sexta-feira, junho 13, 2014

Desemprego represado - SOLANGE SROUR

VALOR ECONÔMICO - 13/06


Qual seria a curva do emprego sem a interferência do governo na decisão das empresas de demitir? 


A Copa começou sem aumento de preços de bebidas. O governo adiou o aumento dos impostos sobre bebidas frias, decisão que havia sido tomada para melhorar a tão deprimida arrecadação deste ano e viabilizar parte dos subsídios dados ao setor elétrico. Em contrapartida, o setor terá que preservar empregos e investimentos. A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes chegou a falar em demitir 200 mil pessoas logo após a Copa caso a alta de impostos não fosse adiada. Garantimos, assim, mais alguns meses sem aumento de preços e sem aumento do desemprego.

A manutenção do emprego é justamente uma das bandeiras do setor automobilístico nas reivindicações junto ao governo para a flexibilização das leis trabalhistas. O governo já admite subsidiar a redução da jornada de trabalho e dos salários para evitar demissões. Na construção civil, os atrasos nos repasses de recursos para as habitações destinadas às famílias de baixa renda inscritas no Minha Casa, Minha Vida trouxeram inúmeras ameaças de demissões por parte das construtoras.

A lista de setores subsidiados, dependentes do crédito governamental e que estão com o nível de emprego acima do desejável é grande e sua tendência é de aumentar bem ao longo desse ano. É emblemático o fato de o governo anunciar neste momento a prorrogação permanente da folha de pagamentos dos 56 setores já beneficiados. Para obter esses e outros benefícios, as empresas se comprometeram informalmente a não demitir.

Muito se discute hoje sobre a inflação represada, mas pouco se fala no desemprego represado. Nos últimos anos temos crescido ao redor de 2%, enquanto o desemprego ficou estacionado em 5%. Há várias explicações para a baixa contaminação do mercado de trabalho que passam por razões demográficas, políticas sociais e pelos programas governamentais voltados à educação como o caso do Fies. Há, no entanto, outro aspecto que tem segurado o desemprego, de difícil mensuração, que é descrito pelo anedótico acima. A adoção da "nova matriz econômica" resultou em um "equilíbrio" instável. Temos hoje inflação estacionada em 6% e PIB em 2% porque tanto a alta da inflação quanto do desemprego é contida temporariamente pela intervenção governamental.

A discussão econômica está polarizada entre os que defendem medidas de ajuste que nos permitam crescer mais com a inflação controlada e os que acreditam que a nova matriz econômica não é problemática, uma vez que estimulando a demanda aumentaremos os investimentos sem grandes riscos inflacionários. Discute-se no meio político se com uma taxa de inflação de 3%, teríamos um desemprego acima de 8,5%.

Sem entrar no aspecto da teoria econômica e no "trade-off" inflação e desemprego, a primeira pergunta a responder é: como fazer tal discussão se nem sabemos de fato a verdadeira inflação e o desemprego atual? É preciso entender que vivemos em um equilíbrio artificial. Não há mecanismo de mercado para estabelecer preços e quantidades nem no mercado de bens e tampouco no mercado de trabalho. Qual seria a curva de demanda e oferta de alguns itens essenciais como a gasolina se os preços não estivessem represados? Qual seria a curva de oferta e demanda por emprego se não houvesse a interferência do governo na decisão das empresas de demitir?

O problema dos represamentos é ainda mais grave quando consideramos seu aspecto fiscal. É difícil fazermos as contas de quantos bilhões estão sendo gastos com tais políticas. São gastos não transparentes, não sujeitos a nenhum processo de avaliação. São políticas públicas, de montante significativo, que não passam pelo Congresso. Subsídios para represar preços e desemprego não têm o chamado multiplicador fiscal e diminuem a produtividade da economia. Certamente a sociedade estaria melhor se os substituíssemos por investimentos em infraestrutura e na qualificação da mão de obra.

Até quando podemos viver em um mundo onde prosperam tantas distorções que distorcem a própria realidade? Essa depende não somente das condições domésticas da nossa economia, mas também da economia internacional. O crescimento da economia americana está se consolidando, após vários períodos de instabilidade, mas a um ritmo ainda bastante lento, o que traz muitas incertezas em relação ao crescimento potencial do país, além de teorias como a do ex-secretário do Tesouro norte-americano Larry Summers, que identificam uma estagnação secular na mais importante economia do mundo.

A Europa também emite sinais preocupantes. Apesar dos fortes ajustes estruturais e da melhora de perspectiva de crescimento para a região, a inflação não tem reagido da forma esperada, trazendo à tona teses como a da "japonização da Europa". Não é à toa que o Banco Central Europeu adotou uma série de medidas não convencionais. No Japão, o crescimento e a alta da inflação estão ameaçados pelos fatores estruturais do país que a politica econômica recente não conseguiu endereçar. Já na China, o novo governo tem emitido sinais de que está disposto a levar as reformas econômicas adiante mesmo que à custa de um crescimento menor nos próximos anos.

Todos esses desenvolvimentos internacionais permitem que a velha estratégia do nosso país de "prosseguir empurrando com a barriga" as difíceis mudanças na politica econômica ganhe algum fôlego extra. Mas se de fato, o lento processo de normalização econômica nas principais economias for apenas um aspecto natural da recuperação de recessões com crises financeiras, em algum momento o mundo voltará a crescer.

Nesse momento, países com baixo crescimento e alta inflação estarão mais vulneráveis. Talvez precisemos esperar um sinal vermelho dos investidores, não mais dispostos a financiar nosso crescente déficit em conta corrente ou mesmo nossa divida doméstica para nos darmos conta de que o mundo de represamento da inflação e do desemprego não é mais factível. Talvez precisemos apenas nos conscientizar que a atual realidade não é tão favorável quanto parece nem tão sustentável como se imagina.


Imagina depois da copa - NELSON MOTTA

O GLOBO - 13/06

Lula chegou a atribuir o baixo crescimento do PIB ao mau humor dos empresários, trocando a consequência pela causa



Alguma coisa está dando errado e o estrategista João Santana deve estar muito preocupado: quanto mais se intensifica a propaganda oficial em todas as mídias, alardeando as realizações do governo e todos os ganhos com a Copa do Mundo, mais caem a aprovação e as intenções de voto da presidente Dilma e mais aumentam os seus índices de rejeição. E a Bolsa sobe.

Imagina depois da Copa, com metade do tempo do horário eleitoral na televisão ocupado por avassaladora publicidade triunfalista tentando convencer os eleitores que a sua vida e seu país estão muito melhores do que eles pensam. E que quem ganha salário de mil reais agora é classe média.

Não dá para rejeitar as pesquisas agora e aceitá-las há três anos, quando eram positivas. Nem responsabilizar a “mídia golpista”, se há dois ou três anos, apesar dela, a aprovação do governo era muito maior. Resta sempre a conspiração. Blogueiros oficialistas denunciam que todas essas manifestações que estão parando cidades por aumentos salariais têm o único objetivo de impedir a reeleição da presidente Dilma… rsrs.

Lula chegou a atribuir o baixo crescimento do PIB ao mau humor dos empresários, trocando a consequência pela causa. Mas quem azedou o humor de 70% da população? Se fosse Chávez dizia logo que era uma conspiração do Império e explicava tudo, mas aqui nem o Zé Dirceu ousaria tanto.

Como explicar que só pouco mais da metade dos delegados na convenção do PMDB, mesmo com o vice da chapa e todos os seus cargos no governo, tenha votado pelo apoio à candidatura de Dilma? Numa votação secreta, no escurinho da cabine… com delegados peemedebistas… vocês sabem como é… ainda bem que os peemedebistas não traem seus aliados… só quando é pelo bem do Brasil… rsrs.

A saia está tão justa que a estratégia de Dilma tem sido responder com veemência e cheia de razão… a acusações que não lhe foram feitas, mas não consegue se defender das evidências que provocam danos à sua candidatura: crescimento baixo + inflação alta + obras atrasadas = má gestão.

Se João Santana conseguir reverter isso, mereceria ser ele o presidente, e não Dilma.

