terça-feira, maio 20, 2014

Lula reencontra o caixa dois - GUILHERME FIUZA

REVISTA ÉPOCA

Lula aconselhou o Brasil a desconfiar das denúncias "muito estranhas" envolvendo a Petrobras. "Tenho a impressão de que tem gente querendo fazer caixa dois", disse. É um alerta importante.

Lula entende do assunto. Foi o primeiro presidente brasileiro a declarar que caixa dois todo mundo faz, na época do mensalão. Mas uma coisa é fazer caixa dois sendo o "filho do Brasil", porque aí tudo que é do seu pai é seu. Outra coisa, bem diferente, é fazer caixa dois sendo filho de qualquer um, sem ter nem um Delúbio para guardar esse dinheiro, que será usado sabe-se lá como - talvez comprando os deputados errados. O PT ensinou aos brasileiros, sem perder a ternura, o conceito de dinheiro não contabilizado. É um absurdo que a oposição queira sair fazendo caixa dois de qualquer maneira, sem conceito nenhum.

É para isso que serve um verdadeiro líder nacional, um grande estadista: para apontar as coisas que ninguém poderia imaginar. Quando todos achavam que a Petrobras era depenada pelo governo popular e seus clientes, vem Lula esclarecer que não é nada disso. Fazer sumir centenas de milhões de dólares com aquisições suspeitas, travestir o preço do petróleo e torrar fortunas com propaganda política do pré-sal são coisas da vida. Os esquemas bilionários do ex-diretor Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Youssef, que, por coincidência, floresceram na estatal com a chegada do PT ao poder, também não têm importância. Caixa dois todo mundo faz, e parasitar empresa pública também. Assim como José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares, Alberto Youssef e Paulo Roberto Costa são presos políticos. Chamem a OEA.

O verdadeiro problema com a Petrobras - que os neoliberais tentam encobrir, mas Lula revelou - é essa gente querendo usar as denúncias para fazer caixa dois. Como funcionaria isso? Ele não explicou, mas tudo bem. Quem tem intimidade com determinado assunto não tem paciência mesmo para ser didático. Possivelmente, Lula quis dizer que seus adversários pretendem usar a CPI da Petrobras para extorquir suspeitos - arrecadando "taxas de inocência" para não convocá-los a depor. Essa acusação já havia sido feita por correligionários de Lula. É uma estratégia que o PT conhece profundamente, como demonstrou na famosa CPI do Banestado.

Isso foi em 2004 - mesma época que, sabe-se agora, o esquema de Paulo Roberto Costa começou a funcionar na Petrobras. A CPI do Banestado tinha, como relator, o deputado José Mentor e, como mentor, o ministro José Dirceu. Foi desmoralizada porque a tropa de choque (cheque) do governo popular fabricava convocações e fazia chantagem aos quatro ventos. Como todo mundo sabe, chantagem de esquerda é progressista e não chateia ninguém. O estranho, bizarro mesmo, é imaginar os adversários do PT usando esse expediente. Lula sonhou com isso e foi logo contando ao Brasil, visionário que é. Tudo em defesa da Petrobras.

Assim começa a campanha eleitoral, em que Lula, Dilma e companhia poderão denunciar todos os caixas dois que sonharem. Sé forem contestados no Tribunal Superior Eleitoral, estará tudo em casa. Adivinhem quem acaba de tomar posse na presidência do TSE, para ser o juiz supremo da corrida presidencial? Ele mesmo, o menino prodígio da dupla Batman e Robin do PT no STF, o ex-advogado de Lula que suou a camisa pelos mensaleiros - Dias Toffoli. Está garantida a isenção no pleito.

Como já se viu no Primeiro de Maio, a presidente da República transformou a cadeia obrigatória de rádio e TV em comício eleitoral inflamado. O TSE provavelmente a punirá com rigor e a obrigará impiedosamente a rezar 13 Ave-Marias e 13 Pais-Nossos (para combinar com o número na cédula).

Surge agora a informação de que o PT usou dinheiro público do fundo partidário para pagar a defesa de mensaleiros e até da inesquecível Rosemary Noronha - assessora especial da Presidência para negócios privados à sombra. Ninguém precisa ter dúvidas: o xerife de estrelinha vermelha do TSE acabará com essa bagunça. Determinará até que Rose e os mensaleiros devolvam todo o dinheiro aos cofres públicos. E a seleção de Camarões conquistará a Copa do Mundo.

Bala para todo lado - J. R. GUZZO

REVISTA VEJA


Alguma coisa acontece na cabeça da presidente Dilma Rousseff quando se cruzam ali dentro a avenida por onde passam os pensamentos que ela quer transmitir ao público e a avenida de onde eles saem para o mundo, depois de transformados em palavras. Ou, ao contrário, alguma coisa que deveria acontecer nessa hora não acontece. Seja por um motivo ou por outro, o fato é que a presidente, de uns tempos para cá, não está fazendo muito sentido, ou mesmo nenhum sentido, quando fala de improviso. Dilma, nessas ocasiões, imagina que está usando a linguagem do "grande público". Mas a coisa não vai. Ela dá na chave, dá de novo, insiste, mas o motor não pega. O resultado final é que só vem conseguindo tornar-se cada vez mais incompreensível. Não é exagero. Tente, por exemplo, entender o seguinte: "Quando você chega num banco, ele te pergunta qual a garantia que você me dá? Eu vou pagar a vocês, para me aceitar emprestar um dinheiro para você me pagar". Isso aí foi dito por Dilma em Feira de Santana, no fim de abril, numa viagem de sua campanha eleitoral em que presenteou prefeituras do interior da Bahia com tratores, escavadeiras e outras máquinas. Não é uma distorção do que disse, nem um boato — é o que consta nos registros oficiais do Palácio do Planalto. Não é tampouco uma "frase fora do contexto"; é fora da compreensão humana.

Pelo jeito, a presidente está tendo dificuldades nos circuitos cerebrais que traduzem as ideias em sons, os sons em palavras e as palavras em frases inteligíveis. As cordas vocais não estão obedecendo às ordens enviadas pelo cérebro — ou o cérebro está enviando ordens desconexas para as cordas vocais. No caso de Feira de Santana, não conseguiu acertar nem a pontuação. Poderia ter sido, talvez, apenas um momento infeliz? Infeliz o momento foi, com certeza; mas não foi um momento. Ao contrário, esse caos que Dilma constrói quando fala em público vem sendo um processo, ou pelo menos uma série de muita constância. É só ver o que ela anda falando. "Esse receituário que quer matar o doente, em vez de curar o paciente, ele é complicado", disse numa viagem recente à África do Sul, referindo-se às ideias de controlai- a inflação através da redução do gasto público. "Isso está datado." Como assim? Matar o doente, como ela diz, não é "complicado"; é simplesmente estúpido. Também não é um tratamento "datado", que já valeu mas hoje está obsoleto; matar gente nunca foi certo.

Ainda outro dia, numa conversa com jornalistas em Brasília, voltou às suas aulas de economia: "Aí vem uma pessoa e diz que a meta da inflação é 3%. Faz uma meta de 3%... Sabe o que significa? Desemprego lá pelos 8,2%". De onde vêm esses exatíssimos "0,2%" que ela acrescenta aos 8%, quando seu governo não acerta sequer uma previsão para o dia seguinte? Dilma já disse que "a inflação foi uma conquista desses dez últimos anos de governo, do presidente Lula e do meu governo". Supõe-se que tenha havido aí um desencontro entre o que pensou e o que falou — e o que pensou era mentira. Num seminário nos Estados Unidos, enfiou-se de repente no tema de ônibus escolares e informou à plateia: "No Brasil não é assim conosco. Estamos criando o ônibus escolar padronizado do início do século XXI". Logo depois explicou1 ao investidor privado que, "se quiser fazer o backroll perfeitamente, ele faça o backroll, se quiser fazer o backbone, perfeitamente, faça o backbone. Nós não queremos 1 mega real de banda larga, nós queremos o padrão, eu não vou dizer qual é o padrão". Por que não? E essa história de backroll e backbone?

Dilma também foi capaz de fazer, em pleno exercício da Presidência da República, a seguinte oração: "Primeiro, eu gostaria de dizer que eu tenho muito respeito pelo E.T. de Varginha. Este respeito pelo E.T. de Varginha está garantido". A presidente estava em Varginha, em Minas Gerais, para visitar, acredite-se ou não, um "museu do E.T.", no qual o governo federal aplicou cerca de 1 milhão de reais. (Iniciado em 2007, o museu nunca ficou pronto, e jamais foi visitado por ninguém. Está abandonado desde 2010.) Outro grande momento foi no Ceará, agora em março. "Os bodes, eu não me lembro qual é o nome, mas teve um prefeito que me disse assim: "Eu sou o prefeito da região produtora da terra do bode". Então nós vamos fazer um Plano Safra que atenda os bodes que são importantíssimos". É bala para todo lado.

"Pobre Dilma Rousseff", escreveu a seu respeito o Financial Times. Parecia uma Angela Merkel, com eficiência alemã. Acabou com um desempenho de irmãos Marx.

A chantagem funcionou - O PUTEIRO DA AMANTE DE LULA

REVISTA VEJA


Ex-chefe do escritório da Presidência da República tentou envolver a presidente Dilma e dois ministros do governo em escândalo de corrupção. Dizendo-se abandonada, ela queria ajuda – e conseguiu




A discrição nunca foi uma característica da personalidade da ex-chefe do gabinete da Presidência da República em São Paulo Rosemary Noronha. Quando servia ao ex-presidente Lula em Brasília, ela era temida. Em nome da intimidade com o "chefe", como às vezes também se referia a ele, Rose fazia valer suas vontades mesmo que isso significasse afrontar superiores ou humilhar subordinados. Nos eventos palacianos, a assessora dos cabelos vermelhos e dos vestidos e óculos sempre exuberantes colecionou tantos inimigos — a primeira-dama não a suportava — que acabou sendo transferida para São Paulo. Mas caiu para cima. Encarregada de comandar o gabinete de Lula de 2009 a 2012, Rose viveu dias de soberana e reinou até ser apanhada pela Polícia Federal ajudando uma quadrilha que vendia facilidades no governo. Ela usava a intimidade que tinha com Lula para abrir as portas de gabinetes restritos na Esplanada. Em troca, recebia pequenos agrados, inclusive em dinheiro. Foi demitida, banida do serviço público e indiciada por crimes de formação de quadrilha e corrupção. Um ano e meio após esse turbilhão de desgraças, no entanto, a fase ruim parece ter ficado no passado. Para que isso acontecesse, porém, Rosemary chegou ao extremo de ameaçar envolver o governo no escândalo.

