segunda-feira, setembro 06, 2010

RUY CASTRO

200 voos depois 
Ruy Castro
FOLHA DE SÃO PAULO - 06/09/10


Tinha de acontecer. Fui parado na esteira de raios X do Aeroporto Santos Dumont por estar 'portando' na bagagem de mão um objeto perfurocortante. Ordens da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil).
Quando a encarregada da esteira perguntou sobre o canivete que eu estaria 'portando', embatuquei. Não sou de canivetes, nunca quis sequer ter um daqueles suíços, com 88 lâminas, uma delas para os cabelinhos do nariz. Mas fiz um rápido exercício intelectual e concluí que se tratava de meu cortador de unhas, o popular 'trim', comprado num camelô do Catete, em 1991, juntamente a um pente Flamengo e meia dúzia de pilhas do gato.
Expliquei à madame que o objeto dentro da 'nécessaire' era um singelo trim, mas ela exigiu ver. E, no que viu, concluiu que, com sua lima serrilhada para lixar as unhas, eu poderia render o comandante e obrigá-lo a jogar o avião da ponte aérea contra a estátua do Borba Gato, em São Paulo. Opções: eu teria de voltar ao balcão e despachar o trim, ou descartá-lo numa caixa para tal fim. Por preguiça de descer ao saguão, optei pelo descarte – não sem antes me despedir do instrumento que, por quase 20 anos, me cortara fielmente as unhas, inclusive as da mão direita. E embarquei.
Mal sabe a Anac que, na mesma bolsa, passou incólume um exemplar de 'Madame Bovary', que, em 1857, virou a cabeça das mulheres malcasadas e levou seu autor, Flaubert, ao banco dos réus. Na própria 'nécessaire', havia um pequeno frasco com seiva de alfazema pós-barba, potencialmente mais perigosa que o trim – o aroma é considerado sedutor e hipnotizante.
Desde que a Anac impôs essas normas de segurança, na sequência dos atentados do 11 de Setembro em Nova York, o trim já entrara comigo, impunemente, em quase 200 voos. Era fatal que, um dia, fosse descoberto, capturado e tivesse seu perigo neutralizado.

SERRA PRESIDENTE

MÔNICA BERGAMO

AVISO AOS NAVEGANTES 
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SÃO PAULO - 06/09/10


O cantor Lulu Santos lança em outubro o DVD "Lulu Santos - Acústico MTV II"; o show será exibido pela emissora no dia 25; no repertório, músicas como "E Tudo Mais", "Vale de Lágrimas" e "Adivinha o Quê?", com participação da cantora Marina de la Riva 

JABULANIS DE 2014 

Mesmo faltando ainda quatro anos para a Copa de 2014, artistas das mais variadas vertentes já estão se apresentando para tentar emplacar o design da bola oficial do Mundial, que sucederá a inesquecível Jabulani sul-africana. O diretor Jayme Monjardim, da TV Globo, procurou o ministro do Esporte, Orlando Silva, para apresentar sugestões. Ele quer que a pelota tenha o desenho inspirado no calçadão de Copacabana. O artista plástico Romero Britto também já ofereceu seus préstimos ao governo. 

GINCANA 
O PV decidiu focar em 17 cidades a agenda da presidenciável Marina Silva no último mês de campanha. O partido vai priorizar os locais onde, segundo pesquisas internas, ela tem mais possibilidade de crescimento nas intenções de voto. São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Porto Alegre e Curitiba puxam a lista de capitais. No Rio, onde fará quatro visitas, o roteiro inclui Caxias e Nova Iguaçu. 

LIGA DAS NAÇÕES 
E o partido quer marcar para o dia 23 um encontro de Marina com lideranças dos PVs mundo afora. Tenta trazer a francesa Catherine Greeze, do Parlamento Europeu, o colombiano Antanas Mockus, que disputou neste ano a Presidência do país, e dois senadores recém-eleitos na Austrália. 

CONTO DE FADAS 
A princesa Marie, da Dinamarca, vai visitar e doar brinquedos para a Fundação Dorina Nowill para Cegos, em São Paulo, no dia 13. 

