terça-feira, abril 12, 2011

ELI AMORIM - TORTURA MODERNA!!!



TORTURA MODERNA!!!

POSTADO POR ELI AMORIM

'Tenta sim. Vai ficar lindo.' Foi assim que decidi, por livre e espontânea pressão de amigas, me render à depilação na virilha. Falaram que eu ia me sentir dez quilos mais leve. Eu imaginava que ia doer, porque elas ao menos me avisaram que isso aconteceria.
Mas, não esperava que por trás disso, e bota por trás nisso, havia toda uma indústria pornô-ginecológica-estética.
- Oi, queria marcar depilação com a Penélope.
- Vai depilar o quê?
- Virilha.
- Normal ou cavada?
- Cavada mesmo.
- Amanhã, às... Deixa eu ver... 13h?
- Ok. Marcado.
Chegou o dia em que perderia dez quilos. Almocei coisas leves, porque sabia lá o que me esperava, coloquei roupas bonitas, assim, pra ficar chique. Assim que cheguei, Penélope estava esperando. Moça alta, mulata, bonitona. Oba, vou ficar que nem ela, legal. Pediu que eu a seguisse até o local onde o ritual seria realizado.
Saímos da sala de espera e logo entrei num longo corredor. De um lado a parede e do outro, várias cortinas brancas. Por trás delas ouvia gemidos, gritos, conversas. Uma mistura de Calígula com O Albergue.
Já senti um frio na barriga ali mesmo, sem desabotoar nem um botão. Eis que chegamos ao nosso cantinho: uma maca, cercada de cortinas.
- Querida, pode deitar. Quer bem cavada?
- É... é, isso.
- Pode abrir as pernas.
Que situação. E então, Pê passou a primeira camada de cera quente em minha virilha. A hora de puxar foi rápido e fatal. Achei que toda a pele de meu corpo tivesse saído, que apenas minha ossada havia sobrado na maca. Não tive coragem de olhar. Achei que havia sangue jorrando até o teto. Até procurei minha bolsa com os olhos, já cogitando a possibilidade de ligar para o Samu. Tudo isso buscando me concentrar em minha expressão, para fingir que era tudo supernatural. Penélope perguntou se estava tudo bem quando me notou roxa. Eu havia esquecido de respirar. Tinha medo de que doesse mais.
- Tudo ótimo. E você?
Lembrava de minhas amigas recomendando a depilação e imaginava que era tudo uma grande sacanagem, só pra me fazer sofrer. Todas recomendam a todas porque se cansam de sofrer sozinhas. Não bastasse minha condição, a depiladora do lado invade o cafofinho de Penélope e dá uma conferida.
- Olha, tá ficando linda essa depilação.
- Menina, mas tá cheio de encravado aqui. Olha de perto.
Cerrei os olhos e pedi que fosse um pesadelo. 'Me leva daqui, Deus, me teletransporta'. Só voltei à terra quando entre uns blábláblás ouvi a palavra pinça.
- Vou dar uma pinçada aqui porque ficaram um pelinhos, tá?
- Pode pinçar, tá tudo dormente mesmo, tô sentindo nada. Quis matá-la. Mas mal sabia que o motivo para isso ainda estava por vir.
- Vamos ficar de lado agora?
- Hein?
- Deitar de lado pra fazer a parte cavada. Pior não podia ficar. Obedeci à Penélope. Deitei de ladinho e fiquei esperando novas ordens.
- Segura sua bunda. Essa banda aqui de cima, puxa ela pra afastar da outra banda. Tive vontade de chorar. Mas de repente fui novamente trazida para a realidade. Não sabia se ficava com mais medo da puxada ou com vergonha da situação.
Pê puxou a cera. Achei que a bunda tivesse ido toda embora. Com certeza não havia nem uma preguinha pra contar a história mais. Mordia o travesseiro e grunhia ao mesmo tempo. Sons guturais, xingamentos, preces, tudo junto. E então, piora. A broaca da salinha do lado novamente abre a cortina.
- Penélope, empresta um chumaço de algodão?
Apenas uma lágrima solitária escorreu de meus olhos. Era dor demais, vergonha demais. Aquilo não fazia sentido. Estava me depilando pra quem? Ninguém ia ver o tobinha tão de perto daquele jeito. Só mesmo Penélope. E agora a vizinha inconveniente.
- Terminamos. Tá linda! Pode namorar muito agora.
Namorar? Eu estava com sede de vingança. Queria virar feminista, morrer peluda, protestar contra isso. Queria fazer passeatas, criar uma lei antidepilação cavada. Mas foi simplesmente 
a melhor coisa que fiz em toda minha vida.

[autoria desconhecida]

JOSÉ PAULO KUPFER - Imposto flex


Imposto flex
JOSÉ PAULO KUPFER

O ESTADO DE SÃO PAULO - 12/04/11

O Imposto sobre Operações Financeiras, o bom IOF velho de guerra, transformou-se, quem diria, em pau para toda obra na política econômica. Não que ele não estivesse presente - e há muito tempo - nas ações do governo. Mas, como protagonista, isso é novidade.
Esse protagonismo atual coloca o IOF não só em destaque na política cambial, mas também na linha de frente da política monetária, de combate à inflação, disfarçado, no caso, de elemento macroprudencial. E, sem que isso seja declarado com todas as letras, atua na política fiscal. O IOF, hoje, virou com múltiplas tarefas - um imposto flex.
Não faz muito tempo que o IOF ganhou o novo status. Seu uso como instrumento generalizado de política econômica teve início ainda em 2009, com a aplicação, em novembro, de uma alíquota de 2% aos fartos capitais externos que fluíam para os mercados de ações e de renda fixa. Daí para frente foi uma escalada. A alíquota dobrou no ingresso de capitais e nos empréstimos externos, quase triplicou nos cartões de crédito usados no exterior e também dobrou no crédito para as pessoas físicas.
Criado para operar como mecanismo regulador, auxiliar na condução de políticas específicas e temporárias, o IOF ganhou caráter arrecadatório e passou também a atuar como fator complementar na política fiscal. Projeções com base nas novas alíquotas em vigor indicam que o total de receita do IOF este ano pode alcançar valor acima de R$ 30 bilhões. Assim, como quem não quer nada, o IOF praticamente poderia compensar uma CPMF.
Com relação à eficácia da política econômica, no entanto, parece pouco provável que o IOF possa fazer todos os serviços que dele o governo diz esperar. As sucessivas altas nas alíquotas do imposto na área do câmbio não conseguiram, até agora, segurar as cotações. Pode-se, no máximo - e com benevolência -, admitir que evitaram um derretimento mais forte e mais rápido da taxa de câmbio. Pouco mudou também o quadro no caso do crédito.
A ênfase com que o governo tem insistido no IOF, quando cotejada com a sua baixa efetividade na correção de rumos, sugere que Brasília optou por deixar a economia correr relativamente livre no leito que a conjuntura lhe oferece, sob a camuflagem de uma hiperatividade na adoção de medidas corretivas. Talvez não se trate de improvisação, como imaginam uns, nem exatamente de vacilação, como pensam outros. Pode ser algo como o inverso do bordão famoso do seriado infantil. O governo não estaria sem querer, querendo, mas, isso sim, querendo, sem querer.
Na conjuntura econômica do momento, o governo enfrenta uma série acima do normal de "trade offs" - a expressão elegante do economês para dizer que se ficar o bicho come e se correr o bicho pega. Tanto na taxa de câmbio quanto no ritmo de expansão do crédito, os efeitos colaterais de ações corretivas não são propriamente desejáveis.
Câmbio valorizado é, pelo menos durante um certo tempo, eficaz no combate aos surtos inflacionários, mas desarruma as cadeias produtivas mais integradas, especialmente na indústria, e produz tensões crescentes e, afinal, incontroláveis, no setor externo. Crédito apertado colabora na redução da demanda e, em linha direta, na contenção de pressões inflacionárias, mas não favorece uma boa evolução do nível de atividades.
Receitas para conter valorizações cambiais ou expansões de crédito são conhecidas e não faz sentido crer que os economistas do governo não saibam da existência delas. O problema de aplicá-las reside exatamente nos seus efeitos colaterais altamente indesejáveis. Pancadas nos juros, por exemplo, são tidas como efetivas na derrubada da inflação, mas detonam ainda mais o câmbio e, a esteira, as contas externas. Promover, de verdade, um corte radical nos gastos públicos ajudaria a esfriar os preços, mas contribuiria para desaquecer a economia talvez ao ponto de desestimular tão necessários investimentos.
O resumo da obra é que, enquanto o mundo gira, a política econômica do governo parece disposta a "fazer cera", à espera de mudanças no quadro internacional, aproveitando, enquanto isso, para tapar uns buracos nas contas públicas. Infelizmente, a História ensina que, quando se deixa a economia rolar, as reversões costumam ser abruptas e desastrosas.

