O ESTADÃO - 07/12
A situação de longa estagnação da indústria brasileira é preocupante. O nível atual da produção industrial é semelhante...
A situação de longa estagnação da indústria brasileira é preocupante. O nível atual da produção industrial é semelhante ao observado há cinco anos, em setembro de 2008, antes dos efeitos da crise norte-americana. Desde então, houve lenta recuperação em 2009 e 2010, porém logo seguida de estagnação nos anos seguintes. Tomando um período um pouco mais longo, tendo como base a média de 2004, a produção física da indústria, medida pelo IBGE, cresceu apenas 16% no acumulado. Em contrapartida, o consumo, medido pelas vendas reais do comércio ampliado (que inclui construção civil e automóveis), cresceu 90% no mesmo período, também apurado pelos dados do IBGE.
Ou seja, o salto no consumo, muitas vezes derivado de políticas de incentivo governamental como desoneração tributária, redução de juros, ampliação do crédito, etc., não foi aproveitado para a expansão industrial. Não que a indústria brasileira não dispusesse de capacidade produtiva. Pelo contrário, ao longo do período citado, a ociosidade média industrial girou em torno de 20%, de acordo com dados levantados pelo Nível de Utilização da Capacidade Industrial (Nuci), da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
O problema, portanto, não é de capacidade produtiva, mas de competitividade. Como as condições sistêmicas (aquelas que independem das empresas) são desfavoráveis, comparativamente aos concorrentes internacionais - fator agravado com o longo processo de valorização do real -, abre-se um enorme espaço para o crescimento das importações, que acabam ocupando o lugar da atividade doméstica.
Matéria publicada no Valor Econômico de 25/11, Indústria cria cada vez menos empregos, aponta uma das principais consequências do processo em curso. Em 2012, de cada 100 empregos criados no Brasil, só 3 foram gerados na indústria. A participação do setor no estoque total de empregos caiu de 18,8%, em 2007, para 17,2%, em 2012.
Trata-se de uma das consequências da desindustrialização precoce em curso no País. Precoce porque, ao contrário do observado em países desenvolvidos como a Alemanha, a queda da participação da indústria de transformação no Produto Interno Bruto (PIB) e na geração de empregos decorre do aumento da produtividade, da evolução tecnológica e do incremento do setor de serviços. A participação da indústria de transformação no PIB brasileiro, que já foi superior a 30% há duas décadas, representa hoje 14%, ante 15%, na Índia; 28%, na Coreia do Sul; e 34%, na China.
A desindustrialização made in Brazil decorre não de um movimento virtuoso de transformação qualitativa do setor para áreas mais sofisticadas, mas de um processo de desmobilização de elos da cadeia produtiva local, substituída por importações crescentes.
É um mito que a indústria é muito protegida. Excluídas as exceções de alguns poucos segmentos, a alíquota efetiva de importação é das mais baixas dos países do G-20. Tanto que o déficit da balança comercial de produtos manufaturados praticamente triplicou nos últimos cinco anos, devendo superar os R$ 100 bilhões este ano.
Há quem minimize o problema da perda relativa de participação da indústria de transformação argumentando que ela decorre da expansão do complexo agromineral e do setor de serviços. Mas uma vertente não exclui a outra. Só uma estratégia articulada que fortaleça as atuais vantagens competitivas e a criação de competências pode garantir o sucesso na aceleração do desenvolvimento. Isso, então, pressupõe os aspectos geração de valor agregado, renda e emprego, balança comercial e equilíbrio entre os setores.
Destaque-se que não há precedente na história econômica de países com a estrutura e a população equivalentes às nossas que tenham alçado à condição de desenvolvido sem contar com uma indústria competitiva. Seria um grande equívoco que viéssemos a abrir mão da indústria como fator de desenvolvimento sendo talvez a única economia latino-americana que reúne as precondições para tal.
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