sábado, agosto 10, 2013

A UPP é uma mentira? - RUTH DE AQUINO

REVISTA ÉPOCA

É irresponsável com os jovens do asfalto e do morro tentar dinamitar o projeto das UPPs


Só os ingênuos, sem perspectiva histórica ou com má-fé podem proclamar que a Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) é uma enganação para inglês ver. Que jovens de 18 anos de berço esplêndido confundam tudo, até entendo. Mas adultos que sobreviveram aos governos Garotinho e Rosinha (argh!) e à última fase da prefeitura Cesar Maia (argh!) só têm uma desculpa para dizer que a UPP é uma mentira: a pendenga partidária que desmerece tudo que vier de um adversário político. Quando bandeiras de partidos substituem os valores de nossa consciência, a vida e a inteligência naufragam.

Impossível não lembrar – a não ser que sejamos acometidos de uma amnésia oportunista – o pacote dos ex-desgovernos do Rio: a politização da política de segurança do Estado, os pactos sórdidos com traficantes, o descontrole no número de “autos de resistência” (eufemismo para extermínios nos becos por homens fardados), a absurda mortalidade de jovens favelados em brigas de gangues, o abandono total das favelas, que se espalhavam pelas matas e por áreas de risco.

Nossas favelas eram fortalezas do tráfico e do crime organizado, isoladas por barricadas. Havia o terror imposto aos moradores de bem, o aliciamento escancarado de garotos, a gravidez precoce de garotas encantadas pelos chefões, modelos de “heróis” armados e donos do pedaço. Jornalista só entrava ali após acordo prévio com o chefão ou assumindo risco de morte, como aconteceu com Tim Lopes.

É irresponsabilidade com o Rio de Janeiro e com o futuro dos jovens no asfalto e no morro tentar dinamitar o projeto das UPPs só porque a população tomou ódio ao governador Sérgio Cabral em seu segundo mandato, depois de ele ser reeleito com 66,08% dos votos e com a bênção de Lula. Um ódio compreensível diante da arrogância que Cabral construiu, ao menosprezar qualquer crítica e se fazer de “ixperto” como seu ídolo na terra e no céu, Lula.

Quantos Amarildos sumiram nas favelas, quantos pedreiros e filhos e mulheres de pedreiros foram incendiados em fornos por traficantes ou executados por policiais corruptos e metidos no tráfico e ninguém falou nada? Cariocas que hoje condenam pesadamente as UPPs iam à praia, subiam a serra, lotavam os bares e saíam em seus carrões 4x4 sem tomar conhecimento das chacinas nos morros. Era um assunto inconveniente. Os cariocas de bem nunca tinham enlameado nas ladeiras da Rocinha seus tênis made in China – a não ser para comprar droga.

Só comecei a entender a Rocinha quando dormi ali uns dias, em agosto de 2007, na Rua 2, para escrever sobre a urbanização comandada pelo arquiteto Luiz Carlos Toledo. Já no governo Cabral, mas antes das UPPs. Uma cena nunca me saiu da cabeça. Eu bebia cerveja num boteco. Um rapaz passou na ruela, com um saco de mercado numa das mãos e uma submetralhadora cromada na outra, apontada para baixo. Eu não conseguia enxergar a arma, mesmo alertada por minha amiga. Como todos do asfalto, reconheço uma arma apenas quando é apontada para mim. Ali, na Rocinha, a submetralhadora equivalia às frutas e verduras, quase um peso compensando o outro, carregados com a naturalidade do cotidiano, como se não houvesse contradição entre a fonte da vida e o instrumento da morte.

Vamos, sim, criticar: está muito longe o cumprimento das promessas das UPPs. O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, está consciente das frustrações. Sempre foi claro: o objetivo era recuperar os territórios e abrir caminho para a ocupação social do Estado e para a integração das favelas e dos jovens à cidade. Nunca se prometeu prender todos os traficantes ou acabar com o tráfico.

Há dois problemas sérios. Um é o Estado, incompetente para tornar prioridade a infraestrutura das favelas. É lenta demais a ocupação social – com saneamento, serviços essenciais de limpeza, luz, habitação, educação, saúde. O outro problema é a força policial: há casos excessivos de desvio de conduta. Foram expulsos 1.500 da corporação? Muito mais terão de ser expulsos.

Os equipamentos desligados simultaneamente na Rocinha – câmeras e GPS – no dia em que Amarildo foi detido bastariam para afastar o comando local da UPP até que se concluíssem as investigações. Ah, agora a versão é que ele e a mulher, Bete, ajudavam o tráfico nas horas vagas? É uma versão plausível, sim. Nada nas favelas é preto no branco. Há uma zona cinzenta, familiar e histórica que não acabará de um dia para o outro. Mesmo que Amarildo e Bete ajudassem, ele não poderia ter sumido depois de ser levado de casa num carro da UPP. Foi morto por traficantes? Por policiais? Ou por ambos?

É forçada a palavra “pacificação”. Não existem favelas pacificadas. Esse “P” da sigla talvez seja um equívoco, porque promete uma utopia irrealizável. Nenhuma cidade deste país, grande ou pequena, está livre de tráfico, assassinatos, latrocínios. Como exigir que uma favela seja uma ilha da fantasia, dissociada da realidade da violência urbana? O Brasil está longe de ser “pacificado”.


CBF perde no Rural - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 10/08

Antônio Osório deixou ontem a diretoria financeira da CBF.
É que a entidade fazia todas as suas operações cambiais no finado Banco Rural.

Segue...
A CBF tinha aplicado lá o equivalente a uns R$ 20 milhões, e o Banco Central só garante
depósitos de até R$ 250 mil por cliente.

Torres na cabeça
O romancista Antonio Torres parece favorito para a cadeira que foi de Luiz Paulo Horta na ABL.
Mas outros dois nomes são cotados: a crítica de teatro Bárbara Heliodora e o escritor Claudio Aguiar.

Coleguinha
O escritor e jornalista José Augusto Ribeiro, que foi assessor de imprensa do presidente Tancredo Neves, se recupera de um AVC.
Melhoras.

Estudos militares
João Barone, o baterista do Paralamas do Sucesso, de tão apaixonado pela história da Segunda Guerra Mundial, vai entrar para a Academia de História Militar Terrestre do Brasil, que reúne escritores dedicados ao assunto.
A solenidade será em setembro.

O bonitão
O novo comandante das UPPs, Frederico Caldas, 48 anos, ficou em segundo lugar no concurso de PM mais bonito, o Mr. Muvuca, em 1999, no programa de Regina Casé.

Bacalhau de ouro
A reportagem do “New York Times” sobre a operação do Procon esta semana, que multou restaurantes chiques do Rio, atacou dois aspectos que turistas e cariocas sempre reclamam. O jornalão americano fala dos preços altos, como os US$ 68 (R$ 160) cobrados por um prato de bacalhau, no Antiquarius, e ainda esculhamba a qualidade do serviço.

Diz lá que...
O atendimento nos restaurantes da cidade que vai sediar os Jogos Olímpicos de 2016 é, segundo a reportagem, “apático” e “desdenhoso”.

É grave a crise
A Petrobras reduziu as categorias do seu concurso interno de literatura. O “Prosa da casa” deste ano, em vez de três, só tem uma categoria. Os funcionários que estão em outros países não poderão participar.
A Rádio Corredor diz que a empresa não quer pagar as passagens para os finalistas comparecerem à cerimônia de encerramento, no Brasil.

A pacificação é nossa
Amanhã, os jogadores do Fluminense entrarão no campo do Maracanã, antes do jogo contra o Flamengo, com uma faixa em defesa da pacificação das favelas.
Estará escrito: “A pacificação é nossa, o AfroReggae é nosso, deixem o Rio em paz.”

UPP...
O ato faz parte de uma mobilização de um grupo cada vez maior de cariocas pela consolidação do programa da UPP que está livrando nossas favelas do domínio dos traficantes.
Eu apoio.

Aliás...
Este Fla-Flu de domingo vai ser especial para Matheus Holanda, 19 anos, portador da síndrome de Down.
Aluno do Senai de Niterói, Matheus fez uma campanha nas redes sociais para conhecer Fred. Conseguiu mais de dois mil compartilhamentos e ainda foi convidado pelo atacante para entrar em campo com ele.

Ferrinho de dentista - RUY CASTRO

FOLHA DE SP - 10/08

RIO DE JANEIRO - No último grande filme do diretor inglês Michael Powell, "A Tortura do Medo", de 1960, Carl Boehm interpreta um psicopata que não se contenta em matar mulheres. Filma-as enquanto as mata (com a perna afiada do tripé de sua câmera à guisa de espada), para ver a expressão de terror em seus rostos, e acopla um espelho à arma para que elas também contemplem o próprio medo. É um "cheek to cheek" macabro.

Aprendi outro dia com meu dentista --vamos chamá-lo de Américo, embora este seja o seu nome verdadeiro-- que não é preciso ser tão radical para conhecer o medo na sua plenitude. Pode acontecer até na paz de um consultório dentário --e mais ainda se o profissional for, como ele, uma autoridade na mais temida especialidade do ramo: o tratamento de canal.

Em mais de 30 anos de profissão, Américo calcula ter tratado, em média, cinco canais por dia. A cada ano de 300 dias, isso significou 1.500 canais. Donde, em 30 anos de trabalho, foram 45 mil canais.

Ou 45 mil rostos a um palmo do seu, petrificados na cadeira à ideia de que, durante horas, terão suas cavidades perfuradas por brocas, canais penetrados por agulhas e as respectivas polpas sugadas e limadas por verrumas. Tudo depois lavado com peróxido de hidrogênio ou hipoclorito de sódio, e preenchido com bastões de guta-percha aparados por ferrinhos incandescentes.

