quinta-feira, setembro 01, 2011

SANDY E O SEXO ANAL. LIÇÃO EM CASA


SANDY E O SEXO ANAL


RICARDO GALUPPO - Intenção e gesto


Intenção e gesto
RICARDO GALUPPO
BRASIL ECONÔMICO - 01/09/11

A julgar pela proposta de aumento do salário mínimo contida no Orçamento de 2012, entregue ontem ao Congresso, a impressão que se tem é a de que a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, servem a governos diferentes. Na segunda-feira passada, a Fazenda havia anunciado um aumento de R$ 10 bilhões na meta do superávit primário — com o objetivo manifestado por Mantega de “impedir aumentos de gastos correntes que poderiam ser aprovados no Congresso”. Antes, porém, que os nobres parlamentares se mobilizassem em torno daquilo que fazem com mais entusiasmo — ou seja, criar despesas sem se preocupar com a origem do dinheiro —, vem a turma do Planejamento e pimba! Propõe um salário mínimo de R$ 619,21. Ou seja, um reajuste de 13,6% sobre o ordenado atual, que é de R$ 545. Isso num ano em que a inflação deverá ficar pouco abaixo de 5% e a expansão do PIB deve patinar em torno desse número. O novo mínimo custará ao Erário gastos correntes superiores a R$ 13,3 bilhões. A intenção é conter despesas. O gesto é de gastar mais.

O anúncio trouxe junto, como não poderia deixar de ser, a explicação de que uma coisa não tem nada a ver com a outra e que a proposta do Planejamento está perfeitamente sintonizada com a da Fazenda. Ótimo! O problema é que a própria necessidade de uma explicação como essa já demonstra que existe algo esquisito nessa história. O aspecto mais interessante, porém menos observado, é que a maior parte desses R$ 13,3 bilhões seria gasta de uma forma ou de outra. Afinal, pelo sistema de reajuste do mínimo aprovado no primeiro semestre deste ano, era esperado que o valor chegasse a R$ 616,34 em 2012. O problema, portanto, não está nos R$ 74,41 que separam os R$ 619,21 prometidos ontem dos R$ 545 pagos hoje em dia. O problema real está no valor aparentemente irrisório de R$ 2,87 que separa o salário mínimo que já estava previsto do valor que consta do Orçamento. Isso significa, num cálculo apressado, uma elevação nas despesas de R$ 1 bilhão além do necessário.

Em meio às cifras gigantescas do Orçamento, R$ 1 bilhão é uma ninharia, uma gota em meio aos R$ 2,1 trilhões que serão gastos pela União em 2012. O problema, de fato, está no que essa liberalidade sinaliza para a sociedade e, principalmente, para um Congresso que está com as atenções completamente voltadas para as eleições municipais do próximo ano. E o sinal não poderia ser mais claro: o governo pode gastar muito mais do que admite, e só não faz isso porque não quer. A pressão aumentará, o governo terá que ceder aqui e ali e, de bilhão em bilhão, logo se ultrapassará os R$ 10 bilhões que Mantega queria proteger do apetite dos políticos pelo “aumento dos gastos correntes”. Não vamos nos esquecer de que 2012 é ano eleitoral — e que a pressão dos parlamentares da “base aliada” sobre o cofre do governo será intensa. O problema não é o valor do salário, mas a pressão que ele exerce sobre as contas públicas e, portanto, sobre os bolsos dos brasileiros que pagam impostos. Que, mais uma vez, serão os patos da história.

GILLES LAPOUGE - De novo o ouro negro


De novo o ouro negro
GILLES LAPOUGE
O Estado de S.Paulo - 01/09/11

É muito comum atribuir ao petróleo os conflitos, as guerras, as iniciativas diplomáticas. No passado, o que foi dito é que a expedição americana no Iraque tinha por finalidade o controle das gigantescas reservas petrolíferas do país.

A mesma análise tem sido feita hoje no caso da operação na Líbia empreendida por França, Grã-Bretanha, Otan e alguns outros países para destituir o tirano Muamar Kadafi. Mas o chanceler da Itália, Franco Frattini, procurou esclarecer as coisas: "Itália e França não estão engajadas numa guerra colonial para se apossar do petróleo da Líbia".

A Líbia possui vastas reservas de petróleo. Antes da guerra, sua produção era de 1,5 milhão de barris por dia (2% da produção mundial), mas sua capacidade real é de 4 milhões de barris diários. A guerra certamente danificou toda a aparelhagem petrolífera, mas a expectativa é que, dentro de seis meses, os poços devem estar de novo a pleno vapor. E não nos esqueçamos de que o petróleo líbio é de qualidade superior.

Mas a Itália não está na guerra de olho no petróleo líbia. Na verdade, os italianos foram arrastados para o conflito. A França, pelo contrário, entrou de cabeça. Foi Nicolas Sarkozy, com o britânico David Cameron, que mobilizou os aliados. Evidentemente, não foi para aumentar sua parte no tesouro petrolífero líbio. A gigante francesa Total espera agora ampliar sua presença na Líbia.

Até o momento, a empresa tem uma presença discreta no país: apenas dois campos de petróleo, com 55 mil barris por dia, o que a coloca bem distante da ENI italiana e da Repsol espanhola.

A situação pode mudar. Sarkozy, que foi o mentor da intervenção da Otan, é uma das figuras mais populares da Líbia libertada. Esse provável avanço da Total na Líbia completa uma ofensiva geral lançada pela companhia francesa em todo o continente africano. E a partir de agora, ela deve consagrar US$ 5 bilhões ao ano a seus investimentos no continente. Total está presente no Sudão do Sul, Uganda, Tanzânia, Nigéria e, sobretudo, em Angola.

Aliás, em Angola, onde a companhia francesa já opera, a Total deve abrir nos próximos anos dois novos campos de exploração "off shore". Além disso, tem um projeto espetacular: a exploração em águas profundas da Bacia de Kwanza. Os engenheiros estão convencidos de que essa bacia encerra reservas gigantescas sob as camadas do pré-sal.

Suas esperanças têm como base o Brasil. A Petrobrás localizou imensos campos submarinos profundos em 2007 na Bacia de Santos. E, segundo os geólogos, essas duas zonas - a bacia brasileira e a de Kwanza - formavam um bloco único há 150 milhões de anos, antes de o continente americano separar-se da África. Assim, a Total segue com grande interesse as atividades da Petrobrás e está otimista. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

ILIMAR FRANCO - Está feito: Pimentel



Está feito: Pimentel
ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 01/09/11
 
A presidente Dilma pediu ontem a seu vice, Michel Temer, que contornasse eventuais dificuldades no PMDB para fazer o senador José Pimentel (PT-CE) o novo líder do governo no Congresso. A presidente argumentou que sua escolha era natural, pois Pimentel era o primeiro vice do ex-líder, o ministro Mendes Ribeiro (Agricultura). Temer já explicou a situação para o líder do PMDB na Câmara, Henrique Alves (RN), que decidiu não criar caso. O anúncio pode ser feito a qualquer momento.

Os estados e suas bancadas

O governo Dilma não vai fazer cavalo de batalha caso a Câmara decida votar a Emenda 29, que regulamenta os gastos com Saúde. O governo federal já gasta com o setor o percentual previsto na proposta. A presidente Dilma fez um alerta, na segunda-feira, pedindo o adiamento da votação por causa dos estados, pois a maioria deles não cumpre o percentual fixado no projeto. Emissários da presidente já
avisaram aos governadores que eles precisam entrar em campo para evitar a votação. Pois, a única coisa que o governo federal não quer é a ampliação dos recursos para a Saúde dos atuais 7% para 10% da receita bruta da União. 

"A presidente Dilma capitulou, submeteu-se à chantagem de sua base aliada. Sua famosa faxina limitou-se a jogar sujeira para debaixo do tapete e esconder a vassoura atrás da porta” — Jarbas Vasconcelos, senador (PMDB-PE)

CABO DE GUERRA. A direção nacional do PSDB entrou em campo para assegurar a permanência da deputada federal Andreia Zito (PSDB-RJ) no partido. Com o prefeito de Duque de Caxias, José Camilo Zito, de malas prontas para o PP, o presidente do diretório regional, Luiz Paulo Corrêa da Rocha, teria dado um prazo de dez dias para que ele e seu grupo deixem o PSDB, sob pena de expulsão por infidelidade partidária. 

Turbinado
 
O embaixador no Egito, Cesário Melantonio Neto, representante do Brasil na Conferência de Paris, que vai tratar da Líbia, é o novo embaixador extraordinário para o Oriente Médio. Affonso Celso de Ouro- Preto está se aposentando.

Na pressão
O presidente do PR, senador Alfredo Nascimento (AM), disse ontem ao ministro Gilberto Carvalho (Secretaria Geral) que, se o partido continuar sob suspeição, não terá outra alternativa a não ser assinar a CPI da Corrupção.

PSD de vento em popa
A expectativa da direção do PSD é que o partido obtenha hoje o registro em 11 estados. Ontem, eram sete estados. Com isso, o novo partido terá cumprido exigência legal para que o TSE lhe dê registro definitivo. Um de seus dirigentes, Saulo Queiroz, informa que o PSD vai nascer com 47 deputados e dois senadores. Mas o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, avalia que até que saia o registro
do TSE a bancada poderá chegar a 55 deputados. 

Cota para mulheres
O PT votará nova cota para mulheres em seus diretórios, no seu 4o- Congresso, no final de semana. Hoje 30% das vagas são das mulheres. A comissão de estatuto quer a paridade, mas com uma transição de 40%. Elas querem paridade já.