TERRA ESTRANGEIRA 
A revista "Time Out", que tem versões com roteiros de mais de 30 cidades do mundo, terá edições mensais sobre São Paulo e o Rio de Janeiro. Elas serão produzidas e vendidas no Brasil, mas sairão só em inglês, voltadas para turistas estrangeiros. A edição paulistana começa a circular em novembro, e a do Rio, no Carnaval de 2011. 

MAR DE ARROZ 
Luciana Faria, neta do banqueiro Aloysio Faria e sócia da Thelure, marcou para o dia 14 de maio de 2011 o seu casamento com Gabriel Belli. "Não imagino uma cerimônia para menos de 800 pessoas", diz ela, que deseja fazer a festa em Ilhabela. O noivado, no mês passado, reuniu 250 amigos e familiares. 

PIERRÔS 
Alexandre Accioly, Luis Calainho e Ricardo Amaral escolheram o Píer Mauá, na zona portuária do Rio, para abrigar os bailes de Carnaval que o trio realizará no ano que vem. A ideia dos empresários é promover no local, ao longo dos quatro dias de folia, festas à fantasia. 

EM TODAS 
O estilista Alexandre Herchcovitch, consultor de estilo da presidenciável Dilma Rousseff (PT), vai assinar o figurino da nova coreografia do Balé da Cidade de São Paulo. O espetáculo, ainda sem nome e de autoria do grego Andonis Foniadakis, marcará a volta da companhia ao Teatro Municipal, no dia 21 de abril de 2011. 

O NETO DE FRANCISCO 

Filho caçula de Zezé Di Camargo, Igor Camargo começou a discotecar aos 14 anos. Hoje, aos 16, é DJ profissional e costuma se apresentar aos sábados no restaurante Shaya, de seu cunhado Marcus Buaiz, no Itaim Bibi. 



Igor conta que gosta de tocar os estilos "house, deep e lounge music" e que tem como influência em sua carreira os trabalhos do DJ alemão Phonique e do brasileiro Gui Boratto. 

DINOSSAURO NO TEATRO 

O ator Marco Nanini recebeu amigos para a estreia da peça "Pterodátilos", dirigida por Felipe Hirsch. Ele divide o palco com Mariana Lima, Álamo Facó e Felipe Abib. O espetáculo está em cartaz no Rio de Janeiro. 

CURTO-CIRCUITO 

Marcelo Sommer e Pedro Beck são os DJs da festa Rendezvous, hoje, a partir da meia-noite, no clube Glória. Classificação etária: 18 anos. 

Arlindo Cruz apresenta o show "Arlindo Cruz MTV ao Vivo" na sexta, às 22h, no Citibank Hall. Classificação etária: 16 anos. 

A banda Serial Funkers faz show hoje, às 23h30, no Rey Castro. Classificação: 18 anos. Tomás Biagi Carvalho lança a terceira edição do fanzine "Amarello", na quarta, das 18h às 22h, na loja Isabela Capeto da rua da Consolação. 

Antonia Adnet lança seu primeiro disco, "Discreta", com show no Ao Vivo Music no dia 15, às 22h30. Classificação etária: 18 anos. 

A Orquestra Imperial faz show na quarta, às 21h, no Teatro Rival, no Rio. 16 anos. 

com DIÓGENES CAMPANHA (interino), LEANDRO NOMURA e LÍGIA MESQUITA

GOSTOSA

CARLOS ALBERTO DI FRANCO

Ameaças à democracia
Carlos Alberto di Franco 
O Estado de S.Paulo - 06/09/10



Em 1964, sob o pretexto de preservar a democracia, ameaçada por um presidente da República manipulado pelo radicalismo das esquerdas, os militares tomaram o poder. E o que se anunciava como intervenção transitória, com ânimo de devolver o poder aos civis, se transformou no pesadelo da ditadura. A imprensa foi amordaçada. Lideranças foram suprimidas. Muitas injustiças foram cometidas em nome da democracia. Lembro-me da decepção de um primo-irmão de minha mãe, o professor Antônio Barros de Ulhôa Cintra, ex-reitor da Universidade de São Paulo e ex-secretário da Educação do Estado. Seu espírito liberal e independente, incompatível com a mentalidade de pensamento único que então prevalecia, provocou a ira dos donos do poder. Como ele, inúmeros brasileiros, cultos e intelectualmente inquietos escorregaram para o limbo do regime que via comunista em todo canto. Resistiram empunhando as armas da inteligência e da autoridade moral que não cede à sedução do poder.