É difícil acreditar que não dói tanto quanto parece e, se doer, a anestesia resolve. A simples palavra canal faz com que, impotentes, de boca aberta e com o babador de papel ao pescoço, as pessoas assumam um ar de pavor e súplica que constrange tantos dentistas. Américo nunca se deixou constranger. Mas, 30 anos e 45 mil canais depois, decidiu mudar de especialidade. Cuida agora apenas da parte estética --e, com isso, só vê rostos felizes à distância de um palmo.

O Judiciário e o turbilhão - WALTER CENEVIVA

FOLHA DE SP - 10/08

Se a reeleição do presidente não for proibida aqui, a minoria se dirá afastada do pleito


Nós, o povo, se dermos mais atenção ao Poder Judiciário, verificaremos que a agitação encontrada nos dois outros Poderes Constitucionais não é estranha à magistratura, ainda que em modo muito mais discreto. O que é bom. Podemos até pensar em aspecto que agita o debate em São Paulo. Antes se deve lembrar que, na Justiça bandeirante, se criou confronto de correntes para a escolha do presidente de sua Corte de Justiça. Por assim dizer, são políticas.

Aconteceu quando o atual presidente do TJSP (Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo) admitiu a possibilidade de ser candidato à reeleição. Alheio aos meandros judiciais, o leitor achará a coisa mais natural do mundo. Não é.

O desembargador Sartori, o atual presidente, tem boa gestão. Olhando as coisas do ponto de vista da disputa, a recondução ao cargo daquele que cumpre sua missão no Executivo e no Legislativo (Constituição, arts. 44 e 46) é natural. Até porque, segundo aFolha noticiou, Sartori tem apoio de expressiva parcela do funcionalismo, circunstância inusitada. Além disso, conta com longa folha de serviços prestados à Justiça.

Há, porém, um pormenor com o qual o grande público não deve ter muita intimidade. É o seguinte: o TJSP é o maior do Brasil, com mais de trezentos desembargadores. É certo ainda que a Tribunal do Estado possa ter um Órgão Especial submetido, no caso de São Paulo --entre outros--, ao máximo de 25 desembargadores que o comandam.

Se a reeleição do presidente não for proibida aqui, como quer uma parte dos desembargadores, a minoria se dirá afastada do pleito. Assim: os atuais desembargadores --ainda que excluídos os próximos dos setenta anos-- de aposentação obrigatória dificilmente terão esperanças de disputar a presidência se aberta a todos, no futuro, a reeleição presidencial. Permitida, dobrará o número de possíveis candidatos frustrados, multiplicados durante decênios. Só Deus sabe quantas vezes.

Mesmo em tribunais menos numerosos, a porta de acesso estará fechada para muitos. Enfim: é, razoável que segmentos oposicionistas estejam perguntando: "e nós, como ficaremos?".

A pergunta é compreensível, mas tem seu "porém". Um dos problemas da magistratura está em que o encastelamento no controle dos tribunais (ou seja, os que só se aposentam no último dia) faz com que, mesmo hoje, as substituições nos cargos mais importantes das cortes de Justiça fiquem confiadas a um número restrito de titulares. Dentre estes, alguns alcançam tal domínio da situação que se transformam, desculpada a linguagem não jurídica, numa espécie de "donos de seu tribunal", controlando o mecanismo operacional. Em certas hipóteses influem até na formação da jurisprudência.

Por menos que o leitor saiba da ordem interna dos tribunais, certamente não tem dúvida sobre a variada pluralidade de efeitos em assunto aparentemente tão corriqueiro, em especial no turbilhão, que não para, dos processos em andamento.

Outro lado da mesma situação estaria no meio termo, nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Ocorre que, nesse campo, os interesses a respeito do acesso à presidência de cada tribunal são muito intensos e diferentes de Estado para Estado, na variável força política local. O meio termo é necessário.

Porque sim e porque não - ZUENIR VENTURA

O GLOBO - 10/08

Estimulado pela generosidade de alguns amigos, pensei em me candidatar à sucessão do querido Luiz Paulo Horta na Academia Brasileira de Letras. Sei que haveria pessoas mais credenciadas para exercer o privilégio de substituir um dos jornalistas mais cultos de sua geração e alguém que não só pregava como encarnava as virtudes do cristianismo. Era, porém, o que o acaso me oferecia. Nos tempos em que vigoravam o sectarismo ideológico e o preconceito, a ABL era tida por parte dos intelectuais de esquerda como uma instituição “reacionária”, de “direita”. A favor dessa crença havia a presença imortal do general Aurélio de Lira Tavares, membro da Junta Militar que governou o país por alguns meses nos anos de chumbo. Como tomar chá ao lado de “Adelita”, seu nome artístico? perguntava-se, sem considerar que a Casa abrigava também o contrário, sem contar a maioria liberal.

Assim, funcionando como contraponto, havia o caso do comunista Jorge Amado em 1961, do esquerdista João Cabral de Melo Neto em plena efervescência revolucionária de 1968, e de Dias Gomes (do Partidão e cuja cadeira viria a ser ocupada mais tarde por Paulo Coelho), em 1991. Hoje, além de manter essa opção pela pluralidade (“a Academia não tem ideologia”, afirma seu ex-presidente Marcos Vinicios Vilaça), a instituição deixou a torre de marfim e se abriu para a sociedade, recebendo artistas, intelectuais, sambistas. Foi vista até desfilando no carnaval pela Mangueira.

De qualquer maneira, antes de me decidir, comecei uma sondagem para saber se e como seria recebido pela Casa de Machado de Assis, patrono da cadeira que Luiz Paulo ocupou. Que chances eu realmente teria, quais eram as tendências e quem eram os concorrentes. Esbarrei então com observações que agiram em mim como delicadas objeções. A primeira foi que a “prévia” apontava para um empate técnico entre meu nome e o do romancista Antonio Torres, levando a uma disputa polarizada que iria “dividir amigos”. Outro argumento contra é que a Academia, embora seja de “Letras”, não apenas de literatura, preferiria eleger um ficcionista, e a hora seria de Torres, que concorre pela terceira vez. E por quem tenho grande estima.

Na verdade, é provável que tudo isso seja mera desculpa para uma preguiçosa e pouco democrática incompetência para fazer campanha para disputar votos. Tem gente que só compete para ganhar. Já eu queria ganhar sem competir. “É, assim não dá”, me disse um dos mentores de minha candidatura, desejando que eu tenha aprendido pelo menos a lição de que na ABL a humildade é melhor cabo eleitoral do que a soberba.

Ueba! ET de Varginha ama Dilma! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 10/08

Charge do Erasmo: 'Quanto sai o metrô quadrado de São Paulo?' Vendem São Paulo por metrô quadrado!


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Piada Pronta: "Boate de Portugal divulga show da Gretchen com foto de Anitta". Rarará. E agora boate do Rio divulga show da Anitta com foto da Gretchen. A cara da Anitta e o corpo da Gretchen! Rarará!

E o Sarney? Boletim do Sírio: "Sarney tem uma bactéria resistente a antibióticos". O quê?! No Sarney, até a bactéria é resistente. Tão dizendo que tem um Sarney na bactéria! A bactéria é o sarneizossaurus!

Já foram tentados os antibióticos: Collormicina, Lulomicina, Dilmicina, FHcina e até Barbosamicina.

Chama os cubanos! Que mantêm o Fidel vivo até hoje! Cubano é bom de gambiarra! Cubano transforma uma batedeira anos 1930 num Oldsmobile anos 1960! Rarará!

E tô adorando a declaração da Dilma: "Tenho o maior respeito pelo ET de Varginha". Tem que apelar pros ETs, pros terráqueos não adianta mais! E os batráquios?! Rarará!

E aí o ET se animou e pediu um ministério! E a charge do Samuca com o ET de Varginha: "Legal! Vou me filiar ao PMDB e descolar um ministério". Rarará!

E o escândalo do Metrô? O tremsalão! O Serralstom e o Alcksiemens tão com cara de que desceram de um metrô fantasma!

E eu já sei como vai terminar. A culpa vai ser do Cade ou do Covas, que já morreu!

E adorei a charge do Erasmo: "Quanto sai o metrô quadrado de São Paulo?". Vendem São Paulo por metrô quadrado!

E "Amor à Vida"? Ops, "Trepar a Vida". Amanhã é dia do César, o Dia dos Pais. O Fagundes é o pai do ano! Teve filho com a nora, filho com a amante e filho com a chacrete!

E eu acho que também sou filho do César! O César é pai dele mesmo! E o neto é filho do avô e irmão do pai! E o Félix é filho biológico da chacrete! Todo gay adoraria ser filho duma chacrete! Rarará!

É mole? É mole, mas sobe!

E a noiva que morreu no altar? Nicole, a Noiva-Cadáver! E o tuiteiro Sereno Cerejeiro revela: "Nicole deixa em testamento toda sua fortuna pra mídia ninja". Aí vira emissora: a Globinja! Rarará!

E atualmente estou apaixonado por um novo programa de humor: "Vai Que Cola", no Multishow! É um "Sai de Baixo" moderno, com #! Rarará!

Nóis sofre, mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

TABELA MÉDICA - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 10/08

O Ministério da Saúde enviou para a Polícia Federal números para embasar a investigação sobre uma campanha deliberada de boicote ao programa Mais Médicos. O levantamento mostra que, do dia 9 ao dia 12 de julho, quando foi lançado, cerca de mil profissionais por dia se inscreveram, pela internet, com registros falsos. Depois do anúncio de que a polícia entraria no caso, a média despencou para 280.

TABELA 2
No dia 11 de julho, o número de inscrições erradas bateu recorde: 1.900.

