ESTADÃO - 11/05
Aumentam em todo o País os índices de inadimplência, situação em que o devedor deixa de honrar seus compromissos financeiros, quase sempre porque não pode. Crescem, também, os índices de endividamento das famílias.
Desta vez, não são somente os números do Banco Central que comprovam esse aperto financeiro do consumidor do Brasil. Também apontam na mesma direção levantamentos da Federação do Comércio de São Paulo (veja mais, na página B1).
São três os principais fatores responsáveis por essa situação. A primeiro deles é a inflação. A alta do custo de vida começa a fazer estragos crescentes no orçamento familiar. É a sobra de mês no fim do salário, que obriga o consumidor a escolher o pedaço de seus custos que fica sem cobertura. Nessas condições, a expansão da dívida não resolve, porque acrescenta carga de juros à relação de despesas mensais.
O segundo fator a elevar a propensão ao calote é a nova pressão dos serviços sobre o custo de vida. Quem compra um carro, por exemplo, não tem de arcar apenas com mais uma prestação mensal. De repente, vê-se tomado por novas despesas, algumas delas imprevistas: combustível, seguro, impostos, mecânica ou assistência técnica, estacionamento, flanelinha, valet. Fica inevitável levar a família para um fim de semana na praia ou para o shopping center e aí as contas se multiplicam.
O terceiro ponto é certo descontrole dos bancos, que passaram muitos anos ganhando com a aplicação em títulos públicos e se desacostumaram com o crédito e com a administração de risco. Quando se viram obrigados a girar sua carteira de crédito, sob pena de perda de rentabilidade e de participação de mercado, tiveram de enfrentar a inadimplência.
O aumento do endividamento familiar é consequência do forte aumento das operações de crédito. No ano 2000, o estoque de crédito prestado pelos bancos no Brasil não passava de 27% do PIB. Agora, já é superior a 50%. Além disso, cresceu substancialmente a utilização dos cartões de crédito, não somente como meio de pagamento, mas também como sistema de crédito complementar.
Por enquanto, o aumento da inadimplência parece administrável. Mas já leva a duas consequências: (1) vem obrigando os bancos a reservar parcelas crescentes de recursos para provisão de créditos de retorno duvidoso; e (2) impõe mais cautela às instituições financeiras nas concessões de créditos novos.
Do ponto de vista da administração econômica, o aumento da inadimplência deveria ser razão suficiente para colocar em movimento políticas de maior controle da inflação.
A corrosão do poder aquisitivo do consumidor por si só cria distorções, como pressões por reajustes salariais e por reindexação da economia, que realimentam a inflação, como já está acontecendo. Além disso, sabota o crescimento econômico, na medida em que reduz o consumo e, portanto, estreita o mercado interno.
Por enquanto, apenas o Banco Central parece determinado a combater a inflação por meio da redução do volume de dinheiro na economia (política monetária). E, no entanto, sem mais austeridade na administração das contas públicas, o alcance da política de juros tende a ser limitado.
sábado, maio 11, 2013
Tempo de escolhas - MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 11/05
O brasileiro Roberto Azevêdo tem uma lista difícil do que fazer agora para ter êxito. Ele trabalhará como profissional da diplomacia comercial, mas seu sucesso ou fracasso influenciará também as ambições do Brasil em ter um papel mais decisivo na governança global. Dado o adiantado da hora na crise do comércio do mundo, nos próximos quatro anos ele andará no fio da navalha.
O primeiro dilema será em Bali. Ele mesmo definiu, em sua primeira entrevista, que a Organização Mundial do Comércio está num momento crítico e que, se não superar suas dificuldades, vai cair na irrelevância. Nessa reunião ele terá que decidir se vai trabalhar com o que está na mesa, os restos da empacada Rodada Doha, ou se tentará outro caminho.
Há especialistas dizendo que Doha morreu e que é melhor enterrá-la e iniciar um novo ciclo, até porque, desde que ela começou, muita coisa mudou no comércio mundial, como o novo patamar do comércio da China. Mas o que Azevêdo disse até agora é que pretende trabalhar sobre o que herdou dos trabalhos do atual diretor geral, Pascal Lamy.
Seja qual for o caminho, é preciso fortalecer o sistema multilateral. Só a OMC é herdeira do arcabouço que vem sendo lentamente montado desde o fim da Segunda Guerra Mundial, no Acordo Geral de Tarifas e Comércio, que em três grandes rodadas conseguiu vitórias expressivas na integração dos países. Só a OMC tem um sistema de solução de controvérsias e de sanções que se aplica no mundo inteiro.
O comércio mundial sentiu violentamente a crise e os anos dourados ficaram para trás, como mostra gráfico com o índice World Trade Monitor, um indicador elaborado pelo escritório holandês de pesquisa CPB. Num ritmo em 12 meses, as exportações no mundo cresceram entre 5% e 9% de 2003 a 2008. Depois, encolheu 14%, na crise, mas voltou a se recuperar. Nos últimos 12 meses, tem crescido em um ritmo de 2%.
A crise provocou uma onda de protecionismo. O Brasil não fugiu disso, pelo contrário, elevou tarifas e criou barreiras. A proteção não incentivou a indústria, e o comércio brasileiro está com vários sinais de deterioração. As exportações caíram e o déficit aumentou, provando mais uma vez que não é esse o caminho para proteger a economia local.
Azevêdo terá que saber por onde começar a puxar o fio para desfazer os nós que prendem o comércio internacional: a rodada de liberalização empacou; grandes blocos iniciam negociações, como EUA e Europa; o comércio está sendo travado por uma onda protecionista.
O Brasil está ele próprio num beco sem saída no Mercosul. Só pode avançar em qualquer negociação com o acordo dos sócios. O problema é que a Argentina está em marcha batida para uma crise cambial que a fará aumentar ainda mais o fechamento da sua economia. Ela vive situações que eram corriqueiras nas crises dos anos 80 - como a disparada do dólar paralelo e a existência de um xerife de preços (no caso, o ministro Guillermo Moreno) - mas que hoje parecem bizarras. O Brasil tem que sair do atoleiro e não o fará colado na Argentina ou na errática Venezuela.
O brasileiro Roberto Azevêdo tem uma lista difícil do que fazer agora para ter êxito. Ele trabalhará como profissional da diplomacia comercial, mas seu sucesso ou fracasso influenciará também as ambições do Brasil em ter um papel mais decisivo na governança global. Dado o adiantado da hora na crise do comércio do mundo, nos próximos quatro anos ele andará no fio da navalha.
O primeiro dilema será em Bali. Ele mesmo definiu, em sua primeira entrevista, que a Organização Mundial do Comércio está num momento crítico e que, se não superar suas dificuldades, vai cair na irrelevância. Nessa reunião ele terá que decidir se vai trabalhar com o que está na mesa, os restos da empacada Rodada Doha, ou se tentará outro caminho.
Há especialistas dizendo que Doha morreu e que é melhor enterrá-la e iniciar um novo ciclo, até porque, desde que ela começou, muita coisa mudou no comércio mundial, como o novo patamar do comércio da China. Mas o que Azevêdo disse até agora é que pretende trabalhar sobre o que herdou dos trabalhos do atual diretor geral, Pascal Lamy.
Seja qual for o caminho, é preciso fortalecer o sistema multilateral. Só a OMC é herdeira do arcabouço que vem sendo lentamente montado desde o fim da Segunda Guerra Mundial, no Acordo Geral de Tarifas e Comércio, que em três grandes rodadas conseguiu vitórias expressivas na integração dos países. Só a OMC tem um sistema de solução de controvérsias e de sanções que se aplica no mundo inteiro.
O comércio mundial sentiu violentamente a crise e os anos dourados ficaram para trás, como mostra gráfico com o índice World Trade Monitor, um indicador elaborado pelo escritório holandês de pesquisa CPB. Num ritmo em 12 meses, as exportações no mundo cresceram entre 5% e 9% de 2003 a 2008. Depois, encolheu 14%, na crise, mas voltou a se recuperar. Nos últimos 12 meses, tem crescido em um ritmo de 2%.
A crise provocou uma onda de protecionismo. O Brasil não fugiu disso, pelo contrário, elevou tarifas e criou barreiras. A proteção não incentivou a indústria, e o comércio brasileiro está com vários sinais de deterioração. As exportações caíram e o déficit aumentou, provando mais uma vez que não é esse o caminho para proteger a economia local.
Azevêdo terá que saber por onde começar a puxar o fio para desfazer os nós que prendem o comércio internacional: a rodada de liberalização empacou; grandes blocos iniciam negociações, como EUA e Europa; o comércio está sendo travado por uma onda protecionista.
O Brasil está ele próprio num beco sem saída no Mercosul. Só pode avançar em qualquer negociação com o acordo dos sócios. O problema é que a Argentina está em marcha batida para uma crise cambial que a fará aumentar ainda mais o fechamento da sua economia. Ela vive situações que eram corriqueiras nas crises dos anos 80 - como a disparada do dólar paralelo e a existência de um xerife de preços (no caso, o ministro Guillermo Moreno) - mas que hoje parecem bizarras. O Brasil tem que sair do atoleiro e não o fará colado na Argentina ou na errática Venezuela.
