GAZETA DO POVO - PR
O presidente Michel Temer, mas que pode ser chamado também de Capitão Mesóclise, fez um duro pronunciamentohoje se defendendo das acusações “sem provas” de que tem sido alvo. Temer subiu o tom, repetiu diversas vezes a palavra “ilação”, e fez ele mesmo algumas ilações sobre o procurador que virou advogado de delator e ganhou milhões em poucos meses.
Temer usa a mesma tática de Lula, o que poderia dar um nó na cabeça dos petistas, se eles tivessem alguma consciência: onde estão as provas?! De fato, seu assessor receber uma mala de dinheiro numa armadilha não parece exatamente a marca do batom, ao menos nada parecido com o tríplex que “não é do Lula”, ou o sítio que “não é do Lula”.
Eis alguns trechos da fala do presidente, destacados pelos antagonistas (que têm feito o jogo da grande mídia e da extrema-esquerda ao pedir diariamente a cabeça de Temer, deixando de lado até a prisão de Lula, que seria “amanhã”:
“Estamos colocando o país nos trilhos e somos vítima dessa infâmia de natureza política.”
“Onde estão as provas concretas de recebimento desses valores? Inexistem.”
“Quem deveria estar na cadeia está solto para voar a Nova York ou a Pequim e voltar para inventar uma nova história.”
“Querem parar o Brasil e o Congresso.”
“O que há, na verdade, é um atentado contra o nosso país.”
“Minha disposição é continuar a trabalhar pelo Brasil para gerar crescimento e emprego, para continuar com as reformas fundamentais.”
“Não fugirei das batalhas nem da guerra que temos pela frente.”
“Minha disposição não diminuirá com ataques irresponsáveis.”
É a primeira vez na história da República que o Ministério Público Federal acusa um presidente no exercício do cargo pela prática de crime comum. Ineditismo espantoso, ainda mais quando lembramos que Lula e Dilma passaram recentemente pelo mesmo cargo. Por que tanta celeridade na hora de produzir denúncias – três! – contra Temer, se nada parecido se viu quando petistas ocupavam a presidência?
Essa pergunta precisa ser feita, repetida de forma incansável, pois sua resposta é fundamental para entender a política nacional. Por que o espírito republicano e a grande produtividade de Janot só apareceram após o impeachment de Dilma? Temer é um santo? Não, mas quem diz o contrário? As provas contra ele são tão demolidoras assim quanto Janot dá a entender em suas denúncias apressadas? Também não. Ao menos não se comparado ao que se tem contra alguns petistas ainda soltos.
O viés está escancarado. E as suspeitas saltam aos olhos. Justo no momento das reformas necessárias, que incomodam o “deep state”, surge uma gravação de Joesley, cria de Lula, num encontro claramente armado para esse intuito, enquanto o acordo concede total liberdade ao delator, que sequer será denunciado? E Temer se transforma em chefe de quadrilha, enquanto Lula segue solto por aí? E o procurador-geral, na véspera de sua saída do cargo, produz diversas denúncias em tempo tão curto assim?
Não é necessário achar que Temer é honesto para estranhar isso tudo, e para manter, no mínimo, a cautela, para não bancar o idiota útil de forças poderosas com interesses muito obscuros. Acho que o Capitão Mesóclise fez bem de ir para cima da turma, e tudo indica que os planos mirabolantes de derrubá-lo serão frustrados. Os antagonistas terão de experimentar ares marinhos para afogar as mágoas. Não foi dessa vez que os jacobinos conseguiram impor sua agenda, mesmo com todo o poder da grande mídia…
Eu quero ver Temer, eleito pelos petistas, fora do poder também, mas faltam poucos meses para isso, dentro da normalidade institucional e com eleições previstas para o ano que vem. Mas ANTES disso, eu quero mesmo é ver Lula preso. E Joesley Batista também, mas esse já experimentou o gostinho da impunidade brasileira, graças a Rodrigo Janot, não é mesmo?
Rodrigo Constantino
quarta-feira, junho 28, 2017
A denúncia contra o presidente - EDITORIAL ESTADÃO
ESTADÃO - 28/06
A denúncia do procurador-geral Rodrigo Janot contra o presidente Michel Temer é inepta. O Supremo Tribunal Federal faria bem se mandasse arquivá-la
O resultado do generoso prêmio dado ao empresário Joesley Batista por sua delação envolvendo o presidente Michel Temer é uma denúncia inepta. Finalmente apresentada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, na segunda-feira passada, para basear pesadas acusações de corrupção contra o presidente, a peça não acrescenta nada ao que já havia sido tornado público com o vazamento da delação de Joesley. Ou seja, a denúncia de Janot contra Temer é baseada somente na palavra do delator e em diálogos que deveriam ser interpretados com bem menos ligeireza, não só porque estão entrecortados, tornando-se incompreensíveis em vários momentos, mas principalmente porque foram captados pelo empresário com a intenção evidente de comprometer o presidente, sabe-se lá por que obscuras razões.
Por esses motivos, o Supremo Tribunal Federal faria bem se mandasse arquivar a denúncia, pois é claro que não se pode tratar de um processo criminal contra um presidente da República – que implicaria seu afastamento do cargo – sem que haja sólidas evidências a ampará-lo. E tudo o que se pode dizer, da leitura das pouco mais de 60 páginas da denúncia do procurador-geral, é que as acusações evidentemente carecem de base.
A denúncia se baseia principalmente na acusação de que o presidente Temer ganhou de Joesley Batista “vantagem indevida de R$ 500 mil”, por intermédio do ex-deputado Rodrigo Rocha Loures – que foi flagrado em vídeo recebendo a quantia em uma mala. Para a Procuradoria-Geral, o simples fato de que Rocha Loures era próximo de Temer – o presidente citou o nome do ex-deputado no diálogo com Joesley – foi suficiente para inferir que o dinheiro não era para Rocha Loures, e sim para o presidente.
Esses R$ 500 mil seriam parte de uma estupenda mesada que Joesley teria aceitado pagar em troca de uma intervenção do presidente Temer, por meio de Rocha Loures, no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) em favor de sua empresa, a JBS. No entanto, a própria denúncia admite que, “no exíguo prazo deste inquérito, não foi possível reunir elementos que permitam concluir que o interesse manifestado por Rodrigo Rocha Loures (no Cade) tenha provocado, no seio daquele órgão, ações ou decisões precipitadas ou desviadas da boa técnica”.
Essas incertezas se multiplicam em outros pontos da denúncia. A respeito do suposto pagamento de propina para comprar o “silêncio” do deputado cassado Eduardo Cunha, que Temer teria avalizado, segundo interpretou a Procuradoria-Geral a partir de um famoso trecho da conversa grampeada por Joesley – “tem que manter isso aí” –, a denúncia admite que ainda é preciso “uma análise mais cuidadosa, aprofundada e responsável” dos elementos disponíveis.
Por fim, a denúncia cita um suposto esquema em que o presidente Temer teria favorecido uma empresa da área portuária por meio de um decreto. Mesmo nesse caso, porém, o procurador-geral Rodrigo Janot admite ainda que é preciso instaurar “investigação específica” para “melhor elucidar os fatos”.
Logo, todos os pilares sobre os quais se sustenta a denúncia não permitem nenhuma conclusão, muito menos uma que seja sólida o suficiente para tirar o presidente da República de seu cargo, ao custo de enorme instabilidade para o País. Mas isso não impediu Rodrigo Janot de encerrar sua peça dizendo que “não há dúvida” de que Michel Temer cometeu “práticas espúrias” e que o presidente “ludibriou os cidadãos brasileiros”, causando “abalo moral à coletividade”.
A única coisa sobre a qual não resta dúvida é que a denúncia de Rodrigo Janot contra Michel Temer, de tão rasa, só serve a interesses políticos, e não jurídicos. Tanto é assim que o procurador-geral prepara uma série de novas denúncias, a serem apresentadas a conta-gotas, mantendo o presidente sob permanente ameaça. Não se pode reprovar quem veja nisso uma tentativa de inviabilizar de vez um governo já bastante acossado.
Diante disso, cabe ao presidente Michel Temer lutar para reunir maioria no Congresso não apenas para rejeitar a denúncia, mas para seguir adiante com as reformas. O País não pode continuar refém de irresponsabilidades.
A denúncia do procurador-geral Rodrigo Janot contra o presidente Michel Temer é inepta. O Supremo Tribunal Federal faria bem se mandasse arquivá-la
O resultado do generoso prêmio dado ao empresário Joesley Batista por sua delação envolvendo o presidente Michel Temer é uma denúncia inepta. Finalmente apresentada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, na segunda-feira passada, para basear pesadas acusações de corrupção contra o presidente, a peça não acrescenta nada ao que já havia sido tornado público com o vazamento da delação de Joesley. Ou seja, a denúncia de Janot contra Temer é baseada somente na palavra do delator e em diálogos que deveriam ser interpretados com bem menos ligeireza, não só porque estão entrecortados, tornando-se incompreensíveis em vários momentos, mas principalmente porque foram captados pelo empresário com a intenção evidente de comprometer o presidente, sabe-se lá por que obscuras razões.
Por esses motivos, o Supremo Tribunal Federal faria bem se mandasse arquivar a denúncia, pois é claro que não se pode tratar de um processo criminal contra um presidente da República – que implicaria seu afastamento do cargo – sem que haja sólidas evidências a ampará-lo. E tudo o que se pode dizer, da leitura das pouco mais de 60 páginas da denúncia do procurador-geral, é que as acusações evidentemente carecem de base.
A denúncia se baseia principalmente na acusação de que o presidente Temer ganhou de Joesley Batista “vantagem indevida de R$ 500 mil”, por intermédio do ex-deputado Rodrigo Rocha Loures – que foi flagrado em vídeo recebendo a quantia em uma mala. Para a Procuradoria-Geral, o simples fato de que Rocha Loures era próximo de Temer – o presidente citou o nome do ex-deputado no diálogo com Joesley – foi suficiente para inferir que o dinheiro não era para Rocha Loures, e sim para o presidente.
Esses R$ 500 mil seriam parte de uma estupenda mesada que Joesley teria aceitado pagar em troca de uma intervenção do presidente Temer, por meio de Rocha Loures, no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) em favor de sua empresa, a JBS. No entanto, a própria denúncia admite que, “no exíguo prazo deste inquérito, não foi possível reunir elementos que permitam concluir que o interesse manifestado por Rodrigo Rocha Loures (no Cade) tenha provocado, no seio daquele órgão, ações ou decisões precipitadas ou desviadas da boa técnica”.
Essas incertezas se multiplicam em outros pontos da denúncia. A respeito do suposto pagamento de propina para comprar o “silêncio” do deputado cassado Eduardo Cunha, que Temer teria avalizado, segundo interpretou a Procuradoria-Geral a partir de um famoso trecho da conversa grampeada por Joesley – “tem que manter isso aí” –, a denúncia admite que ainda é preciso “uma análise mais cuidadosa, aprofundada e responsável” dos elementos disponíveis.
Por fim, a denúncia cita um suposto esquema em que o presidente Temer teria favorecido uma empresa da área portuária por meio de um decreto. Mesmo nesse caso, porém, o procurador-geral Rodrigo Janot admite ainda que é preciso instaurar “investigação específica” para “melhor elucidar os fatos”.
Logo, todos os pilares sobre os quais se sustenta a denúncia não permitem nenhuma conclusão, muito menos uma que seja sólida o suficiente para tirar o presidente da República de seu cargo, ao custo de enorme instabilidade para o País. Mas isso não impediu Rodrigo Janot de encerrar sua peça dizendo que “não há dúvida” de que Michel Temer cometeu “práticas espúrias” e que o presidente “ludibriou os cidadãos brasileiros”, causando “abalo moral à coletividade”.
A única coisa sobre a qual não resta dúvida é que a denúncia de Rodrigo Janot contra Michel Temer, de tão rasa, só serve a interesses políticos, e não jurídicos. Tanto é assim que o procurador-geral prepara uma série de novas denúncias, a serem apresentadas a conta-gotas, mantendo o presidente sob permanente ameaça. Não se pode reprovar quem veja nisso uma tentativa de inviabilizar de vez um governo já bastante acossado.
Diante disso, cabe ao presidente Michel Temer lutar para reunir maioria no Congresso não apenas para rejeitar a denúncia, mas para seguir adiante com as reformas. O País não pode continuar refém de irresponsabilidades.
quarta-feira, junho 21, 2017
JANOT, O HOMEM MAIS PODEROSO (E PERIGOSO) DO BRASIL - RODRIGO CONSTANTINO
GAZETA DO POVO - PR - 20/06
Uma ala da direita preferiu fingir que Rodrigo Janot não dava todos os sinais de parcialidade em sua cruzada contra a corrupção só para poder atacar “todos que estão aí”, o sistema como um todo, sem distinções. E a bola da vez era Temer com seu PMDB e o apoio do PSDB.
É compreensível a revolta contra todos os principais partidos, todos eles de esquerda, diga-se, ainda que seja cegueira ou burrice não perceber que o PT é mil vezes pior, por não ser “apenas” corrupto, e sim totalitário e bolchevique. Saber quem atacar primeiro não é ter bandido preferido; é questão de prioridade.
Mas, no afã de posar de purista jacobino contra todas as forças do mal, eis que uma turma à direita fechou os olhos e “casou” com Janot. Com Janot! O mesmo que hibernou em cima dos processos contra os petistas graúdos. Fazer pacto com o diabo pensando no curto prazo é sempre muito perigoso.
Carlos Andreazza, em corajoso artigo, mostra como esse apoio a Janot serve apenas aos interesses dos próprios petistas. Não dá para ser inocente útil da extrema-esquerda, que já deu todas as provas de jogar sujo, de não medir esforços e não ter escrúpulo algum em sua busca pelo poder. Diz Andreazza, expondo o duplo padrão do procurador-geral da República:
Note o leitor que, na investida de Janot, muito mais que um movimento contra Aécio Neves, vai explícita a criminalização da atividade política. É da ordem da barbárie difundir uma reunião entre políticos como conspiração contra a democracia. Mas essa generalização — que a todos iguala por baixo — serve a um projeto. A reabilitação do PT, especificamente a de Lula, só está em curso porque se enterrou a política na lama.
Escolhido por Dilma Rousseff e reconduzido ao cargo por ela, Janot é hoje — mérito consequente de muita determinação — o homem mais poderoso do Brasil, trabalhador incansável por fazer justiça, guerreiro cujo entusiasmo por acusar poderosos é outro desde que o PT saiu do Planalto.
Está aí um patriota a quem o impeachment liberou.
Senhor da agenda que pauta — e paralisa — a vida pública no país, há semanas tem o presidente sob a ameaça de uma denúncia ao Supremo, com cujo ritmo brinca como se fosse João Gilberto com o tempo de uma canção. Nesse período, diariamente, vaza-se à imprensa que talvez a cousa seja formalizada amanhã, mas que, bem, pode ser na semana que vem. Depende. Depende — digo eu — do momento. Do momento político. De um em que Michel Temer se encontre vulnerável.
Andreazza chama a atenção para o arbítrio do procurador-geral, do uso seletivo de seus poderes, do uso abusivo de seus poderes, resumindo ser ele hoje “a única autoridade que faz o que quer neste país”. E como a alvo é Temer ou Aécio, que ninguém quer defender, que não contarão jamais com um exército paralelo para gritar nas ruas “heróis do povo brasileiro”, como fazem os petistas com seus bandidos, então a turma faz vista grossa aos abusos.
Mas isso é extremamente perigoso. Afinal, se o arbítrio é tolerado hoje, ele poderá ser usado amanhã também. “Até o dia em que esses métodos se voltarem contra um dos nossos. Aí, será o quê? Estado policial?”, pergunta o autor. Andreazza conclui lembrando das possíveis intenções políticas de Janot:
Não sem aviso, chegamos ao momento em que um tipo como Joesley Batista diz que Temer é líder da “maior e mais perigosa organização criminosa deste país” — e fica tudo por isso mesmo. Ai, ai…
Os desconfiados — teóricos da conspiração — atrapalham o Brasil. Essa é a verdade.
Dificilmente, contudo, atrapalharão o movimento orgânico dos que militam para que Janot se candidate a senador em 2018, pelo Estado de Minas Gerais, na vaga a ser aberta por Aécio Neves. Mas pode ser a governador. Será pelo PT? Ou disfarçaremos numa linha auxiliar? Rede?
Ninguém, repito, quer defender Temer, até porque sua figura inspira poucas paixões e nenhuma credibilidade. Mas as reformas que ele liderava são fundamentais, e afetam diretamente o establishment político, o “deep state”, aquele que gosta de casar com o PT, defensor das mamatas e privilégios. E as reformas subiram no telhado. A quem isso interessa?
E a narrativa também misturou tudo e todos, como se o PT fosse igual ao PMDB e ao PSDB, e não uma máfia socialista disfarçada de partido, que defende ditaduras e criminosos abertamente. Novamente: a quem isso interessa?
Não podemos ser tão ingênuos assim. O Brasil não é para amadores. A “direita” que se vestiu de janotista está dando bobeira. Confiar na dupla Joesley Batista e Rodrigo Janot para executar a limpeza ética na política nacional é piada de mau gosto. E, enquanto isso, por onde anda Lula, de quem ninguém mais fala na imprensa?
Rodrigo Constantino
Uma ala da direita preferiu fingir que Rodrigo Janot não dava todos os sinais de parcialidade em sua cruzada contra a corrupção só para poder atacar “todos que estão aí”, o sistema como um todo, sem distinções. E a bola da vez era Temer com seu PMDB e o apoio do PSDB.
É compreensível a revolta contra todos os principais partidos, todos eles de esquerda, diga-se, ainda que seja cegueira ou burrice não perceber que o PT é mil vezes pior, por não ser “apenas” corrupto, e sim totalitário e bolchevique. Saber quem atacar primeiro não é ter bandido preferido; é questão de prioridade.
Mas, no afã de posar de purista jacobino contra todas as forças do mal, eis que uma turma à direita fechou os olhos e “casou” com Janot. Com Janot! O mesmo que hibernou em cima dos processos contra os petistas graúdos. Fazer pacto com o diabo pensando no curto prazo é sempre muito perigoso.
Carlos Andreazza, em corajoso artigo, mostra como esse apoio a Janot serve apenas aos interesses dos próprios petistas. Não dá para ser inocente útil da extrema-esquerda, que já deu todas as provas de jogar sujo, de não medir esforços e não ter escrúpulo algum em sua busca pelo poder. Diz Andreazza, expondo o duplo padrão do procurador-geral da República:
Note o leitor que, na investida de Janot, muito mais que um movimento contra Aécio Neves, vai explícita a criminalização da atividade política. É da ordem da barbárie difundir uma reunião entre políticos como conspiração contra a democracia. Mas essa generalização — que a todos iguala por baixo — serve a um projeto. A reabilitação do PT, especificamente a de Lula, só está em curso porque se enterrou a política na lama.
Escolhido por Dilma Rousseff e reconduzido ao cargo por ela, Janot é hoje — mérito consequente de muita determinação — o homem mais poderoso do Brasil, trabalhador incansável por fazer justiça, guerreiro cujo entusiasmo por acusar poderosos é outro desde que o PT saiu do Planalto.
Está aí um patriota a quem o impeachment liberou.
Senhor da agenda que pauta — e paralisa — a vida pública no país, há semanas tem o presidente sob a ameaça de uma denúncia ao Supremo, com cujo ritmo brinca como se fosse João Gilberto com o tempo de uma canção. Nesse período, diariamente, vaza-se à imprensa que talvez a cousa seja formalizada amanhã, mas que, bem, pode ser na semana que vem. Depende. Depende — digo eu — do momento. Do momento político. De um em que Michel Temer se encontre vulnerável.
