O GLOBO - 22/12
Não há alternativa de combate ao problema a não ser reformas que melhorem o ensino, reduzam a burocracia, os impostos e flexibilizem o mercado de trabalho
A experiência é universal: aumentos reais de salário (seja por indução de políticas governamentais ou por pressão de um mercado de trabalho aquecido) acabam gerando inflação ou perda de competitividade — o que, nas duas hipóteses, anula os ganhos salariais obtidos —, se simultaneamente o conjunto da economia ou setores relevantes não se tornarem mais eficientes.
É fácil compreender a razão disso: quando se consegue produzir a custos mais baixos, os ganhos resultantes desse avanço podem ser distribuídos entre os agentes econômicos, sem que haja tanta queda de braço entre os envolvidos. Quando não há esse ganho, o que se tem a distribuir diminui, e a queda de braço tende a se aguçar. Nesse caso, o ajuste de preços costuma ser mais ágil que o dos salários.
Os ganhos de produtividade são, portanto, um objetivo comum a todos, e não apenas das empresas.
Nesse sentido, são preocupantes os vários indicadores que comparam a competitividade da economia brasileira às demais. O país não aparece bem na foto, só conseguindo ficar à frente da Argentina ao se avaliar a situação do Sul do continente. No entanto, mesmo a desses nossos vizinhos passou a crescer mais rápido.
O quadro é mais perturbador ao se comparar o avanço da produtividade do trabalho nas nações mais desenvolvidas. Segundo o ministro interino da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) e presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Marcelo Neri, na década de 1990 a produtividade do trabalho nesses países correspondia entre 180% e 200% da média brasileira. A diferença aumentou para 300%, ampliando a distância que nos separa das economias avançadas.
O próprio Ipea está empenhado em mapear inciativas públicas capazes de estimular ganhos de produtividade. O trabalho deverá ser apresentado na reunião que chefes de governo e de estado dos países que formam o grupo do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) terão em Fortaleza, no mês de março.
Subsecretário da SAE, o economista Ricardo Paes de Barros adianta que podem ser mapeadas cerca de 100 iniciativas públicas direcionadas a aumento de produtividade. O problema é que essas iniciativas não compõem uma ação coordenada, e os resultados acabam ficando aquém do desejado.
O Brasil precisa remover urgentemente gargalos de infraestrutura (as recentes licitações para concessões de rodovias, aeroportos e portos devem contribuir para isso) e de reformas para simplificar a estrutura tributária, eliminar burocracia e tornar o mercado de trabalho mais flexível, além de melhorar a qualidade da educação e da formação profissional dos trabalhadores.
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