O GLOBO - 17/07
E assim chegamos à campanha eleitoral com um ambiente econômico pior do que no início deste ano
Do que a gente estava falando antes?
Isso, antes das férias de verão, esticadas pelo carnaval tardio, Semana Santa e antes da Copa — o que era mesmo?
Havia uma preocupação com a combinação entre crescimento e inflação. Esta parecia estar subindo em relação a 2013, quando já fora alta. E a economia parecia desacelerar.
Essa percepção piorou. De fato, os preços sobem mais que o esperado e o crescimento é mais fraco. Não, a Copa não salva o ano.
Claro que trouxe turistas e dinheiro — até mais que se calculava. Mas houve uma espécie de compensação: os negócios relativos à Copa bombaram: roupas e calçados esportivos, por exemplo, e, claro, hotéis e restaurantes. Os demais minguaram por causa do excesso de feriados e falsos dias úteis. Também por causa do espírito geral: com a festa, quase todo mundo distraído com jogos e movimentação de torcedores, era difícil se concentrar no trabalho.
Pessoal reunido na Feira Internacional de Moda em Calçados, nesta semana, em São Paulo, constatou: o primeiro semestre foi de férias, perdido. Companhias aéreas, que poderiam ser favorecidas, também sofreram com a compensação. A TAM, por exemplo, calcula que a demanda de passageiros caiu 5% no período da Copa.
Ocorre que os “voos corporativos" — das pessoas que estão a trabalho, em eventos, reuniões, consultas, treinamento — simplesmente sumiram. Foram substituídos pelos turistas nacionais e estrangeiros, com forte aumento das viagens para as cidades da Copa. Mas não foi o suficiente. No balanço geral, deu uma pequena perda.
Foram criados empregos, mas temporários na maior parte. O fato de algumas obras não terem terminado até pode ajudar neste quesito: o pessoal continua trabalhando nelas. Com impacto limitado, porém. Antes da Copa, mesmo durante a construção de estádios, a geração de vagas formais continuou enfraquecida.
Tudo considerado, e como aconteceu em outros países, o efeito positivo do grande evento está mais na psicologia do povo. Fez-se uma grande festa. Ainda mais entre nós, dado o temor de que algo ruim pudesse ter acontecido. Foi alegria e alívio. Isso pode animar estrangeiros a voltarem para o turismo, mas vai depender lá na frente da cotação do dólar e dos preços por aqui.
Veremos.
Outra coisa que poderia ser positiva neste momento seria o fim das manifestações oportunistas, como greve nos transportes na véspera dos jogos. Não há mais instrumento de chantagem.
O problema é que se aproximam as eleições, outra oportunidade para reivindicações, justas ou não, democráticas ou não. Se as eleições se radicalizarem, preparem-se.
E assim chegamos à campanha eleitoral com um ambiente econômico pior do que no início deste ano. A população, na imensa maioria, se concentrou na seleção e suspendeu a bronca com a inflação, a paradeira na criação de empregos e a má qualidade dos serviços públicos. Como se sentirá agora?
Reparem: foram 26 mil homens na segurança da final no Maracanã. Tudo em paz. Mas quantos estarão disponíveis numa próxima final Flamengo e Fluminense? Os trens e ônibus “expressos da Copa” andaram bem em quase todas as cidades, mas em dias feriados ou falsos úteis. Agora, voltam todos ao normal, que é não é bom.
Como a população voltará a esses temas? Difícil avaliar, ainda mais que o ambiente estará tomado pela campanha eleitoral no rádio e TV, ou seja, pela capacidade (ou incapacidade) dos candidatos de fazer a cabeça e a mente dos eleitores.
E nem ganhamos a Copa.
EXEMPLO
Comentou-se depois do 7 a 1: isso mostra a superioridade da racionalidade e do planejamento dos alemães sobre o improviso e o jeitinho brasileiro.
Mas a Argentina esteve perto de ganhar da Alemanha? Pois então, se tivesse vencido, isso teria demonstrado a superioridade da viveza criolla?
O que quer dizer?
É mais ou menos a versão argentina para o nosso “jeitinho”, o modo de fazer as coisas no improviso, sem respeito às regras. Isso mesmo, o jeitinho não é coisa nossa, tem disso por toda a América Latina.
E dá errado em toda a região. Mas não foi por isso que perdemos da Alemanha. Não se pode dizer que as seleções brasileira e argentina eram dois times catados. Foram montados e treinados por um bom tempo. Claro, podem ter sido mal planejados e mal treinados, certamente o caso do Brasil.
Mas o que a vitória dos alemães significa é que eles estão jogando mais bola que a gente, na tática e na arte.
E que a expectativa de hexa no Maraca, certeza universal, destruiu o emocional do nosso time.
quinta-feira, julho 17, 2014
Foco na campanha eleitoral? Mas, em quê? - MARCO ANTONIO ROCHA
O ESTADÃO - 17/07
O foco, agora, é na campanha eleitoral? Pelo menos é o que dizem os bem pensantes da imprensa e da política. E o que nos oferecem os candidatos do ponto de vista do desenvolvimento do Brasil, do esclarecimento da população e da melhoria da cidadania em geral?
Não sei se alguém já se deu ao trabalho de ouvir o que os candidatos andam dizendo e de anotar o que pareça fundamental para o destino da Nação. De minha parte, confesso que ainda não ouvi nem li nada que possa ser considerado relevante como estratégia de governo para o País.
Este jornal propôs aos três principais candidatos à Presidência que opinassem sobre 11 temas que, na opinião do jornal, seriam importantes, a saber: reforma política; redução da maioridade penal; legalização do aborto; descriminalização da maconha; fim da estabilidade no serviço público; reforma da Previdência; reajuste do mínimo pela inflação e PIB; fim da gratuidade da universidade pública; passe livre no transporte urbano; flexibilização da CLT; e privatização de estatais e bancos públicos.
São temas da hora, digamos, e importantes do ponto de vista eleitoral, mas a maioria não chega a tocar nos fundamentos do desenvolvimento econômico e social.
A candidata Dilma se pronunciou apenas sobre reforma política, dizendo que é "a favor de um plebiscito". Não opinou sobre os outros 10 temas. Os 2 outros responderam aos 11 temas, mas dizendo que são contra ou a favor e dando pequenas explicações. Aécio foi contra a maioria das teses e evasivo em pelo menos duas. Campos também foi contra a maioria delas e evasivo em duas.
Foi inútil a tentativa de obter algo que se possa chamar de programa e alguma ideia ou proposta sólida para temas como a reforma política, a da Previdência e a privatização de estatais e bancos públicos - que fazem parte do que se pode chamar de "fundamentos" do desenvolvimento e, talvez, da própria Nação.
Na prática, o que se tem visto e ouvido dos candidatos nas suas viagens pelo País dá a impressão de que são todos candidatos a prefeitos. A presidente se esmera na oferta de mais casas populares, mais creches, mais postos de saúde, mais estradas asfaltadas. Os outros também.
Tudo isso é de fato muito bom e importante, mas não gera a esperança num futuro firme e atraente para as famílias e as jovens gerações. O que se pode esperar do Brasil e para o Brasil?, indaga, por exemplo, o jovem que está chegando à universidade e quer fazer uma escolha de estudos e de profissão, para o seu próprio futuro pessoal.
O fundamental, no caso, é ter confiança numa economia em crescimento gerando mais e melhores empregos. Nesse terreno é bom que se pergunte aos candidatos - e que eles nos digam - que tipo de políticas têm em mente para assegurar uma economia vigorosa e tanto quanto possível livre de percalços nacionais e internacionais a todo momento, como tem sido a economia brasileira.
Quem nasceu em 1960 e tem hoje 54 anos - em plena idade produtiva, portanto - foi capaz de planejar e organizar a sua vida conforme suas aspirações? Garanto que não, pois nesse período a economia brasileira funcionou como uma gangorra ou como um veleiro sem rumo, sem saber de onde vinha o vento.
É preciso que isso seja retirado do horizonte dos brasileiros jovens, homens ou mulheres. Isso requer políticas públicas definidas, aceitáveis e confiáveis nas áreas da produtividade e competitividade, da inflação, do comércio exterior, do câmbio, do dispêndio público, dos investimentos públicos e privados, da logística, dos combustíveis, da produção agropecuária e, finalmente, mas não apenas, do relacionamento econômico e comercial com parceiros de todo o mundo. Um programa, enfim.
Os candidatos estão nos oferecendo isso? Um pouco de paciência, eles nos dirão. Aguardemos, pois.
O foco, agora, é na campanha eleitoral? Pelo menos é o que dizem os bem pensantes da imprensa e da política. E o que nos oferecem os candidatos do ponto de vista do desenvolvimento do Brasil, do esclarecimento da população e da melhoria da cidadania em geral?
Não sei se alguém já se deu ao trabalho de ouvir o que os candidatos andam dizendo e de anotar o que pareça fundamental para o destino da Nação. De minha parte, confesso que ainda não ouvi nem li nada que possa ser considerado relevante como estratégia de governo para o País.
Este jornal propôs aos três principais candidatos à Presidência que opinassem sobre 11 temas que, na opinião do jornal, seriam importantes, a saber: reforma política; redução da maioridade penal; legalização do aborto; descriminalização da maconha; fim da estabilidade no serviço público; reforma da Previdência; reajuste do mínimo pela inflação e PIB; fim da gratuidade da universidade pública; passe livre no transporte urbano; flexibilização da CLT; e privatização de estatais e bancos públicos.
São temas da hora, digamos, e importantes do ponto de vista eleitoral, mas a maioria não chega a tocar nos fundamentos do desenvolvimento econômico e social.
A candidata Dilma se pronunciou apenas sobre reforma política, dizendo que é "a favor de um plebiscito". Não opinou sobre os outros 10 temas. Os 2 outros responderam aos 11 temas, mas dizendo que são contra ou a favor e dando pequenas explicações. Aécio foi contra a maioria das teses e evasivo em pelo menos duas. Campos também foi contra a maioria delas e evasivo em duas.
Foi inútil a tentativa de obter algo que se possa chamar de programa e alguma ideia ou proposta sólida para temas como a reforma política, a da Previdência e a privatização de estatais e bancos públicos - que fazem parte do que se pode chamar de "fundamentos" do desenvolvimento e, talvez, da própria Nação.
Na prática, o que se tem visto e ouvido dos candidatos nas suas viagens pelo País dá a impressão de que são todos candidatos a prefeitos. A presidente se esmera na oferta de mais casas populares, mais creches, mais postos de saúde, mais estradas asfaltadas. Os outros também.
Tudo isso é de fato muito bom e importante, mas não gera a esperança num futuro firme e atraente para as famílias e as jovens gerações. O que se pode esperar do Brasil e para o Brasil?, indaga, por exemplo, o jovem que está chegando à universidade e quer fazer uma escolha de estudos e de profissão, para o seu próprio futuro pessoal.
O fundamental, no caso, é ter confiança numa economia em crescimento gerando mais e melhores empregos. Nesse terreno é bom que se pergunte aos candidatos - e que eles nos digam - que tipo de políticas têm em mente para assegurar uma economia vigorosa e tanto quanto possível livre de percalços nacionais e internacionais a todo momento, como tem sido a economia brasileira.
Quem nasceu em 1960 e tem hoje 54 anos - em plena idade produtiva, portanto - foi capaz de planejar e organizar a sua vida conforme suas aspirações? Garanto que não, pois nesse período a economia brasileira funcionou como uma gangorra ou como um veleiro sem rumo, sem saber de onde vinha o vento.
É preciso que isso seja retirado do horizonte dos brasileiros jovens, homens ou mulheres. Isso requer políticas públicas definidas, aceitáveis e confiáveis nas áreas da produtividade e competitividade, da inflação, do comércio exterior, do câmbio, do dispêndio público, dos investimentos públicos e privados, da logística, dos combustíveis, da produção agropecuária e, finalmente, mas não apenas, do relacionamento econômico e comercial com parceiros de todo o mundo. Um programa, enfim.