O que se viu no transe da ditadura foi o germinar de duas tendências opostas: liberdade versus autoritarismo. Os democratas, como Tancredo Neves e Ulysses Guimarães, entre outros, partiram para luta contra a ditadura, mas sempre apontando para o horizonte de um regime aberto. Outros, como Dilma Rousseff e Franklin Martins, partiram para a clandestinidade. Passaram-se muitos anos. A guerrilha foi substituída pelos ensinamentos de Gramsci, pela força do marketing político e pela manipulação populista das massas desvalidas. Mas a alma continua a mesma: autoritária. A hipótese de que caminhamos para uma aventura antidemocrática não se apoia apenas na intuição e na experiência da História. Ela está gritando na força inequívoca dos fatos. Vamos lá, caro leitor.

Em discurso, ao lado do presidente Lula, o ministro Franklin Martins criticou a imprensa e disse que os jornais e as emissoras de TV vão perder o controle sobre as notícias levadas à opinião pública. Eles participaram do lançamento da TVT, do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Franklin disse que o canal ajudará a internet a quebrar o poder dos "aquários", jargão que identifica a chefia das redações dos grandes jornais. "Isso é uma revolução e incomoda muita gente que ficava no Olimpo. Mas é irreversível, e está apenas começando." O inimigo é claro e declarado: a imprensa independente. A mesma que combateu a ditadura militar e que se opõe, e se oporá sempre, aos novos ímpetos autoritários que se vislumbram no horizonte pós-eleitoral.

O projeto de controle das comunicações e das liberdades públicas não é uma possibilidade. É uma estratégia em clara implantação. O respeitado especialista Ethevaldo Siqueira, em artigo no jornal O Estado de S. Paulo, fez uma impressionante radiografia do avanço controlador. "O PT não quer simplesmente continuar, mas se prepara para aprofundar o aparelhamento do Estado na área das comunicações. Ao longo de quase oito anos, o partido ocupou quase todos os espaços de poder na área de comunicações", diz Siqueira. O governo Lula esvaziou e desprofissionalizou as agências reguladoras, concentrou seus esforços na formulação do Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) e na recriação da Telebrás. "Criou a Empresa Brasileira de Comunicações (TV Brasil) e passou a cuidar quase secretamente da questão da banda larga e da Telebrás." A estratégia petista de poder consiste em aprofundar o aparelhamento e a ocupação total do precioso território estatal das comunicações, conclui Siqueira.

A tomada das comunicações, clara, aberta e despudorada, é mais um capítulo, mas não encerra os procedimentos previstos no manual de instruções antidemocrático. Assistimos, atônitos, à transformação de instituições da República em autênticas estruturas de coordenação de ações criminosas. É o caso da violação do sigilo fiscal de pessoas ligadas ao PSDB. Reportagem dos jornalistas Leandro Colon e Rui Nogueira, ambos da sucursal de Brasília do Estadão, revelou que, além de Eduardo Jorge Caldas Pereira, mais três pessoas ligadas ao PSDB tiveram seu sigilo fiscal violado. Parte dessas informações, aquela relativa a Eduardo Jorge, foi parar nas mãos de setores petistas e, de lá, na redação do jornal Folha de S.Paulo, que divulgou a história. Trata-se da instalação do clima de insegurança institucional. Ninguém está livre do assalto à cidadania.

Por incrível que pareça, Eduardo Jorge só teve acesso às investigações da Receita graças a uma decisão judicial. E aí ficou muito claro que as quebras de sigilo não foram fatos isolados, mas parte de um esquema. Com a bomba no colo, o governo partiu para um gesto teatral: a entrevista concedida às pressas pelo chefe da Receita Federal. Foi patética. Tudo não teria passado de um esquema de propina na delegacia da Receita em Mauá. É a versão atualizada do caso dos aloprados. A explicação da Receita, embora carregada de nonsense, só ocorreu por uma razão: a pressão incontornável da verdade informativa. É isso que incomoda. É isso que se quer controlar. Algemada a imprensa, sucumbe a liberdade e morre a cidadania. Controle das comunicações, cerco à imprensa independente, aparelhamento das instituições. Delírio persecutório? Não. Fatos. Só fatos.