GERAÇÃO ESPONTÂNEA
Nesse período, correntes em redes sociais incentivavam os médicos a se inscreverem em massa para desistirem logo depois, só para conturbar o programa. Entidades que representam os profissionais e que se opuseram ao Mais Médicos declararam que nada tinham a ver com o movimento. 

NOVO COMANDO
O bispo Edir Macedo está vendendo o jornal "Hoje em Dia", de Minas Gerais.
Na segunda-feira, 12, deve ser celebrado o contrato que transfere a publicação para empresários do Estado.

BALANÇA
Um dos melhores amigos de José Serra (PSDB-SP) diz que a decisão dele de se colocar explicitamente como candidato a presidente "é uma confirmação da Lei de Murphy": o nome do tucano voltará a ser testado em pesquisas bem na hora em que é atingido "pelo furacão", ou seja, o escândalo de formação de cartel para obras do metrô em São Paulo.

AO PONTO
O grupo Rubaiyat já escolheu o ponto para instalar um restaurante da rede no Rio: o Jockey Club, na Gávea. A tradicional casa de carnes deve funcionar numa das antigas tribunas do hipódromo. A data de inauguração só será definida após aprovação dos órgãos municipais.

AO PONTO 2
A meta é inaugurar dez novas casas em cinco anos, em associação com o fundo espanhol Mercapital. Depois do Rubaiyat de Brasília, em junho, e o da Cidade do México, até o final do ano, devem ser abertos restaurantes em Bogotá, na Colômbia, e em Santiago, no Chile.

NOVA GUARDA
Céu, Karina Buhr, Fred 04 e a banda Cidadão Instigado interpretarão, respectivamente, Bob Marley, Secos e Molhados, Nelson Cavaquinho e Pink Floyd no projeto "73 Rotações", em setembro no Sesc Santana.

COLO 

Jonatas Faro, 25, e Guy, 2, filho do ator com a atriz Danielle Winits, estão em ensaio do site Ego que entra no ar amanhã; "O que mais me toca é quando ele me chama de papai. Até gravei no celular. Fico toda hora vendo"

LEILÃO FASHION
O bazar organizado pela atriz Giovanna Antonelli no hotel Tivoli, nos Jardins, foi palco anteontem de um leilão de peças doadas por famosos. Os empresários Helena Bordon, Cristiano Saab e Claudio Pessutti, o estilista Valdemar Iódice, a sexóloga Laura Muller, a cantora Roberta Miranda e a atriz Suzana Pires estiveram no evento, com renda destinada à ONG Agente Cidadão.

GALERIA DO ROCK
O músico Domenico Lancellotti se apresentou no evento Noite Cine Privê, na Galeria Nara Roesler, no Jardim Europa. A cantora Luciana Oliveira, a educadora Clea Ferreira e o artista plástico Lucas Bambozzi compareceram ao local. A artista Lucia Koch assinou a luz e o ambiente do show. O projeto passará ainda por Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte, Recife, Salvador e Goiânia.

CURTO-CIRCUITO

A banda Casuarina toca hoje no Cine Joia, na Liberdade. À 0h30. 18 anos.

A médica Judith Nogueira lança hoje o livro "Memórias de uma Envelhescente", a partir das 15h. Na livraria do Espaço Itaú de Cinema, na rua Augusta.

O ator Pedro Neschling traz hoje para São Paulo a festa Funfarra em que também é DJ. No Grand Metrópole, às 23h. 18 anos.

O projeto Catraca Livre, que existe em SP e RJ, será expandido para dez cidades-sede da Copa de 2014.

A Smith Galeria, em Pinheiros, abre mostra hoje com joias assinadas pela designer Luisa Botter.

Anitta, Naldo, Buchecha e Mc Koringa cantam amanhã no Espaço das Américas, às 18h30. 18 anos.

O laboratório Eli Lilly lança no Brasil livros com histórias da macaquinha Coco, primeira personagem da Disney com diabetes.

Jogo de empurra - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 10/08

O auditor fiscal Rodrigo Lacombe, que apreciou no Tribunal Superior Eleitoral as contas da campanha de Dilma Rousseff em 2010, afirmou ter apontado, à época, falta de documentos para comprovar R$ 2 milhões em gastos com passagens aéreas. Em depoimento no ano passado, Lacombe acusou a secretária de controle interno do TSE, Mary Ellen Gomide, de ter ordenado a supressão desse trecho do parecer. Segundo ele, Mary atribuiu a decisão ao ministro Ricardo Lewandowski.

Eu, não Ouvida por uma comissão de sindicância interna, em novembro de 2012, a ex-secretária do TSE negou ter pedido que Rodrigo Lacombe fizesse qualquer alteração no relatório. Também negou que Lewandowski tenha pedido mudanças.

Bula Em 2010, em resposta a e-mail da ex-diretora do TSE Patrícia Landi sobre problemas detectados na prestação, o ministro disse que, se o erros fossem de natureza "formal", as contas deveriam ser aprovadas com ressalvas, o que de fato ocorreu.

Como faz? Lewandowski ponderou que o plenário do TSE dificilmente iria contra parecer do órgão de exame de contas. "E, então, vamos estar com um problemão'', escreveu. "Não estamos lidando com as contas de um boteco de esquina, mas de um comitê de uma presidente com mais de 50 milhões de votos", disse, no e-mail.

Ressalva Por fim, na resposta à ex-diretora, o então presidente do TSE diz: "Se as contas apresentarem problemas sérios, como doações de fontes ilegais ou de lavagem de dinheiro, devemos agir com o máximo rigor possível". Lewandowski não foi encontrado ontem pela coluna para comentar o caso.

A favorita 1 Em entrevista ao programa É Notícia'', que vai ao ar à 0h30 de domingo para segunda-feira na Rede TV!, Luis Fernando Veríssimo afirma que Dilma deve ser reeleita e que considera improvável a hipótese de candidatura de Lula.

A favorita 2 "Seria até um erro se tentasse voltar o Lula", diz o escritor, que elogia o governo, mas diz que Dilma perdeu o ímpeto'' de punir casos de corrupção que demonstrou nos primeiros anos de seu mandato.

Redução... Apesar de lutar contra a criação de uma CPI para investigar a formação de cartel em licitações de trem e metrô em São Paulo, a bancada do governo Geraldo Alckmin na Assembleia Legislativa deve aprovar convite para ouvir o secretário Jurandir Fernandes (Transportes Metropolitanos) na Comissão de Transportes.

... de danos Os tucanos acreditam que, assim, enfraquecem o discurso da oposição, que insiste na criação de uma CPI para apurar as acusações que abrangem as administrações tucanas no Estado desde 1999. A Comissão de Transportes é presidida por João Caramez (PSDB).

Vem... A cúpula do PT admite que as manifestações de junho fortaleceram a imagem do senador Eduardo Suplicy e tornaram de alto risco uma decisão partidária para impedir sua candidatura à reeleição em 2014.

...pra urna Os petistas queriam ceder a vaga na chapa a algum aliado, mas agora dizem que ele pode representar a voz das ruas. Também acham que rifar o senador em nome de uma costura política pode dar uma imagem negativa ao partido.

Visita à Folha Renato Lessa, presidente da Fundação Biblioteca Nacional, visitou ontem a Folha. Estava acompanhado de José Castilho Marques Neto, secretário-executivo do Plano Nacional do Livro e da Leitura do Ministério da Educação.

com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN


TIROTEIO

"Cármen Lúcia afirma que não sabia do convênio com a Serasa. Será que não se aplica nesse caso a teoria do domínio do fato?"

DO DEPUTADO CARLOS ZARATTINI (PT-SP), comparando a declaração da presidente do TSE à tese usada por ministros do STF para condenar José Dirceu.


CONTRAPONTO

Sem perder a viagem


A presidente Dilma Rousseff concedia entrevista a rádios do Rio Grande do Sul ontem, quando foi questionada sobre um novo aporte de recursos do governo federal para a construção do metrô de Porto Alegre.

Como a verba integra o Pacto da Mobilidade, havia expectativa de que Dilma aproveitasse a ida ao Estado para anunciar o investimento, o que não ocorreu.

--Seria correto dizer que desta vez não haverá anúncio? --perguntou um jornalista.

--Claro que tem. Estou anunciando, nesta viagem, que vai ter anúncio na próxima! --respondeu Dilma.


O sonho e a realidade - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 10/08
A candidatura de Marina Silva está por um fio. Seus aliados jogaram a toalha. Não creem mais na criação da Rede. A data limite, fixada pelo partido, para garantir a burocracia, se encerrará na quinta-feira. Nem a metade das assinaturas foram certificadas. As portas do PV estão fechadas e seu principal aliado, Fernando Gabeira, se retirou da política. Sondado, o PPS está à espera de José Serra.
A mudança de eixo dos tucanos
Desde o fim do mandato do ex-presidente FH que os tucanos penam, junto aos eleitores, suspeitos de descaso com as políticas sociais. Mas agora, os estrategistas políticos do candidato do PSDB, Aécio Neves, sustentam que há “mudança de enfoque em relação às eleições de 2010”. Esta foi detectada em pesquisa Sensus, aplicada em São Paulo, Rio e Minas. Nela, “50% (dos entrevistados) priorizam o desenvolvimento do país e 20% acham ser mais importante a continuidade da distribuição de renda”. Quanto à área social, a pesquisa conclui: “80% acham que os programas sociais deveriam ser melhores fiscalizados ou reformulados”. Para o PSDB a realidade mudou.

