Guerras, pra que te quero?
Há muito mais perigo para o mundo no tiroteio entre o exército judeu e os terroristas do Hamas do que possa imaginar o jornalista Gilles Lapouge, correspondente em Paris do jornal O Estado de São Paulo, que hoje faz uma boa análise do conflito em Gaza.
A violência que retornou de repente pode ser apenas um aperitivo da loucura bélica que está para explodir na região, anexando à histérica batalha, combatentes perigosos como o Irã, a Síria e os grupos terroristas das várias tendências muçulmanas.
Há uma questão nessa pendenga armamentista passando à margem das interpretações dos economistas que espiam a crise global. Os grandes conglomerados financeiros, os gigantes de mercado e até Washington não têm tanto interesse na paz, pelo menos agora.
A crise que balança o planeta já deveria ter estourado há alguns anos, mas foi sustada pelos ataques americanos aos talibãs e depois pela invasão do Iraque, com a participação de várias nações do chamado mundo civilizado.
Desenha-se agora no Oriente, com a sempre fiel caneta guerreira de Israel, um novo palco de uma guerra que poderá se estender pelo tempo que for necessário, até que as indústrias atingidas pela crise encontrem sua paz no balanço e na bolsa.
Radicalizando suas ações contra o Hamas, as tropas israelenses certamente atacarão também o Hezbollah e estenderão seu poder às fronteiras minadas com o governo belicista de Mahmud Ahmadinejad, o doido que quer varrer Israel do mapa.
O que seria apenas mais um conflito enlouquecido entre judeus e palestinos, poderá descambar para uma guerra convencional envolvendo os sírios, os libaneses e os iranianos, além da fatal participação dos EUA e seus fiéis aliados de mercado.
Não há nada mais eficiente para sanar uma crise econômica, com víeis financeiro, do que uma boa e sanguinolenta guerra. No conflito se vende tudo, na paz nem tanto. Nunca se precisou tanto se vender de tudo. E só uma guerra oferece tantos produtos.
Nas guerras, vendem-se armas, combustível, motores, remédios, roupas, alimentos, calçados, tecnologia, papel, plástico, ferro, aço, borracha, cimento. Para destruir é preciso vender e depois vender ainda mais reconstruir. O moto contínuo do horror.
Se as perspectivas para 2009 já eram as piores possíveis no plano apenas das movimentações de mercado, poderão agravar-se mais com a explosão de uma guerra sem proporções no Oriente Médio, envolvendo parte do planeta.
Outra guerra fratricida, movida em principio por ódios e diferenças políticas seculares, mas abastecida pela mão do poder econômico que tudo pode. É assim que o mundo gira, com os homens destruindo para reconstruir o que vai destruir depois. A paz, infelizmente, não tem construído muito.