Em 2013, no auge das investigações. quando ainda lutava para provar sua inocência, a ex-secretária Rosemary procurou ajuda entre os antigos companheiros do PT — inclusive Lula, o mais íntimo deles. Desempregada, precisando de dinheiro para pagar bons advogados e com medo da prisão, ela desconfiou que seria abandonada. Lula não atendia suas ligações. O ex-ministro José Dirceu, às vésperas da fase final do julgamento do mensalão, estava empenhado em salvar a própria pele e disse que não podia fazer nada. No Palácio do Planalto, a ordem era aprofundar as investigações. Em busca de amparo, Rose concluiu que a única maneira de chamar a atenção dos antigos parceiros era ameaçar envolver figuras importantes do governo no escândalo. Mensagens de celular trocadas pela ex-secretária com pessoas próximas mostram como foi tramada a reação. Magoada com o PT por ter permitido que a Casa Civil aprofundasse as investigações sobre suas traficâncias, Rose destila ódio contra a então ministra Gleisi Hoffmann. Em uma conversa com um amigo, em abril do ano passado, desabafa: "Tão chamando a ministra da Casa Civil de Judas!!! Ela bem que merece!!!". O interlocutor assente: "Ela vazou a porcaria toda. Vamos em frente". Rose acreditava que o próprio Palácio do Planalto estava por trás das revelações sobre o desfecho da sindicância — "a porcaria toda" — que apontava, entre outras irregularidades, o seu enriquecimento ilícito no cargo.

Com o fundo do poço cada vez mais próximo, Rosemary decidiu arrastar para dentro do escândalo figuras centrais do Planalto e, se possível, a própria presidente Dilma Rousseff. A estratégia consistia em constranger os antigos colegas de governo pressionando-os a depor no processo que tramitava na Controladoria-Geral da União. "Quero colocai- o Beto e a Erenice Guerra", diz Rose em uma mensagem. "Você quer estremecer o chão deles?", questiona o interlocutor. "Sim", confirma Rose. "Porque vai bombar. Gilberto Carvalho também?", indaga. "O.k.", devolve ela. As autoridades que deveriam "estremecer" não foram escolhidas por acaso. Atual chefe de gabinete da presidente Dilma Rousseff, Beto Vasconcelos era na ocasião o número 2 da Casa Civil. Ao lado da ex-ministra Erenice Guerra, ele servira a Dilma no Planalto durante anos. Rose os conhecia como a palma da mão e sabia que eles tinham plena consciência do seu temperamento explosivo. A conclusão da conversa no celular, resumida pelo interlocutor, revela as reais intenções da ex-secretária: "Vai rolar muito stress... Vão bater na porta da Dilma. Vão ficar assustados".

O plano embutia um segundo objetivo. Rosemary também queria se reaproximar de um ex-amigo em especial. Ao tentar "estremecer" o chão de Gilberto Carvalho, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência e homem de confiança de Lula, Rose tinha um propósito bem específico. Ela queria restabelecer as suas ligações com "Deus", como a ex-secretária costuma se referir ao ex-presidente Lula. Em outra troca de mensagens de celular, um interlocutor diz a Rose que, com a indicação das testemunhas — Gilberto Carvalho, Beto Vasconcelos e Erenice Guerra — no processo da CGU, "o momento é oportuno para aproximação com Deus...". Mas a ex-protegida de Lula se mostra cética e insatisfeita. "Vai ser difícil. Ele está com muitas viagens. Não posso depender dele", diz Rose. Não se sabe exatamente o que aconteceu a partir daí, mas a estratégia funcionou. Um dos homens mais próximos a "Deus", Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula, cuidou pessoalmente de algumas necessidades mais imediatas da família de Rosemary durante o processo. Além de conseguir ajuda para bancar um exército de quase quarenta juristas das melhores e mais caras bancas de advocacia do país, a ex-secretária reformou a cobertura onde mora em São Paulo e conseguiu concretizar o antigo projeto de ingressar no mundo dos negócios.

Rosemary comprou uma franquia da rede de escolas de inglês Red Balloon. Para evitar problemas com a ficha na polícia, o negócio foi colocado no nome das filhas Meline e Mirelle e do ex-marido José Cláudio Noronha. A estratégia para despistar as autoridades daria certo não fosse por um fato. A polícia já havia apreendido em 2012, na casa de Rose, todo o planejamento para aquisição da franquia. Os documentos mostravam que o investimento ficaria a cargo da quadrilha que vendia influência no governo. Na época, a instalação da escola foi orçada em 690 000 reais — padrão semelhante aos valores praticados atualmente no mercado —, dinheiro que Rosemary e seus familiares não possuíam. Como, então, a família que informava ter um patrimônio modesto conseguiu reunir os recursos? Procurada por VEJA, Meline Torres, responsável pela administração da escola, informou que todos os investimentos foram realizados a partir de "economias". "Eu trabalhei muito durante a minha vida (Meline tem 29 anos). Trabalho desde os 18 anos com registro em carteira e tenho poupança. Meu pai também está me ajudando com recursos dele, aliás, do trabalho de uma vida", explicou. Rosemary não quis se pronunciar.

Hello! Palco não é palanque! - LOBÃO

REVISTA VEJA


Na semana passada foi a vez do Roger. A patrulha ideológica, com sua percepção assimétrica e distorcida da realidade, promoveu mais um episódio lamentável de atentado a reputações. Para quem não ouviu falar do caso, o Roger Moreira, do Ultraje a Rigor, foi perseguido na internet por militantes do PT (os MAVs, militantes em ambiente virtual) por estar "ganhando dinheiro" de um governo que ele critica. Ele participou de um show em São Paulo organizado pelo Ministério da Cultura e pelo Banco do Brasil.

Isso também ocorreu comigo no ano passado, por ocasião da Virada Cultural de São Paulo.

Tive de fazer um esforço inaudito, auxiliado por uma campanha nas redes sociais, para furar o bloqueio ao meu nome — e conseguir intimidar com o clamor popular os curadores da Secretaria de Cultura municipal, que só assim me incluíram no evento. Logo em seguida, começaram a pipocar na rede as mesmas críticas vindas desse mesmo grupo, que dizia ser uma contradição um oposicionista ferrenho como eu aceitar tocar em um show promovido pela prefeitura do PT.

Imaginem que surreal seria termos os holofotes e as atenções voltados exclusivamente para artistas filiados ao PT, que sobem no palanque do partido e recebem uma grana preta para fazer campanha publicitária dos órgãos públicos. Como seria se a gente só pudesse assistir a filmes, peças teatrais e minisséries com temas "customizados", destinados a favorecer a imagem do governo? E que tal se fôssemos obrigados a engolir só o que passa pelo filtro ideológico do PT?

Pois então vamos acabar com essa palhaçada de uma vez por todas: os órgãos públicos que porventura sejam patrocinadores de eventos culturais não podem coibir, filtrar nem excluir vertente alguma de expressão artística, credo ou pensamento político discordantes ou mesmo contrários aos da administração vigente, pois dessa forma estarão lidando com a coisa pública como se fosse privativa de um partido, o que é inconstitucional. Simples assim.

Os palcos dos festivais financiados com o dinheiro do contribuinte estão abertos a todos, são espaços públicos — eventualmente sob a administração desse ou daquele partido político.

O fato de o PT não entender isso não deve ser tolerado pela população que paga seus impostos. Ela tem o direito de exigir acesso a qualquer tipo de manifestação cultural e artística, inclusive as de que o PT não gosta. E o governo não pode substituir a pluralidade cultural pelo seu monopólio ideológico.

Antes de o partido chegar ao poder, alguém se lembra de ver patrulha linchar artista porque ele tocava na gestão Maluf? Ou Jânio? Ou Serra?

Mas o ideário petista, assim como a mentira, tem pernas curtas e, por mais truculenta que seja a atitude desses militantes que forçam a barra numa tentativa de fazer terrorismo ideológico, essa presepada não prevalecerá. Assim como não prevalecerão a cantilena ideológica de terceira categoria, o ódio plantado entre as classes e esse deficit intelectual de proporções politibúricas que exala das universidades e dos órgãos dominados por essa gente dodói. Primeiro porque a população não vai deixar e depois porque esses carinhas não possuem a força que pensam ter.

Imaginem que surreal seria termos os holofotes e as atenções voltados exclusivamente para artistas filiados ao PT, que sobem no palanque do partido e recebem uma grana preta para fazer campanha publicitária dos órgãos públicos em TVs, rádios, outdoors, jornais e revistas. Como seria se a gente só pudesse assistir a filmes, peças teatrais e minisséries com temas "customizados", destinados a favorecer a imagem do governo? E que tal se fôssemos obrigados a engolir só o que passa pelo filtro ideológico do PT? Teríamos uma cultura monomaníaca, cinza e medíocre, feita por puxa-sacos de alma coloidal que transformariam em caricatura a cultura nacional, travestindo a história com mentiras canastronas e mamando descaradamente no Erário. Escrevo no condicional porque esse jogo não está ganho. Vamos virá-lo, como já estamos fazendo.

Então, para concluir: palco não é palanque, público não é privado, ideia não é ideologia e nem traseiro de pinto é escovinha, como dizia o meu pai.

