terça-feira, dezembro 01, 2009

AUGUSTO NUNES

VEJA ON-LINE

A piada do presidente e o panetone do governador

1 de dezembro de 2009

Cinco dias depois da publicação do artigo na Folha de S. Paulo, está provado que César Benjamin não mentiu: o cineasta Sílvio Tendler, um dos participantes do encontro ocorrido em 1994, confirmou que Lula efetivamente fez o relato reproduzido no texto. A diferença está na interpretação dos ouvintes. Para Benjamin, Lula revelou um capítulo da vida real ao evocar a tentativa de subjugar um companheiro de cela. Para Tendler, o narrador estava apenas brincando.

Tendler não contou como reagiu ao que lhe pareceu uma piada. Sorriu? Caiu na gargalhada? Se achou graça, foi o único. Benjamin ficou perplexo. O marqueteiro americano que não falava português nada entendeu. O publicitário Paulo de Tarso, que completava a mesa, não se lembra de ter ouvido conversas sobre cela, assédio ou cadeia. Lula não deu um pio sobre a revelação assombrosa, nem parece interessado em processar Benjamin. É provável que espere a poeira baixar e encampe a versão de Tendler.

Frágil desde sempre, a versão passou a padecer de raquitismo com a constatação de que o “menino do MEP” existe. Identificado na última edição de VEJA, João Batista dos Santos confirmou nesta terça-feira, em entrevista à Folha, que esteve preso junto com Lula. O que achou do artigo de Benjamin? “Um horror”. Alguém tentou subjugá-lo? “Não tenho nada a comentar sobre este assunto”, resumiu o ex-metalúrgico. “Estou convertido em uma religião que não me deixa mentir”. O alvo do assédio não achou divertidos os parágrafos que mencionam o “menino do MEP”.

Tendler garante que só débeis mentais não entendem a piada. Se é assim, está convidado a contá-la num programa de auditório. Apresentadores de TV não perderão a chance de inflar o ibope com a entrada no palco de uma testemunha ocular e auditiva da história. Se alguém na plateia exibir um simulacro de sorriso, o Brasil que presta topa endossar a explicação. Caso contrário, fica estabelecido que a versão da piada é tão verossímil quanto o festival de panetones do governador José Roberto Arruda.

MARCOS NOBRE

Peemedebização

FOLHA DE SÃO PAULO - 01/12/09


COM AS IMAGENS do governador do panetone com a mão na massa, a longa derrocada do PFL chegou a seu fim. Travestido de DEM desde 2007, a dissidência do partido oficial de sustentação da ditadura militar está no caminho de se tornar um partido médio como tantos outros.
O diferencial do PFL era o seu peso na aliança sólida com o PSDB desde a eleição de FHC. Em 1995, essa aliança tinha de saída uma base de 184 deputados federais, que subiu ainda para impressionantes 204 deputados em 1999.
Esse diferencial desapareceu nas últimas eleições. O desespero de parte dos demos para que o PSDB lançasse logo o candidato presidencial era o de quem sabe que está para cair da primeira divisão dos grandes partidos.
A contrapartida desse declínio é a resistível ascensão do PMDB. O jogo entre os dois grandes polos da política está zerado. Não só o PT, mas agora também o PSDB passou à condição de refém do PMDB.
O que ainda hoje sustenta a política institucional em qualquer país democrático é que ninguém chega ao governo se não for capaz de mostrar um rumo a seguir, por mais vago que seja. Governo ainda é sinônimo de capacidade de formulação, debate e implementação de políticas. Não é à toa que o PMDB não tem candidatura própria há 15 anos.
As quatro candidaturas presidenciais postas até agora têm lastro de formulação política. Seja porque as pessoas em questão têm visão de conjunto do país, seja porque dispõem de burocracias partidárias capazes de produzir um discurso relativamente homogêneo e unitário. Mas o problema é que nenhuma delas até agora dá mostras de como seria possível contornar o PMDB. E, sem contornar o PMDB, quem governar vai continuar como laranja da avacalhação geral da política.
Claro que o PMDB não é raio em céu azul. Tem força eleitoral. Mas consegue essa posição porque parasita governos e diretrizes políticas alheias, sejam quais forem. É o mais autêntico produto da política em dois polos instalada desde 1994.
Combina à perfeição balcão de negócios e cara de pau Não é de hoje que convivemos com o mau cheiro da política brasileira. Mas a sensação de que não há como escapar dele chegou a uma espécie de ápice. A política brasileira só sai da autofagia em que se encontra se romper com a sua peemedebização.
Porque, seja com o artigo deplorável de César Benjamin, seja com o vídeo de José Roberto Arruda, seja com as ininterruptas denúncias contra Sarney e os seus que não dão em nada, seja com a voz que imita Lula em propaganda de papel higiênico, é da peemedebização da política que se está falando.

BENJAMIN STEINBRUCH

A Copa do Mundo do Clima


Folha de S. Paulo - 01/12/2009

Para o Brasil, é inaceitável qualquer acordo em Copenhague que comprometa o crescimento econômico


A JULGAR pela mobilização da mídia internacional, a conferência de Copenhague, que começa na próxima semana, será uma espécie de Copa do Mundo do Clima. O mundo olhará para a Dinamarca, mas, diferentemente do que ocorre nas Copas, terá dificuldade de compreender o andamento dos jogos e saber quem são os vencedores.
É oportuno relembrar, portanto, as bases da discussão de Copenhague. Os cientistas estão certos de que a temperatura média do planeta Terra vem aumentando de forma significativa desde o advento da revolução industrial, no fim do século 19.
Ninguém mais discute que esse aquecimento tem sido provocado principalmente pelo lançamento de gases na atmosfera por indústrias, meios de transporte, geração de energia a partir da queima de combustíveis fósseis e desmatamento.
Desde o começo da era industrial, dizem os cientistas, a emissão de gases, notadamente de dióxido de carbono e metano, provocou um aquecimento de 0,8C na temperatura média do planeta. Se esse aquecimento continuar, haverá uma sequência de desastres ambientais que poderão até exterminar a vida no planeta. Alguns desses efeitos já estariam sendo sentidos: secas, furacões, desertificação, enchentes, degelos e elevação do nível dos mares.
Os cientistas estabeleceram um número mágico. Segundo eles, o clima na Terra só continuará seguro se o aumento da temperatura média não passar de 2°C.
Toda a discussão do aquecimento global parte desse limite. Os países ricos assinaram em 1997 o Protocolo de Kyoto, pelo qual se comprometeram em reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 5,2% até 2012, tendo por base os níveis de 1990. A meta, porém, mostrou-se insuficiente e nem foi levada a sério por todos os países -os EUA, por exemplo, nem ratificaram o acordo.
Na reunião da próxima semana, em Copenhague, pretende-se negociar metas mais ambiciosas para o período pós-2012. Estarão em lados opostos, sem dúvida, os países ricos e os emergentes. Para reduzir emissões e mitigar seus efeitos, é preciso conter o crescimento econômico e aportar recursos financeiros.
Brasil, China e Índia, por exemplo, vão sustentar a ideia de que cabe aos países desenvolvidos arcar com a maior parte dos custos da redução das emissões. Afinal, foram eles que enriqueceram aquecendo o planeta desde o fim do século 19 -emitiram gases industriais sem nenhuma restrição e devastaram suas florestas naturais. Agora precisam pagar a conta.
Os emergentes, naturalmente, não podem fugir de suas responsabilidades. Mas suas metas devem ser diferenciadas para que possam continuar a busca do desenvolvimento e da riqueza. Usar o pretexto do aquecimento para congelar os níveis atuais de desigualdade mundial seria uma atitude ao mesmo tempo desonesta e cruel.
No caso do Brasil, deve-se ter em conta também que, em razão de sua matriz hidrelétrica e do potencial produtor de biocombustíveis, o país tornou-se baixo emissor de gases de efeito estufa. Cerca de 45% das fontes de energia no país são renováveis, em comparação com 12% na média mundial e apenas 6% nas nações ricas.
Para o Brasil, portanto, é inaceitável qualquer acordo que comprometa o crescimento econômico -esse deveria ser um princípio básico dos negociadores do país em Copenhague. Há uma vasta lista de ações ambientais que o país pode realizar sem afetar seu ritmo de desenvolvimento. A principal delas, certamente, é o controle do desmatamento da Amazônia.

