segunda-feira, julho 19, 2010

AUGUSTO NUNES


No faroeste brasileiro, os vilões agora querem botar no peito a estrela do xerife
AUGUSTO NUNES

O primeiro presidente do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, atravessou o último quarto de século acusando de corruptos todos os políticos de outros partidos. Hoje é amigo de infância dos campeões da ladroagem.
O segundo, José Dirceu, passou anos berrando que “o PT não róba nem deixa robá”. Denunciado pela Procuradoria Geral da República como “chefe da organização criminosa sofisticada” que protagonizou o escândalo do mensalão, hoje aguarda julgamento no Supremo Tribunal Federal e prospera como facilitador de negócios.
O terceiro, José Genoíno, fez do combate à corrupção, em 2002, a principal bandeira da candidatura ao governo de São Paulo. Derrotado, formou com Delúbio Soares e Marcos Valério a trinca de gerentes do mensalão. Também aguarda julgamento no Supremo.
O quarto, Ricardo Berzoini, ficou nacionalmente conhecido pela ideia, que lhe ocorreu logo depois da posse no Ministério da Previdência, de exigir que todos os aposentados com mais de 90 anos provassem que estavam vivos. Na presidência do PT, consolidou a fábrica de dossiês malandros e a expandiu com a inauguração da filial paulista administrada pelos aloprados.
O quinto, José Eduardo Dutra, confirma a suspeita de que todos cobrem o rosto com pelos para prevenirem a remotíssima possibilidade do rubor provocado pelo descompasso entre o que dizem e o que fazem. Três preferiram defender-se com uma barba. Dois acharam que o cavanhaque é suficiente. Um deles é o sergipano José Eduardo Dutra. Pelo que já fez em tão pouco tempo, não vai demorar a encobrir o rosto inteiro.
Confrontado com a reativação da velha fábrica de dossiês malandros, para atender à encomenda dos interessados em divulgar abjeções inventadas para prejudicarem José Serra, Dutra acusou as vítimas e resolveu acionar judicialmente o candidato à Presidência. Confrontado com a criminosa quebra do sigilo fiscal de Eduardo Jorge Caldas Pereira, não ficou constrangido com o estupro das declarações de imposto de renda do vice-presidente do PSDB. “O PT age dentro dos limites do Estado de Direito”, fantasiou.
No fim da semana, ameaçou processar o deputado Índio da Costa porque o candidato a vice de Serra disse o que até os bichos da selva colombiana sabem: o PT e os narcoguerrilheiros das FARC são bons companheiros. E conferiu dimensões assombrosas à ofensiva inverossímil com a declaração de guerra contra a vice-procudoradora-geral eleitoral, Sandra Cureau, acusada de acreditar que a lei vale para todos.
No começo do faroeste da Era Lula, os vilões se contentavam com a impunidade. Estava de bom tamanho farrear no saloon e colecionar bandidagens em paz. Agora andam bem mais atrevidos. Já tentam prender o mocinho. E querem botar no peito a estrela do xerife.

CARLOS ALBERTO SARDENBERG

Negócios são negócios... para os outros

Carlos Alberto Sardenberg
O Estado de S. Paulo - 19/07/2010
 

O governo cubano está trocando presos políticos por vantagens econômicas concedidas pela União Europeia. Ou a União Europeia está comprando a liberdade de meia centena de dissidentes. Trata-se de uma diplomacia realista, que negocia com ditadores para obter resultados na área dos direitos humanos.


O presidente Lula poderia ter feito isso, não é mesmo? Toda vez que é cobrado pelas suas boas relações com ditadores, o presidente responde que não pode interferir em assuntos internos de outros países e que "negócios são negócios". É o que dizem e fazem praticamente todos os chefes de governo de países importantes.

Mas há uma diferença entre ser realista, de um lado, e mostrar-se indiferente ou mesmo dar apoio a ditaduras, de outro. Governantes que têm efetivo compromisso com a democracia e os direitos humanos tentam combinar essa atitude de princípios com uma diplomacia realista. Como? Condenando uma ditadura numa votação nas Nações Unidas ou fazendo pressão pública pela libertação de prisioneiros, enquanto, ao mesmo tempo, se mantém um comércio que beneficia diretamente a população daquele país.

A União Europeia e a Espanha, em especial, que mantém boas relações com o regime de Fidel Castro há muitos anos, fazem isso no limite quando negociam a libertação de prisioneiros políticos. O primeiro-ministro espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, recorre a suas boas relações dentro da esquerda internacional para conseguir alguma abertura em Cuba.