É sombrio o horizonte da democracia brasileira. Agora, com a economia turbinada, tudo é festa e a capacidade crítica se esvai. Mas um país com imprensa ameaçada, oposição esfacelada, instituições aparelhadas, comunicação controlada e sob o efeito de um crescente populismo assistencialista é tudo menos uma democracia. Escarmentemos no exemplo venezuelano. Cabe-nos resistir, como no passado, com as armas do profissionalismo, da ética inegociável e da defesa da liberdade.

A democracia pode cambalear, mas sempre prevalece.

DOUTOR EM COMUNICAÇÃO, É PROFESSOR DE ÉTICA E DIRETOR DO MASTER EM JORNALISMO

GABRIELA GRASSI QUARTUCCI e GUARITÁ BENTO

Terras: falta o governo se definir
GABRIELA GRASSI QUARTUCCI 
GUARITÁ BENTO

O GLOBO - 06/09/10

Mês passado a Corregedoria do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) recomendou aos Cartórios de Registro de Imóveis e aos Tabelionatos de Notas que passem a informar às Corregedorias dosTribunais de Justiça todas as compras de terras rurais por empresas brasileiras controladas por estrangeiros (pessoas físicas ou jurídicas), conforme a Lei n° 5.709/71.

Essa lei regula a aquisição de imóvel rural por estrangeiro residente no país, ou pessoa jurídica estrangeira autorizada a funcionar no Brasil, ficando também sujeita ao regime da lei a pessoa jurídica brasileira — da qual participem pessoas estrangeiras físicas ou jurídicas, que tenham a maioria do seu capital social e residam ou tenham sede no exterior. A lei não proíbe que pessoas, numa dessas situações, se tornem proprietárias de imóvel rural, mas impõe requisitos. Por exemplo, limitação de tamanho de propriedade naquele local, comunicação posterior ou autorização prévia.

A Constituição, em seu artigo 171, distinguia a empresa brasileira (constituída sob as leis brasileiras e com sede e administração no Brasil), da empresa brasileira de capital nacional, cujo controle estivesse sob a titularidade de pessoa domiciliada e residente no Brasil.

Contudo, a Emenda Constitucional n° 06/95 revogou esse dispositivo.

A partir daí, a Advocacia-Geral da União emitiu parecer concluindo que a Constituição de 1988 não recepcionou a Lei de 1971 e que, portanto, não havia diferença de tratamento entre empresa brasileira com capital nacional e empresa brasileira com capital estrangeiro, liberando a aquisição de terras por empresas brasileiras com participação estrangeira.

A recente recomendação do CNJ adveio de um pedido da Procuradoria Regional da República — Coordenadoria do GT Bens Públicos e Desapropriação, que defende o contrário. Para tanto, alegou a Procuradoria Regional da República que a AGU revisou seu posicionamento através de um Parecer da Consultoria-Geral (CGU/AGU001-RVJ, de 03/09/2008, no sentido da recepção da Lei no5.709 pela Constituição Federal, seja em sua redação originária, seja após a promulgação da EC n° 06/95). Esse parecer foi formalmente aprovado pela AGU (15 de outubro de 2009), mas ainda não foi aprovado pelo presidente da República, conforme determina a legislação, para que revogue o parecer anterior e produza efeitos vinculantes.

Mais: a Procuradoria sustenta que os efeitos vinculantes do ainda vigente Parecer (AGU/GQ n° 181/1997) se restringem à administração pública, mas não se estendem aos serviços registrais e notariais, razão pela qual devem os registradores manter em cadastro especial, em livro auxiliar, as aquisições de terras rurais por pessoas estrangeiras, físicas ou jurídicas.

Mesmo sem essa aprovação presidencial, o CNJ acolheu o pedido da Procuradoria e expediu a recomendação.

E determinou que as Corregedorias locais deverão promover em 60 dias a adaptação de suas normas.

