerda e de um atacante pelo centro, formando dupla com Fred. E na movimentação independe das ordens de Felipão.
No Barcelona, a divisão de funções é mais evidente, com Neymar pela esquerda e Messi pelo centro. Quando o argentino não joga, Neymar ocupa seu lugar. Ainda falta a Neymar, quando joga ao lado de Messi, saber o momento exato de ser um ponta e o de se deslocar para o meio, como faz na seleção.
Nas equipes que atuam com uma dupla de atacantes e com um meia de cada lado, falta o armador pelo centro. Por isso, é frequente que um dos atacantes, ou os dois, alternadamente, recue para armar as jogadas. Outras vezes, é um dos volantes que avança como um meia. Repito, os jogadores se movimentam tanto que não faz mais sentido analisar a maneira de jogar de uma equipe pelo sistema tático. Há vários em um mesmo jogo.
Bayern e Barcelona atuam com um volante e dois meias, que marcam e atacam. Em vez de quatro, são cinco que chegam à frente (dois meias, dois pontas e um centroavante). Um dos conceitos de Guardiola é o de escalar, na posição de um único volante, o armador que tem o melhor passe, e não o que marca mais. Juventus e Itália fazem o mesmo com Pirlo. É o retorno dos antigos centromédios dos anos 1950.
Progressivamente, as grandes equipes do mundo estão abandonando o clássico meia de ligação, como Ronaldinho, Ganso e outros, que jogam em um pequeno espaço, não participam da marcação e esperam a bola no pé, para dar um passe magistral e decisivo. Brevemente, este tipo de meia se tornará um retrato na parede. Oscar, que ocupa essa posição, na seleção e no Chelsea, está em todos os lugares, marca e faz gols.
Mas se o Brasil não for campeão do mundo, por inúmeros fatores, com certeza, dirão que faltou o clássico meia, o camisa 10. As explicações, os lugares comuns, costumam estar prontos antes dos fatos.
A chapa Eduardo/Marina - ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 22/12
O candidato do PSB, Eduardo Campos, espera convencer Marina Silva a ser sua vice. Ele quer fechar a chapa em janeiro. As suas intenções de voto dobram com a presença dela na chapa. A Federação das Indústrias de Brasília tem pesquisa, na qual, diante dessa informação, Eduardo empata com Aécio Neves. Os tucanos estão apreensivos e os petistas, com os olhos bem abertos.
A sorte está lançada
A oposição aposta na volta dos protestos na Copa e no desgaste da presidente Dilma, como em junho. O custo de sua realização e o preço dos ingressos seriam o combustível. O governo acredita que o fenômeno não se repetirá. A população estaria com medo de voltar às ruas depois que o movimento foi apropriado pela violência dos radicais. E mais interessada no futebol e no desempenho do Brasil. Ninguém sabe o que vai acontecer. Mas a população está dividida sobre a validade de novos protestos na Copa. A “Gazeta do Povo” (PR) publicou pesquisa nacional do Instituto Paraná Pesquisas na qual 47,6% apoiariam essas manifestações e 47,2%, não.
“Não há como virar a página, porque é um fato relevante (o mensalão) que nossos adversários vão explorar. O PT vai ter que conviver com isso”
Ricardo Berzoini
Deputado federal (PT-SP) e ex-presidente do partido
O plano de voo de Lula
A manutenção da aliança PT/PMDB no Rio é o objetivo do ex-presidente Lula. Para segurar o PT no governo Sérgio Cabral (RJ), ele defendeu junto aos petistas que, até março, o próprio aliado vai se convencer que a candidatura Pezão é inviável.
O especialista
O vice Michel Temer convidou semana passada o presidente da Fundação Ulysses Guimarães, deputado Eliseu Padilha (RS), para integrar a coordenação da campanha à reeleição da presidente Dilma. Em 1998, Padilha foi um dos coordenadores, ao lado de Eduardo Jorge, da campanha à reeleição do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Bola fora
Desfeito o mistério. Na Esplanada dos Ministérios o comentário é que o gelo entre o ministro do STF José Dias Toffoli e a presidente Dilma é porque ela estaria preterindo suas indicações e sugestões para vagas no STJ e tribunais federais.
Aposentados querem mais
O presidente do Solidariedade, deputado Paulo Pereira da Silva (SP), está marcando conversas do tucano Aécio Neves com sindicalistas. A primeira delas será com os aposentados, dia 18 de janeiro. “Ele vai se comprometer com garantia de aumento real de salário", garante Paulinho. Na
fila, reunião com José Rainha, do MST da Base.
Na lista de espera
Apesar de ministro, Moreira Franco (Aviação Civil) não tem a mesma relação com a presidente Dilma que Gustavo do Vale (Infraero). É com este que Dilma trata do setor. Vale era um dos poucos assessores do 2º escalão na recepção no Alvorada
Espelho, espelho meu
No café da manhã com jornalistas, a presidente Dilma pediu para a repórter Luciana Lima: “Me imita agora!”. Dilma gostou, riu muito e partiu para o abraço. Dizem que o humorista Gustavo Mendes, imitador oficial, ficou no chinelo.
A BANCADA DO PMDB no Senado vai aumentar. Depois de longo processo, é uma questão de dias o ex-governador Marcelo Miranda (TO) assumir.
O candidato do PSB, Eduardo Campos, espera convencer Marina Silva a ser sua vice. Ele quer fechar a chapa em janeiro. As suas intenções de voto dobram com a presença dela na chapa. A Federação das Indústrias de Brasília tem pesquisa, na qual, diante dessa informação, Eduardo empata com Aécio Neves. Os tucanos estão apreensivos e os petistas, com os olhos bem abertos.
A sorte está lançada
A oposição aposta na volta dos protestos na Copa e no desgaste da presidente Dilma, como em junho. O custo de sua realização e o preço dos ingressos seriam o combustível. O governo acredita que o fenômeno não se repetirá. A população estaria com medo de voltar às ruas depois que o movimento foi apropriado pela violência dos radicais. E mais interessada no futebol e no desempenho do Brasil. Ninguém sabe o que vai acontecer. Mas a população está dividida sobre a validade de novos protestos na Copa. A “Gazeta do Povo” (PR) publicou pesquisa nacional do Instituto Paraná Pesquisas na qual 47,6% apoiariam essas manifestações e 47,2%, não.
“Não há como virar a página, porque é um fato relevante (o mensalão) que nossos adversários vão explorar. O PT vai ter que conviver com isso”
Ricardo Berzoini
Deputado federal (PT-SP) e ex-presidente do partido
O plano de voo de Lula
A manutenção da aliança PT/PMDB no Rio é o objetivo do ex-presidente Lula. Para segurar o PT no governo Sérgio Cabral (RJ), ele defendeu junto aos petistas que, até março, o próprio aliado vai se convencer que a candidatura Pezão é inviável.
O especialista
O vice Michel Temer convidou semana passada o presidente da Fundação Ulysses Guimarães, deputado Eliseu Padilha (RS), para integrar a coordenação da campanha à reeleição da presidente Dilma. Em 1998, Padilha foi um dos coordenadores, ao lado de Eduardo Jorge, da campanha à reeleição do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Bola fora
Desfeito o mistério. Na Esplanada dos Ministérios o comentário é que o gelo entre o ministro do STF José Dias Toffoli e a presidente Dilma é porque ela estaria preterindo suas indicações e sugestões para vagas no STJ e tribunais federais.
Aposentados querem mais
O presidente do Solidariedade, deputado Paulo Pereira da Silva (SP), está marcando conversas do tucano Aécio Neves com sindicalistas. A primeira delas será com os aposentados, dia 18 de janeiro. “Ele vai se comprometer com garantia de aumento real de salário", garante Paulinho. Na
fila, reunião com José Rainha, do MST da Base.
Na lista de espera
Apesar de ministro, Moreira Franco (Aviação Civil) não tem a mesma relação com a presidente Dilma que Gustavo do Vale (Infraero). É com este que Dilma trata do setor. Vale era um dos poucos assessores do 2º escalão na recepção no Alvorada
Espelho, espelho meu
No café da manhã com jornalistas, a presidente Dilma pediu para a repórter Luciana Lima: “Me imita agora!”. Dilma gostou, riu muito e partiu para o abraço. Dizem que o humorista Gustavo Mendes, imitador oficial, ficou no chinelo.
A BANCADA DO PMDB no Senado vai aumentar. Depois de longo processo, é uma questão de dias o ex-governador Marcelo Miranda (TO) assumir.
Feliz Natal - VERA MAGALHÃES - PAINEL
FOLHA DE SP - 22/12
Dilma Rousseff fará seu último pronunciamento em rede nacional de rádio e TV amanhã à noite. A presidente fará balanço otimista de 2013, apesar de terminar o ano com aprovação (41%) bem abaixo do pico de março (65%). Vai ressaltar o recorde da menor taxa de desemprego e os cinco pactos propostos após os protestos de junho. Segundo auxiliares, orientada por pesquisas qualitativas, a petista irá falar do Mais Médicos, o programa mais popular criado em seu governo.
Pé... Tucanos que acompanharam a novela atribuem a Andrea Neves, irmã de Aécio Neves, a decisão final de romper a parceria do presidenciável tucano com o marqueteiro Renato Pereira.
... do ouvido Aliados de Aécio dizem que Andrea, que cuida da imagem do senador mineiro e coordena as questões de comunicação de suas campanhas, reclamou em várias ocasiões da tentativa de Pereira de "impor sua visão" sobre a pré-campanha.
Próspero... Chamou a atenção da cúpula petista artigo do ex-governador Paulo Hartung (PMDB-ES) com críticas ao governo federal e previsões pessimistas para o desempenho da economia nacional em 2014.