Os candidatos estão nos oferecendo isso? Um pouco de paciência, eles nos dirão. Aguardemos, pois.
Brasil, Brics e a "cláusula FMI" - VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP - 17/07
Governistas exageram importância do banco miudinho; acordo de fundo dos Brics 'aceita' FMI
O BANCO e o fundinho financeiro criado nesta semana pelos Brics tem, repita-se, alguma relevância política e, quem sabe, daqui a uma década, pode ter alguma relevância econômica. Talvez. Mas há exagero ridículo a respeito dos acordos de Fortaleza, que são miudinhos e, note-se de passagem, contêm cláusulas de sujeição a "instituições do império", como o FMI.
A gente ouve e lê, de adeptos abestados do governismo e do esquerdismo rudimentar, que Fortaleza sediou os acordos do Bretton Woods da "nova ordem". A coisa toda é de uma pobreza tão ignorantinha que causa constrangimento comentar. Mas se difunde.
Bretton Woods, explique-se, foram os acordos que puseram alguma ordem na finança internacional entre o fim da Segunda Guerra e mais ou menos até o início dos anos 1970, arranjo acertado entre 44 países, em 1944, sob domínio dos Estados Unidos, e que resultou, entre outras coisas, na criação de instituições como o FMI e o Banco Mundial.
Na reunião de terça, em Fortaleza, criou-se um banco multilateral de desenvolvimento, o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), e um fundo virtual de socorro financeiro a países em crise de pagamentos externos ou turbulências afins.
Pelo acordo de empréstimos para países com dificuldades de fechar contas externas, os bancos centrais dos Brics emprestariam dólares em troca da moeda local do país avariado, com prazo de retroca, até um certo limite de dinheiro.
Mas parte do dinheiro (70%) apenas sai se o país mal das pernas tiver um acordo com o FMI, ora vejam. Sim, FMI, instituição dominada por americanos e europeus e criticada pelos Brics, motivos que também levaram os Brics a criar "seus" banco e fundo multilaterais.
É verdade que, pelos termos do tratado desse fundo virtual de reservas, os Brics podem mudar todas as regras de acesso ao dinheiro. Mas a "cláusula FMI" acaba por dar um tempero ridículo às ideias de "rebeldia" e "ordem alternativa".
Além do mais, o dinheiro não é grande coisa. Por exemplo, o Brasil, em crise, poderia "sacar" no máximo US$ 18 bilhões; apenas US$ 5,6 bilhões se não tiver acordo com o FMI (nesta semana, o Brasil tinha US$ 380 bilhões em reservas).
Talvez esse fundo virtual possa ajudar países mais pobrinhos, caso eles não sejam obrigados a entrar com cotas tão relevantes quanto a dos Brics.
Quanto ao banco, ele será um projeto experimental por pelo menos meia década, digamos.
Lá por 2022, os países dos Brics terão acabado de pingar um capital de US$ 10 bilhões. Em 2016, quando deve funcionar, começa com um capital de US$ 750 milhões, o que não dá para financiar umas estradinhas. Pode ser que o banco tenha mais dinheiro para emprestar devido a lucros acumulados ou levantamento de empréstimos.
Tudo pode dar muito certo e a capitalização pode ser revista para cima. Mas, de início, trata-se de coisa miúda, com perspectiva de poder emprestar uns US$ 40 bilhões uma década depois de começar a funcionar, e olhe lá. O BNDES empresta US$ 333 bilhões. O Banco de Desenvolvimento da China empresta o quádruplo do BNDES.
Isso quanto a dinheiros. Resta saber como países tão diferentes vão se acertar politicamente no banco.
Governistas exageram importância do banco miudinho; acordo de fundo dos Brics 'aceita' FMI
O BANCO e o fundinho financeiro criado nesta semana pelos Brics tem, repita-se, alguma relevância política e, quem sabe, daqui a uma década, pode ter alguma relevância econômica. Talvez. Mas há exagero ridículo a respeito dos acordos de Fortaleza, que são miudinhos e, note-se de passagem, contêm cláusulas de sujeição a "instituições do império", como o FMI.
A gente ouve e lê, de adeptos abestados do governismo e do esquerdismo rudimentar, que Fortaleza sediou os acordos do Bretton Woods da "nova ordem". A coisa toda é de uma pobreza tão ignorantinha que causa constrangimento comentar. Mas se difunde.
Bretton Woods, explique-se, foram os acordos que puseram alguma ordem na finança internacional entre o fim da Segunda Guerra e mais ou menos até o início dos anos 1970, arranjo acertado entre 44 países, em 1944, sob domínio dos Estados Unidos, e que resultou, entre outras coisas, na criação de instituições como o FMI e o Banco Mundial.
Na reunião de terça, em Fortaleza, criou-se um banco multilateral de desenvolvimento, o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), e um fundo virtual de socorro financeiro a países em crise de pagamentos externos ou turbulências afins.
Pelo acordo de empréstimos para países com dificuldades de fechar contas externas, os bancos centrais dos Brics emprestariam dólares em troca da moeda local do país avariado, com prazo de retroca, até um certo limite de dinheiro.
Mas parte do dinheiro (70%) apenas sai se o país mal das pernas tiver um acordo com o FMI, ora vejam. Sim, FMI, instituição dominada por americanos e europeus e criticada pelos Brics, motivos que também levaram os Brics a criar "seus" banco e fundo multilaterais.
É verdade que, pelos termos do tratado desse fundo virtual de reservas, os Brics podem mudar todas as regras de acesso ao dinheiro. Mas a "cláusula FMI" acaba por dar um tempero ridículo às ideias de "rebeldia" e "ordem alternativa".
Além do mais, o dinheiro não é grande coisa. Por exemplo, o Brasil, em crise, poderia "sacar" no máximo US$ 18 bilhões; apenas US$ 5,6 bilhões se não tiver acordo com o FMI (nesta semana, o Brasil tinha US$ 380 bilhões em reservas).
Talvez esse fundo virtual possa ajudar países mais pobrinhos, caso eles não sejam obrigados a entrar com cotas tão relevantes quanto a dos Brics.
Quanto ao banco, ele será um projeto experimental por pelo menos meia década, digamos.
Lá por 2022, os países dos Brics terão acabado de pingar um capital de US$ 10 bilhões. Em 2016, quando deve funcionar, começa com um capital de US$ 750 milhões, o que não dá para financiar umas estradinhas. Pode ser que o banco tenha mais dinheiro para emprestar devido a lucros acumulados ou levantamento de empréstimos.
Tudo pode dar muito certo e a capitalização pode ser revista para cima. Mas, de início, trata-se de coisa miúda, com perspectiva de poder emprestar uns US$ 40 bilhões uma década depois de começar a funcionar, e olhe lá. O BNDES empresta US$ 333 bilhões. O Banco de Desenvolvimento da China empresta o quádruplo do BNDES.
Isso quanto a dinheiros. Resta saber como países tão diferentes vão se acertar politicamente no banco.
Como passar do não ao sim - CELSO MING
O ESTADÃO - 17/07
As dificuldades iniciais parecem ter sido superadas e assim os chefes de Estado dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), reunidos em Fortaleza, criaram terça-feira duas instituições internacionais que podem sacramentar uma sigla quase vazia enquanto bloco nascido de objetivos comuns.
É um passo importante, mas é pouco. Uma vez criados o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, em inglês) e o Acordo Contingente de Reserva (CRA, um fundo de reservas para socorrer países momentaneamente incapacitados de honrar seus compromissos externos), é preciso saber quais seriam os critérios para fazê-los funcionar, respectivamente, como banco de desenvolvimento e como fundo de reservas.
No momento, dos cinco membros do clube, só a África do Sul poderia aproveitar melhor essas disponibilidades caso delas necessite. Os demais, incluído aí o Brasil, dispõem de mais recursos ou acesso a outras fontes externas do que essas duas instituições poderiam oferecer.
Como já foi argumentado aqui na Coluna de terça-feira, apenas o BNDES brasileiro é sete vezes maior do que esse NDB. China, Rússia, Brasil e Índia têm, cada um, substancialmente, mais reservas externas do que as que serão colocadas à disposição do novo fundo.
Isso sugere que as duas instituições estão sendo criadas mais para apoiar projetos de infraestrutura e políticas de países de fora do bloco do que de dentro dele. Nascem num contexto de críticas contundentes à atuação do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI) e pretendem, assim, começar a rodar. Mas, outra vez, com que critérios?
Se for para atuar com parâmetros técnicos parecidos com os do Banco Mundial e do FMI, tendem a não passar de farinhas de qualidade similar dispostas em sacos de tamanhos diferentes. Se os critérios para a distribuição de financiamentos ou empréstimos-ponte para cobertura de dívidas forem políticos, então fica difícil saber que tipo de grude pode manter unidos os cinco do Brics.
Imagine, por exemplo, se a Crimeia ou a Síria ou a Venezuela solicitarem um socorro do CRA (a Argentina, por sinal, parece já contar com isso). Mas o que levará a direção desse fundo a atendê-los ou não? Questões geopolíticas compartilhadas pelos cinco? Provavelmente, não.
Dos cinco integrantes do Brics, três são potências nucleares (Rússia, Índia e China), no momento com interesses mais conflitantes do que convergentes entre si. Afora isso, as coisas mudam e a fila anda. Mudanças de governo na Rússia, na Índia ou na China - para não falar no Brasil - podem mudar os alinhamentos políticos e o que foi interesse comum num momento pode, perfeitamente, não ser mais no momento seguinte.
Por enquanto, o que os une parece ser o que está lá na declaração conjunta: a desaprovação ao emperramento das propostas de reforma do Banco Mundial e do FMI. Mais difícil é saber como sair desse não ao FMI para um sim ao que tem de ser. Suponhamos que, lá pelas tantas, o Congresso dos Estados Unidos concorde com modernizar as instituições de Bretton Woods. Nesse caso, essas instituições alternativas vingariam do mesmo jeito?
Sabe-se como esse jogo começou. Não se sabe como seguirá.
As dificuldades iniciais parecem ter sido superadas e assim os chefes de Estado dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), reunidos em Fortaleza, criaram terça-feira duas instituições internacionais que podem sacramentar uma sigla quase vazia enquanto bloco nascido de objetivos comuns.
É um passo importante, mas é pouco. Uma vez criados o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, em inglês) e o Acordo Contingente de Reserva (CRA, um fundo de reservas para socorrer países momentaneamente incapacitados de honrar seus compromissos externos), é preciso saber quais seriam os critérios para fazê-los funcionar, respectivamente, como banco de desenvolvimento e como fundo de reservas.
No momento, dos cinco membros do clube, só a África do Sul poderia aproveitar melhor essas disponibilidades caso delas necessite. Os demais, incluído aí o Brasil, dispõem de mais recursos ou acesso a outras fontes externas do que essas duas instituições poderiam oferecer.
Como já foi argumentado aqui na Coluna de terça-feira, apenas o BNDES brasileiro é sete vezes maior do que esse NDB. China, Rússia, Brasil e Índia têm, cada um, substancialmente, mais reservas externas do que as que serão colocadas à disposição do novo fundo.
Isso sugere que as duas instituições estão sendo criadas mais para apoiar projetos de infraestrutura e políticas de países de fora do bloco do que de dentro dele. Nascem num contexto de críticas contundentes à atuação do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI) e pretendem, assim, começar a rodar. Mas, outra vez, com que critérios?
Se for para atuar com parâmetros técnicos parecidos com os do Banco Mundial e do FMI, tendem a não passar de farinhas de qualidade similar dispostas em sacos de tamanhos diferentes. Se os critérios para a distribuição de financiamentos ou empréstimos-ponte para cobertura de dívidas forem políticos, então fica difícil saber que tipo de grude pode manter unidos os cinco do Brics.
