domingo, outubro 03, 2010

O VAGABUNDO PERDEU

   O vagabundo perdeu, sua candidata, a DILMA CABEÇA OCA, vai para o segundo turno.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Segundo Turno
Fernando Henrique Cardoso
O ESTADO DE SÃO PAULO - 03/10/10



A campanha eleitoral termina sua primeira fase como se estivéssemos escolhendo entre duas ou três pessoas em razão de suas diferentes psicologias, grandes feitos, pequenas fragilidades pessoais ou o que mais seja. E não porque representam caminhos diversos para o País.

O governo de Lula e do PT iniciou-se disposto a exercer o papel de renovador da política e da ética. Termina abraçado com a despolitização e o clientelismo. Ser pragmático é o que conta; ter bons índices de popularidade, aproveitar as águas calmas de um produto interno bruto (PIB) em ascensão para distribuir benesses para todos os lados, fazer discursos inconsistentes, mesmo que chulos, para agradar a cada audiência. E, sobretudo, criar muitas imagens, registrando desde o ridículo até o sublime. Lula, na Bolsa, autodefinindo-se como sumo sacerdote do capitalismo financeiro global representou o coroamento de uma trajetória. Como se de suas mãos escurecidas de petróleo brotassem ações ricas em dividendos futuros, e não do esforço árduo de gerações de trabalhadores, técnicos e políticos para viabilizar a Petrobrás como uma grande companhia, da qual todos nos orgulhamos.

Por trás das máscaras dos candidatos, contudo, existem opções reais. Se elas se apresentam desfiguradas pelas técnicas mercadológicas, nem por isso deixam de representar distintas visões do País e interesses diversos. É por isso que, diga-se ou não, o dia de hoje é marcante. Em primeiro lugar, porque, a despeito de o chefe da Nação ter-se comportado como chefe de facção, chegando a falar em extermínio de adversários; apesar da massa de recursos mobilizada em propaganda direta ou indireta, com as cornucópias públicas a jorrar rios de anúncios sobre "grandes feitos"; em que pese o personalismo imperial do presidente em sua verborreia incessante; não obstante tudo isso, com certeza pelo menos 40% dos eleitores não se dispõem a coonestar tal estado de coisas. E é pouco provável que os que ainda pendem para o outro lado alcancem hoje os 50% mais um dos votos válidos. A tentativa plebiscitária do "nós bons versus eles maus" não colou, a menos que se condene metade do País ao infortúnio de uma qualificação negativa perpétua.

Em segundo e principal lugar, o dia de hoje é importante porque abre um caminho para a convergência entre os que resistem ao rolo compressor do oficialismo - o PSDB com José Serra e o PV com Marina Silva. Temos em comum a recusa ao caminho personalista e autoritário. Rejeitamos a ideia de que esse caminho seja o único capaz de trazer progresso econômico e bem-estar social. Sabemos que, juntamente com o que de positivo possa haver sido alcançado nos últimos oito anos, houve também a penetração avassaladora de interesses partidários na administração pública. Também nela penetraram os interesses de grandes empresas, fundos de pensão e sindicatos. São esses os atores que, em aliança oportunista, dão sustentação à ideia de que é o Estado o motor do crescimento econômico. Os que resistem ao rolo compressor acreditam que o antídoto para esses males é o fortalecimento das instituições, o respeito às regras legais e a afirmação de lideranças que não dividam o País entre "eles" - os maus - e "nós" - os bons.

Não é pouca coisa, portanto, o que está em jogo. Segundo o mantra oficial, a disputa política estaria resumida a dois blocos. No primeiro estariam os que estão comprometidos com o interesse popular, com o bem-estar social e com a defesa dos interesses nacionais pelo Estado. No segundo, os "moralistas", que só se preocupam com o mundo das leis e com a honestidade na política porque já estão bem na vida. Vencendo o primeiro, o povo se beneficiaria com a distribuição de renda, as bolsas, emprego abundante, etc., e o País, com mais investimento e com a ação estatal para incentivar a economia. Vencendo o segundo, prevaleceriam os interesses dos que não olham para "o andar de baixo", na metáfora expressiva, embora incorreta, e podem se dar ao luxo de exigir formas corretas de conduta.

É preciso recusar essa visão distorcida do País. Na verdade, ele tem vários andares, e um ou mais elevadores que sobem e descem. Há mobilidade social e mobilidade política. O que hoje pode ser visto como "moralismo" amanhã pode tornar-se aspiração de todos os andares. É esta a batalha a ser travada. Não denunciamos a corrupção, o clientelismo e a ineficiência por "moralismo", mas, sim, para mostrar, em nome da justiça social, o quanto os andares de baixo perdem com a ineficiência, a corrupção e o clientelismo. Não aceitamos que os defensores do patrimônio público ou os que denunciam o abuso do poder político sejam, por isso, chamados de elitistas. Haverá mais, e não menos, inclusão social e desenvolvimento, quanto mais eficiência houver no governo e decência, na vida pública.

A votação de hoje provavelmente nos levará ao segundo turno. Nele será indispensável mostrar que o PSDB não apenas foi decente, como também fez muito pelo social quando foi governo. A começar pela estabilização, que é obra do nosso governo. Fez e está credenciado a fazê-lo novamente, junto com Marina, porque sabe que não há desenvolvimento de longo prazo sem sustentação ambiental.

Sem se arvorar em ser o único portador desses valores, é isto que Serra representa: a recusa da confusão entre malandragem e proximidade com o povo, entre abuso estatal no controle da economia e ação vigorosa do governo no manejo das políticas econômicas e sociais. O dia é hoje, a hora é agora, para começar a construir um futuro melhor: o País merece um segundo turno no qual o confronto aberto entre os contendores dê aos eleitores a oportunidade de ver as diferenças entre os caminhos propostos, encobertas até aqui pela rigidez das máscaras mercadológicas.

*FERNANDO HENRIQUE CARDOSO É SOCIÓLOGO, FOI PRESIDENTE DA REPÚBLICA.

A 1ª VEZ QUE LULA ACERTA



BUNDÕES 


 O presidente Lula já se conformou com a reeleição quase certa de Agripino Maia (RN), a quem odeia. Mas quem paga o pato é o PT do Rio Grande do Norte, “uns bundões”, segundo Lula repete sem parar. 