 “Não posso fazer uma proposta baseada no que eu acho. Tenho que sugerir mudanças que tenham o apoio da maioria

Alfredo Sirkis 
Deputado (PV-RJ), relator informal do grupo de trabalho da Câmara para a reforma política


O império tecnocrata
Está na conta do subchefe de Assuntos Jurídicos da Casa Civil, Ivo Corrêa, o alto número de vetos a projetos. Muitos negociados entre Planalto e senadores mas que, na hora de assinar, acabam rejeitados com explicações técnicas.
Vou de táxi
A presidente Dilma sinalizou ao Congresso que não vai aceitar goela abaixo a derrubada de todos os seus vetos. O ministro Luís Inácio Adams (AGU) está armado para acionar o STF na maioria dos casos. O único veto que está sendo negociado entre Planalto e Congresso para se tentar evitar a judicialização é a herança da concessão de táxis.
Guerra nos pampas
O prefeito de Porto Alegre, José Fortunati (PDT), que se desfiliou do PT na década de 90 por bater de frente com Tarso Genro, avisou ao seu partido que se licenciará se o PDT apoiar a reeleição do petista ao governo do Rio Grande do Sul.
Pé na estrada
Com a agenda focada no Rio, São Paulo, Ceará e Pernambuco nos dois primeiros anos de governo, a presidente Dilma foi aconselhada a visitar ao menos uma vez os estados em que nunca esteve: Mato Grosso, Roraima, Acre, Amapá e Espírito Santo. E deverá repetir compromissos em lugares onde foi uma ou duas vezes, como Tocantins, Amazonas, Paraíba e Santa Catarina.
Visibilidade
Os pré-candidatos do PSDB ao governo mineiro vão fazer agenda conjunta de viagens. Nenhum desponta nas pesquisas. Pimenta da Veiga, Nárcio Rodrigues, Marcus Pestana, Diniz Pinheiro e Alberto Pinto Coelho querem ser conhecidos.
Mudança de rota
A presidente Dilma antecipou para quinta-feira à tarde a viagem ao Rio Grande do Sul. Pediu ao seu piloto, o brigadeiro Joseli Parente, mapas meteorológicos e viu que a previsão no Sul na sexta-feira pela manhã era de tempestade.
Para não dar entrevista em seu apartamento, ontem, em Porto Alegre, a presidente Dilma transformou o salão de festas do prédio num gabinete.

O voo do tucano - LUIZ CARLOS AZEDO

CORREIO BRAZILIENSE - 10/08

Apesar da crise que ronda o PSDB em São Paulo, por causa das denúncias de formação de cartel entre fornecedores do metrô paulista, o PSDB está eufórico com a pesquisa da Sensus sobre o cenário eleitoral nos estados de São Paulo, Minas e Rio de Janeiro, considerado o Triângulo das Bermudas das eleições presidenciais.

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Com 4,5 mil entrevistas, de 25 a 30 de julho, a pesquisa mostrou que o senador Aécio Neves (PSDB-MG) tem o maior índice de intenções de voto entre os eleitores que dizem conhecer os quatro principais candidatos. O tucano teria 27,9% dos votos, a presidente Dilma Rousseff (PT), 21,3%; a ex-senadora Marina Silva (sem partido), 17,7%; e o governador Eduardo Campos (PSB), 3,8%.

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Vem daí a estratégia de levar Aécio Neves às regiões Sul, Centro-Oeste, Norte e Nordeste para torná-lo mais conhecido nos demais estados. A euforia é ainda maior, porque, considerando o total de eleitores — e não apenas os que conhecem os candidatos —, com 22,9% de intenções de voto, o tucano teria encostado em Dilma (25,2%) e ultrapassado, ligeiramente, Marina (21,5%). Esses três colégios eleitorais, os maiores do país, representam 40% dos eleitores.

Segundo turno
Num eventual segundo turno, Aécio abriria grande vantagem em Minas (52,7% a 28,6%), mas perderia para Dilma no Rio de Janeiro (31,4% contra 27,3%) e em São Paulo (33,3% a 27,4%).

Tendências
O diretor presidente do instituto Sensus, Ricardo Guedes, desde a crise do mensalão, vem antecipando com sucesso as tendências das eleições presidenciais.

Campanha, eu?// A presidente rebateu ontem as acusações de que estaria fazendo campanha eleitoral antecipada. “A troco de quê eu vou fazer campanha? Tenho que governar”, afirmou Dilma, durante a inauguração de um câmpus universitário em Osório (RS).

Energia/ O governo federal sofreu a primeira derrota na Justiça para a Votorantim, Gerdau, Alcoa, Cemig e outras empresas na disputa pelo controle de oito usinas hidrelétricas. Por liminar, a juíza federal Cristiane Rentzch, TRF da 5ª região, manteve em poder das empresas as concessões.

Solidariedade/ A Controladoria-Geral da União (CGU) divulgou nota na qual manifesta “total confiança” no secretário de Prevenção da Corrupção do órgão, Sérgio Seabra, que teve a casa revistada na quinta-feira pela Polícia Federal. Ele é suspeito de envolvimento com o desvio de verbas da educação técnica no Paraná.

Contraponto
Dilma Rousseff voltou, ontem, a comemorar a criação de empregos em seu governo. Comparou os números com os do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (foto). É uma estratégia do seu marqueteiro, o baiano João Santana. Enquanto cola a própria imagem à do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma procura grudar a de Aécio Neves ao ex-presidente tucano.

Beiradas
A turnê nordestina de Aécio Neves começará por Salvador. Não é à toa: o tucano quer explorar as contradições entre o governador petista Jaques Wagner (foto) e o PMDB local. O tucano é amigo do ex-deputado Geddel Vieira Lima (PMDB), desafeto do petista que anda de namoro com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). Outro que conversa com Aécio é o ex-ministro das Cidades e presidente do PP na Bahia, deputado Mário Negromonte.

Genéricos
O consumo de medicamentos genéricos para o controle da hipertensão arterial, entre janeiro de 2010 e abril deste ano, cresceu 190%

Falta saber se o ET de Varginha crê no governo - ROLF KUNTZ

O ESTADO DE S. PAULO - 10/08

É quase uma crueldade pedir à presidente Dilma Rousseff a substituição do ministro da Fazenda, Guido Mantega. Sem ser almas irmãs, são pelo menos espíritos complementares. Ambos atribuem a alta da inflação nos primeiros meses deste ano à quebra da safra americana. Nenhuma relação com a demanda, disse recentemente o ministro. A presidente reafirmou a tese da seca nos Estados Unidos na quarta-feira, ao comentar triunfalmente o resultado de julho, uma alta de apenas 0,03% do índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Onde encontrar um parceiro tão adequado para esse dueto?

Talvez no Ministério da Educação, mas essa hipótese tem sido negada no Palácio do Planalto. Outra possibilidade seria chamar o ET de Varginha, merecedor do "maior respeito", segundo a presidente. Mas seria preciso saber, em primeiro lugar, se ele acredita na existência do governo instalado em Brasília ou se o considera mais uma alucinação coletiva ou produto da crendice popular. Mas todos esses detalhes, neste momento, são pouco importantes. Quarta-feira, esta é a grande notícia, foi um dia glorioso para a presidente e para Mantega.

A inflação, disseram os dois, está e sempre esteve sob controle, sem prejudicar a economia. O ministro, no entanto, foi mais cauteloso e admitiu aumentos de preços mais acelerados nos próximos meses - "como em todos os anos", segundo ele. Com a mesma prudência, evitou previsões mais detalhadas. Quando lhe perguntaram se a taxa acumulada no fim do ano será menor que a do ano passado, quase tirou o time de campo. "Não sei, provavelmente sim", foi a resposta registrada pela Agência Estado.

Sem a seca americana e com boa oferta de alimentos no Brasil, fica difícil entender essa hesitação. Talvez ele tenha lido, num momento de folga, as projeções de mercado mantidas no site do Banco Central (BC). Na sexta-feira de manhã o BC ainda registrava a estimativa para o mês de julho: 0,01%, um número pouco melhor que o divulgado oficialmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os números projetados para os meses seguintes crescem de forma quase contínua: 0,26% em agosto, 0,43% em setembro, 0,55% em outubro, 0,55% em novembro e 0,67% em dezembro.

Para o ano a série indica uma alta acumulada de 5,72%, bem pouco inferior à do ano passado, 5,84%. Talvez se possa falar em convergência para a meta, de 4,5%, mas o avanço é lento e, nesse ritmo, o percurso dificilmente será concluído nos 12 meses seguintes.

Mas o governo parece continuar satisfeito com acumulados anuais abaixo de 6,5%. Sua meta efetiva é qualquer ponto na faixa de 4,5% a 6,5%, um detalhe traído mais de uma vez pelo próprio ministro em suas declarações. Politicamente é este o ponto mais importante: a inflação estará "bastante sob controle", segundo a linguagem presidencial, enquanto as taxas de 12 meses ficarem nessa área. O "compromisso com a estabilidade", mencionado mais uma vez pela presidente na quarta-feira, tem como referência esse limite.

É um compromisso frouxo, próprio de quem pouco se incomoda com a alta persistente dos preços. Em dez anos, uma inflação anual média de 4,5% resulta numa taxa acumulada de 55,3%. Uma inflação de 2,5%, mais próxima das metas adotadas nos países desenvolvidos e em vários emergentes, produziria uma alta de preços de 28% no mesmo período. Uma das consequências seria um considerável desajuste cambial no País com taxa mais elevada.

O ministro Mantega falou muitas vezes em guerra cambial, nos últimos cinco anos. A presidente Dilma Rousseff acusou os governos dos países desenvolvidos de criarem um tsunami monetário e com isso afetarem o câmbio e o poder de competição dos emergentes. Ambos seriam muito mais realistas, e mais eficientes na política econômica, se dessem mais atenção à diferença entre as taxas de inflação no Brasil e em outros países.

Mas isso parece muito improvável. As pressões inflacionárias, segundo o governo, vêm de fora, juntamente com a crise causadora, também segundo a versão do Planalto, da estagnação brasileira. Além disso, a meta de 4,5% foi estendida até 2015, com a margem de tolerância de 2 pontos para mais ou para menos (na prática, para mais). Um resultado anual de 6,4%continuará sendo alardeado como prova do compromisso com a estabilidade.