Referência
A ministra Iriny Lopes (Mulheres) vai propor à Casa Civil a criação da comenda Fabiana Murer, dedicada a mulheres que fazem diferença no esporte. Fabiana conquistou o primeiro ouro feminino do Brasil num mundial de atletismo.

OS SENADORES governistas vão propor que as empresas petrolíferas paguem royalties de 20%. Na proposta original do governo, a taxação ia para 15%. 
REPRESENTATIVIDADE. São tantos os candidatos que o próximo representante da Câmara no TCU poderá ser escolhido com uma votação inferior a 100 votos.
NOVO PARTIDO. Sobrinho do senador Clésio Andrade (PR-MG), o deputado Diego Andrade (PR-MG) diz já ter o número suficiente de assinaturas em dez estados para criar o PDN (Partido do Desenvolvimento Nacional).

ANCELMO GÓIS - BORBOLETA DE VOLTA

BORBOLETA DE VOLTA 
ANCELMO GOIS
O GLOBO - 01/09/11

Com palestra do sociólogo Emir Sader, será lançado hoje, em Brasília, o grupo Inaugurar Um Novo Período, mais recente tendência esquerdista do PT.
Disposto a resgatar valores da época da fundação do partido, em 1980, o grupo, inclusive, terá como marca uma borboleta vermelha (foto), primeiro símbolo do PT antes da estrela.

NA CABEÇA... 
Aliás, no jogo do bicho, a borboleta é 13, número do PT.

LIVRO COM DESCONTO 
A editora Rocco vai estender a todos os visitantes da Bienal do Rio o desconto de 20% dado a professores na compra de seus livros.

RETRATOS DA VIDA 
Um taxista surdo e mudo que faz ponto em frente ao Shopping Tijuca, no Rio, tem chamado a atenção.
Quando o cliente entra no carro, saca sua lousa para que seja escrito o endereço da corrida. Que seja feliz.

MEIRELLES SEM PRESSA 
Vai demorar umas duas semanas, no mínimo, para Henrique Meirelles responder a Ricardo Teixeira se aceita ser o principal executivo do Comitê da Copa de 2014.
Os dois ainda não conversaram tête-à-tête e ambos têm viagens para o exterior estes dias.

SÓ QUE... 
Meirelles não embarca na Copa sem saber direitinho a parte que lhe cabe neste latifúndio.

MARQUISE POLÊMICA 
Ontem, a reunião do Conselho do Iphan sobre a autorização de obras do Maracanã foi muito tumultuada.
O relator do processo, arquiteto Nestor Goulart Reis Filho, acha que a marquise do estádio, por exemplo, não deveria ser derrubada, só adaptada. Mas o superintendente do Iphan, Carlos Fernando de Andrade, autorizou a obra.

SOBROU PARA A BR 
A Petrobras espera que o Ministério da Fazenda diminua a cobrança da Cide, como fez ano passado, para compensar a estatal nessa nova redução da mistura de álcool na gasolina.
Pelas contas do mercado, a BR deve importar uns 550 mil barris a mais por mês, com prejuízo adicional de R$ 27 milhões mensais.

FANTASMA DE WILDE 
A LeYa lança em outubro “O fantasma de Canterville”, de Oscar Wilde, escrito em 1887.
Sai pela coleção Eternamente Clássicos, que já reeditou O mágico de Oz (L. Frank Baum) e A lenda do cavaleiro sem cabeça (Washington Irving).

SOIS REI 
Sábado, o Diretório Monárquico do Brasil, que reúne adeptos do regime dos reis, promove um encontro no South-American Copacabana Hotel, 
no Rio.
O evento terá palestrantes defensores do parlamentarismo monárquico e também republicano, como Cesar Maia.

MÁFIA CARIOCA 
Repercutiu mal na cúpula do Judiciário a carta aberta ao juiz Alexandre Abrahão, publicada como anúncio pelo advogado do bicheiro Rogério Andrade.
Diante da nova ofensiva, o presidente do TJ, Manoel Alberto, prometeu dar ao juiz “todo apoio e segurança necessários”.

CLÓVIS ROSSI - Próxima estação, a Síria?

Próxima estação, a Síria?
CLOVIS ROSSI 
FOLHA DE SP - 01/09/11

O Irã, único apoio a Bashar Assad no mundo islâmico, estaria iniciando diálogo com a oposição síria


Se verdadeira a informação do jornal francês "Le Figaro", o regime de Bashar Assad, na Síria, pode estar em contagem regressiva. Segundo o jornal, funcionários iranianos encontraram-se com representantes da oposição síria em uma capital europeia. Queriam saber o que o Ocidente também gostaria muito de ter claro: conhecer os líderes de uma oposição que esteve condenada à clandestinidade durante 40 anos de ditadura; determinar qual o peso dos islamitas no conglomerado oposicionista; e se um acordo com o regime ainda é possível.
Um quarto ponto, de interesse específico do Irã, também teria sido tratado: como a oposição, uma vez instalada no poder, se relacionaria com o Hizbollah, o partido-milícia xiita do Líbano. "A Síria é o país que permite ao Irã suprir a sua joia da coroa no Oriente Médio, o Hizbollah", comenta Karim Sadjadpour, especialista do Carnegie Endowment for International Peace.
A importância do Irã na crise síria se dá por ser a rigor o único país do mundo muçulmano que ainda apoia o regime, com o qual de resto tem vínculos históricos.
É pela Síria que passam as armas que o Irã fornece ao Hizbollah ("Partido de Deus"), uma das pontas-de-lança do combate iraniano a Israel. A outra ponta é o Hamas (Movimento de Resistência Islâmica), que controla a faixa de Gaza. Se o Irã de fato busca uma aproximação com a oposição síria, o isolamento de Assad seria tão formidável que, para manter-se no poder, precisaria dobrar a aposta na violência, já insuportável.
O "Figaro" informa ainda que também o Hizbollah fez contatos com a oposição síria, que, sempre de acordo com o matutino francês, estaria disposta, uma vez no poder, a reequilibrar as relações com Teerã, hoje de intimidade absoluta, mas sem adotar posições anti-iranianas.
Se for de fato assim, o Irã acaba se beneficiando da chamada "Primavera Árabe": não perderia a "nova" Síria e já ganhou um Egito menos refratário ao regime dos aiatolás. Hosni Mubarak, o deposto ditador egípcio, era um dos principais, talvez o principal baluarte da resistência a Teerã.
Seus sucessores até já permitiram a passagem de navios iranianos pelo Canal de Suez, o que não acontecia há cerca de 40 anos. Mas, atenção, não quer dizer que o Irã ganha com as revoltas no mundo muçulmano. Simplesmente deixa de perder, como parecia inevitável no início da turbulência, quando se acreditava que seriam varridos os governos autoritários.
Não está sendo assim, mas é prudente não avançar prognósticos porque as rebeliões estão desafiando todos eles. No caso da Líbia, por exemplo, pensou-se que Gaddafi cairia, como Mubarak, poucos dias após iniciado o levante.
Depois, passou-se a especular com o contrário, ou seja, que a repressão por ele promovida criaria um impasse de longa duração, que Trípoli era inexpugnável e que Assad teria longa vida por seguir a tônica repressiva adotada na Líbia.
Agora, Tripoli caiu e até o Irã, cujas práticas violentas são conhecidas, começa a desconfiar de que nem a repressão basta para segurar o ditador sírio.

EDITORIAL - O ESTADO DE SÃO PAULO - Assalto em nome da saúde


Assalto em nome da saúde
EDITORIAL
O Estado de S. Paulo - 01/09/2011

Mais um assalto ao bolso do contribuinte é planejado em Brasília, com a tolerância, e até com algum estímulo, da presidente Dilma Rousseff. O pretexto é conseguir dinheiro para financiar os programas de saúde. Segundo o discurso oficial, faltam recursos para o governo cumprir as determinações da Emenda Constitucional n.º 29 - ou, mais precisamente, da regulamentação em exame na Câmara dos Deputados. Parlamentares aliados já decidiram votar esse projeto no fim de setembro. A presidente recomenda: se quiserem mesmo votar, arranjem uma fonte de financiamento. Sem isso, qualquer elevação da despesa será, segundo ela, um presente de grego.

A Emenda n.º 29, aprovada em setembro de 2000, estabeleceu uma despesa mínima anual com ações e serviços públicos de saúde. Em cada exercício, até 2004, a União deveria destinar a essa área o montante do ano anterior corrigido pela variação nominal do PIB. Na ausência de regulamentação, a regra inicial continuaria em vigor a partir de 2005. Um projeto foi apresentado em 2008 no Senado. A proposta foi alterada na Câmara. Uma das mudanças mais importantes foi a inclusão, num substitutivo do deputado Pepe Vargas (PT-RS), de uma Contribuição Social para a Saúde (CSS), com as mesmas características da extinta Contribuição Provisória sobre a Movimentação Financeira (CPMF), também conhecida como imposto do cheque. A alíquota seria bem menor, 0,1%, mas isso não eliminaria os principais defeitos desse tributo. É uma aberração ter de pagar uma contribuição sobre o valor do cheque (ou do saque) depois de ser onerado com os impostos já cobrados na compra de qualquer bem ou serviço. Além do mais, essa contribuição é cumulativa ao longo de toda a cadeia de circulação. A isso deve acrescentar-se um detalhe nada desprezível: instituído o tributo, sempre haverá o risco de aumentos da alíquota por meio de novas leis aprovadas facilmente por parlamentares empenhados em gastar.

Alguns parlamentares fizeram declarações contrárias ao estabelecimento de qualquer novo tributo. Mas o governo, se quiser, saberá como conseguir apoio suficiente para instituir mais um tributo. Mas a campanha pela criação da CSS começa com força. O líder do governo na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), tomou a dianteira. "Precisamos", disse, " de uma fonte extra para a saúde. A CSS não está fora da mesa." Mas o governo e seus aliados poderão negociar um novo projeto até dia 28, data prevista para votação. De qualquer forma, a ideia de um novo tributo dificilmente será descartada, embora se discutam algumas alternativas, como a destinação obrigatória de uma parte da renda do pré-sal para a política de saúde.