Está dando Piketty na vida real - JOSÉ PAULO KUPFER

O GLOBO - 13/06

A riqueza financeira privada continua avançando muito mais rápido do que a economia mundial, reforçando as teses do economista francês



Enquanto ainda pipocam — com menos ímpeto, é verdade — contestações às ideias expostas em “O capital no século XXI”, o fenômeno editorial global acerca da desigualdade social e econômica promovida pelo capitalismo contemporâneo, o mundo real vai dando razão a seu autor, o economista francês Thomas Piketty. Embora a crise de 2008 ainda não tenha sido superada, a riqueza financeira no mundo está crescendo como nunca, mas sua distribuição avança muito mais lentamente.

De acordo com a edição 2014 do tradicional levantamento anual do gigante global Boston Consulting Group (BCG) sobre a evolução da riqueza no mundo, o total de ativos financeiros em poder de famílias alcançou o volume recorde de US$ 152 bilhões, no ano passado (ver “Global Wealth 2014: Riding a Wave of Growth”, em http://migre.me/jLJRr). A soma representa uma expansão de 15%, em comparação com os números de 2012.

É um ritmo de crescimento muito mais rápido do que o observado na economia mundial. Desde a crise de 2008, a riqueza financeira privada acumulada saltou 60% — média anual superior a 8% —, ao passo que o PIB global, em igual período, evoluiu a um ritmo médio inferior a 3% anuais.

Fica assim reforçada a já famosa tese de Piketty, segundo a qual a desigualdade aumenta sempre que a taxa de retorno dos ativos (r) for maior do que a do crescimento econômico (g). No pós-Segunda Guerra, esse descolamento, de fato, está presente desde pelo menos o início dos anos 80. O estoque de riqueza privada em 1980 era praticamente igual ao da produção econômica mundial naquele ano. Daí em diante, o fosso em favor dos ativos foi alargando até chegar, nos dias de hoje, ao equivalente a cerca de dez vezes o PIB americano e quatro vezes o PIB anual global.

Não existe perspectiva de reversão da tendência, nos próximos anos. Projeções contidas no estudo do BCG apontam uma evolução da riqueza financeira privada para US$ 200 trilhões até 2018, com base numa taxa de retorno média anual de 5,4%. Dificilmente a economia global avançará neste ritmo e é quase certo que os países industrializados nem sonharão com expansão nessa velocidade.

Não é só nesse ponto que, na vida real, está dando Piketty. O aumento da riqueza privada em 2013, no robusto montante de US$ 20 trilhões, foi impulsionado, em grande medida, pela rentabilidade dos recursos já existentes. Três em cada quatro dólares adicionados ao estoque de riqueza, no ano passado, vieram da rentabilidade obtida com ativos anteriormente acumulados, com grande destaque para os ganhos nos mercados de ações — que experimentaram, de 2012 a 2013, taxas de crescimento superiores a 20%. Diante dessa constatação, também é legítimo imaginar, como Piketty, que as heranças têm exercido papel ponderável no atual processo de acumulação financeira.

Mesmo com a economia global ainda em processo de recuperação, registrou-se, em 2013, um forte aumento no número de famílias milionárias. Elas eram 13,7 milhões, em 2012, e chegaram a 16,3 milhões, no ano passado — aumento de quase 20%. Passaram então a representar 1,1% do número global de famílias, vindo de 0,7%, em 2007.

Impulsionado mais pela inundação de liquidez promovida pelos bancos centrais nos mercados financeiros do que por uma expansão consistente da atividade econômica, o aumento pós-crise do número de sócios no clube dos ricos é amplamente insuficiente para contrabalançar o exército de 40 milhões de desempregados produzidos no mesmo período. É mais uma eloquente indicação, reforçada e atualizada, das sombrias profecias de Piketty.

Insistir no Brasil ou desistir dele? - JOSÉ PIO MARTINS

GAZETA DO POVO - PR - 13/06

Um dos aspectos interessantes de dar palestras é ser confrontado com perguntas surpreendentes. Encontrei, no aeroporto, um homem que estivera em palestra minha, e ele estava embarcando o filho de 17 anos para o Canadá, onde o rapaz faria intercâmbio estudantil. O pai perguntou-me se o filho deveria insistir ou desistir do Brasil, referindo-se à possibilidade de o menino transferir-se definitivamente para o exterior.

Respondi que procuro não dar esse tipo de conselho, pois tento seguir o ensinamento do filósofo Arthur Schopenhauer, que dizia: “A realidade exterior não existe como um fato concreto; o mundo externo a nós é apenas uma apreensão de nosso interior”. Anthony Robbins, escritor americano vivo, imitando a sabedoria de Schopenhauer (1788-1860), disse algo parecido: “Nós não vemos os problemas como eles são; nós vemos os problemas como nós somos”. Portanto, minhas crenças e convicções valem para mim, e podem valer ou não para os outros.

Contei-lhes uma fábula. Havia duas cidades, uma de cada lado de um grande rio. Um homem era condutor de uma barca e seu trabalho era transportar passageiros de uma margem à outra. Certo dia, um passageiro diz que pretendia morar no outro lado e pergunta-lhe como era a cidade de lá. O condutor indaga o que o passageiro pensa da cidade em que mora, ao que o homem responde: “Aqui, a cidade é ruim e o povo é um atraso”. E o condutor assevera: “Pois é, do lado de lá é a mesma coisa”.

Chegando ao outro lado do rio, o condutor atende a outro passageiro que também desejava se mudar para a cidade do outro lado, agora no sentido contrário do primeiro, e recebe a mesma pergunta. E a resposta do condutor é igual: “Pois é, do lado de lá é a mesma coisa”. Questionado por que dera resposta igual para os dois passageiros, ele redarguiu: “Os lugares são o que deles pensamos, independentemente de como eles sejam de fato”.

Diante da insistência do pai que me fizera a pergunta, socorri-me de Roberto Campos, que costumava repetir: “O Brasil é a amante que mais eu amei, mas foi a que mais me enganou”. Acrescentei-lhe que essa amante, nossa pátria, tem tantos recursos que sempre acredito em seu arrependimento e regeneração, e que ela ainda vai se comportar direito e ser uma boa companheira de vida. Mas fiz uma ressalva: acredito, mas com certa desconfiança.

Antigamente, dizia-se que Brasil e Argentina eram como dois bêbados cambaleantes, com uma diferença: o Brasil estava no rumo de casa, enquanto a Argentina caminhava na direção oposta. Hoje, o risco é o bêbado Brasil fazer uma curva de 180 graus, tomar o rumo contrário e deixar o progresso para trás. Eu temo que isso aconteça, pois nos especializamos em desperdiçar oportunidades históricas.

O Brasil erra demais, a corrupção corrói a esperança, a violência urbana assusta, às vezes a desesperança bate, mas o país é tão rico em recursos naturais que o subdesenvolvimento chega a ser uma distorção. Insistir no Brasil ou desistir dele depende de como cada um vê o mundo e é decisão de foro íntimo. Em junho do ano passado, atingimos 201 milhões de habitantes. Alguns até podem desistir do país e fixar residência no exterior. Mas a nação inteira não tem como fazer isso.

Apesar dos problemas, o país tem amplas condições para superar o atraso e ser um bom lugar para morar. Um jovem de 17 anos tem muita vida pela frente e, por isso, tem a chance de ver este país oferecer bom padrão de bem-estar a todos os seus habitantes. Porém, chance não é certeza.

Os feriados e o PIB - CELSO MING

O ESTADÃO - 13/06

Se junho e julho já são naturalmente meses de festejo, férias e de menos trabalho, neste ano serão especialmente carregados de feriados gerais.

Se a seleção brasileira chegar às finais da Copa do Mundo, além da parada de ontem em São Paulo, haverá ao menos mais seis nas cidades que sediarão as partidas. No restante do País, servidores públicos e funcionários do setor privado devem ser liberados ao meio-dia ou ao menos três horas antes dos jogos, a depender do que for deliberado pelas autoridades locais ou, mesmo, pela direção das empresas. Cidades-sede de outros jogos da Copa, como Porto Alegre, Salvador e Recife, decretaram ponto facultativo nesses dias. No Rio, os dias com jogos no Maracanã serão feriado.

E qual será o impacto desse calendário atípico deste meião de ano sobre a atividade econômica do Brasil, que já não vinha bem das pernas?

"Os trabalhadores serão menos produtivos", adverte Fernando de Holanda Barbosa Filho, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV). Para ele, o setor de turismo de negócios em São Paulo será fortemente prejudicado: "Ninguém marcou convenções, congressos, nem reuniões ou viagens profissionais nesse período de Copa".