Essa saiu na coluna do Cláudio Humberto

DANUZA LEÃO

Na torcida
DANUZA LEÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 03/10/10

Gostaria que houvesse uma urna paralela para se votar nos cinco candidatos em quem jamais se votaria
COMO EU ADORO eleição, estou torcendo para que haja um segundo turno. Se isso acontecer, vamos poder saber mais das propostas dos candidatos, conhecê-los um pouco melhor, com debates mais verdadeiros, de preferência dois candidatos sem tempo marcado para perguntas e respostas.
Alguém, não me lembro mais quem, prometeu abrir 6.000 creches; e quem vai sair contando, por esse país tão grande? Se tanto faz, por que não prometer 60 mil, 6 milhões, já que ninguém vai mesmo cobrar?
A vida de Marina e Serra nós conhecemos bem; a de Dilma é meio misteriosa. Sabemos que ela lutou contra a ditadura, foi presa e torturada, era do PDT, trocou pelo PT, teve dois maridos; e quase mais nada, pois a candidata não dá entrevistas.
O eleitorado só ficou sabendo que ela tinha uma filha dias antes dessa filha ter um bebê; há cerca de um mês se soube, pela Folha -até então ninguém sabia-, que tinha sido sócia de uma lojinha de bugigangas (que faliu) em Foz do Iguaçu, e até hoje não está claro se ela planejava as ações ou empunhava metralhadora, quando lutava contra a ditadura.
Lembro que há alguns anos a imprensa -sempre ela- descobriu que um candidato a candidato à Presidência, nos EUA, tinha uma empregada mexicana ou asiática, que havia entrado irregularmente no país. Os jornais estamparam, e ele deixou a vida pública.
Qualquer americano sabe da vida do presidente Obama, da dos seus pais e dos seus avós. É um direito do eleitor saber em quem está votando.
O que faz com que se escolha um candidato, e não o outro, é seu passado, sua coerência, a capacidade de escolher para sua equipe as pessoas mais competentes e de mais confiança; como os cavalos de corrida, seu retrospecto. E sobretudo, acreditar nele.
Esta noite, alguns vão dormir felizes, outros com dor de cotovelo, outros, talvez, com alívio pela campanha ter acabado, e há também os que vão beber muito -por qualquer dessas razões.
Para os outros cargos além da Presidência, são tantos os candidatos, a maioria totalmente desconhecida, que a tendência é votar em alguém de cujo nome já se ouviu falar, mesmo que só de quatro em quatro anos, o que, aliás, é perigosíssimo.
Mas alguns são tão absurdos que eu gostaria que houvesse uma lista paralela, com uma urna paralela, para se votar nos cinco candidatos em quem jamais se votaria. Eu adoraria isso.
Você aí, que não precisa votar, porque passou dos 70, deixe de preguiça. Não precisa usar gravata, basta um jeans e uma camiseta; pegue o título de eleitor e a identidade (com foto) e não perca esse privilégio, que é escolher quem vai governar seu país. Nosso país.
Desta vez vai demorar, deve ter fila, mas sempre vale a pena. Quando chegar em casa, é ligar a televisão, se preparar para dormir tarde -a apuração só vai terminar lá pela meia-noite- e torcer, torcer muito.
Por um segundo turno, é claro.

PS - E como a vida continua, perigo à vista: uma determinada fábrica de tintas que está colorindo o Rio de Janeiro com as piores cores, como se fosse uma cidade cenográfica, anuncia pela TV que seu próximo destino é Ouro Preto. Socorro, autoridades. Isso é muito grave.

DORA KRAMER


É o fim de um caminho 
Dora Kramer
O ESTADO DE SÃO PAULO - 03/10/10

O resultado da eleição de hoje é incerto, não se sabe se amanhã a campanha recomeça ou se estará decidida a sucessão do presidente Luiz Inácio da Silva, mas uma coisa é certa: a atual campanha presidencial foi a mais esquisita, para não dizer bizarra, de todas as eleições desde a redemocratização.

Inclusive por suas contradições. Por exemplo: foi a menos politizada de todas e, no entanto, a primeira em que a sociedade interferiu concretamente para que fosse tomada uma providência contra os políticos de vida pregressa duvidosa, os chamados fichas-sujas.

Não dá para dizer que não houve avanços se gente que antes circulava de cabeça erguida a despeito do peso da folha corrida, dando de ombros e se lixando, agora está moralmente condenada em praça pública.

Uns renunciaram, outros se expuseram ao vexame de recorrer a "laranjas", muitos perderam votos com a exposição negativa e nenhum deles terá os votos computados hoje. Em princípio esses votos serão considerados nulos.

Posto o monumental ganho, vamos às constatações menos positivas a respeito da campanha que se encerra.

Verdade que, cada qual a seu modo, os candidatos desta vez eram verdadeiros breves contra a luxúria eleitoral.

José Serra, prontíssimo para o cargo, mas zero à esquerda em matéria de "appeal", carisma, borogodó, tenha o nome que for aquilo que atrai e mobiliza as pessoas.

Marina Silva fala de coisas modernas, é elegantíssima nos modos, na fala e no pensamento, põe os dedos em algumas feridas com precisão. Mas o faz com tal delicadeza e adjetivação vã que se torna inaudível e ininteligível.

Plínio de Arruda Sampaio tenta fazer o démodé transgressor, mas o personagem morreu com Leonel Brizola, que o encarnava com charme intransferível.

Dilma Rousseff por enquanto não é nada além de uma criação de Lula, dos conselheiros de forma e conteúdo, do cabeleireiro Celso Kamura. Ensaiada, quando livre parece rude.

Com esse plantel não daria mesmo para se produzir um grande espetáculo. Mas saiu pior que a encomenda. O presidente Luiz Inácio da Silva institucionalizou a transgressão. A oposição a rigor não disputou porque quando entrou em campo o jogo ia longe, e tudo isso já é bem sabido.

Um ponto a respeito do qual pouco se falou e que salta como um dos grandes fiascos da temporada são os debates de televisão. Os candidatos não ajudam? Não, mas o modelo tampouco favorece a um real embate de pensamentos, estilos e personalidades.

Os marqueteiros mandam em tudo. Impõem os interesses dos clientes que jogam com medo de errar e sem vontade de acertar (o fígado do oponente).

Em nome do bom-mocismo, os candidatos estão fingindo que debatem, as emissoras fazendo de conta que promovem debates e o eleitor/telespectador fica no "ora, veja"; feito bobo, até tarde, esperando que aconteça alguma coisa que altere aquela situação totalmente artificial.

Trata-se definitivamente de um modelo esgotado, um formato a ser repensado e remodelado, na próxima eleição, sob pena de caírem em desuso por desinteresse no uso.

Comparativo. Segundo o TSE, 3.162 candidatos tiveram o registro negado pelos tribunais eleitorais, sendo que, destes, 1.248 ainda estão pendentes na instância superior.

Em 2006 o número de candidaturas indeferidas foi de 1.563. Outros 1.030 renunciaram à postulação, somando 2.593 candidatos.

Se todos os vetados agora forem impugnados em definitivo, terá havido aumento, mas não muito grande, de candidaturas tidas como inaptas depois da aprovação da Lei da Ficha Limpa.

Assim é. No debate da TV Globo, quinta-feira, ao fim das considerações finais de cada candidato, as "torcidas" saudaram com palmas as manifestações dos respectivos candidatos. Menos os tucanos. Ficaram em silêncio não se sabe se por excesso de apreço ao veto a manifestações da plateia ou por escassez de entusiasmo.

NÃO!


JOSÉ SIMÃO

Ueba! Vou teclar PIPOCA!
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 03/10/10

Se a eleição é a festa da democracia, o mesário é o garçom. E a urna? Trem fantasma desgovernado!

BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O Esculhambador-Geral da República! Ereções 2010! Denúncias de última hora! A Dilma deu uma voadora numa freira e gritou "Reage, Batman". E o Serra cortou o rabo do cachorro porque não suporta sinais exteriores de felicidade! E a mais grave de todas: a Marina tem gordura trans! Rarará.
É HOJE! Dia do Alívio Nacional! Não tem drive-thru pra urna eletrônica? Você entra de carro, grita o número e joga ketchup! E tem que levar cola. A minha vizinha vai levar cola viva, a neta!
E um amigo levou a cola no bolso e quando puxou viu que era a lista do supermercado: seis papaias, granola e um engradado de cerveja. Foi o melhor voto da vida dele! E encarar a urna eletrônica? O micro-ondas eleitoral. Eu vou teclar PIPOCA!
E pra votar no Plínio, aperta Descongelar. E pra votar na Dilma, aperta Carne Moída. Ela tá parecendo um hamburgão. E pra votar no Serra, aperta Desencapetar. E pra votar na Marina tem que ir na gôndola de orgânicos do Pão de Açúcar! Ah, pra votar no Plínio não é urna eletrônica, é CÉDULA! Rarará!
E em São Paulo e Rio pode beber. Por isso que o Lula vem votar em São Bernardo. Rarará. E eu sou abstêmio, mas vou votar embriagado. Melhor acordar de ressaca que de remorso. E documento com foto. A foto é de 1930 e a cara é de 2010! E o mesário? Se a eleição é a festa da democracia, o mesário é o garçom. O mesário é o garçom da democracia! E a urna? Trem fantasma desgovernado! Cada foto, um susto. TERROR! Memeia, Vampiro, ET da Natura e Bela Lugosi. Halloween 2010!
Melhores Momentos Ereções 2010! Melhor comício. O comício da candidata em Pau Miúdo, bairro de Salvador, Bahia. "POVO DE PAU MIÚDO!" E o cara: "Peraí, madame, até aqui tem exceção". Melhor bastidor. No intervalo do debate, um assessor com um cigarrinho apagado perguntou pra Dilma: "Tem fogo?" "Tenho". "ENTÃO COSPE!" Rarará!
Melhor definição: o Serra é tão feio que quando ele nasceu a parteira gritou: "Volta que não tá pronto". Rarará! Melhor biografia: Plínio Geriátrico da Breca. Adão nasceu da costela do Plínio. A primeira propaganda política do Plínio foi uma faixa amarrada no 14 Bis! Atualmente ele luta pela libertação da escravatura! E prepara o remake de "Cocoon"! Melhor projeto de governo, Marina: hidratante de cupuaçu, batom de beterraba e camisinha de polpa de buriti. E o Troféu Sinceridade 2010 vai para aquele candidato baiano: "Votem em mim! EU NÃO AGUENTO MAIS COMER MORTADELA!" Rarará. Ainda bem que nóis sofre, mas nóis goza. Vou pingar o meu colírio alucinógeno! Chega de pleito! Queremos blunda!

FERREIRA GULLAR

Fim de uma etapa 
Ferreira Gullar
FOLHA DE SÃO PAULO - 03/10/10


Enquanto o PSDB optara pela esquerda moderada, o PT continuava a alimentar anseios revolucionários


PODE SER QUE as eleições de hoje assinalem o fim de um período de nossa história política. Se for verdade, não significa, porém, que haverá um corte drástico, algo terminará de vez e outra coisa começará. Talvez até essa mudança independa do resultado eleitoral de hoje, muito embora possibilidades diversas surjam, conforme esse resultado.
Trata-se de mera intuição, uma vez que me faltam as qualificações de cientista político e mesmo as de um analista experimentado na matéria. Intuo, não obstante, que algo chega a seu termo, algo que começou durante o regime militar e se desenvolveu nestes 25 anos de regime democrático.
Vou tentar formular esta minha tese que, como disse, apenas intuo, apreendendo difusamente certos indícios do que me parece ter ocorrido nesse período. Começo pelo começo, com o fim dos partidos que existiam antes do golpe e que foram todos dissolvidos, obrigando os políticos a se acomodarem dentro de dois partidos apenas: a Arena, de apoio ao regime, e o MDB, de oposição, o que, por si só, já os qualificava, uma vez que, se optar pelo partido governista muitas vezes implicava oportunismo, optar pelo outro exigia coragem e convicção, ainda que se tratasse de oposição consentida.
Nesse ponto se concentrava o nó da questão: é que os militares, por não quererem assumir o caráter autoritário do regime, admitiram a existência de um partido oposicionista, mas, claro, só até certo ponto; isto é, um partido que não pretendesse chegar ao poder. Tratava-se, sem dúvida, de uma farsa e isso dividiu a oposição: uma parte dela acreditava que, aceitando as regras da ditadura, valer-se-ia delas para ir aos poucos ocupando posições e conscientizando o povo, enquanto a outra parte se negava a isso e pregava o voto nulo.
A situação era complicada porque, se a aceitação das regras implicava trabalho político paciente e que exigiria anos, o voto nulo, por sua vez, fortalecia o regime, que saía das urnas amplamente vitorioso. Os defensores desta posição, constatando a inutilidade de sua opção, terminariam se encaminhando para tentar a derrubada do regime pela força, isto é, pela luta armada. O resultado de tal escolha era previsível, uma vez que a vulnerabilidade do regime era política -pois nascera de um golpe de força- e não militar, já que, nesse campo, contava com as três forças armadas e mais as polícias militares estaduais.
Os guerrilheiros foram facilmente derrotados, o que, de certo modo, fortaleceu a posição dos que haviam optado pela luta no plano político. Por sua vez, os ex-guerrilheiros e seus simpatizantes, tendo aprendido a lição, decidiram também disputar o poder politicamente. E nasceu o PT. Enquanto isso, no seio do partido de oposição também as contradições se aguçavam, uma vez que a consistência do regime militar -além de suas imposições e artimanhas, como o AI-5 e a criação de senadores biônicos- levou a uma divisão no seio do partido oposicionista, dando nascimento ao PSDB. Estavam formadas, assim, as duas forças políticas que iriam disputar o governo do país após o fim da ditadura militar, em 1985.
Embora, no início, esses dois partidos tenham tacitamente formado uma frente de luta contra o regime, eles eram essencialmente diferentes, como se confirmaria mais tarde. É que, enquanto o PSDB optara por uma esquerda moderada que preservaria o processo político democrático, visando apenas restaurá-lo e reformá-lo de acordo com as necessidades e possibilidades da sociedade brasileira, o Partido dos Trabalhadores continuava a alimentar anseios revolucionários, já que a maioria de seus fundadores inspirava-se na revolução cubana e via nela o exemplo a ser seguido pelo Brasil.
O PSDB chegou ao poder em 1995 e, de certo modo, esgotou seu papel. O PT chegou lá em 2003 mas, para isso, teve que abrir mão de seu revolucionarismo de palavra, substituído pelo pragmatismo de Lula, que agora tenta sobreviver travestido de Dilma Rousseff. Muda-se o sonho cubano, agonizante, em uma espécie de neopopulismo. Já o PSDB, sem o vigor original, tenta, com José Serra, uma sobrevida; se ele perder, acaba também. Será então a vez de Aécio Neves e Sérgio Cabral que, de outra geração, ignoram a opção entre direita e esquerda.