O Complexo do mega-Brasil - RUTH DE AQUINO

REVISTA ÉPOCA


O problema do Brasil não é ter complexo de vira-lata, mas cultivar a obsessão do "mega". Uma obsessão cafona e perniciosa. Tudo precisa ser o "maior do mundo". E assim foi o Maracanã em 1950, construído em apenas dois anos. Que inveja de nós mesmos.

Por que prometer a "Copa das Copas"? Por que não se conformar com uma Copinha alegre e hospitaleira, organizada e bem planejada, com dignidade? Não está no DNA tupiniquim? A ostentação é coisa nossa. A construção de Brasília é um dos exemplos do mega desperdício - seu estádio, agora, é uma continuação da mega incompetência na gestão de quase tudo.

Só um país sem noção como o nosso, com tantos problemas sérios e crônicos de prazos, infra estrutura, internet e transporte, numa área continental, resolve submeter estrangeiros e brasileiros a uma Copa em 12 sedes.

O Brasil populista é mais megalomaníaco. As promessas ufanistas são típicas do populismo, de direita ou esquerda. Conclamar as massas ao patriotismo e a cerrar fileiras contra inimigos internos ou externos é um recurso primário, que já deu muito errado na história da humanidade.

A Copa mais bilionária das Copas passa a atrair, no gramado esburacado das ruas, a ira de uma população descontente e dos vândalos de ocasião. As cenas em Pernambuco, de saques de multidões, durante a greve da PM, são assustadoras, pela anarquia e pelos risos dos assaltantes, muitos menores de idade ou pais e mães.

É essa a população que se beneficia das bolsas do governo do PT? Imagens e relatos de um país lúmpen rodam o mundo. As fezes, lixos e pneus no mar, lagos e baías. Os ônibus depredados e incendiados. As lojas e escolas fechadas por medo de violência. As filas da vergonha nos hospitais públicos. Os confrontos sangrentos nas favelas. O vaso sanitário arremessado em pleno estádio, que matou um torcedor. Não foi uma banana, foi uma privada.

Por enquanto, a Copa das Copas se traduz pelo lado negativo. O maior atraso do mundo nas obras de estádios e aeroportos. A maior desorganização e falta de planejamento. O maior número de operários mortos. As maiores manifestações contra a Copa. Os maiores problemas nos aeroportos inacabados. Os custos mais altos. Os maiores preços nos hotéis. É o mega-Brasil em ação. Pra frente Brasil, salve a Seleção.

O grau de frustração segue o grau de promessas não cumpridas. Não fique de queixo caído, pessoal do Planalto. É só puxar pela memória e ler. A Refinaria Premium 1, no Maranhão, anunciada com estardalhaço por Lula e Dilma em 2010, deveria ser "a maior do país". Uma megarrefinaria. Deveria gerar 25 mil empregos. Está parada. Foi orçada em R$ 38 bilhões pela Petrobras. O mesmo aconteceu com muitas obras.

Uma sondagem da Fundação Getulio Vargas revelou que o Brasil terá o terceiro pior PIB da América Latina neste ano. É a pior avaliação desde 1999, segundo a FGV.

A coisa está tão feia que a presidente Dilma Rousseff, gerentona do caos, fez um apelo na quinta-feira, para que os brasileiros recebam bem os torcedores nacionais e estrangeiros durante a competição. "Ninguém que vem aqui leva consigo, na sua mala, aeroporto, porto, obras de mobilidade urbana e estádios. Eles podem levar na mala a garantia de que este é um povo alegre e hospitaleiro." Dilma disse que o Brasil não vai explodir, mas sim bombar em 2015. Já está bombando, mas o cheiro é de gás lacrimogêneo. O Brasil é a terra do improviso, segundo a imprensa estrangeira. Alguém discorda?

Já se prevê um festival de vaias. Dilma é vaiada. Pelé é vaiado. Bem capaz que Lula também seja. Ler que o governo Dilma prepara um Centro Integrado para proteger os turistas na Copa faz pensar no que o brasileiro enfrenta todos os dias, sem megaevento. Enfrenta uma megazona.

O Brasil sempre será assim? Só 41% das 167 intervenções prometidas para a Copa estão prontas, a 30 dias da competição. Precisamos enfeitar o passe e dar toque de calcanhar, mesmo com a meia puída. A criatividade, para ser eficaz, exige enorme disciplina. Caso contrário, até o futebol vira caricatura de nós mesmos.

Pela primeira vez em 23 anos, os clubes brasileiros estão ausentes das semifinais da Libertadores. O período de treino da Seleção para a Copa é o mais curto desde 1930 - apenas 18 dias. Só quatro dos 23 convocados por Felipão jogam no Brasil. Sete jogadores brasileiros lutarão contra os canarinhos, com uniformes de seleções estrangeiras.

Há um descrédito profundo no jeitinho verde-amarelo. Não precisamos virar alemães ou japoneses. Eles não são ideais de nada se contemplarmos a História. Podemos ser melhores se reivindicarmos com firmeza e serenidade nossos direitos. Sem cair na lorota de políticos caras de pau. Porque pernas de pau não somos. Quem sabe será esse o verdadeiro legado da Copa?

Falha partilhada - CELSO MING

O Estado de S.Paulo - 20/05

Não se discute mais o fracasso do arranjo econômico empreendido pelo governo Dilma, caracterizado pela ênfase excessiva no consumo, derrubada voluntarista dos juros, desvalorização do real e fartos gastos públicos. O resultado desse coquetel é inflação puxada, que se mantém à altura dos 6% ao ano apesar da compressão de tarifas públicas, baixo avanço econômico e colapso de confiança (veja o gráfico). Até no miolo do governo, sempre avesso a reconhecimento de "falhas nossas", admite-se que há desarranjo na economia.

Mas o governo Dilma não produziu sozinho essas políticas. Foi amplamente respaldado pelos empresários e suas entidades de classe empenhados em reivindicar pacotes compensatórios para sua falta de competitividade e atraso tecnológico, sem que suas causas fossem atacadas.

Mesmo antes do governo Dilma, a Fiesp, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e os organismos que as assessoram vinham martelando por políticas protecionistas, por juros artificialmente baixos e câmbio fortemente desvalorizado, sem considerar que são medidas que tendem a produzir resultados contrários, especialmente a valorização da moeda (baixa do dólar), como lembrou o professor Affonso Celso Pastore em seu artigo no Estadão de domingo.

A discussão entre os empresários raramente foi pela adoção de políticas consistentes nas áreas fiscal, monetária e cambial, mas pela adoção de expedientes que supostamente contribuiriam para a redução dos custos de produção e pela barragem a produtos concorrentes.

A cada decisão do Copom, por exemplo, a Fiesp tinha prontas três notas oficiais. Se o Banco Central tivesse empurrado os juros para cima, soltava a que denunciava decisão irresponsável; se os reduzia, tinha sido um movimento insuficiente; se deixava onde estavam, a nota falava de falta de coragem. Raramente foi levada em conta a consistência da política de metas e suas exigências.

Os empresários foram os primeiros a aplaudir a desastrada decisão de redução de preços da energia elétrica de 2013. Sempre defenderam as tais políticas industriais que distribuíram créditos favorecidos do BNDES, subsídios, redução temporária de impostos ao consumo, reservas de mercado e exigências de conteúdo local. Há muito o empresariado não toma a iniciativa de propor um projeto amplo de expansão da infraestrutura e de formação de poupança. Apenas recentemente, o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) passou a defender políticas de crescimento sustentável da economia e da indústria.

Os governos do PT não podem ser acusados de terem desmantelado sozinhos o mercado externo da indústria. A indústria nunca questionou com firmeza a falta de empenho na negociação de acordos comerciais nem os arranjos bolivarianos com vizinhos. Não há empenho da protegida indústria de veículos de garantir o livre-comércio no Mercosul. E, ainda agora, reivindica acordos esdrúxulos com a Argentina, sem levar em conta que por trás das atuais mazelas estão agudas crises de demanda, tanto lá como cá. Os empresários também têm de ser responsabilizados pelo que chamam de processo de desindustrialização do Brasil.

Economia no 'volume morto' - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 20/05

País cresce ainda porque governo usa reserva 'morta', como SP faz para evitar falta d'água


ESTÁ MAIS FÁCIL de acreditar que vai chover no inverno aqui no Centro-Sul do país do que esperar uma surpresa boa cair do céu na economia. A confiança do empresário industrial continua a cair, aliás está no vermelho, segundo a sondagem da Confederação Nacional de Indústria, que divulgou ontem seu levantamento para maio.

O desânimo apenas não é maior que o de 2009, ano de choque e espanto mundiais e de recessãozinha no Brasil. Mas note-se que a série dessa pesquisa da CNI começa em 1999. Logo, cobriu anos horríveis, como 2001 e 2002. O desânimo, portanto, parece anormal, ainda que se leve em conta que o nível de produção da indústria não é hoje muito maior do que era em 2008.

Outra sondagem do gênero, da FGV, indicava em abril que a confiança recuara para níveis também de 2009.

Os dados de maio, a respeito do ânimo de consumidores e empresários industriais, saem no final desta semana.

Tais sondagens não dão sinais muito bons sobre o futuro próximo da produção, mas indicam qual o andar da carruagem do mês a que se referem. Não auguram boa coisa para abril e maio, pois. O nível de desânimo é maior no Sudeste.

A última informação a respeito do resultado real da indústria refere-se a março (na pesquisa do IBGE). A indústria caiu em relação a março de 2013. No primeiro trimestre, encolheu em relação ao último trimestre de 2013. O emprego industrial recuou em março. A coisa anda feia especialmente no Sudeste, em particular em São Paulo.

É por esta época, maio, junho, que as previsões médias dos economistas costumam ficar mais certeiras a respeito do resultado final do ano. Trata-se aqui da centena de estimativas recolhidas semanalmente pelo Banco Central, compiladas no relatório chamado Focus. Prevê-se que a economia deva crescer 1,6% neste ano, com inflação de 6,4%.