O presidente Lula poderia fazer mais do que negociar a libertação de alguns prisioneiros. Reparem nas condições, em tese: Lula é amigão de Fidel e de Raúl Castro, tem entre seus colaboradores pessoas que se asilaram e treinaram guerrilha em Cuba, mantendo laços afetivos com os dirigentes da ilha, e ocupa um lugar importante na história da esquerda latino-americana.

Acrescente-se a isso o prestígio que o presidente acumulou no mundo todo, onde foi recebido como representante perfeito da esquerda democrática e responsável, e se pode perguntar: Quem teria tantas condições para, por exemplo, fazer uma ponte entre o governo Obama e os irmãos Castro?

É evidente que Barack Obama e Hillary Clinton sabem, primeiro, que Cuba não tem mais importância nenhuma no cenário internacional. Para os Estados Unidos, é um estorvo local, um problema eleitoral na Flórida, e a ampla maioria dos líderes cubano-americanos apoia uma diplomacia que colabore para uma abertura pacífica e ordenada. Finalmente, sabem todos que o embargo econômico não leva a esse resultado.

Mas, é claro, é preciso combinar com os Castros. Não se avança sem uma contrapartida dos cubanos, sem uma disposição para iniciar ou simplesmente sinalizar algum tipo de abertura. Ninguém está esperando que Raúl Castro renuncie e chame o pessoal de Miami. Mas todos esperam algum sinal que não seja o reforço da ditadura.

Lula, sobretudo quando ainda era considerado o cara, foi a um dado momento o único líder importante que tinha, ao mesmo tempo, a confiança de Washington e de Havana. Mas para que exercesse o papel de mediador, Lula e seu pessoal aqui precisariam, primeiro, aceitar que o regime cubano é uma ditadura anacrônica e que deveria caminhar para a democratização.

Está claro que não acreditam. Lula apoiou enfaticamente a ditadura cubana em um de seus piores momentos, quando um preso político estava morrendo numa greve de fome. Votou a favor de Cuba em diversos cenários internacionais. E deixou claro, em seguidos pronunciamentos, que a culpa de tudo está no embargo americano e que os Estados Unidos não têm direito de pedir nada ao regime castrista.

Mostrou-se um aliado de Cuba, do mesmo modo como se mostrou em relação ao Irã.

E nem vantagem comercial obteve. Até hoje, apesar do embargo, Cuba importa mais produtos dos Estados Unidos do que do Brasil. E o Irã tem entre seus principais parceiros comerciais a Alemanha e a França, cujos governos apoiaram as sanções econômicas ao país.

China. E por falar em diplomacia, desta vez na política Sul-Sul, o governo Lula tem apresentado como um dos resultados importantes a "parceria estratégica" com a China. E, de fato, as exportações brasileiras para a China aumentaram de maneira exponencial nos últimos anos.

Mas todos os países que têm minérios e alimentos elevaram espetacularmente suas exportações para a China. Para ficar apenas na América Latina, a China é o principal destino das exportações chilenas e peruanas e o segundo mais importante para Argentina e Uruguai.

No outro lado do comércio, Chile e Peru importam, em primeiro lugar, dos Estados Unidos; em segundo, da China; e apenas em terceiro, do Brasil. A Argentina importa mais do Brasil, mas em segundo lugar já aparece a China, crescendo. O Uruguai importa, primeiro, da Argentina e, em segundo, da China.

Em todas essas parcerias, a China importa minérios e alimentos e exporta manufaturados e bens de capital. Em todos os países da região, os chineses estão investindo naquelas áreas em que são mais carentes, como terras para a produção de comida, minas (e portos associados) e petróleo. Por exemplo, emprestam dinheiro para a Petrobrás (e para a venezuelana PDVSA) em troca de garantia de fornecimento de petróleo.

Aliás, eis aí um verdadeiro problema de diplomacia econômica para o Brasil: o avanço chinês aqui no nosso lado do mundo.

Mas a China é também a principal parceira do Irã, dos Estados Unidos e da Europa. Eis um caso de realismo e de diplomacia de resultados estratégicos... da China.