O segundo grande (as)salto - GUILHERME FIUZA
O GLOBO - 11/05
No programa partidário do PT na TV, Lula e Dilma comemoraram uma década no poder. Criador e criatura fizeram uma espécie de dueto, alternando frases estimulantes sobre seus feitos nos três mandatos consecutivos e sobre o que ainda vem por aí. "A questão básica agora é a qualidade", anunciou Dilma. Os brasileiros certamente acordaram eufóricos no dia seguinte. Depois de dez anos de governo, o PT tem a bondade de oferecer qualidade ao país. Agora ninguém segura. Nessa escalada virtuosa, depois da qualidade o governo popular talvez ofereça felicidade. E depois - suprema ousadia - honestidade.
Houve inclusive um ligeiro mal-entendido em torno da mensagem petista na TV. O partido prometeu ao povo, daqui para frente, "o segundo grande salto brasileiro". Como a mensagem é um tanto enigmática, algumas pessoas entenderam que o PT estaria anunciando o "segundo grande assalto brasileiro" - dando a entender que os autores do primeiro assalto não serão mesmo presos, e portanto estariam aptos a repetir o golpe.
Mas essa é uma conclusão precipitada. Todos sabem que o PT não depende dos réus do mensalão para reeditar a trampolinagem. Nesse quesito, o que não falta ao partido é peça de reposição.
Especialistas estão tentando decifrar o que afinal o partido quis dizer com esse tal "segundo grande salto". Alguns acreditam que seja uma referência cifrada aos sapatos que Rosemary usava em Roma, onde os contribuintes brasileiros bancaram sua recreação na elegante embaixada brasileira. A despachante de estimação de Lula e Dilma, especializada em tráfico de influência junto às agências reguladoras, não foi convidada pelos padrinhos para a comemoração dos dez anos no poder - uma indelicadeza, considerando seus vastos serviços prestados ao governo popular. Se bem que Dilma escalou o ministro mais importante do governo, Gilberto Carvalho (da Secretaria-Geral da Presidência) para embaralhar as investigações contra Rosemary, o que já é um presentão.
O salto alto de Rose é, sem dúvida, um símbolo do poder petista. E o "segundo grande salto" talvez seja um recado tranquilizador aos companheiros de que os negócios subterrâneos prosseguirão normalmente, mesmo sem a rainha de Roma.
Outra leitura possível - ainda na simbologia do poder feminino valorizado na era Dilma - é que o segundo grande salto seja a volta de Erenice ao Olimpo petista. A ex-ministra-chefe da Casa Civil, preparada por Dilma para ser seu braço direito no governo e derrubada pela imprensa burguesa (só porque montou um bazar de influências no palácio), ressuscitou em grande forma. Muito bem relacionada, ela hoje opera para Dilma discretamente, na área dos grandes negócios privados que dependem de um sorriso governamental. No setor de energia, que a presidente desmonta aos poucos com suas tarifas de mentira, Erenice reina. Para quem até outro dia era investigada pela Polícia Federal, é praticamente um salto ornamental.
Se o segundo grande salto do PT no Planalto não for nenhum desses, pode ter alguma coisa a ver com os preços. O já famoso salto do tomate, no qual a inflação dos companheiros saiu finalmente do armário, foi só o começo. Apesar dos truques e esparadrapos ilusionistas, o dragão voltou com força de mil Erenices depois de dez anos de gastança pública dos progressistas. O ministro Mantega apareceu no programa petista para prometer que continuará sendo "implacável" no setor dos preços, o que praticamente garante o segundo grande salto - restando apenas esperar para ver quem substituirá o tomate como figura símbolo. Os saudosistas preferem o chuchu, primeira grande estrela da disparada da inflação nos anos 70.
Não deixou de ser comovente, no show televisivo do PT, a euforia daquele pessoal que está há uma década defendendo com unhas e dentes seus cargos no primeiro escalão. Lá estava Fernando Pimentel, o ministro vegetativo do Desenvolvimento, que não largou o osso depois da descoberta de suas consultorias invisíveis e milionárias. A política é uma mãe. Ser presidente da República, por exemplo, é uma excelente opção para os sem vocação, esses que ficariam vagando pelo mercado de trabalho sem possibilidades de ascensão, ganhando mal e levando bronca do chefe. Uma pessoa assim virar presidente e passar a mandar em todo mundo, com murro na mesa e tudo que tem direito, é o autêntico milagre brasileiro. Mais gostoso que isso, só anunciar ao país a triunfal chegada da "qualidade" - com teleprompter, claro, para não arriscar demais.
E a qualidade está chegando aí, para todo mundo ver, com a criação do 39º ministério do governo popular. Mais cargos, mais verbas, mais alegria - e mais qualidade de vida para o Brasil, o país de todos os que assinaram as fichas de filiação certas. Que venham os próximos dez anos, porque ainda há muito para depenar.
Houve inclusive um ligeiro mal-entendido em torno da mensagem petista na TV. O partido prometeu ao povo, daqui para frente, "o segundo grande salto brasileiro". Como a mensagem é um tanto enigmática, algumas pessoas entenderam que o PT estaria anunciando o "segundo grande assalto brasileiro" - dando a entender que os autores do primeiro assalto não serão mesmo presos, e portanto estariam aptos a repetir o golpe.
Mas essa é uma conclusão precipitada. Todos sabem que o PT não depende dos réus do mensalão para reeditar a trampolinagem. Nesse quesito, o que não falta ao partido é peça de reposição.
Especialistas estão tentando decifrar o que afinal o partido quis dizer com esse tal "segundo grande salto". Alguns acreditam que seja uma referência cifrada aos sapatos que Rosemary usava em Roma, onde os contribuintes brasileiros bancaram sua recreação na elegante embaixada brasileira. A despachante de estimação de Lula e Dilma, especializada em tráfico de influência junto às agências reguladoras, não foi convidada pelos padrinhos para a comemoração dos dez anos no poder - uma indelicadeza, considerando seus vastos serviços prestados ao governo popular. Se bem que Dilma escalou o ministro mais importante do governo, Gilberto Carvalho (da Secretaria-Geral da Presidência) para embaralhar as investigações contra Rosemary, o que já é um presentão.
O salto alto de Rose é, sem dúvida, um símbolo do poder petista. E o "segundo grande salto" talvez seja um recado tranquilizador aos companheiros de que os negócios subterrâneos prosseguirão normalmente, mesmo sem a rainha de Roma.
Outra leitura possível - ainda na simbologia do poder feminino valorizado na era Dilma - é que o segundo grande salto seja a volta de Erenice ao Olimpo petista. A ex-ministra-chefe da Casa Civil, preparada por Dilma para ser seu braço direito no governo e derrubada pela imprensa burguesa (só porque montou um bazar de influências no palácio), ressuscitou em grande forma. Muito bem relacionada, ela hoje opera para Dilma discretamente, na área dos grandes negócios privados que dependem de um sorriso governamental. No setor de energia, que a presidente desmonta aos poucos com suas tarifas de mentira, Erenice reina. Para quem até outro dia era investigada pela Polícia Federal, é praticamente um salto ornamental.
Se o segundo grande salto do PT no Planalto não for nenhum desses, pode ter alguma coisa a ver com os preços. O já famoso salto do tomate, no qual a inflação dos companheiros saiu finalmente do armário, foi só o começo. Apesar dos truques e esparadrapos ilusionistas, o dragão voltou com força de mil Erenices depois de dez anos de gastança pública dos progressistas. O ministro Mantega apareceu no programa petista para prometer que continuará sendo "implacável" no setor dos preços, o que praticamente garante o segundo grande salto - restando apenas esperar para ver quem substituirá o tomate como figura símbolo. Os saudosistas preferem o chuchu, primeira grande estrela da disparada da inflação nos anos 70.
Não deixou de ser comovente, no show televisivo do PT, a euforia daquele pessoal que está há uma década defendendo com unhas e dentes seus cargos no primeiro escalão. Lá estava Fernando Pimentel, o ministro vegetativo do Desenvolvimento, que não largou o osso depois da descoberta de suas consultorias invisíveis e milionárias. A política é uma mãe. Ser presidente da República, por exemplo, é uma excelente opção para os sem vocação, esses que ficariam vagando pelo mercado de trabalho sem possibilidades de ascensão, ganhando mal e levando bronca do chefe. Uma pessoa assim virar presidente e passar a mandar em todo mundo, com murro na mesa e tudo que tem direito, é o autêntico milagre brasileiro. Mais gostoso que isso, só anunciar ao país a triunfal chegada da "qualidade" - com teleprompter, claro, para não arriscar demais.
E a qualidade está chegando aí, para todo mundo ver, com a criação do 39º ministério do governo popular. Mais cargos, mais verbas, mais alegria - e mais qualidade de vida para o Brasil, o país de todos os que assinaram as fichas de filiação certas. Que venham os próximos dez anos, porque ainda há muito para depenar.
Fisiologismo sem resultado - FERNANDO RODRIGUES
FOLHA DE SP - 11/05
BRASÍLIA - Ninguém deseja nem seria aceitável que a presidente da República mergulhasse no mais puro fisiologismo miúdo do Congresso para aprovar medidas relevantes para o país. Dilma Rousseff tem sido ambivalente a respeito.
Aos olhos do eleitor, a presidente demonstra não se interessar em chafurdar na micropolítica, a razão de viver da maioria dos congressistas. Dilma tampouco dá poderes para seus prepostos entrarem para valer nesse debate pouco edificante.
Por outro lado, a administração federal bateu o recorde histórico do número de ministros. Há agora 39 flanando pela Esplanada. Ao distribuir esses cargos com direito a carrões com placas de bronze e motoristas uniformizados, Dilma não faz nada além de fisiologia. Até porque, qual é a razão objetiva para o senador Marcelo Crivella, do PRB do Rio de Janeiro, ser ministro da Pesca? Ou para Moreira Franco, cardeal do PMDB, ser o ministro da Aviação Civil?