Alessandra Ribeiro, economista da Tendências Consultoria, pensa diferentemente. Para ela, a quebra de atividade econômica não deverá ser relevante. "Já enfrentamos uma conjuntura enfraquecida e de competitividade em baixa. Isso é mais relevante do que qualquer efeito marginal que a Copa possa produzir."

O vice-presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Azevedo, também acredita que os impactos serão meramente episódicos. "As perdas em horas trabalhadas têm influência pequena no atual cenário de perda de confiança", diz. Do lado positivo, haverá ligeiro aumento na demanda por bebidas, vestuário e itens de ornamentação: "Esse movimento já foi captado". Azevedo acrescenta que, apesar dos estragos no turismo de negócios, os setores a hotelaria e as atividades de entretenimento, como bares e restaurantes, também deverão ser beneficiados.

Fernando Fix, economista-chefe da Votorantim Wealth Management, calcula que os turistas estrangeiros devem deixar R$ 8,6 bilhões, o equivalente a 0,17% do PIB. "É um resultado macroeconômico de baixo alcance comparado com as dimensões da economia brasileira", afirma.

Os efeitos positivos a serem gerados pelo turismo, no entanto, ficaram aquém do esperado, argumenta Fernando de Holanda Barbosa Filho: "O impulso de demanda não se concretizou como se imaginava, da mesma forma como ocorreu na Olimpíada de Londres". As expectativas do setor hoteleiro, por exemplo, ficaram frustradas.

Mais relevante, para Fix, são os efeitos psicológicos provocados pela perda de confiança que aparentemente foi potencializada pela disseminação da percepção de que houve inversão de prioridades na utilização de verbas públicas: "Os atrasos e os estouros nos orçamentos das obras dos estádios e da infraestrutura podem ter contribuído em parte para essa perda de confiança", afirma.


Nas duas pontas - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 13/06

Olhar da porta da fábrica à boca do caixa das redes de varejo revela que a situação está difícil em toda a cadeia produtiva. O setor de papelão ondulado, a embalagem das embalagens, cresceu só 0,35% até maio, menor ritmo desde 2009. Uma grande rede varejista do Espírito Santo registra queda de 10% no volume de vendas, o pior resultado em cinco anos. Em abril, o comércio encolheu 0,4%.

Ontem o IBGE divulgou os dados de vendas do varejo para abril, mostrando que o fraco desempenho não é de uma empresa só, mas está espalhada. A queda de 0,4%, em relação ao mês anterior, vem após uma retração de 0,5%, em março, na comparação com fevereiro. É a primeira vez desde novembro de 2008 que o comércio tem duas reduções mensais consecutivas, segundo a consultoria MCM. Sete de 10 setores do comércio ampliado — que inclui o segmento automóveis — caíram em abril. Um tombo generalizado. Nos supermercados, houve queda pelo terceiro mês seguido, como reflexo principalmente da inflação de alimentos.

A expedição de papelão ondulado é um indicador antecedente do nível de atividade porque contabiliza as caixas que saem das fábricas até o comércio com produtos de vários setores da economia: alimentício, farmacêutico, higiene e limpeza, vestuário, eletroeletrônicos. Por isso, quando sobe, é sinal de aumento das vendas. Quando fica fraco, mostra que os estoques estão elevados. O presidente da ABPO, associação que representa o setor, Sérgio Amoroso, contou à coluna que de janeiro a março a produção de papelão crescia 3% sobre 2013. Depois, houve retração de 5,2%, em abril, e de 1,5%, em maio. Ficou pior da passagem do primeiro trimestre para o segundo tri e agora a alta acumulada é de apenas 0,35%. Esse é o ritmo mais fraco desde 2009.

— Prevíamos crescer 3,5% em 2014, agora, esperamos 2%, mas com viés de baixa. Apesar de não estarmos tão mal quanto outros países, está difícil manter o otimismo sem um dado que indique mudança de rota na política econômica — explicou Amoroso.

No grupo empresarial Dadalto, uma grande rede de varejo capixaba, com lojas de departamento em quatro estados, material de construção, e também uma financeira, os estoques de produtos correspondem a 60 dias de vendas, quando a média para o período é 45 dias. Segundo o presidente da grupo, Leonardo Coelho, o volume de vendas está 10% menor este ano, o número mais fraco também desde 2009.

— De todos os indicadores, o que mais nos afeta é o endividamento das famílias e o comprometimento da renda. Não temos expectativa de reverter a queda do ano, as margens de lucro estão muito pressionadas e há queda de braço com a indústria, que também está estocada — disse Coelho.

Para tentar reativar a economia, o ex-presidente Lula sugeriu recentemente aumento da oferta de crédito. Quem conversa com as empresas vê que isso é difícil. Leonardo Coelho conta que a financeira do grupo, a Dacasa, tem recursos para emprestar, mas explica que a redução da renda disponível das famílias aumenta muito o risco.

— A financeira está empoçada em liquidez. Ou seja, tem recursos para emprestar, mas enfrenta dificuldades. Forçar o empréstimo é incentivar a inadimplência porque o endividamento está alto e a renda disponível está menor. Qualquer crédito dado agora é de alto risco — afirmou.

Os dois executivos, de áreas diferentes, listam os problemas enfrentados pelas empresas na economia real: inflação alta, encarecimento do crédito, perda de confiança, alto endividamento, gastos em excesso do governo. Os dois também avaliam que a baixa taxa de poupança é um entrave para os investimentos, que deveriam ser o novo carro-chefe da economia, no lugar do consumo.

O consumo via endividamento durante muito tempo impulsionou o PIB. Agora, perde força, como mostram os números acumulados em 12 meses. O varejo ampliado já cresceu a uma taxa de 8%, em novembro de 2012. Em abril deste ano, cresceu 2,5%. Na mesma conta em 12 meses, o setor de supermercados crescia a 8,2% e agora está 3,3%. Móveis e eletrodomésticos, saiu de 15,8%, em abril de 2012, para 5,6% agora. O que não está em queda está em desaceleração. Os dados agregados, como a pesquisa divulgada ontem pelo IBGE, confirmam que a economia está fria de forma geral.

Mistura de estações - DORA KRAMER

O ESTADÃO - 13/06

Quando o Brasil foi escolhido como sede da Copa do Mundo, a ideia era que a euforia tivesse vida longa e que o governo estivesse agora sendo tão festejado quanto a seleção que ontem entrou em campo para derrotar a Croácia por 3 a 1.

A intenção era recolher dividendos políticos. A realidade, contudo, não permitiu o cumprimento dos desígnios e o que se vê é o governo perdendo a confiança da população devido à deterioração da economia, que assume uma dimensão superlativa justamente pela realização da Copa com seus gastos e atrasos.

Não é o resultado em campo que vai determinar o resultado das eleições, embora a ineficácia fora dele tenha contribuído bastante para que se consolidasse a percepção de que a capacidade do governo de "realizar" não correspondia aos fatos.

Sem muito a fazer para inverter a tendência de queda na intenção de votos e no aumento da rejeição nas pesquisas, a presidente Dilma Rousseff tenta nitidamente tirar algum partido da Copa. Faz uma manobra para virar o jogo e dizer que as coisas são o contrário do que na verdade são.

Diz a presidente que nem na ditadura se misturava o futebol com a política. Não é verdade. O ditador da vez a que se referia Dilma, em 1970, Garrastazu Médici, misturava sim. O que não havia era espaço para contestações, em manifestações. Não havia sequer eleições.

Agora ninguém está misturando nada com nada. O que há é uma insatisfação concreta com os serviços públicos, a ação de vândalos e a incapacidade do poder público, em todas as esferas, de responder de maneira adequada. Isso em relação a junho de 2013.

As promessas da ocasião ficaram pelo meio do caminho ou eram inexequíveis (Constituinte exclusiva para reforma política, por exemplo) e a baderna correu solta até espantar os manifestantes de boa-fé das ruas.

Em 2014, os protestos voltaram com outro perfil: categorias profissionais e movimentos, alguns politicamente instrumentalizados, que procuraram tirar proveito da visibilidade do Mundial para obter vantagens dos governos. Alguns com sucesso.