Imagine, por exemplo, se a Crimeia ou a Síria ou a Venezuela solicitarem um socorro do CRA (a Argentina, por sinal, parece já contar com isso). Mas o que levará a direção desse fundo a atendê-los ou não? Questões geopolíticas compartilhadas pelos cinco? Provavelmente, não.
Dos cinco integrantes do Brics, três são potências nucleares (Rússia, Índia e China), no momento com interesses mais conflitantes do que convergentes entre si. Afora isso, as coisas mudam e a fila anda. Mudanças de governo na Rússia, na Índia ou na China - para não falar no Brasil - podem mudar os alinhamentos políticos e o que foi interesse comum num momento pode, perfeitamente, não ser mais no momento seguinte.
Por enquanto, o que os une parece ser o que está lá na declaração conjunta: a desaprovação ao emperramento das propostas de reforma do Banco Mundial e do FMI. Mais difícil é saber como sair desse não ao FMI para um sim ao que tem de ser. Suponhamos que, lá pelas tantas, o Congresso dos Estados Unidos concorde com modernizar as instituições de Bretton Woods. Nesse caso, essas instituições alternativas vingariam do mesmo jeito?
Sabe-se como esse jogo começou. Não se sabe como seguirá.
Juros parados - MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 17/07
Os juros não subiram e nem devem subir até o fim do ano. O principal motivo, segundo o economista José Roberto Mendonça de Barros, é o enfraquecimento cada vez maior da economia. Uma das razões da redução da atividade é a decisão de empresas de interromperem a produção para vender energia no mercado livre. Outro é o estoque alto de automóveis.
AMB Associados, de José Roberto, já derrubou a previsão de crescimento do ano para 0,9% e deve fazer nova redução para 0,5%, dependendo dos próximos indicadores. Essa revisão para baixo das estimativas do PIB está sendo feita pelos departamentos econômicos dos bancos e pelas consultorias. O centro do problema está na indústria.
— Com a crise no setor de energia, inúmeras empresas de vários setores, como cimento, metais, química, ferro liga, estão suspendendo produção para vender no mercado livre, onde os preços estão muito elevados. É um bom negócio vender a energia em vez de produzir. Isso tem sido razão adicional para a queda de bens intermediários — diz Mendonça de Barros.
Outro fator que puxa a indústria para baixo é o enorme estoque de automóveis e a distância entre demanda e capacidade de produção.
— O programa Inovar-Auto criou uma barreira altíssima ao produto estrangeiro e um incentivo a produzir aqui dentro. As empresas vieram instalar fábricas no Brasil. Aumentou-se a capacidade de oferta exatamente quando estava começando a cair a demanda por carros. O setor vai demorar bastante a se equilibrar — explica o economista.
José Roberto acha que haverá um fator adicional de preocupação no segundo semestre, que é a aceleração do fechamento de postos de trabalho na indústria. As empresas, primeiro, dão férias coletivas, depois, fazem demissão incentivada, e, no fim, demitem. Ele acha que já estão caminhando para a terceira etapa.
A produção de manufaturados enfrenta também a crise da Argentina, que está comprando cada vez menos do Brasil. A Associação do Comércio Exterior (AEB), que estava prevendo um superávit comercial deste ano em US$ 7 bilhões, reduziu para pouco mais de US$ 600 milhões. E o pior é que pela primeira vez em muito tempo os cálculos são de queda da corrente de comércio.
Num quadro de esfriamento da economia, não faz sentido elevar a taxa de juros. É o que o Banco Central dirá para justificar a manutenção da taxa, apesar de a inflação ter acabado de estourar o teto da meta. Quando sair o IPCA de julho, a distância em relação ao máximo permitido aumentará.
O Banco Central vai dizer também que é preciso esperar o efeito do longo ciclo de elevação de taxas de juros e os primeiros sinais de queda da inflação de alimentos. De fato, os preços de vários alimentos tendem a cair e isso já acontece no atacado. José Roberto explica a razão:
— Está sendo colhida uma vasta safra americana e isso tem derrubado os preços de milho, soja, trigo. A cotação do milho, de março até agora, caiu 20%. Essa redução diminui também os preços das carnes. Em parte é efeito do El Niño, que permite boas safras nas Américas, apesar de poder provocar seca na área de monções da Ásia. Por enquanto, o que se sente é apenas o efeito positivo do aumento da produção de alimentos.
Mesmo com essa queda do item alimentação no IPCA, a MB Associados acha que a inflação terminará o ano em 6,7% por causa da alta dos preços da energia. Outros economistas acham que pode ficar abaixo de 6,5%, mas ainda elevada. Apesar da inflação acima do teto, o esfriamento do PIB será o motivo da manutenção da taxa de juros. Com a eleição, o Banco Central não quer correr riscos de derrubar ainda mais a atividade.
Gentil patrocínio - DORA KRAMER
O ESTADÃO - 17/07
Ficou assim combinado entre a Câmara e o Senado: daqui até as eleições não tem trabalho, mas tem salário integral de R$ 26,7 mil sem desconto por faltas.
Suas excelências vêm de um mês de Copa do Mundo de quase nenhuma labuta e teriam pela frente no mínimo a votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias para 2015 sem a qual, reza a Constituição, não poderiam entrar no recesso do meio de ano.
Mas, se ficassem no Parlamento para cuidar do Orçamento do próximo ano, atrasariam os preparativos para as respectivas campanhas eleitorais. E aí, ligeiros como sempre quando estão em jogo seus interesses, os líderes partidários e os presidentes das duas Casas encontraram a solução: suspenderam as sessões deliberativas daqui até as eleições.
São sessões em que há votações. Só elas permitem contar as faltas que geram descontos nos salários e, dependendo da quantidade, até a perda de mandatos. Canceladas, dão margem à tentativa do presidente do Senado, Renan Calheiros, de conferir normalidade à situação.
"O Congresso continuará funcionando. Vamos é compatibilizar esse funcionamento com a realização das eleições. Não haverá ordem do dia, só nos dias 5 e 6, as outras sessões serão de discussão", disse.
Nos próximos dois meses e meio o Senado funcionará dois dias em agosto e a Câmara, quatro - dois em agosto, dois em setembro. E por "funcionar" entenda-se a realização das tais sessões deliberativas às quais estão dando o nome de "esforço concentrado". De 144 horas ao todo. Que tal?
Nas demais, o presidente do Senado assegura que o Congresso continuará com suas atividades, debates e trabalhos de comissões. As CPIs da Petrobrás, inclusive. Ocorre que para haver atividade é necessário que haja parlamentares presentes. E suas excelências estão devidamente dispensadas de comparecer ao trabalho por decisão dos líderes partidários, concordância das presidências e assentimento do colegiado por intermédio do voto simbólico.
Falta acrescentar: e com o gentil patrocínio do dinheiro do eleitorado, em mais uma das já diversas formas existentes de financiamento público de campanhas eleitorais.
Sim, porque veja como é simples perceber quem paga parte dessa conta. Se deputados e senadores continuam a receber salário que é pago com recursos do Orçamento e nesse período se ocupam das respectivas campanhas, obviamente estamos nós, os contribuintes, entrando com uma parcela das doações. Enquanto cuidam cada qual de sua sobrevivência política os congressistas deixam pelo meio do caminho assuntos que segundo eles mesmos eram urgentes.
Na Câmara, o projeto que torna o Orçamento impositivo em relação às emendas parlamentares e a lei de responsabilidade fiscal para os clubes de futebol, tão falada depois do vexame da seleção durante as discussões sobre a necessidade de "reformulação já" no esporte.
No Senado, a lista de espera inclui projetos do Super Simples Nacional, alterações na Lei de Licitações e projetos de interesse da magistratura. Assuntos que precisam ser resolvidos e que dizem respeito aos representados enquanto os representantes preferem dar prioridade à renovação de seus mandatos.
O eleitor não tem nada a ver com isso. O mandato conquistado numa eleição vale por quatro anos. Não vale por três e pouco, como nossos parlamentares parecem entender ao não cumprir o período integralmente, suspendendo a vigência por três, quatro meses sem dar satisfação e ainda achando que o contribuinte não faz mais que a obrigação de "comparecer" com a sua parte em moeda sonante.
Retrato disso é o fecho das declarações do presidente do Senado a O Globo, que lhe perguntou se o ano legislativo não estaria perdido: "Não. Precisamos ganhá-lo nas eleições".
Sendo essa a credencial da elite (branca?) da política, fica a dúvida: precisamos quem, cara dura?
Ficou assim combinado entre a Câmara e o Senado: daqui até as eleições não tem trabalho, mas tem salário integral de R$ 26,7 mil sem desconto por faltas.
Suas excelências vêm de um mês de Copa do Mundo de quase nenhuma labuta e teriam pela frente no mínimo a votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias para 2015 sem a qual, reza a Constituição, não poderiam entrar no recesso do meio de ano.
Mas, se ficassem no Parlamento para cuidar do Orçamento do próximo ano, atrasariam os preparativos para as respectivas campanhas eleitorais. E aí, ligeiros como sempre quando estão em jogo seus interesses, os líderes partidários e os presidentes das duas Casas encontraram a solução: suspenderam as sessões deliberativas daqui até as eleições.
São sessões em que há votações. Só elas permitem contar as faltas que geram descontos nos salários e, dependendo da quantidade, até a perda de mandatos. Canceladas, dão margem à tentativa do presidente do Senado, Renan Calheiros, de conferir normalidade à situação.
"O Congresso continuará funcionando. Vamos é compatibilizar esse funcionamento com a realização das eleições. Não haverá ordem do dia, só nos dias 5 e 6, as outras sessões serão de discussão", disse.
Nos próximos dois meses e meio o Senado funcionará dois dias em agosto e a Câmara, quatro - dois em agosto, dois em setembro. E por "funcionar" entenda-se a realização das tais sessões deliberativas às quais estão dando o nome de "esforço concentrado". De 144 horas ao todo. Que tal?
Nas demais, o presidente do Senado assegura que o Congresso continuará com suas atividades, debates e trabalhos de comissões. As CPIs da Petrobrás, inclusive. Ocorre que para haver atividade é necessário que haja parlamentares presentes. E suas excelências estão devidamente dispensadas de comparecer ao trabalho por decisão dos líderes partidários, concordância das presidências e assentimento do colegiado por intermédio do voto simbólico.
Falta acrescentar: e com o gentil patrocínio do dinheiro do eleitorado, em mais uma das já diversas formas existentes de financiamento público de campanhas eleitorais.
Sim, porque veja como é simples perceber quem paga parte dessa conta. Se deputados e senadores continuam a receber salário que é pago com recursos do Orçamento e nesse período se ocupam das respectivas campanhas, obviamente estamos nós, os contribuintes, entrando com uma parcela das doações. Enquanto cuidam cada qual de sua sobrevivência política os congressistas deixam pelo meio do caminho assuntos que segundo eles mesmos eram urgentes.
Na Câmara, o projeto que torna o Orçamento impositivo em relação às emendas parlamentares e a lei de responsabilidade fiscal para os clubes de futebol, tão falada depois do vexame da seleção durante as discussões sobre a necessidade de "reformulação já" no esporte.
No Senado, a lista de espera inclui projetos do Super Simples Nacional, alterações na Lei de Licitações e projetos de interesse da magistratura. Assuntos que precisam ser resolvidos e que dizem respeito aos representados enquanto os representantes preferem dar prioridade à renovação de seus mandatos.
O eleitor não tem nada a ver com isso. O mandato conquistado numa eleição vale por quatro anos. Não vale por três e pouco, como nossos parlamentares parecem entender ao não cumprir o período integralmente, suspendendo a vigência por três, quatro meses sem dar satisfação e ainda achando que o contribuinte não faz mais que a obrigação de "comparecer" com a sua parte em moeda sonante.