JOSÉ GOLDEMBERG

O Plano Brasil 2022
José Goldemberg 
O Estado de S.Paulo - 19/07/10

Desde a mais remota Antiguidade os seres humanos têm uma enorme fascinação por tentar prever o futuro. Astrólogos eram presença obrigatória em todas as antigas cortes imperiais e até hoje são populares, mas no ramo das profecias ninguém se compara ao prestígio do Oráculo de Delfos, na Grécia. Ali, no templo dedicado a Apolo, as pitonisas (sacerdotisas), em transe, faziam profecias, em geral dúbias, que eram consideradas verdades absolutas. Os grandes conquistadores da época sempre consultavam o Oráculo de Delfos antes de se lançarem nas suas campanhas militares. Hoje, suspeita-se que os transes e as visões das sacerdotisas eram provocados por gases emitidos por uma fenda subterrânea existente abaixo do local onde elas se sentavam. A reputação do Oráculo de Delfos resistiu mais de mil anos e ele só foi abandonado no início da era cristã.

Nos dias de hoje muitos governos fazem planos para o futuro, não só para orientar os investimentos governamentais, como também para mobilizar a sociedade em torno de objetivos inspiradores. Líderes políticos de grande envergadura, como, por exemplo, Charles de Gaulle, na França, e Juscelino Kubitschek, entre nós, criaram visões do futuro que moldaram a evolução de seus países: De Gaulle mobilizando os franceses contra o nazismo e Juscelino criando Brasília. Prever o futuro neste caso significa, no fundo, construí-lo.

Não é de surpreender, portanto, que o atual presidente da República tenha encarregado o seu ministro de Assuntos Estratégicos, Samuel Pinheiro Guimarães, de pensar estrategicamente o futuro do País, fixando metas para o ano de 2022, quando o Brasil comemora o bicentenário de sua independência.

O Plano Brasil 2022 foi preparado por grupos de trabalho formados por técnicos de todos os Ministérios e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), aprovado pelos ministros das diversas áreas e está na internet (http://www.sae.gov.br/brasil2022/).

O plano contém uma relação enfadonha de realizações do atual governo desde 2002 e metas para 2022 em cada uma das 32 áreas de governo, ignorando o fato de que o Brasil já existia antes de 2002 e que o futuro depende do que aconteceu no passado. As metas propostas para 2022 são inteiramente arbitrárias e representam pouco mais que os desejos daqueles que as formularam.

Mais interessante, porém, é o ensaio com o título O Mundo em 2022, em que o ministro Samuel Pinheiro Guimarães expõe suas visões ideológicas, ao dizer que "a extensão do papel do Estado é a grande questão que surgiu com a crise de 2008, em que está o mundo imerso, resultado da aplicação extremada da ideologia neoliberal, crise que clama por uma solução".

São então listados quais, no seu entendimento, são os grandes problemas e tendências: a aceleração da transformação tecnológica, o agravamento da situação ambiental-energética, o agravamento das desigualdades sociais e da pobreza, as migrações, o racismo, a globalização da economia mundial, a concentração do poder no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) e outros, todos repisando sempre no tema da ideologia neoliberal.

Chama a atenção também o feroz ataque às agências da ONU, que, segundo o ministro, teriam como uma de suas principais atividades "promover a adoção de políticas que correspondam a um ideal do modelo liberal-capitalista de organização da sociedade e do Estado". As críticas à Organização Mundial do Comércio (OMC) vão na mesma direção.

A conclusão do ensaio é a de que "cabe ao Brasil diante dessa situação, e tendo de enfrentar as falsas maiorias constituídas por Estados mais frágeis econômica e politicamente e que vislumbram para si mesmos poucas possibilidades neste mundo cada vez mais desigual, procurar com firmeza, e sem recear um suposto "isolamento", impedir que se negociem normas internacionais que dificultem a plena realização de seu potencial econômico e político". Em outras palavras, uma reafirmação nacionalista!

A leitura do Plano Brasil 2022 nos faz lembrar duas inscrições importantes que existiam na entrada do Oráculo de Delfos. A primeira delas é a seguinte: "Evite os excessos." E a outra: "Ó homem, conhece-te a ti mesmo e conhecerás os deuses e o universo."

O que elas significam é que os gregos antigos - que construíram Delfos 3 mil anos atrás - sabiam que para prever o futuro é essencial conhecer o que existe hoje e que excessos não são recomendáveis.