Andreazza chama a atenção para o arbítrio do procurador-geral, do uso seletivo de seus poderes, do uso abusivo de seus poderes, resumindo ser ele hoje “a única autoridade que faz o que quer neste país”. E como a alvo é Temer ou Aécio, que ninguém quer defender, que não contarão jamais com um exército paralelo para gritar nas ruas “heróis do povo brasileiro”, como fazem os petistas com seus bandidos, então a turma faz vista grossa aos abusos.
Mas isso é extremamente perigoso. Afinal, se o arbítrio é tolerado hoje, ele poderá ser usado amanhã também. “Até o dia em que esses métodos se voltarem contra um dos nossos. Aí, será o quê? Estado policial?”, pergunta o autor. Andreazza conclui lembrando das possíveis intenções políticas de Janot:
Não sem aviso, chegamos ao momento em que um tipo como Joesley Batista diz que Temer é líder da “maior e mais perigosa organização criminosa deste país” — e fica tudo por isso mesmo. Ai, ai…
Os desconfiados — teóricos da conspiração — atrapalham o Brasil. Essa é a verdade.
Dificilmente, contudo, atrapalharão o movimento orgânico dos que militam para que Janot se candidate a senador em 2018, pelo Estado de Minas Gerais, na vaga a ser aberta por Aécio Neves. Mas pode ser a governador. Será pelo PT? Ou disfarçaremos numa linha auxiliar? Rede?
Ninguém, repito, quer defender Temer, até porque sua figura inspira poucas paixões e nenhuma credibilidade. Mas as reformas que ele liderava são fundamentais, e afetam diretamente o establishment político, o “deep state”, aquele que gosta de casar com o PT, defensor das mamatas e privilégios. E as reformas subiram no telhado. A quem isso interessa?
E a narrativa também misturou tudo e todos, como se o PT fosse igual ao PMDB e ao PSDB, e não uma máfia socialista disfarçada de partido, que defende ditaduras e criminosos abertamente. Novamente: a quem isso interessa?
Não podemos ser tão ingênuos assim. O Brasil não é para amadores. A “direita” que se vestiu de janotista está dando bobeira. Confiar na dupla Joesley Batista e Rodrigo Janot para executar a limpeza ética na política nacional é piada de mau gosto. E, enquanto isso, por onde anda Lula, de quem ninguém mais fala na imprensa?
Rodrigo Constantino
terça-feira, junho 20, 2017
O liberalismo moderno se transformou numa nova inquisição - JOÃO PEREIRA COUTINHO
FOLHA DE SP - 20/06
Será que um cristão pode fazer política? Não falo de um fundamentalista que pretende aplicar os preceitos bíblicos a toda a sociedade. Falo de um cristão "moderado", que sabe distinguir os princípios morais que regem a sua vida e os valores seculares que regem a vida da comunidade.
Falo, enfim, de um cristão que conhece o preceito bíblico de dar a Deus o que é de Deus e a César o que é de César –uma distinção crucial para a emergência do liberalismo e, claro, inexistente no Islã. Haverá lugar para essa criatura?
Maquiavel tratou da questão com brutalidade: não, não há. Para recuperar a influente interpretação de Isaiah Berlin sobre o florentino, o cristianismo é uma religião estimável, até admirável. Mas funciona apenas para os assuntos privados.
Na esfera pública, exige-se ao príncipe certas virtudes que obviamente colidem com a mensagem bíblica. Virtudes "pagãs", digamos assim, embora eu sempre tenha duvidado dessa conclusão de Berlin. Lemos Maquiavel e só por piada as "virtudes pagãs" dos seus tratados poderiam ser partilhadas por Cícero. As "virtudes" de Maquiavel são um capítulo novo na história da política e não uma nostalgia clássica. Mas divago.
Ou não divago. Porque a pergunta inicial aflorou nos últimos dias com a demissão de Tim Farron, o líder dos Liberais Democratas no Reino Unido.
Já tudo foi escrito sobre as eleições britânicas. O colapso dos conservadores, a espantosa ressurreição dos trabalhistas. Mas que dizer do destino de Tim Farron?
Leio no "Wall Street Journal" um artigo de Sohrab Ahmari que relata esse destino. Tim Farron, cristão evangélico, tem visões conservadoras sobre certos temas sociais. Como a homossexualidade. Como o aborto. Comecemos pelo primeiro. Será a homossexualidade um pecado?
A pergunta foi feita em 2015 e Tim Farron respondeu: "Todos somos pecadores". Não foi suficiente uma tal exibição de humildade. Durante a campanha, o fantasma regressou e Farron tentou enterrá-lo. Não, a homossexualidade não é um pecado, disse ele.
Também não foi suficiente. Se a homossexualidade não era um pecado, por que motivo Tim Farron demorou tanto tempo a reconhecê-lo?
Sem falar do aborto. Em 2007, parece que o "Guardian" encontrou uma frase de Farron na qual ele declarava que "o aborto é errado". Essa espantosa declaração, nunca antes vista na história da humanidade, provocou a tempestade respectiva.
Pergunta: as opiniões de Farron estão certas ou erradas?
Um fanático formula essa pergunta. Mas ela não faz sentido do ponto de visto político. A pergunta certa é saber se os valores religiosos de Tim Farron se sobrepõem aos consensos democraticamente estabelecidos no Reino Unido.
O próprio Farron foi claro: voltar a proibir o aborto seria um plano "impraticável". E abolir o "casamento gay" não estava na agenda.
Nada feito. Como escreve Sohrab Ahmari, não era suficiente que o aborto ou o casamento gay estivessem liberados. Tim Farron deveria aplaudir ambas as leis, prescindindo das suas convicções mais íntimas. Foi o fim de uma carreira.
Eis a suprema perversão do liberalismo moderno. Tempos houve em que a proposta liberal procurava separar a política da religião. Não cabe ao Estado legislar sobre a alma dos homens, escrevia John Locke. Em matérias de consciência, o indivíduo é soberano. De igual forma, não cabe à alma dos homens determinar os destinos da "polis".
Hoje, o caso de Tim Farron apenas mostra como o liberalismo moderno se transformou numa forma de religião. E de inquisição: quem discorda da cartilha é um herege que merece a fogueira das vaidades progressistas. A política não é uma arena de consensos entre visões distintas do bem comum. É um tribunal onde os pecadores devem confessar os seus crimes (de joelhos) e abraçar a Verdade (com maiúscula).
O problema desta visão medieval das coisas não está apenas na "intolerância" que ela revela. Muito menos na quantidade de "homens vazios" que ela promove: criaturas destituídas de qualquer vida interior, que debitam como se fossem robôs o "software" da moda.
O problema é mais vasto: aqueles que destroem a consciência individual em nome do "bem coletivo" estão a destruir a última barreira contra o poder arbitrário. Uma barreira de que eles podem precisar um dia se o pêndulo do fanatismo mudar de direção.
Será que um cristão pode fazer política? Não falo de um fundamentalista que pretende aplicar os preceitos bíblicos a toda a sociedade. Falo de um cristão "moderado", que sabe distinguir os princípios morais que regem a sua vida e os valores seculares que regem a vida da comunidade.
Falo, enfim, de um cristão que conhece o preceito bíblico de dar a Deus o que é de Deus e a César o que é de César –uma distinção crucial para a emergência do liberalismo e, claro, inexistente no Islã. Haverá lugar para essa criatura?
Maquiavel tratou da questão com brutalidade: não, não há. Para recuperar a influente interpretação de Isaiah Berlin sobre o florentino, o cristianismo é uma religião estimável, até admirável. Mas funciona apenas para os assuntos privados.
Na esfera pública, exige-se ao príncipe certas virtudes que obviamente colidem com a mensagem bíblica. Virtudes "pagãs", digamos assim, embora eu sempre tenha duvidado dessa conclusão de Berlin. Lemos Maquiavel e só por piada as "virtudes pagãs" dos seus tratados poderiam ser partilhadas por Cícero. As "virtudes" de Maquiavel são um capítulo novo na história da política e não uma nostalgia clássica. Mas divago.
Ou não divago. Porque a pergunta inicial aflorou nos últimos dias com a demissão de Tim Farron, o líder dos Liberais Democratas no Reino Unido.
Já tudo foi escrito sobre as eleições britânicas. O colapso dos conservadores, a espantosa ressurreição dos trabalhistas. Mas que dizer do destino de Tim Farron?
Leio no "Wall Street Journal" um artigo de Sohrab Ahmari que relata esse destino. Tim Farron, cristão evangélico, tem visões conservadoras sobre certos temas sociais. Como a homossexualidade. Como o aborto. Comecemos pelo primeiro. Será a homossexualidade um pecado?
A pergunta foi feita em 2015 e Tim Farron respondeu: "Todos somos pecadores". Não foi suficiente uma tal exibição de humildade. Durante a campanha, o fantasma regressou e Farron tentou enterrá-lo. Não, a homossexualidade não é um pecado, disse ele.
Também não foi suficiente. Se a homossexualidade não era um pecado, por que motivo Tim Farron demorou tanto tempo a reconhecê-lo?
Sem falar do aborto. Em 2007, parece que o "Guardian" encontrou uma frase de Farron na qual ele declarava que "o aborto é errado". Essa espantosa declaração, nunca antes vista na história da humanidade, provocou a tempestade respectiva.
Pergunta: as opiniões de Farron estão certas ou erradas?
Um fanático formula essa pergunta. Mas ela não faz sentido do ponto de visto político. A pergunta certa é saber se os valores religiosos de Tim Farron se sobrepõem aos consensos democraticamente estabelecidos no Reino Unido.
O próprio Farron foi claro: voltar a proibir o aborto seria um plano "impraticável". E abolir o "casamento gay" não estava na agenda.
Nada feito. Como escreve Sohrab Ahmari, não era suficiente que o aborto ou o casamento gay estivessem liberados. Tim Farron deveria aplaudir ambas as leis, prescindindo das suas convicções mais íntimas. Foi o fim de uma carreira.
Eis a suprema perversão do liberalismo moderno. Tempos houve em que a proposta liberal procurava separar a política da religião. Não cabe ao Estado legislar sobre a alma dos homens, escrevia John Locke. Em matérias de consciência, o indivíduo é soberano. De igual forma, não cabe à alma dos homens determinar os destinos da "polis".
Hoje, o caso de Tim Farron apenas mostra como o liberalismo moderno se transformou numa forma de religião. E de inquisição: quem discorda da cartilha é um herege que merece a fogueira das vaidades progressistas. A política não é uma arena de consensos entre visões distintas do bem comum. É um tribunal onde os pecadores devem confessar os seus crimes (de joelhos) e abraçar a Verdade (com maiúscula).
O problema desta visão medieval das coisas não está apenas na "intolerância" que ela revela. Muito menos na quantidade de "homens vazios" que ela promove: criaturas destituídas de qualquer vida interior, que debitam como se fossem robôs o "software" da moda.
O problema é mais vasto: aqueles que destroem a consciência individual em nome do "bem coletivo" estão a destruir a última barreira contra o poder arbitrário. Uma barreira de que eles podem precisar um dia se o pêndulo do fanatismo mudar de direção.
Fera ferida, Janot ataca. É o cara que ressuscitou o PT e concedeu a liberdade a Joesley - REINALDO AZEVEDO
REINALDO AZEVEDO - REDE TV/UOL
Janot está perdendo o juízo e o senso de ridículo. Apostou alto na sua recondução ao cargo. Se a Blitzkrieg tivesse dado certo, ele se imporia como solução de continuidade e “estabilidade” ao próximo mandatário. Mas deu errado.
É, meus caros, é quando as feras estão feridas que elas são mais perigosas. É o caso de Rodrigo Janot. Não dá para associá-lo a um leopardo ou a algum outro felino. Mas a natureza esconde feras às vezes insuspeitadas. Poucos sabem, mas o maior assassino de humanos na natureza é o hipopótamo. Tem aquele ar aparentemente abestado, inofensivo quase. Mas quê… Quando abre aquela bocarra, expõe presas destruidoras.
“Está comparando o procurador-geral da República com um hipopótamo, Reinaldo?” Não! Mas ferido ele está, inclusive na sua vaidade. E agora decidiu nos tratar a todos como jumentos ou como ruminantes. Aquele que tem a obrigação funcional e moral da ponderação — afinal, o órgão que comanda detém o poder da investigação (até hoje, arrancado no berro, sem previsão constitucional) e da denúncia. Não, eu não o comparo com um hipopótamo, mas é fato que sua mordida é poderosa. Especialmente num momento em que políticos se acovardam e em que setores da imprensa decidem endossar métodos típicos de Estado policial.
O doutor decidiu agora, como naquela música de Fábio Junior, dividir o mundo em duas metades da laranja. Mas, à diferença das “duas forças que se atraem” e do “sonho lindo de viver”, o que se tem, na mente de Janot, são forças antagônicas, que se repelem: na sua cabeça, há “os inimigos da Lava Jato” e os “amigos”. Os segundos endossam tudo o que fazem o procurador-geral e seus menudos de faces rosadas e ternos escuros; os primeiros, bem…, o doutor não reconhece matizes: seriam todos sócios da lambança.
Na abertura, nesta segunda, de um seminário no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), em Brasília, o procurador-geral mostrou as presas. Disse:
“Basta de hipocrisia! Não há mais espaço para a apatia. Ou caminhamos juntos contra essa vilania que abastarda a política ou estaremos condenados a uma eterna cidadania de segunda classe, servil e impotente contra aqueles que deveriam nos representar com lealdade”!
É discurso de político, não de procurador-geral. E digo mais: esse sotaque é tipicamente fascistoide. E serve a fascistas de esquerda ou de direita. Sempre que alguém vem com esse papo de “chega de hipocrisia!”, podem acreditar: está querendo endosso a algum ato truculento ou está fazendo tabula rasa de diferenças relevantes. Aliás, lá vamos nós para o extremo da abjeção, mas é preciso que se diga. Os nazistas costumavam pedir o “fim da hipocrisia” ao perseguir judeus. Afinal, eram ou não eram os “banqueiros da bancarrota” da República de Weimar? Integravam ou não o establishment de algumas das instituições mais importantes da Alemanha falida? Então, chega de hipocrisia e Holocausto para eles! “Está comparando Janot com um nazista, Reinaldo?” Não! Estou cobrando que ele não discurse como se fosse um.
Igualmente políticas tem sido as falas de todos os procuradores. Para o procurador-geral, hipócritas são todos os seus críticos e todos aqueles que não adotam a sua agenda e os seus métodos. E esses tais hipócritas, por sua vez, se dividiriam em dois grupos. Disse ele:
“Há pessoas que acusam o Ministério Público e a Lava Jato de abuso. Afirmam que o Brasil está se tornando um Estado policial de exceção. Só dois tipos de pessoas adotam e acolhem esse discurso. Os primeiros nunca viveram em uma ditadura. Eu vivi. Não conhecem, por experiência própria, o que representa uma vida sem liberdade; militam, portanto, na ignorância”. Já os outros, segundo disse, são “os que não têm compromisso verdadeiro com o país. A real preocupação dessas pessoas é com a casta privilegiada da qual fazem parte”.
Então vamos tirar o procurador-geral para uma contradança argumentativa. O homem que deu passe livre e carimbou um “nada consta” na biografia de Joesley Batista vem falar de pessoas que seriam críticas da Lava Jato porque comporiam uma casta privilegiada? Com a devida vênia, doutor, lave essa bocarra! O senhor não tem moral para posar de verdugo dos poderosos. Não quando a gente olha a pena que pegaram alguns dos maiores criminosos do país Aliás, não precisamos de verdugos. Queremos pessoas públicas que honrem as leis da democracia e do Estado de Direito.
Em segundo lugar, que papo é esse de herói contra a ditadura? O senhor??? Eu, que sou cinco anos MENOS VELHO do que a excelência com vocação para santidade e que efetivamente combati a ditadura; que tive problema “com uzômi” aos 16 anos; que levei porrada da polícia, bem, eu não me lembro de nenhum paladino da justiça chamado Rodrigo Janot. Combateu a ditadura com quem? Em que lugar? Na companhia de quais pessoas? Participou de quais eventos importantes da luta pela restauração da democracia?
Janot está perdendo o juízo e o senso de ridículo. Apostou alto na sua recondução ao cargo. Se a Blitzkrieg tivesse dado certo, ele se imporia como solução de continuidade e “estabilidade” ao próximo mandatário. Mas deu errado. Agora, o que ele quer é alimentar teorias conspiratórias na esperança de emplacar a candidatura de Nicolao Dino, o único que aceitou uma semiadoção, que vai disputar a eleição para a lista tríplice da ANPR (Associação Nacional dos Procuradores da República). O presidente da República não é obrigado a indicar nenhum dos três.
Janot vai deixar a PGR, e a luta contra a corrupção vai continuar. E que se torne mais forte do que antes. E ela será tanto mais eficaz quanto mais respeitar a lei.
O homem que garantiu a Joesley a vida de um cidadão de bem não tem nada a cobrar de ninguém.
De resto, lembro dois críticos dos desmandos — e não das virtudes — do MPF: Reinaldo Azevedo e o ministro Gilmar Mendes. O primeiro viu uma conversa com uma fonte ser covardemente usada na guerra política. O tiro saiu pela culatra. O outro, ora vejam, é acusado de crime de responsabilidade por aliados de Janot. Dará errado também.
O fim melancólico de Janot é a derrota de quem, contando com todas as faculdades do Estado de Direito para fazer a coisa certa, preferiu, por excesso de ambição, recorrer a instrumentos do arbítrio para fazer a coisa errada.
Um Joesley impune é a sua obra-prima, junto com o PT ressuscitado.
Infelizmente, embalada por picaretas, mistificadores e especuladores, parte dos conservadores, da direita, do pensamento antipetista colaborou para essa patuscada.
Vamos ver como saímos agora do enrosco.
O que o sr. Joesley não disse - EDITORIAL ESTADÃO
ESTADÃO - 20/06
O Brasil quer saber por que o empresário preservou os reais parceiros de sua trajetória de pilhagens, os verdadeiros contatos de seu submundo
Nada de novo apresentou o senhor Joesley Batista em sua rumorosa entrevista à revista Época, na qual o dono da JBS se disse vítima de políticos corruptos. A mesma estratégia foi tentada por outros empresários implicados nos sucessivos escândalos que, desde a infausta era lulopetista, infortunam o Brasil. Digno de nota, contudo, foi o esforço do senhor Joesley Batista para livrar o ex-presidente Lula da Silva de qualquer responsabilidade direta pelo surto de corrupção. O empresário, cuja trajetória de sucesso está ligada a generosos benefícios estatais obtidos durante os governos petistas, limitou-se a atribuir a Lula e ao PT, genericamente, a “institucionalização da corrupção” no País, mas assegurou, pasme o leitor, que nunca teve alguma “conversa não republicana” com o chefão petista, a quem, segundo deu a entender, mal conhecia. Em compensação, o presidente Michel Temer, este sim, é o chefe “da maior e mais perigosa organização criminosa deste país”.
Manda o bom senso que se procure compreender o contexto em que os acontecimentos se dão, antes de lhes atribuir ares de fato verídico. No caso de Joesley Batista, desde sempre está claro que a palavra deste senhor deve ser recebida com muitas reservas, pois não são poucos os interesses em jogo – os dele próprio e os daqueles que o patrocinaram durante os governos petistas.
A entrevista aparece no momento em que se questionam os termos de sua delação premiada à Procuradoria-Geral da República. Como se sabe, o empresário não passará um único dia na cadeia depois de ter gravado clandestinamente uma conversa com Michel Temer, na qual o presidente, na interpretação do Ministério Público, teria se confessado corrupto. Ao reafirmar suas acusações a Temer, nos termos mais duros, Joesley Batista parece mais interessado em justificar o generoso perdão que recebeu do procurador-geral da República, Rodrigo Janot – embora tenha, ele próprio, confessado centenas de crimes, que, em circunstâncias normais, lhe renderiam uma longa temporada na cadeia.