... Ano Novo? O ex-presidente Lula e o vice-presidente, Michel Temer, tentam convencer Hartung a ser candidato ao governo capixaba, com apoio do PT, contra Renato Casagrande (PSB). O tom das críticas indica que ele não vai topar entrar na bola dividida com o aliado.
Trinca O PT procura alguém para ser responsável pela criação de TV da propaganda de Alexandre Padilha na campanha. Essa pessoa, que deverá passar pelo crivo de João Santana, dividirá o comando da comunicação com os jornalistas Eduardo Oinegue e Valdemir Garreta.
Habitué Colaboradores garantem que Geraldo Alckmin (PSDB) ainda não escolheu Nelson Biondi como seu marqueteiro. Mas, entre segunda e sexta-feira, o publicitário esteve três vezes no Palácio dos Bandeirantes.
Às claras Biondi, que tem contrato com o PSDB, mas nenhum vínculo formal com o governo, circula com desenvoltura pelo palácio.
Poço Em conversa recente com um governista, a presidente da Petrobras, Graça Foster, se queixou dos ruídos na definição da política de preços dos combustíveis.
Cotação Graça demonstrou insatisfação com o desfecho do episódio e confessou que teme que haja nova onda de rebaixamento da classificação de risco da empresa nos próximos meses.
Dois em um Às vésperas da reforma ministerial, a cúpula do PMDB diz que indicar Vital do Rêgo (PB) para a Integração Nacional atenderá às duas bancadas do Congresso. A mãe do senador, Nilda Gondim, é deputada federal. "Melhor e mais econômico", diz um cacique.
Clima... Durante confraternização no Palácio da Alvorada, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), reclamou com Ideli Salvatti, diante de testemunhas, que a ministra garante a deputados a liberação de emendas, mas não avisa os titulares das pastas.
... quente Irritados com o ruído, parlamentares se queixam ao líder do partido, e atribuem a culpa aos ministros, que não têm recursos do Orçamento para fazer a liberação. A estratégia é chamada por parlamentares de "cheque sem fundo''.
Que tal? Em tentativa de aproximação com o PR, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, indicou recentemente a dirigentes do partido que abrirá espaço para a sigla em seu governo na reforma do secretariado que deve fazer no início do ano.
Hoje, não A legenda se reuniu e decidiu que não quer cargos por enquanto, mas aceita reabrir o debate a partir de fevereiro. O objetivo é incluir na negociação a aliança para a eleição estadual.
com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN
tiroteio
"Lula quer morar no Recife porque o IPTU e a passagem de ônibus dos governos do PSB são mais baratos que os de Haddad, do PT."
DO LÍDER DO PSB NA CÂMARA, BETO ALBUQUERQUE (RS), sobre o ex-presidente dizer que vai se "mudar" para Pernambuco para enfrentar Eduardo Campos.
contraponto
Apertem os cintos
Fernando Collor (PTB-AL) contou aos colegas da Comissão de Infraestrutura do Senado, no dia 12, sobre a viagem que fez à África do Sul com Dilma Rousseff e outros ex-presidentes. Collor revelou que um dos assuntos do avião presidencial foi a proibição de doações eleitorais por empresas, mas evitou dar detalhes sobre a conversa.
--Estivemos 23 horas voando, conversando sobre assuntos os mais variados. Naturalmente, assuntos que, por mim, ninguém jamais ficará sabendo! --disse Collor, rindo.
Dilma Rousseff fará seu último pronunciamento em rede nacional de rádio e TV amanhã à noite. A presidente fará balanço otimista de 2013, apesar de terminar o ano com aprovação (41%) bem abaixo do pico de março (65%). Vai ressaltar o recorde da menor taxa de desemprego e os cinco pactos propostos após os protestos de junho. Segundo auxiliares, orientada por pesquisas qualitativas, a petista irá falar do Mais Médicos, o programa mais popular criado em seu governo.
Pé... Tucanos que acompanharam a novela atribuem a Andrea Neves, irmã de Aécio Neves, a decisão final de romper a parceria do presidenciável tucano com o marqueteiro Renato Pereira.
... do ouvido Aliados de Aécio dizem que Andrea, que cuida da imagem do senador mineiro e coordena as questões de comunicação de suas campanhas, reclamou em várias ocasiões da tentativa de Pereira de "impor sua visão" sobre a pré-campanha.
Próspero... Chamou a atenção da cúpula petista artigo do ex-governador Paulo Hartung (PMDB-ES) com críticas ao governo federal e previsões pessimistas para o desempenho da economia nacional em 2014.
... Ano Novo? O ex-presidente Lula e o vice-presidente, Michel Temer, tentam convencer Hartung a ser candidato ao governo capixaba, com apoio do PT, contra Renato Casagrande (PSB). O tom das críticas indica que ele não vai topar entrar na bola dividida com o aliado.
Trinca O PT procura alguém para ser responsável pela criação de TV da propaganda de Alexandre Padilha na campanha. Essa pessoa, que deverá passar pelo crivo de João Santana, dividirá o comando da comunicação com os jornalistas Eduardo Oinegue e Valdemir Garreta.
Habitué Colaboradores garantem que Geraldo Alckmin (PSDB) ainda não escolheu Nelson Biondi como seu marqueteiro. Mas, entre segunda e sexta-feira, o publicitário esteve três vezes no Palácio dos Bandeirantes.
Às claras Biondi, que tem contrato com o PSDB, mas nenhum vínculo formal com o governo, circula com desenvoltura pelo palácio.
Poço Em conversa recente com um governista, a presidente da Petrobras, Graça Foster, se queixou dos ruídos na definição da política de preços dos combustíveis.
Cotação Graça demonstrou insatisfação com o desfecho do episódio e confessou que teme que haja nova onda de rebaixamento da classificação de risco da empresa nos próximos meses.
Dois em um Às vésperas da reforma ministerial, a cúpula do PMDB diz que indicar Vital do Rêgo (PB) para a Integração Nacional atenderá às duas bancadas do Congresso. A mãe do senador, Nilda Gondim, é deputada federal. "Melhor e mais econômico", diz um cacique.
Clima... Durante confraternização no Palácio da Alvorada, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), reclamou com Ideli Salvatti, diante de testemunhas, que a ministra garante a deputados a liberação de emendas, mas não avisa os titulares das pastas.
... quente Irritados com o ruído, parlamentares se queixam ao líder do partido, e atribuem a culpa aos ministros, que não têm recursos do Orçamento para fazer a liberação. A estratégia é chamada por parlamentares de "cheque sem fundo''.
Que tal? Em tentativa de aproximação com o PR, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, indicou recentemente a dirigentes do partido que abrirá espaço para a sigla em seu governo na reforma do secretariado que deve fazer no início do ano.
Hoje, não A legenda se reuniu e decidiu que não quer cargos por enquanto, mas aceita reabrir o debate a partir de fevereiro. O objetivo é incluir na negociação a aliança para a eleição estadual.
com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN
tiroteio
"Lula quer morar no Recife porque o IPTU e a passagem de ônibus dos governos do PSB são mais baratos que os de Haddad, do PT."
DO LÍDER DO PSB NA CÂMARA, BETO ALBUQUERQUE (RS), sobre o ex-presidente dizer que vai se "mudar" para Pernambuco para enfrentar Eduardo Campos.
contraponto
Apertem os cintos
Fernando Collor (PTB-AL) contou aos colegas da Comissão de Infraestrutura do Senado, no dia 12, sobre a viagem que fez à África do Sul com Dilma Rousseff e outros ex-presidentes. Collor revelou que um dos assuntos do avião presidencial foi a proibição de doações eleitorais por empresas, mas evitou dar detalhes sobre a conversa.
--Estivemos 23 horas voando, conversando sobre assuntos os mais variados. Naturalmente, assuntos que, por mim, ninguém jamais ficará sabendo! --disse Collor, rindo.
E Cardozo diz não - DENISE ROTHENBURG
CORREIO BRAZILIENSE - 22/12
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, recebeu oito deputados do PT para tratar da Proposta de Emenda Constitucional nº 15, um texto em análise na Câmara que transfere para o Congresso a prerrogativa de decidir sobre a demarcação de terras indígenas. O encontro foi cercado de sigilo porque os parlamentares saíram de lá com a missão de fazer tudo o que estiver ao alcance deles para evitar que a PEC 15 seja aprovada. Em tempo: na Casa, prevalece o argumento de que, se um município, para ser emancipado, precisa de autorização legislativa estadual, o mesmo deve ocorrer, no plano nacional, com as reservas indígenas.
A comissão especial que analisará essa proposta foi instalada no finzinho do semestre legislativo, depois de muita pressão por parte da expressiva da bancada ruralista. Com a firme decisão do governo de enterrar o projeto, pode começar por aí o grande êxodo do setor agropecuário da campanha pela reeleição da presidente Dilma Rousseff.
Ele não
Embora os cearenses citem Ciro Gomes como futuro ministro da Saúde, o PT encontrou um meio de convencer a presidente Dilma Rousseff a não entregar o cargo ao representante do Pros. Ciro, na opinião dos petistas e até dos peemedebistas, seria “indemissível” — uma vez fora do governo, viraria adversário no minuto seguinte. E ninguém nomeia alguém que não possa demitir.
Ele sim
O fato de o governador Cid Gomes ter sido um dos precursores do projeto Educação na Idade Certa em Sobral (CE) faz dele uma aposta para o MEC no lugar de Aloizio Mercadante. Por enquanto, não passa disso, uma vez que o PT não aceita abrir nenhuma de suas vagas aos aliados.
