segunda-feira, outubro 21, 2013

O livro do alferes - ROBERTO POMPEU DE TOLEDO

REVISTA VEJA


Um livro, um simples livro, serviu mais que outros fatores para alimentar o entusiasmo, as reflexões e os propósitos do punhado de personagens que, em fins do século XVIII se envolveu no episódio que entrou para a história como inconfidência Mineira. O alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, tinha-o consigo na viagem que fez ao Rio de Janeiro, para propagar os ideais da programada revolução. Desfez-se dele pouco antes de ser preso, ao sentir que estava sendo seguido, enviando-o de volta a Minas Gerais por um colega militar. O livro portava o título, longo como era próprio da época, de Coletânea das Leis Constitutivas das Colônias Inglesas Confederadas sob a Denominação de Estados Unidos da América Setentrional. Estava escrito em francês, a língua internacional do período. A intenção era divulgar os ideais da Revolução Americana e angariar-lhe apoios, na França em especial, e no mundo em geral.

Um lançamento editorial recente traz, sob o título de O Livro de Tiradentes (Penguin & Companhia das Letras), uma tradução do Recueil (Coletânea, em francês), acompanhada de preciosos ensaios coordenados pelo brasilianista Kenneth Maxwell, autor do fundamental A Devassa da Devassa, sobre o mesmo episódio. Não adiantou Tiradentes ter tentado se livrar do livro. Tão logo chegou a Minas, o oficial a que o confiou entregou-o às autoridades. O conteúdo era nitroglicerina pura. "Tratava-se de documentos revolucionários, que constituíam a primeira tentativa de condensar e afirmar princípios, direitos e deveres universais por meio de documentos constitucionais escritos", escreve Maxwell. O livro provava, como afirmou uma das testemunhas ouvidas na Devassa — o volumoso inquérito aberto contra os insurretos — que, em vez "da obediência que devem prestar a seus legítimos soberanos", os acusados acalentavam "a vontade de fazerem do Brasil uma República livre, assim como fizeram os americanos ingleses".

A Coletânea reunia a Declaração da Independência, os Artigos da Confederação e as constituições de seis das treze ex-colônias inglesas, além de documentos menores. A Constituição dos Estados Unidos não existia ainda, quando da edição do volume. Os Artigos da Confederação cumpriam, em seu lugar, o papel de regular a frouxa união entre as ex-colônias. Referências aos "americanos ingleses" são numerosas na Devassa — mais de noventa, segundo Maxwell. A maioria é atribuída a Tiradentes. O mais simples entre os cabeças de um movimento que reunia a elite local, ele não lia francês. Conhecia bem o livro, no entanto, decerto pela tradução e pelos comentários dos companheiros, como indica um episódio relatado nos autos: em meio a uma discussão, em reforço a seus argumentos, sacou da Coletânea e pediu ao interlocutor que lhe traduzisse o artigo da Constituição da Pensilvânia que tratava da eleição dos integrantes de um certo órgão da administração. Lido o tal artigo, segundo a testemunha que relata o episódio, Tiradentes "folheou muito o mesmo livro".

Os inconfidentes possuíam dois exemplares da Coletânea. O que estava com Tiradentes foi o primeiro a cair em poder das autoridades, causando tal impacto que se abriu um inquérito à parte. O exemplar, contendo numerosas anotações a tinta — provavelmente dos conspiradores —, foi anexado ao processo e depois da Independência permaneceu "dentro de um saco verde", junto com outros documentos, nos arquivos do Império, no Rio de Janeiro, até que, em 1860, se decidiu doá-lo à biblioteca que então se constituía no Desterro, nome de Florianópolis à época: Em 1984, a pedido do então governador de Minas, Tancredo Neves, o governador de Santa Catarina, Esperidião Amin, devolveu-o a Minas. Agora figura no acervo do Museu da Inconfidência, em Ouro Preto, ponto final do destino, comum a outros livros, de peça de acusação a relíquia histórica, de maldição à glória.
O que se sabe de Tiradentes é o que está na Devassa. Ele não teve quem se debruçasse sobre sua biografia, quando ainda era tempo de colher depoimentos de quem o conheceu e recolher documentos que lhe dissessem respeito. Seu rosto não é conhecido. É sempre temerário, e arrisca soar demagógico, buscar num outro período histórico ilustrações do presente, mas que bem faria, à história do Brasil, se dispuséssemos de uma biografia de Tiradentes. A possibilidade de travar a produção de biografias que vige no Brasil de hoje contribui para a mutilação da história.

A bruxa nos relógios - LYA LUFT

REVISTA VEJA


Não falarei aqui do meu desânimo quanto à situação do país: cansei. Por algum breve tempo vou tirar férias dessa preocupação. Vou me concentrar no possível: os afetos, o trabalho, a vida. Então falo aqui de um tema que me fascina, sobre o qual muito tenho refletido e acabo de escrever um livro: a passagem do tempo.

Quando criança, eu achava que no relógio de parede do sobrado de uma de minhas avós, aquele que soava horas, meias horas e quartos de hora que me assustavam nas madrugadas insones em que eu eventualmente dormia lá. morava uma feiticeira que tricotava freneticamente, com agulhas de metal, tique-taque, tique-taque, tecendo em longas mantas o tempo da nossa vida.

Nessas reflexões, e observações, mais uma vez constatei o que todo mundo sabe: vivemos a idolatria da juventude — e do poder, do dinheiro, da beleza física e do prazer. Muitos gostariam de ficar para sempre embalsamados em seus 20 ou 30 anos. Ou ter aos 60, "alma jovem", o que acho muito discutível, pois deve ser bem melhor ter na maturidade ou na velhice uma alma adequada, o que não significa mofada e áspera.

Por que a juventude seria a melhor fase da vida, como se jovem não tivesse problemas e sofrimentos, doenças e perdas, e não lutasse contra enormes pressões da família, da turma, da sociedade, para ser e agir dessa ou daquela forma? O número de adolescentes que se suicidam ou tentam se matar é muito maior do que imaginamos.

Lembro que há muitos anos um adolescente conhecido se matou. Naquela ocasião, um menino de sua turma me disse em voz baixa, olho arregalado: "Ontem ainda a gente jogou bola junto na escola, e ele não disse nada, a gente não notou nada. Será que eu devia ter percebido, perguntado? Quem sabe podia ter ajudado?" (Havia medo e aflição em seu olhar. )

Tentei explicar que não cabia ninguém mais nesse buraco negro da alma do amigo morto, embora na nossa ilusão uma palavra boa, um colo, um abraço, um pequeno adiamento, teriam podido ajudar. Quem se mata espalha ao seu redor uma zona de culpa insensata: esse fica sendo seu triste legado, talvez sua cruel vingança inconsciente. Não notamos, não impedimos, nada fizemos, não porque não o amássemos, não nos importássemos, mas porque a gente é assim. Ou porque nada havia a ser feito, ser dito, apenas ser aceito com um rio de dúvidas e culpas pelo resto dos dias. A juventude para ele, como para tantos, não foi a melhor fase da vida: foi o fim dela, desesperado e triste.

Por outro lado, maturidade pode ter uma energia muito boa, pensamento e capacidade de trabalho estão no auge, os afetos mais sólidos e mais profundos, a capacidade de enfrentar problemas e compadecer-se dos outros mais refinada. Aliás, amadurecer devia ser refinar-se. Passada (ou abrandada) a insegurança juvenil, é possível desafiar conceitos que imperam, desatar alguns fios que nos enredam, limpar o pó desse uniforme de prisioneiros, deixar de lado as falas decoradas. a tirania do que temos de ser ou fazer. Pronunciar a nossa própria alforria: vai ser livre, vai ser você mesmo, vai tentar ser feliz — seja lá o que isso for.

Então podemos murmurar, gritar, cantar. Podemos até dançar. Não há marcações nem roteiro, mas a inquietante possibilidade de optar: cada minuto vale, o tempo que flui mostra o valor máximo das coisas mínimas — se eu parar para observar.

Portas continuam se abrindo: não apenas sobre salas de papelão pintado, mas sobre caminhos reais. Correndo pela floresta das fatalidades, encontramos clareiras de construir. De se renovar, não importa a cifra indicando a nossa idade. Descobrir o que afinal se quer é essencial. É raro. É possível. E quando alguém resolver não pagar mais o altíssimo tributo da acomodação, mas dar sentido à sua vida, verá que a bruxa dos relógios não é inteiramente má. E vai entender que o tempo não só nega e rouba com uma das mãos, mas, com a outra, oferece — até mesmo a possibilidade de, ao envelhecer, alargar ainda mais as varandas da alma.

Morena Marina, você se pintou - RUTH DE AQUINO

REVISTA ÉPOCA

Marina, você faça tudo, mas faça o favor. Não mude o discurso da ética, que é só seu. Marina, você já é respeitada com o que Deus lhe deu. O povo se aborreceu, se zangou, e cansou de falar. Lula e Dilma estão de mal com você e não vão perdoar. Mas o eleitor não poderia arranjar outra igual para embaralhar o jogo sonolento da sucessão em 2014. Pelo menos num dos turnos, vamos discutir princípios e fins. E principalmente os meios.