Na entrevista, o senhor Joesley Batista não se limitou a acusar Michel Temer. Sua intenção era demonstrar que “o problema (da corrupção) é estrutural, é pluripartidário”. Por essa razão, o empresário resolveu grampear o senador Aécio Neves, a quem ele chama de “número 2”, sendo que o “número 1” é Temer. Joesley Batista disse que precisava “fazer uma ação indiscutível para o entendimento da população e do Ministério Público”, isto é, armar um flagrante contra Aécio. O empresário, é claro, disse que sua missão era esclarecer que todos os políticos com os quais lidou são igualmente corruptos: “Se o Brasil não entendesse que o 2 era igual ao 1, o Brasil ia achar que a solução era substituir 1 por 2. Mas o 2 é do mesmo sistema”. Talvez o senhor Joesley Batista acredite que o País, em vez de questionar suas intenções, tenha de lhe ser grato.
Ao mesmo tempo, o senhor Joesley Batista espera que todos acreditem quando ele diz que teve contatos apenas esparsos com Lula da Silva e que só conversou sobre o pagamento de propinas para o PT com o então ministro da Fazenda, Guido Mantega. Naquela época, aparentemente o senhor Joesley Batista não se incomodava com a corrupção no governo, pois não gravou nenhuma conversa comprometedora com os petistas que o achacavam. E isso talvez se explique pelo fato de que, durante os governos petistas, a JBS saiu de um faturamento de R$ 4 bilhões em 2005, ano em que recebeu seu primeiro financiamento camarada do BNDES, para R$ 183 bilhões em 2016. O banco estatal de desenvolvimento tornou-se sócio da JBS, com 21% de participação, atrelando-se ao senhor Joesley Batista por razões que somente Lula da Silva pode explicar. O empresário, é claro, jura que “as relações com o BNDES foram absolutamente republicanas”.
Mas o senhor Joesley Batista terá a oportunidade de esclarecer na Justiça todos esses aspectos obscuros de suas acusações. Conforme nota oficial, o presidente Michel Temer decidiu processar o empresário, obrigando-o a explicar por que preservou, na delação e na entrevista, “os reais parceiros de sua trajetória de pilhagens, os verdadeiros contatos de seu submundo”. O Brasil também quer saber.
O Brasil quer saber por que o empresário preservou os reais parceiros de sua trajetória de pilhagens, os verdadeiros contatos de seu submundo
Nada de novo apresentou o senhor Joesley Batista em sua rumorosa entrevista à revista Época, na qual o dono da JBS se disse vítima de políticos corruptos. A mesma estratégia foi tentada por outros empresários implicados nos sucessivos escândalos que, desde a infausta era lulopetista, infortunam o Brasil. Digno de nota, contudo, foi o esforço do senhor Joesley Batista para livrar o ex-presidente Lula da Silva de qualquer responsabilidade direta pelo surto de corrupção. O empresário, cuja trajetória de sucesso está ligada a generosos benefícios estatais obtidos durante os governos petistas, limitou-se a atribuir a Lula e ao PT, genericamente, a “institucionalização da corrupção” no País, mas assegurou, pasme o leitor, que nunca teve alguma “conversa não republicana” com o chefão petista, a quem, segundo deu a entender, mal conhecia. Em compensação, o presidente Michel Temer, este sim, é o chefe “da maior e mais perigosa organização criminosa deste país”.
Manda o bom senso que se procure compreender o contexto em que os acontecimentos se dão, antes de lhes atribuir ares de fato verídico. No caso de Joesley Batista, desde sempre está claro que a palavra deste senhor deve ser recebida com muitas reservas, pois não são poucos os interesses em jogo – os dele próprio e os daqueles que o patrocinaram durante os governos petistas.
A entrevista aparece no momento em que se questionam os termos de sua delação premiada à Procuradoria-Geral da República. Como se sabe, o empresário não passará um único dia na cadeia depois de ter gravado clandestinamente uma conversa com Michel Temer, na qual o presidente, na interpretação do Ministério Público, teria se confessado corrupto. Ao reafirmar suas acusações a Temer, nos termos mais duros, Joesley Batista parece mais interessado em justificar o generoso perdão que recebeu do procurador-geral da República, Rodrigo Janot – embora tenha, ele próprio, confessado centenas de crimes, que, em circunstâncias normais, lhe renderiam uma longa temporada na cadeia.
Na entrevista, o senhor Joesley Batista não se limitou a acusar Michel Temer. Sua intenção era demonstrar que “o problema (da corrupção) é estrutural, é pluripartidário”. Por essa razão, o empresário resolveu grampear o senador Aécio Neves, a quem ele chama de “número 2”, sendo que o “número 1” é Temer. Joesley Batista disse que precisava “fazer uma ação indiscutível para o entendimento da população e do Ministério Público”, isto é, armar um flagrante contra Aécio. O empresário, é claro, disse que sua missão era esclarecer que todos os políticos com os quais lidou são igualmente corruptos: “Se o Brasil não entendesse que o 2 era igual ao 1, o Brasil ia achar que a solução era substituir 1 por 2. Mas o 2 é do mesmo sistema”. Talvez o senhor Joesley Batista acredite que o País, em vez de questionar suas intenções, tenha de lhe ser grato.
Ao mesmo tempo, o senhor Joesley Batista espera que todos acreditem quando ele diz que teve contatos apenas esparsos com Lula da Silva e que só conversou sobre o pagamento de propinas para o PT com o então ministro da Fazenda, Guido Mantega. Naquela época, aparentemente o senhor Joesley Batista não se incomodava com a corrupção no governo, pois não gravou nenhuma conversa comprometedora com os petistas que o achacavam. E isso talvez se explique pelo fato de que, durante os governos petistas, a JBS saiu de um faturamento de R$ 4 bilhões em 2005, ano em que recebeu seu primeiro financiamento camarada do BNDES, para R$ 183 bilhões em 2016. O banco estatal de desenvolvimento tornou-se sócio da JBS, com 21% de participação, atrelando-se ao senhor Joesley Batista por razões que somente Lula da Silva pode explicar. O empresário, é claro, jura que “as relações com o BNDES foram absolutamente republicanas”.
Mas o senhor Joesley Batista terá a oportunidade de esclarecer na Justiça todos esses aspectos obscuros de suas acusações. Conforme nota oficial, o presidente Michel Temer decidiu processar o empresário, obrigando-o a explicar por que preservou, na delação e na entrevista, “os reais parceiros de sua trajetória de pilhagens, os verdadeiros contatos de seu submundo”. O Brasil também quer saber.
MBL LANÇA CAMPANHA PARA ACABAR COM SEMIABERTO E ENDURECER PUNIÇÕES
GAZETA DO POVO - PR -19/06
O Movimento Brasil Livre (MBL) lança hoje uma campanha pela aprovação do projeto que endurece as condições para a progressão de penas e acaba com o regime semiaberto. Pela proposta, que já está em tramitação na Câmara, para ter direito a progressão a pessoa que cometeu o delito deve ter cumprido pelo menos dois terços da pena, além de passar pela avaliação de uma comissão interdisciplinar para verificar se o apenado tem, de fato, condições de ir para o sistema aberto.
No caso de crime hediondo, o movimento defende que seja necessário o cumprimento de quatro quintos da pena. Atualmente, a legislação penal brasileira permite que a progressão seja concedida após o cumprimento de um sexto da pena no regime anterior, além do atendimento do critério de bom comportamento carcerário, comprovado pelo diretor do estabelecimento em questão. No caso de crime com menor potencial ofensivo, o apenado deve cumprir dois quintos da pena para depois ter direito à progressão.
A campanha promovida pelo MBL vai começar com um vídeo de exposição com dados sobre o regime semiaberto e a taxa de condenados que progridem de regime e voltam a cometer crimes. Além disso, o grupo incentivará a população a telefonar para gabinetes dos líderes congressistas e do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para que o projeto seja pautado o mais rapidamente possível. Uma equipe do MBL, em Brasília, ficará incumbida de ir de gabinete em gabinete cobrar uma posição dos deputados. Caso a proposta vá para votação, o movimento pretende fazer mobilizações nas dependências da Casa.
“Nossos critérios para a progressão de regime estão entre os mais frouxos no mundo. Ao mesmo tempo, o que os dados das secretarias de segurança de diversos estados do país mostram é que a maioria dos que progridem voltam a cometer crimes”, disse Kim Kataguiri, do MBL. “Na prática, o criminoso cumpre um sexto da pena e já está livre para voltar a roubar, matar. Temos muitos presos? Temos, mas o fato é que, hoje, a maioria dos condenados que vão para a cadeia nunca deveriam ter saído dela, daí a importância de revermos o semiaberto e os critérios para a progressão de regime”, acrescentou.
A iniciativa merece aplausos e apoio ativo por parte da população ordeira. Sabemos que a impunidade é o maior convite ao crime, não as tais “desigualdades sociais”, como alega a esquerda. Pobreza não precisa ser sinônimo de bandidagem. Ninguém mata a sangue frio uma vítima inocente porque precisa comer. Estamos falando de marginais da pior espécie, reincidentes, quase sempre casos perdidos. Não serão recuperados com “educação”, como acreditam os filhos de Rousseau.
O primeiro grande problema é a enorme quantidade de crimes não resolvidos, o que gera o clima de impunidade total. O segundo problema maior é quando se consegue pegar o marginal, mas ele pouco tempo depois já está solto, de volta às ruas. É acabar com essa molezinha absurda que o MBL pretende com essa campanha. E não consigo imaginar uma pessoa decente sendo contra o arrocho da punição para bandidos perigosos.
O podcast Ideias mais recente, comigo, com Leandro Narloch e Alexandre Borges, foi justamente sobre a impunidade e o ambiente de “justiçamento”, tomando como base o caso do garoto que teve a testa tatuada. A sensação de impunidade ajuda a explicar o pulo da civilização para a barbárie quando cada um resolve fazer “justiça” com as próprias mãos.
A iniciativa do MBL, repito, merece total apoio. Liguem, mandem mensagens, atormentem a vida dos deputados, pois é esse exercício de cidadania que os brasileiros de bem precisam aprender a fazer com maior frequência. Os nossos representantes precisam saber o que queremos. Enquanto a esquerda organizada faz barulho com suas ONGs de “direitos humanos”, nós ficamos apenas lamentando nos bares e no Facebook.
Chega! Vamos mostrar que queremos esses marginais atrás das grades, não soltos pelas ruas do nosso país, que já tem 60 mil assassinatos por ano!
Governador-geral da República - CARLOS ANDREAZZA
O GLOBO - 20/06
Janot trata formalmente o encontro, entre pessoas em pleno exercício de seus direitos políticos, como evidência de ameaça à ordem pública
Aécio Neves é — ainda — um homem livre. Investigado, mas livre. Senador suspenso, mas cidadão livre.
Sim. É verdade. Nunca me enganou. Não me enganava quando, posando de vítima, acusava os petistas de abuso de poder econômico em campanha eleitoral. Não me enganará agora, abusador que também foi. Mas esse é juízo pessoal. Não há, porém, qualquer condenação a Aécio Neves — sujeito livre, portanto.
Escrevo isso, essa obviedade repetida, porque alarmado com as licenças que Rodrigo Janot se concede. O procurador-geral da República — que não raro subjuga o Supremo — é hoje a única autoridade que faz o que quer neste país. Ou haverá outra forma de compreender a ousadia, golpe nas liberdades individuais, de que reforce o pedido de prisão preventiva contra Aécio usando uma foto — divulgada pelo próprio senador — em que este aparece em reunião com integrantes de seu partido?
É isto mesmo: Janot trata formalmente o encontro — entre pessoas em pleno exercício de seus direitos políticos — como evidência de ameaça à ordem pública, exemplo de “uso espúrio do poder político”. É escandaloso. Porque, ora, é possível — não serei eu a botar a mão no fogo por ele — que haja ações do senador para obstruir as investigações contra si; mas tais certamente não estarão representadas naquela imagem.
Note o leitor que, na investida de Janot, muito mais que um movimento contra Aécio Neves, vai explícita a criminalização da atividade política. É da ordem da barbárie difundir uma reunião entre políticos como conspiração contra a democracia. Mas essa generalização — que a todos iguala por baixo — serve a um projeto. A reabilitação do PT, especificamente a de Lula, só está em curso porque se enterrou a política na lama.
_____________
Escolhido por Dilma Rousseff e reconduzido ao cargo por ela, Janot é hoje — mérito consequente de muita determinação — o homem mais poderoso do Brasil, trabalhador incansável por fazer justiça, guerreiro cujo entusiasmo por acusar poderosos é outro desde que o PT saiu do Planalto.
Está aí um patriota a quem o impeachment liberou.
Senhor da agenda que pauta — e paralisa — a vida pública no país, há semanas tem o presidente sob a ameaça de uma denúncia ao Supremo, com cujo ritmo brinca como se fosse João Gilberto com o tempo de uma canção. Nesse período, diariamente, vaza-se à imprensa que talvez a cousa seja formalizada amanhã, mas que, bem, pode ser na semana que vem. Depende. Depende — digo eu — do momento. Do momento político. De um em que Michel Temer se encontre vulnerável.
Na luta purificadora contra a desgraça da política, causa que atualiza jacobinos em janotistas, Janot se permite desviar do timing da Justiça — que é o próprio compasso do estado de direito — para aplicar a estratégia do lutador que calcula os golpes round a round, toureando o adversário, à espera da brecha por meio da qual encaixar o soco. Uma hora ela aparece. O país aguarda em suspensão. É para nocautear o vampiro, afinal. Ninguém gosta dele. Logo, aplaude-se. Até o dia em que esses métodos se voltarem contra um dos nossos. Aí, será o quê? Estado policial?
Normal também se tornou que, como num folhetim, surjam — diariamente — novas supostas revelações contra o presidente, vendidas (e compradas) como comprometedoras antes mesmo de que se possa examiná-las. Não importa. Normalizou-se entre nós que se condene — a conta-gotas, numa narrativa cuja técnica única é a sobreposição de acusações — antes de se investigar.
Nesta fase raçuda, a Procuradoria-Geral da República — que se alçou a quarto poder — atua com paixão sem precedentes, razão pela qual recorre a expedientes que os legalistas, esses ultrapassados, consideram heterodoxos. Por exemplo: admitir e veicular como prova uma gravação não periciada. Qual é o problema?
Os detalhistas prejudicam o Brasil. Essa é a verdade. Não entendem que o mandato de Janot termina em setembro e que ele é o primeiro procurador-geral da República da história que quer deixar um legado. Qual é o problema?
Qual é o problema, aliás, no acordo firmado com os donos da JBS, tornados inimputáveis, se em troca o que falam puder derrubar o presidente? É aceitável — no justiçamento — improvisar e queimar etapas do processo legal, se há uma meta maior a ser alcançada. Se para incriminar Temer, por que se apegar a formalismos? Se for possível apeá-lo da Presidência, que mal haverá na licença poética que o faz bandido protagonista do conjunto corruptivo — de matriz e condução petista — que modelou o império dos Batista? Mesmo sabendo que o campeão nacional em que se anabolizou a JBS foi bombado durante os governos do PT, que gravidade haverá no recurso seletivo ficcional que põe Lula e Dilma (e o BNDES) numa nota de rodapé dessa trama?
Não sem aviso, chegamos ao momento em que um tipo como Joesley Batista diz que Temer é líder da “maior e mais perigosa organização criminosa deste país” — e fica tudo por isso mesmo. Ai, ai...
Os desconfiados — teóricos da conspiração — atrapalham o Brasil. Essa é a verdade.
Dificilmente, contudo, atrapalharão o movimento orgânico dos que militam para que Janot se candidate a senador em 2018, pelo Estado de Minas Gerais, na vaga a ser aberta por Aécio Neves. Mas pode ser a governador. Será pelo PT? Ou disfarçaremos numa linha auxiliar? Rede?
Carlos Andreazza é editor de livros
segunda-feira, junho 19, 2017
Joesley, a obra-prima de Janot! PT é a mão que balança o berço do “herói” delator - REINALDO AZEVEDO
REINALDO AZEVEDO - REDE TV/UOL
“Ah, mas ele também faz acusações contra Lula...”, cujo governo, diz, institucionalizou a corrupção. Ora, isso nem tipo penal é. A acusação só serve para “lavar” o objetivo da operação: derrubar Temer.
A patética entrevista concedida por Joesley Batista à revista “Época” tem o seu grande momento, o seu ápice moral, aquele instante que restará para a história como o sumo e a síntese de uma era e de seus protagonistas. Quando os pósteros quiserem saber quem mesmo foi Rodrigo Janot, terão de consultar este trecho da entrevista. Bem, impressiona-me que gente que se queira séria a leve a sério. Vamos lá.
Eis aí. Michel Temer está na Presidência da República há pouco mais de um ano. Aécio passou os 13 anteriores na oposição, e Joesley, o nosso herói sem nenhum caráter, o nosso Macunaíma que tinha o BNDES de Lula como o seu muiraquitã, não tem dúvida: o número 1 é Temer, e o 2, Aécio. E a ele, ora vejam!, coube a dura missão de revelar isto à nação.
Na nota em que respondeu às delinquências morais do açougueiro de instituições, lembrou o Palácio do Planalto:
“Em 2005, o Grupo JBS obteve seu primeiro financiamento no BNDES. Dois anos depois, alcançou um faturamento de R$ 4 bilhões. Em 2016, o faturamento das empresas da família Batista chegou a R$ 183 bilhões. Relação construída com governos do passado, muito antes que o presidente Michel Temer chegasse ao Palácio do Planalto.”
Reportagem da Folha desta segunda demonstra que ele não sabe ao certo quando conheceu Michel Temer. Ora diz ter sido em 2010, ora em 2011. Sim, faz diferença; a diferença entre quem não é vice-presidente da República (2010) e quem é (2011).
Nos anos todos de relacionamento com Lula, Joesley nunca quis gravar nada. Teve essa ideia só agora, quando caiu nas malhas de Janot. Aí, meus caros, foi preciso delatar pesos-pesados. Aquele que confessou ser o maior criminoso do Brasil deixou-se tomar por impulsos patrióticos e tentou mandar para a fogueira os presidentes da República e do PSDB, principal adversário do PT.
“Ah, mas ele também faz acusações contra Lula…”, cujo governo, diz, institucionalizou a corrupção. Ora, isso nem tipo penal é. A acusação só serve para “lavar” o objetivo da operação: derrubar Temer.
Bem, eu não queria, nesse caso, estar e ter estado cem por cento certo. E estava, não é?
Joesley é a obra-prima de Janot!
Joesley é o seu anjo vingador!
Joesley veio para provar que, se todos são iguais, então Lula é melhor, como escrevi em dias longínquos em coluna na Folha.
Tenho, sim, certa compaixão por quem caiu na conversa de Janot e dos salvacionistas e agora se pega em meio a uma grande, literalmente, roubada.
Ah, quantos insultos não tive de ouvir e de ler de vigaristas!
Ah, quantas não foram as vezes em que uma simples restrição técnica, publicada aqui, era tratada por vagabundos e pistoleiros como uma conspiração.
A verdade está começando a vir à luz. E acreditem: está só no começo.
O tempo, este grande corretor de rumos, está se encarregando de evidenciar quem é quem e quem quer o quê nessa peleja.
O meu norte sempre foi, é e continuará a ser o Estado de Direito.
Nem sempre foi fácil. Mas me orgulho até da dor. Ela não me fez perder o juízo.
Ah, não custa registrar: um dia ficará claro que a mão que balançou o berço do herói delator Joesley Batista tem uma sigla: PT!
Sim, sempre soube que o tempo me daria razão. Porque, afinal, eu estava certo. A verdade está começando a aparecer até antes da hora esperada. Como sabemos, bêbado de tanto poder, Janot cometeu alguns erros. E alguns de seus baba-ovos também se revelam.
Janot vai para o trono ou não vai?
Por tudo o que vemos aí, já foi!
“Ah, mas ele também faz acusações contra Lula...”, cujo governo, diz, institucionalizou a corrupção. Ora, isso nem tipo penal é. A acusação só serve para “lavar” o objetivo da operação: derrubar Temer.