Tudo isso combina perfeitamente com o desleixo fiscal. Como os truques de maquiagem estão cada vez mais evidentes, o governo tem desistido, com jeito de criança flagrada em molecagem, de alguns expedientes escandalosos, como a antecipação de recebíveis da Itaipu Binacional. É cada vez mais difícil encontrar meios para entregar no fim do ano um superávit primário de 2,3% do produto interno bruto, já bem menor que a meta inicial de 3,1%. Enquanto isso, continua a política fiscal expansionista apontada mais de uma vez pelo pessoal do BC nas avaliações dos fatores inflacionários.

Sem melhora na gestão das finanças públicas - nem corte de gastos, nem aumento da eficiência no uso do dinheiro -, mantém-se uma das causas principais do desarranjo dos preços. As possíveis pressões derivadas do aumento do dólar apenas complicarão um quadro já bastante ruim.

A tarefa de frear a inflação continuará entregue aos formuladores da política monetária. Nenhum diretor do BC entenderá a taxa de 0,03% de julho, explicável basicamente pela redução política das tarifas de transportes e pelo recuo temporário dos preços dos alimentos, como um sinal de vitória. Muito mais fácil será declarar respeito ao ET de Varginha e abrir licitação para um ufódromo. Uma nova estatal poderá cuidar do assunto. Em cinco anos as obras estarão incompletas, talvez nem começadas, mas o orçamento terá aumentado barbaramente.

O BC continua sozinho no combate à inflação, num ambiente de tolerância e gastança

A agonia do trem-bala - ANTONIO DIAS LEITE

O GLOBO - 10/08

Segundo se noticia, a presidente Dilma Rousseff reuniu quatro ministros para discutir mais um adiamento do prazo de entrega de propostas para a licitação do TAV (trem-bala) marcada para 16 de agosto.

O que se pergunta é por que não cancelar de uma vez essa ideia estapafúrdia que se arrasta desde 2007.

O TAV Rio-Campinas é, por si só, um grande empreendimento que, como tal, requer estudo de viabilidade, o que foi feito por consorcio anglo-brasileiro e, a seguir, anteprojeto de engenharia e projeto executivo, que ainda não foram feitos. O orçamento preliminar, repetidamente revisto, é, ainda, insuficiente para análise da conveniência do empreendimento, em função do alto risco que envolve.

A linha férrea passa por terrenos montanhosos e atravessa 32 municípios, na sua maioria densamente povoados. Túneis e viadutos são parte relevante no orçamento vigente, e os gastos com desapropriações e correção de danos ao meio ambiente são imprevisíveis, uma vez que dependem de inevitáveis disputas judiciais. O prazo de execução de tal obra é, por conseguinte, incerto, o mesmo ocorrendo com a sua rentabilidade e as tarifas necessárias.

Tratando-se de empreendimento de grande dimensão para o cenário brasileiro, há que analisá-lo como parte do sistema nacional de transportes de passageiros bem como pela sua repercussão na economia do país. As recentes manifestações populares colocaram no centro das reivindicações a melhoria da mobilidade urbana. Em artigo anterior (05/07) procurei comparar os benefícios de um conjunto de projetos de mobilidade urbana com os que seriam propiciados pelo TAV. O pressuposto era que os recursos requeridos pelo TAV fossem aritmeticamente da mesma ordem de grandeza do que aqueles necessários à duplicação das redes de metrô nos principais centros metropolitanos. Enquanto o TAV atenderia a 20 mil usuários por dia, os metrôs atuais, que servem a 4,5 milhões, poderiam vir a duplicar esse número. Há quem recuse esse raciocínio, do ponto de vista dos dispêndios, com a alegação de que a maioria dos investimentos no TAV viria de empresas do exterior, sendo especificamente a ele destinados. Na realidade essa parcela vem decrescendo ao longo do processo e o governo vai anunciando participação crescente nos riscos do projeto.

O governo federal, na coordenação ou na própria execução de investimentos em infraestrutura, nos últimos anos, tem demonstrado inequívoca incompetência na gestão de recursos e na condução das obras que não se concluem e, por consequência, permanecem inúteis. Seria temerário envolver-se e dar inicio a mais um projeto, neste caso de alta tecnologia, que nos conduziria a uma obra de futuro incerto. Seria ainda um contrassenso para um governo populista, quanto ao alvo dos benefícios, e na atual conjuntura econômica nacional.

Terceirizar sem aviltar - CELSO MING

ESTADÃO - 10/08

Ao menos 1 a cada 4 dos 40 milhões de trabalhadores com carteira assinada no Brasil é terceirizado (veja o Entenda), ou seja, é contratado por uma das 33 mil empresas intermediárias que prestam serviços para outras. São, respectivamente, dados do Ministério do Trabalho e do Sindicato das Empresas de Prestação de Serviços a Terceiros do Estado de São Paulo (Sindeprestem).

É um segmento que compunha em 2011 uma massa salarial de R$ 22,8 bilhões. Mas ainda não é regulamentado por lei. Sua única diretriz é a Súmula 331 do Tribunal Superior do Trabalho (TST), que não permite a terceirização das chamadas atividades-fim – ligadas à função principal (core business) das empresas. Só podem ser terceirizadas as atividades-meio. Por essa regra, uma empresa de segurança não pode contratar outra empresa para atividades de segurança, mas pode contratar empresa que execute faxina.

Um passo para a regulamentação pode ser dado nesta quarta-feira na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC) da Câmara dos Deputados, que examinará o Projeto de Lei 4.330/04, que permite a terceirização, desde que a contratada seja especializada no serviço.

O texto substitui os conceitos de atividade-meio e atividade-fim pelo de especialização. A partir daí, as empresas de terceirização deverão ter um único objeto social. “Assim, vamos acabar com a mera intermediação da mão de obra”, avisa o deputado federal Arthur Maia (PMDB-BA), relator do projeto.

Se o projeto de lei for aprovado, grande número de fornecedores de “serviços de apoio”, que terceirizam de uma só vez funcionários para limpeza, jardinagem, segurança, instalações elétricas, etc., terão de rever sua faixa de atuação ou sair do mercado. Mas pouca coisa deve mudar para empresas consolidadas em seus segmentos, como é o caso da Atento, uma das líderes do setor de teleatendimento no Brasil, que atua em 16 países.

As centrais sindicais temem a perda de direitos já adquiridos do trabalhador e piora das condições de trabalho. O deputado Arthur Maia argumenta que “o projeto impõe exigências que, se aprovadas, excluirão as empresas precárias do mercado. Não é um ‘liberou geral’; haverá garantias para o trabalhador”.

A especialista Claudia Viegas, da LCA Consultores, observa que, entre os principais objetivos da especialização e da divisão do trabalho, estão a redução de custos e o aumento das margens de lucro, obtidos, assim, por maior eficiência operacional e não mais por condições precárias de trabalho. “As inovações se propagam mais rapidamente nas empresas especializadas e é nesse ponto que a terceirização traz ganhos de escala”.

Pesquisa da LCA Consultores mostra que os empregos terceirizados respondem pelo maior avanço dos postos de trabalho formais, sobretudo no Norte e Nordeste do País.

“A necessidade de terceirização vem da maior complexidade da cadeia e da exigência por mais especialização”, argumenta Claudia. Mas falta segurança jurídica ao sistema e isso só será possível com uma regulamentação que leve todos os envolvidos a um consenso. / COLABOROU DANIELLE VILLELA

ENTENDA:

O que é terceirização. Toda empresa precisa lidar com atividades que não têm relação direta com seu negócio principal: recepção, atendimento, limpeza, segurança. Um jeito antigo de dar conta desses serviços é contratar diretamente recepcionistas, atendentes, faxineiros e seguranças. Um jeito mais moderno é terceirizar; é contratar empresas que se encarreguem dessas atividades.

Qual o problema? As centrais sindicais argumentam que a terceirização torna as condições de trabalho mais precárias e avilta os salários. Por outro lado, não há dúvida de que uma empresa especializada tende a ser mais eficiente na execução de serviços e na redução dos seus custos do que uma empresa prioritariamente voltada para outros objetivos.

Busca de equilíbrio. O projeto de nova regulamentação pretende acolher as exigências de maior eficiência da atividade produtiva sem deteriorar as condições de trabalho. Se vai conseguir ou não, só a prática é que vai dizer.