JOÃO UBALDO RIBEIRO

O grande pleito cívico
JOÃO UBALDO RIBEIRO
O ESTADO DE SÃO PAULO - 03/10/10


Ainda peguei o tempo em que, em dia de eleição, os jornais estampavam um sentencioso editorial com o título acima, ou bem semelhante.

Fazia parte de uma coleção estabelecida, estoque de qualquer redação bem preparada. Havia editorialistas famosos por sacarem da gaveta o artigo apropriado para a data, o qual, depois de sofrer algumas alterações cosméticas, voltava a ser publicado.

Nunca de fato testemunhei essa prática, mas existiam, sim, os editoriais padrão. Lembro com particular afeto o "Evoé, Momo!" do sábado de carnaval, o "Esperança que se Renova" do primeiro do ano e o "Tempo de Meditação" da Quaresma. Eu mesmo perpetrei diversos, em cada uma dessas categorias, meu passado me condena.

Atualmente, acho que, para dias de eleição, o modelo mais em uso é o "Festa da Democracia", mas não foi por saudosismo que preferi o pleito cívico, foi por causa do clima que percebo em torno. Posso estar percebendo mal, mas não vejo festa no ar, não vejo vibração, a não ser com pinta de falsificada, não vejo real empenho em ninguém, exceto nos candidatos. Não conversei com ninguém que vá votar com entusiasmo ou mesmo torça fervorosamente pela vitória de algum candidato. A impressão que se tem é que a maioria vota porque o voto é obrigatório e não acredita que ele vá mudar nada, tanto faz como tanto fez.

Não é festa nenhuma, é o cumprimento de uma tarefa felizmente tornada cada vez mais fácil e rápida.

Não sei por que isso acontece, não sei se alguém tem uma resposta satisfatória.

Mas é fácil imaginar alguns tipos de eleitor, como, por exemplo, o de quem vai votar apenas porque é obrigatório.

Provavelmente, o que está na cabeça dele é que, não importa em quem ele vote, vão continuar roubando e se locupletando do mesmo jeito, sem que ninguém jamais seja punido ou devolva o que furtou. Pelo contrário, os poderosos sobem cada vez mais na vida, engordam, ficam ricos, suas famílias prosperam, seus correligionários se empregam, seus amigos mamam o que podem. Os privilégios e mordomias permanecem e quem quiser que encontre um jeito de entrar no circo e tirar também sua lasquinha, o dinheiro está aí mesmo, é de quem botar a mão, o resto é conversa e enrolação de meliante.

Às vezes, não parece haver absolutamente exceção alguma, para quem é alçado a um cargo de algum poder, no Brasil: o primeiro móvel de cada um está longe de ser o bem coletivo e ainda mais longe de ser o apego a uma ideologia ou ideal. Mostra a abundante experiência que a primeira motivação de cada um - e talvez a segunda, a terceira e a quarta - não é servir, é se servir.

Todo mundo está farto de constatar, entre surpresas, sustos e decepções, que é assim mesmo e poucos conhecem um homem público que não tenha ficado bem de vida em alguns anos de carreira.

Os candidatos, em grande parte, viraram mercadorias, vendidas quase como sabonetes e agindo que nem bonecos de ventríloquos, como quando carregam um ponto eletrônico atrás da orelha e têm suas respostas sopradas pelos marqueteiros.

A conversa no fundo é a mesma, a suspeita de mentira ronda a todos, as promessas grandiloquentes jorram em cascatas, números e estatísticas são lançados tão ao deus-dará quanto confete. A propaganda na TV é uma sucessão grotesca e confusa de semblantes intercambiáveis, os partidos políticos há muito não querem dizer nada e são meras plataformas para o encaminhamento de interesses quase sempre subalternos, de que se troca lepidamente, diante de vantagens pessoais oferecidas por outras.

Antigamente, o Brasil precisava de reformas e se usava a expressão "reformas de base". Nunca foram feitas, mas, de repente, parece que já foram todas realizadas, pois ninguém fala mais nelas.

Podemos não haver notado, mas já devemos ter feito, sem ordem de importância, a reforma tributária, a administrativa, a penal, a judiciária, a política e assim por diante. Esta última, então, nem se fala porque ninguém acredita que o Congresso vá produzir leis que afetem seus privilégios. Pelo contrário, deverá fortalecê-los, para resistirem a possíveis futuros ataques.

Quanto às outras, iriam prejudicar aqueles que, no estado atual de coisas, estão se dando bem. Portanto, as famosas reformas deverão continuar a ser mencionadas conforme a necessidade e esquecidas conforme a tradição.

E, na outra ponta do espectro, que eleitor se pode imaginar, saindo para a festa da democracia, neste que espero ser um belo domingo de sol primaveril? É o que nem viu campanha na TV e, se viu, não entendeu. Vai, mais uma vez, votar errado, segundo a ótica de observadores cheios de si. Vai trocar o voto por dinheiro, por uma "colocação" ou emprego, por uma dentadura ou uma intervenção cirúrgica.

Ou tem medo de que a bolsa família desapareça tão inexplicadamente quanto surgiu.

Ou ainda, no que acredito ser a maior parte dos casos, precisa continuar em bons termos com os poderosos de sua área, de cuja boa vontade depende para obter o que a lei diz ser seu direito, mas a realidade mostra que é favor, dependente da generosidade desses poderosos. Quer dizer, vai, na minha opinião, votar com absoluta correção.

Aproveita-se do voto na única ocasião em que ele lhe tem alguma serventia.

E, como o seu equivalente mais bem situado, também acha que todo mundo rouba e então se garante logo e pega o que está à disposição.

Bem, a situação, afinal, talvez não seja tão feia assim, estas tintas estão meio carregadas. No boteco mesmo, na semana passada, a eleição interessava a muita gente. A aposta em que vai haver segundo turno estava pagando um chope e meio por um. E até as eleições que virão depois da de hoje eram antecipadas com ansiedade. Deve ter feriadão, era o comentário geral.