A patética entrevista concedida por Joesley Batista à revista “Época” tem o seu grande momento, o seu ápice moral, aquele instante que restará para a história como o sumo e a síntese de uma era e de seus protagonistas. Quando os pósteros quiserem saber quem mesmo foi Rodrigo Janot, terão de consultar este trecho da entrevista. Bem, impressiona-me que gente que se queira séria a leve a sério. Vamos lá.
Eis aí. Michel Temer está na Presidência da República há pouco mais de um ano. Aécio passou os 13 anteriores na oposição, e Joesley, o nosso herói sem nenhum caráter, o nosso Macunaíma que tinha o BNDES de Lula como o seu muiraquitã, não tem dúvida: o número 1 é Temer, e o 2, Aécio. E a ele, ora vejam!, coube a dura missão de revelar isto à nação.
Na nota em que respondeu às delinquências morais do açougueiro de instituições, lembrou o Palácio do Planalto:
“Em 2005, o Grupo JBS obteve seu primeiro financiamento no BNDES. Dois anos depois, alcançou um faturamento de R$ 4 bilhões. Em 2016, o faturamento das empresas da família Batista chegou a R$ 183 bilhões. Relação construída com governos do passado, muito antes que o presidente Michel Temer chegasse ao Palácio do Planalto.”
Reportagem da Folha desta segunda demonstra que ele não sabe ao certo quando conheceu Michel Temer. Ora diz ter sido em 2010, ora em 2011. Sim, faz diferença; a diferença entre quem não é vice-presidente da República (2010) e quem é (2011).
Nos anos todos de relacionamento com Lula, Joesley nunca quis gravar nada. Teve essa ideia só agora, quando caiu nas malhas de Janot. Aí, meus caros, foi preciso delatar pesos-pesados. Aquele que confessou ser o maior criminoso do Brasil deixou-se tomar por impulsos patrióticos e tentou mandar para a fogueira os presidentes da República e do PSDB, principal adversário do PT.
“Ah, mas ele também faz acusações contra Lula…”, cujo governo, diz, institucionalizou a corrupção. Ora, isso nem tipo penal é. A acusação só serve para “lavar” o objetivo da operação: derrubar Temer.
Bem, eu não queria, nesse caso, estar e ter estado cem por cento certo. E estava, não é?
Joesley é a obra-prima de Janot!
Joesley é o seu anjo vingador!
Joesley veio para provar que, se todos são iguais, então Lula é melhor, como escrevi em dias longínquos em coluna na Folha.
Tenho, sim, certa compaixão por quem caiu na conversa de Janot e dos salvacionistas e agora se pega em meio a uma grande, literalmente, roubada.
Ah, quantos insultos não tive de ouvir e de ler de vigaristas!
Ah, quantas não foram as vezes em que uma simples restrição técnica, publicada aqui, era tratada por vagabundos e pistoleiros como uma conspiração.
A verdade está começando a vir à luz. E acreditem: está só no começo.
O tempo, este grande corretor de rumos, está se encarregando de evidenciar quem é quem e quem quer o quê nessa peleja.
O meu norte sempre foi, é e continuará a ser o Estado de Direito.
Nem sempre foi fácil. Mas me orgulho até da dor. Ela não me fez perder o juízo.
Ah, não custa registrar: um dia ficará claro que a mão que balançou o berço do herói delator Joesley Batista tem uma sigla: PT!
Sim, sempre soube que o tempo me daria razão. Porque, afinal, eu estava certo. A verdade está começando a aparecer até antes da hora esperada. Como sabemos, bêbado de tanto poder, Janot cometeu alguns erros. E alguns de seus baba-ovos também se revelam.
Janot vai para o trono ou não vai?
Por tudo o que vemos aí, já foi!
O que o PT tem a ensinar - EDITORIAL O ESTADÃO
ESTADÃO - 19/06
O governo faria melhor se viesse a público com a mesma determinação de seus tinhosos adversários petistas
O PT mente com tamanha determinação e energia que, mesmo sendo o principal responsável pela crise econômica, política e moral que o País hoje enfrenta, consegue aparecer, pasme o leitor, como a vanguarda da luta contra um governo em cuja testa pregou o estigma de “corrupto” e “inimigo do trabalhador”. Se há algo que o governo de Michel Temer poderia aprender com os aguerridos petistas, é justamente o vigor com que eles se dedicam à tarefa de fazer prevalecer sua versão dos fatos, mesmo que esta, no caso petista, contrarie frontalmente a realidade. Tivesse metade dessa garra ao defender as reformas que encaminhou e ao denunciar o descalabro que herdou da trágica era lulopetista, certamente o presidente Temer estaria em melhor situação.
É certo que a mentira frequenta certos círculos políticos, mas, numa época em que, infelizmente, a verdade aparenta importar cada vez menos, o PT parece ter entendido muito bem o poder do discurso que seja apenas “lógico”, isto é, que faça “sentido”, embora não guarde relação nenhuma com a realidade. Se é de uma batalha que se trata, travada entre a realidade e a “pós-verdade” – termo que designa as circunstâncias em que as crenças pessoais são mais importantes do que os fatos objetivos –, o PT está claramente muito mais bem preparado para ela do que seus adversários.
Para um partido que foi dado como praticamente aniquilado depois do impeachment da presidente Dilma Rousseff e da grande derrota nas eleições municipais de 2016, o PT ainda consegue atrapalhar, e muito, o necessário debate nacional. Basta que seu chefão, Lula da Silva, empunhe um microfone para que os grandes dilemas e desafios nacionais se reduzam a um confronto pueril entre o bem – representado pelos petistas, naturalmente – e o mal, encarnado no “resto”, em especial nos “golpistas” alinhados a Temer, na mídia e nos empresários gananciosos.
É claro que, deflagrada nesses termos, tal batalha exige muito mais do lado de quem precisa governar, isto é, lidar com os fatos da vida real, do que daqueles que não têm nenhuma responsabilidade. Enquanto Lula da Silva grita por aí que “voltou a ter criança pedindo esmola” e que “nós sabemos como fazer a economia crescer, como criar emprego, como aumentar salário”, o presidente Temer e sua competente equipe econômica precisam articular politicamente apoio a medidas de austeridade que são, por sua própria natureza, impopulares. Não é difícil imaginar quem sairá mais lanhado desse embate.
Queixar-se de que Lula está a desferir golpes abaixo da linha da cintura e tentar desmentir cada uma de suas patranhas, como se a verdade pudesse dessa maneira prevalecer, é justamente o que o demiurgo petista pretende. Os petistas em geral, e Lula em particular, têm certeza de que uma parte do eleitorado prefere acreditar nas suas mentiras delirantes, pois elas são um confortável refúgio ante o desafio de reconstruir o País à custa do sacrifício de todos. É perda de tempo, portanto, chamar os petistas à responsabilidade, porque eles nunca se dispuseram a colaborar efetivamente para a melhora da vida nacional, dado que estão preocupados apenas com seu projeto de poder, que está na gênese de toda essa crise.
O governo Temer faria melhor se viesse a público com a mesma determinação de seus tinhosos adversários petistas e defendesse de forma mais enfática as reformas econômicas de que o País tanto necessita. Também faria melhor se demonstrasse, ao mesmo tempo, o mal que o PT causou ao Brasil. Em situações normais não é elegante que um governante fique a justificar suas dificuldades citando a “herança maldita” de seu antecessor, mas definitivamente não vivemos tempos normais.
Nada garante que essa estratégia assegurará um triunfo completo sobre as mentiras de Lula e sua turma, mas pelo menos arregimentará, para o governo, um apoio mais vibrante do Brasil decente, que sabe muito bem o que o PT fez ao País e o que é preciso fazer para sair da crise.
O governo faria melhor se viesse a público com a mesma determinação de seus tinhosos adversários petistas
O PT mente com tamanha determinação e energia que, mesmo sendo o principal responsável pela crise econômica, política e moral que o País hoje enfrenta, consegue aparecer, pasme o leitor, como a vanguarda da luta contra um governo em cuja testa pregou o estigma de “corrupto” e “inimigo do trabalhador”. Se há algo que o governo de Michel Temer poderia aprender com os aguerridos petistas, é justamente o vigor com que eles se dedicam à tarefa de fazer prevalecer sua versão dos fatos, mesmo que esta, no caso petista, contrarie frontalmente a realidade. Tivesse metade dessa garra ao defender as reformas que encaminhou e ao denunciar o descalabro que herdou da trágica era lulopetista, certamente o presidente Temer estaria em melhor situação.
É certo que a mentira frequenta certos círculos políticos, mas, numa época em que, infelizmente, a verdade aparenta importar cada vez menos, o PT parece ter entendido muito bem o poder do discurso que seja apenas “lógico”, isto é, que faça “sentido”, embora não guarde relação nenhuma com a realidade. Se é de uma batalha que se trata, travada entre a realidade e a “pós-verdade” – termo que designa as circunstâncias em que as crenças pessoais são mais importantes do que os fatos objetivos –, o PT está claramente muito mais bem preparado para ela do que seus adversários.
Para um partido que foi dado como praticamente aniquilado depois do impeachment da presidente Dilma Rousseff e da grande derrota nas eleições municipais de 2016, o PT ainda consegue atrapalhar, e muito, o necessário debate nacional. Basta que seu chefão, Lula da Silva, empunhe um microfone para que os grandes dilemas e desafios nacionais se reduzam a um confronto pueril entre o bem – representado pelos petistas, naturalmente – e o mal, encarnado no “resto”, em especial nos “golpistas” alinhados a Temer, na mídia e nos empresários gananciosos.
É claro que, deflagrada nesses termos, tal batalha exige muito mais do lado de quem precisa governar, isto é, lidar com os fatos da vida real, do que daqueles que não têm nenhuma responsabilidade. Enquanto Lula da Silva grita por aí que “voltou a ter criança pedindo esmola” e que “nós sabemos como fazer a economia crescer, como criar emprego, como aumentar salário”, o presidente Temer e sua competente equipe econômica precisam articular politicamente apoio a medidas de austeridade que são, por sua própria natureza, impopulares. Não é difícil imaginar quem sairá mais lanhado desse embate.
Queixar-se de que Lula está a desferir golpes abaixo da linha da cintura e tentar desmentir cada uma de suas patranhas, como se a verdade pudesse dessa maneira prevalecer, é justamente o que o demiurgo petista pretende. Os petistas em geral, e Lula em particular, têm certeza de que uma parte do eleitorado prefere acreditar nas suas mentiras delirantes, pois elas são um confortável refúgio ante o desafio de reconstruir o País à custa do sacrifício de todos. É perda de tempo, portanto, chamar os petistas à responsabilidade, porque eles nunca se dispuseram a colaborar efetivamente para a melhora da vida nacional, dado que estão preocupados apenas com seu projeto de poder, que está na gênese de toda essa crise.
O governo Temer faria melhor se viesse a público com a mesma determinação de seus tinhosos adversários petistas e defendesse de forma mais enfática as reformas econômicas de que o País tanto necessita. Também faria melhor se demonstrasse, ao mesmo tempo, o mal que o PT causou ao Brasil. Em situações normais não é elegante que um governante fique a justificar suas dificuldades citando a “herança maldita” de seu antecessor, mas definitivamente não vivemos tempos normais.
Nada garante que essa estratégia assegurará um triunfo completo sobre as mentiras de Lula e sua turma, mas pelo menos arregimentará, para o governo, um apoio mais vibrante do Brasil decente, que sabe muito bem o que o PT fez ao País e o que é preciso fazer para sair da crise.
Se delinquir, delate - VINICIUS MOTA
FOLHA DE SP - 19/06
SÃO PAULO - O Brasil, que há pouco tempo entrou para o clube da delação premiada, logo descobriu o potencial dessa ferramenta para enfrentar esquemas de corrupção inseridos no funcionamento do governo. Avoluma-se, contudo, a sensação de que estamos nos lambuzando com o melado recém-descoberto.
Quando não há limites para delatar, o conjunto de incentivos que deveria levar ao bem maior para a sociedade entra em parafuso. A teoria recomenda restringir os prêmios ao primeiro a entregar os comparsas. Exige que os relatos sejam sustentados por sólidas provas factuais.
A afoiteza de procuradores e a esperteza de criminosos confessos, entretanto, vão alargando as fronteiras do instituto no Brasil. É difícil encontrar caso no mundo em que se foi tão longe com delações premiadas.
Agora se aceita, sem tempo para análise detalhada, um vasto lote de doações registradas na Justiça Eleitoral como evidência de múltiplos atos de suborno. Ou se demonstra, uma a uma, qual foi a contrapartida ilícita desses repasses, ou essas provas vão morrer, e os procuradores terão comprado gato por lebre.
A lentidão judicial dificulta a avaliação em tempo hábil do que foi exposto pelos delatores. Eles desfrutam dos benefícios à vista, mas a ameaça de perda do bônus por terem mentido quase inexiste de tão distante.
O sistema de adesões sucessivas favorece relatos que confirmem as teorias acusatórias da Procuradoria e desincentiva os que as contradigam.
Está aberta a via para um ciclo de delações interminável –e potencialmente infernal, porque composto de informações de difícil verificação.
Se delinquir, procure botar a culpa em alguém próximo. Se ainda não há grandes banqueiros na história, encontre algum em suas relações. Se ainda não há juízes do Supremo, envolva um. E que tal enlaçar um procurador de seu círculo? A guilhotina, afinal, não serviu apenas aos jacobinos. Serviu-se deles também.
SÃO PAULO - O Brasil, que há pouco tempo entrou para o clube da delação premiada, logo descobriu o potencial dessa ferramenta para enfrentar esquemas de corrupção inseridos no funcionamento do governo. Avoluma-se, contudo, a sensação de que estamos nos lambuzando com o melado recém-descoberto.
Quando não há limites para delatar, o conjunto de incentivos que deveria levar ao bem maior para a sociedade entra em parafuso. A teoria recomenda restringir os prêmios ao primeiro a entregar os comparsas. Exige que os relatos sejam sustentados por sólidas provas factuais.
A afoiteza de procuradores e a esperteza de criminosos confessos, entretanto, vão alargando as fronteiras do instituto no Brasil. É difícil encontrar caso no mundo em que se foi tão longe com delações premiadas.
Agora se aceita, sem tempo para análise detalhada, um vasto lote de doações registradas na Justiça Eleitoral como evidência de múltiplos atos de suborno. Ou se demonstra, uma a uma, qual foi a contrapartida ilícita desses repasses, ou essas provas vão morrer, e os procuradores terão comprado gato por lebre.
A lentidão judicial dificulta a avaliação em tempo hábil do que foi exposto pelos delatores. Eles desfrutam dos benefícios à vista, mas a ameaça de perda do bônus por terem mentido quase inexiste de tão distante.
O sistema de adesões sucessivas favorece relatos que confirmem as teorias acusatórias da Procuradoria e desincentiva os que as contradigam.
Está aberta a via para um ciclo de delações interminável –e potencialmente infernal, porque composto de informações de difícil verificação.
Se delinquir, procure botar a culpa em alguém próximo. Se ainda não há grandes banqueiros na história, encontre algum em suas relações. Se ainda não há juízes do Supremo, envolva um. E que tal enlaçar um procurador de seu círculo? A guilhotina, afinal, não serviu apenas aos jacobinos. Serviu-se deles também.
sexta-feira, junho 16, 2017
A soberba de Lula - EDITORIAL ESTADÃO
ESTADÃO - 16/06
Ao se descortinar os fatos graves contra o ex-presidente, ficou demonstrado que o mito do herói petista serve melhor à literatura do que à política
O oportunismo que marcou a trajetória política do ex-presidente Lula da Silva, desde sua ascensão como líder sindical, foi tomado durante muito tempo como uma das virtudes capazes de levar um ex-metalúrgico a ocupar a Presidência da República. A realidade dos fatos, sobejamente documentada nos autos de um número constrangedor de processos judiciais a que responde, encarregou-se de demonstrar que o mito do herói serve melhor à literatura do que à política. Ao descortinar aos olhos dos cidadãos minimamente informados fatos graves que só a fé cega em um demiurgo é capaz de obliterar, as investigações sobre a conduta do ex-presidente revelaram que de virtuoso o oportunismo não tem nada.
Em evento de posse da nova direção do Partido dos Trabalhadores (PT) no sábado passado, na Assembleia Legislativa de São Paulo, Lula se apresentou como o único cidadão capaz de tirar o País da crise. Trata-se da imodéstia de quem se vê acima de qualquer responsabilidade que possa recair sobre seus atos, alguém ungido por um especial desígnio que justificaria qualquer desvario político. “Se o PT deixar, serei candidato para voltar a ver uma sociedade mais igual”, disse o ex-presidente. Poucas vezes uma afirmação de Lula soou tão embusteira. O PT é Lula, o rumo do partido é a expressão máxima de sua vontade. Portanto, o PT não tem qualquer ingerência sobre sua eventual candidatura à Presidência em 2018. Aliás, ainda que tivesse, esta prerrogativa, hoje, é exclusiva do Poder Judiciário, que pode torná-lo inelegível pela Lei da Ficha Limpa.
Durante o discurso, Lula mostrou que além de soberbo é incapaz de compreender a grandeza do cargo que ocupou e que sonha em voltar a ocupar. Afirmando que para voltar à Presidência “não precisa convencer os não convencíveis”, pois lhe bastariam “50% mais um” dos eleitores, Lula deixou clara a visão mesquinha que tem da Presidência da República, como se uma vez eleito estivesse comprometido apenas com o destino daqueles que o apoiam, e não com o de todos os brasileiros.
Ao arvorar-se em único capitão habilidoso o bastante para conduzir um navio à deriva, Lula esconde o papel determinante que teve na construção da pior crise política, econômica e moral da história recente, o mais eloquente atestado do desastre que o lulopetismo representou para o País. Em um misto de vaidade e desfaçatez, o ex-presidente afirmou em seu discurso na Assembleia Legislativa que “a melhor experiência de governança neste país foi do PT”. Para ele, a profunda recessão econômica e os 14 milhões de brasileiros desempregados são “fatos alternativos”.
Citado na delação superpremiada do empresário Joesley Batista como beneficiário de uma conta milionária abastecida com dinheiro de propina, Lula não se deu por constrangido e lançou mão de seu conhecido senso de humor rasteiro. “Estou quase fazendo delação para pegar os meus US$ 82 milhões”, ironizou. O problema seria encontrar um possível delatado, já que as investigações realizadas até agora colocam Lula no topo do esquema de corrupção engendrado para pilhar os recursos do Estado.
Mas não foi só a soberba, a imodéstia e a desfaçatez que marcaram o discurso de Lula na posse da nova direção de seu partido. O cinismo também deu as caras quando o ex-presidente afirmou que “o País nunca precisou tanto do PT como agora”. Prometendo resgatar o “Lulinha Paz e Amor”, o ex-presidente disse que “o PT é o único capaz de devolver a alegria ao povo brasileiro”. Lula é o grande artífice da grave crise por que passa o Brasil e por meio de seu discurso agressivo e excludente disseminou a cizânia e implodiu todas as pontes para uma reconciliação nacional em torno de um projeto de retomada do crescimento econômico, do desenvolvimento social e do debate de ideias próprio da democracia em um ambiente menos anuviado.
Se em meio à crise paira a incerteza sobre qual caminho o País deverá seguir em 2018, o lulopetismo já apresentou razões mais do que suficientes para a Nação saber qual deve ser evitado.
Ao se descortinar os fatos graves contra o ex-presidente, ficou demonstrado que o mito do herói petista serve melhor à literatura do que à política
O oportunismo que marcou a trajetória política do ex-presidente Lula da Silva, desde sua ascensão como líder sindical, foi tomado durante muito tempo como uma das virtudes capazes de levar um ex-metalúrgico a ocupar a Presidência da República. A realidade dos fatos, sobejamente documentada nos autos de um número constrangedor de processos judiciais a que responde, encarregou-se de demonstrar que o mito do herói serve melhor à literatura do que à política. Ao descortinar aos olhos dos cidadãos minimamente informados fatos graves que só a fé cega em um demiurgo é capaz de obliterar, as investigações sobre a conduta do ex-presidente revelaram que de virtuoso o oportunismo não tem nada.