Retrato disso é o fecho das declarações do presidente do Senado a O Globo, que lhe perguntou se o ano legislativo não estaria perdido: "Não. Precisamos ganhá-lo nas eleições".
Sendo essa a credencial da elite (branca?) da política, fica a dúvida: precisamos quem, cara dura?
Brasil, porta de entrada - ELIANE CANTANHÊDE
FOLHA DE SP - 17/07
BRASÍLIA - Enquanto torcedores sul-americanos pediam socorro para conseguir retornar às suas casas depois da Copa, os presidentes de seus países desembarcaram em Brasília já de olho no Novo Banco de Desenvolvimento dos Brics.
O Brasil é a porta de entrada da região para essa promessa de paraíso e vieram praticamente todos, como Maduro (Venezuela), Evo (Bolívia) e Kirchner (Argentina), interessados no potencial de empréstimos do novo banco e do novo fundo dos Brics.
A motivação óbvia do banco e do fundo dos Brics, além de conferir algum grau de institucionalização ao grupo, é fugir do Banco Mundial e do FMI, organismos não apenas atrelados aos Estados Unidos, principalmente, e à União Europeia, acessoriamente, mas na prática comandados pelas duas potências.
O Brasil e a presidente Dilma Rousseff, portanto, surfam bem na onda da Copa, demonstram um esforço de socialização dos Brics e confirmam uma boa capacidade convocatória dos países da região. Evidentemente, lucram politicamente com isso. De quebra, a imagem de estadista explorada em todos os dias desta semana certamente será de boa valia na campanha de Dilma à reeleição.
Na última segunda (14), Putin (Rússia). Na terça (15), Cúpula dos Brics. Na quarta (16), Brics e presidentes da América do Sul. Nesta quinta (17), Xi Jinping (China). Nesta sexta (18), Durão Barroso (Comissão Europeia). Sem falar em América Central e Caribe no meio do caminho.
Algumas ressalvas, porém: o novo banco está apenas começando e vai levar uns bons anos até jorrar empréstimos, os Brics não são um grupo propriamente homogêneo e o Brasil nem chega perto de ser líder. Os Brics são países imensos, populosos e emergentes, mas giram em torno de um único eixo: a China.
Tal como os Brics alavancam a posição do Brasil na América do Sul, também constroem, tijolo a tijolo, a hegemonia da China no mundo.
E seja o que Deus quiser.
BRASÍLIA - Enquanto torcedores sul-americanos pediam socorro para conseguir retornar às suas casas depois da Copa, os presidentes de seus países desembarcaram em Brasília já de olho no Novo Banco de Desenvolvimento dos Brics.
O Brasil é a porta de entrada da região para essa promessa de paraíso e vieram praticamente todos, como Maduro (Venezuela), Evo (Bolívia) e Kirchner (Argentina), interessados no potencial de empréstimos do novo banco e do novo fundo dos Brics.
A motivação óbvia do banco e do fundo dos Brics, além de conferir algum grau de institucionalização ao grupo, é fugir do Banco Mundial e do FMI, organismos não apenas atrelados aos Estados Unidos, principalmente, e à União Europeia, acessoriamente, mas na prática comandados pelas duas potências.
O Brasil e a presidente Dilma Rousseff, portanto, surfam bem na onda da Copa, demonstram um esforço de socialização dos Brics e confirmam uma boa capacidade convocatória dos países da região. Evidentemente, lucram politicamente com isso. De quebra, a imagem de estadista explorada em todos os dias desta semana certamente será de boa valia na campanha de Dilma à reeleição.
Na última segunda (14), Putin (Rússia). Na terça (15), Cúpula dos Brics. Na quarta (16), Brics e presidentes da América do Sul. Nesta quinta (17), Xi Jinping (China). Nesta sexta (18), Durão Barroso (Comissão Europeia). Sem falar em América Central e Caribe no meio do caminho.
Algumas ressalvas, porém: o novo banco está apenas começando e vai levar uns bons anos até jorrar empréstimos, os Brics não são um grupo propriamente homogêneo e o Brasil nem chega perto de ser líder. Os Brics são países imensos, populosos e emergentes, mas giram em torno de um único eixo: a China.
Tal como os Brics alavancam a posição do Brasil na América do Sul, também constroem, tijolo a tijolo, a hegemonia da China no mundo.
E seja o que Deus quiser.
Goleada democrática - MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 17/07
A aprovação na Câmara dos Deputados terça-feira do pedido de urgência para votar um decreto legislativo que anula o decreto da presidente Dilma Rousseff que cria conselhos populares em órgãos da administração pública está sendo considerada uma goleada maior que os 7 a 1 da Alemanha na seleção brasileira , na definição de um deputado que conhece bem a Casa.
Isso porque o pedido de urgência recebeu 294 votos a favor, apesar de todo o trabalho do Palácio do Planalto sobre sua base aliada e das ameaças veladas que os líderes do PT fizeram ao microfone, tratando como uma traição dos aliados a posição contrária e, mais do que isso, jogando contra os deputados opositores a pecha de serem contra o povo, que ganharia mais espaço nas decisões do governo, pois estaria representado nesses conselhos.
O deputado Miro Teixeira irritou-se com a posição dos petistas e anunciou no microfone que votaria contra o decreto da presidente Dilma por considerá-lo simplesmente eleitoreiro, editado às vésperas da eleição presidencial para ganhar a simpatia dos chamados movimentos sociais, que seriam os beneficiados pela medida.
Há diversas vertentes na oposição ao decreto, desde os que, como Miro, o consideram inócuo, mas eleitoreiro, quanto os que temem que esse seja um passo a mais na direção de um governo no estilo bolivariano, como os da Venezuela e de outros países da América Latina. Há muitos deputados que votarão contra o decreto para preservar a função do Congresso Nacional no nosso sistema presidencialista, como um dos poderes da República, um contraponto ao Executivo e ao Judiciário.
O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), foi pressionado por mais de uma dezena de partidos para colocar a proposta de urgência em votação antes do recesso, o que retirou do decreto legislativo organizado pela oposição o caráter de atitude isolada, já que boa parte da base aliada do governo também está contra o decreto presidencial.
O máximo que admitem é que o Palácio do Planalto envie um Projeto de Lei para ser discutido por deputados e senadores. Mesmo quem não considera que o decreto seja inconstitucional, embora haja quem o considere assim, teme a manipulação que ele permite ao definir, por exemplo, sociedade civil como o cidadão, os coletivos, os movimentos sociais institucionalizados ou não institucionalizados, suas redes e suas organizações .
Além de ser uma definição muito ampla que abarca qualquer tipo de movimento social, até mesmo os não institucionalizados , os parlamentares temem que o Palácio do Planalto se aproveite dessa amplitude conceitual para organizar, através da Secretaria Geral da Presidência da República, chefiada pelo ministro Gilberto Carvalho, os próprios conselhos, manipulando suas decisões.
Uma das tarefas de Gilberto Carvalho é, pelo decreto que define seu ministério, atuar no relacionamento e articulação com as entidades da sociedade civil e na criação e implementação de instrumentos de consulta e participação popular de interesse do Poder Executivo .
A reação contra o decreto da presidente Dilma é uma demonstração clara de que, apesar de ter uma maioria teórica que beira os 70% do Congresso, na prática, o Palácio do Planalto tem que negociar caso a caso para fazer valer sua vontade. E sempre que uma decisão palaciana vai de encontro à Constituição, há uma maioria parlamentar na defesa da democracia representativa.
Mesmo os partidos mais fisiológicos da base aliada reagem a tentativas de enfraquecer as bases democráticas porque sabem que, num governo autoritário, será menor sua influência e maior a força política do PT. O principal responsável por barrar essas tentativas é o próprio PMDB, o maior aliado do PT no Congresso, que tem em seu DNA a defesa da democracia e impede que o PT ultrapasse os limites democráticos.
Pacto pelo Brasil - EDUARDO GRAEFF
FOLHA DE SP - 17/07
Um pacto político parece difícil, mas não impossível. Algum acordo com a oposição pode dar velocidade e segurança a reformas
Num artigo sobre os 20 anos do Plano Real, um de seus artífices, Rubens Ricupero, sugeriu que o Brasil, para alcançar patamares mais altos de desenvolvimento sobre o alicerce da estabilidade, siga o exemplo do Pacto pelo México ("Real e fantasia", "Mundo", 7/7).
Com apoio de parte da oposição, o presidente Enrique Peña Nieto conseguiu aprovar no Congresso mexicano reformas importantes nas áreas de energia, telecomunicações, educação e impostos.
O próximo presidente do Brasil deveria imitá-lo? Penso que pode tentar, em todo caso. Primeiro, porque vai ter que procurar tirar o país do marasmo político e econômico. Ricupero tem razão nisto: "Não logramos conciliar aumento de emprego e salário com inflação baixa, crescimento e melhora da produtividade. Se não formos capazes de superar as conquistas do real, começaremos a perder o terreno conquistado".
Segundo, um pacto político parece difícil, mas não impossível entre nós. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) conseguiu aprovar suas reformas com apoio de uma ampla coalizão.
O exemplo mexicano implica outra coisa: um acordo entre polos opostos da política partidária --PT e PSDB, no nosso caso. Tivemos algo parecido na passagem de bastão de FHC para Lula (2003-2010). A "Carta aos Brasileiros" antes e os esforços dos dois presidentes depois da eleição para acalmar os mercados; os procedimentos do governo de transição; o apoio do PSDB à proposta de reforma da Previdência de Lula desenharam um momento de cooperação efetiva entre adversários a favor da estabilidade do país. Depois do mensalão, a lógica da polarização voltou a se impor.
Terceiro, mais importante, algum acordo com a oposição pode dar mais velocidade e segurança ao processo de reformas. Acordo sobre uma agenda limitada pode ser preferível ao confronto sobre uma agenda mais ampla. E, se o acordo incluir regras de procedimento, pode arejar a política partidária, cujos níveis de insalubridade dispensam comentário. Para um presidente reformista, ceder para a oposição alguns graus de discricionariedade na edição de medidas provisórias, elaboração do Orçamento ou instalação de CPIs, por exemplo, pode sair mais barato que abastecer com cargos e verbas federais o "rolo compressor" governista no Congresso. Não se trata de optar entre uma coisa ou outra, mas de usar a negociação com a oposição como moderador do apetite dos correligionários e aliados.
As chances concretas de algum pacto político se firmar vão depender das circunstâncias e da disposição dos principais atores.
Quão ruim estará a economia no fim do ano? Quanto pior a situação, maior a pressão social sobre os atores políticos para que se entendam. Medidas salvadoras poderão vir apoiadas por uma coalizão governista, como o Plano Real, ou por algum acordo entre adversários, como na transição de FHC para Lula.
Teremos, afinal, um presidente reformista? Como é natural, os desafiantes Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) são mais assertivos do que Dilma Rousseff (PT) sobre a necessidade de reformas. Mesmo eles têm que se cuidar para não cair na armadilha proverbial --os potenciais prejudicados por reformas reagem antes e mais intensamente que os potenciais beneficiados.
Em geral, é mais fácil para o presidente propor do que para a oposição aceitar um pacto, acordo ou mera negociação. Como essa hipótese se encaixará nos planos dos perdedores da eleição? Por tudo isso, até outubro, a ideia de pacto deve frequentar mais as elucubrações dos analistas que o discurso dos candidatos. Mas os candidatos com visão estratégica fariam bem em considerá-la, mesmo que sem alarde.
Um pacto político parece difícil, mas não impossível. Algum acordo com a oposição pode dar velocidade e segurança a reformas
Num artigo sobre os 20 anos do Plano Real, um de seus artífices, Rubens Ricupero, sugeriu que o Brasil, para alcançar patamares mais altos de desenvolvimento sobre o alicerce da estabilidade, siga o exemplo do Pacto pelo México ("Real e fantasia", "Mundo", 7/7).