Mas não há nisso uma linha de ligação direta com os jogos propriamente ditos. A não ser aquela que a própria presidente estabelece quando atribui as críticas aos gastos e aos atrasos - o chamado mau humor geral - aos opositores do governo.

Dilma os qualifica de "pessimistas" e determina que foram "derrotados". Eram também assim chamados os que alertavam para a condução errática da economia enquanto o governo previa crescimento irreal do PIB e dizia que o aumento dos preços não era motivo de preocupação. Se alguma tese saiu derrotada aí não foi a dos que estavam sendo apenas realistas.

Agora a presidente faz uma manobra em que tenta confundir os críticos à incompetência governamental com maus brasileiros que torcem pela derrota da seleção. Foi esse o recado de seu último pronunciamento em cadeia de rádio e televisão.

Impossibilitada de colher os louros de uma organização à altura das promessas feitas sete anos atrás pelo antecessor, Lula da Silva, Dilma opta por criminalizar o senso crítico da população em relação aos deveres do poder público e a consciência de que a realização da Copa do Mundo no Brasil não é uma dádiva merecedora de gratidão eterna.

Se alguém está misturando as estações - de propósito e convenientemente com sinal trocado - é a própria presidente, que vai à televisão dizer que há uma campanha contra a Copa que, na verdade, é uma campanha contra o governo. Só faltou dizer explicitamente, porque implicitamente deu a entender, que quem não vota nela não gosta do Brasil. Por esse raciocínio, sua queda nas pesquisas é grave crime de lesa-pátria.

Tudo fantasia, fruto de manipulação marqueteira. Na batata, como se dizia antigamente, agora todo mundo vai torcer. E, em outubro, votar como bem entender.

Dilma de Caracas - REINALDO AZEVEDO

FOLHA DE SP - 13/06

A presidente resolveu dar uma banana ao Congresso e, em vez de projeto de lei, mandou logo um decreto


Com alguma impaciência, noto que há certos analistas com muita opinião e nenhuma memória. É claro que se pode ter uma sem outra. E outra sem uma. Memória sem opinião é banco de dados. Opinião sem memória é tolice. Trato do decreto comuno-fascistoide de Dilma Rousseff, o 8.243, que institui a tal "Política Nacional de Participação Social" e entrega parte da administração federal aos "movimentos sociais", num processo de estatização da sociedade civil.

Sempre que alguém especula sobre a crise da democracia representativa, procuro ver onde o valente esconde o revólver. O assunto voltou a ser debatido nos últimos dias em razão do decreto, que chega a definir, Santo Deus!, o que é sociedade civil. E o faz com a ousadia do autoritarismo temperado pela estupidez. Lê-se lá: "Sociedade civil - o cidadão, os coletivos, os movimentos sociais institucionalizados ou não institucionalizados, suas redes e suas organizações". Quando um governo decide especificar em lei que o "cidadão" é parte da sociedade civil, cabe-nos indagar se é por burrice ou má-fé. Faço a minha escolha.

O "indivíduo" só aparece no decreto para que possa ser rebaixado diante dos "coletivos" e dos "movimentos sociais institucionalizados" e "não institucionalizados", seja lá o que signifiquem uma coisa, a outra e o seu contrário. Poucos perceberam, como fez Oliveiros S. Ferreira, em artigo publicado em "O Estado de S. Paulo", que o Decreto 8.243 institui uma "justiça paralela" por intermédio da "mesa diálogo", assim definida: "mecanismo de debate e de negociação com a participação dos setores da sociedade civil e do governo diretamente envolvidos no intuito de prevenir, mediar e solucionar conflitos sociais".

Ai, ai, ai... Como a Soberana já definiu o que é sociedade civil, podemos esperar na composição dessa mesa o "indivíduo" e os movimentos "institucionalizados" e "não institucionalizados". Se a sua propriedade for invadida por um "coletivo", por exemplo, você poderá participar, apenas como uma das partes, de uma "mesa de negociação" com os invasores e com aqueles outros "entes". Antes que o juiz restabeleça o seu direito, garantido em lei, será preciso formar a tal "mesa"...

Isso tem história. No dia 19 de fevereiro (http://abr.ai/1lkunwF), o ministro Gilberto Carvalho participou de um seminário sobre mediação de conflitos. Com todas as letras, atacou a Justiça por conceder liminares de reintegração de posse e censurou o Estado brasileiro por cultivar o que chamou de "uma mentalidade que se posiciona claramente contra tudo aquilo que é insurgência". Ou por outra: a insurgência lhe é bem-vinda. Parece que ele tem a ambição de manipulá-la como insuflador e como autoridade.

Vocês se lembram do "Programa Nacional-Socialista" dos Direitos Humanos, de dezembro de 2009? É aquele que, entre outros mimos, propunha mecanismos de censura à imprensa. Qual era o "Objetivo Estratégico VI" (http://abr.ai/1lkLvSS)? Reproduzo trecho:

"a- Assegurar a criação de marco legal para a prevenção e mediação de conflitos fundiários urbanos, garantindo o devido processo legal e a função social da propriedade.

(...)

d- Propor projeto de lei para institucionalizar a utilização da mediação como ato inicial das demandas de conflitos agrários e urbanos, priorizando a realização de audiência coletiva com os envolvidos (...) como medida preliminar à avaliação da concessão de medidas liminares (...)"

Dilma resolveu dar uma banana para o Congresso e, em vez de projeto de lei, que pode ser emendado pelos parlamentares, mandou logo um decreto. As Polianas que fazem o jogo dos contentes acusam os críticos do decreto de exacerbação retórica e dizem que a trajetória do PT não revela tentações bolivarianas. Não? Fica para outra coluna. Nego-me a ignorar o que está escrito para ser árbitro de intenções. Pouco me interessa o que se passa na alma do PT. Eu me ocupo é dos fatos. Dilma tem de recuar. Brasília não é Caracas.

Participação popular e facções - ROBERTO ROMANO

O ESTADO DE S.PAULO - 13/06

Com os conselhos populares pretendidos pelo governo, pela enésima vez a Presidência da República legisla e usa a mão felina do Congresso para pegar as castanhas que a fortalecem. O Executivo abusa das normas e das medidas provisórias. Todas essas medidas propiciam "negociações" que rendem cargos aos partidos, mas privilegiam o Executivo. Propostas corretas podem ser viciadas. Sim, a participação popular é alvo democrático. O problema reside no modo e na dose.

Alguns doutrinadores exageram as prerrogativas oficiais, outros acentuam a soberania popular. Fernando Bianchini (Democracia Representativa sob a Crítica de Schmitt e Democracia Participativa na Apologia de Tocqueville, 2014) mostra que Tocqueville não ataca, nos moldes de Carl Schmitt, o Estado parlamentar. Ele quer diminuir a distância entre cidadãos e legisladores. O movimento, no entanto, deve brotar "de baixo para cima", e não ser imposto pelo Executivo. Tal é o defeito do decreto assinado por Dilma Rousseff.

O diploma finge que a sociedade não é dividida. Nela não existiriam interesses contraditórios de grupos políticos organizados. Partidos e interesses vários não manobrariam esses grupos, só aparentemente autônomos. Só anjos ignoram que os "movimentos não institucionalizados" têm líderes, ideólogos, agenciadores. Dilma busca um Estado nas dobras do Estado. Ninguém, em movimentos desprovidos de instituição, assume responsabilidade oficial, ou seja, diante do povo soberano, pelos erros nas decisões. O caso de um deputado paulista, popular graças aos recursos de campanha, é importante. O político recebeu um mandato das urnas e guarda relações enigmáticas com "movimentos não institucionalizados", os perueiros que têm elos "não institucionais" com... setores que operam na margem da lei.

Bem diverso era o orçamento participativo, fechado ao ser eleito Luiz Inácio da Silva. Ali os movimentos discutiam com os administradores públicos. Eles decidiam prioridades na aplicação do orçamento. Toda a assembleia se responsabilizava pelas decisões. Mesmo assim, existiam "donos" de movimentos. Certa feita, na assembleia (de Porto Alegre), um grupo abriu uma faixa: "A comunidade de (invento o nome) Pedro Leopoldo saúda os participantes". Perguntei ao meu cicerone: "Onde é Pedro Leopoldo?". Pergunta errada, corrige ele: "Quem é Pedro Leopoldo?". Era o dono do grupo. Líderes referiam-se aos movimentos com o possessivo: "o meu". Comento: "Estranha forma de indicar a comunidade". Replica o acompanhante: eles se pensam proprietários da coisa. A Secretaria da Educação de Porto Alegre, para diminuir filas na matrícula escolar, distribuiu fichas de agendamento. Líderes comunitários exigiam que fossem eles a levar as fichas aos genitores. É a lógica do "favor não institucionalizado".