Em evento de posse da nova direção do Partido dos Trabalhadores (PT) no sábado passado, na Assembleia Legislativa de São Paulo, Lula se apresentou como o único cidadão capaz de tirar o País da crise. Trata-se da imodéstia de quem se vê acima de qualquer responsabilidade que possa recair sobre seus atos, alguém ungido por um especial desígnio que justificaria qualquer desvario político. “Se o PT deixar, serei candidato para voltar a ver uma sociedade mais igual”, disse o ex-presidente. Poucas vezes uma afirmação de Lula soou tão embusteira. O PT é Lula, o rumo do partido é a expressão máxima de sua vontade. Portanto, o PT não tem qualquer ingerência sobre sua eventual candidatura à Presidência em 2018. Aliás, ainda que tivesse, esta prerrogativa, hoje, é exclusiva do Poder Judiciário, que pode torná-lo inelegível pela Lei da Ficha Limpa.
Durante o discurso, Lula mostrou que além de soberbo é incapaz de compreender a grandeza do cargo que ocupou e que sonha em voltar a ocupar. Afirmando que para voltar à Presidência “não precisa convencer os não convencíveis”, pois lhe bastariam “50% mais um” dos eleitores, Lula deixou clara a visão mesquinha que tem da Presidência da República, como se uma vez eleito estivesse comprometido apenas com o destino daqueles que o apoiam, e não com o de todos os brasileiros.
Ao arvorar-se em único capitão habilidoso o bastante para conduzir um navio à deriva, Lula esconde o papel determinante que teve na construção da pior crise política, econômica e moral da história recente, o mais eloquente atestado do desastre que o lulopetismo representou para o País. Em um misto de vaidade e desfaçatez, o ex-presidente afirmou em seu discurso na Assembleia Legislativa que “a melhor experiência de governança neste país foi do PT”. Para ele, a profunda recessão econômica e os 14 milhões de brasileiros desempregados são “fatos alternativos”.
Citado na delação superpremiada do empresário Joesley Batista como beneficiário de uma conta milionária abastecida com dinheiro de propina, Lula não se deu por constrangido e lançou mão de seu conhecido senso de humor rasteiro. “Estou quase fazendo delação para pegar os meus US$ 82 milhões”, ironizou. O problema seria encontrar um possível delatado, já que as investigações realizadas até agora colocam Lula no topo do esquema de corrupção engendrado para pilhar os recursos do Estado.
Mas não foi só a soberba, a imodéstia e a desfaçatez que marcaram o discurso de Lula na posse da nova direção de seu partido. O cinismo também deu as caras quando o ex-presidente afirmou que “o País nunca precisou tanto do PT como agora”. Prometendo resgatar o “Lulinha Paz e Amor”, o ex-presidente disse que “o PT é o único capaz de devolver a alegria ao povo brasileiro”. Lula é o grande artífice da grave crise por que passa o Brasil e por meio de seu discurso agressivo e excludente disseminou a cizânia e implodiu todas as pontes para uma reconciliação nacional em torno de um projeto de retomada do crescimento econômico, do desenvolvimento social e do debate de ideias próprio da democracia em um ambiente menos anuviado.
Se em meio à crise paira a incerteza sobre qual caminho o País deverá seguir em 2018, o lulopetismo já apresentou razões mais do que suficientes para a Nação saber qual deve ser evitado.
quinta-feira, junho 15, 2017
O desejo dos idosos - CONTARDO CALLIGARIS
FOLHA DE SP - 15/06
Fui convidado pelo Sesc de São Paulo a abrir, com uma palestra, a Campanha de Conscientização da Violência contra a Pessoa Idosa. Por que precisamos de um esforço para ter consciência da violência que é exercida contra os idosos?
No Brasil, tornou-se frequente que as famílias aceitem que um filho ou uma filha menores durmam em casa com seus namorados. A gente racionaliza: melhor em casa do que no carro, ou em outros lugares perigosos.
Obviamente, essa tolerância esconde uma vontade de controlar e domesticar o desejo dos adolescentes. Se acontecer em casa, saberemos o que é, certo?
Mesmo assim, imaginemos que exista hoje uma aceitação da ideia de que filhos adolescentes têm desejos próprios e, além disso, estão vivendo agora –não estão apenas se preparando para a vida futura.
Agora, imagine que um de seus pais ou de seus sogros seja viúvo, separado ou divorciado, digamos, aos 75 anos. Ele tem uma aposentadoria modesta, e, se ele morasse com você, seria bom para ele e para você (ele poderia ajudar com as crianças, que o adoram).
O idoso tem seu quarto, sua televisão, seus livros, poupa o aluguel e, "sobretudo", evita a solidão, enquanto você tem a melhor baby-sitter possível.
Pergunta: você aceita que seus filhos levem namorados e namoradas para casa, mas, caso seu pai ou sua mãe ou sogro ou sogra, divorciados, separados ou viúvos, morem com você, você topa que eles tragam um "namorado ou namorada" para casa e para cama? Você encara um velho ou uma velha desconhecidos na mesa do café da manhã?
O século 20 começou admitindo a existência da sexualidade infantil, continuou reconhecendo (um pouco) a sexualidade feminina e admitindo (um pouco) a variedade das orientações sexuais; mas o desejo sexual do idoso continua obsceno: uma aberração fora de época. O próprio amor entre idosos, para ser aceito, deve nos parecer "fofo".
Negar a vida sexual do idoso permite que a indústria farmacêutica e o médico proponham tratamentos que condenam o idoso à impotência, como se esse efeito "secundário" não fosse relevante na velhice.
Da mesma forma, os efeitos colaterais da testosterona na menopausa são tolerados pelos sintomas que ela melhora (irritabilidade, calores repentinos etc.), mas é raro que seja considerado o efeito de manter o desejo e a vida sexual da mulher.
A atitude diante de alguém de 40 anos seria totalmente diferente: em matéria de desejo, espera-se do idoso a resignação.
E, se você acha que o desejo sexual no idoso é uma quimera, considere o seguinte: entre os lugares onde as doenças sexualmente transmissíveis mais crescem, estão os asilos para idosos"¦
Ouço com frequência filhos preocupados com o medo de que o pai ou a mãe idosos caiam nas mãos de parceiros "aproveitadores", que "certamente" esperam herdar algo depois da morte do velho ou da velha. Fico perplexo: por que os amantes no fim da vida seriam aproveitadores? Porque permitem um prazer carnal do qual os filhos se envergonham? E será que os tais amantes seriam menos interesseiros do que os filhos, tão preocupados que os pais acabem com "as reservas"?
Nascemos prematuros: para vingar, precisamos ser criados numa família, que é um caldeirão de necessidades, desejos e primeiros afetos fundamentais (prazer, desamparo, gratidão, ódios, frustrações, gratificações). Ser normal, para um humano, significa ter constituído, nessa experiência familiar, um complexo de afetos que moldará o resto de sua vida.
Entre esses afetos, seria ingênuo não contabilizar a vontade de vingança. Vocês foram os que me impediram de desejar, de me masturbar, de comprar aquele carrinho vermelho etc., tudo "pelo meu bem", claro. Vocês diziam que eu não podia ainda; agora vou dizer que vocês não podem mais.
Como os idosos não morrem tão cedo, a demência e o Alzheimer são providenciais. Os adultos adoram decretar a "incapacidade" de seus velhos. Os filhos sonham com uma curatela dos pais, que é quase sempre abusiva ou desnecessária (apesar da cautela do Judiciário).
Cuidado, a violência física e a tentativa de se apoderar dos bens do idoso são apenas a ponta de um iceberg. A verdadeira violência contra o idoso consiste em negar a ele a possibilidade de desejar. É nessa negação que se manifesta o prazer escuso dos filhos quando eles podem regular a vida de quem já regulou a deles.
Fui convidado pelo Sesc de São Paulo a abrir, com uma palestra, a Campanha de Conscientização da Violência contra a Pessoa Idosa. Por que precisamos de um esforço para ter consciência da violência que é exercida contra os idosos?
No Brasil, tornou-se frequente que as famílias aceitem que um filho ou uma filha menores durmam em casa com seus namorados. A gente racionaliza: melhor em casa do que no carro, ou em outros lugares perigosos.
Obviamente, essa tolerância esconde uma vontade de controlar e domesticar o desejo dos adolescentes. Se acontecer em casa, saberemos o que é, certo?
Mesmo assim, imaginemos que exista hoje uma aceitação da ideia de que filhos adolescentes têm desejos próprios e, além disso, estão vivendo agora –não estão apenas se preparando para a vida futura.
Agora, imagine que um de seus pais ou de seus sogros seja viúvo, separado ou divorciado, digamos, aos 75 anos. Ele tem uma aposentadoria modesta, e, se ele morasse com você, seria bom para ele e para você (ele poderia ajudar com as crianças, que o adoram).
O idoso tem seu quarto, sua televisão, seus livros, poupa o aluguel e, "sobretudo", evita a solidão, enquanto você tem a melhor baby-sitter possível.
Pergunta: você aceita que seus filhos levem namorados e namoradas para casa, mas, caso seu pai ou sua mãe ou sogro ou sogra, divorciados, separados ou viúvos, morem com você, você topa que eles tragam um "namorado ou namorada" para casa e para cama? Você encara um velho ou uma velha desconhecidos na mesa do café da manhã?
O século 20 começou admitindo a existência da sexualidade infantil, continuou reconhecendo (um pouco) a sexualidade feminina e admitindo (um pouco) a variedade das orientações sexuais; mas o desejo sexual do idoso continua obsceno: uma aberração fora de época. O próprio amor entre idosos, para ser aceito, deve nos parecer "fofo".
Negar a vida sexual do idoso permite que a indústria farmacêutica e o médico proponham tratamentos que condenam o idoso à impotência, como se esse efeito "secundário" não fosse relevante na velhice.
Da mesma forma, os efeitos colaterais da testosterona na menopausa são tolerados pelos sintomas que ela melhora (irritabilidade, calores repentinos etc.), mas é raro que seja considerado o efeito de manter o desejo e a vida sexual da mulher.
A atitude diante de alguém de 40 anos seria totalmente diferente: em matéria de desejo, espera-se do idoso a resignação.
E, se você acha que o desejo sexual no idoso é uma quimera, considere o seguinte: entre os lugares onde as doenças sexualmente transmissíveis mais crescem, estão os asilos para idosos"¦
Ouço com frequência filhos preocupados com o medo de que o pai ou a mãe idosos caiam nas mãos de parceiros "aproveitadores", que "certamente" esperam herdar algo depois da morte do velho ou da velha. Fico perplexo: por que os amantes no fim da vida seriam aproveitadores? Porque permitem um prazer carnal do qual os filhos se envergonham? E será que os tais amantes seriam menos interesseiros do que os filhos, tão preocupados que os pais acabem com "as reservas"?
Nascemos prematuros: para vingar, precisamos ser criados numa família, que é um caldeirão de necessidades, desejos e primeiros afetos fundamentais (prazer, desamparo, gratidão, ódios, frustrações, gratificações). Ser normal, para um humano, significa ter constituído, nessa experiência familiar, um complexo de afetos que moldará o resto de sua vida.
Entre esses afetos, seria ingênuo não contabilizar a vontade de vingança. Vocês foram os que me impediram de desejar, de me masturbar, de comprar aquele carrinho vermelho etc., tudo "pelo meu bem", claro. Vocês diziam que eu não podia ainda; agora vou dizer que vocês não podem mais.
Como os idosos não morrem tão cedo, a demência e o Alzheimer são providenciais. Os adultos adoram decretar a "incapacidade" de seus velhos. Os filhos sonham com uma curatela dos pais, que é quase sempre abusiva ou desnecessária (apesar da cautela do Judiciário).
Cuidado, a violência física e a tentativa de se apoderar dos bens do idoso são apenas a ponta de um iceberg. A verdadeira violência contra o idoso consiste em negar a ele a possibilidade de desejar. É nessa negação que se manifesta o prazer escuso dos filhos quando eles podem regular a vida de quem já regulou a deles.
segunda-feira, junho 12, 2017
Guerra e política - DENIS LERRER ROSENFIELD
ESTADÃO - 12/06
Urge que o País se una pelas reformas. Há um limite para a irresponsabilidade
Em países desenvolvidos, com Estado forte e regras democráticas compartilhadas por todos os cidadãos, a guerra fica a cargo do estamento militar e a política, dos representantes populares, eleitos para tal função. Para quem foi formado na arte da guerra, seus opositores são tidos por inimigos que devem ser eliminados. Para quem foi formado na arte da política, opositores são adversários com quem se convive com base em valores constitucionais comuns.
Ora, o País vive uma situação assaz bizarra, há uma espécie de inversão entre os militares e os políticos, aí incluindo representantes de Poderes constitucionais, como alguns membros do Supremo, e até a cúpula do Ministério Público Federal. Fosse outro o momento histórico, os militares já teriam intervindo. Por muito menos tomaram o poder em 1964.
A segurança pública é um descalabro, por ano faz tantas vítimas quanto o número de soldados americanos mortos durante toda a Guerra do Vietnã. A classe política está totalmente desmoralizada, pois boa parte de seus membros foi capturada nas teias da Lava Jato. O mesmo vale para ministros do atual governo e dos anteriores.
As instituições estão frequentemente em conflito entre elas e internamente. O lulopetismo montou um esquema de corrupção do Estado que o minou em seus fundamentos. Sua herança nas áreas econômica e social é desastrosa.
No entanto, os militares estão vigilantes no cumprimento da Constituição e, certamente, preocupados com os destinos do País. Seriam irresponsáveis se não seguissem com atenção os conflitos institucionais e políticos em curso.
Por outro lado, os políticos estão dando mostras de irresponsabilidade, salvo as exceções de praxe. O PT e legendas afins partiram para uma cruzada contra o governo Temer, como se não fossem eles os maiores responsáveis pelo desmoronamento econômico, social e institucional do País. Com o intuito de ocultar seus desastrosos feitos, defendem, agora, eleições diretas, como meio de voltarem ao poder antes de Lula ser condenado em segunda instância. Todos os que deles discordam são tidos por “inimigos”.
Almejam voltar à sua posição de mando para concluírem o seu trabalho de desmonte do País. Eleições diretas, para eles, significa nada mais que pôr o Brasil na rota da bolivarização. A Venezuela hoje seria o Brasil amanhã.
Note-se que Joesley Batista é cria lulista. Foi farto financiador das campanhas petistas. Tornou-se “campeão nacional” graças aos generosos subsídios do BNDES. Ora, é esse o personagem usado pela Procuradoria-Geral da República para incriminar o presidente Temer!
Outro exemplo de contradição é o PSDB. A única decisão que parece ter tomado é a de ficar em cima do muro. Num dia apresenta-se como defensor do governo, no outro diz que vai abandoná-lo. E o faz sem corar, como se seu próprio presidente não estivesse sendo acusado de corrupção. Pode pôr em risco as reformas tão necessárias ao País e defendidas pelo próprio partido.
Já o procurador-geral, Rodrigo Janot, mais parece ter uma questão pessoal a resolver com o presidente da República. É o seu “inimigo”. Sempre foi cuidadoso na apresentação de denúncias. Alguns chegam a dizer excessivamente demorado. De repente, afoito, procura de todas as maneiras denunciar o presidente, com o claro intuito de produzir um feito político.
Do ponto de vista jurídico, deveria aguardar a perícia de um áudio que traz marcas de ter sido editado, segundo vários peritos que o analisaram. Ato subsequente, com o acordo do ministro Edson Fachin, tentou obrigar o presidente a responder em 24 horas a um questionário de 82 perguntas. Tudo indica que sua preocupação maior consiste em fazer o presidente produzir provas contra si mesmo.
Aliás, as perguntas são um capítulo à parte. São constituídas dos seguintes grupos: 1) boa parte é relativa ao áudio não periciado; 2) outra parte diz respeito a atos anteriores ao mandato presidencial, que não podem, portanto, ser trazidos à tona; 3) uma terceira consiste em perguntas de ordem pessoal, que não vêm ao caso; 4) e outra diz respeito a seu ex-assessor Rodrigo Loures, que corre em processo à parte.
Observe-se, ainda, que o procurador-geral da República está tentando puxar para si o prestígio da Lava Jato, mesmo que esse processo não guarde nenhuma relação com ela. Está contaminando, dessa maneira, um imenso patrimônio nacional.
O objetivo político torna-se ainda mais evidente pelo rito processual a ser seguido no caso de um presidente da República. Ele é politicamente inexequível. Não cabe ao ministro Fachin, nem à presidente do Supremo, aceitar ou não essa denúncia. Talvez possam arquivá-la, submetendo-a ao plenário, embora isso não esteja previsto no artigo 86 da Constituição.
O rito constitucional estabelece que o ministro Fachin, ou a presidente do STF, deve encaminhar diretamente a denúncia para ser admitida ou não pela Câmara dos Deputados. O presidente desta, por sua vez, a envia à Comissão de Justiça para ser ou não referendada. Ato contínuo, ela é levada a plenário, onde deve ser aprovada por dois terços. Se esse quórum não for atingido, ela é rejeitada. Ora, o presidente goza de confortável apoio na Câmara.
Resolvida a questão do Tribunal Superior Eleitoral, à qual se deve seguir o arquivamento dos processos de impeachment, cabe ao País retomar o seu caminho rumo à aprovação das reformas. A trabalhista deverá ser aprovada até o fim do mês. A previdenciária depende do clima de pacificação a ser instaurado. O presidente já deu sinais claros de que não renunciará.
A política entendida como guerra de amigos contra inimigos deveria cessar. É tarefa urgente que o País se una no prosseguimento da reformas, feito do governo Temer, que estão sendo bombardeadas pelos que não se preocupam com os destinos nacionais.
Há um limite para a irresponsabilidade reinante.
Urge que o País se una pelas reformas. Há um limite para a irresponsabilidade
Em países desenvolvidos, com Estado forte e regras democráticas compartilhadas por todos os cidadãos, a guerra fica a cargo do estamento militar e a política, dos representantes populares, eleitos para tal função. Para quem foi formado na arte da guerra, seus opositores são tidos por inimigos que devem ser eliminados. Para quem foi formado na arte da política, opositores são adversários com quem se convive com base em valores constitucionais comuns.
Ora, o País vive uma situação assaz bizarra, há uma espécie de inversão entre os militares e os políticos, aí incluindo representantes de Poderes constitucionais, como alguns membros do Supremo, e até a cúpula do Ministério Público Federal. Fosse outro o momento histórico, os militares já teriam intervindo. Por muito menos tomaram o poder em 1964.
A segurança pública é um descalabro, por ano faz tantas vítimas quanto o número de soldados americanos mortos durante toda a Guerra do Vietnã. A classe política está totalmente desmoralizada, pois boa parte de seus membros foi capturada nas teias da Lava Jato. O mesmo vale para ministros do atual governo e dos anteriores.
As instituições estão frequentemente em conflito entre elas e internamente. O lulopetismo montou um esquema de corrupção do Estado que o minou em seus fundamentos. Sua herança nas áreas econômica e social é desastrosa.
No entanto, os militares estão vigilantes no cumprimento da Constituição e, certamente, preocupados com os destinos do País. Seriam irresponsáveis se não seguissem com atenção os conflitos institucionais e políticos em curso.
Por outro lado, os políticos estão dando mostras de irresponsabilidade, salvo as exceções de praxe. O PT e legendas afins partiram para uma cruzada contra o governo Temer, como se não fossem eles os maiores responsáveis pelo desmoronamento econômico, social e institucional do País. Com o intuito de ocultar seus desastrosos feitos, defendem, agora, eleições diretas, como meio de voltarem ao poder antes de Lula ser condenado em segunda instância. Todos os que deles discordam são tidos por “inimigos”.
