sábado, dezembro 07, 2013

Malacafentos somos todos - MARLETH SILVA

GAZETA DO POVO - PR - 07/12


A carta começa assim:

“Rio de Janeiro, 23 de junho, 1980.


Poeta querido:

Continuo malacafento, mas tenho notícias boas de você, por amigos comuns, e isso me alegra.”

Drummond estava malacafento. Ou seja, com malaca. Por isso não pôde visitar Vinicius de Morais. A malaca dele era herpes-zóster. Surpresa é essa palavra que usou: malacafento. Na minha casa, ouvia as irmãs usando este adjetivo, que sei lá onde aprenderam. Supunha que significava mal vestido, abobado, algo assim. Acabei de descobrir que é “adoentado, achacado, indisposto”, como me contou o Aurélio.

Conferi com dois portugueses se por lá o adjetivo é mais usado. Ao buscar a origem de “malaca”, soube que é o nome de uma cidade na Malásia onde os portugueses se instalaram na mesma época em que chegaram por aqui. São Francisco Xavier andou por lá. Camões falou dela. Pois o Rui Amaral Mendes e o Rui Manuel Amaral, ambos da cidade do Porto, me garantiram que ninguém é chamado de malacafento em Portugal. O Rui Amaral não conhecia a palavra. O Rui Manuel conhece, mas disse que é rara e nem consta no dicionário que ele consultou.

Não conheço nenhum dos dois Ruis. Encontrei-os no Facebook e eles devem estar se perguntando de onde saiu a brasileira que usa palavras estranhas e aborda desconhecidos. Perigosa não sou, garanto aos Ruis. Às vezes, malacafenta, admito.

A carta de Carlos Drummond de Andrade a Vinicius está no Arquivinho publicado pelo Instituto Moreira Salles com reproduções de materiais de seu acervo. Acervo fantástico, que vem recebendo documentos de músicos, escritores e fotógrafos de várias gerações e lugares do Brasil e fazendo bom uso dele. Vale a pena visitar o Instituto na internet.

Três anos depois da carta a Vinicius, Drummond voltou a usar suas dores para se desculpar com um amigo. Desta vez escreve para Cora Coralina, que havia lhe enviado um livro novo. É 7 de outubro de 1983 e o poeta diz: “Não lhe escrevi antes, agradecendo a dádiva, porque andei malacafento”.

O ser humano passa a vida tentando se descobrir e se impor. Eu preciso que o mundo reconheça quem sou ou serei ninguém, um vulto impreciso, uma sombra solitária. As palavras que usamos e a forma como as usamos são só nossas. Por isso não gosto de modismos, de gírias que todo mundo repete por meses e depois esquece. Elas nos pasteurizam, homogeneízam, sombreiam. As palavras que adotamos fazem o vulto se transformar em um ser completo. Meu pai elogiava com um “batuta”, minha mãe com um “consciencioso”, a amiga Rosy fala em pessoas da “melhor cepa”. Eu os vejo nessas palavras, nas palavras eles sempre estarão.

Em casa, me chamaram de malacafenta. Não me ofendi. Agora menos ainda. Drummond andou muito malacafento, perdeu um encontro com Vinicius de Morais, fez feio com a Cora Coralina e por causa de suas palavras nós lhe perdoamos tudo.

A culpa foi da Nokia... - CORA RÓNAI

O GLOBO - 07/12

O Windows Phone me levou a testar o Surface, mas falta consistência ao tablet da Microsoft e ao Windows 8


Desde que me apaixonei pelo Nokia Lumia 920 e pelo Windows Phone 8, passei a ter grande curiosidade em relação ao Surface, o tablet da Microsoft. O Windows Phone é, para mim, tudo o que um sistema operacional móvel deve ser: rápido, inteligente, bonito. Facilita demais a vida do usuário, ainda que quem já esteja instalado na zona de conforto do iOS ou do Android possa estranhá-lo no início. Assim, no tradicional “dia livre para compras” que tive em Miami, corri para a Best Buy e fui direto à área onde eram exibidos os Surface e seus acessórios. Brinquei um pouco com um deles e fiquei muito bem impressionada com a tela, com o design inovador, com o acabamento primoroso e com o novo teclado (mais caro!) que substituiu o teclado chiclete que naufragou junto com a primeira versão do aparelho.

Eu não estou precisando de um tablet novo, mas ando à caça de um notebook para tomar o lugar do Macbook Air de 11” que me acompanha pelo mundo. Gosto do peso, do look e do design dessa máquina, mas detesto o seu sistema operacional e, sobretudo, as idiossincrasias que apresenta a quem escreve habitualmente num PC. Sempre usei ThinkPads e Vaios, mas, quando o Macbook Air foi lançado, não havia nada semelhante no mundo PC.

O Surface Pro me pareceu, lá na Best Buy, uma boa ideia. Um tablet com alma de PC, apto, portanto, a eliminar uma das tralhas que viajam comigo. De modo que comprei um, não totalmente topo de linha, mas quase, acompanhado pelo novíssimo teclado iluminado. O conjunto custou quase mil dólares.

No hotel, abri o pacote e mergulhei na instalação da máquina. E lá, mexendo com o Surface fora de uma bancada, comecei a me dar conta das suas falhas. Pelo menos comigo, ele nunca poderia funcionar como notebook, porque quando escrevo em quartos de hotel gosto de me recostar na cama, com a máquina no colo — e ele requer uma superfície plana para ser notebook. Como tablet, por outro lado, é pesado demais para dar certo.

Mas como sou brasileira e não desisto nunca, ou quase nunca, passei as noites seguintes às voltas com a engenhoca. E aí fui me dando de um outro problema: Windows 8 e Windows Phone são animais parecidos, mas diferentes. Além disso, o que funciona numa tela de 5” não funciona, necessariamente, numa de 11”. Falta ao Windows 8 a consistência que sobra ao Windows Phone. Ele é um híbrido desagradável, que ora trabalha com telhas, ora com a interface clássica do Windows. Alternar a mente e os dedos entre uma coisa e outra é cansativo e enervante — mais ou menos como se, para ir da sala à cozinha, tivéssemos que entrar em outra dimensão.

No quarto — e penúltimo — dia da viagem, eu já estava convencida de que tinha feito o pior negócio da minha vida. Fui jantar com uma amiga e comentei, amargurada, o dinheiro posto fora.

— Ué, mas por que você não pede a grana de volta? Estamos nos Estados Unidos, lembre-se.

E assim foi. No dia seguinte, com poucas horas para fazer as malas e embarcar, corri na Best Buy com o Surface e os seus acessórios. Já não tinha a caixa, que havia jogado fora, mas tudo o que a atendente me perguntou foi se o produto havia quebrado ou se eu não havia gostado dele.

— “Não gostar” é pouco — respondi. — Eu detestei esse tablet! Odiei!

A moça pegou a tralha, sequer conferiu os itens e fez o retorno no meu cartão. Não levou cinco minutos. Fiquei tão emocionada que comprei um HD externo da cor do Macbook Air e, quando voltei para o hotel, dei um beijo de gratidão no meu notebook.

Sorry, Microsoft, mas ainda não foi dessa vez.

A conversão dos drones - LAURA GREENHALGH

O Estado de S.Paulo - 07/12

Decerto os leitores se depararam com imagens da "coisa", nos últimos dias: um pequeno drone de quatro patas, com duas garras laterais que se atracam a uma caixa de plástico amarela. Clack. Clack. Fechado. Lá vai a abelha tecnológica pelos céus de alguma cidade americana, carregando mais um produto vendido pela maior varejista do mundo - a Amazon, faturamento de US$ 61 bilhões em 2012 e expectativa de atingir US$ 100 bilhões em poucos anos. Dentro da caixa de plástico, um secador de cabelos. Ou uma ferramenta. Um CD. Um livro. Um tênis para corrida. Nada que supere 2 kg de peso para não comprometer a musculatura do mensageiro, doravante tratado como Amazon Prime Air. Assim Jeff Bezos exibiu dias atrás o astro do seu novo serviço de entregas, o Drone Delivery System. Tinha um sorriso esperto no rosto quando vaticinou: "Vai ser divertido...".

Sem dúvida. Especialmente se a "coisa", hoje em protótipo, não aterrissar na sua ou na minha cabeça, com a última temporada de Downtown Abbey. O que foi isso na sua orelha? Nada não, rasante de drone. Olha lá, é um pássaro? Um avião? O Super-Homem? Não, é o drone da Amazon, boba... Falta saber o que fará o entregador high-tech quando der de cara com uma árvore frondosa, já em procedimento de pouso. Sairá cortando fios de alta tensão para pousar na floreira em que jogará o DVD com os finalistas do The Voice? Parece maluquice, mas Bezos pressiona um bocado a administração Obama para aprovar protocolos novos (leia-se: mais flexíveis) sobre o uso de aeronaves não-tripuladas na logística do comércio. Algo esperado para acontecer em 2015, quando então o empresário já terá sua frota distribuída em uma centena de mega depósitos. As engenhocas voadoras vão fazer entregas leves (86% dos produtos despachados pela Amazon têm até 2 kg de peso), a no máximo 16 km de distância do depósito. E é só o começo. Se tem uma coisa que drone faz é voar longe.