A propaganda na TV é uma sucessão grotesca de semblantes intercambiáveis JOÃO UBALDO RIBEIRO é escritor

GOSTOSA

EDITORIAL - O ESTADO DE SÃO PAULO


Que, bem ou mal, falem as urnas
EDITORIAL

O ESTADO DE SÃO PAULO - 03/10/10


Nesta manhã, ao se abrirem as seções eleitorais para mais uma festa da democracia, estará se encerrando mais um episódio memorável da série do "nunca antes na história deste país": dois mandatos presidenciais sucessivos obstinada e precipuamente focados no projeto político de manter no poder Lula e associados. Com grande habilidade e total desembaraço na manipulação do varejo político, com um carisma capaz de seduzir até os que se julgam mais esclarecidos e ainda com o respaldo de um trabalho bem-feito na aceleração do desenvolvimento econômico e na incorporação de milhões de brasileiros ao mercado de consumo, Lula jamais perdeu de vista o projeto de poder a serviço do qual colocou tudo e todos, inclusive e principalmente as ações de governo. Menos mal que a perseguição desse objetivo transite, pelo menos por enquanto, pela via eleitoral, embora não necessariamente por convicção democrática, mas pela verificação de que, até onde a vista alcança, não existem condições objetivas mínimas para nova aventura escancaradamente autocrática no Brasil.

Quando se têm olhos para enxergar, os fatos demonstram claramente que Lula e o PT não têm projeto de governo, apenas de poder. Foi a opção que assumiram quando se cansaram de ser derrotados nas urnas. Passaram então a fazer tudo, o que quer que seja, passando por cima, se necessário, dos valores éticos que até então defendiam, e até mesmo sobre as instituições da República, para garantir vitórias nas urnas. Primeiro, houve a guinada radical nas principais proposições programáticas do PT com a Carta aos brasileiros, em 2002. Depois, a manipulação da opinião pública, especialmente dos segmentos menos instruídos e por essa razão mais vulneráveis à demagogia, com a massificação de inverdades como a de que o governo Fernando Henrique legou ao País uma "herança maldita". A partir daí, aprendida a lição, Lula e seu partido passaram a defender e praticar, sem constrangimentos, exatamente o contrário do que originalmente pregavam. Se antes, na oposição, o Plano Real tinha que ser combatido, agora, para manter o poder, é bom continuar aplicando seus princípios (sem admitir isso publicamente, é claro); se antes, na oposição, as oligarquias políticas do Norte e Nordeste eram duramente condenadas, agora, para manter o poder, é melhor a elas se associar; se antes, na oposição, qualquer deslize dos administradores públicos era implacavelmente denunciado, agora, para manter o poder, melhor fingir que isso não é nada, coisa pouca, meros desvios.

É impressionante, aliás, a mudança de atitude do inspirador e principal operador desse projeto de poder. Lula, que antes de chegar ao Palácio do Planalto tinha ataques de virtuosa indignação diante de atos de corrupção no governo, uma vez no poder varreu para debaixo do tapete os "erros" cometidos por seus aliados e colaboradores, frequentemente sob suas barbas, quando não lhes passou a mão na cabeça. Não há registro no noticiário, durante toda a era Lula, de uma vez sequer que o presidente tenha vindo a público para condenar explicitamente a corrupção no seu governo ou em sua base partidária - e não foi por falta de escândalos. O máximo a que se permitiu foi a tentativa de desqualificar acusados com o debochado apodo de "aloprados". Toda sua teatral indignação, todo o ímpeto de sua revolta, Lula reservou para atacar quem, por dever de ofício, tem denunciado a falência ética de seu governo: a imprensa.

De qualquer modo, o projeto de poder de Lula chega hoje a um ponto decisivo. O chefe do PT colherá os frutos do que plantou, por um lado, com seus acertos e, por outro, com a extraordinária esperteza que revelou para se manter imune aos efeitos negativos de qualquer tipo de desacerto, especialmente aqueles provocados pela concupiscência da companheirada. Blindado pela imagem do trabalhador de origem humilde que não se intimidou diante da perfídia das elites e logrou o feito histórico de "colocar o povo no poder", descansa agora o presidente na expectativa de sua maior recompensa. O que virá as urnas o dirão. Há que respeitá-las. Mesmo que o maior efeito dessa festa democrática venha a ser uma enorme ressaca para a consciência cívica do Brasil.

FERNANDA TORRES

Cronos
FERNANDA TORRES
folha de são paulo - 03/10/10


Rezo para que a antropofagia estéril das mágoas acumuladas não seja a grande vencedora em 2010

SE DILMA se eleger neste domingo, eu terei ao menos um grande alívio: o fim da preocupação de escrever essa coluna semanal.
Quando me foi feito o convite, a possibilidade de uma leiga como eu analisar a corrida eleitoral pelo seu lado teatral, o da política como fenômeno de comunicação, me seduziu a aceitar a proposta.
No meio do caminho, a disputa antes velada entre o poder e a imprensa se acirrou violentamente. Em um pronunciamento privado, José Dirceu nomeou seus principais desafetos: o Grupo Folha e as Organizações Globo.
Apesar de não ter contrato fixo com a TV Globo, eu, assim como centenas de atores que conheço, trabalho com frequência na maior produtora de conteúdo dramatúrgico do país. Não satisfeita, aceito participar do caderno Eleições 2010 da Folha de S.Paulo. Péssimos antecedentes.
Sempre que acontece uma polarização extrema, exige-se dos que estão envolvidos um posicionamento claro, partidário. Ou bem você ama a liberdade de expressão ou o povo. Ou você é Dilma, ou Serra. PT ou PSDB.
Lula sugeriu que os jornais explicitassem seu voto, em vez de mascararem o partido político pelo qual torcem com denúncias aparentemente isentas.
Ao longo dos últimos oito anos, aconteceram excessos de todos os lados, capas de revistas com pontapés na bunda do presidente e pronunciamentos de rancor público por parte das autoridades.
O economista Enéas de Souza, em um texto na rede, declarou que a imprensa se transformou na voz agonizante das oligarquias, em pânico diante da ameaça da verdadeira democracia opinativa das novas mídias de comunicação via internet.
O profético radicalismo apocalíptico do dilúvio tecnológico de Enéas, que virá abalar a atual concentração de poder e reinventar um mundo melhor, me incomoda tanto quanto os exageros difamatórios e o protecionismo de mercado das grandes corporações de comunicação.
Mais uma vez, reafirmo minha frágil posição de ovo sobre um muro estreito. Detesto extremismos e me preocupa o reflexo deste ódio mútuo nos setores menores da sociedade.
Em uma reunião entre a classe teatral e a secretária de Cultura do Rio, o diretor de um grupo teatral tomou o microfone para dizer que a dificuldade de sobrevivência, a falta de recursos e conexão com as plateias, ou seja, toda a crise do setor seria culpa dos atores, nas palavras dele, GLOBAIS, que além de fazer um teatro comercial, visam o lucro, viciando plateias com produções digestivas e destruindo a possibilidade de sua trupe, essa sim, séria, pura e competente, de existir como criadora.
Me deu vontade de mandá-lo assistir Marco Nanini em Pterodátilos para saber que ofensa há na existência de um trabalho extraordinário como aquele, que recebeu um redondo não de todos os possíveis patrocinadores, e que luta para existir tanto quanto qualquer mortal.
Rezo para que a antropofagia estéril das mágoas acumuladas não seja a grande vencedora em 2010.