Assiduidade
Dos 513 deputados federais, apenas seis compareceram às 311 sessões deliberativas que a Câmara teve desde o início da legislatura, em fevereiro de 2011. São eles: Alexandre Leite (DEM-SP), Lincoln Portela (PR-MG), Manato (SDD-ES), Pedro Chaves (PMDB-GO), Reguffe (PDT-DF), e Tiririca (PR-SP). Nas comissões, Reguffe reinou absoluto. Foi único a ter 100% de presença nos colegiados que faz parte.
Convers@ de Domingo
No site www.correiobraziliense.com.br, o deputado Paulo Teixeira (PT-SP) defende o fim do financiamento das empresas às campanhas eleitorais. “O STF não está interferindo nas atribuições do Congresso ao analisar esse tema”, diz ele.
Santinho!/ A presidente Dilma Rousseff ficou brava quando soube que seu discretíssimo chefe de Gabinete, Giles Carriconde (foto), seguindo a praxis normal de anos anteriores, tinha convidado o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, para o coquetel de fim de ano no Alvorada. O problema era o mal-estar que se criaria com o Partido dos Trabalhadores, que não engole a postura de Barbosa em relação ao mensalão.
Docinho!/ Para abrandar o constrangimento do PT por conta da presença de Joaquim Barbosa no coquetel, a saída foi convidar todos os integrantes da Suprema Corte. A presença maciça terminou por ajudar Dilma perante o eleitorado. Ela saiu da quase crise petista com ares de quem está acima de todas essas rusgas partidárias. E assim, o limão do convite a Barbosa virou uma limonada docinha, docinha…
Rio via Paris?!/ Os parlamentares estão assustados com os preços das passagens aéreas neste fim de ano. Quem teve algum imprevisto e precisou mudar a passagem encontrou valores em torno de R$ 3 mil para voar direto de Brasília até o Rio de Janeiro, na próxima sexta-feira. Daqui a pouco, se algum resolver ir ao Rio, via Paris ou Miami, por essas datas poderá dizer que escolheu o trecho por ser mais econômico.
Pegou/ O “vamos conversar?” com que Dilma Rousseff abordou a senadora Ana Amélia Lemos (PP-RS), na semana passada no Senado, deixou os tucanos meio bicudos. Alguns acham que a presidente usou de propósito o bordão que o senador Aécio Neves fez ecoar nos programas de rádio e tevê do PSDB.
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, recebeu oito deputados do PT para tratar da Proposta de Emenda Constitucional nº 15, um texto em análise na Câmara que transfere para o Congresso a prerrogativa de decidir sobre a demarcação de terras indígenas. O encontro foi cercado de sigilo porque os parlamentares saíram de lá com a missão de fazer tudo o que estiver ao alcance deles para evitar que a PEC 15 seja aprovada. Em tempo: na Casa, prevalece o argumento de que, se um município, para ser emancipado, precisa de autorização legislativa estadual, o mesmo deve ocorrer, no plano nacional, com as reservas indígenas.
A comissão especial que analisará essa proposta foi instalada no finzinho do semestre legislativo, depois de muita pressão por parte da expressiva da bancada ruralista. Com a firme decisão do governo de enterrar o projeto, pode começar por aí o grande êxodo do setor agropecuário da campanha pela reeleição da presidente Dilma Rousseff.
Ele não
Embora os cearenses citem Ciro Gomes como futuro ministro da Saúde, o PT encontrou um meio de convencer a presidente Dilma Rousseff a não entregar o cargo ao representante do Pros. Ciro, na opinião dos petistas e até dos peemedebistas, seria “indemissível” — uma vez fora do governo, viraria adversário no minuto seguinte. E ninguém nomeia alguém que não possa demitir.
Ele sim
O fato de o governador Cid Gomes ter sido um dos precursores do projeto Educação na Idade Certa em Sobral (CE) faz dele uma aposta para o MEC no lugar de Aloizio Mercadante. Por enquanto, não passa disso, uma vez que o PT não aceita abrir nenhuma de suas vagas aos aliados.
Assiduidade
Dos 513 deputados federais, apenas seis compareceram às 311 sessões deliberativas que a Câmara teve desde o início da legislatura, em fevereiro de 2011. São eles: Alexandre Leite (DEM-SP), Lincoln Portela (PR-MG), Manato (SDD-ES), Pedro Chaves (PMDB-GO), Reguffe (PDT-DF), e Tiririca (PR-SP). Nas comissões, Reguffe reinou absoluto. Foi único a ter 100% de presença nos colegiados que faz parte.
Convers@ de Domingo
No site www.correiobraziliense.com.br, o deputado Paulo Teixeira (PT-SP) defende o fim do financiamento das empresas às campanhas eleitorais. “O STF não está interferindo nas atribuições do Congresso ao analisar esse tema”, diz ele.
Santinho!/ A presidente Dilma Rousseff ficou brava quando soube que seu discretíssimo chefe de Gabinete, Giles Carriconde (foto), seguindo a praxis normal de anos anteriores, tinha convidado o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, para o coquetel de fim de ano no Alvorada. O problema era o mal-estar que se criaria com o Partido dos Trabalhadores, que não engole a postura de Barbosa em relação ao mensalão.
Docinho!/ Para abrandar o constrangimento do PT por conta da presença de Joaquim Barbosa no coquetel, a saída foi convidar todos os integrantes da Suprema Corte. A presença maciça terminou por ajudar Dilma perante o eleitorado. Ela saiu da quase crise petista com ares de quem está acima de todas essas rusgas partidárias. E assim, o limão do convite a Barbosa virou uma limonada docinha, docinha…
Rio via Paris?!/ Os parlamentares estão assustados com os preços das passagens aéreas neste fim de ano. Quem teve algum imprevisto e precisou mudar a passagem encontrou valores em torno de R$ 3 mil para voar direto de Brasília até o Rio de Janeiro, na próxima sexta-feira. Daqui a pouco, se algum resolver ir ao Rio, via Paris ou Miami, por essas datas poderá dizer que escolheu o trecho por ser mais econômico.
Pegou/ O “vamos conversar?” com que Dilma Rousseff abordou a senadora Ana Amélia Lemos (PP-RS), na semana passada no Senado, deixou os tucanos meio bicudos. Alguns acham que a presidente usou de propósito o bordão que o senador Aécio Neves fez ecoar nos programas de rádio e tevê do PSDB.
MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO
FOLHA DE SP - 22/12
Rede de lojas de móveis planeja entrar na Bolsa
O grupo paranaense MM, de lojas de móveis e eletrodomésticos, planeja abrir seu capital após 2018.
Até lá, deverá investir R$ 145 milhões em seu projeto de expansão e vender 30% da empresa para um fundo de investimentos.
"A ideia é levantar capital para financiar a ampliação da rede e chegar a 2018 com um faturamento anual de R$ 2 bilhões, que seria um valor favorável para a entrada na Bolsa", diz Marcio Pauliki, sócio da companhia.
Neste ano, a receita do grupo alcançará R$ 720 milhões, o que representará uma alta de 20% em relação a 2012.
"Precisamos manter esse ritmo de crescimento para alcançarmos nossa meta em 2018", afirma Pauliki.
A empresa já contratou uma consultoria e um escritório de direito de São Paulo para prepararem a venda e o IPO (oferta inicial de ações, na sigla em inglês).
O aporte de R$ 145 milhões será destinado à abertura de 118 unidades e dois centros de distribuição --um em Cascavel (PR) e outro em Dourados (MS).
Hoje, são 190 lojas, um centro logístico em obras em Piçarras (SC) e um em operação em Ponta Grossa (PR), cidade-sede do MM.
Nos próximos dois anos, a companhia pretende se consolidar no Paraná e em Santa Catarina, com 40 novos pontos comerciais em cada um dos Estados.
Em Mato Grosso do Sul, onde o grupo começou a atuar neste ano, o número de lojas passará de quatro para 24.
Após 2015, a rede entrará em Mato Grosso e se expandirá pelo interior de São Paulo, onde tem apenas uma filial --na cidade de Itararé, na divisa com o Paraná.
"O planejamento estratégico prevê mais dez pontos de venda nessa região fronteiriça", acrescenta.
A companhia emprega hoje cerca de 3.000 pessoas.
GRELHADO NO PRATO
A rede de restaurantes Griletto planeja inaugurar cerca de 50 unidades em 2014, sobretudo no Nordeste. Os investimentos são estimados em R$ 30 milhões.
O avanço tem sido favorecido pela abertura de shoppings, diz o sócio-fundador, Ricardo José Alves.
"Já estamos com 35 contratos assinados para 2014. A meta é chegar ao fim do próximo ano perto de 200 lojas em funcionamento." Hoje, são 148 pontos.
Sobre 2014, o empresário diz que há um certo receio com o período da Copa, em especial em capitais.
"O temor é que protestos possam impactar o funcionamento de shoppings."
No interior, ele vê uma situação contrária. "É comum que os centros de compras coloquem telões em suas praças durante os jogos. Isso aumenta o fluxo e nos beneficia", afirma.
COM QUE MIMO
O que dá para encontrar de "mais em conta" nas grifes estreladas
Berloque Corações MyCollection de ouro rosé 18K, da H.Stern;
R$ 215
Calçado de Valentino;
R$ 1.560
Chaveiro, da Prada;
R$ 620 cada um
Carteira Love International, da Cartier;
R$ 1.710
Pulseira em prata, da Tiffany & Co;
R$ 655
Marca-página da coleção J'aime Paris, da Christofle;
R$ 150
Porta-charutos, da francesa Goyard;
R$ 790
Fones de ouvido, da Diane von Furstenberg;
R$ 210
Óculos de sol da italiana Versace;
R$ 620
Vela em metal dourado, da Armani Casa;
R$ 260, a menor
Capinha para iPhone, da Fendi;
R$ 600
Rede de lojas de móveis planeja entrar na Bolsa
O grupo paranaense MM, de lojas de móveis e eletrodomésticos, planeja abrir seu capital após 2018.