De fato, o governo não precisa de recursos adicionais para o setor de saúde. A União já arrecada cerca de 24% do PIB. Descontadas as transferências a Estados e municípios, fica com cerca de 20%. A carga tributária total, incluídas as contas estaduais e municipais, fica em torno de 35% do PIB. É uma tributação muito maior que a de outras economias emergentes e superior à de vários países desenvolvidos. Em vez de recolher mais dinheiro, é preciso mudar as práticas orçamentárias e os padrões administrativos em todos os níveis de governo. Além do mais, a arrecadação federal, nos últimos anos, cresceu mais que o PIB e nunca faltou dinheiro para programas e projetos. Qualquer novo imposto só favorecerá a gastança.

A gestão orçamentária é prejudicada por excesso de vinculações - a própria Emenda n.º 29 é um exemplo disso - e pelo desperdício, gerado pela ineficiência administrativa e pela corrupção. "Acho uma temeridade alguém achar que, aprovando um porcentual de gastos, vai resolver o problema da saúde", disse a presidente na terça-feira.

Ela está certa. Só falta agir de acordo com essa opinião e trabalhar por novos critérios de eficiência e de seriedade. Se tiver sucesso, vai realizar muito mais com o mesmo dinheiro. O mais difícil será conseguir apoio para isso. O primeiro obstáculo será a fome de poder e de dinheiro de seu partido.

ALON FEUERWERKER - Ex-presidentes


Ex-presidentes
ALON FEUERWERKER
Correio Braziliense - 01/09/2011

Se um ex-presidente deseja continuar na refrega, deve continuar para valer. Submeter-se ao escrutínio popular. O Brasil construiu um modelo intermediário entre o caudilhismo e a democracia de rotação de poder


Sobre ex-presidentes do Brasil, há pelo menos uma certeza: quanto mais eles prometem pairar acima das questiúnculas político-partidárias, mais cresce a certeza de estarem metidos nelas até o pescoço.

Dos ex-presidentes desde a redemocratização, consequentes têm sido José Sarney e Fernando Collor. Assim como foi Itamar Franco, enquanto viveu. Assim como talvez será Luiz Inácio Lula da Silva em eleições vindouras.

Se um ex-presidente deseja continuar na refrega, deve continuar para valer. Submeter-se ao escrutínio popular. Sarney e Collor vêm — e Itamar vinha — disputando seguidas eleições desde que deixaram a cadeira.

Para ganhar ou perder. Encaram o risco da urna, o humor do eleitor. Collor mais dramaticamente, pelo longo desterro percorrido até um novo mandato.

Já Fernando Henrique Cardoso prefere trilha diversa. Apresenta-se como líder perene da oposição — o que é legítimo —, mas não se vê amarrado pelas contingências da política prática.

Ora fala como sociólogo, ora como líder partidário, ora como militante de causas suprapartidárias.

Está no direito dele, mas seria interessante medir o efeito disso na atividade oposicionista.

Na surpreendente iniciativa para liberalizar a legislação antidrogas, por exemplo, seria útil se o ex-presidente tucano conferisse, na luta por um cargo majoritário, o que os eleitores acham disso.

Para a democrática aferição popular.

Quando estava na Presidência, Lula repetia que seria um bom ex-presidente. Até agora não tem derrapado no cumprimento da promessa. Não tem lutado pela função de consciência crítica do governo Dilma Rousseff.

Vem absorvendo o prejuízo decorrente das guinadas da sucessora, das coisas que ela faz exatamente ao contrário do que ele fazia. Como agora ao enfrentar a nova onda planetária de crise econômico-financeira.

Verdade que Lula está dia sim outro também na ribalta, operando o fortalecimento da sua corrente política. Mas que ex-presidente não está?

E se o jornalismo decide cobrir o que Lula faz e diz, é decisão jornalística.

Seria injusto pedir a Lula que se aposente da política partidária e não pedir o mesmo aos demais.

O Brasil construiu um modelo intermediário entre o caudilhismo e a democracia de rotação de poder. O primeiro tem vários exemplos. Alguns deles cobram hoje sua conta em sangue no mundo árabe.

A segunda cristalizou-se nos Estados Unidos.

Há um debate sobre se Lula não quis ou não pôde lutar pelo terceiro mandato consecutivo. É uma discussão para os historiadores. Preto no branco, o petista não chegou a mover um músculo para continuar na cadeira além do prazo previamente regulamentado.

Por boniteza ou precisão, tanto faz.

Diz a respeito
A votação que livrou Jaqueline Roriz da cassação na Câmara dos Deputados reacendeu o debate sobre a conveniência do voto secreto no parlamento em algumas situações.

O reflexo em ocasiões assim é defender o fim do voto secreto. Com o objetivo de suprimir a independência dos parlamentares diante da opinião pública.

Mas, como dizia o Conselheiro Acácio, as consequências virão depois. O planejado para permitir a ascendência absoluta da opinião pública sobre o Legislativo irá resultar em outra ascendência absoluta do Executivo sobre o Congresso.

É um trade-off, e o país precisa decidir o que prefere.

Isso, independente do juízo sobre a votação da terça-feira. Um problema foi a Câmara dos Deputados desconsiderar a intensidade da prova contra a acusada.

Outro problema, tão grave quanto, é alguém, na situação da acusada, não se sentir compelido a renunciar.

Se a contagem dos votos no painel eletrônico disse algo a respeito do Parlamento brasileiro, o segundo fato diz bastante a respeito da sociedade brasileira.

CONTARDO CALLIGARIS - Saques, arrastões e "ressentiment"

Saques, arrastões e "ressentiment"
CONTARDO CALLIGARIS
FOLHA DE SP - 01/09/11 

Na nossa época, futilidades são, no mínimo, tão relevantes e necessárias quanto era o pão em 1789


A turba que afugentou Luís 16 e Maria Antonieta de Versailles, em 1789, pedia pão porque estava com fome.
A turba de Londres em 2011 pedia bugiganga eletrônica e roupa de marca -artigos que, aos olhos de muitos, parecem não ser de primeira necessidade. Ou seja, aparentemente, a violência da turba de 1789 talvez fosse justificada, mas a de 2011 não é.
No domingo passado, na Folha, Eliane Trindade escreveu sobre meninas de rua que praticam arrastões em São Paulo. Elas procuram produtos para alisar o cabelo, celulares cor-de-rosa e lentes de contato verdes para mudar a cor dos olhos.
Alguém estranha que elas não prefiram uma comida boa ou uma roupa quente? Como disse uma menina, o que elas querem é ser bonitas (claro, nos moldes da cultura de massa). Será que, como a turba de Londres, elas seriam culpadas por não desejarem bens "de primeira necessidade"?
Não penso assim -e não é por indulgência com assaltos e arrastões. É porque, na nossa época, as "futilidades" são, no mínimo, tão relevantes e tão necessárias quanto era o pão em 1789. Explico.
Em 1789, as diferenças eram de casta. Salvo filósofos perdidos na turba, as pessoas reunidas no protesto queriam manifestar sua indignação e satisfazer sua fome, mas não pensavam em mudar a ordem social e subir na vida. Na época, aliás, ninguém subia para lugar nenhum, as pessoas ocupavam o lugar que lhes cabia por nascimento.
À força de indignação e raiva, as coisas foram longe, até que ruiu o próprio regime de castas. Desde então, o que confere status não é mais o berço (nobre ou não) no qual a cegonha nos depositou, mas fatores que não dependem só do acaso: trabalho, riqueza, estilo, virtudes morais, cultura etc.
"Quem somos" depende de como conduzimos nossa vida e (indissociavelmente) de como ela é avaliada pelos outros. Para obter o reconhecimento de nossos semelhantes (sem o qual não somos nada), os objetos que nos circundam ajudam mais do que a barriga cheia; eles têm uma função parecida com a dos paramentos das antigas castas: declaram e mostram nosso status -se somos antenados, pop, fashion, sem noção, ricos, pobres ou emergentes, cultos ou iletrados.
Podemos achar cafonas os objetos roubados pelas meninas e pelos saqueadores (o consumo de massa desvaloriza seu consumidor), mas o que importa é que eles roubaram objetos que lhes eram necessários para existir, para ser "alguém" no mundo. Isso não justifica nem saques nem arrastões; mas vale notar que, na nossa época, as futilidades são, no mínimo, tão relevantes e necessárias quanto era o pão para o pessoal de 1789.
Outro aspecto. Houve quem detestou os saqueadores londrinos por eles não estarem interessados em alterar a ordem social: roubaram para ter as mesmas coisas que a gente e, portanto, chegar exatamente ao lugar que nós ocupamos agora. Para usar uma expressão clássica em filosofia, os saqueadores seriam um caso de "ressentiment".
Nietzsche tomou o termo (e parte de seu sentido) de Kierkegaard. Modernizando, a ideia é a seguinte: "Não tive sorte ou, então, sou burro e preguiçoso, acho chato estudar e gosto de dormir. Sou invisível socialmente e invejo o bem-sucedido, que se pavoneia com seus objetos. Não quero me sentir culpado de minha condição; prefiro, portanto, acusar dela o bem-sucedido. Com isso, viverei minha mediocridade como se fosse o resultado da violência dos privilegiados, que gozam de tudo e não deixam nada para mim".
Enfim, para se consolar, o ressentido inventa uma moral (social ou religiosa) pela qual, no futuro, seu perseguidor será destronado pela revolta ou queimará nas chamas do Inferno.
Nos bares da "facu" de filosofia, nos anos 1970, colegas de direita acusavam a revolução proletária de ser apenas um projeto ressentido. Respondíamos que a revolução não era ressentida, porque ela não queria vingança, não queria substituir a burguesia, apropriando-se de seus brinquedos: seu intuito era inaugurar um mundo diferente, onde todos gozaríamos de novos prazeres.
Desse ponto de vista, os saqueadores de Londres, eles sim, seriam simplesmente uns ressentidos, não é?
Pode ser, mas, antes de responder, recomendo paciência: o que hoje parece apenas "ressentiment" pode ser a faísca de mudanças que nem suspeitamos. Afinal, o pessoal de 1789 só pedia pão, e olhe o que aconteceu...