A grande falha do plano, a nosso ver, é que ele não segue os dois princípios de Delfos: lança toda a culpa dos atuais problemas em opções neoliberais, o que é um exagero, e, além disso, não parece compreender a realidade atual, particularmente quando atribui o agravamento da situação ambiental-energética às teorias liberais, que o ministro expressa da seguinte forma: "A expansão das atividades industriais com base nas teorias liberais relativas à melhor organização da produção e do consumo, a partir do dogma do livre jogo das forças de mercado, levou, de um lado, a um desperdício enorme de recursos naturais e de vidas humanas (...)."

Como é notório, esses problemas - particularmente os ambientais -, que caracterizam o século passado, ocorreram por causa da dependência quase total dos combustíveis fósseis em todo o mundo, tanto nos países com economia liberal-capitalista (ou neoliberal), como na União Soviética, sob um regime totalmente estatizante durante quase todo o século 20; isto é, não são decorrentes de "teorias liberais".

Apesar dessas limitações, o Plano Brasil 2022 é um documento útil para ser discutido e que pode servir de base para a formulação de planos mais realistas e visões do futuro mais criativas.

PROFESSOR DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

O ABILOLADO

DENIS LERRER ROSENFIELD

Fazendas lá, ambientalistas aqui
Denis Lerrer Rosenfield 
O Estado de S.Paulo - 19/07/10

Solicitado por vários leitores a voltar ao tema das ONGs, mostrarei a vinculação entre os "fazendeiros" americanos e a atuação de ONGs ambientalistas no Brasil. Trata-se de uma curiosa conjunção entre o agronegócio americano, ONGs ambientalistas (aqui, evidentemente), grandes empresas, governos e "movimentos sociais" no País.

A National Farmers Union (União Nacional dos Fazendeiros) e a Avoided Deforestation Partners (Parceiros pelo Desmatamento Evitado), dos EUA, encomendaram um estudo, assinado por Shari Friedman, da David Gardiner & Associates, publicado em 2010, para analisar a relação entre o desmatamento tropical e a competitividade americana na agricultura e na indústria da madeira. O seu título é altamente eloquente: Fazendas aqui, florestas lá.

O diagnóstico do estudo é que o desmatamento tropical na agricultura, pecuária e de florestas conduziu a uma "dramática expansão da produção de commodities que compete diretamente com os produtos americanos". Ou seja, é a competitividade do agronegócio brasileiro que deve ser diminuída para tornar mais competitivos os produtos americanos. O estudo é tão detalhado que chega a mostrar quanto ganhariam os Estados americanos e o país como um todo. E calcula que o ganho americano seria de US$ 190 bilhões a US$ 270 bilhões entre 2012 e 2030.

As campanhas pela conservação das florestas tropicais e seu reflorestamento não seriam, nessa perspectiva, uma luta pela "humanidade". Elas respondem a interesses que não têm nada de ambientalistas. Ao contrário, o estudo chega a afirmar que os compromissos ambientalistas nos EUA poderiam até ser flexibilizados segundo as regras atuais, que não preveem nenhum reflorestamento de florestas nativas, do tipo "reserva legal", só existente em nosso país. Também denomina isso de "compensação", que poderia ser enunciada da seguinte maneira: mais preservação lá (no Brasil), menos preservação aqui (nos EUA).

Cito: "Eliminando o desmatamento por volta de 2030, limitar-se-iam os ganhos da expansão agrícola e da indústria da madeira nos países tropicais, produzindo um campo mais favorável para os produtos americanos no mercado global das commodities." Eles têm, pelo menos, o mérito da clareza, enquanto seus adeptos mascaram suas atividades.

Esse estudo reconhece o seu débito com a ONG Conservation International e com Barbara Bramble, da National Wildlife Federation, seção americana da WWF, igualmente presente em nosso país.

A Conservation International é citada duas vezes na página de agradecimentos, suponho que não por suas divergências. Mas ela publica em seu site um artigo dizendo-se contrária ao estudo. A impressão que se tem é a de que se trata de um artifício retórico para se desresponsabilizar das repercussões negativas desse estudo em nosso país e, em particular, na Câmara dos Deputados. Logicamente falando, sua posição não se sustenta, pois ao refutar as conclusões do artigo não deixa de compartilhar suas premissas. A rigor, não segue o princípio de não-contradição, condição de todo pensamento racional.

Por que não defende a "reserva legal" nos EUA e na Europa, segundo os mesmos princípios defendidos aqui? Seria porque contrariaria os interesses dos fazendeiros e agroindustriais de lá? Entre seus apoiadores se destacam Wall Mart, McDonald"s, Bank of America, Shell, Cargill, Kraft Foods Inc., Rio Tinto, Ford Motor Company, Volkswagen, WWF e Usaid. Os dados foram extraídos de seu site internacional.