Sim, o Congresso brasileiro afasta-se da cidadania. Antes de junho (de 2013), nele se discutiram a aprovação da PEC 37, que feria o Ministério Público, mudanças que atenuariam a Lei de Improbidade Administrativa, aleijões na Lei da Ficha Limpa, etc. O problema não está só no Congresso, mas no Estado brasileiro. Fosse o Supremo Tribunal Federal "apenas" uma Corte constitucional, as questões contidas no decreto em pauta já estariam encaminhadas. Ente que tudo julga, e a todos, ele se afoga em processos decididos sem a tranquilidade necessária. Ademais, ele decide com base numa Constituição que é triste colcha de retalhos, dadas as inúmeras emendas, várias oriundas de imposições do Executivo (como a da reeleição).

É grave a distância entre o Estado e os eleitores. Seria importante diminuir o gap que desmoraliza os Poderes. Mas o proposto agora é a imposição de movimentos sociais como operadores do Executivo, negando-se o fato de que na democracia o poder exige responsabilidade pública. Segundo H. Guaino, "as ONGs começam a constituir um contrapoder, mas não têm legitimidade política. Elas não expressam o direito dos povos: um debate na internet não equivale a eleição legislativa ou referendo". As ONGs não têm legitimidade política. E os movimentos que seguem líderes anônimos, com interesses idem?

Hobbes alerta contra as assembleias "populares": antes das reuniões os líderes tudo decidem mantendo "em separado reuniões secretas com alguns poucos, em que combinam o que irão propor na assembleia-geral, a ordem dos assuntos, as pessoas que agirão em primeiro lugar e sobre a habilidade com que irão cooptar os mais poderosos da facção para o seu lado, e aqueles cujo partido tem maior popularidade (...). E, assim, às vezes eles oprimem a república (commonwealth) quando não há outra facção para se opor à sua. Mas na maior parte das vezes eles causam uma guerra civil" (De Cive, 12).

Hobbes conhecia a falência da democracia em Atenas e observou a Revolução Inglesa, enterrada na ditadura pessoal de Cromwell, mas dirigida por líderes anônimos. A democracia exige responsabilidade de pessoas concretas, nega força hegemônica ao Executivo com seus braços, os pretensos "movimentos não institucionalizados". O decreto presidencial lembra um texto a ser lido pelos imprudentes: Estado, Movimento, Povo, de Carl Schmitt. O poder, segundo o jurista, se dividiria em três setores: o povo inerte que diz "sim" ou "não" plebiscitariamente e segue o partido, que, por sua vez, segue o líder (princípio da Führung), mantendo o Estado. Schmitt deseja conselhos de líderes, eleitos ou escolhidos pelo Führer...

No despotismo dos que imperam sem responsabilidade pública, decidem as facções. Com seu decreto, o próprio governo se transforma em facção, esquece um compromisso com o povo na sua totalidade soberana. De um lado, a Secretaria da Presidência e, de outro, os almejados tentáculos do Executivo. Se houvesse algo democrático no decreto, ele seria discutido amplamente com a sociedade, depois enviado ao Legislativo. O resto é propaganda.

Números ruins - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 13/06

A mais recente pesquisa do Ibope sobre a corrida presidencial tem números ruins para a presidente Dilma, mas nenhum igual ao que mostra que hoje, pela primeira vez, na avaliação de seu governo o índice de ruim e péssimo já é maior do que o de bom e ótimo, 33% a 31%, respectivamente.

A esse saldo negativo soma-se o fato de que a presidente permanece no menor índice de aprovação possível para a reeleição, na faixa que indica, segundo pesquisas de estudiosos, dificuldades para obter um novo mandato.

Outro dia, fiz referência a essa pesquisa do cientista político Alberto Carlos Almeida, do Instituto Análise, sobre a qual já escrevera anteriormente, e muitos leitores espantaram-se com o fato de a presidente Dilma estar em primeiro nas pesquisas eleitorais e, ao mesmo tempo, correr o risco de perder a eleição.

Conforme já escrevi aqui, a taxa de aprovação de seu governo está no limbo , na definição de Alberto Carlos Almeida. Ele tem um estudo que mostra que, em 46 de 104 eleições para governador realizadas entre 1994 e 2010 em que havia um candidato à reeleição, todos os que chegaram à eleição com o índice de ótimo e bom igual ou maior do que 46% foram reeleitos.

Ao contrário, os que disputaram a reeleição com a soma de ótimo e bom igual ou menor do que 34% foram derrotados.

Como, na ocasião, a presidente Dilma tinha 35% de ótimo e bom, segundo pesquisa do Ibope, estaria em situação delicada, à beira da reeleição ou da derrota, segundo a forma como os números se comportarem durante a campanha.

Hoje, a mais recente pesquisa do Ibope detectou que esse índice já caiu para 31%, e na pesquisa mais recente do Datafolha ele estava em 33%.

Nesse mesmo estudo, o cientista político Alberto Carlos Almeida mostra que 40% a 43% dos candidatos à reeleição nos governos dos estados que chegaram às urnas com índices de ótimo e bom entre 35% e 45% se reelegeram, o que demonstra que a derrota é mais provável nessa faixa de avaliação, embora não uma certeza.

Uma ressalva importante que Alberto Carlos Almeida faz é que é possível melhorar a avaliação no decorrer da campanha. Dilma terá três vezes mais tempo de propaganda eleitoral que o tucano Aécio Neves e sete vezes mais que Eduardo Campos, do PSB.

O fato negativo para a presidente é que quanto mais ações ela faz para reequilibrar sua candidatura, mais ela cai nas pesquisas eleitorais, o que pode indicar que, como disse o candidato oposicionista Aécio Neves, não há marqueteiro no mundo que consiga reeleger a presidente Dilma.

Evidentemente, esta é uma linguagem de campanha eleitoral, e ainda é muito cedo para decretar a derrota da incumbente.

Ao contrário, ela continua à frente das pesquisas, e há algumas até, como a do Vox Populi, que mantém a aposta em uma vitória no primeiro turno.

Esse instituto, que faz pesquisas para a revista situacionista Carta Capital , é o preferido dos petistas, que desconfiam dos números do Datafolha e do Ibope.

Os dois institutos, no entanto, têm um histórico de acertos melhor do que o do instituto do sociólogo Marcos Coimbra, que ficou famoso quando dirigiu a campanha vitoriosa de Collor, seu primo, à Presidência.

Um outro detalhe da pesquisa do Ibope que merece ser acompanhado de perto nas próximas é que a presidente Dilma começa a perder fôlego nas capitais nordestinas, região em que mantém ampla margem de vantagem para seus adversários.

Se for uma tendência sustentável, é provável que essa perda de substância se alastre pelo interior, o que pode ser uma ameaça à posição de Dilma, que deve sua eleição em 2010 substancialmente à votação que teve no Norte e no Nordeste.

Pontapé inicial - ELIANE CANTANHÊDE

FOLHA DE SP - 13/06

BRASÍLIA - A presidente da República do Brasil, anfitriã de um dos maiores espetáculos do planeta, a Copa do Mundo, ficou praticamente anônima na abertura oficial dos jogos. Nem discurso, nem o protocolar "considero aberta..." e nem mesmo acenozinhos básicos para o público, desses de estadistas.

É bem verdade que vaias a chefes de Estado não são incomuns, nem um bicho de sete cabeças. Mesmo as melhores famílias e os mais populares presidentes estão sujeitos a uma vaia, especialmente em jogos.

Por isso, por pudor ou pelos palavrões, as transmissões ao vivo relevaram os gritos contra Dilma e a Fifa. Mas não deu para esconder que a presidente foi trocada pelas simpáticas pombas brancas da paz.

Paz, aliás, quebrada fora do estádios em São Paulo e, por exemplo, em Belo Horizonte, Porto Alegre e Rio. A polícia, aparentemente, foi profissional: sem excessos, mas firme.