Mais do que uma discussão no âmbito jurídico, esse tema tem cunho político e a manifestação do governo federal sobre o assunto está sendo aguardada com grande expectativa.

PENEIRA

CARLOS ALBERTO SARDENBERG

É que 2011 é diferente de 2010
Carlos Alberto Sardenberg 
O Estado de S.Paulo - 06/09/10



Então, ficamos assim: a economia brasileira cresceu mais do que se imaginava no segundo trimestre e deve estar acelerando neste segundo semestre, de modo a terminar o ano em ritmo forte. A inflação, que andou alta no início do ano, zerou nos últimos meses, mas parece que já está voltando, e provavelmente rodará acima do centro da meta pelos próximos meses, aí incluídos os de 2011.

Lá fora, a economia norte-americana, que parecia em sustentada recuperação, deu vários sinais de que era bem essa moleza. Mas, depois de uma sequência de notícias negativas, até dando a impressão de que os Estados Unidos estavam perto de recair na recessão, os indicadores deram uma melhorada. Nada brilhante, mas ficamos assim: está mais para recuperação do que para recaída.

Acrescente aí que a China, que havia desacelerado no segundo trimestre, esquentou os motores de novo. A Europa, puxada pela Alemanha, deixa para trás a parte aguda da crise das contas públicas e esboça algum crescimento. O Japão, acreditem, vai crescer mais do que o esperado. Não é grande coisa, pois não se esperava muito, mas é melhor do que antes.

E os países emergentes seguem acelerando.

Tudo somado e subtraído, a questão é: o Banco Central (BC) brasileiro fez a coisa certa ao interromper o ciclo de alta de juros, deixando a taxa básica em 10,75% ao ano?

A resposta não é simples. A maioria dos analistas acredita que sim ou, mais exatamente, entende que o BC tem argumentos para fazer o que fez.

Mas, entre esses mesmos analistas, muitos - a maioria - entendem que o BC terá de voltar a elevar os juros no ano que vem, pois, sob novas pressões, a inflação rodará acima do centro da meta (4,5%). Ora, se isso já está no cenário, por que não elevar a taxa básica desde já e garantir uma convergência para os 4,5% o quanto antes?

É o argumento de muitos economistas, para os quais o Banco Central deveria ter promovido mais uma alta de juros na última reunião, na semana passada.

Mas há ainda uma outra corrente, para a qual a economia brasileira passa por mudanças estruturais, de tal forma que pode crescer mais do que no passado, com taxas de juros menores e, claro, inflação na meta. Isso, entretanto, é uma suposição.

Tudo considerado, parece que o Banco Central correu um risco forte. Parou de subir juros com base em hipóteses arriscadas, quando, normalmente, o BC tendia a ser mais conservador e precavido. O jogo teria sido este: se as hipóteses não se confirmarem, a inflação escapa só um pouco da meta, e sempre haverá tempo, em 2011, para corrigir as coisas.

É claro, caro leitor, cara leitora, que não é necessário dizer qual a diferença entre 2010 e 2011.

"Pagamos mais caro. E agora?" Seguimos com a série iniciada no artigo de 23/8/2010, que mostra o quanto os brasileiros pagam mais caro pelos produtos globais e que procura saber por que isso ocorre.

Há muitas colaborações de leitores e leitoras.

A jornalista Daniela Braun me manda este comparativo dos preços sugeridos pela Apple no lançamento recente de novos produtos:

iPod Touch: de 8GB (nos Estados Unidos, US$ 229; no Brasil, R$ 749 ou US$ 430). De 32GB (nos Estados Unidos, US$ 299; no Brasil, R$ 999). De 64GB (US$ 399 lá e, aqui, R$ 1.290);

iPod nano: de 8GB (nos Estados Unidos, US$ 149; no Brasil, R$ 549). De 16GB (US$ 179 lá; aqui, R$ 649).

iPod Shuffle, o "chaveirinho": US$ 49, nos Estados Unidos; no Brasil, R$ 229.

Fazendo o câmbio a US$ 1/R$ 1,75, o preço equivalente no Brasil é, na média, o dobro do norte-americano.