Com apoio de parte da oposição, o presidente Enrique Peña Nieto conseguiu aprovar no Congresso mexicano reformas importantes nas áreas de energia, telecomunicações, educação e impostos.
O próximo presidente do Brasil deveria imitá-lo? Penso que pode tentar, em todo caso. Primeiro, porque vai ter que procurar tirar o país do marasmo político e econômico. Ricupero tem razão nisto: "Não logramos conciliar aumento de emprego e salário com inflação baixa, crescimento e melhora da produtividade. Se não formos capazes de superar as conquistas do real, começaremos a perder o terreno conquistado".
Segundo, um pacto político parece difícil, mas não impossível entre nós. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) conseguiu aprovar suas reformas com apoio de uma ampla coalizão.
O exemplo mexicano implica outra coisa: um acordo entre polos opostos da política partidária --PT e PSDB, no nosso caso. Tivemos algo parecido na passagem de bastão de FHC para Lula (2003-2010). A "Carta aos Brasileiros" antes e os esforços dos dois presidentes depois da eleição para acalmar os mercados; os procedimentos do governo de transição; o apoio do PSDB à proposta de reforma da Previdência de Lula desenharam um momento de cooperação efetiva entre adversários a favor da estabilidade do país. Depois do mensalão, a lógica da polarização voltou a se impor.
Terceiro, mais importante, algum acordo com a oposição pode dar mais velocidade e segurança ao processo de reformas. Acordo sobre uma agenda limitada pode ser preferível ao confronto sobre uma agenda mais ampla. E, se o acordo incluir regras de procedimento, pode arejar a política partidária, cujos níveis de insalubridade dispensam comentário. Para um presidente reformista, ceder para a oposição alguns graus de discricionariedade na edição de medidas provisórias, elaboração do Orçamento ou instalação de CPIs, por exemplo, pode sair mais barato que abastecer com cargos e verbas federais o "rolo compressor" governista no Congresso. Não se trata de optar entre uma coisa ou outra, mas de usar a negociação com a oposição como moderador do apetite dos correligionários e aliados.
As chances concretas de algum pacto político se firmar vão depender das circunstâncias e da disposição dos principais atores.
Quão ruim estará a economia no fim do ano? Quanto pior a situação, maior a pressão social sobre os atores políticos para que se entendam. Medidas salvadoras poderão vir apoiadas por uma coalizão governista, como o Plano Real, ou por algum acordo entre adversários, como na transição de FHC para Lula.
Teremos, afinal, um presidente reformista? Como é natural, os desafiantes Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) são mais assertivos do que Dilma Rousseff (PT) sobre a necessidade de reformas. Mesmo eles têm que se cuidar para não cair na armadilha proverbial --os potenciais prejudicados por reformas reagem antes e mais intensamente que os potenciais beneficiados.
Em geral, é mais fácil para o presidente propor do que para a oposição aceitar um pacto, acordo ou mera negociação. Como essa hipótese se encaixará nos planos dos perdedores da eleição? Por tudo isso, até outubro, a ideia de pacto deve frequentar mais as elucubrações dos analistas que o discurso dos candidatos. Mas os candidatos com visão estratégica fariam bem em considerá-la, mesmo que sem alarde.
Termina em pesadelo o sonho da supertele - EDITORIAL O GLOBO
O GLOBO - 17/07
A trajetória deste projeto é típica do que acontece quando a “mão visível” do Estado atua sem se preocupar com o mercado, apenas movida a interesses políticos e ideológicos
Admita-se que o destino da Oi poderia ter sido outro caso a empresa não viesse a se ligar, de alguma forma, ao grupo português Espírito Santo, hoje atolado em grave crise financeira, capaz de fazer oscilar o mercado europeu. Mas também é preciso reconhecer que o grupo telefônico carrega uma história intrincada, em que se misturam aventureirismo, sonhos estatistas e megalomania nacionalista. Gestado no leilão de privatizações do sistema Telebrás, no segundo governo FH, em 1998, o grupo, batizado de Tele Norte Leste, foi um dos que mais precisaram de apoio direto e indireto do Estado para se viabilizar. Depois renomeada de Telemar, a empresa, após um certo tempo, se estabilizou numa composição acionária com os grupos privados de Carlos Jereissati (La Fonte) e Andrade Gutierrez. Do lado estatal, foi mobilizado o BNDES, sempre presente nesses negócios. Não poderia ter mesmo vida fácil uma empresa que tentaria absorver um rosário de telefônicas de suprema ineficiência, entre as quais se destacava a Telerj.
Na gestão Lula, com o desembarque de estatistas em Brasília e o fortalecimento do braço sindical petista, a CUT, nos bilionários fundos de pensão de empresas públicas, fortaleceu-se o sonho de uma nova “Telebrás”. Desta vez, materializada numa “supertele” em que capitais privados, estatais e paraestatais constituiriam poderosa empresa para fazer frente às teles estrangeiras. O projeto de que resultou a Oi, o nome atual da reformada Telemar, tem origem nas mesmas cabeças que desenvolveram a ideia da criação dos “campeões nacionais” em berçários sustentados pelo contribuinte no BNDES.
Alterada a regulação para permitir à Telemar absorver a Brasil Telecom, a privatizada Tele Centro Sul, a “supertele” ganhou musculatura. Até para se expandir pela América do Sul e África, pensava-se.
Não foi assim. Tornou-se necessário atrair a Portugal Telecom para a Oi. Da Portugal Telecom é sócio o grupo Espírito Santo, velho conhecido dos petistas. Na prática, vendeu-se um pedaço importante da originariamente Telemar à Portugal Telecom, tanto que o principal executivo das duas empresas passou a ser o mesmo. O desfecho seria a fusão das companhias. A esta altura já estava finalizado o sonho nacionalista da supertele.
E veio a assombrosa operação em que a Portugal Telecom, sem os sócios brasileiros e o BNDES serem informados, comprou €847 milhões (R$ 2,5 bilhões) em títulos podres da Rio Forte, empresa quebrada do grupo Espírito Santo. Ou seja, deram dinheiro para o grupo. O final da história ainda é imprevisível, mas a PT terá de registrar pesadas perdas patrimoniais, com reflexos na Oi. E, por decorrência, a empresa que resulta da soma da ex-supertele com os portugueses, a CorpCo, será menor, e nasce bem mais endividada.
A trajetória do projeto da supertele é típica do que acontece quando a “mão visível” do Estado atua sem se preocupar com o mercado, apenas movida a interesses políticos e ideológicos.
A trajetória deste projeto é típica do que acontece quando a “mão visível” do Estado atua sem se preocupar com o mercado, apenas movida a interesses políticos e ideológicos
Admita-se que o destino da Oi poderia ter sido outro caso a empresa não viesse a se ligar, de alguma forma, ao grupo português Espírito Santo, hoje atolado em grave crise financeira, capaz de fazer oscilar o mercado europeu. Mas também é preciso reconhecer que o grupo telefônico carrega uma história intrincada, em que se misturam aventureirismo, sonhos estatistas e megalomania nacionalista. Gestado no leilão de privatizações do sistema Telebrás, no segundo governo FH, em 1998, o grupo, batizado de Tele Norte Leste, foi um dos que mais precisaram de apoio direto e indireto do Estado para se viabilizar. Depois renomeada de Telemar, a empresa, após um certo tempo, se estabilizou numa composição acionária com os grupos privados de Carlos Jereissati (La Fonte) e Andrade Gutierrez. Do lado estatal, foi mobilizado o BNDES, sempre presente nesses negócios. Não poderia ter mesmo vida fácil uma empresa que tentaria absorver um rosário de telefônicas de suprema ineficiência, entre as quais se destacava a Telerj.
Na gestão Lula, com o desembarque de estatistas em Brasília e o fortalecimento do braço sindical petista, a CUT, nos bilionários fundos de pensão de empresas públicas, fortaleceu-se o sonho de uma nova “Telebrás”. Desta vez, materializada numa “supertele” em que capitais privados, estatais e paraestatais constituiriam poderosa empresa para fazer frente às teles estrangeiras. O projeto de que resultou a Oi, o nome atual da reformada Telemar, tem origem nas mesmas cabeças que desenvolveram a ideia da criação dos “campeões nacionais” em berçários sustentados pelo contribuinte no BNDES.
Alterada a regulação para permitir à Telemar absorver a Brasil Telecom, a privatizada Tele Centro Sul, a “supertele” ganhou musculatura. Até para se expandir pela América do Sul e África, pensava-se.
Não foi assim. Tornou-se necessário atrair a Portugal Telecom para a Oi. Da Portugal Telecom é sócio o grupo Espírito Santo, velho conhecido dos petistas. Na prática, vendeu-se um pedaço importante da originariamente Telemar à Portugal Telecom, tanto que o principal executivo das duas empresas passou a ser o mesmo. O desfecho seria a fusão das companhias. A esta altura já estava finalizado o sonho nacionalista da supertele.
E veio a assombrosa operação em que a Portugal Telecom, sem os sócios brasileiros e o BNDES serem informados, comprou €847 milhões (R$ 2,5 bilhões) em títulos podres da Rio Forte, empresa quebrada do grupo Espírito Santo. Ou seja, deram dinheiro para o grupo. O final da história ainda é imprevisível, mas a PT terá de registrar pesadas perdas patrimoniais, com reflexos na Oi. E, por decorrência, a empresa que resulta da soma da ex-supertele com os portugueses, a CorpCo, será menor, e nasce bem mais endividada.
A trajetória do projeto da supertele é típica do que acontece quando a “mão visível” do Estado atua sem se preocupar com o mercado, apenas movida a interesses políticos e ideológicos.
A força do PCC - EDITORIAL O ESTADÃO
O ESTADO DE S.PAULO - 17/07
A operação da Polícia Civil paulista, conduzida pelo Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), que prendeu 40 pessoas acusadas de serem ligadas ao Primeiro Comando da Capital (PCC), mostra que essa organização criminosa, que age dentro e fora dos presídios, está mais forte do que nunca. Isso vem confirmar a justeza do trabalho feito pelo Ministério Público Estadual (MPE) e divulgado em outubro do ano passado, depois de três anos de investigações, que concluiu que o PCC vem crescendo continuamente, já se espalhou pela maioria dos Estados e chega a faturar R$ 120 milhões por ano.
Falta cumprir ainda 3 dos 43 três mandados de prisão expedidos pela Justiça. Dois são de acusados que se encontram fora do País, de onde ajudam a controlar o tráfico de droga do PCC. Um deles, Wilson José Lima de Oliveira, o Neno, está em Orlando, nos Estados Unidos. Já Fabiano Alves de Souza, o Paca, age no Paraguai. Mais 47 mandados de busca permitiram apreender 100 quilos de cocaína e crack e 43 de maconha, armas e farta documentação. Uma análise preliminar desse material mostra o alto nível de organização do PCC e como funciona o esquema de tráfico de drogas - talvez o ramo mais lucrativo de seus negócios ilegais.
A distribuição da droga, que vem principalmente da Bolívia, começa na Cidade Tiradentes, na zona leste, e em bairros da zona sul, e de lá é levada, em pequenas quantidades, para o restante da cidade. Só essa parte do tráfico na capital paulista rende, de acordo com os dados colhidos, cerca de R$ 5 milhões por mês.
Um dos principais objetivos da operação era chegar aos elementos da cúpula, ou próximos deles, que participam do planejamento das ações criminosas e das operações financeiras do PCC. Segundo o Deic, dois dos presos fazem parte do alto escalão da organização criminosa - um seria uma espécie de "diretor operacional" para as ações realizadas fora dos presídios e o outro oferecia local seguro para as reuniões do grupo, uma loja de carros usados de sua propriedade, na zona leste.
As informações colhidas têm uma dupla utilidade para a polícia - conhecer melhor como funciona a administração do PCC e como ele opera a distribuição de droga, em especial na capital e na Grande São Paulo, que ao que tudo indica são o principal centro dos seus negócios. Isso deve facilitar o combate ao tráfico, e as próximas ações da polícia nesse sentido vão indicar se ela está preparada para tirar todo o proveito possível dessa investigação que conduziu tão bem.