FLAMENGO

O MAIOR, O MELHOR, O MAIS BONITO
O MAIS QUERIDO DO MUNDO

JANIO DE FREITAS

Um rombo na sucessão


Folha de S. Paulo - 01/12/2009


A figura mais eminente que o DEM construiu para a eleição só pode ser candidato a votos de uma sentença criminal

O EFEITO POLÍTICO mais importante da ilustrada e ilustrativa presença do governador José Roberto Arruda no novo mensalão é o seu reflexo, direto e traumático, no esquema previsto pelo PSDB para disputar a sucessão presidencial.
Há mais de cinco anos José Serra desenvolve um trabalho de atração do PFL, lá atrás, hoje DEM. Essa investida não lhe custou pouco, inclusive dentro do PSDB, com a repulsa à relevância dada ao pefelista/demista como vice-prefeito e, nos últimos tempos, com os indícios de disposição de fazer o mesmo Gilberto Kassab seu sucessor no governo paulista. Daí vem, aliás, uma das causas mais sérias do racha na bancada peessedebista na Câmara, que mal supera a cisão para dar ares de vida.
O menor dos êxitos esperáveis por Serra nessa investida seria o apoio, em âmbito nacional, do enfraquecido mas bem organizado DEM. A rigor, os demistas já vinham e vêm condenados a apoiar um candidato do PSDB, por falta de alternativa entre as possibilidades de candidaturas de razoável viabilidade. À parte tal circunstância, a estratégia de Serra deu o resultado que ele poderia esperar.
E foi além, de fato. No desempenho bem conceituado de José Roberto Arruda como governador do Distrito Federal, Serra e os demistas encontraram uma perspectiva nova e comum, por motivos diferentes, aos dois lados. O DEM obteve, com a valorização de Arruda, um motivo para exigir de Serra e do PSDB uma compensação por seu apoio: a vice, na chapa presidencial, para o seu único governador. Serra, de seu lado, na lista de estudos para a vice incluiu, em condições especiais, uma figura que, ao fortalecimento da aliança, traria um suporte eleitoral expressivo na Brasília tão adversa à sua candidatura.
O estrelato de José Roberto Arruda nos vídeos da bandidagem política reabre a vaga mais proeminente nas considerações de Serra para a sua possível chapa. E o desastre nem se limita a esse rombo. Arruda enfraqueceu muito o apoio eleitoral do DEM, ao presentear os candidatos e partidos contrários com uma arma eficaz contra os demistas: a figura mais eminente que construíram para as próximas eleições, no plano local como no federal, só pode ser candidato aos votos de uma sentença criminal.

Continuidade
Se nem desta vez, em que está explicitamente comprometido, as investigações policiais se voltarem para o ex-governador Joaquim Roriz, assim mantendo a prática de uns 20 anos e apesar de tantas motivações evidentes, então é o caso de mudar-se a investigação: esta, para explicar por que, e como, Roriz é tão intocável. Mesmo que essa investigação fique para depois das eleições em que, outra vez, ele se lança candidato ao governo do DF. Como sucessor de Arruda, o que é uma garantia da continuidade que, segundo Lula, todas as eleições devem proporcionar.

Perfeito
Fraude em concurso para perito policial.

FERNANDO DE BARROS E SILVA

Capital do puxadinho

FOLHA DE SÃO PAULO - 01/12/09



SÃO PAULO - A notícia de que o Palácio do Planalto acaba de ganhar um puxadinho no seu processo de reforma e restauração é cheia de implicações. Em primeiro lugar, há a questão arquitetônica: diante das normas de segurança atuais, a construção de Oscar Niemeyer revela-se defasada. Procura-se então adequar o palácio à nova realidade -ou a obra de arte à vida como ela é.
A solução encontrada -uma caixa de concreto "escondida" no fundo do prédio, um monstrengo que se pretende invisível- surge quase como uma metáfora histórica: quisemos ser modernos, as coisas não saíram como imaginávamos, mas demos um jeitinho e o resultado é esse, meia boca, até simpático quando se subtrai do campo de visão seus aspectos inapresentáveis.
O puxadinho do Planalto é o preço que o país da gambiarra cobra da nossa modernidade.
Niemeyer é o grande gênio da arquitetura brasileira. E Brasília representou o desejo de integrar socialmente o país, a materialização de uma utopia simbolicamente plantada no centro do território nacional. Na véspera de completar 50 anos, a capital sonhada foi engolida pelo Brasil.
As cidades-satélite no entorno de Brasília não deixam de ser um imenso puxadinho, um anexo segregado da vida moderna onde os neocoronéis do meio-oeste fazem a sua festa -de Joaquim Roriz a José Roberto Arruda.
Mas o próprio Plano Piloto vai acumulando seus puxadinhos. Já há tempos, a paisagem de Brasília é uma mistura de fachadas neoclássicas, prédios envidraçados, shoppings ostensivamente coloridos por propagandas, interiores rococós -uma salada visual que desafia a arquitetura "suspensa no ar" do projeto original.
Os críticos dizem que a obra de Niemeyer é mais artística e plástica do que prática e funcional -boa de ver, ruim de morar. Brasília tenta se afastar de seu destino. É cada vez menos moderna e mais pós-moderna. Sua utopia foi para o espaço, e hoje tem vigência apenas privada. Chama-se "qualidade de vida".

JAPA GOSTOSA

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PAUL KRUGMAN

O imperativo da criação de empregos

O ESTADO DE SÃO PAULO - 01/12/09



Para os americanos que atualmente buscam um emprego, as perspectivas são terríveis. O número de desempregados é seis vezes maior do que o de postos de trabalho disponíveis, e a duração média do período de desemprego supera os seis meses, maior marca desde a década de 30.

Diante desse quadro, seria de se imaginar que a situação do desemprego ocupasse uma posição prioritária na pauta política. Mas agora que o colapso financeiro completo foi evitado, toda aquela urgência parece ter desaparecido dos debates políticos, substituída por uma estranha passividade. Há em Washington uma sensação difusa de que nada mais pode ou deve ser feito.Basta esperar que os efeitos da recuperação econômica cheguem até os trabalhadores.

Isso é errado e inaceitável. É verdade que a recessão provavelmente chegou ao fim, no sentido técnico, mas isso não significa que estamos no pleno emprego.

Historicamente, as crises financeiras costumam ser sucedidas não apenas por recessões agudas, como também por recuperações anêmicas. Normalmente são necessários anos até que o desemprego recue aos níveis considerados comuns. E tudo indica que a sequência da última crise financeira seguirá o roteiro habitual. O Federal Reserve, por exemplo, espera que o desemprego, atualmente em 10,2%, se mantenha acima dos 8% - número há pouco tempo considerado desastroso - até algum momento em 2012.

E os danos provocados pelo alto desemprego durarão muito mais. Aqueles que passam muito tempo desempregados podem perder parte de suas habilidades, e mesmo depois de a economia ter se recuperado eles tendem a enfrentar dificuldades para encontrar emprego, pois são considerados funcionários de risco por seus empregadores em potencial. Enquanto isso, estudantes que se formam no contexto de um mercado profissional em más condições começam suas carreiras em grande desvantagem - e pagam o preço disso durante toda a vida, sofrendo com salários menores. Não agir contra o desemprego é, além de cruel, uma prova de falta de visão.

Assim, é chegada a hora de um programa emergencial de empregos.