Sem margem de manobra - MÍRIAM LEITÃO

O GLOBO - 10/08

Alguns países vizinhos estão com a inflação na meta ou abaixo da meta e, por isso, enfrentam esse período de alta do dólar baixando os juros e permitindo a desvalorização cambial. O Brasil entrou nesse choque externo, da mudança do fluxo de capitais, sem espaço para isso por causa da inflação elevada. Essa é a avaliação de Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú Unibanco.
Ele acaba de voltar de uma viagem ao Chile e conta que o país está com 2% de inflação, abaixo da meta de 3%. O México, que passou por um período acima da meta, está agora com a taxa convergindo para o centro e lá o espaço de flutuação é de 2% a 4%. A Colômbia está com inflação abaixo da meta; e o Peru, com a taxa em 2%.
- O que mais me preocupa agora é que o Brasil está entrando num período de choque externo sem margem de manobra para a política monetária, por causa da inflação alta.
Por choque externo ele define os primeiros indícios emitidos pelo Federal Reserve de mudança da política de expansionismo fiscal. Ele vai deixar de comprar US$ 85 bilhões por mês de títulos, operação pela qual ele jogava mais dinheiro no mercado. Com o fim dessa política, a tendência é de fortalecimento do dólar. Como o mercado sempre antecipa o movimento, as moedas já estão perdendo valor em relação ao dólar, porque o fluxo de capitais começou a se inverter. Está indo mais dinheiro para os Estados Unidos, saindo dos mercados emergentes.
- Em momentos assim, o ideal é ter espaço para deixar a moeda se desvalorizar. Isso normalmente produz um pouco de inflação, mas se a taxa estiver baixa não há problema. Em compensação, se tem um aumento da competitividade das exportações pela alta do dólar - diz Ilan.
Como o Brasil chegou nesse momento com uma inflação em torno de 6% a 6,5%, está sem espaço para fazer essa política de ajuste.
- México e Chile estão pensando em baixar juros, ninguém está subindo juros, exceto o Brasil, exatamente porque é apanhado neste momento com a inflação alta demais - diz Ilan.
Isso sem falar em outros problemas, como o da gasolina. Porque o governo eliminou a Cide, que era o colchão que amortecia as altas do petróleo e do dólar, todo o custo da desvalorização está sendo pago pela Petrobras, que está importando gasolina a um preço maior do que pode revender às distribuidoras no Brasil. O rombo da Petrobras por causa disso, e pelo adiamento do registro de importações do ano passado, já é de US$ 15 bilhões.
Com isso, o Banco Central não apenas está subindo os juros, como está intervindo quase diariamente no mercado cambial, vendendo contratos futuros de dólar para evitar a apreciação forte da moeda americana que acabe impactando mais a inflação.
O risco Brasil medido pelo CDS - a compra de seguro contra a dívida brasileira - aumentou. O mercado internacional já começa a colocar no preço o risco de um rebaixamento do Brasil. Ilan disse que isso seria preocupante, se estivesse próximo de o Brasil deixar de ser considerado grau de investimento, mas não há essa perspectiva no momento.
- O Brasil está dois níveis acima do ponto em que é considerado grau de investimento (em que a dívida de um país é recomendada como bom investimento).
Das três agências de risco, a Standard & Poor´s colocou o Brasil em perspectiva negativa, indicando que pode rebaixar; a Moody´s está com perspectiva positiva; e a Fitch está neutra. Mesmo se for rebaixado, continuará sendo grau de investimento - diz Ilan.
De fato, a perspectiva de perder essa classificação é remota, mas qualquer rebaixamento não será um bom evento. Aumentará o pessimismo em relação ao Brasil num momento em que os capitais estão saindo dos mercados emergentes.

Alô, Embratur - MARCOS CARAMURU DE PAIVA

FOLHA DE SP - 10/08

Em 2012, chineses gastaram US$ 102 bilhões no exterior, mas, para órgão brasileiro, país não é uma prioridade


Há um debate agitado na China, inclusive nas redes sociais, sobre o comportamento dos turistas chineses no exterior.

O Serviço de Viagens fez uma chamada geral aos bons modos. Uma alta autoridade política declarou que é preciso supervisionar a civilidade dos cidadãos. A Administração Nacional do Turismo divulgou uma cartilha para quem sai do país.

Dois ou três vexames recentes causaram furor entre viajantes bem comportados. Ser turista disciplinado é obrigação, diz a cartilha.

Em 2012, os chineses fizeram 80 milhões de viagens internacionais. Os gastos correspondentes alcançaram US$ 102 bilhões. O número de viajantes será crescente: fala-se em 100 milhões em 2015.

Uma família de classe média alta viaja, em média, 2,8 vezes ao ano.

Antes viajava até mais. Agora que já conhece muita coisa, prefere alongar seu tempo nos lugares.

Os chineses são os turistas que mais compram artigos de luxo em viagens: € 875 por aquisição isenta de taxas, 70% acima da média global. Um chinês, dizem as pesquisas, identifica 40 marcas e, quando as encontra, leva algo.

Mas há um bom número de pessoas que só deseja ver a natureza, encontrar a paz que não existe nas megalópoles.

Na China, o que mais se aprecia num centro urbano é um lugar calmo. É comum agradar os convidados levando-os a restaurantes vazios ou alugando uma sala própria, separada do local onde estão os demais clientes.

Sair de casa à cata de um animal, uma beleza natural, um prato típico ou uma fruta é costume nos roteiros internos. Quem vai ao exterior busca frequentemente algo assim. Quer experimentar sabores novos.

Mas também sente falta da culinária que conhece. Um amigo certa vez me disse: "Levei meus pais a Roma. Eles adoraram. Há chineses excelentes por lá".

A escolha dos roteiros internacionais não segue padrões. Visitar a África do Sul é uma febre que não passa, e a América Latina começa a chamar a atenção.

Recentemente, viajei ao lado de uma jovem aparentando vinte e muitos anos que regressava da Patagônia. Era a sua segunda viagem à região. Na primeira, havia ido às ilhas Galápagos. Deixará a Europa para quando tiver menos pique, disse-me.

A nossa Embratur declara a quem pergunta que a China não é prioridade. E a propaganda turística brasileira explora muito as praias, que os chineses não apreciam. Preferem um jardim botânico.

Mas, com a Amazônia, o Pantanal, Foz do Iguaçu e tantas outras maravilhas, temos tudo para nos tornarmos um destino preferencial. Só precisaremos nos organizar para que isso aconteça.

Ou, alternativamente, veremos os chineses chegarem no atropelo mesmo. Eles ainda sabem pouco do Brasil. Mas, quando nos conhecerem ou ouvirem histórias de quem já nos visitou, não se inibirão. Como não se inibiram ao se tornar, sem que percebêssemos, o nosso maior parceiro e maior desafio comercial.

A casa do 'soft power' - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 10/08
Ao definir a Academia Brasileira de Letras como "a casa do soft power", na abertura de mais um ciclo de debates, o historiador José Murilo de Carvalho deu a dimensão exata do papel que a ABL está assumindo na cultura nacional. A presidente da ABL, Ana Maria Machado, disse que o ciclo é uma maneira de a Academia tratar a cultura ligando tradição e futuro. O ciclo "Futuros do presente: o Brasil imaginado" começou na última terça-feira com palestra do ex-presidente e acadêmico eleito Fernando Henrique Cardoso sobre "o futuro nacional do Brasil", em que ele ressaltou a importância da cultura brasileira no relacionamento do país com a globalização, destacando que, no mundo multipolar atual, o soft power é mais importante que as guerras tradicionais.
O ciclo será coordenado por José Murilo e terá na sequência, sempre às terças-feiras, palestras de Marcelo Neri, sobre "o futuro social"; do professor da USP Jacques Marcovitch, "o futuro internacional"; e de Salviano Santiago, o "futuro cultural". José Murilo apresentou o ciclo falando sobre como os países tratam seu futuro: "Os países podem ser caracterizados de acordo com sua postura diante do tempo, isto é, pela maneira como veem, no presente, o passado e o futuro, e como tal visão afeta o presente".

Deu diversos exemplos: a China usa lentes poderosas, voltadas tanto para o passado quanto para o futuro. Seu presente é pautado pela consciência de séculos de História e por um projeto de futuro igualmente de longo alcance. Portugal usa um espelho retrovisor, consumindo seu presente na admiração de um passado de glórias. Os Estados Unidos construiu um passado que ajudou a empurrar o país para o futuro.

A Inglaterra combinou de maneira pragmática a valorização da tradição com a abertura para a inovação, sem ambições messiânicas para o futuro.

Para José Murilo, o Brasil, "original em muitas coisas, o é também nesse quesito". No que se refere ao passado, "sofremos de Alzheimer precoce, nos esquecemos em alguns meses, no máximo em alguns anos, o futuro a Deus pertence, o presente é regido pela conselho de Horácio "carpe diem", goza o presente. A sequência do verso horaciano acrescenta 'e confia o menos possível no futuro'".

Quando nos voltamos para o futuro, diz José Murilo, "é na forma da utopia do grande império, ou da grande potência, que não se conecta a políticas do presente". A intenção deste ciclo da ABL é, segundo José Murilo, "contrariar nossa relação estéril com o tempo e promover o exercício de visualizar o futuro que se relacione com o nosso passado e nosso presente".

O ciclo tem a inspiração no padre Vieira, quer fazer a história do futuro, ou melhor, quer explorar os futuros imaginados no presente. Para tal, "não procurou a ajuda de oráculos ou profetas, mas de especialistas e de pensadores do Brasil. A prospectiva, como a retrospectiva, são condições para o desenvolvimento de uma visão crítica do presente". Na sua visão de historiador, José Murilo citou os acontecimentos de junho de 2013, "que ninguém conseguiu prever", como demonstrações da "precariedade dos exercícios de predição quando estão em jogo ações humanas. Mas o fracasso da predição pode ter sido em parte devido à inadequação dos instrumentos de observação utilizados".

O ex-presidente Fernando Henrique sintetizou sua palestra no fenômeno da globalização, "quando é possível saltar fronteiras, não só no sentido de mercadorias, mas também de informações". Para ele, na situação atual "é muito difícil que os Estados controlem o desenvolvimento social no âmbito de seus territórios. As redes de relacionamento estão aí. Mesmo quando os Estados são autoritários, como na China, há 400 milhões de blogueiros na China. E as consequências estão aí nas ruas do Brasil, é uma coisa que escapa muito a tudo que é organizado, a tudo que é institucional".

Isso quer dizer que o futuro nacional do Brasil precisa, no contexto atual, da interação global. "E essa dialética entre o local e o global, entre o nacional e o internacional, é muito complexa e decisiva. Estamos passando por um momento que permite uma integração internacional, mas ao mesmo tempo reforça aspectos que são nacionais".

Para Fernando Henrique, a cultura passa a ter importância crescente como forma de identidade. Ele citou Joseph Nye, cientista político de Harvard, que chamou a atenção para a importância do soft power, a influência dos fatores culturais, que vai ter mais importância do que o hard power, com as guerras tradicionais.