TUTTY VASQUES - Muito barulho pra nada!


Muito barulho pra nada!
TUTTY VASQUES
O ESTADÃO - 01/09/11

É nisso que dá cutucar a opinião pública com vara curta no Brasil: fica todo mundo resmungando pelos cantos que "assim não dá", aquele papo de "país da impunidade", "a que ponto chegamos", "vale-tudo", bando disso, bando daquilo, vergonha, palhaçada, fim do mundo, basta! Não demora, Jaqueline Roriz será uma vaga lembrança no rosário de lamúrias espasmódicas de todo brasileiro revoltado com tudo-isso-que-aí-está.

Afora a chatice do lugar comum das palavras de ordem, a indignação popular da maneira como é praticada no País tem se mostrado absolutamente ineficaz no enfrentamento da corrupção. Político safado nenhum dá mais bola pra isso! Se eleitor brabo moralizasse alguma coisa, o Congresso não seria este que aí está, né não?

Se você é desses que andam por aí espumando com a última afronta da Câmara dos Deputados ao voto do eleitor, pense nisso: os caras estão se lixando para esse seu ataque apoplético justificável.

Sei lá qual é a saída - quem pariu o movimento social que o embale -, mas até que se descubra uma reação contundente, faz o seguinte: não fica azedando o dia dos outros com esse assunto, não, tá? Deixa pra tomar atitude na hora de votar..

Duas vertentes

Do governador Sérgio

Cabral, contestando o feeling de seu secretário de Transportes, Júlio Lopes, sobre a culpa do motorneiro na tragédia de Santa Teresa: "Quem começou com esse negócio de bonde sem freio no Rio foi, salvo engano, a torcida do Flamengo."

Ecos do UFC

Aécio Neves não está praticando MMA com Luciana Gimenez! E não se fala mais nisso, OK?

Só o que faltava

A absolvição de Jaqueline Roriz na Câmara dos Deputados representa, além da desmoralização do flagrante em geral, um duríssimo golpe em particular na credibilidade das câmeras de segurança. Se aquelas imagens não serviram para cassar a deputada, francamente, nenhum outro vídeo, em qualquer circunstância, poderá ser usado como prova pra nada.

CPI de Rolândia

A notícia sobre aquele casal do Paraná preso em prática de sexo oral nas ruas da pequena Rolândia pode ter sido plantada pelo pessoal de marketing da prefeitura para promover o duplo sentido do nome da cidade. A oposição já fala em CPI!

Tantas emoções

Que diabos o cantor Roberto Carlos e o presidente de Israel, Shimon Peres, vão conversar no encontro que têm agendado para hoje em Jerusalém?

Dúvida cruel

A novíssima classe média brasileira vive seu primeiro grande impasse de ex-pobre! Não sabe se prolonga o feriadão da Independência para curtir o 11 de Setembro em NY ou se o antecipa para assistir a Brasil x Gana, dia 5, em Londres.

Não disse?!

Agosto passou, e nem sinal do fim do mundo! Não vai rolar tão cedo! Relaxa aí, vai!

GILMAR MENDES - A lei e os porões

A lei e os porões
 GILMAR MENDES
O GLOBO - 01/09/11


Desde que Nelson Hungria resumiu a situação carcerária do país em frase lendária — “As penitenciárias são a universidade do crime” — passou a senso comum o fato de que, no Brasil, longe de recuperar, cadeia embrutece, forma e especializa delinquentes.

Faz tempo que o sistema alcançou o ápice da obsolescência. Superlotadas e promíscuas, nossas prisões espelham toda sorte de ilegalidades — demonstradas às escâncaras, aliás, nos mutirões realizados pelo Conselho Nacional de Justiça há cerca de três anos — a começar pelo número excessivo de prisões preventivas (1/3 do total), como se fosse compatível com o Estado de Direito a punição sem o julgamento legal. O problema ultrapassa a esfera dos direitos humanos. Tem a ver, mais de perto, com a efetividade da segurança pública e a eficácia da prestação da Justiça no país. E aí indiferença da sociedade, além de cruel, mostra-se contraproducente. É que, como sabido, a dificuldade da ressocialização dos presos recrudesce a violência e sobrecarrega o erário com medidas de repressão mais custosas e, ainda assim, precárias.

Por isso também se mostra tão bemvinda a Lei no- 12.403/11, que, ao modernizar o Código de Processo Penal, retira os juízes da camisa de força ajustada às alternativas anteriores: prisão ou liberdade. À luz dos princípios da necessidade e proporcionalidade, a lei enfatiza a excepcionalidade da prisão do acusado, prestigiando a presunção constitucional da inocência.

Com esta lei, dissociam-se claramente suspeitos de condenados. E, como consequência, acaba por reservar as parcas vagas dos presídios aos criminosos perigosos, reincidentes ou de culpabilidade comprovada. Em síntese, passa a prevalecer a lógica: o sujeito que furtou o supermercado, meteu-se em briga ou desavisadamente comprou mercadoria roubada não disputará o beliche da cela abarrotada com o homicida serial já condenado a 300 anos de cadeia.

A lei também diminui a desigualdade de meios que faz estragos até — ou principalmente — na prestação de serviços públicos. É que o juiz deve decidir de ofício — ou seja, independentemente de pedido de advogado ou defensor — a liberação de acusados pelo cometimento de crimes dolosos puníveis com penas de até quatro anos, devendo adotar a medida cautelar que lhe parecer mais conveniente ao caso. Antes de decretar a prisão preventiva que afastaria o incriminado, o julgador pode, por exemplo, determinar que o acusado se recolha ao próprio domicílio à noite e nos dias de folga. Àquele que fez ameaças, pode proibir qualquer contato com a vítima ou o acesso a lugares por ela frequentados.

Ao todo, são dez opções de medidas cautelares que, aplicadas cumulativamente ou não, mostram- se como recursos inteligentes direcionados a controlar a pessoa incriminada e a proteger a sociedade com ônus mínimo ao Estado. É muito importante deixar claro que essa liberdade vigiada restringe-se ao período que antecede o julgamento e objetiva essencialmente a evitar o cumprimento antecipado de pena ainda não fixada.

A Lei também atualiza o instituto da fiança e cria o banco de dados de mandados de prisão, de modo a possibilitar, sem maiores burocracias, a prisão de foragidos em qualquer unidade da Federação. Àqueles que argumentam com as teses do aumento da insegurança ou da sensação de impunidade, cabe lembrar o fracasso do modelo de repressão adotado até aqui, além do despropósito de se continuar aplicando critérios de encarceramento estabelecidos num código de 70 anos de idade, sobretudo sabendo que o mundo mudou completamente nas últimas duas décadas, graças à mesma revolução tecnológica que disponibilizou instrumentos infinitamente mais eficazes, a exemplo das tornozeleiras eletrônicas conectadas à rede GPS. Há quem diga que a lei abrirá “os portões do inferno”.

É de considerar, ainda, que o mais grave seria manter trancafiado quem nada fez para tão severa reprimenda. Repito: a lei enfatiza a prevenção, evita injustiças — encarcerar inocentes talvez venha a ser a maior e mais danosa — e abre espaço para ressocialização mais efetiva, à medida que, desde o começo do processo, molda o malfeito ao castigo, que pode muito bem reverter em maior proveito da comunidade. Além de desobrigar o Estado de investir, pesada e malevolamente, nos cada vez mais sofisticados cursos de pós-graduação em bandidagem. 

EDITORIAL - FOLHA DE SÃO PAULO - Impostura na saúde

 Impostura na saúde
EDITORIAL 
FOLHA DE SP - 01/09/11

Sem tocar na questão da redistribuição de dinheiro do Orçamento e da eficiência do gasto em saúde, governismo insinua elevação de impostos

Quanto dinheiro público é necessário e ao mesmo tempo possível reservar para despesas em saúde? O aumento dos gastos redundou em quantas e quais melhorias sanitárias, na mortalidade ou no atendimento ambulatorial, tais como redução no prazo de agendamento de consultas e exames?
Não se sabe. Mas a Câmara dos Deputados pensa em elevar impostos ou aventa até o expediente de legalizar o bingo para financiar a saúde. Instalou-se tal tumulto porque os deputados querem votar neste mês a regulamentação da emenda constitucional 29, de 2000. O objetivo é definir o que são despesas de saúde, hoje sujeitas a truques e fraudes, e estipular as fontes para custear o setor.
Para a União, a emenda previu a aplicação do dinheiro gasto em 1999, acrescido de 5%, daí em diante reajustado pelo percentual do crescimento do PIB, mais a inflação. Para Estados, 12% da receita de impostos e transferências da União, descontados os repasses para municípios. Para estes, 15% da arrecadação tributária.
A União tem cumprido a norma provisória da emenda. A despesa com saúde tem se mantido em torno de 1,8% do PIB, embora as receitas federais tenham crescido mais que a economia.
Desde 2000, a despesa declarada de Estados e municípios em saúde tem crescido mais que a da União, embora exista grande controvérsia sobre a correta aplicação dos recursos. Vários Estados recorrem à rubrica saúde para realizar gastos com saneamento, merenda escolar, pensões, lixo etc. Para muitos entes federativos, a regulamentação da emenda 29, ao fechar essas brechas, deve implicar aumento de gastos.
No caso do governo federal, caso a Câmara e, depois, o Senado aprovem tal como está o projeto de regulamentação, o aumento de despesa deve ser mínimo, se algum. Há ainda polêmicas sobre mudanças na base de cálculo da vinculação de recursos, mas as contas são ainda inconclusivas. Mas ressalte-se que a Câmara eliminou a obrigação de a União gastar 10% de sua receita em saúde, o que elevaria a despesa em 35%. Também cairia a criação da Contribuição Social para a Saúde (CSS), a nova CPMF, porque ninguém se mostrou disposto, até agora, a enfrentar o ônus político.
Logo, não se entende nem a barafunda da discussão nem a demanda da presidente por aumento de impostos para financiar a saúde -o que, aliás, ela prometera não fazer na campanha de 2010.
O problema mais imediato é que governo e Congresso nem ao menos explicam do que estão tratando. Sem saber da despesa, querem mais impostos. Sem saber da eficiência do gasto, querem mais despesa. A não ser que se reveja a divisão do bolo orçamentário, qualquer solução será ruim.