Os VANTs, Veículos Aéreos Não-Tripulados, revolucionaram a aviação militar e hoje deflagram uma nova corrida armamentista no planeta, garante o jornalista americano John Horgan, autor de The End of Science. São mais de 50 países com tecnologia para desenvolver seus próprios modelos (inclusive o Brasil), drones que tanto podem decolar de um aeroporto militar em Ohio, quanto de uma base secreta mantida pelo Hezbollah no Líbano. Portanto, é preciso um bocado de discernimento ao comparar a letalidade de um Reaper, que leva quatro mísseis e duas bombas em suas patas, à simpatia de um octocopter da Amazon, carregando um inalador para alguém gripado, numa noite de inverno. Ok, tudo é drone. Mas o mundo do consumo parece fazer uma espécie de conversão religiosa dessas máquinas mortíferas em entregadores legais, que nunca folgam.

*

Só que, no princípio, era a guerra. Há um artigo poderoso na GQ de outubro contando o dia a dia de uma base de VANTs no deserto de Nevada, atuando remotamente no Afeganistão. Sentados lado a lado numa sala escura, por sua vez dentro de um bunker sem janelas, piloto e controlador de drones seguem ordens militares. Diante de uma parede com telas de computador, operam os olhos, as asas e as armas do Predator (antecessor do Reaper). É videogame puro, assegura o "piloto" Brandon Bryant, 6 anos de contrato com a Força Aérea americana, 6 mil horas de voo. Sua primeira pergunta para a base ao entrar na sala, em mais um dia de trabalho, é: "What motherfucker's gonna die today?". Quem vai ser a vítima do dia? Já despachou para o além 1.600 desses filhos de boa mãe.

Hoje o desafio da indústria bélica é miniaturizar drones. Terrível. Micro Air Vehicles (MAVs) foram colocados em teste pela Força Aérea americana. Têm a forma de pássaros e mariposas. Driblam câmeras de segurança. Detectam a presença de armas químicas e biológicas. São indicados para vigilância em áreas urbanas. Dispõem de pontaria de alta precisão. Nessa indústria incrivelmente florescente, existem até empresas que se especializam no desenvolvimento de programas para drones caçadores de drones. Porque a guerra entre eles não tardará.

Então, como assimilar a ideia de que essas máquinas, redimidas pelo consumismo (sem perder suas patentes militares, claro), vão fazer parte do nosso cotidiano, aportando em nossas janelas com caixas de bombons, livros, eletrônicos e muito mais? Seria o drone delivery apenas uma excentricidade americana?

Vejamos. Existem aviões não tripulados operando missões civis. Em sítios arqueológicos, por exemplo. Nada mais eficiente do que filmar, de um VANT, tesouros milenares expostos à ação do tempo. Tem sido assim em San José de Moro, no Peru, zona das ruínas moche. Mas a moda deve pegar é no mundo das entregas ultra rápidas, para consumidores cada vez mais ansiosos e/ou neurotizados. O queijo da sua pizza chegará mais quentinho nas asas de um besouro acionado por GPS do que na garupa de um motoqueiro estressado e mal pago? Se a sua mulher grávida delirar de desejo por sorvete de macadâmia com pistache e frutas do bosque, no meio da noite, você chama o drone? Essa compulsão é justamente algo com que Bezos quer contar, como mostra Brad Stone, autor da recém-lançada biografia do todo-poderoso da Amazon. O título do livro ficou perfeito: The Everything Store ( A Loja de Tudo).

*

Bezos é um tipo curioso. Com seu império tentacular, talvez precise de uns brinquedinhos para diluir o peso de tanto faturamento. Já ganhou o apoio de Bill Gates para o Amazon Prime Air. O dono da Microsoft foi cauteloso, mas endossou: se o drone delivery der certo, vai usá-lo para distribuição de remédios em áreas de difícil acesso do planeta (coisa que a Melina and Bill Gates Foudation já vem fazendo, exemplarmente, com bípedes andantes). E o mesmo Bezos que se diverte com drones, admite curtir jornais. Comprou pela bagatela de US$ 250 milhões o respeitável Washington Post. Na primeira reunião a portas fechadas com editores, sentenciou: deve ser rigorosamente tão simples fazer uma assinatura do Post quanto comprar um pacote de fraldas na Amazon. Eis o estilo gerencial do homem. Se jornais serão entregues por drones? Para não perder consumidores fiéis à edição em papel, por que não? Acima de tudo, o que importa para Bezos é vender.

Um pulo em São Paulo - ARNALDO BLOCH

O GLOBO - 07/12

Tudo cheirava a casa de praia e de serra, e urbana e interiorana, Shangri-lá do pertencimento ao mundo


O pretexto para ir a São Paulo após um longo afastamento era a exposição sobre Stanley Kubrick. A verdade, no entanto, era outra: o que me impelia rumo à Pauliceia era uma necessidade de sair do Rio por ao menos um fim de semana para outra metrópole. Uma metrópole tão brasileira/próxima quanto estrangeira/distante. Sair sem motivo. Sem trampo. Para desapegar da toca do Leblon.

Dar uma espanada na preguiça e um “inté” aos circuitinhos. Rejeitar os mimos e comodidades da província solar, a ex-capital que sonha, vã, ser de novo o centro do mundo, como era Copacabana nos anos 1950.

Olhei para o centro do umbigo e tomei coragem de abordar o assunto.

— Precisamos conversar.

— Deixa-me, vai passear, vai a essa São Paulo — disse o umbigo, com um muxoxo.

Seguindo a moda atual, escolhi um voo que saísse do Galeão e pousasse em Congonhas.

Além de mais barato, era sábado de noitinha, o que, num aeroporto maior, dava jeitão de rota internacional a um pulo aéreo de 40 minutos movido a ração de biscoito e refri.

Em Congonhas, liguei para Reinaldo Moraes, autor do melhor livro brasileiro do novo milênio, “Pornopopeia” (Objetiva), e pedi com sinceridade que me pusesse em algum trem noturno para a alta diversão.

— Grande! Mais tarde vai ter um samba. Samba paulista. Numa casa nos Jardins. Liga para a Martha. Eu apareço.

Mulher de Reinaldo, Martha Garcia, minha adorável editora em seus tempos de Companhia das Letras (recentemente, foi para a Cosac Naify), estava numa peça de teatro e prometeu me responder mais tarde. Eu já me encontrava coberto quando recebi a ligação.

— Então? Vamos?

A casa nos Jardins, de grandes amigos da Martha e do Reinaldo, não era daquelas opulentas. Era apenas bela, espaçosa e bem dividida, e tinha, claro, um jardim, modesto e belo.

Achei que ouviria Adoniran até o sol raiar, mas do piano, dos bongôs, do tantans e do tamborim só vinha samba carioca, algumas bossas, Chico Buarque (esse é meio paulista) e tal.

A roda era formada por médicos amadores de música, e a coisa tinha suingue. Rodopiando como um pião, um pequeno barril (ou seria uma grande lata?) de chope portátil era franqueado, para molhar o gosto dos intrigantes pães de linguiça com massa de folheado herbáceo.

Mais tarde pintou uma aguardente de ameixa que disseram ser tcheca, mas que a dona da casa se prontificou a declarar croata.

A certa altura todos, inclusive os que estavam no jardim, se reuniram em torno do piano para decidir a saideira, o que desaguou numa série de várias saideiras. A coisa terminou com o “Hino à Bandeira” e, em alto grau de emoção, fechou com “galo cantou às quatro da manhã”. Embora fossem de fato quatro da manhã, não havia galos nos Jardins, nem mar nem céu azul, mas era como se fosse o alto do Vidigal.

Na saída, Reinaldo Moraes me perguntou, com seu ar de sacana-do-bem.

— E aí? O que achou da nossa demonstração de brasilidade?

No dia seguinte tinha encontro marcado com meu amigo Mineiro. Juntos fomos à expô do Kubrick, pretexto da viagem. Um parquinho de diversões. Uma kubricklândia. Mas tem o starchild (bebê onisciente) original de “2001” e uma quantidade inacreditável de documentação, como diálogos centrais rabiscados pelo cineasta, organogramas de filmagem, croquis, maquetes e fotos.

Kubrick dá fome: almoçamos, numa cantina, uma suntuosa (e quase líquida de tão macia) perna traseira de cabrito acompanhada de um saladão cujos tomates e agriões pareciam ter sido plantados em Itu.

A noite de domingo acabou me levando a um lugar chamado Balcão, de tradição aparentemente liberal e com um excelente cheeseburger, embora o whisky sour fosse frutoso demais para um apreciador.

Mais tarde, fui parar num apartamento em Santa Cecília (vizinho de Higienópolis) que se parecia com o ideal que eu tinha, quando menino dos anos 1970, do que seria uma casa moderna, descolada, hippie, culta, com madeiras, objetos, almofadas e uma cozinha “livre”, um lindo pandemônio perfeitamente equilibrado nas asas da imaginação.

Da janela via-se um morrinho, e tudo ali cheirava e soava a casa de praia e de serra, e urbana e interiorana, espécie de Shangri-lá do pertencimento ao mundo.