A abertura desta coluna é um plágio. De mim mesma. Só o ano foi trocado no parágrafo: de 2010 para 2014. Assim abri, há quatro anos, um artigo em ÉPOCA. Parece atual.

Não interessa em quem o povo brasileiro - obrigado por uma lei antidemocrática a ir às urnas - votará para presidente. Se a ideologia influencia pouco a escolha e se ninguém mais sabe o que é esquerda e direita, porque todos comem caviar, viram censores e bebem uísque quando estão ricos, famosos e no poder, a guerra verdadeira envolve propaganda, benesses e mentiras cínicas. O voto é decidido por emprego e inflação, educação e saúde, mas também por simpatia, esmola, promessas e demagogia. O bolso e as bolsas fazem uma diferença absurda no Brasil profundo.

Por que falar bem de Marina? Não tenho religião, não simpatizo com os evangélicos e lamento a minha generalização - elas costumam ser injustas. O pastor deputado Marco Feliciano, agora ansioso para expulsar gays de cultos, porque só pensa naquilo, não ajuda os evangélicos a construir imagem de tolerância. Não significa que todos os evangélicos rezem pela mesma cartilha fanática.
É um erro definir alguém por sua crença ou ausência de fé.

Por que falar de Marina se ela não passa, no momento, de uma provável vice de Eduardo Campos, do PSB? Primeiro, por causa de sua biografia. Biografia virou, nessas últimas semanas, uma palavra incendiária por causa da Jovem Velha Guarda Tropicalista (JVGT), guardiã da privacidade de artistas que expõem sua vida pessoal na capa de revistas de celebridades. Sorrisos, filhos, casas, férias, tudo fotoshopado, autorizado, compartilhado.

No caso de Marina, a biografia conta muito, no mínimo para que seja respeitada como pessoa, no pântano de nossa politicagem. Maria Osmarina da Silva Vaz de Lima nasceu no Acre, filha de seringueiros migrantes cearenses. Analfabeta até os 16 anos, aprendeu a ler enquanto trabalhava como empregada doméstica. Pelo Mobral, fez em quatro anos o primeiro e o segundo graus. Marina contraiu cinco malárias, duas hepatites. Formou-se em história. Queria ser freira. Virou marxista. Tem quatro filhos. Foi a mais jovem senadora do Brasil, aos 35 anos. Marina já enfrentou madeireiros, fazendeiros, cangaceiros. Lula a nomeou ministra do Meio Ambiente. Saiu derrotada e desgastada cinco anos depois, em briga com a mãe do PAC, a então ministra Dilma Rousseff.

Por que mesmo falar de Marina, se ela não tem nenhuma chance contra a outra mulher? Quando Marina se mandou para o PV, Dilma disse: "Estou triste. Preferia que ela continuasse no PT, porque é uma grande lutadora". Na queda de braço entre as duas, a corpulenta Dilma de vermelho ganha fácil da magra Marina de preto.

Em Dilma, as rugas quase sumiram, o cabelo ficou moderno e repicado, o sorriso substituiu a expressão severa, o dedo em riste foi trocado pelo coraçãozinho com as mãos. É a cirurgia da personalidade, o bisturi dos marqueteiros. Marina mantém o coque, as rugas e aquelas palavras intragáveis que ninguém entende. "Programática" é um adjetivo que ela deveria jogar no lixo sem reciclar - com o vocabulário pernóstico que a distancia do eleitor.

Marina é melhor quando esquece que precisa mostrar instrução e recorre a frases simples de efeito. Dilma a mandou "estudar" para ter propostas sobre o Brasil. Marina respondeu: "Ela (Dilma) deu um conselho de professora. (...) Aprender é sempre uma coisa muito boa. Difíceis são aqueles que acham que não têm mais o que aprender".

Por que falar de Marina, que nem conseguiu pendurar sua Rede no barco da sucessão? Porque a presença de Marina, junto aos olhos verdes de Eduardo Campos, é um fato novo, como há quatro anos. Move as camadas da terra, provoca tremores, obriga as velhas raposas a sair da toca.

E cômico ver Dilma discursando agora sobre a questão ambiental. Mandando beijos e acenos para pequenos agricultores, quilombolas, pescadores, jovens e indígenas, prometendo quintuplicar os produtores de alimentos orgânicos, sem agrotóxicos. E defendendo assentamentos agrários. Seu mentor, Lula, encampa o outro lado: atrai os ruralistas, enxotados por Marina.

Por isso são importantes as biografias não autorizadas. Elas resgatam as contradições, as incoerências, as mentiras históricas, repetidas tantas vezes que acabam virando verdade. No fundo, só servem a um projeto de poder.

Dilma acertou: a oposição precisa estudar - GUILHERME FIUZA

REVISTA ÉPOCA - 21/10
Conforme previsto neste espaço, passada a onda das manifestações de junho/julho, a presidente Dilma Rousseff - que perdera popularidade, teria de dar lugar a Lula etc. - voltou ao conforto nas pesquisas de opinião: hoje, venceria a eleição no primeiro turno. Os indignados que foram às ruas acham que o Brasil não será mais o mesmo depois de sua explosão cívica. O médico mandou não contrariá-los. Falando baixinho para não incomodar os revolucionários: o grande legado das manifestações foi o surgimento de um bando de débeis mentais de preto que quebram tudo o que veem pela frente, diante de outro bando de débeis mentais que consentem - e eventualmente apoiam - o chilique fascista. Dilma assiste a tudo isso tão a salvo que até já recuperou a soberba: declarou que seus adversários eleitorais "têm de estudar muito" o país.
E têm mesmo. O que Dilma e sua turma conseguiram fazer com o Brasil não é para leigos. Como arrebentar as finanças públicas com politicagem e trazer de volta a inflação, sem que uma única e miserável passeata identifique seu crime e peça sua cabeça? É coisa de gênio - só estudando muito mesmo.

As tecnologias petistas de sucção e privatização da máquina pública alcançaram tal grau de sofisticação que, é duro dizer, a oposição talvez precise de gerações para estudá-las razoavelmente. Toda a arquitetura parasitária montada para substituir o mensalão - a fantástica rede de convênios e programas piratas que irrigam a base política nas quatro dezenas de ministérios - é só a parte mais visível do plano. Há um trabalho ainda mais profundo do que esse, como se vê agora com o caso da Bolsa Vereador.

Foram descobertos cerca de 2 mil vereadores eleitos em vários pontos do território nacional com a mesma peculiaridade: todos são beneficiários do Bolsa Família. Estavam inscritos no programa antes de se eleger e continuaram inscritos depois de eleitos. Uma manobra sensacional, de tirar o chapéu.

O pulo do gato é simples: o esquema petista distribui dinheiro de graça para multiplicar sua base eleitoral, depois puxa representantes da própria turma da mesada para ocupar cargos eletivos - numa espécie de Partido da Bolsa. É genial, porque o sujeito passa de cliente assistencial a militante, daí diretamente para o poder, sem ter de trabalhar na vida. É o modelo Dilma, o mais bem-sucedido do país.

A trajetória dela é a prova incontestável da eficácia dessa fórmula. Dilma foi ser militante na vida - ótima receita para os que não se dão muito bem com trabalho. Como "quadro" partidário, ocupou várias funções na administração pública, sem precisar saber nada, uma das maravilhas do apadrinhamento político. Como prêmio à sua trajetória irretocável de mediocridade e irrelevância, chegou a ministra-chefe da Casa Civil, e ali ganhou de Lula o apelido consagrador: "Mãe do PAC" - título que, não significando nada, é a sua cara.

Não há dúvida de que a oposição precisa estudar muito o país para entender como alguém assim vira presidente da República.

O que seria a ex-guerrilheira Dilma Rousseff hoje, se não fosse presidente do Brasil? Dona de uma agência de black blocs? Sócia de Erenice Guerra numa Cooperativa de despachantes, especializada em favores de segunda mão? Governanta de José Dirceu - e, portanto, correndo o risco de ficar desempregada se o STF tomar vergonha na cara?

A inclusão social de Dilma é uma obra-prima do petismo, e o Brasil não há de permitir uma derrota da presidente na eleição do ano que vem, que poria tudo a perder. Programas sociais como esse, e como o Bolsa Vereador, vieram acabar com o complexo de vira-latas do brasileiro, frequentemente citado pela própria Dilma. Hoje, o brasileiro sabe que a falta de perspectivas na vida é um problema apenas daqueles que não se filiaram aos partidos certos. Se você for um militante abnegado, pode até chegar a ministro do PT no Supremo - onde terá sua boquinha vitalícia e ainda poderá proteger as boquinhas da gangue que o colocou lá. Solidariedade é tudo.

Aí aparecem esses candidatos aventureiros da oposição, que não têm a menor ideia de como se vampiriza profissionalmente um país, querendo ser presidentes... Vão estudar, vagabundos!

Literatura como cura - LUIZ FELIPE PONDÉ

FOLHA DE SP - 21/10

O silêncio, às vezes, é um dos maiores indicativos de maturidade de uma civilização


Hoje quero falar de dois sintomas que marcam nossa época. O primeiro sintoma é a falação ruidosa de nosso mundo; o segundo é a ideia de que o mundo sofre porque não nos amamos e que tudo se resolveria se nos abraçássemos e parássemos de sermos gananciosos.