EDITORIAL - O GLOBO - Votação reflete degradação da política


Votação reflete degradação da política
EDITORIAL
O Globo - 01/09/2011

Amanutenção do mandato da deputada Jaqueline Roriz (PMN-DF), filha de Joaquim Roriz - caudilho dos cerrados, também personagem de histórias desabonadoras -, vai além de mais um produto do espírito de corpo dos parlamentares. É especial o momento em que a Câmara dos Deputados decide preservar Jaqueline, apesar da prova documental do vídeo em que a ainda futura deputada recebe dinheiro vivo, sujo, de Durval Barbosa, o homem da mala no governo de José Roberto Arruda (DEM). Mesmo que a presidente Dilma Rousseff indique haver recuado na faxina ética na máquina pública, os casos de malfeitos no primeiro e no segundo escalões do governo continuam a reverberar. Depois de muito tempo de letargia, parece crescer nos segmentos mais informados da sociedade uma repulsa à banalização do roubo do dinheiro do contribuinte. Mesmo assim, os 265 deputados que votaram contra a cassação de Jaqueline, os 20 que se abstiveram e outros que a ajudaram faltando à sessão demonstraram não estar nem aí para o que se pense sobre a absurda votação de terça-feira.

Não enrubesce a maioria da Câmara, como se viu, concordar com o caviloso argumento de que a cena explícita de corrupção patrocinada por Jaqueline não pode ser considerada como prova, por ela ter ocorrido antes da posse na Câmara (!?). Nesse caso, qualquer crime cometido até o início de mandato deve ser relevado em processos de quebra de decoro. Trata-se de exemplar primoroso de teorias destiladas num ambiente político sem ética, para jogar no lixo o conceito da Ficha Limpa.

Como em vezes anteriores, os defensores de Jaqueline buscaram apoio com a ameaça de que todo parlamentar com prontuário construído antes da posse poderá um dia ser cassado. A Câmara tenta criar jurisprudência de anistia de crimes, uma excrescência.

A manutenção do mandato de Jaqueline é fruto da degradação da vida pública, aprofundada pelo exercício crescente do toma lá dá cá por parte do lulopetismo. Como, a partir de 2003, passou a ser executado um projeto de manutenção do poder a qualquer preço, a qualidade da representação política foi ainda mais rebaixada. Pelo fato de os balcões de negociatas passarem a conduzir parte da vida parlamentar e ditarem a montagem de equipes de governo, a tônica do Congresso passou a ser a do baixo clero. Um Severino Cavalcanti presidir a Câmara, renunciar para não ser cassado por receber propina e, depois, ser elogiado nos palanques pelo presidente Lula simboliza bem os tempos sombrios que se vive na política brasileira. A derrota do pedido de cassação de Jaqueline Roriz está coerente com o nível da atual vida pública no país.

Estas situações redobram a importância de instituições na preservação do estado de direito, em todos os aspectos. O Ministério Público, por exemplo, que processa a deputada. E a Justiça, em que se destaca o Supremo, guardião da Carta. Neste aspecto, o caso da escandalosa absolvição da deputada reforça a necessidade imperativa de a Lei da Ficha Limpa vigorar por inteiro a partir das eleições do ano que vem, depois da discutível decisão por um voto, no Supremo, de que a lei estourara os prazos para ser aplicada em 2010. É também a falta deste filtro que facilita a entrada na vida pública de pessoas de baixa estatura moral, dispostas a tudo para conseguir e manter benesses dos donos do poder.

JOSÉ NEGREIROS - De Geisel a Dilma


De Geisel a Dilma
JOSÉ NEGREIROS
O Globo - 01/09/2011

Um ano depois de o ministro Mário Henrique Simonsen haver deixado o governo Figueiredo, em agosto de 1979, eu e o jornalista Fernando Martins almoçamos com ele. Além de economista genial, "O Mário", como os íntimos o chamavam, foi um dos mais irreverentes tecnocratas brasileiros. Tinha um senso de humor afiadíssimo. A oportunidade, então, era imperdível para esclarecer uma curiosidade nacional: quantas vezes mesmo ele havia pedido demissão ao presidente Geisel, um general sisudo, que infundia temor reverencial nas pessoas.

Simonsen sorriu: "Foram só três." Conte uma, pedimos. "A mais engraçada: uma vez ele gritou comigo durante uma audiência. Eu me levantei e disse que ia embora, pois não admitia gritos. O presidente explicou que não estava gritando, e sim falando alto, porque era descendente de alemães. "Todos lá em casa falam assim", argumentou. E me convidou para jogar biriba em sua casa de Teresópolis, para comprovar a história. "O Sr. também pode gritar comigo", ironizou Geisel." O Mário foi e constatou que era verdade. "E aí?", indagamos. "Nossos despachos passaram a ser aos berros!", respondeu ele.

Recorro a Simonsen para justificar a semelhança que vejo entre Geisel e a presidente Dilma Rousseff, em quem muitos apontam modos rudes no trato com os subordinados. Vai ver ninguém testou ainda seu estilo joelhaço do Analista de Bagé. Até porque não fica por aí seu parentesco com o general. A especialidade de Geisel, a exemplo de Dilma, era energia. Foi presidente da Petrobras e um apaixonado pelo assunto, a ponto de tornar-se avô do Proálcool, o plano de autossuficiência energética que mitigou a crise dos anos oitenta.

Dilma é ex-ministra de Minas e Energia, onde revelou seu talento de CEO ao formular a nova política setorial após o apagão de 2001. Shigeaki Ueki, um japonesinho de 1,5 metro, cria política de Geisel, é quem comandou a pasta no governo do penúltimo presidente da ditadura. Auxiliares do trabalho de apoio administrativo do Palácio do Planalto na época contam que muitas vezes Ueki deixava o gabinete mais importante do terceiro andar com os olhos cheios de lágrimas, depois de puxões de orelha que fariam as broncas de Dilma parecerem um afago. Outro traço comum ao temperamento de ambos é a obsessão pelo detalhe. Geisel gostava de ler Código Tributário, literatura capaz de entediar budista. Lia e anotava observações nas bordas daqueles compêndios de alíquotas e pedregulho financeiro. Dilma o imitou no caso do Código Florestal que tramita no Congresso. Ela levou para casa, leu a íntegra, revisou trechos confusos, e passou um sabão em que escreveu as besteiras detectadas no texto. Gaúcho como ela, que fez no Rio Grande sua graduação política, Geisel, por razões óbvias, era uma Dilma sentado naquela cadeira.

No final do expediente, a mesa estava arrumada como a de um colegial, e a roupa, impecável, sem um amassado. Parecia que tinha se vestido naquele momento. Andava empertigado, preparado para uma constante revista à tropa. E sobretudo não gostava de político. Gostava de mandar.