GOSTOSAS

ANCELMO GÓIS - Gás mais caro


Gás mais caro
ANCELMO GÓIS
O GLOBO - 12/04/11

Proibida por Guido Mantega de aumentar o preço da gasolina, para não pôr lenha na fogueira da inflação e também evitar o desgaste popular da medida, a Petrobras encontrou uma forma de pendurar a conta. A estatal, sem muito alarde, comunicou às concessionárias
o aumento do gás natural em 10% a partir de 1ode maio.

Segue...

O gás natural no Brasil, que movimenta a indústria e uma frota de mais de 1,6 milhão de veículos, é considerado um dos mais caros do mundo. 

Diretor 
Caetano Caetano Veloso será diretor convidado do próximo Festival de Cinema de Telluride, no Colorado, EUA, cujo patrono é
Francis Ford Coppola. Caberá ao baiano escolher e apresentar os filmes exibidos na mostra. Já cumpriram este papel grandes
nomes como Peter Sellers, Laurie Anderson, Wim Wenders e Werner Herzog, entre outros. 

Percevejo ataca FMI
Enquanto o Brasil pena com o mosquito da dengue, os EUA pelejam com o... percevejo. Há uma infestação descontrolada dos “bed bugs”, como eles chamam lá, nas cidades americanas. A ponto de o FMI estar tendo dificuldade na busca por um hotel livre do bicho para sua reunião de primavera, que começa sexta, em Washington. 

Dilma em Cuba
O assunto já é tratado no Palácio do Planalto. Dilma deve ir a Cuba em data a ser marcada. 

Django no Rio
Franco Nero, o ator italiano conhecido pelo filme “Django”, chega ao Brasil em maio para estrelar o próximo longa da nossa diretora Lúcia Murat. Em “Sala de espera”, nome do filme, vai fazer par com Irene Ravache.

Fator aeroporto 
O Galeão-Tom Jobim não é o único aeroporto que causa dor de cabeça nos organizadores da Copa de 2014. O de Curitiba está com 15% das lâmpadas de balizamento da pista queimadas, o que impede pousos com nevoeiro, por exemplo.

Por causa disso...

Ontem de manhã, o Centro de Gerenciamento da Navegação Aérea suspendeu os voos São Paulo-Curitiba por 20 minutos. 

Ô, meu!
Flanelinhas de São Paulo cobravam, acredite, R$ 150 por uma vaga perto do Morumbi para o show do U2, domingo. Vários motoristas preferiram parar em lugar proibido e arcar depois com a multa de R$ 80, mais barata. E na saída, taxistas pediam R$ 150 por uma corrida que, no taxímetro, sairia por R$ 50. Deve ser terrível... você sabe.

Os brasileirinhos
 
Neguinho da Beija-Flor vai gravar uma música em homenagem às crianças mortas na escola de Realengo. A canção foi composta pelo
veterano Moacyr Franco. 

Mãos ao alto 
Sexta, por volta de 19h, assaltantes sequestraram um ônibus frescão que faz a linha Castelo-Itaipu, no Rio. O assalto começou pouco antes da entrada da Ponte Rio-Niterói. Uma parceira da coluna, a bordo, conta que “foi o maior terror”. Os ladrões levaram o ônibus para a Penha e roubaram todos os passageiros. 

Vida dura
É dura a vida dos vereadores do Rio. Ontem, o ar-condicionado da Câmara carioca pifou. O calor foi tão grande que Suas Excelências saíram para comprar ventiladores para seus gabinetes. Tadinhos... 

Sem batidão
Foi suspenso o baile funk na Ladeira dos Tabajaras, única comunidade pacificada do Rio autorizada a promover o evento. É que os organizadores não cumpriram as exigências da PM de melhorar a acústica e proibir a entrada de menores. 

Mundo animal
Ontem, por volta de 10h, o dono do Celta HGS 3169 parou num posto no Jardim Botânico, no Rio, e ao abrir o capô para ver a água... achou uma jiboia de uns 3m enrolada no motor. Foi o maior corre-corre, que só foi contido quando os bombeiros chegaram.

JOSÉ PASTORE - A desoneração da folha... na China



A desoneração da folha... na China
JOSÉ PASTORE
O Estado de S. Paulo - 12/04/2011

A presidente Dilma deve estar sendo bombardeada com milhares de informações sobre os vários aspectos da economia chinesa. No campo do trabalho, as notícias devem ser sobre o aumento meteórico dos salários que, no setor industrial, foi de 9% em média em 2010. Em muitas cidades, ultrapassou a casa dos 20%, por força de uma grave falta de mão de obra. Os sindicatos estão flexionando seus músculos. Quando os aumentos não saem por bem, saem por greve.

O que isso tem que ver com o nosso país? Muita coisa. O aumento de salários e do poder de compra dos chineses é bom para o Brasil poder vender mais para eles. Mas para vender, é claro, é preciso ter preço e qualidade.

O esforço da missão brasileira à China é de expandir não apenas a atual pauta de exportação, mas, sobretudo, ampliar a venda de produtos manufaturados. É aqui que o carro pega. São inúmeros os fatores que afetam a competitividade da nossa indústria. O salário médio da indústria brasileira é sete vezes maior do que o da chinesa. É uma distância fenomenal. E mais: em estudo recente, o Bureau of Labor Statistics (BLS) mostrou que o Brasil é o país que tem os mais altos encargos sociais do mundo (International comparisons of hourly compensation costs in manufacturing in 2009, BLS, Washington: News Release, 8/3/2011).

Quando se vive uma escalada salarial como a que ocorre no Brasil atual, é bom lembrar que quando os salários sobem, os encargos sociais (da ordem de 100%) sobem junto. Bem diferente é o caso da China. Mesmo nos casos em que os salários subiram 20% (depois das greves de 2010), as despesas com o fator trabalho se limitam praticamente aos salários e benefícios acertados entre empresas e empregados.

A China não dispõe ainda de uma Previdência privada generalizada. São poucos os grupos que as têm. As férias são limitadas a 8-10 dias por ano e as jornadas de trabalho, na prática, são muito mais longas do que as brasileiras.

Mais importante, a insegurança jurídica é mínima, comparada à do Brasil. Entre nós, o cipoal de leis e de jurisprudência é colossal e quase sempre obscuro, o que dá margem aos 2 milhões de ações trabalhistas por ano. Isso pesa muito no custo do trabalho. Pesam também as despesas com treinamento. Pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) indica que 74% das nossas indústrias têm de treinar a mão de obra, em muitos casos sem sucesso, por causa das graves carências dos trabalhadores nos fundamentos da educação elementar - o que na China já foi vencido para a maior parte da força de trabalho. Isso compromete o desempenho dos empregados. Pelo estudo do BLS acima citado, conclui-se que a diferença no custo do trabalho é muito maior do que a expressa pelos salários. Ela aumenta de forma expressiva quando se levam em conta o diferencial de produtividade e as despesas com encargos sociais.

É claro que eu jamais defenderei para o Brasil a adoção das condições desumanas da maioria dos trabalhadores chineses. Mas nós, brasileiros, podemos ter condições até melhores do que as atuais, se removermos os problemas que tanto encarecem o trabalho na indústria. A desoneração da folha é o primeiro passo. Mas, para uma solução realista, esse expediente requer profundas reformas nas áreas tributária e previdenciária, para não dizer na área do Poder Judiciário, para reduzir a insegurança jurídica que, em muitos casos, custa mais caro do que os próprios encargos sociais. Sim, porque estes, apesar de elevados, são conhecidos. Aquela explode de repente nos tribunais, ao revelar um passivo trabalhista que ninguém sabia.