Os documentos apreendidos levantam também uma suspeita altamente inquietante - a de que alguns policiais civis e militares têm ligação com o tráfico do PCC. Segundo o secretário de Segurança, Fernando Grella Vieira, as Corregedorias das Polícias Civil e Militar vão investigar o grau de envolvimento deles com o crime. A cooptação de policiais por organizações criminosas é bem conhecida. O fato em si, portanto, não surpreende. O que distingue as polícias eficientes e vigilantes das demais é a capacidade que elas têm de identificar suas ovelhas negras e puni-las exemplarmente. É o que se espera que a polícia paulista faça.
O combate sem trégua ao PCC deve ser uma das prioridades do setor de segurança pública, que inclui tanto o aparelho policial como a administração penitenciária. Isso porque são várias as razões que atestam a natureza particularmente preocupante dessa organização criminosa. A começar pelo fato de que ela atua ao mesmo tempo dentro e fora dos presídios. Segundo o referido trabalho do MPE, o PCC controla 90% dos presídios paulistas.
Como se isso não bastasse, ele já está presente na maioria dos Estados (em 22 deles) e em 2 países vizinhos (Bolívia e Paraguai), locais de produção e escoamento das drogas, e - sabe-se agora - também nos Estados Unidos. Ou se faz um esforço muito maior para desarticular o PCC ou ele tem tudo para se tornar um verdadeiro pesadelo para a segurança pública. E esse, como se vê, não é mais um problema apenas de São Paulo.
A operação da Polícia Civil paulista, conduzida pelo Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), que prendeu 40 pessoas acusadas de serem ligadas ao Primeiro Comando da Capital (PCC), mostra que essa organização criminosa, que age dentro e fora dos presídios, está mais forte do que nunca. Isso vem confirmar a justeza do trabalho feito pelo Ministério Público Estadual (MPE) e divulgado em outubro do ano passado, depois de três anos de investigações, que concluiu que o PCC vem crescendo continuamente, já se espalhou pela maioria dos Estados e chega a faturar R$ 120 milhões por ano.
Falta cumprir ainda 3 dos 43 três mandados de prisão expedidos pela Justiça. Dois são de acusados que se encontram fora do País, de onde ajudam a controlar o tráfico de droga do PCC. Um deles, Wilson José Lima de Oliveira, o Neno, está em Orlando, nos Estados Unidos. Já Fabiano Alves de Souza, o Paca, age no Paraguai. Mais 47 mandados de busca permitiram apreender 100 quilos de cocaína e crack e 43 de maconha, armas e farta documentação. Uma análise preliminar desse material mostra o alto nível de organização do PCC e como funciona o esquema de tráfico de drogas - talvez o ramo mais lucrativo de seus negócios ilegais.
A distribuição da droga, que vem principalmente da Bolívia, começa na Cidade Tiradentes, na zona leste, e em bairros da zona sul, e de lá é levada, em pequenas quantidades, para o restante da cidade. Só essa parte do tráfico na capital paulista rende, de acordo com os dados colhidos, cerca de R$ 5 milhões por mês.
Um dos principais objetivos da operação era chegar aos elementos da cúpula, ou próximos deles, que participam do planejamento das ações criminosas e das operações financeiras do PCC. Segundo o Deic, dois dos presos fazem parte do alto escalão da organização criminosa - um seria uma espécie de "diretor operacional" para as ações realizadas fora dos presídios e o outro oferecia local seguro para as reuniões do grupo, uma loja de carros usados de sua propriedade, na zona leste.
As informações colhidas têm uma dupla utilidade para a polícia - conhecer melhor como funciona a administração do PCC e como ele opera a distribuição de droga, em especial na capital e na Grande São Paulo, que ao que tudo indica são o principal centro dos seus negócios. Isso deve facilitar o combate ao tráfico, e as próximas ações da polícia nesse sentido vão indicar se ela está preparada para tirar todo o proveito possível dessa investigação que conduziu tão bem.
Os documentos apreendidos levantam também uma suspeita altamente inquietante - a de que alguns policiais civis e militares têm ligação com o tráfico do PCC. Segundo o secretário de Segurança, Fernando Grella Vieira, as Corregedorias das Polícias Civil e Militar vão investigar o grau de envolvimento deles com o crime. A cooptação de policiais por organizações criminosas é bem conhecida. O fato em si, portanto, não surpreende. O que distingue as polícias eficientes e vigilantes das demais é a capacidade que elas têm de identificar suas ovelhas negras e puni-las exemplarmente. É o que se espera que a polícia paulista faça.
O combate sem trégua ao PCC deve ser uma das prioridades do setor de segurança pública, que inclui tanto o aparelho policial como a administração penitenciária. Isso porque são várias as razões que atestam a natureza particularmente preocupante dessa organização criminosa. A começar pelo fato de que ela atua ao mesmo tempo dentro e fora dos presídios. Segundo o referido trabalho do MPE, o PCC controla 90% dos presídios paulistas.
Como se isso não bastasse, ele já está presente na maioria dos Estados (em 22 deles) e em 2 países vizinhos (Bolívia e Paraguai), locais de produção e escoamento das drogas, e - sabe-se agora - também nos Estados Unidos. Ou se faz um esforço muito maior para desarticular o PCC ou ele tem tudo para se tornar um verdadeiro pesadelo para a segurança pública. E esse, como se vê, não é mais um problema apenas de São Paulo.
Enfim um tijolo - EDITORIAL FOLHA DE SP
FOLHA DE SP - 17/07
Criação de um banco de desenvolvimento pelos Brics é um passo concreto, mas no curto prazo tem mais peso político do que econômico
Os Brics deram passos concretos em sua 6ª reunião de cúpula, realizada nesta semana em Fortaleza. A criação do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) e o acordo para o uso de parte das reservas dos países do bloco em caso de crise têm grande significado político, embora seja pequeno seu impacto econômico no curto prazo.
Pela primeira vez, um grupo de países em desenvolvimento obtém convergência suficiente para criar instituições fora da órbita imediata do sistema multilateral erguido pelas potências ocidentais em meados do século passado.
A ordem atual, ancorada no Banco Mundial e no Fundo Monetário Internacional (FMI), não dá conta das nações de ascensão mais recente na arena mundial.
Reunidos antes por um gracejo --o acrônimo remete à palavra inglesa "brick", tijolo--, Brasil, Rússia, Índia e China, e mais tarde África do Sul, têm expressivas diferenças econômicas, culturais e políticas entre si. Em uníssono, no entanto, postulam maior influência em entidades globais, como o FMI.
O banco dos Brics, destinado a financiar projetos de infraestrutura e desenvolvimento de países emergentes, nasce com capital autorizado de US$ 50 bilhões (mas apenas US$ 10 bilhões estarão à disposição desde o início). A cifra é pequena, mesmo simbólica; para comparação, os ativos do BNDES alcançam US$ 334 bilhões.
Com sede em Xangai, o NBD será presidido pela Índia (por cinco anos) e terá Brasil e Rússia à frente dos conselhos de administração e de ministros, respectivamente. Apesar da isonomia formal, a China decerto sobrepujará os demais.
Embora considere o banco dos Brics um "sinal dos tempos", a presidente Dilma Rousseff afirmou que as novas instituições do grupo não são contra ninguém, mas a favor de seus membros. É uma descrição feliz: não devem substituir o FMI e o Banco Mundial, mas operar de forma complementar a eles.
O acesso pleno ao fundo de reservas, ao que parece, só ocorrerá se o país em dificuldades tiver um acordo de ajuste com o FMI. O mesmo procedimento foi adotado pela União Europeia para financiar a periferia do bloco continental.
A despeito dos graves erros nas crises de 1997 a 2008, o FMI ainda é visto como detentor da melhor tecnologia de confecção e monitoramento de programas de recuperação econômica. Ou seja, quem estiver esperando dinheiro fácil vindo dos Brics, com garantias frouxas, provavelmente se frustrará.
Isso não diminui a importância geopolítica dessas novidades. Começa a se formar uma rede sólida de relações econômicas e financeiras entre os novos atores de peso na economia mundial.
Criação de um banco de desenvolvimento pelos Brics é um passo concreto, mas no curto prazo tem mais peso político do que econômico
Os Brics deram passos concretos em sua 6ª reunião de cúpula, realizada nesta semana em Fortaleza. A criação do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) e o acordo para o uso de parte das reservas dos países do bloco em caso de crise têm grande significado político, embora seja pequeno seu impacto econômico no curto prazo.
Pela primeira vez, um grupo de países em desenvolvimento obtém convergência suficiente para criar instituições fora da órbita imediata do sistema multilateral erguido pelas potências ocidentais em meados do século passado.
A ordem atual, ancorada no Banco Mundial e no Fundo Monetário Internacional (FMI), não dá conta das nações de ascensão mais recente na arena mundial.
Reunidos antes por um gracejo --o acrônimo remete à palavra inglesa "brick", tijolo--, Brasil, Rússia, Índia e China, e mais tarde África do Sul, têm expressivas diferenças econômicas, culturais e políticas entre si. Em uníssono, no entanto, postulam maior influência em entidades globais, como o FMI.
O banco dos Brics, destinado a financiar projetos de infraestrutura e desenvolvimento de países emergentes, nasce com capital autorizado de US$ 50 bilhões (mas apenas US$ 10 bilhões estarão à disposição desde o início). A cifra é pequena, mesmo simbólica; para comparação, os ativos do BNDES alcançam US$ 334 bilhões.
Com sede em Xangai, o NBD será presidido pela Índia (por cinco anos) e terá Brasil e Rússia à frente dos conselhos de administração e de ministros, respectivamente. Apesar da isonomia formal, a China decerto sobrepujará os demais.
Embora considere o banco dos Brics um "sinal dos tempos", a presidente Dilma Rousseff afirmou que as novas instituições do grupo não são contra ninguém, mas a favor de seus membros. É uma descrição feliz: não devem substituir o FMI e o Banco Mundial, mas operar de forma complementar a eles.
O acesso pleno ao fundo de reservas, ao que parece, só ocorrerá se o país em dificuldades tiver um acordo de ajuste com o FMI. O mesmo procedimento foi adotado pela União Europeia para financiar a periferia do bloco continental.
A despeito dos graves erros nas crises de 1997 a 2008, o FMI ainda é visto como detentor da melhor tecnologia de confecção e monitoramento de programas de recuperação econômica. Ou seja, quem estiver esperando dinheiro fácil vindo dos Brics, com garantias frouxas, provavelmente se frustrará.
Isso não diminui a importância geopolítica dessas novidades. Começa a se formar uma rede sólida de relações econômicas e financeiras entre os novos atores de peso na economia mundial.
Aids: o Brasil na contramão - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE
CORREIO BRAZILIENSE - 17/07
O Brasil entrou na contramão do mundo em questão na qual já foi referência: a prevenção e o tratamento da Aids. Enquanto caem no planeta os números de infectados e de mortes relacionados ao HIV, o país assiste ao alastramento da doença e ao aumento dos índices de óbito. Mesmo num recorte latino-americano, o quadro nacional indica retrocesso. Sem dúvida, os dados divulgados ontem pelo Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV e Aids (Unaids) sensibilizam e põem em xeque a atual condução das políticas públicas brasileiras para o setor. Melhor, portanto, revê-la o quanto antes.
Segundo o Unaids, as infecções por HIV no Brasil cresceram 11% entre 2005 e 2013, enquanto caíram 27,5% no mundo. Já as mortes tiveram queda de 3% na América Latina, mesmo percentual alcançado, por exemplo, pela Argentina, ao passo que aumentaram 7% no território nacional. No planeta, a redução dos óbitos na última década superou os 33%. Não há, pois, como negar a regressão brasileira. E a luz de alerta acesa pelo relatório exige resposta imediata. A apreensão é ainda maior quando se sabe que outra doença em que o país já se destacou pela eficiência no combate, a tuberculose, teve problemas recentes, com a falta de medicamentos.