Até lá, deverá investir R$ 145 milhões em seu projeto de expansão e vender 30% da empresa para um fundo de investimentos.
"A ideia é levantar capital para financiar a ampliação da rede e chegar a 2018 com um faturamento anual de R$ 2 bilhões, que seria um valor favorável para a entrada na Bolsa", diz Marcio Pauliki, sócio da companhia.
Neste ano, a receita do grupo alcançará R$ 720 milhões, o que representará uma alta de 20% em relação a 2012.
"Precisamos manter esse ritmo de crescimento para alcançarmos nossa meta em 2018", afirma Pauliki.
A empresa já contratou uma consultoria e um escritório de direito de São Paulo para prepararem a venda e o IPO (oferta inicial de ações, na sigla em inglês).
O aporte de R$ 145 milhões será destinado à abertura de 118 unidades e dois centros de distribuição --um em Cascavel (PR) e outro em Dourados (MS).
Hoje, são 190 lojas, um centro logístico em obras em Piçarras (SC) e um em operação em Ponta Grossa (PR), cidade-sede do MM.
Nos próximos dois anos, a companhia pretende se consolidar no Paraná e em Santa Catarina, com 40 novos pontos comerciais em cada um dos Estados.
Em Mato Grosso do Sul, onde o grupo começou a atuar neste ano, o número de lojas passará de quatro para 24.
Após 2015, a rede entrará em Mato Grosso e se expandirá pelo interior de São Paulo, onde tem apenas uma filial --na cidade de Itararé, na divisa com o Paraná.
"O planejamento estratégico prevê mais dez pontos de venda nessa região fronteiriça", acrescenta.
A companhia emprega hoje cerca de 3.000 pessoas.
GRELHADO NO PRATO
A rede de restaurantes Griletto planeja inaugurar cerca de 50 unidades em 2014, sobretudo no Nordeste. Os investimentos são estimados em R$ 30 milhões.
O avanço tem sido favorecido pela abertura de shoppings, diz o sócio-fundador, Ricardo José Alves.
"Já estamos com 35 contratos assinados para 2014. A meta é chegar ao fim do próximo ano perto de 200 lojas em funcionamento." Hoje, são 148 pontos.
Sobre 2014, o empresário diz que há um certo receio com o período da Copa, em especial em capitais.
"O temor é que protestos possam impactar o funcionamento de shoppings."
No interior, ele vê uma situação contrária. "É comum que os centros de compras coloquem telões em suas praças durante os jogos. Isso aumenta o fluxo e nos beneficia", afirma.
COM QUE MIMO
O que dá para encontrar de "mais em conta" nas grifes estreladas
Berloque Corações MyCollection de ouro rosé 18K, da H.Stern;
R$ 215
Calçado de Valentino;
R$ 1.560
Chaveiro, da Prada;
R$ 620 cada um
Carteira Love International, da Cartier;
R$ 1.710
Pulseira em prata, da Tiffany & Co;
R$ 655
Marca-página da coleção J'aime Paris, da Christofle;
R$ 150
Porta-charutos, da francesa Goyard;
R$ 790
Fones de ouvido, da Diane von Furstenberg;
R$ 210
Óculos de sol da italiana Versace;
R$ 620
Vela em metal dourado, da Armani Casa;
R$ 260, a menor
Capinha para iPhone, da Fendi;
R$ 600
O desastrado comércio externo - SUELY CALDAS
O Estado de S.Paulo - 22/12
O ano chega ao fim e 2013 passará para a história como aquele em que o comércio exterior brasileiro deu a sua mais desastrada reviravolta do século, com o saldo despencando de um superávit de US$ 19,4 bilhões, em 2012, para um resultado mais ou menos equilibrado e, mesmo assim, com números manipulados para esconder o verdadeiro déficit. Como de hábito neste governo, a Petrobrás foi usada nessa manipulação com "exportações" de plataformas que nunca saíram do País e registros de importação de combustíveis adiados para maquiar resultados.
Há países com forte vocação exportadora, outros que importam muito e aqueles que fazem as duas coisas dependendo do momento de sua economia. O Brasil sempre foi grande exportador de commodities (agrícolas e minerais) e, a partir dos anos 70, passou crescentemente a exportar produtos industriais. A moratória de 1982 e seus desdobramentos com a suspensão de créditos externos levaram o País a buscar na exportação recursos financeiros para sobreviver. Desde então foi consolidada uma espécie de fé religiosa de que só superávits comerciais são bem-vindos, déficits são trágicos.
O Plano Real tentou desfazer esse tabu, mas não conseguiu. Na época, a economia era ancorada pelo câmbio baixo e fixo e pelo incentivo à importação para frear a inflação. Com isso as exportações desabaram, as importações foram à lua e o País acumulou déficits comerciais entre 1995 e 2000, só recuperando o superávit em 2001 - efeito do novo câmbio flutuante, que vigora desde 1999. O tabu não foi desfeito porque, em Economia, mesmo dependendo da situação vivida, é sempre melhor ter superávit do que déficit. No início do Real, câmbio baixo e importação em alta foram fundamentais para derrubar a inflação, mas era para durar pouco, a corda foi esticada e a correção só chegou em 1999. Com a demora, sofreram não só o setor externo, mas a economia como um todo.
Lula chegou em 2003 já com o câmbio flutuante e muita sorte por atravessar um período de rara fertilidade na economia mundial, com o mundo inteiro crescendo. Foi a fase dos megassuperávits comerciais (o maior deles, de US$ 46,4 bilhões, registrado em 2006), obtidos na onda da prosperidade mundial. Teria sido ainda melhor se Lula não tivesse rejeitado a Área de Livre Comércio das Américas (Alca) e cuidasse de conceber e praticar uma política para o comércio exterior. Não havia política e a preferência por Mercosul, América do Sul e países em desenvolvimento não gerou os resultados esperados. Exemplo: nosso maior parceiro nessa área, a Argentina, vive impondo barreiras a nossos produtos.
A crise econômica no mundo rico acabou com a onda otimista: desde 2008 o comércio externo declina e a balança comercial contabiliza superávits decrescentes, embora ainda expressivos. Em 2011, primeiro ano de Dilma Rousseff, o saldo foi de US$ 29,8 bilhões, caiu para US$ 19,4 bilhões no ano seguinte e até a primeira quinzena de dezembro de 2013 contabilizava um déficit de US$ 15 milhões. Numa conjuntura em que a taxa cambial deixou de ser um empecilho para exportações e deveria desestimular importações, a queda do saldo comercial é desastrosa, violenta, assusta e desencoraja projeções de recuperação no curto prazo.
O que falta ao comércio exterior é o que falta à gestão Dilma desde o início: um rumo, uma diretriz, um programa de governo, deixar de viver ao sabor do momento. Não há iniciativas nem do Ministério do Desenvolvimento e Comércio Exterior nem do Itamaraty em definir uma estratégia para o comércio exterior. A opção pela solução multilateral é importante e deve prosseguir, mas o Brasil não pode ficar esperando por um acordo final na Organização Mundial do Comércio, que vai demorar décadas - se chegar. Também não pode ficar amarrado aos parceiros do Mercosul para construir acordos com outros países (a negociação com a União Europeia não sai do lugar). Enquanto os ricos EUA e países europeus avançam no mais poderoso acordo comercial do mundo, o Brasil patina no Mercosul e tropeça no bloco dos Brics.
Aos queridos leitores, feliz Natal!
O ano chega ao fim e 2013 passará para a história como aquele em que o comércio exterior brasileiro deu a sua mais desastrada reviravolta do século, com o saldo despencando de um superávit de US$ 19,4 bilhões, em 2012, para um resultado mais ou menos equilibrado e, mesmo assim, com números manipulados para esconder o verdadeiro déficit. Como de hábito neste governo, a Petrobrás foi usada nessa manipulação com "exportações" de plataformas que nunca saíram do País e registros de importação de combustíveis adiados para maquiar resultados.
Há países com forte vocação exportadora, outros que importam muito e aqueles que fazem as duas coisas dependendo do momento de sua economia. O Brasil sempre foi grande exportador de commodities (agrícolas e minerais) e, a partir dos anos 70, passou crescentemente a exportar produtos industriais. A moratória de 1982 e seus desdobramentos com a suspensão de créditos externos levaram o País a buscar na exportação recursos financeiros para sobreviver. Desde então foi consolidada uma espécie de fé religiosa de que só superávits comerciais são bem-vindos, déficits são trágicos.
O Plano Real tentou desfazer esse tabu, mas não conseguiu. Na época, a economia era ancorada pelo câmbio baixo e fixo e pelo incentivo à importação para frear a inflação. Com isso as exportações desabaram, as importações foram à lua e o País acumulou déficits comerciais entre 1995 e 2000, só recuperando o superávit em 2001 - efeito do novo câmbio flutuante, que vigora desde 1999. O tabu não foi desfeito porque, em Economia, mesmo dependendo da situação vivida, é sempre melhor ter superávit do que déficit. No início do Real, câmbio baixo e importação em alta foram fundamentais para derrubar a inflação, mas era para durar pouco, a corda foi esticada e a correção só chegou em 1999. Com a demora, sofreram não só o setor externo, mas a economia como um todo.
Lula chegou em 2003 já com o câmbio flutuante e muita sorte por atravessar um período de rara fertilidade na economia mundial, com o mundo inteiro crescendo. Foi a fase dos megassuperávits comerciais (o maior deles, de US$ 46,4 bilhões, registrado em 2006), obtidos na onda da prosperidade mundial. Teria sido ainda melhor se Lula não tivesse rejeitado a Área de Livre Comércio das Américas (Alca) e cuidasse de conceber e praticar uma política para o comércio exterior. Não havia política e a preferência por Mercosul, América do Sul e países em desenvolvimento não gerou os resultados esperados. Exemplo: nosso maior parceiro nessa área, a Argentina, vive impondo barreiras a nossos produtos.