Em que um programa de empregos difere de um segundo pacote de estímulo? Trata-se de uma questão de prioridades. O pacote de estímulo de Obama para 2009 concentrava-se no retorno do crescimento econômico.

Na verdade, o programa tinha como base a ideia de que a consolidação e o aumento do PIB trariam consigo os empregos. Essa estratégia poderia funcionar se o estímulo fosse grande o bastante - mas não foi. Em se tratando de realidade política, é difícil imaginar como o governo seria capaz de aprovar um segundo pacote de estímulo grande o bastante para compensar a insuficiência anterior.

No momento, nossa melhor esperança está num programa mais barato que crie o maior número possível de postos de trabalho. Tal programa deve evitar medidas que na melhor das hipóteses conduzam apenas indiretamente à criação de empregos - como cortes de impostos - , com muitos percalços possíveis ao longo do trajeto.

Em vez disso, o programa deveria ser composto por medidas que preservem ou acrescentem postos de trabalho de maneira mais ou menos direta.

Uma medida desse tipo poderia incluir nova rodada de auxílio aos governos municipais e estaduais, que testemunharam uma queda abrupta na arrecadação fiscal mas, diferentemente do governo federal, não podem recorrer a empréstimos para cobrir essas perdas.

Enquanto isso, o governo federal pode oferecer empregos por meio da... oferta de empregos. É hora de implementar, no mínimo, uma versão reduzida da agência WPA (Works Progress Administration, em inglês), criada durante o New Deal, oferecendo empregos de baixa remuneração no serviço público.

Finalmente, podemos oferecer às empresas incentivos diretos ao emprego. É provavelmente tarde demais para um programa de conservação de postos de trabalho, como o bem-sucedido subsídio oferecido pela Alemanha aos empregadores que não reduzissem sua força de trabalho. Mas é possível encorajar os empregadores a acrescentar funcionários para acompanhar a expansão da economia. O Instituto de Política Econômica propõe a concessão de crédito fiscal para os empregadores que ampliarem suas folhas de pagamento, coisa que sem dúvida vale a pena tentar.

Tudo isso custará dinheiro, provavelmente várias centenas de bilhões de dólares, aumentando o déficit orçamentário no curto prazo. Mas isso precisa ser comparado ao custo da inação diante de uma emergência social e econômica.

Ainda esta semana, o presidente Barack Obama participará de uma "reunião de cúpula sobre o emprego".

Sim, nós podemos - e devemos - criar mais postos de trabalho.

VINÍCIUS TORRES FREIRE

De máquinas, casas e estradas

FOLHA DE SÃO PAULO - 01/12/09



Estudo de economistas do BNDES diz que investimento, embora baixo em relação ao PIB, torna-se mais produtivo
O investimento de empresas e governos é baixo no Brasil.

Tornou-se um lugar-comum dizê-lo. Jamais tivemos uma taxa de investimento parecida com a da China, nem nos anos do "milagre econômico", quando a "formação bruta de capital fixo" não passou de 24% do PIB (a do milagre chinês flutua entre 40% e 50% do PIB). Mas quão baixa é essa taxa? Três economistas do BNDES compararam o investimento no Brasil com o de outros países no ano de 2006, último para o qual há dados mundiais. Sob certo aspecto, o da despesa em máquinas e equipamentos, a taxa de investimento do Brasil está acima da média mundial. O trabalho, da série "Visão do Desenvolvimento", é de Fernando Puga, Gilberto Borça Junior e Marcelo Nascimento. Está no site do BNDES, grátis, e é curtinho.

Os componentes principais da formação bruta de capital fixo são investimentos em máquinas e equipamentos, construção e outros. Em 2006, a taxa de investimento total do Brasil era de 16,4% do PIB. A média mundial foi de 21,6%. Mas, quanto a máquinas etc., a taxa era de 8,5% do PIB, ante 7,6% na média mundial, e 9,9% na China.

A diferença do Brasil para a média mundial está no investimento em habitações, em infraestrutura etc.: na construção. Na média mundial, o investimento em construção era 11,9% do PIB. No Brasil, de 6,6%. Por que se investe tão pouco no setor?

Segundo os autores, porque o crédito para moradias é caro, porque os governos investem pouco em infraestrutura e leis ruins dificultam o investimento público e privado.
Apesar das restrições ao investimento em moradias e em infraestrutura, os autores adotam um tom positivo em seu texto. Vem crescendo muito a participação do investimento em máquinas e equipamentos.

Esse item era 39% da formação bruta de capital fixo em 1999; em 2008, subira para 55%. Segundo Puga, Borça e Nascimento, baseados também em outras estimativas de produtividade do capital, tal fato fez com que o investimento se tornasse mais "rentável", digamos, em termos de PIB. Isto é, dada uma quantidade de investimento, o PIB pode crescer mais se a fatia despendida em "máquinas etc." for maior (ou, em outros termos, o mesmo PIB potencial pode ser atingido com um investimento menor quanto maior for a fatia da despesa em máquinas).

Tais estimativas de produtividade do capital, algumas baseadas em médias mundiais, são lá algo imprecisas, como qualquer estimativa de produtividade na economia (qual a contribuição da produtividade do trabalho? E de outros fatores? Como isolá-las?). Mas o avanço da participação de "máquinas e equipamentos" na FBCF no período de fato chama a atenção.

Porém, observando o lado "meio vazio" dos dados, nota-se o dano causado pelo nível miserável de investimento em construção, em grande parte devido à incapacidade do Estado de investir ou incentivar o investimento em infraestrutura, em outra devido ao ainda absurdo custo do capital no país (juros). Enfim, é difícil elevar a produtividade geral com gente doente (sem esgoto, com casas ruins etc.), com estradas e portos precários, com transportes urbanos que tiram horas preciosas de empresas e de cidadãos.

GOSTOSA


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TODA MÍDIA

Em posição delicada

NELSON DE SÁ

FOLHA DE SÃO PAULO - 01/12/09


Sobre Honduras, o "New York Times" destacou as "repercussões muito além" do país, com "uma dor de cabeça para a política de Obama na América Latina". No "Wall Street Journal", "a aceitação internacional não é garantida": espera-se "apoio crucial dos EUA", mas "oposição de pesos-pesados regionais como o Brasil", deixando Obama "em posição delicada".

Final do dia e, na Folha Online, o assessor Marco Aurélio Garcia já dizia que, "se o Brasil considerar que tem que mudar de posição, mudará de posição".
De sua parte, a "Economist" postou que pelo jeito "o resultado será respeitado e a estratégia dos golpistas será premiada". Agora "a grande preocupação é se um perigoso precedente foi estabelecido" na região.


NA "NEW YORKER"
O fotógrafo da revista correu mundo para perfilar líderes globais. Sobre Lula, "foi difícil, ele me deu muito pouco tempo". Sobre Cristina Kirchner, "homens são chatos, são todos tão conservadores, mas então vem esta dama"


REDESCOBRIMENTO
Lula deu longa entrevista ao "Diário Econômico" de Portugal para a abertura da Cúpula Ibero-Americana, com a manchete "Portugal tem muito mais a ganhar com o actual momento do Brasil". Foi a manchete também da nova versão do jornal, "Brasil Econômico": "Brasil vai a Portugal para ser redescoberto".
Na home do UOL, com Reuters, destaque à declaração, na entrevista, de que "substituir dólar por moeda global é exagero". Ele prefere a "diversificação de moedas".


"WAR PRESIDENT"
Na manchete on-line do "NYT", "Obama ordena mais soldados no Afeganistão". No site Politico e em outros, a carta aberta do cineasta Michael Moore, questionando se se Obama quer ser, ele também, "presidente de guerra", pedindo : "Por favor, diga que não é verdade".
Ao fundo, o "NYT" deu editorial atacando a ação de Obama no Oriente Médio. E o "WSJ" deu o artigo "Árabes pararam de aplaudir Obama", com o "desencantamento". Foi a página "mais popular" do site.