Barbara Bramble é consultora sênior da National Wildlife Federation, a WWF americana. Sua seção brasileira segue os mesmos princípios e modos de atuação, tendo o mesmo nome. Se fosse coerente, deveria lutar para que os 20% de "reserva legal", a ser criada nos EUA e na Europa, fossem dedicados à wildlife, a "vida selvagem". Entre seus apoiadores e financiadores (dados extraídos de sua prestação de contas de 2009), destacam-se o Banco HSBC, Amex, Ibope, Natura, Wall Mart, Conservation Internacional, Embaixada dos Países Baixos, Greenpeace e Instituto Socioambiental (ISA). A lista não é exaustiva. Observe-se que a ONG Conservation International reaparece como parceira da WWF.

Ora, essa mesma consultora é sócia-fundadora do ISA, ONG ambientalista e indigenista. A atuação dessa ONG nacional está centrada na luta dita pelo meio ambiente e pelos "povos da floresta". Advoga claramente pela constituição de "nações indígenas" no Brasil, defendendo para elas uma clara autonomia, etapa preliminar de sua independência posterior, nos termos da Declaração dos Povos Indígenas da ONU.

Ela, junto com o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), possui o mais completo mapeamento dos povos indígenas do Brasil. Sua posição é evidentemente contrária à revisão do Código Florestal. Dentre seus apoiadores e financiadores, destacam-se a Icco (Organização Intereclesiástica de Cooperação para o Desenvolvimento), a NCA (Ajuda da Igreja da Noruega), as Embaixadas da Noruega, Britânica, da Finlândia, do Canadá, a União Europeia, a Funai, a Natura e a Fundação Ford (dados foram extraídos de seu site).

O ISA compartilha as mesmas posições do Cimi, da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e do MST. Ora, esses "movimentos sociais", verdadeiras organizações políticas de esquerda radical, por sua vez, seguem os princípios da Teologia da Libertação, advogando pelo fim do agronegócio brasileiro e da economia de mercado, contra a construção de hidrelétricas e impondo severas restrições à mineração. Junto com as demais ONGs, lutam por uma substancial redução da soberania nacional.

Dedico este artigo aos 13 deputados, de diferentes partidos, e às suas equipes de assessores que tão dignamente souberam defender os interesses do Brasil, algo nada fácil nos dias de hoje.

PROFESSOR DE FILOSOFIA NA UFRGS.

RUY CASTRO


Cinco polegares em cada mão


RUY CASTRO
FOLHA DE SÃO PAULO - 19/07/10


Um produtor de Hollywood quer fazer um filme horroroso sobre Carmen Miranda. Chama-se Buddy Bregman, tem 80 anos e, nos anos 50, foi arranjador de cantores importantes. Mas nunca teve a admiração dispensada a seu irmão mais velho, o compositor Jule Styne, autor de canções como 'People', 'Just in Time', 'Diamonds Are a Girl's Best Friend' e do 'score' do musical 'Gypsy'. 
É natural que muita gente, inclusive Buddy Bregman, queira filmar a vida de Carmen Miranda. O que não passa pela cabeça de ninguém é filmar a vida de Buddy Bregman. Desde 1960, sobrevive no mais espesso ostracismo. 
Mas a vida de Buddy talvez desse um filme. Contaria a história de um garoto corroído por seu recalque, rancor e ressentimento pelo talento e sucesso do irmão. Incapaz de compor melodias como Jule, Buddy tornou-se arranjador de melodias alheias. Só que seus cinco polegares em cada mão destruíam as canções. Os cantores só lhe davam emprego para agradar Jule. 
Foi assim, por exemplo, que Buddy assinou os arranjos de, entre outros, 'The Cole Porter Songbook', que Ella Fitzgerald gravou em 1956. A cada favor de Jule, o ódio de Buddy aumentava. Até que Jule morreu e a fonte secou. Se já odiava o irmão em vida, passou a odiá-lo mais por ter morrido. E, agora, já às vésperas da própria morte, resolve se meter com Carmen Miranda _uma artista que ele não conhece e (Ilustrada, 15/7), admitidamente, não quer conhecer. 'Vou só contar a história dela do meu jeito', disse. 
Na verdade, Buddy não é irmão de Jule Styne. O erro foi cometido por Leonard Feather em sua influente 'Encyclopaedia of Jazz' e virou fato. Buddy sempre detestou essa confusão. Ou seja, não gosta de ver sua vida distorcida. Mas não quero nem saber. Só contei a história dele do meu jeito. E, se ele não gostar, pode se atirar no mar.