Quanto ao espetáculo de abertura, pareceu ok, nada além disso. Havia espaço demais e gente de menos, causando uma sensação assim: cadê a exuberância do sambódromo? Ainda bem que Cláudia Leite, tão esnobada na internet, estava linda, alegre e, apesar de loura, bem brasileira. Não ficou um pingo a dever a Jennifer Lopez, ao contrário.

Quanto ao jogo de estréia, nem o mais chato militante anti-Copa poderia imaginar que o primeiro gol seria um gol contra --e contra o Brasil. Coitado do Marcelo, vai ser eternamente lembrado por isso. E o segundo gol brasileiro? Fala sério, o pênalti foi no mínimo polêmico. Para um leigo, o Fred caiu de maduro.

Mas, quer saber? Apesar desses detalhes, a bola está rolando no campo, o Brasil enfim entrou no clima e a Copa tem tudo para dar certo. Não será exatamente a "Copa das Copas" que Dilma alardeava, mas mais uma Copa decente e animada.

Ah, e que golaços os do Neymar e o do super Oscar fechando o placar, hein? O que o povo quer mesmo é ver belos gols do Brasil. E viu.

Novas e fortes evidências de corrupção na Petrobras - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 13/06

A descoberta de milhões de dólares escondidos na Suíça pelo ex-diretor Paulo Roberto Costa reforça a certeza de que negócios escusos foram fechados na estatal



Entre o depoimento à CPI chapa-branca da Petrobras, no Senado, do ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa e a sua segunda prisão passaram-se apenas algumas horas. Serviu como mensagem ao governo de que talvez seja em vão todo o esforço para montar a farsa dessa CPI e travar os trabalhos da comissão mista, formada com representantes do Senado e Câmara.

Paulo Roberto teve sua primeira prisão preventiva decretada pela Justiça do Paraná na sequência das investigações da Polícia Federal na Operação Lava-Jato, sobre um esquema bilionário de lavagem de dinheiro comandado pelo doleiro Alberto Youssef. Ao mesmo tempo, estourou o escândalo da compra da refinaria de Pasadena, no Texas, com a declaração pública da presidente Dilma de que, se soubesse de cláusulas do negócio que lhe foram omitidas quando estava à frente do Conselho Administrativo da Petrobras, não o aprovaria.

Com o andamento das investigações e a evolução do noticiário, soube-se que o ex-diretor de Abastecimento fez parte de um comitê na refinaria. Não contribuiu para a imagem de lisura que o governo tentou passar para o negócio, depois da reprovação da compra por Dilma e, mais à frente, pela própria presidente da estatal, Graça Foster.

Tendo a prisão sido relaxada pelo ministro do Supremo Teori Zavaski, Paulo Roberto retorna ao presídio paranaense porque a Suíça descobriu em seu nome, no de parentes e de um funcionário de Youssef, aproximadamente US$ 28 milhões. Não surpreende. Afinal, ao ser preso pela primeira vez, foi encontrado em sua casa, no Rio, mais de R$ 1 milhão em dinheiro vivo.

Relacionar esta dinheirama à atuação de Paulo Roberto Costa na Petrobras é simples. E principalmente à obra da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, na qual o diretor teve participação direta. Resultado da aproximação entre o Brasil lulopetista e a Venezuela chavista, e fruto do relacionamento pessoal entre Lula e Chávez, Abreu e Lima tem pelo menos dois números escandalosos: foi orçada em US$ 1,8 bilhão e já custa US$ 18 bilhões, dez vezes mais. Mais que evidências, o TCU tem provas de superfaturamento no projeto, a única explicação plausível para tamanho estouro de orçamento.

Ao sair da prisão, Paulo Roberto Costa disse à “Folha de S.Paulo”, para justificar a superação das estimativas, que se definiu o projeto numa “conta de padeiro”. Assim, agrediu os milhares de donos de padaria, que não tratam seus negócios como alguns projetos têm sido tocados na estatal.

Ganham importância ainda maior as investigação da PF. É preciso descobrir, com provas, a origem do dinheiro e seu destino. As ligações político-partidárias do ex-diretor estimulam especulações.

Também se reforça a ideia de que o aparelhamento da estatal por esquemas de petistas e aliados tem relação com todos esses desmandos. A Copa do Mundo e o recesso parlamentar não devem conseguir congelar a evolução dos fatos.

Aparelhamento do governo - EDITORIAL ZERO HORA

ZERO HORA - 13/06

Merece apoio de outros setores da sociedade a forte reação do Congresso à tentativa do governo de infiltrar no Executivo pretensos representantes do que genericamente se define como movimentos sociais. A democracia brasileira orienta-se pelos modelos consagrados do sistema representativo e prescinde de artimanhas, como a articulada pelo Planalto, expressa no decreto 8.243. Sem consulta ao Congresso, e contrariando o que prega na deliberação, o Executivo determina, à revelia da própria base política, que terá sua gestão orientada também por uma Política Nacional de Participação Social (PNPS) e um Sistema Nacional de Participação Social (SNPS). São denominações pomposas para uma tentativa de cooptar e empoderar entidades que passariam a ter o direito de interferir nas políticas oficiais.
O decreto foi, compreensivelmente, rejeitado inclusive pelos governistas, porque começa afrontando o Legislativo. Há limites para a participação direta em decisões do setor público, desde que expressem de fato posições da população, e não de grupos políticos. Iniciativas que subvertam essa premissa devem ser rechaçadas, principalmente se estiverem sob a suspeita de que buscam apenas o fortalecimento de quem está no poder. É compreensível que parlamentares, juristas e analistas políticos tenham manifestado estranhamento com o decreto. Trata-se de um gesto ofensivo ao Congresso, questionável sob o ponto de vista constitucional e politicamente desastroso.
O Brasil não precisa de instrumentos a serviço de partidos e à margem das instituições para que a gestão pública se aperfeiçoe. O Congresso é, pela representatividade do voto, o espaço institucional para a formulação de leis, para a apreciação de iniciativas do governo e para a fiscalização de atos do Executivo. Um decreto não é a melhor forma de defender um ponto de vista com o alegado desejo de fortalecer a diversidade de pontos de vista e os movimentos sociais. Mas a iniciativa é mais do que uma contradição em relação ao que prega. É, desde a forma escolhida, uma atitude autoritária, com um conteúdo também antidemocrático.
Não há exagero na definição do decreto como uma medida de inspiração bolivariana. Incluir, via conselhos, representantes de movimentos sociais nos órgãos diretivos de instituições públicas é menos a busca de qualificação da administração e mais uma forma de controle das decisões pelo que também se prenuncia como ume espécie de sovietização do governo. São muitos os exemplos latino-americanos de aparelhamento do Estado por amigos de quem eventualmente está no poder, com resultados danosos para o próprio governo, para a economia e para a sociedade. O decreto é mais do que eleitoreiro, é parte de um projeto de longo prazo de partilha do setor público. Rechaçar a iniciativa no Congresso fará bem à democracia.

Leilões ao contrário - EDITORIAL O ESTADÃO

O ESTADO DE S.PAULO - 13/06

Já está decidido quem dará o maior lance nos próximos leilões de rodovias do Programa de Investimentos em Logística. Num país administrado com alguma competência seria um grupo ou consórcio privado, mas o caso do Brasil é diferente. O maior lance vai ser do governo. Para atrair empresas privadas, o setor público federal financiará, por meio de bancos estatais, até 70% do custo de cada projeto, segundo divulgou na terça-feira a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). O plano envolverá o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Os empréstimos serão concedidos por 25 anos, com carência de até 5 e amortização em 20 anos. Os tomadores deverão pagar a Taxa de Juros de Longo prazo (TJLP, atualmente de 5%) mais 2% ao ano. Serão financiamentos subsidiados. Para captar recursos, o Tesouro paga no mínimo 11%, a taxa básica de juros, Selic, fixada pelo Banco Central (BC). Os bancos federais também deverão fornecer no prazo de 90 dias, como empréstimos-ponte, até 30% do total do financiamento para uso como capital de giro das concessionárias. A exigência de garantias será generosa. O conjunto poderá incluir, por exemplo, o penhor de ações da sociedade de propósito específico formada para cada concessão.