O próximo resultado do PIB virá já com métodos e números revisados pelo IBGE, o que deve causar certa bagunça nas previsões (acredita-se que a economia cresceu algo mais que os 2,3% de 2013, talvez 2,8%, por exemplo). Ainda assim, pelo conhecimento possível com os dados atuais, estima-se que a economia piorou em relação ao ano passado.

Nada disso causa muita comoção "nas ruas", seja entre quem apenas trabalha ou entre aqueles que fazem ou apoiam protestos. A economia seca como os reservatórios d'água em São Paulo.

Ou seja, a situação está difícil, mas não causará revolta específica enquanto a seca não chegar à torneira, enquanto não houver desemprego, enfim.

Mas "falta água" ali e aqui. Vendem-se menos casas, escritórios, galpões e lojas sobram vazios, sem quem queira alugá-los. Menos gente trabalha, não se sabe bem o motivo. As vendas dos supermercados crescem mais devagar, embora ainda a um ritmo razoável.

A seca não chegou à economia em parte porque o governo federal usou o "volume morto", subsídios, reduções de impostos para empresas, endividamento para outros fins (sociais inclusive), para nem falar dos tabelamentos de preços. Isto é, empurra os problemas para frente. Não resolve nada; a conta fica mais cara, mas fica para amanhã.

O sofisma de Thomas Piketty - CARLOS ALEXANDRE SÁ

O GLOBO - 20/05

A mobilidade social me parece muito mais importante do que a distribuição de renda, pois não desestimula o esforço pessoal


Ganho uns poucos milhares de reais com os livros que escrevi, ao passo que o Thomas Piketty deve estar faturando milhões de euros com um único livro. Um detalhe importante é que, embora seu livro deva ter dado muito trabalho, envolveu um risco financeiro relativamente pequeno, já que tudo o que tinha a perder era o seu tempo. Em outras palavras, se seu livro fosse um fracasso, Piketty não quebraria por causa disso. Do ponto de vista financeiro, está sendo muito ganho para pouco risco.

No entanto, ele merece cada centavo que está ganhando e é justo que ganhe mais do que eu, pois seu livro é muito mais importante do que os meus. Um caso típico da meritocracia que ele critica. Já ele, se for coerente com o que prega, deve achar essa diferença de ganhos uma injustiça social a ser combatida. E já que perguntar não ofende: será que o Tom Piketty estaria disposto a transferir para minha conta bancária uma parcela expressiva de seus ganhos?

Em minha opinião, “O capital no século XXI” está fazendo esse sucesso todo por dois motivos. Primeiro, porque o livro é realmente muito bom. Não repete o que outros já disseram, não é mais do mesmo. Muito pelo contrário, diz o que ninguém havia dito, e, assim, expande as fronteiras do conhecimento. Como diriam os americanos, é uma obra “fora da caixa”. Só isso já justificaria seu sucesso. Mas, tem mais. O livro deu às esquerdas o referencial teórico de que tanto precisam para criticar os regimes liberais, cujo sucesso tanto as incomoda. E com razão. Afinal, qual o país socialista com mais de 50 milhões de habitantes que possui uma distribuição de renda melhor do que a Inglaterra, a França, o Japão ou a Coreia? Citar a Suécia como um exemplo de socialismo bem-sucedido não é válido, pois é um país com apenas dez milhões de habitantes, que nunca teve escravidão e possui uma imigração mínima. Na Suécia, os imigrantes vindos da África subsaariana não chegam a 50 mil, ou seja, caberiam em um estádio de futebol. Não dá para comparar com os Estados Unidos, que possuem cerca de 300 milhões de habitantes, tiveram escravidão durante séculos e é o país que recebe mais imigrantes no mundo.

Ao comparar rendimento de capital com rendimento de trabalho, o livro traz um sofisma, já que compara duas coisas de naturezas distintas. O rendimento do trabalho assalariado é uma renda contratada. Já o lucro é uma renda residual. A empresa pode ir bem ou mal e seus empregados receberão seus salários e, em caso de falência, serão considerados credores preferenciais. Já os acionistas só recebem o que sobrar depois que todos os credores (o governo incluído) forem pagos. Além disso, para cada empresa que tem sucesso, são aproximadamente cinco que fracassam. Ora, se os riscos são diferentes, é justo que os retornos também o sejam.

Outro aspecto interessante a ser observado é que o livro dá muita ênfase à distribuição de renda e pouca à mobilidade social. Ora, a mobilidade me parece muito mais importante do que a distribuição, pois não desestimula o esforço pessoal. Os estudos sobre mobilidade social devem abranger não apenas os casos de sucesso na ascensão social, mas, também, o decesso dos que eram ricos e agora não são mais. O Brasil é rico de exemplos neste sentido. Na primeira metade do século passado, antes de o país se industrializar, muitas pessoas, por terem boas relações, ganharam fortunas representando empresas estrangeiras. Com a industrialização, elas vieram para cá, e quem não tinha capacidade técnica ou empresarial perdeu sua fonte de lucros. Hoje, vemos muitos descendentes desta antiga aristocracia em dificuldades financeiras.

Finalmente, um último alerta. A teoria do imposto global e progressivo sobre a renda nunca foi testada na prática. Ao achatar o topo da pirâmide, pode estar desestimulando aqueles que têm disposição para assumir riscos e, dessa forma, comprometer a produção de riqueza sem a contrapartida da equidade social.

Por que não a Justiça? - JOSÉ RENATO NALINI

O Estado de S.Paulo - 20/05

Este, que é o grande jornal brasileiro, promoveu uma série de entrevistas com economistas para que encarassem os desafios do próximo governo. Autoridades consagradas e respeitadas ofereceram suas receitas para o generalizado mal-estar que contamina todos os setores da vida nacional. Entre as propostas de imprescindível reforma figuram a tributária, a da Previdência e a trabalhista, além da reforma política, sem a qual as anteriores não prosperarão. Ninguém, todavia, se deteve sobre uma reforma que, em profundidade e consistência, ainda não se fez: a reforma da Justiça brasileira.

Será que não tem impacto econômico o funcionamento de um sistema de Justiça que produziu quase 100 milhões de processos, atravancando todos os juízos e tribunais da República? Será que desapareceu o "custo Brasil" da Justiça a, primeiro, amedrontar e, depois, afugentar o investimento externo?

Ainda estes dias recebi uma comitiva de magistrados da China. Depois de esclarecerem que o Brasil não precisa temer seu país, cuja tradição histórica é pacifista, quiseram saber alguma coisa do funcionamento da máquina judiciária. Disseram que o Brasil convida o empresário chinês a investir no Brasil. Mas, depois que ele chega aqui e se surpreende com a burocracia, fica perplexo com a facilidade com que se discutem no Judiciário questões que já foram acordadas nos contratos. Mas a maior surpresa é a de que um juiz suspende o cumprimento da avença e o outro libera. Na segunda instância, um tribunal mantém a decisão do primeiro juiz, mas outro colegiado a substitui pela decisão do segundo. E assim vão, de um polo a outro, até vencerem as quatro instâncias e as dezenas de possibilidades recursais de reapreciação do mesmo tema. Culminaram por indagar: "Mas a lei não é a mesma?".

Como explicar aos chineses que nossa Constituição é dirigente e principiológica, abriga valores antagônicos, cuja conciliação só é possível se adotarmos estratégias denominadas otimização, ponderação, racionalidade, proporcionalidade e outros instrumentos do neoconstitucionalismo? Eles são sedutores exercícios de sofisticada elaboração doutrinária, a redundar em eloquentes posturas jurisprudenciais. Mas justificam a validade de todo e qualquer ato decisório, desde que bem fundamentado. Será que os chineses conseguem absorver a complexidade de um Brasil que se converteu no território livre da hermenêutica?

Penso haver lugar para refletir sobre a excessiva judicialização, que priva a sociedade de capacidade de dialogar e de ser protagonista de seus próprios interesses, em lugar de se conformar com a posição de objeto da vontade do Estado-juiz. Também seria interessante questionar o sistema normativo, prolífico e complicado, insuscetível de uma consolidação, pois o Brasil não tem condições de definir o que está vigendo ou não. Há pouco tempo deixamos de concluir todo ato normativo em sentido estrito com a expressão "revogam-se as disposições em contrário", sem especificar quais seriam tais dispositivos.

Será que o processo, concebido como instrumento de realização do justo concreto, não se tornou preponderante em nosso sistema? Quem é que poderia calcular a porcentagem de decisões, em todos os níveis e em todos os ramos da Justiça, que terminam apenas processualmente, deixando intacto ou ainda mais agravado o conflito originador da demanda? Os sociólogos e antropólogos poderiam explicar se há razão de ser para que, em Estados-Nação mais adiantados, o ofendido lance um repto ao ofensor dizendo "vou levá-lo à Justiça" ou "vamos nos encontrar no tribunal", enquanto no Brasil é o infrator que diz ao lesado "vá procurar seus direitos!"?.

Como explicar que alternativas tais quais os juizados especiais, cujos parâmetros são a oralidade, a singeleza, a preferência pela conciliação e a rapidez, sejam contaminadas pelo único defeito consensual da Justiça convencional, ou seja, a sua invencível lentidão? Qual seria a razão pela qual se oferece uma resistência clara ou disfarçada a soluções informais, como a conciliação, a mediação, a negociação, a transação e tantas outras, como se a única opção para quem se sente injustiçado fosse o burocratizado, complicado e demorado processo judicial?

É racional que os processos findos devam ser conservados por tempo além do razoável ou por toda a eternidade, com isso onerando um orçamento já sacrificado pela crônica insuficiência de recursos financeiros, desviando verbas preciosas para armazenar papel velho? Qual o argumento que superaria a inafastável constatação de que os seres humanos são destinados a voltarem ao pó e que, sob essa concepção, o papel é mais importante, porque terá duração infinita? Existe explicação convincente para a preservação de modelo judicial que distribui milhares - ou mesmo milhões - de ações praticamente idênticas, entre centenas de julgadores de igual nível hierárquico, e que não haja consenso entre eles, para que o interessado não seja surpreendido por essa álea hoje existente? A depender da distribuição, o resultado será um. Se intervier a sorte, a resposta será outra e em sentido contrário.