GOSTOSA


MERVAL PEREIRA - Difícil acordo


Difícil acordo 
MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 01/09/11

Nada indica que a salva de palmas para o vice Michel Temer, puxada pela presidente Dilma, na recente reunião do Conselho Político do governo, terá o efeito de evitar problemas na votação da chamada Emenda 29, que aumenta os gastos obrigatórios com a Saúde. E muito menos que o apelo de Dilma por uma "fonte de receita" será atendido, com a criação de um novo imposto para substituir a finada CPMF.
Ainda mais após o papelão que a Câmara fez na terça-feira, absolvendo na prática a deputada Jaqueline Roriz da propina filmada que recebeu do esquema de corrupção da era Arruda em Brasília.
Os deputados estão à cata de uma "boa ação" para livrarem-se das críticas da sociedade, e seus interesses imediatos não batem com os da presidente, que não se incomoda de rebarbar uma promessa de campanha - de apoiar a aprovação do aumento da verba para a Saúde e não aumentar impostos.
Mais uma vez PT e PMDB estão em lados opostos, com os petistas admitindo a criação da Contribuição Social para a Saúde (CSS), enquanto o PMDB e outros partidos da base não aceitam discutir novos impostos.
Vai ser difícil para o vice Michel Temer ter êxito na nova tarefa de coordenar o apoio do grupo aliado, quando nem mesmo o PMDB aceita as bases sugeridas pelo Planalto para financiar o aumento de gastos da Saúde.
O corte de gastos anunciado pelo governo para preparar o país para os tempos duros da crise econômica internacional que se avizinham inviabiliza os anseios da base aliada por verbas e amplia a dificuldade da missão entregue a Temer.
Tudo indica que a presidente Dilma convenceu-se de que precisará da expertise do vice-presidente para controlar o Congresso nestes tempos de crise, mas a tendência dos aliados de não se contentarem com pouco é explícita.
No PMDB, há setores descontentes com os resquícios da "faxina", que, embora suspensa pelo momento, deixou sequelas como as denúncias do procurador da República no Amapá Celso Leal de 21 envolvidos em desvios do Ministério do Turismo, comandado por um deputado do partido.
Mas as denúncias atingiram também o ex-secretário-executivo Mário Moysés, ligado ao esquema da senadora petista Marta Suplicy desde quando ela foi ministra do Turismo no governo Lula.
A força política do PMDB é o que faz o partido tornar-se indispensável para qualquer governo, mas é também o que provoca a desconfiança do PT, que tem o objetivo claro de escantear seu parceiro político assim que possível.
A presidente Dilma, assim como o ex-presidente Lula em seu primeiro governo, tentou manter-se afastada da influência do PMDB e chegou a estimular logo no início da sua gestão uma ameaça explícita de extirpar o partido do ministério.
Teve que recuar diante da reação de Temer, que chegou a gritar com o então chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, e hoje se rende à necessidade de ter o apoio do PMDB.
Chegou a dizer na reunião do Conselho Político que ter um vice como Temer facilitava muito a tarefa de governar.
Mesmo que não de maneira formal, os fatos estão fazendo Michel Temer ganhar um papel de coordenador político do governo que o PMDB queria formalmente, quando houve a substituição no Ministério das Relações Institucionais.
Com o PT fortalecido no Ministério, alas do PMDB tentaram emplacar um correligionário, o que sob Dilma parece sempre mais difícil do que sob Lula, que pôs no mesmo lugar deputados do PTB (José Múcio e Walfrido Mares Guia) e do PCdoB (Aldo Rebelo).
Houve até quem pensasse que o próprio Temer poderia assumir o cargo, o que acabou caindo-lhe no colo por gravidade, e com a vantagem de que, não lhe estando formalmente atribuída a missão, ele não se desgastará com eventuais fracassos, nem precisará entrar em embates explícitos com o esquema petista.
O retorno do petismo sufocou os partidos aliados, notadamente o PMDB, e tirou da presidente Dilma a capacidade de controlar a formação de seu primeiro Ministério.
De um lado o ex-presidente Lula impôs a escolha de grande parte do Ministério, e de outro o partido ampliou sua presença no primeiro escalão, tirando do PMDB ministérios importantes como Saúde e Comunicações, enquanto impedia que aliados como o PSB vissem recompensados na formação do governo os votos que tiveram nas urnas.
Os fatos que se seguiram propiciaram à presidente recompor parte de sua equipe com gente sua de dentro do PT, mas continua sem grandes influências no partido.
A proeminência do ex-ministro José Dirceu, explicitada por reuniões em seu apartamento no Hotel de Brasília documentadas pela revista "Veja", é apenas um sintoma da força que o PT reassumiu na organização do governo, e a aproximação de Dilma do PMDB e de setores da oposição seria tentativa de reequilibrar esse jogo de poder.
Na votação do caso da deputada Jaqueline Roriz, não foi só a posição da maioria esmagadora a favor da absolvição dela que chocou.
O que mais chocou foi o fato de que partidos ditos de esquerda, históricos oponentes dos esquemas do clã Roriz, não terem feito sequer a tentativa de orientar a votação de seus deputados em plenário.
O painel, no espaço do PT, do PSB, do PCdoB e do PDT, ficou em branco. Omissão cúmplice, acobertada pelo pano sujo do voto secreto, conforme definição do deputado do PSOL Chico Alencar.

DORA KRAMER - Maioria insidiosa


Maioria insidiosa
DORA KRAMER
O Estado de S.Paulo - 01/09/11

O mesmo delito que serviu para derrubar um governador não foi suficiente para a Câmara cassar o mandato de uma deputada. Assim como José Roberto Arruda, Jaqueline Roriz foi filmada enquanto recebia dinheiro do dublê de operador e delator de um esquema de arrecadação e pagamento de propinas a agentes públicos no Distrito Federal.

Até a quantia era a mesma: R$ 50 mil.

O fato não veio ao caso. O importante na concepção de 347 deputados - 265 votantes, 20 abstencionistas e 62 faltosos - não é o convívio com quem prevarica, mas criar um salvo-conduto para a prevaricação geral.

E não se diga que o ato buscou preservar vidas pregressas, o que em si já seria grave. No julgamento de "La Roriz" estava em jogo o preceito do crime cometido anteriormente ao mandato em curso, mas desde 2006 a Câmara não pune ninguém mesmo por delitos ocorridos no exercício da delegação popular.

Desde o mensalão, quando foram cassados os deputados José Dirceu, Roberto Jefferson e Pedro Corrêa, parece ter havido um pacto de não agressão no Parlamento pelo qual tudo é perdoado em nome do corporativismo malfeitor.

Quanto mais transgressores são absolvidos, mais transgressora se torna a instituição, que na noite desta terça-feira chegou à perfeição ao patrocinar uma absolvição a despeito da prova filmada em vídeo.

Depois disso, não há mais como estabelecer o que seja ou não quebra de decoro parlamentar. Tudo se tornou permitido e ao mesmo tempo dominado pelo princípio de que o crime é sempre compensador se for devidamente protegido da cobrança da opinião pública.

Trabalho de uma maioria silenciosa, que naquela sessão de julgamento se calou durante o processo, não defendeu sua posição - portanto, confessadamente indefensável -, abrigando-se na ausência e no voto secreto. Uma anomalia cujo fim a Câmara chegou a aprovar em primeiro turno depois de várias absolvições de mensaleiros, mas que houve por bem enfiar na gaveta onde se arquivam muitos males, entre os quais a prerrogativa de não decidir.

Os dois maiores partidos de sustentação do governo, PT e PMDB não deram uma palavra para dizer o que achavam a respeito do que se passava ali. Aderiram ao silêncio cínico de aprovação à tese de que crime tem prazo de validade.

Os petistas, tão senhores de si quando se trata de ironizar a má fama dos pemedebistas companheiros de aliança, não têm mais argumentos para tripudiar: com tantos nos bancos dos réus só lhes resta se unirem no deboche ao País, na esperança de que a impunidade de hoje não só os favoreça amanhã, mas lhes sirva como defesa.

Em seguida à exorbitância da absolvição não obstante a prova, a Câmara arrematou: como se nada demais tivesse acontecido, sacudiu de leve a poeira e prosseguiu a sessão para o "cumprimento de um acordo" para votação de três destaques em medida provisória cujo prazo expira só daqui a 20 dias.

Uma legítima celebração do descaramento incorporado ao cotidiano como rotina.

Já foi diferente. Hildebrando Pascoal, o assassino da serra elétrica até hoje na cadeia, foi cassado há quase 12 anos por crimes cometidos anteriormente ao mandato de deputado que cumpria pelo Acre.

Mas aqueles ainda não eram tempos estranhos em que as piores baixezas são praticadas com ares de grandeza.

Autoria da obra. Depois da passagem de Lula pela Presidência, emprestando o prestígio do cargo à defesa de malfeitores e ao ataque aos que os criticam ou tentam lhes impor freios, o ambiente ficou muito mais permissivo na República.

Cenografia. Amanhã o PT realiza um congresso em Brasília. Das decisões, entre petistas a mais importante é a foto de Dilma com Lula para simbolizar a união fraterna.

RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA

Estatal da Copa
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SP - 01/09/11

Geraldo Alckmin usará a Empresa Paulista de Turismo e Eventos para montar a estrutura operacional da organização da Copa em SP. Embora pretenda oficializá-la só em outubro, o tucano já recorreu à Procuradoria-Geral do Estado para a formatação jurídica da empresa -quer saber, por exemplo, que procedimentos licitatórios serão usados para contratar serviços.

O favorito para assumir o braço executivo é Fábio Lepique, secretário particular de Alckmin. A Fifa cobra do governo o detalhamento técnico e orçamentário das medidas prometidas para que o futuro Itaquerão abrigue a partida inaugural -notadamente os 17 mil assentos não-incluídos na obra da Odebrecht.

Guichê Causou certo mal-estar na Procuradoria-Geral da República a carta na qual Gleisi Hoffmann (Casa Civil) pergunta a Roberto Gurgel se foi lesiva ao erário a operação que lhe permitiu receber R$ 41 mil de multa ao deixar Itaipu, em 2006. Como a PGR não é órgão consultivo, a Gurgel cabe apenas entrar com ação contra a ministra ou arquivar o caso.

Outro lado A despeito de relatos em contrário, o Centro de Comunicação Social do Exército nega que o general Jorge Fraxe, escolhido diretor-geral do Dnit, tenha enviado um trio de oficiais para percorrer o país e fazer uma radiografia das obras a cargo do órgão.

Aposta Entre membros de tribunais superiores e lideranças do Congresso, era dada ontem como mais que provável a escolha da ministra Rosa Maria Weber Candiota, do TST, para a vaga em aberto no Supremo. Ela é gaúcha como Ellen Gracie, que acaba de se aposentar.

Reinações 1 Eduardo Cunha (RJ) mostrou na terça ao líder Henrique Alves (RN) o texto do manifesto no qual os peemedebistas do Rio pedem que o partido entregue os cargos no governo e libere adesões à CPI da Corrupção. Alves sugeriu que o amigo levasse a carta ao vice Michel Temer. Cunha não levou.