Negligenciar o enfrentamento do HIV/Aids ou de outro mal qualquer é tratar com desdém a saúde e até a vida do cidadão. Quem viveu os anos 80 do século passado lembra-se bem do drama de pessoas definhando a olhos vistos, encurraladas pela morte. No Brasil, a reação do Estado veio forte. Campanhas de esclarecimento sobre a doença e contra o preconceito ganharam a mídia. A laicidade falou mais alto do que a Igreja, e camisinhas passaram a ser distribuídas fartamente, chegando inclusive aos jovens, dentro das escolas.
Na vanguarda mundial, a rede pública de saúde começou a facilitar o diagnóstico e a fornecer medicamentos gratuitos a todos que necessitassem. Logo, um coquetel de antirretrovirais revelou-se a terapia ideal. Mas os preços amargos cobrados por multinacionais ameaçavam inviabilizar o programa. Sem vacilar, o governo reagiu novamente, manifestando disposição para quebrar patentes, o que conteve a elevação dos custos.
Tamanha persistência revestiu a empreitada de êxito inconteste, logo reconhecido internacionalmente, a ponto de o país passar a exportar sua experiência. Mas novos problemas surgiram. De um lado, a sobrevida, com qualidade de vida bastante razoável, levou pessoas a relaxarem a prevenção, com o que também contribuiu o distanciamento no tempo da agonia vivida pela humanidade no auge das contaminações e mortes. De outro lado, algumas pessoas infectadas adquiriram resistência aos remédios.
Por óbvio, os desafios de cada dia precisam ser encarados cotidianamente, assim como os de sempre não podem jamais ser relaxados. O Brasil está, portanto, convocado a dar nova resposta à questão. E a principal arma continua a ser farta informação. O próprio Unaids revela no relatório divulgado ontem que dos 35 milhões de pessoas infectadas com HIV no planeta, 19 milhões nem sequer sabem que são soropositivas.
O risco de transmissão é tão maior quanto menor for o nível de consciência da humanidade. Nesse sentido, para além do Estado, a sociedade, em geral, e as famílias, em particular, têm papel importante a cumprir. Cabe a todos retomar o debate, tratar do tema abertamente, sem preconceitos, e cobrar das autoridades ação capaz de recolocar o país na posição de vanguarda.
Segundo o Unaids, as infecções por HIV no Brasil cresceram 11% entre 2005 e 2013, enquanto caíram 27,5% no mundo. Já as mortes tiveram queda de 3% na América Latina, mesmo percentual alcançado, por exemplo, pela Argentina, ao passo que aumentaram 7% no território nacional. No planeta, a redução dos óbitos na última década superou os 33%. Não há, pois, como negar a regressão brasileira. E a luz de alerta acesa pelo relatório exige resposta imediata. A apreensão é ainda maior quando se sabe que outra doença em que o país já se destacou pela eficiência no combate, a tuberculose, teve problemas recentes, com a falta de medicamentos.
Negligenciar o enfrentamento do HIV/Aids ou de outro mal qualquer é tratar com desdém a saúde e até a vida do cidadão. Quem viveu os anos 80 do século passado lembra-se bem do drama de pessoas definhando a olhos vistos, encurraladas pela morte. No Brasil, a reação do Estado veio forte. Campanhas de esclarecimento sobre a doença e contra o preconceito ganharam a mídia. A laicidade falou mais alto do que a Igreja, e camisinhas passaram a ser distribuídas fartamente, chegando inclusive aos jovens, dentro das escolas.
Na vanguarda mundial, a rede pública de saúde começou a facilitar o diagnóstico e a fornecer medicamentos gratuitos a todos que necessitassem. Logo, um coquetel de antirretrovirais revelou-se a terapia ideal. Mas os preços amargos cobrados por multinacionais ameaçavam inviabilizar o programa. Sem vacilar, o governo reagiu novamente, manifestando disposição para quebrar patentes, o que conteve a elevação dos custos.
Tamanha persistência revestiu a empreitada de êxito inconteste, logo reconhecido internacionalmente, a ponto de o país passar a exportar sua experiência. Mas novos problemas surgiram. De um lado, a sobrevida, com qualidade de vida bastante razoável, levou pessoas a relaxarem a prevenção, com o que também contribuiu o distanciamento no tempo da agonia vivida pela humanidade no auge das contaminações e mortes. De outro lado, algumas pessoas infectadas adquiriram resistência aos remédios.
Por óbvio, os desafios de cada dia precisam ser encarados cotidianamente, assim como os de sempre não podem jamais ser relaxados. O Brasil está, portanto, convocado a dar nova resposta à questão. E a principal arma continua a ser farta informação. O próprio Unaids revela no relatório divulgado ontem que dos 35 milhões de pessoas infectadas com HIV no planeta, 19 milhões nem sequer sabem que são soropositivas.
O risco de transmissão é tão maior quanto menor for o nível de consciência da humanidade. Nesse sentido, para além do Estado, a sociedade, em geral, e as famílias, em particular, têm papel importante a cumprir. Cabe a todos retomar o debate, tratar do tema abertamente, sem preconceitos, e cobrar das autoridades ação capaz de recolocar o país na posição de vanguarda.
Fortalecer o futebol nacional - EDITORIAL GAZETA DO POVO - PR
GAZETA DO POVO - PR - 17/07
Não é com canetadas autoritárias que manteremos nossos craques por aqui; é preciso buscar outros caminhos
Com o fracasso do Brasil na Copa do Mundo, com direito a duas dolorosas derrotas na semifinal e na disputa pelo terceiro lugar, o país mergulhou em uma busca por uma identidade perdida: o “país do futebol” não é mais aquele? Como recuperar o respeito pela “amarelinha”? Comentaristas, jornalistas e curiosos começaram a vasculhar modelos de recuperação do futebol em outros países, especialmente a agora tetracampeã Alemanha, que em 2000 e 2004 passou pelo vexame de cair na primeira fase da Eurocopa. Um dos elementos citados na receita para um ressurgimento da seleção brasileira vem justamente de lá: o fortalecimento do campeonato nacional.
Um dado reforça a tese de que um futebol campeão se constrói com ligas nacionais fortalecidas: apenas uma seleção, a França de 1998, venceu a Copa do Mundo com um elenco no qual a maioria dos jogadores (13 de 22) atuava fora do país. O Brasil foi campeão em 1958, 1962 e 1970 com seleções formadas apenas por atletas que jogavam por aqui; tanto em 1994 quanto em 2002, eram 11 os “estrangeiros” nas campanhas do tetra e do penta, num grupo de 22 e 23 integrantes respectivamente. Mesmo a partir da década de 80, quando o trânsito de jogadores entre diversos países se tornou mais comum, a Itália venceu as Copas de 1982 e 2006 apenas com membros dos times locais. A Espanha de 2010 tinha apenas três integrantes que não jogavam no país, e só sete dos 23 tetracampeões alemães atuam fora da Bundesliga. É verdade que, na Copa recém-terminada, Holanda, Argentina e Brasil chegaram às semifinais com maioria de “estrangeiros”, e Espanha, Itália e Inglaterra, times considerados fortes e formados majoritariamente por jogadores que atuam no próprio país, caíram na primeira fase. Mesmo assim, a necessidade de aprimorar o campeonato nacional parece ser um consenso.
As maneiras de conseguir esse aprimoramento, no entanto, são diversas. Deixemos de lado a ridícula sugestão da presidente Dilma Rousseff, que em entrevista à rede de televisão CNN sugeriu que a ida de jogadores brasileiros para o exterior sofresse restrições, para que nossos craques ficassem por aqui em vez de abrilhantar ligas europeias. Ora, isso significa simplesmente violar o direito de ir e vir dos atletas; há diversas outras soluções, bem mais trabalhosas que uma simples canetada autoritária, mas cujos resultados têm potencial para serem duradouros.
Um passo importante para um campeonato forte é ter times em boas condições financeiras. Na Alemanha, as equipes precisam apresentar relatórios periódicos mostrando que são capazes de honrar suas obrigações, especialmente o pagamento de salários – que não podem superar 50% da receita do clube. Outros países viram times tradicionais sofrer o rebaixamento por questões financeiras, como o Rangers, na Escócia, e a Fiorentina, na Itália (falidos, ambos caíram para a quarta divisão de suas ligas). No Brasil, tramita no Congresso a chamada Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte, que condiciona a renegociação das bilionárias dívidas dos clubes brasileiros a exigências de transparência e disciplina financeiras, barrando extravagâncias como a contratação de jogadores com salários astronômicos que o time não tem condições de bancar.
Os caminhos para a recuperação dos campeonatos nacionais podem estar inclusive no próprio Brasil. A Superliga de vôlei, tanto no masculino quanto no feminino, tem em seus clubes diversos atletas que compõem as seleções brasileiras da modalidade, repatriando jogadores que até há pouco atuavam em outros países. Analisar esses e outros exemplos, com seus pontos positivos e negativos, é obrigação de quem comanda o futebol nos estados e no Brasil. Talvez nem todas as soluções sejam aplicáveis à realidade do nosso futebol, mas simplesmente ignorar as experiências bem-sucedidas é condenar o esporte que tantos brasileiros amam a permanecer na mediocridade.
Não é com canetadas autoritárias que manteremos nossos craques por aqui; é preciso buscar outros caminhos
Com o fracasso do Brasil na Copa do Mundo, com direito a duas dolorosas derrotas na semifinal e na disputa pelo terceiro lugar, o país mergulhou em uma busca por uma identidade perdida: o “país do futebol” não é mais aquele? Como recuperar o respeito pela “amarelinha”? Comentaristas, jornalistas e curiosos começaram a vasculhar modelos de recuperação do futebol em outros países, especialmente a agora tetracampeã Alemanha, que em 2000 e 2004 passou pelo vexame de cair na primeira fase da Eurocopa. Um dos elementos citados na receita para um ressurgimento da seleção brasileira vem justamente de lá: o fortalecimento do campeonato nacional.
Um dado reforça a tese de que um futebol campeão se constrói com ligas nacionais fortalecidas: apenas uma seleção, a França de 1998, venceu a Copa do Mundo com um elenco no qual a maioria dos jogadores (13 de 22) atuava fora do país. O Brasil foi campeão em 1958, 1962 e 1970 com seleções formadas apenas por atletas que jogavam por aqui; tanto em 1994 quanto em 2002, eram 11 os “estrangeiros” nas campanhas do tetra e do penta, num grupo de 22 e 23 integrantes respectivamente. Mesmo a partir da década de 80, quando o trânsito de jogadores entre diversos países se tornou mais comum, a Itália venceu as Copas de 1982 e 2006 apenas com membros dos times locais. A Espanha de 2010 tinha apenas três integrantes que não jogavam no país, e só sete dos 23 tetracampeões alemães atuam fora da Bundesliga. É verdade que, na Copa recém-terminada, Holanda, Argentina e Brasil chegaram às semifinais com maioria de “estrangeiros”, e Espanha, Itália e Inglaterra, times considerados fortes e formados majoritariamente por jogadores que atuam no próprio país, caíram na primeira fase. Mesmo assim, a necessidade de aprimorar o campeonato nacional parece ser um consenso.
As maneiras de conseguir esse aprimoramento, no entanto, são diversas. Deixemos de lado a ridícula sugestão da presidente Dilma Rousseff, que em entrevista à rede de televisão CNN sugeriu que a ida de jogadores brasileiros para o exterior sofresse restrições, para que nossos craques ficassem por aqui em vez de abrilhantar ligas europeias. Ora, isso significa simplesmente violar o direito de ir e vir dos atletas; há diversas outras soluções, bem mais trabalhosas que uma simples canetada autoritária, mas cujos resultados têm potencial para serem duradouros.