Resiste a uma plausibilidade em termos de eficiência admitir longos ou mesmo intermináveis conflitos de competência, ou seja, discussões sobre qual Justiça ou qual julgador de um mesmo tribunal é o "competente" para decidir, se o que interessa à parte é somente uma resposta à sua pretensão? Um observador isento e provido de sensatez encontrará muitas outras questões a serem analisadas no funcionamento da Justiça brasileira. Todas elas talvez suscetíveis de merecerem tratamento mais adequado. Justiça é serviço estatal, sustentado pelo povo, para resolver seus problemas. Não precisa ser mais complicado do que isso.

Seria recomendável que O Estado de S. Paulo, sempre pioneiro no enfrentamento das grandes questões nacionais, também se interessasse pela inadiável profunda reforma estrutural da Justiça brasileira. Dela adviria um salto qualitativo para a própria saúde da República.

Trapalhada do MEC - RONALD GUIMARÃES LEVINSOHN

O GLOBO - 20/05
Ministério causou confusão no setor

Dias antes de o senador Aloizio Mercadante ser promovido para a Casa Civil, professores, funcionários e alunos da Universidade Gama Filho e da UniverCidade, em greve por salários atrasados, invadiram o gabinete do então ministro da Educação. Exigiam que a mantenedora Galileo fosse federalizada através de medida provisória.

A Galileo é uma sociedade de papel, sem qualquer ativo, criada há apenas três anos, pertencente ao bispo Adenor Gonçalves dos Santos, sem experiência no ensino universitário e sem currículo adequado para ser empresário de educação. Entretanto, ele foi aprovado e festejado pelo baixo clero do MEC.

A mídia destacou a balbúrdia durante dias e, à medida que se aproximava a posse de Mercadante no Palácio do Planalto, as exigências dos grevistas aumentavam e a barulheira tomou conta das ruas. Como o pleito dos grevistas é vedado pela Constituição, o ministro e a Nomenklatura do MEC não puderam atender seus correligionários, e preferiram impor punição maior à Galileo: o descredenciamento dos cursos, ou seja, a decretação de uma falência indireta das duas instituições envolvidas. A Galileo, que emitiu debêntures de R$ 100 milhões mediante a garantia das mensalidades do curso de Medicina da Gama Filho, ficou impossibilitada de pagá-los. O MEC, além de causar confusão no setor, impingiu prejuízo aos fundos Postalis e Petros, que haviam adquirido tais debêntures.

Sem o devido processo legal em razão da pressa de blindar a promoção do ministro Mercadante, é bem possível que o ato do MEC, quando submetido aos tribunais, gere indenização e vultoso precatório.

Se o MEC tivesse a Expertise do Banco Central para atuar no mercado, tudo teria sido feito em silêncio, apontando ao bispo Adenor um comprador para as instituições que administrava - inclusive os próprios antecessores, corresponsáveis pelo pagamento dos débitos fiscais e trabalhistas, e que poderiam ter posto os salários imediatamente em dia.

O mais grave é que a Galileo não cumpriu as obrigações previstas nos contratos que celebrara com as sociedades mantenedoras, e a Justiça certamente os anulará, devolvendo a Associação Educacional São Paulo Apóstolo (Assespa), antiga mantenedora da UniverCidade, e a Sociedade Universitária Gama Filho, mantenedora da Gama Filho, aos seus antigos associados.

O volumoso débito das citadas sociedades poderia ser pago através do Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento das Instituições de Ensino Superior, a longo prazo e mediante concessão de bolsas de estudo e dinheiro. A Assespa possui imóveis em valor superior a seus débitos fiscais e trabalhistas. Igualmente, a família Gama possui, em nome de sociedade constituída em paraíso fiscal, imóveis em valor superior ao débito.

Quem sabe o senador Mercadante, já instalado no Palácio do Planalto, e o atual ministro da Educação, já consolidado no Ministério da Vergonha Nacional, encontrem um caminho para desfazer a atrapalhada decisão. Parece coisa de aloprados.

MEU CANDIDATO! AÉCIO NEVES PRESIDENTE


O estrago que Meirelles faria - ELIANE CANTANHÊDE

FOLHA DE SP - 20/05

BRASÍLIA - José Serra demorou duas semanas, pelo menos, para dizer que "nunca" pensou em ser vice de Aécio Neves. Donde se conclui que a ideia animou círculos tucanos, mas não colou, provavelmente por não encantar o próprio Aécio.

O novo nome na roda é o de Henrique Meirelles, que vai seguindo assim o exemplo do "dono" do PSD, Gilberto Kassab, disputado a foice por tucanos e petistas.

Como Kassab, Meirelles ganha direito a promessas do poderoso Lula, entra na mira da campanha de Dilma, recebe elogios públicos de Aécio e conquista bom espaço na mídia.

Compare-se a reação do candidato tucano. Quando o nome de Serra vazou para a imprensa como opção, Aécio se fez de desentendido, elogiando Serra, mas escapulindo de admitir a possibilidade. Já quando o nome de Meirelles chega a público, Aécio não só o elogia como admite "conversar" a respeito.

Serra seria forte, pelo "recall", pela densidade. Mas Meireles, ex-BC, tem imensa vantagem: ele atinge o coração da campanha petista.

Maestro da política econômica na época da euforia com Lula, ele é um contraponto desconfortável para a era Dilma, que se debate com crescimento baixo, inflação alta, dúvidas e mau humor.

Aliás, uma sugestão: a leitura do artigo imperdível de Meirelles na Folha de 11/5, "Pecados nada originais". É uma crítica clara, assumida, contra a "nova matriz econômica" inventada no governo Dilma.

Meireles seria, pois, um troféu da dissidência que já ronda a candidatura Dilma. Não só mais um entre os mais de dez ministros lulistas que não votam na reeleição da presidente, mas "o" ministro. E poderia puxar a fila dos partidos que estão com Dilma, mas atentos às pesquisas.

Logo, Meirelles seria um vice fantástico para Aécio e devastador para Dilma. Por isso, Lulinha ex-paz e amor vai com tudo para segurar Meirelles e também Kassab, que nunca se divertiu tanto como em 2014.

Razão e emoção - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 20/05
No limiar do que promete ser a disputa mais acirrada para a Presidência da República dos últimos 20 anos, estamos entrando em uma campanha política em que os recursos da moderna propaganda serão usados à exaustão para explorar as descobertas mais recentes da neurociência, que já definiu que o eleitor vota mais com a emoção do que com a razão.

O sociólogo Manuel Castells, baseado também em estudos da neurociência, diz que o medo é a emoção primária fundamental, a mais importante de nossa vida a influenciar as informações que alguém recebe.

O livro de John Mearsheimer sobre o hábito de mentir dos governantes, da Editora Zahar, debruça-se sobre o que ele chama de mentiras estratégicas , e uma das muitas facetas dessas mentiras para o bem da pátria é a difusão do medo.

Está aí a raiz da recente propaganda partidária do PT, apelando para o receio do que classificam de retrocesso caso a sigla seja derrotada nas urnas. Para se contrapor à tendência à mudança que as pesquisas apontam como a principal motivação para o voto nesta eleição.

É interessante observar que, embora esteja na frente nas pesquisas, a presidente Dilma concorre à reeleição com dificuldades que a fazem dizer uma frase como a revelada por Renato Maurício Prado no GLOBO, num encontro da presidente com jornalistas esportivos recentemente no Palácio da Alvorada em Brasília: É a minha hora. E vou até o fim. Perdendo ou ganhando .

As primeiras campanhas propagandísticas com vistas à reeleição foram realizadas com o objetivo de evitar a derrota, o que indica uma fragilidade que não seria de se supor em uma presidente de posse de todas as forças inerentes ao cargo que ocupa. O que revela que ela não tem pleno controle dessas forças.

Não é de estranhar que esse tenha sido o caminho escolhido pelo marqueteiro João Santana, que já admitiu certa vez que, numa campanha, trabalham-se produções simbólicas , tentando captar o imaginário da população , não exatamente a verdade dos fatos.

Nessa guerra que se avizinha, como em todas as guerras, a verdade é a primeira vítima, na frase famosa atribuída geralmente ao senador americano Hiram Johnson. Em sua obra A República , Platão afirma que os governantes têm o direito de não dizer a verdade para os cidadãos, e até mesmo de mentir no interesse da própria cidade .

O governo Dilma leva essa permissão platônica ao pé da letra e cria um mundo de ficção que esbarra na realidade. É o caso dos aeroportos, que Dilma declarou ontem prontos para receber os milhões de turistas esperados para a Copa.

É por isso que estamos vendo um verdadeiro festival de traições nos bastidores da política, à medida que a campanha eleitoral vai se aproximando das datas marcadas pelo calendário oficial para a definição das candidaturas.

Quem mais sofre nessas situações é o governo, que tem mais a perder do que a depauperada oposição. A começar pelos minutos de propaganda oficial, que podem dar a Dilma quase três vezes o tempo do candidato em 2º nas pesquisas, o senador Aécio Neves, do PSDB.

Cada minuto retirado da principal oponente pode valer até o dobro para a oposição, e quem tem tempo de propaganda para negociar, como o PMDB (perto de 5 minutos) ou o PSD (cerca de 2 minutos), ganha dimensões políticas que a atuação parlamentar muitas vezes não justifica.

A vice-presidência da chapa tucana está na mesa de negociações, enquanto Michel Temer, do PMDB, o vice de Dilma Rousseff, precisa ser ratificado na convenção de junho para garantir aos governistas a hegemonia na propaganda partidária.

Correndo por fora, a dupla Eduardo Campos-Marina Silva joga com a rejeição aos políticos tradicionais para superar as barreiras logísticas impostas pela fragilidade de suas bases partidárias formais.