Cheguei ao hotel com os sentidos largamente expandidos e compus, num programa de computador (Sibélius), uma versão altamente contrapontual do “Hino à Bandeira”.

Voltar ao Rio foi estranho. Era como se eu tivesse feito uma longa viagem a outra galáxia através de um portal de ponte aérea. E cá estava o Rio, doce e indiferente, a caminho do mar, ou do trabalho, naquele passo mais sossegado, ou ao volante, melancólico com o engarrafamento. Quando cheguei em casa, não encontrei o umbigo que deixara.

Humanos inocentados por fezes fossilizadas - FERNANDO REINACH

O Estado de S.Paulo - 07/12

Nas Ilhas Baleáricas, vivia feliz um cabrito montanhês. Faz 4.500 anos, na época que os seres humanos chegaram à ilha, o cabrito se extinguiu. Os cientistas acreditavam que nossos antepassados, predadores vorazes, haviam caçado o cabrito até a extinção. A novidade é que, agora, nossa espécie foi inocentada desse crime ecológico que ocorreu 2.500 anos antes do nascimento de Cristo. A análise de fezes fossilizadas demonstrou que não somos os culpados.

A cena do crime

As Ilhas Baleáricas são um pequeno arquipélago localizado no Mar Mediterrâneo, distante 200 km da costa da Espanha. As três ilhas maiores, Maiorca, Menorca e Ibiza, surgiram quando esse pedaço de terra se separou da costa da Espanha, 4,5 milhões de anos atrás, muito antes do surgimento dos seres humanos na África. Durante grande parte dos 4,5 milhões de anos, a flora e a fauna dessas ilhas evoluíram de maneira independente. Um ancestral das modernas cabras e ovelhas evoluiu de maneira independente no continente e nas ilhas. No continente surgiram os diversos tipos de cabras e ovelhas que conhecemos hoje, e, na ilha, esses mesmos ancestrais se transformaram, ao longo de milênios, em um pequeno cabrito montanhês chamado Myotragus balearicus, muito diferente dos cabritos modernos.

A vítima

A análise dos fósseis de Myotragus demonstra que o animal era pequeno, com meio metro de altura, tinha pernas curtas e os olhos localizados na frente do crânio, e não na parte lateral, como ocorre com os cabritos modernos. Esses dados, e o fato de que nunca foram encontrados fósseis de felinos ou outros predadores na ilha, sugerem que esse cabrito era o único mamífero de grande porte que sobreviveu na ilha. Sem predadores, o animal não necessitava de pernas poderosas para correr ou olhos laterais capazes de identificar o inimigo. Assim, ao longo de milhões de anos, foi diminuindo, se tornando lento e provavelmente muito calmo. Mas a vida não era uma festa mediterrânea. O Myotragus tinha de viver da escassa vegetação que existe na ilha, composta por um número muito menor de espécies, e ainda sobreviver aos longos períodos de seca. O Myotragus viveu bem durante mais de 4 milhões de anos, mas os fósseis mais recentes desta espécie são de 4 mil a 6 mil anos atrás. Os cientistas acreditam que a espécie se extinguiu por esta época. Ninguém se preocupou em descobrir as causas de sua extinção.

O crime

Tudo mudou quando os cientistas começaram a estudar os fósseis de seres humanos encontrados em Maiorca. Eles descobriram que os seres humanos só chegaram na ilha muito recentemente, por volta de 4.500 anos atrás. Essa descoberta levou os cientistas a imaginarem que ao chegarem à ilha os seres humanos encontraram uma presa fácil, um cabrito que mal corria, não tinha medo de predadores e devia ter uma carne deliciosa. Daí a concluir que nossos ancestrais haviam exterminado os cabritos foi um pulo.

O inquérito

Recentemente, foram encontrados em Maiorca diversos coprólitos (fezes fossilizadas). O DNA presente nos coprólitos foi extraído, sequenciado e comparado com o DNA extraído de ossos fossilizados do Myotragus. Como as sequências eram idênticas, foi concluído que os coprólitos eram fezes de nosso simpático cabrito. Em seguida, por meio da análise de carbono 14, os cientistas descobriram a data em que as fezes haviam sido produzidas. Elas haviam sido produzidas por volta de 5.000 anos atrás, aproximadamente na época em que os seres humanos haviam chegado à ilha. O passo seguinte foi determinar a dieta dos Myotragus a partir do conteúdo das fezes. Isso é feito analisando no microscópio os esporos de planta encontrados nas fezes e comparando com os esporos fósseis ou esporos modernos.

A forma e o tamanho dos esporos permite saber que espécies de plantas os animais comiam. A grande surpresa foi a descoberta de que os cabritos se alimentavam sobretudo de uma única espécie de planta e que os esporos de outras plantas estavam praticamente ausentes nas fezes. O problema ficou mais interessante quando os cientistas descobriram que esta espécie de planta não existia mais na ilha. E aí foram investigar quando e por que essa espécie de planta havia se extinguido.

Analisando os dados climáticos da região os cientistas descobriram que a planta despareceu de diversas ilhas no Mediterrâneo por volta de 5.000 anos atrás por causa de uma mudança climática na região. Mas então teriam sido mesmo os seres humanos os responsáveis pela extinção do cabrito? Ou a causa seria a extinção desta planta que era o principal alimento dos cabritos? Seriam os nossos ancestrais inocentes?

A absolvição

Mas como saber se nossos ancestrais eram realmente inocentes? Eles chegaram à ilha na mesma época em que os cabritos se extinguiram e na época em que o alimento dos cabritos também desapareceu. Seria pura coincidência? Mas, se nossos ancestrais tivessem feito churrasco de toda a população de cabritos, os ossos de cabritos deveriam estar presentes nas cavernas habitadas pelos primeiros seres humanos, assim como os ossos de mamute e outros mamíferos caçados pelos seres humanos na Europa continental são encontrados nas cavernas e acampamentos pré-históricos. Mas o fato é que em nenhuma escavação em que foram encontrados fósseis humanos foram encontrados ossos de Myotragus. Tudo indica que nossos ancestrais não chegaram a saborear churrasco desses cabritos. Muito provavelmente somos inocentes. O Myotragus provavelmente se extinguiu logo antes da chegada dos seres humanos e a causa de sua extinção provavelmente foi uma mudança climática que eliminou seu alimento preferido.

Como nos filmes policiais, não basta a vítima e o acusado estarem no mesmo local, na mesma hora, para concluir que o acusado é o assassino. Desse crime parece que estamos livres, mas isso não quer dizer que não somos culpados de inúmeros outros extermínios, tanto no passado quanto no presente.


Enem, um retrato desfocado da educação - PEDRO FLEXA RIBEIRO

O GLOBO - 07/12

O boletim não diz o que os alunos acertaram em Física e o que erraram em Química. Ou estaria o problema em Biologia?



O fim do ano letivo é a ocasião em que as escolas costumam fazer o planejamento para o ano seguinte. É a hora de avaliar o trabalho que foi feito e definir ajustes e correções de rota.

O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) apura o desempenho dos alunos em várias áreas do conhecimento. Partindo do pressuposto de que as provas que constituem o exame de fato abrangem os conteúdos e competências relevantes e necessários, as informações apuradas seriam, em tese, muito úteis para a melhoria do trabalho feito em cada escola. As sucessivas edições do Enem dotaram o MEC/Inep de um grande banco de dados, que teria grande utilidade para o planejamento a ser feito na virada do ano letivo.

As informações trariam a radiografia detalhada de como se saíram os alunos em cada questão da prova. Elas ofereceriam ao planejamento interno e para o trabalho do professor a informação exata acerca de que questões os seus alunos erraram em cada prova. Isso revelaria o que, afinal, os alunos deixaram de aprender. Ficariam claros para cada escola os pontos do programa e do conteúdo a serem reforçados. Dessa forma, o Enem traria consequências efetivas para a sala de aula e contribuiria para a melhoria da qualidade do ensino. Isso justificaria todo o grande investimento que a sociedade brasileira tem feito ano a ano, a cada edição do exame.

No entanto, não é o que ocorre. O boletim oficial do Inep não discrimina os erros e acertos em cada questão da prova. O documento indica apenas a distribuição das frequências de acertos em cada faixa de desempenho. Revela, por exemplo, para uma determinada escola, que na prova de ciências da natureza 65% dos seus alunos situam-se na faixa de desempenho que vai de 300 a 400 pontos e os outros 35% dos alunos tiveram acertos entre 400 e 500 pontos.

Sendo a prova por área do conhecimento, suas questões abrangem conteúdos de diferentes disciplinas: Física, Química e Biologia. O boletim não diz o que os alunos acertaram em Física e o que erraram em Química. Ou estaria o problema em Biologia? Que intervenções fazer para que na próxima edição do exame os alunos estejam concentrados em faixas superiores de desempenho? Que providências tomar? O mesmo se dá com a prova de Ciência Sociais, que reúne quatro disciplinas: que programa deveria ser ajustado? O de Filosofia ou o de Geografia? O que recomendar ao professor de Sociologia?