Almejam voltar à sua posição de mando para concluírem o seu trabalho de desmonte do País. Eleições diretas, para eles, significa nada mais que pôr o Brasil na rota da bolivarização. A Venezuela hoje seria o Brasil amanhã.
Note-se que Joesley Batista é cria lulista. Foi farto financiador das campanhas petistas. Tornou-se “campeão nacional” graças aos generosos subsídios do BNDES. Ora, é esse o personagem usado pela Procuradoria-Geral da República para incriminar o presidente Temer!
Outro exemplo de contradição é o PSDB. A única decisão que parece ter tomado é a de ficar em cima do muro. Num dia apresenta-se como defensor do governo, no outro diz que vai abandoná-lo. E o faz sem corar, como se seu próprio presidente não estivesse sendo acusado de corrupção. Pode pôr em risco as reformas tão necessárias ao País e defendidas pelo próprio partido.
Já o procurador-geral, Rodrigo Janot, mais parece ter uma questão pessoal a resolver com o presidente da República. É o seu “inimigo”. Sempre foi cuidadoso na apresentação de denúncias. Alguns chegam a dizer excessivamente demorado. De repente, afoito, procura de todas as maneiras denunciar o presidente, com o claro intuito de produzir um feito político.
Do ponto de vista jurídico, deveria aguardar a perícia de um áudio que traz marcas de ter sido editado, segundo vários peritos que o analisaram. Ato subsequente, com o acordo do ministro Edson Fachin, tentou obrigar o presidente a responder em 24 horas a um questionário de 82 perguntas. Tudo indica que sua preocupação maior consiste em fazer o presidente produzir provas contra si mesmo.
Aliás, as perguntas são um capítulo à parte. São constituídas dos seguintes grupos: 1) boa parte é relativa ao áudio não periciado; 2) outra parte diz respeito a atos anteriores ao mandato presidencial, que não podem, portanto, ser trazidos à tona; 3) uma terceira consiste em perguntas de ordem pessoal, que não vêm ao caso; 4) e outra diz respeito a seu ex-assessor Rodrigo Loures, que corre em processo à parte.
Observe-se, ainda, que o procurador-geral da República está tentando puxar para si o prestígio da Lava Jato, mesmo que esse processo não guarde nenhuma relação com ela. Está contaminando, dessa maneira, um imenso patrimônio nacional.
O objetivo político torna-se ainda mais evidente pelo rito processual a ser seguido no caso de um presidente da República. Ele é politicamente inexequível. Não cabe ao ministro Fachin, nem à presidente do Supremo, aceitar ou não essa denúncia. Talvez possam arquivá-la, submetendo-a ao plenário, embora isso não esteja previsto no artigo 86 da Constituição.
O rito constitucional estabelece que o ministro Fachin, ou a presidente do STF, deve encaminhar diretamente a denúncia para ser admitida ou não pela Câmara dos Deputados. O presidente desta, por sua vez, a envia à Comissão de Justiça para ser ou não referendada. Ato contínuo, ela é levada a plenário, onde deve ser aprovada por dois terços. Se esse quórum não for atingido, ela é rejeitada. Ora, o presidente goza de confortável apoio na Câmara.
Resolvida a questão do Tribunal Superior Eleitoral, à qual se deve seguir o arquivamento dos processos de impeachment, cabe ao País retomar o seu caminho rumo à aprovação das reformas. A trabalhista deverá ser aprovada até o fim do mês. A previdenciária depende do clima de pacificação a ser instaurado. O presidente já deu sinais claros de que não renunciará.
A política entendida como guerra de amigos contra inimigos deveria cessar. É tarefa urgente que o País se una no prosseguimento da reformas, feito do governo Temer, que estão sendo bombardeadas pelos que não se preocupam com os destinos nacionais.
Há um limite para a irresponsabilidade reinante.
PGR-PF no cerco a Temer; atos odiosos; é para derrubar. Certa direita faz trabalho da esquerda - REINALDO AZEVEDO
BLOG DO REINALDO AZEVEDO
Os procedimentos em curso não guardam semelhança com um processo de investigação. O que se tem é uma máquina de vazamentos, pronta a produzir terror
A Procuradoria-Geral da República e a Polícia Federal seguem firmes na sua caçada a Michel Temer. Olhem que não me lembro de nada semelhante. Com este vigor, não! Também nunca se viram — nem na saga da turma de Curitiba contra os petistas — tantos procedimentos heterodoxos. E, por óbvio, quem sorri de orelha a orelha são as esquerdas, que se sentem, de algum modo, vingadas. Há outras coisas curiosas.
Setores da direita reagem com raiva, com o fígado, com moralismo desinformado — como costuma ser o moralismo. Já os esquerdistas atuam de forma absolutamente racional, certo? Para os seus desígnios, a queda de Temer é essencial. Afinal, poderão (re)encruar o discurso do “golpe”. Assim, que os “companheiros” e “camaradas” lutem bravamente para depor o presidente é coisa compreensível. Que os conservadores não perceberam a cilada… Bem, como diria aquele meu velho professor, “a pior forma de reacionarismo é mesmo a burrice”.
Na Folha desta segunda, lemos que “a Policia Federal encontrou documentos rasgados, com informações sobre a reforma da casa de uma filha do presidente Michel Temer, na operação de busca e apreensão que fez no apartamento do coronel da Polícia Militar João Baptista Lima Filho”.
Documentos? Pois é… Na linguagem da PF e do Ministério Público, um papel já é “documento”. Que vínculo o dito-cujo tem com o caso JBS? Não se sabe. A PF informa também ter encontrado papeis que sugeririam que o coronel controlava as despesas de Temer. Há uma nota de 1998 de um aparelho de telefone.
Fantástico
Ah, o “Fantástico” levou ao ar com exclusividade — claro! — trecho de uma conversa de Ricardo Saud, o homem de Joesley Batista que pagava as safadezas, com o ex-deputado Rocha Loures. Ambos falam de um certo “Edgar”. O tal aparece na 47ª pergunta das 82 enviadas pela PF ao presidente. Os investigadores querem saber se há alguém com esse nome “no universo de pessoas” com o qual Temer se relaciona. Há sugestão de ilegalidade no contexto em que aparece o nome? Não! Mas a apresentadora do “Fantástico” mandou ver: “O Brasil quer saber quem é Edgar”…
O programa exibiu também trecho do depoimento de Saud a procuradores. Ele insiste no tal acordo que consistiria no pagamento de R$ 500 mil semanais em dinheiro vivo ao presidente. Conta, então, que teria dito a Loures: “Mas então vamos fazer isso por 25 anos. Tem como fazer um contrato pra 25 anos”. O outro teria sugerido 30 anos. Saud diz ter respondido: “Pô, isso aí é uma aposentadoria pro Michel. Uma aposentadoria pra você e pra ele. Vocês não vão ter mais dificuldade”.
São procedimentos asquerosos. Note-se que o emprego da palavra “aposentadoria” não é imotivado. Imagine, como diria Didi Mocó, o que sente “o da poltrona”, que se opõe à reforma da Previdência, ao ouvir tal fala. Como, afinal, Loures foi flagrado com os R$ 500 mil, a mera acusação feita por um notório corrupto e corruptor ganha ares de verdade, e a mala vira uma prova.
É um espanto. O presidente fará 77 anos daqui a três meses. Um acordo de 25 anos expiraria quando ele estivesse com 102! Se de 30, 107. Até as pedras sabem que, se concluir o mandato, não manda mais nada, a exemplo de qualquer ex-presidente, a partir de 1º de janeiro de 2019. Como acreditar numa patuscada como essa? Mais: pensem na dificuldade para esconder R$ 500 mil a cada semana. Todos vimos o afobamento de Loures com a tal mala. Imaginem passar por isso quatro vezes por mês.
O que dizer de tais práticas? O senhor Rodrigo Janot nem entregou ainda a sua denúncia. A distinta plateia dos sofás, àquela altura, certamente estava indignada, ignorando que o tal, que fazia a acusação, era ninguém menos do que um dos beneficiados pelo indecoroso acordo de delação premiada conduzido por Janot, que traz na origem uma impressionante penca de ilegalidades.
O procurador-geral, aliás, deixou que soubessem que a tal mala de dinheiro carregada por Loures será a base da denúncia que fará contra Temer. Se não mudar de ideia, pretende acusar o presidente de ser “chefe de organização criminosa”.
Que coisa! Joesley confessou 245 crimes. Diz ter comprado quase dois mil políticos. Saud, aquele q eu escoltou Fachin a gabinetes de senadores, é seu braço direito. Os dois estão livres, leves e soltos. Ao todo, sete executivos foram premiados por delações. Consta que haverá um novo lote, de mais 20. Vêm mais mamata e impunidade por aí.
Mas Janot julga ter chegado ao chefe da organização criminosa: Michel Temer! A esquerda aplaude: “É isso mesmo!” E certa direita zurra. Os mais elegantes relincham.
E Lula, por óbvio, aplaude. Sempre soube que seu amigo Joesley não o deixaria na mão.
Os procedimentos em curso não guardam semelhança com um processo de investigação. O que se tem é uma máquina de vazamentos, pronta a produzir terror
A Procuradoria-Geral da República e a Polícia Federal seguem firmes na sua caçada a Michel Temer. Olhem que não me lembro de nada semelhante. Com este vigor, não! Também nunca se viram — nem na saga da turma de Curitiba contra os petistas — tantos procedimentos heterodoxos. E, por óbvio, quem sorri de orelha a orelha são as esquerdas, que se sentem, de algum modo, vingadas. Há outras coisas curiosas.
Setores da direita reagem com raiva, com o fígado, com moralismo desinformado — como costuma ser o moralismo. Já os esquerdistas atuam de forma absolutamente racional, certo? Para os seus desígnios, a queda de Temer é essencial. Afinal, poderão (re)encruar o discurso do “golpe”. Assim, que os “companheiros” e “camaradas” lutem bravamente para depor o presidente é coisa compreensível. Que os conservadores não perceberam a cilada… Bem, como diria aquele meu velho professor, “a pior forma de reacionarismo é mesmo a burrice”.
Na Folha desta segunda, lemos que “a Policia Federal encontrou documentos rasgados, com informações sobre a reforma da casa de uma filha do presidente Michel Temer, na operação de busca e apreensão que fez no apartamento do coronel da Polícia Militar João Baptista Lima Filho”.
Documentos? Pois é… Na linguagem da PF e do Ministério Público, um papel já é “documento”. Que vínculo o dito-cujo tem com o caso JBS? Não se sabe. A PF informa também ter encontrado papeis que sugeririam que o coronel controlava as despesas de Temer. Há uma nota de 1998 de um aparelho de telefone.
Fantástico
Ah, o “Fantástico” levou ao ar com exclusividade — claro! — trecho de uma conversa de Ricardo Saud, o homem de Joesley Batista que pagava as safadezas, com o ex-deputado Rocha Loures. Ambos falam de um certo “Edgar”. O tal aparece na 47ª pergunta das 82 enviadas pela PF ao presidente. Os investigadores querem saber se há alguém com esse nome “no universo de pessoas” com o qual Temer se relaciona. Há sugestão de ilegalidade no contexto em que aparece o nome? Não! Mas a apresentadora do “Fantástico” mandou ver: “O Brasil quer saber quem é Edgar”…
O programa exibiu também trecho do depoimento de Saud a procuradores. Ele insiste no tal acordo que consistiria no pagamento de R$ 500 mil semanais em dinheiro vivo ao presidente. Conta, então, que teria dito a Loures: “Mas então vamos fazer isso por 25 anos. Tem como fazer um contrato pra 25 anos”. O outro teria sugerido 30 anos. Saud diz ter respondido: “Pô, isso aí é uma aposentadoria pro Michel. Uma aposentadoria pra você e pra ele. Vocês não vão ter mais dificuldade”.
São procedimentos asquerosos. Note-se que o emprego da palavra “aposentadoria” não é imotivado. Imagine, como diria Didi Mocó, o que sente “o da poltrona”, que se opõe à reforma da Previdência, ao ouvir tal fala. Como, afinal, Loures foi flagrado com os R$ 500 mil, a mera acusação feita por um notório corrupto e corruptor ganha ares de verdade, e a mala vira uma prova.
É um espanto. O presidente fará 77 anos daqui a três meses. Um acordo de 25 anos expiraria quando ele estivesse com 102! Se de 30, 107. Até as pedras sabem que, se concluir o mandato, não manda mais nada, a exemplo de qualquer ex-presidente, a partir de 1º de janeiro de 2019. Como acreditar numa patuscada como essa? Mais: pensem na dificuldade para esconder R$ 500 mil a cada semana. Todos vimos o afobamento de Loures com a tal mala. Imaginem passar por isso quatro vezes por mês.
O que dizer de tais práticas? O senhor Rodrigo Janot nem entregou ainda a sua denúncia. A distinta plateia dos sofás, àquela altura, certamente estava indignada, ignorando que o tal, que fazia a acusação, era ninguém menos do que um dos beneficiados pelo indecoroso acordo de delação premiada conduzido por Janot, que traz na origem uma impressionante penca de ilegalidades.
O procurador-geral, aliás, deixou que soubessem que a tal mala de dinheiro carregada por Loures será a base da denúncia que fará contra Temer. Se não mudar de ideia, pretende acusar o presidente de ser “chefe de organização criminosa”.
Que coisa! Joesley confessou 245 crimes. Diz ter comprado quase dois mil políticos. Saud, aquele q eu escoltou Fachin a gabinetes de senadores, é seu braço direito. Os dois estão livres, leves e soltos. Ao todo, sete executivos foram premiados por delações. Consta que haverá um novo lote, de mais 20. Vêm mais mamata e impunidade por aí.
Mas Janot julga ter chegado ao chefe da organização criminosa: Michel Temer! A esquerda aplaude: “É isso mesmo!” E certa direita zurra. Os mais elegantes relincham.
E Lula, por óbvio, aplaude. Sempre soube que seu amigo Joesley não o deixaria na mão.
Bruxaria: atuação de presidente do STF expõe parceria com os que querem derrubar Temer - REINALDO AZEVEDO
BLOG DO REINALDO AZEVEDO
Diretor-geral da PF disse a Gilmar Mendes que procuradores deram instruções para achar coisas que incriminassem o ministro. Sabem o que fez a presidente do Supremo, agora tão valentona? Nada!
Leiam título e subtítulo de uma reportagem de VEJA. Volto em seguida.
Voltei
Quem viu a reação de “Prima Carminha” à história de que a Abin estaria investigando as ações de Edson Fachin pode ficar com a impressão errada de que a meritíssima reage como uma loba sempre que, dse algum modo, a credibilidade do Supremo é abalada ou sempre que um de seus membros se torna alvo de operações obscuras.
Bem, sabemos que isso é absolutamente falso. E o sabemos de forma reiterada. No dia 1º de junho, por exemplo, o Supremo examinava uma, como posso chamar?, “tramoia jurídica” proposta pelo ministro Roberto Barroso, que reduz o alcance do foro especial por prerrogativa de função. “Tramoia, Reinaldo?” Sim, senhores! No sentido em que está no Houaiss: “maquinação secreta com o objetivo de iludir alguém ou prejudicar algo ou alguém; ardil, artifício, trampolinice”. E por que é uma trampolinice? Porque esse é um assunto do Congresso. A este cabe legislar, não ao STF. Se Barroso gosta da coisa, que se candidate a deputado ou senador. Sem contar que o fim do foro especial é, entre todas as charlatanices, a que mais seduz os desinformados e tolos. Mas me estendi demais na digressão. Volto ao ponto.
Votava-se, então, tal questão naquele dia 1º, e o senhor Barroso desceu a língua no Supremo. Dispensou-lhe o tratamento de Casa onde se fabricam impunidades. Na prática, teceu loas à Justiça de primeira instância, como se esta fosse a morada da virtude, e deu uma sova no tribunal que o tem como membro. Asqueroso! E o que fez Cármen Lúcia? Ficou calada, ouvindo passivamente os insultos.
Coube ao ainda recém-chegado Alexandre de Moraes fazer a defesa da instituição. O ministro também pediu vista. E, então, seguiu-se o inacreditável: Marco Aurélio Mello e Rosa Weber anteciparam seus respectivos votos, alinhando-se com Barroso. Como nada os impedeiria de votar a seu tempo, a postura corresponde a uma provocação barata. E o pior ainda estava por acontecer: Cármen Lúcia fez o mesmo. Isso indica que a presidente do STF não só distribui desigualmente seu zelo como pode, ela mesma, atuar de forma a ofender seus pares.
Mais grave
Mas há coisa bem mais grave do que isso.
A mesma “Veja” que traz a matéria que levou Cármen Lúcia a um chilique em forma de nota oficial havia publicado uma reportagem, COM AS FONTES DEVIDAMENTE IDENTIFICADAS, dando conta de que, durante a Operação Patmos, realizada no dia 18 de maio, agentes da Polícia Federal foram instruídos por procuradores da república a encontrar procurar, num dos endereços do senador Aécio Neves, “elementos que pudessem incriminar Gilmar Mendes”
Quem revelou a ação criminosa foi o próprio Gilmar Mendes. Nada de fofoquinha de bastidores! E o ministro disse quem lhe contara tal despropósito: ninguém menos do que Leandro Daiello, o diretor-geral da PF. Mendes fez o óbvio e cobrou explicações de Fachin, que negou de pés juntos que o colega de tribunal fosse um dos alvos.
É mesmo?
Não se esqueçam: conversas de Mendes com Aécio foram pinçadas e vazadas ao mesmo tempo em que um diálogo meu com Andrea Neves, minha fonte, foi posto para circular. Parece que a Força Tarefa, com tentáculos no Supremo, não consegue conviver com a crítica, com a divergência, com a independência.
Mendes cobrou, em conversa pessoal, uma atitude de Cármen Lúcia. E o fez também publicamente: “Se eu fosse presidente do STF, teria que tomar algum tipo de providência. Chamar o procurador-geral, por exemplo, e pedir explicações. Isso é coisa de gângsteres, de quem pensa que é possível instalar um estado policial no Brasil”.
Sabem o que fez a ministra? Preferiu não se pronunciar. Ao pé deste post, segue a matéria de VEJA.
Então…
Então ficamos assim: embora a reportagem de VEJA que trata do caso Gilmar não traga afirmações em off, apenas em on, a ministra preferiu posar de múmia egípcia. Quando, no entanto, um “off” assegura que a Abin estaria investigando Fachin, ah, aí a magistrada se toma de pruridos institucionais. Ela considera que se está diante de uma grave ameaça à democracia quando um boato assevera que um órgão de informação está no rastro de um ministro, mas não quando pessoas com nome, sobrenome e responsabilidade pública informam que os homens de Janot deram autorização expressa para incriminar um outro?
Penso, então, na nota que Cármen Lúcia tornou pública, que traz este trecho:
“Própria de ditaduras, como é esta prática, contrária à vida livre de toda pessoa, mais gravosa é ela se voltada contra a responsável atuação de um juiz, sendo absolutamente inaceitável numa República Democrática, pelo que tem de ser civicamente repelida, penalmente apurada e os responsáveis exemplarmente processados e condenados na forma da legislação vigente.”
Não chega a ser um bom exemplo de exercício da “Inculta & Bela”. Mas deixo isso de lado agora. Pergunto:
a: procuradores ordenarem que se encontrem provas que incriminem um ministro do Supremo é ou não coisa “própria de ditaduras”?;
b: o MPF usar uma prova ilícita contra o presidente da República, em parceria com um ministro do Supremo, é ou não coisa “própria de ditaduras”?
E, nesse caso, como se sabe, com a conivência de Cármen Lúcia, que sempre esteve informada sobre os passos dados por Fachin. Isso me leva a indagar se a ministra, ao reagir de forma tão destrambelhada, está apenas tentando proteger Fachin ou também está se protegendo?
Como se sabe e como anunciei precocemente neste blog, a conspiração, para ser plenamente bem-sucedida, segundo os desígnios daqueles que a planejaram, haveria de instalar Cármen Lúcia na cadeira de Michel Temer.