A crise econômica no mundo rico acabou com a onda otimista: desde 2008 o comércio externo declina e a balança comercial contabiliza superávits decrescentes, embora ainda expressivos. Em 2011, primeiro ano de Dilma Rousseff, o saldo foi de US$ 29,8 bilhões, caiu para US$ 19,4 bilhões no ano seguinte e até a primeira quinzena de dezembro de 2013 contabilizava um déficit de US$ 15 milhões. Numa conjuntura em que a taxa cambial deixou de ser um empecilho para exportações e deveria desestimular importações, a queda do saldo comercial é desastrosa, violenta, assusta e desencoraja projeções de recuperação no curto prazo.
O que falta ao comércio exterior é o que falta à gestão Dilma desde o início: um rumo, uma diretriz, um programa de governo, deixar de viver ao sabor do momento. Não há iniciativas nem do Ministério do Desenvolvimento e Comércio Exterior nem do Itamaraty em definir uma estratégia para o comércio exterior. A opção pela solução multilateral é importante e deve prosseguir, mas o Brasil não pode ficar esperando por um acordo final na Organização Mundial do Comércio, que vai demorar décadas - se chegar. Também não pode ficar amarrado aos parceiros do Mercosul para construir acordos com outros países (a negociação com a União Europeia não sai do lugar). Enquanto os ricos EUA e países europeus avançam no mais poderoso acordo comercial do mundo, o Brasil patina no Mercosul e tropeça no bloco dos Brics.
Aos queridos leitores, feliz Natal!
Haddad, o acossado - VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP - 22/12
Prefeito enfrenta conjunção de desastres novos e antigos, mas sua política destrambelhada não ajuda
O PRIMEIRO ANO do prefeito de São Paulo foi o de uma conjunção azarada de astros sociais, econômicos e políticos.
Problemas urbanos agravados em meio século tornaram-se críticos na fase recente de crescimento do Brasil; foram detonadores dos protestos que explodiram em São Paulo.
A aversão crescente ao PT de parte da sociedade, a lentidão da economia e a eleição próxima ainda deterioraram o ambiente. Não bastasse tal conjuntura, Fernando Haddad estranhamente parece não perceber o bombardeio cruzado em que está metido, fazendo política destrambelhada.
As bombas explodem agora, mas faz tempo que São Paulo é um desastre social e urbanístico, um entulho do crescimento selvagem do Brasil "desenvolvimentista", pós-1950. A cidade atraiu massas de miseráveis largados sem terra, pão, paz ou escola, que preferiam uma vida paulistana horrível à vida indescritível nos sertões.
Os que não foram empilhados de pronto na periferia para lá foram expulsos em décadas de "limpeza étnica". Além de longe, a periferia não tem base econômica, saúde, lazer ou trabalho bastante.
A massa de gente tem de ser carregada "de lá longe", num plano urbanístico feito de modo reacio- nário e ignorante, sem vias ou meios de transporte pensados de modo democrático.
A cidade faliu de vez em termos urbanísticos e financeiros com o efeito acumulado do malufismo e agregados, que ocuparam a prefeitura por quase um terço do tempo desde os anos 1970, e com a crise do crescimento brasileiro.
Não precisava muito para a infraestrutura implodir. Uns poucos anos de crescimento sem investimento e de consumo abusivo de automóveis (e não só) tornaram a vida insuportável para gente "de cá" e "de lá longe". A cidade para.
A arteriosclerose ocorre num corpo já apodrecido de violência e desigualdade dessa cidade onde jantares de dois casais do centro rico custam facilmente um salário mínimo, para ficar numa evidência vulgar das iniquidades. É muita tensão.
São Paulo mal pode investir porque faliu ao final dos anos 1990, em parte por fazer obras viárias superfaturadas para acomodar o empilhamento imobiliário desregulado no centro rico, política que durante décadas teve o voto reacionário da elite paulistana.
Nessa situação de falência múltipla de órgãos, de cidade dividida e com adversários político-econômicos fortes, Haddad "não se tocou". Dá murro em ponta de faca.
Foi derrotado pelas "ruas" no caso da tarifa do transporte, vitória de Pirro das ruas, irracional. Mas não tinha plano para reformar logo o péssimo e mal explicado serviço de transportes (nem o pouco falado serviço do lixo).
Haddad não soube negociar, explicar e dosar a alta do IPTU em tempos de fastio do PT, de economia lerda, de custo em alta para empresas e de eleição próxima.
Bem formado e rara promessa de político jovem democrata, o prefeito não nasceu ontem na política, mas parece. Embora lhe falte a útil experiência parlamentar, passou anos em Brasília. Não deve fazer política-politiqueira, claro. Mas não mostrou habilidade para negociar acordos realistas nem ainda apresentou políticas de fundo para ônibus, saúde ou escola a fim de legitimar seus planos financeiros e tributários.
Prefeito enfrenta conjunção de desastres novos e antigos, mas sua política destrambelhada não ajuda
O PRIMEIRO ANO do prefeito de São Paulo foi o de uma conjunção azarada de astros sociais, econômicos e políticos.
Problemas urbanos agravados em meio século tornaram-se críticos na fase recente de crescimento do Brasil; foram detonadores dos protestos que explodiram em São Paulo.
A aversão crescente ao PT de parte da sociedade, a lentidão da economia e a eleição próxima ainda deterioraram o ambiente. Não bastasse tal conjuntura, Fernando Haddad estranhamente parece não perceber o bombardeio cruzado em que está metido, fazendo política destrambelhada.
As bombas explodem agora, mas faz tempo que São Paulo é um desastre social e urbanístico, um entulho do crescimento selvagem do Brasil "desenvolvimentista", pós-1950. A cidade atraiu massas de miseráveis largados sem terra, pão, paz ou escola, que preferiam uma vida paulistana horrível à vida indescritível nos sertões.
Os que não foram empilhados de pronto na periferia para lá foram expulsos em décadas de "limpeza étnica". Além de longe, a periferia não tem base econômica, saúde, lazer ou trabalho bastante.
A massa de gente tem de ser carregada "de lá longe", num plano urbanístico feito de modo reacio- nário e ignorante, sem vias ou meios de transporte pensados de modo democrático.
A cidade faliu de vez em termos urbanísticos e financeiros com o efeito acumulado do malufismo e agregados, que ocuparam a prefeitura por quase um terço do tempo desde os anos 1970, e com a crise do crescimento brasileiro.
Não precisava muito para a infraestrutura implodir. Uns poucos anos de crescimento sem investimento e de consumo abusivo de automóveis (e não só) tornaram a vida insuportável para gente "de cá" e "de lá longe". A cidade para.
A arteriosclerose ocorre num corpo já apodrecido de violência e desigualdade dessa cidade onde jantares de dois casais do centro rico custam facilmente um salário mínimo, para ficar numa evidência vulgar das iniquidades. É muita tensão.
São Paulo mal pode investir porque faliu ao final dos anos 1990, em parte por fazer obras viárias superfaturadas para acomodar o empilhamento imobiliário desregulado no centro rico, política que durante décadas teve o voto reacionário da elite paulistana.
Nessa situação de falência múltipla de órgãos, de cidade dividida e com adversários político-econômicos fortes, Haddad "não se tocou". Dá murro em ponta de faca.
Foi derrotado pelas "ruas" no caso da tarifa do transporte, vitória de Pirro das ruas, irracional. Mas não tinha plano para reformar logo o péssimo e mal explicado serviço de transportes (nem o pouco falado serviço do lixo).
Haddad não soube negociar, explicar e dosar a alta do IPTU em tempos de fastio do PT, de economia lerda, de custo em alta para empresas e de eleição próxima.
Bem formado e rara promessa de político jovem democrata, o prefeito não nasceu ontem na política, mas parece. Embora lhe falte a útil experiência parlamentar, passou anos em Brasília. Não deve fazer política-politiqueira, claro. Mas não mostrou habilidade para negociar acordos realistas nem ainda apresentou políticas de fundo para ônibus, saúde ou escola a fim de legitimar seus planos financeiros e tributários.
Alívio - CELSO MING
O Estado de S.Paulo - 22/12
Mais importante do que a decisão anunciada na quarta-feira pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), de começar o processo de reversão da forte emissão de dólares em janeiro, é o compromisso com a suavidade com que será conduzido e o grau de flexibilidade com que será dotado.
Apenas ao longo deste ano, o Fed emitiu mais de US$ 1 trilhão em dinheiro vivo que foi empregado na recompra de títulos do Tesouro dos Estados Unidos e em títulos privados, principalmente hipotecas. Do início da crise até agora, o balanço do Fed foi inchado em US$ 3,8 trilhões com o objetivo de tirar a economia dos Estados Unidos da paradeira e ajudar a ativar o emprego (veja o Confira).
A avaliação do colégio de dirigentes do Fed é de que o nível de desemprego da economia americana chegou a patamares aceitáveis, de 7% (veja, ainda, o gráfico), e que esse número reflete recuperação do sistema produtivo. Daí porque o processo de expansão monetária pode agora começar a ser revertido.
A decisão não foi fechar abruptamente as torneiras de dólares, como os mais aflitos pareceram temer. Por enquanto, apenas o ritmo das compras de títulos foi ligeiramente reduzido de US$ 85 bilhões por mês para US$ 75 bilhões. O presidente, Ben Bernanke, que deixará o cargo no dia 31 de janeiro, anunciou, também, que qualquer alteração nesse ritmo estará sujeita a reavaliações sobre o comportamento da economia dos Estados Unidos.