IMPÉRIO SOB RISCO
Na capa, "Como caem grandes potências". Na reportagem, "Um império sob risco". Para a "Newsweek", "vencemos a Guerra Fria, mas a fraqueza econômica ameaça nosso poder global"

PARA COPENHAGUE
O britânico Channel 4 fez longa entrevista com Lula sobre a conferência. Diz o brasileiro que, sem acordo, "vamos enviar uma mensagem muito negativa ao mundo".
E o francês "Le Monde", com tradução no UOL, proclamou que o "Brasil assume liderança contra aquecimento", sobre o anúncio em série de metas para o corte de emissões.

"BIG OIL" 2010
No alto da "Foreign Policy", assinado por Ian Bremmer, presidente do Eurasia Group de Nova York, "consultoria de risco global" para multinacionais, "Por que Lula está agindo como Hugo Chávez?". Em suma, "Brasil se move agressivamente ao nacionalismo de recursos naturais", com foto de Lula e Dilma Rousseff. Lamenta como sua "popularidade mantém a oposição calada, até José Serra", sem questionar o plano do governo para o pré-sal:
"Se Serra vencer, vai tentar reverter. Se Dilma vencer, as companhias internacionais de petróleo só terão alguma esperança de vitória na Justiça constitucional."

"Se vocês radicalizarem daí, eu radicalizo daqui."
Do governador do Distrito Federal, JOSÉ ROBERTO ARRUDA , em "momento de forte tensão" na reunião do Democratas, "quando um dos presentes defendia a expulsão imediata", segundo o blog Radar. O "Jornal Nacional" também deu, descrevendo como "ameaça".

JOSÉ SIMÃO

Arruda! Panetone dá azia!

FOLHA DE SÃO PAULO - 01/12/09


Demsalão! Daqui a pouco o Distrito Federal vai mudar de nome para DETRITO FEDERAL!


BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta!
Sabe como é o nome daquele político pego escondendo grana na meia? Leonardo PRUDENTE! Rarará! Prudente seria usar meia em outro lugar: meia de náilon na cabeça.
Pra não ser reconhecido. Tão filmando tudo. E ele é do DEM. Dinheiro em Meias.
E pegaram o governador do DF, o Arruda! Com a mão na propina.
Também do DEM. Então DEM quer dizer Deu em Merda! Rarará! Demsalão! Daqui a pouco o Distrito Federal vai ter de mudar de nome para DETRITO FEDERAL! E o Arruda disse que a grana era pra distribuir panetone pro povo. Eu quero o meu panetone sabor meia.
Panetone sabor chulé! Panetone não. Nem o porteiro do meu prédio aguenta mais panetone. Panetone dá azia! E adorei a charge do Tiago Recchia: o dinheiro não era propina, era o meu cachê pelo vídeo! As "Videocassetadas" do Faustão!
E um amigo meu só vai assistir ao filme do Lula se o Roberto Jefferson cantar o tema de abertura. E um outro amigo estava em um shopping de Bauru com a mulher quando viu o filme em cartaz: "Planeta 51". E a mulher: "É esse o filme do Lula?". É!
Rarará! O verdadeiro filme do Lula é o "PLANETA 51"!
E hoje é Dia Mundial de Combate à Aids. Uma amiga saiu com o adesivo: Evite a Aids, transe comigo! E não vá fazer como o português que cortou a ponta da camisinha pra economizar! E sabe o que eu vou dar pro Zé Mayer? Uma Jontex furada! Rarará!
E o meu São Paulo? Como disse um dia o próprio Rogerio Ceni: o time deu uma BAMBEADA! Perdeu a oportunidade de virar hétero, ops, hepta! O São Paulo não tem ataque cardíaco, tem defesa cardíaca. Eu acho que o São Paulo é que nem guaraná de dois litros: chega na metade, acaba o gás! É mole? É mole, mas sobe! Com camisinha, please!
Antitucanês Reloaded, a Missão.
Continuo com a minha heroica e mesopotâmica campanha Morte ao Tucanês. Acabo de receber mais um exemplo irado de antitucanês. É que em Perus, zona norte de São Paulo, tem uma sex shop chamada A Cobra que Ri! E achei essa sex shop muito bem localizada: Perus. Ueba! Mais direto impossível. Viva o antitucanês! Viva o Brasil!
E atenção! Cartilha do Lula. O Orélio do Lula. Mais um verbete pro óbvio lulante. "Bigamia": carroça de companheiro puxado por duas éguas. Rarará! O lulês é mais fácil que o ingrêis. Nóis sofre mas nóis goza! Hoje só amanhã!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

FARTURA

LUIZ GARCIA

O que amputar

O GLOBO - 01/12/09

Para o pessoal da arquibancada, torcer é muito fácil quando, lá no campo, o bem enfrenta o mal, cada time usando camisas bem diferentes. Mas raramente a realidade tem essa nitidez.

Neste Brasil que estamos vivendo no momento, é fato que Lula e o seu PT avançam sobre as benesses do poder como pobre em prato de comida (que os pobres me perdoem pela imagem politicamente incorreta, mas, convenhamos, ela define a força do apetite). Mas também é verdade que esse anseio pelo poder é ignorado pela maioria da opinião pública.

Tudo parece ser diferente quando aparecem provas de que na turma da oposição há comportamentos em nada diferentes daquilo que se denunciou em relação à turma do governo, no caso do mensalão.

Como acaba de acontecer com o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, do DEM. Trata-se de personagem de média importância no partido. De sua carreira política — para se fazer uma ideia — o episódio mais notável até agora era aquele em que ele e o senador Antonio Carlos Magalhães invadiram o registro de votações do Senado, meio de brincadeirinha, para saber quem tinha votado a favor ou contra a cassação do senador Luís Estevão.

Cometeram infração grave, que lhes custou o mandato. Na época, a opinião pública não teve reação indignada: afinal, o delito era principalmente tolo. Ninguém viu no episódio uma perigosa demonstração de onipotência. Não se percebeu que a dupla tinha mostrado acreditar que as normas institucionais eram para os outros, não para pessoas especiais como eles.

Ambos logo voltaram para o Senado.

O primeiro já descansa e Arruda governa o Distrito Federal. Ou seja, o partido considerou que a cassação de seu mandato de senador tinha sido castigo suficiente. Pelo visto — literalmente, pelo visto e ouvido em gravações da Polícia Federal — não foi.

Está provado, em som e imagens, que ele comandou um esquema de arrecadação de dinheiro com empresas que prestavam serviços ao governo. O dinheiro ia para ele mesmo e para deputados aliados.

É um novo mensalão. Com notável diferença: no mensalão original, o PT e seus aliados fizeram o possível para fingir que ele não existia; quando isso se tornou impossível, os mensaleiros diretamente implicados no escândalo foram simplesmente mandados para casa. No caso de Arruda, o seu partido, o DEM, fala em se livrar dele. Como disse um de seus dirigentes, “num processo infeccioso, é melhor amputar uma perna para evitar a contaminação de todo o corpo”.

É melhor mesmo. Talvez o PT não pudesse fazer algo parecido porque, no seu caso, talvez, quem sabe, tivesse sido necessário amputar a cabeça ou algo parecido.

ARI CUNHA

Brasília enrugada e triste

CORREIO BRAZILIENSE - 01/12/09


A capital está curiosa e abalada em busca de conhecimento do que ocorre na vida política. O governador José Roberto Arruda é flagrado em ato de corrupção. Outros secretários e membros do Tribunal de Contas do DF estão na relação. Gilberto Lucena, proprietário da Linknet, empresa financiadora do esquema. Integram o mesmo grupo Adler, Info Educacional, Vertax e construtora Conbral.

A cidade tomou conhecimento de que o governador é tido como orientador do esquema. Vice-governador Paulo Octávio participa de toda a ação. Foi beneficiado com dinheiro e liberdade para atuação no comércio imobiliário. Também foram beneficiados José Geraldo Maciel, chefe da Casa Civil do governo do DF; José Luiz Vieira Valente, secretário de Educação do DF; Fábio Simão, chefe do gabinete do governador.