Fala-se demais hoje. Todos têm opinião. Até jovens de 20 anos são chamados a dar opinião sobre o mundo e a sociedade, quando mal sabem arrumar o quarto. E quando se elegem crianças de 25 anos como arautos da sociedade (adulto que faz isso, o faz, normalmente, para ter discípulos fiéis e fanáticos, ou porque é bobo mesmo), o resultado é que acaba se pensando que o mundo começou, como diz um amigo meu muito esquisito, em "Woodstock".

Quando se pensa isso, acaba-se imaginando que o problema do mundo é mesmo aprendermos que "all you need is love"... Infelizmente, a humanidade é mais complicada do que pensa nossa vã inteligência woodstockiana. Contra essa visão infantil da realidade (este é o segundo sintoma do qual falei acima), proponho a leitura da obra do grande crítico norte-americano Edmund Wilson. Vou a ele já; antes, quero voltar ao problema do ruído mais especificamente (o primeiro sintoma do qual falei acima).

Somos um grande mundo ridículo e falastrão. Decorrente dessa falação, um ruído infernal toma conta do dia a dia. O silêncio, às vezes, é um dos maiores indicativos de maturidade, não só de uma pessoa, mas de uma civilização.

Estou falando isso por conta de um breve ensaio que caiu na minha mão esses dias, parte integrante do volume "Best American Essays 2013", editado por Cheryl Strayed.

O ensaio ao qual me refiro foi escrito pela prêmio Nobel Alice Munro e chama-se "Night". Nele, a autora conta a operação que fez quando criança para tirar o apêndice e uma "coisa do tamanho de um ovo de peru". Munro compara o comportamento atual diante de casos como o dela e o comportamento de seus pais na época. A conclusão é que hoje se falaria como o diabo do risco que ela corria na época. Mas, ao contrário, pouco se falou do assunto, "respeitando o medo" sem falação. Conta Munro que, nessa época, ela dormia num beliche com sua irmã mais nova (moravam numa espécie de granja), e que numa noite olhou para a irmã e pensou em sufocá-la.

A partir daí, não conseguia mais dormir, pensando no ímpeto que tivera de matar sua irmã. Numa das manhãs seguintes a suas noites de insônia, encontrou com seu pai, todo vestido chique, saindo de casa de manhã muito cedo. Contou para ele o que pensara e o horror que sentira.

Seu pai simplesmente lhe disse que esquecesse aquilo e que essas coisas passam. Depois, adulta, lembra como o modo simples de falar do pai a acalmou profundamente. A pequena Alice nunca mais teve insônia.

Na sequência, a prêmio Nobel comenta que nunca perguntara ao pai para onde ele ia tão cedo e tão elegante. Perguntou-se se ele ia ao banco renegociar a dívida da família ou ver a mulher que amava, mas com quem não podia ficar porque amava sua família... Silêncio. Nem uma linha de rancor. Hoje, escreveriam uma tese sobre como seu pai poderia ter sido um homem desatento ou, quem sabe, infiel. Ao lembrar do seu pai no momento do reconhecimento em que recebera o prêmio, Munro pensa em como ele teria ficado orgulhoso de sua pequena filha insone.

Nessas horas, tenho saudade do passado e lamento como nos transformamos em adolescentes barulhentos que se levam demasiadamente a sério.

O segundo autor que quero comentar é Edmund Wilson, um dos últimos críticos literários, segundo Paulo Francis, a enfrentar a literatura sem se esconder atrás de grandes teorias abstratas (que se querem "concretas").

No volume editado por Francis pela Companhia das Letras em 1991, "Onze Ensaio - Literatura, Política, História", esgotado, aparece sua "visão de mundo": a história é um longo processo através do qual as civilizações se devoram, criando e destruindo, em círculos, indo para lugar nenhum. Concordo.

Pura coragem intelectual, que tanto faz falta hoje, nesta época de líderes adolescentes que creem em Woodstock como modelo de sociedade.

Silêncio, por favor - LÚCIA GUIMARÃES

O Estado de S.Paulo - 21/10

"Por que todo mundo está brigando?", a criança de seis anos, fazendo cara de choro, perguntou, numa lanchonete carioca. Ninguém estava brigando. O ruído em volta era o habitual, dos funcionários do balcão e dos fregueses que lotavam as mesas. Mas a menina norte-americana tinha acabo de chegar, pela primeira vez, ao Brasil. A história circula, há décadas, na minha família binacional, como anedota sobre diferenças culturais. Hoje, Nova York compete em barulho com cidades brasileiras - 85% das queixas sobre qualidade de vida feitas à prefeitura nova-iorquina são sobre ruído excessivo.

Numa tarde recente, marquei encontro com um escritor nova-iorquino no Central Park. Levamos alguns minutos procurando um banco onde houvesse relativo silêncio para gravar a entrevista. O barulho de aviões e helicópteros não podia ser evitado, claro. Mal George Prochnik começou a falar, um apito ensurdecedor nos interrompeu. É o sinal de alerta que dispara automaticamente quando veículos de serviço dão marcha à ré, e um pequeno carro de manutenção do parque se aproximava.

Prochnik abriu um sorriso triste, como se o ambiente em volta argumentasse por ele. Ele é autor de um belo livro sobre o silêncio, In Pursuit of Silence, Listening for Meaning in a World of Noise .

À medida que se intensificou a urbanização no século 20, a queixa sobre o ruído foi frequentemente tratada com certo sarcasmo. Exigir silêncio é dar sinal de neurose ou de escapismo. "Por que você não vai fazer artesanato em Mauá?", seria uma reação comum à reclamação sobre o barulho no Rio ou em São Paulo.

Mas, como lembrou meu interlocutor, nas últimas décadas, acumulou-se conhecimento médico sobre o preço que pagamos pela explosão de decibéis. A poluição sonora hoje só perde para a poluição do ar como dano à saúde e fator para encurtar a vida.

Com meu sono leve, sempre invejei aqueles que dormem como uma pedra, a despeito do baile funk do outro lado da rua. Pois os dorminhocos não levam vantagem. O fato é que o homem não desenvolveu a capacidade fisiológica de se adaptar ao excesso de barulho. Um estudo feito na Europa, em bairros perto de um movimentado aeroporto, mostrou que quem continuava dormindo, durante pousos e decolagens, tinha alta de pressão, pulso acelerado e liberava os hormônios ligados ao estresse, não só durante o sono, mas várias horas depois de acordar.

Prochnik, que é enfático sem falar alto, me explica por que nós ouvimos. A audição dos mamíferos começou como um sistema de alerta para a presença de outros animais, ainda que distantes. Nosso ouvido evoluiu como um sofisticado amplificador para nos proteger. O fato de que não saímos correndo ou sacamos uma arma quando a ambulância passa na rua quer dizer apenas que a nossa consciência se adaptou à barulheira. Mas parte do cérebro, explica o autor, não evoluiu para processar a mudança do ambiente, de modo que a capacidade de não se incomodar com o ruído alto é, na prática, uma falha que prejudica a saúde.

Numa realidade de aparelhos digitais, em que a atenção é constantemente fraturada, temos a ilusão de que o multitasking, fazer várias coisas ao mesmo tempo, é um triunfo de controle mental. Não é, afirmam os neurocientistas, e o mesmo vale para a distração por som. Quando alguém diz "o barulho é tanto que não consigo me ouvir pensar" está coberto de razão. Uma das resistências ao controle do ruído é a acusação de elitismo. E Prochnik confirma que o silêncio hoje é privilégio para poucos. Há toda uma indústria para proteger os afluentes do ruído, desde a máquina de lavar mais silenciosa, passando por materiais de construção e a localização de apartamentos.

Nunca tinha pensado na relação entre o silêncio e a democracia, mas Prochnik me dá um exemplo que está na origem dos Estados Unidos, no final do século 18. Reunidos na Filadélfia, os fundadores da república, antes de redigir a Constituição, mandaram cobrir de terra a rua de pedras em frente ao Independence Hall. Queriam abafar o trote dos cavalos e outros ruídos de tráfego. Queriam se concentrar para imaginar a nova democracia. A interrupção da concentração por ruídos em volta, ainda que seja a TV ligada na sala ao lado, se reflete, sim sobre o curso da reflexão e consequentemente, sobre a independência do pensamento.

Em seu livro, Prochnik cita um estudo de 1938 que analisava os discursos de Adolf Hitler. A voz do führer tinha uma média de frequência de vibrações mais alta do que a da média da população. O próprio Hitler comentou que não teria conquistado o poder se não fossem os alto-falantes. A voz, como lembrou Charles Darwin, pode ser uma arma de intimidação.

Mas, da conversa com Prochnik, as histórias que mais me assustaram foram sobre o desenvolvimento de crianças. Ele citou um estudo feito numa escola pública americana. A alfabetização de crianças que frequentavam as salas de aula com janela para o tráfego intenso ficava, em média, um ano atrás da alfabetização de crianças que estudavam em salas com janelas para o fundo silencioso do prédio.

