ZERO HORA - 07/12
Se já havia surpreendido o país ao oferecer um salário de R$ 20 mil ao ex-ministro José Dirceu para desempenhar a função de gerente administrativo, o Hotel Saint Peter, situado no coração de Brasília, revela-se agora um empreendimento tão suspeito, que merece urgente investigação das autoridades brasileiras. Pelo que apurou o Jornal Nacional nesta semana, o homem que aparece como principal administrador da empresa panamenha Truston International, até então proprietária formal do hotel, é na verdade um auxiliar de escritório de poucos recursos, que também figura como sócio majoritário de centenas de empresas em várias partes do mundo. Tão logo a notícia foi divulgada, o hotel mudou de dono: a Truston transferiu quase todas as cotas para o brasileiro Paulo Masci de Abreu, que era sócio com apenas R$ 1 do capital total do negócio.
Ninguém precisa ser especialista em Direito empresarial para perceber que existe algo nebuloso nessa operação. No mínimo, é caso para uma fiscalização do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), que atua na prevenção e no combate à lavagem de dinheiro praticados especialmente por empresas localizadas em paraísos fiscais. Aliás, este é um desafio que precisa ser enfrentado pelo governo brasileiro, que se tem mostrado demasiado tolerante com práticas que, muitas vezes, levam à evasão tributária. Ressalve-se, porém, que é perfeitamente legal a abertura de empresas em localidades que concedem vantagens fiscais.
O Saint Peter, que já pertenceu ao falecido deputado Sérgio Naya, tem uma constituição societária pouco transparente. Pelo que se sabe, o escritório de advocacia Morgan y Morgan, do Panamá, que administra empresas internacionais, constituiu a Truston International e indicou seu funcionário José Eugênio Silva Ritter como diretor. Só que o homem, em entrevista ao JN, disse que sequer se lembra da empresa que o apresenta como principal executivo. Como a legislação panamenha permite que uma empresa seja transferida para outro proprietário sem a necessidade de informar às autoridades, é quase impossível saber quem é o verdadeiro controlador da Truston.
Mas, depois da operação desta semana, o dono do Hotel Saint Peter já tem sua identidade conhecida. Agora é o empresário Paulo Masci de Abreu, também proprietário de empresas de comunicação em São Paulo e irmão do presidente nacional do PTN, partido que integrou a coligação da presidente Dilma Rousseff nas eleições de 2010. Há, portanto, uma mistura de política e negócios nesse confuso episódio que também precisa ser bem esclarecida.
Diante de tal emaranhado de interesses obscuros, não é de se estranhar a desistência do ex-ministro José Dirceu em aceitar a oferta de emprego _ embora sua alegação seja a de proteger diretores e funcionários do hotel de um suposto “linchamento midiático”. A vaga de gerente bem remunerado, portanto, continua disponível.
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