Definitivamente, o ambiente de contratação do trabalho no Brasil não é favorável para enfrentar a concorrência da China, dos outros países da Ásia e os do Leste Europeu. Para corrigir esse desequilíbrio, não precisamos precarizar, mas, sim, modernizar as instituições do trabalho - a CLT, a Justiça do Trabalho e os sindicatos.

GIL CASTELLO BRANCO - De Lula para Dilma


De Lula para Dilma
GIL CASTELLO BRANCO
O Globo - 12/04/2011

A expressão "herança maldita" foi cunhada no Éden. Quando Adão foi flagrado consumindo a maçã proibida, disse: "Não fui eu, foi a mulher que Tu me deste." Eva, por sua vez, acusou a serpente. Apesar do jogo de empurra, ambos foram expulsos do paraíso. A partir daí, segundo a crença, homens e mulheres herdaram o pecado original.

Na política, a expressão tornou-se conhecida quando Lula passou a utilizá-la atribuindo aos governos anteriores tudo o que supostamente encontrou de errado ao assumir a Presidência da República. Na prática, uma forma de desconstruir as administrações anteriores, justificando as imperfeições da própria gestão.

Exageros à parte temos novas perspectivas. O Brasil adquiriu presença internacional, subiu no ranking das maiores economias mundiais e expandiu consideravelmente o mercado interno por meio da inclusão social e ampliação da classe média.

Na realidade, essas conquistas foram obtidas em cenário internacional favorável e com a colaboração de vários governos, inclusive dos ditos "ruins". Até de onde pouco se esperava veio algo de bom. Sarney, por exemplo, realizou a transição democrática, criou a Secretaria do Tesouro Nacional e o Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi). Collor, com todos os males, promoveu a abertura comercial e reduziu, à época, o tamanho do Estado. Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso criaram o real, a Lei de Responsabilidade Fiscal e domaram a inflação.

No momento, há que se perguntar: que legado Lula deixou para Dilma? Com certeza, até por lealdade, a presidente só irá comentar os diversos fatos positivos. Mas, na verdade, também são inúmeras as dificuldades e os desafios que ela enfrentará nos próximos anos.

Para começar, os ventos internacionais mudaram. A elevação abrupta dos preços das commodities (29% nos últimos 6 meses) está pressionando a inflação, que já toca no teto da meta. Adicionalmente, a dinheirama que o banco central americano injetou no planeta faz com que boa parte desses dólares passem férias no Brasil. Tal fato vem derrubando a cotação da moeda americana, que, na última sexta-feira, chegou a R$1,574. Finalmente, as revoluções democráticas na África e Ásia levaram o barril de petróleo a US$112, o maior valor alcançado há dois anos e meio. Assim, chegamos ao fim do primeiro trimestre do atual governo com inflação e juros altos, superávit e câmbio baixos. Arrumar esse vespeiro não será tarefa fácil.

Paralelamente, como nenhum governo aumenta salários e outras despesas de custeio impunemente, a conta da festa política chegou. Sob o ponto de vista orçamentário, Dilma herdou restos a pagar de aproximadamente R$128 bilhões, valores que estavam comprometidos nos orçamentos dos anos anteriores e não foram pagos nos respectivos exercícios. Como a arrecadação é finita, os gestores estão tendo que optar entre pagar as despesas roladas dos anos Lula ou aquelas previstas no orçamento de 2011.

Na tentativa de arrumar a casa, nos primeiros 3 meses do seu governo Dilma investiu apenas R$306 milhões com o orçamento de 2011, enquanto pagou R$7,9 bilhões de restos a pagar. Além disso, pretende cancelar, em 30 de abril, cerca de R$17 bilhões de compromissos assumidos em 2007, 2008 e 2009 que sequer foram iniciados. A ideia é boa mas, como diria Garrincha, é preciso combinar com os adversários - neste caso, os políticos, que certamente vão espernear.

Enquanto busca o equilíbrio econômico, o governo terá que realizar grandes investimentos em infraestrutura para evitar vexame internacional por ocasião da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos. Para mencionar apenas o principal gargalo, no primeiro bimestre de 2011 a Infraero investiu R$53,8 milhões, somente 2,4% do montante anual previsto.

A missão da presidente inclui ainda a modernização institucional, necessária tanto à democracia quanto ao sistema produtivo. A bem da verdade, as reformas política, tributária e trabalhista, itens fundamentais dessa pauta, não saíram do papel durante os oito anos do presidente Lula.

Como se vê, há muito pela frente devido ao que não foi feito no governo passado, fato até natural em processo histórico. Porém, considerando a relação política da atual presidente com o seu antecessor, a herança, quando maldita, não será mencionada. Nesse paraíso, a eventual culpa não será de Adão, Eva, Lula ou Dilma. Vai acabar sobrando para a serpente ou para a maçã...

ILIMAR FRANCO - Jucá: ‘É brincadeira’


Jucá: ‘É brincadeira’ 
ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 12/04/11

O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDBRR), está irritado com as propostas aprovadas pela Comissão da Reforma Política. Ele diz: “Estão criando uma confusão tão grande, inviabilizando a reforma. É brincadeira e delírio aprovar propostas que não condizem com a realidade.” Ele critica o voto em lista com cota de gênero, pois as mulheres são minoria na Câmara; e a candidatura avulsa para o Executivo, que estaria na contramão do fortalecimento das organizações partidárias. 

Volta da CPMF (CSS) não tem apoio 
O governo Dilma terá dificuldade para manter no texto da regulamentação da emenda 29 a criação da CSS, a nova CPMF. À exceção do PT, mais sensível ao Planalto, os demais partidos da base aliada estão começando a defender a elevação da receita líquida da União destinada à Saúde. Hoje, a Saúde recebe cerca de 3,7% da receita líquida. Os governistas querem que esse percentual passe a ser de 7%. Sustentam que dessa forma a Saúde passaria a ter a mesma prioridade da Educação, que já recebe esses 7%. A posição final do governo sobre o tema vai depender de um estudo que a presidente Dilma encomendou à FGV. 

"Tem que parar com esses fogos de artifício contra a honra das pessoas” — Henrique Alves (RN), líder do PMDB na Câmara , sobre o arquivamento, pela Procuradoria da República, de denúncia contra o vice Michel Temer

DIPLOMACIA. Para traçar a estratégica jurídica e diplomática que o governo brasileiro vai desencadear, a ministra Maria do Rosário (Direitos Humanos) se reúne hoje à tarde com Silvana Bianchi, avó do menino Sean Goldman. Desde que ele foi morar nos Estados Unidos, com o pai, David, este não permite que os avós o visitem. O governo brasileiro decidiu dar apoio aos familiares de Sean e vai
à luta para garantir o direito de visita da avó. 

Os fatos
Quando o prefeito Gilberto Kassab (SP) começou a se movimentar para sair do DEM, o tucano José Serra pediu que ele fosse para o PSDB. Mas Kassab preferiu fundar um novo partido, o PSD, que vai aderir ao governo Dilma Rousseff.

E o social?
Demistas ironizam o PSD, criado pelo prefeito Gilberto Kassab. Lembram que São Paulo tem direito a 327 mil beneficiários no Bolsa Família, mas só cadastrou 196 mil; e que a morte de gestantes é 14% acima da média nacional.

De malas prontas
O ex-deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR) espera a convenção estadual do PSDB, domingo, para deixar o partido rumo ao PSD. Ele quer disputar a prefeitura de Curitiba, mas o plano do governador tucano Beto Richa é apoiar a reeleição de Luciano Ducci (PSB). Gilberto Kassab ofereceu a Fruet a vice-presidência nacional da nova sigla. No Paraná, o partido terá como um de seus coordenadores
o ex-deputado federal Alceni Guerra. 