Proposta inoportuna - RAUL VELLOSO

FOLHA DE SP - 10/08

Na prática, o Orçamento da União hoje é uma gigantesca folha de pagamento, que tende a explodir nas próximas décadas.


Parte relevante de suas as receitas é "vinculada" a certas finalidades. Os gastos com saúde devem ter um crescimento mínimo ano a ano. Outras destinações são extremamente rígidas por definição, como no caso de pessoal e benefícios previdenciários e assistenciais.

Não há como deixar de pagar gastos obrigatórios como esses. E praticamente tudo isso está previsto na Constituição Federal.

É fato que, na época da inflação explosiva, nem a previsão constitucional era suficiente. O governo atrasava nas liberações de despesas e a corrosão inflacionária fazia com que sobrasse dinheiro no fim do ano. Com algumas despesas fixas em termos nominais, o governo aplicava as receitas extras como queria, sem que se soubesse ao certo como se dava tal distribuição.

Hoje, persiste a crença de que o único jeito de assegurar qualquer valor que tenha origem no governo é conseguir um dispositivo constitucional dizendo isso com todas as letras. Exemplo? A proposta de emenda constitucional com a qual o Congresso Nacional busca instituir o Orçamento impositivo.

Com inflação mais baixa e respeitadas as prioridades constitucionais, a execução orçamentária de 2012 revela o seguinte: 73,6% do total gasto pela União refere-se a pagamentos de pessoas, sendo 39,5% para os gastos da previdência geral; 10,2% para os inativos e pensionistas da União; 12,9% para o pessoal ativo; e 11% para os programas de assistência social.

Cálculos que eu e alguns parceiros fizemos em trabalho recente mostram que o percentual do PIB gasto com o total desses itens deve dobrar em 2040, seja em razão das regras altamente concessivas em vigor, seja pelo rápido envelhecimento da população brasileira, conforme previsto nas projeções do IBGE.

O resto do Orçamento vai para saúde (8,2% do total), "outros gastos correntes" (12,4%) e investimentos (5,8%). Nesta última parcela, 1,3% do total se refere a investimentos em transportes. Não é à toa que a infraestrutura brasileira está o caos que está.

Quanto aos setores melhor aquinhoados com recursos, como educação e saúde, estudos mostram que nossos gastos são similares aos de países de dimensão econômica e social comparável, embora de qualidade significativamente inferior.

Já no caso de previdência, gastamos absurdamente acima do que gastam países cujo percentual de idosos é parecido com o nosso.

Como era essa situação por volta da promulgação da Carta de 1988? A "grande folha", pasme, era de apenas 39% do total, e na saúde se gastavam os mesmos 8% de hoje. Obviamente, os investimentos e os demais gastos correntes eram bem mais elevados.

De lá para cá, o Orçamento se tornou uma peça ineficiente de tal forma que, sem reformas, sua rigidez tenderá à explosão em futuro não muito distante. Sem um esforço para aumentar a eficiência e repassar tarefas relevantes ao setor privado, teremos sérios empecilhos ao desenvolvimento do país e crescente insatisfação dos contribuintes.

É nesse contexto que o Congresso tenta impor ao Executivo a emenda constitucional que reserva um pedaço do miniorçamento que resta depois que se retira a "grande folha" e os gastos em saúde, ou seja, 18,2% do total. Essa manobra --uma brincadeira de mau gosto-- garantiria uma fatia de R$ 10 milhões da pizza orçamentária para cada parlamentar patrocinar algum gasto junto à sua base de apoio.

Se aprovada, essa medida significará um passo à frente em direção ao comprometimento total da receita da União. Estamos quase lá.

De olho em setembro - ALBERTO DINES

GAZETA DO POVO - 10/08

Sucedem-se mesas-redondas, seminários, pesquisas e debates sobre as jornadas juninas. Já em meados de agosto – em plena temporada de lembranças e presságios – continuamos na estaca zero. Perplexos, tal como antes. Fenômeno identificado, visível para alguns, mas o elenco-alvo, motivador do levante, continua distraído, conjugando os verbos no passado, desatento a gerúndios, incapaz de perceber andamentos e continuidade.

O pretexto foi uma questão relativa à mobilidade urbana – aumento das tarifas do transporte público –, mas no hipertexto piscava a advertência da i-mo-bi-li-da-de. As ruas se mexeram, irritadas com um script eleitoral antecipado, previsível e frustrante, independente dos resultados. Foi um movimento de impaciência, desabafo contra a reprise anunciada, um basta! preventivo contra o filme que entraria em cartaz, sabidamente sem gosto, maçante.

A empolgação das manifestações foi uma resposta direta à desempolgação reinante. Como já constatado, as respostas dos poderes vieram atrasadas, gaguejadas, irrefletidas e incompletas. À presidente Dilma foi oferecida a oportunidade de esquecer por ora a candidatura e retornar à chefia do governo, os marqueteiros e os militantes não deixaram. Afinal, vivem de eleições. Resultado: a presidente percorre o país com uma agenda de insignificâncias, como se nos bastidores um batalhão de operadores altamente qualificados e ágeis estivesse finalizando as inovadoras respostas ao clamor das passeatas.

Um país que se pretende jovem quer sonhar, experimentar, rever dogmas, sobretudo palavras de ordem. Quer participar. O papa Francisco conclamou-o a ir às ruas. A sociedade precocemente desnorteada prefere fingir-se atenta.

Examinadas com o viés de agosto, as jornadas juninas são mais preocupantes do que foram no seu momento. Não evaporaram, a hipótese de fadiga não se consumou, continuam pipocando, renitentes. O banho-maria que se seguiu ao destampe da panela deve pressurizá-la novamente.

A espontânea rebelião contra partidos desossados e desatualizados agora voltará contra a rede de corporativismos que está se impondo progressivamente a um Estado fragilizado, incapaz de cuidar do bem comum.

Médicos não querem mais médicos, associações de juízes querem manter os patrocínios de interesses privados nos eventos, senadores não querem perder seus dois suplentes, em troca de migalhas a Justiça Eleitoral quase destroçou a privacidade de todo o eleitorado. Se a conjuntura é desfavorável para projetos galvanizadores, se os maus costumes resistem aos bons princípios, a compulsão varejista das campanhas eleitorais tornará tudo ainda mais fluido e fragmentário.

Em pleno agosto o memorável junho tem algo de incômodo. Mesmo diante da inexorável aproximação de setembro. Primaveras, ultimamente, além de flores, trazem sustos.

O governo acordou - KÁTIA ABREU

FOLHA DE SP - 10/08

O governo reconheceu não ter recursos nem agilidade para resolver o problema da infraestrutura de transporte


O custo para transportar soja do município de Sorriso (MT) até a China, por meio do porto de Santos, é de aproximadamente US$ 190/tonelada, quase três vezes mais do que seria gasto para levar o produto ao mesmo destino, partindo de Illinois (EUA).

O competidor norte-americano gasta apenas US$ 71/tonelada. Essa diferença, que pune o produtor brasileiro, deve-se às despesas da fazenda ao porto.

É fácil entender tamanha dife- rença de custo. Basta comparar as matrizes (por tonelada/quilômetro) do transporte de soja do Brasil e dos EUA.

Enquanto no Brasil 82% da produção trafega por rodovias, nos EUA apenas um quarto é transportado em caminhões. A maior parte (40%) segue pelas hidrovias, número que se reduz a 2% no nosso caso.

As ferrovias norte-americanas são responsáveis pelo transporte de 35% da soja naquele país, ao passo que apenas 16% do grão produzido aqui embarca em vagões para chegar aos portos.

Mas o caso da soja é apenas um exemplo dos prejuízos impostos à nossa economia pela precariedade da infraestrutura de transporte. Esta é, sem dúvida, uma das principais causas que restringem a competitividade e o crescimento econômico do Brasil.

Por isso recebi com entusiasmo decisão tomada pelo governo em 2012 de lançar o programa de concessões, denominado Investimentos em Logística. O programa inclui uma série de ações para desenvolver os modais de transporte rodoviário, ferroviário, aéreo e hidroviário, de forma integrada.

Finalmente, o governo reconheceu que faltam recursos e agilidade para o setor público incumbir-se, exclusivamente por sua conta, de tamanha empreitada.

Fiel ao estilo de debater e entender os assuntos que dizem respeito ao nosso desenvolvimento, participei na semana passada, ao lado do economista Cláudio Adilson Gonçalez, de uma reunião com representantes da Casa Civil e do Ministério dos Transportes. Coube ao presidente da EPL (Empresa de Planejamento e Logística S.A.), Bernardo Figueiredo, fazer uma exposição sobre o programa do governo.

Não cabe aqui reproduzir tudo que nos foi apresentado. Mas alguns pontos, que me impressionaram positivamente, merecem ser destacados.

Em primeiro lugar, percebe-se que o programa foi estruturado com grande rigor técnico. Retomou o planejamento integrado entre rodovias, ferrovias, hidrovias, portos e aeroportos e levou em conta a articulação com as cadeias produtivas, especialmente as do agronegócio.

Em segundo lugar, ficou claro que muitas previsões pessimistas em relação à viabilidade econômica dos empreendimentos a serem licitados são feitas sem o devido conhecimento técnico das regras atuais do programa.

É verdade que, no início, o governo deu passos titubeantes para definir condições que, preservada a modicidade tarifária, fossem capazes de atrair o investidor sem tentar revogar as leis do mercado. Mas agora acordou. E não se pode deixar de reconhecer que as autoridades sempre estiveram abertas ao diálogo com os setores envolvidos e que o programa foi substancialmente aprimorado em todas as modalidades.