FERNANDA TORRES é atriz

DILMA NÃO

ELIANE CANTANHÊDE

Haja coração!
ELIANE CANTANHÊDE
FOLHA DE SÃO PAULO - 03/10/10


BRASÍLIA - O Planalto já até pediu reforço de segurança na Esplanada dos Ministérios para comemorar hoje à noite a vitória de Dilma Rousseff no primeiro turno. Precipitou-se. Tudo pode acontecer.
Considerando-se 2002 e 2006, os tucanos conseguem nas urnas um percentual levemente superior ao apontado nas derradeiras pesquisas. Se isso se repetir, o segundo turno será uma realidade. Se não, Dilma terá fechado a eleição com índices apertados.
Caso dê primeiro turno, Lula ficará impossível e voltará a confrontar a imprensa e a tripudiar os adversários, porque o furacão só foi contido temporariamente pelos marqueteiros. E a festa do PT com o PMDB, o PSB, o PDT, o PP e o PC do B já deixará evidentes as diferenças e a troca de cotoveladas por espaço de poder no novo governo.
Caso dê segundo turno, PSDB, DEM e PPS estarão ao mesmo tempo comemorando e trocando acusações em público, coisa em que são craques. A esta altura, garantir o segundo turno numa eleição tida e havida como perdida corresponde a vitória. A oposição sabe perder, mas não sabe "ganhar".
E os dois lados vão pular em cima de Marina Silva e do PV. Marina fez uma bela campanha e, mesmo sem chance de chegar ao segundo turno, ela foi decisiva para garanti-lo. Ou volta para os braços do PT ou vai para os de Serra -que, como ela disse, iria "perder perdendo".
O segundo turno é sempre alardeado como uma "nova eleição". Mais ou menos. Lula chegou na frente no primeiro turno de 2002 e 2006 e acabou ganhando no final. No segundo turno, ele engordou, Alckmin emagreceu.
Naquela eleição, o PT propagandeou aos quatro ventos que o PSDB iria vender a Petrobras, o Banco do Brasil e todas as estatais. Colou. Resta saber qual vai ser o boato, ou a maldade, desta vez. Se é que, realmente, vai haver segundo turno. O Brasil amanhece hoje com uma enorme interrogação.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Fatia da TAM é maior no setor corporativo
MARIA CRISTINA FRIAS

FOLHA DE SÃO PAULO - 03/10/10

A disputa entre TAM e Gol por liderança no mercado doméstico está longe de se repetir no segmento corporativo.
Elas dividem o mercado geral com 42,2% e 40,69% respectivamente, mas dentre os clientes empresariais, a TAM tem 46,99% da preferência, e a Gol, 36,65%.
Os dados sobre gastos com viagens corporativas são de estudo da Abracorp (associação de agências) relativo ao primeiro semestre.
A entidade, criada no início do ano, reúne 27 agências que atendem grandes empresas e que representam 45% do segmento de viagens corporativas. Juntas, venderam R$ 3,35 milhões em passagens, hotéis e outros produtos no primeiro semestre.
De todas as viagens realizadas no Brasil, de 75% a 80% são a negócios.
Em terceiro lugar na preferência das empresas, vem a Azul (4,25%). Como proporção à oferta de assentos, dentre as menores, o destaque é para a Avianca e para a Trip, que exibem uma participação no mercado corporativo superior a sua participação no mercado total. "Avianca e Trip estão atraindo as empresas", diz Faustino Pereira, presidente da Abracorp.
Os destinos mais vendidos pelas agências são Rio, Brasília e São Paulo, no doméstico, e Buenos Aires, Paris e Nova York no internacional. Nas viagens ao exterior, a TAM tem 25% da oferta de assentos no mercado internacional a partir do Brasil e 18,8% de participação na venda de associadas Abracorp.

DEZ ANOS DE EMPREENDEDORISMO

"DESAFIOS MUDAM"
Fábio Barbosa, presidente do Santander, destaca na Endeavor o apoio a iniciativas que vão se sustentar, gerar renda e criar empregos.
"Vemos empreededores com boas ideias que se materializam, mas à medida que as empresas crescem, os desafios são diferentes do momento de formação da empresa", diz.
Com foco na transparência e em contas auditadas, mesmo os pequenos mostram que empresas podem ser saudáveis e cumprir obrigações tributárias, afirma.
Além de propostas para negócios, o tema entra nas conversas que empreendedores têm com conselheiros, como Barbosa. As empresas querem apoiar outras iniciativas de boa governança e contas auditadas, observa.
O curioso é, segundo Barbosa, que se viu alta de projetos que atuam para a classe média. "É reflexo do que acontece no país, com maior crescimento da classe C."

MÃOS À OBRA
Em 2000, quando a palavra empreendedorismo era pouco conhecida no Brasil, a Endeavor iniciou operações no país. Apoiava três empreendedores que empregavam menos de cem pessoas, com a ajuda de poucas grandes empresas que davam conselhos. Chega aos dez anos com apoio a 91 empreendedores de vários segmentos, que em 2009 geraram mais de R$ 2 bilhões em receita, com mais de 20 mil empregos. O Instituto Empreender Endeavor foi criado com a Endeavor Initiative, organização internacional que promove empreendedorismo. "O tema hoje está na agenda da população", diz Rodrigo Teles, presidente.

"ORGANIZAÇÃO É ÍMPAR"
"Endeavor é uma ONG de organização ímpar, conduzida por jovens determinados e muito preparados", afirma Pedro Passos, um dos presidentes do conselho de administração e um dos fundadores da Natura.
"É gostoso poder colaborar. Tem uma rede de voluntários muito significativa e uma seleção de projetos muito rigorosa e competitiva."
Oferece, porém, oportunidade a todos, diz. "Ajudamos na preparação dos candidatos na seleção. Buscamos entender o negócio, as influências..."
Às vezes algumas pessoas saem do processo para se candidatar depois, mais fortalecidas.
Muitas empresas podem aprender como identificar um empreendedor, diz Passos, que dá dicas a quem seleciona: "identificar a energia, o brilho, a capacidade de liderar."

Na Colômbia
A Braskem inaugura, na próxima quinta-feira, seu escritório na Colômbia. Até o final deste ano, a empresa também abrirá uma unidade em Lima, no Peru, onde planeja produzir polietileno, e em Cingapura.

Novo visual
A C&A fechará para reforma hoje sua loja no Shopping Iguatemi, em São Paulo. A unidade será reaberta com conceito de "flagship", diferente das demais lojas da marca no mundo. Será inaugurada no dia 21.