Prioridades 
O ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) disse que o Terceiro Pacto Republicano, de aprimoramento do Judiciário, sairia até o final de maio, mas até hoje não nomeou o secretário de Reforma do Judiciário. Marcelo Campos é interino.

Os óculos
Quando esteve com a presidente Dilma, o roqueiro Bono contou que, quando ganhou um crucifixo de presente de João Paulo II, o Papa pediu para experimentar seus óculos. Bono: “Quer que eu lhe mande a foto?”. Dilma: “Manda!”

 O CANDIDATO da presidente Dilma Rousseff e do expresidente Lula para a prefeitura de São Paulo é o ministro Fernando Haddad (Educação). 
 O PSB está pressionando para que o ex-governador Iberê Ferreira (RN) seja nomeado para uma das diretorias do Banco do Nordeste. 
● O SENADOR Francisco Dornelles (PP-RJ) será reconduzido à presidência do PP hoje, e amanhã ele entrega ao presidente do Senado, José Sarney (PMDBAP), as conclusões da Comissão de Reforma Política.

GOSTOSA


TUTTY VASQUES - Que Napoleão é esse?



Que Napoleão é esse?

TUTTY VASQUES
O ESTADO DE SÃO PAULO - 12/04/11

Chefe de praticamente todas as guerras em andamento nos quatro cantos do mundo, Nicolas Sarkozy pode ter bombardeado a Líbia, a Costa do Marfim e o Afeganistão mirando numa dúvida cruel dos franceses: afinal de contas, o atual presidente da República se parece mais com Napoleão I ou com Napoleão III?

O gosto pela guerra que vem demonstrando ultimamente aproxima Sarkozy da imagem do fundador do império, o Bonaparte famoso pelo gênio estrategista militar. O presidente quer ser comparado a Napoleão I, e nem se importa que lembrem do 1,68m de altura, comum aos dois. Prefere ser reconhecido como um baixinho dinâmico e guerreiro a se celebrizar na França, como querem alguns historiadores, pela estatura moral semelhante a de Napoleão III.

Conhecido como "Napoleão, o Pequeno", o sobrinho de "Napoleão, o Grande" teria em comum com Sarkozy o narcisismo, o populismo, a gabolice, a hiperatividade, o ilusionismo político, a ostentação e a submissão aos amigos ricos.

Por muito menos, convenhamos, a França declarou guerra a praticamente toda a Europa na virada do século 19.

Código Da Vinci
A Paixão de Cristo de Nova Jerusalém revive em seus bastidores uma fofoca bíblica: Thiago Lacerda, no papel de Jesus, é casado com Vanessa Lóes, intérprete de Maria Madalena. Só se fala disso no Vaticano!

Presente de grego
Em visita a Atenas, Dilma Rousseff sugeriu obras do PAC nas ruínas do Parthenon. Achou tudo meio caído por lá!

Páreo duro

Adriano está mais gordo que o Ronaldo quando chegou ao Corinthians? Só se falava disso no Pacaembu, após a apresentação do Imperador à torcida do Timão.

Só o que faltava!

Cesar Maia e Anthony Garotinho estão querendo juntar os filhos na chapa Rodrigo & Clarissa para concorrer à prefeitura do Rio em 2012. É mais um duro golpe na história recente da oposição no Brasil.

Tesouro líbio

Em suas últimas aparições públicas, Muamar Kadafi está sempre com a mesma indumentária marrom. Isso quer dizer o seguinte: o guarda-roupa do ditador já deve estar a salvo fora do país.

Câmbio genérico

Não sei se isso serve de consolo ao ministro Guido Mantega, mas Rubinho Barrichello abandonou o GP da Malásia com problemas no câmbio.

Agora vai!

Refundada dia desses em discurso de Aécio Neves no Senado, a oposição começa, enfim, a se articular para a festa dos 80 anos de FHC, em junho. O governo não perde por

esperar!

Tudo tem seu lugar

A tragédia pune! Faustão levou o massacre da escola de Realengo para comover seu auditório e, resultado, perdeu pro Gugu em pontos de audiência.

ARNALDO JABOR - Eu sou a falsa loura burra


Eu sou a falsa loura burra

ARNALDO JABOR
O ESTADO DE SÃO PAULO - 12/04/11
"O que eu acho da mulher brasileira? Ah, sei lá, mil coisas... Eu sou a loura burra... é... (risos). Se eu não tenho opinião? Claro que tenho, cara, mas tenho de fingir que sou burra, senão os homens fogem de mim feito o diabo da cruz. Posso falar ‘mil coisas’, sim, sobre as mulheres, mas não espalha - só falo ‘off the record’. Viu? Inglês... Só falo anonimamente... É, sou culta, mas bico calado.

Vamos lá: eu acho o feminismo no Brasil um luxo de elite. Muitas mulheres de classe média resolveram de certo modo ‘assumir’ sua inferioridade social, como se fosse uma espécie de ‘libertação’. É só olhar as revistas masculinas. Ali, estão as desesperadas poses de peitos e bundas ostentando ‘independência’, ‘liberdade’...


Não se trata de a mulher entrar no mercado de trabalho, não é a busca fraternal do diálogo com o parceiro amado. O que está acontecendo no Brasil é a libertação da ‘mulher-objeto’. Não estão virando ‘sujeitos’ livres, não; elas querem ser mais ‘objetos’ ainda. É isso: o ‘sujeito’ tem limites, tem angústias; já o ‘objeto’ é mais feliz, não sofre. Por isso, somos associadas a marcas de cerveja, a pasta de dentes, a produtos de limpeza. A publicidade é toda em cima de sexo.


As mulheres querem a felicidade das coisas. Querem ser disputadas, consumidas, como um bom eletrodoméstico. E eu participo da farsa. Veja este horrendo vestido que tenho de usar: ouros, rendas, paetês - uma caricatura da corte de Luís XV. Em suma, posso ser a Bovary, a Pompadour, a Paris Hilton, a Julieta, posso ser tudo... Veja meu tipo. Quem sou eu?...


Cumpro todas as regras: peitos de silicone, coxas lipoaspiradas, bunda soerguida, sorriso debochado; tudo excessivo - curvas, volutas, refolhos, arrebiques que nos dão um ar de prostituta que subiu na vida. Mas sei também usar olhares profundos de mulher apaixonada, tudo iluminado pelos indefectíveis sorrisos largos que podem oscilar do ‘romântico maternal’ para o ‘joie de vivre’ das coquetes, mas sempre sorrisos, dentes brancos, porque a tristeza não é ‘comercial’.


É preciso dar inveja aos leitores das colunas sociais, onde se passa a ‘vida feliz’, longe do desemprego, da política, das crises econômicas.


Fingimos de bobas, mas queremos poder. Para isso é necessário uma permanente estratégia de controle sedutor sobre a lerdeza dos machos, pela histeria, pela dissimulação, pela voz doce e fina, mas cheia de perigos velados, sutis ameaças agressivas, para mantê-los com medo dos chifres... Senão, o cara não nos respeita; ele nos pega, nos come e joga fora... Ele tem de ter inveja da nossa vagina, de nossa beleza. Nosso doce veneno tem de controlá-los; além de seduzi-los, temos que fazê-los inseguros. Temos de instilar perigo no coração dos homens, para conseguir deles um poder dependente que nos legitime na sociedade...


Se, antes, as mulheres eram escravas passivas, hoje somos ativas, mas continuamos escravas. Somos aparentemente livres, mas sempre referenciadas ao macho impalpável, ao macho ignorante, ao macho que detém o poder que queremos conquistar.


Mesmo sendo frígidas, temos de insinuar grandes desempenhos sexuais. Não prometemos carinho; temos de prometer ‘funcionamento’. Não é por acaso que eles nos chamam de ‘aviões’. Temos de fasciná-los como um carro de luxo. Nunca dê garantias de fidelidade a um homem. Homem só ama mesmo pelo ciúme. Só amam quando perdem... Só o corno conhece o verdadeiro amor... Os homens deviam agradecer às adúlteras pela paixão que experimentam; deviam dizer: ‘Obrigado por me traíres’...