Tal como é divulgado para as escolas, o boletim dá apenas uma visão geral, mas não permite que se efetive a avaliação pretendida. As escolas ficam sem saber que conteúdos ou competências não foram suficientemente aprendidos pelos estudantes. Não se sabe em quê, exatamente, se deveria investir para melhorar. O boletim traz informações insuficientes que não sugerem ao coordenador pedagógico qualquer correção de rumo ou recomendação de ajuste a ser feita aos professores.

Há também que considerar o inconveniente das defasagens de prazos: o passar do tempo faz esvair a utilidade das informações. Os resultados recentemente divulgados são referentes ainda ao Enem de 2012. O mês de dezembro chegou, já se está planejando o ano letivo de 2014. Uma vez instalado o ano letivo, as informações detalhadas só seriam consideradas no planejamento para 2015...

Compreende-se que o trabalho de consolidação dos microdados seja complexo e demorado. Mas, uma vez pronto, deve lhes ser dado um uso que justifique todo o investimento feito. A expansão quantitativa do exame deve ser acompanhada do cuidado em fazer com que as informações cheguem às escolas devidamente detalhadas e a tempo. Afinal, supostamente constituem um patrimônio, propriedade de toda a sociedade brasileira.

Ano a ano, a publicação dos rankings com as médias induz às comparações entre desempenhos de redes e instituições. De modo geral apenas confirma um cenário já conhecido. Esse uso reduz o Enem a uma espécie de torneio anual das escolas. Isso vem desviando o foco daquela que deveria ser a principal questão. O que caberia colocar em pauta é o fato de que, tal como são divulgados, os resultados do Enem ainda não possibilitam que deles se extraiam consequências que tenham efetivo impacto sobre o ensino nem sobre o aprendizado dos alunos. As escolas de todo o país — tanto as particulares quanto as da rede pública — permanecem sem acesso às informações que, supostamente, possibilitariam a melhoria da qualidade do trabalho que fazem no Ensino Médio.

Dezembro chegou, é hora de planejar ajustes para 2014. Ou as escolas precisarão ainda aguardar até 2015?

Ueba! Fifa, vá tomá no pote! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 07/12

E a charge do Jorge Braga com Dilma e Mantega no elevador: 'Você soltou um PIB?'. 'Não, foi um pibinho'


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Piada Pronta direto de Varginha, Minas: "Galinha se confunde e choca pães de queijo no lugar de ovos". Tadinha, gente! Deve ser a galinha do Aécio! Rarará!

E o pedido de um tuiteiro: "Gostaria que colocassem na cela dos mensaleiros um alto-falante tocando dia e noite a Simone cantando "Então é Natal". Ainda não existe pena de morte no Brasil! Já estão tocando a Simone até na Papuda? Rarará!

E eu já arrumei um emprego pro Dirceu: piloto de prova de supositório de Itu! Test drive de supositório!

E um advogado amigo meu: "Esse helipóptero dos Perrella, pela Teoria do Domínio do Pó, é um drone". Foram todos enganados. E não era pó, eram 450 quilos de polvilho pra fazer pão de queijo! Pra galinha de Varginha chocar! Rarará.

Minas tá bombando: mensalão mineiro, avião de pó e galinha que choca pão de queijo! Rarará!

E ontem eu disse: "Dilma usa o aplicativo Lulu para avaliar desempenho do PIB do Mantega". Ela avaliou o PIB do Mantega com o #mindinho! Rarará.

E a charge do Jorge Braga com a Dilma e o Mantega no elevador: "Mantega, você soltou um PIB?". "Não, foi um pibinho". Rarará!

E essa: "Denúncia e e-mail apontam elo entre lobista da Alstom e Serra e Aloysio Nunes". Os metrôlha! Os Irmãos Metrôlhas! Esses tucanos serão todos condenados. Na Suíça! A Suíça é petista!

E adorei a desculpa do Aloysio Nunes sobre o e-mail que recebeu do lobista da Alstom: "Foi alerta de um amigo". De um amigo que tem uma conta de US$ 6 milhões bloqueada na Suíça! Rarará!

E um amigo foi ao supermercado e entrou na fila para pessoas com necessidades especiais. E a caixa: "O senhor tem alguma necessidade especial?". "Tenho, necessito de dinheiro". Rarará.

E estou entregando a coluna antes do sorteio da Copa! Mas antes que me esqueça: Fifa, vá tomar no pote! Rarará! Vá tomar na brazuca!

É mole? É mole, mas sobe!

Os Predestinados! Direto de Nova Iguaçu, o ginecologista; Gerson ESTERMÍNIO! Tadinhas das pererecas. Pererequicídio em Nova Iguaçu! E em Ourinhos tem o ginecologista: José Luiz MATACHANA de Camargo Pires! E direto de Brasília, a advogada Patricia GARROTE! Quem não pagar, garrote! Rarará.

Nóis sofre, mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Bate-coxa - ANCELMO GOIS

O Globo - 07/12

Brasil e Argentina sentaram lado a lado, ontem, no sorteio da Copa do Mundo, na Costa do Sauipe, na Bahia.

Só que um folgado da delegação do país vizinho, além de ocupar sua cadeira, avançou a coxa para uma cadeira reservada aos brasileiros.

Coube a Parreira, uma espécie de chanceler da nossa delegação, alertar o argentino sobre a invasão territorial.

Haja feridos...

Os convidados deste evento na Costa do Sauipe, estrangeiros

inclusive, receberam de brinde uma montanha de curativos band-aid com design da Copa do Mundo Fifa Brasil 2014.

Para que tantos, ninguém entendeu.

Transição no Galeão

O contrato de concessão só será assinado no dia 17 de março, mas mesmo assim a Odebrecht, a pedido do próprio governo, já está dentro do Aeroporto do Galeão, no Rio, acompanhando discretamente esta fase de transição. O ministro Moreira Franco pretende antecipar a entrega e diz temer o corpo mole de uma minoria de funcionários da Infraero nesta fase.

Zé de Abreu: "Chega de PT" 

Em entrevista à revista Congresso em foco, o ator petista José de Abreu afirma que o PT está há tempo demais no poder. “Daqui a pouco, tá na hora de o PT voltar a ser pedra. Chega de ser vidraça. Acho que mais um governo do PT, e chega”, diz ele.

Só que...

O ator global é meio ingênuo neste terreno.

Na política, ninguém larga o osso de graça.

Vivendo em Brasília

O ministro do STF Luís Roberto Barroso colocou à venda a casa que tem na Quinta do Lago, em Itaipava.

É que Barroso herdou um gabinete com oito mil processos e tem passado os fins de semana em Brasília.

Aliás...

Barroso está todo prosa. Sua filha, Luna, foi aprovada no vestibular de Direito da FGV.

Lula e Dilma

O livro 10 anos de governos pós-neoliberais: Lula e Dilma, de Emir Sader, bateu a casa de um milhão de versões digitais baixadas. Lançada pela Boitempo Editorial, a obra está disponível de graça, no site da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais.

ALÔ, PADILHA!

Foram suspensas as cirurgias, ontem, no Hospital do Andaraí, no Rio, por falta até de roupas cirúrgicas. Os médicos articulam uma paralisação.

Cadê meu apê?

A 1ª Câmara Cível do Rio condenou as construtoras Tenda e Gafisa a pagarem, juntas, R$ 5 mil, a título de danos morais, a uma consumidora que esperou 556 dias para receber um apartamento comprado na planta.

As construtoras terão que arcar ainda com o valor que a proprietária gastou em aluguel durante a espera.

MORTOS SEM PAZ

Uma farmácia de Botafogo, no Rio, exibe, num letreiro, receitas de médicos mortos que estão circulando e seus CRMs.

É que espertinhos aproveitam os dados dos falecidos para conseguir comprar remédios controlados.

PRESENTE DE REI

Roberto Carlos, precursor ao abraçar o formato EP (um tipo de compacto antigo do passado), lança, segunda agora, o seu EP Remix.

A coletânea custará R$ 9,99 e tem cinco faixas consagradas que foram remixadas por DJs para embalar as pistas.

AMOR AOS LIVROS - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 07/12

Leitor voraz, Antonio Fagundes está sempre com um livro à mão nos intervalos de gravação de "Amor à Vida". Lê, em média, de duas a três obras por semana.

A pedido da coluna, ele recomenda três livros lidos no período: "Gargalhada no Escuro", de Vladimir Nabokov, "Subliminar", de Leonard Mlodinow, e "Vertigem Digital", de Andrew Keen.

Ao fim da novela, deve chegar à cifra impressionante de 70 livros. Diz que, quando foi gravar no Peru, bateu um recorde: devorou 15 títulos em dez dias.

Na foto, o intérprete do protagonista César aproveita uma brecha nas gravações para ler "Clique - Como Nascem as Grandes Ideias", de Frans Johansson.

SILHUETA NO ESPELHO
Mais da metade das brasileiras estão descontentes com o próprio corpo. Para as 54% das mulheres que declaram insatisfação diante do espelho, os problemas maiores são estar acima do peso (55%) e celulite (36%). Boa parte delas quer mudar barriga (58%), os seios (33%) e os glúteos (17%).