Omézio Pontes, assessor de imprensa e Leonardo Prudente, presidente da Câmara Legislativa. Eurides Brito, deputada distrital por Brasília com várias eleições. Deputados Rogério Ulisses e Pedro do Ovo, distritais do DF. Domingos Lamoglia, ex-chefe do gabinete do governador Arruda e atual conselheiro do Tribunal de Contas do DF. As gravações se estendem. João Luiz, subsecretário de Recursos Humanos da Saúde; Junior Brunelli, corregedor da Câmara; Odilon Aires, ex-distrital; Luiz França, subsecretário de Justiça e Cidadania; e José Luiz Naves, ex-secretário do Planejamento.

Durval Barbosa Rodrigues, secretário de Relações Institucionais, é o delator. Prestou serviço ao governo Joaquim Roriz e foi aproveitado por José Roberto Arruda. Com mau procedimento, tem nas costas vários processos de formação de quadrilha e outros crimes. Resolveu gravar companheiros de governo recebendo dinheiro. Com esse posicionamento e gravações às escondidas, tem tratamento legal e redução das penas a que está sujeito. A ação é baseada na distribuição das propinas, que era discutida e entregue conforme atuação dos favorecidos.

Desde 24 de setembro último, o Superior Tribunal de Justiça comanda ato investigativo do esquema ilegal usado pelo Governo do Distrito Federal para captação e distribuição de propinas. Lá nasceu tudo que hoje chega ao conhecimento público.

Ainda em outubro, Arruda repassou R$ 400 mil, que foram divididos aos participantes do escândalo. Parte foi descoberta pela Polícia Federal antes de repassada, e foi apreendida.

Esperam-se novos acontecimentos. O Brasil ferve de curiosidade. Quando o presidente da República Juscelino Kubitschek construiu Brasília, queria que o presidente da República não fosse um partícipe das revoltas populares. Os caminhos destroem a origem de Brasília, mesmo planejada no tempo do Império.


A frase que não foi pronunciada

“Voto não é moeda.”
Artigo I da reforma política.



Curioso
No último concurso da Câmara dos Deputados, 25% dos aprovados não tomaram posse. No Senado, a porcentagem é menor, mas também houve desistência.

Doce mar
Ceará, Piauí, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Minas Gerais e Rio Grande do Sul amargam a realidade da desertificação que coincide com a situação de extrema pobreza. O dado do Ministério do Meio Ambiente chega ao mesmo tempo da informação de que o governo federal vai capacitar os pescadores para que eles construam as próprias fazendas marítimas. Quem está perto do mar ganha.

Educação
Com o vislumbre de que um dia o vestibular vai acabar, o MEC reúne todas as forças para incrementar o ensino profissionalizante. Só em Pernambuco, o Programa Brasil Profissionalizado deve receber por volta de R$ 17 milhões. Cada estado declara a necessidade para viabilizar projetos profissionalizantes. O MEC analisa e libera a verba se for o caso. Decisões importantes serão tomadas depois do Fórum de Educação Profissional e Tecnológica, realizado no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, de Brasília.

Enem
Ainda sobre educação, o Enem deve ser reformulado para 2010. O ministro Haddad pensa em duas provas por ano. É bom explicar. Não são dois tipos de prova por aplicação, como chegou a ser publicado em portais da internet.

Precatórios
Cuidado, eleitores. A advertência é de Flávio Brando, da OAB. A PEC dos Precatórios está fantasiada de cordeiro. Nada mais é do que uma armadilha do parlamento para agradar a prefeitos. Se for aprovada, a OAB promete levar o caso ao STF.

História de Brasília

As notícias que chegam do Ceará dizem que o contrabando, ali, está diminuindo, com a posse do sr. Jânio Quadros. Vendo-se que foram feitas várias substituições em cargos públicos, é fácil de notar que o contrabando está havendo com a conivência das autoridades e a cobertura parlamentar. (Publicado em 18/2/1961)

GOSTOSA


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MERVAL PEREIRA

Caixa de Pandora

O GLOBO - 01/12/09


Desde que a Polícia Federal começou suas operações de repressão à corrupção, com forte apelo midiático, um dos componentes mais importantes para torná-las populares foram os nomes com que as batizavam. Já houve de tudo: nomes mitológicos, como o da deusa Temis, quando se investigou corrupção no sistema judiciário; Operação Curupira, contra a extração e comercialização ilegal de madeira da Amazônia, em homenagem ao ser com os pés virados para trás para despistar quem o segue; Navalha na Carne, que investigou agentes públicos, inclusive da própria Polícia Federal; e Operação Azahar, nome árabe que simboliza a pureza da virgem, contra uma quadrilha internacional de pedofilia.

Agora temos a Operação Caixa de Pandora, que investiga o escândalo de corrupção no governo do Distrito Federal. A caixa que Pandora abriu quando seu amado dormia liberou todos os males que acometem a vida humana: doenças, inveja, decadência, guerra, morte. Apavorada, Pandora conseguiu fechar a caixa antes que o mal dos males pudesse se espalhar: o desencanto, a desesperança.

A julgar pela reação dos participantes do debate ocorrido ontem no auditório do GLOBO, nossa caixa de Pandora deixou escapar também a desesperança. O deputado federal Chico Alencar, professor de História, acha que a denominação da operação reflete a desesperança que ele constata nos cidadãos nas ruas.

Esse desencanto esteve refletido na reação dos presentes ao auditório do GLOBO, e nas perguntas enviadas pela internet. Mas houve também demonstrações de esperança na solução.

O senador Pedro Simon, único político presente ao debate, foi de um ceticismo chocante depois de uma vida pública de mais de 30 anos no Congresso: de lá, não sairá nada para conter a corrupção na política, garantiu ele. Simon, referindo-se ao mais recente caso de corrupção, fez um resumo curioso: "Há poucos dias, o governador José Roberto Arruda estava reeleito. Estava fazendo um governo muito bom, reconhecido pela população.

Hoje, está afastado da política com vídeos e fotos que não deixam dúvida sobre a existência de um mensalão em Brasília".

O senador do PMDB do Rio Grande do Sul disse que tanto o governo Lula quanto o de Fernando Henrique Cardoso aceitaram o jogo político do fisiologismo, e por isso esses escândalos todos aparecem.

Ele fez uma ressalva quanto ao governo do expresidente Itamar Franco, do qual foi líder no Congresso.

Para Simon, o governo Itamar mostrou durante dois anos e meio que é possível governar sem casos de corrupção, e até mesmo aprovar um Plano Real, que alterava todo o nosso sistema econômico, sem precisar comprar votos.

Claudio Abramo, diretor da ONG Transparência Brasil, também tem uma postura que considera realista diante do problema da corrupção: não conseguiremos mudar essa situação rapidamente, “não é para amanhã”, ressaltou.

Adepto de medidas objetivas para tentar conter a corrupção, ele desacredita de movimentos que tentem resolver a questão pelo lado damoral e dos bons costumes. Para ele, o que é preciso fazer é criar dificuldades para que a corrupção aconteça e denunciar as medidas utilizados pelas autoridades, em todos os níveis, para encobrir suas falcatruas.

Ele ressaltou que o acesso à informação pública, projeto levado à frente pela sua ONG que resultou em uma legislação federal, é um dos fatores mais importantes para a contenção desses atos ilegais.

Abramo não considera viável a aprovação do projeto de lei da ficha-limpa, uma iniciativa popular levada ao Congresso por 1,3 milhão de assinaturas. Ele lembrou que em quase todos os países do Ocidente existe a prática de que somente os processos em última instância é que podem impedir a candidatura de uma pessoa.