Nem só o barulho à distância afeta o desenvolvimento infantil. O problema está na simples eliminação do silêncio. Aqueles aparelhos de ruído branco para abafar o ruído da casa no quarto do bebê? Má ideia, diz ele, recorrendo à pesquisa de Michael Merzenich, um dos pioneiros do estudo da plasticidade do cérebro. Pense numa casa com a TV e um ventilador barulhento sempre ligados. O ruído de fundo permanente tem, sobre a aquisição de linguagem do bebê, efeito semelhante a ser criado por um só adulto que nasceu com fenda palatina. O cientista explica que esta criança aprende a falar, claro, mas a sua língua seria um português inferior porque, no começo do desenvolvimento, ela não pôde distinguir entre o ruído de fundo e a fonética. Então, esta criança já parte para a escola com uma capacidade mais lenta de processar linguagem.

Quando explorou a costa brasileira, Charles Darwin descreveu o contraste do ruído ensurdecedor dos insetos, ouvido nos navios longe da costa, e o silêncio profundo no interior da floresta.

Ao acompanhar certos debates em curso, seja o de políticos no Congresso ou o que divide músicos e biógrafos, lembro da tarde com George Prochnik no Central Park. Os xingamentos, os argumentos simplistas confirmam que o volume do barulho contribui para abafar a democracia.

O personalismo na política - RENATO JANINE RIBEIRO

Valor Econômico - 21/10

Há quem condene o personalismo na política - o fato de que certos líderes são tão fortes, alguns até carismáticos, que ofuscam seus partidos. A grande agremiação brasileira que já nasceu declarando guerra ao personalismo é o PSDB. Dos partidos atuais, foi também o mais preocupado com as instituições, proclamando apoiar o parlamentarismo - embora nada tenha feito por este quando ocupou a Presidência da República. Toda teoria tem dificuldades na prática. Mas faz parte da lógica política, mesmo parlamentarista, ter líderes poderosos. Um partido não disputa a hegemonia se não tiver grandes nomes. Isso, todos requerem. Só que isso não significa personalizar a política, coisa que o PSDB não faz nem fez.

Desde a democratização de 1985, destacaram-se quatro líderes personalistas entre nós. Um deles foi um problema, Fernando Collor: seu apelo pessoal ao eleitorado não tinha sustentação partidária ou social. Ganhou a Presidência graças ao vazio de alternativas. Logo depois de seu impeachment, uma emenda constitucional extinguiu a eleição solteira para presidente da República, praticamente eliminando os riscos de elegermos um candidato sem bases sólidas.

Mas também tivemos Leonel Brizola, Lula e Marina. Dos grandes líderes pré-1964, foi Brizola o que mais se destacou e mais tempo durou após o longo interlúdio ditatorial. Seus desafetos o chamavam, injustamente, de caudilho. Tinha carisma. Mas sempre fortaleceu o partido em que estivesse. Liderou a ala esquerda do Partido Trabalhista Brasileiro, legenda que teria retomado na década de 1980, não fossem as manipulações do Palácio do Planalto. Fundou, então, o Partido Democrático Trabalhista, que dirigiu até morrer.

A mesma lealdade a valores marca Lula e Marina. Ele sempre foi do PT e o PT sempre foi ele. Mas Lula e o partido se estressaram, entre 1998 e 2002 - sua última derrota e sua primeira vitória. A esquerda do PT aprovava propostas radicais, que, na prática, barravam sua rota para a Presidência. Pois votos, quem tinha era Lula. Assim, para concorrer em 2002, exigiu uma guinada pragmática. Não queria mais marcar posição. Queria vencer, mudar o País, mesmo que menos do que o ideal.

Mas ficou uma marca no PT, que um dia ele terá de enfrentar. O partido que surgiu em 1982, como o mais moderno de todos, nunca se emancipou de seu líder. Lula não é autoritário. Mas é quem escolhe os candidatos petistas aos principais cargos em disputa. Indicou Dilma para a Presidência, Haddad para a prefeitura mais rica do país, Padilha para o Estado mais populoso. Tem dado certo, mas à custa de não haver escolha dentro do partido. O PT ganha a eleição, mas não por um processo interno e sim por uma decisão externa à militância. A vantagem é que Lula acerta. A desvantagem é que quem acerta é Lula.

Cedo ou tarde, o PT precisará amadurecer. Muito se tem dito que o PSDB precisa renovar suas lideranças, que está na hora de ter nomes novos, que essa é uma transição difícil. É verdade. Mas o PT pode estar fadado a viver um momento pior. Perdeu a cultura do debate interno. Terceirizou em Lula suas decisões. Isso constitui um risco. Basta que perca uma eleição decisiva. Sua travessia do deserto pode ser penosa.

Mas, para completar o percurso pelos líderes personalistas, Marina Silva é a mais recente. Sem dúvida, ela é modesta; não tem nenhum traço de arrogância; mas seus votos e decisões, criando o Rede ou se aliando ao PSB, são dela e não do grupo. Também aqui, há uma vantagem a curto prazo e um problema a médio. Marina traz votos, porém não os consolida. Não é óbvio que consiga transferi-los. Mas o sinal preocupante é que aparenta ter menos compromisso, do que Lula e Brizola, com os partidos por onde passa. É a menos institucional dos três. Depois que deixou o PT, onde se formou, esteve no PV, criou o Rede e foi dar no PSB. Defendo com unhas e dentes seu direito de concorrer no ano que vem ao cargo que quiser e puder. Mas me inquieta um percurso que vai da esquerda para a ecologia, da ecologia para a sustentabilidade, tema hoje querido dos economistas ex-tucanos e que não é a mesma coisa que a defesa do verde, da sustentabilidade para um partido que tem socialismo hoje apenas no nome, salvo se for para homenagear Roberto Amaral e Luiza Erundina. Cristian Klein sugeriu aqui que Marina seria mais popular entre os que têm aversão à política; chamemos as coisas por seu nome, analfabetismo político; cidadania não é só pleitear direitos, protestar contra uma categoria política desprestigiada, é sobretudo traduzir suas reivindicações na linguagem da política.

Por circunstâncias que escaparam a sua vontade, dos três bons líderes personalistas que analisei, Marina é a única a ter mudado tanto de partido. Leva a extraordinária bagagem de seu apelo pessoal. Mas isso, que na conjuntura dá votos, na estrutura gera rachaduras. Lula e Brizola temperavam seu apelo pessoal, seu carisma, identificando-se a seus respectivos partidos. Era este o "check and balance" do risco que representa, para as instituições, o personalismo. O paradoxo da situação é que o Rede - como o PT, em seu tempo heroico - inclui gente muito qualificada. O apelo pessoal de Marina é inegável e constitui o maior trunfo do Rede e, hoje, do PSB. Mas esse trunfo exige cautela. O personalismo não é fácil para a democracia. Ele existe, não deve ser extirpado, mas precisa de contrapesos. Vejamos se e como Marina consegue institucionalizar seu inegável êxito pessoal. Porque ela é leal a seus valores, mas não tem um vínculo tão forte com as organizações partidárias.

Ambientalismo e desenvolvimento - JOSÉ GOLDEMBERG

O Estado de S.Paulo - 21/10

As eleições do próximo ano criam uma oportunidade histórica para discutir os rumos que o País deve tomar na área de energia: ou continua com políticas voltadas para ações imediatistas, de curto prazo - muitas delas com objetivos eleitorais -, ou escolhe um novo caminho, em que objetivos de longo prazo sejam estabelecidos e investimentos sejam feitos em áreas que nos levem a um desenvolvimento sustentável, isto é, que seja duradouro.

Na formulação de tal caminho, o papel do movimento ambientalista é de importância fundamental, por duas razões:

A proteção ambiental, incorporada no processo de desenvolvimento, pode evitar que ele seja predatório, o que pode comprometer os próprios objetivos desse desenvolvimento;

e a posição dos ambientalistas - se levada ao extremo - poderá dificultar ou até impedir o desenvolvimento.

Há uma linha tênue entre esses dois caminhos e não é fácil segui-la sem cair em exageros nos dois lados.

O que temos visto na última década não é muito encorajador, com manifestações explícitas de ministros, e até de presidentes da República, ridicularizando posições de movimentos ambientalistas na Amazônia e dando pouca - ou nenhuma - atenção aos sérios problemas do aquecimento global. Essas atitudes refletem o imediatismo de políticos de plantão e impaciência com as dificuldades e os atrasos que a ação dos ambientalistas pode infligir na execução das obras. Sucede que em muitos casos eles têm razão e seria de fato melhor executá-las de forma diferente, que levasse mais em conta a proteção ambiental.

Exemplo claro desses conflitos, que não foram bem resolvidos, é o que está ocorrendo com a construção de hidrelétricas na Amazônia, como em Belo Monte, onde a criação de reservatórios de água foi praticamente abandonada. A função desses reservatórios é regularizar a geração de eletricidade ao longo do ano, mesmo nos meses em que não chove. Além disso, em casos de períodos de seca prolongados - que podem durar de dois anos a três anos -, os reservatórios são uma garantia de continuidade da operação do sistema elétrico.

Reservatórios, no entanto, realmente inundam áreas onde existem florestas, afetam populações ribeirinhas e, até certo ponto, a biodiversidade local. No caso de Belo Monte, essas questões provocaram sérios conflitos com comunidades locais onde as organizações não governamentais (ONGs) são muito atuantes.