Há uma opção clara por uma engenhosa terceirização da fisiologia. A presidente mantém perante o eleitorado a imagem de durona e faxineira dos corruptos. Caberia aos ministros se ocuparem do trabalho sujo de obter as vitórias no Congresso.
A fórmula só tem funcionado pela metade. A imagem de Dilma segue sólida --com a inestimável ajuda de seu 40º ministro, este informal, o marqueteiro João Santana.
A outra parte do modelo fisiológico dilmista é um fracasso absoluto. Poucas reformas estruturais foram ou serão aprovadas no país. Já estão perto da extrema-unção as mudanças no ICMS e a medida provisória que moderniza os portos.
E qual o problema? Para Dilma, nenhum. É improvável que sua imagem seja abalada de maneira avassaladora porque caminhões fazem fila no porto de Santos. Já para o Brasil, será mais uma oportunidade perdida --apesar da popularidade presidencial, a estrutura legal e operacional do país sairá pouco do lugar.
BRASÍLIA - Ninguém deseja nem seria aceitável que a presidente da República mergulhasse no mais puro fisiologismo miúdo do Congresso para aprovar medidas relevantes para o país. Dilma Rousseff tem sido ambivalente a respeito.
Aos olhos do eleitor, a presidente demonstra não se interessar em chafurdar na micropolítica, a razão de viver da maioria dos congressistas. Dilma tampouco dá poderes para seus prepostos entrarem para valer nesse debate pouco edificante.
Por outro lado, a administração federal bateu o recorde histórico do número de ministros. Há agora 39 flanando pela Esplanada. Ao distribuir esses cargos com direito a carrões com placas de bronze e motoristas uniformizados, Dilma não faz nada além de fisiologia. Até porque, qual é a razão objetiva para o senador Marcelo Crivella, do PRB do Rio de Janeiro, ser ministro da Pesca? Ou para Moreira Franco, cardeal do PMDB, ser o ministro da Aviação Civil?
Há uma opção clara por uma engenhosa terceirização da fisiologia. A presidente mantém perante o eleitorado a imagem de durona e faxineira dos corruptos. Caberia aos ministros se ocuparem do trabalho sujo de obter as vitórias no Congresso.
A fórmula só tem funcionado pela metade. A imagem de Dilma segue sólida --com a inestimável ajuda de seu 40º ministro, este informal, o marqueteiro João Santana.
A outra parte do modelo fisiológico dilmista é um fracasso absoluto. Poucas reformas estruturais foram ou serão aprovadas no país. Já estão perto da extrema-unção as mudanças no ICMS e a medida provisória que moderniza os portos.
E qual o problema? Para Dilma, nenhum. É improvável que sua imagem seja abalada de maneira avassaladora porque caminhões fazem fila no porto de Santos. Já para o Brasil, será mais uma oportunidade perdida --apesar da popularidade presidencial, a estrutura legal e operacional do país sairá pouco do lugar.
Quem garante a paz? - DOM ODILO P. SCHERER
ESTADÃO - 11/05
Em abril transcorreu o 50º aniversário da encíclica Pacem in Terris, do papa João XXIII. Relendo-a, constato a luminosa atualidade de seus ensinamentos, que mereceriam ser tomados em atenta consideração ainda em nossos dias, marcados por graves crises, guerras, violência difusa e descontrolada, que causam dor, sofrimento e morte.
A encíclica foi publicada em 1963, num momento delicado da guerra fria que, na crise da Baía dos Porcos, quase acabou em guerra aberta. O papa já tinha intervindo com suas mensagens nas situações de guerra em curso na época; com sua encíclica ele contribuiu especialmente para despertar uma consciência mais atenta à superação dos conflitos pelo diálogo e para fomentar um estado de ânimo favorável à paz no mundo inteiro.
João XXIII, já bastante doente, fez seu apelo angustiado partindo das convicções da fé da Igreja, em harmonia com a lei natural e os anseios mais profundos dos povos. Afirmou que o bem da paz não é obra do acaso, nem pode depender apenas de movimentos espontâneos da sociedade, mas precisa ser buscado de forma organizada e com esforço sincero pelos governos de todos os povos e comunidades políticas.
Mais que à lógica diplomática, o papa fez apelo à consciência, ao bom senso e à lógica do coração. Isso explica, em boa parte, a grande acolhida e repercussão da encíclica. "A paz continua apenas um ruído inócuo de palavras, se não for baseada na verdade, construída sobre a justiça, vivificada e integrada pela caridade e posta em prática na liberdade" (n. 60).
Ela só pode ser conseguida no pleno respeito à boa ordem querida por Deus e que se traduz, sobretudo, no pleno respeito a todo ser humano e à sua inalienável dignidade. Por isso o papa tratou longamente dos direitos de toda pessoa e de seus deveres no convívio social. E manifestou seu apreço pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, da ONU.
A encíclica também trata das relações entre as pessoas e da natureza e finalidade dos poderes públicos, que consiste em promover e assegurar o bem comum. O primeiro "bem comum" é a tutela da própria pessoa humana e a promoção de seu desenvolvimento integral. Lições ainda não bem aprendidas e dignas de ser retomadas.
Parte consistente do texto refere-se às relações entre as comunidades políticas, que também são sujeitos de direitos e deveres a serem devidamente regulados de acordo com critérios de verdade, justiça e solidariedade. E não falta a reflexão sobre os desequilíbrios econômicos, o drama dos refugiados políticos e a perigosa corrida armamentista, que põem a paz em risco.
O pontífice pede que os contenciosos entre as nações sejam resolvidos de maneira dialogada e negociada, e não pela força das armas. Esse apelo, constante na voz dos romanos pontífices, também já foi feito pelo recém-eleito papa Francisco, diante dos vários conflitos em curso na atualidade.
Numa visão de futuro, antecipando-se às questões desencadeadas de maneira mais aguda pela globalização, João XXIII tratou das relações dos indivíduos e das comunidades políticas com a comunidade mundial: "Atualmente, nenhuma comunidade política está em condições de assegurar seus próprios interesses e de se desenvolver fechando-se em si mesma, pois o nível de sua prosperidade e o do seu desenvolvimento são um reflexo e um componente do grau de prosperidade e desenvolvimento de todas as outras comunidades políticas" (n. 43). A crise econômica atual, persistente e preocupante, sobretudo na Europa, confirma plenamente essas afirmações.
Em vista dessa interdependência das comunidades políticas, o papa aponta a necessidade de se constituírem "poderes públicos mundiais", competentes para zelarem pelo bem comum da inteira comunidade humana. Essa preocupação do papa, como da Doutrina Social da Igreja, em geral, parte dos laços comuns que unem todos os membros da família humana, da solidariedade universal daí decorrente e da necessária superação da busca particularista do bem dos povos.
Por isso João XXIII já constatava a insuficiência da organização tradicional da autoridade política, incapaz de assegurar o bem comum universal. A Organização das Nações Unidas, criada em 1948, ainda era jovem, mas já se mostrava impotente para assegurar a paz e o desenvolvimento humano integral dos povos. "O bem comum universal defronta-se agora com problemas de dimensões mundiais, que não podem ser resolvidos adequadamente, a não ser por poderes públicos que tenham amplidão, estrutura e meios com as mesmas proporções; esses deveriam ser capazes de agir de modo eficiente no plano mundial. Portanto, a própria ordem moral requer que tais poderes sejam instituídos" (n. 45).
Hoje se tem percepção mais clara da urgência de uma reforma da ONU e de outros organismos internacionais, que se mostram ineficientes ou até incapazes de cumprir seus objetivos; tendo sido pensados para um contexto histórico do passado, eles já não dão conta das situações novas, que marcam o mundo sempre mais globalizado.
Desse descompasso se aproveitam, não raro, organizações danosas ao bem comum, como as redes do crime organizado, a corrupção ou os crimes financeiros. Nos diversos países, a violência difusa, que fere a paz e tem dimensões preocupantes também no Brasil, está relacionada, muitas vezes, com a globalização da criminalidade; nenhum governo local conseguirá controlar sozinho esse fenômeno, mas é necessária uma conjugação global de esforços.
E o papa conclui: "Cabe a todos os homens de boa vontade a tarefa imensa de recompor as relações da convivência na verdade, na justiça, no amor e na liberdade: entre as pessoas, os cidadãos e as respectivas comunidades políticas...". (n. 59). Tarefa sempre atual.
Em abril transcorreu o 50º aniversário da encíclica Pacem in Terris, do papa João XXIII. Relendo-a, constato a luminosa atualidade de seus ensinamentos, que mereceriam ser tomados em atenta consideração ainda em nossos dias, marcados por graves crises, guerras, violência difusa e descontrolada, que causam dor, sofrimento e morte.
A encíclica foi publicada em 1963, num momento delicado da guerra fria que, na crise da Baía dos Porcos, quase acabou em guerra aberta. O papa já tinha intervindo com suas mensagens nas situações de guerra em curso na época; com sua encíclica ele contribuiu especialmente para despertar uma consciência mais atenta à superação dos conflitos pelo diálogo e para fomentar um estado de ânimo favorável à paz no mundo inteiro.