Rosangela Giembinsky, Coordenadora da ONG Voto Consciente, e Maria Aparecida Fenizola, vice-presidente do instituto de desenvolvimento de estudo político-sociais, estão, ao contrário, engajadas nessa campanha e consideram possível viabilizar a idéia, mesmo que ela seja combatida internamente no Congresso e, como garantiu o senador Pedro Simon, não saia da gaveta do Presidente da Câmara.

Rosangela Giembinsky citou diversos exemplos de processos pelo país que estão em curso e garantiu que o processo de informação do cidadão, que se dá hoje com muito mais rapidez graças aos avanços da tecnologia, fazem a diferença na hora de votar.

Já Maria Aparecida Fenizola, incluída no debate na qualidade de cidadã engajada por ter sido uma das líderes do recolhimento de assinaturas para o projeto de iniciativa popular contra os candidatos que têm fichasuja, mostrou-se entusiasmada com os avanços que detecta, e descartou ser uma ingênua aos 78 anos, depois de uma vida inteira dedicada à educação e ao aperfeiçoamento da cidadania.

Ela citou os muitos processos que inviabilizaram a continuidade na vida política de centenas de vereadores e prefeitos como um sintoma da vitalidade dos movimentos sociais engajados na luta por uma política menos corrupta e mais ligada ao bem-estar da população.

E foi muito aplaudida quando garantiu que se todo mundo achar que nada pode ser feito, aí é que nada mudará mesmo. E fez o senador Pedro Simon mandar um recado: "Depende mesmo de vocês a mudança na política, a pressão dos movimentos é imprescindível, por que do Congresso é que não virá a solução. De onde menos se espera, daí é que não sai nada mesmo", disse, decepcionado, o senador.

PAINEL DA FOLHA

Abraçados

RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 01/12/09


A hesitação de uma ala do DEM em promover a expulsão sumária de José Roberto Arruda resulta de pânico diante da possibilidade de retaliação por parte do governador do Distrito Federal, que havia construído relação muito próxima com lideranças como o presidente do partido, Rodrigo Maia (RJ), e o deputado ACM Neto (BA). Do mesmo grupo faziam parte o líder na Câmara, Ronaldo Caiado (GO), e no Senado, José Agripino (RN). Todos entenderam perfeitamente o recado de Arruda na reunião de ontem: "Se houver radicalização, lá na frente eu vou radicalizar também".
Do outro lado, um "demo" favorável à solução imediata adverte os colegas: "Arruda está liquidado. Se não agirem rápido, eles estarão também".


Divã 1. Há uma gradação entre os "demos" que integram o círculo de Arruda. Caiado e Agripino já superaram o choque e estão prontos para atirar a carga ao mar. ACM Neto hesita, emitindo sinais em diferentes direções.

Divã 2. A situação mais delicada é a do presidente da sigla. "Depois que o Cesar deixou a prefeitura do Rio, o Arruda tornou-se a retaguarda do Rodrigo", explica um cardeal do DEM. "Existe uma relação de dependência."

Ponte aérea. Quando da montagem do governo Arruda, os Maias indicaram André Felipe de Oliveira, idealizador das vilas olímpicas no Rio, para a Secretaria de Esportes do Distrito Federal. Ele deixou o cargo no final de 2007.

Panetones. Arruda destinou R$ 3 milhões para o desfile da Beija-Flor no Sambódromo do Rio em 2010. O enredo da escola fará homenagem aos 50 anos de Brasília.

#@*%! Nos corredores do Congresso Nacional, corre nova tradução para a sigla DEM: "Deu Essa M"...

Memória. Foi na casa de Arruda e a pedido deste que Lula se encontrou com o senador Marconi Perillo (PSDB-GO), no final de 2007, para tentar convencer o tucano, muito próximo do governador do DEM, a votar a favor da prorrogação da CPMF. Perillo disse que iria colaborar. De volta do Senado, votou pela derrubada do imposto.

A pé. Seja ele quem for, o candidato presidencial do PSDB tem duas possibilidades de palanque no Distrito Federal: o do próprio Arruda, cuja chance de chegar politicamente vivo à eleição de 2010 é zero, ou o de Joaquim Roriz (PSC), que, tudo indica, também será tragado pelo escândalo dos panetones.

Clube 1. Em depoimento ao Ministério Público, Durval Barbosa, o homem-bomba do Arrudagate, descreve o QG da campanha de 2006, chamado de "Casa dos Artistas", como uma mansão no Lago Sul onde foram injetados R$ 12 mi. O dinheiro, disse, não foi declarado à Justiça Eleitoral e à Receita -na contramão do que agora afirma Arruda.

Clube 2. O imóvel, segundo o depoimento, pertence ao deputado federal Osório Adriano (DEM). À época da eleição, tinha uma espécie de caseiro-gerente chamado Tales Souza Ferreira. Era ele quem pagava fornecedores. Além de gabinetes de luxo, cama king size, banheiras e um restaurante, também havia um estúdio. Ali a AB Produções gravou os programas eleitorais dos "demos" no DF.

Laços 1. Ainda no depoimento, Durval Barbosa apontou a TBA como uma das empresas que "trocavam" doações à campanha por contratos no governo. Segundo ele, as negociações ocorriam entre Cristina Boner, da TBA, e o vice Paulo Octavio.

Laços 2. Cristina é irmã de Maria Estela Boner Léo, ex-sócia de Waldomiro Diniz na Faculdade Interfutura, criada para formar analistas de sistemas. Waldomiro foi pivô, em 2004, do primeiro escândalo de porte do governo Lula.

com SILVIO NAVARRO e LETÍCIA SANDER

Tiroteio

"É piada o Arruda falar em "herança maldita". Logo ele, que violou o painel do Senado e hoje chefia uma quadrilha no Distrito Federal."
Do deputado distrital CABO PATRÍCIO (PT), sobre expressão usada pelo "demo" para se referir, em nota divulgada ontem, a aliados de Joaquim Roriz mantidos no governo, em especial Durval Barbosa.

Contraponto

Junta médica


Acometido na sexta-feira passada de uma gastroenterite, José Sarney (PMDB-AP) deu toda sorte de palpites enquanto era atendido no serviço médico do Senado.
-Examina aqui. Aqui também- orientava o presidente da Casa, conhecido pela hipocondria.
O médico de plantão contou ao paciente ilustre que, quando prescreve remédio para algum senador, frequentemente ouve como resposta:
-Mas o Sarney me mandou tomar outro...
Para não contrariar o tratamento recomendado por Sarney, o médico adota uma solução de compromisso:
-Está bem. Tome o dele e o meu também!

ESCOLA

ARNALDO JABOR

O homem-bomba matou o "eu"

O GLOBO - 01/12/09

"Ultimamente, dei para falar sozinho. Não falo baixinho não, falo sozinho mesmo, principalmente à noite, deitado na cama e tentando entender o que se passa comigo. Falo alto e chego a ficar com medo. Medo de quê? Medo de entender quem fala com quem, quando falo sozinho. Eu falo e ouço ao mesmo tempo. Mas, quem ouve o que eu falo? Por exemplo, se eu disser no escuro do meu quarto: ‘Onde eu errei naquele amor?’ Tenho medo de que alguém me responda na sala ao lado, de dentro do banheiro vazio, onde pinga o chuveiro e a privada gorgoleja. Uma coisa que me intriga é a forma de falar sozinho; devo falar com todos os ‘ss’ e ‘rs’, ou posso falar desleixadamente, pois afinal de contas eu sei o que estou falando?

Aliás, nem preciso falar alto. Basta pensar entre resmungos, gemidos e risos abafados; mas, aí me assalta outro medo: há dentro de mim uma terceira pessoa ouvindo o diálogo de mim comigo mesmo? Mas não resisto aos clamores da norma culta e tento falar com alguma qualidade literária para mim mesmo. Assim, aumenta minha angústia. Uma pessoa fala - que sou eu -, outra pessoa ouve - que sou eu -, e uma terceira pessoa julga a qualidade do meu discurso, que também sou eu. Estarei maluco? Escrever também. Para quem eu escrevo isto aliás? Escrevo para mim mesmo, mas leio como se fosse outro, um crítico, um ‘Antônio Cândido’ dentro de mim. Quem é o outro que me lê dentro de mim? Estou cercado por vários personagens que me rondam, andam pelo quarto, vão até a sala, abrem a geladeira, comem meu pudim e voltam, sempre ouvindo e julgando.

