segunda-feira, outubro 21, 2013

Bomba-relógio - EDITORIAL ZERO HORA

ZERO HORA - 21/10

Até a presidente Graça Foster reconhece que a Petrobras está saindo de uma história de percalços. A bomba-relógio da inoperância e da apropriação indébita precisa ser desarmada.


Mesmo que seja bem-sucedido, supere os obstáculos político-corporativistas e alcance os preços desejados pelo governo, o leilão da área de Libra, o primeiro do pré-sal, é apenas um alento na equivocada administração da Petrobras. Por conta da estratégia suicida de subsidiar o preço dos combustíveis, o governo levou a maior empresa do país a uma situação de alto risco, com prejuízos enormes para os investidores e falta de recursos para a exploração por conta própria das reservas recém descobertas. A companhia vem perdendo valor de mercado, teve suas ações rebaixadas por agências internacionais de risco e acaba de ser considerada uma “bomba-relógio” em reportagem do respeitado jornal Financial Times.
Lembra a publicação britânica que a estatal de energia do Brasil “já foi vista como capaz de se tornar uma potência global do petróleo, graças às suas vastas reservas offshore, mas os subsídios para a gasolina comprometeram suas ambições”. A véspera do ano eleitoral agrava ainda mais esse risco, pois o governo teme os prejuízos políticos e os efeitos inflacionários de um reajuste que parece cada vez mais inevitável, na medida em que a frota de veículos e o consumo de combustíveis aumentam de maneira geométrica. Diante da escalada do dólar, a situação da Petrobras torna-se a cada dia mais insustentável. Desde janeiro de 2011, segundo o jornal, a divisão de refinamento da Petrobras teve perdas de R$ 39,7 bilhões, o equivalente ao PIB de Honduras.
Apesar do aparelhamento e de operações reconhecidamente desastradas, como a compra da refinaria de Pasadena com sobrepreço estratosférico, a Petrobras continua sendo uma empresa sólida e promissora. A própria presidente da estatal, Graça Foster, reconhece que a Petrobras está saindo de uma história de percalços que precisa “ser aprendida e não repetida”. O leilão de hoje, mantido com firmeza diante das pressões corporativas e das tentativas de ressurreição de um nacionalismo anacrônico, indica que o governo está disposto a corrigir os desvios de rumo da maior empresa do país.
As riquezas do pré-sal só reverterão em benefício de todos os brasileiros se a Petrobras for administrada com eficiência, sem concessões aos interesses políticos de sindicatos, corporações e partidos que pretendem se eternizar no poder. A bomba-relógio da inoperância e da apropriação indébita precisa ser desarmada para que o país possa efetivamente usar o petróleo como combustível para o seu desenvolvimento e para o bem-estar de sua população. O reconhecimento de que a estatal não tem condições de ser a operadora única do pré-sal, representado pelo atual sistema de partilha, é um passo importante para a superação da arrogância responsável pelos recentes equívocos administrativos.
Resta esperar que o ano eleitoral e a ganância pelo poder não comprometam o desarme da bomba.

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