João XXIII, já bastante doente, fez seu apelo angustiado partindo das convicções da fé da Igreja, em harmonia com a lei natural e os anseios mais profundos dos povos. Afirmou que o bem da paz não é obra do acaso, nem pode depender apenas de movimentos espontâneos da sociedade, mas precisa ser buscado de forma organizada e com esforço sincero pelos governos de todos os povos e comunidades políticas.
Mais que à lógica diplomática, o papa fez apelo à consciência, ao bom senso e à lógica do coração. Isso explica, em boa parte, a grande acolhida e repercussão da encíclica. "A paz continua apenas um ruído inócuo de palavras, se não for baseada na verdade, construída sobre a justiça, vivificada e integrada pela caridade e posta em prática na liberdade" (n. 60).
Ela só pode ser conseguida no pleno respeito à boa ordem querida por Deus e que se traduz, sobretudo, no pleno respeito a todo ser humano e à sua inalienável dignidade. Por isso o papa tratou longamente dos direitos de toda pessoa e de seus deveres no convívio social. E manifestou seu apreço pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, da ONU.
A encíclica também trata das relações entre as pessoas e da natureza e finalidade dos poderes públicos, que consiste em promover e assegurar o bem comum. O primeiro "bem comum" é a tutela da própria pessoa humana e a promoção de seu desenvolvimento integral. Lições ainda não bem aprendidas e dignas de ser retomadas.
Parte consistente do texto refere-se às relações entre as comunidades políticas, que também são sujeitos de direitos e deveres a serem devidamente regulados de acordo com critérios de verdade, justiça e solidariedade. E não falta a reflexão sobre os desequilíbrios econômicos, o drama dos refugiados políticos e a perigosa corrida armamentista, que põem a paz em risco.
O pontífice pede que os contenciosos entre as nações sejam resolvidos de maneira dialogada e negociada, e não pela força das armas. Esse apelo, constante na voz dos romanos pontífices, também já foi feito pelo recém-eleito papa Francisco, diante dos vários conflitos em curso na atualidade.
Numa visão de futuro, antecipando-se às questões desencadeadas de maneira mais aguda pela globalização, João XXIII tratou das relações dos indivíduos e das comunidades políticas com a comunidade mundial: "Atualmente, nenhuma comunidade política está em condições de assegurar seus próprios interesses e de se desenvolver fechando-se em si mesma, pois o nível de sua prosperidade e o do seu desenvolvimento são um reflexo e um componente do grau de prosperidade e desenvolvimento de todas as outras comunidades políticas" (n. 43). A crise econômica atual, persistente e preocupante, sobretudo na Europa, confirma plenamente essas afirmações.
Em vista dessa interdependência das comunidades políticas, o papa aponta a necessidade de se constituírem "poderes públicos mundiais", competentes para zelarem pelo bem comum da inteira comunidade humana. Essa preocupação do papa, como da Doutrina Social da Igreja, em geral, parte dos laços comuns que unem todos os membros da família humana, da solidariedade universal daí decorrente e da necessária superação da busca particularista do bem dos povos.
Por isso João XXIII já constatava a insuficiência da organização tradicional da autoridade política, incapaz de assegurar o bem comum universal. A Organização das Nações Unidas, criada em 1948, ainda era jovem, mas já se mostrava impotente para assegurar a paz e o desenvolvimento humano integral dos povos. "O bem comum universal defronta-se agora com problemas de dimensões mundiais, que não podem ser resolvidos adequadamente, a não ser por poderes públicos que tenham amplidão, estrutura e meios com as mesmas proporções; esses deveriam ser capazes de agir de modo eficiente no plano mundial. Portanto, a própria ordem moral requer que tais poderes sejam instituídos" (n. 45).
Hoje se tem percepção mais clara da urgência de uma reforma da ONU e de outros organismos internacionais, que se mostram ineficientes ou até incapazes de cumprir seus objetivos; tendo sido pensados para um contexto histórico do passado, eles já não dão conta das situações novas, que marcam o mundo sempre mais globalizado.
Desse descompasso se aproveitam, não raro, organizações danosas ao bem comum, como as redes do crime organizado, a corrupção ou os crimes financeiros. Nos diversos países, a violência difusa, que fere a paz e tem dimensões preocupantes também no Brasil, está relacionada, muitas vezes, com a globalização da criminalidade; nenhum governo local conseguirá controlar sozinho esse fenômeno, mas é necessária uma conjugação global de esforços.
E o papa conclui: "Cabe a todos os homens de boa vontade a tarefa imensa de recompor as relações da convivência na verdade, na justiça, no amor e na liberdade: entre as pessoas, os cidadãos e as respectivas comunidades políticas...". (n. 59). Tarefa sempre atual.
A mudança de Campos - MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 11/05
A evidente mudança de atitudes do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, nos últimos dias, reduzindo o ritmo quase frenético de campanha nacional que imprimira à sua agenda, tem muitas explicações, mas traz muitas dúvidas. Diversas teorias da conspiração andam pelas bocas e cabeças dos políticos, e a que mais mexe com o imaginário é a que dá como razão para essa freada de arrumação a possibilidade de Lula vir a ser o candidato do PT em 2014.
Da mais simples à mais complicada, eis as razões que estariam por trás da mudança de Eduardo Campos. A mais banal é que Campos teria se retraído porque seus assessores detectaram uma superexposição de sua imagem que não seria boa neste momento. Outra, mais realista, diz que ele teria detectado uma reação às suas andanças pelo país, os pernambucanos estariam se ressentindo de uma ausência do governador nas questões locais, relegadas a um segundo plano. A declaração de que poderia governar Pernambuco mesmo de longe não teria tido boa acolhida entre seus eleitores.
Problema semelhante teve o então prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, quando saiu pelo país para criar o seu PSD. Kassab, que até então tinha boa popularidade na cidade que governava, passou a ser visto como um prefeito ausente, e seus índices de aceitação desabaram, fazendo com que ele se tornasse um peso para a candidatura de José Serra à Presidência, que apoiou por uma questão de lealdade. Na verdade, a ação de Kassab não mudou muito nesse período, o que mudou foi a percepção do eleitorado sobre a sua atuação. Quando estava se preparando para lançar-se nas movimentações com vistas à campanha presidencial, Campos foi alertado pelo vice-presidente nacional do PSB, Roberto Amaral, de que isso poderia ocorrer, mas só agora estaria sentindo os efeitos nocivos de sua ausência permanente do estado que governa.
Se perder o controle do eleitorado pernambucano, seu cacife fica reduzido a quase nada para uma campanha presidencial. Não será pelos seus olhos azuis que chegará ao Planalto, embora eles possam ajudar, como o programa nacional do PSB mostrou recentemente. Mas há outras hipóteses circulando nos meio políticos, em Brasília e em Pernambuco, todas em busca de uma explicação para a mudança de atitude do governador, que, na avaliação unânime dos políticos, já foi longe demais para desistir. Só haveria um modo de Campos recuar de sua decisão de ser candidato a presidente sem perder a credibilidade: Lula vir a ser o candidato do PT. Segundo essa teoria, o governador teria recebido recado de Lula pedindo que ele pesasse bem os passos que estava dando, antes que fosse tarde demais.
O raciocínio de Lula, passado para Campos, seria o seguinte: Dilma é a candidata do PT hoje, mas, se houver alguma mudança que exija a presença de Lula na corrida presidencial, Campos estaria disposto a enfrentá-lo nas urnas? Para bom entendedor, meia palavra basta, e Eduardo Campos engatou a marcha a ré para reavaliar o seu campo de ação.
A mesma crise econômica que pode corroer a popularidade da presidente Dilma, abrindo espaço para as candidaturas de Campos e outros oposicionistas como Aécio Neves, pelo PSDB, e Marina Silva, pode ser também a razão para que o PT volte a pressionar Lula a concorrer no lugar de Dilma. Essa pressão foi tão forte ano passado que a própria presidente levou Lula a lançá-la candidata à reeleição, para acabar com as especulações. À medida que a situação econômica do país vai piorando, voltam as pressões para que Lula retorne ao papel de salvador da pátria. O movimento ainda é incipiente, mas real o bastante para atuar sobre a ação de Campos.
Por fim, a mais maldosa teoria da conspiração, circulando especialmente nos meios políticos pernambucanos: Eduardo Campos estaria fazendo toda essa movimentação combinado com o ex-presidente, justamente para enfraquecer a candidatura de Dilma à reeleição e favorecer a volta de Lula como candidato.
No meio de todo esse tiroteio, a notícia de que Campos convidou a ex-prefeita Luizianne Lins para entrar no PSB do Ceará, enfraquecendo assim os irmãos Gomes, é sinal de que ele continua atuando como candidato a candidato, organizando seus palanques para a batalha eleitoral.
A evidente mudança de atitudes do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, nos últimos dias, reduzindo o ritmo quase frenético de campanha nacional que imprimira à sua agenda, tem muitas explicações, mas traz muitas dúvidas. Diversas teorias da conspiração andam pelas bocas e cabeças dos políticos, e a que mais mexe com o imaginário é a que dá como razão para essa freada de arrumação a possibilidade de Lula vir a ser o candidato do PT em 2014.
Da mais simples à mais complicada, eis as razões que estariam por trás da mudança de Eduardo Campos. A mais banal é que Campos teria se retraído porque seus assessores detectaram uma superexposição de sua imagem que não seria boa neste momento. Outra, mais realista, diz que ele teria detectado uma reação às suas andanças pelo país, os pernambucanos estariam se ressentindo de uma ausência do governador nas questões locais, relegadas a um segundo plano. A declaração de que poderia governar Pernambuco mesmo de longe não teria tido boa acolhida entre seus eleitores.