O que já desandou na estratégia política governista foi a realização da Copa do Mundo como instrumento galvanizador dos anseios nacionais. Ao contrário, as necessidades da população nos grandes centros urbanos do país contrastam com a orgia de gastos públicos nos 12 estádios, colocando em xeque, talvez pela 1ª vez na História do país tratando-se de futebol, as prioridades do governo, definidas em detrimento das mais prementes demandas da população.

A seleção não deixará de ser a pátria de chuteiras , na definição perene de Nelson Rodrigues, mas o patriotismo não servirá de refúgio para as deficiências do governo.

Ir a pé ou ir de trem - DORA KRAMER

O Estado de S.Paulo - 20/05

Convenhamos: no que mesmo o ex-presidente Luiz Inácio da Silva ajuda a campanha pela reeleição da presidente Dilma Rousseff quando trata com menosprezo questões que têm o apoio da população?
A capacidade de Lula de dizer coisas desprovidas de sentido é conhecida, faz parte do seu show. A novidade é a tendência de fazê-lo em contradição ao manual do populismo, cuja regra de ouro é dizer coisas que soem agradáveis, sábias e lógicas aos ouvidos da maioria.

Nessa fase em que volta com força à cena política convenientemente protegido por plateias simpáticas ou por entrevista à imprensa estrangeira que nem sempre dispõe de todos os dados da realidade nacional para contestá-lo, o ex-presidente tem fugido à sua prática de não entrar em divididas com o senso comum.

Há três exemplos recentes. Comecemos pelo último por ser, do ponto de vista dessa mudança de comportamento, o mais eloquente.

Se não falasse a blogueiros reverentes, mas a um público eclético que encontrasse na rua (onde, aliás, não tem circulado), Lula teria a ousadia de dizer que considera uma tolice (em expressão mais grosseira) as pessoas quererem estações de metrô nos estádios de futebol? Na melhor das hipóteses seria educadamente contestado. Na pior, estrepitosamente vaiado.

Nem o mais insensível integrante da "zelite" seria capaz de um pouco caso desta ordem: "Nós (os brasileiros) não temos problema em andar a pé". Os torcedores, acrescentou, vão aos estádios de qualquer jeito: "descalço, de bicicleta, de jumento".

Sim, e também vão de ônibus lotados, em seus carros para serem extorquidos pelos guardadores. Mas, por que precisam ter desqualificado o natural anseio por um maior conforto urbano? Ou Lula está dizendo que o brasileiro deve se conformar com pouco? Se não quis, disse. Que transporte público de qualidade é luxo desnecessário, dispensável para quem anda sem sapatos e, se preciso for, se locomove no lombo de jumentos. Certamente não por escolha.

Lula, por boa contingência da vida, conta com transporte terrestre e aéreo à disposição, trata da saúde no Sírio-Libanês e não enfrenta desconfortos do cotidiano. Nada contra, desde que não faça pouco caso de quem se ache no direito de querer algo além de comida (cara) no prato, serviços públicos de péssima qualidade e apelos à gratidão eterna para um governo que se tem na conta de inventor do Brasil.

No terceiro caso o ex-presidente fez uma conta em entrevista a uma jornalista portuguesa: o julgamento do mensalão foi 20% jurídico e 80% político. Pois segundo as pesquisas, é mais ou menos este último o porcentual de brasileiros que consideram o resultado justo.

O apoio quase unânime da população às condenações feitas pelo STF significa reconhecimento de que houve um tratamento equânime no julgamento de crimes cometidos por poderosos, algo que vai ao encontro de uma aspiração civilizatória. As pessoas se sentiram bem.

Repetindo o raciocínio acima: o ex-presidente teria coragem de repetir - e mais, justificar - essa argumentação em discurso para público não selecionado previamente? Dificilmente.

Assim como seria de se ver para crer se Lula defenderia o controle dos meios de comunicação que, segundo ele, tratam com "desrespeito" a presidente Dilma Rousseff, diante das mesmas plateias que a têm recebido com vaias.

Ressurreição. Para o governo não é uma boa notícia a ordem do ministro Teori Zavascki para soltar os presos da Operação Lava Jato, notadamente o doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa.

Até agora quem porventura teme o que teriam a dizer estava salvo. Soltos, serão alvo de pressão para falar no Congresso. Seja em alguma das CPIs para investigar a Petrobrás ou nas comissões da Câmara e do Senado. O assunto ganha novo gás.

Diante do espelho - JOSÉ CASADO

O GLOBO - 20/05

‘O que aconteceu?’ — talvez seja a melhor pergunta que a candidata Dilma possa fazer para a presidente. Resposta sincera seria confissão, sem absolvição


Começa amanhã uma nova rodada de pesquisas de intenção de voto em todo o país. PT, PSDB e PSB informam não apostar em surpresas na tendência do eleitorado quanto à disputa presidencial. Concentram atenção na expectativa de mudanças a partir de 2015.

Por isso, pesquisadores do Ibope, por exemplo, voltam às ruas de mais de 700 cidades com uma pergunta objetiva: “Gostaria que mudasse totalmente o governo do país?”

Mês passado, mais de dois terços (68%) dos entrevistados do Ibope disseram esperar alguma mudança na forma de governar o país. Quando questionados se desejavam mudar “com Dilma no governo ou com outro presidente’’, 64% indicaram “outro presidente’’, 25% citaram “Dilma” e 11% não souberam dizer ou não responderam.

Esse retrato, confirmado em outras pesquisas, mostra um ambiente político diferente — e contrário — ao dos meses anteriores à eleição de Dilma Rousseff, em 2010, quando a simples continuidade de governo era percebida como um valor. Na prática, reafirma-se hoje algo perceptível nas ruas desde o ano passado.

Avançou a percepção de perda de horizonte de progresso pessoal e coletivo. Em campanha, isso dá realce à crítica sobre a gerência rudimentar do governo em serviços básicos como saúde, educação, transporte e segurança, pelos quais se paga 36% do Produto Interno Bruto em tributos — carga equivalente à média da Europa.

As pesquisas, em geral, espelham uma ansiedade por crescimento econômico com serviços públicos de melhor qualidade.

Nos últimos três anos o país cresceu à média de 1,9% (aumento do PIB, descontada a inflação). Esse ritmo de avanço é dos menores da história da República, demonstra Reinaldo Gonçalves no livro “Desenvolvimento às avessas’’.

Ao comparar o desempenho de Dilma com o de outros 29 presidentes, no período entre 1890 e 2014, ele conclui que o atual governo estacionou em 28º lugar, com o terceiro pior desempenho da história republicana: “Só não perde para os de Fernando Collor (queda de 1,3% no PIB) e Floriano Peixoto (declínio de 7,5%).”

Sob Collor, ressalva, o país enfrentou crise institucional (com impeachment), e com Floriano atravessou autêntica guerra civil — “a capital (o Rio) foi bombardeada durante seis meses’’.

O quadro não melhora quando o Brasil de Dilma é observado no mapa-múndi. Entre 2011 e 2013, a economia brasileira cresceu 2,5%; e a mundial, 3,5%.

O país (com 1,9%) ficou abaixo da metade da média de crescimento (4,3%) de 152 países em desenvolvimento — entre os 188 acompanhados pelo Fundo Monetário Internacional, esclarece Gonçalves. A situação permanece ruim quando se compara à vizinhança: os 32 países da América Latina e do Caribe cresceram muito mais (3,2%).

Em 2010, Dilma Rousseff se apresentou, com êxito, como melhor alternativa para “gerenciar” o progresso dos brasileiros. Hoje, informam as pesquisas, apenas um em cada quatro eleitores a reconhecem como opção para realizar as mudanças desejadas. “O que aconteceu?” — talvez seja a melhor pergunta que a candidata Dilma possa fazer para a presidente na intimidade do espelho. Resposta sincera seria confissão, sem absolvição.

Comício do plano-safra - EDITORIAL O ESTADÃO

O Estado de S.Paulo - 20/05

Em mais um comício patrocinado pelo governo, a presidente Dilma Rousseff aproveitou o lançamento do Plano Agrícola e Pecuário 2014/2015 para falar da contribuição do PT à criação de uma agricultura eficiente e competitiva, como se nada ou quase nada tivesse ocorrido nos 30 anos anteriores à chegada dos petistas ao poder. A cômica versão dilmista do "nunca antes na história deste país" pode ter enganado algum cidadão patologicamente desinformado. Como outras patranhas petistas, é fácil de desmenti-la com dados oficiais de produção e produtividade. Se a intenção fosse apenas lançar mais um plano de apoio à produção, como se faz todo ano, a comparação com o governo tucano - de resto ingênua e inepta - teria sido dispensável. A referência foi obviamente mais um lance eleitoral, mas a oradora havia sido mal instruída sobre temas como produção e produtividade.

A presidente mencionou "dificuldades" no início da gestão petista para "fazer uma política de crédito adequada". Além disso, comparou a produção de grãos e oleaginosas no ano anterior à posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva - 96,8 milhões de toneladas em 40,2 milhões de hectares - com a estimada para este ano, 191,2 milhões em 56,4 milhões de hectares. "Tamanho crescimento da produtividade somente é possível com muita pesquisa e muito trabalho qualificado", pontificou. Trabalho de quem: do governo petista?

Para falar sobre produção e eficiência a presidente deveria ter mobilizado mais informações. Isso teria servido para ilustrá-la um pouco mais e talvez poupá-la de algumas bobagens. Síntese dos fatos: a produção cresceu mais nos anos 90 que na década seguinte e mais neste segundo período que nas três safras de 2010/11 a 2013/14.

A transformação da agropecuária brasileira numa das mais eficientes e competitivas foi trabalho de décadas. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) foi fundada nos anos 70. Resultados de seu esforço começaram a tornar-se visíveis nos anos 80 e apareceram ainda mais claramente nos 90. Uma das consequências foi a redução do peso dos alimentos no orçamento familiar, fato logo registrado pelos institutos de pesquisa de preços.