O governo brasileiro pode argumentar que venceu o movimento ambientalista, que tentou impedir que a usina fosse construída, porque as obras estão em andamento. Em contraposição, poder-se-ia dizer que o movimento ambientalista derrotou o governo, forçando a construção dessa usina praticamente sem reservatório. A área inundada será apenas de cerca de 500 quilômetros quadrados, que não é muito grande comparada com o desmatamento da Amazônia, de cerca de 5 mil quilômetros quadrados todos os anos.

Para os dois lados foi uma vitória de Pirro. Hidrelétricas sem reservatórios não são boas para o sistema elétrico do País e a falta deles já se está fazendo sentir, com o aumento da produção de energia elétrica usando usinas térmicas queimando gás natural (que é caro) ou carvão (extremamente poluente) e até usinas nucleares.

Existe uma solução para esses problemas?

Ao que tudo indica, a resposta é positiva. E um caminho a ser explorado acaba de vir da ONG WWF-Brasil (a seção brasileira do Fundo Mundial para a Natureza), uma entidade ambientalista séria e responsável.

Diferentemente de outras entidades ambientalistas mais radicais, o WWF-Brasil, em sua recente tomada de posição a respeito de geração de energia elétrica no Brasil, declarou: "O WWF-Brasil não se opõe a nenhuma fonte renovável, incluindo as hidrelétricas 'per se'. Estamos muito preocupados com a forma como foram e ainda estão sendo planejadas e construídas hidrelétricas, especialmente na Amazônia e nas nascentes do Pantanal. Portanto, recomendamos que sejam tomadas todas as medidas para mitigar esses impactos, considerando seu efeito cumulativo e de longo prazo nas bacias e buscando o menor custo socioambiental. O WWF desenvolveu uma metodologia para contribuir nisso, permitindo uma visão integrada de bacias hidrográficas, de forma a que se possam avaliar, discutir, antecipar e prevenir maiores impactos na biodiversidade, nos serviços ambientais e nos povos tradicionais, e permitindo manter trechos estratégicos dos rios livres de barragens. Este método pode e deve também ser aplicado para outras fontes renováveis de energia".

Essa é uma proposição das mais importantes, porque abre caminho para que o governo federal inicie um diálogo com o movimento ambientalista. Nesse diálogo o governo deveria considerar com seriedade as objeções ambientais levantadas.

Em contrapartida, os movimentos ambientalistas precisariam ser esclarecidos quanto ao fato de que os impactos locais produzidos por uma hidrelétrica na Amazônia são, sim, reais, mas a eletricidade gerada atende às necessidades de milhões de habitantes que vivem a mais de mil quilômetros de distância. As populações atingidas - algumas dezenas de milhares em alguns casos - podem e devem ser realocadas, como foi feito com sucesso quando da construção de muitas hidrelétricas no País, como a de Itaipu. Populações indígenas merecem, é claro, um tratamento diferenciado, que lhes pode também ser dispensado em muitos casos.

Há que atentar também para o fato de que o Brasil necessita acrescentar cerca de 3 milhões a 5 milhões de quilowatts por ano ao seu sistema elétrico e que é difícil fazer isso sem usinas hidrelétricas. A contribuição da energia dos ventos, da biomassa e da eficiência energética é importante e muito bem-vinda, mas não pode atender a toda a demanda.

Força oculta - SÉRGIO RANGEL

FOLHA DE SP - 21/10

RIO DE JANEIRO - O primeiro ficou 56 dias preso em Brasília, envolvido num suposto esquema de desvio de verbas federais no Amapá em 2010.

O segundo foi multado em R$ 1,1 milhão pelo Tribunal de Contas do Amazonas no mês passado, por 35 irregularidades encontradas na sua prestação de contas quando era prefeito de Eirunepé, em 2005.

O terceiro foi preso pelo Exército, acusado de fazer boca de urna em 2010. Dois anos depois, foi eleito prefeito de Boca da Mata, Alagoas.

Praticamente desconhecidos do mundo da bola, Roberto Góes, Dissica Valério e Gustavo Feijó fazem parte do pequeno grupo que vai escolher, em abril, o responsável por comandar a mais alta entidade do futebol brasileiro, a CBF.

Os três presidem as federações dos seus Estados. No colégio eleitoral da confederação, eles são maioria, com 27 votos no pleito.

O poder deles é superior ao dos clubes que disputam a primeira divisão do Campeonato Brasileiro deste ano. Juntos, os times, como Flamengo e Corinthians, têm os outros 20 votos em jogo na corrida eleitoral. Responsáveis pela festa em campo, os jogadores, que ontem fizeram protesto antes de cada partida pedindo bom senso, não têm nem poder de voto.

Herdeiro político de Ricardo Teixeira, que ficou 23 anos no poder, o atual presidente da CBF, José Maria Marin, trata com carinho os obscuros cartolas regionais.

Em campanha silenciosa para fazer o paulista Marco Polo Del Nero seu sucessor na eleição, Marin dobrou os repasses para as federações. O "mensalinho", como é chamado pelos cartolas, pulou em um ano de R$ 30 mil para R$ 60 mil mensais. Pelo menos 18 federações declararam, em seus balanços, que receberam, no mínimo, R$ 732 mil no ano passado. No total, Marin gastou quase R$ 20 milhões com eles. Com tanto dinheiro, não será fácil para a oposição derrotar Marin e Del Nero.

LONGO ALCANCE - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 21/10

Cerca de 30 medicamentos para câncer serão incluídos na cobertura dos planos de saúde a partir de janeiro de 2014. O rol de novos procedimentos será anunciado hoje pelo Ministério da Saúde e pela ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar). Entre as coberturas que passam a ser obrigatórias estão tratamento oral para câncer e novas cirurgias por videolaparoscopia.

PARA DEPOIS
O presidente da ANS, André Longo, diz que a medida não resultará em aumento para os clientes dos planos em 2014. Isso porque o impacto dos novos procedimentos só será calculado em 2015. Ele diz que os custos tendem a diminuir com menos internações e que é possível não haver repasse ao consumidor.

TABULEIRO
Brinquedos como Banco Imobiliário e Jogo da Vida, em que marcas de empresas fazem parte do conteúdo, poderão passar a ser recomendados para maiores de 12 anos. A comissão da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) responsável pelo tema é a favor da mudança. Hoje a alteração será discutida em encontro com entidades reguladoras de outros países em SP. Depois, irá a consulta popular.

TABULEIRO 2
Itaú, Mastercard, Vivo, Nivea, Ipiranga, Fiat e TAM estão entre as marcas que fazem merchandising nos jogos, hoje indicados para maiores de oito anos. O Alana, instituto de defesa da criança que propôs a mudança, vê a prática como publicidade abusiva. Diz que é preciso considerar a vulnerabilidade que caracteriza as crianças até 12 anos.

PAR ROMÂNTICO
Sandy faz par romântico com Marcelo Adnet no clipe "Escolho Você", que será lançado amanhã na plataforma online Vevo. Ela fez questão de convidar o humorista para gravar o vídeo da música, composta em parceria com seu marido, Lucas Lima, e Jason Tarver. Diz não imaginar ninguém melhor para as cenas de humor. "Eu o escolhi por admirá-lo desde os tempos da MTV. Marcelo tem um lado musical expressivo, o que é importante para o bom andamento do clipe."

PRIMEIRO CAPÍTULO
Um bilhete de Chico Buarque para a avó quando tinha oito anos é um dos achados do livro "História do Brasil para Ocupados" (ed. Casa da Palavra), que será lançado nesta semana. "Avó, vou para a Itália. Quando eu voltar, provavelmente a senhora estará morta. Mas não se preocupe. Eu vou me tornar um cantor de rádio. É só a senhora ligar o rádio do céu que vai me escutar", escreveu Chico.

CHICO CONTENTE
O texto foi revelado pelo pai do cantor, Sérgio Buarque de Holanda, em artigo na primeira edição da revista "Pais & Filhos", lançada em 1968. Naquele ano, Chico fazia sucesso com a peça "Roda Viva". O texto foi resgatado pelo historiador Francisco Alambert. E traz outras impressões do historiador sobre o filho: "Ele [Chico] ficou muito contente de ter ido a Paris, porque ninguém o conhecia por lá".

VAMOS FUGIR
"Desde menino, sempre se interessou por música e futebol. (...) seus ídolos eram Ismael Silva, Dorival Caymmi e Ataulfo Alves. Mais tarde, João Gilberto, de quem procurava imitar o estilo", dizia ainda o pai. "Não obstante todo o sucesso, o qual não lhe provoca muito prazer, é bem capaz de Chico largar tudo isso e partir para uma outra coisa qualquer."

CIRCULANDO
Com a adesão dos bancos, que têm 512 mil funcionários no país, ao Vale-Cultura, o Dieese calcula incremento mensal na economia, a partir do ano que vem, de R$ 9,4 milhões. No total devem circular R$ 113 milhões em cinema, teatro e livrarias.

TELA CHEIA
A atriz Betty Faria e o diretor da Cinemateca, Lisandro Nogueira, foram à abertura da 37ª edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, no auditório Ibirapuera. Entre os convidados, recebidos pela diretora do festival, Renata de Almeida, estavam também a escritora e roterista Maria Fernanda Guerreiro, as cineastas Tata Amaral e Monique Gardenberg e o diretor do Sesc-SP, Danilo Santos de Miranda.