Problema semelhante teve o então prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, quando saiu pelo país para criar o seu PSD. Kassab, que até então tinha boa popularidade na cidade que governava, passou a ser visto como um prefeito ausente, e seus índices de aceitação desabaram, fazendo com que ele se tornasse um peso para a candidatura de José Serra à Presidência, que apoiou por uma questão de lealdade. Na verdade, a ação de Kassab não mudou muito nesse período, o que mudou foi a percepção do eleitorado sobre a sua atuação. Quando estava se preparando para lançar-se nas movimentações com vistas à campanha presidencial, Campos foi alertado pelo vice-presidente nacional do PSB, Roberto Amaral, de que isso poderia ocorrer, mas só agora estaria sentindo os efeitos nocivos de sua ausência permanente do estado que governa.
Se perder o controle do eleitorado pernambucano, seu cacife fica reduzido a quase nada para uma campanha presidencial. Não será pelos seus olhos azuis que chegará ao Planalto, embora eles possam ajudar, como o programa nacional do PSB mostrou recentemente. Mas há outras hipóteses circulando nos meio políticos, em Brasília e em Pernambuco, todas em busca de uma explicação para a mudança de atitude do governador, que, na avaliação unânime dos políticos, já foi longe demais para desistir. Só haveria um modo de Campos recuar de sua decisão de ser candidato a presidente sem perder a credibilidade: Lula vir a ser o candidato do PT. Segundo essa teoria, o governador teria recebido recado de Lula pedindo que ele pesasse bem os passos que estava dando, antes que fosse tarde demais.
O raciocínio de Lula, passado para Campos, seria o seguinte: Dilma é a candidata do PT hoje, mas, se houver alguma mudança que exija a presença de Lula na corrida presidencial, Campos estaria disposto a enfrentá-lo nas urnas? Para bom entendedor, meia palavra basta, e Eduardo Campos engatou a marcha a ré para reavaliar o seu campo de ação.
A mesma crise econômica que pode corroer a popularidade da presidente Dilma, abrindo espaço para as candidaturas de Campos e outros oposicionistas como Aécio Neves, pelo PSDB, e Marina Silva, pode ser também a razão para que o PT volte a pressionar Lula a concorrer no lugar de Dilma. Essa pressão foi tão forte ano passado que a própria presidente levou Lula a lançá-la candidata à reeleição, para acabar com as especulações. À medida que a situação econômica do país vai piorando, voltam as pressões para que Lula retorne ao papel de salvador da pátria. O movimento ainda é incipiente, mas real o bastante para atuar sobre a ação de Campos.
Por fim, a mais maldosa teoria da conspiração, circulando especialmente nos meios políticos pernambucanos: Eduardo Campos estaria fazendo toda essa movimentação combinado com o ex-presidente, justamente para enfraquecer a candidatura de Dilma à reeleição e favorecer a volta de Lula como candidato.
No meio de todo esse tiroteio, a notícia de que Campos convidou a ex-prefeita Luizianne Lins para entrar no PSB do Ceará, enfraquecendo assim os irmãos Gomes, é sinal de que ele continua atuando como candidato a candidato, organizando seus palanques para a batalha eleitoral.
Afif e a geleia do relativismo - ALBERTO DINES
GAZETA DO POVO - PR - 11/05
Parece atolado, avança aos trancos, no sufoco, com a sirene ligada, em clima de emergência. A existência de uma fortíssima base de apoio parlamentar não consegue oferecer ao governo os instrumentos para garantir a execução de projetos minimamente articulados.
O “médio prazo” esgotou-se, agora tudo leva a chancela “para ontem”. A coligação majoritária converteu-se num fim em si mesmo – assegurar a reeleição da primeira mandatária graças a um colossal esquema de propaganda eleitoral. O resto ajeita-se depois, no varejo.
O tranco mais recente – e inédito – foi oferecido pelo incrível Guilherme Afif Domingos, legítimo pastiche do servidor de dois patrões inventado há cerca de quatro séculos pelo gênio teatral de Jean-Baptiste Poquelin, vulgo Molière. Afif quer servir simultaneamente ao governo e à oposição, alheio às gritantes contradições, incapaz de enxergar o conflito de interesses, avaliar a indecência e atinar com as razões da celeuma que levantou. Alega que tem uma causa e, por ela, está disposto a enfrentar todos os dissabores.
A “causa” de Afif Domingos é a Pequena e Microempresa. Qual é o seu passado como empreendedor, empresário, economista, ativista social, visionário, líder político? Sua vida profissional resume-se à Indiana Seguros, de propriedade da família e fundada antes de seu nascimento. Em matéria de negócios, Afif é o clássico cartola, sempre à sombra do poder político e à cata de oportunidades para faturar as sobras. É certo que participou da criação do Simples, sistema de tributação diferenciado para servir de apoio aos microempresários, mas o projeto foi patrocinado e desenvolvido pela Associação Comercial de São Paulo, onde Afif tem assento cativo ora como presidente, ora como diretor.
Afif é apenas o lobista de uma corporação que pretende inventar e tutelar. Os interesses do pequeno empresário coincidem com as necessidades dos grandes negociantes, o Leviatã burocrático é abominado com igual vigor pelos gigantes e pelos anões. Para manter os microempreendedores longe das tentações da informalidade não é preciso criar um ministério e envolvê-lo com tantas suspeitas, basta dinamizar o Sebrae, Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas.
O hipócrita beija-mão na cerimônia de posse na última quinta-feira foi o flagrante de uma sociedade desprovida de autocrítica e autoestima. A tentativa de compatibilizar o incompatível é ilegal e imoral. Não se trata de mero acúmulo de funções, mas de uma ação concebida para borrar distinções, aumentar as zonas cinzentas e, em última análise, favorecer a geleia do relativismo.
Um vice-governador da oposição a serviço da situação não é propriamente uma jogada eleitoral, mas um maquiavélico expediente para confundir ainda mais um eleitorado atarantado pela profusão de siglas e mal-entendidos ideológicos.
Parece atolado, avança aos trancos, no sufoco, com a sirene ligada, em clima de emergência. A existência de uma fortíssima base de apoio parlamentar não consegue oferecer ao governo os instrumentos para garantir a execução de projetos minimamente articulados.
O “médio prazo” esgotou-se, agora tudo leva a chancela “para ontem”. A coligação majoritária converteu-se num fim em si mesmo – assegurar a reeleição da primeira mandatária graças a um colossal esquema de propaganda eleitoral. O resto ajeita-se depois, no varejo.
O tranco mais recente – e inédito – foi oferecido pelo incrível Guilherme Afif Domingos, legítimo pastiche do servidor de dois patrões inventado há cerca de quatro séculos pelo gênio teatral de Jean-Baptiste Poquelin, vulgo Molière. Afif quer servir simultaneamente ao governo e à oposição, alheio às gritantes contradições, incapaz de enxergar o conflito de interesses, avaliar a indecência e atinar com as razões da celeuma que levantou. Alega que tem uma causa e, por ela, está disposto a enfrentar todos os dissabores.
A “causa” de Afif Domingos é a Pequena e Microempresa. Qual é o seu passado como empreendedor, empresário, economista, ativista social, visionário, líder político? Sua vida profissional resume-se à Indiana Seguros, de propriedade da família e fundada antes de seu nascimento. Em matéria de negócios, Afif é o clássico cartola, sempre à sombra do poder político e à cata de oportunidades para faturar as sobras. É certo que participou da criação do Simples, sistema de tributação diferenciado para servir de apoio aos microempresários, mas o projeto foi patrocinado e desenvolvido pela Associação Comercial de São Paulo, onde Afif tem assento cativo ora como presidente, ora como diretor.
Afif é apenas o lobista de uma corporação que pretende inventar e tutelar. Os interesses do pequeno empresário coincidem com as necessidades dos grandes negociantes, o Leviatã burocrático é abominado com igual vigor pelos gigantes e pelos anões. Para manter os microempreendedores longe das tentações da informalidade não é preciso criar um ministério e envolvê-lo com tantas suspeitas, basta dinamizar o Sebrae, Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas.
O hipócrita beija-mão na cerimônia de posse na última quinta-feira foi o flagrante de uma sociedade desprovida de autocrítica e autoestima. A tentativa de compatibilizar o incompatível é ilegal e imoral. Não se trata de mero acúmulo de funções, mas de uma ação concebida para borrar distinções, aumentar as zonas cinzentas e, em última análise, favorecer a geleia do relativismo.
Um vice-governador da oposição a serviço da situação não é propriamente uma jogada eleitoral, mas um maquiavélico expediente para confundir ainda mais um eleitorado atarantado pela profusão de siglas e mal-entendidos ideológicos.
Chá de cadeira em Dilma - EDITORIAL O ESTADÃO
O ESTADO DE S. PAULO - 11/05
A presidente do Brasil é Dilma Rousseff, mas isso parece ser apenas um detalhe. Na fabulação bolivariana, ela não passa de uma nota de rodapé ante os "gigantes" Luiz Inácio Lula da Silva, Hugo Chávez e Néstor Kirchner. Por isso, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, não teve nenhum pudor em deixá-la esperando por quase duas horas, durante sua visita ao Brasil, enquanto se encontrava com o ex-presidente Lula. Não foi apenas Dilma que saiu menor desse episódio. E a própria Presidência brasileira que encolhe a olhos vistos ante o menosprezo de Lula pela liturgia do cargo que ele não mais ocupa, mas do qual não consegue "desencarnar". Dilma, por sua vez, obediente e disciplinada, parece aceitar seu status de presidente ad hoc.