Certamente, o real está valorizado, mas isso não explica tudo. Para que os preços brasileiros, convertidos em dólar, ficassem iguais aos dos Estados Unidos, a moeda americana deveria estar cotada a algo entre R$ 3,20 e R$ 3,60. E nem os mais radicais defensores da desvalorização do real sugerem uma cotação desse tipo.

Ou seja, tem muito custo Brasil além do câmbio.

O leitor Mauricio Correa escreve: "Há uma nova forma de comercialização implementada pela Apple/Brasil em sua vitrine online (Apple Store). Anuncia os produtos destacando quanto há de impostos no valor cobrado. Exemplo de uma oferta do Site: um iPod nano de 8GB, lançado esta semana, é cotado por R$ 549, destacando que esse preço está incluindo R$ 197 de impostos e taxas. Bem que essa prática poderia chegar a todas as tabelas de preços. Para ficar perfeito, a Apple/Brasil, que oferta esse produto com a possibilidade de pagamento em 12 vezes, sem juros (?), no cartão de crédito, poderia destacar também o custo financeiro desse parcelamento."

Um excelente ponto. Tudo é mais caro por aqui, inclusive os juros. Estes pressionam o custo Brasil, mas, ao mesmo tempo, são efeito dele.

O leitor Fernando F. Vilibor mostra o problema e como o tem superado. Escreve: "Comprei uma peça para a minha bicicleta num site nos Estados Unidos, pelo preço equivalente a R$ 360 lá. A mesma peça aqui, no Brasil, custa R$ 1.100. E, pagando todos os impostos de importação (60%, mais ICMS de 18%, por dentro, e frete), o custo final ficou em R$ 765,44. Assim: preço free on board (FOB), R$ 360; mais Imposto de Importação (60%), R$ 216; mais base para ICMS, R$ 576; mais ICMS (18%), R$ 702,44; mais frete de R$ 63 totalizam R$ 765,44, o custo nos Estados Unidos. Como no Brasil a mesma peça sai por R$ 1.100, trata-se de uma variação de custo de 43,71%. E quer saber mais? Comprei numa segunda-feira à tarde e na quinta-feira pela manhã estavam entregando a peça na minha casa. E depois reclamam que os brasileiros vão ao exterior e compram tudo o que podem e não podem."

SENADOR JOSÉ AGRIPINO

RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA

Cozinhando o feijão
RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 06/09/10 

Dois novos ingredientes estimulam o PSDB a insistir na tentativa de levar à Justiça Eleitoral o caso da quebra de sigilo fiscal de pessoas ligadas a José Serra: a descoberta da filiação ao PT de dois personagens da violação e a suspeita de queima de arquivo na sede do diretório petista em Mauá (SP). 
Em uma das representações que protocolará hoje no Ministério Público, a coligação tucana argumentará que já existem indícios de que o vazamento de dados na Receita Federal transcende o limite dos crimes comuns, afeta o equilíbrio na corrida presidencial e merece apuração antes do pleito. 


Passado remoto O PT considera frágil o elo do caso com a campanha. Os acessos feitos na agência de Formiga (MG) aos dados do tucano Eduardo Jorge datam de abril de 2009, "momento totalmente desconectado do calendário eleitoral", ponderam dirigentes petistas. 

Para o brejo O presidente do partido, José Eduardo Dutra, que em maio procurou o colega Sérgio Guerra (PSDB) na tentativa de evitar a "judicialização" da campanha, agora promete resposta a toda interpelação dos adversários. "A cada acusação sem prova, iremos à Justiça." 

Argumento A tese segundo a qual o caso não interferiria na isonomia da eleição foi o pilar da justificativa dada pelo ministro Aldir Passarinho para arquivar o pedido de cassação do registro de Dilma Rousseff (PT) no TSE. 

Elevada... Quem entende do riscado aponta duas funções para o púlpito transparente atrás do qual Dilma dá declarações públicas. A primeira é conferir ar já presidencial à ainda candidata. 

...e protegida A segunda função é mais prática: com os microfones todos apartados dos repórteres e "espetados" no púlpito, diminui muito o risco de perguntas inconvenientes. 