VOLTA AO MUNDO
Os colecionadores Christian Heymès e Marcelo Pallotta receberam convidados para a abertura da exposição "O Poder das Formas", no espaço A Estufa. A ceramista Lídia Lisboa e a designer de interiores Karen Steinberg foram conferir 150 peças de manifestações artísticas garimpadas em viagens à África e Indonésia.


O HOMEM QUE COLOCOU O PAPA NA REDE
O espanhol Gustavo Entrala, 43, não se considera um bom católico, mas isso não impediu que sua agência 101 fosse contratada pelo Vaticano. Sua equipe é responsável pela entrada do primeiro papa, Bento 16, nas redes sociais. Hoje, o Twitter do papa Francisco (@pontifex) contabiliza cerca de dez milhões de seguidores. Entrala, que visitou o Brasil para encontros e palestras, falou à coluna sobre o seu trabalho.

Folha - Como você entrou em contato com o Vaticano?
Gustavo Entrala - Vi uma carta publicada por Bento 16, em que ele dizia que algumas crises da igreja poderiam ter sido evitadas se eles aumentassem a comunicação pela internet. Escrevi oferecendo nossos serviços, mas não achei que alguém fosse ler. Quando Federico Lombardi (diretor de imprensa do Vaticano) me ligou, pensei que fosse brincadeira. Apresentamos um plano de comunicação e eles gostaram.

Você conheceu os dois últimos papas, Bento 16 e também o papa Francisco. Como eles lidam com a tecnologia?
Nesse ponto são iguais: muito pouco tecnológicos. Bento 16 nunca tinha visto um iPad na época em que criamos o aplicativo The Pope app. Coloquei fotos dele adolescente, com os irmãos e os pais. Ele ficou maravilhado. Francisco também não sabia muita coisa. Um arcebispo auxiliar de Buenos Aires fez até uma piada na época e disse que a última tecnologia que o papa havia usado era uma máquina Olivetti. Insistimos e deu certo.

O papa cria os tuítes da conta?
Francisco escreve mais ou menos 50% do conteúdo. O resto é da equipe, que posta frases ditas por ele. O papa entende muito bem o processo e a finalidade das redes sociais, que é alcançar as pessoas. Ele é naturalmente aberto, diferente do Bento, que, apesar de ser afetuoso no trato pessoal, ficava mais retraído ao se comunicar com multidões.

O atual papa é bem mais pop.
Na época de Bento 16, o Twitter papal tinha cerca de três milhões de seguidores. Hoje, tem dez milhões. A palavra que mais acompanha tuítes sobre o atual papa em inglês e espanhol é "cool" e "mola", o equivalente a legal.

Qual é a estratégia usada?
Vejo a igreja católica como uma marca. Uma marca tem que emocionar. Nós nos apoiamos no carinho que as pessoas sentem pelo papa. Apesar de crises como a questão da pedofilia e a opinião sobre os homossexuais, ainda não existe ninguém tão querido quanto o papa. Nós trabalhamos com isso. As pessoas estão encantadas em poder falar com o Vaticano pelo Facebook.

CURTO-CIRCUITO
Violência infantil é o tema da exposição "Cantigas", da artista plástica Simone Kestelman, que fica em cartaz no MuBe até 3 de novembro.

Abdulaziz Bin Abdullah, príncipe da Arábia Saudita, participa da entrega de prêmio para tradutores da língua árabe, hoje, no Palácio dos Bandeirantes.

O maquiador Marcos Costa lança novo livro amanhã, na Livraria da Vila da alameda Lorena, às 17h.

Temperatura máxima - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 21/10

Dilma mandou deixar sua agenda livre, hoje à tarde, no horário do leilão de Libra.
Quer acompanhar de perto a batalha na TV.

Aliás...
Ontem, além dos chineses, falava-se que a Shell iria participar do leilão. A dúvida é saber se haverá um ou dois concorrentes.

Baixaria
Luiz Carneiro teve cortados seu celular e e-mail no dia em que foi demitido do comando da OGX.

E o padrão Fifa?
Sobrou para o contribuinte baiano. O Comitê Local da Copa estourou o orçamento milionário de US$ 420 milhões.
Por isso, o governo baiano vai gastar uns R$ 6,5 milhões com o sorteio das chaves da Copa, em dezembro.

A onda voltou
Depois de 30 anos, desde o sucesso de “Como uma onda no mar”, Daniel Motta e Lulu Santos voltaram a fazer música juntos.
“Tempo em movimento” é o nome do resultado da parceria, gravada por Luiza Possi com Lulu.

História da riqueza
O coleguinha Chico de Gois lança o livro “Os ben$$ que os políticos fazem”, pela LeYa, em novembro.
Fala sobre os políticos brasileiros que enriqueceram no mandato.

Lei Roberto Carlos
Do historiador Alberto da Costa e Silva sobre a polêmica das biografias não autorizadas:
— Quem escolhe, busca ou aceita a fama, ou dela vive, não tem vida privada.

Bolsa-futebol
Paulo César Caju, o querido ex-jogador, está chateado.
Em março, ele entrou naquela bolsa-futebol que o governo liberou para os campeões do mundo em dificuldade financeira. Caju começou a receber R$ 4 mil de pensão do INSS.

Só que...
Agora, o governo cancelou a ajuda alegando que, pela sua declaração de renda, em 2012 ele trabalhou como cronista do “Jornal da Tarde”, recebendo por mês R$ 3 mil.
Mas o jornal acabou em dezembro.

Dor de mãe
A atriz Cissa Guimarães, que perdeu um filho, atropelado em julho de 2010, faz hoje uma sessão gratuita da sua peça “Doidas e santas”, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, para as mães que perderam seus filhos no incêndio da boate Kiss.

Faz sentido
A China, em pleno avanço capitalista, vai lançar uma nova edição do polêmico “O livro vermelho”, de Mao Tsé-tung.
Há quem sugira, para tornar o livro atraente para os jovens de hoje, adotar o titulo “Cinquenta tons de vermelho”.

Literatura na Rocinha
O mercado editorial acontece também na Rocinha. Bibi Perigosa, ex-mulher do traficante Saulo da Rocinha, lança dia 27 na Biblioteca Parque um livro inspirado na sua vida como mulher de traficante.
Ela diz que não é uma biografia não autorizada do traficante, e sim um livro de ficção. Ah, bom!

Samba do Callado
Pouca gente sabe, mas o escritor Antonio Callado foi também compositor de samba. Fez uma música.
Foi “Amor de tempo nenhum” para o disco “Samba do escritor”, de Dulce Nunes. Essa história está na fotobiografia de Callado, que será lançada dia 24, na ABL.

Quanto quer pagar?
Roupas de grifes francesas muito, muito caras vão ser vendidas por precinhos mais camaradas no Fashion Mall, o shopping dos bacanas.
Será no Bazar Vintage, em novembro. As peças, todas de segunda mão, saem até pela metade do preço. Uma roupinha Hermès, por exemplo, que novinha em folha custa seis mil euros, uns R$ 18.000, lá vai custar uns R$ 3.000.

Crime e castigo
A 7ª Turma do TRT do Rio condenou a Varco International do Brasil, do mercado de óleo e gás, a pagar R$ 100 mil a uma ex-gerente de negócios por assédio moral.
A ex-funcionária teria sido xingada e humilhada na frente de colegas.

Briga de galo humana
Veja como ficou o rosto de Cigano depois da luta de UFC 166 com Velásquez, no sábado. E tem gente que acha que isso é esporte.

Menina dos olhos - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 21/10

A presidente Dilma Rousseff disse a um interlocutor que o leilão do campo de Libra é um dos atos mais importantes do seu governo, que "marcará o país por gerações". Foi decisão pessoal da presidente enviar o Exército para o Rio de Janeiro. Na sexta, determinou que o ministro Edison Lobão (Minas e Energia) desse uma entrevista para espantar dúvidas. Depois, mudou a data da sanção da lei do Mais Médicos para amanhã para evitar que os assuntos "concorressem".

Expectativa 
O governo ainda aposta que a disputa por Libra terá mais de um consórcio. Consultores que assessoram os grupos pré habilitados acreditam que serão pelo menos dois. Inicialmente, o governo previa três.

Canetada 
Tão logo Dilma sancione a lei do Mais Médicos, o Ministério da Saúde vai conceder registro para 220 estrangeiros que ainda não obtiveram licença dos conselhos de medicina para atuar no programa.

Painho... 
Para evitar as prévias do PT na Bahia, o atual secretário estadual do Planejamento, Sergio Gabrielli, lançou-se pré-candidato com o apoio do ex-presidente Lula e de Rui Falcão, presidente do partido. Gabrielli foi presidente da Petrobras no governo Lula.

...decidirá 
Para conseguir consenso, Gabrielli terá de torcer pelo governador Jaques Wagner nas negociações com o PT. Wagner apoia Rui Costa para o governo do Estado, mas aceita abrir mão de seu candidato se for coordenador da campanha da presidente Dilma Rousseff.

Em tempo 
Gabrielli disse à coluna que o leilão de Libra é inoportuno, porque o atual momento econômico é desfavorável.

Só love 1 
Eduardo Suplicy e Alexandre Padilha cantaram "Eu sei que vou te amar" em homenagem ao centenário do poeta Vinicius de Moraes no sábado, durante ato em Santo André.