O recado principal passado pelo Fed é o de que, apesar da persistência de incertezas e de riscos, tudo acontecerá da forma indolor, com mais brandura do que esperava a maioria dos analistas do mercado financeiro, que temia enormes solavancos nos mercados de câmbio.
Do ponto de vista da economia brasileira, o principal perigo, temido não só pelos analistas mas também pelas autoridades do governo federal, parece relativamente afastado. Como não se esperam turbulências mais fortes, o afluxo de moeda estrangeira para o Brasil, cada vez mais necessitado de dólares, continuará relativamente generoso.
Isso não significa que a deterioração das contas externas brasileiras já tenha estancado nem que o risco de rebaixamento da qualidade dos títulos do Brasil tenha sido afastado. Significa apenas que se reduziu a probabilidade de que os problemas internos sejam agravados com uma súbita secura de dólares nos mercados e que disparem as cotações da moeda estrangeira em reais, com as consequências inflacionárias que poderá produzir.
No seu Relatório de Inflação, divulgado sexta-feira, o Banco Central do Brasil não baixa a guarda. Adverte para a volatilidade dos mercados que ainda pode ser produzida "pelo processo de normalização das condições monetárias dos Estados Unidos". Mas não passa daí.
Afora isso, o novo passo do Fed só foi antecipado porque a percepção dos seus dirigentes foi a de que a economia dos Estados Unidos está em recuperação, o que, por si só, é boa notícia que tende a desengavetar investimentos e projetos de negócios ao redor do mundo.
Mais importante do que a decisão anunciada na quarta-feira pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), de começar o processo de reversão da forte emissão de dólares em janeiro, é o compromisso com a suavidade com que será conduzido e o grau de flexibilidade com que será dotado.
Apenas ao longo deste ano, o Fed emitiu mais de US$ 1 trilhão em dinheiro vivo que foi empregado na recompra de títulos do Tesouro dos Estados Unidos e em títulos privados, principalmente hipotecas. Do início da crise até agora, o balanço do Fed foi inchado em US$ 3,8 trilhões com o objetivo de tirar a economia dos Estados Unidos da paradeira e ajudar a ativar o emprego (veja o Confira).
A avaliação do colégio de dirigentes do Fed é de que o nível de desemprego da economia americana chegou a patamares aceitáveis, de 7% (veja, ainda, o gráfico), e que esse número reflete recuperação do sistema produtivo. Daí porque o processo de expansão monetária pode agora começar a ser revertido.
A decisão não foi fechar abruptamente as torneiras de dólares, como os mais aflitos pareceram temer. Por enquanto, apenas o ritmo das compras de títulos foi ligeiramente reduzido de US$ 85 bilhões por mês para US$ 75 bilhões. O presidente, Ben Bernanke, que deixará o cargo no dia 31 de janeiro, anunciou, também, que qualquer alteração nesse ritmo estará sujeita a reavaliações sobre o comportamento da economia dos Estados Unidos.
O recado principal passado pelo Fed é o de que, apesar da persistência de incertezas e de riscos, tudo acontecerá da forma indolor, com mais brandura do que esperava a maioria dos analistas do mercado financeiro, que temia enormes solavancos nos mercados de câmbio.
Do ponto de vista da economia brasileira, o principal perigo, temido não só pelos analistas mas também pelas autoridades do governo federal, parece relativamente afastado. Como não se esperam turbulências mais fortes, o afluxo de moeda estrangeira para o Brasil, cada vez mais necessitado de dólares, continuará relativamente generoso.
Isso não significa que a deterioração das contas externas brasileiras já tenha estancado nem que o risco de rebaixamento da qualidade dos títulos do Brasil tenha sido afastado. Significa apenas que se reduziu a probabilidade de que os problemas internos sejam agravados com uma súbita secura de dólares nos mercados e que disparem as cotações da moeda estrangeira em reais, com as consequências inflacionárias que poderá produzir.
No seu Relatório de Inflação, divulgado sexta-feira, o Banco Central do Brasil não baixa a guarda. Adverte para a volatilidade dos mercados que ainda pode ser produzida "pelo processo de normalização das condições monetárias dos Estados Unidos". Mas não passa daí.
Afora isso, o novo passo do Fed só foi antecipado porque a percepção dos seus dirigentes foi a de que a economia dos Estados Unidos está em recuperação, o que, por si só, é boa notícia que tende a desengavetar investimentos e projetos de negócios ao redor do mundo.
Privatizar ou paralisar o país - SACHA CALMON
CORREIO BRAZILIENSE - 22/12
Precisamos de rodízio no poder central. Seria ótimo ver a Petrobras, suas coligadas, a Eletrobrás, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica, companhias elétricas e de gás, todas as estatais devidamente privatizadas, tornando-se a União e alguns estados sócios minoritários, a ganharem, cada vez mais, bons dividendos. As empresas ficariam enxutas, os governos ganhariam rendimentos e impostos, em vez de atrapalharem a gestão profissional das mesmas, sucateá-las, nelas empregando apaniguados, e utilizá-las politicamente.
Acho idiota o refrão esquerdista e burro de que "o petróleo é nosso". Desde quando? A Petrobras é do governo e dos acionistas, ora rejudicados. O povo apenas paga os subprodutos do petróleo. Não é dono, é cliente.
Como acionista da Petrobras, espero uma ação contra o sócio majoritário, a União, pelo fato de impor à empresa uma gestão criminosamente temerária, entupindo-a de prejuízos. Por acaso é juridicamente possível e livre de consequências criminais o que a governante do Brasil está a fazer? Pode ela, sem incorrer em crime de responsabilidade, obrigar uma sociedade anônima a vender seus produtos abaixo do custo, artificializar os preços administrados e tarifas, a gerar no futuro um estouro inflacionário incontrolável ou pelo menos catastrófico para os cidadãos do país? Devemos privatizar o que pudermos. É claro que haverá, sempre, estradas vicinais à conta dos municípios e estados. Na saúde, na educação, na previdência, o regime já é misto.
O Ministério Público deve agir contra o Estado perdulário, pois as elites se acomodaram, quando não tiram vantagens, e o povo ignorante caminha como gado para o sacrifício. Os "mercados", essas entidades abstratas, reagem, rebaixando os preços dos ativos, negando investimentos e retirando apoio. Sofremos hoje de um tríplice mal: péssima gestão da coisa pública, insegurança jurídica disseminada e baixo crescimento, como decorrência da má gestão (incompetência) e da insegurança jurídica (provocada pelo governo).
A insegurança jurídica no Brasil é um dos principais fatores que afastam os investidores nacionais e internacionais. A opinião, compartilhada pelos especialistas, fundamenta-se em uma soma de fatores que vão da frequente mudança de regras, do dia para noite, aos escândalos de corrupção e impunidade. O principal exemplo dessa insegurança regulatória foi a Medida Provisória 579, instituída em 2012 e convertida em lei, que tratou das renovações das concessões de geração, transmissão e distribuição do setor elétrico.
Segundo Alexei Vivan, presidente da Associação Brasileira de Companhias de Energia Elétrica, pior do que a imposição de novas regras foi a falta de diálogo com o setor. O fato de grandes concessionárias, como a Cemig e a Copel, não terem aderido às novas regras deixou as distribuidoras sem energia. O governo precisou fazer manobras contábeis com recursos do Tesouro Nacional para ajudar as distribuidoras a garantirem a promessa de redução tarifária.
A consequência dessa insegurança jurídica é que o investidor precifica o risco e vai buscar uma margem de retorno maior. Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), cita a insegurança em relação às concessões de ferrovias, aeroportos, rodovias e campos de petróleo. "O modelo proposto pelo governo nos leilões ainda deixa incerteza. A insistência do governo em participar dos investimentos como sócio, com a Infraero, o Dnit ou a Petrobras não faz sentido. O papel do governo é de fiscalizar a prestação dos serviços", enfatiza Pires.
Ele tem razão. O art. 170 da Constituição diz que a economia deve ser tocada pela livre iniciativa. Ao governo cabe planejar, regular, fiscalizar, em prol do povo. Deve dedicar-se a tornar o povo saudável e disponibilizar bons sistemas mistos de saúde e educação, em vez de ficar fazendo demagogia barata com o Bolsa Família, que só faz crescer os pensionistas do Estado.
O Brasil é exatamente o oposto da China. Lá, com extrema disciplina, procura-se sair de uma economia de investimentos maciços e agressivas exportações para um modelo de consumo interno e crescimento da renda da população (1 bilhão e 400 milhões). Nós, ao contrário, além de não termos poupança (18% do PIB - lá é de 35% do PIB), temos que sair de um modelo consumista interno esgotado (e participamos com 1.2% do comércio mundial), para um modelo de investimentos massivos em infraestrutura e logística, para otimizar exportações e puxar capitais internos e externos, já que o governo está no limite do endividamento, ele e suas estatais (subjugadas ao jogo político).
Soa natural, portanto, que não se trata sequer de uma opção ideológica, mas de uma regra de bom senso: ou privatizamos a economia com seriedade e inteligência, ou caminhamos celeremente para a paralisia econômica. Os acontecimentos na Argentina e na Venezuela preocupam. É a mesma ideologia estatizante.
Retrospecto e Perspectivas - GUSTAVO FRANCO
O ESTADO DE S. PAULO - 22/12
Afim de responder às clássicas dúvidas de fim de ano - Onde estamos? Para onde vamos? - é interessante recuar no tempo e identificar quatro enredos paralelos e interligados, todos a partir de fenômenos fora do nosso controle, que condicionaram : as escolhas feitas pelas autoridades na última década. Em razão dessas decisões, o ano de 2013 vai chegando ao fim com uma quantidade de dúvidas e maus bofes como há muito não se via. Será com essas mesmas ideias que a presidente vai se apresentar para postular sua recondução à Presidência? Os investidores estão inquietos com a ideia de "mais do mesmo".