Os bancos privados nacionais têm pouco interesse em financiar empreendimentos de longo prazo, porque podem obter maior retorno em operações mais curtas e de menor risco. Mas isso é apenas um dos obstáculos. Tem sido igualmente difícil atrair grupos ou consórcios privados para projetos de construção e de administração de rodovias, porque as condições de rentabilidade têm sido pouco interessantes.

O governo precisa do capital privado para investimentos em infraestrutura e eliminação de gargalos econômicos, mas tem-se mostrado incapaz de entender um dado básico: empresas investem para ganhar dinheiro. Se achar essa ideia inaceitável, o governo terá de responsabilizar-se pelo financiamento das obras e pela gestão das estradas ou quaisquer bens construídos. Se quiser um investidor e gestor privado, terá de entender a lógica de seus negócios.

Sem condições de investir apenas com recursos próprios e sem disposição para aceitar a lógica do empreendimento privado, o setor público tem assumido uma posição mal definida e isso tem atrapalhado os leilões e atrasado as concessões.

A parceria tem ido mal em todos os setores. Os atrasos nas concessões de rodovias são conhecidos. Também são conhecidos os custos - tão elevados quanto desnecessários - impostos à Petrobrás, quando tem de participar das licitações de áreas de exploração. Esses custos seriam menores, se a política oficial fosse menos afetada por preconceitos estatistas.

O setor público federal já tem assumido compromissos muito pesados, por meio dos bancos estatais (e do Tesouro), para garantir financiamento às empresas concessionárias de equipamentos de infraestrutura. A situação é esdrúxula. Enquanto insiste no critério da modicidade tarifária, o governo tenta atrair o participante privado com a oferta de financiamento amplo, generoso e subsidiado.

Com isso, livra o usuário da instalação ou do serviço de utilidade pública de uma parcela do custo. Essa parcela é transferida para o contribuinte e também para clientes potenciais - e menos afortunados - do financiamento concedido pelos bancos sob controle da União.

O crédito subsidiado envolve endividamento do Tesouro, deterioração das contas federais e, no limite, menor espaço de manobra para execução de programas de interesse público. O comprometimento crescente dos bancos estatais também tem más consequências. Todo o setor bancário - e isso inclui o Banco do Brasil, a Caixa e o BNDES - tem de se adaptar, até 2019, a regras mais severas de segurança definidas pelo Banco de Compensações Internacionais (BIS), de Basileia, e aceitas pelas autoridades brasileiras. Os compromissos de longo prazo e os riscos assumidos pelas instituições federais tendem a engessá-las e a diminuir sua capacidade de operação - e sua utilidade - nos próximos anos.


Que venham o hexa e um novo Brasil - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE

CORREIO BRAZILIENSE - 13/06

A boa vitória do Brasil sobre a Croácia por 3 x 1 no jogo de estreia da Copa pode ser o começo de uma caminhada vitoriosa da famosa Seleção Canarinho rumo ao inédito hexacampeonato mundial de futebol. É o que a maioria dos brasileiros deseja e merece. O Brasil tem a vantagem de jogar em casa, com o apoio de dezenas de milhões de torcedores que mantêm inabalável paixão pelo futebol e, mais ainda, pela Seleção.
Mas que ninguém se engane. O Brasil que vai para os estádios ou acompanha tudo com os olhos pregados na tevê e ouvidos colados no rádio não é mais o mesmo de copas atrás. Nem de longe lembra o país ingênuo e desinformado de 1970. A paixão é a mesma, mas é outra a consciência: o futebol não é tudo e nem mesmo o sonhado título mundial é capaz de amainar o inconformismo com a manutenção de velhas mazelas sociais sempre postergadas.

De fato, a sociedade brasileira é outra. Nos mais de 30 anos de democracia, apesar da escassez de políticos à altura dessa passagem histórica, o Brasil avançou. Se foram mais rápidas e eficientes as conquistas econômicas ,como a estabilização da moeda e a colocação entre as 10 maiores economias do mundo, não foi menos importante o processo de disseminação da informação e de formação de uma consciência cidadã, desconhecida antes do golpe de 1964 e sufocada nos anos de ditadura que a ele se seguiram.

A voz das ruas, que se fez ouvir em junho de 2013, não deixa dúvida de que o paraíso que se pretendeu vender ao povo nos últimos anos não passou de um produto de marketing em que, a não ser os ingênuos de sempre, não se acredita mais. Cegos pela arrogância do poder e pela porosa maioria parlamentar cooptada mediante cargos e verbas, muitos do governo não perceberam que o velho truque do pão e do circo do tempo dos romanos não cola mais no Brasil. Ou seja, sediar a Copa do Mundo é bom, mas não perdoa o abandono da saúde pública, a baixa qualidade da educação, o perigo da falta de segurança e a precariedade das estradas e do transporte coletivo.

Foi por isso que milhares foram às ruas. É por isso que muitos deles estão voltando para investir, não contra a Copa, mas contra os R$ 26,7 bilhões gastos para erguer mais estádios luxuosos do que seria necessário, enquanto as reais demandas da sociedade foram de novo adiadas. A diferença é que, desta vez, isso não ficará impune. E é por isso que, como nunca antes na história das Copas, as autoridades anfitriãs não podem se expor ante a certeza das vaias.

Portanto, mesmo que não levantemos a taça, já temos o que comemorar. Afinal, tamanho amadurecimento é certeza de que vamos expurgar os bárbaros violentos, aprimorar a manifestação pacífica e ordeira e caminhar para mudanças na qualidade da política. Assim como a conquista do hexa impõe a nossos craques superar obstáculos, a construção de uma nação mais justa e menos desigual nos pede esforço e concentração. Temos tudo para vencer as duas batalhas.

A CPI ridicularizada - EDITORIAL GAZETA DO POVO - PR

GAZETA DO POVO - PR - 13/06

Para blindar a presidente da Petrobras, o petista Marco Maia gastou horas em um interrogatório inócuo



O depoimento da presidente da Petrobras, Graça Foster, à CPI mista que deveria investigar as denúncias envolvendo a estatal e a desastrosa gestão que demoliu o valor de mercado da empresa foi o exemplo acabado de como o PT e a base aliada estão dispostos a melar qualquer possibilidade de conhecer a verdade sobre os bastidores da Petrobras. Na quarta-feira, Graça falou por cerca de oito horas, mas sua presença diante da CPI pouco ou nada ajudou a esclarecer os meandros de negociações desastrosas, como as da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos.

A base aliada já tinha garantido que a CPI seria chapa-branca ao deixar à oposição apenas oito cadeiras, em um comissão de 32 membros. Também estão do lado do governo tanto o presidente da CPI, o senador Vital do Rego (PMDB-PB), quanto o relator, deputado Marco Maia (PT-RS). E foi Maia o protagonista do ridículo que caracterizou o depoimento de Graça. Enquanto os demais membros da CPI têm apenas cinco minutos para fazer considerações e perguntas, o relator tem a prerrogativa de fazer quantas questões quiser, pelo tempo que achar necessário. E, na quarta-feira, Maia usou e abusou do privilégio: ele passou de duas a três horas soterrando a presidente da Petrobras com 139 perguntas, todas completamente inofensivas, com o objetivo único de blindar a gestora – e, por tabela, a presidente Dilma Rousseff – e vencer pelo cansaço.

É difícil saber de que modo questões como “quais são as principais diretrizes que orientam a estratégia na política de negócios da Petrobras?”, “a Petrobras está preparada para enfrentar os desafios no setor?”, ou perguntar a data de inauguração da última refinaria construída pela Petrobras, podem ajudar a esclarecer qualquer coisa a respeito dos escândalos que envolvem a estatal. Não foi à toa que parlamentares da oposição, como os paranaenses Alvaro Dias e Fernando Francischini, se manifestaram contra o teatrinho de Maia – Francischini chegou a levar uma “pizza sabor petróleo” à sessão da CPI.

Desperdiçar tempo precioso com um interrogatório de mentirinha parece loucura, mas, como na tragédia shakespeariana, trata-se de uma loucura com método. “Esse é o método de fazer inquirição. Até porque o depoente pode cair em contradição e fazer afirmações que possam ser questionadas”, argumentou Maia, embora o seu método, na verdade, fosse outro: o de representar uma farsa que reduzisse a zero a possibilidade de colocar Graça Foster em apuros. Um método inofensivo para a depoente, mas daninho para o país.