Antes dos bois Entre os apoiadores de José Serra, não é consensual a aprovação ao slogan "hora da virada", adotado na campanha de internet desde a contratação do americano de origem indiana Ravi Singh. Há quem avalie que seria melhor aguardar sinal concreto de virada nas pesquisas para então usar o bordão. 

Corrida maluca 1 Com o deslocamento de intenções de voto a pleno vapor na eleição para o Senado em São Paulo, já existe petista preocupado com a hipótese de Marta Suplicy, sem prejuízo de ser eleita, chegar atrás de Netinho de Paula (PC do B). 

Corrida maluca 2 Além da renúncia de Orestes Quércia (PMDB) e dos problemas de saúde que impedem Romeu Tuma (PTB) de fazer campanha, há outro fator de volatilidade: os votos de Ciro Moura (PTC), ainda na casa dos dois dígitos, tendem a debandar na medida em que for desfeita a confusão do público com o xará famoso. 

Exílio chileno Para não ter de assumir o governo paulista durante viagem de Alberto Goldman (PSDB) aos EUA, interinidade que o tornaria inelegível, o presidente da Assembleia Legislativa, Barros Munhoz (PSDB), viajou a Santiago, onde fica até quarta-feira. No Bandeirantes desde sexta-feira está Antonio Carlos Viana Santos, presidente do TJ-SP. 

Aviso Em cúpula do G20 que terminou anteontem no Canadá, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) foi inquirido pelo vice-presidente do Senado italiano, Vannino Chiti. Ele manifestou preocupação com a possibilidade de o presidente Lula barrar a extradição de Cesare Battisti. 

com LETÍCIA SANDER e FABIO ZAMBELI 

tiroteio 

"Quando brinca com a quebra de sigilo, o presidente faz chacota com as pessoas. Demonstra que no PT sempre se admitem crimes, mas nunca criminosos." 
DO SENADOR ÁLVARO DIAS (PSDB-PR), sobre discurso no qual Lula abordou, em tom irônico, a preocupação do candidato tucano à presidência, José Serra, com a violação do sigilo fiscal de sua filha Verônica na Receita Federal. 

contraponto 

Pechincha 

Para se diferenciar dos partidos que recrutam cabos eleitorais pagos, o PSOL resolveu oferecer a seus militantes uma camiseta com os dizeres "Não recebo um real, estou na rua por ideal". Junto a um grupo deles, o deputado Chico Alencar panfletava no Rio quando foi abordado por um funcionário de outro candidato: 
-Quanto você está pagando? 
-Nada. Aqui todos são voluntários, você não viu o que está escrito na camiseta? 
-Eu li, mas achei que era brincadeira com o Garotinho. No governo dele não era tudo por um real? 

GEORGE VIDOR

Sem marolas
GEORGE VIDOR
O GLOBO - 06/09/10


O Banco Central não espera que a economia brasileira acelere seu ritmo de crescimento neste segundo semestre. O mais provável é que a economia mantenha uma certa velocidade de cruzeiro, crescendo 1% de um trimestre para outro.

Então haveria espaço para o Comitê de Política Monetária (Copom) baixar as taxas básicas de juros, em vez de mantê-las nos 10,75% ao ano?

Claro que o Banco Central não chegaria a esse ponto, pois ainda não houve tempo suficiente para se aferir o impacto da alta de 0,5 ponto percentual estabelecida na reunião de julho.

Embora as autoridades considerem diminuto o risco de a inflação se afastar do centro das metas de 2010 e 2011 (que é de 4,5%), a área técnica do BC não descarta alguma surpresa no comportamento dos preços dos alimentos, que, por terem caído muito de maio a julho, talvez subam nos próximos meses, em intensidade que ninguém é capaz de prever. No entanto, o mais provável é que a inflação, na média, oscile na faixa de 0,25% ao mês.

Os empregos formais, com carteira assinada, já representam 60% da ocupação no município do Rio. A formalização dos empregos vinha aumentando à base de um ponto percentual ao ano desde 2008, mas no primeiro semestre de 2010 deu um salto, expandindo-se em quase três pontos. Isso explica, segundo o secretário municipal de Desenvolvimento e presidente do Instituto Pereira Passos, Felipe Góes, o fato de o rendimento médio dos trabalhadores ter evoluído mais que a média das regiões metropolitanas, apesar de o conjunto da ocupação (empregos formais, sem carteira e por conta própria) ter ficado abaixo.