GOSTOSA

PAINEL DA FOLHA

Versão final
RANIER BRAGON

FOLHA DE SÃO PAULO - 19/07/10

O PT reúne hoje em Brasília os partidos da coligação de Dilma Rousseff para discutir a revisão do seu programa de governo. Apesar da retirada de propostas da ala petista mais à esquerda, sobreviveram pontos como a avaliação de que TVs e rádios são "pouco afeitas" ao pluralismo e ao debate democrático.
O presidente do PT, José Eduardo Dutra, diz que será estabelecido prazo para apresentação da nova roupagem do programa - possivelmente 10 de agosto - e afirma não saber se a crítica à mídia ficará ou cairá. O PMDB, parceiro mais "musculoso" da coligação, irá à reunião com o firme propósito de tirá-la do texto.

Borracha O governador Eduardo Campos (PE), presidente do PSB, afirma estar lendo com lupa o texto que seu partido levará à reunião. "Já tirei um bocado de coisa e ainda falta tirar outro tanto."

Cifrado 1 Na apressada lipoaspiração que promoveu na primeira versão do programa, o PT deixou intocado o compromisso de criar um "novo arcabouço jurídico-administrativo [...] coerente e afinado com o projeto nacional de desenvolvimento democrático e popular".

Cifrado 2 A expressão dá margem a interpretações que envolvem o Tribunal de Contas da União e as regras de licenciamento ambiental, alvos frequentes de críticas de Lula, e até os limites para o endividamento dos Estados.

Moita Petistas combinaram no fim de semana dar repercussão mínima ao surgimento de um ex-funcionário do Planalto que disse à "Veja" haver prova de que Dilma teve um encontro com a ex-secretária da Receita Lina Vieira em 2008. O discurso é que falta credibilidade ao ex-funcionário e à história.

Extra! Após jantar com aliados na semana passada, José Eduardo Dutra disse que a arrecadação da campanha petista tem sofrido porque muitos empresários têm "escorpião no bolso". Elo do PT com o empresariado, Antonio Palocci riu muito, mas não quis fazer comentários: "Vocês já têm a frase do dia."

Na rede A campanha de Aloizio Mercadante (PT) ao governo de São Paulo lançará hoje ofensiva em favor das lan houses. O discurso é que as gestões tucanas perseguem os estabelecimentos.

Nanico surpresa A totalização pelo TSE das candidaturas impugnadas em todo o país revelava na tarde de sexta-feira um dado surpreendente. Até aquele momento, o nanico-ideológico PSOL liderava o ranking dos candidatos sob contestação judicial: 149. Colado, vinha o PPS, com 148 sob ameaça. Em seguida, o PMDB, com 134, e o PT, com 112.

Guichê Um dos partidos que mais brigou pela Lei da Ficha Limpa, o PSOL acabou falhando em geral na entrega de documentação e no cumprimento de formalidades. "Até a Heloísa Helena está na lista. Isso revela inexperiência e uma certa falta de estrutura do partido, mas fomos rigorosíssimos com a ficha limpa. Se alguém passou na peneira, não terá a defesa do partido", diz o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ).

Nos embalos Em tour pelo Nordeste, José Serra, 68, escreveu no Twitter: "Ainda se diz "um agito" ou caiu de moda? Hoje foi um agito." Seguidores lhe sugeriram: "Bombou, irado, punk."

Refresco Durante passeio por mercado em Goiânia, na sexta, Marina Silva (PV) comprou um pote de pimenta biquinho, menos ardida, e ainda filosofou sobre a coisa: "É o maior exemplo de que é possível fazer política sem agredir as pessoas." com SILVIO NAVARRO e LETÍCIA SANDER

Tiroteio

"Lula começou mais uma campanha eleitoral, desta vez para tentar salvar do naufrágio a candidatura que ele inventou."
DO SENADOR SÉRGIO GUERRA (PE), presidente do PSDB, sobre o comício em que o presidente pediu votos para Dilma Rousseff (PT), sexta-feira, no Rio.