Reinações 2 Horas depois da circulação do manifesto, Cunha recebeu ligação do líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP). "Achei que você tinha pirado", disse o petista. "Não sou de pirar", rebateu o peemedebista, recém-apeado da relatoria da reforma do Código Civil.

Desembarque Lula chega a Brasília amanhã cedo. Antes da abertura do congresso do PT, terá uma conversa a sós com Dilma.

Pastel de vento Um petista comenta as expectativas em relação ao evento: "Congresso do PT é como discussão sobre a reforma política: sempre faz barulho, mas nunca acontece nada".

Vertical Em carta enviada a coordenadores regionais, o PSDB-SP exige prévias nas cidades onde houver mais de um candidato da sigla a prefeito. Informa ainda que a consulta ocorrerá entre janeiro e março de 2012 e abrangerá todos os filiados. Os tucanos ameaçam intervir nos municípios que descumprirem as instruções.

Bye, Rio Preto Rodrigo Garcia, secretário de Desenvolvimento Social e possível nome do DEM à prefeitura paulistana, transferiu o domicílio eleitoral de São José do Rio Preto para a capital. Mesmo dizendo não ter intenção de disputar, o tucano Aloysio Nunes deverá fazer o mesmo até outubro.

Apetite Com lan-houses gratuitas e cursos de qualificação, o novo modelo do restaurante Bom Prato, a ser inaugurado hoje pelo governo paulista, dará prioridade às favelas. O de Heliópolis terá aulas de culinária.

com LETÍCIA SANDER e FÁBIO ZAMBELI

tiroteio

"Eu acreditava que, por ter muito deputado novo, eles não entrariam tão facilmente no velho corporativismo. Que nada..."

DE CHICO ALENCAR (PSOL-RJ) sobre o placar folgado pelo qual foi absolvida Jaqueline Roriz (PMN-DF), flagrada em vídeo recebendo dinheiro.

contraponto

Chamariz


O deputado Hugo Leal (PSC-RJ) foi um dos promotores, na terça-feira passada, do Fórum de Debates sobre o Governo Aberto, uma iniciativa concebida com o anunciado propósito de tentar aumentar a transparência nas diferentes esferas de poder.

Diante do baixíssimo quórum obtido pelo evento, realizado em comissão da Câmara, Leal brincou:

-É, parece que ninguém está muito interessado nisso. Da próxima vez, eu vou colocar o nome de "Fórum da Faxina". Aí todo mundo virá!

WAGNER VILARON - Barça nadaria de braçada por aqui


Barça nadaria de braçada por aqui
WAGNER VILARON 
O Estado de S.Paulo - 01/09/11

É inevitável. Sempre quando um grande clube europeu passa por ótimo momento, deparamo-nos com aquela velha e utópica questão: e se viesse disputar o Campeonato Brasileiro, como seria? A bola da vez, claro, é o Barcelona, equipe que atualmente desperta apenas três sentimentos: euforia (de seus torcedores), admiração (daqueles que gostam de futebol) e inveja (dos pobres rivais).

Vanderlei Luxemburgo, em quem votei como melhor treinador do primeiro turno do Brasileiro na eleição realizada aqui no Estado, afirmou durante participação no programa Bem Amigos!, do SporTV, que Messi e cia. teriam dificuldades para jogar no Brasil.

O técnico do Flamengo argumentou que o Barça deita e rola no Campeonato Espanhol porque se trata de competição sem maiores atrativos técnicos, que conta com apenas dois grandes clubes: o próprio Barcelona e o eterno rival Real Madrid. No mais seriam apenas equipes medianas.

Exceção feita à ideia de que times como Sevilla, Villarreal ou La Coruña seriam medianos (pois são mesmo, embora nosso complexo de vira-lata ainda nos faça ficar encantados com quase tudo que vem de fora), discordo de Luxemburgo.

A sensação que tenho é de que as pessoas confundem equilíbrio com qualidade. Sem dúvida o Brasileiro é um dos campeonatos mais equilibrados do mundo (provavelmente o líder neste quesito). Afinal, ainda não fui apresentado a uma competição nacional, realizada em médio ou grande centro do futebol, na qual pelo menos oito clubes entrassem como candidatos reais ao título. Ou que contasse com tantos campeões nacionais entre seus participantes. Só nesta temporada são 15.

Não entendo, porém, que tanto equilíbrio se traduza, necessariamente, em qualidade tática ou técnica. Claro que já tivemos grandes jogos nesta edição 2011, como o inesquecível Santos 4 x 5 Flamengo. No entanto, de modo geral, o futebol brasileiro passa por momento fraco tecnicamente.

E não faltam argumentos para justificar tal afirmação. A começar pela carência de bons jogadores em tantas posições. Não há treinador hoje no País que não lamente a estiagem de laterais, meias e atacantes. Sem desmerecer o esforço e o talento de um craque, o bom momento de Ronaldinho Gaúcho deve-se também ao mediano nível técnico da competição.

Uma breve análise da campanha dos grandes clubes no primeiro turno mostra que, em comum, a maioria deles tem a oscilação como marca. O Corinthians viu seu desempenho cair vertiginosamente nas últimas nove rodadas. No entanto, graças aos tropeços de seus rivais, conseguiu se manter lá em cima. Isso sem falar no rendimento da seleção brasileira, que sob a batuta de Mano Menezes briga contra o descrédito da opinião pública.

Portanto, o Barcelona só não nadaria de braçada no Brasileiro se o "Sobrenatural de Almeida" (com a licença do mestre Nelson Rodrigues) entrasse em campo.

A principal argumentação de defesa utilizada pelo técnico Tite diante da forte pressão que recebeu nos últimos dias foi lembrar que o Corinthians terminou o primeiro turno do Campeonato Brasileiro na liderança. Pergunto: e daí? Trata-se de uma visão simplória da situação, pois o que está no centro da discussão não é a atual posição da equipe na classificação, mas sim o rendimento declinante e, claro, preocupante nas últimas nove rodadas.

Dentro deste contexto, a liderança funciona mais para encobrir problemas internos do que como prova de que tudo está bem. Sim, está evidente que existem assuntos mal resolvidos no Parque São Jorge.

Portanto, tão equivocado quanto dizer que não se deve questionar o trabalho do treinador que comanda o líder da competição é achar que sua demissão seria a solução de todos os problemas. O que falta ao futebol brasileiro é alguém suficientemente ousado para resistir ao clichê de mandar o técnico embora e corajoso para enquadrar os atletas.

MÍRIAM LEITÃO - BC cedeu


BC cedeu
MÍRIAM LEITÃO
O GLOBO - 01/09/11

Não faz sentido reduzir os juros agora. A inflação está em 7,1% em 12 meses. Nos últimos 45 dias, desde a última reunião, uma cesta de commodities agrícolas para o mercado interno subiu 8%. Alguns produtos estão subindo em plena safra. Depois de cinco altas seguidas, o normal seria parar de subir para ver o efeito das elevações e estudar o mutante cenário externo.

Houve pressões explícitas, e o Banco Central cedeu. Tentou convencer que a decisão foi tomada de forma técnica. Não convenceu. A deterioração do quadro externo justificaria manter os juros para esperar para ver. Até porque, mesmo reduzindo ritmo de crescimento do mundo, a inflação não está cedendo.

Um índice montado pela MB Agro, com a oscilação dos preços de soja, milho, trigo, açúcar, algodão, café, aves, carnes bovina e suína, feijão, arroz, mostra alta de 8% desde 20 de julho - data da última reunião - até ontem. Para os grãos (milho, soja e trigo) a seca nos Estados Unidos só fez piorar o quadro nas últimas semanas. Para açúcar e álcool, o mercado está complicado pela quebra de safra. O índice de commodities agrícolas CRB registra que as cotações estão paradas, mas no alto.

Isso mostra que apesar de redução do ritmo de crescimento mundial, e risco até de recessão, os preços continuam altos. Se forem separados os preços das commodities que têm impacto mais imediato nos preços, como carne, açúcar, café, trigo, houve alta. Já as que demoram mais a chegar aos preços ao consumidor, como algodão, caíram. Não há ainda uma tendência de queda da inflação. Ela cairá um pouco no acumulado de 12 meses neste fim de ano, mas menos do que se esperava.

O governo simulou um ajuste fiscal. Quem acompanha as contas públicas sabe que aumentar em R$ 10 bilhões o superávit primário, tendo recebido da Vale R$ 6 bilhões de um extra - sem falar de outras receitas atípicas - não é ajuste de fato. Subiram todos os gastos públicos, exceto o que poderia ter subido: investimentos. Em 2011, o governo está gastando mais que no abundante ano passado. Portanto, o ajustezinho não abriu caminho para a queda dos juros. Era encenação para salvar a face do Banco Central, que jogou fora oito meses de construção de reputação de autonomia no governo Dilma.

O Banco Central tinha de ser cauteloso e manter os juros. Ele subiu a taxa cinco vezes em cinco reuniões e, como sempre acontece, a política monetária demora um pouco a fazer efeito. Assim, sobe-se os juros mas o efeito desse aperto vem depois. A hora era de esperar o reflexo nos preços. Um BC que faz cinco elevações de taxa, no total de 1,75%, e depois repentinamente baixa em meio ponto passa a ideia de que está perdido. Ou sofrendo pressão. Ou ambos.

A dívida americana foi rebaixada, reduziram-se as previsões de crescimento mundial e continua mal parada a situação na Europa. Num cenário assim mutante, o Banco Central deveria parar de subir juros e aguardar a evolução.

O que ele não podia fazer era ceder às pressões escancaradas dos últimos dias dos ministros da área econômica e reduzir as taxas quando ainda há indefinição sobre o cenário brasileiro e a inflação está acima da meta. Ao fazer isso, o BC prova de que se rendeu às pressões e está disposto a aceitar um pouco mais de inflação. Na minha vida de jornalista de economia nunca vi a inflação se contentar "com um pouco mais" de inflação. Quem faz esse raciocínio começa a perder a batalha.