BOLSA DE MULHER
Os dados são de pesquisa da Sophia Mind, empresa especializada em mercado feminino. O estudo também revela que 80% têm o batom como item indispensável na bolsa, além de escova de dente (70%), creme para as mãos (57%), filtro solar (43%), lápis de olho (40%), escova de cabelo (39%) e rímel (36%). Foram entrevistadas 2.565 mulheres das classes B e C.

BIBLIOTECA
Em quase um mês na prisão, José Dirceu já leu oito livros, segundo amigos que o visitam na Papuda.
Entre outros, a biografia de Getúlio Vargas, do escritor Lira Neto, e obras do mineiro Pedro Nava.

GOLPE DO INGRESSO
E-mail falso da Fifa tenta pegar torcedores que aguardam a confirmação da compra de ingressos para a Copa de 2014. "Você foi o ganhador de um par de ingressos para Copa do Mundo Fifa Brasil 2014! Imprima o seu e-ticket e dirija-se até o Centro de Ingressos para recebê-lo", diz a mensagem.

GOLPE DO INGRESSO 2
O comunicado é um "malware" (software malicioso). Ao entrar nos links sugeridos, o internauta permite que senhas, por exemplo, sejam capturadas do seu computador. Em nota, a Fifa diz se tratar de fraude. "Encorajamos encaminhar o e-mail às autoridades e prestar queixa para instauração de inquérito policial."

TRAÇOS DA CIDADE
O artistas plástico Cildo Meireles e o fotógrafo Mauro Restiffe abriram exposição no Centro Universitário Maria Antonia, da USP, anteontem. José Lira, curador da mostra, sua assistente, Mina Warchavchik, o artista Fabiano Gonper e o colecionador Oswaldo Corrêa da Costa estiveram no evento. O espaço também exibe obras do arquiteto ucraniano Gregori Warchavchik.

TEMPO QUENTE
Protagonista de "Azul É a Cor Mais Quente", que estreia neste fim de semana, a atriz grega Adèle Exarchopoulos, 20, é fã do cantor Seu Jorge e está animada para voltar ao Brasil na Copa. Antes de participar do lançamento em SP, na semana passada, ela passou cinco dias entre o Rio e Búzios. "Amo o sol. Sentimos falta dele em Paris no inverno", disse ela, que exibia marca de biquíni.

BARBEADOR
Murilo Benício finalmente se livrou da barba longa e grisalha que cultivou para encarnar o dono de uma vinícola em "Amores Roubados", minissérie da Globo. "Cansei de ficar lavando e penteando. Não via a hora de poder tirar", diz. Ele esperou o sinal verde da emissora de que não precisava regravar nenhuma cena.

NA FILA
A exposição "Cazuza Mostra sua Cara" já recebeu mais de 78 mil visitantes, em pouco mais de um mês. A mostra, que está em cartaz no Museu da Língua Portuguesa em SP, vai até 23 de fevereiro.

CURTO-CIRCUITO

O Masp inaugura hoje, às 10h, a exposição coletiva "Passagens por Paris".

Débora Falabella lê hoje trechos de "O Pequeno Príncipe", às 11h30, na Livraria da Vila do JK Iguatemi.

Eleonora Menicucci e Aldo Rebelo entregam hoje os troféus do 1º Brasileirão Feminino de Futebol.

A Mostra Cinema e Direitos Humanos na América do Sul começa hoje, no Centro Cultural São Paulo.

A Prefeitura de SP inicia hoje o 1º Festival de Direitos Humanos, com atividades grátis em vários locais.

O restaurante Suri abre hoje exposição do artista Felipe Ehrenberg, às 18h.

Cartão vermelho - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 07/12

Os movimentos sociais, que tomaram as ruas do país em junho, organizam-se para voltar a protestar na Copa. Comitês de mobilização estão sendo criados nas 12 capitais-sede dos jogos. A ideia é colocar gente na rua nos dias das partidas, na frente dos estádios e nas "fan fest" produzidas pela Fifa. Neste momento, seus líderes percorrem o Congresso em busca de apoio político e logístico.

PT quer adiar a reforma
O Partido dos Trabalhadores e alguns de seus ministros, os que vão concorrer aos governos estaduais no ano que vem, estão fazendo gestões para a presidente Dilma adiar a reforma ministerial de janeiro para o início de abril. Pregam que as mudanças sejam feitas no prazo de desincompatibilização, porque não querem ficar sem a visibilidade do cargo. A situação é mais dramática para os ministros que não têm mandato no Congresso para retomar. Para estes, manter o ritmo de viagens será mais oneroso. Os ministros candidatos não querem ficar longe dos holofotes de janeiro até abril, porque avaliam que ficarão fora da pista até o fim da Copa, em julho.

"Tem gente de que nunca ouvi falar nessa lista, mas está ótima! Chega de figurinha carimbada"
Lula - Ex-presidente da República, para integrantes da CNB, ao ver a lista dos 44 indicados para compor o diretório nacional do PT

Tranquilidade
Ao contrário dos tucanos, no PSB ninguém coloca em dúvida a candidatura de Eduardo Campos ao Planalto. O vice-presidente socialista, Roberto Amaral, diz: "A nossa campanha não para. O Eduardo está animadíssimo". Sobre as pesquisas, avalia: "Eduardo Campos é o menos conhecido, e a campanha só começa para valer em julho, depois da Copa".

Montando o palanque
A governadora do Rio Grande do Norte, Rosalba Ciarlini (DEM), tem dito a aliados que, se o ministro Garibaldi Alves (Previdência), do PMDB, concorrer ao governo, ela não disputa a reeleição e aceita compor para concorrer ao Senado.

A guerra trabalhista
José Vicente Goulart, filho do ex-presidente Jango, declarou guerra ao presidente do PDT, Carlos Lupi, e ao ministro Manoel Dias (Trabalho). Eles não foram ao enterro com honras de chefe de Estado a Jango, ontem, em São Borja. O motivo: a não liberação de recursos do Fundo Partidário para o Instituto João Goulart.

Como sofre um candidato
Para prestigiar o prefeito Arthur Virgílio, o candidato do PSDB, Aécio Neves, promoveu o encontro da Amazônia em Manaus. O governador Simão Jatene, também tucano, não gostou, e Aécio fez, em Belém, o encontro da Amazônia Oriental.

Fica para a próxima
O vice-prefeito de Mauá (SP), Helcio Silva (PT), decidiu assumir vaga na Câmara com a renúncia de Valdemar Costa Neto (PR). O vereador de Campinas, Gustavo Petta (PCdoB), só assumirá após a saída de João Paulo Cunha (PT).

Montando o time
A principal tendência do PT, a CNB, vai manter na Secretaria de Finanças João Vaccari Neto (SP) e na primeira vice-presidência Alberto Cantalice (RJ). As outras duas vices ficarão com indicados pelas tendências Mensagem e Movimento PT.

O jornalista Magno Martins lança terça-feira, na Câmara dos Deputados, "Reféns da Seca" sobre 120 brasileiros à margem dos programas sociais.

Linha cruzada - VERA MAGALHÃES

FOLHA DE SP - 07/12

Questionado por empresários e economistas, Guido Mantega (Fazenda) também é alvo de queixas de políticos aliados. Nesta semana, Cid Gomes (Pros) ligou para Dilma Rousseff para reclamar que o ministro estava segurando há mais de 20 dias duas operações de crédito para o Ceará e que não atendeu cinco telefonemas dele. "É mais fácil falar com a presidente que com o Guido", diz o governador. Após a ligação, os projetos foram para a Casa Civil e, no dia seguinte, para o Senado.

Jetlag 1 Após participar de encontro com o ex-presidente americano Bill Clinton na segunda-feira, no Rio, Dilma embarca para a África do Sul para o velório de Nelson Mandela, no dia seguinte. Na própria terça-feira à noite, a presidente volta ao Brasil.

Jetlag 2 O Planalto cancelou as viagens oficiais que a petista faria a Belo Horizonte, na segunda-feira, e Porto Velho, na terça. Está mantido o encontro com o presidente da França, François Hollande, na quinta-feira.

Reserva A secretária-executiva Patrícia Barcelos é a favorita da ministra Maria do Rosário para ocupar a Secretaria de Direitos Humanos na reforma ministerial, quando ela deixará a pasta. O PT, no entanto, gostaria de indicar outro nome para a vaga.

Reação Após manobra liderada por Milton Leite (DEM) para tentar derrotar o prefeito Fernando Haddad (PT) na eleição para a presidência da Câmara Municipal, José Américo (PT) computava ontem apoio de 46 vereadores para se reeleger. Para vencer, são necessários 28 votos.

Bope Presidente do PTB paulista, Campos Machado reage à participação do vereador Adilson Amadeu na articulação: "O PTB não é lugar de rebeliões. Amadeu, seguindo orientação do partido, vai apoiar a eleição do José Américo à presidência".

A conferir Roberto Tripoli (PV), apontado como um dos artífices da rebelião, diz que votará em Zé Américo.

Na berlinda O Órgão Especial do Tribunal de Justiça de São Paulo deve julgar na próxima quarta-feira a ação proposta pelo PSDB-SP contra a lei que estabelece o aumento do IPTU na capital paulista a partir de 2014.

Sustentável A direção da Rede em São Paulo deve aprovar hoje um manifesto a favor de uma candidatura própria do PSB ao governo do Estado, contra a aliança que a cúpula pessebista costura em apoio à reeleição de Geraldo Alckmin (PSDB).