"Os empregos sem carteira caíram 3% no semestre e os com carteira cresceram 6,5%, puxados pelos setores de construção civil, energia e entretenimento", observa.

O desemprego no município do Rio, medido pelo IBGE está na faixa de 5% da população economicamente ativa. E as perspectivas para o resto do ano continuam boas, por causa dessa evolução do rendimento real do trabalho, que deve impulsionar as vendas no comércio e a produção dos bens de consumo não duráveis, característicos da indústria de transformação no Rio.

O Instituto Pereira Passos faz uma avaliação trimestral da economia do Rio, a partir de indicadores do IBGE, principalmente.

Por esses números, o Rio não pode ser chamado mais da capital da informalidade.

Nada mais justifica a complacência com a resistência à formalização.

O debate sobre o médio prazo começa, pouco a pouco, a ganhar mais espaço na agenda econômica do país, o que é muito bom. O risco de desindustrialização, por exemplo, passou a merecer atenção de estudiosos, a exemplo de Luiz Guilherme Schymura, diretor do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas.

Schymura acha que somente depois da crise financeira de 2008 surgiram sinais dessa desindustrialização que merecem um acompanhamento mais de perto.

É bem possível que a indústria brasileira tenha de buscar novos caminhos nos próximos anos. Será difícil competir com a Ásia nos produtos bem baratos, pois o Brasil está deixando de ser uma economia que pode contar com mão de obra abundante e mal remunerada.

Na alta tecnologia, o Brasil possivelmente terá de se concentrar em alguns segmentos nos quais já vem se destacando (agronegócio, petróleo e energia em geral, fabricação de aviões, etc). As maiores oportunidades estão na média tecnologia e o segredo do sucesso nessa área é uma política que incentive a inovação, diz o presidente da Associação Brasileira da Propriedade Intelectual, Luiz Henrique Amaral. Na opinião de Amaral, a política industrial para os próximos anos deveria ter como eixo central a inovação, o que envolveria mais proteção à propriedade intelectual brasileira. Os trâmites relacionados a esse tipo de proteção sempre estiveram voltados à importação de tecnologia, que no passado era mais marcante.

A criação de peixes cresceu 60,2% nos anos de 2008 e 2009, enquanto a atividade pesqueira como um do todo evoluiu 15,7%. A maior parte do pescado consumido no Brasil ainda é capturada, mas de uma produção total de 1,43 milhão de toneladas prevista para o ano que vem a aquicultura (criação) deve contribuir com 570 mil toneladas.

Em meados da próxima década - ou seja, lá por 2015 - a criação de peixes e frutos do mar deverá ultrapassar a captura extrativa.

Não que a pesca tradicional esteja recuando. A captura de sardinhas, que tinha encolhido para 17 mil toneladas no início da década e atingiu 83 mil toneladas no ano passado. Isso só foi possível depois que a pesca ficou proibida durante dois períodos (defeso) ao longo do ano, para permitir que os cardumes se reproduzam e cresçam.

A produção de tilápias (conhecida no exterior como St.Peter, Saint Pierre, San Pietro) chegou a 132 mil toneladas e responde por 39% da aquicultura brasileira.

O Nordeste é região que mais produz pescado, porém o maior produtor nacional é o estado de Santa Catarina, seguido por Pará, Bahia e Ceará.

Para se ter idéia o quanto ainda é preciso fazer para melhorar a infraestrutura do país, no Sudeste, região que concentra a maior fator do Produto Interno Bruto (PIB), a proporção de rodovias estaduais pavimentadas é a seguinte: Rio de Janeiro, 59%; Minas Gerais, 61%; Espírito Santo, 44%; São Paulo, 91%.

Até mesmo São Paulo, cujas estradas são classificadas como boas ou ótimas pela Confederação Nacional dos Transportes, tem rodovias estaduais por pavimentar (isso sem falar das estradas vicinais, de responsabilidade municipal).

Mas surpreende que Rio de Janeiro e Minas tenham cerca de 40% das rodovias estaduais não pavimentadas.