Foram melhoradas as condições de financiamento do BNDES, com extensão de prazos, redução das taxas de juros e do capital próprio a ser investido nos empreendimentos. O economista Cláudio Adilson destaca que as taxas de retorno implícitas tornaram-se realistas e capazes de atrair o interesse dos investidores.

No caso das ferrovias, as taxas de retorno do projeto, sem considerar a alavancagem, variam de 7% a 8% ao ano. Já as taxas de retorno alavancadas, quando são considerados os financiamentos e seus respectivos custos, variam de 16% a 17%. Há que destacar que são essas taxas as que efetivamente remuneram o capital próprio do investidor.

Mas o mais importante é que fiquei com a percepção de que o governo continua aberto a discussões para esclarecer dúvidas e, se for o caso, fazer as devidas correções no programa. Afinal, a recuperação da logística de transporte do Brasil, essencial ao sucesso do agronegócio, é assunto muito sério para ser tratado de forma açodada e distorcida por preconceitos políticos.

Festejando o atraso - CRISTOVAM BUARQUE

O GLOBO - 10/08

Nestas duas últimas semanas, além do Messi, dois argentinos estiveram no noticiário brasileiro: o Papa Francisco e o representante das Nações Unidas no Brasil, Jorge Chediek. Há uma correlação nestas duas presenças: o primeiro por defender, entre outras coisas, uma economia mais solidária e humanista; o segundo, porque, como coordenador-residente do Sistema ONU no Brasil e representante-residente do Pnud, apresentou os resultados da evolução do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) entre 1991 e 2010 no Brasil. Este indicador mostra uma melhora no quadro social brasileiro e também o nosso atraso e desigualdade. Mostra, sobretudo, como avançamos devagar nos objetivos aos quais deveríamos nos propor como Nação, especialmente na educação.

O IDH é certamente uma das maiores contribuições ao pensamento social no século XX. Até ele, o mundo moderno utilizava apenas o PIB como indicador de progresso e do avanço social. Concebido pelos economistas Mahbub ul Haq e Amartya Sen e publicado pela primeira vez em 1990, e atualmente coordenado pelo economista Khalid Malik, o IDH permitiu reorientar a visão do desenvolvimento para além da análise do crescimento da produção e da renda. Passou a incorporar também objetivos sociais.

Quando surgiu, o IDH foi esnobado pelos economistas e considerado devaneio pouco científico. Na verdade, o IDH é tão pouco científico, quando comparado com um termômetro, quanto é o PIB. Afinal, se é pouco científico somar renda com saúde e educação como faz a metodologia do IDH, também é pouco científico somar comida com armas e ainda mais considerar como positiva a destruição de florestas ou a produção e venda de armas, como faz o cálculo do PIB.

O IDH dá um passo adiante ao PIB por levar em conta o estado da educação e da saúde, ao lado da renda, para medir o desenvolvimento humano de uma sociedade. De acordo com os dados do Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil 2013 e os dados de Contas Nacionais do IBGE, entre 2000 e 2010, o PIB brasileiro cresceu, a preços constantes, 1,43% e o PIB per capita 1,26%. Por sua vez, o IDH cresceu 1,19% no mesmo período. Isso mostra que ficamos mais ricos em renda do que melhoramos em termos de desenvolvimento humano. Só esta constatação já seria suficiente para justificar o cálculo e o uso do IDH.

Uma análise mais cuidadosa do IDH-M mostra que nossa melhora não foi mais acentuada por causa da educação, que puxou para baixo nosso indicador de bem-estar social. Ainda mais grave, a melhora em educação se deu graças ao aumento no número de matrículas e não graças a uma melhoria na qualidade da nossa educação: apenas cinco cidades, uma em cada 1.000, obtiveram IDH-M-Dimensão Educação “muito alto” (acima de 0,799), e quase 30% das cidades tiveram nota inferior a 0,500 (“muito baixo”) em educação.

Isto mostra o nosso atraso e a desigualdade como a educação é oferecida. E, sobretudo, reforça o atraso ao vermos muitos comemorando avanços tão tímidos.

Degeneração na política - FERNANDO RODRIGUES

FOLHA DE SP - 10/08

BRASÍLIA - O megaescândalo envolvendo tucanos em São Paulo com fraudes no Metrô é mais um capítulo da purgação pela qual passa o sistema político brasileiro pós-ditadura militar.

Não houve um único governo recente sem grandes escândalos de corrupção. José Sarney teve a licitação combinada da ferrovia Norte-Sul. Distribuiu emissoras de rádio e TV a políticos para garantir um mandato de cinco anos.

Fernando Collor sofreu um processo de impeachment. Seu vice, Itamar Franco, assumiu com reputação de homem limpo, mas, sob seu governo, eclodiu o caso dos "anões do Orçamento", com congressistas roubando à larga o dinheiro público.

Fernando Henrique Cardoso teve a compra de votos a favor da emenda da reeleição. Depois, as suspeitas de intervenção indevida na formação dos consórcios do leilão de privatização das empresas telefônicas.

Luiz Inácio Lula da Silva e o PT chegaram ao poder federal propondo moralizar as coisas. Protagonizaram o mensalão. Dilma Rousseff já demitiu ministros a granel, muitos suspeitos de corrupção.

O caso dos tucanos paulistas ajuda a compor a paisagem. O efeito colateral mais nefando é reforçar o estereótipo segundo o qual "todo político é ladrão". A parte boa é que cada vez mais esses episódios ficam conhecidos.

Observador da política por dever de ofício, não creio haver hoje governos mais corruptos do que no passado. A diferença é que agora ficamos sabendo um pouco mais como são as coisas --embora de maneira modesta.

O Ministério Público atuante, a Justiça implacável e novas regras como a Lei de Acesso à Informação são os melhores remédios contra a corrupção na política. Mas esse receituário só surte efeito de maneira muito lenta. Por essa razão, e essa é uma má notícia, é prudente esperar ainda uma piora do quadro geral antes de tudo melhorar.

Qual seria a reação de Hipócrates? - ARNALDO NISKIER

CORREIO BRAZILIENSE - 10/08
Está criada uma bela confusão, no país, a respeito da formação de médicos. Isso nunca foi um ponto pacífico nos meios universitários. A relação candidato-vaga é escandalosa, chegando em alguns casos a 100/1. Temos hoje cerca de 380 mil médicos no Brasil, mas o problema é a sua má distribuição no território nacional. Há excesso nas regiões Centro e Sul, enquanto nas demais a falta é praticamente generalizada, com ênfase no Amazonas e no Maranhão.

Um grupo de ilustres médicos, tendo à frente o dr. Adib Jatente, que é acriano de nascença, na década de 1980, procurou interferir no problema. Esteve no então Conselho Federal de Educação, na época presidido pelo educador Fernando Gay da Fonseca, para procurar uma solução que desse mais qualidade aos formandos.

Tivemos alguns entreveros, pois entre os médicos havia os extremados: queriam fechar três cursos de medicina do Rio de Janeiro, como se fosse esse o problema. Como presidente da Câmara de Ensino Superior, com a moral de não ter criado nenhum curso de medicina em três anos, insurgi-me contra a violência, que inclusive feria dispositivos da autonomia universitária.

Vê-se por aí que a questão vem de longe. Aliás, pensando bem, remonta aos tempos de Hipócrates, por muitos considerado o "pai da medicina" e que nasceu no ano de 460 a.C., numa ilha grega. É famoso o juramento em que sintetizou a essência do seu conjunto de obras e pensamentos e que é repetido até hoje na formatura dos nossos médicos.

Nesse momento de confusão, em que o governo se intromete com ideias esdrúxulas, como a de ampliar a duração do curso para oito anos, em mais um factoide inexplicável, vale a pena recordar os compromissos do velho pensador grego: "Conservarei imaculada minha vida e minha arte... Prometo que, ao exercer a arte de curar, mostrar-me-ei sempre fiel aos preceitos da honestidade, da caridade e da ciência... Nunca me servirei da minha profissão para corromper os costumes ou favorecer o crime... Se eu cumprir este juramento com fidelidade, que me seja dado gozar para sempre a minha vida, honrado entre os homens: se eu dele me afastar ou infringir, o contrário aconteça".

De nada adianta contratar médicos do exterior, sejam eles de Cuba, de Portugal ou da Espanha, para atuar no interior, se não lhes forem dadas condições compatíveis de trabalho. Já não se pensa nas dificuldades linguísticas, pois essas poderão ser superadas com cursos rápidos, mas o que se reclama é que o governo brasileiro apenas se mostra preocupado com a transferência física dos médicos, sem oferecer as mínimas condições de apoio material em equipamentos, hospitais e ambulatórios. Espera-se que eles, por serem estrangeiros, façam milagres?

O SUS é bem uma demonstração de incompetência. Filas imensas, prazos extensos para operações emergenciais, uma crônica falta de leitos e materiais. Em municípios do interior, onde encontrar aparelhos de ressonância magnética ou tomografia computadorizada? Um luxo? Não, uma necessidade.

A triste realidade é de que cerca de 700 municípios, dos nossos 5.500, não têm um único profissional de saúde. Em outros 2 mil, cada 3 mil pacientes disputam a atenção de um médico, como se isso não atentasse contra a dignidade humana.
Faltam médicos no Brasil e eles precisam ser formados de modo competente. Deve-se exigir mais das escolas de medicina, mas é preciso oferecer condições a cada uma delas para que cumpram devidamente a sua missão, especialmente as que pertencem diretamente ao governo.

Querem um exemplo de desídia, entre muitos outros? O estado de abandono escandaloso do Hospital São Francisco de Assis, na Avenida Presidente Vargas, no Rio de Janeiro, como retrato cabal de incúria administrativa. Antes de importar médicos, não seria melhor cuidar devidamente do que temos por aí? Sozinho, o desprestigiado Revalida não é nada.