A revolução feminista no Brasil é a dança da garrafa... As bundas estão virando uma utopia. O sexo total que nossas gostosas prometem é impossível... Muitas têm boquinhas tímidas, algumas sugerem um susto de virgens, outras fazem cara de zangadas, ferozes gatas - mix de menina com doce vampira. Os peitos de silicone estão cada vez maiores, depósitos de leite venenoso... Outro dia, um cara quase morreu - engoliu silicone da namorada...


Nunca fomos tão nuas. Não há mais o que mostrar... Já mostramos o corpo todo, só faltam os órgãos internos... O que mais?


Ficamos em acrobáticas posições ginecológicas para raspar os pelos pubianos nos salões de beleza. Ficamos penduradas em paus-de-arara e, depois, saímos felizes com apenas um canteirinho de cabelos, como um jardinzinho estreito, e não mais as florestas que assustam os tímidos... Parecem uns bigodinhos verticais que lembram Hitler ou bigodinhos nordestinos, sabe de quem, né?


Vejam as popuzudas e cachorras. Não há mais o que rebolar... Sua nudez ameaça, assusta, se bem que, na vida real, querem apenas casar e ter filhos. Há uma hipersexualização nos costumes femininos que, na verdade, dissimula uma assexualidade mecânica...


Nunca vimos tanta propaganda de sexo te levando a comprar um sabonete ou a beber uma cerveja. A propaganda nos promete uma suruba transcendental que nos deixa com a sensação de que nosso sexo é menor, mixuruca, diante de tanto ardor.


Os sonhos viraram produto: revolta, igualdade, utopias, até o desespero e a angústia passaram a vender roupas e costumes.


A pessoa não tem mais um corpo; o corpo é que tem uma pessoa, frágil, tênue, morando dentro dele.


Onde estão elas no meio desses tesouros perfeitos? Aprisionadas em seu destino de sedutoras profissionais, talvez até com um vago ciúme de seu próprio corpo.


Somos inseguras e neuróticas, mas, nas revistas, parecemos até dispensar parceiros, parecemos namoradas de nós mesmas.


A democracia de massas parece "libertar" as mulheres, mas, numa sociedade ignorante como a nossa, deu nisto: a bunda é a esperança de milhões de cinderelas. O corpo tem de dar lucro. Se alguma mulher ficar famosa, tem de tirar a roupa.


A liberdade de mercado produziu um estranho mercado da liberdade. A libertação da mulher no Brasil de hoje é uma vingança conservadora... Viu só? Eu sou uma falsa perua, sendo-a...


Agora, não vai revelar meu nome aí nesta revista, senão meu marido me mata!".

LUIZ GARCIA - Caminhos


Caminhos 
LUIZ GARCIA

GOLBO - 12/04/11

Se o criminoso morreu no local do crime, podemos dizer que, fora chorar os mortos, nada mais é necessário fazer? O horrível episódio se encerra, com grande tristeza e nenhuma providência? Nenhuma dívida com o futuro?
Assim parece ser, pelo que lemos e ouvimos. Mas não está certo, nem é prudente. Pode-se dizer, com resignada tristeza, que a loucura de uns poucos sempre será inevitável. Que estaremos, aqui como em outras sociedades, sempre vulneráveis à violência súbita, sem qualquer causa identificada, de cidadãos aparentemente pacatos e conformados.
Como acontece, por exemplo, nos Estados Unidos. Lá, razões históricas, associadas à história da independência do país, agravam o problema. O direito a posse e porte de armas individuais está determinado na Bill of Rights, um adendo à Constituição que especifica condições e limites para a subordinação dos cidadãos ao poder do Estado.
O que produz, na opinião de muitos, contestada por outros tantos, a facilidade com que, de tempos em tempos, uns cidadãos - quase sempre, jovens sem passado criminoso, ninguém ainda explicou direito por que - saiam de casa para fuzilar o maior número possível de pessoas e morrer em seguida.
Se acontece no país mais rico do mundo - onde, por isso mesmo, espera-se ingenuamente que as pessoas sejam mais equilibradas - por que não aqui? Pode-se usar o argumento banalíssimo de que riqueza não é garantia de felicidade.
Mas o que interessa mesmo talvez seja reconhecer honestamente que a sociedade moderna, em qualquer lugar, não dispõe de instrumentos para se proteger da loucura inesperada. Com o adendo comodista de que ela se manifesta tão raramente que não vale a pena enfrentar esse problema agora. Adiante, com mais calma, a gente trata disso, não é mesmo?
Na verdade, não é mesmo, não. A tragédia da semana passada no Rio merece mais do que tristeza e indignação: merece respeito. Se não é possível, aqui como em qualquer país, identificar o potencial psicótico de alguns cidadãos, vale a pena reabrir a discussão sobre a posse e o porte de armas. Se não há como acabar com o seu comércio, sempre é possível regulamentá-lo e limitá-lo severamente, além dos limites legais que existem hoje.
Para começo de conversa, vale um esforço para descobrir como o revólver do crime chegou às mãos do assassino louco de terça-feira passada. Ele deve ter um número de registro indelevelmente gravado. Pode ser o ponto de partida para reconstituir a sua história e, quem sabe, ensinar-nos a tornar mais severo e eficaz o controle sobre o comércio de armas no país.
Não será a primeira vez que tragédias nos mostrarão melhores caminhos para tornar a nossa sociedade um pouco menos vulnerável à violência. 

JAIRO MARQUES - Cuidando da vida dos outros


Cuidando da vida dos outros 
JAIRO MARQUES

FOLHA DE SÃO PAULO - 12/04/11

Dá pra lotar uma Kombi se juntar o povo todo do país que carece de cuidados mais diferençado para tocar o cotidiano. Aquele pessoal que a gente olha e pensa: "Esse aí deve dar um trabaaaalho danado"!
Alguns "tetrões" -tetraplégicos para os mortais comuns- possuem limitações severas não só nas pernas mas também no tronco, no pescoço, nos braços. Sabe os bonecos mamulengos do Nordeste? Então...
Isso não quer dizer que eles não tenham seus coraçõezinhos pulsantes e plenas condições de ter uma rotina de afazeres, de trabalhar, de ter família e de pagar imposto para a Dilma. E também não quer dizer que, igual a cocar de índio, eles precisem de pena. Um cuidador jeitoso e capacitado resolve de boa.
Assim como "tetrões", algumas pessoas que labutam contra doenças degenerativas ou que sofreram traumas graves e até mesmo idosos podem precisar de apoio para levar a vida. É uma ajudinha básica para lavar as partes, outra para conseguir levar o garfo à boca, mais uma para espantar a muriçoca da cara ou mesmo um apoio para se levantar da poltrona do vovô e se sentar na cadeira de rodas elétrica. Ops, essa dá choque. Melhor uma cadeira motorizada.
Aqui no Brasil, o papel do cuidador acaba, muitas vezes, sendo desenhado pela família. É aquela cultura da música brega do Peninha, que o Caetano floreou e que a gente sempre se pega cantando baixinho: "Quando a gente gosta, é claro que a gente cuida". São pais, mães, irmãos que passam a se empenhar, na cara, na coragem e na força, para cuidar da vida de um ente que carece de apoio.
Semanas atrás, até uma atriz famosa, a Christine Fernandes, que é um pitéu, anunciou que deixaria de estar à frente de um programa de TV para cuidar do pai, que está na trincheira contra a leucemia.
Acontece, porém, que disposição, boa vontade e carinho jamais vão se sobrepor ao preparo técnico para ajudar alguém. Como diria o falecido Tim Maia, "faz de conta" que você queira dar uma "hand" para um primo mais pesado que cesta básica de Natal se levantar da cama. Sem preparo, é bem possível que se estupore alguma veia do pescoço e não se consiga êxito na missão.
Um profissional ou alguém com treinamento manda lá uma manobra ninja e, em segundos, levanta o cabra com segurança e precisão. Além do conforto de uma ação mais rápida, um cuidador preparado pode dar muito mais autonomia para o viver de quem precisa dele, uma vez que um familiar, mesmo não tendo a intenção, pode representar uma invasão permanente.
"Ficadica" do filme "Os Melhores Dias de Nossas Vidas", de 2004, dirigido por Damien O"Donnell, em que um tetraplégico e o amigo com paralisia cerebral enchem o saco de viverem em uma instituição de apoio ao mal-acabado e resolvem arriscar a vida morando sozinhos. Eles contratam uma cuidadora e se divertem um bocado.
Iniciativas de treinar o povo para ajudar a aprumar o cidadão que precisa de cuidados, por enquanto, são tocadas apenas por alguns hospitais e associações. Será que nem capacitar gente para garantir mais qualidade de vida, independência e dignidade ao pessoal que, literalmente, não se vira o governo conseguiria bancar?