Participação em grupo que estuda acidentes é alvo de discussão

O Gepac (Grupo de Estudos Permanentes de Acidentes de Consumo), da Secretaria de Direito Econômico, ganhou três novos membros em setembro: Anvisa, Inmetro e Denatran.
O grupo, porém, não abriu cadeira para fabricantes de produtos, o que é questionado por alguns juristas.
"Sem essa participação, surgem diretrizes contrárias às possibilidades técnicas das empresas", diz Ricardo Motta, do Viseu Advogados.
A limitação dos membros do grupo aos órgãos do governo, porém, é adequada para Maria Helena Bragaglia, do Demarest e Almeida.
"O objetivo é identificar os problemas e impedir que se mantenham. Isso não significa que não haja diálogo", diz.
A competência do grupo é alcançada com a ajuda dos órgãos técnicos, segundo Amaury Oliva, coordenador do Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor da Secretaria.
A participação dos fabricantes, para Maximilian Paschoal, do Pinheiro Neto, enriquece a discussão e não afeta a isenção das decisões. "Eles fornecem dados técnicos, que faltam ao governo."
com JOANA CUNHA, ALESSANDRA KIANEK, FLÁVIA MARCONDES e MARIANA BARBOSA

O VOTO DO SPONHOLZ

VILAS-BÔAS CORRÊA


O impossível pede passagem 


Villas-Bôas Corrêa
JORNAL DO BRASIL - 03/10/10



Qualquer tentativa de análise sobre a surpreendente reviravolta nos rumos da campanha eleitoral - com a candidata franca favorita, Dilma Rousseff, lançada e apoiada pelo presidente Lula e o poderoso esquema governista, despencando de escada abaixo, coma queda de dez pontos em duas semanas entre eleitores com curso superior -antes da última rodada de debates na rede Globo de TV, na quinta-feira passada, e a última pesquisa não irá além de um simples e tendencioso palpite de torcedor.
Por enquanto, devemos ficar nas modestas preliminares, que não são de desprezar. Em que errou o presidente Lula, o maior líder popular na história deste país, que está pagando um alto preço pelo excesso de confiança, tripudiando sobre os adversários, na verdade sobre o candidato da oposição, José Serra, que vinha perdendo pontos com a campanha de maçante monotonia, a bater na mesma tecla de promessas mirabolantes?
Um pouco de cautela e modéstia nunca fez mal a ninguém. E o inesperado chega em dose tripla: o tombo da candidata Dilma, até então a franca favorita, a estagnação do candidato José Serra e a disparada por fora da candidata Marina Silva, do Partido Verde, e que representa a surpresa e a novidade da defesa do meio ambiente.
Um pouco de água ainda passará debaixo da pinguela, até a abertura da primeira boca de urna, neste domingo das eleições. E entre as novidades não é irrelevante a complicação no exercício do voto para o cacho de candidatos a presidente e vice-presidente da República, governador e vice-go-vernador de estado - isto para o Executivo.
E para a murcha esperança de uma vassourada no pior Congresso de todos os tempos, o eleitor, sem tomar fôlego, deverá votar em dois candidatos a senador, em um deputado federal e em um deputado estadual.
O horário de propaganda eleitoral em rede nacional de televisão mais confundiu e irritou os eleitores do que ajudou a escolher os seus candidatos. Com as exceções que se diluíram no pacote do ridículo, foi um desfile constrangedor.
Os eleitores hoje têm de escolher os seus candidatos. E devem anotar nomes numa cola para facilitar uma votação, que é teste para os nervos e a paciência.
E até lá, matutar sobre as escolhas para não purgar o remorso por novos enganos. Não bastam o atual Congresso e a baixaria da campanha?


INDIO DA COSTA


Por que voto em Serra

Indio da Costa
JORNAL DO BRASIL - 03/10/10




Eu voto e peço votos para José Serra porque acredito que honestidade, convicção democrática e competência sejam predicados indispensáveis para um presidente da República.
Também voto em Serra porque acredito que ele seja o único candidato que tenha um verdadeiro projeto de desenvolvimento para o Brasil. Quando falo em desenvolvimento, estou me referindo a crescimento econômico e social, com respeito ao meio ambiente e apoiado em sólidas políticas de valorização das pessoas que constroem este país. Emprego, saúde e educação caminharão juntos neste processo para um Brasil que pode mais.
José Serra é, de longe, o candidato mais experiente entre todos, tendo passado por diversos cargos públicos do Legislativo e do Executivo. Sua passagem pelo Ministério da Saúde revolucionou a forma de gerir os recursos desta pasta em todo o mundo e, portanto, não há sombra de dúvida sobre como o atendimento médico e hospitalar vai melhorar, assim como as ações de prevenção de doenças, especialmente no que se ética, refere à saúde da mulher.

Na Educação, Serra vai preparar os nossos jovens para este Brasil que vai crescer muito mais, criando escolas técnicas capazes de qualificar a garotada para as atividades profissionais mais antenadas com as diversas regiões deste país tão diverso e com tantas vocações.
Serra vai investir pesado nas obras de infraes-trutura, melhorando e duplicando as estradas, para possibilitar um rápido e eficiente escoamento da produção agrícola e industrial para os portos. Isso implicará na redução do Custo Brasil, o absurdo que faz com que seja mais caro levar soja do Mato Grosso a Santa Catarina do que de um porto brasileiro até a China, como ocorre hoje. No governo Serra, teremos uma política industrial, de forma a incentivar a produção nacional, gerando empregos em nosso país.
Terei muito orgulho de estar ao lado de Serra na Presidência, para que todos nós, brasileiros, possamos viver num país democrático, onde a liberdade de expressão seja ampla, total e irrestrita. Onde as manifestações de opiniões diversas e de culturas diferentes sejam entendidas como imprescindíveis para a construção de uma sociedade que valoriza a honestidade e que respeita as diferenças.


CANDIDATO A VICE-PRESIDENTE PELO DEM

GOSTOSA

EDITORIAL - O GLOBO

Instituições democráticas e tolerância
EDITORIAL
O GLOBO - 03/10/10

A sexta eleição presidencial direta consecutiva, com escolha de governadores e renovação de casas legislativas federais e estaduais, merece ser comemorada como uma reafirmação da opção da sociedade pela democracia representativa.

O país completa o período de um quarto de século, sem interrupções, dentro dos marcos de um regime republicano. Sequer a votação do impeachment de um presidente, Collor, foi capaz de produzir algum curto-circuito grave.

Lula encerrará em 90 dias oito anos de uma experiência, também histórica, durante a qual uma eclética aliança política liderada pela esquerda governou o país sem maiores sustos.

Também devido a este ecletismo, o regime democrático e suas instituições foram testados na Era Lula, e demonstraram solidez. Grupos de esquerda autoritária abrigados nesta aliança não deixaram de trabalhar em prol da tutela da sociedade pelo Estado. Suas impressões digitais na campanha eleitoral foram percebidas quando Dilma Rousseff encaminhou à Justiça, como programa de governo, algumas propostas destiladas nesses laboratório do autoritarismo. Em boa hora, a candidata recolheu o documento.

A campanha do primeiro turno foi pautada pela atuação de um presidente decidido a eleger sua candidata mesmo contra a legislação eleitoral. Mais uma vez, os pesos e contrapesos da democracia atuaram. Houve admoestações e multas, pela insistência com que Lula confundiu o papel de chefe de governo com o de líder partidário e cabo eleitoral.