Como se sabe, Maduro veio ao Brasil para obter a legitimidade política que lhe falta na Venezuela, graças à truculência com que ele está tratando a oposição - dona de metade dos votos na controvertida eleição vencida pelo herdeiro de Chávez. Maduro enfrenta resistência também nas próprias fileiras chavistas, porque, com a morte do Comandante, se multiplicaram focos de rebelião daqueles que se sentiram preteridos dentro do Politburo venezuelano e relutam jurar lealdade ao presidente.
Já começam a circular rumores de que os próprios chavistas, principalmente o presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, estão conspirando para prejudicar Maduro. Suspeita-se que Cabello - que já está sendo chamado de "ditador em espera", é muito ligado aos militares e não é bem visto pelo regime cubano, padrinho de Maduro - esteja incitando a violência para precipitar a crise.
Tudo isso acontece em meio a uma avassaladora crise econômica, cujo lado mais perverso e politicamente explosivo é o desabastecimento de alimentos - que Maduro atribuiu à "sabotagem econômica", sem reconhecer a óbvia incompetência de seu governo. Não surpreende que já haja pesquisas mostrando que, se a eleição presidencial fosse hoje, o vencedor seria o opositor Henrique Capriles.
Nesse contexto, Maduro veio ao Brasil para pedir ajuda - que se traduzirá em acordos comerciais francamente desequilibrados em favor da Venezuela - e para consultar-se com Lula para saber o que fazer. O ex-presidente não o decepcionou. "Hoje, Lula nos banhou de sabedoria", declarou, entusiasmado, o venezuelano, após a audiência que contou também com a presença do presidente do PT, Rui Falcão, numa deliberada confusão de questões de Estado com interesses político-ideológicos. Lula falou durante uma hora sobre sua "experiência de luta", disse Maduro, que qualificou o petista de "pai dos homens e mulheres de esquerda da América. Latina". Para o venezuelano, "dos três gigantes que começaram este processo de integração da América Latina, Kirchner, Chávez e Lula, só nos resta Lula". Assim, a visita oficial de um chefe de Estado ao Brasil converteu-se em peregrinação para adorar um santo vivo e beber de seus "ensinamentos".
Somente depois de beijar a mão de Lula e de reconhecer- se como seu "filho" é que Maduro dirigiu-se ao Planalto para ser recebido por Dilma, que lhe reservou honras de Estado, a despeito do chá de cadeira que levou. Não contente em fazê-la esperar, Maduro ainda lhe presenteou com um enorme retrato de Chávez, numa cena constrangedora, que tornou a presidente ainda menor em todo o contexto. Restou a Dilma fazer um discurso curto, protocolar, em que exaltou a "parceria estratégica" entre Brasil e Venezuela e chamou de "momento histórico" o fato de que a Venezuela assumirá a presidência do Mercosul no segundo semestre - situação esdrúxula que só está sendo possível graças a um golpe bolivariano para isolar o Paraguai, que se opunha à entrada da Venezuela no bloco.
À vontade, Maduro sentiu-se autorizado a dizer, sem que a mentira fosse contestada, que o projeto do Mercosul "nasceu em essência das ideias de Chávez". No culto à personalidade de Chávez e Lula, Dilma é cada vez mais apenas uma coadjuvante.
Como se sabe, Maduro veio ao Brasil para obter a legitimidade política que lhe falta na Venezuela, graças à truculência com que ele está tratando a oposição - dona de metade dos votos na controvertida eleição vencida pelo herdeiro de Chávez. Maduro enfrenta resistência também nas próprias fileiras chavistas, porque, com a morte do Comandante, se multiplicaram focos de rebelião daqueles que se sentiram preteridos dentro do Politburo venezuelano e relutam jurar lealdade ao presidente.
Já começam a circular rumores de que os próprios chavistas, principalmente o presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, estão conspirando para prejudicar Maduro. Suspeita-se que Cabello - que já está sendo chamado de "ditador em espera", é muito ligado aos militares e não é bem visto pelo regime cubano, padrinho de Maduro - esteja incitando a violência para precipitar a crise.
Tudo isso acontece em meio a uma avassaladora crise econômica, cujo lado mais perverso e politicamente explosivo é o desabastecimento de alimentos - que Maduro atribuiu à "sabotagem econômica", sem reconhecer a óbvia incompetência de seu governo. Não surpreende que já haja pesquisas mostrando que, se a eleição presidencial fosse hoje, o vencedor seria o opositor Henrique Capriles.
Nesse contexto, Maduro veio ao Brasil para pedir ajuda - que se traduzirá em acordos comerciais francamente desequilibrados em favor da Venezuela - e para consultar-se com Lula para saber o que fazer. O ex-presidente não o decepcionou. "Hoje, Lula nos banhou de sabedoria", declarou, entusiasmado, o venezuelano, após a audiência que contou também com a presença do presidente do PT, Rui Falcão, numa deliberada confusão de questões de Estado com interesses político-ideológicos. Lula falou durante uma hora sobre sua "experiência de luta", disse Maduro, que qualificou o petista de "pai dos homens e mulheres de esquerda da América. Latina". Para o venezuelano, "dos três gigantes que começaram este processo de integração da América Latina, Kirchner, Chávez e Lula, só nos resta Lula". Assim, a visita oficial de um chefe de Estado ao Brasil converteu-se em peregrinação para adorar um santo vivo e beber de seus "ensinamentos".
Somente depois de beijar a mão de Lula e de reconhecer- se como seu "filho" é que Maduro dirigiu-se ao Planalto para ser recebido por Dilma, que lhe reservou honras de Estado, a despeito do chá de cadeira que levou. Não contente em fazê-la esperar, Maduro ainda lhe presenteou com um enorme retrato de Chávez, numa cena constrangedora, que tornou a presidente ainda menor em todo o contexto. Restou a Dilma fazer um discurso curto, protocolar, em que exaltou a "parceria estratégica" entre Brasil e Venezuela e chamou de "momento histórico" o fato de que a Venezuela assumirá a presidência do Mercosul no segundo semestre - situação esdrúxula que só está sendo possível graças a um golpe bolivariano para isolar o Paraguai, que se opunha à entrada da Venezuela no bloco.
À vontade, Maduro sentiu-se autorizado a dizer, sem que a mentira fosse contestada, que o projeto do Mercosul "nasceu em essência das ideias de Chávez". No culto à personalidade de Chávez e Lula, Dilma é cada vez mais apenas uma coadjuvante.
O atraso barra a modernização dos portos - EDITORIAL O GLOBO
O GLOBO - 11/05
É deplorável a demonstração de descompromisso com as reais necessidades do país que tem sido dada pela base parlamentar do governo no encaminhamento da MP dos Portos. O último lance desta crônica de absoluta falta de bom senso, para dizer o mínimo, ocorreu quinta-feira, na tentativa de votação da matéria na Câmara, em que emergiram evidências da dura luta de lobbies de empresas e sindicatos travada em torno da questão, sem que em qualquer momento haja algum indício de preocupação com os graves gargalos existentes nos portos. Nem parece estar em questão um tema estratégico, do qual depende parte ponderável da capacidade de o Brasil ser competitivo num mundo cada vez mais globalizado, independentemente de crises.
A medida provisória, na versão original, é resposta adequada ao esgotamento dos efeitos positivos da Lei dos Portos, de 1993. Houve investimentos e melhorias no sistema, mas chegou a hora de mais avanços e, para isso, é necessário quebrar os cartórios que subsistem no setor.
Natural que haja reação. Sindicatos não querem abrir mão da exigência da contratação da estiva por meio dos Órgãos Gestores de Mão de Obra (Ogmos), uma modernização no início da década de 90, mas, hoje, fator de aumento de custos nos terminais.
O governo, com razão, deseja que os novos terminais, a serem licitados, possam contratar por meio da CLT, como qualquer empresa. Sindicatos e empresários reclamam, por se considerar futuras vítimas de “concorrência desleal”. Ora, que ajustem os custos. Há, ainda, o tema da renovação de concessões antigas. O risco, aqui, é mudar para que tudo continue na mesma, uma aplicação prática da máxima do príncipe de Falconeri, de Lampedusa. Se o objetivo das mudanças, uma nova abertura dos portos brasileiros, é estimular a eficiência pela competição entre os terminais, são necessários, de fato, novos atores neste mercado.
E não faltará carga para todos, à medida que os portos se tornem mais eficientes. E, por tabela, mais empregos — para tranquilidade dos líderes sindicais. Mas tem prevalecido a miopia da preservação de cartórios.
É impensável persistir o quadro atual, em que as vantagens competitivas que o país tem, por exemplo, no campo, se esvaem no transporte da carga e no embarque portuário. Apenas alguns dados do diretor-presidente do Movimento Brasil Competitivo, Erik Camarano: o frete no Brasil custa 15% do valor da carga, contra 6% nos Estados Unidos e 7% no Canadá.
Compreende-se por que os lobbies agem. Mas precisam ser contidos. E tudo depende do governo, que não controla a base parlamentar, e tem de enquadrá-la. Constituída à base do fisiologismo, a eclética base é movida a benesses e a interesses próprios, privados. Mas, até a semana que vem, quando a MP caduca, ela necessitará entender que o projeto de modernização dos portos transcende o varejo da política.