Isso, ao menos, com certeza, não vai acontecer.
Segue o texto da reportagem de VEJA que trata da agressão a Gilmar Mendes.
Diretor-geral da PF disse a Gilmar Mendes que procuradores deram instruções para achar coisas que incriminassem o ministro. Sabem o que fez a presidente do Supremo, agora tão valentona? Nada!
Leiam título e subtítulo de uma reportagem de VEJA. Volto em seguida.
Voltei
Quem viu a reação de “Prima Carminha” à história de que a Abin estaria investigando as ações de Edson Fachin pode ficar com a impressão errada de que a meritíssima reage como uma loba sempre que, dse algum modo, a credibilidade do Supremo é abalada ou sempre que um de seus membros se torna alvo de operações obscuras.
Bem, sabemos que isso é absolutamente falso. E o sabemos de forma reiterada. No dia 1º de junho, por exemplo, o Supremo examinava uma, como posso chamar?, “tramoia jurídica” proposta pelo ministro Roberto Barroso, que reduz o alcance do foro especial por prerrogativa de função. “Tramoia, Reinaldo?” Sim, senhores! No sentido em que está no Houaiss: “maquinação secreta com o objetivo de iludir alguém ou prejudicar algo ou alguém; ardil, artifício, trampolinice”. E por que é uma trampolinice? Porque esse é um assunto do Congresso. A este cabe legislar, não ao STF. Se Barroso gosta da coisa, que se candidate a deputado ou senador. Sem contar que o fim do foro especial é, entre todas as charlatanices, a que mais seduz os desinformados e tolos. Mas me estendi demais na digressão. Volto ao ponto.
Votava-se, então, tal questão naquele dia 1º, e o senhor Barroso desceu a língua no Supremo. Dispensou-lhe o tratamento de Casa onde se fabricam impunidades. Na prática, teceu loas à Justiça de primeira instância, como se esta fosse a morada da virtude, e deu uma sova no tribunal que o tem como membro. Asqueroso! E o que fez Cármen Lúcia? Ficou calada, ouvindo passivamente os insultos.
Coube ao ainda recém-chegado Alexandre de Moraes fazer a defesa da instituição. O ministro também pediu vista. E, então, seguiu-se o inacreditável: Marco Aurélio Mello e Rosa Weber anteciparam seus respectivos votos, alinhando-se com Barroso. Como nada os impedeiria de votar a seu tempo, a postura corresponde a uma provocação barata. E o pior ainda estava por acontecer: Cármen Lúcia fez o mesmo. Isso indica que a presidente do STF não só distribui desigualmente seu zelo como pode, ela mesma, atuar de forma a ofender seus pares.
Mais grave
Mas há coisa bem mais grave do que isso.
A mesma “Veja” que traz a matéria que levou Cármen Lúcia a um chilique em forma de nota oficial havia publicado uma reportagem, COM AS FONTES DEVIDAMENTE IDENTIFICADAS, dando conta de que, durante a Operação Patmos, realizada no dia 18 de maio, agentes da Polícia Federal foram instruídos por procuradores da república a encontrar procurar, num dos endereços do senador Aécio Neves, “elementos que pudessem incriminar Gilmar Mendes”
Quem revelou a ação criminosa foi o próprio Gilmar Mendes. Nada de fofoquinha de bastidores! E o ministro disse quem lhe contara tal despropósito: ninguém menos do que Leandro Daiello, o diretor-geral da PF. Mendes fez o óbvio e cobrou explicações de Fachin, que negou de pés juntos que o colega de tribunal fosse um dos alvos.
É mesmo?
Não se esqueçam: conversas de Mendes com Aécio foram pinçadas e vazadas ao mesmo tempo em que um diálogo meu com Andrea Neves, minha fonte, foi posto para circular. Parece que a Força Tarefa, com tentáculos no Supremo, não consegue conviver com a crítica, com a divergência, com a independência.
Mendes cobrou, em conversa pessoal, uma atitude de Cármen Lúcia. E o fez também publicamente: “Se eu fosse presidente do STF, teria que tomar algum tipo de providência. Chamar o procurador-geral, por exemplo, e pedir explicações. Isso é coisa de gângsteres, de quem pensa que é possível instalar um estado policial no Brasil”.
Sabem o que fez a ministra? Preferiu não se pronunciar. Ao pé deste post, segue a matéria de VEJA.
Então…
Então ficamos assim: embora a reportagem de VEJA que trata do caso Gilmar não traga afirmações em off, apenas em on, a ministra preferiu posar de múmia egípcia. Quando, no entanto, um “off” assegura que a Abin estaria investigando Fachin, ah, aí a magistrada se toma de pruridos institucionais. Ela considera que se está diante de uma grave ameaça à democracia quando um boato assevera que um órgão de informação está no rastro de um ministro, mas não quando pessoas com nome, sobrenome e responsabilidade pública informam que os homens de Janot deram autorização expressa para incriminar um outro?
Penso, então, na nota que Cármen Lúcia tornou pública, que traz este trecho:
“Própria de ditaduras, como é esta prática, contrária à vida livre de toda pessoa, mais gravosa é ela se voltada contra a responsável atuação de um juiz, sendo absolutamente inaceitável numa República Democrática, pelo que tem de ser civicamente repelida, penalmente apurada e os responsáveis exemplarmente processados e condenados na forma da legislação vigente.”
Não chega a ser um bom exemplo de exercício da “Inculta & Bela”. Mas deixo isso de lado agora. Pergunto:
a: procuradores ordenarem que se encontrem provas que incriminem um ministro do Supremo é ou não coisa “própria de ditaduras”?;
b: o MPF usar uma prova ilícita contra o presidente da República, em parceria com um ministro do Supremo, é ou não coisa “própria de ditaduras”?
E, nesse caso, como se sabe, com a conivência de Cármen Lúcia, que sempre esteve informada sobre os passos dados por Fachin. Isso me leva a indagar se a ministra, ao reagir de forma tão destrambelhada, está apenas tentando proteger Fachin ou também está se protegendo?
Como se sabe e como anunciei precocemente neste blog, a conspiração, para ser plenamente bem-sucedida, segundo os desígnios daqueles que a planejaram, haveria de instalar Cármen Lúcia na cadeira de Michel Temer.
Isso, ao menos, com certeza, não vai acontecer.
Segue o texto da reportagem de VEJA que trata da agressão a Gilmar Mendes.
“Operação Janot-Cármen” quer intimidar Congresso e impedir que Fachin se explique sobre JBS - REINALDO AZEVEDO
BLOG DO REINALDO AZEVEDO
Ministro tem de dizer por que se fez acompanhar a gabinetes senatoriais por Ricardo Saud, braço direito e Joesley e também beneficiado por acordo de delação espúrio
Duvido que a Abin esteja investigando a atuação de Edson Fachin. Se estivesse, seria improvável que um auxiliar presidencial tivesse ciência de tal fato. Ainda que as duas coisas fossem verdadeiras, por que alguém da mais estrita confiança do presidente (que teria dado a ordem) haveria de contar a coisa a um repórter? Para queimar o governo e o presidente? Ou por outra: o auxiliar da mais estrita confiança de Temer seria, pois, da estritíssima confiança do jornalista? A história não fecha. Se alguém me disser, no entanto, que há uma operação para blindar Edson Fachin, aí, sim a coisa me parecerá bem plausível.
Com ou sem Abin, o ministro tem explicações a dar. Então se arma uma cilada para tentar enredar o presidente, tendo como protagonistas um bandido confesso, o procurador-geral da República e um ministro do Supremo, e tudo deve parecer normal? Mas basta que se cobre desse ministro que explique suas estranhas relações com um grupo privado, e Prima Carminha faz desabar o céu? Ora, minha senhora…
Por que “Prima Carminha”? Porque todo mundo sabe que ela se tornou candidata a ministra, no governo Lula, por ser prima daquele a quem substituiria: o petista Sepúlveda Pertence. #prontofalei.
E que se note: Fachin estaria obrigado a explicar por que foi escoltado a gabinetes de senadores por um empresário-lobista ainda que este fosse um qualquer. Ocorre que não é. Ricardo Saud é um dos beneficiários do espúrio acordo de delação premiada celebrado por Rodrigo Janot e homologado por Edson Fachin. Seria um despropósito o ministro participar dessa patuscada ainda que inexistissem as tais relações especiais.
Mas elas existem. Houve a tal escolta a gabinetes senatoriais. Mais: Fachin participou, em companhia de Renan Calheiros (PMDB-AL), de um jantar na casa de Joesley Batista, em Brasília, que varou a madrugada. E agora uma correção: já informei isso aqui e afirmei, então, que tal encontro havia se dado quando Fachin ainda era candidato. Errado! É mais grave: ele já era ministro.
O lado de um juiz no processo é a ordem legal. Está lá, com os poderes de que o investem o Estado, para preservar os direitos da coletividade e também do indivíduo. Ele não pode fazer parte da investigação. Também não é lícito que integre grupos de pressão em favor dessa ou daquela empresas, dessa ou daquela ideologias, dessa ou daquela visões de mundo. Quando um juiz de mancomuna com o investigador, o que se tem é uma centelha do Estado policial. Um dos papeis do magistrado é, sim, impedir a impunidade. Um outro é atuar para conter o apetite autoritário do Estado investigador — no caso em questão, o Ministério Público.
Fachin, nesse particular, fez tudo errado. Ele se tornou parceiro da investigação. O homem atuou como protagonista numa Blitzkrieg que tentou fulminar o chefe do Executivo numa única tacada. Este senhor acatou como normal um procedimento que viola uma prerrogativa constitucional não apenas de Temer, mas de qualquer indivíduo: admissão no processo de uma prova ilícita. Refiro-me ao Inciso LVI do Artigo 5º da Constituição: “LVI – são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos”. Trata-se cláusula pétrea. Janot e Fachin, com as bênçãos de Cármen Lúcia, a jogaram no lixo.
Essa era, aliás, uma das tais dez medidas contra a corrupção propostas pelo MPF, lembram-se? Quatro delas constituem brocados de um Estado fascista, a saber: a) a quase extinção do habeas corpus; b) o teste de honestidade; c) a ampliação absurda das possibilidades de prisão preventiva e, claro!, d) a admissão em juízo de provas ilícitas, desde que, podem gargalhar!, “colhidas de boa-fé”. Como se sabe, a boa-fé da corda é o pescoço, a da raposa é a galinha, e a do lobo é o cordeiro.
IntimidaçãoO que se tem, com clareza, é uma operação de mídia, de que são estrelas Cármen Lúcia e Janot, para intimidar o Congresso e preservar Fachin de si mesmo. Deputados protocolaram na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara um pedido para que o Fachin explique suas relações especiais com Ricardo Saud. Nada foi feito à socapa. Cobranças dessa natureza estão entre as atribuições de um parlamentar.
Mas eis que, nos bastidores, Janot e seus homens chegaram a ameaçar os parlamentares com a acusação de “obstrução da investigação”, a mesma que ridiculamente ele fez contra o senador Aécio Neves (PSDB-MG) porque este debateu com seus pares o projeto que muda a lei que pune abuso de autoridade e que resposta política daria o Congresso à questão do caixa dois de campanha que não fosse caracterizado como corrupção passiva. Ou por outra: o senhor procurador-geral quer transformar em atos criminosos as atribuições de um parlamentar.
Eu diria que Janot é hoje um caso escandaloso, acintoso e escancarado de abuso de autoridade.
Não existem conspiradores atuando contra Fachin. A única conspiração em curso é mesmo a tentativa de derrubar Michel Temer a qualquer custo.
Se o Congresso enfiar o rabo entre as pernas, pode fechar as portas e entregar as chaves a Janot, Fachin e Cármen Lúcia. Teremos o triunvirato dos ditadores virtuosos.
FACES DO GOLPE: A reação patética de Cármen à suposta investigação de Fachin pela Abin - REINALDO AZEVEDO
BLOG DO REINALDO AZEVEDO
Texto da “Veja” relata que a Agência Brasileira de Informação estaria investigando o ministro; a fonte não tem rosto. Presidente do STF tenta blindar ministro, que está obrigado a explicar suas relações com a JBS
Por: Reinaldo Azevedo
Publicada: 10/06/2017 - 20:35
Cármen Lúcia: usado pesos e medidas diferentes na defesa de ministros da Casa.
Quando convenceram a ministra Cármen Lúcia a perder a modéstia, ela perdeu junto o juízo. Notem: juíza sem juízo…Eis aí um descasamento explosivo.
A VEJA publica na mais recente edição a informação de que a Abin (Agência Brasileira de Informação) estaria investigando os vínculos entre o ministro Edson Fachin e a JBS. Segundo a reportagem, um ministro de Michel Temer teria passado a informação. Sem se revelar. Em off, é claro!
Por que um aliado do presidente passaria uma informação como essa a um jornalista, ainda que verdadeira fosse? Bem, vai ver se trata de um inimigo oculto, não é?, infiltrado no governo.
Muito bem! O que fez a gloriosa presidente do Supremo, aquela que coonestou — desculpe a expressão, Nobre Senhora — a conspirata contra o presidente, que uniu Joesley Batista, Rodrigo Janot e o próprio Edson Fachin. Ah, ela soltou uma nota furibunda, ameaçadora, tonitruante. Já chego à nota de “Prima Carminha”. Antes, algumas considerações.
FACHIN E O HOMEM DA MALA – o então candidato ao Supremo Edson Fachin visitou o gabinete de senadores, em busca de votos, em companhia de Ricardo Saud, o segundo de Joesley. Saud era, ele o confessou, o homem da mala. Era quem operava as safadezas em nome do patrão. A JBS comprava e vendia vaca, galinha e porco. A Saud competia comprar e vender homens. Por que o sujeito que se orgulhada de ser dono “da maior bancada do Congresso” andou pra cima e pra baixo com Fachin? Aliás, um dado curioso: o então candidato era o preferido da JBS e também de João Pedro Stedile, chefão do MST, que é, até hoje, um de seus orientadores espirituais.
FACHIN E O JANTAR – informei neste blog que Fachin participou de um jantar na casa de Joesley, em companhia de Renan Calheiros, que começou às 21h e terminou às 6h da manhã seguinte. Quando isso acontece em Dois Córregos, a minha terra, a gente diz que a pessoa “pousou” em determinado lugar. Isto: Fachin pousou na casa de Joesley. Só cometi um erro: disse que o episódio se deu quando era candidato. Não! Ele já era ministro — e, portanto, relator do petrolão.
Aí este senhor homologa as delações de Joesley, Saud e toda a tropa, livrando-os de qualquer processo judicial? E isso se deu justamente depois de atropelar a lei e aceitar em juízo uma gravação clandestina contra o presidente, o que fere, de pronto, o Inciso LVI do Artigo 5º da Constituição — uma cláusula pétrea. E essa é apenas uma das ilegalidades da operação, que resultou na crise que vivemos e na impunidade de Joesley.
Temer ligou para Carmen Lúcia negando a investigação. O mesmo fez o general Sérgio Etchegoyen, chefe do Gabinete da Segurança Institucional, ao qual está subordinada a Abin. Não adiantou para aplacar a fúria de Prima Carminha. Ela soltou a seguinte nota. Leiam. Volto depois:
NOTA OFICIAL
“É inadmissível a prática de gravíssimo crime contra o Supremo Tribunal Federal, contra a Democracia e contra as liberdades, se confirmada informação de devassa ilegal da vida de um de seus integrantes.
Própria de ditaduras, como é esta prática, contrária à vida livre de toda pessoa, mais gravosa é ela se voltada contra a responsável atuação de um juiz, sendo absolutamente inaceitável numa República Democrática, pelo que tem de ser civicamente repelida, penalmente apurada e os responsáveis exemplarmente processados e condenados na forma da legislação vigente.
O Supremo Tribunal Federal repudia, com veemência, espreita espúria, inconstitucional e imoral contra qualquer cidadão e, mais ainda, contra um de seus integrantes, mais ainda se voltada para constranger a Justiça.
Se comprovada a sua ocorrência, em qualquer tempo, as consequências jurídicas, políticas e institucionais terão a intensidade do gravame cometido, como determinado pelo direito.
A Constituição do Brasil será cumprida e prevalecerá para que todos os direitos e liberdades sejam assegurados, o cidadão respeitado e a Justiça efetivada.
O Supremo Tribunal Federal tem o inasfastável compromisso de guardar a Constituição Democrática do Brasil e honra esse dever, que será por ele garantido, como de sua responsabilidade e compromisso, porque é sua atribuição, o Brasil precisa e o cidadão merece.
E, principalmente, porque não há outra forma de se preservar e assegurar a Democracia.
Brasília, 10 de junho de 2017.
Ministra CÁRMEN LÚCIA
Presidente do Supremo Tribunal Federal
Comento
Como se nota, a presidente do Supremo repudia uma coisa que, “se comprovada”… É patético. Bem, eu, que tive uma conversa vazada com uma fonte — o que mostrou que tenho conversas respeitosas —, pinçada entre mais de 2 mil gravações, em razão de uma ordem dada por Fachin, sei bem o que quer dizer “O Supremo Tribunal Federal repudia, com veemência, espreita espúria, inconstitucional e imoral contra qualquer cidadão (…)”
Ah, sabem quem também se manifestou? Ele! Rodrigo Janot, o homem que negociou com Joesley Folgadão. Escreveu o seguinte:
É com perplexidade que se toma conhecimento de suposta utilização do aparato estatal para desmerecer um membro da mais alta corte do país, que tem pautado sua atuação com isenção e responsabilidade.
A se confirmar tal atentado aos Poderes da República e ao Estado Democrático de Direito, ter-se-ia mais um infeliz episódio da grave crise de representatividade pela qual passa o país. Em vez de fortalecer a democracia com iniciativas condizentes com os anseios dos brasileiros, adotam-se práticas de um Estado de exceção.
Há uma colossal diferença entre investigar dentro dos procedimentos legais, os quais preveem garantias aos acusados, e usar o aparato do Estado para intimidar a atuação das autoridades com o simples fito de denegrir sua imagem e das instituições a qual pertencem.
O desvirtuamento do órgão de inteligência fragiliza os direitos e as garantias de todos os cidadãos brasileiros, previstos na nossa Constituição da República e converte o Estado de Direito, aí sim, em Estado Policial.
O Ministério Público Brasileiro repudia com veemência essa prática e mantém seu irrestrito compromisso com o regime democrático e com o cumprimento da Constituição e das leis.
Retomo
O homem que usou uma gravação clandestina para obter de um ministro do STF autorização para novos procedimentos ilegais vem a público defender a investigação “dentro dos procedimentos legais”? Não é o mesmo senhor que escreveu um artigo no UOL defendendo métodos não-convencionais de investigação?
O Planalto também divulgou uma nota oficial, a saber:
O presidente Michel Temer jamais “acionou” a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para investigar a vida do Ministro do Supremo Tribunal Federal Edson Fachin, como publicado hoje pelo site da revista Veja. O governo não usa a máquina pública contra os cidadãos brasileiros, muito menos fará qualquer tipo de ação que não respeite aos estritos ditames da lei.
A Abin é órgão que cumpre suas funções seguindo os princípios do Estado de Direito, sem instrumentalização e nos limites da lei que regem seus serviços.
Reitera-se que não há, nem houve, em momento algum a intenção do governo de combater a operação Lava Jato.
Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República.
Encerro, mas volto
Xiii, há muita coisa a ser dita. E vou dizê-la nos próximos posts:
a: o que se tenta é impedir qualquer questionamento que diga respeito à estranha relação Fachin-grupo J&F;
b: outros ministros foram atacados, e Carmen Lúcia se calou;
c: falta demonstrar como Carmen Lúcia seria o caminho para reconduzir Janot à Procuradoria-Geral da República;
d: ninguém menos do que o chefe da Polícia Federal disse a Gilmar Mendes que, num mandado de busca e apreensão, havia orientação dos procuradores para que os agentes da PF achassem “coisas contra o Gilmar”;
e: e nada de Prima Carminha.