Contraponto

Moqueca baiano-capixaba

O governador Paulo Hartung (PMDB-ES) citou na quinta-feira um exemplo bem-humorado de por que há políticos que se destacam mais do que outros. Ele participava, ao lado de Lula e do presidente da Petrobras, José Gabrielli, de evento da estatal em Vitória.
- Uma vez o Gabrielli veio aqui e falou que moqueca era baiana. Eu disse: "Olha, é por isso que o senhor é presidente da Petrobras e Lula é presidente do Brasil. Se Lula estivesse aqui, ele falaria que moqueca é capixaba. Se duas horas depois ele fosse à Bahia, aí sim ele diria que moqueca é baiana."

NELSON RIBEIRO ALVES FILHO

Novo conto do vigário
NELSON RIBEIRO ALVES FILHO
O GLOBO - 19/07/10

Centenas de milhares de cidadãos de todo o país buscaram a Justiça para terem seus direitos reconhecidos, porque os poderes públicos os estavam negando.

Após anos infindáveis — muitas vezes mais de 10 — ganharam as ações e os valores que lhes são devidos foram colocados em precatórios (cópia parcial dos processos com o valor devido), que deveriam ser pagos até o ano seguinte ao da expedição de cada um.

Anos se passaram e as dívidas não foram pagas, ou porque os valores devidos não foram colocados nos orçamentos, ou porque o foram e o 
Judiciário não exigiu dos Poderes Executivos que os liberassem para os pagamentos.

O Congresso aprovou emenda constitucional permitindo que os precatórios derivados de desapropriações fossem pagos em 10 anos. Levado o assunto ao 
Supremo Tribunal Federal, porque a emenda é inconstitucional, até hoje não houve decisão... e os 10 anos já acabaram.

Agora, pela Emenda Constitucional 62/09, os precatórios alimentícios (aqueles tirados de ações relativas a salários, pensões e outras indenizações), serão pagos em até 15 anos, se os titulares dos créditos não derem “descontos” para receber...

Novamente acionado o Supremo Tribunal, em razão do absurdo, da imoralidade e da inconstitucionalidade da Emenda (ADIN 4357 apresentada pela 
OAB, associações de juízes e doMinistério Público, entre outras), nada foi feito até agora, e nada será feito outra vez, prejudicando as centenas de velhos e doentes, que ficarão até 15 anos sem o que lhes é devido para comprar comida e remédios, se permanecerem vivos...

Conselho Nacional de Justiça, criado para corrigir os erros e os errados do Judiciário, “regulamentou” a emenda, quando deveria dizer ao Supremo Tribunal que não é possível retardar por uma hora sequer a solução do problema, porque negar pagamento ao que o Judiciário já decidiu, ou permitir que se retardem os pagamentos por mais 15 anos, é o mesmo que negar o princípio básico da cidadania — que é o respeito completo aos direitos dos cidadãos — do qual oJudiciário é o guardião, mas deixará de sê-lo, se for desmoralizado, como está sendo há décadas, sem reagir à altura.

As entidades já reagiram contra a Emenda 62/09, devendo os cidadãos, imediatamente, através de manifestações públicas e maciças dirigidas ao Supremo Tribunal e ao 
Conselho Nacional de Justiça, protestar contra este novo conto do vigário.

Se não se modificar a situação atual, não haverá mais Justiça, muito menos Poder 
Judiciário.

ANCELMO GÓIS

Voto no exterior 
Ancelmo Góis 

O Globo - 19/07/2010

Mais do que dobrou, nos últimos quatro anos, o número de brasileiros no exterior que podem votar. Serão 200.050 este ano, em urnas espalhadas por 126 cidades do planeta.

Em 2006 eram 86.360. Mas a taxa de abstenção foi, na época, de 51,2% (aqui foi de 17,8%).

Dilma ou Serra

O voto de quem mora fora é só para Presidente.

Mas a Itália, por exemplo, elege um pequeno número de deputados entre os patrícios que moram no exterior

Tempero baiano

A ideia do governador Jaques Wagner de batizar com o nome de Lula o novo Estádio da Fonte Nova fere a lei que proíbe “atribuir nome de pessoa viva a bem público”.

Só que na Bahia a norma parece que não pegou. Lá, Gal Costa é avenida. Dona Canô batiza um viaduto e políticos vivos são nomes de escolas e ruas.

Gol de São Paulo

Na Copa de 14 o Morumbi pode não ter jogo de abertura. Mas em compensação, diz um sábio cacique que colocou seu ouvido na terra, o trecho paulista do trem-bala estará operando.

Já o Rio será uma “festa só” na Copa. Mas sua parte no trem-bala ficará ao “Deus dará”. Será?