É deplorável a demonstração de descompromisso com as reais necessidades do país que tem sido dada pela base parlamentar do governo no encaminhamento da MP dos Portos. O último lance desta crônica de absoluta falta de bom senso, para dizer o mínimo, ocorreu quinta-feira, na tentativa de votação da matéria na Câmara, em que emergiram evidências da dura luta de lobbies de empresas e sindicatos travada em torno da questão, sem que em qualquer momento haja algum indício de preocupação com os graves gargalos existentes nos portos. Nem parece estar em questão um tema estratégico, do qual depende parte ponderável da capacidade de o Brasil ser competitivo num mundo cada vez mais globalizado, independentemente de crises.
A medida provisória, na versão original, é resposta adequada ao esgotamento dos efeitos positivos da Lei dos Portos, de 1993. Houve investimentos e melhorias no sistema, mas chegou a hora de mais avanços e, para isso, é necessário quebrar os cartórios que subsistem no setor.
Natural que haja reação. Sindicatos não querem abrir mão da exigência da contratação da estiva por meio dos Órgãos Gestores de Mão de Obra (Ogmos), uma modernização no início da década de 90, mas, hoje, fator de aumento de custos nos terminais.
O governo, com razão, deseja que os novos terminais, a serem licitados, possam contratar por meio da CLT, como qualquer empresa. Sindicatos e empresários reclamam, por se considerar futuras vítimas de “concorrência desleal”. Ora, que ajustem os custos. Há, ainda, o tema da renovação de concessões antigas. O risco, aqui, é mudar para que tudo continue na mesma, uma aplicação prática da máxima do príncipe de Falconeri, de Lampedusa. Se o objetivo das mudanças, uma nova abertura dos portos brasileiros, é estimular a eficiência pela competição entre os terminais, são necessários, de fato, novos atores neste mercado.
E não faltará carga para todos, à medida que os portos se tornem mais eficientes. E, por tabela, mais empregos — para tranquilidade dos líderes sindicais. Mas tem prevalecido a miopia da preservação de cartórios.
É impensável persistir o quadro atual, em que as vantagens competitivas que o país tem, por exemplo, no campo, se esvaem no transporte da carga e no embarque portuário. Apenas alguns dados do diretor-presidente do Movimento Brasil Competitivo, Erik Camarano: o frete no Brasil custa 15% do valor da carga, contra 6% nos Estados Unidos e 7% no Canadá.
Compreende-se por que os lobbies agem. Mas precisam ser contidos. E tudo depende do governo, que não controla a base parlamentar, e tem de enquadrá-la. Constituída à base do fisiologismo, a eclética base é movida a benesses e a interesses próprios, privados. Mas, até a semana que vem, quando a MP caduca, ela necessitará entender que o projeto de modernização dos portos transcende o varejo da política.
Crises e crises - EDITORIAL FOLHA DE SP
folha de sp - 11/05
Num clima de omissão e casuísmo permanentes, conflitos entre Judiciário e Legislativo se esvaem antes de produzir dano institucional
A fotografia no jornal não deixava margem para muitas dúvidas. Num dia ensolarado, trocavam sorrisos descontraídos o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN), e o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Tinha-se, no registro de mais um encontro entre autoridades do Legislativo e do Judiciário, notícia dos esforços mútuos de debelar o desentendimento, aberto em vários pontos, entre os dois Poderes.
Foi assim com a liminar concedida por Mendes, barrando a tramitação de um projeto de lei que impunha dificuldades à criação de novos partidos. No óbvio interesse de diminuir as chances de um segundo turno em 2014, governistas deliberaram que futuras agremiações terão reduzido ao mínimo seu acesso ao fundo partidário e ao horário eleitoral gratuito.
O projeto teria ainda de passar pelo Senado. Como aceitar, perguntam os representantes máximos do Legislativo, que a constitucionalidade de uma peça não aprovada venha a ser, desde já, contestada por um membro do Supremo?
A liminar representaria uma intromissão indevida nos procedimentos internos de um Poder independente. Haverá, de todo modo, de ser avaliada pelo plenário do STF em breve --o que dirimirá, certamente, a controvérsia.
Seja como for, do episódio não sai ilesa a credibilidade do Legislativo --mesmo que esse Poder se apresente como a parte ofendida no momento. E não apenas pelo óbvio casuísmo que fundamenta a decisão contra novos partidos.
Como notado em reportagem recente do jornal "O Estado de S. Paulo", durante as investigações do mensalão coube a parlamentares do PSDB e do DEM o protesto contra decisões do mesmo gênero no STF, que, tomadas monocraticamente, asseguraram a manutenção do sigilo bancário e telefônico de alguns acusados no escândalo.
Seria melhor, argumentavam na época, que liminares só pudessem ser concedidas pelo plenário da corte. É o que defende, hoje, Marco Maia, ex-presidente da Câmara, ao ver interesses de seu partido, o PT, atingidos pela mesma prática que os atendera há alguns anos.
Opinando erraticamente, legislando de forma intermitente, omitindo-se em inúmeras questões, congressistas reclamam de interferências do Judiciário. Este, quando não tarda, supre, com novas incertezas e virtuais atos legislativos, a omissão da Câmara e do Senado.
O admirável é que os conflitos não sejam até mais profundos do que acontece --e que, por cima de uma crise maior, as pequenas "crises" de que se tem notícia acabem se dissolvendo entre sorrisos.
Num clima de omissão e casuísmo permanentes, conflitos entre Judiciário e Legislativo se esvaem antes de produzir dano institucional
A fotografia no jornal não deixava margem para muitas dúvidas. Num dia ensolarado, trocavam sorrisos descontraídos o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN), e o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Tinha-se, no registro de mais um encontro entre autoridades do Legislativo e do Judiciário, notícia dos esforços mútuos de debelar o desentendimento, aberto em vários pontos, entre os dois Poderes.
Foi assim com a liminar concedida por Mendes, barrando a tramitação de um projeto de lei que impunha dificuldades à criação de novos partidos. No óbvio interesse de diminuir as chances de um segundo turno em 2014, governistas deliberaram que futuras agremiações terão reduzido ao mínimo seu acesso ao fundo partidário e ao horário eleitoral gratuito.
O projeto teria ainda de passar pelo Senado. Como aceitar, perguntam os representantes máximos do Legislativo, que a constitucionalidade de uma peça não aprovada venha a ser, desde já, contestada por um membro do Supremo?
A liminar representaria uma intromissão indevida nos procedimentos internos de um Poder independente. Haverá, de todo modo, de ser avaliada pelo plenário do STF em breve --o que dirimirá, certamente, a controvérsia.
Seja como for, do episódio não sai ilesa a credibilidade do Legislativo --mesmo que esse Poder se apresente como a parte ofendida no momento. E não apenas pelo óbvio casuísmo que fundamenta a decisão contra novos partidos.
Como notado em reportagem recente do jornal "O Estado de S. Paulo", durante as investigações do mensalão coube a parlamentares do PSDB e do DEM o protesto contra decisões do mesmo gênero no STF, que, tomadas monocraticamente, asseguraram a manutenção do sigilo bancário e telefônico de alguns acusados no escândalo.
Seria melhor, argumentavam na época, que liminares só pudessem ser concedidas pelo plenário da corte. É o que defende, hoje, Marco Maia, ex-presidente da Câmara, ao ver interesses de seu partido, o PT, atingidos pela mesma prática que os atendera há alguns anos.
Opinando erraticamente, legislando de forma intermitente, omitindo-se em inúmeras questões, congressistas reclamam de interferências do Judiciário. Este, quando não tarda, supre, com novas incertezas e virtuais atos legislativos, a omissão da Câmara e do Senado.
O admirável é que os conflitos não sejam até mais profundos do que acontece --e que, por cima de uma crise maior, as pequenas "crises" de que se tem notícia acabem se dissolvendo entre sorrisos.
COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO
“O vice-governador é um stand by”
Ministro Afif Domingos (Micro e Pequena Empresa) definindo seu papel em São Paulo
ATÉ AZERBAIJÃO É MAIS COMPETITIVO QUE O BRASIL
A ex-república soviética do Azerbaijão, no Cáucaso, está à frente do Brasil no Índex Global de Competitividade 2012-2013 do Fórum Econômico Mundial. Em 48º lugar, o Brasil perde também para o Chile, em 33º, e só ganha de Portugal, arrasado pela crise da Zona do Euro.
O relatório atribui às condições macroeconômicas brasileiras os cinco pontos acima do ranking anterior “apesar da inflação beirando os 7%”.
MAIS DO MESMO
O World Economic Forum aponta a baixa confiança nos políticos, a ineficiência e desperdício do governo para justificar a baixa colocação.
SÓ NA PROMESSA
Mão de obra com má qualidade de ensino, e o excesso de impostos e regulamentação prejudicam o empreendedor no Brasil, diz o WEF.
CUCO!
A Europa “da crise”, os EUA e parte da Ásia estão no “top 10” do ranking. A Suíça ainda é 1ª em negócios, pesquisa e mão de obra.
NOITE DO OSCAR
A grande atração ontem no horário político do PT foi o ex-presidente Lincoln, dos EUA, com seu slogan “do povo, para o povo e pelo povo”.
CAMPOS E AÉCIO ACERTAM COMBINAR O JOGO EM 2014
Cotados para disputar a Presidência em 2014, o senador mineiro Aécio Neves (PSDB) e o governador Eduardo Campos (PSB) acertaram de costurar estratégia comum para levar as eleições contra presidente Dilma ao segundo turno. Em conversa esta semana, os dois combinaram de concentrar ataques ao governo petista e convencer os partidos a lançar o maior número possível de candidatos à Presidência.