Mas vejamos, para começar, os quatro presentes que o destino nos ; reservou e o que fizemos deles:
1. A internacionalização da economia. A globalização abraçou o País de forma vigorosa, mesmo antes de qualquer retribuição muito clara. Em 1995 o País abrigava 6.322 empresas com participação estrangeira e o valor desses investimentos era de cerca de 5% do PIB. Em 2010, o número de empresas ultrapassava os 17 mil, e o valor dos investimentos atingiu 27% do PIB. Essas empresas empregavam 24% do pessoal ocupado no País em 2010, o que significava essencialmente que o PIB per capita do trabalhador empregado nessas empresas era de aproximadamente R$ 400 mil, ao passo que a média para o Brasil era dez vezes menor. É como se o País tivesse "engravidado" de uma participação mais ativa e produtiva na economia globalizada, mas a ocorrência e a extensão do fenômeno ainda estariam na dependência das condições dadas a essas empresas para produzir e empregar no Brasil.
2. O fator China. Entre 1998 e 2012, o comércio mundial mais que dobra e os relatos sobre "offshoring" (relocalizar etapas da cadeia produtiva em países mais competitivos, geralmente asiáticos) levam a crer que o comércio "intrafirma" (entre empresas relacionadas) se torna dominante para manufaturas. As exportações brasileiras quase quadruplicam nesse período, mas especialmente em razão das relações de troca, ou de preços espetaculares para muitas commodities. A China cresce sua participação no comércio brasileiro de 2% a 20% no período.
3. Bônus demográfico. A queda na taxa de fertilidade anos atrás mudou significativamente o perfil etário da população, engordando a parcela em idade de trabalhar. Muitas famílias numerosas de baixa renda passam à situação em que todos os seus membros estão no mercado de trabalho, produzindo notável incremento na renda, consumo e endividamento familiar e, consequentemente, redução da desigualdade. Essa ascensão da classe C é uma criatura da demografia e uma ótima notícia, e por isso o governo quer a sua paternidade.
4. Bancos capitalizados. O sistema bancário, logo após os ajustes efetuados na segunda metade dos anos 1990, estava pronto e capitalizado para uma expansão acelerada como de fato ocorre a partir de 2003. O crédito bancário mais que dobra de tamanho como porcentual do PIB nos dez anos posteriores, sem que isso representasse deterioração da qualidade dos ativos do sistema. Era a contrapartida da elevação do endividamento familiar (e da sensação de bem-estar inerente à ascensão da classe C), que também dobra de tamanho nesses anos, sem que isso aumentasse muito o comprometimento de renda das famílias com o serviço da dívida.
Com esses quatro ventos a favor, as autoridades fizeram suas escolhas em matéria de políticas públicas. Para que se apoquentar com reformas quando bastava ficar parado ao sabor da ventania?
Para encurtar uma longa e triste história, houve pouca evolução nos velhos temas onde as empresas esperavam mudanças: a classificação do País no "Doing Business" (o ranking do Banco Mundial para o ambiente de negócios) não evoluiu, os programas destinados a reduzir o que se chamava de "custo "Brasil" foram descontinuados, as privatizações e as PPPs (federais) não aconteceram, a infraestrutura ficou sobrecarregada, a abertura encalhou (com regras de "conteúdo nacional") e proliferaram engarrafamentos e incentivos "seletivos". O resultado: o crescimento murchou e a produtividade ficou estagnada entre 2000 e 2012 em 18% do nível de produção por trabalhador nos EUA. Pior que o mau desempenho e a frustração foi se avolumando um antagonismo entre o governo e o setor privado, que atingiu o ápice em 2013, mesmo diante de recuos do governo nas encrencas associadas aos leilões de concessões. Ao fim das contas, ficou estabelecida a crença que o governo não gosta de lucro nem de capitalismo, até prova em contrário.
Na área fiscal as coisas vinham bem, ou estáveis, desde o acordo com o FMI em 1998, quando começamos a exibir um superávit primário na faixa de 3% e a melhoria fiscal permitia a redução dos juros de forma continuada e drástica. De 2003 a 2012 os juros caíram de 25% para 7% anuais com enormes efeitos positivos sobre a economia. Empresas, imóveis e ativos passaram a valer mais (pois o futuro era descontado a ; uma taxa menor, simples assim); era o processo designado como "convergência de juros", que compreendia um papel crescente para o mercado de capitais e para o setor privado no processo de investimento.
Entretanto, nos últimos três anos, a degradação da situação fiscal inverteu essa marcha virtuosa e colocou o País caminhando decididamente para trás, sem nunca ter chegado aos 20% na taxa de formação bruta de capital fixo. A "contabilidade criativa" virou matéria de chacota e o País corre o risco de rebaixamento em sua classificação de risco soberano.
Definitivamente, a guinada heterodoxa dos últimos anos não teve sucesso em melhorar a economia.
Diante desse quadro, e tendo em vista a posição central assumida pela presidente Dilma Rousseff na definição das diretrizes da política econômica, o prognóstico para : 2014 e depois está diretamente relacionado com o resultado das iniciativas presidenciais no sentido de fazer as pazes com o capital, e mais especificamente com o discurso que a presidente trará para a sua ; campanha de reeleição. 2014 será um ano difícil se o governo insistir em sua "nova matriz macroeconômica". Será bastante diferente se a presidente seguir conselhos que vêm de muitos de seus interlocutores e adotar posturas mais convencionais de política econômica.
Afim de responder às clássicas dúvidas de fim de ano - Onde estamos? Para onde vamos? - é interessante recuar no tempo e identificar quatro enredos paralelos e interligados, todos a partir de fenômenos fora do nosso controle, que condicionaram : as escolhas feitas pelas autoridades na última década. Em razão dessas decisões, o ano de 2013 vai chegando ao fim com uma quantidade de dúvidas e maus bofes como há muito não se via. Será com essas mesmas ideias que a presidente vai se apresentar para postular sua recondução à Presidência? Os investidores estão inquietos com a ideia de "mais do mesmo".
Mas vejamos, para começar, os quatro presentes que o destino nos ; reservou e o que fizemos deles:
1. A internacionalização da economia. A globalização abraçou o País de forma vigorosa, mesmo antes de qualquer retribuição muito clara. Em 1995 o País abrigava 6.322 empresas com participação estrangeira e o valor desses investimentos era de cerca de 5% do PIB. Em 2010, o número de empresas ultrapassava os 17 mil, e o valor dos investimentos atingiu 27% do PIB. Essas empresas empregavam 24% do pessoal ocupado no País em 2010, o que significava essencialmente que o PIB per capita do trabalhador empregado nessas empresas era de aproximadamente R$ 400 mil, ao passo que a média para o Brasil era dez vezes menor. É como se o País tivesse "engravidado" de uma participação mais ativa e produtiva na economia globalizada, mas a ocorrência e a extensão do fenômeno ainda estariam na dependência das condições dadas a essas empresas para produzir e empregar no Brasil.
2. O fator China. Entre 1998 e 2012, o comércio mundial mais que dobra e os relatos sobre "offshoring" (relocalizar etapas da cadeia produtiva em países mais competitivos, geralmente asiáticos) levam a crer que o comércio "intrafirma" (entre empresas relacionadas) se torna dominante para manufaturas. As exportações brasileiras quase quadruplicam nesse período, mas especialmente em razão das relações de troca, ou de preços espetaculares para muitas commodities. A China cresce sua participação no comércio brasileiro de 2% a 20% no período.
3. Bônus demográfico. A queda na taxa de fertilidade anos atrás mudou significativamente o perfil etário da população, engordando a parcela em idade de trabalhar. Muitas famílias numerosas de baixa renda passam à situação em que todos os seus membros estão no mercado de trabalho, produzindo notável incremento na renda, consumo e endividamento familiar e, consequentemente, redução da desigualdade. Essa ascensão da classe C é uma criatura da demografia e uma ótima notícia, e por isso o governo quer a sua paternidade.
4. Bancos capitalizados. O sistema bancário, logo após os ajustes efetuados na segunda metade dos anos 1990, estava pronto e capitalizado para uma expansão acelerada como de fato ocorre a partir de 2003. O crédito bancário mais que dobra de tamanho como porcentual do PIB nos dez anos posteriores, sem que isso representasse deterioração da qualidade dos ativos do sistema. Era a contrapartida da elevação do endividamento familiar (e da sensação de bem-estar inerente à ascensão da classe C), que também dobra de tamanho nesses anos, sem que isso aumentasse muito o comprometimento de renda das famílias com o serviço da dívida.
Com esses quatro ventos a favor, as autoridades fizeram suas escolhas em matéria de políticas públicas. Para que se apoquentar com reformas quando bastava ficar parado ao sabor da ventania?
Para encurtar uma longa e triste história, houve pouca evolução nos velhos temas onde as empresas esperavam mudanças: a classificação do País no "Doing Business" (o ranking do Banco Mundial para o ambiente de negócios) não evoluiu, os programas destinados a reduzir o que se chamava de "custo "Brasil" foram descontinuados, as privatizações e as PPPs (federais) não aconteceram, a infraestrutura ficou sobrecarregada, a abertura encalhou (com regras de "conteúdo nacional") e proliferaram engarrafamentos e incentivos "seletivos". O resultado: o crescimento murchou e a produtividade ficou estagnada entre 2000 e 2012 em 18% do nível de produção por trabalhador nos EUA. Pior que o mau desempenho e a frustração foi se avolumando um antagonismo entre o governo e o setor privado, que atingiu o ápice em 2013, mesmo diante de recuos do governo nas encrencas associadas aos leilões de concessões. Ao fim das contas, ficou estabelecida a crença que o governo não gosta de lucro nem de capitalismo, até prova em contrário.