No cofre 1 O Supremo Tribunal Federal começa a julgar na próxima semana uma ação proposta pela OAB para acabar com doações de empresas nas eleições. Parte do plenário defende que esse tipo de financiamento seja proibido, apesar do risco de aumento do caixa 2.

No cofre 2 Auxiliares dos ministros ressaltam que, caso decida pela inconstitucionalidade das doações, a corte pode autorizar o Tribunal Superior Eleitoral a editar resolução que crie novas regras para financiamento eleitoral.

Carta... O ex-diretor de Tecnologia e Infraestrutura da ECT Eduardo Medeiros de Morais, afastado em 2006 na onda da CPI dos Correios, sofreu nova derrota, desta vez no TST. Morais queria receber as gratificações que perdeu ao deixar o cargo. A conta era de mais de R$ 200 mil.

... devolvida Morais fez o pedido enquanto aguardava a conclusão de processo da Controladoria-Geral da União contra ele. Como a CGU determinou a demissão do servidor por justa causa e a bem do serviço público, o TST negou o pedido.

Plano B Apesar de o PT nacional ter decidido apoiar a candidatura de Eduardo Braga (PMDB) ao governo do Amazonas, a seção local resiste. O deputado federal Francisco Praciano, o único representante do Estado na Câmara dos Deputados, prefere apoiar Rebecca Garcia, e o PT Mulher também é simpático à deputada do PP.

tiroteio
"Narciso acha feio o que não é espelho: Aécio se preocupa com o que acontece no PT, mas não enxerga os problemas dentro do PSDB."

DO DEPUTADO NELSON PELLEGRINO (PT-BA), sobre a declaração do senador tucano de que a reação dos petistas ao mensalão fazem mal "ao próprio PT".

contraponto

Ator-revelação

"O deputado federal Doutor Rosinha (PT-PR) faz uma ponta no filme ítalo-brasileiro "Anita e Garibaldi", que estreou ontem nos cinemas.

O parlamentar interpreta um médico que atende Anita Garibaldi, interpretada por Ana Paula Arosio.

Ao perceber que a paciente havia morrido, o personagem do petista diz a Giuseppe Garibaldi (Gabriel Braga Nunes):

--Você chegou tarde demais...

É única fala na breve carreira de ator do parlamentar.

Facas & queijos - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 07/12

Uma decisão tomada esta semana pelo Tribunal de Contas da União (TCU) deixa o PSB com a faca e o queijo nas mãos para atormentar os irmãos Ferreira Gomes, via ex-ministro da Secretaria de Portos Leônidas Cristino. O tribunal considerou que houve favorecimento à empresa Estrutura Brasileira de Projetos (EBP) para realização de estudos de concessões de terminais portuários, além do pagamento de valores superiores à média praticada pelo mercado para ressarcimento do serviço. A relatora do caso é ninguém menos que a ministra Ana Arraes, mãe do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, pré-candidato a presidente da República.

“O TCU faz bem em analisar a EBP. Está em todos os grandes negócios do governo e não apenas na Secretaria de Portos”, diz o líder do PSB na Câmara, deputado Beto Albuquerque (RS). Como diz o ditado hoje em voga entre os políticos, “aos amigos, a lei; aos inimigos, o rigor da lei”. O diretor da empresa é Helcio Tokeshi, ex-secretário de Acompanhamento Econômico e conselheiro do ex-ministro da Fazenda, Antonio Palocci.

Suspense orçamentário

São remotas as chances de votação do Orçamento antes do Natal. Isso porque deputados e senadores querem esperar que a presidente Dilma Rousseff sancione a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). Ali, está definido o orçamento impositivo para as emendas parlamentares, com destinação de 50% dos recursos para a área da saúde. O prazo final para a sanção é 26 de dezembro.

Carreira solo

A troca de comando nas diretorias da Transpetro por seu presidente, Sérgio Machado, foi feita sem combinar com a maioria dos padrinhos. O único que manteve seus indicados intactos foi o ministro da Pesca, Marcelo Crivella.

Fase difícil I

O esporte preferido de grande parte dos deputados hoje é falar mal do presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves. Dia desses, foram os representantes da bancada ruralista. “Esse Henrique é um palhaço. Não cumpriu nada do que prometeu à bancada ruralista”, comentou o deputado Abelardo Lupion numa roda. É o caldo de final de ano, engrossando rumo a 2014.

Fase difícil II

Parte do PMDB vai sair em defesa de Henrique Alves em relação às reclamações petistas. Alguns deputados do PT foram procurados para alertar o líder José Guimarães (PT-CE) de que, no caso de Natan Donadon — outro deputado presidiário —, Henrique Alves mandou logo lacrar o gabinete e convocar o suplente. Com José Genoino não está sendo assim. A avaliação dos peemedebistas é que Guimarães, por ser irmão de Genoino, está subindo um tom em suas críticas ao presidente da Casa.

Palanque solo/ Na cabeça dos governistas, ficou a impressão de que o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e o senador Aécio Neves (PSDB-MG) não compareceram à festa de sorteio das chaves da Copa da Fifa para que, lá na frente, se for o caso, possam ficar livres para criticar o governo federal por eventuais falhas em aspectos como mobilidade urbana. Alguns políticos, entretanto, vibraram. Assim, a presidente brilhou sozinha no evento.

Na paz/ Depois de um período às turras, parece que a presidente Dilma Rousseff e a cúpula da Fifa serenaram os ânimos. Ela e Joseph Blatter tiveram uma conversa bastante afável, cercada de carinho e cordialidade. Melhor assim.

Torcida/ As autoridades brasileiras não conseguiram esconder a vibração quando a Inglaterra foi sorteada ontem para jogar em Manaus. Tudo o que o técnico Roy Hodgson não queria era ver seu time exposto ao clima amazônico, úmido e quente. E justamente contra a Itália. 

Em alta/ Segunda-feira, Dia Internacional contra a Corrupção, a Controladoria-Geral da União vai premiar exemplos de boas práticas de gestão pública. O ministro do Turismo, Gastão Vieira (foto), será o único a subir no palco duas vezes, premiado nas duas categorias existentes — aprimoramento dos controles internos administrativos e promoção da transparência. Ao todo, foram mais de 47 ações do governo federal inscritas.

A simpatia do Mr, Clinton - JORGE BASTOS MORENO

O GLOBO - 07/12

Liga-me uma certa senhora poderosa de Brasília, cujo nome não vou declinar para não matar de inveja os outros colunistas: "Na segunda me encontro com o Clinton. Acho ele muito mais simpático que o Obama".
Essa coisa de popularidade é mesmo como nuvem. A prova é essa: a impopularidade de Obama já faz o PT achar Clinton um estadista.
Clinton nunca desgostou dos governos petistas, nem quando Lula, como candidato, chamou-o de "tarado sexual". É claro que, sobre a política e os políticos brasileiros, segue sempre a orientação de FH.
Na verdade, talvez pela sua formação de homem de Estado, aos seus interlocutores estrangeiros FH sempre destacou a diferença entre Dilma e os petistas aloprados, e nunca tentou desconstruir lá fora os governos que o sucederam. Aqui dentro é outra coisa. Faz parte do jogo e da obrigação: se FH não faz oposição, a sobrecarga dos líderes Vaccarezza e Chinaglia fica pesada demais.

Má intenção
Definitivamente, no Brasil, todo político, a priori, tem vergonha de dizer que é candidato até a síndico do prédio.
Já é um mau começo.

Loucura
Eduardo Campos, um deles, vai passar agora 90 dias mergulhado na inauguração de 200 obras.
Rompeu com seus parceiros, aliou-se a adversários e diz não saber o que fará da sua vida pública.

Gangorra
Cabral também não sabe se sai ou fica.
Se sobe ou desce.

Segredos
A equipe de Cabral só fala em códigos. O próprio, que já foi "Gove" agora é "Hugo" de "o governador!
E o Pezão? É "Pé Grande" Essa é a turma que quer ganhar eleições para o governo do Rio.

Armadilha
Ainda sobre Cabral, se eu fosse ele, desconfiaria se o mais ferrenho defensor do Lindbergh, o ex-presidente Lula, aparecer de repente pedindo para ele não deixar o governo agora.

Sugestão
O aniversário de Dilma é no sábado, dia 14. Ela está numa fase de livros de biografia, História recente e minisséries políticas.

No sal
Atenção, pessoal do mercado: não é assim que se tira um secretário do Tesouro.

A poderosa senhora concorda com a maioria das críticas ao Amo Augustin, mas sabe o tempo certo da degola.

Viagem
Dilma vai aos funerais de Nelson Mandela.

El pacificador
Em uma semana, numa só rota, o vice Michel Temer reuniu-se com as bancadas de RS, SC e PR, nos respectivos estados. Antes do fim do ano, fecha mais uma região. Tudo pelo apoio do PMDB ao governo.

Desejo
Aliás, Dilma já sabe o que o PMDB quer: senador Vital do Rêgo no Ministério da Integração Nacional.