Ávido em fazer o sucessor, Lula se arvorou em “dono” da opinião pública e confundiu notícia com os agentes dela, quando foi conivente com o desengavetamento da exótica acusação contra a imprensa profissional de “golpismo”, artifício dissimulador já acionado no mensalão e no caso dos aloprados. Uma imprensa partidária e/ou dependente de verbas oficiais encontra motivos — embora deploráveis — para não divulgar certas informações.

Mas o jornalismo independente, cuja razão de ser é a credibilidade, jamais fingirá que inexistem malfeitorias em Brasília ou em qualquer outro lugar, mesmo contra os interesses dos poderosos de ocasião.

Numa campanha em que regras rígidas estabelecidas pelos candidatos aos debates na TV impediram, mais uma vez, o aprofundamento da discussão de temas estratégicos, os marqueteiros continuaram a ocupar grande e indesejado espaço. Espera-se que um dia haja uma eleição no Brasil em que candidatos possam esgrimir argumentos como nas campanhas americanas, se mostrem por inteiro. Por tudo, as liberdades de expressão e imprensa estiveram no centro da campanha do primeiro turno.

Com acerto, Dilma Rousseff, na condição de quem sofreu violência desmedida de um estado ditatorial, perfilou-se entre os defensores das liberdades. Não podia ser diferente. Também aqui as instituições mostraram a necessária força, quando o Supremo Tribunal Federal (STF), atendendo à arguição da Abert (associação de emissoras de TV e rádio), tirou a mordaça do humorismo e do jornalismo político na mídia eletrônica em época de campanha. Entre as tendências detectadas pelas pesquisas, prevê-se, nas eleições proporcionais, a a formação, no Congresso, de uma sólida bancada lulopetista e de aliados. Ponto importante a observar, confirmado o cenário, é o que fará esta bancada: se testará limites constitucionais, senha para a deflagração de tensões desnecessárias, ou não. O encolhimento da mancha tucana no mapa político nacional, por sua vez, coloca na agenda do PSDB, mesmo se Serra vier a ser presidente, a crise de identidade do partido: resgata no passado o projeto modernizante exitoso de FH ou insiste na linha de ser uma força paralela ao petismo, apenas com uma suposta competência técnica mais apurada? Fecha a radiografia das urnas, tudo indica, a boa notícia do avanço da agenda verde de Marina Silva, tema do futuro mas que precisa ser debatido já. Haja o que houver na disputa entre Dilma, Serra e Marina, o país que sai do primeiro turno demonstra que nada justifica buscar a hegemonia política a qualquer preço. Quando isto ocorre, os anticorpos da democracia reagem. Neste sentido, a campanha reafirmou a imperiosa necessidade da tolerância e convivência entre contrários, como nos últimos 25 anos.

A necessária convivência pacífica entre contrários

RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA

Pega leve
RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 03/10/10

A despeito das indicações dadas pelo próprio Lula sobre tarefas que pretende assumir a partir de janeiro, o presidente tem sido aconselhado pelos que privam de sua intimidade a submergir totalmente nos primeiros meses de 2011, em especial se Dilma Rousseff confirmar, hoje ou no segundo turno, seu favoritismo.
Auxiliares ponderam que qualquer movimento de Lula, ainda que voltado aos países da África ou a vizinhos da América Latina, pode ofuscar a autoridade do sucessor. Se essa lógica prevalecer, planos como a costura de uma reforma política e da aproximação entre partidos do campo de esquerda tendem a ser mantidos por algum tempo na gaveta.


Lição de casa Edifício no Ibirapuera, em São Paulo, é inspecionado por assessores para abrigar o futuro instituto de Lula. Lá ficará instalado todo o acervo do presidente. Comentário de colaborador próximo: "Espero que ele se ocupe com isso".

Balança Embora vários auxiliares reconheçam que Dilma ganhou peso na campanha, nenhum procurou descobrir quanto. "Não perguntaria isso a uma mulher. Ainda mais uma mulher que pode virar presidente."

Ponto de encontro Há algo em comum entre os oponentes Dilma e José Serra: ambos estão para lá de irritados com a atitude de "candidata do século 21" adotada por Marina Silva (PV).

Herança Dilmistas apostam que, se a eleição terminar hoje, Marina, apesar de sair da disputa maior do que entrou, perderá logo parte do capital político. Além de não ter um partido consolidado no qual se ancorar, faltaria à verde "discurso nacional".

Preventivo De Moreira Franco, representante do PMDB na campanha de Dilma, sobre o "governo de coalizão" mencionado pela petista no debate da Globo: "É uma coisa muito madura. Melhor fazer na eleição que no balcão do Salão Verde".

Massacre 1 A pregação de Lula na tentativa de dizimar a oposição no Senado prospera, segundo o Datafolha, em Pernambuco e no Rio. Marco Maciel (DEM), com 20%, e Cesar Maia (DEM), com 17%, devem naufragar hoje.

Massacre 2 Outros expoentes tucanos estão com a reeleição ameaçada em seus Estados: Tasso Jereissati (CE) e Arthur Virgílio (AM).

Convergência Em São Paulo, as pesquisas internas do PT e do PSDB divergem em vários pontos, menos no que diz respeito ao ininterrupto crescimento do tucano Aloysio Nunes, que hoje tentará tirar de Marta Suplicy (PT) ou de Netinho (PC do B) uma vaga para o Senado.

Metrópole Na reta final, Geraldo Alckmin (PSDB) consolidou sua vantagem sobre Aloizio Mercadante (PT) na região metropolitana de SP, onde concentrou a agenda nos últimos 15 dias de campanha. Segundo o Datafolha, o tucano passou de 48% para 51% no entorno da capital, enquanto o petista oscilou de 33% para 31%.

Da gaveta Caso eleito, Alckmin promete que sua primeira obra será a duplicação da Rodovia dos Tamoios, projeto de concessão concebido no final de sua gestão e depois colocado no freezer por Serra, que o desaprova em razão dos entraves ambientais e do tráfego.

Em família O ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo e do TSE, se apresentará hoje para votar munido de título assinado por sua mulher, que era juíza eleitoral à época em que o documento foi expedido.

com LETÍCIA SANDER e FABIO ZAMBELI

tiroteio

"O Brasil é um país tão excêntrico que, a três dias da eleição, ninguém sabia como votar, e, hoje, não sabemos direito em quem podemos votar."
DO CIENTISTA POLÍTICO RUBENS FIGUEIREDO, analisando a reviravolta quanto à documentação necessária para votar e a indefinição sobre os atingidos pela Lei da Ficha Limpa.

contraponto

Oferta irrecusável


No passado remoto das cédulas de papel, Alberto Goldman era candidato a deputado federal e no dia da votação encontrou um velho conhecido atuando como mesário em sua seção eleitoral. Sem cerimônia, o homem chamou o hoje governador de São Paulo num canto e ofereceu:
-De quantos votos você precisa?
Goldman não entendeu, e ele explicou:
-Posso mudar uns brancos...
-Pelo amor de Deus, não me coloque no meio disso!
Na saída, Goldman ainda recomendou a um fiscal:
-Melhor ficar de olho! Isso aqui vai dar confusão!

O MEU VOTO