Na área fiscal as coisas vinham bem, ou estáveis, desde o acordo com o FMI em 1998, quando começamos a exibir um superávit primário na faixa de 3% e a melhoria fiscal permitia a redução dos juros de forma continuada e drástica. De 2003 a 2012 os juros caíram de 25% para 7% anuais com enormes efeitos positivos sobre a economia. Empresas, imóveis e ativos passaram a valer mais (pois o futuro era descontado a ; uma taxa menor, simples assim); era o processo designado como "convergência de juros", que compreendia um papel crescente para o mercado de capitais e para o setor privado no processo de investimento.
Entretanto, nos últimos três anos, a degradação da situação fiscal inverteu essa marcha virtuosa e colocou o País caminhando decididamente para trás, sem nunca ter chegado aos 20% na taxa de formação bruta de capital fixo. A "contabilidade criativa" virou matéria de chacota e o País corre o risco de rebaixamento em sua classificação de risco soberano.
Definitivamente, a guinada heterodoxa dos últimos anos não teve sucesso em melhorar a economia.
Diante desse quadro, e tendo em vista a posição central assumida pela presidente Dilma Rousseff na definição das diretrizes da política econômica, o prognóstico para : 2014 e depois está diretamente relacionado com o resultado das iniciativas presidenciais no sentido de fazer as pazes com o capital, e mais especificamente com o discurso que a presidente trará para a sua ; campanha de reeleição. 2014 será um ano difícil se o governo insistir em sua "nova matriz macroeconômica". Será bastante diferente se a presidente seguir conselhos que vêm de muitos de seus interlocutores e adotar posturas mais convencionais de política econômica.
Controle do Índice - MÍRIAM LEITÃO
O GLOBO - 22/12
Os números comprovam que o governo Dilma escolheu o caminho errado. A prova dos nove está na diferença entre a inflação dos preços livres, 7,3%, e a dos preços que o governo controla, 0,9%. Estão sendo reprimidos preços que compõem um quarto do índice e por isso chega-se ao fim do ano, na média, com 5,7% no IPCA.
A última decisão de uma série interminável é de adiar para 2015 - leia-se depois das eleições - o começo da realidade nos preços da energia. O início seria em 2014, no chamado sistema de bandeiras tarifárias. Quando a distribuidora fosse obrigada a comprar energia das térmicas, pelo baixo nível de água nos reservatórios, isso seria passado para o consumidor em um adicional mensal. O aumento sumiria quando a oferta de energia mais barata fosse normalizada.
Em 2013, o Tesouro consumiu quase R$ 10 bilhões transferindo dinheiro para cobrir o rombo das distribuidoras. O ano foi difícil, choveu pouco onde deveria chover e foi necessário o uso das térmicas por vários meses. A presidente Dilma tinha anunciado como presente de seu governo a queda do preço da energia, por isso a realidade teve que ser escondida. Criou-se assim esse mecanismo de o Tesouro pagar para esconder a verdade sobre as tarifas. Em 2014, tudo voltaria ao normal com o tal sistema de bandeiras tarifárias . Mas o consumidor foi poupado de incômodo em ano eleitoral, e isso foi jogado para 2015. Ao custo calculado de R$ 11 bilhões para o Tesouro.
O Valor Pro, serviço de tempo real do jornal Valor , obteve um documento estarrecedor. O e-mail de despedida do diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica, Edvaldo Santana. Ele disse que as distribuidoras estão vivendo de mesadas do Tesouro . Diz que a Aneel participa de um vale-tudo , chegando a esconder notas técnicas. E o setor está retrocedendo aos anos 70 e 80.
As décadas citadas foram as que o governo exerceu o esporte radical de controlar o índice, em vez de controlar a inflação. A presidente Dilma disse no café da manhã com jornalistas que cobrem o Planalto que nós superamos problemas herdados do passado. Um deles era a inflação descontrolada . É verdade. Nós fizemos isso. Não o governo dela, ou o governo Lula. Isso foi conquistado por nós, brasileiros, há 20 anos no Plano Real. E isso custou às famílias muito suor e lágrima numa longa luta. Quanto mais controla o índice, mais o governo cria riscos de alta de inflação futura.
Dilma disse que rejeitou a fórmula de reajuste pedida pela Petrobras porque seria indexação. E disse que indexação é uma temeridade . É mesmo, mas ela aprovou uma medida de dupla indexação do salário mínimo (inflação mais PIB) e uma indexação em cascata de benefícios, pensões, aposentadorias, seguro-desemprego e abonos a essa fórmula. Fez para não se aborrecer com o debate sempre politicamente desgastante do aumento do mínimo.
Quanto à fórmula de reajuste dos combustíveis, como a Petrobras não a mostrou, sabe-se dela pouco. Mas o que o governo tem feito com a gasolina e diesel é repressão de preços. Tanto que usa fórmulas de reajuste que acompanham preços internacionais para vários derivados, como querosene de aviação, óleo combustível, nafta. Só os preços mais visíveis para o consumidor - e com peso direto no índice - é que são controlados pelo governo.
Na política de segurar o índice, a Fazenda chegou a propor o adiamento de medidas de segurança nos carros populares. A ideia, por absurda, foi abandonada.
A inflação tem que ser controlada com os remédios comprovados: autonomia do Banco Central para cumprir seu mandato de perseguir a meta e controle de gastos públicos. Já para segurar só o índice valem essas medidas que o governo usa: canetadas, adiamentos de reajuste, dissimulação, postergação e congelamentos. O Brasil já foi laboratório de controladores de índice nos anos 1970 e 1980 e sabe que a verdade sempre aparece. O esforço cotidiano do governo é para que ela só dê as caras depois das eleições.
Os números comprovam que o governo Dilma escolheu o caminho errado. A prova dos nove está na diferença entre a inflação dos preços livres, 7,3%, e a dos preços que o governo controla, 0,9%. Estão sendo reprimidos preços que compõem um quarto do índice e por isso chega-se ao fim do ano, na média, com 5,7% no IPCA.
A última decisão de uma série interminável é de adiar para 2015 - leia-se depois das eleições - o começo da realidade nos preços da energia. O início seria em 2014, no chamado sistema de bandeiras tarifárias. Quando a distribuidora fosse obrigada a comprar energia das térmicas, pelo baixo nível de água nos reservatórios, isso seria passado para o consumidor em um adicional mensal. O aumento sumiria quando a oferta de energia mais barata fosse normalizada.
Em 2013, o Tesouro consumiu quase R$ 10 bilhões transferindo dinheiro para cobrir o rombo das distribuidoras. O ano foi difícil, choveu pouco onde deveria chover e foi necessário o uso das térmicas por vários meses. A presidente Dilma tinha anunciado como presente de seu governo a queda do preço da energia, por isso a realidade teve que ser escondida. Criou-se assim esse mecanismo de o Tesouro pagar para esconder a verdade sobre as tarifas. Em 2014, tudo voltaria ao normal com o tal sistema de bandeiras tarifárias . Mas o consumidor foi poupado de incômodo em ano eleitoral, e isso foi jogado para 2015. Ao custo calculado de R$ 11 bilhões para o Tesouro.
O Valor Pro, serviço de tempo real do jornal Valor , obteve um documento estarrecedor. O e-mail de despedida do diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica, Edvaldo Santana. Ele disse que as distribuidoras estão vivendo de mesadas do Tesouro . Diz que a Aneel participa de um vale-tudo , chegando a esconder notas técnicas. E o setor está retrocedendo aos anos 70 e 80.
As décadas citadas foram as que o governo exerceu o esporte radical de controlar o índice, em vez de controlar a inflação. A presidente Dilma disse no café da manhã com jornalistas que cobrem o Planalto que nós superamos problemas herdados do passado. Um deles era a inflação descontrolada . É verdade. Nós fizemos isso. Não o governo dela, ou o governo Lula. Isso foi conquistado por nós, brasileiros, há 20 anos no Plano Real. E isso custou às famílias muito suor e lágrima numa longa luta. Quanto mais controla o índice, mais o governo cria riscos de alta de inflação futura.
Dilma disse que rejeitou a fórmula de reajuste pedida pela Petrobras porque seria indexação. E disse que indexação é uma temeridade . É mesmo, mas ela aprovou uma medida de dupla indexação do salário mínimo (inflação mais PIB) e uma indexação em cascata de benefícios, pensões, aposentadorias, seguro-desemprego e abonos a essa fórmula. Fez para não se aborrecer com o debate sempre politicamente desgastante do aumento do mínimo.
Quanto à fórmula de reajuste dos combustíveis, como a Petrobras não a mostrou, sabe-se dela pouco. Mas o que o governo tem feito com a gasolina e diesel é repressão de preços. Tanto que usa fórmulas de reajuste que acompanham preços internacionais para vários derivados, como querosene de aviação, óleo combustível, nafta. Só os preços mais visíveis para o consumidor - e com peso direto no índice - é que são controlados pelo governo.
Na política de segurar o índice, a Fazenda chegou a propor o adiamento de medidas de segurança nos carros populares. A ideia, por absurda, foi abandonada.
A inflação tem que ser controlada com os remédios comprovados: autonomia do Banco Central para cumprir seu mandato de perseguir a meta e controle de gastos públicos. Já para segurar só o índice valem essas medidas que o governo usa: canetadas, adiamentos de reajuste, dissimulação, postergação e congelamentos. O Brasil já foi laboratório de controladores de índice nos anos 1970 e 1980 e sabe que a verdade sempre aparece. O esforço cotidiano do governo é para que ela só dê as caras depois das eleições.
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