Candidatíssimo
Eu tive uma longa conversa com José Serra, em São Paulo, esta semana.
Só o senador Aécio Neves é que acha que Serra vai dar de barato a indicação do candidato do PSDB à Presidência da República.

Vejam só!
Contou-me o amigo José Serra um fato significativo do que ele acha que o destino lhe reserva.

Destino cruel
Na composição do governo provisório de Itamar, Ulysses, que viria a desaparecer no mar dias depois, numa reunião do PMDB vetou o nome de Serra para o Ministério do Itamar:
— Serra é tão competente quanto concentrador. Se ele for ministro, daqui a dois anos estará na Presidência.
Na realidade, Itamar cogitara o nome de Serra, mas para sucedê-lo:
— Serra não está à altura de ministro, mas de presidente da República.
Itamar queria Antônio Britto, que ficou com medo de Quércia. FH foi para o governo e ocupou o lugar que seria de Serra, caso tivesse ele sido convidado por Itamar.
Moral da história: nem o destino entende o pobre do José Serra.

Mistura tóxica: inflação, estagnação e crise fiscal - ROLF KUNTZ

O Estado de S.Paulo - 07/12

Ninguém vai jogar a toalha. A inflação já estourou a meta, com 4,95% até novembro. A economia encolheu 0,5% no terceiro trimestre e cresceu apenas 2,3% em 12 meses. Mas a presidente Dilma Rousseff ainda poderá falar em vitória se o ano terminar com alta de preços inferior a 5,84%, resultado final de 2012, e expansão do produto em torno de 2,5%. Nessa altura, poucos lembrarão a maior parte dos micos de 2013, incluída a entrevista ao jornal El País, quando ela anunciou a revisão do crescimento do ano passado para 1,5%. Houve revisão, sim, mas de 0,9% para 1%, como informou nesta semana o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Talvez numa próxima correção apareça a taxa de 1,5%, mas quem se importará, além da presidente?

Em qualquer país governado por gente comum, a mistura de crescimento econômico em torno de 2,5% com inflação acima de 5% seria considerada um desastre. Neste Brasil de governantes incomuns, as autoridades torcem por esse resultado. Que mais poderiam ambicionar, neste momento? Além disso, cantam vantagem, apontando países com crescimento menor, mas, curiosamente, em posição bem melhor na escala de risco de crédito. Agências de classificação cometeram erros notáveis nos últimos 20 anos, mas seus critérios, de modo geral, fazem sentido e suas avaliações são levadas a sério no setor financeiro.

No mercado, todo mundo sabe do risco de rebaixamento da nota do Brasil. O ministro da Fazenda até já se mostrou preocupado com essa possibilidade. Mas nem por isso decidiu cuidar seriamente das contas públicas, admitir os problemas e pôr de lado a contabilidade criativa e a política de remendos fiscais. Há poucos dias o ministro desistiu de mais uma operação para maquiar as contas federais - uma jogada com participação da Caixa e da Eletrobrás. Mas só mudou de ideia quando uma reportagem do Valor escancarou a manobra e toda a imprensa foi atrás da história. A armação de um lance desse tipo havia sido mencionada algum tempo antes na cobertura do Estado.

Segundo o plano, a Caixa financiaria, com garantia do Tesouro, pagamentos devidos por subsidiárias do setor de energia a um fundo setorial. Isso pouparia ao Tesouro uma transferência de R$ 2,6 bilhões. Assim ficaria um pouco mais fácil obter o superávit primário de R$ 73 bilhões prometido pelo ministro. Se o governo alcançar esse resultado, será principalmente graças a manobras e a receitas extraordinárias, como os bônus de concessões de infraestrutura e as parcelas do programa de refinanciamento de dívidas tributárias, o Refis. Este programa deverá render uns R$ 20 bilhões. Só a Vale deverá entrar com uns R$ 6 bilhões nessa coleta. E só o bônus do leilão do campo de Libra, no pré-sal, deverá proporcionar R$ 15 bilhões. A soma desses valores garantirá quase metade do resultado primário fixado para o governo central.

O desarranjo das contas públicas tem sido apontado como um dos principais fatores da inflação. A alta de preços está obviamente vinculada ao descompasso entre a demanda e a oferta interna, reconhecido por boa parte dos analistas e de novo mencionado na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom/BC). O presidente do BC, Alexandre Tombini, citou num discurso, nesta semana, o recuo das taxas acumuladas de inflação, mas é necessário muito otimismo para festejar os números conhecidos.

A inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), chegou a 4,95% no ano e a 5,77% em 12 meses. A variação mensal ficou em 0,54%, ligeiramente abaixo da observada em outubro (0,57%). Cinco dos nove grupos de despesas encareceram mais que no mês anterior. O índice de difusão - parcela de itens com aumento de preços - passou de 67,7% em outubro para 68,2%, confirmando, mais uma vez, a ampla disseminação das pressões inflacionárias. Não há como sustentar - nem havia antes - a tese oficial de uma inflação derivada da alta dos alimentos ou da valorização internacional das commodities. O custo da alimentação tem subido menos, assim como os preços das matérias-primas, como confirma a Fundação Getúlio Vargas (FGV). Entre outubro e novembro a alta dos preços no atacado passou de 0,71% para 0,12%, enquanto a dos preços ao consumidor acelerou de 0,55% para 0,68%.

Nem um resultado final abaixo dos 5,84% do ano passado está garantido, porque o IPCA de dezembro vai registrar os aumentos de preços de combustíveis, cigarros, eletricidade, água e esgoto, como observou o economista Fernando Parmagnani, da consultoria Rosenberg & Associados. Além disso, um ligeiro recuo da inflação neste ano - por enquanto, só uma hipótese - de nenhum modo garante uma nova redução do acumulado em 2014, advertiu Salomão Quadros, da FGV. Houve "coisas atípicas" neste ano, disse ele, lembrando a interferência política nos preços administrados.

Inflação alta e contas públicas em baixa combinam de forma desastrosa com a indústria emperrada. A produção industrial cresceu 0,6% de setembro para outubro - uma bela notícia, depois do fiasco do terceiro trimestre. Mas a comemoração pode ter sido exagerada.

É bom examinar as médias móveis trimestrais de dois anos. Como a indústria foi mal em 2011, a evolução em 24 meses ficou abaixo de pífia. Nos três meses terminados em outubro, o índice de produção praticamente repetiu o de igual período de 2011, no caso da indústria geral. O indicador do segmento de bens de capital (máquinas e equipamentos), 17,6% superior ao da média de agosto a outubro do ano passado, parece espetacular. Mas o aumento em dois anos ficou em 6,03%. Isso combina com uma taxa geral de investimento - público e privado - na altura decepcionante de 19% do PIB. Não haverá crescimento muito maior com esse investimento.

Sincronicidade - ANDRÉ GUSTAVO STUMPF

CORREIO BRAZILIENSE - 07/12

Vinicius de Moraes morreu em 9 de julho de 1980, quando Tom Jobim dava uma entrevista, em sua casa, distante do local onde ocorreu o último suspiro do poeta. Naquele exato momento, um cinzeiro, sobre o piano, se quebrou. Assim, de repente. Tom disse para sua mulher: "Vinicius andou por aqui". O poetinha era famoso por derrubar copos e cinzeiros. Esse tipo de epifania tem nome: chama-se sincronicidade. Aquela circunstância que ocorre em dado momento, inexplicável, capaz de modificar a vida, o sentimento ou o momento.
Amigo meu estava num país em guerra civil na Europa. Ele fugia das milícias dos dois lados que não gostavam de jornalistas. Resolveu, certa noite, sair para jantar com outros repórteres. Chegaram à porta do restaurante e, por qualquer razão, alguém não gostou do ambiente. Resolveram comer no concorrente, no outro lado da rua. Minutos depois, o prédio do bar antes escolhido explodiu. Não me sai da cabeça a história do sujeito que estava abastecendo o carro perto do Aeroporto de Congonhas, São Paulo. Foi atropelado e morto pelo avião da TAM que saiu da pista, destruiu o posto de gasolina e o prédio da própria empresa. A vítima sofreu desastre de avião sem ter viajado nele.

São circunstâncias misteriosas da vida. Há quem estude isso a sério. Previno que é quase enlouquecedor, porque é extremamente aleatório. Pode ou não funcionar. Arthur Koestler escreveu livro notável sobre o assunto. Chama-se As razões da coincidência. Os cientistas soviéticos fizeram muitas experiências nessa área, inclusive de transmissão de pensamento entre astronautas. Aparentemente, não chegaram a nenhuma conclusão relevante. Mas sincronicidade acontece. Não pode ser prevista. Apenas percebida.
Diferente é a situação do governo federal. O resultado do terceiro trimestre decepcionou todos os críticos, contra ou a favor, da atual administração. Foi resultado muito ruim. Se tudo correr bem, o Produto Interno Bruto de 2013 andará pela casa de 2%. Número medíocre para um ano de poucos feriadões, de quase nenhuma turbulência política e de dificuldades na economia da Europa, ligeira recuperação nos Estados Unidos e ação decepcionante dos brasileiros. Os empresários recolheram suas fichas e passaram a olhar para mercados mais promissores. A união de duas situações, neste caso, não é sincronicidade, nem coincidência.