O governo está otimista na sua previsão para este ano. Pelo cálculo que fez para o aumento do salário mínimo de 2012 está imaginando que de 7,1% a inflação vai cair para 5,7% no fim do ano. Isso se conclui do cálculo que fez para o orçamento de 2012, em que terá de dar um reajuste do salário mínimo igual ao crescimento do PIB de 2010 e a inflação de 2011. Ele teve então de fazer uma previsão. Seria ótimo se a taxa caísse tanto assim no fim do ano, mas o mais provável é que o governo tenha subestimado o reajuste que terá de dar ao salário mínimo, o que aumentará a pressão sobre o orçamento do ano que vem.

Os juros estão muito altos, o ideal é baixar os juros. Mas reduzir juros com inflação acima da meta e diante de pressões explícitas sobre o Banco Central é tiro no pé. Com Álvaro Gribel

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE


À flor da pele
SONIA RACY
O ESTADÃO - 01/09/11

Ontem pela manhã, ao ouvir Abilio Diniz tocar novamente no assunto Carrefour, durante reunião do conselho consultivo do Pão de Açúcar, em São Paulo, Jean-Charles Naouri, do Casino, simplesmente levantou-se e saiu da sala reservada no Hotel Fasano, onde está hospedado. O Casino bloqueou essa pauta nos comitês mais formais e sobrou, então, o conselho - por ora.

Vinte minutos depois, arrependido, Naouri voltou. E justificou: a reunião não seria foro correto para discutir o tema; frisou haver muitos erros no estudo encomendado por Abilio na proposta de fusão Pão de Açúcar/Carrefour; e só o fato de Abilio tratar de algo importante em um foro que considera inadequado já seria um desrespeito.

Que mais? Nada.

Pelas beiradas

Já corre pelo mercado que a Previ pretende vender suas ações ordinárias da Usiminas. Não se sabe se seria todo o lote de 10% que detém.

Em todo caso, tem comprador certeiro torcendo: Benjamin Steinbruch.

Escalação

Depois de Ana Paula Junqueira, socialite, e Moacyr Franco, ator, o PSDB de São Paulo convidou William Woo a retornar ao partido e ser candidato a vereador em 2012.

Ricardo Salles, do Endireita Brasil, sai também.

Para americano ver

A crise lá fora impacta a Bentley aqui. São Paulo está em quarto lugar no ranking de revendas das Américas. Passou NY, Houston, Boston e Toronto. Só perde para Beverly Hills, Palm Beach e San Francisco.

Detalhe: por causa das altas taxas de importação, aqui um Bentley custa o triplo em comparação com os EUA.

Cartão vermelho

O Shopping Ibirapuera foi cenário de manifestação, anteontem. Centenas de comerciários gritavam palavras de ordem contra o trabalho escravo nas empresas de moda no varejo.
Motivo? O shopping é o que reúne maior número de lojas denunciadas pelo Ministério do Trabalho.

Pas des Deux

Balé para Elis Regina. Catorze canções da diva ganham os palcos pela Cia. de Dança. Apresentadas nos CEUs paulistanos.

Estátua

Foi notada, anteontem, a ausência de trabalhadores locados na obra do terminal provisório do aeroporto de Guarulhos. Antes mesmo de sair a decisão judicial sobre embargo do "puxadinho", uma responsabilidade da construtora Delta.

Indagada, a Infraero jura que a paralisação aconteceu só ontem. E por causa da chuva.

Para pensar...

Estudo da Grant Thornton revela: 84% dos turistas que estiveram na África do Sul para a Copa do Mundo 2010 ficaram "muito satisfeitos" com os aeroportos. E 87% adoraram os estádios.

Ninguém sabe se é boa ou má notícia para o Brasil...

Só meu

Depois de participar de documentários, Fernando Henrique terá um para chamar de seu.

Projeto aprovado pela Ancine pretende desenvolver telefilme sobre o ex-presidente. Nome? FHC - Caminhos da Democracia.

Outro lado

Antônio Cláudio Mariz informa: faz, sim, parte, mas não detém a hegemonia de nenhum grupo de oposição nas eleições da OAB paulista. "Na época própria, tenho certeza de que todos aqueles que fazem oposição à atual gestão se unirão para o lançamento de um único candidato".

Ecocológico

Cadeia produtiva é isso! Cadernos feitos de cocô de elefante da Tailândia. É o Elephant Dung, já à venda no Brasil. Parte do dinheiro arrecadado vai para uma fundação que cuida dos bichos.

Na frente

Sérgio Cabral recebeu ontem a medalha José Olympio, do Sindicato Nacional dos Editores de Livros. Pela iniciativa da Biblioteca-Parque de Manguinhos.

Claudia Jaguaribe expõe no Instituto Cervantes. Hoje.

Ramón Cáceres abre individual, hoje, na Sergio Caribé.

José Junior, Renato Barreiros e Leandro HDL palestram no âmbito do Infotrends. Hoje, no Unique.

Cansada de ouvir das colegas de academia frases como "não posso conversar agora, tenho de fazer um laser" ou "aí, to indo siliconar meu peito", uma aluna da academia Flávio Settanni soltou: "Elas deveriam andar com placa escrito "desculpe o transtorno, estou em manutenção"." Fica a sugestão.

CELSO MING - Engasgado no álcool


Engasgado no álcool
CELSO MING 
O Estado de S.Paulo - 01/09/11

A decisão do governo de reduzir de 25% para 20% o teor do álcool anidro na mistura com a gasolina não passa de paliativo. É um jeito de passar o recado de que se está fazendo alguma coisa.

O setor do açúcar e do álcool está em plena safra no Centro-Sul (87% da produção nacional) e todos os números (menos os do consumo) embicam para baixo. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), por exemplo, que faz levantamentos em escala nacional, prevê quebra de 5,6% na atual safra de cana-de-açúcar. A Unica, que reúne interesses de grande grupo de produtores, calcula redução de 4,4% no Centro-Sul. E a consultoria independente Canaplan também projeta perdas no Centro-Sul, em 14,5%.

Os problemas não se limitam à obtenção de massa verde, mas se concentram aí. Em parte, essa quebra de safra é creditada às condições climáticas adversas. No entanto, o principal motivo é a falta de investimento nos canaviais.

Um punhado de fatores vem sendo responsabilizado pelo problema. Os principais são o aumento de custos da produção (preços da terra, do equipamento e da mão de obra) e, simultaneamente, o achatamento dos preços do álcool. Por corresponder a 70% do poder energético da gasolina, sempre que os preços do álcool batem no teto dos 70% nos da gasolina o consumidor enche o tanque do seu carro flex (40% do mercado) com gasolina. Ou seja, o achatamento dos preços da gasolina, determinados pelo governo, desestimulam a produção de cana-de-açúcar. Enfim, o consumo de álcool cresce 5% ao ano e, no entanto, a produção está em queda, como mostra a tabela da Canaplan.

Reduzir de 25% para 20% o álcool anidro na mistura com a gasolina ficou longe da solução. O álcool anidro corresponde a apenas 35% da produção total de álcool. Significa que essa economia não passa de 1,75% do total. É uma decisão discutível sobre outros aspectos, mas, especialmente, por mais dois: não resolve o problema; e aumenta o consumo de gasolina - que, hoje, a Petrobrás também importa.

As projeções sobre oferta de etanol variam de instituição para instituição, mas são todas negativas. A Conab prevê uma redução de 14,1%; a Única, de 17,3%; e a Canaplan, de 22,4%. Em todo o caso, a redução de álcool anidro na mistura carburante reflete uma evolução positiva na política do governo federal. Há alguns meses, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão - que pouco entende de assuntos sucroalcooleiros -, fazia ameaças aos usineiros como se fossem culpados de tudo. Além de impor mais um organismo federal (há dezenas deles), a Agência Nacional do Petróleo, para supostamente conduzir a política do setor, pregava ser preciso fazer estoques reguladores durante a safra para ter o produto na entressafra. Isso já mostra a desinformação do governo. Se falta produto, não há o que estocar. E se, ainda assim, fosse preciso recorrer a essa solução, além da demanda atual, que está acirrada, criaria uma segunda, para a formação de estoques.

Cana-de-açúcar não é vaca leiteira, que bebe água hoje e produz leite amanhã. Um canavial leva pelo menos dois anos para se desenvolver. Por isso, recursos oficiais ajudam. Mas o governo só se livrará desse engasgo quando os preços da gasolina forem descomprimidos.

CONFIRA

Expectativas contrariadas

A decisão do Copom, tomada ontem, foi surpreendente por seis razões. Primeiro, pelo corte em si, em que quase ninguém apostava. Segundo, pela dose desse corte - em princípio, forte - de meio ponto porcentual ao ano. Terceiro, pelos dois votos contrários - e esses não optaram nem sequer por um corte menor, de 0,25 ponto porcentual; decidiram-se logo pela manutenção dos juros em 10,5% ao ano. Quarto, pela duração da reunião, de mais de quatro horas. Quinta razão da surpresa: o tamanho do comunicado, que fez questão de apresentar uma prolongada justificativa pela decisão tomada - quase sempre ele não passa de seis ou sete linhas, mas, dessa vez, teve duas páginas. E, sexto motivo, pela inusitada aposta na solidez da política fiscal anunciada pelo governo federal.

Piorou tudo

Referindo-se à crise externa, o Copom foi especialmente pessimista ao acentuar a "substancial deterioração, consubstanciada, por exemplo, em reduções generalizadas e de grande magnitude nas projeções de crescimento econômico para os principais blocos".