Eleição no STJ

Dia 3 agora, após o recesso, os 28 ministros do STJ elegem presidente e vice do tribunal, além do próximo corregedor do Conselho Nacional de Justiça.

Na disputa, os ministros mais antigos da Corte, Ari Pargendler, Felix Fischer e Eliana Calmon

Nilcéa na ONU

Já são 15 as candidatas ao posto de subsecretária da ONU, responsável pela ONU Mulheres.

Da América Latina fala-se em Michelle Bachelet, ex-presidenta do Chile, e na ministra Nilcéa Freire, da Secretaria das Mulheres.

Cautela e caldo de...

O brasileiro anda mais precavido.

O número de testes de HIV na rede pública cresceu 52,7% em sete anos.

Ano passado foram feitos 5,7 milhões de exames para detectar o vírus, enquanto em 2003 foram 3,7 milhões.

O papel da Igreja

Para o ministro José Gomes Temporão, este salto se deve, em grande parte, aos novos testes, mais rápidos, que ficam prontos em meia hora, e à parceria do Ministério com a Igreja Católica, através da Pastoral da Aids.

Boa chance

O mercado de trabalho para dentistas cresceu com a inclusão da categoria nas equipes de Saúde da Família.

Hoje, 19.697 trabalham no programa. Em 2004, eram 8.951. No Rio foram contratados 668 dentistas.

Disfunção erétil

A 11° Câmara do TJ Rio reformou sentença que havia condenado a Fundação Municipal de Saúde de Petrópolis a fornecer a um paciente o Cialis, remédio para disfunção erétil.

Segundo a desembargadora Marilene Melo Alves, “diante do estado quase caótico dos serviços de saúde, o Estado deve privilegiar o tratamento de doenças graves”.

É. Pode ser.

À mesa com Paul

Efeito do sucesso do polvo alemão Paul, que ficou famoso por acertar os jogos da Copa.

Seu Alonso, o espanhol que é dono do tradicional restaurante Fim de Tarde, no Centro do Rio, diz que depois da Copa triplicou a venda de pratos à base de polvo. Bom apetite.

Asfalto reciclado

A Prefeitura do Rio vai usar asfalto ecológico na pavimentação de vias nas zonas Norte e Oeste.

O novo revestimento possui asfalto com aditivo de mistura morna, 0,5% de material reciclado, 78,5% de agregados e 15% de material obtido no asfalto antigo que estava no piso.

Cartão, não

No Werner da Vinicius de Moraes, em Ipanema, a promoção de R$ 14,50 para fazer a mão, de segunda a quarta, agora só vale se pagar em dinheiro ou cheque.

Rumo a Brasília

Até o final do ano, Brasília vai ganhar uma filial do Antiquarius Grill, templo da boa mesa no Rio.

ESTES HOMENS trabalham há uma semana na Avenida Chile, importante via do Centro do Rio, que está sendo revitalizada pela Prefeitura. Quem circula por ali sabe que a área, há muito, merecia atenção. Suja e abandonada, estava entregue à população de rua, que usava o vão sob o viaduto da Avenida República do Paraguai para se aliviar, deixando um cheiro insuportável no local. Limpeza, pintura e reposição de pedras portuguesas prometem tornar o corredor circulável. Serão feitas a recuperação e a iluminação do viaduto. Os mendigos, segundo o subprefeito Thiago Barcellos, irão para um abrigo em Paciência. Vamos torcer... e cobrar

PÁREO DURO: quem tem a mais bonita coleção de coletes do Brasil? Ziraldo ou Carlos Minc?

CRISTIANE TORLONI abraça Luís Carlos Miéle nos bastidores de seu show com Eduardo Poyares, no Bar do Tom, Leblon

INESQUECÍVEL rainha de bateria da Mangueira, a supermulata Tânia Bisteka posa para o Sambarazzo, o site das musas do carnaval

O ESGOTO DO BRASIL

SEGUNDA NOS JORNAIS

Globo: Resultado do Enem aponta desafio para governadores

Folha: Presidente do PT afirma que vice de Serra é 'medíocre'

Estadão: Juros altos atraem investimento externo de US$ 12 bilhões

JB: Campanha esquenta também na Justiça

Correio: DF sobe ao 4º lugar no ranking do Enem

Valor: Importação de mão de obra é recorde

Jornal do Commercio: Começou mal

Zero Hora: Ranking do Enem: Escolas gaúchas têm melhor média do país