A intenção de transformar as CPIs da Petrobras – tanto a mista quanto a do Senado – em piada não podia ficar mais clara. Apesar de Graça Foster ter admitido a possibilidade de “erros” em relação à Refinaria Abreu e Lima, cujo preço foi às alturas e na qual o Brasil levou um grande calote de Hugo Chávez; e mesmo com outros depoentes dizendo que as cláusulas polêmicas que levaram ao prejuízo da Petrobras em Pasadena eram de conhecimento de toda a diretoria, parece improvável que o trabalho da comissão efetivamente resulte em uma responsabilização daqueles que trataram com leviandade o patrimônio do país.

Expectativas globais - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 13/06

Novo documento do Banco Mundial revisa para baixo previsão de crescimento do PIB da maioria dos países e regiões, inclusive do Brasil


Há duas mensagens no relatório de perspectivas econômicas globais do Banco Mundial, divulgado nesta semana. Uma, pessimista, sugere um 2014 fraco, com crescimento inferior ao que se imaginava em janeiro. A outra, otimista, indica maior dinamismo nos próximos anos, com países ricos superando os efeitos da crise de 2008.

De acordo com a nova projeção do Banco Mundial, o PIB global avançará 2,8% neste ano, uma queda de 0,4 ponto percentual em relação ao prognóstico anterior. A piora no resultado abarca a maioria dos países e regiões.

No caso das nações desenvolvidas, a retração concentrou-se sobretudo nos EUA, cuja economia caiu 1% no primeiro trimestre. Atribui-se o evento ao inverno severo --que atinge atividades como construção e comércio--, mas a perspectiva é de retomada.

Na Europa, os principais problemas são a escassez de crédito e o peso das dívidas nos países mais atingidos pela crise. Mas o Banco Central Europeu tem adotado medidas que ajudam a revigorar o bloco.

Há fundamento, assim, para a expectativa do Banco Mundial de que a economia global alcance índices mais elevados de crescimento em 2015 e 2016, de 3,4% e 3,5%, respectivamente. A aceleração, nesse quadro, se deverá principalmente aos países desenvolvidos.

Do Brasil mais uma vez se espera desempenho abaixo da média. O banco reduziu a projeção de 2,4% para 1,5% neste ano, índice que, na América do Sul, supera apenas os de Argentina e Venezuela.

São conhecidos os entraves a serem enfrentados por aqui. A competitividade baixa e os gargalos de infraestrutura, por exemplo, justificam a previsão de que as exportações subirão 0,5% no ano, muito aquém do restante da região.

Restrições de crédito, carga tributária alta e insuficiência de mão de obra qualificada são outros limitantes estruturais. Ainda assim, o Banco Mundial projeta alta do PIB de 2,7% em 2015, um cenário otimista quando comparado às expectativas de analistas brasileiros, em torno de 1,8%. Não se pode, portanto, acusar a instituição de não dar um voto de confiança ao país.

É um alento que o Banco Mundial pelo menos não enxergue grandes riscos globais no curto prazo. A volta dos temores quanto à sobrevivência da moeda única europeia ou crises bancárias nos países ricos, por exemplo, parecem descartadas por ora. Os desafios existentes dizem respeito a acelerar a retomada econômica.

Os emergentes, contudo, não estão livres de uma temida dificuldade: o risco de menor fluxo de dinheiro quando os juros subirem nos países ricos.

COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO

“Nunca vi algo assim antes numa CPI”
Fernando Francischini, sobre a estratégia do governo de fazer 8h de perguntas na CPI da BR



PT ACUSA PMDB DE FAZER CORPO MOLE SOBRE ALSTOM

O PT acusa o PMDB de fazer “corpo mole” para instalar a Comissão Parlamentar de Inquérito que investigaria denúncias de pagamento de propina feito pela Alstom para ser favorecida em licitações no setor metroferroviário nos governos do PSDB em São Paulo e do DEM no DF. Segundo dirigentes petistas, o PMDB – que também é citado nas denúncias – adotou a postura do “quanto menos investigar, melhor”.

NA FILA

O PMDB e o PSDB até agora não indicaram nomes para compor a CPI da Alstom, que aguarda instalação pelo presidente Renan Calheiros.

BRIGA ELEITORAL

O PT trabalha pela criação da CPI da Alstom, que atinge o coração do PSDB, desde que foi criada a CPI mista para investigar a Petrobras.

DE VOLTA

Ex-vice-presidente da Câmara e amigão do doleiro Youssef, André Vargas perdeu a vergonha e já viaja de avião comercial no Paraná.

GREVE E COPA

Professores municipais em greve ocupam, desde dia 10, a Câmara de Goiânia. Prometeram assistir à estreia da Copa e não arredar mais o pé.

‘DEMISSÃO VOLUNTÁRIA’ DEVE FRACASSAR

O plano de demissão voluntária virou piada de corredor, nos Correios. São tantas as exigências, como o mínimo de dez anos de contrato e 50 de idade, e poucos incentivos, de R$ 30 mil a R$ 150 mil, que a maioria não se interessa. Para piorar, não haverá pagamento da multa de 40% do FGTS, pois a demissão é “a pedido”. Só vai aderir ao plano quem realmente não aguenta mais a situação caótica vivida na estatal.

SONHO LONGÍNQUO

O memorando 844 prevê adesão de 7.200 funcionários dos Correios à demissão voluntária, para reduzir a massa salarial e a idade média.

LIMITE

O plano dos Correios prevê gastos de R$ 490 milhões, divididos entre incentivos (R$ 397 milhões) e verbas rescisórias (R$ 93 milhões).

SEM COMPARAÇÃO

Plano da Petrobras teve mais de 8 mil adesões e pagará indenizações entre R$ 180 mil e R$ 600 mil, durante os três anos de desligamentos.

PALHAÇADA

A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara aprovou a irrelevante instituição do Dia Nacional do Palhaço. Mas a intenção, com certeza, não é homenagear o contribuinte, o otário que banca todo este circo.

PEC NA GAVETA

A PEC 300, que fixa piso salarial nacional para PMs, está engavetada a pedido de governadores que alegam não ter dinheiro para isso. A proposta está na gaveta do presidente da Câmara desde 2011.

SAÚDE PRIVADA

O secretário executivo do Ministério da Previdência, Carlos Gabas, não parece confiar no plano de saúde do governo: ganhou de “brinde” da Confederação Nacional do Comércio (CNC) o caríssimo plano da Amil.

FIASCO

Terminou frustrada a tentativa de greve dos aeroviários do Rio de Janeiro em plena Copa. Além da Justiça ter considerado a ação ilegal, a baixa adesão foi um caminhão de água fria nos planos do sindicato.

MOBILIZAÇÃO

Com a participação da ministra aposentada do STJ Eliana Calmon, candidata ao Senado, o PSB-BA espera mil pessoas na convenção que acontecerá neste sábado (14). Eduardo e Marina Silva também vão.

PAÍS DE PINÓQUIO

O prometido submarino nuclear brasileiro chegará no propalado trem-bala para inaugurar a interminável transposição do São Francisco, protegido por dez caças suecos Gripen, que jamais voaram.

CONTENÇÃO DE GASTOS

Às vésperas do início da Copa no Brasil, o Senado (que vai estar em recesso) cancelou a compra de 57 aparelhos de TV para os gabinetes dos parlamentares. Renan Calheiros não achou a compra boa ideia.

ENTUSIASMO

Num momento de descontração, o administrador da Candangolândia (DF), João Hermeto, enviou mensagens de admiração a José Roberto Arruda (PR). O ex-governador brincou, exibindo-as a amigos: “(o vice-governador do DF, Tadeu) Filippelli não segura os meninos dele!”.

SEXTA-FEIRA, 13

Foi numa sexta-feira, 13, em 2007, monumental vaia ao ex-presidente Lula, no Maracanã. A data é a mesma, mas nesta Copa os políticos não se arriscam.


PODER SEM PUDOR

O FUSCA É O MESMO

Remexendo uns papéis há alguns anos, em 2007, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) encontrou o recorte de uma coluna de Danuza Leão, de 1993, noticiando uma visita de Lula a Brasília, tendo sido recebido no aeroporto por ele, ex-reitor da UnB, que depois o levou a compromissos em seu Fusquinha. O ex-ministro da Educação, que ainda tinha o carro, acha que o ex-operário mudou muito:

- Lula já não aceita carona em fusquinhas...