Só love 2 
Padilha, pré-candidato do PT ao governo de São Paulo, anunciou o senador como candidato à reeleição no ano que vem, numa demonstração de que o partido desistiu mesmo de negociar a vaga para o Senado com os partidos aliados.

Arrocho total 
A OAB federal e a CNBB se uniram e entregaram ao presidente do STF, Joaquim Barbosa, um ofício pedindo que seja julgada a ação direta de inconstitucionalidade que proíbe a doação de empresas para candidatos ou partidos.

Torpedo 1 
O TRE de São Paulo deve fechar uma parceria com uma associação de São Paulo para incluir o SMS na fiscalização do órgão eleitoral. O objetivo é impedir que os torpedos sejam usados como boca de urna. Até hoje estavam na mira mensagens trocadas por email, Twitter e Faceboook.

Torpedo 2 
A associação (Mobile Entertainment Forum) também pretende se juntar à Anatel no grupo que definirá as diretrizes da fiscalização eleitoral no país com o Tribunal Superior Eleitoral.

É do PMDB 
O novo conselheiro da Anatel deve ser Igor Villas Boas. Seu nome foi indicado pelo PMDB e teve apoio do ministro Paulo Bernardo (Comunicações) para ocupar a vaga de Emilia Ribeiro, que saiu em novembro passado. O posto, que vinha sendo ocupado interinamente desde então, é tido como cota do partido.

De novo 
O atual presidente da agência, João Batista Rezende, cujo mandato vence em novembro, deverá ser reconduzido. As duas indicações ainda precisam passar pela presidente Dilma.

Risco 
A ajuda do governo às múltis nacionais pode dar problema. Os fiscais da Receita Federal estão preocupados porque as empresas podem simular prejuízos no exterior para pagar menos imposto no país.

Sem poder 
O pacote foi decisão política e o fisco não teve espaço para mudança.

com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN

tiroteio
"Se o Aécio tiver em São Paulo, em 2014, o mesmo tratamento que Alckmin e Serra tiveram em Minas, ficaremos muito felizes."

DO DEPUTADO RODRIGO DE CASTRO (PSDB-MG), rebatendo queixa de paulistas à suposta falta de apoio em Minas aos candidatos tucanos em 2006 e 2010.

contraponto


Fome zero

"Durante sessão solene no Senado, congressistas deram parabéns aos senadores do Piauí pelo aniversário do Estado, comemorado na semana passada.

O piauiense Wellington Dias (PT) aproveitou para convidar os colegas para um lanche típico no cafezinho, com direito a tapioca e sorvetes de sabores locais.

Ao perceber o interesse dos colegas pelos quitutes, o petista, que já governou o Estado, brincou:

--Quem diria, hein! O Piauí matando a fome de Brasília!

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 21/10

Fundos de investimentos buscam títulos de dívida de empresas de porte médio
Empresas de médio porte com pouco acesso a crédito seja devido ao seu tamanho, à sua organização, seja em razão do menor apetite dos bancos para financiamentos.

Esse é o perfil das companhias para as quais a BRZ Investimentos tem buscado originar debêntures ou CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários).

Empresas grandes, por sua vez, têm pago quase os mesmos juros que títulos públicos, observa Allan Hadid, presidente da gestora.

"Por melhor que seja, a empresa não pode oferecer a mesma taxa porque o governo é como um ativo praticamente sem risco. Com esse prêmio [rendimento em relação ao título público], prefiro papéis públicos."

A estratégia se completa com a compra das debêntures e dos CRIs pelos próprios fundos da BRZ.

"Vamos atrás das empresas e estruturamos os papéis com uma securitizadora. Procuramos para o nosso investidor um retorno diferenciado em vez de esperar que bancos e empresas me tragam -a mim e a outras mil pessoas."

Quanto ao maior risco de empresas com esse perfil, Hadid afirma sentir-se seguro com as garantias pedidas, como imóveis e recebíveis, além de um bom rating.

O valor das emissões gira entre R$ 30 milhões e R$ 100 milhões. Cinco operações de companhias dos setores imobiliário, de logística e do comércio, já foram feitas e há quatro em andamento, que já passaram pela CVM.

O investimento foi de cerca de R$ 110 milhões -há casos em que bancos dividem o cheque, segundo Hadid.

"Temos R$ 600 milhões em cerca de dez futuras emissões que estão em diferentes estágios", acrescenta.

POUCA NEGOCIAÇÃO
Em outra aproximação de empresas médias, a BRZ iniciou a captação de um novo fundo de "small caps" (companhias menores, pouco negociadas). Muitas estão com preço inferior ao do IPO.

"Nosso diferencial é o acompanhamento da gestão junto com a companhia, um trabalho de private equity, com companhias listadas."

DE OLHO NA CHINA
A CNI (Confederação Nacional da Indústria) vai encaminhar ao governo brasileiro um documento com recomendações, como acordos tributários, com o objetivo de reduzir obstáculos nas relações entre o Brasil e a China.

"Com o crescimento do consumo interno na China, a indústria brasileira precisa ter uma visão mais ofensiva de buscar o mercado chinês como destino das exportações", diz Fabrizio Panzini, especialista da CNI.

A ideia é fornecer subsídios para o encontro da Cosban (Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível), marcado para novembro no país asiático.

Planos de previdência se recuperam em agosto
Os fundos de previdência privada reverteram o resultado negativo de julho, mês em que o volume de resgates superou o de arrecadações em R$ 396 milhões.

Em agosto, os ingressos foram maiores em R$ 795 milhões, de acordo com dados da FenaPrevi (Federação Nacional de Previdência Privada e Vida).

A recuperação é consequência de uma compreensão, por parte de investidores, da política de juros adotada pelo governo, segundo o presidente da entidade, Osvaldo Nascimento.

"Agora, o combate à inflação está delineado", afirma.

Ainda em agosto, o sistema de previdência aberta registrou o ingresso de R$ 4,3 bilhões -expansão de 14,52% ante julho.

Os planos individuais foram os responsáveis pela alta, com a arrecadação de cerca de R$ 3,8 bilhões e crescimento de 19,43%.

Os planos empresariais, por sua vez, contabilizaram R$ 446,8 milhões. O número é 11% menor que o registrado no mês de julho.

No acumulado de janeiro a agosto, a previdência aberta registrou R$ 46,8 bilhões em ingressos, volume 7,43% maior que o verificado no mesmo período de 2012.

Nova lei de terceirização dará segurança, dizem advogados
O projeto de lei que regulamenta a terceirização, em tramitação na Câmara, deverá dar mais segurança jurídica para empresas e contratados, na opinião de especialistas.

Um dos pontos mais discutidos é o que libera a contratação de terceirizados para qualquer função nas empresas.

Hoje, as companhias podem terceirizar mão de obra apenas para a chamada atividade meio -uma súmula do TST (Tribunal Superior do Trabalho) veta no caso da tarefa principal (atividade fim).

"Mas nem o TST tem um parâmetro objetivo para identificar o que é uma atividade meio ou fim", diz o advogado Fabrício Trindade de Sousa, do escritório Mattos Filho.

"O projeto tem o lado positivo de estabelecer parâmetros que não existem hoje na terceirização", afirma Renato Canizares, do Demarest.

A CUT, no entanto, afirma que, se for aprovada, a proposta vai "precarizar" as relações de trabalho.

"O que se quer fazer é uma reforma trabalhista às avessas. Se houver tentativa de votar esse projeto nocivo, a CUT vai para um novo enfrentamento", diz o presidente da entidade, Vagner Freitas.

A associação de magistrados da Justiça do Trabalho também é contra.

"Vai institucionalizar a precarização da mão de obra", afirma a presidente, Patricia Almeida Ramos.

METAL APROVEITADO
A Fiat economizou R$ 44 milhões e cerca de 26 mil toneladas de minério de ferro em 15 anos com o reaproveitamento de retalhos de aço na fábrica de Betim (MG).

Vinte mil toneladas do metal foram aplicadas na produção de partes menores de veículos, segundo a empresa.

A GM afirma que obtém, em média, R$ 52 milhões por ano com a venda dos retalhos de aço de suas cinco fábricas.

ALUGUEL ESTÁVEL
O preço dos contratos novos de aluguel residencial na cidade de São Paulo se manteve estável em setembro, com variação de 0,2% com relação a agosto deste ano, segundo o Secovi-SP (sindicato da habitação).

No acumulado de 12 meses, o incremento foi de 9,9%, bem superior aos 4,4% do IGP-M (Índice Geral de Preços - Mercado), que rege o reajuste de grande parte dos contratos em andamento.

"Com a queda do índice e a alta da inflação, aumentou o descolamento entre o IGP-M e a locação", diz Mark Turnbull, diretor da entidade.

"Os proprietários começaram a embutir a inflação no valor dos aluguéis para se protegerem", diz.

O cenário deve se manter estável até o fim deste ano.

Presente de Natal A contratação de serviços de escolta armada em São Paulo deve crescer 8% no fim deste ano, segundo a Sesvesp (sindicato da segurança privada). Em 2012, o aumento foi de 6%.

Segurança futura O mercado de seguros poderá representar 7% do PIB nacional em 2025, segundo a CNseg (Confederação Nacional de Seguradoras). A arrecadação projetada é de R$ 768 bilhões.