Na safra 1990/91, o País colheu 57,9 milhões de toneladas em 37,89 milhões de hectares. Em 2000/01, a produção chegou a 100,27 milhões de toneladas, em 37,85 milhões de hectares. A produção cresceu, portanto, 73,17%, enquanto a terra cultivada diminuiu ligeiramente.

Entre as safras de 2000/01 e a de 2010/11, o total produzido aumentou 62,63%, para 162,8 milhões de toneladas, e a área ocupada cresceu 31,75%, para 49,87 milhões de hectares. A produção cresceu rapidamente, mas os ganhos de produtividade foram obviamente muito mais lentos. A safra 2013/2014 está estimada em 191,2 milhões de toneladas (mais 17,44%). A área usada passou a 56,4 milhões de hectares (aumento de 13,09%). A produção por hectare expandiu-se em média pouco menos que 1,2% ao ano nesse período. No decênio anterior, a taxa média havia sido de 2,1%.

Não cabe discutir agora se a presidente Dilma Rousseff distorceu os fatos intencionalmente ou, como ocorre com frequência, por mera ignorância. De toda forma, se ela de fato estivesse interessada em contar a história tal como se passou, teria de mencionar o esforço do presidente Lula para aparelhar a Embrapa para permitir a reorientação ideológica de seu programa de pesquisas. Teria citado o apoio a invasores de terras e a insegurança criada entre os produtores rurais por erros políticos dos governos petistas.

Teria lembrado também os longos anos sem investimento em logística (o PT está no poder desde 2003) e os enormes problemas dos exportadores, nos últimos anos, para embarcar seus produtos.

Era objetivo da presidente, sabia-se desde antes do discurso, conquistar o apoio eleitoral dos empresários do agronegócio. Por segurança, cuidou também dos interesses da indústria automobilística, anunciando a renovação de crédito especial para equipamentos. Esse tipo de apoio à modernização agrícola está longe de ser uma inovação petista, embora alguns jovens desprevenidos até possam acreditar nisso.

Burocracia agrava efeitos da seca no Nordeste - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 20/05

Moradores dos locais em que poços foram perfurados continuam a depender de caminhões-pipa, devido à lentidão de diversos órgãos públicos



O gigantismo do Estado brasileiro é tema conhecido. Não apenas pelo fato de a própria formação histórica do país ter reservado um papel extremo ao poder público, uma herança da Coroa portuguesa, como pela sua ingerência na esfera privada de todos, cidadãos e empresas. Nos últimos tempos, dada a prevalência da visão estatista em Brasília, o Estado tem atuado numa infinidade de campos: na formação de preços de bens e serviços, até naquilo que o brasileiro pode ou não comprar nas farmácias, e assim por diante.

Para exercer uma miríade de funções, há uma gigantesca máquina burocrática, a qual, apenas no Executivo, abriga quase um milhão de servidores ativos, dado de 2012. Nos chamados “cargos de confiança” — preenchidos sem a necessidade de concurso, geralmente usados para empregar militantes políticos aliados ou mesmo familiares —, há aproximadamente 22 mil pessoas. No início do primeiro governo Lula, eram 18 mil.

Um argumento a favor desta obesidade estatal é que um país com os desníveis sociais e precariedades do Brasil requer mesmo governos superlotados de servidores para mitigar as carências do povo. Balela. No domingo, O GLOBO trouxe a história emblemática de um programa de perfuração de 21 poços profundos para retirar água no interior do Nordeste. Anunciado em reunião da Sudene pela presidente Dilma, em abril de 2013, em meio a uma das piores secas na região, o mais do que necessário programa é um fracasso. E não porque inexista água no subsolo.

Como é praxe no mundo dos gastos públicos, a óbvia urgência do projeto justificou a perfuração de 17 dos poços sem concorrência — o que sempre dá margem a negócios escusos. Mas pelo menos parte do trabalho foi feita. O problema mais grave viria depois, quando o programa, como tantos outros, atolou na lama espessa da burocracia deste Estado onipresente.

Há 14 poços concluídos mas que não produzem uma gota de água porque faltam bombas ou energia elétrica ou adutoras ou tudo. O excesso de órgãos e a própria arraigada cultura da burocracia pátria conseguiram travar o programa. De “urgente”, a perfuração dos poços parou em gavetas de autarquias e departamentos, nem todas no âmbito do Ministério da Integração Nacional, responsável direto pelo programa. Os obstáculos são inúmeros. Municípios pequenos, por exemplo, como vários da região, têm de buscar dinheiro na Fundação Nacional de Saúde (Funasa) para construir adutoras e instalar redes de abastecimento. E de lá os recursos não são liberados com facilidade.

Dessa forma, os moradores dos locais em que os poços foram abertos continuam a depender da visita de caminhões-pipa para encher vasilhames e estocar água em casa, enquanto esperam a burocracia.

No aspecto político, o lançamento do programa deve ter rendido muito discurso a favor do povo. Mas água que é bom, nada. Apesar de o Estado brasileiro custar 40% do PIB.

Insistir na transparência - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 20/05

Desde maio de 2012, a população brasileira tem a sua disposição a Lei de Acesso à Informação, que obriga o Estado a prestar contas de suas atividades. Em vigor há dois anos, a norma ainda enfrenta alguns obstáculos no poder público.

A ONG Artigo 19, dedicada a promover a liberdade de informação, avaliou 51 órgãos federais do Executivo, Legislativo e Judiciário. Levando em conta tanto a quantidade de pedidos de informação atendidos como a qualidade das respostas oferecidas, a entidade concluiu que há aspectos a serem melhorados nos três Poderes, embora não deixe de reconhecer avanços.

Coube à Justiça o pior desempenho no levantamento. Tradicionalmente o mais fechado dos Poderes, o Judiciário já teve destaque positivo em balanços da Lei de Acesso.

Em 2013, por exemplo, verificou-se que quase todos os Tribunais de Justiça davam publicidade aos vencimentos de seus membros. Decisões judiciais, além disso, têm ajudado a garantir o cumprimento dessa legislação de controle social.

A julgar pelo relatório da Artigo 19, contudo, o Judiciário deixou de progredir. De um total de 106 pedidos que lhe foram enviados, 84 foram respondidos. No Executivo, houve resposta a 346 das 350 demandas; no Legislativo, todas as 18 requisições foram atendidas.

Embora tenham sido consideradas 11 instituições relacionadas à Justiça --incluindo Ministério Público Federal e órgãos de controle--, 21 das 22 recusas vieram dos cinco tribunais regionais federais.

Do ponto de vista quantitativo, os números como um todo são auspiciosos. O quadro piora, porém, quando se analisa a qualidade da informação que o cidadão recebe. Na média dos três Poderes, 66,7% das solicitações foram consideradas satisfatórias; no Judiciário, o percentual é de 54,7%. Ou seja, em boa parte dos casos as respostas são incompletas ou inadequadas.

A transparência da Justiça --nesse caso, ao lado do Legislativo-- também frustra quanto às informações que deveriam estar disponíveis em local de fácil acesso e via internet, como gastos orçamentários.

Sem deixar de reconhecer os progressos de órgãos que até pouco tempo atrás não saíam das sombras, é preciso insistir na plena aplicação dos ditames da Lei de Acesso à Informação. Trata-se de valioso meio para aumentar a eficiência do Estado e tornar mais eficaz o combate à corrupção.

O céu como limite - EDITORIAL GAZETA DO POVO - PR

GAZETA DO POVO - PR - 20/05


O financiamento das campanhas é um dos itens que devem compor um novo arcabouço legislativo que estabeleça regras claras e dê legitimidade inquestionável aos mandatos eletivos


Aquilo que a lei não proibir é permitido. Ao que parece, esse será o princípio que regerá os gastos dos partidos com a campanha deste ano. Como o próprio ministro Dias Toffoli, novo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), admitiu, não há teto de gastos a ser obedecidos pelos partidos e candidatos nas eleições a não ser que o Congresso consiga a façanha de votar uma lei que estabeleça o valor máximo de despesas de campanha até o dia 10 junho. A definição sobre a legalidade das doações de empresas – outra medida que poderia ter impacto no custeio das campanhas – ainda está em discussão no o Supremo Tribunal Federal (STF) e, segundo Toffoli, mesmo que o Supremo conclua o julgamento logo, a medida só poderá ser obedecida a partir do ano que vem.

Ou seja, no pleito de 2014, deverá valer ainda o “liberou geral”. Desde que partidos e candidatos prestem contas ao TSE e desde que não se configure o uso do caixa dois – isto é, aquelas receitas por baixo do pano, “não contabilizadas”, como diria Delúbio Soares – não há como punir gastos exagerados nem impedir que empresas continuem irrigando de recursos as campanhas eleitorais deste ano. Mais uma vez, portanto, a disputa eleitoral será marcada pela influência do poder econômico na construção dos resultados que emergirão das urnas de outubro próximo.

O tema é candente e de alto interesse público. As afirmações do ministro Toffoli – a quem caberá presidir os processos eleitorais durante os próximos dois anos – trazem à tona a já tão velha quanto adiada questão da reforma político-eleitoral, uma necessidade que se torna tão mais urgente quanto mais se constatam as graves distorções que contaminam a democracia direta que o país pretende estar praticando. O financiamento das campanhas é um dos muitos itens que devem compor um novo e vasto arcabouço legislativo que estabeleça regras claras, equalize as oportunidades do cidadão de votar e ser votado, valorize o voto popular e dê legitimidade inquestionável aos mandatos eletivos. Sabe-se que o poder econômico pode viciar o processo, facilitando a eleição para os que mais podem financeiramente e dificultando que os cidadãos que não contam com as mesmas facilidades de financiamento.