Quero ficar sozinho e não consigo. Vou ao espelho e me olho. Madrugada. Não estou sozinho porque me vejo me vendo no espelho. ‘Je... est un autre’. Não há ‘eu’. Quem disse isso? Foi Rimbaud ou Artaud? Acho que os dois. Estou possuído por outros ‘eus’ que não são ‘eu’..."
(Este texto seria o início de uma novela que pensei em escrever. Não o fiz, mas serve para abrir este artigo de hoje - "papo-cabeça meia-boca", desculpem...).

Afinal de contas, quem sou eu? Fico falando na TV, escrevendo nos jornais, tentando ser um sujeito útil, mas, no duro, quem fala debaixo dessas duas letrinhas: "Eu"?

Oscilamos entre o desejo de ser "especiais", únicos e brilhantes sujeitos, para sair do anonimato (supremo pavor) e ser algum "eu", ou então temos o desejo da solidão absoluta, ser "nada", apenas um bicho sem memória ou desejo, uma formiga conduzida por um comandante qualquer.

Talvez nesse "bicho sem eu" haja um "eu" mais geral, feliz, sem fraturas, um eu submisso, nosso desejo oculto, como escreveu Dostoievski, ou um sujeito mítico, como nos revelou Levi-Strauss sobre a mente selvagem. A tradução da palavra Islã é submissão; o eu selvagem é "fora do tempo" ("timeless").

Para nós, ocidentais de base judaico-cristã, é difícil porque inventaram o tal "livre arbítrio" (confronte "O Grande Inquisidor", de Dostoievski). Entre o indivíduo e a massa, entre o ser e o nada, respira a liberdade, como um bicho sem dono, a liberdade, esta coisa que nos provoca tanta angústia. Que liberdade? Para ser contra a guerra? Ou para ser a favor da guerra? Tanto faz, pois a guerra já está decidida pela marcha das coisas.

O "eu" está sem orgulho, sentindo-se inútil. O "eu" virou um luxo para poucos.

Há o desânimo de pensar, de escrever sobre algo morto e inevitável e que já foi decidido. Sem esperança, não há filosofia. Temos de nos conformar que não há mais solução para o terrorismo, para a boçalidade, para o mal, para a miséria, para o meio ambiente.

Só resta ao "eu" acumular riquezas, charmes ou ilusões. Seria o "eu-burguês", o "eu-Miami", o "eu narciso", o "eu" que mostra a bunda, o "eu" de silicone ou o "eu-Big Brother". O homem-bomba matou o "eu".

Todo o pensamento humanista está tristinho, queixoso de tanto absurdo, tanto na guerra internacional como na vida urbana. De que adiantam o lamento, o escândalo? Como falar em compaixão a propósito de um menino de 13 anos que decepa a cabeça de um colega com um machado? Como falar em democracia com muçulmanos analfabetos, que, desde o século VII, batem a cabeça nas pedras para extirpar qualquer resquício de liberdade, enquanto aqui na América Latina a democracia é usada para fundar novas ditaduras?

O século XXI começa como uma Idade Média, comandado pela indústria das armas e da poluição incontrolável. Não dá para entender os acontecimentos à luz de um antigo humanismo, de uma tradição racional que nos prometia um futuro de harmonia. Só nos restará um "catastrofismo esclarecido", como nomeou Jean Pierre Dupuy, filósofo da Escola Politécnica de Paris e da Universidade de Stanford.

Na coletânea organizada por Adauto Novaes, sobre a "Experiência do Pensamento", ele escreveu o seguinte:

"Sempre o mal esteve relacionado com as intenções de quem o comete. Os horrores do século XX deviam ter-nos ensinado que isso é uma ilusão. O absurdo é que um mal imenso possa ser causado por uma completa ausência de malignidade, que uma responsabilidade monstruosa possa caminhar junto com uma total ausência de más intenções. (...) a catástrofe ecológica maior com que nos deparamos e que põe em perigo toda a humanidade será menos o resultado de um mal dos homens ou mesmo de sua estupidez. Terá sido mais por uma ausência de pensamento (‘thougthlessness’)(...) Hoje, um sem número de decisões de toda ordem, caracterizadas mais pela miopia do que pela malícia ou pelo egoísmo, compõe um todo que paira sobre elas, segundo um mecanismo de autoexteriorização ou de autotranscendência. O mal não é nem moral nem natural. É um ‘mal’ do terceiro tipo, que chamarei de ‘mal sistêmico’".

Diante da espantosa evolução da tecnociência, o "eu" virou uma bactéria tolerada, a ser clonada e dirigida.

Em suas aulas e seminários, Jacques Lacan sempre perguntava aos que lhe inquiriam ou criticavam: "D´ou parlez-vous, monsieur?" ("De onde" o senhor está falando?)

É o meu caso.

Afinal de contas, de onde escrevo isso? Para quê?

ELIANE CANTANHÊDE

Estouro da boiada

FOLHA DE SÃO PAULO - 01/12/09



BRASÍLIA - A profusão de panetones, vídeos e dinheiro vivo é um golpe profundo no PFL, ops!, DEM, mas não é muito menos grave na própria chapa de oposição, liderada pelo PSDB. Por isso, é até curiosa a discrição do PT.
O efeito sobre o DEM é óbvio. José Roberto Arruda era uma grande vitrine, o único governador do partido, e a Executiva Nacional decide hoje não se, mas como vai expulsá-lo: com ou sem direito a defesa. Restam só o prefeito Gilberto Kassab e algumas dezenas, minguantes, de deputados e senadores.
Já o efeito sobre a candidatura de oposição, seja ela de José Serra ou de Aécio Neves, se dará na construção dos palanques e do discurso.
Enquanto Dilma Rousseff montou um leque de alianças que vai do PC do B ao PMDB, com o dobro de tempo na TV, Serra ou Aécio têm um DEM de perna quebrada, um PPS no ocaso, pedaços do PMDB e promessas -ora do PTB, ora do PP.
O mensalinho do DF também subtrai dois trunfos da oposição: já não é mais possível encenar a ira contra o mensalão do Planalto, que, de resto, já estava mesmo surrado; e vão para o lixo as fortes imagens de obras, viadutos, metrôs e coisas do gênero que o engenheiro Arruda cederia da sua gestão à campanha tucana -na qual ele vinha se insinuando como candidato a vice.
Trata-se de um golpe e tanto, e é em momentos assim que o que é ruim só pode piorar: cobranças, acusações mútuas, ameaças, racha.
Se demos, tucanos e velhos comunistas já andavam arrancando os cabelos com a diferença de ritmo entre Lula-Dilma e Serra-Aécio, devem estar todos, a esta altura, à beira de um ataque de nervos, ou da calvície profunda.
Em 2010, não estarão em jogo quatro ou oito anos, mas 12. Se Dilma vencer, ela vem primeiro e Lula de volta em seguida. No caso do DEM, partido alimentado pela máquina, é a morte por inanição, ou o estouro da boiada. O que resta do PSDB sem poder e sem o DEM?

GOSTOSA

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MÍRIAM LEITÃO

Os mensalões

O GLOBO - 01/12/09


As cenas são demolidoras da confiança de qualquer pessoa na política. O país se espanta, depois de achar que nada mais o espantaria. Não que se pudesse dar crédito aos protestos éticos do Democratas, mas as imagens do que houve em Brasília superaram as piores expectativas. Agora, cada partido tem seu escândalo. Existe o mensalão do PT, o do PSDB e o do DEM. São todos, tristemente, iguais.