Nesse embate, infelizmente, parece que a presidente do Supremo tem lado. E atua como protagonista.
Seu papel institucional, hoje, seria defender o TSE. Mas ela não faz isso. Seu “público” quer outra coisa.
Por: Reinaldo Azevedo
Publicada: 10/06/2017 - 20:35
Cármen Lúcia: usado pesos e medidas diferentes na defesa de ministros da Casa.
Quando convenceram a ministra Cármen Lúcia a perder a modéstia, ela perdeu junto o juízo. Notem: juíza sem juízo…Eis aí um descasamento explosivo.
A VEJA publica na mais recente edição a informação de que a Abin (Agência Brasileira de Informação) estaria investigando os vínculos entre o ministro Edson Fachin e a JBS. Segundo a reportagem, um ministro de Michel Temer teria passado a informação. Sem se revelar. Em off, é claro!
Por que um aliado do presidente passaria uma informação como essa a um jornalista, ainda que verdadeira fosse? Bem, vai ver se trata de um inimigo oculto, não é?, infiltrado no governo.
Muito bem! O que fez a gloriosa presidente do Supremo, aquela que coonestou — desculpe a expressão, Nobre Senhora — a conspirata contra o presidente, que uniu Joesley Batista, Rodrigo Janot e o próprio Edson Fachin. Ah, ela soltou uma nota furibunda, ameaçadora, tonitruante. Já chego à nota de “Prima Carminha”. Antes, algumas considerações.
FACHIN E O HOMEM DA MALA – o então candidato ao Supremo Edson Fachin visitou o gabinete de senadores, em busca de votos, em companhia de Ricardo Saud, o segundo de Joesley. Saud era, ele o confessou, o homem da mala. Era quem operava as safadezas em nome do patrão. A JBS comprava e vendia vaca, galinha e porco. A Saud competia comprar e vender homens. Por que o sujeito que se orgulhada de ser dono “da maior bancada do Congresso” andou pra cima e pra baixo com Fachin? Aliás, um dado curioso: o então candidato era o preferido da JBS e também de João Pedro Stedile, chefão do MST, que é, até hoje, um de seus orientadores espirituais.
FACHIN E O JANTAR – informei neste blog que Fachin participou de um jantar na casa de Joesley, em companhia de Renan Calheiros, que começou às 21h e terminou às 6h da manhã seguinte. Quando isso acontece em Dois Córregos, a minha terra, a gente diz que a pessoa “pousou” em determinado lugar. Isto: Fachin pousou na casa de Joesley. Só cometi um erro: disse que o episódio se deu quando era candidato. Não! Ele já era ministro — e, portanto, relator do petrolão.
Aí este senhor homologa as delações de Joesley, Saud e toda a tropa, livrando-os de qualquer processo judicial? E isso se deu justamente depois de atropelar a lei e aceitar em juízo uma gravação clandestina contra o presidente, o que fere, de pronto, o Inciso LVI do Artigo 5º da Constituição — uma cláusula pétrea. E essa é apenas uma das ilegalidades da operação, que resultou na crise que vivemos e na impunidade de Joesley.
Temer ligou para Carmen Lúcia negando a investigação. O mesmo fez o general Sérgio Etchegoyen, chefe do Gabinete da Segurança Institucional, ao qual está subordinada a Abin. Não adiantou para aplacar a fúria de Prima Carminha. Ela soltou a seguinte nota. Leiam. Volto depois:
NOTA OFICIAL
“É inadmissível a prática de gravíssimo crime contra o Supremo Tribunal Federal, contra a Democracia e contra as liberdades, se confirmada informação de devassa ilegal da vida de um de seus integrantes.
Própria de ditaduras, como é esta prática, contrária à vida livre de toda pessoa, mais gravosa é ela se voltada contra a responsável atuação de um juiz, sendo absolutamente inaceitável numa República Democrática, pelo que tem de ser civicamente repelida, penalmente apurada e os responsáveis exemplarmente processados e condenados na forma da legislação vigente.
O Supremo Tribunal Federal repudia, com veemência, espreita espúria, inconstitucional e imoral contra qualquer cidadão e, mais ainda, contra um de seus integrantes, mais ainda se voltada para constranger a Justiça.
Se comprovada a sua ocorrência, em qualquer tempo, as consequências jurídicas, políticas e institucionais terão a intensidade do gravame cometido, como determinado pelo direito.
A Constituição do Brasil será cumprida e prevalecerá para que todos os direitos e liberdades sejam assegurados, o cidadão respeitado e a Justiça efetivada.
O Supremo Tribunal Federal tem o inasfastável compromisso de guardar a Constituição Democrática do Brasil e honra esse dever, que será por ele garantido, como de sua responsabilidade e compromisso, porque é sua atribuição, o Brasil precisa e o cidadão merece.
E, principalmente, porque não há outra forma de se preservar e assegurar a Democracia.
Brasília, 10 de junho de 2017.
Ministra CÁRMEN LÚCIA
Presidente do Supremo Tribunal Federal
Comento
Como se nota, a presidente do Supremo repudia uma coisa que, “se comprovada”… É patético. Bem, eu, que tive uma conversa vazada com uma fonte — o que mostrou que tenho conversas respeitosas —, pinçada entre mais de 2 mil gravações, em razão de uma ordem dada por Fachin, sei bem o que quer dizer “O Supremo Tribunal Federal repudia, com veemência, espreita espúria, inconstitucional e imoral contra qualquer cidadão (…)”
Ah, sabem quem também se manifestou? Ele! Rodrigo Janot, o homem que negociou com Joesley Folgadão. Escreveu o seguinte:
É com perplexidade que se toma conhecimento de suposta utilização do aparato estatal para desmerecer um membro da mais alta corte do país, que tem pautado sua atuação com isenção e responsabilidade.
A se confirmar tal atentado aos Poderes da República e ao Estado Democrático de Direito, ter-se-ia mais um infeliz episódio da grave crise de representatividade pela qual passa o país. Em vez de fortalecer a democracia com iniciativas condizentes com os anseios dos brasileiros, adotam-se práticas de um Estado de exceção.
Há uma colossal diferença entre investigar dentro dos procedimentos legais, os quais preveem garantias aos acusados, e usar o aparato do Estado para intimidar a atuação das autoridades com o simples fito de denegrir sua imagem e das instituições a qual pertencem.
O desvirtuamento do órgão de inteligência fragiliza os direitos e as garantias de todos os cidadãos brasileiros, previstos na nossa Constituição da República e converte o Estado de Direito, aí sim, em Estado Policial.
O Ministério Público Brasileiro repudia com veemência essa prática e mantém seu irrestrito compromisso com o regime democrático e com o cumprimento da Constituição e das leis.
Retomo
O homem que usou uma gravação clandestina para obter de um ministro do STF autorização para novos procedimentos ilegais vem a público defender a investigação “dentro dos procedimentos legais”? Não é o mesmo senhor que escreveu um artigo no UOL defendendo métodos não-convencionais de investigação?
O Planalto também divulgou uma nota oficial, a saber:
O presidente Michel Temer jamais “acionou” a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para investigar a vida do Ministro do Supremo Tribunal Federal Edson Fachin, como publicado hoje pelo site da revista Veja. O governo não usa a máquina pública contra os cidadãos brasileiros, muito menos fará qualquer tipo de ação que não respeite aos estritos ditames da lei.
A Abin é órgão que cumpre suas funções seguindo os princípios do Estado de Direito, sem instrumentalização e nos limites da lei que regem seus serviços.
Reitera-se que não há, nem houve, em momento algum a intenção do governo de combater a operação Lava Jato.
Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República.
Encerro, mas volto
Xiii, há muita coisa a ser dita. E vou dizê-la nos próximos posts:
a: o que se tenta é impedir qualquer questionamento que diga respeito à estranha relação Fachin-grupo J&F;
b: outros ministros foram atacados, e Carmen Lúcia se calou;
c: falta demonstrar como Carmen Lúcia seria o caminho para reconduzir Janot à Procuradoria-Geral da República;
d: ninguém menos do que o chefe da Polícia Federal disse a Gilmar Mendes que, num mandado de busca e apreensão, havia orientação dos procuradores para que os agentes da PF achassem “coisas contra o Gilmar”;
e: e nada de Prima Carminha.
Nesse embate, infelizmente, parece que a presidente do Supremo tem lado. E atua como protagonista.
Seu papel institucional, hoje, seria defender o TSE. Mas ela não faz isso. Seu “público” quer outra coisa.
sábado, junho 10, 2017
Para que juízes? - EDITORIAL O ESTADÃO
ESTADÃO - 10/06
Para o procurador Carlos Fernando, não há necessidade de juiz ou tribunal para condenar os que eles já consideram culpados
Causou considerável alarido a decisão da maioria dos ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de rejeitar, em seus votos sobre o processo contra a chapa Dilma-Temer, o conteúdo de delações de executivos da Odebrecht. De acordo com os muitos críticos desse posicionamento, os magistrados colaboraram para a “desmoralização” – essa foi a palavra mais usada – da Justiça Eleitoral, pois teriam ignorado evidências de que a campanha de Dilma Rousseff e de Michel Temer, acusada de abuso de poder político e econômico, recebeu dinheiro originado da roubalheira na Petrobrás. A virulenta reação foi coroada pelo procurador da República Carlos Fernando dos Santos Lima, integrante da força-tarefa da Lava Jato, que em seu perfil no Facebook chamou o voto daqueles ministros de “o verdadeiro cúmulo do cinismo”.
Como dissemos na sexta, neste espaço, o julgamento da chapa Dilma-Temer deveria servir como uma aula de direito e de civismo, mas acabou revelando a confusão em que a Justiça se encontra diante do clamor público contra a corrupção, alimentado pelo messianismo dos que se julgam em guerra contra a classe política. Cobrou-se dos ministros do TSE a condenação da chapa como se disso dependesse a confirmação da lisura do tribunal, pois, segundo essa opinião, não havia outra coisa a fazer diante dos graves indícios que o relator do processo, ministro Herman Benjamin, trouxe em seu relatório. Logo, cada voto contrário à condenação foi tratado como se tivesse sido movido por interesses estranhos aos do bom direito.
Para o procurador Carlos Fernando, por exemplo, esses ministros do TSE sofrem de “cegueira intencional”, isto é, escolheram não ver a “corrupção exposta pelo acordo do Ministério Público Federal com a Odebrecht”, ou seja, as informações fornecidas pelos executivos da empreiteira em delação premiada. “Deve-se parar de fingir que nada aconteceu”, escreveu o procurador, para em seguida sugerir que os ministros talvez estejam interessados em não prejudicar o presidente Michel Temer, no momento em que a economia do País começa a se recuperar, ou, pior, talvez queiram “a manutenção desse ou daquele partido no poder à custa da verdade.”
São gravíssimas acusações. O procurador Carlos Fernando, como de resto todos os outros críticos desses ministros do TSE, entende que o caso em julgamento na Justiça Eleitoral é parte do mesmo processo relativo à Lava Jato e ao petrolão, razão pela qual tudo o que já foi exposto até aqui nesse escândalo deveria nortear a decisão do tribunal.
Ora, em primeiro lugar, o TSE existe apenas para analisar questões eleitorais. Sua função é zelar pela lisura das votações e de seus resultados. Qualquer acusação fora desse escopo, por mais grave que seja, foge da competência do tribunal. Isso não significa impunidade, e sim respeito ao Estado de Direito. Em segundo lugar, as delações dos executivos da Odebrecht, ainda que acrescidas de planilhas e números de contas correntes, não podem ser vistas como provas incontestáveis. Por mais convincentes que possam ser, são apenas indícios, os quais devem passar ainda por um processo de verificação e submetidos ao contraditório. Há uma série de garantias constitucionais que precisam ser respeitadas antes que um juiz aceite como “fato público e notório” – conforme palavras do ministro relator Herman Benjamin – o que não passa de suspeita.
Por fim, mas não menos importante, toda essa balbúrdia ocorre porque a luta contra a corrupção dos políticos se tornou um imperativo, a partir do qual nenhum político pode ser considerado inocente até que prove o contrário. A julgar pela opinião desairosa do procurador Carlos Fernando e de muitos outros a respeito do comportamento do TSE no caso da chapa Dilma-Temer, não há mais necessidade de juiz ou de tribunal para condenar aqueles que os fundamentalistas já consideram culpados. Se, conforme escreveu o procurador, “a corrupção é multipartidária e institucionalizada” e “é a maneira pela qual se faz política no Brasil desde sempre”, por que perder tempo com julgamentos?
Para o procurador Carlos Fernando, não há necessidade de juiz ou tribunal para condenar os que eles já consideram culpados
Causou considerável alarido a decisão da maioria dos ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de rejeitar, em seus votos sobre o processo contra a chapa Dilma-Temer, o conteúdo de delações de executivos da Odebrecht. De acordo com os muitos críticos desse posicionamento, os magistrados colaboraram para a “desmoralização” – essa foi a palavra mais usada – da Justiça Eleitoral, pois teriam ignorado evidências de que a campanha de Dilma Rousseff e de Michel Temer, acusada de abuso de poder político e econômico, recebeu dinheiro originado da roubalheira na Petrobrás. A virulenta reação foi coroada pelo procurador da República Carlos Fernando dos Santos Lima, integrante da força-tarefa da Lava Jato, que em seu perfil no Facebook chamou o voto daqueles ministros de “o verdadeiro cúmulo do cinismo”.
Como dissemos na sexta, neste espaço, o julgamento da chapa Dilma-Temer deveria servir como uma aula de direito e de civismo, mas acabou revelando a confusão em que a Justiça se encontra diante do clamor público contra a corrupção, alimentado pelo messianismo dos que se julgam em guerra contra a classe política. Cobrou-se dos ministros do TSE a condenação da chapa como se disso dependesse a confirmação da lisura do tribunal, pois, segundo essa opinião, não havia outra coisa a fazer diante dos graves indícios que o relator do processo, ministro Herman Benjamin, trouxe em seu relatório. Logo, cada voto contrário à condenação foi tratado como se tivesse sido movido por interesses estranhos aos do bom direito.
Para o procurador Carlos Fernando, por exemplo, esses ministros do TSE sofrem de “cegueira intencional”, isto é, escolheram não ver a “corrupção exposta pelo acordo do Ministério Público Federal com a Odebrecht”, ou seja, as informações fornecidas pelos executivos da empreiteira em delação premiada. “Deve-se parar de fingir que nada aconteceu”, escreveu o procurador, para em seguida sugerir que os ministros talvez estejam interessados em não prejudicar o presidente Michel Temer, no momento em que a economia do País começa a se recuperar, ou, pior, talvez queiram “a manutenção desse ou daquele partido no poder à custa da verdade.”
São gravíssimas acusações. O procurador Carlos Fernando, como de resto todos os outros críticos desses ministros do TSE, entende que o caso em julgamento na Justiça Eleitoral é parte do mesmo processo relativo à Lava Jato e ao petrolão, razão pela qual tudo o que já foi exposto até aqui nesse escândalo deveria nortear a decisão do tribunal.
Ora, em primeiro lugar, o TSE existe apenas para analisar questões eleitorais. Sua função é zelar pela lisura das votações e de seus resultados. Qualquer acusação fora desse escopo, por mais grave que seja, foge da competência do tribunal. Isso não significa impunidade, e sim respeito ao Estado de Direito. Em segundo lugar, as delações dos executivos da Odebrecht, ainda que acrescidas de planilhas e números de contas correntes, não podem ser vistas como provas incontestáveis. Por mais convincentes que possam ser, são apenas indícios, os quais devem passar ainda por um processo de verificação e submetidos ao contraditório. Há uma série de garantias constitucionais que precisam ser respeitadas antes que um juiz aceite como “fato público e notório” – conforme palavras do ministro relator Herman Benjamin – o que não passa de suspeita.
Por fim, mas não menos importante, toda essa balbúrdia ocorre porque a luta contra a corrupção dos políticos se tornou um imperativo, a partir do qual nenhum político pode ser considerado inocente até que prove o contrário. A julgar pela opinião desairosa do procurador Carlos Fernando e de muitos outros a respeito do comportamento do TSE no caso da chapa Dilma-Temer, não há mais necessidade de juiz ou de tribunal para condenar aqueles que os fundamentalistas já consideram culpados. Se, conforme escreveu o procurador, “a corrupção é multipartidária e institucionalizada” e “é a maneira pela qual se faz política no Brasil desde sempre”, por que perder tempo com julgamentos?
Falhou 1ª fase da conspiração golpista; aguardam-se as próximas da dupla Janot-Fachin - REINALDO AZEVEDO
REINALDO AZEVEDO - 10/06
Todos viram a “Blitzkrieg” Janot-Fachin-PF para derrubar Temer. Deveria ter sido uma coisa fulminante. E, no entanto, não foi. O governo se segurou, inclusive fazendo avançar a reforma trabalhista no Congresso. Esses que chamo “conspiradores” não contavam com a resiliência de Temer
Por quatro a três, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) rejeitou a cassação da chapa que elegeu Dilma-Temer. Esse resultado, em si, para ela, é irrelevante. Foi impichada por motivos alheios a essa conversa. Caiu porque cometeu crime de responsabilidade e porque tinha como aliados menos de um terço da Câmara e menos de um terço do Senado. Adicionalmente, havia conduzido o país à maior crise econômica da história. Para Temer, o resultado é relevantíssimo: a cassação também lhe tiraria o mandato.
Votaram contra a punição os ministros Napoleão Nunes Maia Filho, Admar Gonzaga, Tarcísio Vieira e Gilmar Mendes. Propugnaram pela punição o relator, Herman Benjamin, Rosa Weber e Luiz Fux — estes dois últimos são ministros do STF,
O julgamento no TSE havia se transformado numa etapa da sanha golpista. Ela saiu derrotada. Mas não está conformada. Uma explicação rápida e necessária: o julgamento no TSE nasceu de uma iniciativa legítima do PSDB e nada tinha a ver, originalmente, com o que considero uma conspiração para derrubar o presidente, que une de maneira explícita Rodrigo Janot e Edson Fachin. Procurador-geral da República e ministro do Supremo receberam as bênçãos de Cármen Lúcia, presidente do Supremo.
Todos viram a “Blitzkrieg” Janot-Fachin-PF para derrubar Temer. Deveria ter sido uma coisa fulminante. E, no entanto, não foi. O governo se segurou, inclusive fazendo avançar a reforma trabalhista no Congresso. Esses que chamo “conspiradores” não contavam com a resiliência de Temer.
Então se armou o cerco que pretendeu tornar reféns também os ministros, a saber:
1: prisão preventiva de Rocha Loures três dias antes do início do julgamento. Junto com o fato, o boato: “Ele vai delatar Temer”;
2: no dia 5, véspera do início do julgamento, a PF manda 82 perguntas ao presidente — com autorização de Fachin, é claro! — que valem por um libelo acusatório. A falta de rigor técnico é vergonhosa;
3: prisão do ex-ministro Henrique Eduardo Alves no dia em que começou o julgamento. A alegação da preventiva é frouxa. A razão: é considerado um aliado de Temer;
4: vazamento da informação, também no dia 6, de que o presidente, então vice, viajara, em 2011, num avião que pertence a Joesley. Há nisso algum crime? Não. O que se queria era evidenciar a intimidade entre os dois;
5: vazamento, no dia 7, da falácia segundo a qual Temer teria repassado R$ 500 mil de propina da OAS a Alves. Isso é o que se noticiou, não o que aconteceu. A campanha do então candidato a vice recebeu doação registrada da OAS e fez transferência, também legal, para o diretório do PMDB do Rio Grande do Norte;
6: no dia 8, fontes da PGR afirmam que Janot pretende denunciar Temer por chefiar organização criminosa!
Para lembrar: Janot é aquele que garantiu avida folgazã a Joesley, o homem que admite ter cometido 245 crimes e comprado quase 2 mil políticos. Mas o chefe, ora vejam!, é Temer.
Apesar de tanto planejamento, falhou. E vem, sim, mais coisa por aí.
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