TODOS CONTRA UM
Eduardo e Aécio planejam reunião reservada com Marina Silva e Fernando Gabeira (PV), também cotados para concorrer a presidente.
UNIÃO FAZ A FORÇA
Aécio Neves avalia que só será possível, e com dificuldades, superar a popularidade de Dilma, se os adversários se unirem nos dois turnos.
PERGUNTA NA CRECHE
Se para Nicolás Maduro “Lula é como um pai”, assim como é “o irmão mais velho” de Evo Morales, o ex-presidente será o padrasto de Dilma?
TIRO NO CORAÇÃO
A operação G-7, da Polícia Federal, deflagrada ontem no Acre, atingiu em cheio não apenas a família, mas o coração do poder dos irmãos Jorge e Tião Viana (PT), que controlam o Estado com mão de ferro.
SEM LOBISTAS
O banqueiro Daniel Dantas garante que, ao contrário do que diz o deputado Anthony Garotinho (PR-RJ), não tem representantes nem lobistas atuando em defesa dos seus interesses, na MP dos Portos.
BRIGA INTERNA
Em vez de solidariedade, Anthony Garotinho, líder do PR, ganhou pancada do vice-líder Bernardo Santana (MG), que defende sua saída: “Líder que precisa se segurar em estatuto só comanda a si mesmo”.
VERGONHA
O ex-presidente do INSS Mauro Hauschild, encalacrado na Operação Porto Seguro, da Polícia Federal, ganhou o título de cidadão honorário de Alagoas. A ideia de jerico foi do deputado Ronaldo Medeiros (PT).
MAIS UMA DENÚNCIA
Servidores do Consulado-Geral do Brasil em Atlanta (EUA) denunciaram em abaixo-assinado que o embaixador Adalnio Ganem arriscou suas vidas durante a nevasca de janeiro de 2011, obrigando-os a trabalhar, mesmo o governo local pedindo que ninguém saísse de casa.
SEM PALANQUE
O vice Michel Temer advertiu a direção do PT que se os petistas não levarem a sério a aliança com o PMDB no Ceará e no Rio de Janeiro, a presidente Dilma pode ficar sem palanque nesses Estados.
JÁ ERA
O PTB está cada dia mais descrente em faturar cargos no governo Dilma. O Planalto alega que o partido do mensaleiro Roberto Jefferson já caiu no colo do presidenciável Eduardo Campos (PSB).
NOSSOS COMERCIAIS
O marqueteiro João Santana não contava com essa: momentos antes de sua propaganda do “combate à inflação” de Lula e Dilma na TV, o Jornal Nacional da Globo havia destacado a disparada dos preços.
PERVERSIDADE
Maldade palmeirense na internet: “Hoje, o melhor lugar do mundo pra se viver é a Bolívia, onde só existem doze corintianos. E estão presos”.
PODER SEM PUDOR
UM DEBILOIDE NA ESPANHA
Quem achava George W. Bush o mais medíocre e despreparado dos políticos americanos, não conhecia o seu irmão mais novo, Jebb, ex-governador da Flórida. Certa vez, em uma visita a Madri marcada por gafes, ele cometeu a indelicadeza de dizer que a Espanha seria "recompensada" pelo apoio à guerra no Iraque, e chamou o presidente do governo, José Maria Aznar, de "presidente da República". Ao saudar o debiloide, o chefe da mais antiga monarquia européia, rei Juan Carlos I, não perdeu o tom:
- É uma honra receber o irmão do rei dos Estados Unidos...
Ministro Afif Domingos (Micro e Pequena Empresa) definindo seu papel em São Paulo
ATÉ AZERBAIJÃO É MAIS COMPETITIVO QUE O BRASIL
A ex-república soviética do Azerbaijão, no Cáucaso, está à frente do Brasil no Índex Global de Competitividade 2012-2013 do Fórum Econômico Mundial. Em 48º lugar, o Brasil perde também para o Chile, em 33º, e só ganha de Portugal, arrasado pela crise da Zona do Euro.
O relatório atribui às condições macroeconômicas brasileiras os cinco pontos acima do ranking anterior “apesar da inflação beirando os 7%”.
MAIS DO MESMO
O World Economic Forum aponta a baixa confiança nos políticos, a ineficiência e desperdício do governo para justificar a baixa colocação.
SÓ NA PROMESSA
Mão de obra com má qualidade de ensino, e o excesso de impostos e regulamentação prejudicam o empreendedor no Brasil, diz o WEF.
CUCO!
A Europa “da crise”, os EUA e parte da Ásia estão no “top 10” do ranking. A Suíça ainda é 1ª em negócios, pesquisa e mão de obra.
NOITE DO OSCAR
A grande atração ontem no horário político do PT foi o ex-presidente Lincoln, dos EUA, com seu slogan “do povo, para o povo e pelo povo”.
CAMPOS E AÉCIO ACERTAM COMBINAR O JOGO EM 2014
Cotados para disputar a Presidência em 2014, o senador mineiro Aécio Neves (PSDB) e o governador Eduardo Campos (PSB) acertaram de costurar estratégia comum para levar as eleições contra presidente Dilma ao segundo turno. Em conversa esta semana, os dois combinaram de concentrar ataques ao governo petista e convencer os partidos a lançar o maior número possível de candidatos à Presidência.
TODOS CONTRA UM
Eduardo e Aécio planejam reunião reservada com Marina Silva e Fernando Gabeira (PV), também cotados para concorrer a presidente.
UNIÃO FAZ A FORÇA
Aécio Neves avalia que só será possível, e com dificuldades, superar a popularidade de Dilma, se os adversários se unirem nos dois turnos.
PERGUNTA NA CRECHE
Se para Nicolás Maduro “Lula é como um pai”, assim como é “o irmão mais velho” de Evo Morales, o ex-presidente será o padrasto de Dilma?
TIRO NO CORAÇÃO
A operação G-7, da Polícia Federal, deflagrada ontem no Acre, atingiu em cheio não apenas a família, mas o coração do poder dos irmãos Jorge e Tião Viana (PT), que controlam o Estado com mão de ferro.
SEM LOBISTAS
O banqueiro Daniel Dantas garante que, ao contrário do que diz o deputado Anthony Garotinho (PR-RJ), não tem representantes nem lobistas atuando em defesa dos seus interesses, na MP dos Portos.
BRIGA INTERNA
Em vez de solidariedade, Anthony Garotinho, líder do PR, ganhou pancada do vice-líder Bernardo Santana (MG), que defende sua saída: “Líder que precisa se segurar em estatuto só comanda a si mesmo”.
VERGONHA
O ex-presidente do INSS Mauro Hauschild, encalacrado na Operação Porto Seguro, da Polícia Federal, ganhou o título de cidadão honorário de Alagoas. A ideia de jerico foi do deputado Ronaldo Medeiros (PT).
MAIS UMA DENÚNCIA
Servidores do Consulado-Geral do Brasil em Atlanta (EUA) denunciaram em abaixo-assinado que o embaixador Adalnio Ganem arriscou suas vidas durante a nevasca de janeiro de 2011, obrigando-os a trabalhar, mesmo o governo local pedindo que ninguém saísse de casa.
SEM PALANQUE
O vice Michel Temer advertiu a direção do PT que se os petistas não levarem a sério a aliança com o PMDB no Ceará e no Rio de Janeiro, a presidente Dilma pode ficar sem palanque nesses Estados.
JÁ ERA
O PTB está cada dia mais descrente em faturar cargos no governo Dilma. O Planalto alega que o partido do mensaleiro Roberto Jefferson já caiu no colo do presidenciável Eduardo Campos (PSB).
NOSSOS COMERCIAIS
O marqueteiro João Santana não contava com essa: momentos antes de sua propaganda do “combate à inflação” de Lula e Dilma na TV, o Jornal Nacional da Globo havia destacado a disparada dos preços.
PERVERSIDADE
Maldade palmeirense na internet: “Hoje, o melhor lugar do mundo pra se viver é a Bolívia, onde só existem doze corintianos. E estão presos”.
PODER SEM PUDOR
UM DEBILOIDE NA ESPANHA
Quem achava George W. Bush o mais medíocre e despreparado dos políticos americanos, não conhecia o seu irmão mais novo, Jebb, ex-governador da Flórida. Certa vez, em uma visita a Madri marcada por gafes, ele cometeu a indelicadeza de dizer que a Espanha seria "recompensada" pelo apoio à guerra no Iraque, e chamou o presidente do governo, José Maria Aznar, de "presidente da República". Ao saudar o debiloide, o chefe da mais antiga monarquia européia, rei Juan Carlos I, não perdeu o tom:
- É uma honra receber o irmão do rei dos Estados Unidos...
SÁBADO NOS JORNAIS
- Globo: Modernização em xeque: Reforma dos portos pode sair sem Congresso
- Folha: PC Farias e Suzane foram assassinados, decide júri
- Estadão: Ustra nega tortura e mortes e diz que Dilma era de grupo terrorista
- Estado de Minas: Os bares que ganham com a Lei seca
- Zero Hora: Fora da lei: 600 crianças em abrigos tomaram leite sob suspeita
- Correio Braziliense: Para não esquecer
- Jornal do Commercio: Segurança recorde na Ilha
Assinar:
Postagens (Atom)