DORA KRAMER - Patrimônio nacional


Patrimônio nacional
DORA KRAMER

O ESTADO DE SÃO PAULO - 12/04/11

O marco dos primeiros 100 dias de governo Dilma Rousseff é a avaliação positiva em diversos aspectos, acentuadamente na atenção aos direitos humanos no tocante à política externa e no estilo mais realista em comparação ao escapismo populista do antecessor.
O início, porém, é marcado também pela volta à cena de um problema já há algum tempo distante das preocupações nacionais cotidianas: o aumento dos preços e o temor de que o governo não consiga dar combate adequado ao crescimento da inflação.
Este ano já não há mais possibilidade de que o índice seja mantido no centro da meta (4,5%) e há o risco de ultrapassagem do teto de 6,5% ao ano. O Ministério da Fazenda anuncia uma medida atrás da outra e, por enquanto, a despeito da aparência de tranquilidade do Planalto, têm sido em vão.
A inflação sobe e isso é possível afirmar sem nenhuma especialização no tema, bastando uma ida ao verdureiro da esquina. Com ela cresce o temor de seja posto em risco o verdadeiro "turning point" na vida nacional: a derrubada da inflação que nos anos 90 propiciou tudo o que de bom aconteceu ao Brasil em termos econômicos e sociais.
Evidentemente seria leviano afirmar que o governo esteja desatento ao fato. Até por uma questão de sobrevivência política é claro que a presidente Dilma tem plena consciência de que o êxito ou o fracasso de seu governo depende de sua capacidade de aplicar o remédio certo na dosagem exata.
A discussão sobre a melhor medicina e seus intrincados detalhes é assunto para especialistas. A escolha entre se arriscar ao retrocesso inflacionário e sofrer os revezes da redução significativa do crescimento, no entanto, é o dilema óbvio vivido pelo governo.
Por ora ainda é uma questão debatida nas páginas reservadas ao noticiário econômico. Mas, se perdurar, logo passará a ser assunto tratado pelos políticos, que, salvo exceções, não têm dado ao problema a dimensão merecida. Daí a repercutir nos índices de popularidade herdados do governo anterior é só uma questão de tempo.
Lula não fez sucesso porque animou com competência o auditório, mas porque pôde fazê-lo em função da acertada opção por um controle rigoroso da inflação e preservação da estabilidade como patrimônio nacional no primeiro mandato.
Com a alteração das condições internacionais extremamente favoráveis vividas até os últimos anos da última década e o afrouxamento nos gastos somados a estímulos que deveriam ter sido revistos assim que os efeitos da crise de 2008, mas não foram para garantir a realização de eleições presidenciais em clima de euforia econômica, sobrou para Dilma segurar o rojão.
De proporções ainda não claramente delineadas, mas com potencial de destruição que não deixa dúvida quanto à enormidade do desafio que a presidente tem pela frente: ou dá conta do recado ou pode dar adeus à reeleição.
Os petistas podem até não ter grandes preocupações políticas com a hipótese de um desastre, pois em caso de desastre Lula volta à cena em 2014.
Mas o País, cuja prioridade não é o projeto político-eleitoral de quem quer que seja, tem razões de sobra para temer uma volta ao passado de incertezas, depois de ter experimentado viver na companhia de uma economia de moeda estável.
Contraponto de fato. O senador tucano Álvaro Dias fez ontem um diagnóstico dos 100 dias de governo Dilma Rousseff que pode ser considerado o primeiro pronunciamento realmente oposicionista.
Radiografou a situação com números, e a resumiu politicamente: "Herdeira dos danos e erros gerados pelo governo anterior, não pode enfrentar com transparência a verdadeira herança maldita recebida, primeiro porque foi responsável e ativa geradora, como administradora geral dos programas governamentais. Segundo, porque sua eleição deveu-se à acachapante popularidade fabricada pelo festival de irresponsabilidades fiscais do governo Lula".
Para ele, "o governo vem cultivando o mutismo não por respeito à liturgia presidencial, mas para evitar o confronto com o antecessor". 

A CUECA DE LULA, SEMPRE CHEIA DE MERDA

JOÃO PEREIRA COUTINHO - Homens inteiros


Homens inteiros
JOÃO PEREIRA COUTINHO 
FOLHA DE SÃO PAULO - 12/04/11

Em "Homens e Deuses", filme de Xavier Beauvois, aprendemos que a fé é uma forma de coragem


POIS É: a Europa pode estar em crise, economicamente falando, mas por vezes ainda existem uns sopros de vitalidade. Artística, entenda-se, vitalidade artística. Valha-nos ao menos isso.
O cinema francês é um caso e os brasileiros podem comprovar o que digo. Basta que assistam ao filme de Xavier Beauvois, "Homens e Deuses", que finalmente desembarcou nas salas do Brasil [estreia nesta sexta]. A Páscoa sempre foi um tempo de milagres.
Comentário breve: é a melhor colheita cinematográfica de 2011 até o momento. Desconfio que será a melhor nos meses que faltam.
Comentário longo: é muito mais que um exercício piedoso e ecumênico sobre a tolerância religiosa e interreligiosa, como dizem os críticos.
É um filme sobre a fé, esse tema arcano e intangível que povoa o melhor cinema dos "mestres do norte", como Carl Dreyer (1889-1968) ou Ingmar Bergman (1918-2007).
E ainda oferece, como complemento, a mais bela "última ceia" que o cinema recente produziu. Mas vamos por partes.
Premiado no Festival de Cannes, "Homens e Deuses" é a história, aparentemente simples, da vida simples de oito monges cistercienses que vivem, rezam e trabalham em país do norte de África.
Vivem em paz entre si e, mais importante, com a população muçulmana local, que acorre ao mosteiro em busca de consolo físico e até metafísico -cuidados de saúde, conselhos sentimentais, comentários religiosos. O fato de uns lerem a Bíblia e outros o Corão não impede uma irmandade sacramental perante as perplexidades da existência.
Mas essa concórdia será abalada por aqueles que transformam a religião em arma de guerra. O fundamentalismo islâmico começa a rondar a aldeia. Os terroristas também. Existem notícias de massacres contra estrangeiros, mulheres, imãs.
A população é tomada pelo medo. Os monges são avisados pelas autoridades nacionais: para que partam de imediato, antes que a tragédia se abata sobre o mosteiro. Avisos sábios.
Mas como partir assim, de uma hora para a outra, abandonando a aldeia ao seu destino? E partir para onde, se a existência trapista implicou o abandono e a renúncia de uma vida anterior?
São dilemas terríveis e o melhor do filme está nessas agônicas indecisões. E no calvário espiritual que elas implicam: o confronto humano, demasiado humano, com o medo, com a covardia e até com a descrença. "Morrer pela fé não deveria impedir-me de dormir", diz um dos monges insones ao irmão superior, com lágrimas de vergonha. Mas será possível pedir tanto a tão poucos?
A resposta vem no Livro: esse tanto já foi pedido a um só. E não é por acaso que o primeiro confronto com os terroristas se dá na noite de Natal. A noite em que os monges se preparam para celebrar um nascimento humilde que libertou os homens da morte. E do medo da morte.
Libertação do medo da morte: haverá forma mais eloquente de traduzir a fé dos que acreditam?
O irmão superior, em comunicação final aos demais, responde e clarifica: depois da primeira visita dos terroristas, e antes que a última se aproxime, ele entendeu que só havia uma coisa a fazer. Continuar.
Dia após dia, com tarefas de todos os dias: cuidar dos doentes; cuidar dos irmãos; cuidar do mosteiro.
E abandonar todo o medo da morte porque só nesse abandono é possível nascer e renascer outra vez. Como homens inteiros, para quem a vida não é uma desculpa ou um castigo; mas um compromisso até o fim.
Não conto esse fim, filmado sob neve e em silêncio. Prefiro regressar ao mosteiro e vislumbrar, naquelas oito vidas, a metáfora essencial sobre as nossas próprias vidas.
Como os monges, caminhamos sobre gelo fino, que um dia se abrirá para nós também. Mas poucos se lembram dessa verdade que nulifica toda vaidade humana.
E, quando a lembramos, é para fugir desesperadamente dela com simulacros de esquecimento -a tentação da covardia que visitou os irmãos e por eles foi derrotada.
No primoroso filme de Xavier Beauvois, aprendemos que a fé é sobretudo uma forma de coragem: a coragem dos que olham a morte de frente e, apesar disso, ou talvez por causa disso, se recusam ir a enterrar antes do tempo.