O Brasil estragou tudo - MARCOS CINTRA

FOLHA DE SP - 21/10

O governo gerou insegurança para os investidores ao intervir na economia de modo desorganizado e com total viés político


A revista "The Economist" estampou na capa de sua edição de novembro de 2009 o título "O Brasil decola" junto com a imagem do Cristo Redentor levantando voo.

Dizia que o crescimento da economia brasileira de 5% ao ano iria acelerar com as novas reservas de petróleo. Foi um momento de êxtase para os festivos tupiniquins.

Quatro anos depois, a "The Economist" voltou a retratar a economia brasileira. A edição de setembro de 2013 traz de novo a imagem do Cristo Redentor, só que desta vez ele rodopia e imbica rumo à baia da Guanabara. O título pergunta: "O Brasil estragou tudo?" e a reportagem diz que o crescimento econômico está travado. O êxtase de 2009 se transformou em vergonha.

Nos últimos dois anos, a revista britânica já vinha adotando um tom mais cauteloso. Classificou de medíocre o crescimento do Brasil e listou como motivos os elevados custos para fazer negócios, os riscos políticos e o protecionismo na exploração do petróleo.

As duas edições espelham a realidade. O país cresceu, em média, 4,8% anuais entre 2004 e 2008. Nos quatro anos seguintes, essa média caiu para 2,7%. Neste ano, deve ficar em torno de 2,4%.

A bonança da economia brasileira entre 2004 e 2008 ocorreu pela valorização de produtos importantes na pauta de exportações do país, como soja e minério de ferro, e pelo vigor do consumo doméstico.

Tudo ia de vento em popa e ao governo cabia aproveitar o momento e promover ajustes para a economia continuar crescendo de modo sustentável. Porém, o PT falhou ao preferir curtir a popularidade em alta.

Quando a economia ia bem, seria a hora de investir em uma reforma tributária simplificadora, nos moldes do Imposto Único, que está parado no Congresso há 11 anos, visando reduzir custos dos negócios. Apenas para cumprir a burocrática legislação fiscal no país, as empresas gastam R$ 35 bilhões por ano.

Outra reforma que poderia ter avançado é a política, tendo como diretrizes dar fim aos políticos profissionais e desmantelar as organizações criminosas incrustadas no governo. Assim, poder-se-ia combater a endemia da corrupção, que impõe elevados custos aos negócios.

Além de não ter feito as reformas estruturais, o governo gerou insegurança para os investidores ao intervir na economia de modo desorganizado e com total viés político.

A Petrobras, por exemplo, foi fragilizada por decisões tomadas nos gabinetes políticos, com os aspectos econômicos deixados de lado. O mesmo acontece com os setores elétrico, sucroalcooleiro e outros.

Outro aspecto é a ineficácia nas ações para expansão e manutenção da infraestrutura. Segundo a "The Economist", o país gasta apenas 1,5% do PIB nessa área, enquanto a média global é de 3,8%. As concessões do atual governo foram marcadas por fracassos e resultados pífios, como, por exemplo, os recentes leilões de rodovias.

Resultado ruim também ocorreu no leilão do campo de Libra, do pré-sal. O governo não consegue adotar um modelo de exploração de petróleo capaz de transformar esse recurso em riqueza. Gigantes como Exxon e Chevron ficaram de fora, provavelmente porque enxergaram riscos em colocar bilhões em um país cujo governo adota uma política errática e onde as regras podem mudar de uma hora para a outra.

O governo falhou em várias frentes, e o crescimento minguou. O ponto a ser contestado na matéria da "The Economist" é que o questionamento se o Brasil estragou tudo deveria ser corrigido para uma afirmação categórica dizendo que, de fato, o governo estragou tudo.

Parou por quê? Por que parou? - LUÍS EDUARDO ASSIS

O Estado de S.Paulo - 21/10

Enquanto a economia brasileira caminha lentamente, a produção industrial está parada. Medida pela média móvel de 12 meses, a indústria de transformação está atualmente no nível alcançado em maio de 2010. No biênio 2011-2012, a produção industrial caiu 2,4%, queda que não será compensada pelo tímido crescimento econômico estimado para 2013, algo como 1,5%. Isso contrasta com vários outros indicadores de atividade que sugerem um quadro menos desolador. O volume de vendas no comércio, por exemplo, cresceu 18,1% no mesmo período.

A explicação para essa discrepância remete à reação do governo à crise de 2008. O estímulo ao consumo elevou a demanda por produtos e serviços. Estes últimos não enfrentaram, por sua própria natureza, a concorrência da importação, do que decorreu uma aceleração de preços e salários, que subiram de forma generalizada, já que os operários também podem oferecer seus préstimos ao setor de serviços. Entre julho de 2010 e julho de 2013, os salários reais na indústria de transformação aumentaram 12,2%, a despeito da estagnação da produção. Como se não bastasse, a indústria foi presa fácil das importações, extremamente favorecidas pela valorização cambial. Apenas no período 2010-2012 as importações de bens duráveis cresceram 91,4% em dólares e 92% em reais.

O resultado é paradoxal. De um lado, o emprego continua com indicadores favoráveis, influenciando positivamente a renda. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE, detectou um aumento no rendimento médio real das pessoas ocupadas de 14,3% entre 2009 e 2012, sendo 5,8% no ano passado, quando o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu quase nada. Por outro lado, o estrangulamento da indústria inibiu novos investimentos (a produção de bens de capital recuou quase 12% no ano passado), o que compromete a aceleração da economia.

Crescimento medíocre com baixo desemprego pode ser uma combinação adequada para um país rico. Entre 1990 e 2012, o Japão registrou uma taxa de crescimento médio anual de apenas 0,92%, mas a renda per capita japonesa em 1990 era aproximadamente o triplo da renda média brasileira atualmente (que, é bom lembrar, está 30% abaixo da mexicana). Não, não chegamos lá e é muito cedo para parar.

A reação do governo brasileiro a essa armadilha é canhestra. Diante do diagnóstico de que só a retomada dos investimentos pode impulsionar a economia, resolveu-se promover cortes de juros, aumento do crédito público e desonerações tributárias seletivas. Mas nada disso funciona quando os investimentos são inibidos pela combinação de condições estruturalmente adversas e falta de confiança nos rumos da política econômica. Esta última questão é fundamental.

Quando tentamos estacionar o carro e somos orientados por um flanelinha, seguimos as orientações deste prestativo desconhecido por três razões. Em primeiro lugar, porque acreditamos que ele tem um ângulo de visão que lhe dá acesso a mais informações do que nós temos. Em segundo, porque assumimos que ele tem um objetivo claro, que é o de morder uma gorjeta. Por último, acreditamos que ele se comportará de forma racional e agirá de acordo com seus próprios interesses, ou seja, não cogitamos de que ele possa nos dar informações incompletas, ambíguas ou falsas. Nada disso ocorre quando o governo tenta induzir os empresários a realizarem maiores investimentos. Nenhum empresário do setor industrial consegue enxergar uma estratégia clara na política econômica. Enquanto durar o paradoxo entre a estagnação na produção, que acicata as empresas, e um alto nível de emprego, que adoça os eleitores, não se configura nem premência nem urgência para uma alteração da estratégia.

Num texto clássico (Risk,Uncertainty and Profit, 1921), Frank Knight distinguiu os conceitos de risco e incerteza. Enquanto o primeiro pode ser mensurável por meio de uma função probabilística que pode aferir o risco do pior cenário, o segundo remete ao terreno do imponderável, em que a confiança e o otimismo jogam papel determinante. Neste cenário, como mostram R. Schiller e G. Akerlof em obra recente (Animal Spirits, 2009), a boa-fé é absolutamente fundamental. Mas aqui a vida é muito difícil. Na Carta ao Povo Brasileiro, de junho de 2002, o então candidato Lula mencionava duas vezes o compromisso do governo em cumprir contratos, algo elementar para sinalizar um mínimo de estabilidade institucional. Em setembro de 2013, a presidente Dilma Rousseff foi constrangida a repetir a mesmíssima promessa em apresentação feita em Nova York. Que o governo tenha de reiterar essa platitude tanto tempo depois é evidência suficiente de que há dúvidas - e, se há dúvidas, temos problemas.

O quadro eleitoral que se desenha para 2014 não oferece maior consolo. O manifesto do partido de Eduardo Campos e Marina Silva registra, no seu item VII, sem nenhuma cerimônia, que seu objetivo é "a gradual e progressiva socialização dos meios de produção", o que, convenhamos, é menos que estimulante para os investimentos privados. Pode-se argumentar, com razão, que o Partido Socialista Brasileiro, sendo brasileiro, não é um partido socialista de verdade e que o que está escrito não vale. Mas isso tampouco inspira confiança.

Diante das dificuldades objetivas que estrangulam o crescimento e da falta de um ambiente institucional que sugira estabilidade de regras, o governo tem ainda a chance de avançar nas concessões de serviços públicos e gerar um choque de produtividade e credibilidade. Não é fácil nem simples. É preciso vencer o preconceito e aceitar que o lucro não conspurca. Se o governo conseguir dar esse passo e avançar numa sequência exitosa de leilões, poderemos despertar os ânimos dos empreendedores. Do contrário, vamos vagar no escuro, em círculos.