Um passo importante para um campeonato forte é ter times em boas condições financeiras. Na Alemanha, as equipes precisam apresentar relatórios periódicos mostrando que são capazes de honrar suas obrigações, especialmente o pagamento de salários – que não podem superar 50% da receita do clube. Outros países viram times tradicionais sofrer o rebaixamento por questões financeiras, como o Rangers, na Escócia, e a Fiorentina, na Itália (falidos, ambos caíram para a quarta divisão de suas ligas). No Brasil, tramita no Congresso a chamada Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte, que condiciona a renegociação das bilionárias dívidas dos clubes brasileiros a exigências de transparência e disciplina financeiras, barrando extravagâncias como a contratação de jogadores com salários astronômicos que o time não tem condições de bancar.
Os caminhos para a recuperação dos campeonatos nacionais podem estar inclusive no próprio Brasil. A Superliga de vôlei, tanto no masculino quanto no feminino, tem em seus clubes diversos atletas que compõem as seleções brasileiras da modalidade, repatriando jogadores que até há pouco atuavam em outros países. Analisar esses e outros exemplos, com seus pontos positivos e negativos, é obrigação de quem comanda o futebol nos estados e no Brasil. Talvez nem todas as soluções sejam aplicáveis à realidade do nosso futebol, mas simplesmente ignorar as experiências bem-sucedidas é condenar o esporte que tantos brasileiros amam a permanecer na mediocridade.
COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO
“Não vamos aceitar as regras do governo cubano”
Aécio Neves (PSDB), que avalia manter o programa ‘Mais Médicos’, mas sob nova visão
PARTIDOS PODEM SUBSTITUIR ARRUDA
Com sua candidatura ao governo do DF contestada na Justiça, inclusive pela Procuradoria Regional Eleitoral, o ex-governador José Roberto Arruda poderá ser substituído pelo Partido da República e demais siglas aliadas. O problema alegado pelos próprios apoiantes é o risco do “abraço de afogados”: uma decisão judicial cancelando o registro da candidatura de Arruda seria mortal para seus projetos políticos.
GIM GOVERNADOR
Candidato ao Senado na chapa de Arruda, Gim Argello (PTB) é um dos mais citados pelos aliados para assumir a candidatura ao governo.
OPÇÃO RORIZ
A deputada Liliane Roriz, que se recusou a ser vice de Arruda, pode ser outra opção para governadora, mantendo na vice Jofran Frejat (PP).
REPETECO
Em 2010, Joaquim Roriz renunciou à candidatura ao governo do DF. Sua mulher, Weslian, que o substituiu, foi derrotada por Agnelo Queiroz (PT).
COISA DO AGNELO
Em resposta à Coluna, o candidato José Roberto Arruda negou a possibilidade de sua substituição: “É o Agnelo que espalha isso”.
GOVERNO FINGE PRIORIZAR AS RELAÇÕES COM A CHINA
O governo Dilma fez uma encenação para fingir que prioriza as relações com a China, levando o Senado a aprovar às pressas, terça (15) à noite, o acordo que os países firmaram em 2004, há dez anos. A aprovação ocorreu quando o presidente chinês Xi Jinping já estava há 4 dias em visita oficial ao Brasil. Lula iniciou a negligência brasileira, ao demorar 4 anos para enviar ao Congresso o acordo que ele próprio assinou.
AGILIDADE
O acordo com a China, em 2004, agiliza as extradições, permitindo que a Interpol encaminhe pedidos que serão transmitidos pela via diplomática.
PERSEGUIÇÃO, NÃO
Pelo acordo Brasil-China, a extradição será negada nos casos de perseguição em razão de raça, sexo, religião ou nacionalidade.
SORVETÃO
O relator no Senado, José Pimentel (PT-CE), causou mal-estar ao dizer que o acordo merecia aprovação em razão da visita de Xi Jinping.
JUCÁ COM AÉCIO
A eleição do “Samba do Crioulo Doido”: o senador Romero Jucá (PMDB) vai coordenar a campanha de Aécio Neves (PSDB) em Roraima. Como Jucá nunca se afasta do governo, seja qual for, isso pode ser um sinal.
DEMOROU DEMAIS
Após relutar muito, a maioria governista da CPMI da Petrobras quebrou sigilos telefônico, fiscal e bancário de Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Youssef. Se é que ainda existem rastros dos crimes investigados.
ADEUS AO RECESSO... OFICIAL
Sem aprovar a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), o recesso parlamentar do meio do ano acabou cancelado. Começaria nesta sexta (18). Na Câmara, a ideia é fazer vistas grossas às folhas de ponto, prolongando a folga remunerada, como no mês da Copa do Mundo.
PENDURANDO CHUTEIRAS
O ex-ministro do Turismo Pedro Novais desistiu de disputar um novo mandato de deputado federal pelo PMDB-MA. Ele ficou conhecido quando pagou despesas de motel com dinheiro da Câmara, em 2010.
ARROCHA
Depois de postar vídeo dançando seu jingle de campanha, em ritmo de arrocha, o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB) não tem mais paz. Onde chega na Bahia, nem discursa e já escuta pedidos pela “dancinha”.
COMPANHEIROS
Candidata ao Senado, a deputada Fátima Bezerra (PT-RN) espera contar com a ajuda de Dilma e de Lula para derrotar nas urnas Wilma de Faria, do PSB do presidenciável Eduardo Campos.
MANDARAM BEM
As forças de segurança de Brasília coordenaram bem a complexa circulação de 17 chefes de Estado e de governo e comitivas que participaram de reunião do Brics com presidentes sul-americanos.
A HORA É AGORA
O presidenciável Aécio Neves aproveitou fim dos trabalhos legislativos ontem para chamar a bancada tucana para jantar na casa do deputado Paulo Abi-Ackel (MG). Será a chance de tirar fotos para os “santinhos”.
VEXAME
Nem mesmo a visita do presidente da China, Xi Jinping, ao Congresso garantiu quórum mínimo no Plenário da Câmara dos Deputados.
PODER SEM PUDOR
A DIALÉTICA DO TRABUCO
Jânio Quadros estava em campanha pela Presidência, em 1960, quando foi a Aimorés (MG) para um comício. O clima estava carregado, tenso, entre facções da UDN e do PSD. Assim que começou o falatório, José Aparecido de Oliveira foi com o deputado Padre Godinho numa barbearia da cidade. Quando um fazia barba e outro cortava cabelos, ouviram-se tiros. Godinho decidiu sair da barbearia, mas Aparecido o segurou:
- Não vá, eles continuam atirando!...
Padre Godinho parecia saber o que ocorrera lá fora:
- Vou, é meu dever de sacerdote. Preciso dar extrema-unção ao Jânio.
Aécio Neves (PSDB), que avalia manter o programa ‘Mais Médicos’, mas sob nova visão
PARTIDOS PODEM SUBSTITUIR ARRUDA
Com sua candidatura ao governo do DF contestada na Justiça, inclusive pela Procuradoria Regional Eleitoral, o ex-governador José Roberto Arruda poderá ser substituído pelo Partido da República e demais siglas aliadas. O problema alegado pelos próprios apoiantes é o risco do “abraço de afogados”: uma decisão judicial cancelando o registro da candidatura de Arruda seria mortal para seus projetos políticos.
GIM GOVERNADOR
Candidato ao Senado na chapa de Arruda, Gim Argello (PTB) é um dos mais citados pelos aliados para assumir a candidatura ao governo.
OPÇÃO RORIZ
A deputada Liliane Roriz, que se recusou a ser vice de Arruda, pode ser outra opção para governadora, mantendo na vice Jofran Frejat (PP).
REPETECO
Em 2010, Joaquim Roriz renunciou à candidatura ao governo do DF. Sua mulher, Weslian, que o substituiu, foi derrotada por Agnelo Queiroz (PT).
COISA DO AGNELO
Em resposta à Coluna, o candidato José Roberto Arruda negou a possibilidade de sua substituição: “É o Agnelo que espalha isso”.
GOVERNO FINGE PRIORIZAR AS RELAÇÕES COM A CHINA
O governo Dilma fez uma encenação para fingir que prioriza as relações com a China, levando o Senado a aprovar às pressas, terça (15) à noite, o acordo que os países firmaram em 2004, há dez anos. A aprovação ocorreu quando o presidente chinês Xi Jinping já estava há 4 dias em visita oficial ao Brasil. Lula iniciou a negligência brasileira, ao demorar 4 anos para enviar ao Congresso o acordo que ele próprio assinou.
AGILIDADE
O acordo com a China, em 2004, agiliza as extradições, permitindo que a Interpol encaminhe pedidos que serão transmitidos pela via diplomática.
PERSEGUIÇÃO, NÃO
Pelo acordo Brasil-China, a extradição será negada nos casos de perseguição em razão de raça, sexo, religião ou nacionalidade.
SORVETÃO
O relator no Senado, José Pimentel (PT-CE), causou mal-estar ao dizer que o acordo merecia aprovação em razão da visita de Xi Jinping.
JUCÁ COM AÉCIO
A eleição do “Samba do Crioulo Doido”: o senador Romero Jucá (PMDB) vai coordenar a campanha de Aécio Neves (PSDB) em Roraima. Como Jucá nunca se afasta do governo, seja qual for, isso pode ser um sinal.
DEMOROU DEMAIS
Após relutar muito, a maioria governista da CPMI da Petrobras quebrou sigilos telefônico, fiscal e bancário de Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Youssef. Se é que ainda existem rastros dos crimes investigados.
ADEUS AO RECESSO... OFICIAL
Sem aprovar a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), o recesso parlamentar do meio do ano acabou cancelado. Começaria nesta sexta (18). Na Câmara, a ideia é fazer vistas grossas às folhas de ponto, prolongando a folga remunerada, como no mês da Copa do Mundo.
PENDURANDO CHUTEIRAS
O ex-ministro do Turismo Pedro Novais desistiu de disputar um novo mandato de deputado federal pelo PMDB-MA. Ele ficou conhecido quando pagou despesas de motel com dinheiro da Câmara, em 2010.
ARROCHA
Depois de postar vídeo dançando seu jingle de campanha, em ritmo de arrocha, o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB) não tem mais paz. Onde chega na Bahia, nem discursa e já escuta pedidos pela “dancinha”.
COMPANHEIROS
Candidata ao Senado, a deputada Fátima Bezerra (PT-RN) espera contar com a ajuda de Dilma e de Lula para derrotar nas urnas Wilma de Faria, do PSB do presidenciável Eduardo Campos.
MANDARAM BEM
As forças de segurança de Brasília coordenaram bem a complexa circulação de 17 chefes de Estado e de governo e comitivas que participaram de reunião do Brics com presidentes sul-americanos.
A HORA É AGORA
O presidenciável Aécio Neves aproveitou fim dos trabalhos legislativos ontem para chamar a bancada tucana para jantar na casa do deputado Paulo Abi-Ackel (MG). Será a chance de tirar fotos para os “santinhos”.
VEXAME
Nem mesmo a visita do presidente da China, Xi Jinping, ao Congresso garantiu quórum mínimo no Plenário da Câmara dos Deputados.
PODER SEM PUDOR
A DIALÉTICA DO TRABUCO
Jânio Quadros estava em campanha pela Presidência, em 1960, quando foi a Aimorés (MG) para um comício. O clima estava carregado, tenso, entre facções da UDN e do PSD. Assim que começou o falatório, José Aparecido de Oliveira foi com o deputado Padre Godinho numa barbearia da cidade. Quando um fazia barba e outro cortava cabelos, ouviram-se tiros. Godinho decidiu sair da barbearia, mas Aparecido o segurou:
- Não vá, eles continuam atirando!...
Padre Godinho parecia saber o que ocorrera lá fora:
- Vou, é meu dever de sacerdote. Preciso dar extrema-unção ao Jânio.
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