CELSO MING - A reboque das expectativas


A reboque das expectativas
CELSO MING

O ESTADO DE SÃO PAULO - 12/04/11

É visível a deterioração da credibilidade do Banco Central e do governo na condução das expectativas do mercado.
Ninguém mais crê em que a inflação medida pelo IPCA feche o ano em 5,6%, como previu o Banco Central em seu Relatório de Inflação. Ontem, o Relatório de Mercado, feito pelo Banco Central em sua Pesquisa Focus, apontava um salto ao final de 2011 de 6,26%. Uma semana antes, a média das projeções estava nos 6,02% (veja gráfico).
Os observadores vão se dando conta das inconsistências dos administradores da política econômica - e não apenas do Banco Central. As apostas do governo em que os preços internacionais das commodities recuarão ou permanecerão estáveis não são coerentes com a hipótese assumida pelas autoridades de recuperação dos países industrializados. E, na semana passada, o Fundo Monetário Internacional divulgou estudo que adverte para o inevitável aumento dos preços do petróleo a mais longo prazo (veja o Confira). Isso significa que não dá para contar com esse fator baixista da inflação interna e é perigoso comprometer o caixa da Petrobrás, que precisa urgentemente investir, para estimular o consumo de combustíveis com preços artificialmente baixos.
Os modelos do Banco Central para aferir o pulso da inflação futura levam em conta que os preços da gasolina permanecerão estáveis. Os fatos já desmentem essa projeção, na medida em que os preços internos da gasolina subiram 7,4% nos últimos seis meses, unicamente em razão da alta do etanol que vai na mistura carburante. Fora isso, cada vez mais os observadores entendem que é inevitável a elevação dos preços da própria gasolina, ao passo que parece improvável que os preços internacionais do petróleo recuem para abaixo dos US$ 100 por barril de 159 litros.
Os preços começam a se movimentar desde agora por outro fator já contratado pelo governo: o reajuste de 14% do salário mínimo em 2012. Num regime de quase pleno emprego e de forte escassez de mão de obra, esse é um fator que qualquer planejador considera na sua estrutura de custos. Além disso, essa paulada no salário mínimo será um importante propulsionador das despesas correntes do setor público. No entanto, até agora, o Banco Central não foi capaz de reconhecer o impacto desse fator em seus textos oficiais, que avaliam o comportamento futuro da inflação.
Também tira credibilidade esse jogo de gato e rato das autoridades da Fazenda e do Banco Central nas suas tentativas de conter ora o forte avanço do crédito, ora a excessiva valorização do real, sem definir claramente o alvo prioritário. São restrições que vêm sendo feitas à base de improvisações e casuísmos e deixam soltos segmentos inteiros da economia, como o setor de serviços, o crédito imobiliário, o leasing, o cheque pré-datado e os financiamentos do BNDES.
Não é preciso ser estrategista para entender que qualquer batalha se ganha, primeiramente, no campo da comunicação. O governo Dilma está perdendo a batalha pela conquista dos corações e mentes. E o Banco Central, tão ciente da importância da condução das expectativas, vai ficando a reboque também aí, porque mostra excessiva tolerância com seu principal inimigo.

JANIO DE FREITAS - Os dois canhonaços


Os dois canhonaços
JANIO DE FREITAS

FOLHA DE SÃO PAULO - 12/04/11

HIPOCRISIA É RIMA fácil para diplomacia, na prática verbal entre as nações, mas em dois casos semelhantes o Brasil ameaça levar a combinação a extremo que vai do irracional ao ridículo vergonhoso.
Por certo, receber dois canhonaços internacionais em uma semana é embaraçoso. Foi o caso do pedido, feito pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA), de suspensão do licenciamento ambiental e das primeiras ações locais para construção, no Pará, da usina de Belo Monte. O fundamento principal do pedido é a defesa dos direitos humanos dos índios da região e das comunidades mistas, a serem desalojadas de seu habitat natural.
Foi ainda o caso, logo depois, do relatório anual do governo dos Estado Unidos sobre direitos humanos no mundo. O Brasil é criticado pelo que o relatório considera pequeno avanço no combate a variadas formas de violência, desde as execuções feitas por policiais até a censura de imprensa determinada por alguns juízes.
É óbvio que o governo dos Estados Unidos não está isento de transgressões aos direitos humanos, nem sequer minimamente. Seja em sua presença pelo mundo afora, seja na realidade interna, com a ferocidade policial voltada contra negros e "hispânicos", o tratamento às vítimas de suspeição gratuita de terrorismo e a escassa assistência à pobreza, por exemplo. Não por outros motivos o relatório e os comentários de Hillary Clinton tiveram a prudência de falar dos outros, nada sobre os Estados Unidos.
Mas o argumento da falta de autoridade factual e moral dos americanos, usado na primeira reação do governo brasileiro, é um escapismo comprometedor. Primeiro, porque há muitas verdades contidas nas referências negativas ao Brasil de 2010. Adotar qualquer reação que implique não as admitir é hipocrisia, se aqui dentro todos dizemos, todos os dias, a mesma coisa a respeito de nossas adversidades sociais, das polícias, da violência contra a mulher e a infância, da insegurança urbana.
Além disso, se não há como esconder ou negar o verdadeiro, há o que mostrar. O avanço em várias daquelas frentes não tem sido pequeno, e não é de hoje. Há o suficiente para dizer e calar o que seja desproporcional na acusação.
O licenciamento de Belo Monte foi motivo de longo enfrentamento dentro do governo Lula. As medidas que o governo adotou em atenção às reclamações sofreram, todas, de uma insuficiente definitiva: já nasciam enfraquecidas pela determinada vontade do governo de fazer a usina. Belo Monte, Jirau, Santo Antônio igualam-se nas mesmas polêmicas irresolvidas.
O Brasil tem experiência nesse sentido, com suas usinas. Tucuruí, para citar um caso, deve passar à história como desastre combinado de engenharia, de destruição da natureza animal e vegetal, e da prepotência. A área inundada se mostrou muito maior do que a prevista; a quantidade de animais mortos é inimaginável; a inundação da floresta, com perda de uma riqueza imensa em madeira nobre e em promessas bioquímicas, chegou a obstruir as turbinas com restos e com a quantidade imprevista de resina.
Nelson Jobim, da Defesa, acha que o documento da OEA deve ser devolvido, simplesmente. O Itamaraty manifestou preferência por uma resposta dura, nesta semana. Mas a OEA, que não tem na história lugar admirável, ao menos por sua Comissão de Direitos Humanos está mais correta do que o seu filiado Brasil, a respeito de Belo Monte. E da hipocrisia como rima de diplomacia.