Os responsáveis pela ação política e a condução da economia deixaram que os dois planos se encontrassem no pior momento de vida brasileira recente. No primeiro semestre de 2014, além do carnaval ser realizado em março, a etapa final do julgamento do mensalão vai ocorrer no primeiro semestre. Depois a Copa do Mundo, que paralisa o país, e, por último, a eleição geral. Os problemas vão se superpor e não será coincidência nem obra do acaso. Tudo foi criteriosamente planejado por dirigentes que não olharam para o calendário.
O ex-ministro Delfim Netto percebeu, em artigo publicado no jornal Valor, que o superavit nas exportações brasileiras entre 2002 e 2007 foi de US$ 139 bilhões. Entre 2008 e 2013, o que era lucro virou o assombroso deficit de US$ 136 bilhões. Ou seja, a demanda externa se reduziu em US$ 275 bilhões. O empresário não possui nenhuma razão para arriscar seu dinheiro em um mercado que admitiu uma virada desse porte e com essa rapidez. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, mantém seu habitual padrão. Diz que tudo vai melhorar. Pena que a realidade insista em desmentir Sua Excelência.

O eleitor vai votar em 5 de outubro de 2014 depois de ter passado por fortes emoções. Ninguém duvida de que as manifestações vão retornar às ruas, porque pouco foi feito para melhorar a mobilidade urbana. Também a reforma política ficou esquecida em alguma gaveta e nada mudou na dimensão dos protestos de junho passado. Então, eles vão ocorrer de novo. Se o Brasil ganhar a Copa, a presidente Dilma poderá levantar a taça. Se perder, melhor não falar nisso. O mau humor será profundo e contagioso.
Os acionistas da Petrobras não estão nada satisfeitos com a política de tarifas praticada pela empresa sob o guante do governo federal. E as medidas de estímulo na economia norte-americana vão acabar por decisão do Federal Reserve. Isso tudo vai se somar ao caldeirão de paixões no segundo semestre. As pesquisas de opinião pública, realizadas nestes dias, fotografam o momento, mas pouco auxiliam na difícil tarefa de desvendar o futuro.

País menos desigual - PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.

O GLOBO - 07/12

Desde a década passada, os indicadores melhoraram



Otema da desigualdade vem ganhando destaque aqui nos EUA. Há poucos dias, o presidente Obama referiu-se à crescente desigualdade na distribuição de renda como “uma ameaça fundamental ao sonho americano”. Desde a década de 80, a renda e a riqueza se concentraram de forma impressionante. Os 10% mais ricos, que até então tinham algo como 1/3 da renda, passaram a responder por cerca de metade da renda, lembrou Obama. O patrimônio líquido das famílias mais ricas equivale a 288 vezes o de uma família típica — um recorde para os EUA.

Na Europa, a desigualdade também é crescente. As sociedades europeias tendem a ser mais igualitárias do que a americana, mas a tendência lá também é de concentração da renda. Na Alemanha, a participação dos 10% mais ricos na renda nacional (antes de impostos e transferências) aumentou de 26% para 31% entre 1991 e 2010. Na periferia da área do euro, a crise aguda levou os governos a enfraquecerem os sistemas de proteção dos trabalhadores no afã de recuperar competitividade. Isso vem contribuindo para erodir a coesão social e abalar a estabilidade política de países como Grécia, Portugal, Itália e Espanha.

No Brasil — que sempre esteve entre os mais desiguais do mundo —, a tendência tem sido de desconcentração. No fim de novembro, o IBGE divulgou a Síntese de Indicadores Sociais, com informações sobre a distribuição pessoal e funcional da renda. O que se verifica é que, desde a década passada, os indicadores melhoraram.

Uma fonte de dados é a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). Entre 2004 e 2012, a participação dos 10% com maiores rendimentos diminuiu de 45,3% para 41,9% da renda total; a dos 40% com menores rendimentos subiu de 10,9% para 13,3%. O Índice de Gini teve queda contínua desde 2004, passando de 0,556 para 0,507.

As contas nacionais também indicam melhora da distribuição na década passada. A participação do trabalho assalariado (salários brutos e contribuições sociais pagas pelos empregadores) no valor adicionado à economia aumentou de 45,8% em 2004 para 50,6% em 2009 (último dado disponível). A participação da renda do capital (rendimentos das empresas, dos detentores de títulos e dos proprietários de imóveis e outros bens alugados) diminuiu no mesmo período de 41,5% para 38,5%.

A melhora nos indicadores de desigualdade parece ter três explicações fundamentais: a) o crescimento econômico com geração de empregos e formalização das relações de trabalho; b) o aumento real do salário mínimo; c) os programas de transferência de renda (Bolsa Família e outros).

Não há dúvida de que a renda e a riqueza continuam extraordinariamente concentradas. Mas, diferentemente do que está acontecendo nos países avançados, os indicadores de distribuição começaram a mostrar alguma melhora no Brasil.

Ouçamos o profeta Miqueias - KÁTIA ABREU

FOLHA DE SP - 07/12

É inaceitável que servidores contribuam anos para melhorar sua aposentadoria e tenham seu futuro roubado


Não é motivo de lamento ou conformismo o fato de o Brasil ter perdido três posições no ranking da transparência internacional, ficando em 72º lugar entre 177 países de todos os continentes. Antes --e sempre--, qualquer sinal de aumento da corrupção deve provocar indignação e estimular a busca do aperfeiçoamento das instituições e das normas aplicadas no combate à ação dos corruptos.

Feito o preâmbulo, registre-se a ação da Polícia Federal, que pôs a nu a gestão criminosa de recursos de fundos previdenciários de servidores públicos estaduais e municipais. A Operação Miqueias, deflagrada em setembro, revelou uma quadrilha especializada no desvio de recursos de fundos de previdência, em conluio com gestores e políticos.

Sempre criativa, a PF batizou a operação inspirada no profeta Miqueias, que há 2.700 anos denunciava governantes de Jerusalém que se associavam para roubar o povo.

A investigação produziu fartas provas de que a organização criminosa aliciava prefeitos e gestores de RPPS (Regimes Próprios de Previdência Social), com um objetivo: convencê-los a aplicar recursos das respectivas entidades previdenciárias em fundos de investimento compostos por papéis com alta probabilidade de produzir prejuízos.

Segundo a PF, a maioria dos investimentos sugeridos pela corretora da quadrilha tinha apenas fundos de pensão como cotistas, embora abertos à participação de todo o mercado. Essa presença exclusiva nos fundos de investimento indicados pela quadrilha sugere que eles foram criados com o propósito específico de receber recursos dos institutos previdenciários.

Material apreendido pela PF registra que o Igeprev (Instituto de Gestão Previdenciária do Estado do Tocantins), administrado pelo governo estadual, aplicou R$ 271 milhões em 2012, em quatro fundos indicados pela Invista Investimentos Inteligentes --administrada pela quadrilha.

Dois meses depois, o saldo da aplicação havia encolhido para R$ 201 milhões, contabilizando prejuízo ao Igeprev de R$ 70 milhões. Nessas mesmas aplicações, o fundo dos servidores da Prefeitura de Manaus colocou R$ 81 milhões e amargou prejuízo de R$ 19 milhões, também em dois meses.

Já o fundo previdenciário do governo de Roraima investiu R$ 126 milhões e, em 60 dias, acumulou prejuízo de R$ 33 milhões. Ainda segundo o inquérito da PF, diversos outros municípios de vários Estados fizeram aplicações nos mesmos fundos, com prejuízos semelhantes.

Todos os fundos de investimento indicados pela quadrilha têm uma característica comum: são formados por "papéis podres".

A despeito do volume escandaloso de recursos tungados de servidores públicos de várias regiões do Brasil, os números revelados pela PF são só a parte visível desse iceberg da corrupção. E o Igeprev do Tocantins é o retrato fiel da roubalheira que devasta os fundos previdenciários.

De acordo com o relatório do Ministério da Previdência Social, de um total de R$ 2,7 bilhões do Igeprev, mais de R$ 500 milhões --equivalentes a cinco "mensalões"-- foram aplicados de forma temerária. Desse meio bilhão de reais, o ministério já dá por perdido algo em torno de R$ 300 milhões. A quantia restante é tida como de improvável recuperação.

Se por um lado as regras para fiscalizar e aplicar recursos dos fundos previdenciários são frouxas, por outro a fiscalização da formação dos fundos de investimentos também é falha, sugerindo a necessidade de mudança de conduta da Comissão de Valores Mobiliários.

A lei federal que dita as regras para a organização e o funcionamento dos regimes próprios de previdência diz que União, Estados e municípios são obrigados a cobrir rombos dos fundos para bancar os benefícios previdenciários. Em bom português, o contribuinte terá de financiar mais essa farra da corrupção.

É fundamental não apenas conhecer as falhas da legislação e do sistema de controle como, sobretudo, propor as mudanças que nos compete fazer na esfera federal, na qual os governos estaduais e municipais não têm competência para atuar.

O Congresso não pode mais fechar os olhos diante da fragilidade em que se encontra o Regime Próprio de Previdência Social. É inaceitável que servidores públicos contribuam por uma vida para melhorar sua aposentadoria e tenham seu futuro roubado.