Tão iguais que já se pode dizer que existe uma tecnologia conhecida, causas identificadas e um caminho previsível da corrupção no Brasil. Se há um padrão, pode-se ter uma metodologia de combate ao crime.

— Nos três mensalões, o dinheiro ilegal foi alimentado por empresas fornecedoras do governo ou de estatais, o que foi possível pela falta de transparência nos contratos. O remédio é aumentar o acesso da sociedade às informações — diz o jornalista Fabiano Angélico, diretor de projetos da Transparência Brasil.

Claudio Weber Abramo, que falou ontem aqui no jornal na campanha “São dois gritando”, acha que uma das causas já identificadas dos desvios é o excesso de cargos em comissão e a ocupação da máquina pública por estes nomeados, ainda que não haja garantia de que isso não ocorra com funcionário de carreira.

Fabiano Angélico explicou que no Brasil o número dos cargos que o presidente pode distribuir é desproporcional ao que acontece em outros países: — O presidente americano nomeia pessoas para novecentos cargos. No Brasil, o presidente nomeia mais de sessenta mil cargos. É uma verdadeira usina de corrupção.

Nos Estados Unidos, a pessoa indicada é investigada antes de ser confirmada.

Na montagem do governo Obama houve casos de pessoas que não puderam ser nomeadas por dúvidas quanto ao seu passado.

Na opinião de Fabiano Angélico, o país precisaria de mais ONGs especializadas em combate à corrupção, e a imprensa deveria tratar menos da briga política e mais de como combater o crime.

O novo presidente do PT, José Eduardo Dutra, disse que em toda eleição há risco de caixa dois, porque isso é “inerente ao modelo” de financiamento eleitoral.

O argumento é que se houver financiamento público exclusivo de campanha isso não acontecerá. O financiamento público exclusivo não garante nada. O que poderia ajudar seria o incentivo do governo às doações de pequena quantia por pessoas — como existe na Costa Rica — o que aumentaria a relação do eleitorado com o partido, e deixaria os partidos mais independentes em relação às empresas.

Um erro que está ocorrendo é a naturalização do caixa dois, como se fosse um crime menor. Ao garantir que não houve pagamentos mensais à base para votar com o governo, José Eduardo Dutra disse ao “Estado de S.Paulo”: “O fato da existência do caixa dois é notório e comprovado.” O atual escândalo é mais corrosivo porque é possível ver as cenas, mas não há mensalão melhor ou menor.

Todos são inaceitáveis. No federal, há 39 denunciados e ele movimentou pelo menos R$ 55 milhões. No do PSDB de Minas Gerais saíram das empresas públicas R$ 3,5 milhões e houve empréstimos de R$ 11 milhões feitos por Marcos Valério no Banco Rural para irrigar o sistema.

O mesmo esquema com o mesmo personagem e no mesmo banco ocorreu no mensalão do governo Lula.

No mensalão do DEM, o país está vendo uma quantidade industrial de cenas de corrupção através dos vídeos gravados por Durval Barbosa.

No federal, houve também uma farta distribuição de recursos em quartos de hotéis ou na boca do caixa.

Estava tudo na contabilidade da diretora financeira do SMP&B ou nos registros do Banco Rural. Só não foi visto.

No federal, o país foi informado do dinheiro na cueca do assessor do deputado estadual José Nobre Guimarães, irmão do então presidente do PT; mas agora, o país viu o dinheiro abarrotando os bolsos e as meias do presidente da Câmara Distrital, Leonardo Prudente.

E a cueca voltou a aparecer como local-depósito, num vídeo exibido pelo site IG ontem à tarde.

Essa trágica equalização confirma a impressão de que política é assim mesmo: de que isso é feito “sistematicamente” neste país.

Diante da notícia do que aconteceu em Brasília, José Eduardo Dutra disse: “Quem com mensalão fere, com mensalão será ferido.” A frase é muito ruim. Sugere que ninguém denuncie ninguém? Ou sugere que isso é a vingança de quem foi ferido no primeiro mensalão? Outra causa da repetição dos mesmos crimes é a falta de punição. No Peru, o homem de confiança de Alberto Fujimori gravou a si mesmo distribuindo dinheiro para os deputados. O governo caiu, Fujimori fugiu, Vladimiro Montesinos está preso e agora Fujimori foi condenado. O Peru criou regras de mais transparência e um judiciário especializado em crimes de corrupção.

Os escândalos vão, em camadas, se sobrepondo.

Diante de um novo caso se esquece o anterior. Esta semana deve voltar ao Supremo o caso do senador Eduardo Azeredo, no mensalão mineiro, ofuscado pelo novo escândalo. Do mensalão federal nem se fala, e o PT faz esforço para apagá-lo da história. E os três são terrivelmente parecidos.

ANCELMO GÓIS

NEGÓCIOS & CIA.

O GLOBO - 01/12/09


As onze bocas de fumo do Pavão-Pavãozinho e Cantagalo, no Rio, ocupadas ontem para instalação de um posto da Unidade de Polícia Pacificadora, movimentavam entre R$ 200 mil e 300 mil por mês.
A conta é oficial.
NA VITRINE
A Rádio Lojista conta que a Riachuelo estaria namorando a aquisição das Lojas Leader.
VERÃO DO URUBU
O time do Vitória, goleado domingo pelo Fluminense no Maracanã (4 a 0), teve problema com os... Urubus.
Não a torcida do Flamengo, assim chamada pelos adversários. É que uma ave entrou na turbina do avião que levaria a delegação a Salvador.
NO AR
Trabalhadores da aviação prometem fazer barulho e atrasar os voos hoje, em Guarulhos. Será?
O pessoal está em campanha salarial.
COISA CHIQUE
A loja de material esportivo Track & Field é a mais nova marca paulista, em que pese o nome na língua do Obama, a abrir na Madison Avenue de Nova York.
NO MAIS
Agora que PT, DEM e PSDB já tiveram seus mensalões, que tal falar sério sobre uma reforma política de verdade?
Ou alguém imagina que uma negociação “política” na maioria das assembleias do país seja muito diferente do que já se viu por aí?
PRÉ-SAL NO SAMBA
Será de R$ 12 milhões o aporte da Petrobras para as escolas de samba do Grupo Especial no carnaval do Rio de 2010.
Deste total, R$ 8 milhões serão por intermédio da lei de incentivos fiscais do ICMS de Sérgio Cabral.
CONTAMINOU O SERTÃO
O Instituto de Gestão das Águas e Clima da Bahia notificou as prefeituras de Caetité, Lagoa Real e Livramento de Nossa Senhora, no Sertão, para não consumirem água de seis poços e mananciais da zona rural.
É que detectou radioatividade acima do permitido pela portaria 518/04 do governo.
SEGUE...
Há três semanas, o Greenpeace denunciou o vazamento de uns 30 mil litros de licor de urânio em Caetité. A estatal Indústrias Nucleares Brasileiras opera uma mina ali.
“LULA, FILHO DO BRASIL 2”
Para realizar Lula, o filho do Brasil os produtores gravaram uns 15 depoimentos, inclusive com Lula e seus irmãos.
Este material vai virar uma espécie de “Lula, filho do Brasil 2”, que será vendido por R$ 10, em forma de DVD, ao lado do longa original, a partir de abril.
A GUERRA DO ESPETO
O Porcão conseguiu uma vitória na Justiça para permanecer no Aterro do Flamengo. É que o desembargador Luís Fernando de Carvalho suspendeu os efeitos de liminar, a favor do Garcia & Rodrigues.
SAMBA DO MENSALÃO
José Roberto Arruda, antes do flagrante delito do mensalão, tinha marcado visita, quinta, à quadra da Beija-Flor de Nilópolis, cujo enredo de 2010 será sobre Brasília.
ALÔ, EDUARDO PAES
Estes dias tinha banheiro na Quinta da Boa Vista sem luz, água, papel e tampa no vaso.