A reforma política, porém, não sai do papel, a não ser em pedaços. Deputados e senadores, aos quais competiria formular a legislação, preferem salvaguardar seus próprios mandatos a criar regras que os coloquem em perigo. Nas ocasiões em que o tema chega a ser debatido no Congresso, a primeira preocupação que lhes ocorre é justamente a de estabelecer medidas em relação ao financiamento das campanhas. E aparece, então, a proposta de que quem deve arcar com os gastos de cada um é o próprio povo pela via do “financiamento público”. Mas seria esse o remédio ideal para acabar com o abominável caixa dois? Quem garante que, além da abertura dos cofres públicos, não se abram também à sorrelfa os cofres privados interessados em eleger partidos, candidatos ou grupos em troca de contrapartidas futuras? Os fundos partidários e os programas eleitorais “gratuitos” nas redes de rádio e televisão já são mantidos com recursos públicos, mas nem por isso são fatores de inibição da prática deslavada de abusos.

Não há como falar em financiamento público de campanhas, nem da legitimidade ou não das doações de empresas, se esses temas não estiverem conectados com as tantas outras normas que devem ser criadas para reger os processos eleitorais, dando-lhes a legitimidade e a higidez necessárias. Discutir a questão do financiamento sem antes debater e definir outros temas importantes, como, por exemplo, a possibilidade de voto distrital ou formas de evitar a multiplicação de partidos de aluguel, é uma inversão de prioridades. Lamentável que, como diz Toffoli, o poder econômico não possa ser contido já nesta eleição, mas ainda mais lamentável é que os políticos se recusem tão insistentemente (e convenientemente!) a fazer um debate amplo, abrangente e efetivo sobre a reforma política em todos os seus múltiplos aspectos.

Atraso no saneamento - EDITORIAL O ESTADÃO

O Estado de S.Paulo - 20/05

Em mais uma das festas político-eleitorais que sua equipe tem organizado para tentar impulsionar sua cambaleante pré-campanha de reeleição - desta vez para o lançamento da terceira etapa do PAC do Saneamento -, a presidente Dilma Rousseff pelo menos reconheceu que, nessa área, a situação é grave e, por isso, é preciso "avançar mais". Imediatamente, porém, tratou de atribuir a responsabilidade pelo quadro ainda calamitoso do saneamento no País a seus antecessores mais remotos - pois o mais próximo, o ex-presidente Lula, foi quem a lançou na vida política e é hoje seu principal trunfo eleitoral.

Ela teria sido mais precisa se reconhecesse que, nos últimos anos, independentemente da cor partidária dos governantes, houve melhoras nas estatísticas de atendimento da população com água tratada e encanada e com a coleta de esgotos. Esse avanço é reconhecido internacionalmente, e não ocorreu apenas de 2003 (início da gestão do PT) para cá. Vem de governos anteriores.

Segundo estudo da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), o número de brasileiros com acesso a serviços de saneamento básico aumentou 15% entre 2000 e 2012. Nesse período, mais 31,7 milhões de pessoas passaram a dispor de melhores instalações sanitárias e mais 29,7 milhões, a dispor de água tratada.

A comparação com outros países, porém, revela que foram avanços modestos, e não por responsabilidade deste ou daquele governo. Num período de 13 anos (de 2000 a 2012), 10 dos quais o País foi governado pelo PT, a expansão dos serviços de saneamento no Brasil, de 15%, foi menor do que a da China (17%), do México (19%), da África do Sul (21%) e da Índia (24%). Mais foi igual à da Argentina, governada desde 2003 pelos Kirchners.

Apesar dos avanços, a situação continua ruim. Apenas 48,1% dos brasileiros dispõem de serviços de coleta de esgotos e somente 37,5% do esgoto coletado é tratado, de acordo com dados do Sistema Nacional de Informação sobre Saneamento citados em recentes trabalhos do Instituto Trata Brasil - uma organização não vinculada ao governo criada para mobilizar a sociedade para assegurar a universalização dos serviços de saneamento básico.

As más condições de higiene em que vive boa parte da população causam doenças que podem provocar morte, sobretudo de crianças - daí a participação da Unicef nos estudos da OMS sobre saneamento básico. A população adulta também está sujeita a moléstias causadas pela falta de saneamento básico, como diarreias, hepatite do tipo A, doenças de pele, verminoses e outras.

Além das graves consequências sociais, a falta de saneamento tem custos financeiros elevados, que incluem os tratamentos hospitalares e as perdas de produção decorrentes de doenças causadas por más condições sanitárias das moradias dos trabalhadores. Uma pesquisa recente patrocinada pelo Instituto Trata Brasil e realizada pela Fundação Getúlio Vargas constatou que, anualmente, 217 mil trabalhadores precisam se afastar de suas atividades por causa de problemas gastrointestinais ligados à falta de saneamento.

O poder público, em seus três níveis, vem tentando minimizar o problema. A terceira etapa do PAC do Saneamento anunciada pela presidente prevê investimentos de R$ 2,8 bilhões em obras de abastecimento de água e coleta de esgotos em 655 municípios com menos de 50 mil habitantes. Mas há muitos outros que necessitam de apoio federal, pois as pequenas cidades são as que enfrentam maiores dificuldades técnicas e financeiras para elaborar planos de saneamento.

O problema atinge também cidades grandes. Das 100 maiores do País, 34 ainda não têm seu plano de saneamento básico. A elaboração desses planos é uma exigência da Lei Geral de Saneamento Básico, de 2007. O prazo para a oficialização desses planos era dezembro do ano passado, mas, por causa do atraso de boa parte das prefeituras, foi prorrogado para o fim de 2015. A partir de então, a liberação de recursos federais para saneamento estará condicionada à existência desses planos.

COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO

“Vai ter Copa!”
Jérôme Valcke, secretário-geral da Fifa, para quem a Copa do Mundo já começou


NOVA JOGADA COM MP FAVORECE AS SEGURADORAS

Está na pauta da Câmara, nesta terça, a medida provisória nº 633, com penduricalhos como o que livra as seguradoras de pagar indenizações milionárias a mutuários do Sistema Financeiro da Habitação (SFH). Os lobistas a chamam de "MP dos R$ 17 bi" ou "MP da Sul América Seguros". As seguradoras têm perdido na Justiça, mas, com a MP 633, a Caixa passa a intervir, deslocando as ações para a Justiça Federal, garantindo novo julgamento para tentar reverter o que hoje é perdido.

ESTÁ NO CONTRATO

Mutuários do SFH ajuízam ações por falhas de construção (rachaduras, infiltrações etc.), gerando indenizações bilionárias das seguradoras.

MP DOS R$ 17 BILHÕES

Somadas, todas as ações indenizatórias podem obrigar as seguradoras a pagar mais de R$ 17 bilhões aos mutuários do SFH.

BAIXO INVESTIMENTO

Somente a Sul América, "mãe" da MP 633, investe na sua aprovação para não ter de pagar indenizações que somam mais de R$ 7 bilhões.

MP INCONSTITUCIONAL

A MP 633 trata de matéria processual civil, vedada pela Constituição. E a maioria dos deputados nem sequer desconfia do que está por trás.

SUBMUNDO DA CORRUPÇÃO FAZ FESTA COM SOLTURA

O submundo da corrupção, ferido de morte com a Operação Lava Jato, da Polícia Federal, está em festas desde a decisão de soltar os 12 presos, e suspender a tramitação de inquéritos e ações penais. Inclusive pelo crime de obstrução da Justiça. Familiares e amigos dos meliantes presos deixaram seus afazeres, incluindo trabalho e escola, para começar a festejar antes mesmo da libertação deles.

INCÔMODO

A prisão de Paulo Roberto Costa era considerada a mais "incômoda". Não por acaso, até como autor do recurso, foi o primeiro a ser solto.

ELE FAZ MÁGICA

Advogado de Paulo Roberto Costa, Fernando Fernandes, jacta-se em seu site, de obter decisões que "inauguram linhas jurisprudenciais".

VELOCIDADE DA LUZ

O ministro Teori Zavascki, do STF, liberou os presos na Operação Lava Jato. Ok. Agora, é esperar que não sumam a jato também.

MINISTRO DA VALE

Apesar de nem sempre constar da agenda oficial, o CEO e presidente da Vale, Murilo Ferreira, é quem mais despacha com Dilma: esteve com ela mais do que qualquer ministro da Esplanada, este ano.

IMPACTO ZERO

Estudo do banco suíço UBS relata que a Copa quase não tem impacto nas economias locais. Em 1998, na França, e 2006, na Alemanha, "nem sequer houve impacto positivo em turismo, emprego ou renda".

BARRIGA CHEIA

Lula e o PT reclamam da imprensa, mas ninguém explorou a imagem de Dilma discursando, no evento do PT, enquanto um petista exibia à frente um cartaz dizendo que meliantes presos estavam "presentes".

SEQUELADOS

A Petrobras divulgou que a refinaria superfaturada em mais de R$ 1,4 bilhão, de Pasadena, ganhou "prêmio" por um ano sem acidentes de trabalho. Mas com sequelas nos contribuintes surrupiados.

CAPACETE

Servidores da Rádio Senado podem ter que usar capacete. Pedaços de reboco caem do teto na entrada de um dos estúdios. Nesta segunda-feira, um deles quase foi atingido por um pedaço de tijolo com cimento.

PREVARICAÇÃO

Deveria existir um Procon para os Procons. No DF, empresas que rotineiramente desrespeitam o consumidor estão livres para atormentá-los ainda mais por três semanas. É o prazo fixado pelo Procon-DF de "suspensão do atendimento ao público" para realizar um "treinamento".

TOP SECRET

Até pintores e pedreiros são assunto de segurança nacional, para os arapongas da Agência Brasileira de Inteligência: atos no Diário Oficial omitem seus nomes; só exibem as matrículas.

PADIM CIÇO

Eduardo Campos quer crescer no Nordeste. Marcou para 31 de maio e 1º de junho visita a Juazeiro do Norte (CE), onde visitará a estátua de Padre Cícero. Dirá que se sente cearense, como o avô Miguel Arraes.

PENSANDO BEM...

...foi uma verdadeira ideia de jerico de Lula mandar os torcedores irem até de jegue aos estádios por falta de metrô.