VLADIMIR SAFATLE - Aquém da opinião


Aquém da opinião
VLADIMIR SAFATLE
FOLHA DE SÃO PAULO - 12/04/11

A democracia é o regime que reconhece o direito fundamental à liberdade de expressão e opinião. No entanto ela também reconhece que nem tudo é objeto de opinião.
Uma opinião é uma posição subjetiva a respeito de algo que posso ser contra ou a favor. Mas há coisas a respeito das quais não é possível ser contra. Por exemplo, não posso ser contra a universalização de direitos e a generalização do respeito a grupos sociais historicamente excluídos. Ao fazer isto, coloco-me fora da democracia.
Por isso, há certos enunciados que simplesmente não têm o direito de circular socialmente. Por exemplo, quando alguém fala que os judeus detêm o controle financeiro do mundo, que os negros são inaptos para o trabalho intelectual, que os muçulmanos são terroristas ou que os homossexuais são promíscuos e representam uma vergonha para seus pais, não está enunciando uma opinião.
Na verdade, está simplesmente reiterando enunciados cuja única função é estigmatizar grupos, alimentar o desprezo e diminuir nossa indignação diante da violência contra eles.
Veja que coisa interessante.
Nenhum racista diz que é racista. Normalmente, seus enunciados são do tipo: "Não sou racista ou preconceituoso, mas é fato que nenhum pai quer ter um filho homossexual" ou "mas é fato que os negros nunca inventaram nada intelectualmente relevante".
Ou seja, ele apenas está dizendo "as coisas como são", mesmo que, no fundo, esta descrição vise sorrateiramente contrabandear um julgamento de valor.
O pressuposto implícito é: "Se as coisas são como são, é importante que elas continuem assim". Quem usa enunciados dessa natureza não está disposto a descrever uma realidade, mas a perpetuar uma situação socialmente inaceitável.
Por isso, que um deputado sinta-se livre para alimentar a máquina social de exclusão e preconceito ao proferir as barbaridades de praxe contra os homossexuais, eis algo que fere radicalmente a democracia. Diga-se de passagem, tal deputado já deveria ter sido cassado desde que afirmou ser a favor da tortura em prisões.
Mais uma vez, não se trata de opinião, mas de inaceitável apologia a um crime contra a humanidade.
Mas é certo que a violência, real e simbólica, contra os homossexuais só diminuirá quando eles forem reconhecidos em sua radical condição de igualdade.
A democracia não conhece meio-termo, seu igualitarismo deve ser absoluto. Isso significa que nada justifica que eles não possam ter direitos elementares, como constituir família, casarem-se e adotarem filhos. Famílias homoparentais não são mais problemáticas do que qualquer família de heterossexuais.

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE


Tucanos no ninho
SONIA RACY
O ESTADO DE SÃO PAULO - 12/04/11

Ao deixar o cargo de dirigente do diretório municipal do PSDB, domingo, José Henrique Reis Lobo fez discurso pregando a unidade do partido. E pedindo entendimento na composição de chapa única para a Executiva da legenda.

Alckmin falou em seguida a Lobo, durante o evento na Câmara Municipal. Na mão contrária, ressaltou ali que o partido não deve ter medo de disputas. Elas seriam saudáveis, a seu ver. Podendo até fortalecê-lo.

360º
Aécio Neves volta ao muro?

Ao ser questionado durante show do U2, sábado, se continuará subindo o tom contra Dilma e o PT, desconversou: "Precisamos marcar posição e discutir no Senado temas que são realmente importantes para o País. Mas não quero falar disso hoje".

360º2
Bono, por sinal, apareceu só no camarote onde estavam os petistas Eduardo Suplicy e José Eduardo Cardozo. Tirou fotos com todos e ao ver Álvaro Garnero, também presente, lembrou do irmão: "Fui à festa que Mario deu para Naomi Campbell perto de Mônaco. Me diverti muito", contou.

E no domingo, o politizado Bono deu um recado do governador à plateia: "É oficial. Alckmin disse que amanhã ninguém terá que trabalhar".

Prateleira 1
O encontro com 150 representantes dos amantes dos livros, na Biblioteca Nacional, sexta-feira, rendeu a Ana de Hollanda, apoio.

De quem? Da Câmara Brasileira do Livro e do sindicato nacional dos editores, em sua decisão de reacender o debate sobre a Lei do Direito Autoral.

Prateleira 2
A Liga Brasileira de Editoras entregou à ministra e a Galeno Amorim, da BN, no mesmo encontro, o Programa em Defesa da Bibliodiversidade.

Estão propondo limitar o capital estrangeiro no setor e pedindo adoção de linhas de crédito especiais para pequenas e médias editoras e livrarias.

Cantei, cantei
Sentado em poltrona prateada no show da Fecap, sábado, Cauby Peixoto se disse feliz por, aos 80 anos, lançar três CDs simultâneos. Além de estar gravando, ali, um DVD. Ou seja, não poderia errar. E... errou. Com Angela Maria, repetiu Começaria Tudo Outra Vez, três vezes.

Faena quer investir em SP
Alan Faena, responsável pela revitalização do bairro de Puerto Madero, em Buenos Aires, procura área em São Paulo. Pretende tentar repetir seu feito por aqui. Qual? O excêntrico empresário argentino criou um novo conceito de viver e morar em área totalmente abandonada e desvalorizada da capital argentina. Faena montou o empreendimento após vender complexo de moda por ele criado. E se dar o direto a um "intervalo" em Punta del Leste, até que tivesse uma boa ideia. Morou na praia... quatro anos.

Concentrado, idealizou como gostaria de viver, centrou foco em qualidade de vida, misturou arte e lazer. Surgiu com a ideia do Faena Art District e arredores, cujo destaque ainda é o Hotel + Universe. O hotel, arquitetado por Philippe Starck, é parte significativa do que é hoje um complexo residencial e cultural valorizadíssimo, com metro quadrado de US$ 7 mil, em média, segundo revelou Faena em sua rápida passagem por São Paulo, semana passada.

Investimento inicial? "Olha, posso te dizer que paguei quase nada pela área. Ninguém queria a região totalmente abandonada, " diz ele, sem maiores números. Recursos, de onde vieram? Além de próprios, de investidores parceiros. O primeiro a aderir foi o bilionário russo Len Blavatnik, fundador do grupo Access Industries. Depois, entraram os irmãos Christopher e Robert Burch, do fundo de investimento Red Badge e Austin Hearst, neto de William Hearst.

Como os convenceu? "Asseguro a você que não lhes vendi números e, sim, um sonho, sem nenhum business plan", explica Faena. Nenhum levantamento de retorno do capital, nenhuma pesquisa sobre impacto na região e possíveis resultados? "Não, fui pelo meu feeling". O empresário gosta de dizer vende estilo de vida, e não camas em hotéis.

Também é sonho dele que, um dia, brasileiros e argentinos se tratem como na verdade seriam, povos irmãos. Neste sentido, convidou Ernesto Neto para expor em abril no Faena Art District, abrindo o setor internacional do complexo artístico.

Faena já fez uma tentativa de entrar no Brasil como empresário. Foi dele a ideia inicial de construir o que hoje é o Hotel Fasano, no Rio. Pedras entraram no caminho, e a iniciativa foi transferida para a JHSF e Grupo Fasano. Está também construindo em Miami, em um hotel na região de South Beach. Serão US$ 200 milhões de investimentos. Desta vez fez um business plan? "Não. Já mostrei que dou resultados".

Na frente

Kate Hudson encontrou-se com Alexandre Birman domingo em sua loja. Saiu com 20 pares de sapatos. Na cidade para ver o U2, a filha de Goldie Hawn seguiu depois para o Morumbi e acabou a noite no bar Número com a banda.

É hoje a inauguração da primeira loja Lisa Corti em São Paulo. Nos Jardins.

Lala Rudge, Martha Medeiros e Mario Pantalena pilotam lançamento da coleção de Lalá Rudge. Quinta, na casa de Raquel Silveira.

Marisa Ribeiro expõe hoje fotos no Iguatemi.

Helena Sicupira apresenta coleção na AM Galeria Horizonte. A partir de amanhã.

A Camerata Aberta inaugura hoje temporada com recital voltado para a música das Américas. No SESC Consolação.

Acontece, amanhã, o lançamento do selo Má Companhia, da Cia das Letras. Na Livraria da Vila da Fradique.